Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
GÊNERO DISCURSIVOS: UMA PROPOSTA PARA A LEITURA A PARTIR DO TEMA: DISFERENTES MANIFESTAÇÕES DO AMOR
Maria Helena Zampar Marchi1
Cláudia Valéria Doná Hilla2
RESUMO: Este artigo apresenta o resultado da Implementação Unidade Didático
Pedagógica relativa ao projeto temático “As diferentes manifestações do amor”, realizado no 7º. Ano da Escola Estadual Cecília Meireles, Ensino Fundamental, Colorado - Paraná. A proposta teve como objetivo geral proporcionar ao aluno condições para que se torne um leitor crítico, por meio da leitura de diferentes gêneros discursivos, a partir da mesma temática. Para isso, optamos em trabalhar com “Oficinas de Leitura”, pautadas na teoria dos gêneros discursivos, nos pressupostos do Interacionismo Social, especialmente nos trabalhos de Bakhtin, e na vertente didática do Interacionismo Sociodiscursivo. Para este artigo apresentaremos resultados parciais de algumas das oficinas realizadas, com o intuito de desenvolver o leitor crítico. Resultados da implementação evidenciam que o projeto atendeu à falta de interesse dos alunos em ler e às dificuldades de leitura dos discentes, pois no decorrer do desenvolvimento das oficinas, gradativamente os alunos foram se envolvendo com o projeto, melhorando a compreensão dos textos como também a capacidade de criticar e de refletir sobre o que leram.
Palavras-chave: Ensino Aprendizagem, Leitor Crítico, Gêneros Discursivos
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo relatar os resultados da Implementação do
Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, elaborado para o Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE – 2013, da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná – SEED/ PR, com base no aprendizado obtido nas
participações em cursos gerais e específicos de área, inserção acadêmica,
seminários, encontros de orientação e leitura de referencial teórico.
A pesquisa desenvolvida neste artigo tem como tema o letramento
crítico, com o título: Gêneros discursivos: uma proposta para a leitura a partir
do tema: “Diferentes manifestações do amor”, visando atender a falta de
1 Professora da Rede Pública Estadual – SEED – Paraná. Licenciatura em Língua Portuguesa – Unoeste/SP Especialista em Letras e Educação: Leitura e Produção de Textos - Unoeste/ SP 2 Professora Adjunta de Língua Portuguesa da Universidade de Maringá – UEM/PR Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade de Londrina – UEL/PR
interesse e dificuldades que os alunos apresentam em relação ensino da
leitura. Para tanto, optamos pela utilização de vários gêneros textuais com a
mesma temática para que os alunos sentissem interesse na leitura dos
mesmos. A escolha do tema foi feita de acordo com os assuntos que mais
chamavam a atenção dos alunos.
Sabe-se que a escola falha por não nortear suas práticas de leitura pelos
gêneros discursivos, de forma conscientemente planejada e não para fins de
aprendizado gramatical. As aulas de leitura, de forma geral, tornam-se práticas
mecânicas em que o texto é usado, principalmente como pretexto para o
estudo da língua e não para ampliar a competência linguística e discursiva dos
alunos. Além disso, os professores ainda estão muito presos à noção de
tipologia textuais, o que faz com que mesmo tentando trabalhar com os
gêneros, não se livrem de um trabalho pautado nos elementos mais
linguísticos.
Sendo assim, faz-se necessário refletir sobre as práticas de leitura de
gêneros discursivos diversos, questionando: “Como ressignificar o
planejamento de uma aula de leitura tendo como objeto um dado gênero
discursivo?” “Os gêneros trabalhados estabelecem uma gradação de
dificuldade de acordo com ano, faixa etária, condições de aprendizagens dos
alunos?”.
Com o intuito de contribuir com o processo de ensino e aprendizagem de
leitura e tornar o aluno um leitor competente, crítico e motivado, propôs-se os
seguintes objetivos específicos: trabalhar com as fases de leitura a partir de
gêneros discursivos diversos; oferecer subsídios para que os alunos
compreendam os propósitos implícitos e explícitos da leitura; possibilitar o
conhecimento de alguns gêneros discursivos: multimodais, pintura, poema,
notícia e crônica; comparar textos de diferentes gêneros discursivos, a partir de
uma mesma temática; colaborar com o desenvolvimento do leitor crítico a partir
da análise de mecanismos referentes ao estilo dos gêneros discursivos
utilizados na oficina.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A linguagem é uma forma de ação, de integração entre os sujeitos, que
se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos da sociedade.
