TRABALHOTRABALHODECENTE
Debate Debate tripartite
PELO FIM DA EXPLORAÇÃO NO TRABALHO
REVISTA DA SECRETARIA DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ | JULHO DE 2012
Ace
rvo
MTE
Trabalhadores em condições análogas a de
escravo na colheita de banana, em Guaratuba-PR, resgatados em fiscalização da
SRTE-PR.
2
EXEMPLO DE TRIPARTISMO
OS BENEFÍCIOS DO DIÁLOGO SOCIAL
TRABALHO DECENTE É OBJETIVO DA OIT
FIM DO TRABALHO ESCRAVO É PRIORIDADE
OS DELEGADOSELEITOS
ETAPAS MACRORREGIONAIS ENRAIZAM DEBATES
PEÇAS FUNDAMENTAIS
A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL
NECESSIDADE IMEDIATA
SETS ASSINA TERMO COM A OIT
4
23
47
52
13
40
10
32
21
45
TRABALHO DECENTE SE CONSOLIDA NO PARANÁ 15
O OBJETIVO DAS POLÍTICAS PARA OS JOVENS 16
PRODUTIVIDADE ALIADAÀ MODERNIZAÇÃO 19
O PAPEL DO CONSELHO DO TRABALHO 24
NEGOCIAÇÃO É DIÁLOGO SOCIAL 26
PARANÁ: MAIOR PISO REGIONAL DO PAÍS 27
PELO BEM DA MAIORIA 30
A NECESSIDADE DA QUALIFICAÇÃO 34
DIFERENÇAS HISTÓRICAS 36
QUADRO DE CONVENÇÕES DA OIT
SAÚDE E SEGURANÇA: PRIORIDADES
49
38
PROCEDIMENTOS PARA UTILIZAÇÃO DA OIT 53
SETS
GOVERNADORBeto Richa
SECRETÁRIO DE ESTADO DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIALuiz Claudio Romanelli
DIRETOR GERAL DA SECRETARIAMarcello Alvarenga Panizzi
CHEFE DE GABINETEÉlcio Luiz Coltro
DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO SISTEMA PÚBLICO DE TRABALHO, EMPREGO E RENDAJosé Maurino de Oliveira Martins
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA SOLIDÁRIACarlos Manuel Vasconcelos Santos
DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES DO TRABALHONuncio Mannala
REDAÇÃO E EDIÇÃOAndrea Mayumi Maciel Naiady Piva
SECRETARIA DE ESTADO DO TRABALHO, EMPREGO E ECONOMIA SOLIDÁRIA
Rua Pedro Ivo, 750 - Centro80010-020 Curitiba - ParanáTel: (41) 3883-2500
STADIUM COMUNICAÇÃO
Rua Fernandes de Barros, 55 Cristo Rei | 80050-360Curitiba - ParanáTel: (41) 3082-8783
EDITORIALA Conferência Estadual foi o pontapé para instituirmos o “traba-
lho decente” como o paradigma a partir do qual a questão trabalhista
passa a ser encarada no estado do Paraná. A participação de mais de 2
mil pessoas ao longo de todas as etapas do processo são a prova de que
poder público, trabalhadores, empregadores e sociedade civil estão
sensibilizados para a importância do tema.
Mais de 200 proposições foram elencadas em um esforço de cons-
truir um olhar de trabalho decente em relação aos diferentes temas
em pauta. Diversos representantes do governo, dos trabalhadores e
dos empregadores levantaram que a igualdade de gênero, o combate
ao trabalho análogo à escravidão e a erradicação do trabalho infantil
são temas essenciais a serem abordados. Resta agora estabelecermos
as prioridades de ação de maneira organizada.
A Conferência não foi apenas um evento, mas um processo de
construção que contou com etapas regionais, reuniões preparatórias
e um real envolvimento da comunidade. Seu principal fruto foi a ma-
turação do diálogo social no estado. Prova disso é o clima de coletivi-
dade presente na plenária fi nal e a inclusão dos itens não consensuais
no relatório fi nal.
O tripartismo é peça fundamental para existência do direito
do trabalho e deve estar presente no dia-a-dia das políticas pú-
blicas e negociações coletivas. Com o debate entre as três partes,
será possível que se chegue mais facilmente a acordos que satis-
façam os envolvidos.
Pensar o trabalho decente é desenvolver um modelo de desenvol-
vimento para a economia, é responder à questão: como aliar cres-
cimento econômico e direitos sociais? Na dinâmica e diversifi cada
economia paranaense esta questão deve nortear desde as políticas
públicas até as menores relações trabalhistas cotidianas.REALIZAÇÃO: APOIO:
SETS
LUIZ CLAUDIO ROMANELLI é secretário de Estado do Trabalho,
Emprego e Economia Solidária do Paraná
4
EXEMPLODE TRIPARTISMO
Conferência estadual cumpre o papel de organizar as questões trabalhistas sob a égide do trabalho decente
Sets
SETS
A Conferência Estadual do Trabalho De-
cente do Paraná foi realizada em 25 e 26 de
novembro de 2011 em Curitiba, como ini-
ciativa da Secretaria de Estado do Trabalho,
Emprego e Economia Solidária (Sets), em
parceria com o Grupo Executivo do Traba-
lho Decente do estado e com a Superinten-
dência Regional do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE).
O evento reuniu os 580 delegados eleitos
nas seis conferências macrorregionais que
ocorreram em outubro em todas as regiões
do estado, além de contar com observado-
res e convidados nacionais e internacio-
nais. Para orientar os debates, a mesa de
abertura abordou os desafios para a cons-
trução da Agenda do Trabalho Decente no
Paraná e contou com as contribuições do
professor da UFPR Sandro Lunard, do as-
sessor jurídico da Federação das Associa-
ções Comerciais e Empresariais do Estado
do Paraná (Faciap) João Carlos Regis, e com
o secretário estadual do Trabalho, Emprego
e Economia Solidária, Luiz Claudio Roma-
Representações dos três segmentos estiveram presentes na mesa de
abertura da conferência.
6
As macrorregionais tiveram início em 8
de outubro em Pato Branco, e foram segui-
das por Cascavel (7 de outubro), Maringá
(20 de outubro), Londrina (21 de outubro),
Curitiba (27 de outubro) e Ponta Grossa (28
de outubro). Ao todo, cerca de 2 mil pesso-
as compareceram às seis etapas.
O Decreto 1.652/11 do Governo do Estado
determinou a criação do Grupo Executivo do
Trabalho Decente, que funcionou de modo
tripartite e foi responsável pela organização
das conferências. O diretor do Departamen-
to de Gestão do Sistema Público de Traba-
lho, Emprego e Renda da Sets, José Maurino
de Oliveira Martins, lembra que no início do
processo havia uma expectativa de que tal-
vez não fosse possível reunir trabalhadores,
empregadores e poder público para debater
temas tão polêmicos, mas a Conferência foi
um sucesso e comprovou que isto era pos-
sível.
Os 580 delegados dos três segmentos representaram
as cerca de 2000 pessoas presentes nas etapas
macrorregionais
“O TRIPARTISMO NÃO PODE SER CONSTRUÍDO
EM TESE, ELE SÓ É POSSÍVEL NA PRÁTICA E
A CONFERÊNCIA FOI UMA PRÁTICA PRIVILEGIADA”
JOSÉ MAURINO, DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO DO SISTEMA
PÚBLICO DE TRABALHO, EMPREGO E RENDA
SETS
SETS
No entendimento do diretor do Depar-
tamento de Relações do Trabalho da SETS,
Nuncio Mannala, o funcionamento da co-
missão, “em que todas as decisões foram to-
madas de maneira consensual e respeitosa”,
foi fundamental para o estabelecimento de
uma tradição de diálogo tripartite no estado.
José Maurino explica que “o tripartismo não
pode ser construído em tese, ele só é possí-
vel na prática e a conferência foi uma prática
privilegiada”.
Romanelli ressalta que a construção tri-
partite da agenda “é a forma moderna do
mundo do trabalho estabelecer pactos de
superação da situação indigna a que as pes-
soas estão submetidas”. Para ele, o espaço
da Conferência Estadual gerou um processo
de discussão sobre o trabalho que envolvia
no debate o mundo real da economia, por
meio de suas representações. “Isto é ex-
tremamente importante para ir pactuando
estas condições melhores na vida dos tra-
balhadores e não deixar que se reproduzam
condições de trabalho ou de vida que são
combatidas no ideário da agenda do traba-
lho decente.”
A Conferência paranaense debateu mais
de 200 temas o que, na opinião de Nuncio,
favorece o avanço nos pontos para os quais
são tiradas resoluções e também a convi-
vência entre os atores do trabalho. Refle-
xos disso podem ser vistos na existência de
relações mais respeitosas nas negociações
salariais de algumas categorias. Mannala
ressalta que este processo é um aprendiza-
do, que pode avançar e retroceder.
A participação de diferentes setores do
governo na definição e implementação das
políticas públicas e de sociedades de clas-
se e da sociedade civil permite um debate
sobre o trabalho como algo que influencia
em todos os aspectos da vida. O assessor
técnico do gabinete da Secretaria Estadual
de Ciência e Tecnologia (Seti) Aroldo Mes-
sias de Mello Junior relata que a Seti par-
ticipou do espaço levando as contribuições
de sua área, como em questões relativas à
formação profissional. Para a Secretaria da
Saúde, que participou em todas as etapas, o
foco foi no debate sobre como se dará a dis-
tribuição da Política Estadual de Saúde do
Trabalhador, lançada em 23 de setembro de
2011 após a realização de eventos em todas
as 22 regionais de saúde do estado.
O presidente da Força Sindical do Para-
ná, Sérgio Butka, orgulha-se de sua entida-
de ter participado ativamente do processo
de organização da Conferência Estadual do
Trabalho Decente. Ele destaca que a cen-
tral, em conjunto com o governo, entida-
des patronais e demais centrais “ajudou na
construção de um evento democrático que
levantou importantes propostas do Paraná
para serem levadas à conferência nacional”.
A Federação da Agricultura do Estado do
Paraná buscou articular a presença de seus
8
representantes em diversas regiões do esta-
do com o apoio técnico nos debates. O dire-
tor financeiro da Faep, João Luiz Rodrigues
Biscaia, lembra que “a federação tem feito,
por meio da Comissão Nacional do Trabalho e
Previdência da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil contribuições para o aper-
feiçoamento da Norma Regulamentadora 31,
que trata do trabalho decente no meio rural”.
A Faep esteve presente em todas as reuniões
de preparação da Conferência.
O Ministério Público do Trabalho do Para-
ná (MPT/PR) cumpriu um papel diferente dos
demais, de formulação de política. A procu-
radora do MPT/PR Cristiane Maria Sbalqueiro
Lopes explica que a ação do Ministério “foi
no sentido de esclarecer coisas que feririam a
Constituição Federal, impedir propostas que
diminuíssem os direitos sociais e ratificar as
que garantiam aumentos dos direitos sociais”.
Para ela, é importante a compreensão de que a
Conferência é um espaço político, e não jurí-
dico, e neste sentido a grande força do espaço
está no fato de que as ideias ali consolidadas
em propostas são fruto de um debate político,
e é isto que dá aos debates força para que não
fiquem apenas no papel, não sejam ignoradas
na formulação de políticas públicas.
O diferencial desta conferência foi a
união entre os posicionamentos das dife-
rentes centrais sindicais em todos os temas,
na opinião do secretário adjunto de Saúde
e Segurança no Trabalho da União Geral
dos Trabalhadores (UGT-Paraná), Elizeu de
Oliveira Freitas. As centrais sindicais reali-
zaram de duas a três reuniões antes de cada
etapa macrorregional e dividiram tarefas
dentro dos grupos de discussão. “Mais im-
portante para nós foi ter participado com
representantes da central em todas as sedes
de discussão onde as conferências foram
realizadas” opina Freitas.
A participação em todas as etapas também
foi destacada pelo presidente da Nova Central
Sindical de Trabalhadores do Estado do Paraná
“É IMPORTANTE PARA NÃO DEIXAR QUE SE REPRODUZAM
CONDIÇÕES DE TRABALHO OU DE VIDA QUE SÃO COMBATIDAS
NO IDEÁRIO DA AGENDA DO TRABALHO DECENTE”
LUIZ CLÁUDIO ROMANELLI, SECRETÁRIO DO TRABALHO
Sets
SETS
(NCST/Paraná), Denílson Pestana da Costa. A
entidade mobilizou sindicatos filiados para as
seis etapas realizadas, o que permitiu a eleição
de 48 delegados e cinco suplentes para partici-
par da Conferência Estadual e, para a nacional,
a indicação de quatro delegados titulares e dois
suplentes dentre as 15 vagas destinadas à ban-
cada de trabalhadores.
Já a participação do professor Ronaldo Bal-
tar, do setor de Ciências Sociais da Universidade
Estadual de Londrina (UEL), foi com o objetivo
de enraizar um maior envolvimento da Univer-
sidade no tema, uma vez que não houve uma
participação institucional da UEL, embora vá-
rios departamentos desenvolvam projetos de
pesquisa e extensão sobre os temas da Agenda
do Trabalho Decente.
O advogado da Faciap João Carlos Régis
defende que o compromisso da Conferência
Estadual “é o de ajustar o compromisso
para a construção inteligente e paulatina de
um novo método para as relações entre os
entes produtivos”. Em sua visão, este com-
promisso é “uma espécie de comprometi-
mento sério e responsável de parte a parte,
mais precisamente das autoridades do Es-
tado”.
Régis destaca que a riqueza do país é pro-
duzida por aqueles que trabalham e produ-
zem, no entanto a carga tributária representa
cerca de 30% dos salários e 45% das receitas
mensais de uma empresa. Isto, na opinião de
Régis “faz com que sejamos o povo que mais
paga impostos no mundo e o que menos re-
cebe serviços e atendimentos de saúde, edu-
cação, segurança e seguridade social”.
Luiz Claudio Romanelli assume compromisso da Sets
com o trabalho decente.
10
A realização de seis etapas macrorregio-
nais na conferência paranaense cumpriu
um papel de incorporar as especificidades
políticas e econômicas das diferentes re-
giões do Paraná, debates que subsidiaram
a etapa estadual e deram frutos em termos
de políticas públicas.
Fruto da discussão da agenda em 2011, a
Sets criou um grupo de trabalho para pro-
mover o enfrentamento à substituição de
mão de obra no setor sucroalcooleiro pela
mecanização. O secretário Luiz Claudio
Romanelli explica que este é um exemplo
de ação objetiva criada a partir das confe-
rências, na busca de se fazer um diálogo
entre trabalhadores e empregadores.
