72
da Cultura ,OMONTEIRO FURTADO retMo Geral JOAQUIM SALLES ITAPARY FILHO sidente da Funda ço Casa de Rui Barbosa AMÉRICO JACOBINA LACOMBE torE.xeCUtiVO - OLAVO BRASIL DE LIMA JUNIOR tor do Centro de Pesquisas - FRANCISCO DE ASSIS BARBOSA »-denador. do Centro de Pes4uisas PAULO HENRIQUE OSÓRIO CQEHO fe do Setor de Históra ROA MARIA BARBOZA DE ARÀUJO Américo Jacobina Lacombe Eduardo Silva Francisco de Assis Barbosa 1’ 1! 1’ y tr Rui Barb sa a qüéÍma dos arquivos 7. e 1: *;.z... . - ... •.. í 4_ FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA 1 AOO

Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

da Cultura,OMONTEIRO FURTADO

retMo GeralJOAQUIM SALLES ITAPARY FILHO

sidente da Fundaço Casa de Rui BarbosaAMÉRICO JACOBINA LACOMBE

torE.xeCUtiVO -

OLAVO BRASIL DE LIMA JUNIOR

tor do Centro de Pesquisas -

FRANCISCO DE ASSIS BARBOSA

»-denador. do Centro de Pes4uisas• PAULO HENRIQUE OSÓRIO CQEHO

fe do Setor de Históra• ROA MARIA BARBOZA DE ARÀUJO

Américo Jacobina LacombeEduardo Silva

Francisco de Assis Barbosa

1’1!

1’

y tr

Rui Barb saa qüéÍma dos arquivos7. e

::

1: *;.z... . - ...

•..

í 4_

FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA1 AOO

Page 2: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Américo Jacobina Lacombe, Eduardo Silva eFrancisca de Assis Barbara, 1988

1- Reservam-se os direitos desta edição àFUNDAÇÃO CASA DE.RUI BARBOSA

Ru São Clemênte, 134’•Rio de Janeiro, RJ República Federativa do Brasil

Printed in Brazil / Impresso no Brasil

Agradecemos a compreensão e o apoio daMinistro da Justiça

Paulo Brossard de Sousa Pinto,

ruiana ilustre,que tornou possível a

edição desta obra.

-p

Page 3: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

1,

Sum

ário

Apresen

tação.

Fra

ncisC

Ode

Assis

Barb

osa

Ped

rade

escândalo

.A

mérico

Jacob

i1a

Laco

mbe.

Ogran

deiin

passe:

jden

izaÇãO

.E

duard

oS

ilva

7.

Desp

achodofl1

ifliSt1

0.

da

Fazen

da,

Ru

ig

arbo

sa,in

deferin

do

pro

po

sta

para

inden

izaros

expro

lescra

V,O

12.1

1.1

890.

8.R

ecurso

de

Anfris

oF

ialho

eo

utro

s.12.11.1890

9.

Decisão

do

min

istroda

Fazen

da,

Ru

iB

arbosa,

14.12.1890

10.T

roca

de

telegram

asen

treJo

ãoC

lapp

eA

ntô

nio

Ilen

to13,

14e

21.1

1.1

890

11.A

jnd

enização

.A

rtigo

deio

ãoC

1apP

,18u1JS

90

12.A

rquiv

od

aE

scravid

ão.

20

.12.1

89

0

13.M

oção

do

Congresso

Nacio

nal.

22.1

2. 8

14.C

ircular

do

niln

istro

daF

ada,

L&

JeflcarA

raripe,

13.05.1891

15.A

tad

ein

cineraçãO

de

do

cum

ento

s.S

alvad

or,

Bah

ia,13.05.1893

Apên

dice:

Os

açôites,

prática

nefa

n’

Bib

liografia.

.:

113341

Do

cum

ento

s:

1—

1888

8851

1.iro

iêo

do

deputadboC

oelhoR

o’

18:8: :-:

-

2P

rojeto

do

senad

orb

arãod

eC

otejip

e19

0688

68

3.

Moção

do

dep

utad

odrad

ed

oprid

ente

do

4.

Inteip

elaçãOdo

xltp

utad

OC

esáfloC

orreia

deO

liveira.

.

::....:

:...

.C

oflC

1hO

detr?o

::.6o6>

8p

residen

tedo

Conselh

od

eM

inistrOs

senad

or

João

Alfred

o101

Correia

de

Oliv

eira260

61888

--

18

106

6D

iscurso

do

dep

utad

oJo

aqu

imN

abu

co24

...

.ig

91893

-

.1lii.-112114

115116-118119123124

129

141

Page 4: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Ainda bem que açabamos com isto.’ Era.tempo. Embora queimemos todas as leis, decretos e avisos, não poderemos acabar com os atosparticulares, escrituras e inventários, iiem apagara instituição da histõria, ou até da poesia.

Machado de Assis[Memorial deAires. 1888, p. 561

Page 5: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Apresen

tação

Fran

ciscode

AssiS

BarbO

sa

ticO

da

malév

O

hrêflexão,

levian

dad

eou

aleivosia.—

eis

otrip

vos

da

—trn

odos.

arqUi

la

ereiterad

aacu

saçaoa

Rui-

Baru

osa

em.

du

uei-

escravid

ão,

que

deresto

jamais

existiram

Oato

que

mali

aes-

.

..

..

.

.m

arto

dos

ósp

apéis,

1iv

os

de

niatrícu

lae

docum

ent0

re1d

-d

teve

por.iifl

.

..

..

..

.crav

os

nas

repartiçõ

esdo

Mim

stefloua

razen

-em

.ser

liffiuniÔ

VtS

deatu

reZ

afisc

1que

PU.

utilizad

os

pelo

sex

-senhores

para

pleitear

a

govern

oda

Rep

ub

lica,ja

que

aL

eid

e13

de

aiclirçitG

de

pro

declarad

oéx

tinta

aéscrav

idão

,sem

reconheCer-.OR

ui

Baru

oS

a,pried

ade

servil.

Nem

-poderia

faze-lo

I.)

pro

prio

.sertan

do

aresp

eito,

deara

..hem

.claro

.essepo

nto

,

pro

letoda

eman

cipação

. do

ele

mento

servilem

188o

sco

mele

osda

ind

enização

ficarare

pudia

do

para

Sem

pre,

ero

aE

ssair

i-fam

oso

stítu

los

de

senhorio

da

raça

bran

ca-Sobre.

arie

gr-

na

en

tuiÇão

ilum

inou

emu

rnT

elâ

mpag

o.0

.fu

turo

,e

traP

UaP

.ser

tre

oódio

ea

esp

era

nça”.

Assim

,o

ato

de

Ru

i

exam

inad

luz

da

menta

lidade

da

epoca

ed

as,1

histó—-

esta

ríam

os

fazeno

4politicas

que

ocercaram

,sem

oq

ue

nao

ria.

od

a.m

emóna

de

Com

oin

stituição

em

pen

hada

na

recuP

era

.

:nosso

povo,

com

mais

de

5dan

OS

de

ex

per

en

arbosa

deci

qu

isahistó

ricae

literária,a

Fu

ndaçaO

Casa

de

.

.na

1,m

flifli

aos

diu

org

anizar

opresen

tedocu

meflta.rio

,em

àssu

as

ueV

i’,.‘

trono,

no

sentid

od

eesclarecer

ereuU

Zir

üute

mente

detu

rçõ

eso

episó

dio

da

qu

eim

ad

edocum

ento

s,JL

reqd

as

com

em

opad

oe

tão

mal

co

nta

do

.D

ir-se-ia

qu

ea

pro

Xiln

1.ia

tib

uiu

rações

do

prim

eirocente

nário

da

Aboliç

ão

um

para

recrudescer

aonda

calu

nio

saque

insiste

Ciii

t..aauto

rcia

ciO

mS

do

sm

aisestrên

uo

scom

bate

nte

sda

causa

em

Page 6: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

12 : 13

ção.. . O radicalismo na questão abolicionista fechará para Ruido famoso parecer de 1884, em inimigo da raça negra, o que raia Barbosa as portas do parlamento. As reformas em serie que defenpelo absurdo. Comete-se uma injustiça, alem do mais baseada..ern................. dia provocavam nas hostes conservadoras a mesma repulsa, o mesuma tolice. - .. . .

- mo pamco — so para que se faça uma ideia em termos comparati“Nenhuma grandeza impede a injúria”, lembrava ainda re- vos — da reação às chamadas reformas de base, que a partir dos

centemente o maior de nossos biógrafos, Luís Viana Filho, no pre- ànos 50 os setores màis progressistas passaram a despertar no Brafácio d. 11 edição de A Vida de Rui Barbosa, um de seus gran- sil. Daí o movimento de contenção de 1864, em sentido oposto,des livros, aparecida em 1987 refreando o radicalismo.

A luta de Rui Barbosa pelo abolicionismo começou na juven- - Excluído do parlamento, em uma manifestação na Bahia,tude. Tinha apenas 19 anos, cursava segundo ano da Faculdade . ocorrida duas semanas antes do 13 de Maio, Rui Barbrosase antede tireito de São Paulo, quando propôs à loja maçónica América, - cipava em comemorar a Abolição. Mas certamente ainda não condaquela cidade, que os seus mêmbros assumissem o compromisso - siderava encerrada “a pugna entre -o ódio e a esperança”. E forade libertar--o—ventre das escravas de que eram proprietários e que - de dúvida o exemplo da firmezae coerência.que nos dá esse jovemesse compronusso ficasse estabelecido como exigência indispensa- jornalista e pohtico que aos 35 anos havia elaborado em 15 dias ovel a aceitação de qualquer novo associado Foi ele ainda um dos magistral parecer sobre a emancipação do elemento servil, em

escoll’idos

para- saudar o mestre mais querido da mocidade estu- 1884, onde estUdou minuciosa- e exaustivamente a questão, des• dantil, José Bonifácio, o Mo9o, que acabara-de deixar o Ministé-- •.. - . truindo todos os -sofismas do escravismo: “Ao mesmo tempo que-- .. rio da. Justiça, na crise de 1868, por -dissentir da orientação do go- os historia, esfarela-os, um a um, atraves o crivo de uma critica

verno imperial no encaminhamento da questão da emancipação do tanto mais severa quanto mais objetiva e afançada*4 Cqmo e sa• elëihento sëiwil. BónifâEció eiilão di hão pa.ssóx:j1ó p fiamëftõ

considerar-s&um veteian. Su& primeira eleição para deputad6 ge- digidb por Rui, relátado por Rui. Dividiu-se a .Cârnara, meio a•ral datava de 1861 Rui Barbosa apenas começava meio, 50 x 50 votos Nesse instante, Dautas tombou da tribuna

A campanha vai durar .20 anos; E Rui Barbosa, ciier na com unia síncope, cimd•e um raio tivesse caído na suarn cabeça.

• prensa, quer no parlamento, na sua tenaz e obstinada caminhada, Dias depois votava-se a moção de desconfiança, apresentada pelo•

• manteve-se semprë na vanguarda, ao lado de Joaquim Nabuco e deputado conservador João Penido;—de Minas Gerais, aceita pela

José do Patrocínio, de Luís Gama e André Rebouças, de Gusmão . insignificahte maioria de 52 a 49 votos. -

Lobo e Joaquim Serra, de Raul Pompéia e Júlio Ribeiro, para ci-- * A Câmara dos Deputados estava em período de apuração detar apenas alguns dos seus expoentes. Sem esquecer, é evidente, eleições e reconhecimento de poderes. Na Bahia, o escravismo e õJoão Clapp, no Rio de Janeiro, à frente da Confederação Aboli- clero se uniram para não reconduzir Rui Barbosa à tribuna pariacionista, José Mariano e seus companheiros do Club do Cupim, mentar. Joaquim Nabuco, considerado tão perigoso quanto o seuno Recife, Antônio Bento e seus caifases, em São Paulo. E, colega da Bahia, teve melhor sorte. Acabou reconhecido e voltaria

meiro entre os primeirãs, José Bonifáciõ, 0MÕço, que por ina1; - à Câmara temporária, tal como aparece na alegoria-de-Angelo—----—como Luís Gama, não participariam do final festivo da campanha Agostini, estampada na Revista Ilustrada, de 13 de junho de 1885,memorável. * ante o horror dos negreiros apavorados, ao mesmo tempo que a

- - democracia, de braços com o deputado pernambucano, vibra umaPara Rui Barbosa, entretanto, a Aboliçao seria apenas o pas- . . .- . chicotada no velho Saraiva, que aceitara a mglória tarefa de reunirso inicial das grandes reformas, que tinham de ser realizadas, seos despojos da caçada escravista com a derrota do seu companheipossivel pela Monarquia, contra ela ou sem ela, se necessario, pela

República. Essas reformas poderiam ser sintetizadas nos seguintes ro an

temas: a liberdade religiosa, a democratização do voto, a desoligar- Saraiva prestou-se a esse triste papel, apresentando o projeto

quização do Senado, a deseifeudação da propriedade, a federa- -

de 12 de maio que passou a ser emendado e remendado ate ser

Page 7: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

- 14

aprovado em agosto irremediavelmente mutilado, sendo afinal retirados, do projeto original, o projtto de Rui, os dispositivos quehaviam desagradado aos escravistas, como por exemplo 1) a obrigatoriedade da declaração da naturalidade ou procedência do liberto, indispensável com relação ao africano que houvesse entradono pais após a Lei de 1831, que proibia o tráfico negreiro, 2) a garantia salarial, onde se falava até numa taxa mínima a ser atribuida aos trabalhadores rurais e industriais — a rigor, a idéia precursofa do salário mínimo, 3) a criaçãâ de colônias agrícolas, comaprendizado profissional e, para coroar esse conjunto de restrições impostas, cúmulo dos cúmulos, 4) .a extensão para 65 anospara os’elhos escravos, inicialménte fixada m 60.

Razão tivera José Bonifácio, o .Moo, ao enfrentar io enado, cará a cara, ‘o opulento senhor-de Pójuca, José Antônio Saraiva, feito piesidente do- Conselho de MinistrOs, dizendo, e redizendo: “V.Ex h de permitir que insista em. afirmar à inconveniên-. -

á”da’

jábiüte’ desde qu é dàn&’ de -

‘fazenda”5.-Saraiva-, o ‘lib’étal, que--havia conduzid6 órsaiiieiitro partido para a vitoria da eleição direta em 1879, transfigura-seagora em 1885 em carrasco. do projeto emancipâcionista. Proprietário de...niin’rõsã...escrüaria,.Saraiva pretendia, como disse Jõa-quim Nabuco, .com, sinistros iátemas-e metáforas canklentes, emdiscurso proferido na Câmara dos Deputados, aterrar “uma crate- -

L:Iaue estava pronta a arrebentar no campo de sangue de Ju-das”.. 6 Do lado ‘adverso, o depútado fluminense Andrade Figueira, incanável escràvista, respohdia que agora é que ia começar defato a luta pela indenização, precisamente no momento ‘em”que omonstruoso projeto era ‘aprovado em terceira discussão por 73 x17 votos.

D. Pedro II poderia, se quisesse, sem arrepio das normasconstitucionais e sem se afastar das regras do regime parlarjientar,ter evitado a crise, sustentando a Dantas, sem recorrer a Saraiva.Mas preferiu agir sem ousadia, cauto e desconfiado. Foi este o erro do Imperador, segundo Joaquim Nabuco, em folheto famoso,pela reprimenda ao monarca que se vangloriava do seu espírito liberal e sobretudo de colocar-se acima dos partidos. O jovem Nabuco fora incisivo sem exceder-se, respeitoso e reverente.’

Cumprida a ingrata missão, Saraiva demitiu-se. Para o seu lugar o Imperador convocou o barão de Cotei ipe, o mais hábil par-

lamentar das hostes conservadoras, rijo e empedernido escravocrata, que chamava os abolicionistas de comunistas. Com toda a suavivência política, já pressentia o arguto dor’pela Ba.a o crepúsculo da monarquia e logo a seguir os primeiros sinais de alvo•r-ada republicana. Por entre manifestações de hilaridade e exclamações de espanto — oh! oh! oh! —, como registram os anaisparlamentares, o chefe dos conservadores comparece à Câmaratemporária para expor o seu programa, que poderia ser resumidona antítese esboçada por Rui Barbosa, na estratégia do governoimperial, que consistia em tranqüilizar os fazendeiros e inquietar opais.

A Câmara que se orgamzara então era maciçamente escravis: .

, ta, limpa de abolicionistas é dehereges No Senado, prosseguiriam- a luta José Bonifácie, Silveira Martins eFrancisco Otaviano. Mas

- -‘ . - •‘, 0 Andrada, “loira fisionomia de nazareno”, não tarda a desapare• cti da cena:política, pois’ faleceu’z! Cotej.ipe e.a

frente do gabinete por dois anos e meio E e ubstitmdo por outro- .

- conservador, Jõãô Alfrdo, este dê Pernambuco, o líder taciturno

:

-

, ,

-

- mem que pará tudo tinha saída, na frase do espirituoso Ferreira- Viana Conservador, haviâ pouco convertido ao abolicionismo,

j .

era politico. ideal para promover sem demora e sem condições a- - ‘ -‘. , -‘

- libertaçãodos escravos. O nome fora aceito áom geral satisfação,

-

mesmo entre os militares, como o general Deodoro da Fonseca eo visconde de Pelotas, signatários do Manifesto ao Parlamento e àNação, no qual o Exército se nega a capturar os negros fugidos

• 4 das fazendas, no movimento que cresce - asústadõramente aosolhos do ecravismo.

Ï De fato, a abolição imediata e sem indenização não tardaria aser aprovada, por grande maioria, com apenas sete votos cóntrários, entre estes o do indomável Andrade Figueira. No mesmo diaem que foi aprovada, a lei, por entre as ovações popiliares à Ptincesa Regente, que aparecera numa das janelas do Paço Imperial,em meio à euforia reinante, já se falava na queima dos arquivos,para que não ficasse na lembrança do povo a iniqüidade de trêsséculos de éscravidão. Ingênua suposição, ilusão passageira, fugazesperança. -

Com aquela admirável percepção do que significaria para ofuturo essa decisão, acompanhada de todas as conseqüências dela

15

8

Page 8: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

decorrentes, o observador sempre atento e sagaz da vida brasileira,que tudo via com o seu olho implacável, que se chamou Machadode Assis, deixou bem claro no seu derradeiro romance um comentário de um dos seus pérsonagens, o Cinselheiró Aires, que consistia numa advertência acerca do que começava a ser murmuradoe questionado: a queima dos arquivos, relacionando-a evidentemente à grita dos fazendeiros a favor da indenização. “Emboraqueimemos todas as leis, decretos e avisos, não poderemos acabarcom os atos particulares, escrituras e inventários, nem apagar ainstituição da história, até da poesia”.9

O que sucedeu depois do 13 de Maio — o projeto Coelho Rodrigues, o projeto Cotejipe, o projeto João Alfredo e tudo o mais—. pode resumir.. o que foi a avalanche indenizacionista.(.palavrafeia para uma idéia igualmente feia>. Em maio de 1888 surgiramas soluções para a crise da lavoura, primeiro, a importação dos-

frbalhadores chineses, os çhamados coolies, revivescência deum• projeto de 1879 e que era na verdade unia tentativa de contihuarcom asiaticos a escravidão africana O mais grave, no entanto,consistia na retomada da sediça tese da mdeiiização, atraves de

pareiamjá de todo afastadas: a indenização Cotejipe e .a indenizaçãó JoãoAlfredo, formulas que voltavam à tõha ifara acudir as urgentes necëssidadés da lavoura, nos terinõs de urna antiga proposição do in--.defectível Andrade Figueira, proposta. esta com modificações docompetènte advogado e eminente jurisconsulto conselheiro Lafa-

yette

Rodrigues Pereira.1°.

.

O presidente do Conselho de Ministros, João Alfredo, quehavia tornado itoriosa a abolição imediata e sem condições, deramarcha à ré, apresentando um projeto lido na sessão de 22 de junho de 1888 da Câmara dos Deputados, propondo a fundação emdiversos pontos do país de bancos cuja finalidade era emprestaraos ex-proprietarios, com hipotecas das suas terras, os meios derestabelecerem o equilíbrio do trabalho, que ëntendia ter sido perturbado pela Lei de 13 de Maio Em A Vida de Joaquim Nabuco,

Carolina

Nabuço traça um quadro preciso do momento adiantando: “O projeto dos bancos de crédito real foi finalmente aprovadopela Câmara, nos últimos dias da sessão legislativa, mas não setransformou em lei porque, ao abrir-se o Parlamento, em 1889, oclima se adensara. O ministério [João Alfredo] tinha seus diascontados, suas últimas horas obscurecidas por uma atmosfera de

censura, em penoso contraste com o prestígio que o elevara parafazer a abolição e.o conservou no poder por mais de uniano.”

Veio ‘a nova situação com á mudança dos conservadores peloslibrais e a ascensão do gabinete sob a presidência do visconde deOuro Preto. João Alfredo saira mareado, com o escândalo dos ir-mâos LÓios, banqúeiros prestigiosos ho Recife, acusados de favo-,recimento aos oligarcas de Pernambuco. Ouro Preto, malgrado asua galhardia e fidelidade ao Imperador, não teve força para deter

•a maré montante republicana. A aliança dos militares, o fortalecimento da Confederação Abolicionista e a prssâo dos que defendiam o pagamento da indenização aos ex-proprietários de escravos

• anulavam todos os esforços dos-liberais para deter a arrancadasevera e habilmente articulada. O clima de exaltação só arrefece

• com o inespérado golpe- de 15 de Novembro, aque o povo assisteimpotente e “bestializado”, conforme a curiosa expressão de umdos fanáticos da nova ordem, o jornalista Aristides Lobo’2 :..

,:

RuiBarbosa no MlnastenG da Fazenda, contrariando a classe agrana

inconformada e hostil, que recomeça ser debatida a. questãoadormecida da indenização, núm movifflento, que se ‘oluma demodo inquietante. Quem •s ãoloca à frente da campanha é umcombativo republicano histórico, com fortes ligações junto aos mi-

• litares, Antriso Fialho autor dç um livro cujo titulo é bastantesignificativo, embora o conteúdo não corresponda exatamente aopropósito do publicista: História da fundação da república noBrasil13.O certo é que Fialho havia conseguido agrupar, .porasjm

dizer,

o primeiro Iobby — não importa que a expressão tenha sidoimportada posteriorniente —. rio sentido de pressionar dirigentespolíticos, civis ‘e militarcâ e agitar a opinião pública. A soluçãonão era nova, limitava-se repetir a proposta João Alfredo.

Ministro da Fazendã, Rui Barbosa não vacilou. Indeferiu orequerimento. E o que maia irritou os “aristocratas mendicantes”seriã o tom do despachd, lembrado por Eduardo Silva, neste documentârio, que marcou çomo ferro em brasa a cupidez dos “indenizistas”: “Mais justo seria, e melhor consultaria o sentimento

-- nacional, se se pudesse descobrir meio de indenizar os ex-escravos,

não onerando o Tesouro”. Era este, .em última instância, o pensamento generalizado dos mais puros e sinceros abolicionistas, genteda fibra ‘de um Nabuco, Rebouças, Patrocínio, e de todos quantos

3’

161,7

Page 9: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

18 19

se bateram pela causa, desde Luís Gama e Júlio Ribeiro, RaulPompêia e Antônio Bento João Clapp, José Mariano e tantos outros. Ante a investida dos que advogavam a indenização, num momento ainda confuso e indefinido para a sorte da República,quando ainda nem sequer havia sido aprovado o. projeto da novaConstituição, Rui Barbosa tomou uma atitude radical e temerárialeliminar os comprovantes fiscais que existiam no Ministério da Fazenda que poderiam ser utilizados para o insidioso pleito da indenização.

Esta foi a estratégia para impedir o prosseguimento da odiosacampanha, matando-a no nascédouro. E diga-se abem’:da verdadeque a medida foi acólhida com entusiasmo pelos setores progressistas, desde os veteranos militantes do Club do Cupim aos “caifases”, João Clapp. e .os....ardor.osos..partidários da ConfederaçãoAlolicionista do Rio de Janeiró. Na Assembléia Constituinte, oapoio, foi maçiço, ao .todo 82, entre deputados esenadores,.haven-.’..’.do aptnas um voto contrário, o do mineiro Francisco Badaro, an‘figo cohervador. O historiadór não pode nem deve alhear-se do

‘:1ima’:

da’:pa ‘i’ uit”m i’ü ciás 4ü dêëi’m .:“ :‘: ‘:::‘:.

episódio, para que possa avaliar o ato de Rui Barbosa e seus ‘des‘dobramentos. Foi precisamente a incompreensão desse clima e afalta de sensibilidade para aceitá-lo que certamente escaparam aosque condenaram tão veementemente a decisão do Ministro da Fazenda de 1890-1891.

Infelizmente, e este é oulro ponto relevante a ser considerado,-.--.Rui Barbosa teve de afastar-se do governo, com a demissão coletiva do Ministérid sob a presidência do marechal Deodoro da Fonseca. O substituto, Alencar Araripe, tornaria as medidas complementares.

No que se refere á execução desses atos e sua extensão em todo o país, torna-se impossivel’-verjfjcar os danos. Quantos do:’cumentos foram de fato incinerados? Falta uma avaliação precisa,mesmo em dados aproximativos; não se fez ainda a respeito umestudo sério, em profundidade. Parece que não foram muitos osautos de incineração, como os que repercutiram na imprensa, noRio de Janeiro, em 1892, e na Bahia, em 1893. A máquina da administração pública — todos sabemos — não prima pela eficiencia: é emperrada e preguiçosa. Uma vez acionada, nem semprefunciona com eficácia. Por isso mesmo, não houve perda substan

cial dos papéis da escràvidão! o1.riqdo que disseram NinaRodrigues e Gilberto Freyre!i3raças a 13 us há muita coisa a serpesquisada nos arquivos e nos órios, em documentos ‘que precisam ser protegidos da poeira e. dos insetos e também postos aséivo do fogo, já que se encontram instalados em condições precaríssimas: as repartições são inadequadas, mal-arejadas e maFequipadas, sem que se observem as normas mais elementares deorganização de trabalho e de segurança ambiental. Só recentemente é que os governos —- da 1.Jhião, dos Estados e dos Municípios— despertaram para o problema crucial de conservação dos arquivos. Realizaram-se congressos e simpósios de arquivologia.. Mas averdade é que a formação de proijssionais para que se possa enfrentar decisivamente o problema deixa’ainda muito a desejar,. .Oque fizemos até agora está muitQ aquém das nossas necessidades.Nem a profissão de arquivista, há’ poüco regulanlentada,’ conquistou o status.. a que já atingiu,.. por.exernplo,. neáte. país, o de hibiiG’.’