Segundo os PCN (1997, p. 25) “Produzir linguagem significa produzir
discursos. Significa dizer alguma coisa para alguém, de uma determinada
forma, num determinado contexto histórico.” Assim, não se concebe hoje o
estudo da língua, de suas manifestações fora de seu contexto de produção.
Sabemos que nossas atividades de linguagem se organizam e ao
mesmo tempo são organizadas por meio de enunciados variados heterogêneos
e complexos como as próprias atividades do homem.
” a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.” BAKHTIN (1992a, p. 279, apud SAITO e NASCIMENTO):
Isso significa que os gêneros discursivos já estão circulando na
sociedade antes que o homem faça uso desse instrumento. Por essa
perspectiva (MARCUSCHI,2002, p.19) afirma, que “os gêneros textuais são
fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto
do trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as
atividades comunicativas do dia-a-dia.” Sendo assim, cabe ao professor
oportunizar ao aluno o contato com os mais variados gêneros textuais, de
modo a torná-lo letrado.
[...] um sujeito capaz de fazer uso da linguagem escrita para sua necessidade individual de crescer cognitivamente e para atender as várias demandas de uma sociedade que prestigia esse tipo de
linguagem como um instrumento de comunicação. KATO (1987, p.7):
O letramento é o resultado da ação de ler e escrever, inicia quando o
aluno começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na
sociedade e se amplia por toda a vida, com a participação das práticas sociais.
Bakhtin, (1999) afirma que ao considerar o conceito de letramento, também é
necessário ampliar o conceito de texto o qual envolve não apenas a
formalização do discurso verbal ou não verbal, mas o antes e o depois de sua
produção.
Na realidade, o conceito de letramento vai muito além de um conjunto de
práticas sociais que utilizam a escrita como sistema simbólico (KLEIMAN,
2007). Em uma sociedade impregnada de diferentes formas de uso das
linguagens (corporal, plástica, sonora, midiática, virtual etc.), faz-se necessário
trabalhar na escola com múltiplas semioses, de forma que o aluno participe
com proficiência e consciência cidadã de diferentes práticas sociais.
Rojo (2009, p. 119) explica que trabalhar com o multiletramento é
“enfocar, portanto, os usos e práticas de linguagens (múltiplas semioses), para
produzir, compreender e responder a efeitos de sentido, em diferentes
contextos e mídias”. Para tanto, a autora orienta o trabalho nas escolas com
três tipos específicos de letramento:
a - Letramento multissemiótico: envolve as práticas de leitura e produção de
textos em diversas linguagens e semioses (verbal oral e escrita, musical,
imagética, corporal, digital etc.). Isso engloba o trabalho com textos impressos,
mas também com as mídias analógicas (TV, rádio, vídeo, cinema, fotografia) e,
sobretudo, com as mídias digitais, na medida em que a digitalização é o futuro
da informação e da comunicação;
b - Letramento multicultural: envolve as práticas de leitura e produção de textos
abordando nelas, tematicamente, os produtos culturais locais, populares, da
cultura de massa, da cultura escolar e da cultura global;
c - Letramento crítico: envolve a abordagem dos textos e produtos das diversas
mídias e culturas, sempre de maneira crítica e capaz de desvelar suas
finalidades, intenções e ideologias. O desenvolvimento desse letramento só é
possível quando trabalhamos na escola dentro de uma perspectiva discursiva
no trato com o texto literário ou não.
Segundo as Diretrizes Curriculares, além de entender o conceito de
letramento se faz necessário entender também o conceito de texto para
trabalhar a prática da leitura.