Outro debate presente com força nas ma-
crorregionais foi a dificuldade na inserção
das pessoas com deficiência no mundo do
trabalho. Constatou-se que era necessário
uma melhor qualificação dos atendentes
nas Agências do Trabalhador, e foram to-
madas medidas para capacitar e treinar nas
agências pelo menos um profissional com
condição de poder inserir de fato as pesso-
as com deficiência no mercado. Romanelli
aponta que “são coisas muito pontuais, mas
muito práticas que são resultantes deste
ETAPAS MACRORREGIONAIS ENRAIZAM DEBATES
Abertura da etapa realizada em Maringá.
SETS
debate, desta discussão”.Algumas enti-
dades tiveram como foco a participação
em todas as etapas do processo. É o caso
da Força Sindical do Paraná e da União
Geral dos Trabalhadores. A Secretaria da
Saúde buscou fazer o mesmo, enviando a
cada conferência delegações das respecti-
vas regiões.
Mas houve participações pontuais
também de grupos e entidades que tem
foco em uma determinada região. É o caso
dos pesquisadores do Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Estadu-
al de Londrina (UEL), membros do proje-
to de pesquisa sobre Agenda do Trabalho
Decente coordenado pelo professor Ro-
naldo Baltar. “Já vínhamos acompanhan-
do e preparando indicadores para o moni-
toramento das condições de trabalho no
Paraná” conta o professor, que por conta
deste acúmulo participou da Conferência
Preparatória de Ibiporã e da Macrorregio-
nal de Londrina.
De cima para baixo: o secretário municipal do Trabalho de Curitiba, Paulo Bracarense, fala na etapa do litoral; Romanelli comanda a etapa de Ponta Grossa; público foi excelente na conferência de Londrina.
Fotos: Sets
12
O diretor do Departamento de Relações do Trabalho da SETS, Nuncio Mannala, abre a Conferência Macrorregional de Maringá.
Sets
SETS
A 87.ª Conferência Internacional do Tra-
balho realizada em Genebra (Suiça) em
1999 foi um marco na história da Organiza-
ção Internacional do Trabalho (OIT). Nela
foi instituído o conceito de “trabalho de-
cente” como uma síntese dos objetivos da
organização, de forma a definir a tarefa do
instituição internacionalmente.
A OIT destaca-se entre as agências da
ONU por ser a única composta de forma
tripartite, contendo membros do poder pú-
blico, de representantes de trabalhadores
e de empregadores. Os setores constroem
em conjunto as metas
e agendas das ações a
serem desenvolvidas.
A instituição desta
agenda objetiva “in-
centivar as medidas em
prol da igualdade e dis-
tribuição justa de ren-
da por meio do traba-
lho”, conforme explica
o professor de Ciências
Sociais da Universidade
Estadual de Londrina
(UEL)z Ronaldo Baltar.
Pesquisador de políti-
cas públicas, desenvolvimento, emprego e
trabalho decente, Baltar reforça que o com-
promisso da agenda deve ser tornar o traba-
lho um meio para a promoção da qualidade
de vida e da geração de renda, para que todos
possam participar da produção de riqueza, o
professor afirma que “um país não pode ser
rico com trabalhadores pobres” e ressalta
que a pobreza e a desigualdade estão associa-
das ao desemprego ou ao subemprego.
Há uma relação entre a agenda do trabalho
decente e outras agendas internacionais que ob-
jetivam a erradicação da miséria e da discrimi-
nação, explica Baltar.
Ele cita como exemplo
os Objetivos do Milênio
promovidos pelo Pro-
grama das Nações Uni-
das para o Desenvol-
vimento. Devido a esta
afinidade, os indica-
dores usados para ava-
liação quantitativa do
trabalho decente asse-
melham-se aos utiliza-
dos por outras agências,
mas o professor explica
que “a diferença está no
TRABALHO DECENTE É O OBJETIVO DA OIT
“O TRABALHO DECENTE É
IMPORTANTE POIS ENVOLVE O GOVERNO E
OS PATRÕES NO DEBATE”RONI BARBOSA,
EX-PRESIDENTE DA CUT/PR
Conceito criado em 1999 tem pautado a atuação internacional da OIT pela erradicação de formas exploratórias de trabalho
14
enfoque às relações de trabalho e na busca de al-
ternativas pelo diálogo social”. Assim, a análise
dos indicadores partem do pressuposto de que
não se deve buscar o desenvolvimento econô-
mico com empregos precários, discriminatórios
e que não respeitem os direitos fundamentais.
Na visão do ex-presidente da CUT-PR,
Roni Barbosa, o trabalho decente é impor-
tante “pois envolve o governo e os patrões
no debate”. O presidente da Nova Central
Sindical de Trabalhadores do Paraná e do
Conselho Estadual do Trabalho, Denilson
Pestana da Costa, lembra que o conceito
se estrutura nos quatro objetivos estraté-
gicos da OIT: a promoção do emprego de
qualidade, a extensão da proteção social,
o respeito às nor-
mas internacio-
nais e aos prin-
cípios e direitos
fundamentais no
trabalho e o for-
talecimento do
diálogo social.
Estes direitos e
princípios foram
normatizados em
convenções in-
ternacionais do
trabalho e constituem a Declaração dos
Direitos e Princípios Fundamentais do
Trabalho, lançada em 1998, durante a 87.ª
Conferência Internacional do Trabalho.
A preocupação com a qualidade de tra-
balho, com a existência de segurança e
rendimento adequado é ressaltada pelo
coordenador do Departamento de Rela-
ções do Trabalho da Secretaria Estadual
do Trabalho, Emprego e Economia Solidá-
ria do Paraná, Nuncio Mannala. Ele afirma
que o trabalho envolve o convívio familiar,
o acesso a serviços públicos e a assistência
social, ou seja, uma visão de totalidade, e
que a agenda do trabalho decente deve ser
pensada a partir desta perspectiva.
Pestana defende que um trabalho ca-
paz de garantir uma vida digna é condição
fundamental para a superar a pobreza, re-
duzir as desigualdades, garantir a governa-
bilidade democrática e o desenvolvimento
sustentável. Ronaldo Baltar destaca a ex-
periência brasileira, em que a distribuição
de renda, a inovação e o investimento são
os pilares do desenvolvimento. Isto se es-
trutura na garantia dos direitos aos traba-
lhadores — o que gera custos às empresas,
mas forma a base de um mercado consumi-
dor estável e rentável. O professor sintetiza:
“os princípios do trabalho decente não são
incompatíveis com o desenvolvimento; os
países desenvolvidos adotaram princípios
mais próximos da
agenda do traba-
lho decente, que
prevê criação de
empregos com
qualidade, salá-
rio justo, condi-
ções de trabalho
e respeito aos tra-
balhadores”.
Mannala crê
que o objetivo
da economia é se
desenvolver para comportar empregos de
qualidade, e acredita ser necessário um
desenvolvimento regional compatível com
a dinâmica das localidades, que descons-
trua a lógica de que algumas regiões são
muito ricas e outras pobres.
A crise econômica, que atualmente afe-
ta países da Europa, coloca na agenda a
pauta do trabalho decente, já que os pla-
nos de austeridade e a reconfiguração das
relações trabalhistas estão no centro do
debate para a resposta à crise. Na opinião
de Baltar, o aumento do desemprego pres-
siona por redução de salários e condições
de trabalho, e dificulta a construção de es-
paços de diálogo social. No entanto, é nes-
“OS PRINCÍPIOS DO TRABALHO
DECENTE NÃO SÃO INCOMPATÍVEIS COM O DESENVOLVIMENTO”
RONALDO BALTAR, PROFESSOR DA UEL
SETS
te momento que os organismos internacio-
nais devem promover ações com governos,
empresários, trabalhadores e sociedade
civil em prol do trabalho decente. O pro-
fessor lembra que os países que investiram
em um mercado de trabalho com direitos e
garantias de salário tendem a sair da crise
com mais força e rapidez.
mentação da agenda deve estar articulada com
o desenvolvimento do Paraná para cada região.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacio-
nal por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE,
o Paraná está entre os cinco primeiros estados da
federação nos indicadores sociais de oportunida-
de de emprego; formas de trabalho a ser abolido;
rendimentos adequados e trabalho produtivo;
igualdade de oportunidades; seguridade social e
diálogo social; e contexto econômico e social do
trabalho decente. Além disso, o Paraná pode ser
considerado um exemplo em iniciativas de eco-
nomia solidária e cooperativismo, e em soluções
locais para geração de emprego e renda por meio
de arranjos produtivos locais, na opinião de Ro-
naldo Baltar. Isto porque o estado tem bom nível
de geração de empregos formais, e uma rede bem
articulada de capacitação e recolocação de traba-
lhadores no mercado de trabalho.
O próximo passo para construção de uma
Agenda Estadual é o estabelecimento de priori-
dades: quais os locais e cadeias de produção do
estado merecem especial atenção e ações mais
efetivas. A funcionária do escritório regional da
Sets de Curitiba Alzimara Bacellar explica que
nas discussões das conferências macrorregio-
nais buscou-se chegar a resultados concretos
“para a conferência terminar em um bom en-
tendimento, garantindo que as partes se ma-
nifestassem” e assim fosse o mais democráti-
co possível de forma a garantir o tripartismo.
A igualdade de gênero, o combate ao trabalho
análogo à escravidão e a erradicação do traba-
lho infantil são temas apontados como ques-
tões que devem ser resolvidas com urgência.
A necessidade de estabelecer priorida-
des dentre as pautas é sintetizada por Nuncio
Mannala: “onde vamos gerar empregos, que
tipo de empregos, o que nós planejamos para a
cadeia produtiva do estado? Isso tudo tem que
estar claro para o conjunto da sociedade”. Mas
Ronaldo Baltar destaca que a construção dos
mecanismos de diálogo social por meio das
conferências é o principal mote na construção
da agenda.
O processo de estadualização da agenda exi-
ge uma compreensão da realidade da economia
regional, suas dinâmicas e distintos cenários em
seu interior. O professor Ronaldo Baltar relata
que a industrialização e ampliação do agrone-
gócio ocorridas nos últimos 20 anos no Paraná
geraram novas oportunidades de investimento e
crescimento em várias regiões do estado.
Porém, este crescimento foi desigual, com a
concentração de investimentos em algumas re-
giões e falta de investimento em outras. O pro-
fessor destaca que se apresenta no estado uma
situação acima da média brasileira para quase
todos os indicadores de Trabalho Decente. No
entanto, quando analisadas as mesmas infor-
mações município a município percebe-se que a
implementação de uma agenda única para o tra-
balho decente no estado é inadequada.
A construção de uma agenda estadual que
inicie com discussões e análises locais, passe pe-
las macrorregiões até chegar à estadual é impor-
tante para verificar que cada região terá diferen-
tes prioridades de ação, baseadas nas demandas
locais apresentadas em conferência, e a imple-
TRABALHO DECENTE SE CONSOLIDA NO PARANÁ
16
No Brasil, o trabalho tem grande relevân-
cia para os jovens, sendo que muitos iniciam a
vida profissional antes de atingir a idade míni-
ma legal. São empregos que muitas vezes apre-
sentam-se como temporários, sem perspectiva
de carreira ou crescimento profissional, aponta
o professor de Ciências Sociais da Universidade
Estadual de Londrina Ronaldo Baltar. Para ele, a
principal demanda da juventude é a capacitação
para o mercado de trabalho, “sobretudo na for-
mação de técnicos de diversos setores”.
O foco da Agenda Nacional do Trabalho De-
cente para a Juventude é a criação de políticas
para jovens entre 15 e 29 anos. Embora a idade
mínima por lei para ingresso no trabalho no país
seja de 16 anos, jovens de 14 e 15 anos podem se
enquadrar como menor aprendiz. Já os menores
de 16 anos fora desta condição e os menores de
14 anos em qualquer emprego estão em situação
trabalho infantil, que deve ser combatido.
O emprego formal de aprendizes no Paraná,
em 2010, abrangia 11.449 jovens, de acordo com
o “Anuário do Sistema Público de Emprego, Tra-
balho e Renda 2010-2011” publicado pelo Dieese.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Em-
prego (MTE), em 2009 eram mais de 34 milhões
de jovens e adolescentes entre 15 e 29 anos que
trabalhavam ou procuravam emprego. Baltar
atenta para o fato que, de acordo com dados da
Relação Anual de Informações Sociais do MTE,
dois terços dos contratos de trabalho são encer-
rados antes de atingirem um ano; e o tempo mé-
dio do emprego formal não chega a quatro anos.
Esta rotatividade tem impacto na juventude,
O OBJETIVO DAS POLÍTICAS PARA OS JOVENS
Fotos: Levy Ferreira / Serc
SETS
porque, via de regra, o salário médio dos admiti-
dos é menor que o salário médio dos desligados.
No mesmo ano, no Paraná, 79% dos 2,4 milhões
de jovens entre 16 e 29 anos do estado estavam
incluídos na população economicamente
ativa, e dentre estes, 31,7% estavam sem
carteira assinada.
Para o jovem estar inserido nas caracte-
rísticas de trabalho decente, ele deve não
apenas ter oportunidade de conseguir um
emprego de qualidade, mas ter as condi-
ções de construção de sua trajetória pro-
fissional. O assessor técnico do gabinete
da Secretaria da Ciência, Tecnologia e En-
sino Superior do Paraná, Aroldo Messias de
Mello Junior, acredita que o momento certo
para a entrada de jovens no mercado de tra-
balho é após o ensino médio.
Mello diz que muitas vezes a escolha de
uma profissão é feita sem que haja conhe-
cimento da realidade de seu trabalho “pre-
judicando sobremaneira a formação ade-
quada e equilibrada do profissional”. Para o
professor Baltar “a geração do primeiro emprego
deve ser ampliada para atender a entrada de jo-
vens no mercado”, o que deve vir acompanhado
de um aumento na qualidade do emprego.
Na sociedade atual, recai sobre os jovens o
peso do desemprego e do trabalho precário. Ao
serem analisados outros aspectos, também se
constata que as mulheres jovens e os jovens ne-
gros estão entre os que mais têm dificuldades de
acesso ao trabalho decente.
Os jovens apresentam desvantagens em rela-
ção aos adultos: o desemprego é mais alto, a in-
formalidade se apresenta de forma pronunciada
e eles estão mais presentes em ocupações que
indicam maior precariedade.
Na Agenda Nacional de Trabalho Decente
para a Juventude são propostas quatro priorida-
des: mais e melhor educação; conciliação de es-
tudos, trabalho e vida familiar; inserção ativa e
digna no mundo do trabalho; diálogo social.
“A ESCOLHA DA PROFISSÃO SEM CONHECIMENTO
DA REALIDADEDA PREJUDICA
SOBREMANEIRA A FORMAÇÃO ADEQUADA
E EQUILIBRADA DO PROFISSIONAL”
AROLDO MESSIAS DE MELLO JÚNIORASSESSOR TÉCNICO DA SETI
Conferência da Juventude do
Paraná debateu trabalho entre
os sete eixos principais.