“‘‘‘‘‘““‘&io: ::“

.

De qualquer modo, e importante instsUr no objUvo determiná’it& .d’’:’ãtÕ:ã:r tÕ O d€.Rui”Batbósa; “como’:do’ seu ‘sucessorAlencar Araripe, que era o de eliminar’ o- compróvante fiscal ‘dapropriedade’.-servil;’para “assim evitar, como salientamos, a situaçãode fato, ‘sempre. questiónada na ‘épocã,’nï’ torrc ria--propriedade

do

escravo, desde que a entrada dos africanos. foia coniderada ‘

-— -«—

‘—‘ ilegal pela Lei de 7 de novembro de 1831, assinada por Diogo Antônio Feijó,.ministro da Justiça, declarando livres todos .os escravos vindos de fora do Império e impondo penas aos importadoresdos mesmos escravos. Lei que, seguida do Decreto de 12 de abrilde 1832 e assinado ainda por Feijó, regulamentou a anterior sobreo tráfico de africanos.

E, agora, vejamos o que aconteceu depois. No fim da República Velha,-foi desapropriada a-mansão da-Rua SAoC1emente em.que Rui Barbosa morou de 1895.a 1923. Com o palacete, o governo do presidente Wãshiii’gtôri’Luis”adquiriu a biblioteca e os papéis do estadista. A biblioteca, com mais de 30.000 volumes, eradas maiores coleções particulares existentes no país. E o arquivocontinha documentos preciosos da vida de um homem que haviaparticipado intensamente da põlítica, no Império e na República.

Com a Revolução de 1930 registrou-se um hiato até que foireajustada a máquina da administração pública e aprovada a nova

Page 10: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

20 21

Constituição. Assim é que somente ao final da década, já no os grandiosos palácios dos primeiros tempos do floréscimento fioperiodo discricionario, o Mimsterio da Educação e Saúde então rentino segundo a opinião de um mestre, como Germain Bazin, erecem-criado pode voltar-se para o que ficou sendo denominada qije datava de, 1707, acabava, de. ser demolida tomo, uín trambolhoCasa de Rui Barbosa Assumiu o ministeno, em meados de 1934, .i arquitetômcoGustavo Capanema, um político de Minas, doublé de intelectual, •

cujo programa dava enfase muito especial aos problemas da A derrubada da Se não seria, porem, o ultimo dos atos dera. Daí, o extraordinário impulso à defesa do patrimonio histórico vandalismo urbamstico praticados no Brasil, depois da Revoluçãoe artístico nacional e ao Instituto Nacional do Livro, inicialmente de 1930. No Rio de Janeiro, coincidrndo com a propna criação doInstituto Cairu. Seus principais assessores nesse campo, a bem di- DPHAN, nao tardaria a ser demolido o edificio construido parazer abandonado, constituiam um grupo de primeira ordem, origi- ser a sede da Academia de Belas Artes, no tempo do rei Domnano do movimento renovador da literatura brasileira Rcidngo João VI, e que abrigava desde 1814 o Tesouro Nacional EstávaM. F. de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Mário de mos no apogeu do Estado Novo e por ocasiao da abertura dadrade, Augusto Meyer, Luis Camilo didiiveira, neto, entre ou- Avenida Presidente Vargas o prefeito Henrique Dodsworth (1937-tros :.

-

1945) mandou destruir. nada menos que tres igrejas e mutilou em- -. -

Para a direção da Casa de Rui Barbosa designoi.iCapanema- ‘.

boa parte o Campo de. Sant’Ana. Uma dessas igrejas, ade Sãoum jovem professor de História, Amenco Jacobina Lacombe, que Pedro dos Clengos, era exemplar unico do barroco carioca, pelaa partir de 1939 se dedicaria de modo exemplar a conservação e singularidade da forma circular da sua fachada, com zimbor.io, adivulgação do precioso legado Aleni dos livros, guardados c maneira de certas igrejas romanas, tal como a descreveu Gastãocarinho, havia os documentos — estes resumem toda a historia da Cruls, grande escritor e historiador do Rio de Janeiro, amoroso daepoca, a começar pela campanha da reforma cio ensino, áluta pe- sua cidade, que viu com tristeza o desaparecimento do templot4la abolição da escravatura, a queda do Imperio, a implantação da Toda essa historia daria um libelo-memoria no estilo que esRepublica e tudo que viria depois, com as duas candidaturas presi- creveu Fernando da Rocha Peres, no seu Memona da Se15, e que —

denciais, a de 1909, que gerou a campanha civilista, e a de 1919, bem poderia começar com este depoimento do Rodngo Meioque abriu no Brasil o debate sobre a questão soda! e as mudanças . Franco de Andrade: . -

políticas. Lacombe soube desempenhar a tarefá. E com o tempo.revelou-se grande servidor público pela competência, pontualidade, discrição e amor ao trabalho.

. -

Foi instante singular em nossa vida cultural. Rodrigo MeioFranco de Andrade desempenharia um papel decisivo, na defesa donosso patrimônio histórico e artístico, organizando o DPHAN,que constituiria a mais benemérita das siglas que se espalharam

-

- -p país, -algumas;-aliás de -triste-memória. Não a do’DPHAN;esta, sim, representa algo da maior relevância, ou graças à extraordináiia presença de Rodrigo e seus companheiros todos impregnados do mesmo espírito de luta e participação. Ao empossar-se no ministério, em 1934, como dissemos, Capanema encontraraum ambiente extremamente contaminado por uma noção distorcida do progresso maferial. Tome-se um exemplo bastante significativo do que então ocorria: a demolição da velha -Sé de Salvador,Bahia. A igreja colonial, que recordava como estilo e concepção

—4

.4

- “Excluindo-se menção de fatos remotos e restringindosewrecordação a atentados cujos objetivos utiljtários se verificaram irri-soriamente inúteis, podem ser apontados os sequintes:

Na Bahia, demoliu-se a veneranda Sé, na cidade do Salvador,sob a alegação de necessidades urbanísticas .impostergáveis, queacabaram consistindo na ampliação de um logradouro já devastissimas proporções, sem vantagem ponderável para o trânsitono local. Excetuando-se as imagens, fragmentos de retábulos eu-tras peças recolhidas à igreja dos jesuítas, que se converteu em catedral, perderam-se os preciosos lavores de liós das portadas, oudos altares de pedras policromadas e tudo mais.

Decorridos poucos anos apenas da consumação, na Bahia, doinútil extermínio da Sé veneranda, os agentes do poder público tomarama iniciativa da destruição, na cidade do Rio de Janeiro, deoutro monumento excepcional pelo valor histórico e arquitetônico,— o edificio construído para sede da Academia Imperial de Belas

Page 11: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

2223

Artes sob projeto de Grandjean de Montigny e que, ampliado, se . Mas o depoimento não termina ai. há, mais. O episódio daconvertera no Mimsterio da Fazenda Alegava-se haver necessida- construção da Avenida Presidente Vargas e ainda mais chocantede urgente de construir nova sede para o aludido ministério, cujos “No Rio de Janeiro, ainda, já depois de vigente a legislaçãoserviços e instalações não mais se compatibilizavam, de modo ai- destmada a proteger os monumentos nacionais e apesar de se hagum, com a velha edificação. Sustentou-se então veementemente 1 ver sugerido um traçado substitutivo que pouparia o sacrifício doque não se poderia poupar a obra de arquitetura delineada pelo,, patrimônib histórico do país, mutilou-se o parque traçado porgrande mestre da Missão Artística Francesa de 1816, pois o único“ Glaziou no campo de Sant’Ana (no trecho de arvoredo mais fronterreno adequado à localização do indispensável palácio novo do doso) e derrubaram-se barbaramente as igrejas de São Domingos,Tesouro Nacional seria o que.a.velha Academ’ia ocupava. Em vão Bom Jesus do Calvário e São Pedro. Foi asaím, de fato, pela sim-se objetou que a Construção condenada devia ser mantida e, ainda pies e obstinada preocupação de pôr-se o eixo da nova Avenidaà última hora, a Sociedade de Geografia representou ao chefe de - Presidente Vargas em rigoroso alinhameiito com a Avçnida do•Estado no sentido de cedê-la a mesma instituição Tudo em pura Mangue, que se obteve do Presidente da Repubhca cancelar a insperda A teniativa de salvação não contribuiu senão para o efeito crição daqueles monumentos nos Livros do Tombo, despojando-de acelerar as providências destinadas à ëfeiivação do arrasamen- “

. nos, feita abstração dos outros, da jóia singular .da...nossa .arquite-to, mal petmitindo que o Serviço do Patrimônio Artistico, recem- tura sacra, que era a igreja de São Pedro, onde estavam sepulta-criado, negociasse com a firma empreiteira da demolição a compra dos o padre Jose MauricLo, o poeta Silva..Alvarenga e os historiados elementos que compunham o nobulissamo portico desenhador dores do Rio de Janeiro Luis Gonçalves dos Santos (o Padre Perepor Grandjean e” énriquecido de escultúras .em terra-cota pelos ir- . •. .

‘ reca)e Monsenhor izarro e Araú3.11 .ms Ferrez Entretanto,, posta abaixo, em ratm acelerado a um.-Construiu-se então um novo edifício monumental para o Miponefite edificação, os responsáveis’passaram a considerar que o

.

. nistério da Fazenda na Esplanada. do Castelo em estilo, anglo-lugar çra, afinal dë ,contas, impróprio para a nova sede ‘do Minis-. francês, pastiche’de-palcioseuropeus.:’ O •ministro da Fazenda,tçrioda Fazenda e dicidiram levanta-lo muito longe dali, na Espia-- ‘

.: . Artur de Sonsa Costa, todo-poderoso que ocupou apastade 1934nada do Castelo, sem se dignarem dar desculpa alguma pela inuti-até a deposição de Vargas em 1945, fi inflexivel, sin atehder ‘osludade revoltante da destruiçao. Mais tarde, com despesa aprecia-apeluè-t.ààebeu ‘de intelecfuais’ como Õtávio Tarqüinio de Souvel e muatissimo trabalho, logrou-se reconstituir portico da Aca-

,.‘, “

sa, ministro do Tribunal de Contas e futuro historiador dos fundernia, no eixo de uma das alamedas de palmeiras imperiais, nodadores do Império. Intercedeu junto ao ministro. Este atendeu orecinto do Jardim Botanico O local, porem, onde se erguia o mo-telefonema, surpreendido E respondeu com petrea msensibilidadenumento historico, continua ate hoje terreno baldio, utilizado a

. . -princípio para estacionamento de automóveis e, atualmente, para — Até você, Tarqüínio, interessado na conservaçao daquele- não sei que modalidade de comércio, a funcionar em barracos im- estafermo!

provisados.”16Um quadro da verdadeira razia que caiu sobre a memona na-

f

A • Á O Á . A t • • ,..‘ cional encontra-se num dos livros mais.apaixoruantes publicados a.uepOimentO ue i.Ourigo e ue j-ois uem, ate oje

. . . • . . •

ai(1988) nada se construiu no local. Nesse caso revoltante da demo- respeito: o de Franklm de Oliveira, Morte da Memória Nacion• lição da Academia Imperial de teias rtes há a considerar por fim 1967

a operação que motivaram as despesas (primeiras) do governo fe- A evasão de documentos que a mudança da instalação do Mideral (Ministério da Fazenda) com a demolição do imóvel e a ope- nistêrio da antiga Academia Imperial de Belas Artes para o luxuo

- ração posterior com novas (ou segundas) despesas dó mesmo go- so edifício da Esplanada do Castelo representou sem duvida umverno federal (Ministério da Educação), readquirindo do mesmo dos maiores desastres em toda essa triste história da conservaçao

- demolidor ou demolidores pedaços do majestoso pórtico para pro- dos arquivos brasileiros. Perdeu-se muito mais do que com a mci-ceder a sua reconstituição no Jardim Botânico, onde se encontra. neração das matrículas de escravos ordenada por Rui Barbosa e

Page 12: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

24 25

Alencar Araripe. Grande parte de livros alfandegários, importação cracia rural constituída pelos ex-proprietários de escravos, incon--e exportação de mercadorias, levou-se de roldão: foi para o lixo formados com a abolição imediata e sem indenização.

nessa mudança. Ficou como lembrança o pórtico do antigo Minis- Não temõs dúvida, a qúerelã sobre a qúeíma dos arquivosteno da Fazenda, onde servira Rui Barbosa como membro não vai terminar cqjn a publicação deste documentário, que nãoconspicuo do governo provisorio do Marechal Deodoro, que para terá força para cofocar uma pá de cal na sepultura de um assuntoas novas gerações se levanta numa das mais belas alamedas do polêmico e tão explorado pela demagogia. Que a história da escraJardim Botanico, como uma pungente advertencia para .todos nos: vidão continua a ser escrita, basta lembrar algumas das valiosasde que o presente e o futuro de uma naçao estão intimarnente liga- contribuições aparecidas nos últimos anos, como as de Suely Rodos ao passado e do passado dependem. bles de Queirós, Mircea Buescu, Manuela Carneiro -da Cunha,Esta, a lição de Rui Barbosa. Eduardo Silva, Robert E. Conrad, Robert Sienes e last but notPreocupado com o programa de reformas que delineara na least o livro de Mãr3r C. Karash, Slave life in Rio de Janefro,

mocidade — ‘que começaria precisamente com a abolição da escra- -

1808-1850, talvez de’ todos o mais importante. Impossivel—--—vatura —, Rui Barbosa formara na corrente mais avançada do enumerá-las, sem o risco de omissões imperdoáveis. Essa nova seaPartido Liberal. Recusara-se aintegrar o gabinete Ouro Preto ‘por ra- junta-se ás obr.. clássicas de ,Perdigão Malhèiro, - Osóriosua posição inflexível em defesa do princípio dofederalismo. È na ‘Duque-Estrada (com excelente prefácio-de Rui- .Barbosa),.Evaristo’sua campanha pelo Diário de Notícias que se intituloi.r ‘queda do , de Moraes e Joaquim Nabuco, que se somam aos precursõres doImperio” acabou tornando-se republicano.. Corno ministro da Fa- porte de Antomi, Benci, Manuel Ribeiro da Rocha.,zenda do novo regime e principal autor da Constitunção de 1891, — Comø Loordenador deste documentário, quero agradecer adesempenharia, alem do mais, o papel de impulsionador do pro- olboração dos meus companheiros da Fundação Casa de Ruicesso de modernização da economia brasileira Em lucido ensaio, Baxbosa, sobretudo a paciência e o devotamento de Anita Fauher etalvez a mais inteligente analise e interpretação dos catorze meses Elizabeth Fonseca, competentes datilografas Não posso deixar deem que.esteve no ministério, logo apÓs o 15 de Noveriibro, san -

testemunhar o interesse do ministro Paulo Brossard, que-pronta-• Tiago Dantas evoca a atuação do jurista e do político como sendo•-- • ••

- mênte mandou executar o projeto logo que dele teve conhecimeno ideólogo de uma mudança já’ pressentida., embora difusamente, to. A diretora-geral do Departamento de Imprensa Nacional, se-nos últimos decênios da Monarquia. Rui pàWé experimentá-la, - ‘ •

nhora Dinorá Moraes -Ferreira, desvelou-se em atenções, e pude-• niesmcl porque, observa San Tiago Dantas, nesse ensaio, intitulado -

mos assim, num mutirão cívico, conduzir a bom-termo o nosso“Rui Barbosa e a renovação da sociedade”, era um político desli- • projeto.gado de “vínculos com os interesses criados, com os privilégios -

econômicos dos grandes proprietários, ou compromissos estrangei- ‘ FRANCISCO DE ASSIS BARBOSAros de que se alimentara a monarquia”.’9 Fundação Càsa de Rui Barbosa

Teria assim condiõEés, ë&mô não ‘otWerá nénhúm’ óútronii” --_ — -

Centro-de Pesquisasnistro que na Monarquia ocupara a pasta das Finanças, para en-

Diretorfrentar com vigor e competência, como de fato o fez, “os dois gigantes da indenização”20 — a expressão é de Joaquim Nabuco —

que se levantaram logo após a vitória de 13 de maio. Se a ofensivareacionária teve início na Monarquia, a reivindicação da poderosaclasse agrária reaparece com maior virulência nos anos iniciais daRepública, ainda não de todõ consolidada, como uma ameaça dedesestabilizar o regime combatido pelos saudosistas e pela aristo

Page 13: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

-

_________

27

NO

TA

S

1.O

brasC

ompletas

dcR

uiB

arbosá.V

ol.X

III,1886.

Tom

oII,

p.288.

2.V

IAN

AF

ILH

O,

Lúis.

AV

idada

Rui

B.aifiósa.

1l

ed.,R

iOde

Janeiro,E

ditoraN

ovaF

ronteira,1987,

p.36.

3.O

brasC

ompletas

deR

uiB

arbosa.V

ol.X

V,

1888.T

omo

1,p.

140.

4.O

brasC

ompletas

deR

uiB

arbosa.V

ol.X

I,1884.

Tom

o1,

pp

.49

esegs.

Ain

trodu

çãoé

da

autoriado

escritorA

strojildoP

ereira,um

vigorosoe

definitivoensaio.

5.H

OL

AN

DA

,S

érgioB

uarquede.

OB

rasilM

onárquico.D

oIm

périoà

República.

São

Pau

lo,

Difusão

Européia

doL

ivro,V

ol.V

,1972,

p.213.

6.N

AB

UC

O,

Carolina.

AV

idade

JoaquimN

abuco.2

cd.,S

ãoP

aulo,C

ompanhia

Editora

Nacional,

1929,pp.

186-187.

7.A

olado

dëum

trechoem

queo

escritor,um

tantopedante

eirrefletidam

entedeclarava

nãoser

“desafetopessoal

doIm

perád

or”,

te

escreveu:“C

reion

to.

Sem

pretive

sim-

pau

apelo

Nabuco

Viana

Filho

L.uis

AV

idade

JoaquimN

a,uco

p144

8.V

IAN

AF

ILH

O,

-Luis.

AV

idade

Rui

Barbosa,

op.. cit.,, p.196.

9.M

emorial

deA

ires.1888,

p.53.

-..

,-

NA

BU

CO

,C

arolin

a,op.

cit.,p.. 236.

.:

--

11N

AB

UC

OC

arolinaop

cilp

237

•:

-12:C

AR

VA

LH

O,Jo

stMntilo

sl7

....,

LI-F

IAL

HO

Anfnso

História

da

Fundação

dalepubbca

io$

raiI

1891

14C

RU

LS

Gastão

Aparencia

doR

iode

Janeiro1965

15.P

ER

ES

,ern

and

oda

Rocha.

MenióriadaS

é,1974.

..

-:

16.-Aulapro

tetidaø

.lnstitu

t.o.G

uaru

já-Beo

ga,

em29

denovem

brode

1961..C

ópia

da--.

..-

tilografaciaexistente

noarquivo

doS

PI-tA

NIP

rÕ-M

emória.

.....

-17.

CR

UL

S,

Gastão,

op.cit.

.

-1.

OL

IVE

IRA

,F

ranklinde

Morte

daM

eniÓria-N

acional;1967.

19.D

AN

TA

S,

San

Tiago.

Dois

Mom

entosde

Rui

Barbosa.

20.. NA

BU

CO

,C

arolina,op.

cit.,,.p.-236.

AN

NO

15C

AP

ITA

LF

ED

ER

AL

,1890.

—-.

7-

N’609

1

‘O

?UBLICA

DA

PORA

NG

ELOA

GO

STINI.

—.E

ST

A,.,

sn,n

,-ag

a.00oA

cv

rr.spo

nd

eeç

ero

vIam

açoes

devemte

rdirig

idas

50

*00

0

LT

rne

.5

10

Qr)

AR

ussi

GO

NÇA

LY(S

Oi*s.

N5

0.S

ou

swo

-

,jm

e1

OO

O

-IT

rl

111::

..

4;

j.iq

fl‘,--

jiAR

,;

1t,’

«‘1

0•,)

II’,,s

‘m

vJI,

ri,,i,’

,a‘/1

0,!

/,flie

11IL

J-ie

o°vl.J

o,

!‘°

,,$.t

vv”O

tv

.t(

Page 14: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

x‘

.L..

G.A

...C

.C

l...

-G

L

DIS

PO

SIÇ

ÕE

SD

IVE

RS

ÂS

4üi

(‘1

44

O)W

it

§13.0

So

pro

hib

das

asda

sas

ouescri

pto

rid.

s—9

-

com

pra

eve

nda

deés

crav

os.

44

1.

4p

c..

)i

Pen

ade

5:00

0$,

dupl

on

asre

incf

denc

’ias

...

Opro

cess

ose

ráodo

art.

12

,7°

doC

od.

do/

..

§j4

•0

Ogo

vern

oes

tabe

lece

ráco

toni

asag

rico

las,

par

aos

1ib

etos

que

no

sepu

dere

mem

pre

gar

emes

-:ôir

it

t

tabe

teci

men

tos

eca

sos

par

ticu

lare

sN

esta

spo

deré

ota

mbe

mse

rad

mit

tido

sO

Sln

ge’,

c..L

j...i.-

-c.

__

nu

os

deq

ue

trat

aale

lde

28de

sete

mbr

ode

1871

15.°

Nos

regula

men

tos

das

colo

nlas

deli

bert

osse

esta

bele

cera

ore

gr4s

par

aa

conv

ers5

ogra

dual

dofo

-re

lro

oure

ndei

rodo

Est

ado

empr

opri

etar

lodo

slo

tei

dete

rra

que

utll

1saz

ati

tulo

dear

rendam

ento

.

Avu

lso

daC

amar

ado

sD

eput

ados

com

opr

ojet

oD

anta

sde

eman

cipa

çlo!

do

elem

ento

serv

ilco

mem

enda

sdo

punho

deR

uiB

arbo

pa.

Opr

ojet

odc

1884

daau

tori

ado

próp

rio

Rui

ikrq

mvo

hist

óric

oda

1

:DE

SPAl

lODE

RUY

BÁRB

OSA

--

a.um

req

uer

imen

toqu

elh

e54

d144dc

epre

eent

addo

umpr

ajec

tocu

pai

..qu

eoreli

.4

par

e

efu

nd

eçeo

deum

bane

.eo

oer

r.p

do

deÍn

deu

mIr

qe

x.p

eter

lade

.e.r

eeae

auee

ueheM

etr

.e.

de.

»rj

uIa

o.

ceu.a

4oe

pela

lei

deiS

dem

eio

deZ

ese.

dedu

.ldoe

60e

dese

uvelç

rem

favor

(E)

dare

pubi

lua,

deu

oS

rm

iole

ira

defa

eeed

ao

..g

uIo

iidq

qpec

bo

Mai

sju

sto

seri

ae

sho

rse

isu

1L

aria

.o

sent

imen

tona

cion

si

sese

pude

sse

deso

obti

rm

eio

deia

dem

mla

ros

ex.e

eora

vos

nAo

one.

rando

oth

e.o

uo

—1

nd

eter

ido

--U

dN

cw

.mbro

do1

89

0...

(0ffr

coCo

nfode

rQçê.

cbo

licio

nit)

Dip

lom

aco

nfer

ido

pela

Con

fede

raçA

oA

boU

ciom

sla

aR

uiB

arbo

saco

mo

1esp

acho

dene

gató

rio

deum

apr

opos

tapa

ra:

fund

aAo

deum

banc

ode

stin

ado

aIn

deni

zar

osex

prop

riet

ário

sde

escr

avos

§12

.°O

gove

rno,

nore

gula

men

toqu

eex

ped

irpar

aex

ecuç

áode

sta

iel,

clas

sifi

cará

osde

liet

ose

Infr

acçõ

espe

cúli

ares

âsre

laçõ

esen

tre

patr

oe

oper

arlo

,po

dea-

.do

Impo

rm

ult

asat

é;20

0$00

0e

pris

aoat

é60

dia

s.N

om

esm

ore

gulá

met

ito

sees

tabe

lece

ráa

com

pe-:

tenda

eo

proc

esso

,qu

ese

rásu

mm

arls

slm

o.

02

<tjZ

Ç

Page 15: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Trazendo de novo ao Parlamento o seu legitimo deputado do 1?e 5 distritos (Joaquim Nabuco), a briosa Provincia dePernambuco dá uma tremenda lição aos negreiros da Câxnas-a,representados pelo seu chefe (José Antônio Saraiva). A esquerdade Nabuco, o conselheiro Dantas, presidente do gabinetederrotado, curva-se reverente. Desenho de Angelo Agostini naRevista Ilustrada de 13 de junho de 1885. Biblioteca PlinioDoyle, incorporada à Fundação Casa de Rui Barbosa..

Page 16: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Pedra de escândalo

Américo Jacobina Lacombe

1

A queima de arquivos da escravidão há de ser sempre umapedra de escândalo em nossa história cultural. Este espetáculo in

• quisi€orial restaurãdo em plena fase de construção da democracia’republicana.proyoca infalivelmente, .por parte dos quç, o mencio.nam, os mais justos protestos; Fora da crise .Iíriàa gerada pelos..ar

• ranques finais é apoteótiços dó abolicionismo, ninguém hôje, ra

• ciocinando friamente, consegue compreender tão esdrúxula’ medida Como professor de Histona, sou, por dever de oficio, forçado acondená-lo todos os anos, e aponta-1G como exemplo do desvar.to —

a que pode tçvar a paixão, mesmo inspirada nos mais puros sentimentos, omb a que animou a campanha pela libertação dos. es-

•..

cravos. Está visto, pois, qüe não yjríamos..oferecer áorno uma, espécie. de advocatus’ diavoli perante a deusa Clio, defendendo ‘a destruição dos documentos históricos: Pretendemos apenas estranharque tão espantosa obnubilação do pënsamento nacional seja sempre ‘atribuida à conta.de um só responsável. Preliminarmente é necessário precisâr exatamente a acusaçãó.

