Upload
agabece
View
392
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
Uma fase radical
“E vivemos uns oito anos, até perto de
1930, na maior orgia intelectual que a
história artística do país registra.”
(Mário de Andrade)
PERÍODO QUE VAI DE 1922 À 1930, O MOVIMENTO MODERNISTA PORTUGUÊS
MOSTRA-SE REBELDE, ROMPE COM O PASSADO TRADICIONAL E
ACADÊMICO, DIVULGA IDEAIS ANÁRQUICOS. MARCADO POR UM NACIONALISMO
EXAGERADO E PARADOXALMENTE UFANISTA.
Revolta dos militares do
forte de Copacabana;
Coluna Prestes;
Eleição de Arthur
Bernardes para
presidente;
Fundação do partido
comunista;
Início da era Vargas;
Mário de Andrade;
Oswald de Andrade;
Manuel Bandeira;
Guilherme de Almeida;
Paul Bopp;
Alcântara Machado;
Cassiano Ricardo;
Características históricas Destaques literários
MÁRIO DE ANDRADEO PAPA DO MODERNISMO
CARACTERÍSTICAS
quebra com o
Parnasianismo da
elite – nova
linguagem: brasileira;
Neologismos:
estrangeirismo +
indígena +
estrangeirismo;
OBRAS:
Uma gota de sangue em cada
poema em que retrata a I guerra
mundial e mostra o autor ainda
influenciado pelo
parnasianismo, poesia enquanto
instrumento de paz.
Pauliceia Devairada e Losango
caquidenotam toda a sua tendência modernista:
versos livres, linguagem solta e
lírica, nacionalismo exaltado.
Clã do Jabuti busca de uma identidade mais brasileira
dentro de sua poesia, com o vasto uso de
nosso rico folclore, conciliando as
tradições africanas, indígenas e sertanejas
Lira Paulistana (1946)poesia mais madura, pessoal, sem a ironia
e a agitação dos primeiros anos do
Modernismo.
PA
UL
ICÉ
IAD
ES
VA
IRA
DA
Sua poesia
manifesta-se
modernista
, rompendo com
todas as
estruturas
ligadas ao
passado.
Seu objeto de
análise e
constatação é a
cidade de São
Paulo e seu
provincianismo,
uma cidade
multifacetada, su
a burguesia, sua
aristocracia, o
proletariado, um
a cocha de
retalhos...
A linguagem e a forma presentes no poema de Paulicéia
Desvairada assinalam o rompimento definitivo com o
academicismo , o que consequentemente chocou o público
burguês, amante da poesia tradicional.
“São Paulo! Comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!... Traje de losangos...Cinza e ouro...
Luz e bruma...Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris...Arys!
Bofetadas líricas no Trianon...Algodoal!...
São Paulo! Comoção da minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!”
Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês! O burguês níquel
O burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro italiano,e sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
(...)
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
Cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!
AM
AR
, VE
RB
OIN
TR
AN
SIT
IVO
Em toda a sua
obra, Mário de
Andrade lutou
por uma língua
brasileira, que
estivesse mais
próxima do
falar do
povo, sendo
comum iniciar
frases com
pronome
oblíquo e
empregar as
forma
si, quasi, guspe
em vez de
se, quase e
cuspe.
Um romance que penetra fundo na estrutura familiar
da burguesia paulistana , sua moral e seus
preconceitos, ao mesmo tempo que trata , em várias
passagens, dos sonhos, e da adaptação do imigrante
à agitada Pauliceia.
MACUNAÍMA
O herói sem nenhum caráter, temos a ação máxima de Mário de Andrade:
A partir desse anti-herói , o autor enfoca o choque do índio amazônico ( que nasceu preto e virou branco, como o povo brasileiro) com a tradição e a cultura europeia na cidade de São Paulo.
(...)
No fundo do mato virgem, nasceu Macunaíma, herói de
nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.
Houve um momento em que o silêncio foi tão grande
escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia
tapanhumas pariu de uma criança feia. Essa criança é que
chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro
passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a
falar exclamava:
-Ai ! Que preguiça!...
(...)
Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio
uma cova cheia d’água. E a cova era que nem a marca
dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos
por causa do frio da água entrou e se lavou inteirinho. Mas
a água era encantada, porque aquele buraco na lapa era
marca do pezão de Sumé, do tempo em que andava
pregando o evangelho de Jesus pra indiana brasileira.
