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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
PROFESSORAS NEGRAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA-
UFBA: COR, STATUS E DESEMPENHO
Angela Ernestina Cardoso de Brito1
Resumo: O trabalho apresenta o processo de inserção das mulheres negras na docência do ensino
superior na Universidade Federal da Bahia. A pesquisa, ainda em andamento, mostra dados parciais
coletados dos cursos de Ciências Sociais, Direito, Filosofia, Geografia, História, Pedagogia,
Psicologia e Serviço Social. Como instrumento metodológico utilizou-se estudo bibliográfico em
fontes primárias e secundárias, além de pesquisa exploratória e documental, realizada no currículo
lattes, contatos por telefones, e-mails, acesso a sites. Nesta fase foram realizadas conversas informais
com alunos e funcionários, com a intenção de identificar os (as) docentes negros e negras a partir do
critério da heteroclassificação, que consiste na identificação da cor/raça de determinado grupo ou
pessoa por outrem. Foram mapeados e identificados 400 professores(as), negros(as) e brancos(as).
Deste total foram identificados 158 professores negros e apenas 20 professoras negras, sendo que nos
cursos de Geografia, Filosofia e Ciências Sociais não há docente negra. A superação das
desigualdades raciais e sexuais no espaço acadêmico está no entendimento do racismo como
estruturante da sociedade brasileira e de suas instituições. As agências de ensino público devem
tranversalizar as categorias étnico-raciais e de gênero, elaborar uma matriz que permita orientar nova
visão de responsabilização dos agentes públicos e das agências formadoras em relação à luta pela
superação das assimetrias raciais e de gênero.
Palavras-chave: Ensino superior. Docentes negras. Discriminação. Racismo.
I. INTRODUÇÃO
O trabalho parte de estudo realizado na Universidade estadual de Montes Claros –
Unimontes2, e de estudos teóricos os quais apontaram para a necessidade de investigar o processo de
inserção e a trajetória acadêmica das professoras negras em outras instituições de ensino superior
considerando a escassa produção que versa sobre a participação das mulheres negras com doutorado
ou mais e atuantes no ensino universitário3.
Embora os dados do IBGE (2010) tenha destacado um aumento na inserção de negros e negras
no ensino superior, um estudo importante, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep): Mulher na Educação Brasileira Superior Brasileira, 1991–2005,
deixou de incluir o quesito raça.
É importante destacar que estudos realizados sobre mulheres e educação no Brasil, pouco se
preocupam em incluir a variável raça nos apontamentos, as experiências de vidas das mulheres negras
1Graduada em Serviço Social pela UNESP. Mestre em Educação pela UFSCar. Doutora em Política Social pela UFF e
professora do Curso de Serviço Social da Universidade Federal da Bahia -UFBA. Email: [email protected]. 2 Realizados nos períodos de 2012 a 2015 na Universidade Estadual de Montes Claros-MG. 3 Agradecimentos especiais a APUB (Associação dos Professores Universitários da Bahia) que proporcionou a
participação no evento.
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vem sendo sistematicamente negligenciadas pelos pesquisadores e pesquisadoras que tratam da
questão. Silva (2008) enfatiza que a produção dos recortes de raça e gênero depende de recursos
técnicos e econômicos, da formação e, sobretudo, da sensibilidade dos gestores, para perceber o valor
de sua geração. As pesquisas indicam que os estudos sobre gênero têm avançado sistematicamente,
nas últimas décadas do século XX4, principalmente nos estados Unidos e contribuído
significativamente para compreensão dos múltiplos eixos da opressão feminina, porém o recorte
enfatizando raça, etnia e classe, especialmente no que cerne as experiências vivenciadas pelos negros
e negras no Brasil, não tem priorizado as diferenças raciais. O que faz dos estudos realizados serem
abordados numa perspectiva parcial5. Para Stolcke (1990) em culturas estratificadas tanto por gênero
quanto por raça, o gênero é também uma categoria racial e a raça6, uma categoria de gênero.
