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João Beauclair
Coleção Ensinantes do presente.
Volume II
Ensinar é aprender.
2013.
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“Só aprendemos aquelas coisas que nos dão prazer e
é a partir de sua vivência que surgem
a disciplina e a vontade de aprender”
Rubem Alves. 1
1 Citado por: GONÇALVES, Ana Maria e PERPÉTUO, Susan Chiode. Dinâmicas de grupos na formação de liderança. Rio de
Janeiro: DP&A Editora 2001, p. 29.
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Introdução:
Ensinante do presente é uma obra convite.
Convite à reflexão, a ação e a revisão de nossos olhares sobre educação e aprendizagem.
O primeiro volume foi Ensinantes do presente Volume I: Ensinar é Acreditar.
Este é o segundo volume, Ensinantes do presente Volume II: Ensinar é aprender.
Os seguintes serão:
Ensinantes do presente Volume III: Ensinar é compartilhar utopias.
Ensinantes do presente Volume IV: Ensinar numa perspectiva humanística.
Ensinantes do presente Volume V: Ensinar é ter um projeto de vida.
É uma obra para ser lida de modo aberto, e com a expectativa de uma conversa, um diálogo, tal qual, já
faz algum tempo, participo em oficinas, cursos, aulas, palestras e conferências em diversos eventos nacionais e
internacionais sobre Educação e Psicopedagogia.
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O seu formato foi pensado como modo de facilitar este diálogo, e cada espaço “em branco” servirá ao
exercício da escrita de cada possível leitor, numa perspectiva - e expectativa, de fazer valer os processos de
autoria de pensamento tema que dedico especial e carinhosa atenção, ao longo dos últimos anos, como
pesquisador, escritor, aprendente, autor e ensinante em cursos de pós-graduação em Educação e
Psicopedagogia de diferentes instituições educacionais brasileiras.
Esta é uma obra convite, imaginada no corpo e na mente de quem ama o trabalho que faz com
aprendizagem e que busca conjugar, sempre, cada vez mais e melhor, o verbo compartilhar.
O meu desejo é que ela seja de serventia a revisão de olhares, de práticas e condutas para os que atuam
como formadores de pessoas, independente do espaçotempo onde exerçam este ofício.
Para continuar esta tecelagem, disponibilizo-me ao intercâmbio e a alegria de fazer novas amizades com
quem se interessa por tão interessante tema: aprendizagem humana.
Saúde e paz para tod@s!
Prof. João Beauclair
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Arte-educador, Psicopedagogo, Mestre em Educação.
Visitem minha homepage e façam contato!
www.profjoaobeauclair.net
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Sumário:
Prefácio: Prof. Dr. Xosé Manuel Cid Fernández
PARTE I: Ensinar é aprender: aprender é viver.
PARTE II: Ensinagens e aprendências: o que é isso?
PARTE III: Ensinar e aprender: novas possibilidades a partir da amorosidade.
PARTE IV: Ensinar a sentipensar: olhar e escutar a inteireza humana ou, O olhar como tema: a teimosia
insistente e persistente no pensar/refletir sobre o humano ato de olhar.
Enredando idéias
Posfácio: Xavier Prado
Relação de temas
Livros que ensinam o ensinante do presente.
Sugestões de sites.
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Prefácio
Prof. Dr. Xosé Manuel Cid Fernández 2
` Disculpen o meu atrevemento por aceitar a autoría deste prefacio, pois semella que eu pretendo que lean
o meu texto antes de disfrutar do novo libro do amigo Joao, verdadeiro protagonista desta situación.
Isto estábame a incomodar nas últimas semanas, pois non encontraba o tempo para ler este inmenso
traballo de profundización en problemas pedagóxicos que son centrais no actual debate educativo. A miña filla,
nunha intervención de adolescente “irreverente” aportoume algo de tranquilidade, cando me dixo: “Pai, non sei
por que estás tan preocupado con ese prefacio, pois esa parte dos libros ninguén a lee”.
Unha opinión tan sabia, de alguén que te quere, aporta un certo alivio, sitúa o problema no seu verdadeiro
lugar, pois confirma que o realmente importante é o que ven despois, mentres que o meu texto só serve para
2 Xosé Manuel Cid Fernández é Profesor de Pedagoxía Social e Decano da Facultade de Ciencias da Educación da Universidade
de Vigo, no Campus de Ourense. Membro do Grupo de Educadores pela Paz, de Nova Escola Galega.
Socio Honorífico do Colexio de Educadores Sociais da Galiza.
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convidar a vostedes a ler, reflectir, mudar, completar, este extraordinario traballo do Joao, que eu tive o prazer
de ollar antes de que estivese publicado.
Con este obxectivo de invitar a ler e reflexionar, e co compromiso de ser muito breve, teño que dizer que o
Joao mais unha vez oblíganos a pensar e a sentir a educación, reafirmándose na idea de que esta actividade
non ten valor se non están presentes estes dous procesos.
Ensinar e aprender non son accións mecánicas, que responden ao esquema clásico de que unhas
persoas ensinan, por que son posuidoras de saber, e outras aprenden, por que son receitáculos valeiros que
precisan dos saberes e dos sabios para ser enchidos. Os grandes renovadores da educación no século XX xa
puxeron de manifesto que importan mais as “cabezas ben feitas que as cabezas ben cheias”.
Na teoría pedagóxica esta oposición docente-discente, ensinante-aprendiz, sabio-analfabeto, xa foi
substituida pola idea de persoas que partillan aprendizaxes, saberes e experiencias, mais na pratica, os
sistemas educativos e as institucións susténtanse con demasiada frecuencia no suposto antipedagóxico do
saber acumulativo.
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Joao Beauclair axúdanos nos seus escritos a superar esta dicotomía con argumentos criativos e
convincentes. Argumentos que axudan a acortar a distancia entre o dito e o feito. Penso que no Brasil, igual que
na Galiza, dizemos que “entre o dito e o feito hai un treito”. Ese treito debemos acortalo para poder afrontar os
retos que a educación ten no xéculo XXI. Retos éticos, políticos, sociais, que nos sitúan fronte a unha educación
reproductora ou liberadora, bancaria ou dialóxica, en palabras do mestre que todos temos na memoria.
Unha educación dinámica, movimentada, reflexiva, dialóxica, facilitadora, transdisciplinar, expresiva,
significativa, conceptual, que promova a autonomía do suxeito, os valores e os dereitos humanos, tal como a
entende o Joao nos seus escritos.
Gosto dos conceitos que inventa e reinventa para facernos pensar esta educación diferente. O papel que
ten a utopía, como ese norte que se alonxa cada vez que nos acercamos, mais ese estímulo que nos fixo
camiñar. O papel do amor como algo intrínseco á pedagoxía. Un bo deseño tecnico-pedagóxico consegue
mellor os seus obxectivos se hai detrás soños, maxias e sentementos que nos fan viver e conviver, viver coa
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mirada posta nos outros e nos sucesos colectivos: “As nossas capacidades de convivio harmónico, nun mundo
tan diverso”.
“Ensinagens”, “aprendencias”, “sentipensamentos” constituen un vocabulario que reficte a urxencia dunha
nova pedagoxía que cuestione as palabras que deixan de ter significados polo seu uso desde paradigmas
tecnocráticos. Palabras novas, nova psicopedagoxía. Esa importancia do ollar, que se deduce das palabras
finais de Ivani Fazenda: “Dependendo da forma como olho posso acolher meu aluno ou afastá-lo. Posso, con
minha atitude no olhar, conquistá-lo, espertando sua curiosidade de interrogarme, aprender comigo.” Con estas
novas palabras, conceptos e olhares, invita a renovar constantemente os procesos educativos, convida a non
conformarnos nunca coa realidade tal como nos ven dada, senon a interroga-la para esixir cada vez respostas
mais axeitadas ao que entendemos por educar no século XXI.
Coñecí ao Joao nos primeiros meses deste ano 2007, cando visitou Portugal e a Galiza, para partillar
ideias e reflexións con colegas da Facultade de Educación de Ourense, a puiden constatar que é un dos
intelectuais chamados a revolucionar a Psicopedagoxía e as praticas pedagóxicas do futuro.
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Convido aos lectores a que se activen para contribuir a estas mudanzas necesarias, pois as mudanzas
son labores colectivas, son retos para os movementos sociais, que asumen a responsabilidade conscientizadora
da sociedade na que nascen e actúan.
Este convite a traballar críticamente e creativamente ao fío das ideas do Joao Beauclair é un convite
tamén para intercambiar reflexións e experiencias entre estes pobos, separados polo Atlántico, mais unidos por
unha lingua e unha cultura irmáns.
Espero que disfruten coa lectura do libro e que teñan motivos para a acción en favor dunha outra
educación e dunha outra sociedade mais libre e mais xusta e solidaria.
Parabéns ao João Beauclair.
Xosé Manuel Cid Fernández
Ourense, Galicia, Espanha,
Outubro de 2007.
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“Ensinar é aprender duas vezes.”
Joseph Joubert
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PARTE I:
Ensinar é aprender: aprender é viver.
“Saber como sugerir é a grande arte de ensinar.”
Ralph Waldo Emerson
Ensinar é aprender, aprender é viver.
Para iniciar nossas reflexões sobre esta frase, e continuar a proposta de desenvolvimento de produções
escritas, um exercício ao pensar.
Aprendemos com inúmeras situações e movimentos de nossas vidas.
Na tabela abaixo, pense sobre cada um dos itens relacionados nas primeiras linhas e complete as
seguintes, revendo sua trajetória como sujeito aprendente e elaborando, assim, uma breve arqueologia sobre
suas significativas aprendizagens:
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Pessoas e instituições
Dificuldades
vividas
Livros e textos
Imagens e sons
Viagens e lugares
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Com este breve exercício, não foi possível pensar sobre como nossa vida, por si mesma e com seus
movimentos, é um permanente exercício de aprendizagem?
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Desde os nossos iniciais momentos, biologicamente, somos seres aprendentes, pois estamos a todo
instante, visceralmente, fadados à adaptação e aos movimentos do aprender. Nosso corpomenteespírito3, ao
aprender, torna possível a continuidade da vida: tornamos-nos seres viventes e sobreviventes às adversidades
do meio à medida que aprendemos.
Aprender é uma arte: arte porque exige e pressupõe interações com o outro e com o desconhecido.
Podemos perceber o outro a partir do momento que permitimos a abertura para tal movimento. Aprender é
tornar possível constantes movimentos estimuladores ao nosso pensar, agir, fazer, refletir. Aprender é colocar-
se em movimento desejoso de seguir adiante; aprender é sonhar com outros tempos; aprender é arte de ampliar
campos de percepção focados na abertura para o novo, que é sempre o melhor modo de olhar para as
diferentes dimensões de nossas interações com o mundo e com os outros.