18
Corte de cana enfrenta
transição para mecanização.
Albari Rosa
SETS
Apesar do aumento da área de
colheita no Paraná ter passado de
5,1 milhões de hectares em 1995,
para 6,5 milhões em 2006, 170 mil
pessoas deixaram de trabalhar em
empregos rurais, segundo artigo de
Maria Salete Zanchet publicado na
Revista Paranaense de Desenvolvimen-
to, com base no último Censo Agro-
pecuário.
O diretor-financeiro da Fede-
ração da Agricultura do Estado do
Paraná (Faep), João Luiz Rodrigues
Biscaia, aponta que uma forma de
potencializar o setor agrícola seria
um maior investimento em infraes-
trutura. Biscaia aponta ações como
a duplicação das rodovias, a ex-
pansão das ferrovias e melhorias no
porto de Paranaguá como medidas
que iriam baratear o custo da pro-
dução agrícola local.
O presidente da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do
Estado do Paraná (Fetaep), Ademir
Mueller, alerta para a necessidade
da formalização do setor: “no Brasil,
70% dos assalariados do campo não
são registrados e no Paraná, 60%;
para os próximos dois anos temos
que, no mínimo, ter metade dos tra-
balhadores na formalidade”. O Sis-
tema Faep/Senar realiza ações para
instruir os produtores rurais em re-
lação ao cumprimento da legislação
trabalhista.
Dentre os programas da Faep
está o “Casa em Ordem”, que leva
aos produtores rurais noções so-
bre o correto cumprimento das leis
trabalhistas, previdenciárias, am-
bientais e tributárias. Biscaia relata
que até o momento foram realizadas
1.176 palestras para mais de 40 mil
produtores em todo o estado.
O Senar desenvolve cursos de
formação profissional que já capaci-
taram 960 mil pessoas desde 1993 e,
a cada mês, realiza mais de mil cur-
sos sobre diversas atividades rurais.
A agricultura familiar é respon-
sável por 75% da alimentação dos
brasileiros e por 72% dos postos de
trabalho no campo no Paraná, se-
gundo a Fetaep. O presidente da
Federação defende que as políticas
públicas devam ser voltadas para a
manutenção dos trabalhadores no
campo, “até porque a agricultura
familiar gera ao Estado metade dos
gastos que se teria para manter um
posto de trabalho na cidade”.
Um dos principais suportes à
agricultura familiar e aos pequenos
produtores paranaenses é o Ins-
tituto Paranaense de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Emater),
que está presente em quase todos os
municípios do estado.
Para financiamento, os pequenos
produtores (até quatro módulos ru-
rais) têm acesso ao Programa Nacio-
nal de Fortalecimento da Agricul-
tura Familiar (Pronaf), do Governo
Federal, com juros que vão de 1% a
4% ao ano, dependendo da ativida-
de dos agricultores. Os demais pro-
dutores pagam, em média, 6,75% ao
ano em juros.
PRODUTIVIDADE ALIADA À MODERNIZAÇÃO
FORTALECER AAGRICULTURA FAMILIAR
Setor agrícola busca equilibrar desenvolvimento com a inserção dos trabalhadores nos preceitos do trabalho decente
Albari Rosa
20
Educação é a principal arma no combate ao trabalho infantil.
A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL
Alb
ari R
osa
SETS
A urgência da luta pela erradicação do
trabalho infantil no Paraná ficou ainda mais
evidente com a divulgação de dados do Censo
2010 do IBGE. De acordo com os números, 6%
das crianças paranaenses entre 10 e 13 anos
trabalham, o que representa aumento de 19%
em relação aos índices de 2000.
Para compreender melhor este número (que
contabiliza um total de 42.118 casos) é preciso
entender quem são estas crianças. No mapa do
trabalho infanto-juvenil realizado pelo Insti-
tuto Paranaense de Desenvolvimento Econô-
mico e Social (Ipardes) a partir do Censo de
2000, levantou-se que, entre as crianças ocu-
padas com idade de 10 a 13 anos, quase 70%
pertencem a famílias cuja renda mensal per
capita é de até um salário mínimo; entre os
adolescentes de 14 a 17 anos o número de famí-
lias em extrema pobreza cai para 42%.
Outro dado significativo que consta no
mapa é que 14,9% das crianças entre 10 e 13
anos que trabalham não frequentam a escola,
enquanto entre as que não trabalham apenas
3,2% estão fora do âmbito escolar. Juliana
Müller Sabbag, da Coordenação de Proteção
Social Especial da Secretaria da Família e De-
senvolvimento Social do Paraná, explica que
por muito tempo a política para o trabalho
infantil foi vista apenas como uma questão
de assistência social. Para ela, a maior prova
disso é que estas famílias estão incluídas no
Bolsa Família e no Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil (Peti). Em sua avaliação
isto é importante, mas o viés que realmente
emancipa é o de oferecer uma alternativa por
meio da educação.
Para tirar a criança do trabalho e colocá-
la no banco da escola é preciso que haja um
debate também com as famílias, por isso, Ju-
liana explica que quando esta modalidade de
trabalho é encontrada os pais e responsáveis
são encaminhados para compreender qual é a
sua função na criação da criança. Programas
como o Peti oferecem auxílio financeiro às fa-
mílias para garantir que a inserção dos jovens
na escola seja efetiva.
Originado em 1996, o programa oferece
R$ 40 por mês por beneficiário em cidades
com mais de 250 mil habitantes; e R$ 25 em
municípios menores. Têm direito famílias
cuja renda mensal não ultrapasse R$ 140 por
pessoa. Como contrapartida, o programa
exige matrícula e frequência mínima de 85%
na escola e carteira de vacinação em dia. Fi-
cam de fora do programa os beneficiários do
bolsa-família. No Paraná são mais de 5.000
famílias assistidas pelo programa.
A Secretaria da Família e Desenvolvimento
Social aposta na ampliação de vagas em esco-
las de tempo integral. Segundo Juliana, esta
A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL
Forma moderna de combate à exploração de crianças não pode depender apenas de ações assistenciais
22
decisão ocorre “porque a alternativa ao tra-
balho infantil é oferecer uma formação aos
adolescentes, possibilitar que eles tenham
um espaço para ficar enquanto os pais tra-
balham”. Além disso, ela destaca que estas
escolas possibilitam aos alunos uma melhor
formação tanto profissional, quanto em cida-
dania e questões relativas a direitos.
A Secretaria atua com a ideia de que é preciso
que a criança saiba o que acontece com a vida e
com o corpo dela quando trabalha. Juliana ex-
plica que quando a criança trabalha perde todas
as possibilidades que são garantidas pelo Esta-
tuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma
vez que com isso ela “tem uma antecipação das
etapas de desenvolvimento e isso terá consequ-
ências ruins no fu-
turo, pois tanto seu
físico quanto sua
maturidade podem
ficar prejudica-
dos porque ela não
consegue se desen-
volver totalmente”.
As escolas em tem-
po integral buscam
desenvolver estes
potenciais e ofere-
cem atividades es-
portivas e artísticas.
Com o programa Mais Educação do Ministério
da Educação (MEC) a previsão é que se constru-
am 300 escolas deste modelo no Paraná.
O secretário do Trabalho, Emprego e Econo-
mia Solidária do Paraná, Luiz Cláudio Romanelli,
pontua que é preciso enfrentar uma questão
cultural: a crença de que é normal e até mesmo
positivo uma criança com menos de 14 anos tra-
balhar, e que isto é educativo. “Mudar isso na
cabeça das pessoas, dos empregadores e mesmo
dos pais é muito difícil; acho que este talvez seja
um dos maiores desafios que nós temos”, opina.
A criação de uma comissão de trabalho vi-
sando o conhecimento da extensão dos pro-
blemas existentes relacionados à exploração do
trabalho infantil, escravo e outros é apontado
pelo assessor técnico do gabinete da Secretaria
de Ciência e Tecnologia (Seti), Aroldo Messias
de Mello Júnio, como uma medida que poderia
surtir efeito rápido e de maior amplitude.
Dentre as cadeias produtivas que exploram
o trabalho infantil, algumas são consideradas
como “piores formas de trabalho infantil”.
Juliana Sabbag destaca entre essas o trabalho
com lixo, em lavouras (muitas vezes em conta-
to com agrotóxicos) e na rua, onde as crianças
ficam submetidas a atropelamentos, alicia-
mentos e à exploração sexual. Dentre estas, o
professor da UFPR Sandro Lunard Nicoladeli
destaca que há no Paraná cadeias produtivas
em que há exploração do trabalho infantil in-
clusive com forte
presença de pros-
tituição.
Uma das for-
mas de combate a
estes casos é por
meio de uma Co-
missão Estadual
Interinstitucional
de Enfrentamento
à Violência Contra
Crianças e Ado-
lescentes (CEIEV-
CA), uma vez que
o trabalho infantil é uma violação de direito. Já
o Plano Estadual de Enfrentamento à Violência
Contra a Criança e o Adolescente prevê comis-
sões regionais e municipais de combate ao tra-
balho infantil.
Há uma relação intrínseca entre o traba-
lho infantil e o feminino, já que a vida pro-
fissional das mães influencia a proteção so-
cial, de criação e auxílio das crianças que um
dia serão trabalhadoras. Este fator é apon-
tado pelo coordenador do Departamento de
Relações do Trabalho da Sets, Nuncio Man-
nala, como um dos motivos que justificam o
combate à desigualdade de gênero no mundo
do trabalho.
“A ALTERNATIVA AO TRABALHO INFANTIL
É OFERECER UMA FORMAÇÃO AOS
ADOLESCENTES”JULIANA MÜLLER SABBAG,
SEC. DA FAMÍLIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
SETS
OS BENEFÍCIOS DO DIÁLOGO SOCIAL
Conselho Estadual do Trabalho: espaço permanente de debate entre governo, empregadores e trabalhadores.
Conferência Estadual do Trabalho Decente no Paraná é exemplo de ação tripartite
O relatório final da Conferência Estadual do
Trabalho Decente no Paraná, com propostas sobre
os quatro eixos abordados no encontro, é fruto
de uma plenária final encaminhada de maneira
totalmente consensual. Sem ter havido nenhuma
votação na plenária, as propostas em que houve
divergência aparecem no relatório como tendo
sido “destacadas” por alguma das bancadas. A
inclusão dos itens não consensuais no documento
cumpre papel de registrar opiniões sobre temas
polêmicos, com vistas a estimular que o debate
sobre eles seja mantido na busca de uma resolução
consensual no futuro.
O secretário adjunto de Saúde e Segurança no
Trabalho da União Geral dos Trabalhadores do
Paraná (UGT-Paraná), Elizeu de Oliveira Freitas,
pontua que o relatório é um exemplo de diálogo
social, pois “ao invés de irmos para o embate, foi
fruto de uma construção de consensos”.
Por ser a primeira conferência, não havia
precedentes sobre de que forma o tripartismo
deveria funcionar, em especial sobre quais são suas
instâncias de decisão. O coordenador de Relações
do Trabalho da Secretaria do Trabalho, Emprego e
Economia Solidária (Sets), Nuncio Mannala, vê a
Conferência como o pontapé inicial para a cons-
Sets
24
forma e que é preciso um processo de aproximação
de interesses, o que demonstra que há muito para
se avançar no tripartismo.
O diretor do Departamento de Gestão do Sis-
tema Público de Trabalho, Emprego e Renda da
Sets, José Maurino de Oliveira Martins, acredita
que a Sets passou a ser referência de tripartismo
no estado, como aglutinadora do debate sobre o
trabalho e que, internamente, “a construção de
uma agenda do trabalho decente foi a primeira
vez que a Sets vivenciou de fato a experiência do
tripartismo” e, com isso, os técnicos que passaram
por este processo saíram muito mais fortalecidos
e engajados no mundo do trabalho.
O Conselho Estadual do Trabalho (CET) dá as di-
retrizes que orientam o Sistema Público de Trabalho,
“O MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO SERIA UMA AMÁLGAMA
ENTRE TODAS ESTAS INSTITUIÇÕES, NÃO
SE ENQUADRA EM NENHUMA DAS
TRÊS CATEGORIAS”CRISTIANE MARIA SBALQUEIRO LOPES, PROCURADORA DO MPT
trução do tripartismo no estado. Mannala ressalta
que consenso é diferente de maioria, e explica que
nas reuniões de preparação da conferência “caso
houvesse alguma dificuldade, parava-se a reunião
e tínhamos reuniões separadas por bancadas; após
ver qual era a discussão, a questão central, havia
um novo acerto”.
O tripartismo é fundamental para a
existência do direito do trabalho e é a única
forma possível de discussão do trabalho e
de definição dos direitos sociais, na opinião
da procuradora do Ministério Público do
Trabalho do Paraná (MPT/PR), Cristiane
Maria Sbalqueiro Lopes. “O MPT seria uma
amálgama entre todas estas instituições,
não se enquadra em nenhuma das três ca-
tegorias”, comenta Cristiane sobre o papel
do Ministério na construção do tripartismo.
Na opinião da procuradora, a maior difi-
culdade neste processo de construção está em
convencer as partes a abrir mão de benefícios
em detrimento do avanço geral e cita como
exemplo o medo do setor empresarial de fazer
concessões em momentos de crescimento
econômico e não conseguir mantê-las em
uma posterior ocasião de crise. Cristiane defende
que os consensos já existentes tomem a forma de
lei, e que espaços como as conferências devem
exercer uma importante pressão para a efetivação
destas leis.
O professor de Ciências Sociais da Universidade
Estadual de Londrina (UEL) Ronaldo Baltar reforça
que as proposições das conferências não têm força
de lei e, por isso, dependem da vontade política
das partes. “Muitas destas medidas serão adotadas
voluntariamente por sindicatos, organizações da
sociedade civil, empresas e governo; e outras irão
depender de aprovação no legislativo ou de serem
instituídas por outras esferas do Estado”, diz.
Nuncio Mannala aponta a dificuldade de
efetivação de um diálogo franco, em especial
pela tradição existente na sociedade de que os
segmentos sociais busquem apenas aquilo que é
vantajoso para si. Mannala acredita que não há
mais condição de o desenvolvimento ocorrer desta
O PAPEL DO CONSELHO DO TRABALHO
Luiz Claudio Romanelli e Denilson Pestana da
Costa durante reunião sobre o piso mínimo
regional.