Pesquisa realizada por PINTO (2007) com o objetivo de resgatar as trajetórias de vida de
mulheres negras ingressas na pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), no período
2004-2006, apontou as possíveis influências de fatores relativos ao gênero e ao pertencimento racial
no acesso delas ao mestrado na UFF. Considerou a existência de desigualdades de participação de
mulheres e homens, e de negros e brancos na pós-graduação da UFF.
Entende-se que o fato das mulheres negras representarem a pequena minoria nas universidades
brasileiras tem dificultado o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas sobre a sua trajetória e
inserção nestes espaços. As pesquisas têm sido parciais, representam uma totalidade generalista,
absoluta e universalizante, o que reporta para a consolidação do mito da democracia racial no país e
da consolidação da dominação branca, notoriamente consolidada na academia.
Os dados apresentados neste artigo fazem parte de uma pesquisa maior, cujo objetivo é mapear
todas as áreas de conhecimento da UFBA, destacando e quantificando todos os docentes conforme
sexo e raça. O texto, apresentado, faz o mapeamento da inserção das mulheres negras nos cursos de
4 Embora as feministas negras brasileiras tenham tentado trabalhar com as especificidades das mulheres negras pelo
menos desde o começo dos anos 80," seus Insights relativos à intersecção entre raça e gênero não se tornaram prioridades
de pesquisa nos estudos sobre mulheres. Nos inicios dos anos 80, Leila Gonzáles investigou as especificidades das vidas
de mulheres negras: O lugar da mulher negra, criticando estudos sobre mulheres brasileiras por levar em conta apenas
gênero e classe. Sueli Carneiro e Thereza santos em 1985: Mulher Negra, analisou estatisticamente o do status das
mulheres negras no Brasil. 5 PASSOS. Elizete Silva. Et Al. Um mundo dividido. O gênero nas universidades do Norte e Nordeste. Salvador: UFBA,
1997; RISTOFF, Dilvo. A mulher na Educação Superior brasileira 1991–2005. Brasília: Inep, 2007. Disponível em:
<http://www.ifgoias.edu.br/observatorio/index.php/sugestoes-de-leitura/127>. Acesso em: 10 mar. 2010. Os dois estudos
em questão não fazem recorte racial 6 O conceito de raça, no âmbito do campo dos estudos raciais no Brasil, não é entendido a partir de um estatuto biológico
nem de uma realidade natural. Trata-se, de uma forma de classificação social baseada numa atitude negativa frente a
certos grupos sociais. A noção de raça não se refere às diferenças físicas como a noção biológica de sexo, mas limita-se
ao mundo social (GUIMARÃES, 1999, p. 9 e 10).
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Serviço Social, Ciências Sociais, História, Geografia, Filosofia, Pedagogia, Psicologia e Direito da
Universidade Federal da Bahia – UFBA, numa perspectiva da interseccionalidade. Os resultados
apresentados partiram de pesquisa bibliográfica seguida de visitas aos respectivos departamentos na
tentativa de averiguar a presença de professoras negras. Bairros (2000) considera que as
discriminações enfrentadas pelas mulheres negras fazem parte da trajetória de vida destas mulheres e
seus efeitos mostram-se visíveis em todos os espaços que estas buscam ocupar. A produção de
pesquisas que tenham como foco ampliar a discussão sobre questão racial e de gênero faz-se
importante, pois as mulheres negras sofrem os efeitos do racismo e das desigualdades nas relações
que perpassam o dia-a-dia.
A interseccionalidade: múltiplas formas de discriminação
As dissimetrias de cor/raça e sexo no ensino superior brasileiro têm sido objeto de reflexão de
poucos autores nos últimos Trinta anos. A preocupação com o recorte racial esta visivelmente ausente
na recente literatura sobre gênero e docência do ensino superior. Ao descrever a entrada de mulheres
brancas ou negras na educação, Melo (2007) afirma:
(...) o caminho oferecido às mulheres brancas até a educação foi diferente e menos
árduo do que aquele trilhado pelas mulheres negras e índias. Historicamente este foi
um processo lento que primeiro atendeu às mulheres brancas da elite e só na segunda
metade do século 20 estendeu-se a todas as mulheres, independentemente de raça
(MELO, 2007, p. 64).