A primeira, referência ao episódio encontramo-la em Nina•Rodrigues, Africanos no Brasil’. Fala entãõ o grande mestre maianhense em decreto, que ordenando. a destruiçã&dos papéis da escravidão cometera uma “piedosa, mas ingênua, mentira histórica”. Em nota marginal,’ porém, assinala o mestre a sua fonte:“Circular do Ministério da Fazenda,. n? 29, de 13 de maio de1891, mandando queimar os arquivos da escravidão”. As conseqüências desse ato, comenta ainda Niiia Rodrigues, foram “a destruição englobada de todos os documentos relãtivos à imigraçãoda raça negra que deviam existir nas repartições aduaneiras. Pelomenos na Alfândega deste Estado não existe mais nenhum”.

Note-se que Nina Rodrigues não indica o responsável pela ordem referida. E não poderia indicar Rui Barbosà porque toda gen

Page 17: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

34 35

te sabe que, a 13 de maio de 1891, Rui Barbosa não era mais oministro da- Fazenda, já que o gabinete e

,de novembro

demitiu-se com a aprovação da Constituição a 17 de janeiro de1891. Dessa indicação passou a figurar esse fato em quase todos

-- os trabalhos modernos sobre o assunto.

Na primeira edição de Casa Grande e Senzala2 já aparece aqueima atribuida ao “eminente baiano conselheiro Rui Barbosa,que por motivos ostensivamente econômicos — a circular emanoudo Ministério da Fazenda sob o n? 29, e com data de 13 de maiode 1891 — mandou queimar os arquivos da escravidão”. Note-seque, da queima dos documentos existentes nas repartições aduaneiras, já passamos - ao que o autor chama de autos-da-fé.republicanos. Jáuão há .decretô. O libelo, no fundo, é verdadeiro.Mas o eminente mestre —a maior figura da sociologia brasileira

:. tão exato - nas suas pesquisas, incorre aqui em dois equívocos:•N. osmptivos queima, foram’ ostensiyançnte. econômicos,.nem o signatano da circular foi o “eminente baiano conselheiro

: Rui Barbosa’, ‘demitidõ, com -tàdo & ministêrió de ‘15 de novem‘::

Dai por diante passbz o nome de Rui Brbosa a ser apontadocomo o único- reponsável peló desvarib ém muitos trabalhos e artigos. Nos’ Estudos Afro-Brasileire’s’ lá aparece de novo a increpção. E- - ainda recentemente em vários ártigos o nome de Rui tem

• aparecido comci autor isoladoS e único do espantoso ato de vanda•lismo.

. . -

No entanto, no ano seguinte, ‘fevereiro de 1936,em artigo publicado n’O Jornal, Otávio Tarqüínio de Sousa, com a consciênciaqüe o caracteriza, já havia retificado os enganos. A circular n? 29é subscrifa pelo ministro da Fazenda, do ministério Lucena, conselheiro Tristão de Alencar Araripe. Foi ela quem mandou pôr emexecução’uni despacho de seu “antecessor, Rui Barbosa, em- 14’ dedezembro de 1890, despacho este que ordenaya a queima e destruição imediata de papéis, livros e documentos “em homenagem aosnossos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grandemassa d&cidadâos que, pela abolição do elemento servil, entravana comunhão brasileira”. [... “Graças a esse lance de retórica ficaram os estudiosos dos problemas referentes ao negro no Brasilprivados rie sua documentação mais preciosa”4,comenta OtávioTarqüinià de Sousa no artigo referido.

Para medir toda a extensão do maleficio seria necessário conhecer a relação das peças que foram entregues ao fogo em obediência à ordem ministerial, coisa que até agora não se publicou,quer na capital, quer nas Províncias. Duvidamos mesmo, que emtodas elas a ordem tenha tido cumprimento. Ou então a nossa emperrada máquina burocrática terá funcionado eficazmente pela primeira vez, para nossa infelicidade. Com fogo, ou sem fogo, amaioria dos nossos arquivos está desfalcada, pelo bicho e pelodesleixo, de peças fundamentais. No Rio, contudo, sabemos quelamentavelmente houve queima. O despacho’ ‘do ministro determinava a requisição dos livros da tesouraria da Fazenda, livros e docúmentos existentes no Ministério da Fazenda, matrículas de escra

‘vos, .de’.ingênuos, dos filhos livres da mulher escrava e de libertos.no mesmo ato designada, dirigiria tal arrecadação,

prõcedendo, em seguida, à queima na casa de máquinas da Alfâ.ndega desta apital. É pelo menos o que afirma urna placa debronze existente no Uoyd Brasileiro, com esta inscrição assaz lacônica: “13 de’maio de .1891. (note-se) Aqui foram incineradõs os:

.

‘ümdo tda-esaWdão:no. BrasiU...5 .

‘. ‘. .

O noticiário da imprensa da époça é buhdànté e éntusiástico.Assinala os nomes dos funciø.nêrio.s:.::q torxarani parte nopatriôtico ato, estando presente o. inp.etor da Alfândega,. .o . enge-nheiro Sattamini,’ o guarda-mor Adolfo Hãssellman e o presidenteda Confederação-Abolicionista João Clapp. A expressão da placaé vaga, os “últimos documentos da escravidão” parece indicar queno podéràà ser encõntradõ no Brasil quaisquer documentos sobre o assunto, o que seria evidentemente um absurdo: seria necessário destruir a correspondência oficial sobre as providências tomacias ‘pelas autoridades, as atas. das câmaras municipais, os inumeráveis processos judiciários versando sobre escravos, os testamentos, os inventários, que mais... E ainda restaria a legislaçãoimpressa que atestana ad perpetuam o crime coletivo:. Mas & evidente que nada disso foi queimado nas caldeiras do Lloyd Numavisita que fizemos à nossa casa da História, especialmente para esse fim, tivemos ocasião de ouvir do ilustre diretor do Arquivo Na-,cional, Dr. Vilhena de Morais, que as suas ‘galerias estão recheadas de documentos administrativos e judiciários a respeito da escravidão.

O que os estudiosos devem ter perdido para sempre, tratando-se de uma ordem emanada do Ministério da Fazenda, deve ter

Page 18: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

36

__________

sido os livros de registros de escravos, para o efeito do pagamento 1890. Senão, vejamos. Em novembro desse ano organizava-se umdos impostos, e os livros de entradas nas alfândegas.. Os..ekmentos.... banco que tinha por finalidade exatamente a indenização dos antiestatistacos dos primeiros constam, porem, dos relatorios dos mi- gos proprietanos de escravos, dos prejuizos causados pela Lei denistros e dos presidentes das províncias. De modo que a perda . 13 de Maio. Não há aqui espaço para estudar a evolução da men

- principal vem a ser os livros alfandegários, precisamente aqueles a .. talidade dos abolicionistas que com o projeto Dantas, em 1884,que se referiu Nina Rodrigues. Há, porém, outras fontes que, se ainda admitiam a indenização, e depois do golpe reacionário que•não podem compensar, ao menos servirão para fornecer visões foi a derrubada do ministério, 6 de junho, passaram a negá-la sisparciais, mas importantes do problema. Assim, precisamente na tematicamente. O fato é que a indenização, na ala liberal a queBahia a que referiu Nma Rodrigues, na prefeitura da Baba encon- pertencia Rui ate a Republica, era considerada inaceitavel desdetrou o Sr. Luis Viana Filho• documentos de primeira ordem. O 1884. Pois o tal banco vinha desenterrar tal idéia (repelida já en“Livro de Visitas em Embarcações Vindas da Africa”, p ex, tão pelos proprios conservadores), apoiado em grandes interessesfornecéu-lhe opulentos dados pára a conferência que proferiu so- de escravocratas que não rareavam nas hostes republicanas, como -

• :bre Rumos e Cifras do Tráfico. Baiano.6 Em todos os recantos do é sabido. No mesmo mês de novembro dirigiram-se os• . Brasil, jazem preciosos depósitos documentais à espera de pesqui- •

indenizadores ao governo para obter os favores e garantias impressadores E o que me mformarn. ementos conhecedores de nossas cmdaveis ao funcionamento do banco Os fundamentos para a inriquezas arquivais E o que ha poucos dias me confirmava o gran- denização não poderiam ser senão os pagamentos dos ultimos nu-de conhecedor da Amazônia que e o Sr Artur Cesar Ferreira Reis postosNão se deve, pois, perder a esperança de ver surgir em dados posi- O despaeho de Rui Barbosa c&toti-lhes, porem, todas as espetivos muitos ensaios que -as desalentadoras exwessões de Nina iRo-

-- 1 rançaí ‘Mais Ïusto -seria, e melhor e consultaria o sentimento -

dngues.julgavam para sempre impossiveis. .. . . nacional se se pudesse descobrir meio de indenizar os ex-escravosVisto, em linhas gerais, o fato, procuremos, se possivel, não onerando o Tesouro Indeferido 11 de novembro 4e 1890”

encontrar-lhe as causas Tal despacho apareceu na imprensa a 12 O Paiz, dirigido porA ideia de destruição dos papeis da escravidão, vinha de mui- Quintmo Bociuuva, publicou-o na primeira pagina, em destaque,

to longe. Por mais curioso que nos pareça.hoje, foi defendida por fazendo-o preceder de uma lõtLyibrante. Por sinal que devido áculminâncias da inteligência e da cultura do Brasil. E veremos por esse despacho Rui recebéu amargas queixas de um líder republicaque. Quem primeiro a enuncia em público, na própria Câmara dqs no, então à frente da empresa, e que se julgou atingido pela atituDeputados, é Joaquim Nabuco. Na sua modelar biografia, a SXL de enérgica do governo: Anfriso Fialho.Carolina Nabuco escrève: “A 24 [de julho de 1888] fala novamen- . . . .

te e lê uma representação de constituintes seus, para que os livros A Confederação Abolicionista, porem, ainda vigilante, fez

de matrícula geral udos escravos do Império sejam cancelados, ou impnnnr tal despacho em letras de ouro, numa especie de daplo

intatilizadós de modo a que não possa mais haver pedido de mdc- ma, e ofereceu-o solenemente aomuustro, num documento que se- - — - encontra exposto na Sala Abohçao da Fundação Casa de Ruirn Bar.

Note-se o trecho final que denota a intenção bem pouco una bosa.

ou retonca da medida Tratava-se de evitar um contragolpe dos A ordem de destruição dos documentos fiscais (visto que seantigos senhores de escravos, conseguindo, a posteriori, a mdem- restringia ao Ministerio da Fazenda) relativos a escravidão distazação que os ultimos -projetos abolicionistas lhes negavam O que um mês deste despacho Tudo nos leva a crer que ha uma relaçãoele visava era uma defesa do erário, impedindo a campanha da m- logaca entre uma e outra decisão Ja vimos que a circular que amdenização. - pliou os efeitos da medida é datada de 13 de maio de 1891 e assi

Sem elementos para fazer uma afirmação positiva, parece-nos nada pelo sucessor de Rua Barbosa, que assim se sohdanza com oque não foi outro o móvel do despacho de Rui Barbosa, de fins de prolator do primeiro despacho. Mas não foi só essa a única mani

Page 19: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

_______________________________________

39.38 —

_______________________________________

festação de solidariedade que obteve o autor do despacho de 14 debisn

palavra do historiador nos serve para compreender o am

dezembro

Ei aí pois algumas notas destinadas à revisão de um episóPor mais que isso nos pareça estranho nos tempos atuais, a

dio curioso e fundamental da história do início da vida republicaordem de destruição foi recebida pela imprensa com entusiasmo

patriótico e nem lhe faltou a consagração final e decisiva da pró- na.

pria soberania nacional pela voz da Constituinte, então reunida. . Crimen fué dei tiempo...

Em 20 de dezembro foi aprovada a seguinte moção: “O Congres

so Nacional congratula-se com o Governo Provisório por ter man- .

dado. fazer eliminar dos arquivos nacionais os iidmos vestígios da

escravidão no Brasil”. Os seus signatários são os grandes expoen- .

tes da política na Pr :púb1icá e alguns dos grandes vultos :

da inteligência brasileira: Anibal Falcão, Barbosa Lima, Serzedelo .

Correia, Pedro Velho, Epitáçio Pessoa,’Teodureto Souto, Pais de :Calhó Lai Müller, Aristides Mílton, Marciano de Maga- . ... . . . .

1hçs, Augusto de Freitas, Aiexandre Stoclcler, Diomsio Cerqueira,

: . . :. .;;‘ ........: •..: •....

qui

Muinto; .Laro Sodré, tndio do Brasil; Lope&Trovão Ar .- . .. - -s - . . . .

.:-

urRi ebra, Custódio de Melo conselheiro. Mayrink, .J0.- : ...

s€ MflaflO, Pedt Cáalnti .Jdão Barbalh e‘ . . . .,- . .. .

Meira Vasconcelos.. . . . . .. . -. .. . . .. . .

Não parece justo, pois4 concentrar em Rui Barbosa foda a .. . .

: : . . .

responsabilidadé de uma :medida que veio no- dorso da onda de .. .. . .

sentimentalismo erguida pelo movimento abolicionista e que pare- .

ce ter tido uma fundamentação bem mais sólda do que a primeira .

vista. À dóssa geração orientada pelo objetivismo das pesquisas .

esse gesto aParece -como um disparate. Mas aos homens daquela .

geração, mesmo os que se dedicavam ao culto do passado, a medi

da apareceu Sobum ‘aspecto bem diverso.

Poderia multiplicar referências de contemporâneos, mas fi

q’imQsC9i

este que um dos mais expressivos. Em 1901, um

homem de alfarrábios e um. ‘erudito que era Vieira Fazenda, gran

de conhecedor, da. nossa cidade, não se contentava em aprovar a

queima dos papéis da escravidão. Entendia que era ainda necessa

rio fazer desaparecer as gravuras que representavam cenas depri

mentes da, escravidão, como por exemplo urna éstampa de Rugen

das em que se vê um negro surrado no pelourinho: “É üma estam- -

pa que horroriza”, diz o historiador que conclui espantosamente:

“Devia ser destruída como o foram os papéis e documentos que se

referiam aos tristes e escandalosos fatos da escravidão no Brasil”.8

Page 20: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

40

1

NOTAS

1. RODRIGUES, Raimundo Nina. Os Africanos no Brasil: revisão e prefácio de HomeroPires. São Paulo, Companhia Editora-Nacional, -1932. (Col. Brasiliana, v. 9).

2: FREYRE,Gllberto. CasG?ã.id&eSatsta:RiÓ dJaneiro,Schmidt, 1933, p. rn. O grande impasse:3. FREYRE, Gilberto ei allii. Estudos Afro.Brasileiros. Rio de Janeiro, Anel, 1935. a indeniza4. SOUSA, Otávio Tarqüinio de. “Estudos afro-brasileinos”. O Jornal, Rio de Janeiro . çao

9.2.1936.-

5. Em data posterior ao Ministcdo Rui, portanto.

6. Estudos Brasileiros. Publicação do Instituto de Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro, ná- Eduardo. Silvamero 15, XI-XII, 1940, p. 356. Importante a contestação de Wanderley Pinho e AfrânioPeisoto. Mais tarde, o autor ampliou seus estudos na obra O Negro na Bahia, prefáciode Gilberto Freyre. Rio de Janeiro, José O1yEi5to. 1946. (Cdl. Documentos Érasileiros,

. O mito que a história da escravidão estaria irremediavelmenteh. 55).. . - perdida, em conseqüência da chamada- “queima - dos arquivos”, -7. NABUCO, Carolina. A Vida de Joaquim Nabuco, por sua filha... 2 cd. São Paulo, - . ..

Companhia Editora Nacional, 1929, p. 236. -

- tem mostrado uma capacidade extrema de .r.esistencia. Em 1985,.8 FAZENDA Jose Vieira Antiqualhas e Memônas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro na V Reunião Anüal da Sociedade Brasileira de Pesquisa Histon

Revista do Instituto Histtico e Geoáfico, 1919, p. 97 ca, em São Paulo; Manuela Carneiro -da Cunha nos falava da rea- -

- ção que, provocara áo reie1ar, -em Paris, que pretendia- estudar aecaj4or no Brasil Enquanto expunha o objeto de suas preocupações mtelectuats, uma amiga se mostrava estupefata com çscoIba dé üm tema cujo suporte docuinenfal —Trfiãinava eTa— fora

- - .. -- - inteiramente transformado em cinzas. -.-

-- A norte-aniericana Mary C. Karasch;. quando aqui chegou pe

- - -

- la prjmeira véz, eni 1968, temia pela sorte de suas pesquisas. Eu- -

- receava não ser capaz de localizar nenhum manuscrito pór causa- da queima de 1890”, confessa ela, passado o susto, na introdução

de um dos melhores trabalhos sobre a escravidão no Riõ de Janeiro -da primeira metade do século XIX. Não lhe faltarifm docümen- -

tos para o seu magistral Slave Life in Rio de Janeiro, 1808-1850,publicado pela Princeton University Press, em l987

Também, José Alípio Goulart abre o seu trabalho sobre a re- beldia. negra, reproduzindo a-.decisão-ministerial. de 14 de - dezem-

bro de 1890, de Rui Barbosa, sob o seguinte título: “eis a razãopela qual jamais s.e poderá escrever a história completa da escravi

dão

negra-no Brasil.i --

Trata-se, como se pode ver, de uma acusação grave e recorrente que, à força de ser repetida, toma foros de verdade. Nossosarquivos, contudo, estão cheios de papéis referentes à escravidão.E Rui pode ser acúsado de tudo, menos, certamente, de ser ingêfluo a. ponto de imaginar que fosse possível apagar, dois anos de-

Page 21: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

42 43

pois, uma mancha de quatro séculos. O que está em jogo é outracoisa, .evidentemente....

Desde as primeiras leis emancipacionistas que os proprietáriosde escravos levantam a questão da indenizição. As pressões começam com o debate sobre a Lei do Ventre Livre, em 1871; crescemcom a dos Sexagenários, em 1885; e atingem o climax com a Leide 13 de maio de 1888. As pressões, como se pode imaginar, foram tremedas. Basta lembrar que a discussão do Projeto Dantas— qúeconcedia liberdade aos 60 anos — atravessou três gabinetes(Dantas, Saraiva e Cotejipe), e só passou depois que aquele limite,já por si excessivo, foi ampliado em-cinco anos.

• Depois -dá 13 de que veio sem idenização, inconformacios ex-proprietârios aumentam - as pressões. O chamado

• Manifesto Paulino, para as eleições dê 1889, recomendava explici•

- tamente què fosse reconhecido, aos éx-senhores, o direito à -indenização, uma primeira grande “socialização das perdas” na lustonado Brasil. Contra isso é que se levantam os abolicionistas, o depu

ç.:Jpgijm.

,frentç,,,e ppõçm a destruição do -livrós..

iilãêxitén

te Miriist&io da Fazérïdá. -

-

• Em’ leno Govei-n6 Provisório da República as pressões não- diminuem, ao contrário, tenta-se ,a organização de um banco :que‘teriá a finalidade exatamente de êoncentrar os fundos para aind

• nização .dos antigos senhores ou seus herdeiros, iniciativa encabeçada por José Porfírio Rodrigues de Vasconcelos, José de-MeloAl-vim e Anfriso Fialho, líder republicano com ‘grande penetraçãonos meios niilitares•é, portanto, no Governo.

O Ministro da Fazenda Rui Barbosa, velho abolicionista, indeferiu o requerimento pedindo autorização para esse banco como seguinte despacho: “Mais justo seria, e melhor se consultaria osentimento nacional, se se pudesse descobrir meio de- ‘indenizar -os‘ex-escravos, não onerando o Tesouro”.2

-

O. despacho, que é de 11 de novembro de 1890, provocou reações quase raivosas, por um lado, e de apoio e inteira compreensão, por outro. Escravocratas e “indenizistas”, é claro, parecemirritados. Anfriso Fialho, por exemplo, escreve a Rui criticandotanto o. despacho, quanto os termos em que fora publicado em O.Paiz. A indenização, para ele, correspondia a uma “necessidade

• real da sociedade brasileira e constituía a prática de um ato de justiça e eqüidade que contribuirá muito mais para a consolidação da

Rêpública do que essas explosões de patriotismo da parte de anôrnmos” .‘

A Confederação Abolicionista, com sede no Rio, tinha opinião totalmente diversa e realiza, no dia 13 de novembro, umagrande manifestação em apoià a Rui Barbosa. Na ocasião, JoãoClapp, em nome dos abolicionistas, faz a entrega solene de um di-poma impresso em papel de Hoilanda, reproduzindo a negativade Rui em indenizar os ex-proprietários de escràvos.4 João Clapp,presidente da Confederação Abolicionista, exercera, no Rio, papel -

semelhante ao de Antônio Bento e seus “caifazes” em São Paulo,o de organizar o “acoutamento” de negros fugidos em ilombos;

• :obretudo.no quiombo do Leblon,. fora da barra, para além da

.entã

remota praia de-Copacabana’’ . .

-

As pressões “indeniiistas cóm e dizia, não eram nada:despreziveas e iam num crescendo Onze dias depois da Abolição,

. nj.’sessào: de:24, de maio,- Coe1ho Rodrigues apresenta... Câmara:....

:: 4os Deputados m-ieto de:1ei’prop.onda.a:indenização,;4os.pre..juizos resultantes da extinção do elemento servil”5 e. o Sepad,

Cõtèjíresênt poj’eto -semelhan”te..6 • - ‘ •. . -.-

Por toda pirte, ex-propnetanos se reunem em torno de certaslideranças para discutir seus problemas e recõlhër assinaturas, em

representações

pedindá o ressarcimento dos prejuízos. No período -

de julho a novembro de 1888 foram encaminhadas á Câmara e Se-

nado Federainada menos que 79 representações dessa natureza. Omovimento era forte sobretudo no Rio de Janeiro (22 representações), Minas Gerais e Maranhão (20 representações ‘cada).

4 . Seguem-se as províncias da Bahia (6), Sergipe (4), São Paulo ePernambuco (2 cada), Paraná e Santa Catarina (1 cada). Muitasdessas representações trazem o apoio das Câmaras Municipais eoutras instituições de peso, como a . Sociedade Auxiliadora.. daAgricultura de Pernambuco, Banco Hipotecário e Comercial do -

Maranhão, Sociedade Auxiliadora da Lavoura e da Indústria e Associação Comercial de São Luis do Maranhão.’

Eram pressões suficientes para se falar, na época, na existência de verdadeiro “sindicato de indenizistas”8.

- -

No dia 14, sob a onda que se avolumava, Rui assina o despacho ordenando a que,ima das provas de propriedade “em. homenagem aos nossos deveres de fraternidade e solidariedade com a

Page 22: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

44

grande massa de cidadãos que, pela abolição do elemento servil,entrava na comunhão brasileira”.9Trata-se, como se pode perceber, de pura retórica para encobrir a finalidade verdadeira: pôruma pá de cal nas pretensões de escravocratas impenitentes.

O. fato chegou a confundir estudiosos como Nina Rodrigues,o iniciador, talvez, do enganoLo, mas não a Lacombe”, José Honôrio Rodrigues12 ou Robert-Slenes13.Gilberto Freyre, embora cometa algumas imprecisões, fala dos “motivos ostensivamente deordem econômica” que teria guiado o ministro.14

Muitos, já na época, parecem compreender perfeitamente asintenções do Ministro da Fazenda. José Segui Júnior, um corretor

- de Santá Catarina, por exemplo, apressase em escrever a Rui Bar--. -bosa imediatamente depois de ler o despacho nos jornais. “Com-

• preendo que não foi somente a idéia do desáparecimento dessa‘niancha que çlitou-lhë tal’ medida’.’, explica ële. “Sendo V. Ex financeiro e previdente.— çortinua —; não foram e não são’ esses

.prêtendatingir.e rn .(ó: ue.muito .

louvo),. 4,prpyas 4Jgnçmim‘., ,ppriç4a-.dè,ãa ‘e giihóiüêõlôcam a e dõ’ .

.

interesse pessoal [....] nâo possam jamais [...] reclamar a almejadaindenizaço”. Q Corretor temia, sobretudo, que os prejudicadoscom a Aboliçãoforjassem um “estado de cousas”, agora ou nofuturo,, propício aos seus objetivos.’5 ...

Chegamos ao’ ponto. Queimar -documentos, como sabemos,não é uma atitude louvável. É o tipo de coisa qué ‘exaspera os pós-teros. Mas, o que vale iúais, a’ vida concreta, o, real com suasemergências, ou o assunto dos historiadores? Eu não’tenho dúvidaque a vida vale mais. Não pensamos assim quando, êm 1789, oscamponeses invadem castelos e cartórios, na França, para queimar

-.

os ppis onde estava firmada asua submissão? : -

O ato de Rui foi, sem dúvida, um ato político, de vida pulsante. Oútra coisa é considerar, depois da emergência, a queimacomemorativa, festiva, digamos, que se lhe seguiu. Tal o ímpetodesse movimento que, já em 1891, no dia 13 de maio, inaugurou-se, na sede do Lloyd Brasileiro, no Rio, a seguinte placa:

Aqui foram incinerados os últimosdocumentos da escravidão no Brasil

Em que pese o otimismo algo ingênuo desse bronze, as festividades do 13 de Maio levaram muita coisa importante para a. terrado nunca mais. E o que é mau não dura pouco. Ainda em 1904,pôr exemplo, ‘à ‘diretor do Arquivo dá Dirétoríá’dô Intëri& e Jtistiça, em Niterói, encontrou, sob a guarda de sua repartição, diversos documentos relativos à escravidão. Dirigiu — e foi prontamente atendido — um pedido ao Secretário-Geral do Estado. Queria, “a exemplo do que se procedeu nas repartições da União aotempo do Governo Provisório [...] mandar incinerar todos os restantes livros e mais documentos [...] como singela, porém significativa, comemoração da Lei Áurea de 1888”.

Está claro, porém, que essa queima’não-polkica” no sentidogrande, mas’ commorativa, “engrossadora”, cÉmo se dizia na

“.épàca,’

€ uma coisa muito diferente. Podemos, portanto, salientar.

trêspontos. ...

1?) ‘O gestó de Rui, antes de .ser prova de ingénuidade, oude maquiavelismo contra a raça negra, foi um golpe contra a 4’so-cialização das perdas”.da-.esravidão.-.. .“ ‘ ‘.

.

...... :2?): Nâ’o:’inipossibiitoir, iiczn:.delon’ge;: as ‘pesquisas:sobre’ as“nossas origens” A bibliografia sobre a materia e imensa e continua dando-provasde-vitalidade;’-:-- -.