Quando o herói saiu do banho estava branco e louro e de
olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. (...)
MACUNAÍMA EXPRESSA A GRANDE DIVERSIDADE DO POVO
BRASILEIRO, NO QUE DIZ RESPEITO A SUA FORMAÇÃO
ÉTNICA E CULTURAL.
Macunaíma – Análise Rapsódia - é uma obra literária que condensa todas as tradições orais e folclóricas
de um povo.
A verossimilhança em questão é surrealista e deve ser lida de forma simbólica -
lugares incompreendidos, a poça de água encantada, etc.
Retrato do povo brasileiro - não tem um caráter definido e o Brasil é um país
grande como o corpo de Macunaíma, mas imaturo, característica que é simbolizada
pela cabeça pequena do herói.
Narrador - No “Epílogo”, o narrador revela que a história que acabara de narrar havia
sido contada por um papagaio, que, por sua vez, a tinha ouvido de Macunaíma:
“Tudo ele – o papagaio – contou pro homem e depois abriu asa rumo a Lisboa. E o
homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a história”.
Tempo e espaço – pouco definidos
Temas complexo racial,
Apatia - Ai que preguiça
Subdesenvolvimento – “Pouca saúde e muita saúva, é o que o brasil tem”
Muiraquitã – amuleto símbolo da inocência de Macunaíma.
Piaiamã – o gigante estrangeiro que engole a nação – Venceslau Pietro Pietra.
Personagens – Macunaíma, Maanape, Jiguê, Sofará, Iriqui, Ci (mãe do Mato).
OSWALD DE ANDRADE -
POLÊMICO, IRÔNICO, GOZADOR
Nasceu em 1890 e transformou-
se em figura fundamental dos
principais acontecimentos da
vida cultural brasileira da
primeira metade do século XX.
Foi o idealizador dos principais
manifestos modernistas
, militante político, teve
profundas amizades e
inimizades , rumorosos casos
de amor e vários casamentos.
“Sua vida é irmã gêmea de sua
obra”.
CARACTERÍSTICAS DE OSWALD Um nacionalismo que busca as origens sem perder a visão crítica da realidade brasileira;
A paródia como uma forma de repensar a literatura;
A valorização do falar cotidiano, numa busca do que seria a língua brasileira;
Uma análise crítica da sociedade burguesa capitalista;
No aspecto
formal, inovou
a poesia com
seus pequenos
poemas, em
que sempre
havia um forte
apelo
visual, criando
o chamado
“poema- pílula”
: “obter em
comprimidos,
minutos de
poesia”
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e bom
branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Para dizerem milho dizem
mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Pra telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou
Humor
-Qué apanhá sordado?
-O quê?
-Qué apanhá?
Pernas e cabeças na
calçada.
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO
MIRAMAR
Uma narrativa
inovadora em termos
de composição em
163 episódios que
mostram
humoristicamente a
passagens da vida
de João Miramar.
Um misto de prosa e
poesia, que ao final
da leitura formam um
grande painel.
131. Mais que perfeito
Eu tinha saído do laboratório da Itacolomi Film
onde Rolah tinha dado uma hora preguiçosa de
pose para observações contratuais.
Ela me tinha confessado pela manhã que seus
amores anteriores com pastores não tinham
passado de pequenos flertes de criança.
Agora quando tínhamos descido a escada
longa eu me tinha baixado até os orquestrais
cabelos louros.
E tínhamo-nos juntado no grande doce e
carnoso grude dum grande beijo mudo como
um surdo.
132. Objeto Direto
Ao longo do longo Viaduto bandos de bondes
iam para as bandas da Avenida.
O poente secava nuvens no céu mal lavado.
No Triângulo começado de luz bulhenta antes
Da perdida ocasião de ir para casa entramos
numa casa de jóias.
Participou à distancia da Semana
de Arte Moderna, pois não
concordava com os ataques
feitos aos parnasianos e
simbolistas.
Conviveu duramente com
trágicos acontecimentos em sua
vida, em apenas quatro anos
assistiu a morte de sua mãe, irmã
e de seu pai, ao mesmo tempo
que lutava cotidianamente contra
a própria morte, acometido de
tuberculose. Essas fatalidades
deixaram cicatrizes profundas na
obra do poeta.
