¹Graduanda em Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte/UFRN. [Email: [email protected]].
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA
DEPARTAMENTO DE ARTES - DEART
LICENCIATURA EM TEATRO
¹Irielly Letícia Brito da Silva
UMA EXPERIÊNCIA COM O COCO DE RODA NO
TREINAMENTO E ENSINO DE TEATRO.
NATAL/RN
2018
IRIELLY LETÍCIA BRITO DA SILVA
UMA EXPERIÊNCIA COM O COCO DE RODA NO
TREINAMENTO E ENSINO DE TEATRO.
Trabalho de conclusão do curso
apresentado à Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito
para a obtenção do título de Graduação
em Licenciatura em Teatro.
Orientadora: Profª. Mª. Mayra
Montenegro.
NATAL/RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM TEATRO
ATA DE DEFESA
As dez horas do dia dez do mês e dezembro do ano de dois mil e dezoito, na
sala 4 do prédio do Departamento de Artes, a discente IRIELLY LETÍCIA BRITO
DA SILVA apresentou seu trabalho de conclusão do curso – TCC, intitulado:
“UMA EXPERIÊNCIA COM O COCO DE RODA NO TREINAMENTO E ENSINO
DE TEATRO”, requisito obrigatório para a obtenção do título de Licenciatura em
Teatro da UFRN. O trabalho foi avaliado pela Banca Examinadora composta pela
Profa. Ma. Mayra Montenegro de Souza (orientadora), pela Profa. Dra. Ana
Caldas Lewinsohn (examinadora) e pela Profa. Ma. Tatiane Cunha de Souza
(examinadora externa), sendo considerada APROVADA com média final: 10.
Natal, 10 de dezembro de 2018.
Dedico esta, bem como todas as minhas conquistas a minha amada avó Severina Leopoldina e a minha amada mãe Vânia Maria.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por ter me dado saúde e força para superar todos
os desafios durante esses 4 anos de curso.
A minha mãe Vânia Maria de Brito que sempre foi a minha maior
incentivadora de todo e qualquer caminho que escolhi trilhar. Meu espelho de
mulher, de mãe, de força. Sempre me dando a mão e me ajudando no que fosse
preciso.
A minha avó Severina Leopoldina da Conceição a mulher mais forte que
eu conheci e conheço. Por tanto amor, carinho e dedicação por toda sua vida a
mim e a nossa família.
As minhas irmãs Vanessa Larissa e Deise Brito e ao meu irmão Iago
Lucas que tanto me ensinaram e me ensinam e que tanto me fazem crescer. E
as minhas Sobrinhas Anne Ludmylla e Júlia Lavínia que são os presentes mais
preciosos que já ganhei na vida. O amor mais puro e verdadeiro que já conheci.
A Miquéias Vieira por ter segurado minha mão e ter ficado do meu lado
me incentivando a continuar. Por todo amor, compreensão e companheirismo.
A minha orientadora Mayra Montenegro por ser esse ser de luz. Uma
mulher forte, inteligente, linda por dentro e por fora. Que sempre estendeu a mão
e me orientou com maestria. Obrigada por todo o tempo dedicado a mim. Por
confiar, e fazer me sentir confiante. Você é uma mulher, professora, mãe,
incrível.
Aos amigos Mário Rubens, Samuel Leon e Yogi brito. Por tanta troca, por
estarem sempre presente. Pelo incentivo durante a escrita do TCC, pela partilha
de sorrisos e abraços nos momentos bons e ruins. Donos de um cantinho
especial no meu coração.
A Thâmara Cunha pelo encontro, pela amizade, pela parceria. Juntas
somos mais fortes. E a todos os colegas de turma que se fizeram presente direta
ou indiretamente durante esses 4 anos de curso.
A Tatiane Tenório, Makários Maia, Ana Caldas, André Carrico, Laura
Figueiredo, Karyne Dias, Sávio Araújo, Jefferson Fernandes e todos os docentes
presentes em minha formação. Vocês foram fundamentais durante meu
percurso. Muito obrigada!
RESUMO
O presente artigo retrata o encontro da discente/pesquisadora com a
manifestação popular do coco de roda, desde o conhecimento da sua existência,
a pesquisa acerca da manifestação até a utilização do coco como ferramenta
pedagógica para o ensino do teatro. A discente relata as experiências com o
coco de roda e o ensino de teatro no Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência - PIBID, o programa Trilhas Potiguares, o projeto Auto de
São Miguel Arcanjo, bem como nos Estágios Supervisionados de Formação de
Professores da Licenciatura em Teatro da UFRN. A partir de uma metodologia
empírica, que analisou tais experiências, e de pesquisa bibliográfica, a discente
pôde identificar na brincadeira popular diversas contribuições para o ensino do
teatro e treinamento teatral, além da descoberta da suma importância de manter
o coco de roda vivo e pulsante, como manifestação de resistência.
Palavras-Chave: Coco de roda. Ensino de Teatro. Cultura popular. Coco na
escola. Treinamento.
ABSTRACT
This article represents the meeting of the student/researcher with the popular
dance of coco de roda, from the knowledge of its existence, the research about
the tradition to the use of coco as a pedagogical tool in theater teaching. The
student describes the experiences with the coco and the teaching of theater in
the Institutional Program of Initiation to Teaching - PIBID, the program Trilhas
Potiguares, the project Auto of São Miguel Arcanjo, as well as in the Supervised
Teacher Training Stages of the UFRN Theater Degree. From an empirical
methodology, that analyzed such experiences, and from a bibliographical
research, the student was able to identify in the popular dance many contributions
to the teaching of theater and theater training, as well as the discovery of the
importance of keeping the coco alive and pulsing, as an expression of resistance.
Keywords: Coco de roda. Teaching of Theater. Popular culture. Coco at school.
Training.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Roda com os alunos e alunas da E. E. Lauro de Castro (PIBID)......24
Figura 2 - Exposição 1 São Miguel do Gostoso.…………………………………...27
Figura 3 - Exposição 2 Pureza - Trilhas Potiguares......………………………......27
Figura 4 - Estágio Supervisionado IV - IFRN………...…………………………....29
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................... 10
BREVE HISTÓRICO.......................................................................................... 11
CONTRIBUIÇÕES DO COCO PARA O TREINAMENTO................................ 13
PRIMEIROS CONTATOS E INVESTIGAÇÃO.................................................. 19
O COCO NA ESCOLA...................................................................................... 21
EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS.................................................................... 23
OUTRAS EXPERIÊNCIAS................................................................................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 32
REFERÊNCIAS................................................................................................. 33
ANEXO.............................................................................................................. 35
10
Introdução
O coco de roda é uma dança popular, com influência africana e indígena,
que possivelmente surgiu no nordeste brasileiro. Tive o primeiro contato com o
coco no ano de 2015 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte durante
a semana de Integração1 no primeiro semestre do curso de Licenciatura em
Teatro. A partir daí, passei a investigar e adentrar o universo do coco de roda até
começar a inseri-lo dentro de minhas práticas como docente em formação.
O percurso trilhado para tal inserção foi através de oficinas ministradas
nos municípios do RN, na cidade de São Miguel do Gostoso (de 13 de maio à 25
de julho de 2017) através do projeto Auto de São Miguel Arcanjo2 e na cidade de
Pureza através do Programa de Extensão Trilhas Potiguares3 da UFRN. Além
disso, no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e no
Estágio Supervisionado de Formação de Professores.
A partir destas experiências pude observar a importância de manter tal
cultura viva, alcançando pessoas de diferentes lugares. Com o intuito de
propagar esta manifestação fui conhecer um pouco mais sobre ela e sobre o que
ela podia oferecer enquanto manifestação cultural, conteúdo potente para ser
trabalhado dentro de sala de aula e objeto rico em expressividade corporal para
ser utilizado como treinamento teatral.