3 Grafo deste modo esta expressão no intuito de alertar para a unicidade de nosso ser. A ciência moderna, com seus paradigmas
newtonianos e cartesianos, contribuiu para a separação de cada uma das partes que compõem esta expressão: corpo, mente,
espírito. Nosso tempo presente nos desafia para um olhar mais integrado, onde as três dimensões estejam num mesmo patamar
de importância.
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Aprender é sempre libertar-se das amarras que condicionam o nosso olhar e que engessam nossos
movimentos de continuidade por novas experiências: aprendemos quando ressignificamos antigas experiências
e a elas damos novos sentidos. Aprendemos quando adquirimos consciência de nossas incompletudes, e
abrimos espaços para exercer a generosidade do compartilhar conhecimentos, saberes, dúvidas e ignorâncias.
Só aprendemos, de fato, em comunhão, no solidário exercício de compartilhar idéias, sonhos e utopias. Só
aprendemos, de fato, quando nosso Espírito de criança nos transporta para a mágica dança do saber, buscando
sentido para nossa vida social e encontrando pérolas, deixadas como herança por outros seres aprendentes
que, antes de nós, vivenciaram a aventura terrena de aqui estar em outros tempos, distintos do nosso.
Aprendemos, portanto, quando somos capazes de perceber a infinita riqueza presente na herança cultural
e artística que nos foi deixada como legado por nossos antepassados, por sujeitos que vivenciaram outras
épocas, mas que através da arte de viver e de deixar registros foram capazes de construir um imenso
repertório, de fascinante riqueza. A arte, percebida como toda a produção cultural dos seres humanos ao longo
de sua trajetória evolutiva será sempre ferramenta maior para ser utilizada nas oficinas do aprender: Oficina
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onde se exerce o ofício de sermos viventes, apaixonados pela VIDA e eternos aprendizes da dinâmica do
estarjuntocom, compartilhando saberes, ignorâncias, conquistas, perdas e ganhos.
Aprender é encontrar possibilidades de transcendências, de fazer valer a nossa dimensão águia, tão bem
trabalhada na metafórica obra de Leonardo Boff. 4
Aprender é superar os medos.
Medos presentes nas nossas ações diárias e rotineiras que impedem o encontro com o outro, que sempre
é portador de outros modos de ser e estar neste mundo. Aprender é compreender que é “mais sadio amar a
mudança das estações do que fixar-se desesperadamente na primavera” 5. Aprender é superar a inércia, é
fazer movimentos de ampliação de nossas potencialidades cognitivas e, com isso, seguir novos caminhos, abrir
novas sendas, que encham nossas vidas de poesia cotidiana, não apenas para os denominados momentos
especiais: especiais devem ser todos os nossos segundos como seres viventes.
4 Refiro-me ao magistral trabalho de Leonardo Boff. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Conferir bibliografia.
5 MURARO, Rose Marie. A alquimia da juventude. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1999, p.15.
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A-prender é não se prender. Não se prender nem a dogmas, nem a modismos. Aprender é libertar-se das
inúmeras amarras que impedem de alçarmos novos vôos. Aprender é estar em constante movimento de ir além:
é viver com intensidade todas as possibilidades e encontrar, no agir/fazer cotidiano, o real sentidos dos versos
de Gonzaguinha: “viver e não ter a vergonha de ser feliz cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno
aprendiz”. 6
Aprender é construir, desconstruir e reconstruir, de modo dinâmico e permanente, nossos vínculos com o
mundo e com a vida nele presente, com todas as suas complexas manifestações. Aprender é percebemos que
a dinâmica relacional reside no fato de sermos sempre sujeitos em permanente formação, inacabados e
incompletos, pois viver em grupo é único modo de aprender, pois só se aprende com os outros, nas relações
que com eles estabelecemos, vivendo e crescendo em grupo.
6 Trecho de O que é o que é, de Luiz Gonzaga Júnior, música citada e trabalhada em: BEAUCLAIR, João. Ensinantes do presente:
volume I Ensinar é acreditar.
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Viver em grupo é conviver com as diferenças, beleza maior da plenitude da vida, que só se faz presente
na diversidade, no enredamento de diferentes fios, tecidos em tramas e urdiduras plurais, distintas. 7 Aprender é
tecer novos fios, produzir novas redes: desafios presentes no nosso tempo, que é complexo por si só, mediante
tanta exclusão e injustiça de acesso a educação, cultura, lazer.
Aprender é buscar a juventude permanente do questionamento, inventando o futuro, tomando consciência
do nosso presente, revendo o passado percurso do vivido, e concebendo cada experiência vivenciada como
impulso ao bem viver. Aprender é a busca por uma alquimia de surpresas e espantos diante da realidade e da
vida que faça nascer a concepção de nossos modos de ser e estar neste mundo, configurando uma biologia do
amor e da esperança portadora de novas possibilidades do desenvolvimento de nossas capacidades de sempre
fazer novas perguntas para antigas respostas e criar novas respostas para antigas perguntas.
7 Desde 2005, com a MOP Metodologia de Oficinas Psicopedagógicas, ministro o curso Crescimento em Grupo: Oficina Psicopedagógica de
Formação Humanística (escolas, empresas, ONGS e grupos Comunitários). Para saber mais sobre este curso, acesse o link:
http://www.profjoaobeauclair.net/blog.php?idb=7440
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Aprender é processo de vida, aprender é ser para os outros e ser para si, num permanente movimento
onde nos adaptamos ao mundo, ao mesmo tempo em que buscamos mudá-lo. Aprender é saber que a maior
invenção da humanidade foi a própria aprendizagem, pois
“se devemos ter presente que muitas espécies animais aprendem, e aprendem com seus
congêneres, também parece claro que os humanos constituem a única espécie que ensina, ou
ensina sistematicamente, e que foi capaz de fazer da educação um dos pilares da
sobrevivência da espécie.” 8
Aos ensinantes do presente, tarefa essencial é repensar sobre que fatores se devem priorizar para o
desenvolvimento constante de nossas capacidades e potencialidades de aprendizagem. No campo do aprender
e do ensinar, ensinar é aprender, aprender é viver. Assim, podemos aqui propor um outro exercício a nossa
8 DEVAL, Juan. Aprender na vida e aprender na escola. Editora Artes Médicas: Porto Alegre, 2001, p.15.
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autoria de pensamento. Busque olhar o diagrama abaixo refletindo sobre as principais idéias tecidas nesta parte
de nossas reflexões. Depois, leia o trecho seguinte e escreva nas linhas que o seguem suas opiniões sobre ele.
Figura 1: Aprender, ensinar, viver.
Ensinar
Viver
Aprender
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“Como indivíduos e como cidadãos, temos perfeito direito a ver tudo na cor característica da maior
parte das formigas e de grande número de telefones antigos, ou seja, muito preto. Enquanto
educadores, porém, não nos resta outro remédio senão ser optimistas, infelizmente. Educar é crer na
perfectibilidade humana, na capacidade inata de aprender e no desejo de saber que há coisas
(símbolos, técnicas, valores, memórias, fatos...) que podem ser sabidas e que merecem sê-lo
— e que nós, homens, podemos melhorar uns aos outros por meio do conhecimento.
De todas essas crenças otimistas podemos muito bem descrer privadamente, mas se queremos
educar ou entender em que consiste a educação não há outro remédio senão aceitá-las.
Com verdadeiro pessimismo pode-se escrever contra a educação, mas o otimismo é imprescindível
para estudá-la... e para exercê-la.
Os pessimistas podem ser bons domadores, mas não bons professores." 9
9 Trecho de "Carta à Professora", prólogo do livro O Valor de Educar ,de Fernando Savater, Ed. Martins Fontes, 1998, grifo meu.
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“... os sujeitos aprendem mediante um processo aberto,
especulativo e irreversível de
reorganização contínua de seus
sistemas de idéias”.10
10 GARCIA, J. E. e PORLÁN, R. Ensino de Ciências e prática docente: uma teoria do conhecimento profissional. Caderno
Pedagógico, UNIVATES no. 3, jul., pp. 7-42, 2000.
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PARTE II
“Ensinagens e aprendências”: o que é isso?
“...estou propondo que...recuperemos a coragem de falar na primeira pessoa, dizendo com honestidade
o que vimos, ouvimos e pensamos” Rubem Alves.
No exercício de minha autoria de pensamento, desde minha primeira publicação em Psicopedagogia,
lancei-me ao interessante desafio de ser autor, proposto por Rubem Alves, Alicia Fernández, Nilda Alves e
Hugo Assmann, em diferentes obras, momentos e leituras. Tais autores, cada um do seu modo e jeito, remetem
nosso pensar à busca de novos significados e sentidos para as palavras, criando novos campos semânticos
possibilitadores de uma nova gramática ao nosso refletir e agir em educação e aprendizagem.
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A palavra ensinagem 11, por exemplo, eu só dei a devida importância após a leitura atenta que fiz do texto
de GROSSI (2000). Adiante, comecei a grafar esta palavra, em meus textos e produções, no plural, visto que
nunca se ensina uma coisa só ao ensinar algo a alguém: aprendemos muito além daquilo que pensa os que nos
ensinam.
Aprendências é uma licença poética que faço, ao brincar com as palavras e buscar o sentido de criar
novos campos semânticos, como acima expliquei. Sempre procuro definir estas expressões, pois aos que lerem
um dos meus textos pela primeira vez, podem estranhar tal grafia. Explico sempre que ensinagens e
aprendências são expressões de uso comum e rotineiro em minha produção textual, na tentativa de criar novos
modos para designar as ações envolvidas no processo de aprendizagem: ensinar e aprender.
O termo ensinagem, aqui é utilizado no sentido de que aprender e ensinar são processos resultantes da
interação dialética entre aquele/a que ensina e aquele/a que aprende, ou seja, ensino e aprendizagem são os
11 Neologismo significando ensino-aprendizagem, presente em “Uma nova síntese sobre como acontece a ensinagem” In:
GROSSI, Esther. A coragem de mudar em Educação. Petrópolis, Editora Vozes, 2000, p. 93-97.
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diferentes lados de uma mesma moeda, onde ser cognoscente é estar em movimento de autoria de
pensamento.
Entendo como aprendências a tomada de consciência de nossas possibilidades aprendentes, criando
processos de significação e constituindo o evoluir permanente de nossas subjetividades.
Entretanto, não basta criar novas palavras, é preciso contextualizá-las, pois, para “ter sentido, a palavra
necessita do texto, que é o próprio contexto no qual se enuncia.”12 Assim, a produção textual em Educação e
Psicopedagogia, requer, para quem pretende ampliar suas ações como ensinante do presente, a superação do
apenas conhecer dados e informações isoladas pois somente a adequação entre palavras, textos e contextos
pode tornar pertinentes nossos saberes e conhecimentos.
Assim, em nossos movimentos no aprender e no ensinar, torna-se essencial produzir sentidos para
nossas ações, com a consciência de nossos atos e, o que considero extremamente significativo: a importância
12 MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à Educação do futuro. Cortez Editora/UNESCO, São Paulo/Brasília, 1999, p.36.