SETSSets
26
Emprego e Renda. O presidente da Nova Central
Sindical de Trabalhadores do Paraná (NCST/Para-
ná) e atual presidente do CET, Denílson Pestana
da Costa, defende que é “por meio destes fóruns
que é possível buscar o comprometimento de
cada segmento no estabelecimento de políticas
voltadas ao mundo do trabalho, pois é muito
mais fácil se implantar uma política quando
as pessoas e segmentos participaram de sua
concepção”.
O diretor financeiro da Federação da Agri-
cultura do Estado do Paraná (Faep), João Luiz
Rodrigues Biscaia, critica o CET na condução
dos debates acerca do piso mínimo regional
paranaense em 2012. Biscaia acredita que
a atuação do CET “impôs uma posição em
relação aos níveis de reajuste sem aceitar as
ponderações do setor patronal”, o que compro-
meteu o respaldo do tripartismo neste espaço.
O secretário do Trabalho, Emprego e
Economia Solidária do Paraná, Luiz Claudio
Romanelli, defende que o fato do CET não ser
deliberativo não o enfraquece, uma vez que
ele é decisivo para algumas questões, como
para a aprovação da aplicação de recursos
do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
“Como secretário do Trabalho tenho procu-
rado valorizar o papel do Conselho”, ressalta
Romanelli, que aponta o respaldo dado pela
Sets ao CET como uma forma de fortalecimento
daquele espaço.
Dentre as experiências municipais de
conselhos está o da cidade de Curitiba. O
secretário municipal do Trabalho e Emprego
de Curitiba, Paulo Bracarense, relata que o
Conselho Municipal de Trabalho e Emprego
tem poder decisório, pois é lá que é deliberado
o orçamento do município para a área. Para
o secretário, a presença de diferentes visões
de mundo naquele espaço gera conflito, mas
“enriquece a inserção do poder público no
mundo real do trabalho, porque você está
ali sendo monitorado e muitas vezes sendo
determinado pelo Conselho e tem que ouvir,
discutir e buscar hegemonia lá dentro”.
A noção de diálogo social pode ser estendida
aos espaços de negociação coletiva, na opinião do
professor de Direito da UFPR Sandro Lunard, por
estes serem espaços de concentração social e paci-
ficação dos conflitos. Lunard defende que é preciso
“privilegiar e proteger as formas de composição
dos conselhos coletivos de trabalho”. A opinião é
reforçada por Biscaia, que aponta as convenções
coletivas como um espaço em que “se procura
ajustar os interesses dos trabalhadores com os do
setor empregador”.
O advogado da Federação das Associações
Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap) João
Carlos Régis vê a conferência como um momento
em que são acertados compromissos comuns pelas
partes. Para ele esta construção é permanente e
deve ser realizada de “forma paciente e constante,
sem cotejos e colisões de interesses, ideias e muito
menos ideologias”.
NEGOCIAÇÃO É DIÁLOGO SOCIAL
PARANÁ: MAIOR PISO REGIONAL DO PAÍS
“É PRECISO PROTEGER AS
FORMAS DE COMPOSIÇÃO
DOS CONSELHOS COLETIVOS DE
TRABALHORONADO BALTAR, PROFESSOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UEL
SETS
O estabelecimento do piso regional por parte
das unidades da federação é uma oportunidade
de se definir um valor mínimo de vencimento
superior ao do salário mínimo nacional, de forma
que contemple a realidade da economia local. O
piso paranaense, que existe desde 2006, é cerca
de 30% mais alto que o nacional, o que o torna
o maior do país. Com a lei promulgada em 1º de
maio de 2012, o valor atual do piso paranaense, que
abrange quatro grupos de categorias profissionais,
varia de R$ 783,20 a R$ 904,20.
O presidente da NCST/Paraná e do Conselho
Estadual do Trabalho (CET), Denílson Pestana da
Costa, acredita que ter o maior piso do país “signi-
fica demonstrar que o estado pode ser indutor de
desenvolvimento, sinalizando para a sociedade a
necessidade de uma melhor distribuição de renda
entre as camadas mais populares”.
Na opinião de Pestana, o processo de distribui-
ção de renda pelo qual o Brasil e o Paraná passam
foi peça fundamental para blindar a economia
local no enfrentamento à crise de 2009. “Enquanto
outros estados que não praticavam essas políticas
sofreram de forma contundente os efeitos da crise
mundial, o Paraná continuou batendo recordes na
geração de emprego e renda.”
O piso é aplicado somente a categorias que
não possuem convenção coletiva ou lei nacional
que regulamente o piso vigente, no entanto ele
cria um contexto em que há maior interesse
de negociação entre as partes, uma vez que na
ausência de convenção ou acordo não é mais o
salário mínimo nacional que irá servir como base,
e sim um valor superior.
O coordenador de Relações do Trabalho da Sets,
Nuncio Mannala, atenta para o fato que o piso
paranaense estabelece valores que, via de regra, já
são praticados na economia paranaense, e aponta
que a partir deste debate as centrais sindicais têm
tido a possibilidade de regulamentar algumas
áreas como a construção civil, o setor de madeira
e o de cimento.
PARANÁ: MAIOR PISO REGIONAL DO PAÍS
Novo piso mínimo foi
sancionado com um
reajuste de 10,32%.
ANPr
28
DISCREPÂNCIA DE RENDA AINDA É ALTA
Na região sul do país, salário dos brancos é, em média, 70% maior do que o dos negros
Seed
SETS
Segundo dados da OIT, 88% dos dirigentes de
empresas são brancos, enquanto apenas 12% são
negros. Além disso, os negros recebem pouco
mais da metade do salário dos brancos.
De acordo com dados do Censo 2010 do IBGE
os rendimentos da população branca estão bem
acima dos da população negra. Embora o Sul
seja a região em que essa diferença é menor, os
brancos ainda recebem em média 70% a mais
do que os autodeclarados negros.
É preciso aca-
bar com a discri-
minação sofrida
pelos negros no
mercado de tra-
balho, promo-
vendo a igualdade
de oportunidades
e de tratamento.
Uma das manei-
ras mais efetivas
de se alcançar
esse objetivo é
fomentando po-
líticas afirmativas
de combate à dis-
criminação. Uma
vez no emprego, também deve ser assegurado o
crescimento profissional do trabalhador.
O coordenador de Relações do Trabalho da
Sets, Nuncio Mannala, alerta que o preconceito
racial ainda existe no país, mesmo que se diga
que é algo superado. Prova disso é que nas ne-
gociações coletivas a pauta racial está sempre
presente, mas o compromisso do dirigente em
mantê-la nunca é o mesmo que aquele estabe-
lecido com as cláusulas econômicas.
Nos últimos anos houve uma melhora de
alguns indicadores em relação aos negros, mas
de forma lenta e ainda longe de alcançar uma
igualdade com os brancos. Para que esse grau
de igualdade seja atingido, é necessário que o
Estado e a iniciativa privada tenham programas
e medidas especiais para corrigir o desequilíbrio
ainda existente.
Fórum discutiu a diversidade etnicorracial com professores de Curitiba e Pinhais.
A participação dos negros no mercado de
trabalho ainda é influenciada por visões racistas
presentes na população. Após um longo período
de escravidão, os negros são grande alvo de
desigualdade na sociedade atual. O diretor do
Departamento de Gestão do Sistema Público
de Trabalho, Emprego e Renda da Secretaria
de Estado do Trabalho, Emprego e Economia
Solidária do Paraná (Sets), José Maurino de
Oliveira Martins, milita no movimento negro
e aponta que as
políticas públicas
para negros no
Paraná esbarram
na necessidade de
que se admita que
o racismo existe.
“Na rede de-
tectamos situação
de racismo, se um
empregador liga e
diz que não quer
um empregado
negro não há nada
de sutil, é racis-
mo escancarado”
alerta.
Segundo a OIT, a situação dos negros é
desfavorável na sociedade devido ao escasso
poder de negociação e às barreiras culturais
que dificultam o acesso a melhores posições
no mercado de trabalho. Os negros tendem a
ser segregados em cargos menos qualificados
e pior remunerados, com dificuldade de as-
censão social.
Independente do grau de escolaridade, os
negros recebem salários médios inferiores aos
brancos, além de enfrentarem uma jornada
de trabalho maior e permanecerem mais
tempo no mercado de trabalho - entrando
mais jovens e saindo mais tarde. Além disso,
os negros são a maioria entre os desempre-
gados e trabalhadores informais, e os que
desempenham trabalhos de baixo prestígio
ou pouco valorizados.
“SE UM EMPREGADOR LIGA E DIZ QUE NÃO
QUER UM EMPREGADO NEGRO NÃO HÁ NADA DE SUTIL, É RACISMO
ESCANCARADO”
JOSÉ MAURINO MARTINS, DIRETOR DO DEP. DE GESTÃO DO SISTEMA
PÚBLICO DE TRABALHO
30
Segundo dados da OIT, apenas 19,1%
dos homens e 16,9% das mulheres no
Brasil são sindicalizados. O baixo índice
coloca um desafio ao país, uma vez que
a organização sindical é uma estrutura
importante para a implementação dos
princípios do trabalho decente no país.
Para proteger os direitos sindicais, o Brasil
ratificou em 1952 a Convenção 98 da OIT,
relativa à aplicação dos princípios do di-
reito de organização e negociação coletiva.
O princípio que norteia a convenção
é a proteção contra atos que atentem
contra a liberdade sindical, em especial
nos casos em que um trabalhador fique
ameaçado de perder o emprego caso in-
gresse em um sindicato ou não se desfilie;
e quando há dispensa de trabalhador em
função deste ter se filiado a um sindicato
ou ter participado de atividades sindicais
fora das horas de trabalho.
Para o professor de Direito da UFPR
Sandro Lunard Nicoladeli, a liberdade
sindical é um direito humano que deve
ser reconhecido e protegido universal-
mente, e é algo que reveste-se de funda-
mental importância para a OIT, devido
à estrutura tripartite da organização.
Lunard aponta sete princípios e di-
reitos sobre liberdade sindical: o direito
à filiação e construção de organizações
e sem autorização prévia; o direito de
redigir estatutos e regramentos admi-
nistrativos; o direito de eleger livremente
seus representantes; direito de greve,
de organizar suas ações políticas sem
a ingerência de autoridades públicas; a
proteção contra a dissolução ou suspen-
são de entidades por parte de autoridades
públicas; o direito de gozar de adequada
proteção contra atos de discriminação
antissindical; e o direito à negociação
coletiva livre e voluntária.
Um imbróglio em termos de ne-
gociação coletiva no país é o setor do
serviço público, que tem suas relações
trabalhistas regidas pelo Regime Jurídi-
co Único (RJU) e não pela Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT). O secretá-
rio do Trabalho, Emprego e Economia
Solidária do Paraná, Luiz Cláudio
Romanelli, acredita que com o modelo
atual “dificilmente haverá (no serviço
público) um processo de negociação nos
moldes preconizados pela OIT, devido
à complexidade destas relações”.
Romanelli defende que, se o regime
do setor público funcionasse nos mes-
mos moldes do setor privado, a nego-
ciação seria “um caminho natural”, mas
que no modelo atual é difícil incorporar a
negociação. O Brasil já é signatário, mas
ainda não regulamentou, a Convenção
151 da OIT, que estabelece condições
de associação e liberdade sindical no
setor público.
Para se alcançar o trabalho decente,
é preciso que existam condições para a
realização da negociação coletiva. Ela é
vista como a forma mais justa de tornar
clara a relação entre patrões e empregados
e resolver pendências.
A procuradora do Ministério Público
do Trabalho do Paraná (MPT/PR) Cris-
tiane Maria Sbalqueiro Lopes defende a
autonomia de negociação e explica que o
MPT não intervém nas negociações. No
entanto, Cristiane ressalta que há acordos
que são concessões unilaterais dos tra-
balhadores, e que não se pode fazer um
acordo para “estragar direitos que foram
conquistados socialmente. Não diga que
isto é um acordo, isto é fraude e o MPT
irá combater com unhas e dentes”, diz.
Cristiane pondera que é justificável
que, em momentos de crise, em prol
da coletividade, trabalhadores aceitem
concessões pontuais, mas que isto é
diferente de ter os direitos atacados por
entidades falsas.
PELO BEMDA MAIORIA
Negociações coletivas devem respeitar autonomia das partes sem que haja retirada de direitos
SETS
Dentre os princípios da liberdade sindical estão
os direitos a greve e negociações.
Felipe Rosa
32
O desenvolvimento de atividades de micro-
empresas e de empresas de pequeno porte é
condição fundamental para o desenvolvimento
estável da economia nacional. São empresas
que cumprem papel importante na absorção
da mão-de-obra que está em busca do pri-
meiro emprego e contribuem na habilitação
de trabalhadores.
A grande diversidade econômica do estado
do Paraná coloca a questão das pequenas em-
presas como algo fundamental para garantir
um desenvolvimento que permita às diferentes
localidades terem uma economia desenvolvi-
da e independente, que se articule entre si e
não dependa exclusivamente da produção de
grandes cidades e polos econômicos.
Um dos desafios é ampliar o rendimento
e a remuneração dos trabalhadores destas
empresas. De acordo com o “Anuário do
Trabalho na Micro e Pequena Empresa 2010-
2011”, publicado pelo Dieese em parceria com
o Sebrae, em 2010 no Paraná a remuneração
média dos empregados em microempresas
foi de R$ 965,00, em pequenas empresas
de R$1.234,00 e em médias e grandes de R$
1.594,00. No Brasil, no mesmo período, as
médias foram de R$ 947,00, R$ 1.231,00 e R$
1.786,00, respectivamente.
A Secretaria de Estado da Indústria, Co-
mércio e Assuntos do Mercosul do Paraná
(Seim), em parceria com o Sebrae, criou o
programa Territórios da Cidadania, para
desenvolver quatro regiões do estado em que
há IDH baixo e menor desenvolvimento, com
o objetivo de estabelecer um diagnóstico dos
municípios e montar comitês gestores com
as lideranças locais. O programa atinge a
região do Vale do Ribeira, Paraná Centro,
Norte Pioneiro e Cantuquiriguaçu.
O coordenador de Desenvolvimento Indus-
trial e Comercial da Seim, Mario José Doria da
Fonseca, explica que estes municípios estão
sendo capacitados para receber políticas públi-
cas como o Banco do Empreendedor e o Banco
Social, ação que é realizada pelo Fórum das
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte
do Paraná, criado pela Secretaria. “É preciso
fortalecer as micro empresas e empresas de
pequeno porte, porque são elas que geram
renda e dão sustentabilidade aos pequenos
municípios”, defende Fonseca.
No Paraná, em 2010, eram 494.403 micro e
pequenas empresas, distribuídas da seguinte
forma: 58.959 (11,9%) na área da indústria,
24.534 (5%) na construção, 257.706 (52,1%) no
comércio e 153.204 (31%) em serviços. 24,2% es-
tavam na capital do estado, e 75,8% no interior.