O artigo tem como objetivo fazer um relato que possa contribuir de alguma
forma para a área de Artes enquanto espaço de existência e resistência para a
cultura popular, com ênfase no coco de roda e o ensino do Teatro, que foi de
onde a inquietação surgiu.
1 A semana de Integração geralmente acontece na primeira semana de aula e tem como finalidade apresentar o departamento e um pouco do que o curso oferece, através de apresentações teatrais e musicais que são organizadas pelos veteranos, como uma forma de dar boas-vindas aos novos alunos e alunas. 2 O auto de são Miguel Arcanjo é um projeto sócio-artístico-cultural que foi realizado no período de 13 de Maio de 2017 à 25 de Julho de 2017 na cidade de São Miguel do Gostoso e contou a história da batalha entre o arcanjo Miguel e o anjo Lúcifer. 3 O Trilhas Potiguares consiste em um Programa de Extensão com efetiva interação entre a Universidade e a comunidade de pequenos municípios do Rio Grande do Norte. Ocorreu no período de 24 de Abril de 2017 a 09 de Dezembro de 2017 na cidade de Pureza.
11
Breve histórico
Cultura é a identidade de um povo. Segundo Daniela Diana4:
(...) É o conjunto de tradições, crenças e costumes de determinado grupo social. Assim, a cultura representa o patrimônio social de um grupo e a soma de padrões dos comportamentos humanos. É a gama do comportamento de um grupo de pessoas envolvendo seus conhecimentos, experiências, atitudes, valores, crenças, religião, língua, hierarquia, relações espaciais, noção de tempo, conceitos de universo. (Disponível em <https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/> Acessado dia 05 de Novembro de 2018).
Esses comportamentos são partilhados pelos indivíduos através da
família e da sociedade em que vive. E vão se transformando à medida em que
são partilhados para as gerações seguintes. E o que seria cultura popular? Em
2003, a Convenção da Unesco para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Imaterial substituiu a expressão “cultura tradicional e popular” por “patrimônio
cultural imaterial”. Depois a convenção foi confirmada no Brasil em 2006.
Segundo a chefe da Divisão de Pesquisa do Centro Nacional de Folclore e
Cultura Popular do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),
Maria Elisabeth de Andrade Costa, é difícil definir o que é cultura popular, porque
“se presta a definições diversas”, tendo sido objeto de estudos diferentes por
muitos anos e até hoje. Ela afirma que:
Diante das transformações nas concepções da cultura popular, que tangenciam folclore, cultura oral, cultura tradicional e cultura de massa, o emprego da expressão no plural – culturas populares – talvez consiga mais facilmente percebê-la como práticas sociais e processos comunicativos híbridos e complexos que promovem a integração de múltiplos sistemas simbólicos de diversas procedências. (http://culturaspopulares.cultura.gov.br/ - Acessado em 21 de Novembro de 2018).
Na cultura popular o povo expressa sua identidade, suas tradições, sua
criatividade, suas brincadeiras de diversas formas: danças, encenações,
músicas, literaturas, jogos, artesanatos, culinárias, dentre outras. O Brasil possui
uma identidade cultural bastante variada. No Livro “As danças dramáticas do
4 Professora, pesquisadora, produtora cultural e gestora de conteúdos on-line. Disponível em <https://www.todamateria.com.br/autor/daniela-diana/> Acessado dia 05 de Novembro de 2018.
12
Brasil” de Mário de Andrade (1983), o autor afirma que uma das manifestações
mais características da cultura popular brasileira são as nossas danças
dramáticas.
O coco de roda é uma dança dramática que, como as outras, tem seus
passos próprios, seu gingado, suas músicas. É uma dança que traz toda uma
história vivida por uma comunidade, repleta de críticas sociais e ambiguidade
que vão sendo passadas de geração a geração.
Os brincantes se organizam em roda e cantam seguindo o puxador.
Tocam instrumentos como o tambor, o pandeiro e o ganzá, usam saias com
bastante cor e movimento que dão mais agilidade aos corpos dançantes. Altimar
Pimentel (1978) descreve a manifestação da seguinte forma:
É formada uma roda de dançarinos que gira da direita para a esquerda enquanto repete em coro a “resposta” de coco “tirado” pelo solista. Ao mesmo tempo os da roda, marcam com uma pisada forte de ambos os pés a sílaba tônica final do verso, e meneam o corpo ora para direita ora para esquerda. No centro da roda dois ou mais coqueiros (ou coquistas) trocam umbigadas podendo ou não formar casais (PIMENTEL, 1978, p.13).
O coco de roda tem influência africana e indígena e acredita-se que surgiu
no nordeste brasileiro, entre os estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco, e
foi se espalhando por todo o litoral. Em uma pesquisa feita por Rosane Almeida5
ela fala sobre sua origem:
[...] a dança teria surgido no Quilombo dos Palmares, com o barulho que os cocos provocavam ao serem quebrados nas pedras, um som que convidava os negros a dançarem. Com o tempo, esse ruído natural foi substituído pelo som de palmas com as mãos encovadas, dançado por pares de casais dispostos em roda, trocando umbigadas entre si e com os casais vizinhos (ALMEIDA, [20-?], p. 6).
Pimentel (1978, p.8) ressalta que o coco de roda “não tem dias fixo para
sua realização, podendo ocorrer em qualquer data do ano, muito embora seja
característico do núcleo junino”. O coco de zambê, ou coco de praia como
também é chamado, é característico do estado do Rio Grande do Norte. O grupo
5 Atriz, dançarina, circense, musicista, educadora e cofundadora do Instituto Brincante, dedicada
ao estudo da diversidade cultural do país e à valorização de seu imaginário e universo simbólico. Disponível em <http://www.institutobrincante.org.br/> Acessado dia 06 de Outubro de 2018.
13
Coco de Zambê do mestre Geraldo é formado somente por homens e pode ser
encontrado no litoral sul do município de Tibau. Durante os ensaios o grupo
permite que mulheres entrem na hora, porém durante as apresentações somente
os homens podem compor a roda.
Temos também o grupo Coco de Roda do Mestre Severino6 de 82 anos,
que acompanhava seu pai nas brincadeiras de Zambê, Chegança7 e Boi de
Reis8. O contato com estas manifestações populares influenciou seu trabalho
com o coco de roda. O grupo é formado somente por mulheres, com exceção do
mestre, e pode ser encontrado no município de Nísia Floresta, onde acontecem
os ensaios do grupo.
Apesar de serem dois grupos oriundos do Estado do Rio Grande do Norte
é visível a diferença na composição das rodas e na forma de dançar o coco
também. Por exemplo, na roda de Mestre Geraldo o coco acontece mais no nível
baixo e na roda de Mestre Severino nos níveis médio e alto.
Contribuições do coco para o treinamento
Nesse momento, gostaria de abordar a importância do coco também
como treinamento teatral. Os princípios sobre os quais falarei também podem
ser ensinados na escola. Eles foram abordados, ainda que não explicitamente,
nas experiências pedagógicas que narrarei mais à frente. Tais princípios foram
importantes na minha formação como atriz e professora de Teatro durante a
graduação.