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de nossas ações, nos espaços e tempos educativos, para o fomento a evolução de mentalidades em nosso
tempo.
Ensinantes do presente exercem suas funções educativas no espaçotempo da sala de aula. É dentro
deste contexto, no espaçotempo sala de aula, que os ensinantes do presente podem ser elementos
possibilitadores da construção de novos movimentos para o desenvolvimento da autoria de pensamento que,
por sua vez, leve a construção de novos modelos à produção de conhecimento em educação, numa perspectiva
psicopedagógica. 13 Ensinantes do presente acreditam de modo contundente nas inúmeras potencialidades
da imaginação na construção de novas realidades, lançando-se a novos vôos, pois independente das
possibilidades de quedas, superam os medos e arriscam novos movimentos. 14
13 BEAUCLAIR, João. Educação e Psicopedagogia: aprender e ensinar nos movimentos de autoria. Pulso Editorial, São José dos
Campos, 2007.
14 Sobre as potencialidades da imaginação, vale a pena conferir: GASTON, Bachelard. O ar e os sonhos. Martins Fontes, São
Paulo, 2001.
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Nos processos de aprendências e ensinagens é vital criar. Sem a criatividade, fica impossível fazer algo
diferente, romper com as tradições e práticas obsoletas, fazer emergir, no interior de cada aprendente o
fantástico desejo de continuadamente aprender. Aprendências e ensinagens nascerão primeiro no desejo do
ensinante.
Ensinante que aprende e deseja aprender sempre e cada vez mais, é o ensinante que ensina cada vez
mais, e melhor, aos seus aprendentes, pois sabe ser um ser desejante de contínuas e novas aprendências,
para melhorar, também de modo continuado, suas ensinagens.
Assim, buscando desenvolver seus potenciais cognitivos e criativos e tornando-se um pesquisador
permanente sobre suas áreas de atuação, sobre educação e aprendizagem, o ensinante do presente sabe ser
“sujeito produzindo na e para a cidadania, integrando desejo e dever (prazer/regras), vive o momento de
integração/produção. Mas importante do que o saber ser legalizado, é autorizar-se, a saber.”15
15 BORGES, Aglael Luz. A travessia no desenvolvimento e aprendizado: a constante relação entre subjetividade e objetividade. IN:
SCOZ, Beatriz J. L. (org.) (Por) uma educação com alma: a objetividade e a subjetividade nos processos de ensino e
aprendizagem. Editora Vozes, Petrópolis, 2000, p.64.
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Tal autorizar-se “a saber” é processo de fundamental papel no contexto do aprender em nosso século XXI.
Cada ensinante do presente deve ser provocado, internamente, ao movimento de reconstrução do
conhecimento, criando novos instrumentos de modo permanente e repensando, de modo coerente, sua prática
cotidiana. Neste sentido, é primordial que os sistemas de ensino priorizem reflexões sobre expectativas,
limitações, habilidades e possibilidades de cada um, favorecendo momentos onde movimentos de intra-
subjetividade possam ser empreendidos com o objetivo de qualificar e requalificar os que ensinam.
Ensinagens e aprendências: exercício da amorosidade nos processos vitais do aprender e do ensinar.
Sobre esta palavra, amorosidade, algumas observações e um espaço de tempo para nossa reflexão. Leia os
dois trechos abaixo e depois, faça o que se pede:
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“Acredito que a paz começa na sua mente,
no seu coração, e vive ao redor de você.
Lembre-se, a paz está nos seus lábios e nas suas mãos.”
Antoinette Sampson.
“Para fazer uma floresta basta apenas uma árvore,
uma abelha e um sonho.
Mas se não tiver uma árvore e uma abelha, um sonho basta.” 16
16 Desconheço o autor.
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Após ler este dois trechos, escreva um pequeno texto onde seja possível estabelecer uma relação entre
eles, enfatizando suas importâncias nas interações entre aprendentes e ensinantes. Use, para tal, as linhas
abaixo:
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“Sol de primavera abre as janelas do meu peito
a canção nós sabemos de cor
só nos resta aprender...”
Beto Guedes
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PARTE III
Aprender e ensinar: novas possibilidades a partir da amorosidade.
Aprender e ensinar, em nosso tempo presente, é tema de debates, encontros, publicações, discussões,
enfim. Entretanto, entre o dito e o feito existe uma lacuna, pois é simples falar, discursar, elaborar um conjunto
de pensamentos sobre o aprender e o ensinar, palavras tão decantadas mas em muitos momentos vivenciadas
de modo incompleto, distantes da plenitude de suas essencialidades. Para aprender e ensinar exige-se amor,
amorosidade.
Nós, ocidentais, herdeiros de uma cultura repleta de influências greco-romanas, temos muito a aprender
com as filosofias orientais, tanto sobre a própria vida, com suas imensas complexidades, quanto sobre o amor,
sobre o aprender e o ensinar. Por isso, trago aqui uma bela história de Chuang Tzu:
“Nos tempos em que a vida na terra era plena, ninguém dava atenção especial aos homens notáveis,
nem distinguiam o homem de habilidade. Os governantes eram apenas os ramos mais altos das árvores
e o povo com cervos na floresta. Eram honestos e justos sem se darem conta que estavam “cumprindo
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seu dever”. Amavam-se uns aos outros, mas não sabiam o significado de amar “o próximo”. A ninguém
iludiam, mas nenhum deles se julgava um “homem de confiança”. Eram fidedignos, mas desconheciam
que isso fosse “boa fé”. Viviam juntos em liberdade, dando e recebendo, mas não sabiam que eram
generosos. Por esse motivo, seus feitos não foram narrados. Eles não deixaram história.” 17
Concordam comigo que este é um belo texto? Quanta possibilidade de reflexão pode ser criada com esta
história. Uma dessas possibilidades reside no pensar nossa própria condição: somos humanos porque somos
seres históricos e temos um passado evolutivo com o qual constituímos a VIDA, tecida fio a fio por outros
humanos que nos antecederam e, claro, por todos nós que na continuidade desta trajetória estamos imersos
neste tempoespaço de nossa contemporaneidade.
Para aprender e ensinar no século XXI, o resgate da amorosidade é tarefa essencial e profundamente
necessária. Ficamos, a cada dia, mais distantes dos bons sentimentos, das genuínas emoções e,
17 Citado em: FAGUNDES, Márcia Botelho. Aprendendo valores éticos. Editora Autêntica, Belo Horizonte, 2001.
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principalmente de nossa capacidade de conviver em harmonia num mundo repleto de diferenças. Faz-se
necessário emergimos para um novo tempo e reconstruirmos caminhos para que o conhecimento acumulado
por nossa trajetória humana nos conduza a tomada de decisões vinculadas à aprendizagem, a administração
dos conflitos e, inevitavelmente, aos processos do autoconhecimento, da auto-aceitação e da autoconsciência.
Aprimorar-se enquanto sujeitos humanos e históricos é questão de evolução de cada um de nós e para
tanto é imprescindível iniciar (ou reiniciarmos), enquanto profissionais de educação e saúde que somos,
processos de formação pessoal.
Tais processos de formação pessoal perpassam pelo conjunto de nossos valores e or nossas visões de
mundo de cada um de nós: somos um emaranhado imenso de influências resultantes de nossas relações
sociais. Fruto do convívio social, cada um de nós carrega, em nossa personalidade, diferentes influências das
quais nem sempre possuímos clareza e consciência. Repetimos padrões de conduta e comportamento sem
questionarmos as origens e os motivos pelos quais os fazemos.
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O que merece destaque aqui é que cada um de nós possui modos muito particulares para lidar com os
conflitos que vivenciamos em nossa cotidianidade, elaborando estratégias próprias para compreender nossas
angústias, ansiedades e frustrações. Como nos diz o poeta Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de
ser o que é”. Esta constatação me leva a afirmar que, neste movimento, a singularidade de cada sujeito se
expressa de modo muito particular, pois existem as escolhas pessoais, as experiências do vivido e,
principalmente, a própria história de cada um, construída no percurso da existência e no itinerário de nossas
buscas para aprender a viver e a sobreviver.
Também é importante o reencontro com nossas experiências e conceitualizações, objetivando a
ressignificar o vivido, ampliando perspectivas, vislumbrando outras possibilidades e, principalmente, propondo-
se aos processos de construção de autoria de pensamento. 18
18 BEAUCLAIR, João. Autoria de pensamento, aprendências e ensinagens: novos modelos e desafios na produção de
conhecimento em Psicopedagogia. Artigo publicado na página da Associação Brasileira de Psicopedagogia: www.abpp.com.br
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No aprender e no ensinar, a amorosidade só pode vir a ser resgatada efetivamente em nossas relações
se, antes, fizermos uma viagem para dentro de nós mesmos, buscando sentido e significado para nossos
fazeres, dizeres, posturas, modos de ser e estar neste mundo, complexo em essência e, ao mesmo tempo,
simples e natural.
Amorosidade é um devir, uma postura pessoal, uma busca de tornarmo-nos seres humanos melhores,
capazes de sermos generosos, de redescobrimos a solidariedade, de rejeitarmos a violência, de preservarmos a
vida do planeta e, principalmente, de ouvirmos para compreender. 19
Para tal, torna-se necessário, nos espaços onde possuímos algum tipo de inserção, sermos promotores
de chamadas de atenção sobre como poderemos desenvolver nossas potencialidades de diálogo, modo de
operar humano capaz de diminuir a dor e o sofrimento. Maturana (1988) nos alerta que estamos imersos e
vivemos
19 Pressupostos do Manifesto 2000: por uma cultura de paz e Não-violência, elaborado pela UNESCO, no Ano Internacional por
uma cultura de paz e não-violência. Conferir: www.unesco.org
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“numa cultura que opõe emoção e razão como se tratassem de dimensões antagônicas do espaço
psíquico. Falamos como se o emocional negasse o racional , e dizemos que quando negamos nossas
emoções, nenhum raciocínio pode apagar o sofrimento que geramos em nós mesmos ou nos outros.
Finalmente, quando temos alguma desavença , ainda no calor da raiva, também dizemos que devemos
resolver nossas diferenças conversando e, de fato, se conseguimos conversar, as emoções mudam e a
desavença ou se esvai ou se transforma, com ou sem briga, numa discordância respeitável. ” 20
No aprender e no ensinar com amorosidade condição primeira é o conversar, o dialogar: sem a prática
social do diálogo ficamos a revelia, sem suportes que possibilitem ganharem força e terreno nossas
perspectivas de evolução. Acredito que muitos dos nossos problemas cotidianos de convívio com os outros
estão vinculados ao afastamento e ao isolamento que, em muitas situações, nós mesmos nos colocamos.
20 MATURANA, Humberto R. Ontologia Del conversar. Revista Terapia Psicológica, Año VII, v. 10, p.15-22. Santiago do Chile.
Tradução de Cristina Magro e Nelson Vaz.