Em junho de 2003, foi criada a Secretaria
Nacional de Economia Solidária (Senaes), no
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
PEÇASFUNDAMENTAISMicro e pequenas empresas têm grande importância no desenvolvimento da sociedade atual
SETS
Constituem a economia solidária as formas
de trabalho autônomo, individuais ou co-
letivas que optam pela autogestão, ou seja,
administração participativa e democrática
dos empreendimentos.
Com a criação da Senaes, o MTE passou a
proteger os interesses não só dos assalariados,
mas também do cooperativismo e do associati-
vismo urbano. O rural fi ca sob responsabilidade
do Ministério da Agricultura.
Políticas públicas e incentivos trazem novas perspectivas para micro e pequenos empresários.
Chuniti Kawamura / ANPr
ANPr
34
A qualificação profissional é uma etapa fun-
damental para a inserção dos grupos vulneráveis
ao desemprego. O Governo Federal promove o
Plano Nacional de Qualificação, que é dividido
em Planos Territoriais de Ocupação (em parceria
com estados, municípios e entidades sem fins
lucrativos), Projetos Especiais de Qualificação
(em parceria com entidades do movimento so-
cial e organizações não-governamentais) e em
Planos Setoriais de Qualificação (em parceria
com sindicatos, empresas, movimentos sociais,
governos municipais e estaduais).
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), uma nova política pública de qualificação
deve entender esta prática como uma construção
social, e não apenas como um processo individual
derivado de exigências do mercado de trabalho.
O secretário estadual do Trabalho, Emprego
e Economia Solidária do Paraná, Luiz Cláudio
Romanelli, relata que há uma dificuldade de
se efetivar uma inserção real das pessoas com
deficiência no mercado de trabalho, e a Secretaria
tem tomado iniciativas para minimizar isso,
como o treinamento de atendentes nas Agências
do Trabalhador para auxiliar estas pessoas.
O professor de Direito da UFPR Sandro Lu-
nard Nicoladeli encara a qualificação como uma
política transversal, que deve dialogar com a
educação e o trabalho, uma vez que a “educa-
ção profissionalizante é um eixo temático que
interessa ao mundo do trabalho, mas interessa
substancialmente à educação”.
O coordenador do Departamento de Relações
do Trabalho da Secretaria de Estado do Trabalho,
Emprego e Economia Solidária do Paraná (Sets),
Nuncio Mannala, relata que há uma dificul-
dade em especial na inserção de dependentes
químicos, pessoas abandonadas, em trabalho
de prostituição e com doenças do trabalho.
Mannala defende que haja políticas prioritárias
para estes setores no campo do trabalho, e não
apenas do resgate social. O secretário munici-
pal do Trabalho e Emprego de Curitiba, Paulo
Bracarense, defende que o dever da qualificação
A NECESSIDADE DAQUALIFICAÇÃO
Secs
SETS
profissional deve ser tanto do poder público, que
deve alocar mais recursos do Fundo de Amparo
ao Trabalhador (FAT) para qualificação; quanto
dos empregadores, que devem compreender a
tarefa de capacitação como sua.
O diretor do Departamento de Gestão do
Sistema Público de Trabalho, Emprego e Renda
da Sets, José Maurino de Oliveira, destaca que o
principal entrave para a qualificação é a dificul-
dade de financiamento. José Maurino defende que
isto deve ser resolvido com um sistema único de
trabalho, emprego e renda, nos moldes do SUAS e
do SUS. “Temos que garantir um financiamento
do sistema público com a participação das esferas
municipal, estadual e federal.”
Bracarense vê como positivo que a área do
Programa Brasil Sem Miséria destinada ao Pro-
grama Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec) foi alocada no Ministério
do Desenvolvimento Social, o que significa que
cresce no país uma ideia de que o desenvolvi-
mento tem que deixar de se focar em programas
de resgate social.
José Maurino aponta o programa como um
exemplo de articulação entre diferentes esferas
do poder: “o Pronatec é um passo para uma
qualificação na altura do que o trabalhador
necessita, em tempo curto e na medida certa”.
A Secretaria de Estado de Ciência, Tecno-
logia e Ensino Superior desenvolve ações de
parceria para viabilizar ao jovem trabalhador
oportunidades do desenvolvimento, vinculadas
à formação e ao auxílio no desenvolvimento da
sociedade como um todo. José Maurino aponta
o programa como um exemplo de articulação
entre diferentes esferas do poder: “o Pronatec é
um passo para termos uma qualificação na altura
do que o trabalhador e as regiões necessitam, em
tempo curto e na medida certa”.
Entre 2008 e 2010, 14.648 jovens paranaenses
foram cadastrados no ProJovem Trabalhador
(programa destinado à inserção de jovens
desempregados no mercado e em alernativas
de geração de renda), sendo 10.330 mulheres e
4.318 homens.
Dentre as ações da Sets para o setor está a
oferta de cursos profissionalizantes em parce-
rias com instituições federais (como o Instituto
Federal do Paraná) e com prefeituras municipais,
por meio da disponibilização dos laboratórios das
instituições de ensino superior do estado para a
formação de profissionais na área de tecnologia,
contribuindo com a formação de mão de obra
especializada.
Qualificação é importante para inserção e reinserção no mercado de trabalho.
Centros Estaduais
de Educação Profissional auxiliam na
qualificação.
José
Fer
nand
o O
gura
36
A discriminação por gênero no emprego vai
contra os princípios de trabalho decente, pois
viola a dignidade da trabalhadora. De acordo
com o secretário municipal do Trabalho e Em-
prego de Curitiba, Paulo Bracarense, há uma
questão cultural histórica sobre o trabalho
feminino no país. Ele lembra que há pouco
tempo a mulher sequer era aceita no mercado
de trabalho, e que até a década de 1960 cargos
como o de bancário eram exclusivamente
masculinos. Apesar do atraso, esse quadro
tem evoluído constantemente com a entrada
de mulheres em setores predominantemente
masculinos, como as forças armadas, a con-
dução de táxis e ônibus, e o funcionalismo
público, entre outros.
Segundo dados da OIT, nos cargos de chefia
as mulheres ocupam apenas 29% das posições.
Além disso, a taxa de formalidade é mais
baixa: entre os homens, são 57%, enquanto
entre as mulheres é de 50,7%.
A população feminina é um pouco maior
do que a população masculina em todas as
regiões do Brasil, mesmo assim, o percentual
de ocupação feminina é menor que a mascu-
lina, além de ser pior remunerada.
A funcionária do escritório regional da
Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego
e Economia Solidária (Sets) de Curitiba Al-
zimara Bacellar aponta que nas conferências
macrorregionais do trabalho decente, o debate
de gênero apenas tocava a questão do trabalho,
sem ser aprofundado. “Tivemos discussões
acaloradas se o trabalho doméstico deveria
ser regido pela mesma legislação que os outros
trabalhadores, só o fato de isto ainda ser uma
discussão é sintomático de que ainda temos
muitas coisas atrasadas”, opina Alzimara.
É importante ressaltar que uma parcela
significativa das trabalhadoras realiza traba-
lho doméstico e ainda não conseguiu adquirir
os mesmos direitos que a maioria das outras
profissões. A categoria chega a atingir 19%
DIFERENÇAS HISTÓRICAS
Políticas de igualdade de gênero ainda não superaram anos de diferenças entre trabalho feminino e masculino
Delegadas discutem propostas na 3.ª Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres.
SETS
da ocupação das mulheres. Ainda pouco
respeitado no Brasil, o trabalho doméstico é
campeão do déficit do trabalho decente, ou
seja, não cumpre as condições necessárias de
igualdade, liberdade e segurança.
Segundo dados da última Pesquisa Nacional
por Amostra de Domícios (PNAD) do IBGE,
apenas 27% das trabalhadoras domésticas têm
carteira assinada. Isso reflete outros agravan-
tes da categoria, como a baixa remuneração
e as condições precárias de trabalho, com
desrespeito, humilhação e falta de proteção
social. A secretária estadual de Trabalho e
Emprego Decente da Central dos Trabalha-
dores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Maria
de Fátima de Azevedo Ferreira, lamenta que
ainda hoje “mesmo em países com governos
mais democráticos a mulher ainda sofre vio-
lência, ainda é assediada e, principalmente,
não é valorizada dentro do trabalho”.
O salário mensal médio no Brasil para
trabalhadoras domésticas com carteira as-
sinada é de R$ 523,00. Já entre aquelas que
não têm carteira, o valor cai para R$ 303,00.
Embora alguns passos já tenham sido dados
para que as trabalhadoras domésticas atin-
jam a plenitude de seus direitos, ainda são
necessárias muitas iniciativas para se chegar
a uma solução efetiva.
A Convenção 100 da OIT, ratificada pelo
Brasil, estabelece mecanismos para a igual-
dade de remuneração entre homens e mu-
lheres por trabalho de igual valor. Entre as
medidas previstas está a avaliação dos postos
de trabalho com base nas tarefas a serem exe-
cutadas e, assim, diferenças salariais podem
ser estabelecidas para diferentes trabalhos,
mas não para diferentes sexos exercendo a
mesma função. Já a Convenção 111 busca evi-
tar a discriminação em matéria de emprego
e ocupação, tanto por sexo quanto por raça,
cor, religião, opinião política, ascendência
nacional ou origem social.
Maria de Fátima defende que a luta para que
as mulheres tenham igualdade de condição
econômica concerne também aos homens,
porque não é possível que se tenha uma socie-
dade sem que haja a participação da mulher de
igual para igual em todos os âmbitos da vida.
Para Alzimara Bacellar questões como a
dupla jornada e os salários menores das mu-
lheres ainda não foram assimiladas por todos
os integrantes do mundo do trabalho como
um problema que precisa ser combatido, mas
é otimista e avalia que “esta discussão da
agenda do trabalho decente contribui para
dar visibilidade à sociedade para a questão
das mulheres”.
149 propostas foram aprovadas na conferência.
Fotos: Osvaldo Ribeiro / ANPr
38
Entre as linhas de ação da Agenda Nacional
do Trabalho Decente, está a implementação de
uma Política Nacional de Segurança e Saúde
do Trabalhador. Para isso, é necessário uma
consonância com as normas internacionais
do trabalho, a fim de garantir um ambiente
seguro e saudável.
Segundo dados do Ministério da Previdên-
cia e da Assistência Social, entre 2004 e 2009
houve uma redução dos acidentes de trabalho
em 26,11% e a taxa de mortalidade por aciden-
tes de trabalho caiu 39,51%. Mesmo assim, os
patamares no Brasil são considerados altos e
precisam ser reduzidos. Esses dados abrangem
apenas os trabalhadores do setor formal ou que
possuem contratos de trabalho registrados.
As políticas em relação à saúde do trabalhador
são um dos temas prioritários abordados pela
atual gestão da Secretaria do Trabalho, Em-
prego e Economia Solidária do Paraná (Sets),
segundo o secretário Luiz Cláudio Romanelli,
que aponta as doenças ocupacionais como sendo
o foco do debate.
Romanelli explica que uma das ações da
Sets é a intervenção em plantas industriais que
funcionam com equipamentos que hoje estão
em desuso em outro locais. Há necessidade de
estes equipamentoss serem adaptados e ade-
quados à proteção do trabalhador, ou serem
substituídos por equipamentos mais modernos.
O secretário também aponta que em linhas nas
quais parte do trabalho é automatizado e outra
parte exige grande esfoço do trabalhador há
alto índice de lesão.
Para a Secretaria de Estado da Saúde, a
prioridade é a capacitação de profissionais nos
Centros de Referência de Saúde do Trabalhador
(Cerest) com ênfase em questões como doen-
ças derivadas de agrotóxicos, perda auditiva
por indução ao ruído, acidentes com material
biológico e outros agravos. A secretaria também
orienta empresas para que tomem medidas de
proteção dos trabalhadores.
As mudanças sofridas no ambiente de traba-
lho nos últimos anos levaram a uma alteração
também do quadro de saúde dos empregados,
aumentando a incidência de doenças relaciona-
das ao trabalho, como as lesões por esforço re-
petitivo (LER) e os distúrbios ósteo-musculares
relacionados ao trabalho (DORT), entre outras.
Por outro lado, há setores em que a impos-
sibilidade de uma mecanização completa traz
dificuldades à saúde do trabalhador, como o
caso da fumicultura. O secretário Romanelli
afirma que há impactos tanto para a saúde do
agricultor quanto de sua família.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT)
tratou o tema de saúde e segurança como uma
das questões prioritárias na Conferência Es-
tadual de Trabalho Decente. O ex-presidente
SAÚDE E SEGURANÇA:PRIORIDADES
Redução de doenças ocupacionais é desafio para modernização do trabalho
SETS
da entidade, Roni Barbosa, ressalta que tem
chamado a atenção da central o grande número
de trabalhadores mutilados e adoecidos em
alguns setores industriais do Paraná, como o
da alimentação. “Participamos da Conferência
para tentar reverter este quadro, são questões
que precisamos expor à sociedade para que
medidas sejam tomadas”, diz.
São necessárias medidas específicas para
assegurar a saúde e a segurança dos trabalha-
dores brasileiros. Por isso, é necessário ampliar
as ações, por meio da Política Nacional de Se-
gurança e Saúde do Trabalhador, e também por
programas realizados pelas próprias empresas.
Um ponto importante é o aprofundamento
do estudo sobre o acidente no trajeto enquanto
acidente de trabalho para fins trabalhistas. Tam-
bém é preciso reformular o Código Brasileiro de
Ocupações e as normas regulamentadoras, em
razão de estes não atenderem às atividades in-
salubres e de penosidades em certas categorias.
O número de mortes em acidentes de trabalho
é apontado como grave pelo coordenador do
Departamento de Relações do Trabalho da Sets,
Nuncio Mannala. Ela alerta para casos que não
entram nas estatísticas de mortes por trabalho,
como o caso de inúmeros motofretistas que
morrem em acidentes de trânsito e, por não
terem carteira assinada, não são considerados
como acidentes de trabalho.
Mannala aponta que uma das dificuldades
no debate da relação entre saúde e o trabalho é
de que não há um apontamento organizado em
relação a isso, o tema é discutido em diversos
espaços e esferas, mas enquanto isto não for
reunido em torno de uma agenda, a situação
não será transformada.
Quanto aos acidentes de trabalho, Nuncio
Mannala aponta a necessidade de se mudar
imediatamente a NR5 e permitir que os cipeiros
tenham três anos de cursos relativos ao mundo
do trabalho, e não apenas um ano de estabi-
lidade no emprego. Mas isto esbarra em uma
dinâmica do mercado de trabalho, em que há
pouca estabilidade nos empregos. Na opinião
de Mannala isto é algo que deve ser combatido,
e as empresas que não seguram a rotatividade
de seus empregados deveriam ser sobretaxadas.