As danças populares são ricas em expressividade corporal e podem ser
utilizadas como uma das opções de treinamento teatral para o ator. O coco de
roda como treinamento teatral trabalha a expressividade corpóreo-vocal a partir
6 Mestre Severino Bernardo Santiago, nascido em Vera Cruz/RN, no dia 02 de junho de 1936.
Disponível em <https://www.facebook.com/pg/CocoMestreSeverino/about/?ref=page_internal> acessado dia 22 de Outubro de 2018. 7 Chegança é um auto popular do Nordeste do Brasil de inspiração marítima e em danças que
representam combates entre cristãos e mouros. Disponível em < http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&id=880> Acessado dia 15 de Dezembro de 2018. 8 O Reis de Boi é um auto em homenagem aos Santos Reis. É realizado no ciclo de Natal, prolongando-se até o dia de São Brás, comemorado no dia 03 de fevereiro. É dividido em duas partes: uma de louvação aos Santos Reis e outra de teatralização. Disponível em < https://www.visiteobrasil.com.br/sudeste/espirito-santo/festas-populares/conheca/reis-de-boi> Acessado dia 17 de dezembro de 2018.
14
das canções, ritmo e pulso. O canto e a dança são executados ao mesmo tempo
durante a brincadeira, tornando-se um exercício polifônico.
O professor Ernani Maletta (UFMG) em sua tese “A Formação do Ator
para uma Atuação Polifônica”, defende que o Teatro é uma arte polifônica. O
conceito de polifonia significa combinação de muitas vozes. Quando Maletta diz
que o teatro é polifônico ele está querendo dizer que “pressupõe uma
multiplicidade de elementos correspondente às diversas linguagens artísticas”
(2005, p. 28). Ele acredita que a atuação do ator/atriz deve ser uma atuação
igualmente polifônica, que consiga realizar diferentes tarefas ao mesmo tempo.
Para isso, ele argumenta que a formação do ator/atriz deveria ser polifônica. A
formação deveria envolver as diversas linguagens artísticas que compõem o
teatro: música, canto, dança, circo, artes visuais.
Em sua metodologia de ensino Maletta desenvolveu o que ele chamou de
“exercícios polifônicos”, inspirando-se no método de Educação Musical do suíço
Émile Jacques-Dalcroze. Tais exercícios consistem em realizar, ao mesmo
tempo, tarefas como: cantar, bater palmas, dançar e jogar com o outro. Maletta
afirma que “o exercício da polifonia, em suas múltiplas dimensões, possibilita a
formação polifônica do ator. É a polifonia que ensina ela própria” (2005, p.32).
Percebi então, que o coco de roda é um excelente exercício polifônico. A
brincadeira exige concentração total uma vez que as músicas são cantadas ao
mesmo tempo em que se bate palmas marcando o ritmo (ou se toca um
instrumento) e se dança. Esse tipo de exercício desenvolve no ator/atriz a
capacidade de escuta e a habilidade de executar várias ações ao mesmo tempo,
assim como relata Maletta.
Durante as aulas de Canto para o Ator II ministrada pela Profª Mayra
Montenegro conseguimos entender a polifonia através de exercícios que exigiam
concentração, disponibilidade corporal, escuta coletiva e presença cênica.
Há docentes que investigam e ensinam danças populares nas
universidades. Dentro do Departamento de Artes da UFRN, temos a professora
Ana Caldas Lewinsohn9 que também trabalha com danças populares como parte
de seus treinamentos. Uma das disciplinas é Teatro de Rua. Mesmo não tendo
9 Atriz; dançarina; musicista. Diretora, professora e pesquisadora. Professora Adjunta do Curso
de Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN.
15
cursado essa disciplina com ela, assisti a apresentação final de uma de suas
turmas.
Outra docente que trabalha com as danças populares como treinamento
e já foi professora substituta na UFRN, é Carla Martins10. Em sua tese “Cravo do
canavial: ‘Entre’ o maracatu rural e a mímese corpórea - A construção de uma
dramaturgia cênica” a docente traz um argumento de FERRACINI ao refletir
sobre o momento do ‘esquentamento’11 no universo dos brincantes populares:
O brincador faz uso poético do próprio cotidiano, do próprio corpo que ele tem, no espaço tempo da brincadeira. O brincante já tem um corpo preparado pelo trabalho. Utiliza o próprio trabalho como intensificador de si. A ideia seria não pensar no cotidiano do brincador ou da brincadeira como algo separado, mas dois universos que se sobrepõem. Criam dessa forma, um universo bem mais interessante, poético, complementar. 12 (FERRACINI apud MARTINS, 2013, p. 46).
Ainda em sua dissertação Martins relaciona exercícios do treinamento
energético13 com os princípios considerados no estudo do LUME14 como
fundamentais para preparação de um artista cênico. Alguns destes princípios
podem ser encontrados mais à frente.
Falei de minhas experiências com o coco de roda na Licenciatura em
Teatro da UFRN, mas tomei conhecimento de que as danças também estão
presentes na Licenciatura em Dança da mesma instituição, bem como em outras
universidades pelo país. Da mesma forma, também encontrei grupos teatrais que
fazem uso das danças populares como parte de seus treinamentos. Uma delas
é a Cia. Mundu Rodá (SP):
(...) fundada em 2000 pelos artistas Juliana Pardo e Alício Amaral, vem construindo uma linguagem cênica própria a partir
10 Atriz, dançarina popular e preparadora corporal. 11 Ainda no capítulo I de sua dissertação, Carla Martins utilizando o termo da brincadeira, chama
o treinamento de esquentamento. Esse esquentamento associaria alguns elementos do treinamento energético e técnico sistematizado pelo LUME a elementos referentes às manifestações populares. 12 Entrevista em vídeo, concedida por Renato Ferracini a mestranda Carla Martins, durante sua
participação na IV Reunião Científica do GT Territórios e Fronteiras da Cena: Treinamentos e modos de existência, em março de 2012, no Departamento de Artes da UFRN. 13 No treinamento energético, o ator busca a obtenção da energia corporal e a canalização dessa energia em trabalho artístico. A energia física provém da atividade física e é revertida em expressão artística mais tarde. Disponível em < https://gruttateatro.com/2013/02/13/treinamento-energetico/> Acessado dia 17 de Dezembro de 2018. 14 Lume: Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp, é um coletivo de sete atores e atrizes que se tornou referência nacional e internacional para artistas e pesquisadores no redimensionamento técnico e ético do ofício de ator/atriz (http://www.lumeteatro.com.br/ - acesso em 07 de novembro de 2018).
16
da observação, do contato e do diálogo com as Danças Tradicionais Brasileiras e o Trabalho do Ator/Músico/Bailarino. A riqueza oferecida por estas manifestações tradicionais reside na combinação estrutural do teatro, da dança e da música em suas formas expressivas. (Disponível em <https://www.munduroda.com/> acessado dia 17 de Outubro de 2018.
Cada dança traz elementos característicos de sua história, que podem ser
explorados aos poucos até chegar em sua completude. Com relação ao coco de
roda, Rosane Almeida15 relata que:
Ao se tornar conhecido fora das senzalas, o Coco passou a ser dançado em comunidades rurais, durante a construção de casas de pau-a-pique, processo para o qual era necessário contar com o trabalho de um grande número de pessoas. Assim, o dono convocava seus vizinhos, parentes e amigos a participarem da construção, cuja etapa final era o nivelamento do assoalho de barro da casa. A finalização da obra era, portanto, a dança de sapateado que amassava o chão da casa (p. 6 e 7).
A partir deste relato resolvi utilizar o coco como treinamento e explorá-lo
aos poucos. Lendo esse texto de Almeida, pensei que uma forma de iniciar o
contato com a manifestação seria experimentar sapatear como se estivesse
nivelando o chão. Utilizei a história para definir os primeiros passos da prática.
Segundo Renato Ferracini no livro “A Arte de Não Interpretar Como
Poesia Corpórea do Ator” (2003, p. 136), o ator/atriz deve aquecer seu corpo
antes de iniciar o trabalho. Mas não deve aquecer “somente a musculatura, mas
também buscar um aquecimento de suas energias e organicidades que devem
estar prontas para entrar em trabalho.” A partir de seu trabalho com o LUME o
autor relata que o aquecimento deve acontecer no seu universo interior e no
corpo todo, começando pelo chão e sendo concluído em pé.