45
Não existe estratégia melhor para a resolução de conflitos do que a busca do entendimento a partir do
diálogo. Maturana nos ensina que a palavra “conversar vem da união de duas raízes latinas: “cum”, que quer
dizer “com”, e versare que quer dizer “dar voltas com o outro.” 21
E se conversar é dar voltas, juntos com os outros, no aprender e no ensinar a promoção de vínculos
afetivos entra em cena e nos remete a pensar que quanto melhores forem tais vínculos, mais qualidade teremos
em nossas relações com os outros, conosco mesmos e com a VIDA.
A UNESCO, em seus fundamentos para a educação do século XXI, como muitos de nós já sabemos,
enfatiza quatro pilares da educação do futuro: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e
aprender a ser 22. Entretanto, com a ousadia e coragem de propor, num trabalho anterior, elaborei um outro pilar
para o conhecimento: aprender a amar, onde discuto que precisamos redimensionar nossas ações e práticas
21 Idem.
22 DELORS, Jacques et alli. Educação: um tesouro a descobrir. Cortez Editora, São Paulo, MEC: UNESCO: Brasília, DF, 1998.
46
cotidianas, com o expresso desejo de nos colocarmos em postura amorosa com o mundo, conosco mesmo e
com os outros. 23
Um texto, de autoria por mim desconhecida, encaminha este pensar:
“A presença do amor invade meu ser
Dorme em mim,
Desperta em mim, brota em mim,
Morre em mim, nasce em mim.
Meu corpo é seu templo.
O amor faz em mim morada:
Sem o amor minha vida é nada.
Sem amor, eu sou só, ninguém.
Sua luz brilha em meus olhos,
23 BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades. Coleção Olhar Psicopedagógico, Editora
WAK, Rio de Janeiro, 2004 (terceira edição, 2008), p.82-93 e 101-111.
47
Seu perfuma exala em meus poros,
Suas flores enfeitam minha estrada.
Hoje eu desejo, compreendo e quero,
Que todo o mundo entenda:
Sem o amor, não há saída,
Não há como se ter VIDA.”
Os ensinantes do presente devem buscar o resgate essencial da amorosidade, atuando em prol da
interconectividade como elemento de importância fundamental à elaboração de estratégias e permuta de
conhecimentos e idéias, de saberes e fazeres voltados ao aprender e ao ensinar.
A amorosidade, enquanto tema fundante para a formação do ensinante do presente, ganha força, energia
e vitalidade com a participação em projetos e com a parceira com pessoas, organismos e instituições.
Hoje, mais do que nunca, devemos estar atentos ao estarjuntocom, sonhando e promovendo o
nascimento da autoria de pensamento. De acordo com Rubem Alves, “o nascimento do pensamento é igual ao
48
nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre
vazio. E a semente do pensamento é o sonho.” 24
A participação em grupos de estudos e discussão, a supervisão em processos de acompanhamento de
nossas ações profissionais vincula-se aos nossos próprios sonhos, aos nossos projetos de crescimento pessoal
e as nossas utopias realizáveis, como nos falava o mestre Paulo Freire.
Devemos perceber claramente a importância de tudo isso, pois inúmeras possibilidades surgirão a partir
de nossas inserções participativas e ativas em tais grupos, sendo ferramenta de suma validade o estar em
rede, fazendo parte de grupos de discussão pela internet, interagindo aprendendo e ensinando no
estarjuntocom. Desde a década de 90 do século passado, por exemplo, participo de alguns importantes grupos
onde exercemos o que ASSMANN e SUNG (2001) chamam de competência solidária, pois mesmo sem
estarmos uns com os outros presencialmente, intercambiamos idéias, ideais e fortalecemos o próprio
24 Citado em SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade e inteligência: a emoção na educação. DP&A editora, Rio de Janeiro, 2002, p. 15.
49
movimento, importantíssimo ao meu entender, pelo reconhecimento da importância da educação e da
aprendizagem em nosso país, luta essa com a qual devemos nos envolver de todos os modos que forem
possíveis.
Na minha práxis docente procuro alertar meus/minhas aprendentes sobre a formação de grupos estudos,
porque acredito que todos crescem a partir desta vivência. A interconectividade necessária, nesta teia da vida,
faz-se assim, em movimentos de agregação onde cada pessoa pode estar em postura de amorosidade no
simples fato da permuta, da troca, do intercâmbio, insisto. É na percepção e na presença, mesmo que virtual, do
outro, que podemos evoluir.
Zenita Cunha Guenther (1997) nos ensina que tal presença e percepção “é a noção interna e o conceito
que se forma do outro, a partir das percepções diferenciadas na vivência e experiência comum com as outras
pessoas que compartilham conosco a aventura de viver e ser parte integrante da humanidade.” 25
25 GUENTHER, Zenita Cunha. Educando o ser humano: uma abordagem da Psicologia humanista. Campinas, São Paulo: Mercado
das Letras, Lavras, Minas Gerais, Universidade Federal de Lavras, 1997, p. 119.
50
No aprender e no ensinar em nossa cotidianidade, resgatar a reflexão sobre tal afirmativa nos conduz ao
pensar que somente a partir da interação e da participação efetiva poderemos alcançar a compreensão de que
somos parte de uma mesma teia de VIDA. Cabe-nos pensar que em
“nosso dia a dia, desde que nascemos até o momento final, temos ao nosso redor, interagindo e
participando intimamente em praticamente todas as situações da vida, desde a mais próxima e concreta
até às mais distantes, pessoas essencialmente iguais a nós e ao mesmo tempo diferentes, únicas
existindo em si próprias, ao mesmo tempo que existem conosco e juntos formamos configurações
globais, maiores e mais complexas do que cada um de nós é, ou poderia ser. Essa é, em essência, a
dimensão social da personalidade humana. Isso quer dizer que cada pessoa que existe, ao construir sua
maneira própria, individual e única de ser, desenvolve através da vivência comum com outras pessoas
uma conceituação do “outro”, englobando e integrando todas as percepções diferenciadas em relação às
outras pessoas em uma configuração coerente e que faz sentido para ela. Essa organização de
percepções compõem uma parte de sua própria personalidade, também única, individual e congruente
com a configuração maior, interna, de cada um, a qual, por sua vez, influencia o comportamento e a
maneira própria de ser e interagir com esses mesmos outros.” 26
26 Idem, p. 119 e 120.
51
Acredito que, como ensinantes do presente, devemos buscar nossa imersão em tal dimensão. E neste
sentido, defendo que o resgate de valores e direitos humanos é essencial a uma práxis educacional que seja,
de fato, psicopedagógica 27. Como ensinantes do presente, cabe estarmos atentos e atuando no sentido de
poder, de certa forma, contribuir para o debate acerca da inserção da amorosidade, compreendida como uma
potencialidade humana de sermos solidários uns com os outros. É um processo de decisão, que perpassa
nossas próprias vidas e que alimenta de horizontes nossa caminhada. É um processo de escolha e “escolher é
apropriar-se do desejar a partir de um trabalho de pensamento”. 28
27 BEAUCLAIR, João. Curso livre de Educação em Direitos Humanos. Disponível na homepage www.direcionalescolas.com.br
28 FERNÁNDEZ, Alicia. O saber em jogo: a Psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Editora Artmed,
2001, p.176.
52
Atividade: Um exercício de escolhas.
Ensinantes do presente devem estar sempre atentos as suas escolhas. Aqui, em nossas propostas de interação
a partir do fomento aos registros escritos, vamos fazer mais uma atividade. Coloque-se numa posição
confortável, fique atento as seus movimentos respiratórios, busque sentir sua pulsação. Busque lembrar do
canto de um pássaro, do ruído de um rio correndo, sinta-se inserido na beleza da vida. Feche seus olhos
momentaneamente e lembre de momentos importantes em sua vida como aprendente e ensinante interagindo
com os outros, em momentos de amorosidade. Pense nos sentimentos você vivenciou ao fazer este exercício.
Faça uma escolha dos seus melhores sentimentos. Desenhe, ilustre, faça uma colagem, escreva palavras,
enfim, expresse de algum modo sua escolha nos espaços a seguir:
53
54
55
56
“Quem não compreende um olhar
tampouco compreenderá uma longa explicação.”
Mario Quintana
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PARTE IV
Ensinar a sentipensar: olhar e escutar a inteireza humana ou Olhar como tema: a teimosia (insistente e
persistente) no pensar/refletir sobre o humano ato de olhar.
Ensinar a sentipensar: um dos muitos desafios para os ensinantes do presente. 29 É interessante
conhecer as idéias de Torre e Moraes (2004) sobre este tema, visto que nesta obra estão fundamentadas um
conjunto significativo de idéias sobre como fazer com que o sentipensar seja, efetivamente, validado nos
espaçostempos do aprender e do ensinar.
Em tempos de reconfiguração de paradigmas, com os avanços das pesquisas nos campos variados do
conhecimento humano sobre a própria vida, somos convocados ao pesquisar permanente e a procura por
29
MORAES, Maria Cândida e TORRE, Saturnino De La. Sentipensar: Fundamentos e Estratégias para Reencantar a Educação.
Petrópolis: Editora Vozes ,2004.
58
metodologias ativas que façam com que nosso trabalho tenha validade, significado e sentido. Assim, buscar
compreender como ocorrem as movimentações de nossas emoções é imprescindível.
Uma escuta atenta e cautelosa, um modo de ser e estar focado na calma e na busca de um melhor viver é
essencial em todo este processo. Olhar, e escutar, a inteireza humana é buscar aportes e suportes teóricos que
fundamentem os nossos modos de agir, de pensar e fazer.
No dia a dia, quem de nós ao lidar com conhecimento, cognição, educação e os dilemas enfrentados no
aprender e no ensinar, nunca se viu na posição de pesquisador que busca fundamentos teóricos para sua
práxis? Com certeza, muitos assim se encontram, não só no nosso espaçotempo de pensar, mas também em
outras grandes áreas do conhecimento humano. Estudar uma possível epistemologia psicopedagógica é ver-se
em processo de construção e tessitura permanentes, aliando Subjetividade, Ciência, Filosofia e Arte aos
preceitos de uma consciência multi e transdisciplinar, numa abordagem sistêmica e complexa: um imenso
desafio.
Entretanto, não é o desafio
59
“que define quem somos nem o que somos capazes de ser, mas como enfrentamos esse desafio
podemos incendiar as ruínas ou construir, através delas e passo a passo, um caminho que nos
leve à liberdade”.30
Desafio da autoria de pensamento, desafio da descoberta de sermos sempre eternos aprendizes na magia
da vida, sempre complexa porque bonita e por ser bonita, plural. Construir passo a passo um caminho que nos
leve a liberdade de ser e estar neste complexo mundo em processo permanente de construção de sentidos e
significados para nossas vivências, conosco mesmos e com os outros. Tarefa que nos envolve, que nos seduz,
e assim, amplia possibilidades, reconstrói percursos, possibilita o encontro.