3?) Estâm& lõnge •de cnhecer ‘— ‘já nãÓ ‘digo levantar ou-catalogar —, mas conhecer mesmo; uma massa documental consi

d’eráve1.Ainda-uma palavra, para terminar. Defende-se freqüentemen

te, nos meios acadêmicos, a idéia de que não podemos conhecer aHistória do Brasil sem a História de Portugal. Trata-se de umaproposta inteiramente justa, é claro.,Mas o que dizer da Históriada África, mais ausente de nossos currículos do que o Extremo-Oriente? Trata-se, aqui, de uma questão digna de todo interessepara a História e para ‘a própria construção daatitoimagem do ‘

povo deste País. Um combate justo pela história.

45

Page 23: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

NOTAS

1. GOULART, José Alípio. Da Fuga ao Suicídio; aspectos da rebeldia do escravo nóBrasil. - lio de Janeiro, Conquista, 1971. (grifo nossó).

.2. Diário Oficial. Rio de Janeiro, 12 nov. 1890, p. 5216 -

3. Carta de Anfriso Fiaihó a Rui Barbosa. Rio de Janeiro, 12 nov. 1890. Anluivo Histórico da FCRB. Série Ministério da Fazenda, 5/7 (457).

4. O diploma encontra-se no Arquivo Histórico da FCRB. Série Ministério da Fazenda,doc. 111. Vejam-se ainda O Paiz. Rio de Janeiro, 13 nov. 1890, p. 1. “Noticiário”;Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, 13 nov. 1890, .p. 1, “Manifestação ao Dr. RuiBarbosa”; e Diário de Noticias. Rio de Janeiro, 14 nov. 1890, p. 1, “Manifestação àRui Barbosa”. -

5: Anajs da Câmara, sessão de 24 de maio de 1888, .pp. 113-14

6. Anais do Senado, sessão de 19 jun. 1888, pp. 107-17.

7Anais ila Câmra dos Dèputos, 1888; Anais d S.enadoF.edral, 1888. Não consegui-.• mos identiÍicr apenas um município. . -

8. João Clapp. “A Indenização”. Diário dc Noticias, Riçi de Janeiro, 18 nov. de 1890, . - k -

p.1. .

. : . . .9 Dzáno Oficial Rio de Janeiro 18 nóv de 1890 p 545

.10. ODk1GUES,..Raimundoina..Os (ri os.noBrasL3ed.-Sâo.Paulo Cia,.Edi-tora Nacional 1945 pp 51 2

li LACOMBE Amenco Jacobina. A Queima dos Arquivos da Escravidão RevistaBranca (9): 7-IQ, outJnov. 1949; idcni, A -Sombra d Rui Barbosa. São Paulo, Cia. .

Ed. Nacional, 1918; idem, “Fontes da História do Brasil; Perigos de Destruição”. - ..

Fianca, Memórias da 1 Semana da História, 1979, pp. 245-9; ideia, “Rui Barbosa e a •

Queima Digesto Econômico set /out 1983

12. RODRIGUES, José Honório. A Pesquisa Histórica no Brasil. 3’ ed. São Paulo, Cm.Ed. Nacional,.1978, pp. 203-4. . . . .

13. SLENES, Robert W. “O que Rui Basbosa não Queimou: Novas Fontes para o Estudo da Escravidão no Século XIX”. Estudos Econômicos. São Paulo, 13 (1): 111-149,an.-abr. 1983.

14. FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 7 ed. Rio de Janeiro, José Qlympio,,1952,2 v.,p.515.

IS. Carta de José Segtai Júnior a Rui Barbosa. Destérro, 4 jan. 1891. Arquivo }ilstôrico -

da FCRB. Série Ministério da Fazenda, 5/8 (511).

16. Jornal do Brasil. Rio•de Janeiro, 11 maio 1904, p. 2.

46 47

:

Page 24: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

1

88&ISOLN4flDOQ

Page 25: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

- 51

j Projeto Coelho Rodrigues -

O Sr. Presidente. Tem a palavra oSç. Coelho Rodngues

O Sr. Coelho Rodrigues inscreveu-Se, três quartos de hora do expediente desde o princípio da sessão, para justificar um projeto de reformada Constituição, que não lhe parecia dever apresentar sem justificação.Entretanto, S. Ex? Sr presidente é testemunha da inscrição até hoje. Assim, é forçado a apresentar simplesmente o mesmo projeto, reservando a

• sua justificação para ocasião oportuna, se ele não tiver a sorte que teve o._projeto de 4 de maio do ano passado, apresentado pelo nobre deputado

pelo 200 distrito de Minas GeraisAproveita a ocasião para apresentar mais. úrn.pr’ojeto, que lhe parece

•.‘ urgente, como complementar da lei çle 13 de maio deste:.ano Farnbén’L.....:.carecia de justificação, mas, uma vei que ,não fazê-la agora, limfta-se aren’ietê-la à mesa com o outro,’ parã que S. Ex? os.faça passar pelos .trâmites regimentais

:É lidÓêfica àb?é’a ter2?”lçitüráCoflôrme à regimento, ‘

sguinte

•“

‘ •

.

Projeto N 10 1888. ,

• :•Providências complementares da Lei n? 3353 de 13 de maio dç

1888, que extinguiu a escravidão — Indenização aos ex senhores

Art. 1? Fica o governo, autorizado a indenizaEr, em títuLos’da dívida pública, os prejuízos resultantes da extinção do elemento servil, aos’ex-senhores de escravos e aos credores hipotecários ou pignoratícios, emrelação aos compreendidos nos respectivos títulos de crédito, podendo,para isso, fazer as operações necessárias.

-

1? A justificação desses prejuízos terá como base os valores databela do § 3? do art. 1? da Lei n? 3.270 de 28 de setembro de..1885,com as deduções correspondentes ao tempo decorrido, e as demais que

- forem acordadas entre os representantes do governo e as partes, os seusprocifradores..

§ 2? São representantes do governo, para esse. fim, os membros dcuma comissão nomeada por ele e composta de um ministro do SüpremoTribunal de Justiça, um conselheiro de Estado, um empregado do Tesouro, outro da Secretaria da Agricultura, mais um capitalista ou proprietário. Essa comissão poderá nomear..outros delegados nas ‘províncias, onde

existiram escravos até o dia 13 de maio de 1888.

§ 3? As pessoas que, depois de terem justificado seus prejuízõs, renunciarem à indenização, gozarão dos favores concedidos pela primeira

1

Page 26: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

52

parte do art. 8? e pelo art. 9? do Decreto a? 3.371, de 7 de janeiro de1865, além de outros, que para o futuro lhe serão decretado-; assim co-

aos ex-senhores de escravos que os libertaram antes da extinção daescravidão.

Art. 2? As alforrias concedidas com a cláusula de prestação de serviços, sem salário, antes da Lei de 13 de maio consideram-se livres dacondição desde esta data; as concedidas como salário, desde logo,consideram-se sujeitas à condição, até o fim deste ano, ou até ao do prazo ajustado, se o foi; mas tanto estas como aquelas devem ter o respectivo contrato registrado no cartório do respectivo juiz de paz, dentro dedois meses da publicação desta Lei na folha oficial da província do domicílio dos contratantes.

Art. 3? - Ao serviço da divida do elemento servil, além dos 5% adicionais estabelecidos pelo art. 2? da Lei citada n? 3.270, será aplicada arenda do imposto sobre os veiicimentos, elevado desde já: -

A 50% dos vencimentos ils comissões, ou cargos acumulados, excetuados os dos arts. 29 e 30 da Constituição; . . .

A 25% do subsidio dos deputados e senadores;.

A 10% dos empregos de qualquer ordem ou comissões que vencerem---- niais- de-- 2:000$ anualmente; exctriadas a dõtação da Família Impëiíale

•-.-•

os soldos militares 41e terra e mar; -

A 5% dos outros empregos, ou comissões retribuidasParágrafo único. ds empregados aposentados ou jubilados, que

exercerem outros cargos ou comissões retribuidas pérderão, durante oexercício destes, todas as vantagens da aposentadoria ou jubilação-para-oserviço da mesma divida.- Art. 4? Fica o governo autorizado a aplicar à fundação de asilosde menores e inválidos e aos estabelecimento de colônias agrícolas ou fabris o saldo existente do fundo de emancipação.

Parágrafo único. A este fundo reverterão as quantias depositadasem juízo, nas causas de liberdade, para indenização dos senhores.

Art. 5? A locação dos serviços industriais ou domésticos- poderáser regulada pelas Assembléias Legislativas, nas províncias e na Cortepor posturas da Câmara Municipal.

Art. 6? . Continuam, em vigor as disposições das Leis de 28 de setembro de 1871 e, 1885 na parte em que não foram revogadas pela de 13de maio e não o são pela presente.

S. R. — Sala das sessões, 24 de maio de 1888. — A. Coelho Rodrigues.

(Anais da Câmara dos Deputados, sessâo de2405.1888, pp. 113-14).

O Sr. Barão de Cotejipe: — Sr. Presidente, venho desempenhar-mehoje do compromisso quë tomei perante o Senado e a Nação de apresuiitar um projeto de lei que tivesse por fim indenizar os ex-proprietários deescravos dos prejuízos que sofreram com a rápida e inesperada aboliçãoda escravidão no Brasil.

Faço-o, Sr. Presidente, cheio de receios e circundado de muitas dificuldades. Contra essa indenização, apenas anunciada,- levantaram-se os

- ministros com seu poder, a imprensa com a suarn influência e os ex-abolicionistas da classe dos comunistas cont a sua força.

Não obstante,- senhores, eu muito confio na- razão e flo bom-senso-- dos brasileiros -. . . .. . -. -

Nunca me persuadi de que chegasse uma-ocasião em que- fosse- mis-.ter defender o direito de propriedade contra aqueles que têm por dever

- sustentá-lo, e sizfrcontra...aqueles.:que::considerani.a..propriedadç.iini‘: -. .

bo

..

O nobre Ministro da Gilerra’, antecipando a discussão e sem ainda• conhecer qual o planor qüe eu adotaria,- a fim de indenizar os ex-pro-

“‘étáríos

de escravos declarou- -imediatamente que essa tentativa -era uma-

- afta aos Poderës públicos. --.

. -

- -

- Como, é o que não posio perceber. - . . . .

A imprensa pronunciou-se igualmente de um modo a fazer-me esmo-recer, em vista do alto poder de que goza.

Mas essa, Sr. Presidente; ê bastante sagaz para não perceber que omeu projeto é um obstáculo às suas vistas futuras; e, a mim, monarquista, não cabe fazer o trabalho daqueles que não o são.

O desconteütasnento, a irritação, o desgosto e outros motivos, quelevam muitos. brsileirps adesçsperarda fQ, eg9r4O,peIdú - -.. --

vida, um adjutório à j,ropaganda republicana. Seriam, pois, os seus propugnadores néscios se não procurassem manter esse descontentamento,que, quando não seja o princípio ativo para o resultado de seus desejos,é pelo menos um embaraço arredado do seu caminho.

Dos ex-abolicionistas nada tenho a dizer. Estes não consideram somente a sorte dos escravos; têm em vista, também,- o descrédito e o abatimento daqueles que os possuíram. -

1

Projeto Cotejipe

53

1 Tomás Coelho

Page 27: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

54

Suponho, talvez não me engane, que o seu fim, já manifestado por o Brasil possa conhecer quais as razões que teve o senador barão de Co-alguns não e Outro senão levar avante a espoliação isto e aquilo q tejipe para proceder do modo por que procedeuzeram com a propriedade escrava praticarem com a propriedade rural Sr Presidente, a pnmeira das nações europeias que levou avante a

O Sr. Dantas: — Não apoiado. extinção da escravidão de um modo rápido, foi a nação francesa; essaO•Sr. Castro Carreira: — Isto é mais difícil, mesma, senhores, havia muitos anos que, por meio de comissões, por

meio de repetidos inqueritos, procurava conhecer qual o estado das colo-O Sr. . Barão de Cotejipe: — Chega a audacia com que atacam umfias, quais as medidas apropriadas para substituição do trabalho, paradireito garantido pela Constituição do Imperio ao ponto de dizer-se que, garantia dos colonos, enfim quais as cautelas necessárias a fim de que aem vez de mdenizar-se aos ex-proprietanos de escravos, estes e que de-

- extinção produzisse o menor abalo possível. . -viam ser indenizados pelo tempo em que estiveram ao serviço daqueles . . . . -Veio a Republica de fevereiro de 1848, e logo em seguida, poucosv: Ex. Sr. Presidente, portanto, compreende a minha situação, não- dias depois, declarou-se, por um decreto do governo provisório, que fica-digo quanto à coragem, mas quanto à abnegação de que careço, para “fr

- extinta a escravidão em todo o solo da França, mas aí mesmO se derepresentar o papel que aqui estoW representando... :..

......: clarou que a Assembléia Nacional procuraria indenizar os quë fossem• -- Mas pero que, êxpondo os eios-quç.-3ulgo mais a&quados para, 4 prejudicados por essa disposição.

sem dano do Estado e em bem daqueles que sofreram o mal satisfazer ci 3 O decreto que se publicou em as colônias francesas e muito signifimeu fim, espero digo, que esses meios sejam considerados discutidos e cativo e eu peço licença para repetir o que contem esse decretoemendados reprovados se o Senado assim o entender emendados se o“Art 1° Fica abolida a escravidão

Senado

juIartie eSte ójetõÓnteni álgutite coisa de aproveitavel. - • .. . .

4 ‘Art 2° A indenização legitimamente devida (sic) aos propnetá

.

...: le. Sr. Pidente, não se scondenenhumJonas,comoarespeito. ..j .....•, rios.fica.sob,.asalvagiiarda dahonra.francesa.e.recomendada àjusça dai.duni-õuitró nÓbrõit—ja Ám •

dor pela províiicia de Minas2;não há no bojo deste projeto coisa alguma . ... -

Peço a atenção do Senado para estas palavras — ... devida (sic)de oculto: tudo quanto proponho esta patente, e se parecer que lia, aqui . _....

aos propnetános fica sob a salvaguarda da honra francesa e recomenuaestá o seu autor para exprimir ou explicar o seu peisamento. --.. .

da à justiça da Assembleia NacionalA medida, que me atrevo a submeter a consideração desta respeita Com efeito, a indenização se fez, dando-se maior ou menor valorvel corporação e, a meu ver, uma medida economca, uma medida politi- 1 aos escravos. O Senado conhece, e foi um aütor muitõlilanuseado quanca, e, para tudo dizer em uma só palavra — uma medida justa

do se discutiu a Lei de 28-de setembro de 1871, o que diz Cochin3, oA justiça, os princípios de direito não podem variar de um momento - - . qual é o maior abolicionista conhecido. Entendia ele que devia ser mie-

para Outro, podem variar em diferentes lugares do globo, mas no mesmo diata a abolição, entendia mesmo, em absoluto que não se devia indemEstado, na mesma sociedade, não sei como hoje seja injusto e punivel zação, entretanto, tratando da emancipação nas colonias francesas, assimaquilo que ontem era justo e louvável se exprime:

Sr Presidente, quando anunciei a apresentação deste projeto, eu dis- “Se a escravidão não e um fato lealismo e ao menos um fato leaalse .que não havia-nação alginna em que existisse a instituição da escravi- a lei o reconheceu, autorizou e animou: o possuidor e, de boa-fe; oseudão, quer em seu seio, quer nas suas colônias, que a houvesse extinguido erro foi causado pelo erro do legislador e este duplo erro durou por 200de momento, repentinarnente, ou.dando algum prazo, sem indenização anos...”aos respectivos proprietárias. (O.nosso durou por mais de 300).

Falo perante uma corporação que conhece a fundo, mais do que eu, “O comércio animou, porque tirava dela proveitos, esta instituiçãotodos os fatos da História; mas não venho aqui dizer coisas novas, nem ] funesta; o Tesouro lucrou igualmente; a França foi cúmplice, por diverinstruir aos meus colegas, de quem, pelo contrário, todosos dias recebo sos títulos. É equitativo que ela indenize. Além disto, é útil, prmcipalas mais proficuas lições; quero somente demonstrá-los, a fim de que todo mente aos interesses dos escravos...”

2 Ouro Preto - 3 Denis Cochin.

55

Page 28: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

5657

(Este trecho vai aos humanitários).

“A liberdade será para eles a miséria se, no dia seguinte, os colonosnão puderem pagar o trabalho; a indenização é uma subvenção ao trabalho livre, e um adiantamento sobre o salário.”

(A indenização foi i’ôtada um ano depois, pela Lei de 30 d abril de1849).

Os resultados desta prudente reforma foram excelentes; os seus inconvenientes foram pequenos e as colônias poucq sofreram.

Não tratarei de outras nações, como a Dinamarca e a Suécia, que ti-- nham fracas colônias e a extinção daescravidão Rouco podia prejidicar.

Aponta-se-me, porém, uma nação que serve de exemplo ao mundo:• apontam-se-me os Estados Unidos. Mas, senhores, os Estados Unidos

• nunca aboliram a escravidão por meio de lei alguma: a abolição foi umaconseqüência da guerra e por conseqüência nada havia que indenizar.

Quereis ver a exatidão desta minha asserçãol Aí está no discurso deinauguração do presidente Lincoln, do qual extratei este pequeno período(lendo): -

4 Será no estilo do marquês de Pombal?

“Não tenho o desígnio de intervir na instituição da escravidão, nemdireta nem indiretamente. Penso que não tenho esse direito nem o desejo.” -

Ora, assim se pronunciava aquele grande cidadão. Por conseqüência,os efeitos da extinção nos Estados Unidos foram um caso especial, quenão pode servir de argumento àqueles que o trazem para justificar o queentre nós atualmente se pratica.

Que a indenização não está no bojo de nenhum projeto, mas, seposso exprimir-me desta forma, está no bojo da opinião pública, vê-senos artigos que têm aparecido, os quais devem ser meditados comsangue frio, senão já, quando passar esta nevrose abolicionista.

Li numa correspondênciaredigida em francês e dirigida a um jornalda Europa por um cidadão francês, que não conheço, mas que fiquei respeitando, o Sr. de La Hure5, “reflexões sobre a extinção da escràvidãono Brasil, seus efeitos e- o que cumpria fazer”, tão justas e imparciais,que entendi dever lê-las ao Senado.

Quanto aos efeitos da lei, as observações deste escritor são aindamais sensatas.

“No Brasil, diz ele, até hoje o princípio de indenização aos proprietários de escravos libertados em virtude da lei não foi, e não é contesta

5 Conde de La Hure, cidadão francês, residente no Rio de Janeiro: Deixou um livroL’Empfre du Brésil, 1862. -

....1...

“A indenização, continua o mesmo autor, foi mesquinha: despendem-se 500 milhões, e morrem 50.000 homens em uma guerra, e nãoousa-se despender 300 -milhões para libertar 250.000 indivíduos (diga-se 400.000 entre nós) e salvarem-se as colônias da vergonha e da ruína.”

A guerra do Paraguai, Sr. Presidente, custou mais de 6Õ0.000:000$;e perderam a vida mais de 100.000 brasileiros. Não olhamos a sacrifícios;

- hoje, o meno.r sacrifício para atenuar o grande -prejuízo -que sofrem os la -

vradores, e com eles todo o capital acidnal, julga-se que é urna afrontaaos poderes públiçôs! •. . -. . - • -. . • -

-

O que fez a Inglaterra? Dèsta nãonoíd émcssupreénaêr. úando- -. - .. - -

- — a França revolucionária, úiiica que se compromete e combate por idéias, :. ... Depois de descrever a magnificência das festas, o entusiasmo febrilpraticou daquela maneita, hão e de admirar que- a Inglaterra, firme sem j da população, os fogos etc , dizpre. em defender todos os direitos, em çformar çoni a. zuaror prudêica., “Voltemos á. lei de emancipação Maena.1mente era impossivel ap- ‘

indenizando meimô abusos reconhecidos càiiió tais, segúisse o inesmoc-.

-. dar mai depressã. Seis dias para votar -parlanicatarmeiit •úiiiá léi-aéim -

- - - minho. .a respeito da abolição da escravidão. Votbu uma lei —- não em -importância, a qual libertava 600.000 escravos e feria grdes interesses,- -

um artigó simples e.singelo —-mas em 66 artigos. . . - era para satisfazer os-mais exigentes.-

-

- - - - - -

Sabe-se o que é um artigo dé uma lei na Ingláterra; cada um é um -

Na Câmara dos Deputados a lei tinha passado agalope, debaixo daspreâmbulo de alvarás do marquês de Pombal: A lei aboliu a escravidão - - •vistas de uma multidão impaciente, que esporeava os representantes pornas colônias, indenizou com 20 milhões de libras aos proprietários; mar: sua atitude, suas aclamações, seus brados e seus vivas. -—•— ------- -

cou o prazo em que deviam, os- escravos começar a gozar da liberdade; A intervenção do público em os debatesde um parlamento tem algu- --- marcou prazo para o serviço das fazendas; para a aprendizagem do tra- - .

- ma coisa de tão anormal, que faz ocorrer involuntariamente ao espírito,balho livre. .

• sobretudo ao espírito de um francês, reminiscências sinistras. Debaixodesta pressão não houve, para assim dizer, oposição, porque os oradores

-j que falaram contra a oportunidade do projeto não o fizeram senão proforma, e sem grande convicção da utilidade de suas fracas protestações.”

1 O Sr. Visconde de Ouro Preto: — Esporeava também tem lá? -

1 O Sr. Barão de Cotejipe: — A galope.., quem fala em galope...(Hilaridade).

Page 29: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

5859

do; está escrito na legislação. A nova lei é muda a este respeito; ela sóinteressa à personalidade do emancipado, rompendo os laços que o prendiám ao proprietário legal, que ela destrói.

Será sem indenização? Não é possível. Implicitamente se reconheceque, se o homem não pode ser propriedade de outro homem, no sentidoexato da palavra, nem por isso deixou de ser a causa de um direito depropriedade de natureza particular. Esse direito é na verdade condicional, móvel, variável, ao inverso do direito de propriedade ordinária, queé perpétuo e absoluto, mas que existiu com seu caráter próprio,. e ninguém pode ser privado dele sem uma equitativa compensação.

A

escravidão ofende a consciência e a razão; é contrária amoral e à

religião.

Todavia, não se pode negar que tira da lei sua legitimidade convencional.

O legislador justificou o proprietário de escravos, e ainda’ há poucosdias o senhor, cujo escravo era libertado em nome da lei (comQ recebe-

raxa

os de Petrópolis), recebia uma indenização.

Müdoüo direito ém mdix? ‘Ë óiJüstÕ,eqúitativó,senãbde di-reito estrito, conceder umaindenizaçao aos proprietários de escravos.

Outra questão lreocupou se da sorte do trabalho, uma vez declarados livres ,os escravos? Cuidou-se em substituir, por alguns meios dedisciplina, o regime até. aqui... ,êmprêgadó,,.»ara.,,,as.ultura das ,terras?Previu-se que os novos libertos, cedendo a suas inclinações naturais..e. à..facilidade de viver de pouco, debaixo do abençoado céu do Brasil, .aban..donariam cedo ou tarde as fazendas? Procurou-se com ‘antecedência, pormeio de alguiitií6iiibinaç8es, reabilitar aos olhos dessa população aemcada e o alvião, considerados por ela como os simbolos da escravidão?Enfim, preveniu-se, por meio de algumas disposições, o movimento quevai fazer afluir os habitantes do campo para as cidades, com grave prejuízo da agricultura?”

Senhores, são interrogações que ainda não estão respondidas; são reflexões que hão de calar em todo espírito desprevenido.

Não é um.apaixonado,’nâo’é um interessado que faz estas reflexõçs’é um estrangeiro completamente alheio às nossas coisas políticas e queolha para o estado do Pais com interesse, mas sem nenhumá pre&iipá-ção.

uso.O Sr. Cândido de Oliveira: — O nome de La Hure é um pseudôni

O Sr. Barão de Cotejipe: — Respondendo ao aparte do nobre senador, direi que, em todo o caso, as reflexões que ele faz não deixãm de termuito valor.

O Sr. Visconde de Ouro Preto: — O autor do artigo reside na Gávea, e esse é o seu nome.

O Sr. Barão de Cotejipe: — Já vê V. Ex que na Gávea residem pessoas importantes.

O Sr. ,Silv&ira MarjÍns: — Ele é brasileiro e abolicionista. (Há outrosapartes.) -

O Sr. Barãp de Cotejipe: — Agora, Sr. Presidente, peço permissãopara parar-me com uma opinião para mim sempre valiosa e hoje aindamais.

Nãõ tenho por fim, longe de mim tal pensamento, exprobrar ou notar contradições, nem sou capaz de fazê-lo. Quero, porém, acobertar-mecom uma autoridàde, e não fazer injúria à ‘pessoa. cujas paLavras vou citar. ‘. . .•

Rêfir6-rne .ao nobre Presidente do Conselho,, quando sobre esta• questão de propriedade pronunciou-se na sessã6 dé 20 ‘de’ março de 1885,:dQ:odoeguinte.lê):

• .

.

‘Pensó ,qüe: há muito pego.e destruir ‘na tonsãincia pública a

.:‘

.noção da’ .in,yiolabiidade .tla propriedade,:. ,que.,,a.. Constjtuição...gárante(apoiád6s), porque isto pode preparar futuras revoluções sociais.

‘Entendo, portanto, que não de’e entrrno plano de nçnhum’ govèrno suprimir a indenização pór. qualquèr dós seus modos. Ofende-se assim.um direito que, se não se funda na natiurezui racional do homem, se nãopodç eplicar-se com’o um fato legítimo, é, todavia, uma propriedade ,legal; e como tal reconhecida. (Apoiados.)

Creio, Sr. Presidente, que não há necessidade de ofender assim interesses privados, que cresceram e se desenvolveram à sombra da lei a

prudência,

a mais elementar, aconselha que se encaminhe a reforma, demodo que não perturbe a felicidade e a seguridade das pessoas.(Apoiados.) Isto seria injusto e seria-perigoso. (Apoiados.)

Era uma previsão. Estou certo de que o nobre Presidente do Conselho não retira uma só das palavras que aqui proferiu.

O Sr. João Alfredo (presiden(e do conselho): — Mas caminhei, como V. Ex, com os que depois aboliram a escravidão de fato.