Poucas produções científicas recentes propõem-se a realizar a análise sobre trajetórias
acadêmicas considerando os critério gênero e raça. Dentre essas, um estudo realizado pelo PENESB:
Cor e Magistério de Oliveira (2006) analisa as desigualdades na docência a partir dos critérios sexo
e cor utilizando-se de dados do censo demográfico de 2000.
No artigo “Magistério Primário: profissão feminina, carreira masculina” Demartini e
Antunes (1993), a partir de entrevistas e análises documentais, analisam a trajetória de professoras
no magistério primário em São Paulo. Demonstram que a inserção feminina na carreira do magistério,
a partir da lei de 1827, estava ligada às funções maternas, pois a elas era designado o papel de ensinar
as prendas que serviriam à economia doméstica.
Outro fator que deve ser considerado é que as mulheres nesse período tinham dificuldades
em acessar o ensino, pois a educação formal (ministrada aos homens) era considerada inadequada
para as funções que elas desempenhariam na sociedade, consideradas “diferenças naturais” que
reforçavam a ideia do não-trabalho feminino, bem como as noções de vocação, que mantinham as
mulheres presas aos afazeres do lar.
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As autoras apontam que as mulheres brancas permaneciam apenas nas funções docentes,
sendo os cargos de diretoria, entre outros hierarquicamente mais importantes, destinados apenas aos
homens. As autoras ressaltam também que os homens ascendiam com facilidade e em pouco tempo.
As mulheres eram solicitadas especializações e certificações que provassem a aptidão para o exercício
de outra função, o que não ocorria com os homens.
Os estudos realizados por Pinto (2007) mostraram que na pós-graduação da UFF existem
diferenças de participação entre as mulheres e homens negros e brancos. Os homens e mulheres
brancas detêm a maior vantagem de participação em cursos de mestrado7. As desigualdades históricas
entre brancos e negros na sociedade brasileira estão presentes também no acesso desta população à
pós-graduação, tais disparidades8 estão institucionalizadas na sociedade atuando em diversos espaços.
A persistência destas desigualdades na pós-graduação mostra que elas se reproduzem com o tempo
de forma ampliada e permanente impactando no ingresso de negros e negras em concursos e no ensino
superior.
A pesquisa de Góis (2008) também constitui uma das exceções, o autor analisa os dados do
Censo Étnico-Racial da Universidade Federal Fluminense (UFF) de 2003. Observando a situação em
todos os cursos, afirma que “do corpo discente feminino da UFF, em 2003, as negras representavam
32,42% das alunas (27,37% de pardas e 5,05% de pretas) contra 67,58% de brancas”. Góis ressalta
que elas apresentam uma maior tendência a associarem estudo e trabalho nos diferentes níveis
educacionais com todas as implicações negativas que isso traz. Também completam o ensino médio
e fundamental em escolas públicas com maior frequência, possuem rendimento médio familiar menor
e moram em cidades mais empobrecidas.
Silva (2010), em seu artigo intitulado “Doutoras professoras negras: o que nos dizem os
indicadores oficiais” discute a inserção das mulheres negras com doutorado no ensino universitário.
A autora revela, por meio dos indicadores do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
- Sinaes e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira –Inep, que até o
7 A pós-graduação é o espaço de formação e qualificação do capital humano e de desenvolvimento do potencial de
inovação científico-tecnológico dos países. Pinto (2007) ressalta que no Brasil, o incremento deste nível de ensino é
estabelecido no Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2005-2010. Devido à importância que tem na sociedade
brasileira, destaca-se o fato deste ser ainda um espaço pouco estudado no que se refere ao perfil socioeconômico, de
gênero e racial dos estudantes que a compõe. (PINTO: 2007). Considerando que o ingresso em concursos no ensino
superior exige qualificação docente, os dados apresentados indicam que a entrada de negros e negros em cursos de
mestrado e doutorado impactam diretamente na inserção de negros e negras em concursos públicos para o ensino superior. 8 As defasagens entre indicadores educacionais de negros e brancos estão presentes desde a primeira etapa do sistema
educacional brasileiro e devem ser estudadas na interface com outros marcadores sociais como sexo, região de moradia,
renda e faixa de idade. (Fundação Carlos Chagas, 2010)
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ano de 2005, num total de 63.234 docentes na educação universitária, apenas 251 são negras. Há um
número significativamente inferior de mulheres nos campos de representações de poder, no âmbito
universitário, uma vez que o desempenho individual não constitui a principal chave responsável por
permitir a ascensão na carreira. Acrescenta que o acesso ao mundo acadêmico inclui também as
relações de poder mediadas pelas de gênero.