30 BACH, Richard. De nada por acaso. Citado por ARANTES, Andréa. O processo de supervisão grupal psicopedagógico: um olhar
lúdico em educação. IN: GOMES, Valéria Rodrigues Dias e OLIVEIRA, Selmane Felipe (orgs.) A escola e a família: abordagens
psicopedagógicas. Cabral Editora e Livraria Universitária, Taubaté, São Paulo, 2003.
60
A proposta desta parte quatro do nosso Ensinantes do presente vol. II Ensinar é aprender é exemplo
disso: resultado da organização de um corpo de idéias sobre o olhar como tema no tear da teoria, alinhando,
alinhavando e aliando Psicopedagogia, prosa, poética e poesia e suas possíveis contribuições as nossas
reflexões (e ações) sobre nossos papéis nas relações humanas.
O que se busca é a serventia possível da reflexão teórica, do suporte prático em consonância com o
simples viver. Em nossas vivências é que podemos mediar à busca por um outro cotidiano onde seja realidade
concreta a disponibilidade para ouvir e compreender o outro, para a parceria e o afeto enfim, para a comunhão.
O Olhar como tema: a teimosia insistente e persistente no pensar/refletir sobre o humano ato de olhar se
faz presente e abrangente: não há ponto final, não há possibilidade de uma escrita regular, regida pelas normas
cultas da especialização excessiva. É, na verdade, uma grande teia, que se faz bela porque irregular é. Se
notarmos uma bela e densa teia, com um olhar mais apurado, veremos que ela é feita de irregularidades, não
existe a presença da simetria: cada teia é una, porque desigual, fora dos padrões da regularidade, fora da
instrumentalização científica padrão.
61
Enquanto ensinante do presente, encontro sempre o olhar como tema na insistente, e persistente,
teimosia que ele surge no meu próprio pensar e refletir sobre nossas imensas potencialidades, nossas inúmeras
impossibilidades e outras tantas possibilidades. Possibilidades de superarmos nossos limites humanos de
existir, possibilidades de ampliarmos nosso humano ato de olhar, de perceber e sentir o quanto podemos ir
adiante, o quanto podemos avançar.
Para o meu pensar enquanto ser apreendente, ensinante e aprendente é no nosso cotidiano, repleto de
conexões entre os nossos “eus” e os outros “eus” que se dá à magia de, em nossas práticas ações, ficarmos
mais voltados para a incessante busca de referenciais e metáforas que forneçam subsídios às novas
significações sobre o nosso olhar. Muitos afirmam que o mundo, este nosso mundo globalizado e individualista
é caracterizado pelo agir e o pensar não participativo, não solidário. Será?
O que movimenta o mundo é o olhar. Podemos ir além do propalado fim da história: todos nós podemos
estar além desta constatação ao desenvolvermos outros modos de olhar, se adquirimos outras habilidades e
62
competências a cada instante, estando atentos as nossas atitudes, percebendo o que está de fato revelado em
nossos comportamentos, ações e pensamentos enquanto seres de relação.
Consciência e criticidade em nossas cotidianas ações fazem com que sejam urgentes as necessidades de
mudanças fundamentais: criarmos uma outra visão de futuro ao nosso viver cotidiano a partir de nosso
presente. Desafios prementes, permanentes. Exigem ousadias necessárias à restauração de valores e a
ampliação dos espaçostempos de leitura e ensinagem: o conhecer o outro e a habilidade de estarjuntocom é
ação essencial para o desenvolvimento de uma outra possibilidade de mundo.
Olhar como tema: a teimosia insistente e persistente no pensar/refletir sobre o humano ato de olhar é o
próprio olhar a possibilidade de teoria: há muitas teorias sobre o olhar? Onde elas estão? O que delas eu sei?
Que conexões são possíveis entre Educação, Psicopedagogia e prosa, poética e poesia, olhar e teoria?
É neste movimento que me encontro e que encontro tantos outros eus: no caminho/caminhar do saber, no
espaço do sentir e estar em processo de pensar complexo, percebendo-nos como pontos, nós, onde nesta
imensa teia/rede emoções e vida, organismo e imaginação, arte, realidade e sonhos são possibilidades de
63
integração de nossa vida humana, fomentada em nossos processos criativos de lidar operativamente,
construtivamente, com os desafios da aprendizagem humana neste nosso século XXI.
De cada um de nós, ensinantes do presente, muitas serão às exigências de aquisição de imensa gama de
habilidades e competências. Por isso é essencial um outro olhar, estarmos em busca, desejarmos ser,
efetivamente e definitivamente, humanos em integralidade, sabedores de nossas próprias limitações. É preciso
ressignificar práticas, ampliar visões. É preciso rever conceitos, estabelecer paradigmas à própria apreensão da
VIDA. Idéias tecidas em teima de tema: ilustrar a amplitude do aprenderensinar no educar na esperança em
tempos de desencanto.31
Na abordagem holística e sistêmica as idéias surgem para serem observadas, num processo de voltar
atrás, de ler e re-ler, lendo o que antes se excluiu, o que antes nós demos exclusiva e definitiva atenção, ler de
31 Refiro aqui ao belo titulo presente em: ALENCAR, Chico e GENTILI, Pablo. Educar na esperança em tempos de desencanto.
Editora Vozes, Petrópolis, 2002.
64
uma outra forma: ler nas entrelinhas, essa nossa capacidade fantástica de dizer o não-dito, de estabelecer
outras sinapses, de inter-relacionar de um outro modo, infinito, repleto de ilimitadas possibilidades.
É importante, como ensinantes do presente, vincular nossos olhares às alternativas visões, múltiplas
vivências para o nosso pensar reflexivo, experienciado no chão da realidade, mas vivificado no conhecimento e
no campo da utopia. 32 Somos capazes de sínteses e análises. Somos capazes de expressar o vivenciado como
um consciente movimento onde caibam os nossos pontos maiores de humana reflexão: onde estamos, como
estamos e com quem estamos?
32 Nosso próximo volume de Ensinantes do presente tratará deste tema: Ensinantes do presente vol. III: Ensinar é compartilhar utopias.
65
Façamos um exercício neste sentido. Nas lacunas abaixo, complete:
Onde estou?
Como estou?
Com quem estou?
Estou onde quero, de fato, estar?
Do jeito que estou, sinto-me bem?
Estar com quem estou me faz sentir bem?
Aprofundando o exercício, façamos uma reflexão.
Caminhamos no expresso sentido de busca: nos nossos atos de escolha como interferir, sugerir, intervir,
modificar, revelar, desvelar?
66
Na construção do olhar, “percepção perpassa por formação de juízo de valores, por escolhas ideológicas,
por modos e formas de ver e compreender o mundo e suas complexas relações”.33
Na construção do olhar saber que somos “o somatório de nossas heranças culturais, históricas, familiares,
sociais, psicológicas, enfim, somos derivados de nossa inserção no meio e contexto onde vivemos, agimos,
interagimos”.34
Na construção do olhar, se temos a consciência que somos ensinantes do presente, estarmos atentos ao
que nos é diferente pode ser o fio mediador, o fio que nos conduza a perceber que cada um de nós vivencia e
experimenta o mundo de seu modo, de sua maneira. Na construção do olhar, faz-se essência sem par priorizar
o relevante, vislumbrar o significativo, perceber o espaçotempo vivencial como lócus das complexidades
inerentes ao pulsar dinâmico da vida, “cuja inteireza se faz presente em cada gesto, fala, relação.”35
33 BEAUCLAIR, João. Mansidão, afabilidade e doçura nas relações humanas: o resgate necessário a partir das instituições.
Publicado em 03/09/2004 no site português http://www.psicologia.pt
34 Idem.
35 Idem, ibidem.
67
Na construção do olhar é importante interagir sobre nossos pensares, motivações e interesses: processos
que direcionam falas, gestos, jeitos, mecanismos. Na construção do olhar, personificar nosso eu como sujeito
que está junto com outros eus sujeitos. Na construção do olhar, resgatar percepções, tomar decisões, interagir
para mudar, ter compreensão da dinâmica da vida real, sabendo mais uma que “o real não está na saída nem
na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.36
Na construção do olhar, irmos além elaborando, considerando e re-elaborando a complexidade presente
no existir, a complexidade existente nas interpretações diversificadas que dela (e nela) podem surgir. Na
construção do olhar, estabelecer somatórios, excluir divisões, olhar/sentir/perceber o real, concretizando metas,
alçando outros vôos. Alternativas para nosso mover, busca de novas possibilidades de ação/reação/emoção. Na
construção do olhar é preciso desejar ir além e estar em movimento de realização: mover-se para construir
outras possibilidades, mover-se para estruturar e criar outros sistemas e condições para o nosso pensar.
36 ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1984.
68
O tema do olhar se reflete em nossas humanas relações: é o encontrar possibilidades, o constituir de elos
facilitadores à modificação de nossa humana idade, de nossa humanidade, húmus da vida plena que nos deve
movimentar. Enquanto Seres, sabedores de nossas singular-idades37, somos capazes também de criarmos
utopias, de darmos vida plena ao novo, de criar. Para criar utopias é preciso ousadia, prosa, poética, poesia.
Na construção do olhar é preciso lembrar com GOETHE que “se você pensa que pode ou sonha que
pode, comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia. Ouse fazer e o poder lhe será dado”. 38 Na construção
do olhar é preciso criar coragem para refletir, mudar de idéia, aprofundar o pensamento. O olhar desvela, oculta,
apreende, deseja, vivencia, sistematiza e avalia: o olhar no tear da teoria: como ele surge, de modo me surgia?
No tear da teoria: noite e dia o olhar surge/surgia.
37 Em cada tempo, nossas idades são singulares, singular-idades às nossas subjetividades. 38 Citado por FREIRE, José Carlos Serrano. (2002). Eu sou professor. Editora Lucena, Rio de janeiro, p 77.
69
É na expressão do desejo no tear da teoria, que noite e dia o olhar surge/surgia. O desejo é “o coração do “ser”
humano, fazendo dele um definitivo e um irremediável provisório, uma conquista perene. O ser humano é uma
rede em que o desejo entrelaça e amarra o que o cerca, escolhe, rejeita, filtra, suga, fraciona, recompõe,
identifica, totaliza, faz do outro o “eu”, e do “eu” um outro.”39
Assim me faço ponte e rio, algo como um lago ou duas margens que vivem em busca de conexão: na
escritura e no pensar nossas potencialidades, que se movimentam na órbita do desejar e circulam por entre os
conhecimentos, sentimentos e relações. Nossas infinitas potencialidades de fazer e agir na procura, na pró-cura
de significados e sentidos à nossas trajetórias humanas - articulação latente com o pleno, com o cosmos, com o
universo do vivido que nos antecedeu e que com o que está por vir.
Como ensinantes do presente, aguçar nossos desejos de tear na roca da teoria a partir do olhar.