O. Sr. Barão de Cotejipe: — À vista do que acabo de expor, parece-me que. justificarei o projeto com mais algumas considerações baseadasem nosso direito. (Lê):

“Considerando que a garantia do direito de propriedade é um dosdeveres primordiais, impostos a toda associação política, e que sem elanenhum governo, qualquer que seja a sua forma, pode subsistir;

Page 30: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

60

“Considerando que antes e depois da independência e fundação doImpério foi reconhecida e garantida pelas leis civis, e pela lei constitucional, a propriedade servil;

“Considerando que da legalidade dessa propriedade dimanaram relações jurídicas, interesses diversos, e obrigações recíprocas por contratosde origem e espécies diferentes, ainda hoje em vigor;

“Considerando que, em virtude da Lei n? 1.237 de 24 de setembrode 1864, os escravos pertencentes às propriedades agrícolas — especificados nos contratos — eram objeto de hipoteca e de penhor;

“Considerando que sob a fé do legislador for.am criados estabelecimentos de crédito com a faculdade de emitir letras hipotecárias até o décuplo do capital realizado;

“Considerando que a um desses estabelecimentos foi imposta a obrigação de emprestar quantia certa à lavoura sobre’ hipoteca de terras e escravos; - , ..‘.

“Considerando que para execução de tais contratos foi eltregue aosmutuários moeda corrente ou foram emitidas letras hipotecárias, as

on ,asec no .mui. . famlias;., :‘“Considerando que grande númerd’ dê contratós :dê’.hipQte’ rurais ‘.‘‘

celebrados com particulares provém de empréstixno’s,. .adiaiitamentos parasustentação. das fábricas, e aumento das êu iràEõü párí ‘riáó’dë”novas; .

“Considerando que a Lei ri? 2:040 de .28 de setembrp de 1871, libertando os nascituros, manteve ‘a-propriedade sobre todos os escravos exigtentes; ,.._.

.

.. . ..

“Considerando que a mesma lei decretou uma indenização pelos ingênuos, em serviços, até 21 anos, ou em um título de divida pública equivalente a 600$, e criou um fundo de emancipação para resgate de escravos;

“Considerando que a Lei ri? 3.270 de 28 de setembro de 1885 reconheceu igualmente o mesmo direito de propriedade, taxando o valor dosescravõs segundo süas idad éiõs ‘è’Ië õEõFxdiis1mpostos o fundo de emancipação, para, desta forma, ainda mais, apressara extinção da escravidão, que se realizaria em poucos anos;

“Considerando que a nossa Constituição Política (art. 179) garantea inviolabilidade da propriedade em toda a sua plenitude, e que sopreviam ente indenizado do seu valor poderá o cidadào ser privado dó seuuso e emprego ( 22 do citado artigo);

“Considerando que a lei n? 3.533 de 13 de maio deste ano, decretando a extinção da escravidão, não providenciou sobre a indenização

61

dos respectivos proprietários em conseqüência da ur.gência com que foivotada;

“Considerando qúe o. silêncio da lei não ‘pode se interpretado comorevogação das leis e da Constituição — que garantem a indenização dapropriedade: ...

-

“A Assembléia Geral Legislativa decreta:

Art. 1?“O governo emitirá, apólices da divida pública na importância de

200.000:000300 para itidenização dos ex-propriet.ários dos .escravos existentes até ao dia 12 de maio do corrente ano.

“ l Os’ ditas títulos serão do valor nominal de 1:0003, 500$ e200$; vencerão o juro anual de 3%,. pago em semestres vencidos; pode-rão ser transferidoã do. mesmo m.o,do por que o são as demais apólicesgerais,. e serão amortizados; na razão de 1% dccapital da’emissão, nofim de cada ano civil, porsorteio, .quando estiverem ao par oü’ acima de-

le, àu por çompra no mercado, no. caso èontrário. ‘ .

‘â 2° A indenização sera feita pelos valores dados aos escravos no-“ att. 1?, § 3’?, dà.Lei n? 3:2l() de28 de. setembro.de.185, com a dedução .‘....

quë lhescotaber, no termbdo §‘- —

decorrido desde’ a data da iiesma lei até aquele dia.’ . , . .“Aos. exproprietários darse:ão tantas apólices quantas representa-’

rem o yalor da indnização a que mostrareuí’ ter diito, à•vista das pro: vas qoe o govérno exigir;’ seiido pagas a dinheim as frações inferiores á

2003000. ,. ‘ - ‘ ‘. . .Art. 2?.

A emissão será fêita à medida que se for liquidando o direito de cada credor, mas o juro será cóntado para todos desde o-dia 1 de janeirodo futuro ano de 1889, ê a primeira amortização e efetuará em julho domesmo ano.

“ 1? Ao pagamento dos juros e àmortização acima decretados serão aplicadas as seguintes rendas

“1?, & ‘produto integral da taxa de 5% adicionais aos impostos gerais, a que se refere o art. 2?, ri? II, da mencionada lei n? 3.270, excluídos os relativos à propriedade servil;

“2?, o do selo dos bilhetes de loteria e o dos cheques ou mandadosao portador, compreendidos no § 5?, n? 1, da tabela B do Regulamenton? 5946, de 19 de maio de 1883:

“ 2? Para ocorrer ao serviço do pagamento dos juros e amortização correspondentes ao ano de 1889, bem comõ às.despesas da impressãoe emissão das apólices, o governo lançará mão do saldo que no fim do

1•

4

.1

Page 31: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

4

Eis o plano que proponho (lê):Orçamento para 1890:

Saldo acima (1890 somente)Renda integral dos 5% adicionais,

excluídos os relativos aos ixn

62 63

corrente exercício se verificar existir na conta dos depósitos provenientesdo fundo de emancipação e dos 2/3 da taxa dos referidos 5% adicionais,que se destinavam à libertação de escravos, na forma do art. 2?, § 3?, dacitada lei de 1885, passando os remanescentes para a conta da indenização de que trata esta lei.

Art.3?“Os recursos votados no § 1? do artigo precedente terão aplicação

especial aofim desta lei. À proporção que se realizarem saldos, o governo os empregara na amortização de maior soma das apolices emitidas

“Parágrafo único. Se, ao contrário, o produto desses recursostornar-se insuticiente para .o serviço a que é destinado, o governo poderásuprir o déficit com bilhetes do Tesouro até obter do Poder Legislativoos fundos indispensaveis

Art 40

‘Se na execução do disposto no art 1° veriftcar-se que o direito creditono dos ex-proprietanos de escravos excede xla soma de 200 000 000$ah fixada o governo solicitara da Assembleia Geral autorizaçáo para

- - ‘realizar a indenização do que restar pelos meios que fOrem então decreta-

- Art 50

“Ficam desde ja remitidas todas as diVidas provenientes dos impostos, a que era sujeita a propriedade servil: Aos que tiverem .págo a taxa•de escravos correspondente ao exercício corrente será restituida metadeda respectiva importância. - -

Art.6?“O governo expedirá o regulamentonecess&rio para execução desta

lei, podendo impor a pena de comisso aos que dentro do prazo de doisanos não provarem o seu direito à indenização.

Art. 7?“Ficam revogadas as disposições-em contrário.Paço do Senado em 19 de junhó de 1888. — Barãc’ de Cotejipe.”Diz-se que a indenização só poderia ser feita se o autor de qualquer

projeto indicar algum tesouro escondido ou meios novos com os quais sefizesse face a esta despesa.

Senhores, não há necessidade de recorrer a tais meios extraordinários. Basta que alguns impostos, que já são peràebidos pelo Estado, sejam aplicados a essa indenização; e o que eram as alforrias rèalizadas pelõ fundo de emancipação senão uma indenização aos proprietários, segundo os valores reconhecidos pelos árbitros?

Em quanto pode importar o serviço anual dessa dívida? Eu a calculei em duzentos mil contos: a 3%, são 6.000:0001; e a importância daamortização, de 1%, será de 2.000:0001000.

O serviço anual será de 8.000:0001000.Para o primeiro ano sobram recursos, e eu junto ao projeto uma de

monstração dos meios de fazer-se face ao serviço no ano de 1889. Nessetempo não estará ainda liquidada esta dívida; mas eu a suponho liquidada.

A demonstração é a seguinte (lê):

Juro de 3% anuais da emissão de200.000:0001 em apólices 6.000:0001000

• Amortizáção de 1% idem 2,000:0001000

• Despesa anual : 8.000:0001000Para fazer face à do ano de 1889 há

oseguirte:.sa1ddofÜfldde..: :..: :.:..:,,z,: z..:.,.

mancipão liquidado. segundo a tabela 25 dóreiatório daFazenaa-de-1888 -

—- 4 374 0241235 -

1/3 da renda dos 5°io adicionais que -

estava destinado. à ,libetàÍL.....ZZ—alei.del885(tabela.26)..•... 2.298:3711317

Renda provável de ambas essas ver- -

bas no.. primeiro. -semestre de ..

1888 a saBii1iiao de emancipação, deduzidos 250:001 para restituições 250:0001000

2/3 da taxa dos. 5% adicionais 1.736:8001000

___________

Saldo

8.659:1951552

659:1951552

Por conseqüência, no primeiro ano, considerando a dívida toda li- -

quidada, haverá um saldo de 659:.195S542 . ...

Mas esses recursos, se chegam para o primeiro ano em conseqüênciade haver já a renda arrecadada, vêm a faltar nos anos seguintes; e comoprovidências sobre isto, por que quero uma coisa exeqüível?

659:1951552

Page 32: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

postos sobre propriedade servil

• Selo dos bilhetes de. loteriaIndico a verba de selo de bilhetes de

loteria, e penso que podem- “correr ainda as seis loterias

- anuais, que até hoje eram des- tinadas ao fundo de emanci

pação.

-. (Continuando a ler):Selo dos cheques sacadas sQbre os

bancosSaldo dos juros provenientes- da

amortização anual ..

Faltam para a despesa desté -ano

1 % mais sobre o valor dos -gênerosde produção nacional que forem exporfados para o exterior

50 rs. por litro de consumo, em todo o Império, da aguardente

- nele fabricada, compreendilloo imposto igual sobre as fábricas de bebidas alcoólicas, deque trata o Regulamento n?9.870 de 22 de fevereiro docorrente ano

Reunida a esta renda a do selo dosbilhetes de loteria e cheques 3OO:0XSOO0

2.900:000S000

.64

5.200:000$000200:000S000

40:000$000

65

- 60:000$000 : - . - -

- 6.159:195SS52 - -

.l.’840:804$448- • • -

. .: - 8.000:000$000 ... -

.

E-tara fazer-face às do anodê 1891- ëseguintês faltaih 2Ã00:Oó $000; ‘- -

-Há-portanto. : ::::- • -Para fa.zer facé -ao déficit nos anos futuros não faço proposta, por

.que o Senado -não pode iniciar iiipostos novos; mas indico apenas, por- quanto, adotado o: piojeto, a Câmara dos Deputados poderá prêencher

- - -

-.

as lacunas. - . •- - .

Eis aqui (lê): .

. “1% sobre o valor dos generos de exportação (até o fim). --

Observações

- Se parecer -preferível que, em vez de apressar-se a amortização, se

1 faça uma redução anual üo impósto de exportação, o art. 3? do prÕj etc,deverá ser substituído pelo seguinte:

“Art. 3? Os recursos votados no § 1? do artigo precedente terão aaplicação especial nele determinada.

“À proporção que se realizarem saldos, o governo proporá anual- mente à Assembléia Geral uma redução correspondente nos direitos de

exportação, até extingui-los totalmente.

-“Aos recursos votados no art. 2? - 1? do projeto poder-se-á ainda- acrescentarq. benefício das seis loterias anuais, que a Lei de 28 de setem

-

- - - br de 1871 destinou ao fundo de emancipação, e que devem produzir- 180:000$ — sendo o capital de cada uma —. 120:000$000.”

- -

- 4 - -

Eis, Sr. Presidente, õ pianoque ofereço. Não o coniidero perfeito;-- mas reconheço que há matéria para estudo, - que há alguma utilidade,

- -o política, para que não seja desprezado. -

1 Ha uma objeção que preciso prevenir

Como ‘ealculastes o- numero de- escravos para assim fixardes200.O0000$000 como a quantia suficiente para o total da dívida? -- :

Calculei que depois da matricula não haveria- mais do que’2/3 dosescravos que foram dados à mscnção e acredito que não chega ate la

- creio que o número não excederá de 400.00Ó. - - - -. . • -

Aqui está a tabela do- Ministério da Agricultura,- que dá. o número• - dos escravos pelas suas ida esïdo, sexo e valor.

1 .600:000$000

1 .000:000$000 2.600:000$000

Page 33: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

PROVÍNCIAS E MUNICÍPIO NEUTRO(Tabela do Ministério da Agricultura)

Ex-escravos Valor da indenizaçãoAmazonasPará 10.535 4.175:6005000.Maranhão 33.446 13.113:2743000Piauí 8.970 4.180:944000Ceará 108 56:7003000Rio Grande do Norte 3.167 1.377:4.865000Paraíba do Norte .....,: . 9.448 3.881:690S000.Pernambuco 41.122 15.780:2173500Alagoas 15.269 5.709:3203500..Sergipe 16875 6.337:0903000Bahia 76 838 31 542 6773000Espírito Santo 13.384

. 5.322:3075000Rio de Janeiro 162 421 53 043 OZ7S000Município Nçatro 7A88 .... .. 2.927:0253000 - -Sãó Paulo 107 320 33 478 5803000Paraná 3513 15803903000Santa Catarina 4.927

.. 205:1133000an4edoSu1” 8.442

. 4.080:1003750Minas Gerais 191.952

- 69.830:6583000Goiás -. . 4955

. 2.074:5235000Mato Grossa 4.230 1.042:9073000

723.449 263.748:8283250

Junto..esta-.tabela-ao-projetounto

também -a tabela do meu cálculo sobre os dois terços, que é a seguinte (lê):.

Calculando-se que sobre os 723.419 ex-escravos matriculados em virtude da Lei de 28 de setembro de 1885 se tivesse libertado mais ou menosa terça parte até a data de 13 de maio último, e tomando por base os dados oficiais -publicados pelo Ministério da Agricultura, teremos por cadaprovíncia o seguinte quadro com o número aproximado de ex-escravos eo seu valor respectivo atualmente, sendo a dedução feita da data da Leide 28 de setembro de 1885.

67

Número de- Valor pela lei Preço medioex-esciavos

Pará 7.000 3.995 :00S000 5705000Maranhão 22.100 11.876:2005000 5373000Piauí 6.020 3.40i:4003000 5663000-Rio Grande do Norte 2.057 1.169:9805000 5843000Paraíba 6.220 3.446:8005000 3663000Pernambuco 27.300 l4.8l9000S000 5483000Alagoas - 10.250 5.537:0003000 5503000Sergipe 11.360 6.070:4003000 5453000Bãhia - 51.300 27.972:0003000 5473000 .

Espírito Santo - 8.800 4.790:0003000 5453000Rio de Janeiros . - 108.000 56.070:0003000 5183000-MunicipioNeutro . 4.800 2.583:0003000 5373000

- São Paulo . .. - 70.100 . .37.884:0003000 5403000Paraná -- - . -

- 2.362 - 1.342:8803000 5823000Santa Catarina 3 272 1 884 9(Ç0S000 5885000Rio Grande do Sul 5.500 i.183:6003000 5783000

- Minas Gerais -

- : -125.900 68.012:0003000 - -

. 5395(J(J().Góiá::: : :T :.200 : :1804O0S0 561S000 :z. --S

Mato Giosso - . 2.140. 1.143:8005000 - .- 5423000

477.681 256.985:0205000 537$900-

-- . . .- Média geraF

Calculando-se que -não passasse de 400.000 o número dos escravosem 12 de maio Último, e sendo de 5373900 o preço médio naquela data, terémos que os 400.000 representariam um valor oficial de 215.160:0005000.-

Por esta tabela, a soma é de 256.000:0005000; mas calculando-se em400.000 libertos, vem a ser 215.000:0003000. A esta tabela geral estãoanexadas tabelas especiais referentes a cada província.- Eis, Sr. Presidente, as bases do projeto que eu sujeitq â consideração do Senado, e da sua sabedoria. Espero que não deixará de tomar em

-consideração um assunto tão importante. Qualquer que seja a sua resolução. aclame, sujeitarei respeitoso.

66

Províncias

Ficou sobre a mesa para ser oportunamente apoiado.

(Anais do Senado Federal, sess5o de 19.06.1888,pp. 107-17).

Page 34: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

A Câmara aprova a sólicitude do governo em acudir às urgênciasatuais da lavoura, e passa à ordem do dia.

Sala das sessões, 25 de julho de 1888. — A. Figueira.

O Sr. Andrade Figueira (pela ordem) requer seja consultada a Câmara sobre se concede urgência para a discussão da moção que submeteuao seu conhecimento. (Reclamações).

O Sr. Presidente: — Vou submeter a votos o requerimento (Protestos da minoria. Vários Srs. Deputadós pedem a palavra pela ordem.)

OSf.”Gõihes de Castro diz que não tem interesse nenhum em quenão se discuta a moção apresentada pelo nobre representante do 11? dis

trito

do Rio de Janeiw;.. mas êdo interesse da Câmara manter. o regi-

mento

em todas as suas partes. - .

O nobre presidente sabe a docilidade com que ‘o orador obedece ás

suas

‘determinações,, mas o regimento é expresso;. diz ele que. iniciadas’ asdiscussões das leis anuais nenhuma mat&ia sera dada” pari rdEni dodia, salvo as indicadas no art 107 § umcõ e os wojetos dç iniciativa de•députadàs paia’ às’ quais a’Câmarã vôte urgência, .

srçsen,ta

não está ínchída neste artigo d regimento, nem pode ser discutida nos três, quartos.de hora

Esta moção que importa em ehcargo para o Tesônro não pode ser,:por isto discutida senão ‘depois’ do parecer da comissão de Orçamento ou’

de Fazenda.Limita-se a estas palavras. Decida o Sr. Presidente como quiser: o

orador se reservará o direito de pedir a palavra sobre a moção.

O Sr. Presidente: — No posso deixar de sujeitar o requer nento’ à’aprovação da camara (Reclamações da oposição).

Vozes: — Pela ordem.

O Sr. Andrade Figueira (pela ordem) diz que, ao apresentar a moção, eram” já fijidos às ‘tiê aã”de’hõ dó ‘jdieiiíe (côi’itéstações”da oposição), e devia-se entrar imediatamente na ordem do dia. A sessãoabriu-se 13 minutos depois- do meio-dia; por conseguinte, quando o orador apresentou o seu requerimento de urgência, já eram findos os trêsquartos de hora, e nestes termos podia o mesmo requerimento ser admitido, tanto mais, quanto a discussão,, que se’ ia iniciar, não era de lei ânua.

O Sr. Zama: — O orçamento da Guerra não é lei ânua?

O Sr. Andrade Figueira responde que o orçamento da Guerra estána 2 parte da ordem do dia, com hora fixada, e o artigo de regimento

não proibe tratar-se de Outro ssunto sobre cuja urgência a Câmara sepronuncie, desde que se não prejudique a discussão das leis ânuas.

A segunda objeção do nobie deputado é que o assunto da moçãoenvolve despesa. O orador fará uma distinção capital. Trata-se de moçãode. ordem política. (Apartes e reclamações).

O orador pede aos nobres deputados, que o contestam, que respeitem todas as opiniões. -

Trata-se de moção de ordem política, aprovando o procedimento dogoverno em procurar atender às urgências da lavoura. Quanto aos sa

-

- crificios, que o ato do governo tiver de impor ao Tesouro, isto será trazido ao conhecimento do Cõrpo Legislativo, que ,ouvirá a respeito a suacomissão de Fazenda ou de Orçamento, seguindo-se os demais turnos te-

- gin’ientais.. Por agora trata-se- apen’as dc ‘uma moção de aprovação a uma- conduta, que aCâmara,osteriornsente terá de examinar ‘e discutir.’-

• ‘ : “o requerimento de urgêiicia; portánto, está nos termos do regimen- to. . . .‘ . ‘‘

Vozês: —:Votos! Votos!’ - : . ‘ ‘ “

‘Alüá Srí é’áddi: Pél aë’::’.:.. vó t’’t’ i-’’•’», ‘:;, ::.‘..‘:‘.,‘::.,:.:::.:.

O Sr., Presidente:, — Atençã! ,‘ ,‘ . . . .

Não tenho ‘escrúpulos em submeter à votação’ o requerimento do ‘no‘bre deputado ‘pelo Rio, de Janeiro, porque .ëàmpieçnde somente a 1 f par--te da ordem’do dia (aoiados), -em que se não ata de orçamentos, massim do rojeto sobre Bancos.

• O Sr. Bezamat: — Peço a palavra pela ordem.Vozes: Votos! Votos! . -

O Sr. Presidente: — Vou submeter à votação o requerimento.Consultada a Câmara, é ‘aprovado o requerimento do Sr. Andrade

Figueira. ‘ -

O Sr. Presidente: — Está em discussão a moção.O Sr. Bezámai: — Peço a palavra pela cwdem.O Sr. Presidente: — É para encaminhar a discussão?O Sr. Beiamat: — Sim, senhor.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra pela ordem.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Sr. Presidente, nãopodia ser maioi o desgosto que me causou a manifestação do meu nobreamigo, deputado pelo Maranhão; e se soubesse que S. Ex andava des

681

Moção Andrade Figueira 169

Page 35: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

70 71

1 contente pela preterição dos grandes princípios, que valem mais do queas pessoas, há muito teria corrido a S. Ex..

O Sr. Gomes de Castro: — Não ouvi bem.O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Repitó. Nada me é

mais

doloroso do que o modo por que se manifesta o nobre deputadopelo Maranhão, meu honrado amigo. Se pudesse prever que estavam sendo preteridos ou violados princípios, que valem mais do que as pessoas,razão pela qual o nobre deputado se distanciava de mim, há muito tempo, eu têria corrido a S. Ex para pedir as suas lições e os seus conselhos.(Muito bem).

O Sr. Gomes deCastro. — Peço a palavra para responder.O Sr João Alfredo (presidente do conselho):

— Masr Sr. Presidente, esta mànifest.ação do nobre deputado é para mim uma surrêsa, que

• me dói e que déveras lamento. Qual a razão que ieve S. Ex para assimproceder? Tenho cometido algum aientado çontra o sistema parlamentar,

• contra as bases fundamentais das nossas instituições políticas? Não, se-

Dhotes.(Muitos:aoiados)z.:.:

‘-

O Sr. Pedro Luis: — Seguramente tem. (Apoiados- enão apôiados

.Há9UPgEtCs,)

-

.

0

Sr. João Alfredo (presidente do conselho): O bii de indeniddeé recurso extraordinário para cil:cunstâncias extraordinárias. Nem cónhe-.ço a teoria de que este bii deva sempre ser .posterior ao t.o.jtr.gente queo governo pratica, independentemente de todas. as formalidades léais;não sei onde está, ou onde répousa semelhante distinção. Sei que o bilide indenidade é remédio parlamentar para casos urgentes e para hipóte- —

ses em que & governo necessitã preterir os tramitesç(,inuns, de ordinários, morosos e difíáeis.

- Encontro-me justamente em uma dessas hipóteses, isto é, o governocarece de um recurso extraordinário, e este é o que aconselha o parlamentarismo inglês, o que pede praxe em todos os países regidos pelo’ sistema que adotamos, para atos muitas vezes praticados em presença doparlamento, quando se torna maior a urgência das ciitunstâncias (A-

poiados.)

• Não compreendo a importância da distinção que o nobre deputadofazerEm substância o caso é o mesmo. Ou a providência é tão ins

tante que o governo a adota e vem pedir imediatamente depois o bifi deindenidade, ou o governo tem apenas o tempo necessário para vir pedirao parlamento a sua aprovação prévia em relação ao ato que vai praticar. (Apoiados.) A substância é sempre a mesma; o recurso não se alterapelo modo de sua aplicação.

Deixei eu de submeter o meu ato ao Parlamento? Evitei o voto e ojulgamento desta Câmara? Levei a efeito alguma medida semelhante

àquela que o nobre deputado lembrou, enunciando-se com uma crueldade que eu não lhe merecia? Pelo contrário, eu, que podia pedir o bili deindenidade horas ou dias depois do ato praticado, venho, ná iminência

— de necessidades indeclináveis, pedir que rue concedam a autorização deque o governo e a lavoira não podem prescindir. (Trocam-se diversosapartes.)

Dei, sequer, a entender que dispensava a legalização do meu ato?Não, senhores. Eu conheço os precedentes dos biis de indenidade entrenós.

Quando o nobre visconde de Itaboraí, sob a pressão das necessidades da guerra do Paraguai,. emitiu papel-moeda, não estava reunidá oparlamento, e ele veio depois pedir. uma lei que regularizasse; que mantivesse o seu ato.- . .

Inspirando-me nesta norma de proceder, cometo algum atentadocontra o. qual o nobre deputado se deva levantar? Não, porque apenasinverto a ordem, que S; Ex tntende ser substancial, mas que não é se-

.

.., 4iiestãoddÏnera formalidade: em. vez de pedir .0 bili de .deni-.

dade

depois do ato praticádo.peço-P diãsou horas, antes. -:

.

‘s difeiença, acrescehdo..que .ø::meu .proceder.. é. mais uma

..

rovadogrande’resp Ito úe’ cónsajro o Parlamento. (Trocam-se diver-’ -

- sos.aartes.). . . . - .. - . - -.

Senhores, ou não vos entendo, ou tenho o desgosto de vos entenderbastante. Bem sei que de um lado no posci esperar senão uma oposição.

tão dolorosa •para. mim, quanto infalível em todas as circunstâncias; de

outro, é uma oposição natural; ela devia vir; não me queixo. Se motivos

de ordem especial me aproximaram dos liberais na questão do elemento

servil, sabem os meus ilustres adversários que não os requestei nem lhe

pedi apoio; Depois disso eu contava com à süa oposição, como a maissignificativa definição dos nossos princípios e das nossas escolas políticas. (Apoiados.)

Ainda mais: no tocante à oposição conservadora tenho tudo que lamentar; mas, Sr. Presidente, na frase do meu honrado colega, o Sr. Ministro da Justiça, isto não tinha volta. Esta oposição,’oulém ospíritoantigo que conheço, .ou tem causa atual, que deploro, sem que me sejapossível remediâ-la.