Durante os componentes de Expressão Corporal I e Jogo em Cena I,
ministradas, respectivamente, pela Professora Carla Martins e pelo Professor
Robson Haderchpek16 no primeiro semestre do curso, pudemos vivenciar alguns
dos princípios de trabalho do Lume. As aulas começavam às 7h da manhã e
15 Retirado da apostila do curso A Arte do Brincante para Educadores, 2002. 16 Ator, diretor, professor e pesquisador formado e pós-graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Bacharel em Artes Cênicas, começou a estudar teatro em 1994 no Núcleo de Artes Cênicas do SESI de Rio Claro/SP. Fez Mestrado e Doutorado na área de Artes/Teatro e atualmente desenvolve uma pesquisa acerca dos princípios ritualísticos da cena. Recentemente concluiu o Pós-Doutorado na Universität für Musik und Darstellende Kunst Wien, Áustria (2015). É professor do Curso de Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, atua também no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e coordena Projetos de Extensão e Pesquisa na UFRN.
17
sempre com um treinamento energético. Na maioria das aulas começávamos
com um espreguiçar no chão, passando pelo nível médio até chegar no nível
alto. Os corpos não poderiam parar de se movimentar, e nenhuma parte do corpo
poderia estar adormecida. A medida em que o ritmo ia sendo acelerado, a
energia interna ia sendo despertada. A medida em que ia superando o cansaço
físico, sentia que uma nova energia era construída. A partir daí estávamos
preparados e abertos para o trabalho de criação que seria desenvolvido em
seguida.
O energético, em poucas palavras, é um treinamento físico “intenso e
ininterrupto, e extremamente dinâmico, que visa trabalhar com energias
potenciais do ator” (BURNIER apud FERRACINI, 2003, p. 138). Energia é um
conceito de difícil definição, em especial no Ocidente, no meio científico ou
mesmo artístico. Dentre diversas definições que Ferracini traz, selecionei a
seguinte: “energia é como um fluxo, um caminhar específico que encontra
resistências e as vai vencendo; ou então como radiação, ou seja, vibração, algo
que se propaga pelo espaço” (BARBA apud FERRACINI, 2003, p. 107).
Durante a minha graduação, um dos primeiros princípios aprendidos foi o
da base, uma postura especial dos pés, joelhos e quadril que nos dá liberdade e
suporte em qualquer movimentação a ser feita e que seria o centro de energia
do corpo. No Japão, a palavra koshi significa, literalmente, bacia. É utilizada
também para falar de energia. No LUME, o koshi pode ser identificado como:
Um ponto, localizado pouco abaixo do umbigo, no abdome, na região central e interna da bacia, que tinha uma espécie de mão que o agarra e empurra constantemente para baixo. Esse ponto é o centro orgânico do corpo (...). Desse ponto, devem nascer e partir todos os impulsos e ações que vão se refletir na coluna vertebral. (...) O termo Koshi, em japonês, também significa a presença do ator (BURNIER apud FERRACINI, 2003, p. 161 e 162).
Conceitos como energia, base e koshi foram bastante vivenciados em
minha trajetória dentro do curso. Ao conhecer o coco de roda, pude perceber
que, de certa forma, ele me proporciona um despertar de energia semelhante ao
do treinamento energético. Também pude constatar que precisava ativar a
base/koshi para dançar o coco, visto que a movimentação precisa ser feita com
os joelhos semiflexionados, batendo os pés firmes no chão, e com toda a energia
partindo da musculatura do quadril. Desde então, pude utilizar o coco como
18
aquecimento/treinamento, favorecendo a vivência e o aprendizado dos princípios
de energia, base e koshi.
O coco também traz a brincadeira em roda, o jogo. No livro “Homo
Ludens” de Johan Huizinga (2007, p.3), o autor afirma que “o jogo é fato mais
antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas,
pressupõe sempre a sociedade humana.” Durante a brincadeira do coco o jogo
surge de diversas formas, seja através da dança dentro da roda, seja através do
jogo de palavras entre puxador e coro ou até mesmo através do improviso que
acontece tanto na execução dos passos, quanto nas músicas cantadas.
Huizinga traz a noção de jogo nos seguintes termos:
O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão, e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”. (2007, p.33)
Durante a roda é possível através do jogo explorar os estados de tensão
e de alegria como é colocado pelo autor e os níveis alto, médio e baixo na ordem
em que o brincante desejar, bem como trabalhar o improviso tanto nas canções
quanto na forma de dançar. Os brincantes jogam entre si com os passos da
dança, também como pergunta e resposta, assim como na canção. Dentro do
jogo e a partir dele também é possível identificar e trabalhar a organicidade
corporal das diferentes formas que cada brincante traz.
No livro “Léxico de Pedagogia do Teatro” os autores trazem o conceito de
brincante sendo:
O participante de espetáculos populares que na antropologia teatral possui qualidades cênicas próximas às do ator performático. Esses espetáculos também são denominados por seus integrantes de brincadeira ou “brinquedo”. Etimologicamente, brincante é aquele que brinca. Por isso, mais do que brincar ou representar, o brincante literalmente brinca, no sentido de divertir-se livremente, ele e seu público, ambos fazendo parte da brincadeira. (KOUDELA e SIMÕES, 2015, p.25)
E o conceito de brincadeira:
A brincadeira insere-se também no universo da cultura popular e do folclore. Nesse âmbito, ela não se aplica apenas às esferas da infância e da educação, mas também ao da interpretação teatral, mais especificamente à arte do brincante dos
19
espetáculos populares (...) ou das danças dramáticas (...), em que esses espetáculos são reconhecidos pelos seus integrantes como brincadeira ou brinquedo. (KOUDELA e SIMÕES, 2015, p.24)
Na dissertação “O ator brincante; no contexto do teatro de rua e do cavalo
marinho”, a profa. Ana Lewinsohn expressa que:
O ator brincante, presente no teatro e na brincadeira, é aquele que se permite viver esse estado, aquele que trabalha seriamente para alcançá-lo, sem deixar de abrir em si, espaços vazios para o brincar, para o deixar-se ser e se relacionar, verdadeiramente e plenamente com o outro (2009, p.124).
Durante a roda é visível a brincadeira entre os participantes, desde a troca
de olhares que é fundamental na manifestação até os passos como desafios. Os
brincantes se olham o tempo todo e se divertem enquanto executam os passos.
A partir das músicas também é notável o jogo acontecendo. Seja nas perguntas
e respostas, seja nas ações a partir das músicas cantadas.
O coco contribuiu para o meu crescimento, conhecimento e
desenvolvimento como professora e artista. Durante as aulas na graduação, nos
momentos em que dançávamos, pude apreender esses princípios na roda.
Dançando com o koshi ativado; com a base formada; com a energia despertada;
presente no jogo; ampliando minhas capacidades físicas e vocais, de
coordenação motora, de escuta de mim mesma e do outro; olhando e jogando
com meus colegas de turma, pude compreender também o teatro. De maneira
semelhante, levei todos esses princípios para a sala de aula.
Primeiros contatos e investigação
O coco de roda não foi algo presente em minha formação. Comecei a
fazer teatro aos 16 anos no 3º ano do ensino médio técnico, e dentre todas as
experiências vividas, o coco de roda não esteve presente em nenhuma delas.
Estudei o ensino médio técnico no CENEP17 e lá tive a oportunidade através do
docente Cláudio Almeida Cavalcanti de me aproximar e compreender a
importância da Arte.