No início da década passada (1990), as mulheres negras (pretas e pardas) com ensino
superior (acima de 12 anos de estudo) ainda estavam abaixo da metade das mulheres
brancas, com a mesma formação. Com este mesmo número de anos, as mulheres
negras se fazem presentes em maior número que os homens do seu mesmo grupo
racial (SILVA, 2007, p. 144).
Brito (2014) em estudos realizados com docentes negras na Unimontes, apresentou dados
qualitativos referentes às situações envolvendo diversas formas de discriminação racial, vivenciadas
por professoras negras naquela universidade. Os relatos da pesquisa desenvolvida por Brito (2014)
mostraram as diferentes experiências e as diferentes formas de discriminação vivenciadas pelas
docentes negras da Unimontes.
Os estudos permitem considerar que há uma tendência na sociedade de classes em naturalizar
ideologicamente as desigualdades sociais e raciais. Neste caso as mulheres negras são impactadas por
múltiplas formas de discriminação que ocorre no processo de hierarquização baseada em critérios
raciais, de gênero, de classe e geração derivado da lógica da sexualidade heteronormativa revela que
a interseccionalidade9 nos possibilita compreender o entrecruzamento de múltiplas formas de
discriminação: discriminação composta, cargas múltiplas, ou como duplas ou triplas discriminações.
(CRENSHAW, 2002)
MULHERES NEGRAS NA UFBA
O estudo realizado na UFBA tomou-se como instrumento metodológico a pesquisa
bibliográfica com análise de fontes primárias e secundárias, para aproximação inicial com os temas
que perpassam a finalidade deste estudo. Além disso, realizou-se pesquisa exploratória e documental
a partir de consultas nos sites da Superintendência de Administração Acadêmica- SUPAC e no site
9A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da
interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o
patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as
posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações
e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do
desempoderamento (Creenshaw, 2002:177).
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da Pró-Reitoria de Desenvolvimento de Pessoas – PRODEP, PROPLAN (Pró-Reitoria de Pessoal) e
SIP (Sistema Integrado de Pessoal) da UFBA e acesso ao currículo lattes.
A pesquisa exploratória contou com a utilização da técnica de snowball, (snowball sampling),
por tratar-se de uma população de baixa incidência e de difícil acesso, dentro da academia,
possibilitando assim a expansão do grupo de participantes. Utilizou-se, como instrumentos
metodológicos, contatos telefônicos e visitas sistematizadas na Faculdade de Direito, de Educação,
no departamento de História, Direito, de Ciências Sociais, no colegiado de Filosofia da Faculdade de
Ciências Humanas, de Serviço Social, Psicologia do Instituto de Psicologia, e no departamento de
Geografia. Nesta primeira fase mapearam-se os cursos de História, Ciências Sociais, Filosofia,
Direito, de Serviço Social e Psicologia, todos da área da área III da UFBA. Realizaram-se conversas
informais com estudantes e funcionários negros dos referidos cursos, apresentando-lhes as listas,
produzidas com dados de todas as professoras dos cursos, para que estes identificassem, as
professoras negras, por meio da heteroclassificação. É importante enfatizar que todas as professoras
heteroclassificadas como negras e pardas foram contatadas e, as que se autodeclaram negras ou pardas
forma entrevistadas10.