Quem fala assim é um homem de quem nunca poder-se-á dizer que

colocou pessoas acima de princípios. Não; na política, para colaborar

com o meu partido, ou coin ambos os partidos, eu nunca olhei as pes

soas ou aos amigos. Para mim são indiferentes as denominações e as per

sonalidades. A essência do .meu procedimento, como homem político,

são os princípios, os quais, repito, estão acima de tudo. (Apoiados.)1

Page 36: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

72

O Sr. Pedro Luís: — Corno para nós.O Sr. João Alfredo (presidente do conselho: — Não acuso a nin

guém, mariiô ioinooú, sem queixar-me, a increpação de que o ministério atual violou princípios; nem eu, que sempre recebi as lições domeu honrado amigo, me resignarei à censura injusta que decorre das suaspalavras. (Apoiados.)

Sr. Presidente, seja como for, o caso é este: na opinião de ambas asoposições, de um lado e do outro, liberais e conservadores dissidentes, hánecessidade indeclinável de atender à lavoura. (Apoiados.) O governotratou do assunto com todo o- empenho; e assevero que, após estudo acurado, diligenciei organizar os meios de prover às necessidades urgentíssimas da ocasião.Tenho

pronto este trabalho e venho pedir à Câmara quê aprove o• meu ato, ainda não consumado,, ‘porque quero prticá-jo cOm a responsa- -

bilidade de ministro constitucjõnal .

Ião aceito, pois,. a novas práticas, nem a acusação de que sou volador dos prlnàípios fundamentais do nosso sistema político.Tenho concluado (Muitos apoiadc muito bem)

Sr. Jogo Alfredo (presidente do conselo: — Po desculpa aonobre deputado pelo Marahhão se o meu tom lhe desagradou Eu -levanteÍ a i’oz orquç S Ex? não ouvia as minhas palavrãs, e até reclamou - .

que falaise mais alto., • . .

Sr. Presidente, éontinua á minha mágoa. Não -compreendo bem hojeo nobre deputado. .S. Ex? proclama-se discípulo do meu honrado colega,o Sr. Ministro da Justiça, mas observo que nesses tempos sàudosos”enique o nobre deputado estava comigo, eu tinha a infelicidade de estar separado do mèú honrado colega; e hoje que o meu honrádo colega estácomigo, o nobre deputado separa-se. (Riso.) De mado que a conclusãoúnica é que S. Ex? não se inspira nos conselhos do meu ilustrado companheiro de ministério. (Apoiados.)

O Sr. Gomes de Castro dá um aparteS,O Sr. Pedro Luís: — Então o Sr. Ministro da Justiça foi quem converteu a V. Ex??O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Sr. Presidente, também o nobre deputado, aludindo ao tempo em que juntos vivemos nas

melhores relações de confiança, disse que eu nem então nem hoje lhe pedi conselhos.

Distingamos. Conselhos, peço-os sempre a todos os meus amigos.O Sr. Gomes de Castro — Não a mim, que nunca tive essa honra.

O Si. João Alfredo (presidente do conselho): — Todos os meus ami

gos têm comigo liberdade para manifestarem as suas opiniões; e não há

ninguém tão dócil para aceitá-las, como eu, desde que me convenço da

verdáde.

É certo, porém, que recentemente não pedi conselhos ao nobre de

putado, mas declaro que não os pedi a ninguém. Quando fui chamado

para organizar o ministério, nas circunstâncias em que me veio o encar

go, pesando toda a minha responsabilidade, guiei-me por mim só; não

fui para a organização do gabinete, inspirar-me em motivos de afeição

nem de desafeição; não fui procurar a razão geográfica, nem a razão

aritmética dos votos que cada ministro trouxesse. (Apoiados.) Procurei

organizar o ministério com cavalheiros que me pareceram mais próprios

para afrontar as dificuldades da situação e o empreendimento das refor

mas. •

Orgnizado .o gabinete e formaiado b seu programa, apresentei-mé

perante o partido conservador sem passr por nenhuma chancelaria

Não pedi votos a nenhum dos meus amigos, repito; e -menos os pediria

aos

meus.adversários (Apoiados.) ..

Quer isto dizer que não procurei aliciar apoiO de ninguém e me

apresentei., com os meias honrados colegas disposto a receber e apoio da

Cânàraouá dêngáãô destii; masisto nó terreno màis kàl, mais digno

em que se-possa estar- (Apoiados.) . .

Não quer o nobre deputado que eti’me queixc de S. Ex??! Pois con—

tinuo a queixar-me, porque hoje desconheço Q, seu caráter ïüstÓ S. Ex?,

por

exemplo, me atribuiu -proposições que . nunca emiti,- conceitos que

não me pertencem.

É assim que eu declarei achar-se o trabalho servil há muito desorga

nizado; mas não disse que a Lei de 13 de Maio o organizou. Não; disse

que a Lei de 13 de Maio tirava ao trabalho desorganizado o caráter de

ódio e de luta, que o tornava perigoso ao fazendeiro e à sociedade.

E a este respeito, mais uma vez afirmo que a Lei de 13 de Maio, em

vez de ser um mal, foi um bem.

RecOnheci acaso, e declarei que para o trabalho, isto- é, a-atual co- -

lheita e o preparo da futura, não havia necesskíade de alguma medida

extraordinária? Não, senhores; sempre afirmei o contrário, expondo leal-

mente, em tempo, a razão por que se demoraram as providências, no que

elas dependiam da ação do governo. (Apoiados.)

Vê-se, portanto, que S. Ex? atribuiu-me declarações que não fiz, e

creio que, reçonhecida a injustiça, é meu direito queixar-me, como é de

ver de S. Ex? retificar as suas asseverações.

O Sr. Gornes de Castro dá um aparte.

-.4

73

11

‘I1

Page 37: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Senhores, eis aí emque. consisle. hoje o meu desgosto. Parece que o nobre deputado fez feixedé toda a erva, acumulou tudo quanto estava à sua mão, para descarregar sobre o piesidente do conselho o peso de uma responsabilidade pura-

Quando, respondendo à interpelação’ do nobre deputado por Minas, mente imaginária.me referi ao inquérito que tinha feito no propósito de instruir-me para O Sr. Gomes de Castro: — Creio que não pode trazer para o Paria-poder tomar providências mais adequadas, declarei que homens respeitá- mento esta expressão — feixe de erva; não sei se o nobre presidente daveis e muito conhecedores do comércio e da lavoura, com a qual estão Câmara está ouvindo.em contato, me tinham dito: — “Tranqâjlize-se, aup nem um grão de cafe O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Não há ofensa ais-se há de perder. Mas eu não disse que aceitava com fatos averiguados so, mas está retirada a expressão. Entretanto devo dizer que é uma ex-esta opinião.

. -.-.—.-.-.‘ pressão que tenho encontrado nós clássicos, e de uso corrente nas discusO Sr. Gomes de Castro dá um apartei ‘ sões.

*

O Sr.’ João ‘Alfredo• (presidente do conselho): — Perdoe o nobre de- . O Sr. Gomes de Castro: — Quero que me fique como resposta queputado uma coisa e dar conta, ainda que rapidamente de informações eu faço feixe das ervas que V lixa trouxecolhidas, para que a Câmara pudesse avaliar do trabalho que eu tinha O Sr João Alfredo (presidente do conselho) — Na ocasião em quefeito, e outra e perfilhar, esse criterio . a mim transmitido por pessoas sem , . eu acabava de declarar (e aqui está a minha cjueixa) que me parucia nãOdúvida da maior competncia

- ,. . ter S.. Ex para comigo aquela cordialidade de outros tempos e o que eDisSe onobredeputado .sempre.càrn.:a mésma dóse- deinjiIstiça:

. .j mais, não conservar aquela benevolência que tantõ o recomenda a. todos

Çomo.é.que.i

atual presidente. do conselho,..que ontem nos dizia .q,ue-

. flÓ5....três mil e tantos contos bastariam para auxiliar a lavoura, vem hoje pedir -

- f - - -‘ - — O Sr ‘Gomas de Castro — A Cilmara e juizquan,tla.maior?”

.:‘ .*

.: .‘ . . .. ‘ O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — ... no momnto ‘em

Senhores, referi-me à opinião de um dos bancos. que a Câmara acabava de ouvir que o governo não limitaria os auxíliosO Sr.. Pedro Luis — DQ proprio Banco do Brasil (Ha outros apar- de que se trata à zona cafeeira mas tanibem os estenderia a outras pro

tes.) ..

. ...

duções e províncias, o nobre deputado atribui-me um plano, restrito, de- .

* . . .‘ .

. exclusão proposital da zona açucareira! *

O Sr. Joao Alfredo (presidente do conselho): — Peço que me dei-. . .‘ .xem continuar. O Sr. Gorhes de Castro: — Eu perguntei se se limitava a zona ca

feeira, e os nobres deputados, que me ouviram, podem ‘dãEr testemunho.Um Sr. Deputado: — Foi de um dos diretores do Banco Hipotecá-.

no..‘

Vozes: — Perguntou.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Por mais que procure o fundamento da distinção, em que o nobre deputado insiste, sobreo modo de usar-se do bili de indenidade, não posso encontrá-lo.

“O parlamento desce da sua posição de juiz para tornar-se cúmplice,quando julga previamente da urgência de um ato e autoriza a sua prática, independente das formalidades legais”!, disse’ S. Ex Mas não ficarácúmplice, quando tem de aprovar um ato praticado nas mesmas circunstâncias, à sua completa revelia?

O Sr. Gornes de Castro: — Nesse caso um julgamento.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — O mais que se podedizer, no caso em que me acho, é que a Câmara tem direito a todos osesclarecimentos para formar o seu juízo. Em substância, o ato da aprovação é o mesmo, seja posterior ou anterior. (Apoiados.)

74

111

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Disse o nobre deputado, com igual injustiça, que eu tinha asseverado de ciência própria, como opinião minha, que da atual colheita não se perderia um grão de café. Isto não ‘é exato.

75

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Quando pergunteiao diretor de um dos estabelecimentos bancários desta Corte qual era,em sua opinião, a quantia. máxima necessária para acudir à lavoura,

passva.de umaopinío que transmiti à Câmara, mas nAo era nem’ podia ser juizo definitivo do governo.

O Sr. Gomes de Castro dá um aparte.O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Se S. Ex não qui

sesse dar a esta informação o carter de uma opinião que me pertence.não levantaria com tanto calor o argumento da contradição em que julgahaver-me encontrado.

O Sr. Gomes de Castro dá um aparte.

Page 38: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

‘76‘ 77

E O Sr. Gomes de Castro: — Nunca se sustentou isso, O caso é de au- O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Estranharia alguém,torização.

. na libérrima Inglaterra, que toda a nação ou as nações estrangeiras enO Sr João Alfredo (presidente do conselho) — Nas suas recorda- viassem a Rainha felicitações por qualquer acontecimento feliz do seu

ções inocentes creio eu das opiniões das imagens de que se serviu outro- reinado’rao meu honrado companheiro, o Sr. Ministro ‘daJustiça, onobre depu- Creio, senhores, que o argun-ientó do nõbre’deputado não está na aí-

- tado chegou claramente a esta conclusão: “Tudo está perdido, tudo está--, tura de seu talento.

-transtornado! O regime parlamentar no Brasil não vale mais nada. 1-loje, O Sr. Gomes de Castro: — Disto não é V. Exf juiz, é o país.como outrora, há uma só vontade; tudo se abate diante dessa vontade.” ‘ -

- O Sr. Joao Alfredo (presidente do conselho): — Sr. Presidente,E a prova, que nos foi dada por um talento da ordem do nobre deputa- . . - - -.-J• • ‘ • -

- limito-me a estas observaçoes, para nao tomar mais tempo a amara uosdo, e que o Diario Oficial esta publicando felicataçoes que de toda a par-te são dirigidas à Regente do Império, pela Lei de 13 de Maio, lei que Srs. Deputados. (Muito bem.) -

honra a Nação Brasileira, e lhe atraiu o respeito e .aplausos de todos os.‘

,

povos civilizados. Mas, senhores, já houve alguém que negasse ao Chefe .‘ .0 Sr. Araúio Góis (pela ordem): — Requeiro o encerramento da dis

do Estado, seja qual for a fcirma de governo, o caráter de primeiro e • cussão. (Cruzamse muitos apartes.)mais alto representante da Nação a quem se dirigenide preferência os Consultada a Câmara e aprovado o requerimentovotos por acontecimentos felizes’ (Apoiados da maioria)

(Muitos Srs Deputados pedem a palavra pela ordem)O nobre deputado que e advogado distinto, sabe que nos autos o O Sr Presidente — Tem a palavra pela ordem o Sr Zamatratamento que se dá.às Relaçõese ao Supremo Tribunal de Justiça é — -

Senhor Vossa Maoestade Imnerial . . .O Sr. Zama (pela ordem) .nao precisa que os nobres deputados da

quela bancada (dirigindo-se a deputação pernambucana) chamem ao de-O Sr Gomes de Castro — Realmente!ve de’respeitar o regimento e a pessoa do Sr Presidente Por muito igo Sr João Alfredo (presadentedoconselho) — Estou desagradando 1 noraute que-saa sabe iuando deve pedir a palavra para nos termos do

•o.nobïe.dëputado? . . . -‘... regimento, propor o modo de votár esta questão. Deixa de parte o qiié se.- . .‘

- passou hoje, porque algum dia a’ história deste País há de julgar; deixa- de parte, e deixa de tocar no quanto foi hoje ferido.dé ‘morte o sistema

•. 1 - constítuddnal. (Cruzam-se muitos apartes.) •

É inútil pensar que com gritarias lhe, abafam a voz.

o Sr. Gomes de Castro: — Digo que realmente o argumento proce

0Sr João’Àlhedo (prsi&hte do conselho): — Procede,, sim, paramostrar que o fato de figurar o Chefe do Estado comó autor do beii quese pratica em um país, não quer dizer que se inverta a organização politica, que se pretiram fórmulas constitucionais, não importa o abatimentõdo sistema parlamentar. (Apoiados.)

Se não fosse assim, a justiça, que está acima de todos os poderes daterra, não seria pedida à Coroa e distribuída em seu nome. (Apoiados.)”

o Sr. Gomes de Castro: — Mas isto é recordação do regime antigo;pela Constituição não se devia conservar essa fórmula.

.O-Sr--.João- Alfredo’ (presidente--do-conselho):- ‘Seja-comcrfor, onobre deputado sal5e perfeitamente que, na opinião dos mais, adiantadosliberais que têm escrito sobre o regime monárquico-representativo, todoo bem é atribuído à Coroa,

Esta é a convenção, este é o principio aceito; de modo que, de acordo com os melhores publicistas liberais, presta-se homenagem ao Chefede Estado, atribuindo-se-lhe os benefícios. - -

O Sr. Gomes de Castro: — A resposta agora não é a mim.

São muitos os governadores nesta casa, quando o- orador desejavaque fosse um só; que fosse o Sr. Presidente o único que fizesse respeitãfo regimento, e.explicar àqueles deputados que o não tivessem estudado.(Apartes.)

Não sabe por que, quando se levanta um membro da oposição paraestabelecer o modo por que se deve fazer uma votação destas, levante-setamanha gritaria.

O orador pedia a palavra para requerer quéavõiaó seja nominal,a fim de que fique consignado, nome por nome, quais as praças que seconservaram firmes no seu posto de sustentar o governo, governo que atéhoje tem vivido m’bÓhança’e”quët agora tempestades; portanto, requerque a votação desta coisa, que está na mesa, seja nominal.

Consultada a Câmara, é aprovado o requerimento.O Sr. Cesário Alvim (pela ordem) pediu a palavra para uma explica

ção pessoal. À vista do atropelo que tem havido na discussão, o orador

Page 39: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

‘a

se julgaria dispensado da explicação que vai dar; mas, entretanto, tendointerpelado o governo, a respeito das medidas de que carecia a lavourapara assoberbar a crise com que 1uta, e, tendo na sua interpelação instado por medidas provisórias, até que o Parlamento votasse definitivamente, é óbvio que carecia dizer algumas palavras para justificar o seu voto.

Tendo, porém, o governo colocado a questão no terreno da confiança política, apesar de entender que o governo podia pedir à Câmara oque hoje quer alcançar atropeladamente, vota contra a moção, uma vezque ela, como disse, foi colocada no terreno político, pois, não tem confiança no atual ministério.

O Sr. Joaquim Nabuco (pela.ordem) diz que depois das palavras doseu honrado amigo deputado por Minas, que declarou votar tontra, por-que a moção foi colocada no terreno da confiança. p°lítica, o orador declara que vota contra, não pela questão de confiança, mas, porque a suaaprovação importa auxílios à lavoura, que não quer tomar a responsabilidade de prestar. . . .

O. Sr. Elpídio Mesquita.:.

iiaqi.iestab

no terreno da confiança política, tem a meü voto contra, eainda o restaria porque os auxílios de que se trata nãõse estendem á Ia-.

Procede-se à votação nominal e respondem sim os Srs. Passos Mranda, Clarindo Chaves, Çantão, Cruz, Mâncio Ribeiro; Costa-Aguiar, .. . -

Leitão- da Cunha, Silva Maia;JoãoHenrique, Coelho de Resende, Alen- .

car Araripe, Barão de Canindé, Jaguaribe, Álvaro Caminha, Tarqüiniode Sousa, João Manuel, Carneiro da Cunha;-Henriques, Soriano de Sou-sa, Felipe de Figueiroa, Juvêncio de Aguiar, Henrique Marques, Alcoforado Júnior, Rosa e Silva; Bento Ramos, Gonçalves Feri’eira, AlfïedoCorreia B. de Mendonça Sobrinho, Luís Moreira, Luís Freire, OlímpioCampos, Coelho e Campos, Freire de Carvalho, Milton, Barão do Riode Contas, Américo de Sousa, Araújo Gôis, Barão deJeremoabo, Junqueira Aires, Fernandes da Cunha Filho, Matoso Câmara, Costa Pereira,Ferreira Viana, Fernandes de Oliveira, Cândido Drumond, Andrade Figueira, Mourão, Barros Cobra, Olímpio Valadão, Pedro Brandão, JoãoCaetano, Carlos Peixoto, Elias Chaves, Rodrigues Alves, Rodrigo Silva,Duarte de Azevedo, Cochrane, Geraldo .de .Resende,, Delfino Cintra, Xavier da Silva, Marcondes Figueira, Esperidião Marques, Barão do Diamantino, Visconde de Nacar, Fernando Hackradt, Pinto Lima, PaulinoChaves, Seve Navarro, Silva Tavares e Miranda Ribeiro.

Respondem não os Srs. Mac DowelI, Domingues da Silva, Gomes deCastro, Dias Carneiro, Ribeiro da Cunha, Coelho Rodrigues, Jaime Rosa, Rodrigues Júnior, José Pompeu; Ratisbona, Paula Primo, JoaquimNabuco, Teodoro da Silva, Pedro Beltrão, Mariano da Silva, Lourenço

de Albuquerque, Teófio dos Santos, Oliveira Ribeiro, Zama, ElpídioMesquita, Bulhões Carvalho,. Castrioto, Pedro Luís, Rodrigues Peixoto,Bezainat, Alfredo Chaves, Lemos, Custódio Martins, Afonso Pena,Pacífico Mascarenhas, Cesário Alvim, S. .Mascarenhas, Henrique Saies,Ctlfiano da Luz, Montandon, Màta Machado, Afoiiso Celso, Alves deAraújo, Maciel e Joaquim Pedro.

O Sr. Presidente declara aprovada a moção.Levanta-se a sessão às 3 horas e3/4 da tarde.

(Ana& da Câmara dos Deputados, sessâo de25.06.1888, pp. 279-86).

7879

Page 40: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Entra no recinto e toma assento no respectivo lugar o Sr. Presidentedo Conselho.

Entra em discussão a seguinte interpelação apresentada pelo Sr: Cesário Alvim na sessão de 15 do corrente: -

“Requeiro dia e hora para dirigir ao nobre Presidente do Conselhode Ministros a seguinte interpelação: -.

“1? Tem o governo, formuladas já, as medidas que espera obterdo Parlamento, para remover os embaraços econômicos com que estáatualmente lutandb a lavoura?

“2? Não acha que são de todo momento algumas providênciasprovisórias, que permitam à lavoura assoberbar a crise aguda quç a aflige até que o Parlamento delibere a rçspeito? .

“3? Atribuindo o governo, como parece, a’ despeitós e ‘interesses’ofendidos, o. movimento republicano das províncias de Minas Gerais, S.Paüló’e’ Rióde’ Janéir acréditã qué, á ëraiiesmó ssim “ã ‘amêçãele seriamente as instituições politicas do Imperio e a sua integridade’” - - - —

O Sr. Cesário Alvim:. ‘#— Sr. Presidente, compreendendo perfèitamente a justa ansiedade de que se acha tomada, a Câmara dos Srs.tados para ouvir a palavra do honrado Sr:”Presidente’ do Conselho, a pri-meira, certamente, clara, terminante, positiva e completa que S. Ex vaiproferir, para alentar a lavoura na crise pungentissima que a aflige, nãodevo protrair por mais tempo a presença do honrado ,Primeiro-Ministrona tribuna da Câmara temporária. “

Acresce a isto a circunstância de que S. Ex acaba de er a propostado Poder Executivo para acudir à lavoura. Por uma feliz coincidência essa proposta foi’ lida no mesmo dia em que S. Ex devia responder à interpelação que mandei à mesa; porque não tenho a pretensão de acreditar que, por qualquer forma, eu apressasse a exibição do pensamento dohonrado Ministro; e se, porventura, da parte de S. Ex houve uma delicadeza para com o deputado interpelante, é justo que eu responda comoutra delicadeza.

Não basta, corno aCâmara bem compreende, a leitura rápida, feita

à meia voz pelo nobre Presidente do Conselho: é preciso que S. Ex — enaturalmente é este o seu desejo — venha dizer cumpridamente, desenvolvidamente à Câmara dos Srs. Deputados o pensamento inteiro do Poder Executivo.

Assim, pois, eu cumpro um dever, sentando-me e aguardando a pa

lavra do honrado Presidente do Conselho, para talvez em réplica ajuntar

_____________________________

81

algumas considerações. Em todo o caso, parte do meu fim está consegui

da: S. Ex apresentou o primeiro projeto de auxílios à lavoura..

Aguardo, por conseguinte, a palavra.do honrado Presidente do Con

selho..

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho) (Atenção): — Si Presidente, começarei recordando ao nobre deputado por Minas que eu já ti

nha anunciado a apresentação de propostas do Poder Executivo logo que

a Câmara fizesse sair daqui alguns orçamentos, ëom que o Senado se

ocupasse. Desempenhei-me hoje de um dos comprqmissos tomados, sub

metendo ao juízo. do Parlamento a proposta, cuja, leitura a Câmara aca

ba de ouvir. .

Agora, Sr. Presidente, agradecendo as palavras benévolas que me di

rigiu c ‘nobre deputado interpelante, passarei a. cumprir o dever de res

ponç.ler aos seus três quesitos.. .. .. :. ,

No .primeiro ‘deséja o nóbre depütado sabêt: “se. o governo já tem

formuladas as medidas que espera obter db Parla’neiÍt para’fetIøVtr’o”embaraços econômicos, cõm que’ está atualmente lutand&ala.voura;”-’

..A esta. ri ‘ü”ta”iÉ”ød”.õ ftd arêntaçãr’d:prõ-. ‘:::..‘

que se: ara com aciirad epcph&aotais didas, já tinha déliberado essà apresentação,. antes mesmo de ser

anunciada a iúterpelição quê lhe. foi’dirigida. ‘

•,,,.I-á,, enxetaifl,o, no quesito que ‘ãdabei de ler algumas idêis, a respei-,.

to das quais não posso deixar de oferecer’ ligeiras observações. -

• ‘ ‘ Senhores, tem-se procurado fazer crer que a lavoura luta neste mo

mento com uma crise enoi-Ine, todr ela devida à Lei de 13 de Maio do

corrente ano,..

O Sr. Zama: — A crise’já existia.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho).., mas isto não é exato.• Por qualquer, lado que se considerem os males da lavoura, vê-se que eles

vêm de muito longe.

A lavoura lutava com a falta de crédito. E vós sabeis’que çlieras

tentativas, apô inquéritos minuciosos, nunca puderam dar-lhe meios quea livrassem dos excessivos juros ou, antes, dessa usura (digamos a palavra), que a comprimia e arruinava, em vez de fornecer-lhe condições de

desenvolvimento e prosperidade. (Apoiados.)

Pelo lado dos braços, senhores, digamos também a verdade inteira:

a lavoura, desde alguns anos, lutava com invencível deficiência. O fato

conhecido em cada fazenda é que pouco mais de metade dos escravos, se

não é exato dizer-se — menos de metade —, trabalhava muito pouco de

baixo do constrangimento, sem tréguas, da sua condição servil, para sus-

80

Interpelação de Cesário Alvim

Page 41: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

- 83

Seguiam-se, como era natural, desordens freqüentes, tumultos, pânicos eaté a triste represália de incêndio dos canaviais.

O Sr. Costa Pereira (minis&o do império): — Apoiado.-

- O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — O governo, aindamesmo empregando meios rigorosos e extremos, não conseguira minorartantos males, nem evitar para os fazendeiros todo o perigo que vinha daluta entre o homem aferrado à idéia de que devia libertar-se, e aqueleque queria manter a todo o custo uma propriedade insustentável. (Muitosapoiados; muito bem; muito bem; e apartes.) -.

Senhores, eu referi-me de preferência aos fatos observados no sul donas províncias do Rio de Janeiro, Minas e S. Paulo; mas posso

dizer à Câmara, pelo que também observei em outras províncias do norte, que ninguém, ninguém mais podia impedir a emigração constante dos

: . -----

..,,

escravos pãraas- cidades, onde não se homiziavam somente, mas enconO Sr. Bezamat: — Estou entretido com o aparte do meu çolega1 travam até agasalho e proteção. (Muitos apoiados.)