[...] o qual envolve não apenas a formalização do discurso verbal ou não verbal, mas o evento que abrange o antes, isto é, as condições de produção e elaboração; e o depois, ou seja, a leitura ou a resposta ativa. Todo texto é assim, articulação de discursos, vozes que se materializam, ato humano, é linguagem em uso efetivo Diretrizes Curriculares (2008, p.51):
Logo, para um efetivo trabalho de formação de leitores na sala de aula, é
necessário que um dos objetivos da escola seja, de um lado, possibilitar a
inserção do aluno nas atividades de linguagens que envolvem práticas sociais
da sua comunidade e, de outro mediar processo de formação para que possa
integrar o aprendiz às diversas categoriais de texto em que se materializam as
práticas sociais.
Para Hila (2009), o ponto de partida para o trabalho em sala, quando
pensamos na questão do letramento, com qualquer gênero, é a esfera, já que
ela também será responsável pela produção de sentido do texto. Podemos
entender a esfera como um campo ideológico no qual o gênero é depositado e
que agrega a esse gênero sentidos específicos. Por exemplo, ao trabalharmos
o gênero propaganda publicitária, inserida na esfera midiática não podemos
esquecer, no trabalho com a leitura, de que o grande propósito dessa esfera é
o lucro, a audiência, o que faz com que todos os gêneros discursivos a ela
pertencentes agreguem esse sentido.
Além da esfera, segundo Bakhtin (1992), o trabalho com os gêneros
discursivos envolve três elementos: o tema, a estrutura composicional e o
estilo. O tema é o que dá unidade de sentido ao texto, é o que pode ser dizível
em um determinado gênero. A estrutura composicional é a organização, a
forma de composição do texto. Quanto ao estilo, referem-se às unidades
linguístico-discursivas, que são importantes para caracterizar um gênero.
Além dos elementos constitutivos do gênero, outro importante conceito
para nortear o trabalho de leitura com os gêneros discursivos é o contexto de
produção. Bronckart (2003, p. 93) define o contexto de produção de um texto
(oral ou escrito) como “conjunto dos parâmetros que podem exercer uma
influência sobre a forma como o texto organizado”. Esses parâmetros, de forma
bastante didática, são explicados por Saito e Nascimento (2005, p.14):
1 - A esfera da comunicação: cenário ou formação social na qual o texto se localiza (Mídia, Literatura, Família, Igreja, Escola, etc.); 2 - A identidade social dos interlocutores: o lugar social de onde falam os parceiros da interação, isto é, o texto além de ter um emissor que é a pessoa que produz e um receptor a que recebe, também apresenta posições sociais por eles desempenhadas; 3 - Finalidade: objetivo ou o intuito discurso da interação; 4 - Concepção do referente: o conteúdo temático, o referente de que se fala;
5 - Suporte material: as circunstâncias físicas em que o ato da interação se desenrola (livro didático, outdoor, jornal-online, oral ou escrito); 6 - A relação interdiscursiva: o modo como se dá o diálogo entre as vozes que circulam no texto (que vozes são essas? da dona de casa? do vendedor? do político? da criança?) que fala em certas passagens do discurso (das diferentes esferas), as vozes que emergem e se confrontam no texto.
Além desses aspectos, a seleção dos gêneros para aula de leitura, é
uma preocupação constante para o professor. Ao escolher o gênero deve-se
levar em conta: o nível da sala e de desenvolvimento real do aluno; o contexto
da escola; o currículo das séries anteriores; a diversidade de textos e de
esferas.
Logo, o papel do professor na formação de um leitor crítico é
imprescindível, pois não se aprende a ler com proficiência crítica sem
mediação planejada para a prática de leitura.
A leitura pode ser descrita como um processo e se desenvolve por meio
de etapas, são elas: a decodificação, a compreensão, a interpretação e a
retenção. (Menegassi, 1995, p. 87).
a - DECODIFICAÇÃO: momento em que ocorre o reconhecimento do código
escrito e sua ligação com o significado pretendido no texto. Esta fase deve
preceder as seguintes, senão a leitura se torna uma decodificação fonológica
apenas. A decodificação manifesta-se em dois níveis: (1) decodificação
fonológica; (2) decodificação ligada à compreensão. Essa é a responsável pela
compreensão da leitura.