Construção de uma outra realidade, possível no fraternal convívio coletivo, possível construção participativa,
39 CUNHA, Rogério Almeida. Apresentação. In: PERPÉTUO, Susan Chiode e GONÇALVES, Ana Maria. Obra citada, p.11-12.
70
prática, oriunda da vivência cotidiana que em nós pode ser possibilidade realizadora de outras relações, mais
perenes e significativas.
Encontro Jean-Yves Leloup, que nos seduz a uma escola para aprender a olhar, onde vivenciar tal
processo, o de olhar, de modo operante e significativo, é ter menor cristalização, estar em abertura ao milagre
da liberdade, imersos numa cartografia de nossas inteirezas, pois assim possível é ressignificar ações e
pensamentos, aprender a crescer, evoluir na partilha do saber e do não saber. 40 Ao tear na roca da teoria,
precisamos desenvolver nossas potencialidades de um outro olhar, mais desejoso, pois é pelo desejo que
“o ser humano é necessidade. Satisfeita a necessidade, o desejo subsiste, e mais. Barriga cheia,
coração ansioso. Pelo desejo , o ser humano é ansiedade. Acalmada a sede, o desejo subsiste.
Coração tranqüilo, caminhar inquieto. Pelo desejo, o ser humano é rebelde, plurimo. Afogar o
40 LELOUP, Jean-Yves. (2000). L´Icône, une école du regard. Paris, Le Pommier-Fauyard.
71
desejo é sufocar o humano. Por isso, “ensinar” é seduzir, acender a fogueira do desejo é atiçar a
esperança”.41
Atiçar esperança só é possível a partir do re-aprender e do continuado aprender a partir do des-a-prender
antigas formas de sermos e estarmos no mundo. O desenvolvimento de nossas habilidades e competências,
de nossas a-fe-tividades, 42 essencial característica humana à manutenção da VIDA. A percepção maior, para o
tear na roca da teoria, vincula-se ao desenvolver de nossos potenciais de um outro olhar, onde a palavra seja
instrumento de individuação, verbo do desejo de conhecer: é re-aprender a abertura para o outro, possibilidade
de “experenciarmos momentos de re-conhecimento, de diferenciação em o meu eu e os outros eus”. 43
41 CUNHA, Rogério Almeida. Apresentação. IN: PERPÉTUO, Susan Chiode e GONÇALVES, Ana Maria. Obra citada, p.11-12.
42 Brincando um pouco com a palavra: a = para; fe=fé ; tividades= atividades. Logo, para ter fé em nossas atividades: afetividades.
43 BEAUCLAIR, João. Mansidão, afabilidade e doçura nas relações humanas: o resgate necessário a partir das instituições. Artigo
publicado no site www.psicopedagogiaonline.com.br , em 29/06/2004 e no site português www.psicologia.com
72
Como ensinantes do presente, nestas potencialidades comunicacionais, fazer-se fio em rede; neste
movimento, permitir-se ao ser e estar relacionando-se; fazer parte de sistemas organizacionais onde, de modo
participativo e democrático, se esteja atuando em prol de temas e objetivos que em nós fomentem nossas
capacidades de união entre espaçostempos plurais e sujeitos cognoscentes diversos.
Como ensinantes do presente, estarmos em rede ou enredados, só é possível com o desejo da
participação, só possível pelo estarjuntocom já aqui referendado. É nas ações entre os elos que integram as
redes que se estrutura o trabalho, a criação, a atividade de manter-se em movimento, em processo de
permanente intercâmbio de ações, de experiências, de possibilidades de ações conjuntas, participativas. Neste
sentido, atuarmos em rede, é, sem sombra de dúvida, estarmos abertos aos espaçostempos de
relacionamentos sustentados por nossos desejos de compartilhar interesses, nos nossos diferenciados campos
de existência.
Assim, ao elaborarmos vínculos, formatamos relacionamentos e descentralizamos nosso jeito de ser e
estar no mundo: podemos encontrar a competência solidária, podemos encontrar nossos pares, podemos
73
aperfeiçoar nossas ações e encontrar parcerias que possibilitem o alcance de metas e objetivos comuns.
Mais uma vez, a percepção maior para o tear na roca da teoria, vincula-se ao fato de que
"participar verdadeiramente de uma rede implica aceitar o desafio de rever as formas autoritárias de
comportamento, às quais estamos acostumados e que reproduzimos (como dominadores e como
subordinados) apesar dos discursos e intenções democratizantes. Numa rede tem poder quem tem
iniciativa. Assim, a localização do poder muda constantemente e não se concentra num só lugar". 44
O fato de estarmos em rede cria relações e intermediações, onde laços pressupõem relacionamentos,
reciprocidade, confiança, construção de pensamentos e socialização de saberes e conhecimentos. Nossas
redes de relacionamentos nos permitem o exercício e a magia da solidariedade, compartilhamento de desejos,
vontades, busca por alternativas e soluções para questões que nos intrigam, nos movimenta no tear da teoria.
44 AMARAL, Viviane. Desafio do trabalho em rede. Tema do mês da Rits. Disponível em:
http://www.rits.org.br/redes_teste/rd_tmes_dez2002.cfm , 2002.
74
Infelizmente, ainda é pequena a inserção de sujeitos nesta rede, visto a problemática da exclusão digital.
Entretanto, não nos resta dúvida que estar em rede é assimilar o princípio de que nossas ações podem
fomentar o surgimento de novas relações onde, mesmo no espaçotempo da virtualidade, pessoas podem estar
em apoio mútuo. O interessante de tudo isso é que “poucos pontos podem fazer muito se produzirem muitas
conexões. Quanto mais conexões, melhor”.45
Como ensinantes do presente, podemos atuar em redes diversas de relacionamentos no espaçotempo da
virtualidade e isso, com certeza, amplia as possibilidades de conexão, pois enquanto sujeitos
ensinantesaprendentes, podemos ser pólos centralizadores e, ao mesmo tempo, difusores de idéias, de ideais,
de projetos de redes que se conectam com outras redes. Nossos relacionamentos com os outros e com o
mundo podem ganhar uma corporeidade por estarmos atentos aos círculos relacionais que identificamos em
nossa trajetória.
45 MARTINHO, Cássio. Redes uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização. 2003. WWF - BRASIL
75
Com o uso das novas tecnologias de informação e comunicação, as redes de relacionamentos ampliam
nosso olhar sobre a vida, sobre nossas infinitas possibilidades de darmos outro aspecto e sentido às nossas
interações com o mundo - e com os sujeitos que nele se presentificam. São possibilidades de outras conexões e
aberturas, são perspectivas diferenciadas de evolução, de coordenação e de esforços, geradores de um outro
modo de saber que podemos estar fazendo parte de "um sistema aberto altamente dinâmico, suscetível de
inovação, sem ameaças ao seu equilíbrio" (CASTELLS, 1999).
A nossa percepção maior para o tear na roca da teoria, vincula-se a este fato, pois não há mais como
negar a importância do enredar-se, fazer-se em rede: um bom desafio para superarmos a dor em tempos de
desencanto.
Poética: ou a ética da dor em tempos de desencanto.
Poética: ética da dor em tempos de sofrimento. De onde estas idéias me surgem? Parto de que transcendência
para escrever sobre isso? E porque aqui escrevo sobre dor e desencanto? Primeiro por constatar que este é um
76
aspecto fortemente presente em nosso tempo atual. Há uma cultura da dor, há a existência profana do
desencanto. Onde há desencanto, a vida perde o sentido e a agilidade; onde há desencanto há, isso sim, a
morte enquanto espera, há a não-vida, que é a morte em vida, pois é uma vida sem brilho, sem sol, sem vento,
sem sinos nem cães, sem cantos de pássaros.
Em tempos de desencanto, há a heresia do não compartilhar, há o não existir pleno, há o descaso, a
injustiça, a inevitável dor. Há a ausência do canto das crianças, a falta do riso e da beleza do estar junto com o
outro na busca de sentido para o viver.
Em tempos de desencanto, não há sonhos, não há beleza, não há o movimento de estar a serviço de uma
outra possibilidade de existir. Em tempos de desencanto carecemos de graça, de dedicação, e o que fica
propalado é o lucro ao alcance das mãos: é o egoísmo, é a impessoalidade nas relações. Em tempos de
desencanto, há a ausência da paz, em todos os seus humanos sentidos. Em tempos de desencanto, há portas
se fechando, luzes se apagando, vidas se perdendo, imensa insatisfação por estarmos aqui. Em tempos de
desencanto, há a derrota humana, de saber-se parte desta tragédia, oriunda de um modo de ser e estar neste
77
planeta completamente conturbado, repleto de angústia, medo e solidão. Em tempos de desencanto, há o uso
da humana inteligência para o que não é próprio do humano: a guerra, a destruição, a dor.
Em tempos de desencanto, há tudo isso. E tudo isso é pura dor, sofrimento. Em tempos de desencanto,
há a banalização do olhar. Em tempos de desencanto reina absoluta a indiferença, monstruosa: nefasta,
mórbida, horrenda.
Em tempos de desencanto o que nos resta fazer?
Onde carece optar a nossa consciência?
Onde reside nossa tarefa, onde se espelha nossa humana condição?
Em tempos de desencanto, qual o sentido de nossas vidas pessoais, quais os nossos papéis neste grande
teatro, nesta imensa inquietude que se instala em nossos corações? Quais os sentidos maiores de nossas
existências? Por onde começar, recomeçar? O que fazer? Por onde devemos iniciar o resgate necessário de
nosso existir?
78
Abaixo, espaço para pensar... Refletir... Registrar sentimentos, palavras ou pensamentos sobre tudo isso,
se assim desejar.
79
80
E assim uma inicial idéia ganha corporeidade: em desencantados tempos reagir, reativar, reviver,
ressurgir. No espaço para pensar e refletir, superar os limites impostos pela racionalidade excessiva, superar o
medo do diálogo, matar ritualisticamente a insensibilidade, a insatisfação perene, a traição com a vida. Matar a
ânsia de poder em nos implementada pela normose social, que nos dita regras e nos abastece de nãos, de
tantos nãos que acabamos por ser conduzidos à não vida, que nos transformam em escravos de nós mesmos,
que nos ausentam da liberdade.
Como ensinantes do presente, sem pensar, sem refletir, nada poderemos fazer, ou quase nada, talvez. É
preciso um outro tempo em nós, onde a pressa seja represada, contida, levada a calma, a serenidade: onde se
possa ouvir um pouco de silêncio. É preciso um outro tempo em nós, onde a nossa voz interior possa apontar
caminhos e fazer-se presente em nossos atos, em nossa vida, em nossa fé.
É preciso um outro tempo em nós, onde a saúde seja plena e a vida ressignificada, ressurgida em defesa
de si mesma e em prol da continuidade da existência do plural ambiente do mundo, com a diversidade de
espaçostempos de sentidos, de significados e com as manifestações múltiplas da religiosidade humana, que
81
nos conduz à tolerância com a diferença, com os fenômenos que não temos convívio, coexistência e
consciência. Estamos irmanados pelo chão de nossa essência, pela magnitude de nosso olhar, pela compaixão
nem sempre desperta em nossos corações.