O momento de redução do desemprego no
Brasil é visto como uma chance de afinar qual
política de saúde e segurança no trabalho deve
ser construída no país.
Trabalhadores do Porto de Paranaguá são orientados sobre questões relativas à segurança do trabalho.
Appa
40
FIM DO TRABALHO ESCRAVO É PRIORIDADE
E ntre 2010 e 2011, 148 trabalhadores fo-
ram libertos de situação análoga à es-
cravidão no Paraná, o equivalente a
2,95% dos 5.010 libertos no Brasil no período.
Um número alto para um país que encerrou a es-
cravidão há 124 anos, porém é sintoma de que há
no país uma crescente conscientização da ne-
cessidade da eliminação deste tipo de trabalho.
Para a diretora da OIT no Brasil, Laís Abra-
mo, “o trabalho forçado é a mais clara antí-
tese do trabalho decente”, e é a incorporação
desta perspectiva que leva o país a enfren-
tar esta questão — o que ocorre desde 1995,
quando o Governo Federal admitiu a existên-
cia de trabalho escravo perante a OIT. O se-
cretário do trabalho e emprego de Curitiba,
Paulo Bracarense, comenta que “a questão do
trabalho escravo está na gênese do conceito
de trabalho decente”.
O decreto 1538/1995 criou estruturas para
combater este crime, sendo as principais delas
o Grupo Executivo para o Combate ao Trabalho
Escravo e o Grupo Móvel de Fiscalização. De lá
para cá, 42 mil pessoas foram libertadas graças
às ações do Ministério do Trabalho e Emprego
que contam com a contribuição de entidades
da sociedade civil. A Comissão Pastoral da Ter-
ra (CPT) estima que, entre 1970 e 1993, mais de
85 mil trabalhadores foram escravizados e que,
atualmente, há no país 25 mil pessoas nesta
condição.
O advogado da Federação das Associações
Comerciais e Empresariais do Paraná, João Carlos
Régis, acredita que o trabalho análogo ao escra-
Sin
trco
m L
ondr
ina
SETS
vo está perto de ser erradicado no Brasil, assim
como o trabalho infantil. Para Régis, isto se deve
à evolução que ocorreu na relação entre os entes
sociais e “tornou as relações de trabalho mais
saudáveis e amistosas”.
No Paraná, 16 empresas figuram na lista do
trabalho escravo mantida pelo MTE. Nela cons-
tam os empregadores flagrados mantendo traba-
lhadores nesta condição. O nome passa a figurar
na lista somente quando é lavrado o auto de in-
fração, ou seja, quando há notificação adminis-
trativa de reconhecimento da existência do tra-
balho análogo ao escravo por parte do MTE. Em
2011 a SRTE/PR inspecionou 10.259 empresas
para verificar o cumprimento da legislação tra-
balhista e combater a informalidade, alcançando
1.069.820 trabalhadores no estado.
O procurador do Ministério Público do Tra-
balho do Paraná, Gláucio Araújo de Oliveira,
explica que as punições a quem explora este
tipo de trabalho podem ser judiciais (na esfera
cível ou criminal) ou administrativas, quando
oriundas do Poder Executivo.
Na esfera administrativa, constam os
autos de infração emitidos pelo MTE. Para
cada infração encontrada, é emitido um
auto em separado; em uma mesma fisca-
lização pode ser encontrada ausência de
registro em carteira, de equipamento de
proteção individual, ocorrência de traba-
lho infantil, entre outros.
Em Londrina, trabalhadores da construção civil oriundos
de Sergipe tiveram salários
atrasados, direitos
sonegados e carteiras
retidas.
“O TRABALHO FORÇADO É A MAIS
CLARA ANTÍTESE DO TRABALHO
DECENTE”
LAÍS ABRAMO, DIRETORA DA OIT NO BRASIL
Quando a ocorrência é confirmada, são apli-
cadas multas de até R$ 12 mil e é efetuado o paga-
mento dos salários e encargos aos empregados, o
que permite que recebam o seguro-desemprego.
Os trabalhadores são assistidos e encaminhados
ao seu local de origem, com transporte de res-
ponsabilidade do empregador.
As medidas de fiscalização e punição são
acompanhadas de ações que visam à reinserção
dos trabalhadores no mercado de trabalho, com
a inclusão em programas sociais que garantam
renda e dêem acesso a qualificação profissional.
O ex-presidente da Central Única dos Trabalha-
dores do Paraná, Roni Barbosa, ressalta que “a
questão do trabalho é emancipadora, e há cate-
gorias em maior dificuldade, como em situação
de escravidão e miséria. Há um plano do Gover-
no Federal de erradicar isso até 2014 e isso deve
ser construído por toda a sociedade”.
Dentre as decisões judiciais possíveis está o
estabelecimento de Termos de Ajuste de Conduta
com o MPT. O autuado compromete-se em não
repetir as ações que constam no termo, sob pena
de multa ou outras punições. Há ainda a possi-
bilidade de a justiça ajuizar ações de dano moral
contra o empregador.
Criminalmente, os autores ficam sujeitos ao
artigo 149 do Código Penal, que prevê reclusão
de dois a oito anos, multa e pena correspondente
à violência aos condenados por reduzir alguém
a condição de escravo. O código prevê agrava-
mento a quem comete o crime contra criança
ou adolescente, ou motivado pot preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou origem.
Além destas medidas, está em trâmite a Pro-
posta de Emenda Constitucional 438/2001, co-
nhecido como “PEC do trabalho escravo”, que
estabelece a expropriação da terra nas áreas em
que o trabalho escravo for constatado, com a re-
versão da área ao assentamento dos colonos que
nela já trabalhavam.
Um desafio para o trabalho decente no Para-
ná é diagnosticar em quais cadeias produtivas há
maior precariedade, na opinião do professor de
Direito da UFPR, Sandro Lunard Nicoladeli.
42
“Há cadeias em que existe trabalho
escravo e prostituição infantil, que
devem ser enfrentadas de frente”.
Para o professor de Ciências Sociais
da Universidade Estadual de Londrina
Ronaldo Baltar, com os dados do Cen-
so 2010, será possível definir o foco a
ser adotado em cada município, em
relação ao trabalho decente. Mas o
professor aponta que “o combate às
formas de trabalhos análogas à escra-
vidão precisa avançar ainda mais”.
No Brasil, o principal foco de escra-
vidão está no campo, espaço em que
a exploração coexiste com modernas
práticas de exploração agropecuária.
O Atlas do Trabalho Escravo no Brasil,
organizado por pesquisadores da Uni-
versidade de São Paulo e da Univer-
sidade Estadual Paulista, define que
o perfil típico do trabalhador nestas
condições no século XXI é o de “um
migrante maranhense, do Norte de
Tocantins ou oeste do Piauí, homem,
analfabeto funcional, levado para as
fronteiras móveis da Amazônia, em
municípios de criação recente, onde é
utilizado principalmente em ativida-
des vinculadas ao desmatamento”.
Apesar de o trabalho análogo ao
escravo ser por vezes chamado de “es-
cravidão branca”, para diferenciar-se
daquela abolida na Lei Áurea, dados
CADEIAS PRODUTIVAS DE MAIOR GRAVIDADE
GLÁUCIO ARAÚJO DE OLIVEIRA, PROCURADOR DO TRABALHO
da OIT mostram que este é um tipo de
trabalho que tem cor: 81% dos traba-
lhadores encontrados nesta situação
no Brasil eram não brancos, ainda que
este segmento represente 50,3% da
população brasileira. Dentre estes tra-
balhadores, 18,3% eram analfabetos e
45% analfabetos funcionais.
O procurador do Trabalho Gláu-
cio Araújo de Oliveira explica que, no
Paraná, o foco das ações no campo
tem sido no plantio da erva-mate e
do pinus. O procurador relata que es-
tes casos são marcados por condições
degradantes do meio ambiente de tra-
balho, semelhantes ao encontrado na
Fazenda Ribeirão das Pedras de Baixo,
o primeiro caso de condenação crimi-
nal sobre o tema no estado.
De acordo com o relato feito pela
fiscalização e reproduzido
na sentença, os cem tra-
balhadores libertados na
ocasião trabalhavam no
plantio e extração de ma-
deira, e eram “alojados em
barracos de lona, sem ins-
talação sanitária, higiene
ou privacidade, utilizando
água de riacho para beber,
cozinhar e tomar banho”.
No alojamento, os traba-
lhadores ficavam sujeitos
ao ataque de animais pe-
çonhentos, a frio e calor
intensos.
De acordo com o relato, os traba-
lhadores ficavam presos na fazenda,
uma vez que esta fica a 32 km da cida-
de e não existia transporte a não ser o
proporcionado pela empresa. Na fisca-
lização, foram encontrados cadernos
em que eram anotados as mercadorias
consumidas pelos trabalhadores, cujo
valor era descontado dos dias de tra-
balho “de modo que, ao final, quase
nada sobrava aos obreiros”.
O procurador diz que com a fisca-
lização no campo constata-se que os
empregadores tem tomado providên-
cias para melhorar o ambiente de tra-
balho, como a viabilização de cadeiras
e mesa para almoço, sanitários e mó-
veis no campo.
No espaço urbano o número de ca-
sos de trabalho escravo é crescente.
Gláucio Araújo alerta para o aumento
de ações na construção civil, em es-
pecial com trabalhadores oriundos do
nordeste e relata que “estas pessoas se
sujeitam às condições impostas pelo
contratante, ao trabalho precário que
é estabelecido e não recebem equipa-
mento de segurança, não há camas,
roupa de cama, água potável e sanitá-
rios em condição suficiente”
O fluxo migratório no Paraná tem
grande variação de acordo com cada
região. O estado enfrenta o desafio de
lidar com uma rede migratória com-
plexa, em que há um grande trânsito
de trabalhadores que migram entre as
diferentes regiões, e ao mesmo tempo
há vinda de trabalhadores oriundos de
“PESSOAS SE SUJEITAM ÀS
CONDIÇÕES IMPOSTAS PELO CONTRATANTE,
AO TRABALHO PRECÁRIO QUE É ESTABELECIDO“
SETS
desenvolver quatro territórios onde há
IDH baixo e menos desenvolvimento.
“Tem que fortalecer as micro empre-
sas e as de pequeno porte, que geram
renda e dão sustentabilidade aos pe-
quenos municípios”, opina.
Procurador Gláucio de Oliveira empreende forte luta no MPT contra o trabalho escravo contemporâneo.
MÁRIO JOSÉ DORIA DA FONSECA, COORDENADOR DA SEJU
“TEM QUE FORTALECER AS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, QUE
GERAM RENDA E SUSTENTAM OS PEQUENOS
MUNICÍPIOS”
outras localidades.
De acordo com dados do Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social (Ipardes) organizados
pelo professor da UEL, Ronaldo Baltar,
entre 2000 e 2007 o sudoeste do esta-
do teve um saldo migratório negativo
de 28,6% e a região centro-ocidental
(em que Campo Mourão é a principal
cidade) teve saldo negativo de 18%.
Por outro lado, no mesmo período, a
região metropolitana de Curitiba teve
saldo positivo de 9,9%, o que pesou
para o que o saldo migratório do esta-
do fosse de 210.976 novos moradores.
Segundo pesquisa divulgada em
2011 pelo Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística (IBGE), o saldo
positivo é devido a trabalhadores que
buscam uma melhora de vida no es-
tado e ao retorno de paranaenses que
tentaram a vida na agricultura em es-
tados como Mato Grosso e Rondônia
ou em empregos em grandes centros,
e não foram bem sucedidos.
Para a absorção de mão-de-obra
nos grandes centros urbanos é neces-
sária a fiscalização para evitar o traba-
lho análogo ao escravo, em especial na
construção civil. Além disso é preciso
que se dê a garantia de alojamentos
adequados e fiscalizar os am-
bientes de trabalho em que há
mão-de-obra migratória irre-
gular.
O projeto Territórios da
Cidadania, articulado pela
Secretaria da Justiça, Cida-
dania e Direitos Humanos do
Paraná com o Sebrae, busca
o desenvolvimento regional
como forma de minimizar a
necessidade de migração de
trabalhadores. De acordo com
o coordenador de desenvol-
vimento industrial e comer-
cial da Seju, Mario José Doria
da Fonseca, o projeto objetiva
Fetraconspar
44
decente tem fundamental importância, já que
por ela passam debates sobre a discriminação
de gênero e raça, de igualdade de oportunida-
des e tratamento.
Além disso, os trabalhadores domésticos
não têm acesso aos direitos da CLT quando
não há registro em CTPS. Para minimizar tal
questão, existem legislações específicas para o
setor, como a lei 10.208/01 que garante direito
ao seguro-desemprego e ao FGTS, embora de
maneira facultativa. Além disso, há garantia à
estabilidade provisória de gestantes por cinco
meses após o parto e trinta dias de férias remu-
neradas anuais.
A questão da contribuição previdenciária das
empregadas domésticas é um desafio central,
na opinião de Mannala. Para ele, a dificuldade é
que o vínculo empregatício em geral é estabele-
cido com pessoa física e não jurídica. “Se ela não
contribuir e sofrer um acidente dentro da minha
casa, sou eu que tenho que arcar com a conse-
quência, porque é um acidente de trabalho”,
exemplifica, e defende que a maneira de se evitar
isso é o estabelecimento e o respeito à convenção
coletiva de trabalho da categoria.
O Brasil é signatário desde 1957 da Convenção
89 da OIT, relativa aos trabalhadores domésticos.
Na 100ª Conferência Internacional do Trabalho
ocorrida em 2011, os delegados brasileiros foram
favoráveis à Convenção Internacional do Traba-
lho 189, relativa à equiparação de direitos entre
empregados domésticos e não domésticos, ainda
não ratificada pelo Brasil.
Integrantes do MST promovem ato em Brasília pedindo a aprovação da “PEC do Trabalho Escravo”.
Um tema de destaque na Conferência Macror-
regional de Cascavel foi o trabalho doméstico, que
no Brasil é 93% exercido por mulheres, de acordo
com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-
lios realizada pelo IBGE. As cerca de 6,7 milhões
de mulheres empregadas no trabalho doméstico
representam 17% das que trabalham no Brasil,
mais do que as ocupadas no comércio e reparação
(16,8%) e na educação, saúde e serviços sociais
(16,7%). No Paraná são 500 mil trabalhadoras; 300
mil na informalidade.