A partir da lista das professoras heteroclassificadas como pardas ou negras11 realizou-se
pesquisa documental a partir dos currículos lattes, para conhecer a trajetória acadêmica destas. Por
meio do cruzamento das informações, das listas produzidas, sistematizou-se os dados por meio de
tabela com critérios baseados em: gênero, raça/etnia, área de conhecimento e curso. A intenção foi
mapear onde estavam as docentes negras em cada curso12.
Apresentaremos abaixo dados quantitativos coletados na primeira fase desta pesquisa.
Tabela 1- Distribuição de professores(as) por raça/cor13 conforme curso de Ciências Sociais.
Ano 2016-2017.
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Branco Preto Pardo Total
Professoras 24 0 1 25
Professores 32 0 0 32
Total 56 0 1 57 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
10 Os conteúdos de todas as entrevistas, serão apresentados na 2ª fase da pesquisa. 11 O termo “negra” indica a somatória dos valores encontrados para pretos e pardos. Os indicadores sociais, descritos na
literatura, aproximam os valores encontrados para pretos e pardos. Adotamos o conceito de raça conforme Guimarães
(2002), para quem raça é uma categoria socialmente constituída. 12 A pesquisa ainda em fase de desenvolvimento pretende mapear os cursos de todas as áreas de conhecimento da UFBA. 13 Foram excluídos amarelos e indígenas.
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Nota-se que a maior parte dos professores (as) inseridos (as) no curso de Ciências Sociais são
brancos e brancas, representando 24 das professoras brancas e 32 dos professores brancos, enquanto
que no mesmo curso há apenas 1 de professora heteroclassificada14 como parda e nenhum professor
negro.
Tabela 2- Distribuição de professores (as) por raça/cor conforme curso de Direito. Ano 2016-
2017.
CURSO DE DIREITO
Branco Preto Pardo Total
Professoras 36 1 0 37
Professores 79 2 0 81
Total 115 3 0 118 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
No curso de direito, na sua maioria, representado por professores brancos e brancas: 36
professoras brancas, 79 de professores brancos, enquanto que há apenas 1 professora negra e 2
professores negros.
Tabela 3- Distribuição de professores (as) por raça/cor conforme curso de Filosofia.
Ano 2016-2017.
CURSO DE FILOSOFIA
Branco Preto Pardo Total
Professoras 8 0 0 8
Professores 12 4 0 16
Total 20 4 0 24 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
Já no curso de Filosofia a situação ainda é mais grave: não apresenta nenhum professor negro
e nenhuma professora negra15 de um total de 24 professores (as) brancos(as).
Tabela 4- Distribuição de professores(as) por raça/cor conforme curso de Geografia. Ano
2016-2017.
CURSO DE GEOGRAFIA
Branco Preto Pardo Total
Professoras 9 0 0 9
Professores 7 1 5 13
Total 16 1 5 22 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
14 Posteriormente a professora foi contatada e de declarou parda. Conforme a metodologia realizou-se a entrevista, cujos
dados serão apresentados em outra fase da pesquisa. 15 Todos os dados foram conferidos pelos coordenadores dos referidos cursos.
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A mesma ausência se repete no curso de Geografia onde não encontramos nenhuma
professora negra e apenas 1 professor negro de um total de 25 professores(as) brancos(as).
Tabela 5- Distribuição de professores(as) por raça/cor conforme curso de História. Ano 2016-
2017
CURSO DE HISTÓRIA
Branco Preto Pardo Total
Professoras 15 1 0 16
Professores 11 1 0 12
Total 26 2 0 28 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
No curso de história de um total de 28 professores (as) encontramos apenas uma professora
negra.
Tabela 6- Distribuição de professores(as) por raça/cor conforme curso de Pedagogia. Ano
2016-2017
CURSO DE PEDAGOGIA
Branco Preto Pardo Total
Professoras 50 8 2 60
Professores 29 2 1 32
Total 79 10 3 92 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
Do total de 92 professores e professoras inseridos no curso de pedagogia apenas 8 são
professoras negras e 50 professoras brancas.