17 CENEP: Centro Estadual de Educação Profissional Senador Jessé Pinto Freire. Localizada na Rua Trairi em Petrópolis.
20
A partir do grupo de teatro da escola, conheci o Departamento de Artes
da UFRN, através de um convite feito para que nossa escola fosse participar de
uma oficina no Deart no ano de 2012. Antes disso, eu tinha total certeza,
diferente dos meus colegas de turma, que não queria estudar na Universidade
Federal até o momento em que conheci o Departamento de Artes e mudei
totalmente minha opinião. Encontrei-me e encontrei o espaço em que queria
estudar.
Meu primeiro contato com o coco de roda foi na universidade, no
Departamento de Artes durante a semana de integração quando puxaram uma
roda e imediatamente me senti atraída por todos seus elementos, desde as
músicas até o gingado dos corpos dançantes. A partir daí, não consegui ignorar
minha apetência para tal. Sempre que me deparei com uma roda, entrei, dancei,
cantei e propaguei. E para a minha surpresa e satisfação, o coco foi trabalhado
em algumas disciplinas:
Em Jogo e Cena I, disciplina ministrada no primeiro semestre do curso
pelo prof. Robson Haderchpek, o coco fazia parte do treinamento teatral. A dança
proporcionava aos alunos e alunas o aquecimento dos corpos e das vozes, nos
ensinava a acionar a musculatura do centro do corpo - algo que nos é exigido
em diversas técnicas de treinamento teatral - além do jogo entre as pessoas, que
é parte da essência do coco.
Na disciplina Teatro e Cultura Brasileira, que cursei no último semestre do
curso e que foi ministrada pelo prof. André Carrico, o coco foi apresentado como
uma das danças dramáticas. A partir desses primeiros contatos o coco passou a
fazer parte das minhas pesquisas e descobertas como discente e futura docente
de Teatro.
A partir dessas experiências, comecei a investigar mais sobre o coco, sua
origem, seus elementos, seu ritmo, suas letras. Além disso, passei a incluir o
coco nas oficinas, nas aulas que ministrei através do PIBID18 e nas intervenções
dos estágios realizados durante o curso.
18 O PIBID: Programa institucional de bolsas de iniciação à docência é uma ação da Política
Nacional de Formação de Professores do Ministério da Educação (MEC) e tem como um dos objetivos incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica.
21
O coco na escola
O Brasil tem um repertório rico em ritmos, danças e brincadeiras com
potencialidade educativa e histórica, seja popular, tradicionais ou folclóricas.
Esse repertório cultural tem um poder transformador na educação. No livro
“Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar”,
Jean-Claude Forquin afirma que “a cultura é o conteúdo substancial da educação
(...), a educação não é nada fora da cultura e sem ela. Mas, reciprocamente, dir-
se-á que é pela e na educação (...) que a cultura se transmite e se perpetua”
(1993, p.14).
O coco de roda é uma manifestação que resiste sendo passado de
geração a geração. Cada geração se apropria de uma forma diferente da mesma
manifestação, expressando a partir dela, as necessidades e descobertas do seu
tempo. No Artigo “Aprendizagem Escolar e a Formação de conceitos” (1994, p.4)
Ana Torres afirma que “O indivíduo se desenvolve através da cultura nas inter-
relações sociais. Sendo assim a aprendizagem passa primeiro pelo social para
depois tornar-se individual”.
Dessa forma, compreendo que através das práticas com coco de roda na
escola, os alunos e alunas podem construir tanto uma relação com suas raízes,
sua história, como encontrar um meio de expressão das necessidades de seu
tempo.
Muitas vezes o ensino das Artes na escola é visto apenas como atividade
de lazer, como ressalta Isabel Marques e Fábio Brasil no livro “Arte em Questões”
(2014, p.28): “A arte ainda é vista pela maioria da população e, infelizmente, por
muitos responsáveis pela gestão das instituições de ensino como perfumaria,
atividade complementar, ‘relax’ entre as disciplinas mais pesadas”. Na verdade,
a Arte pode quebrar barreiras e transcender todos os muros do preconceito, da
intolerância, da desigualdade e pluralidade dos indivíduos. Por isso a
valorização, difusão e permanência do coco de roda nas escolas (em especial
nas escolas nordestinas) é de grande importância, estando em consonância com
a Lei de Diretrizes e Bases L9.394 de 20 de dezembro de 1996:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
22
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
Esta manifestação cultural é um potente conteúdo para ser trabalhado
dentro de sala de aula, nas áreas citadas pela LDB 9394/96 “§ 2º [...]: educação
artística e de literatura e história brasileiras” seja com crianças, jovens ou
adultos. Sua história, dança, músicas, vestimentas, mestres e instrumentos
podem e devem ser prática constante, como também objeto de pesquisa,
garantindo visibilidade, valorização e permanência.
Nas escolas é comum encontrar nas salas de aula as cadeiras dispostas
de forma tradicional (fileiras individuais) que dificulta o desenvolvimento de
atividades práticas, no caso da área de Artes. Para dar continuidade a essas
atividades é necessário buscar outras possibilidades de espaço dentro da própria
escola para que as práticas sejam realizadas. Como mostra os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN): “Dada a pouca infra-estrutura de muitas escolas,
é preciso contar com a improvisação de espaços para o desenvolvimento de
atividades específicas de laboratório, teatro, artes plásticas, música, esportes,
etc.” (1997, pág. 67).
Como o coco de roda é uma dança circular e os alunos precisam estar
dispostos em roda, a sala teria que ganhar uma nova disposição, mesmo que
para ser usada somente naquela aula. Uma outra possibilidade seria utilizar
espaços alternativos como pátio, quadra ou uma sala de esportes, caso a escola
tenha. Seria uma forma de ressignificar o espaço e não deixar de trabalhar este
conteúdo utilizando todas as potencialidades do coco de roda nas escolas.
23
Experiências Pedagógicas
O PIBID foi um projeto importante para mim, pois ajudou na minha
formação como docente para a educação básica e abriu espaços de vivenciar,
pesquisar, descobrir e trocar com todos na escola: coordenador, supervisor,
outros bolsistas e, principalmente, com os alunos das escolas que receberam o
programa.
Durante o ano de 2017, atuei na Escola Estadual Lauro de Castro com
alunos de 6º e 8º ano com a Supervisão de Tatiane Tenório e a coordenação de
Laura Figueiredo e Sávio Araújo. Antes de cada aula formávamos uma roda para
termos uma conversa inicial e em seguida começar nossos alongamentos e
aquecimentos. Um dos aquecimentos utilizados com os alunos do 8º ano do
Ensino Fundamental II foi o coco de roda. As aulas práticas aconteciam em uma
sala chamada “sala de vídeo” onde foi possível realizar todas as atividades
teatrais independente da disposição que ela necessitasse. Principalmente pelo
fato da sala não ter cadeiras enfileiradas.
Os alunos não conheciam a manifestação e não tinham tido nenhum
contato com ela. Decidimos levar uma música e antes de começar a aprender os
passos, propagamos o ritmo com as palmas das mãos, com os pés, para em
seguida mergulhar no universo do coco dispostos em roda. O contato dos alunos
com o coco mesmo que breve foi muito importante para que eles conhecessem
essa rica manifestação. A partir daí eles poderiam, caso houvesse interesse,
transformar essas “sementes” plantadas em “árvore”. Levamos informações e a
vivência com o coco de roda, e nos colocamos à disposição caso quisessem
conhecer mais.
Percebi que o conhecimento que vem a partir de uma prática corporal e
vocal coletiva é potente, promove consciência corporal e vocal individual, além
da integração entre o grupo. Ao vivenciar o coco em sala de aula, junto com o
ensino do teatro, começo a refletir acerca do que disse Paulo Freire, no livro
“Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa”: “(...)
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua criação” (2018, pág. 47).