O coordenador do Departamento de Relações
do Trabalho da Secretaria Regional do Trabalho,
Emprego e Economia Solidária do Paraná, Nun-
cio Mannala, ressalta que o trabalho destas mu-
lheres influi na educação, na família, nos jovens
e crianças, uma vez que em geral são elas as res-
ponsáveis pela organização familiar. “A questão
das trabalhadoras envolve a proteção social, o
auxílio a essas crianças que serão trabalhadores,
um dia terão família”, comenta Mannala, que
acredita que ao se falar de 500 mil postos de tra-
balho domésticos, deve se levar em conta que são
vagas das quais dependem a vida de cerca de 2
milhões de pessoas.
Para a OIT, o trabalho doméstico é uma das
atividades para as quais a noção de trabalho
A QUESTÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO
José Cruz / Abr
SETS
Os chamados “empregos verdes” são os
realizados em postos que ajudam a proteger
e restaurar ecossistemas e a biodiversidade;
que reduzem o consumo de energia, materiais
e água por meio de estratégias de prevenção
altamente eficazes, que descarbonizam a
economia e que minimizam ou evitam por
completo a geração de todas as formas de
resíduos e poluição.
O Plano Nacional de Trabalho Decente
busca combater, ao mesmo tempo, duas
grandes crises: a econômica internacional
e a climática. Por isso, a ideia é se chegar a
uma economia sustentável, com políticas
coerentes e programas eficazes que permitam
a criação de uma economia favorável ao meio
ambiente, com alto número de empregos e
baixo consumo de carbono.
A Organização Internacional do Trabalho
lançou a Iniciativa Empregos Verdes em 2009
“para promover as oportunidades, a igualda-
de e a transição a uma economia sustentável,
e para induzir os governos, empregadores e
trabalhadores a se comprometerem com um
NECESSIDADE IMEDIATA
Pesquisas para utilização de novas fontes de energia auxiliam na criação de mais empregos sustentáveis.
Produção de empregos verdes combate crise econômica e ambiental
José Cruz / Abr
Alb
ari R
osa
46
diálogo sobre políticas coerentes e programas
eficazes, a fim de criar uma economia favorável
ao meio ambiente, com empregos verdes e um
trabalho decente para todos”.
Segundo a OIT, em 2010 eram 2,90 milhões
de empregos verdes existentes no Brasil, o
que correspondia a 6,6% do total de vínculos
empregatícios nacionais. O Paraná apresen-
tava destaque no cenário brasileiro, sendo
responsável por 177 mil empregos verdes,
correspondentes a 6,1% do total deste tipo
de atividade no país.
O diretor-financeiro da Federação da
Agricultura do Estado do Paraná (Faep),
João Luiz Rodrigues Biscaia, comenta que a
agricultura orgânica tem sido um setor privi-
legiado em termos
de pesquisas, por
ser um importante
nicho de mercado.
A pesquisa na área
de sustentabilida-
de ambiental tem
sido crescente e
ocorre em espaços
do governo, como
o Instituto Agro-
nômico do Paraná
(Iapar) e a Empresa
Brasileira de Pes-
quisa Agropecuária (Embrapa); da iniciativa
privada, como o Cooperativa Central de
Pesquisa Agrícola, Tecnologia da Nossa Terra
(Coodetec) e em empresas especializadas.
Biscaia defende que o produtor rural é o
principal interessado na sustentabilidade no
campo, uma vez que “quem vive da natureza
precisa dela para continuar produzindo, e
há um equívoco dizer que o produtor rural
é um desmatador cruel e um grande polui-
dor”. Prega ainda que é um desafio para o
desenvolvimento conciliar a produção e a
sustentabilidade, pois para produzir alimen-
tos é necessário desmatar uma propriedade,
e isso deve ocorrer de maneira equilibrada.
Dizer que a agricultura produz terra
arrasada é um mito, defende Biscaia, que
afirma que “basta circular pelo interior do
estado para verificar o quanto existe mata”
e defende que o grande poluidor não é o
campo, e sim a cidade, que “não tem mata
ciliar para proteger os rios, e despeja nesses
mesmos rios o seu esgoto sem tratamento,
que o entope de lixo”.
O desafio de construção de empregos
verdes não está só no campo. O advogado
da Federação das Associações Comerciais e
Empresariais do Paraná (Faciap), João Carlos
Régis, comenta o caso da Associação Co-
mercial do Paraná (ACP) como um exemplo
a ser seguido, por ter constituído o Conselho
d a Ação pa ra a
Sustentabilidade
Social Empresa-
rial (Casem). Na
opi n ião de Ré-
gis, foi em função
do Casem que a
ONU convidou a
entidade a subs-
cre ver o Pac to
Global, iniciativa
pl a nejad a pa ra
empresas com-
prometid as em
alinhar suas operações e estratégias com os
dez princípios universalmente aceitos nas
áreas de direitos humanos, trabalho, meio
ambiente e combate à corrupção.
Segu ndo relatório do Depa r ta mento
Intersindical de Estatística e Estudos So-
cioeconômicos (Dieese) de junho de 2011,
entre 2008 e 2010 os empregos verdes em
Curitiba aumentaram 12,4% mais do que a
média de crescimento na cidade Curitiba (de
de 10%). As atividades de telecomunicação
e teleatendimento são as que detêm o maior
número de empregos verdes na cidade, com
14.845 postos de trabalho, um aumento de
19,1% no período.
“‘É UM EQUÍVOCO DIZER QUE O
PRODUTOR RURAL É UM DESMATADOR
E UM GRANDE POLUIDOR”
JOÃO LUIZ RODRIGUES BISCAIA, DIRETOR-FINANCEIRO DA FAEP
SETS
Quinze representantes de
trabalhadores, empregadores e
governo, além de cinco da sociedade
civil foram eleitos para representar o
Paraná para a Conferência Nacional do
Emprego e Trabalho Decente.
GOVERNO (TITULARES)
André Luiz Lievore | Chefe de
Escritório de Cornélio Procópio da
SETS/PR
Antenor Itacir Gabriel | Chefe de
Escritório de Pato Branco da SETS/PR
Antonio Carlos Camargo | Assessor
Técnico da SETS/PR
Cesar T. Bassani | Diretor da
Secretaria Municipal de Trabalho e
Emprego de Curitiba
Gilberto Aluisio Dagnoni Truiz |
Gerente da Agência do Trabalhador
de Umuarama da SETS/PR
José Maurino de Oliveira Martins |
Coordenador do Cesine da SETS/PR
Leila Maria Raboni | Assessora da
Sup. do MTE/PR
Luiz Claudio Romanelli | Secretário
Estadual da SETS/PR
Nuncio Mannala | Coordenador
do Departamento de Relações do
Trabalho da SETS/PR
Paulo Afonso Bracarense Costa |
Secretário da Secretaria Municipal de
Trabalho e Emprego de Curitiba
Roberto Tavares Canto | Coodenador
do Patronato da Secretária de Justiça
e Cidadania do Estado do Paraná
Ronaldo Baltar | Professor da UEL
Roselei Guber Delai | Gerente da
Agência do Trabalhador de Palotina
Sandro Lunard Nicodeli | Professor
da UFPR
Sérgio Zadorosny Filho | Chefe de
Escritório de Ponta Grossa SETS/PR
GOVERNO (SUPLENTES)
Aparecido de Sampaio Batista |
Professor da Seed/PR
Dominga de Paula Carpenedo |
Agência do Trabalhador de Cascavel
Neiva Regina Piccinin | Assistente
Administrativa da SETS/PR
Ubirajara Maristany | Gerente
da Agência do Trabalhador de
Paranaguá da SETS/PR
Valdecir Priester |Agência do
Trabalhador de Francisco Beltrão da
SETS-PR
Vilson Marques da Silva | Prefeitura
Municipal de São José dos Pinhais
SOCIEDADE CIVIL (TITULARES)
Claudiamari C. dos Santos | Diretora
da Marcha Mundial de Mulheres
Doris Margareth de Jesus | Indicada
pela União Brasileira das Mulheres
Dirce de Souza | Diretora da
Associação das Mulheres
Comunitárias Faxinalenses
Lucio Antonio Brandão | Diretor do
Ilitic
Maria de Fátima Costamilan
| Diretora da Agência de
Desenvolvimento Solidário
Stanley Kennedy Garcia | Diretor da
Adecesc
SOCIEDADE CIVIL (SUPLENTES)
Gilvane Lopes Pereira | Diretora da UBM
Marilda Ribeiro da Silva | Diretora da
Marcha Mundial de Mulheres
TRABALHADORES (TITULARES)
Celso José dos Santos | Diretoria CUT
Denilson Pestana da Costa |
Presidente da NCST/Paraná
Edson Roberto Evangelista | Diretoria
do Sindicato dos Metalúrgicos da
Grande Curitiba
Eliseu de Oliveira Freitas | Diretoria
do Sintespar
Gerti José Nunes | Presidente da
Saemac
João Ideilson Claudino da Cruz |
Diretoria da CTB
Marisa Stédile | Diretoria da CUT
DELEGADOS ELEITOS
48
Marcos Antonio Beroldo | Diretoria
do Sintricomu
Patrick Leandro Baptista | Diretoria
da CUT
Regina Perpétua da Cruz | Diretoria
da CUT
Roni Anderson Barbosa | Presidente
da CUT
Rubens José Stelmak | Diretoria do
Sind. das Cervejarias e Bebidas em
Geral
Romério Moreira da Silva | Diretoria
do Sind. de Fiação Téxtil de Curitiba
e Região
Sérgio Machado dos Santos |
Diretoria do Sinetrapitel
Sonia Maria Marchi | Diretoria da
Fed. dos Servidores do Paraná
TRABALHADORES (SUPLENTES)
Edilson José Gabriel | Diretoria CUT
Ermínio Ferreira Santana | Diretoria
da STI (Campo Largo e São Miguel do
Iguaçu)
Joanir Ferreira | Diretoria da Força
Sindical
José Alexandre dos Santos | Diretoria
do Sintracon
Luis Carlos Alves de Lara | Diretoria
da UGT
Silvana Aparecida de Oliveira |
Diretoria do Sismar
EMPREGADORES (TITULARES)
Anderson Eugenio Lechechem |
Diretoria Fecoopar/Ocepar
Edson José de Vasconselos | Diretoria
da Fiep
Carlos Alberto de Sotti Lopes |
Diretoria Fecomércio
Henrique Willian Bego Soares |
Diretoria Faep
João Alberto Soares de Andrade |
Sindimadeiras
João Carlos Régis | Diretoria da Faciap
Jean Carlos Ruthes | Diretoria
Fecoopar/Ocepar
Larissa Lucca | Diretoria Fehospar
Leonardo Piantavini | Diretoria Faep
Luis Antonio Borges | Diretoria Fiep
Luis C. Favarin | Diretoria
Fecomércio
Lusia Massinhan | Diretoria
Fecoopar/Ocepar
Raquel Benitez Kruger | Diretoria
Setapar
Roberto Luis Hart Teixeira de Freitas
| Diretoria Fepasc
Klauss Dias Kuhnen | Diretoria Faep
EMPREGADORES(SUPLENTES)
Carlos Roberto Goncalves | Diretoria
Ocepar
Doralice Fagundes Marchioro |
Diretoria Sind. Rural Patronal
Mauri M. Bevervanço | Diretoria
Sindiponta
Priscila Fátima Caetano de Lima |
Diretoria Fiep
Rosemberg G. de Sá | Diretoria dos
Sind. dos Hospitais de Maringá
Said Khaled Omar | Diretoria
Sindilojistas
COMISSÃO ORGANIZADORA ESTADUAL
GOVERNO
Maria Eulete Messias | Secretaria de
Estado da Educação
José Lucio dos Santos | Secretaria de
Estado da Saúde
TRABALHADORES
Denilson Pestana | Diretoria da NCST
Maria de F. de AzevedoFerreira
| Central de Trabalhadores e
Trabalhadoras
EMPREGADORES
Klauss Dias Kuhnen | FAEP
Carlos A. de Sotti Lopes | Fecomércio
Relator e Ponto Focal da Delegação
do Estado do Paraná a participar da
CNETD em Brasília
Antonio Carlos Camargo | Assessor
Técnico da SETS/PR
SETS
Conv. Título AdoçãoOIT
Ratificação Brasil Observação
3Convenção relativa ao Emprego das Mulheres antes e depois do parto (Proteção à Maternidade)
1919 26/04/1934 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 103 em 26.07.1961.
4 Convenção relativa ao trabalho noturno das mulheres 1919 26/04/1934 Denunciada em 12.05.1937
5 Idade Mínima de Admissão nos Trabalhos Industriais 1919 26/04/1934 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 138 em 28.06.2001.
6 Trabalho Noturno dos Menores na Indústria 1919 26/04/1934
7Convenção sobre a Idade Mínima para Admissão de Menores no Trabalho Marítimo (Revista em 1936)
1920 08/06/1936 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 58 em 09.01.1974.
11 Direito de Sindicalização na Agricultura 1921 25/04/1957
12 Indenização por Acidente do Trabalho na Agricultura 1921 25/04/1957
14 Repouso Semanal na Indústria 1921 25/04/1957
16 Exame Médico de Menores no Trabalho Marítimo 1921 08/06/1936
19Igualdade de Tratamento (Indenização por Acidente de Trabalho)
1925 25/04/1957
21 Inspeção dos Emigrantes a Bordo dos Navios 1926 18/06/1965
22 Contrato de Engajamento de Marinheiros 1926 18/06/1965
26 Métodos de Fixação de Salários Mínimos 1928 25/04/1957
29 Trabalho Forçado ou Obrigatório 1930 25/04/1957
41Convenção Relativa ao Trabalho Noturno das Mulheres (Revista, 1934)
1934 08/06/1936 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 89 em 24.04.1957.
42 Indenização por Enfermidade Profissional (revista) 1934 08/06/1936
45Emprego de Mulheres nos Trabalhos Subterrâneos das Minas
1935 22/09/1938
52 Férias Remuneradas 1936 22/09/1938 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 132 em 23.09.1998.
53Certificados de Capacidade dos Oficiais da Marinha Mercante
1936 12/10/1938
58 Idade Mínima no Trabalho Marítimo (Revista) 1936 12/10/1938 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 138 em 26.06.2001.
80 Revisão dos Artigos Finais 1946 13/04/1948
81 Inspeção do Trabalho na Indústria e no Comércio 1947 11/10/1989
88 Organização do Serviço de Emprego 1948 25/04/1957
89 Trabalho Noturno das Mulheres na Indústria (Revista) 1948 25/04/1957
91 Férias Remuneradas dos Marítimos (Revista) 1949 18/06/1965 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 146 em 24.09.1998.
92 Alojamento de Tripulação a Bordo (Revista) 1949 08/06/1954
93Convenção sobre Salários, Duração de Trabalho a Bordo e Tripulação (Revista em 1949)
1949 18/06/1965 A Convenção não entrou em vigor.