Tabela 7- Distribuição de professores (as) por raça/cor conforme curso de Serviço Social. Ano
2016-2017
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
Branco Preto Pardo Total
Professoras 9 3 8 20
Professores 0 0 0 0
Total 9 3 8 20 Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
O curso de Serviço Social é o que mais apresenta professoras negras e pardas apresentado
quase 3 professoras negras e 8 heteroclassificadas como pardas do total de 20 professoras. O referido
é constituído apenas de mulheres.
Os estudos apontados por Góis (2008) evidenciam que as mulheres negras com menor capital
cultural, possivelmente em decorrência da menor herança escolar familiar e tendem a apresentar
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maior tendência a associarem estudo e trabalho nos diferentes níveis educacional, ocasionando, dentre
outros, a tendência a ingressarem no ensino superior em cursos de menor valoração social, como
Pedagogia e Serviço Social.
Tabela 8- Distribuição de professores(as) por raça/cor conforme curso de Psicologia. Ano
2016-2017
Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
Nos cursos de psicologia encontra 1 professora negra, mas, nenhum professor negro de total
de 40 professores(as) brancos(as).
Tabela 9- Distribuição de professores(as) por raça/cor conforme área de conhecimento e
curso. Ano 2016-2017.
Fonte: Tabulação própria. Inserção de professoras negras na UFBA.
Os dados revelam que tanto os professores como as professoras negras continuam em
desvantagem no ingresso na carreira universitária. Os homens negros ficam em desvantagem ao se
considerar, por exemplo, os homens e as mulheres brancas e as professoras negras continuam em
desvantagem em relação a todos eles.
III. CONCLUSÃO
A inserção e trajetória das mulheres negras na docência no ensino superior não tem sido
problematizada em termos dos resultados de uma política educacional equânime e justa, considerando
as diferentes áreas de produção de conhecimento, da tecnologia e da ciência. A diversidade racial tem
aparecido mais fortemente como valor agregado no plano da cultura e menos no campo do
desenvolvimento científico e tecnológico.
Branco Preto Pardo Total
Professoras 25 1 1 27
Professores 10 0 2 12
Total 35 1 3 39
CURSO DE PSICOLOGIA
Branco Pardo Preto Total Branco Pardo Preto Total
Ciências Sociais 24 1 0 25 32 0 0 32 57
Direito 36 0 1 37 79 0 2 81 118
Filosofia 8 0 0 8 12 0 4 16 24
Geografia 9 0 0 9 7 5 1 13 22
História 15 0 1 16 11 0 1 12 28
Pedagogia 50 2 8 60 29 1 2 32 92
Psicologia 25 1 1 27 10 2 0 12 39
Serviço Social 9 8 3 20 0 0 0 0 20
176 12 14 202 180 8 10 198 400
Total GeralMulheres Homens
Área III
Total Geral
Área do
Conheci-
mento
Curso
Sexo/Cor
10
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Ainda que se possa observar uma ampliação da presença de negros e negras no ensino
universitário e na docência do ensino superior sabe-se pouco sobre a inserção, permanência e
participação da população negra no ensino universitário. A maior parte das publicações disponíveis
analisa o recorte cor/raça na educação básica e muito marginalmente no ensino universitário.
O fosso é grande no que se refere às mulheres negras, em todos os cursos, com exceção dos
cursos de pedagogia e de Serviço Social, as professoras negras ainda estão em desvantagem. Embora
as professoras brancas e negras sofram com o sexismo, as brancas conseguem ainda que de forma
desigual, se comparado aos homens de seu grupo racial, “acessar com mais facilidade os mecanismos
que, de alguma forma, lhes possibilitou – e ainda possibilita – ao menos enfrentar as desigualdades
de gênero”. (Sant´anna, 2001) Mesmo, se tratando de cursos considerados de baixa concorrência, a
inserção de mulheres negras no ensino superior ainda é pequena se comparados com o total de
mulheres e homens brancos.
Os estudos apontam para a necessidade de investigações sob a ótica da interseccionalidade,
como forma de identificar elementos e mecanismos que incidiam sobre a vida das docentes negras no
ensino superior, suas condições de vida e status produzindo evidenciando as situações de exclusão e
desigualdades que têm vivenciado na sociedade.