Em uma prática educativa, o conhecimento não está sendo transferido e
sim compartilhado. Acontece uma troca de conhecimentos e, a partir das
24
possibilidades, cada aluno e aluna decide o que quer ou não conhecer mais a
fundo.
(Figura 1 - Roda com os alunos e alunas da E. E. Lauro de Castro (PIBID) - Foto do arquivo
pessoal)
A partir dessa experiência, decidi organizar ainda melhor essa criação de
possibilidades para a construção do conhecimento. Pude colocar em prática na
primeira oficina que ministrei e levei o coco de roda. Ela aconteceu na cidade de
São Miguel do Gostoso através do projeto “O auto de São Miguel Arcanjo”. O
projeto é coordenado pela Paróquia de São Miguel Arcanjo e o Coletivo de
Direitos Humanos, Cultura e Cidadania (CDHCC) e promovido pelo
Entretenimento Cultural Café com Leite. Depois levei o coco também para a
Cidade de Pureza através do Programa Trilhas Potiguares (Programa de
Extensão da UFRN).
Na primeira oficina, os participantes19 nunca tinham escutado, dançado,
nem mesmo cantado coco. Mesmo assim, não mostraram resistência nenhuma
e literalmente se jogaram no coco e em suas descobertas. Na segunda
experiência, os participantes já conheciam e dominavam o coco de roda na
prática. Através da teoria puderam somar à prática o conhecimento sobre tal
manifestação cultural.
A primeira experiência foi dividida em três módulos, no qual trabalhei
apenas em um deles, sendo o primeiro sobre noções de alongamento,
aquecimento, preparação vocal, texto, técnicas de memorização, e improviso.
Escolhi trabalhar o coco de roda, utilizando a contextualização sobre o tema para
19 Os participantes das oficinas tinham a faixa etária aproximada entre 10 e 65 anos.
25
o primeiro contato. Assistimos um documentário que falava sobre o coco,
debatemos sobre a história, os passos e toda a manifestação e em seguida
partimos para prática. Começamos com a marcação do ritmo com a batida dos
pés no chão, em seguida com as palmas para depois unir o canto, os pés e as
mãos.
Na segunda experiência, a cidade solicitou que a universidade a partir do
programa levasse para a população o coco de roda. Fui para a cidade sem
conhecer os jovens e sem saber o que de fato eles queriam trabalhar. Essa
experiência foi em conjunto com Thâmara Cunha (colega de turma da
Licenciatura em Teatro). Quando cheguei lá, constatei que alguns deles já
tinham tido um primeiro contato com o coco através de uma experiência anterior
com o Trilhas Potiguares a partir da mediação de Sebastião Silva (ex aluno do
curso).
Durante nossos primeiros contatos com os jovens inscritos nas oficinas
nos deparamos com o duelo entre eles e os gestores de cultura da cidade. Existia
um discurso de que os gestores queriam que eles dançassem somente o que
eles queriam patrocinar. E os jovens queriam outras danças. Por causa disso,
estavam feridos em relação ao coco de roda, pois era uma das solicitações dos
gestores para eles.
Resolvemos conversar sobre o que eles tinham vivenciado e em seguida
contextualizar o coco através também de um documentário que falava sua
história, debatemos e chegamos a um consenso. Nos encontros seguintes com
esses jovens, recebemos eles mais abertos a conhecer outros passos, músicas
e histórias da mesma manifestação e em paralelo eles tiveram espaço para
dançar e nos ensinar as danças que eles gostavam que era o fitdance.
O fitdance é uma modalidade de dança que mistura coreografias com
exercícios físicos, utilizando músicas que estão fazendo sucesso no momento.
Por estar presente nas mídias digitais conhecidas e estar sempre atualizando as
músicas utilizadas, consegue alcançar um público grande e variado. Tem se
tornado um meio de diversão e até mesmo de divulgação para quem reproduz
as coreografias criadas. Os jovens se sentem, portanto, atraídos a formarem
grupos, se espelhando no fitdance e em todo o seu alcance.
26
O Portal Educação no artigo “Cultura de massa, cultura popular e cultura
erudita”20 traz o conceito de cultura de massa sendo “(...) aquela considerada,
por uma maioria, sem valor cultural real. Ela é veiculada nos meios de
comunicação de massa e é apreciada por ela.” Talvez por este motivo a gestão
da cidade não aceitava que os alunos e alunas reproduzissem essas
coreografias nas apresentações dos eventos festivos da cidade. Porém, essa
atitude dos gestores magoou os jovens e fez com que eles também não
aceitassem apresentar o que era proposto pelos gestores.
A partir deste entendimento foi possível dialogar com os alunos e alunas
e mostrar a importância da troca entre nós, que estávamos levando a oficina, e
eles. Durante as intervenções abrimos espaço para que eles compartilhassem
conosco o que gostavam de dançar. Isso fez com que eles entendessem que
uma manifestação não exclui a outra e que ambas podem ter espaço na vida de
um mesmo indivíduo.
Essa experiência foi muito importante, pois a partir de um debate sobre o
que era bom ou não para os jovens, pude perceber e entender a importância de
usar o que os alunos e alunas trazem de conhecimento, e a partir daí oferecer a
eles um novo repertório, a fim de ampliar seu repertório e sua visão de mundo.
Sem precisar definir um como sendo bom e outro como sendo ruim.
Nas duas oficinas, em São Miguel do Gostoso e em Pureza, realizamos
apresentações compartilhando um pouco do que foi vivenciado durante todos os
dias das oficinas21, sendo o coco escolhido nas duas vezes para ser mostrado e
propagado. Na primeira experiência apresentamos apenas para convidados que,
em sua maioria, eram familiares dos participantes, organizadores e
colaboradores do projeto. Na segunda experiência, a apresentação foi aberta
para toda a cidade. Na primeira experiência a música foi cantada e na segunda
teve o auxílio do som.
20 Disponível em <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/conteudo/cultura/48831> acessado dia 23 de Novembro de 2018. 21 Em São Miguel do Gostoso as oficinas aconteceram aos sábados e domingo, pela manhã e tarde com 2h cada turno totalizando 56h. Em Pureza as oficinas aconteceram durante 6 dias, nos turnos matutino e vespertino com 2h de duração cada turno, totalizando 24h.
27
(Figura 2 - Exp. 1 São Miguel do Gostoso (Figura 3 - Exp. 2 Pureza - Trilhas
- Foto Ariclenes Silva) Potiguares - Foto Joselita Sally)
Segue trecho da música “Areia”, de Selma do coco, escolhida para ambas
apresentações.
Lá no mar tem areia (areia) Areia no mar (areia) Que Areia boa (areia) Pra gente peneirar Quando eu pensava que era um (era um babado só) Quando eu pensava que era dois (era um babado só) Quando eu pensava que era três (era um babado só) Quando eu pensava que era quatro (era um babado só) (...)
O Estágio Supervisionado de Formação de Professores IV é uma das
disciplinas da grade curricular do curso Licenciatura em Teatro da UFRN.
Durante o estágio IV, sob orientação do docente Jefferson Alves e da supervisora
Suély Sousa (professora do IFRN), tivemos22 o contato com uma turma de 33
alunos do 1º ano do ensino médio técnico, com idades entre 14 e 16 anos.
Durante as intervenções escolhemos trabalhar com o Teatro do Oprimido
de Augusto Boal23, que é um teatro de resistência, e com o coco de roda, que
22 Trabalho desenvolvido em conjunto com Thâmara Cunha (discente do curso de Teatro da UFRN) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio grande do Norte. 23 Augusto Boal (1931-2009) foi um dos dramaturgos que mais contribuiu para a criação de um
teatro genuinamente brasileiro e latino americano. Criou a técnica Teatro do Oprimido que o deixou mundialmente conhecido. Disponível em <http://augustoboal.com.br/vida-e-obra/> Acessado dia 01 de Novembro de 2018.