É preciso um outro tempo em nós, onde a face de Deus seja dulcíssima imagem espelhada no olhar que
vejo e que a mim mesmo se mostra, com ternura e fragilidade, como um espetáculo do olhar vivenciado da
plenitude do que foi escrito, em algum dia, em alguma profecia, em algum canto, em alguma poesia. Pense nas
suas formas de olhar a vida e o mundo. Fomentando nossa autoria, vamos criar uma poesia com o tema:
Meu olhar é....
82
83
Eis minha produção:
Meu olhar é
Minha voz e luz, fonte de minha sede,
Encontro com a essência
Da luz que vejo
No olhar de outros muitos olhares.
Meu olhar me direciona
Para meus sonhos e utopias
De um outro mundo sem tanta dor,
Só cor, belo entardecer,
Pleno amanhecer
Do mundo humano
De todos nós.
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Meu olhar
Espelho
Água,
Lágrima de dor
Amor,
VIDA.
Meu olhar
Está no mundo.
É tudo isso.
E é só...
É preciso um outro tempo em nós, onde a voz do outro traga os seus sonhos para outra vida real, repleta
do desejo de criar um outro mundo possível e necessário. Onde a voz do outro traga seus sonhos para um jeito
novo de criar discussões, de encontrar alternativas para a manifestação da complexidade e da plenitude da
vida.
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É preciso um outro tempo em nós, onde mansidão, afabilidade e doçura ganhem espaço efetivo e afetivo
nas nossas relações cotidianas de viver e estar junto com os outros. Mansidão, porque ser manso é estar em
movimento de paciência, de cordialidade, de manifestação do senso de espera; afabilidade porque só assim a
ternura ganha vida e liberta-se da clausura do corpo onde o espírito humano reside; doçura porque nada melhor
que a possibilidade do encontro, nada melhor que a verdadeira coragem em termos competências solidárias,
trazendo para nossa cotidianidade a superação da visão fechada, repleta de rótulos, preconceitos, que nos
impossibilita o sentir o sentimento, que nos impossibilita o perceber o desejo de vivermos uma outra vida.
É preciso um outro tempo em nós, onde haja um outro comunicar no que convencionamos chamar de
família, onde a sensibilidade esteja voltada aos desafios de sermos todos, pais e filhos, filhos da grande Mãe,
do Grande Pai: todos irmãos.
Poética: ou a ética da dor em tempos de desencanto. Criarmos um outro modo de ser e estar neste
mundo, onde participar seja próprio do nosso jeito de proteger a Vida, abençoando cada um de nós com a
perspectiva da autonomia, com o desejo da sã independência, sem os suportes geradores de impedimentos tão
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próprios do paternalismo, que aceita o que rejeita, pois aceita apenas o que dita como norma, o que rotula como
certo e julga, como errado, o que lhe é diverso. Para tanto, um recomeçar, uma nova re-educação, um acreditar
na superação da exclusão, num porvir da inclusão, onde haja o processo belíssimo da aceitação do outro, de si
mesmo, do mundo e das diferentes possibilidades de desenvolvermos nossos processos de cognição.
Poética: ou a ética da dor em tempos de desencanto. Assumirmos a dor, para assim poder transcendê-la;
recriarmos a ética, a partir do bom senso e de um novo olhar, onde a Poesia seja processo permanente de
autoria no espaço do sentir, re-significando sentidos, sentindo outros significados a partir da utopia humana de
sabermos ser homens e mulheres em parceria, em busca da paz, da serenidade e da harmonia, em busca de
fazer da sinceridade e do amor uso corrente, sonho de uma nova era, espetáculo da paixão de criar um outro
caminho ou um outro jeito de caminhar.
Poesia como autoria no espaço do sentir: re-significando sentidos, sentindo outros significados a partir
da utopia.
87
Reli com outros olhos, e faz pouco tempo, o belo texto “Janela para a Utopia”, onde existe interessante
metáfora:
“Ela está no horizonte - diz Fernando Birri -. Aproximo-me dois passos. Caminho dez passos,
ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte fica dez passos mais longe. Por
muito que eu caminhe, nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: para
caminhar.” 46
E esta serventia, para caminhar, faz com que a utopia seja em nós resgatada como prosa e poesia, como
autoria no espaço do sentir: medos, ódios, tristezas, desejos, dores, alegrias, cores, amor, belezas, sonhos. No
re-significar sentidos, sentir outros significados a partir da beleza que reside na utopia, mágica palavra,
alternativa para o nosso olhar, estímulo para caminhar em nossas objetividades, em nossas subjetividades.
Ouvir a voz na utopia em nossos desejos de liberdade, de sabedoria, de não prisão de nossas inteligências e
46 GALEANO, Eduardo. Janela para a Utopia. Citado em CANDAU, Vera Maria (org). (1999). Oficinas Pedagógicas em Direitos Humanos. Vozes, Petrópolis.
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potencialidades. Ouvir a voz na utopia em nossos desejos de desfiar os ritos medíocres do cotidiano invadido
pelo não sorrir, pelo não sentir, pelo afastamento de irmãos e irmãs que se alienam uns dos outros e imersos
ficam na não-criatividade, na sujeição ao não-aprender e, assim permanecerem tal como portas fechadas onde
nada nem ninguém podem entrar.
Ouvir a voz na utopia em nossos desejos de superação da omissão e dos jogos sujos do poder, trajetória
que já se faz imemorial entre os humanos. Ouvir a voz na utopia em nossos desejos de interligação entre o ver,
o agir e o refletir com paciência, com paz na ciência, com a ciência da paz. Perceber que só no
empoderamento há o verdadeiro poder, que está para além do persuadir, do manipular. Empoderamento como
cimento de um outro edifício, de um outro modus operanti de viver, ser e estar aqui, em parceira para trazer o
sonho para a vida real, plena e significativa.
Empoderamento para superar o medo, o medo de sermos esquecidos e da solidão de pensar muito nisso.
Empoderamento como amor que expressa seus sentimentos, de dentro para fora, de fora para dentro e que nos
coloca no lugar do outro, para ser sempre uma possibilidade de encontro humano, que vá além das dimensões
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já ditas, que encontre outras formas, espaços, interação. Empoderamento para criar, cada um de nós, sua
própria obra, prima, original, nossa afinal. Empoderamento como jogo, diversão, espaço de revelação de nossa
personalidade e de novas ações, que extrapole o senso comum, que possibilite a criação de um novo fazer, de
um outro sentir.
Empoderamento para criar desejo de novas conexões, de conhecer os outros, de superar a egoíca
máscara do indivíduo e levar a darmos mais valor a coletividade, definida como uma não abstração, como algo
que se move, pulsa, tem coração e que só quer ser cuidada, pois se sabe inacabada, em processo de perene
construção. Coletividade que nos leva à ação, que nos faz imaginar, criar, que é imagem em ação, imaginação.
Coletividade oriunda de um outro nosso novo olhar.
Empoderamento para ir além, sendo cada um de nós repletos de desejos da modificabilidade, de
instrumentalização humana, de potencialização de nossos processos reflexivos, de aprendizagens novas e
crescimento permanente.
90
Poesia como autoria no espaço do sentir: re-significando sentidos, sentindo outros significados a partir da
utopia compreendendo que a utopia “... dá sentido à vida, porque exige, contra toda verossimilhança, que a vida
tenha sentido”. 47
Como ensinantes do presente, que estejamos neste caminhar, em busca da poesia e do viver a vida com
sentido, em permanente movimento por uma outra sensibilização humana e plural para a valoração e validação
da própria VIDA.
Prosa em jardins de Rosa(s): por uma outra sensibilização humanística e plural.
“O tear
o tear
o tear
o tear
quando pega a tecer
47 MAGRIS, C. Utopia e desencanto. (2000). Archipiélago, n. º 40, fevereiro-março, pg. 120-127.
91
vai até ao amanhecer
quando pega
a tecer,
vai até ao
amanhecer...”48
“o real não está na saída nem na chegada:
ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
Prosa em jardins de Rosa(s): por uma outra sensibilização humanística e plural é, aqui, a (in) conclusão
deste tema. Inconclusão porque é permanente em meu pensar, agir e fazer, voltar-me para o olhar como tema:
exagero ou não, eis que são formas, trajetórias estas idéias em meu pensar.
E com o mundo das idéias, não há como se recusar, como dizer não, escrever é projeto de vida, é
movimentar o que não podemos paralisar. Nos dois trechos acima citados, Guimarães Rosa nos leva a pensar
48 ROSA, João Guimarães. S/d . Batuque dos Gerais. In: Uma estória de amor - Festa de Manuelzão.
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neste movimento do próprio pensar: “quando pega a tecer, vai até ao amanhecer” e esse movimento não se dá
assim tão simplesmente movimento, mas como vínculo profundo e real, sendo que “o real não está na saída
nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
Como ensinantes do presente, esta travessia se presentifica no fluxo do pensar, na existência de nossas
motivações, desejos, expectativas, na busca, no encontro, na circularidade e na abertura para sermos
mutuamente ensinantes e aprendentes nestes nossos espaçostempos do sentir. Sentir sendo sujeito, sentir
sendo laço, vínculo com o outro, mutuamente símbolo, sujeito, outro, indivíduo. Esta travessia se presentifica no
fluxo do agir-pensar-refletir de nossa práxis educativa psicopedagógica 49, compreendendo que a educação é
fator essencial para o desenvolvimento total das pessoas.
Como ensinantes do presente, acreditando ser possível uma outra forma de sensibilização, mais
humanística e plural, resta-nos cada vez mais aprofundarmos o olhar como tema no tear da teoria, fazendo uso
49 BEAUCLAIR, João. PEP: Prática Educativa Psicopedagógica: um modus operanti de ser e estar em Educação. Estudo ainda em
elaboração, onde busco compreender como é essencial, na formação inicial e continuada em Educação no mundo
contemporâneo, a inserção das temáticas psicopedagógicas.
93
dos pressupostos da Psicopedagogia como espaçotempo de inserção com a prosa, a poética e a poesia de
cada dia.
Como ensinantes do presente, no campo transdisciplinar da Psicopedagogia podemos hoje encontrar um
caminho, uma possibilidade de refazer trilhas já percorridas, ressignificar vivências já compartilhadas e sentidas.
Há muito a fazer.
Como ensinantes do presente, é tarefa nossa agregar sujeitos em torno do desafio da sensibilização
humana: tarefa urgente, necessária, inadiável.
Como ensinantes do presente, cada vez mais, é preciso um estudo constante, mas crítico, dos princípios,
das hipóteses e dos resultados das ações educacionais e psicopedagógicas já constituídas: é essencial
determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivos dessas ações. Por isso a importância da
constituição, entre nós, de uma epistemologia psicopedagógica, para que no tear da teoria se possa investigar a
natureza, as fontes e as possíveis validades do conhecimento que se produz.