b - COMPREENSÃO: acontece quando o leitor consegue reconhecer as
informações e os tópicos principais do texto, capaz de aprofundar a leitura e
realizar mecanismos de inferências. Para isso, deve dominar as regras
sintáticas e semânticas da língua e também que conheça as regras textuais do
gênero. O sucesso dessa etapa depende do conhecimento amplo do contexto,
isto é, de uma série de fatores externos ao texto, mas a ele relacionados, como
situações sociocultural e histórico-geográfica em que se inserem o texto e seus
interlocutores. Esses fatores vão preparar o leitor para uma verdadeira
interpretação.
c - INTERPRETAÇÂO: é a etapa de utilização da capacidade crítica do leitor,
na qual analisa, reflete e julga as informações que lê. Se na etapa anterior ele
foi capaz de processar informações e relacioná-las, enriquecendo seus
próprios conhecimentos, nesta vai reformular conceitos, analisar e questionar
temáticas construindo finalmente e sentido do texto. A interpretação pode ou
não ser dirigida. Na produção de interpretações, as inferências são relações
extremamente importantes, pois são as pontes de sentidos que o leitor faz
entre si e o texto. A produção de inferências é necessária para que a
interpretação textual se desenvolva.
c - RETENÇÂO – É a última etapa do processo de leitura e a responsável pelo
armazenamento das informações mais importantes na memória do leitor. Ela
pode ocorrer em dois níveis: resultado do processamento da compreensão – o
leitor não precisa fazer uso da interpretação, apenas armazenar na memória o
tema e as informações essenciais do texto, sem analisá-las: resultado do
processo da interpretação – é mais amplo que a compreensão, os
conhecimentos prévios do leitor são alterados com o acréscimo de informações
advindas do resultado do julgamento realizado pelo leitor sobre o texto lido.
No processo de leitura essas etapas ocorrem simultâneas e
recursivamente, dependendo uma da outra para sua realização.
3 – IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO
A Implementação do projeto foi realizada com os alunos do sétimo ano
da Escola Estadual Cecília Meireles, município de Colorado - PR, nos meses
de fevereiro a maio de 2014. O projeto foi elaborado para o público do oitavo
ano, porém a Implementação realizou-se no sétimo ano, pois devido a
distribuição de aula, a professora ficou sem a turma referida.
As oficinas de leitura foram assim organizadas:
Oficina 1 - “As diferentes formas do amor”
Inicialmente foi apresentado o projeto aos alunos, questionando-os
sobre o tipo de leitura que gostam como também o tema que mais lhes chama
a atenção. Para dar início à execução do projeto, foi apresentado o tema a ser
trabalhado “amor” e, em seguida diante de questionamentos orais sobre esse
sentimento, abriu-se uma discussão a respeito do mesmo. Encerrada a
discussão, fez-se a apresentação de três vídeos: “Música: Monte Castelo de
Renato Russo”; “Vídeo institucional” e “No próximo ano vamos amar como os
animais”. A cada vídeo apresentado, fez-se uma pausa para discutir sobre a
relação do mesmo com o tema do projeto e no final, sobre as diferentes formas
de amor mostradas em cada vídeo. A seguir os alunos realizaram uma
interpretação de uma tira e foi apresentado um acróstico com a palavra AMOR.
Para encerrar a oficina, propôs-se aos alunos a produção de um acróstico com
a palavra “FAMÏLIA”.
Oficina 2 - “Retratos de amor”
Nesta oficina foram realizadas leituras de um texto verbal e dois não
verbais. Primeiramente os alunos leram um texto informativo cujo título é
“História do beijo”. A seguir foram apresentadas para leitura duas telas: “O
beijo” de Gustav Klimt e “Menina com o gato e piano” de Di Cavalcanti. Após a
discussão e interpretação, os alunos reproduziram uma das telas usando
recortes de revistas e papéis coloridos.
Oficina 3 - “O amor em versos”
Nesta oficina foram realizadas leituras de poemas que abordam o tema
“amor”. No primeiro momento, foi apresentado para discussão o poema
“Diferença entre amor e amizade” de Willian Shakespeare. Posteriormente, foi
apresentado o vídeo com o poema “Soneto de fidelidade”, declamado pelo
próprio autor, Vinícius de Moraes. O mesmo foi oferecido também em material
impresso para que os alunos realizassem a leitura e a interpretação.