0 Sr. Joãp .Alfredo (presidente do conselho): — Senhores, respeitoO trabalho servil estava desorganizado; o sentimentoda libçrdade ti-muito o testemunho que acaba de dar o nobre deputado pela prov1n.ca L ulta uercido todas as antigas rüsistência5 a propriedade d homem sobredo Rio de Janeiro mas não foi exatamente nessa mesma provincia, foi

o homem tinha se tornado a mais odiosa das criações da lei civil, enfimpá de Minàs e nade S; Paulo, que eu estudei os f4tos com uma observa- -

estávamos diante de um mal crônico e profundà, quese declararã êm criçãQ muito atenta e venfiquer que pouco mais de metade dos cscravosde se e que ameaçava tudo assoberbar A crise vinha de longe (muitoscada fazenda emprêgava-se ëfetivamente no . trabalho agrícola. 1 . apoiados):.. - .(Apoiadôs.) . . . - .

. O St. Bezamat: — Vem do tempo do abolicionismo..

O Sr. .Bezamat dá utu aparte..:-- . -0 Sr. João Alfredo(p ideíire do conselho): — ... e preparada de

bSrZJoão Alfredo (présidente do conselho): — Senhores, de certo - tal modo, caminhando com tal força e decisão (muitos apoiados etempo para cá a propaganda abolicionista e diversas leis que sãoo resul- apartes)...tado dla, desorganizaram completamente o trabalho servil e enfraquece- - Vozes: — Ouçamos. -

ram por modo considerável a disciplina dai fazendas. - - .

- 1 O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — ... que, quaisquer

j que fossem os obstáculos ou os paliativos que lhe pudéssemos opor, estesnem remediariam as dificuldades do presente, nem obviariam as do futuro, inevitáveis e fatais. (Muitos apoiados; apartes.)

j Com estas observações, Sr. presidente, quero simplesmente dizer quea crise da lavoura não é devida à Lei de 13 de Maio. (Apoiados.)

O Sr. Bezaniat: — O agudo da crise, é.1

. O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Ao contrárió, estãlei não veio senão dar à lavoura o remédio único que havia nas circunstâncias, em que todos nos encontrávamos. (Apoiados e não apoiados.)

Havíamos de fechar os olhos ao fermento de paixões, à excitaçãodos ânimos, à obra ingente da propaganda abolicionista, aos reclamosunânimes de todas as classes, e confiar ao acaso ou ao tempo soluçõesque cumpria fossem dadas pelos poderes públicos, com a sabedoria quelhes é própria? (Apoiados.)

82

tentar a outra metade inútil e carregar com todas as despesas da fazenda.(Apoiados.)

..

O Sr. Bezamat: — Nas províncias do sul nãç se dava isso.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Respeito multo...

O Sr. Barão de Canindé: — Eu fui médico nas províncias do sul etive ocasião de ver esse fato.

• O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Respeito muito...

O Sr. Bezamat: — E eu fui lavrador nas províncias do sul.(Cruzam-se outros apartes.)

- O Sr. João Alfredo (presidente do couielho): — Se o nobre deputado não me permite a -delicadeza, ou, antes, o dever de responder à suaobservação... - -. . - - -

-.

Qual era o fato constantemente observado ano passado? Algiuiias cidades do litoral, a de Santos, por exemplo, enchiam-se de escravos queabandonávam os seus antigos senhores, atravessavam publicamente, em

- ordem de marcha militar,, as mais ricas e populosas localidades, sem quehouvesse meio ,de contê-los, ou, o que é mais importante para o caso,sem que as leis facültsíem às autoridãdès’ senâo o emprego de medidasassecuratórias da ordem pública. Quanto ao movimento de deserção ouao êxodo, a autoridade não tinha que intervir, nem podia razoavelmenteimpedir que ele se efetuasse na escala em que se dava.

O Sr. Bezamat: — Até certo tempo pôde.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Em canipos, umdos mais importantes municípios agrícolas do Rio de Janeiro, sabemosque os escravos emigravam para a cidade, e ali se aglomeravam -aos milhares, sem meios de subsistência e sem quererem voltar ao trabalho.

Page 42: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

84 85

Em vez das lutas de ódios, de animosidades, de vinganças entre oantigo escravo e o seu senhor, lutas do seio, das quais irrompiam atos deloucura e desespero, que se traduziam por crimes execráveis; em vez deuru trabalho extenuante e desumano, do constrangimento diário para essetrabalho sem recompensas, em:vez desse poder incerto, assentado sobreperigos, e que jamais pôde repousar sobre a estima e a’ confiança,contemplam-se hoje tais relações de suavidade que tudo indenizam(Apoiados.)

O antigo senhor, hoje o simples proprietário do solo, compreendeuque o seú interesse de ora em diante estava em tratar ‘bem o seu antigoescravo, em conservá-lo como um elemento formador da sua fortuna, enão um eleménto componente dela; o liberto, por seu turno, compreendeu também que devia procurar no trabalho a primeira afirmação da sualiberdade, e pelo trabalho cercá-la de todas as gãrantia (Apoiados.)

Senhorés, :ouço tddos os- dias denúncias de- desordens,’ clamor contraperigos jwestes a desabar sobre nossas cabeças, -dando-se -o.-ljberto- cómo-o principal causador.de tais desordens.e perigos. Mas digamos urna verdade que honra tó:?o.Brasil: o ernento Uberto-ernbo proveniente-

-

-“-‘ ‘desclae d ‘m’ qúe ‘jamâi s lhe cohtêü-”tisse apurar um so sentunerlto nem: alimentar_uma so esperança figura -_

:.por muito pouco na estatistiça crimjnal dó Império. (Muitos apoiados.)

- Não duvido acreditar que em muitas fazendas .6 ex-escràvo tivesse

procurado,

pelo abandono do. antigo, senhor, .f?zr a sua primeira prova -‘

• .

. de homem livre, or tomar a primeira .‘ingaÍiça que ‘se lhe deparava; mso fato mais constante que tenho apurado; e cuja asseveração assenta nostestemunhos mais’ insuspeitos, é que, em geral, entre o proprietário e osex-escravos estabeleceram-se relaçôes novas, em condições tais que nemexautoram ao primeiro nem humilham aos segundos. (Apoiados.) Tal é,-com -efeito, o resultado inestimável do regírnen das leis econômicas, queregulam o trabalho e o salário, .à cuja sombra, uns e outros vivem hojeperfeitamente garantidos e tranqüilos. (Apoiados.)

Há fatos da maior eloqüência que convém registrar.

- Por parte dessa’raça;-tantosano*-condenada; praticam-se atosde generosidade que espantam (apoiados), cinio sejam a desistência de sa1ârios è o esforço para se aproveitar a colheita, ameaçada pelo mau tempo.

O Sr. Bezamat: — Seria bom apontar esses fatos.

O Sr. João Alfredo (presidente -do conslho): — Eu apelo nete momento para Qnâbre representante do Rio de Janeiro, o Sr. Lacerda Werneck, que responderá ao nobre deputado que acaba de dar-me o aparte.

Tenho amigos na lavoura de serra acima, e muitos destes me têm as- Jseverado, uma e muitas vezes, que hoje vivem nas suas fazendas desas

sombrados, sem receios, e que os seus colonos (assim chamam os libertos) trabalham com mais perfeição do que outrora.

- O Sr. Lacerda Werneck: — Dou testemunho disso. Muito bem.)

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Sirva isto para tirarao ministério atual, e melhor direi, às duas Câmaras legislativas, a responsabilidade desta crise que tanto se exagera e que, com tamanha injustiça, se quer atribuir à reforma por todos nós realizada, único remédiopossível e profícuo nas circunstâncias em que se achava o Brasil.(Apoiados)

Parece-me que o nobre deputado por Minas Gerai,s desejou que eufizesse urna exposição do projeto. Como este foi lido há pouco perante aCâmara, direi somente em traços largos o que o governo propõe.

- - O governo propõe a criação de bancos regionais, com a faculdade deemitirem o décuplo do capital em letras hipotecárias, tendo estas tais gãrantias que, não duvido, serão aceitas de bom grado pelos capitalistas O -- -

governo procurou, do modo que lhe pareceu’ mais eficaz, prtporcionaraos proprietários agrícolas capitais a juro módico e prazo longo, a.fim deque possam resistir à transformação por que está .passaud.o. o trabalho.

‘Este é o pensamento do projeto que apresentei. ‘ .

O-t Mata Machado — B sobre ôs b’àncos de crédito real existentes? - . . -.

- .-: - - -.

- O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — O governo trata - -

agora da criação de bancos regionais. -€reio--que’-nada impedirá que osbancos atuais, quando em boas circunstâncias, se possam transformarnesses que proponho. .

No segundo quesito pergunta o nobre deputado — se o governo nãoacha urgente algumas providências pvisórias, que permitam à lavourà

- assoberbar a crise que a aflige, até que o Parlamento delibere a respeito.

Senhores, a transformação do trabalho trouxe imediatamente a necessidade de maior quantidade de numerário e-, para aqueles que o- nãotêm, de um certo alargamento de crédito. Compreende-se bem que hojecada lavrador tem de pagar a féria dos trabalhadores, sem o que não osterá; assim corno que ele preéisa ter uiilabaie; etaérêdito,paralevantar o dinheiro essencial ao movimento da sua indústria.

• A este respeito, preocupado com a necessidade que naturalmente teriam os lavradores de maior quantidade de numerário em moeda de pequeno valor, tomei logo as providências a meu alcance e dentro das minhas faculdades.

Procurei também informar-me de tudo, e para obter-esclarecimentosexatos procedi a um inquérito minucioso, por todos os modos de que pude lançar mão, inclusive a audiência de pessoas comp.etentes; e, devendo

•1j1

Page 43: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

86 87

acreditar no que elas diziam, pareceu-me que o estado da lavoura não é Em 1870 no ano em que entrei para o ministério presidido pelo meuaquele que se tem dito. A dívida da lavoura foi calculada, por um dos saudosissimo e mipeitável. amigo marquês de S. Vicente, foi objeto dehomens mais conhecedores desta praça na metade do valor de uma so muito cuidado pala os ministros e de muito estudo o grande mÕiÏneflco eita. - tó que.então se operava na capital do Império, fundando jornais, fazen- . -

Se tal e a condição da lavoura, e fora de duvida quê ela não se acha do recrutamento-de grandes talentos, dirigindo manifestos e anunciandoem estado desesperador; ao contrário, está muito aliviada para poder pa- uma grande reunião no campo de Sant’Ana; O governo não deixou degar seus compromissos. preocupar-se com semelhante movimento, e tratou de estudar os meios

Um dos comissários mais importantes desta capital disse-me que, de de impedir o fato.; mas... vou ter a indiscrição de fazer uma revelação600 comitentes que tem, são menos de 100 seus devedores, e mais de 5i -

da.queles tempos: Houve um único homem que, mostrando-se tranqüilo eseus credores, nao sabendo como livrar-se destes, porque, por mais ue sereno, superior à onda que crescia, e aos perigos que ela parecia conterbaixasse o juro dos capitais que tinha em sua casa, nenhum queria setirar - no bpjo, dizia-nos com a firmeza de piloto atento e experimentado:

,‘—“,“09Ue,lhe pertencia.. “Deixem quê se manifestem todas as opíniões; não -tenios nada a fazer.

É certo, porém, e não negarei o fato, que precisamos alargar o cré- o tempo, a calma, a confiança nas instituições se encarregarão de dar ra-.

dito aos faze,ndeiros,..,dar-lhe mais elasticidade, e neste propósito declaro .

•ZO -a quem tiyer; se acaso desabar a,tem,estade.” ‘Este homèm foi Sua

que

já empreguei quantas diligências dependiam de mim para suavizar a 4 .: . Majestade-o.Irnperad&. E depois, v& sabeis, esse grande movimento, es-

situação que eles atraveSsam sa forte organização essa republica prestes a instalar-se desfizeram-se

Acrescentarei que eStou disposto a empregar parte da receita dis-por si mesmos as instituições não foram sequer abaladas e, pelo contra

ponivel proveniente do fundo de emancipação para ajudar qualquer dosno conquistasam de novo o apoio e os talentos de muitos dos que ti-

bancos desta’ praça, que ‘ofereça’ garantia ‘seproponha fazer uma jUsta’ ‘t .

- .-nham pertenci4o ao’ movim.ento antifl1OnarqÇP- - - . .‘

d1stnbakã j,elo5 laitadores 4 Não e o primeiro fato que se produz deste gênero — -

Eu faria isto, ainda praticando um ãto que me obrigasse a vir pedir ‘ . - -‘Depois de 1871, ‘votada à. Lei dê 28 de’ setembro, o movimento repu

um bdl de indenização a Câmara dos Srs Deputados (Apoiados) 1 blicano ão deixou de ter certa organização fundou alguma coisa de

Perguntei a um dos ‘diretores de bancos que mais emprestam sobre mais sobdo e estável como fossem os seus clubes e os seus jornais e

• hipoteca e penhor agrícola, de quê quantia necessiiariam eles para aàudir’ .

•-- chegou’ -mesmo a mandar , a esta Câmara alguns de’ seus membros mais

às urgên’ci fatuvi$: Respondeu-me que de .500:0Ó0$000 -

ilustres. ‘

Ora, ja se ve que a crise não e tão medonha como se diz Entretanto senhores o que observamos” Referindo-me mais espe

Ao mesmo Banco do Brasil, que celebrou um acordo com o governo 1 cjalmeiite à província de S. Paulo, o que sei é-que os dois partidos mo

para emprestar à lavoura até 25.000:000S000, e tem a sua emissão só até “

. nárquicos muito fortes, muito cheios de-v.it.lidade, muito conscios. das

19.000:000S000, faltando ainda 6.000:000000 ao Banco do Brasil que 1 vantagens que temos de manter as nossas instituições, cumprem o seu de-

paga uma multa múlto forte por não ter completado o empréstimo quever, dominam, mandam para as duas Çamaras os seus representantes,

devia fazer, eu facilitei vantagens diversas, que talvez me obrigassem 4 entendem-se ou podem entender-se sempre, que se tratar do bem comum.

também a solicitar um bili de indenidade 1 O Sr. Lourenço de Aibtiquerque: O partido republicano de S.

No 3° quesito o nobre deputado por Minas pergzlntou se o governo — Paulo so mandou representantes ao Parlamento porque foi auxiliado pe

não se teme dos perigos que correm as instituições lo partido conservador

Senhores, eu não sei qual é hoje o governo mais solidamente funda- O Sr. João Alfredo (,residente do conselho): — Também não duvido, monárquico ou republicano, que não encontre ãbaixo da superfície do. Isto mostra que o republicano e o conservador, como o liberal mo

uma certa perturbação, qüe não seja trabalhado por uma agitação inter- narquista, podem entender-ie perfeitamente para fazer esta grande patriana, pela manifestação de opiniões muito adiantadas ou, antes, de um —

- caminh, e sem perigo nenhum. (Apoiados’.)espirito ate certo ponto revolucionário 1

.

Nós -não havemos de praticar o enorme desvario de entrar em umaQuanto ao Brasil, eu declaro e o faço com a maior tranqüilidáde: ‘1 revolução, estou certo: nãd havemos de atrasar o nosso movimento de

nada receio. Recordemos alguns fatos.- progresso, nem de enfraqtecer a preponderância que temos nesta parte

Page 44: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

488

do continente americano, de modo que o Brasil perca a importância aque tem-direito. (Apoiados.) Não; estou perfeitamente tranqüilo.

O Sr. João Penido: — Capitão que diz: “Eu não cuidei...”O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Capitão que não

cuidou!... Mas o que hei de fazer com os republicanos? (Riso.) Prendêlos? Constrangê-los? Não, eles são razoáveis, são homens de propagandapacífica, convivem conosco, colaboram conosco em tudo que interessa àcausa pública. Não vejo mal nenhum em conservá-los.

Certa tendência para o republicanismo, desenganemo-nos, em toda aparte está havendo.

O Sr. João Penido: — No Brasil, não como agora.O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Em toda parte do

89

O Sr. Cesário Alvim: — Apenas protestei contra o aparte do nobredeputado por Minas.

O. Sr. Custódio Martins: — O Sr. Conselheiro Paulino não pensadessa forma...

o Sr. João Alfredo (presidente. do conselho): — Bem; cada um lemo seu modo de pensar.

O Sr. Custódio Martins: — ... e é chefe muito prestimoso do Rio deJaneiro.

O Sr. João Alfiedo (presidente do conselho): — Não digo o contrário; mas para que çstes confrontos?

Desde que me enteiiüo, ouço dizer que na província de Minas Geraispreponderam as mais pronunciadas tendências democráticas..:1

mundo. . -

Vozes:— Sempre.houve. -

Muita gente diz que no sistema monárquico representativo não há 1 . . - . ..

- . . . . . O Sr João Alfredo i:presidente do consell?o):. — ... mas, tanto quansenão. uma .transaçao entre o antigo e o novo regimen, acreditando que o - ‘. . ..- . . ‘.,

futuro há de sef republicano. . . . -

. . to pude observar, porque sou um grande amigo da provincia de Minas,- . .. . - .- ‘ .‘ que é uma daquelas que tenho procurado estudar nas propnas localida

Ora quando estamos apenas no terreno das teonas das vagas aspi- des a mprçssão que recolhi foi que as suas aspirações democraticasações de futuro, dosestudos.rnerament e,Sp tivo, aao há o qe e—

‘:.:‘ .:‘ 1tsfituiç*es ‘que s.:tçmp,.: Apoisd&): .. ‘‘

cearCiedigodos movimentos anteriores de 1870 e 1871 digo do de ‘ O Sr Afonso Celso — Não apoiado, Y Ex Lonhece de Mnias.apc.

hoje. Conheço as manifestações de uma ou de outra 1oc,álidad:— d .

... nas, aparte que lida com ‘a Corte; nãp conhece o ilorte, nem o centro.

Leopoldina, por exemplo — ç logo vejo que»uns»e’-outros;»passado»o en- . ,•

“ (Há outros apartes) . . .. . .

tusiasmo,”c’omçam u explicar as coisas de modo que todos ficamos ‘com- 1 .

- O Sr. João Alfredo (presidente do cônselho):-— Mas não vamos dís-.”

preendendo que o que houve não passou de um arrebatamento momnta- ‘ cutir isto, ijii nos. Ievtia dm110 longe. Quero somente dizer o que penso;neo, passageiro, incapaz de produzir -um compromisso sério para toda a .

. nem os nobres deputados. preiendem de mim senão a afirmação conscienvida, quanto mais uma mudança na forma de governo! ciosa da minha opinião. (Apoiados.)

05E Soares: — ‘Apoiado; é despeito:. O Sr. João Penido: —Mas creio que V. Ex está um pouco iludido!

O Sr. Cesário Alvim: — Não apoiado; não há despeito absolutamen- « O Sr. João Alfredo (presidçnte do conselho): — De ora em diantete. , vou ficar mais atento.

O Sr. Afonso Celso: — Apoiado, não há decerto.O Sr. Joaquim Nabuco: — Há um imenso, um colossal despeito!O Sr. Cesário Alvim: —.Nãç apoiado. -_.. --. .. -

O Sr. Joaquim Nabuco: — Está nas próprias representações.

O Sr.’ Cesário Alvim: — A palavra não e despeito; eú explicarei.O Sr. Joaquim Nabuço: — Se V. Ex está encarregadô”&”explië’ü’

todos os manifestos...O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Sr. Presidente, fe

lizmente para mim a agitação que acaba de produzir-se não foi motivadapor nenhuma palavra minha, e também depois dela podemos continuar adiscutir com a calma habitual.

1.

E note mais o nobre deputado: quando voltei de S. Paulo, provínciaque tive a satisfação de administrar, vim convçncidíssimo de que as instituições não tinham alipjg e,e nesta convicçâopersisto,porque conheço ô caráter paulista, sei quanto ele é orgulhoso da pátriaque temos e que os seus inaiores fundaram. (Muito bem.)

Senhores, não posso acreditar que haja um só brasileiro que concebaa idéia criminosa da divisão desta grande pátria. (Apoiados.)

O Sr. Custódio Martins: — E S. Paulo?

O Sr. Afõii.so Celso: — E o Pará?

O Sr. Joaquim Pedro: — S. Paulo é separatista. (Há outrosapartes.)

Page 45: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

9091

honrado Presidente-do Conselho do gabinete 20 de agosto para resolver a(Apartes.). questão do elemento servil, S. Ex devia já ter preparado todas as medi-

Bem; trocarei a frase, e direi que a maioria dos brasileiros há de - das com que acudisse a crise em que naturalmente devia ser lançada a la-conservar intacta esta pátria (muitos apoiados), que a Providência nos - voura.deparou e nós guardamos como um depósito sagrado. (Muito bem.)

Quem viu no Maranhão dar-se o verdadeiro milagre de Ourique,expulsando-se dali o estrangeiro, o invasor forte e poderosíssimo; quemlê a história e contempla como em Pernambuco e nas províncias vizinhas Não é propriamente de falta de braços de que se queixa a lavoura;o patriotismo daqueÍa gente repeliu o holandês ztêpido e tenaz quem- queixa-se de ter o governo apresentado o seu projeto radical, semviu o Brasil manter ilesos o seu território e os seus direitos no sul do Im- acompanhá-lo de medidas concomitantes que amparassem o crédito dapério; quem, lendo no futuro, o que o nosso, país será um dia, os lavoura e lhe fornecesse meios para pagar os braços.

• grandes destinos que o aguardam, não pode conceber a idéia criminosa, -- Quanto à resposta que o . 1sidente do Consélho -deu ao se-

repito, de mutilar este .rande todo, -que nos enche de orgulho e nos tor- . ..• : .gundo ponto da interpelação, o orador assevera que a quantia de

- -

.

na respeitado na Amèrica e nas outras partes do mundo.,-

3.500:000$000, que S. Ex julga suficiente para..acudir. a..lavoura, é defiTenho concluído. (tvluito bem! Muito bem! O orador é felicitado.)

.

. c-ientíssima. A--safra--do çorrente ano - é calculada peloi lavradores em• 8.Õ00.000 de sacas e, portanto, vê-se que semelhante quantia será insufir. esano vim folga muito que o debate va correndo calmo e ..

. . . . .

sereno ciente para atender as necessidades de momento

Qpando formulou a sua interpelação não foi evidentemente para le- Imaginou que o nobre Presidente do Conselho podia fazer alargar ovar a conta do nobre Presidente do Conselho exclusivamente a crise eco- credito da carteira hipotecaria, de modo que aqueles bancos que ja têmnâmica que se observa em grande parte do’impeno mantido relações cõm os lavradores viessem dar uma -folga a praça

Não teve absolutamente o proposito de criar por qualquer forma Informaram-lhe que S EXa tinha falado neste assunto e a vista donesta discussao a minirna difici1dade ao honrado Presidente do Come- , .

‘ pedido dos bancos,- ‘não--chegou’-a---acordo--Pod--agora declarar a S. Exlho, e .por uma razão muitó’ capital. .. . . -‘

- ““üe esta providência é urgentíssima, e por isto basta pensar que--hoje está..Ná questão do elemento sevil, tal como á votou o Parlamento por irremediavelmente perdido um terço da colheita do câfé, e um terço re-’

circunstânàias que ocorreram de momento, pela desordem que se obser- •

presenta; pçla safra que se esperava; uma quantidade de dois milhões de’vou mais ou menos nos partidos politicos os liberais não tiveram outro sacas, o que representa uma perda de 40 a 50 000 000S000 para os lavraremédio, enibora de certo modo a contragosto, senão acompani’iar -

‘“‘‘ dores, e, coino ti Etadb aüfere não menos de 5%’, a perda deste será de• honrado Presidente do Conselho: - •‘

. l0.000:000S000.De modo que, tendo, o orador assumido perante a sua província

grandes responsabilidades pelo voto que deu nessa questão, era justo-que- se desempenhasse da responsabilidade que tomou perante ela.

Assim, pois, mandou a sua interpelação para saber de que natureza- - - eram as medidas’ ueS:Exf’esperava d’o--Parlamento.

Não quer increpar a S. Ex pela votação mais ou menos tumultuária• da Lei de 13 de Maio; não, a responsabilidade não é propriamente de S.

- Ex’, nem do governo.- Depois dos movimentos de S. Paulo, depois das debandadas das fa

- zendas, é evidente que o País carecia de qualquer medida que resolvesseesta questão.

-

: No que está dizendo não vai censura alguma ao nobre Presidente doConselho, mas tem o direito de declarar que, tendo S. Ex intimado o

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Não é exato.

A razão que S. Ex apresenta não colhe, porquànto’ teve cerca dedois meses para preparar as medidas, parte das quais hoje apresentou.

O orador admirou-se da despreocupação do honrado Presidente doConselho relativamente ‘à matéria do terceiro quesito da interpelação. S.Ex respondeu com uma calma que até - certo ponto tranqtlilizâ-lo-ia seporventura não encarasse o assunto debaixo de outro ponto de vista.

Não se iluda S. - Ex. encarando o movimento republicano de 1870com o que hoje se opera -no País. Naquele tempo era operado nesta corte, e o pessoal político que nele tomava parte tinha saído da classe dirigente do partido liberal.

- Hoje o caso é -diverso. Não se deve atribuir ao despeito pela perdade escravo o movimento revolucionário que se manifestou em algunspontos do Império. Há evidentemente um mal-estar no interior, uma de,cadência na lavoura, na indústria, nas artes; o abatimento geral provocando, a reação. •

Page 46: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

92 93

Quando em fevereiro deste ano o orador teve a honra de dirigir-se àprovíncia deMinas, solicitando os seus sufrágios para a sua aspiração depertencer à lista tríplice, enviou-lhe um manifesto pôlitiiüostiando-lhe

em nome de que princípios ia pleitear junto das urnas o voto dè sua soberania. Foi uma intuição que lhe ocorreu quanto a futuro próximo, porque disse naquele documento que precipitada como ia a questão do elemento servil, deviam ter os homens de Estado bem presentes ao espíritoa necessidade de descentralizar quanto possível os poderes públicos.

Quando teve o prazer de viajar à zona sul-mineira, pôde verificarque o governo local descentralizado opera tais- maravilhas, que, aindamesmo outorgado pelo absolutismo, dá de si os melhores frutos.

Por conseguinte, entende que, derruído o feudalismo rural, era damáxima conveniência e urgência que. sealargassem de todo modo asfranquias provinciais. Aguarda o projeto que o nobre Presidente do Conselho anunciou no Senado para ver o que ele contem de aproveatavel,reservando-se à oposição o direito de emendá-lo naquilo qué entendernão satisfaz as necessidades públicas.