28
também podemos considerar uma manifestação de resistência. Para
desenvolver este trabalho, optamos por passar um questionário diagnóstico para
os alunos para entendermos o quanto eles conheciam sobre o coco de roda24.
Para minha surpresa, de 30 alunos, apenas 07 já tinham ouvido falar sobre o
coco de roda. Para introduzir o coco pedi que os alunos se dispusessem em roda
e perguntei quem já tinha dançado e poucos alunos levantaram as mãos.
Perguntamos se conheciam algum mestre de coco. E apenas um relatou que
conhecia o coco de roda do mestre Severino de Nísia Floresta.
A partir daí vimos que era necessário introduzir o coco de roda não
apenas dançando e cantando, mas falando um pouco sobre sua história e
importância em nosso estado. Uma das alunas estava dançando o coco de roda
em aulas de balé e durante a roda inicial, foi para o meio da roda para mostrar o
que já tinha aprendido aos colegas. Logo depois, fui apresentando a história do
coco e fazendo questionamentos sobre o que estava sendo dito.
Dentre as informações compartilhadas falei do relato de Rosane Almeida,
de como o ruído do coco quebrando nas pedras foi substituído pelas palmas das
mãos encovadas. A partir daí, experimentamos como seriam essas palmas.
Relatei também sobre quando o coco começou a ser usado em comunidades
rurais durante as construções das casas para nivelar o chão (falarei melhor sobre
isso mais à frente). Experimentamos também sapatear como se estivéssemos
nivelando o chão. Em seguida aprendemos a letra da música “Areia” de Selma
do Coco, fazendo com que metade dos alunos experimentassem ser os
puxadores, enquanto a outra metade respondia o que estava sendo puxado.
Quando os alunos e alunas demonstraram estar preparados para unir o
canto, os pés e as mãos, fizemos isso. No final da aula, perguntei como tinha
sido para eles o primeiro contato com o coco de roda, eles começaram a falar
das dificuldades de realizar várias tarefas ao mesmo tempo: bater palmas,
cantar, dançar e jogar com os outros. Perceberam que o coco trabalha a
coordenação motora e também a importância do coletivo. Perguntaram quando
faríamos novamente, pois estavam interessados em aprender mais.
No encontro seguinte, conversamos sobre o que eles já tinham aprendido
e como tinha sido a experiência do primeiro contato com o coco para eles.
Pedimos que se dividissem em duplas para aprender outros passos e depois em
24 Questionário disponível no anexo.
29
roda dançarmos todos juntos. Os alunos e alunas se mostraram muito
interessados em aprender tudo que estava sendo passado e em colocar em
prática nos momentos em que nos dispusemos em roda.
Ao final das intervenções, pedimos que escrevessem um relato de como
tinha sido a experiência com o coco de roda25. Uma das alunas escreveu:
As atividades passadas por Irielly e Thâmara foram ótimas, pois além de passar conhecimentos da matéria, estimulavam o interesse da sala, o entrosamento da turma assim como estimula debates sobre assuntos sociais importantes. O coco de roda foi uma prática muito boa pois estimulou a movimentação corporal dos alunos além de proporcionar o conhecimento sobre essa manifestação cultural local, sua história, as mudanças que ocorreram com o tempo e como ocorre a dança nos dias atuais.
(Letícia, 15 anos).
Esse relato e tantos outros me deixaram muito satisfeita em relação aos
alunos e alunas que participaram das nossas intervenções e não se privaram de
conhecer o coco de roda que é uma manifestação muito importante para nossa
cultura local e que ainda é pouco conhecida e pouco valorizada no nosso estado.
(Figura 4 - Estágio Supervisionado IV - IFRN - Foto de Arquivo Pessoal)
25 Outros relatos disponíveis em ANEXO.
30
Outras Experiências
Além das vivências de ensino, uma outra experiência marcante para mim
foi com o coco de roda praieiro, da praia de Ponta Negra chamado Coco no Pé.
A dança acontece no terceiro domingo de cada mês, aos pés do Morro do
Careca. Organizado pelos moradores da Vila de Ponta Negra, o movimento leva
para uma paisagem natural já espectacular, uma outra espetacularidade.
Ao final da disciplina Análise das Formas Espetaculares, ministrada pelo
Prof. Makários Maia, escrevi um artigo sobre o coco de roda, a partir da
observação participante do coco praieiro, com o título “O Espetacular Coco de
Roda da Praia de Ponta Negra”. Trago abaixo uma citação do artigo:
O grupo que organiza o coco na praia, se encontram com mais frequência na Vila de Ponta Negra e descem uma vez no mês para praia, para que outras pessoas possam participar e para que os banhistas, turistas e até mesmo a comunidade local, entrem no ritmo do tambor truando e deixem seus corpos dançarem. O que determina o local exato é o mar, quando a maré está seca o coco se estende por uma área maior, quando a maré enche é feita uma nova organização de espaço, mas o coco não pára (SILVA, 2018, pág. 02).
O evento é considerado encontro dos artistas, por serem maioria nos
encontros mensais. Nesta experiência, pude observar um dos coquistas tocando
um violino. Mesmo sendo um instrumento conhecido por ser erudito, e distante
das manifestações populares, pôde ser inserido e adaptado. Tive a oportunidade
de ter contato com Sr. Pedrinho, mais conhecido como “Nego, da barraca do
Negro”. Ele já virou referência quando o assunto é o coco da praia de Ponta
Negra, e a música “caninana” já faz parte da sua trajetória:
Caninana
Eu fui na mata. Êh, caninana. Fui tirá meu imbé, Êh, caninana. A marvada da cobra êh, caninana. Ai, mordeu-me no pé. Êh, caninana. Ô cobra danada. Êh, caninana. Ô cobra venenosa. Êh, caninana. (...)
31
Tive também contato com a prática do coco em outros dois momentos a
partir da disciplina Teatro e Cultura Brasileira ministrada pelo professor André
Carrico.26 O primeiro foi através de uma oficina de coco ministrada por Gláucio
Teixeira27 que trouxe seus conhecimentos para toda a turma. E a segunda foi no
encerramento do X Congresso da Abrace28 (Abrace 20 anos celebrando a
diversidade) que aconteceu no dia 21 de outubro de 2018 – período de escrita
deste TCC - na Vila de Ponta Negra.
O encerramento contou com uma mesa mediada por André Carrico
(professor da disciplina) e teve como convidados mestres da cultura popular.
Eles e elas contaram um pouco de suas histórias, lutas, vitórias e conhecimentos
de seus folguedos. Deram uma aula sobre a importância de manter a brincadeira
viva, pulsante, despertando amor e paixão pela brincadeira e consequentemente
pela nossa cultura. Além disso, ressaltaram a importância de todos estarem
unidos em um mesmo lugar pela diversidade de culturas, pessoas, independente
de crença, cor da pele, classe social, religião e orientação sexual. Em seguida,
saímos em cortejo pelas ruas da vila de Ponta Negra finalizando com
apresentações dos diversos grupos de cultura popular da vida.
26 Professor de Teatro, ator e diretor. Pós-Doutorado (2014-2015) em Artes da Cena pela Universidade Estadual de Campinas, com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo: "Mamulengos na contemporaneidade: tradição X reinvenção". Doutor (2013) e mestre (2004) em Artes (Teatro) pela Unicamp e graduado (1996) em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em história do teatro, dramaturgia, teatro brasileiro e teatro e educação. 27 Aluno de graduação do Curso de Licenciatura em Teatro da UFRN. 28 X Congresso da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas - ABRACE (20 anos celebrando a Diversidade) aconteceu de 15 a 20 de outubro de 2018.