94 Cláusulas de Trabalho em Contratos com Órgãos Públicos 1949 18/06/1965
O Brasi tem apresentado uma participação ativa na OIT, tendo ratificado as principais Convenções da OIT (81 no total), conforme se esclarece com a apresentação do quadro informativo da OIT/Brasil, disponível em www. oitbrasil.org.br/convention.
50
95 Proteção do Salário 1949 25/04/1957
96 Concernente aos escritórios remunerados de empregos 1949 21/06/1957
97 Trabalhadores Migrantes (Revista) 1949 18/06/1965
98 Direito de Sindicalização e de Negociação Coletiva 1949 18/11/1952
99 Métodos de Fixação de Salário Mínimo na Agricultura 1951 25/04/1957
100Igualdade de Remuneração de Homens e Mulheres Trabalhadores por Trabalho de Igual Valor
1951 25/04/1957
101 Férias Remuneradas na Agricultura 1952 25/04/1957 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 132 em 23.09.1998.
102 Normas Mínimas da Seguridade Social 1952 15/06/2009
103 Amparo à Maternidade (Revista) 1952 18/06/1965
104 Abolição das Sanções Penais no Trabalho Indígena 1955 18/06/1965
105 Abolição do Trabalho Forçado 1957 18/06/1965
106 Repouso Semanal no Comércio e nos Escritórios 1957 18/06/1965
107 Populações Indígenas e Tribais 1957 18/06/1965 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 169 em 25-07-2002.
108 Documentos de Identidade dos Marítimos 1958 05/11/1963 Denunciada, como resultado da ratificação da Convenção n.º 185, em 21.01.2010.
109Convenção sobre os Salários, a Duração do Trabalho a Bordo e as Lotações (revista em 1958)
1958 30/11/1966 A Convenção não entrou em vigor.
110Convenção sobre as Condições de Emprego dos Trabalhadores em Fazendas
1958 01/03/1965 Denunciada em 28.08.1970
111 Discriminação em Matéria de Emprego e Ocupação 1958 26/11/1965
113 Exame Médico dos Pescadores 1959 01/03/1965
115 Proteção Contra as Radiações 1960 05/09/1966
116 Revisão dos Artigos Finais 1961 05/09/1966
117 Objetivos e Normas Básicas da Política Social 1962 24/03/1969
118Igualdade de Tratamento entre Nacionais e Estrangeiros em Previdência Social
1962 24/03/1969
119 Proteção das Máquinas 1963 16/04/1992
120 Higiene no Comércio e nos Escritórios 1964 24/03/1969
122 Política de Emprego 1964 24/03/1969
124Exame Médico dos Adolescentes para o Trabalho Subterrâneo nas Minas
1965 21/08/1970
125 Certificados de Capacidade dos Pescadores 1966 21/08/1970
126 Alojamento a Bordo dos Navios de Pesca 1966 12/04/1994
127 Peso Máximo das Cargas 1967 21/08/1970
131Fixação de Salários Mínimos, Especialmente nos Países em Desenvolvimento
1970 04/05/1983
132 Férias Remuneradas (Revista) 1970 23/09/1998
133Alojamento a Bordo de Navios (Disposições Complementares)
1970 16/04/1992
134 Prevenção de Acidentes do Trabalho dos Marítimos 1970 25/07/1996
135 Proteção de Representantes de Trabalhadores 1971 18/05/1990
SETS
136 Proteção Contra os Riscos da Intoxicação pelo Benzeno 1971 24/03/1993
137 Trabalho Portuário 1973 12/08/1994
138 Idade Mínima para Admissão 1973 28/06/2001
139Prevenção e Controle de Riscos Profissionais Causados por Substâncias ou Agentes Cancerígenos
1974 27/06/1990
140 Licença Remunerada para Estudos 1974 16/04/1992
141 Organizações de Trabalhadores Rurais 1975 27/09/1994
142 Desenvolvimento de Recursos Humanos 1976 24/11/1981
144 Consultas Tripartites sobre Normas Internacionais do Trabalho 1976 27/09/1994
145 Continuidade no Emprego do Marítimo 1976 18/05/1990
146 Convenção Relativa às Férias Anuais Pagas dos Marítimos 1976 24/09/1998
147 Normas Mínimas da Marinha Mercante 1976 17/01/1991
148 Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações 1977 14/01/1982
151 Direito de Sindicalização e Relações de Trabalho na Administração Pública 1978 15/06/2010
152 Segurança e Higiene dos Trabalhos Portuários 1979 18/05/1990
154 Fomento à Negociação Coletiva 1981 10/07/1992
155 Segurança e Saúde dos Trabalhadores 1981 18/05/1992
158 Término da Relação de Trabalho por Iniciativa do Em-pregador 1982 05/01/1995 Denunciada em 20.11.1996
159 Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes 1983 18/05/1990
160 Estatísticas do Trabalho (Revista) 1985 02/07/1990
161 Serviços de Saúde do Trabalho 1985 18/05/1990
162 Utilização do Amianto com Segurança 1986 18/05/1990
163 Bem-Estar dos Trabalhadores Marítimos no Mar e no Porto 1987 04/03/1997
164 Proteção à Saúde e Assistência Médica aos Trabalha-dores Marítimos 1987 04/03/1997
166 Repatriação de Trabalhadores Marítimos 1987 04/03/1997
167 Convenção sobre a Segurança e Saúde na Construção 1988 19/05/2006
168 Promoção do Emprego e Proteção Contra o Desemprego 1988 24/03/1993
169 Sobre Povos Indígenas e Tribais 1989 25/07/2002
170 Segurança no Trabalho com Produtos Químicos 1990 23/12/1996
171 Trabalho Noturno 1990 18/12/2002
174 Convenção sobre a Prevenção de Acidentes Industriais Maiores 1993 02/08/2001
176 Convenção sobre segurança e saúde nas minas 1995 18/05/2006
178Convenção Relativa à Inspeção das Condições de Vida e de Trabalho dos Trabalhadores Marítimos
1996 21/12/2007
182Convenção sobre Proibição das Piores Formas de Traba-lho Infantil e Ação Imediata para sua Eliminação
1999 02/02/2000
185Convenção sobre os Documentos de Identidade da gente do mar (Revista)
2003 21/01/2010
52
O Escritório da OIT no Brasil e a Secretaria de
Estado do Trabalho, Emprego e Economia Soli-
dária assinaram um termo de cooperação para a
Agenda do Trabalho Decente do Estado. O evento
ocorreu em Maringá e contou com a participação
da Diretora do Escritório da OIT, Laís Abramo, e do
secretário Luiz Claudio Romanelli. O objetivo do
acordo é definir as prioridades, os resultados e as
estratégias para a promoção do trabalho decente.
Depois da Bahia e do Mato Grosso, da região
do ABC Paulista e de Curitiba, a Agenda do Tra-
balho Decente do Paraná seria a próxima a ser
formalmente constituída. Esta agenda é fruto das
discussões ocorridas na realização das Conferências
Estaduais de Trabalho Decente. O encontro reuniu
representantes das organizações de trabalhadores,
empregadores e do poder público. “O objetivo é
buscar soluções que garantam trabalho decente
para a população, ao definir as prioridades e
estratégias para a promoção do trabalho decente
no Paraná”, destacou Romanelli. A diretora Laís
Abramo palestrou sobre proteção social, na qual
destacou o compromisso do governo ao promover
o diálogo entre trabalhadores, empregadores e a
esfera pública.
Também foi apresentado um painel sobre o mapa
situacional e os indicadores sociais da macrorregião
de Maringá, coordenado pelo chefe de Divisão do
Sistema Público de Trabalho, Emprego e Renda,
José Maurino, e pelo diretor do Departamento de
Relações do Trabalho, Nuncio Mannala, ambos da
Secretaria do Trabalho.
SETS ASSINA TERMO COM A OIT
Memorando busca a elaboração, promoção e implantação da Agenda do Trabalho Decente no Paraná
O secretário Luiz Claudio Romanelli e a diretora da OIT Laís Abramo assinam o termo de cooperação.
Sets
SETS
Com a pretensão de controlar
o c u mpr i mento, p or p a r te do s
Estados-membros, das convenções
ratificadas, a OIT estabelece dois
procedimentos contenciosos: a re-
clamação e a queixa. São mecanismos
especiais de controle, baseados na
apresentação de uma representação
contra Estado-membro que viola
sistematicamente uma ou várias
normas internacionais do traba-
lho. O controle por queixa só pode
ser exercido por representação de
um Estado-membro contra outro
Trabalho pode se dar através de um
mecanismo regular de controle ou por
um mecanismo especial de controle.
Os órgãos de controle da Orga-
nização Internacional do Trabalho
apoiam-se em três pilares:
Examinam o respeito por parte dos
Estados-membros de suas obrigações
relativas às normas da OIT;
Du ra nte os referidos exa mes,
pronunciam-se sobre o singnificado
e alcance das Normas Internacionais
do Trabalho (NITs);
Como resultado de sua atuação,
cria-se paulatinamente um “corpo
jurisprudencial”.
Os mecanismos regulares de con-
trole estão cimentados na obrigação
de apresentar regularmente relatórios
sobre a aplicação de cada uma das
convenções fundamentais ratificadas.
Esse controle é exercido pela OIT em
relação aos Estados-membros.
Todo o sistema de controle da OIT
objetiva o cumprimento das obrigações
contraídas pelos Estados-membros,
seja porque aderiram à Constituição
da OIT, seja porque ratificaram as con-
venções. Implica num exame objetivo
e imparcial de todos os pontos em
discussão por personalidades inde-
pendentes e altamente qualificadas.
O sistema de controle serve para
monitorar o Estado, verificando se
sua atuação interna está em confor-
midade com as normas internacionais
de trabalho a que se comprometeu a
cumprir. Como uma das hipóteses
desse sistema de controle é o monito-
ramento a partir de denúncias feitas
contra o Estado, acaba por se tornar
também um instrumento de atuação
de entidades representativas das ca-
tegorias nacionais, na defesa de seus
membros contra o Estado violador. Não
há contencioso entre categorias. As
denúncias são sempre contra o Estado.
É importante frisar que, verificado o
descumprimento de alguma norma da
OIT, esta só poderá ser acionada quan-
do esgotados os recursos internos junto
ao Estado das partes prejudicadas.
Estado-membro da OIT.
Já para a reclamação, a matéria está
prevista no documento intitulado
“Regulamento relativo ao procedi-
mento para a discussão de reclamações
apresentadas com base nos artigos 24
e 25 da Constituição da OIT, de 1932,
com suas modificações posteriores.”.
O artigo 24 da Constituição da Or-
ganização Internacional do Trabalho
sobre o direito à reclamação:
“Toda reclamação, dirigida à Re-
partição Internacional do Trabalho,
por uma organização profissional de
empregados ou de empregadores,
e segundo a qual um dos Estados-
-membros não tenha assegurado
satisfatoriamente a execução de
uma convenção a que o Estado haja
aderido, poderá ser transmitida pelo
Conselho de Administração ao Go-
verno em questão e este poderá ser
convidado a fazer, sobre a matéria, a
declaração que julgar conveniente.”
E, continua no artigo 25:
“Se nenhuma declaração for en-
viada pelo Governo em questão, num
prazo razoável, ou se a declaração
recebida não parecer satisfatória ao
Conselho de Administração, este úl-
timo terá o direito de tornar pública
a referida reclamação e , segundo o
caso, a resposta dada.”
Assim, verifica-se que somente as
organizações (sindicais ou análogas)
podem iniciar o procedimento de re-
clamação, cujo objeto concerte apenas
o descumprimento de uma convenção
ratificada. Portanto, o impulso inicial
para o procedimento de reclamação
deve ser das organizações.
Enviada a reclamação, seu trâmite
obedecerá a um procedimento nessa
ordem:
PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DA OIT
SISTEMA DE CONTROLE
O sistema de controle de aplica-
ção das Normas Internacionais do
CONTROLE REGULAR
CONTROLE POR PROVOCAÇÃO: RECLAMAÇÃO E QUEIXA
Sets
54
A | Imediatamente após o recebimento da reclamação, o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho (RIT) acusará seu recebimento e informará o Estado acusado;
B | O Diretor-Geral transmitirá a reclamação à Mesa do Conselho de Administração (CA);
C | A reclamação só será admitida quanto à forma se cumprir com os seguintes requisitos: haver sido comunicada por escrito; proceda de uma organização profissional de empregadores ou trabalhadores; faça expressa referência ao art. 24 da Constituição da OIT; refira-se a um membro da Organização e uma convenção por este ratificada; afirme que esse Estado não assegura, de maneira satisfatória, o efetivo cumprimento, dentro de sua jurisdição, da convenção em causa;
D | A Mesa do CA informará ao CA sobre admissibilidade formal da reclamação;
E | Admitida a reclamação quanto à forma pelo CA, este designará um comitê de três dos seus membros, oriundos dos grupos governamentais, de empregadores e de trabalhadores, para examiná-lo quanto ao mérito. Caso a recla-mação admitida se refira a questões sindicais, poderá ser remetida ao Comitê de Liberdade Sindical, conforme será tratado em apartado;
F | O Comitê poderá solicitar, a todo tempo, informações complementares à organização acusadora; notificar a re-clamação ao governo interessado, bem como solicitar-lhe, se necessário, seu posicionamento a respeito, assim como informações complementares; poderá, também, arrolar testemunhas ou representantes para esclarecimentos;
G | Um representante do Comitê poderá visitar o país, a fim de obter, através de contatos diretos com autoridades e órgãos competentes, informações sobre o objeto da reclamação;
H | Findo o exame da reclamação, o Comitê apresentará um relatório ao CA apresentando suas conclusões e formu-lando recomendações para a decisão;
I | O governo interessado será convidado a participar, com direito de palavra mas sem direito a voto, quando a Mesa do CA verificar a admissibilidade da reclamação e o CA apresentar o relatório do Comitê sobre as questões de fundo, sempre a portas fechadas;
J | O CA determinará, quando pertinente, a publicação de reclamação, e, se houver, a declaração do governo interes-sado, finalizando assim, o procedimento;
K | A RIT comunicará, qualquer que seja a decisão, ao governo interessado e à organização querelante;
L | Esses procedimentos serão aplicados mesmo em relação às reclamações apresentadas contra Estados que já não sejam Membros da OIT, desde que estes continuem vinculados às convenções
* O conteúdo das páginas 53 e 54 foram extraídos do livro “Manual de direito internacional do trabalho: teoria geral e prática perante a OIT”, organizado por André Passos, Fernanda Negrão Pereira, Sandro Lunard Nicoladeli , Tatyana Scheila Friedrich e Vinícius Cechinel - 1ª Edição - Curitiba: Ed. Íthala, 2012.
FLUXOGRAMA DO PROCEDIMENTO
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