Como ensinantes do presente, com que olhar enfrentamos tal desafio?
94
Podemos deixar de lado tais questões?
Não, não podemos.
E a poesia pode nos dar uma nova dimensão:
O conhecimento é
Solo,
Terra
Cimento.
O conhecimento é alcance
Meio
Vida
Fonte.
Receio (?).
95
Conhecimento
Sou eu
É o outro.
Porto seguro da vida,
Ponto de chegada
Espaço de partida
Cimento
Terra, solo,
Vida.
96
Enredando idéias
Chegamos ao termino de mais um volume da coleção Ensinantes do presente. Na parte primeira deste
trabalho, tratei de discutir os elos existentes entre o ensinar e o aprender, mostrando que, em nossas vidas,
a aprendizagem é processo permanente e vital. Na segunda parte, discuti os conceitos de ensinagens e
aprendências, demonstrando a necessidade de criarmos novos modos de expressar nossas maneiras de
compreender os processos que vivemos, exercendo para tal nossas potencialidades de autoria de
pensamento.
Ao chegar à parte terceira deste livro, o foco foi dado à importância dos vínculos no ensinar e aprender,
destacando a importância do resgate da amorosidade no século XXI, visando o exercício de nossas
capacidades de convívio harmônico, num mundo tão diverso.
Na quarta parte, o destaque foi dado à importância do ensinar a sentipensar, a partir de uma discussão
sobre a questão do olhar, do humano ato de olhar. Para encerrar este volume, um interessante trecho de Ivani
Fazenda que, ao longo de seu percurso como educadora e pesquisadora, contribui para os avanços dos temas
97
interdisciplinares em Educação e, a meu ver, também em Psicopedagogia. Como ensinantes do presente, é de
suma importância percebermos que
“se o primeiro olhar é dirigido a quem olha, as questões seguintes seriam quem olha o que, quem
olha quem, como e porque do olhar. O fato de meu olhar convergir para determinada direção, indica
que ele é preparado antes de ser direcionado. Há um tempo de espera entre minha intenção e o ato de
olhar. Olho buscando interagir, interar, integrar e nesse ato entregar-me. O tempo do olhar é único,
assim como a interação ocorre num momento único. Ao dirigir meu olhar a um aluno devo considerar o
tempo de espera, avaliando a intenção do meu olhar. Minha atitude revela-se em meu olhar, inquiridor
ou inquisidor. Posso olhar para criticá-lo ou para com ele aprender. Dependendo da forma como olho
posso acolher meu aluno ou afastá-lo. Posso, com minha atitude no olhar, conquistá-lo, despertando
sua curiosidade de interrogar-me, aprender comigo. O olhar dele também pode provocar em mim
curiosidade, interesse, predispondo-me, assim, a com ele aprender. Na convergência de olhares há
98
interação, com ela aprendizagem – momento único e definitivo, instante de transcendência, capaz de
recuperar momentaneamente todas as intencionalidades latentes e por nascer.”50
O desafio, então, é seguirmos adiante, em busca de novos olhares. Vamos seguir juntos? Então, até o terceiro volume desta coleção: Ensinantes do presente: volume III Ensinar é compartilhar utopias.
50
FAZENDA, Ivani Catarina. Integração como proposta de uma nova ordem na educação. IN: Linguagens, espaços e tempos no
ensinar e aprender/ Encontro Nacional de Didática e Prática de ensino (ENDIPE) – Rio de Janeiro: DP&A, 2000, p.143-145.
99
Posfácio:
Xavier Prado51
Conheci ao Professor João Beauclair no Encontro de Escolas Associadas à UNESCO do Brasil em São
Luis do Maranhão no ano 2001. Ele reclamava uma atenção especial para o trabalho das escolas publicas
quando sua escola de então passou a fazer parte do grupo de Escolas Associadas do Programa PEA UNESCO,
a partir de um projeto de Educação em Direitos Humanos e para a Paz , de sua autoria.
Fiquei com a impressão de o Beauclair ser uma pessoa de grande sensibilidade, mas também muito
reivindicativo em favor das crianças desfavorecidas com as quais trabalhava na altura. Embora as nossas
disciplinas fossem muito divergentes, compartilhamos uma mesma sensibilidade em relação com a necessidade
de escutar a voz dos desfavorecidos na sociedade e nas aulas.
51 Xavier Prado é professor de Fisica e Quimica no Ensino Secundário na Galiza e coordenador do projeto YoGoTe de comunicação internacional com gestos universais: www.yogote.net
100
Aprendi com ele que as aulas da escola publica no Brasil constitúem em excelente laboratório social, no
qual a diversidade e a interculturalidade não constitúem uma questão teorica, mas sim uma realidade e uma
necessidade prática, respectivamente.
Durante muitos anos, soube da sua progressão profissional através da informação formecida na magnifica
web site que ele manteve perfeitamente atualizada.
Finalmente, quando a sua trajetória docente o trouxo para este lado do Oceano Atlântico, uma água que
antes junta que separa aos povos galego e brasileiro, foi um privilégio poder ouvir a palestra sobre Educação
Inclusiva que João Beauclair lecionou na Universidade de Vigo em 2007, e concordo plenamente com a sua
frase “Aprender é sempre libertar-se das amarras que condicionam o nosso olhar”.
Compartilho com ele a pretensão de contribuir na construcção coletiva dum mundo melhor com o nosso
pequeninho grau de aréia. Mas disso é que se fazem as grandes praias!
Xavier Prado
Galicia, Espanha
Setembro de 2007
101
102
Relações de Workshops e temas de palestras e conferências do autor
Acesse o site www.profjoaobeauclair.net para maiores informações.
(Con)vivências do corpo à alma: aprendizagem e vida nas dinâmicas para o bem viver.
O mundo do trabalho no século XXI: palavras-chave.
Sentipensar: novos modos de ser e estar nos espaços e tempos institucionais.
Crescimento em Grupo: Oficina Psicopedagógica de Formação Humanística (escolas, empresas, ONGS e
grupos Comunitários).
Motivação: atitude positiva para mudar.
Ensinantes do presente: ensinar é acreditar.
Ensinantes do presente: Ensinar é aprender.
Ensinantes do presente: Ensinar é compartilhar utopias.
Ensinantes do presente: Ensinar numa perspectiva humanística.
Ensinantes do presente: Ensinar é ter um projeto de vida.
Incluir, um verbo/ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos.
Educação & Psicopedagogia: ensinar e aprender nos movimentos de autoria.
103
Administrando o déficit de atenção em casa e em sala de aula: dicas práticas para pais e professores.
Mapas mentais: técnicas básicas para geração de idéias e criatividade.
Curso livre de Educação em Direitos Humanos.
Subjetividade e Objetividade: o Corpo e o Olhar desvelando a trama do Ser e do Saber Humano.
Afetividade, subjetividade e objetividade em Educação.
Metodologia de trabalho com projetos: desenho de projetos educativos.
Inteligência emocional, aprendizagem mediada e pensamento construtivo.
Metodologia de mapas conceituais: estratégias de ressignificação do pensar.
Dinâmicas de grupo no cotidiano das instituições: práticas vivenciais com aprofundamento teórico.
Gestão da Diversidade e Educação Corporativa: visões psicopedagógicas para o espaço institucional
(escolas empresas, ongs, fundações).
Jogando em time: cooperação no mundo do trabalho
Autoregulação da aprendizagem: uma questão para o cotidiano escolar em ação.
Experiência de aprendizagem mediada e desenvolvimento cognitivo: uma introdução ao PEI (Programa de
Enriquecimento Instrumental de Reuven Feuerstein)
Direitos e valores humanos na sala de aula: ética e transversalidade aplicadas.
Competências e habilidades em Psicopedagogia: desafios à formação pessoal e profissional.
104
Aprendizagem organizacional e Gestão do conhecimento: desafios institucionais nas relações humanas.
Introdução a MOP (Metodologia de Oficinas Psicopedagógicas): vivências, aprendências e ensinagens
significativas.
Gestão do conhecimento, Gestão de pessoas e Inteligência competitiva nos espaços institucionais:
pressupostos básicos.
Para entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros.
Aprendizagem significativa: ressignificando trajetórias de sujeitos aprendentes.
Curso de Formação e Aperfeiçoamento de Docentes para a Educação Superior.
105
Livros/artigos que podem ensinar algo mais aos ensinantes do presente:
ABPp. Psicopedagogia: avanços teóricos e práticos: escola, família, aprendizagem. Anais do V Congresso
Brasileiro de Psicopedagogia, I Congresso Latino Americano de Psicopedagogia, IX Encontro Brasileiro de
Psicopedagogia. São Paulo: ABPp, 2000.
ABREU JR, Laerte. Conhecimento transdisciplinar: o cenário epistemológico da complexidade. Editora UNIMEP,
Piracicaba, 1996.
ALENCAR, Chico e GENTILI, Pablo. Educar na esperança em tempos de desencanto. Petrópolis: Editora
Vozes, 2002.
106
ALESSANDRINI, Cristina D. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
ALVES, Nilda (org) e GARCIA, Regina Leite. O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A Editora 1999.
ALVES, Rubem. Um mundo num grão de areia. O ser humano e o universo. Campinas: Editora Verus, 2002.
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo, Cortez/Autores Associados, 1988.
ALVEZ, Fátima. Inclusão: novos olhares, vários caminhos e um grande desafio. Rio de Janeiro: WAK Editora,
2003.
ANDRADE, Márcia S. O prazer da autoria e a construção do sujeito autor. São Paulo: Memnon, 2002.
ANTUNES, Celso. O lado direito do cérebro e sua exploração em aula. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.
ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, novas formas de aprender. Editora Artes Médicas, Porto Alegre,
2002.
ANTUNES, Celso. Manual de Técnicas de Dinâmica de Grupo, de Sensibilização, de Ludoterapia. Petrópolis:
Editora Vozes, 2000.
ANTUNES, Celso. Alfabetização Emocional. São Paulo. Terra Editora, 1996.
ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas, SP: Papirus,1998.
ANTUNES, Celso. Como transformar informações em conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2005.
ANTUNES, Celso. A teoria das inteligências libertadoras. Vozes: Petrópolis, 2000.
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BARBOSA, Laura Monte Serrat. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escola. Curitiba: Expoente, 2001.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. PCN: parâmetros curriculares nacionais. Vol. 1 Conversa com educadores; vol.
2 Temas transversais; vol. 3: O papel da escola no século XXI. Curitiba: Bella Escola, 2002.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. Psicopedagogia: um diálogo entre a Psicopedagogia e a educação. Curitiba:
Bolsa Nacional do Livro, 2006. Livro com um DVD.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. A Psicopedagogia e o Momento do Aprender. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2006.
BARBOSA, Laura Monte Serrat. A educação de crianças pequenas. São José dos Campos: Pulso Editorial,
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