32
Considerações Finais
O coco de roda é de suma importância cultural, social e história. Sendo
eficaz enquanto ferramenta pedagógica seja para alunos de ensino básico ou
mesmo enquanto treinamento teatral para professores em formação.
Uma forma de utilizar o coco como ferramenta pedagógica para alunos de
ensino básico é utilizar os nossos mestres, instrumentos, figurinos e músicas que
podem ser pesquisadas e exploradas para melhor entendimento da
manifestação. Além de adentrar na nossa cultura conhecendo a história, o
surgimento, os mestres, as histórias contadas nas canções e entendendo sua
importância.
O coco enquanto treinamento teatral nos traz o campo da Polifonia,
abordado por Maletta, onde é possível trabalhar a escuta e a coordenação
motora através do exercício polifônico. Ainda, trabalhar o jogo dentro da
manifestação, entendendo os princípios de energia, koshi, e base colocados por
Ferracini. Na disponibilidade corporal dos brincantes para a realização da
manifestação, temos um meio de ganhar resistência física e expressividade
corpóreo-vocal, que a dança necessita e estimula.
A partir do mergulho na cultura popular pude reconhecer o quanto esse
processo foi importante durante minha graduação e no que eu o transformei. A
partir de uma roda de coco no primeiro semestre do curso tive a oportunidade de
descobrir mais sobre a cultura popular e seu vasto leque de possibilidades e
aprendizados. Levei esse conhecimento para dentro das minhas práticas como
docente em formação. Tive a oportunidade de conhecer mestres e brincantes
que falam e mostram a importância de manter a brincadeira viva e pulsante não
somente uma história a ser lembrada, mas, brincando e ensinando a brincar.
É de grande importância que a cultura popular seja vista com outros olhos
pelos gestores das escolas, para que receba a valorização que merece. Que
alunos e alunas possam aprender e propagar, fazendo com que nossa cultura
local continue sendo valorizada de geração a geração.
33
Referências
ALMEIDA, Rosane. Sobre Algumas Danças Brasileiras. Instituto brincante. Disponível em <http://www.institutobrincante.org.br/> Acessado dia 06 de Outubro de 2018. ALMEIDA, Rosane. A Arte do Brincante para Educadores, 2002. ANDRADE, Mário. Danças dramáticas do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia/INL, Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Artes Coordenação de Graduação em Artes Cênicas, 3 vol. 1983. BARBA, E. e SAVARESE, N. A arte secreta do ator. Trad. Luís Otávio Burnier. Campinas: Editora da UNICAMP, 1995. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 126p. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996. DANIELA, Diana. Toda Matéria. Disponível em <https://www.todamateria.com.br/o-que-e-cultura/> Acessado dia 05 de Novembro de 2018. FERRACINI, RENATO. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator. 2ª ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2003. FORQUIN, Jean-Claude. ESCOLA E CULTURA: As Bases Sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Trad. Guacira Lopes Louro. PORTO ALEGRE, ARTES MÉDICAS, 1993, 208 P. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 56ª ed - Rio de Janeiro / São Paulo: Paz e Terra, 2018. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. Tradução João Paulo Monteiro. São Paulo: Perspectiva, 2007. KOUDELA, Ingrid Dormien, JUNIOR, José Simões de Almeida. Léxico de pedagogia do teatro. 1. ed. São Paulo: Perspectiva: SP Escola de teatro, 2015. LEWINSOHN, Ana Caldas. O Ator Brincante; No Contexto do Teatro de Rua e do Cavalo Marinho. Campinas, SP: 2009. MALLETA, Ernani de Castro. A formação do Ator para uma atuação polifônica: princípios e práticas. Belo Horizonte. Faculdade de Educação da UFMG, 2005. MARQUES, ISABEL. Arte em Questões. Isabel Marques, Fábio Brazil. - 2ª ed - São Paulo: Cortez, 2014.
34
MARTINS, Carla Pires. Cravo do Canavial: ‘Entre’ o maracatu rural e a mímesis corpórea - A construção de uma dramaturgia cênica. RN: 2013. PIMENTEL, ALTIMAR. O Coco Praieiro: Uma dança de umbigada. 2º edição. Editora universitária/UFPb. João Pessoa, 1978. PRÊMIO CULTURAS POPULARES. <http://culturaspopulares.cultura.gov.br/> -
Acessado dia 21 de Novembro de 2018.
TORRES, Ana. Aprendizagem escolar e construção do pensamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994a.
35
ANEXO
QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO
1- De 0 a 10: Qual a importância da cultura popular?
2- De 0 a 10: Qual a importância da cultura popular nas escolas?
3- Já participou de alguma manifestação popular?
4- Conhece ou já ouvir falar no coco de roda?
5- Já assistiu ou participou de uma apresentação do coco de roda?
6- Saberia citar algum mestre do coco de roda? quem?
QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO - Aluno(a) 1
1- De 0 a 10: Qual a importância da cultura popular? 7
2- De 0 a 10: Qual a importância da cultura popular nas escolas? 8
3- Já participou de alguma manifestação popular? NÃO
4- Conhece ou já ouvir falar no coco de roda? NÃO
5- Já assistiu ou participou de uma apresentação do coco de roda? NÃO
6- Saberia citar algum mestre do coco de roda? quem? NÃO
QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO - Aluno(a) 2
1- De 0 a 10: Qual a importância da cultura popular? 10
2- De 0 a 10: Qual a importância da cultura popular nas escolas? 10
3- Já participou de alguma manifestação popular? SIM
4- Conhece ou já ouvir falar no coco de roda? SIM (Já fiz aula de danças populares)
5- Já assistiu ou participou de uma apresentação do coco de roda? Já assisti e já
participei.
6- Saberia citar algum mestre do coco de roda? quem? Não.
36
RELATO - Aluno(a) 1
“Eu aprendi que é uma dança de roda acompanhada de cantoria, e é apresentada
durante festas populares no nordeste. As mulheres costumam usar saias longas,
com estampa e bem colorida. Aprendi também a fazer os passos do coco de roda
e a cantar a sua música. Gostei muito da experiência.”
RELATO - Aluno(a) 2
“As atividades propostas nas aulas foram surpreendentes e enriquecedoras. Cada
aula era dotada de curiosidades e aprendizados. Para mim, melhores que as
atividades eram as discussões provenientes delas. De fato, foi prazeroso. Até então,
nunca tinha ouvido falar do coco de roda, apesar de pertencer à minha cultura
potiguar. Confesso que, no início, demorei a aprender os passos, mas, depois de
tentar muito, consegui. No final das contas, foi divertido.”
RELATO - Aluno(a) 3
“Achei as atividades propostas muito interessantes, principalmente o coco de roda,
pois é uma dança típica do nosso nordeste. No entanto foram poucas as pessoas
que realmente conheciam. Apesar de precisar de muita coordenação para aprender
até mesmo os passos básicos da dança, gostei muito de saber um pouco sobre a
história da nossa cultura e tentar aprender os passos.”
RELATO - Aluno(a) 4
“Eu achei as atividades propostas muito legais, e que fizeram a turma trabalhar em
união, tanto na questão de pensar em conjunto e conciliar as ideais, tanto na parte
de executar as atividades. Eu aprendi bastante sobre a história da dança com os
meus colegas, eu consegui aprender um pouco sobre os passos que se utiliza pra
executar o coco de roda, mas queria ter tido a oportunidade de aprender um pouco
mais com as estagiárias.”
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(I Mostra de Teatro de São Miguel do Gostoso - Coco de roda. (Registro: Ariclenes Silva -
2017)
(Ensaio na cidade de Pureza/RN - Projeto Trilhas Potiguares. (Foto Arquivo Pessoal - 2017)