MANUEL BANDEIRA-
ESTRELA DA VIDA INTEIRA
Recife, 1886
CARACTERÍSTICAS DA POESIA DE MANUEL
BANDEIRA
No mesmo tom de seus colegas, abre espaço
para o que seria a verdadeira poesia brasileira: verso
livre, tom coloquial, o cotidiano, o abandono das regras de sintaxe.
Demonstra resignação ante a debilidade da saúde, a família, a
morte, o homem simples em seu trabalho
humilde, os rejeitados da sociedade.
- lembrando sua própria
vida quando criança
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde cortava o silêncio
Como um túnel
Onde estavam os que há pouco
dançavam, cantavam e riam
(...)
- trata desde o amor de
adolescente ao amor da vida adulta, o
prazer de amar.
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor no coração me dava
Que dor no coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo
do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais
limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas
ternurinhas...
-O meu porquinho-da-índia foi a minha
primeira namorada.
Madrigal melancólico
O que eu adoro em ti
Não é atua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito
E beleza é triste.
Não é triste em si
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerta .
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil.
Tão ágil, tão luminoso.
-Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência do coração dos homens e das
coisas. (...)
O que eu adoro em ti, é a vida.
nunca resvala a
autopiedade, prefere a ironia e o
humor, para dissolver a tensão da
morte, o escapismo na fantasia.
Vou-me embora pra Pasárgada
(...)
Vou-me embora pra Pasárgada.
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura.
(...)
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo.
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
(...)
E quando eu estiver mais triste
Mais triste de não ter jeito
(...)
Estrela da Manhã
Eu queria a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda à parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos que aceita
tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Três dias e três noite
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Pecai com malandros
Pecai com sargentos
Pecai com fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo
Te esperarei com mafuás novenas
cavalhadas
[comerei terra e direi coisas de uma
ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda à parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
Sua estreia literária deu-se em
1926, com o livro de crônicas
intitulado Pathe-Baby. Teve seu
nome consagrado com as
publicações dos livros
Brás, Bexiga, Barra Funda e
Laranja da China. Sua obra
caracteriza-se pelo retrato
crítico, anedótico, apaixonado
mas sobretudo, humano, que faz
da cidade de São Paulo e de seu
povo, em especial os imigrantes
italianos.
São obras que tentam mostrar
aspectos da vida
trabalhadeira, íntima e cotidiana
desse povo.
ALCÂNTARA MACHADOO DIALETO ÍTALO-BRASILEIRO GANHA STATUS LITERÁRIO
São Paulo, 1901
É UM JORNAL. MAIS NADA. NOTÍCIA. SÓ. NÃO TEM PARTIDO NEM IDEAL.
NÃO COMENTA. NÃO DISCUTE. NÃO APROFUNDA.
Brás, Bexiga e Barra Funda
não é um livro.
Brás, Bexiga e Barra Funda não
é uma sátira
Principalmente não aprofunda. Em suas colunas não se encontra
nenhuma linha doutrinária. Tudo são fatos diversos. Acontecimentos
de crônica urbana. Episódio de rua.
Foi um dos mais ativos
participantes da Semana de Arte
Moderna de 1922. Engajou-se no
movimento verde-
amarelista, para, posteriormente
, fundar, junto com Oswald e
Tarsila, a Antropofagia.
Sua obra Cobra Norato, explora
o folclore da Amazônia
, constituindo a mais importante
obra da Antropofagia.
RAUL BOPP
Herança
-Vamos brincar de Brasil?
Mas sou eu quem manda
Quero morar numa casa grande
...Começou desse jeito a nossa história
Negro fez papel de sombra.
(...)
Integrou-se ao movimento
verde-marelismo, que
derivou para a Escola da
Anta, e aderiu aos princípios
modernistas, notadamente à
facção nacionalista que
repudiava a importância
cultural e valorizava os
elementos mais primitivos da
tradição brasileira. Sua obra
mais importante é Martim
Cererê.
CASSIANO RICARDO
Ladainha
Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome
de ilha de Vera Cruz
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz.
Ilha verde onde havia
mulheres morenas e nuas
anhangás a sonhar com histórias de luas
e cantos bárbaros de pajés em pocarés batendo os
pés.
Depois mudaram-lhe o nome
prá terra de Santa Cruz
Ilha cheia de graça
Ilha cheia de pássaros
Ilha cheia de luz.
A grande Terra girassol onde havia guerreiros de
tanga e onças ruivas deitadas à sombra das
árvores mosqueadas de sol.
(...)