OFICINA 4 - “O amor vira notícia”
Inicialmente foram distribuídos jornais aos alunos. A seguir fez-se uma
explanação sobre os cadernos que compõem o jornal, a finalidade de cada
caderno e os gêneros textuais presentes no jornal, direcionando-os para o
gênero “notícia”, pois posteriormente fariam a leitura de algumas delas. E
assim foi pedido que alguns alunos lessem uma notícia que lhes chamou
atenção e em seguida foi apresentada a estrutura e a linguagem presente
nesse gênero textual. A seguir, receberam duas notícias jornalísticas
xerocadas cujo assunto era relacionado ao tema do projeto: “Cão salva bebê
abandonado em floresta no Quênia”; “Mulher salva e adota cão amarrado por
adolescentes a trilhos de trem”. Após a leitura, fez-se uma discussão sobre o
acontecimento relatado nas mesmas e a repercussão que causaram na época
em que foram publicadas. Depois os alunos realizaram a interpretação escrita.
Ao final desta oficina os alunos, em dupla, produziram uma notícia de acordo
com o tema trabalhado.
OFICINA 5 - “Notícia vira crônica”
Foram oportunizados momentos, para que os alunos fizessem
comparação entre a notícia “Vira - lata com muita raça” e a crônica de Luís
Fernando Veríssimo “Enfim, um herói”. Essa comparação teve como objetivo
levar o aluno a entender e definir o que é uma crônica. Em seguida foi
apresentado apenas o título da crônica de Vinícius de Moraes, “O amor por
entre o verde” para levantamento de hipóteses e em seguida foi realizada a
leitura silenciosa e compartilhada para confirmação ou não das hipóteses e a
interpretação da mesma.
Para finalizar o “Projeto temático”, foi apresentado o vídeo com a música
“Só o amor” de Daniel e Padre Fábio de Melo.
Durante este trabalho, todas as atividades de leitura propostas pelo
professor tiveram o objetivo de despertar a criticidade dos alunos em relação
ao texto lido para que compreendam que todo texto é articulação de discursos,
a própria linguagem em uso efetivo e assim ampliem a leitura de mundo.
4 - AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS
Embora foram realizadas todas as oficinas, serão apresentados os
resultados apenas das oficinas 1,4 e 5.
Na oficina 1, antes da aplicação do material didático fez-se
questionamentos orais sobre o sentimento que seria o tema de todo o trabalho
a ser desenvolvido: “O que é o amor para vocês?”; “Qual a importância deste
sentimento na vida das pessoas?”; “Sabemos que o amor se expressa em
diferentes grupos sociais e de diferentes modos. Na opinião de vocês, qual o
de maior importância: o amor dos pais para com os filhos, o amor entre casais,
o amor entre irmãos, o amor pelos animais, o amor pelo próximo? Foi uma
discussão muito proveitosa, pois houve participação total dos alunos que além
de demonstrarem a opinião, deram exemplos da importância do amor em
situações reais no cotidiano. Por meio dessa discussão houve uma interação
entre o trabalho a ser realizado e o conhecimento prévio dos alunos acerca do
tema do projeto. Alguns alunos, a maioria meninas, também expuseram sobre
leitura realizadas extraclasse de diferentes gêneros textuais que relatavam
sobre o amor.
Também foi proposto aos alunos que cada um representasse o amor
por meio de um desenho e o definisse. Percebeu-se que na visão da maioria, o
amor conjugal é o de maior relevância; também notou-se a dificuldade de
alguns alunos em demonstrar e definir esse sentimento.
Logo após, foram apresentados os vídeos: “videoclipe da música Monte
Castelo” de Renato Russo, “Vídeo institucional” e “No próximo ano vamos amar
como os animais”.
Durante a discussão dos vídeos ficou evidente que esse gênero textual
era novidade para os alunos, pois não associam vídeos com a ideia de texto,
como se não fosse um instrumento de leitura. Consequentemente
demonstraram muita dificuldade em entender a mensagem apresentada nos
vídeos. As questões interpretativas também não surtiram os resultados
esperados haja vista não dominarem esse gênero textual.