A professora Vera Lúcia Ferreira (2017) salienta que o debate feminista e racial é parte da
realidade da UFBA a partir da década de 1980 com a criação do NEIM – Núcleo de Estudos
Interdisciplinares sobre a Mulher na FFCH e seu compromisso com a formação de estudantes, desde
a graduação até a Pós-Graduação. Também na área de saúde, foram criados o GEM – Grupo de
Estudos sobre Saúde da Mulher, na Escola de Enfermagem, e o MUSA – Programa Integrado de
Pesquisa e Cooperação Técnica em Gênero e Saúde, no ISC – Instituto de Saúde Coletiva. Destaca-
se também o CEAO – Centro de Estudos Afro-Orientais e o programa de Pós-graduação em Estudos
Étnicos e Africanos, além de diferentes espaços acadêmicos de pesquisa e ação política sobre esses
temas. Recentemente, diferentes grupos de estudantes feministas, trazendo também para o debate as
questões raciais. Embora haja avanços, ainda não identificamos nenhum estudo da UFBA voltado
para inserção das mulheres negras nas respectivas áreas de conhecimento.
Os importantes apontamentos de Ferreira (2017) mostram avanços da UFBA no diz respeito
aos estudos raciais e de gênero, no entanto, nota-se, que nenhum trabalho foi registrado no que se
refere ao quantitativo de professores e professora negros inseridos nas diversas áreas de conhecimento
desta universidade. Um estudo minucioso intitulado: Um mundo dividido: gênero nas universidades
do Norte e Nordeste de 1997 deixou de incluir a variável raça. Daí a necessidade de produzirmos
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dados que nos ajudem a entender a discrepância entre o percentual de homens e mulheres brancos e
a relação ao número de homens e mulheres negras atuantes nas cátedras acadêmicas.
Como Moore (1988) ressalta sobre as diferenças entre as mulheres, “a diferença racial se
constrói através do gênero, como o racismo divide a identidade e a experiência de gênero, e como a
classe é moldada por gênero e raça’. (MOORE, 1988, p.1) A Política de Ações Afirmativas,
associada às outras iniciativas a políticas, seria um dos caminhos possíveis para a superação da
discrepância entre sexo e raça na docência do ensino superior e avançar na correção de
desigualdades históricas. Essas ações contribuiriam não somente para o acesso em cursos de
graduação e pós graduação, sobretudo na inserção professores negros e negras em concursos públicos
do ensino superior e inserção nas universidades.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais
e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Presidência da República, Brasília, DF, 30 de ago. 2012. Seção 1, p. 1.
CARIBÉ, Pedro. Universidade baiana foi referência na Lei de Cotas aprovada por Dilma.
Disponível em: <http://correionago.com.br/portal/universidade-baiana-foi-referencia-na-lei-de-
cotas-aprovada-por-dilma/>. Acesso em 12 mar. 2017.
CREENSHAW, Kimberlé. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação
racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas (10:1), Florianópolis, Centro de Filosofia e
Ciências Humanas e Centro de Comunicação e Expressão/UFSC, 2002, pp.171-188.
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BLACK TEACHERS AT THE FEDERAL UNIVERSITY OF BAHIA-UFBA: COLOR,
STATUS AND PERFORMANCE.
Astract: The objective of this work is to map the insertion of UFBA black teachers in the courses of
Social Work, Social Sciences, History, Geography, Philosophy, Pedagogy, Psychology. It is intended
to show the disparity when it involves the variables: race and gender. The study was constructed from
quantitative data collected through exploratory research and documentary analysis. Elements are
presented from the perspective of intersectionality, relating factors that influence, in different ways,
the advantages and disadvantages of inserting black women into higher education teaching. (KISS,
BARRIOS; ÁLVAREZ: 2007) It is considered that there is a discrepancy between the number of
black and black teachers, when compared to the total of white and white teachers. Inequality is a
result of the impact of historically installed racism and sexism.
Keywords: Racism; Teaching; Black women; higher education.
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