Na oficina 4, constatou-se que a maioria dos alunos nunca havia
manuseado um jornal com todos os cadernos e para eles jornal serve apenas
para trazer notícia, desconhecendo os diferentes gêneros textuais presentes
neste veículo de comunicação. Direcionados a analisar as notícias de acordo
com as informações oferecidas sobre a estrutura e a linguagem empregada
nesse gênero textual, verificou-se que entenderam o assunto. Portanto, a aula
foi uma experiência valiosa, primeiro porque os alunos demonstraram interesse
em conhecer um jornal na íntegra, questionando e também por verificar que
entenderam o gênero notícia, sua estrutura e linguagem no momento em que
produziram suas próprias notícias.
Em relação ao trabalho realizado na oficina 5 com o gênero crônica,
posso afirmar que os alunos tiveram dificuldade em definir tal gênero mesmo
após compararem uma notícia com uma crônica que tratavam do mesmo
assunto, pois não tinham conhecimento prévio sobre este gênero textual. Fez-
se necessário uma explicação sobre tal gênero e também proporcionar uma
discussão entre os dois textos para que chegassem à definição de crônica.
Logo após, realizou-se a leitura compartilhada de uma crônica de Vinícius de
Moraes. Ao analisarem-na os alunos demonstraram certa dificuldade em
relação ao vocabulário e também em interpretá-la, pois não se trata de uma
narrativa linear, apresenta momentos em que o narrador passa a demonstrar
seu modo de enxergar os fatos.
Diante da proposta desenvolvida, podemos concluir que trabalhar
diferentes gêneros discursivos a partir de um mesmo tema proporciona ao
aluno entender que os textos apresentam relações dialógicas, mesmo sendo
separados um do outro no tempo e no espaço. Embora os alunos
apresentarem um nível de leitura, compreensão, interpretação e exposição
clara das ideias, muito baixo, demonstraram interesse e se envolveram na
realização das atividades e verificou-se uma melhora significativa na
compreensão e interpretação a cada gênero trabalhado.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação deste Projeto comprovou que o processo de ensino-
aprendizagem de leitura só acontece, de fato, se proporcionarmos ao aluno
condições para que se torne um leitor crítico, e por meio da leitura de diferentes
gêneros discursivos a partir da mesma temática, isso é possível.
Em relação aos resultados alcançados foram bastante satisfatórios, pois
a leitura, gradativamente, foi despertando o interesse dos alunos. A escolha
dos gêneros trabalhados foi preponderante para a motivação e engajamento de
todos os alunos nas atividades propostas tanto de oralidade quanto de leitura
Essa motivação contribuiu para o desenvolvimento da leitura crítica dos textos,
pois demonstraram empenho em entender o contexto de produção do gênero e
também nas atividades de compreensão literal, inferencial e de interpretação.
O esforço em sanar as dúvidas foi perceptível em todas as oficinas. Até
mesmo, os desmotivados que não gostam de participar das aulas, foram
atraídos pela temática.
A maior dificuldade encontrada para a concretização com êxito da
proposta, se deu na prática discursiva da oralidade. Como essa prática foi
priorizada em vários momentos, dedicou-se muito tempo a ensinar à turma a
convivência democrática do falar e do ouvir.
Portanto, os resultados obtidos neste projeto foram muito positivos, pois
deixou evidente que a leitura por meio de atividades com diferentes gêneros
discursivos com a mesma temática, despertou nos alunos maior interesse tanto
em relação à leitura quanto à realização das atividades propostas.
Diante disso, ficou evidente que para o aluno obter uma aprendizagem
significativa, de forma mais agradável e interessante, o professor deverá
oportunizar ao aluno atividades que envolvam temas que fazem parte do seu
próprio cotidiano e interesse. Sendo assim, a escolha dos gêneros, bem como
o tema dos textos deve ser criteriosa, pois é o momento responsável pelo
sucesso ou fracasso de todo o trabalho de leitura. Atribuo o êxito do trabalho
desenvolvido a esse fator, pois ao serem escolhidos os gêneros e os textos,
foram levados em consideração os objetivos da leitura, o contexto da sala de
aula, e, principalmente, a faixa etária.
Em síntese, com a realização deste trabalho concluímos que é
imprescindível envolver e estimular os alunos nas atividades de leitura para
que eles desenvolvam habilidades necessárias ao ato de ler e, assim se
tornem leitores críticos.
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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