O orador conclui o seu discurso chamamdo a atenção do nobre Presidente do Cónselho parà osmviinentõs revolucionáriosde que já seoeu,ou, aconselhando a S .Ex que trae.s1e por--meio t1 TeIQFmas lar-

• gas, resiituir .a calma e a tranquilidade -a essas populações agitadas.

• O Sr João Ahredo (presidente do-conselho):. — Sr. Presidente, não-posso deixar de corresponder à delicadeza e benevolência do nobre deputado pOr Minas Gerãi. . •

Agradeço a S. Ex tudo quanto disse para mostrar o intuito em quese acha, de ajudar o governo na empresa, que tanto interessa a conservadores e liberais, de consolidar as instituições políticas do Brasil.

Mas, senhores, peço que reflitamos um pouco sôbie a sUma do discurso do nobrê deputado.

S. -Ex no disse: “O governo demorou as providências essenciais eurgentes, e desta demora provém o movimento republicano”.

o Sr. Cesário Alvim: — Não provém o movimento republicano;provém o mal-estar que sente presentemente a lavoura.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Bem. Posso assegurar ao nobre deputado que o governo não demorou nenhuma providênciaque devesse tomar. Os fatos ai estão para demonstrá-lo.

A Lei de 13 de Maio passou, digamos, por aclamação unânime nasdüas Câmaras. Nós, do lado do governo, e vós, do lado da oposição liberal, uns e outros, assim quisemos; e ambos os lados estavam convenci-

dos de que cuiipriam o seu dever, correspondendo assim á vontade nacional, amplamente manifestada. (Apoiados.) Logo depois, assevero ao

nobre deputado, desenvolvi toda a atividade e diligências de que sou capaz, para estudar no próprio comércio, ouvindo os maiores interessadosna boa-organização da lavoura, as necessidades, que se faziam sentir.

E, senhores, não sei bem para que lado me volte e onde procure inspiração. Ao passo que o nobre deputado diz que na atual colheita será .aperda enorme e a avalia em 40 a 50.000:00(4000, pessoas as mais autorizadas me afirmám que o café não deixará de ser colhido e, saindo barraa fora, há de alimentar como sempre a força das transações da nossaraça.

Um Sr. Deputado: — Não apoiado; há nisso perfeita ilusão.

O Sr: João Penido: — Pode sair, mas--muito há de ser roubado dsfazendeiros par.&sair. .ÇRiso.)

- . -

O Sr. Joaquini l’edro: — Então não é perdido.

--

. .

. O-Sr. João Alfredo (presidente aconselho): — Esta alegação de da-fé,.roubado.éuma das culpas com que•carrega o gabinete, porque atribui-. -

se tal fato à lei da libertação. Mas devo dizer que, desde que me enten

-- - --.

do, nunca conversei com fazendeiro algum - que não se quçixass de fur-tos E mais do que isto a pnncapal preocupação do agncultor foi sempre-a taverna da vizinhança (ruo), porque, dizia ele não havia meio uie evi

-tar que o seu café fosse ter-ao homem da ei” Risó.JPo ãiflôTó&t-• - -

ceios que o nobre deputado manifesta, datam de muito lónge. Mas deixe--. - -

. mos -este-incidente. . -.... —--•-----•-

— -

Senhores, falo perante pessoasque conhecem o ilustreedistinio pre

sidente do Banco Rural, e. Bipecário, o Sr. Comendador Estevão José - -

da Silva. Ainda não ouvi”a’respeito deste honrado negociante uma opinião. que não o abonasse muito, como banqueiro cauto e espírito refletido. -

Pois bem; procurei-o, entendi-me com ele, pedi-lhe que me minisir-asse--os dados da experiênciade homem prático. Eu queria evitar, dizialhe eu, os prejuízos que se estavam anunciando em relação à colheita; eele me respondeu: “Esteja tranqüilo, nem um grão de café deixa de ser

aproveitado e de sair barra a fora.-” - -

O Sr. Cesário Alvim: — É perfeitamente inexato. Há lavradores queainda nem começaram a cólheita do café.

O Sr. João Alfredo- (presidente do conselho): — Perdoe-me o nobredeputado; eu estou revelando com isto a minha boa vontade.

O Sr. Cesário Alvim: —. Sim, senhor.

O- Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — Em que há de umhomem do governo fundar suas deliberações sobre interesses de umaclasse, desde que não pode por si mesmo conhecer os fatos particulares a

Page 47: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

94

esta classe? Há de dirigir-se naturalmente àqueles que melhor os conhecem e aos mais interessados em tais deliberações. (Apoiados.)

O Sr. João Penido: — Os bancos, os capitalistas, não são os maiscompetentes.

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho): — mas, em relação aeste assunto, eu quisera travar com o nobre interpelante uma discussãotoda prática.

S. Ex entende que o governo devia fornecer auxílios imediatos à lavoura. De que modo? Havia de distribuí-los diretamente? Erro imperdoável!

Um intermediário é eiitidade essencial para a operação, mas intermediário de confiança, que esteja no caso não só de fazer uma justa distri- -

buição, fiscalizada pelo governo de tais aux±os como tambem de responde pela restituição dâ dinheiro emprestado.

• -

. E o que me dirá agora- o. nobre deputado quando souber que, quasea rogar, tenho-andado atrás desse intrmediário, a fim de ver se alguma.

coisa

se faz? De que oütrô mdi 1ariçái-í&riià SExf?.

Precida suaresposta, orque só por eia conissar a culpa uenobre deputado me atnbui, de haver demõrado rovidênc,as que toma-das em tempo, teriam feito o milagre de impedir que se desenvolvesse- o

h...

.._!TJyjmentorepiiblicano.- Posso impróvisa tal intermedário? -Eu o tenho pocurado com o

maior esforço, sem encontrá-lo, repito ao nobre deputado, e espero que. . -.

S. E,d, ouvindo esta declaração, me absolverá da culpa imaginária, quesobre mim lançou.

. • -

Mas, senhores, eu tinha razão para dizer: quando o republicanismose manifesta por estas causas, tão fáceis de remover (riso), ou não é sério, ou pôde desaparecer de um dia para outro. (Hilaridadë.)

O Sr. João Penido: — Continue no epigrama, que vai muito bem.O Sr. - João Alfredo (presidente do conselho): — Não faço epigra

mas. Reconheço o dever, que tenho, de - não abandonar os agricultores e-. - 4e auxiliá-los com- toda a olicitud&na--presente crise ou em outra qual

quer que se manifeste, porque a lavoura é a fonte principal da riquezapública. (Apoiados.)

Mas, no meio de tudo, imagine o nobre deputado, quanta pretensãoexagerada?! Eu até já li que se devia fazer uma emissão de100.000:0003000 de papel-moeda para distribuir pelos lavradores, e o artigo em que vinha este conselho era assinado — Bom-sénso .!_., (Riso.)

Ora, se fôssemos a ajuizar de uma crise por tudo quanto se diz e seescreve à direita e à esquerda, nada poderíamos fazer de útil e deprofícuo. Cada cabeça, cada sentença.

O nobre deputado foi tão benévolo para comigo, que, estou certo,- acabará fazendo-me toda a justiça

O governo estava e está pronto a asswnir a responsabilidade dos

._.

-- acontecimentos, prestando a um banco qualquer os recursos necessáriospara auxiliar a lavoura; e, como no tenho podido encontrar de prontoesse intermediário, invoco a influência e luzes do nobre deputado,pedindo-lhe me ajude em tais apuros. Creia que me fará, particularmente, grande obséquio, e ao governo relevante serviço.

- Mãs voltemos ao movimento republicano, de que tanto se fala.

• Senhores, essa república é um desabafo dos desgostosos, é. a explosão de espíritos impacientes e aterrados, que vêem na mudança da-formade governo um remdio a males, cujas proporções exageram. Mas, .se a -

- revolução vier, invéncível- e. triunfante, pergunto ao nobre deputado: o.

: que há de fazer o governo? Que providências há. de tomar? Não consentir na manifestação. livre da opinião? Não é possível; o governo não o fa.ria, e o nobre deputado não o consentiria. Impedir a. organização de clu

-

bes-- e--à .-léi?-- Também -o- -iPiobre- -deputado- .. não o fá-lo-ia e não há de. querer que o governp o faça. Levantar já o.

éç chamaras reservas às armas, para combater-se uma república.- . em:Mbrião?Eelho-rdierq ecresçae•doiverse-*cõm--emtere -

- mos de cruzar nossas armas, Ou- de ajustar as nossas contas.

0 Sr. Afonso Celso: — Deixar correr o marfim -- é o programa d.o=. governo. . ... .

O Sr. João Alfredo (preidente do conselho): — Porque, afinal, desd& que esta questão se agitar. também nas classes mais importantes, pertencendo nós à escola da soberania nacional, base em que se funda todoo nosso direito político, creio que nem eu, conservador monarquista,

• nem o nobre deputado, monarquista libeial, queremos sufocar a opiniãonacional, realmente manifestada em maioria.

- O Sr. João Penido: — Ainda espero que V. Ex, como presidentedo conselho, venha aqui declarar abolida a monarquia. (Riso.)

O Sr. João Alfredo (presidente do conselho) — Quando se trata deuma aspiração longínqua, que — esperam os seus propugnadorés - háde- vir em- pacífica, e-gradual evolução, não temos outra coisa a fazer senão esperar o futuro, opondo opiniões a opiniões e fortificando o nosso

- regímen político por meio de benefícios públicos.- O nobre deputado por Minas, comparando, lembrou o que se fez

outrora em sua província nos tempos coloniais, e achou que eles nos dei-- xaram melhores atestados da solicitude do governo.

* Eu distingo nos antigos melhoramentos materiais, a que o nobre de-• putado se referiu, alguns que significam maior patriotismo da geração

_

95

Page 48: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

96

passada, maiores esforços indi’riduais pelo bem da terra natal; e no restovejo somente a autoridade forte, concentrada, obedecida e servida icrtodo o povo.

Nâô creio que o nobre deputado, liberal convencido, tenha saudadesdo rei velho e dos governadores que,’em seu nome, mandaram construirmonumentos, como aquele Meneses tão malsinado pelo poeta mineiropor causa do rigoroso despotismo com que edificou a cadeia de OuroPreto. Se assim fosse, o nobre deputado teria mais razão para remontarà época em que se construíram as pirâmides do Egito.

Ninguém conscienciosamente trocará o estado atual de Minas por es-se que o nobre deputado rememorou. É preciso fechar os olhos para nãover o progrêsso daquela grande província; e ‘sé mais não se tem feito, aculpa e de nos mesmos e da Assembleia provincial e das Câmaras muniëipais, é toda do pessoal que as tem constituído, e não das instituições..

• .

. Querem já a prova da nossaincilriu? -

A provincia de 5 Paulo desde que entendeu que devia sair da rotina, encontrou nas suas Câmaras municipais e na Assembléia provincial

. *

‘..z’;’z

decidido auxiliares para toda essa espantosaprosperidad• . ‘. to admiranios e aplaudimos. .

. -. •..Quem, percorrendG a provmcia de Minas, contempla a fertilidade do•seu olo ‘vê a grande queda das suas águas, suficientes ‘para mover osmais pesados maqp smos; conhece o seu clima ameno e magnífico;

• aprecia’ as indústrias ali já iàdas,. bastando.somente querer desenvolvêlas;’ e sabe que a mesma província tem em .si mais capitais dormentes e

,

entesourados do .que o resto do Império (apoiados), há’ de perguntar por.—que eia não se avantaja em progresso às suas irmãs. Mas a causa está em

nós: no dia em. que soubermos aproveitar todas essas forças da naturezae os recursos inesgotáveis em que aí estão esterilizados, neste dia o progresso revestirá as formas múltiplas do engenho e da indústria humana.(Apoiados.)

Na minha própria província,, senhores, no tempo em que a receitaprovincial variava de 400 a 500 contos, tínhamos engenheiros de primeiraordem para estudarem .e traQarem nossos 1an,p,,4e yjação, para. cons-..truirem edifícios publicos, os melhores que ha no Impeno, tinhamos coragem para empreender obras, no valor de oito mil contos. Correram ostempos, ‘a renda cresceu e chegou a mais de três mil contos; entretantoentristece ver a decadência daquela terra! Nem ao menos pôde-se conseguir conservação de suas magníficas estradas, feitas no tempo em que erapaupérrima!

O Ceará possui uma capital belissima! A cidade de Fortaleza é umprimor como regularidade de ruas, encantó de praças, edifícios e arborização luxuriante. A quem deve esta província o seu progresso inicial? A

um boticário obscuro, incansável em fazer o bem que podia à sua terraadotiva.

O mal, repito, está em nós, :e nãó nas instituições. É, entretanto,preciso desenvolvê-las, dar-lhes mais força. Para isto conte ó nobre depu‘tado com toda a minha boa vontade. Permita, porém, dizer-lhe que, senós não nos adiantamos tanto quanto. o comportam a flexibilidade dasnossas instituições, as liberdades e franquezas’ de que gozamos, é porquefazemos a figura do caveleiro que não soube tirar todo o proveito dobom animal que lhe deram e caiu no .primeiro salto, ou do caboclo aquem debalde se daria uma espada. (Riso.)

Nada poderemos fazer de outra forma.

O mal, repito ainda, está em nós, e não nas ihstituições.

‘Um Sr. Deputado: — Então não ‘é preciso desenvolvê-las.

O Sr João Alfredo (presidente, do conselljo): —. É preciso, somentepor, uma razão; porque neste País, .em que iodo o mundo habituou-se atudo esperar do poder’ central, cumpre dar’ a cada um a responsabiliadeque lhe é .róptia muitos apoiados), isto. é, do nial que” fizer e ‘do bem

..

responsabilidade, -ue o oprime e tantô inal”lhe faz (apoiados), porquedele tudo ie espera e a ele tudo se’ atribui Apoidos.).

.‘Penso ter tornado em consideração,todas as observações feitas:pelonobre dop’utado. Ao concluir’,’só me resta, apelando mais qma,vez para oseu espírito, de justiça, a que sou tão reconhecido, e para ‘a sua benevo,lência, que tanto me penhorou, pedir-lhe que retire algumas censuras,que sem razão me fez no correr do seu segundo discurso. (Muito bem;muito bem:) . . - . ‘

‘O Sr: Afonso Celso (pela ordem) requer prorrogação da tassão poruma hora.

•É aprovado o requerimento.

O Sr.Joaquim Nabuco, depois de resumir os pontos da interpelação, déclaia qi’e não é està o momento de discufir o ‘méió ‘péló qüal’ohonrado Presidente do Conselho quer atender às necessidades da lavoura. -

Do discurso de S. Ex parece que o nobre Presidente do Conselhoconstruiu uma base muito estreita para um crédito tão grande, pelas proporções extraordinárias que assume, para amesquinhar a própria obra daabolição imediata da escravidão.

Acredka que S. Ex, se este projeto passasse, depois de ter na história a reputação do Lincoin brasileiro, teria também a do nosso’Law. Acre-

97

:,.,

Page 49: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

dfta que, se S. Ex tivesse a desgraça de o obter de pronto, com a mesmafaciidadecom que obteve a lei da abolição, aventuraria o seu grande nome, que é. hoje o maior nome do nosso País, numa tentativa que serianão só a bancarrota da monarquia, mas forçosamente a bancarrota dopróprio Pais.

Estimará que o nobre Presidente do. Conselho faça passar o seu pro1etc de forma que ele se torne uma mistificação, que se torne inexeqüívelcomo sucedeu ao que garantia até 40.000:000$000, que foi assunto principal 4as discu&sôes da Câmara na primeira legislatura a que o oradorpertenceu, mas que nunca se pôde pôr de pé, porque não havia, nemmesmo com a garantia do Estado, quem se quisesse embarcar trn tal empresa.

Nesta questão o orador afasta-se com bastante pesar do nobre Presi—dente do Conselho, pórque supõe que S. Exf foi forçado pelo pânicàdesta cidade, onde estão os bancos, .onde está ii grande dívida da lavoura, mas que não- rèpresenta o pobre contribuinte brasileiro. -

-....Depois•.devária considerações’ sobre.o crédito real; .o:orador disseque conceberia que S honrado Presidente do Conselho pedisse recursospara uma obra que S Exa tivesse de administrar mas S Exa apresentaurna iel’du”cújaexecuçacy talvez’não ‘seja’ c’ei1carrega.o.»: -

...

Não -foi só isto o que o levou a tomar a palavra: o nobre dejiutado.pela província de Minas ligou os dois pontos diferentes de sua interpelação — auxílios à lavoura e movimentos revolucionários .

O qúe pretendia S. Ex com isto? Pergunta o orador.

O orador vai dizer com -toda franqueza o que pensa do partido repu-blicano e da agitação republicana do País. .

* .- Diz que o- nobre Presidente do Conselho descreveu com muita verda-

de o naufrágio -da primeira tentativa republicana, cuja origem o nobredeputado por Minas corrigiu. ..

Quando o partido liberal foi apeado do poder em 1868, alguns idealistas formaram o partido que teve algumas adesões mais ou menos platônicas, como aquela a que se referiu o nobre Presidente do Conselho.

Em. 187.1,. a única oposição que encontrou ó Ministério Rio Branco,boi da lavoura e do partido republicano, como agora aconteceu, masagora é muito maior, porque então a Lei de 1871 foi uma homenagem àpropriedade escrava.

Houve um despeito, um ressentimento, e o partido republicanoaproveita em muito pequena medida para o muito que se comprometer.

Em 1878, volta o partido liberal ao poder e o Sr. Lafayete veio causar um grande prejuízo -à república. Um fato, porém, mais importante,

99

pode-se dizer que, no ano vigente, atuou poderosamente no ânimo de todos: foi a formação do partido abolicionista, a grande expansão de suasidéias congregando os republicanos, convencendo a muitos, membros desse partido que ã idéià abolicionista devia preceder, na rganização nadonal, à idéia republicana.

Estabelecendo-se estas relações estreitas que levaram o grande-representante da raça negra a ajoelhar-se em espírito, em sentimentos, pedindo o benefício da libertação, os verdadeiros republicanos inclinavam-sediante da Princesa Imperial.

Mas, exatamente pela ação da Princesa Imperial nesse ato da abolição, exatamente pelo modo por que ela se identificou com os abolicionistas, porque ela não ocultava a ninguém que era abolicionista •diàiiç.ó,.exatamente porque-revelava cóm franqueza sentimentos que seu pai sóp&le manifestar no’ leito dá enfermidade, a escravidão -ferida, desapossa-da,

fez aparecer de. repente o antigo»feudaiismo, a força’,»a base, como se--:

‘ diz hoje,’ da vida nacionál e converteu-se rapidamente em um partido re- ‘ . publicano- ‘:‘.‘‘ “ ‘ ‘ ,

‘ . ‘ - . f’ .:

- Era a metempsicose da escravidão.,, . ,. . ., . ... ‘ -

Passando a analisar o manifesto do conselheiro Paubno diz que S

:Ex.nãâ’ú:uniadi4ualidadu,-êumpartidõ

e, mis:doqáe pdou”.espírito, é a identificação, é a concretização desse espíritO conservador da.

-

- -zona--ágrícola do Rio de ‘Janeiro, e como tal é ua força estática que se -

- destaca -propositalmente. no- momento em - que mais se precisa sustentar - amonarquia. -: -- - - - --- .

Qüer qúeiram quer não, a monarquia neste Pais atualmente, como- disse o nobre deputado pelas Alagoas, parafraseando as palavras de -

Thiers na República Francesa, tem de ser democrática ou não pode existir.

Depois de longas considerações sobre este asstantõ, o orador concluidizendo que para nós é grande vantagem termos uma monarquia no meiodas repúblicas, assim como para as repúblicas é uma vantagem haveruma monarquia neste continente, como exemplo de ordem e de estabilidade e sobretudo, porqúe esta é a maior glória da monarquia brasileira,COffiO exemplo de tolerância e de uma tolerância nunca desmentida durante 48 anos de reinado.

Acredita na monarquia, acredita que ela é, neste momento e nas circunstâncias do nosso País e do nosso continente, a forma de governo quedevemos manter, para não sermos lançado nas aventuras difíceis e perigosas para a unidade nacional; em que foram lançadas tantas repúblicasdo nosso continente.

Os abolicionistas estão ligâdos por todos os laços a essa instituição,que não manterão de outra forma que não seja alargando o horizonte.do

‘98

1

1

1

Page 50: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

100

liberalismo, constituindo de um modo verdadeiramente forte a organização federal do Império.

Não se iludam os poderes públicos exclanja o orador. A PrincesaImperial no dia 13 de Maio de 1888 abdicou a monarquia ditatorial, abdicou a monarquia tradicional e investiu-se precisamente da ditadura popular, que há de durar enquanto ela for leal ao povo, cuja força há devencer os que até hoje o tem esmagado. -

(Anais da Câmara dos Deputados, sessão de26.06.1888 pp. 399-408).

_____-

Achando-se na ante-sala o Sr Presidente do Conselho e Ministro da

Fazenda, que vem apresentar unia proposta do Poder Executivo, o Sr.

Presidente convida os Srs. Filipe Figueiroa, Pinto Lima, Milton, Alves de

Araújo, Leitão da Cunha e Seve Navarro para, em comissão, receberema S. Ex, que, sendo introduzido no recinto com as formalidades do esti-

lo, toma assento na mesa à direita do Sr. Presidente e procede à leitura

da seguinte

• . . PROPOSTA.

Augustos,

e Óigníssimos’ Srs.. Representantes da Nação.-

- A’ instituições de»crêdito»real, criadas ‘no intuito de mobilizar o so

lo, dando-lhe valor, ain4a não produziram no Brasil os benéficos resulta

dos que tiveram na :Alemanh&e.em’ França.’ .‘ . -Nas condições em que se acha a nossa lavoura, impossibilitada de

,;‘,:

‘‘ ::“óbter,õbga.a’da.±erra,’titaern proporção cõm seü prodtos, a

juro módico e com largo prazo de amortização, .fâi1 de explicar os ex

cessivoônús..dá-dívida...lipotecária é a. ruína de muitos proprieiários ru

rais.’. . • • , .

Melhórando o regime hipotécário, a Lei n 1.237, de 24 de setembro

de 1864, iançoú as primeiras bases do crédito real, facultando, sob o pia

no nela delineado, a criação de sociedades de crédito real e de penhor

agiícola.Poucos e limitacks esforços foram empregados com’ êxito medíocre,

para fundação de tais estabelecimentos, destinados a servir de interme

diários entre o capitalista e o proprietário.

Tornando-se de dia para dia mais crítico o estado da lavoura, acudiu

o Estado em seu auxílio, desenvolvendo o pensamento da aludida Lei.

Promulgou-se então a Lei n? 2.681 de 6 d nõvenibró de 1875, con

cedendo favores a um banco de crédito real, que se fundasse sobre as ba

ses da Lei de 1864, e cuja emissão fosse feita na Europa.

Tal banco, porém, não foi fundado, ficando a Lei sem execUÇãQ.

Organizaram-se alguns estabelecimentos de crédito real, cujas letras hipo

tecárias nunca atingiram ao par, nem mesmo depois da garantia outorga

da a estes títulos pela Lei n? 3.272 de 5 de outubro de 1885.

As necessidades da transformação do trabalho instam’ agora por efi

caz .e pronta providência que proporcione capitais aos propriçtúrios.

Proleto João Alfredo

.

1h

101

Page 51: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Acredita o governo que vai satisfazer essas necessidades com as medidas que hoje vem apresentar-vos.

Autoriza-o a presente proposta a conõeder garantia de juros até 5%e amortização de letras hipotecárias, enitidas por bancos que se fundareta sobre o plano da Lei n? 1.237 de 24 de setembro de 1864.

Toda essa população rural, que tem de aumentar a nossa produção ecriar indústrias e-culturas ainda não exploradas pelo brasiltiro, encontra-rã no penhor agrícola o principal, se não único, recurso para fecundaçãodo seu trabalho.

Neste intuito, houve por bem Sua Alteza a Princesa Imperial Regente, em nome da Sua Majestade o Imperador, que eu sujeitasse a vossa sa

- bedoria e solicitude pelo bem público a seguinte proposta:A Assembléia Geral resolve:Art. 1? É autorizado o governo para garantir os juros até 5% ao

ano e amortização de letras hipotecárias emitidas por bancos- de créditoreal, que se fundarem sob o plano traçado na Lei n? 1.237 de 24 de setembro de 1864. - - -

* 1? A disposição deste artigo só é aplicável a tim banço que funcionar em cada uma das seguintes circunscrições limitadas, em que ficapara este fim dividido o território do Império, a saber: 1 ‘, as províncias

do Pará e Amazonas, com sua sede na cidade de Belém; 2, as

províncias

do Maranhão e Piauí, com sede na cidade de S. Luís do Maranhão; 3 , a província do Ceará, com sede na cidade da Fortaeza; 4,as lirov’mcias de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas,coni• sede na cidade do Recife; 5 , as províncias da Bahia e Sergipe, comsede na cidade de S. Salvador da Bahia; 6, a Corte e as províncias doRio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, com sede na capital doImpério; 7, as províncias de S. Paulo, Goiás e Paraná, com sede na cidade de S. Paulo; 8. as províncias do Rio Grande do Sul e santa Catarina, com sede na cidade de Porto Alegte;9, a piovíncia de Mato Grosso, com sede em Cuiabá.

O empréstimo será feito em dinheiro ou em letras hipotecárias ao::..Z..z:par, à escolha do mutuário.

- .

- O mesmo empréstimo tanto poderá ser feito sobre hipoteca constituída pelos proprietúrios rurais sobre seus imóveis, como sobre cessãoque eles façam de hipotecas constituídas por terceiros a quem. tenha vendido em parte ou no todo os ditos imóveis, na-forma do art. 13, § 1?, daLei n? 1.237 de 1864.

§ 4? O total do capital social dos bancos, de cujas emissões o Estado assumir a responsabilidade, não excederá de 30.0(i0:00OS sendo deréis 1.000:0005 o capital máximo de cada um-dos bancos das 1 e 2 circunscrições (Belém e S. Luís do Maranhão), de réis 500:0005000 o de cada um dos das 3 e 9 (Fortaleza e Cuiabá), de réis 4.000:0005000 o decada dos das 4 e 5 (Recife e Bahia), de réis 12.000:000$000 o do da 6(Corte), de réis 5.000:0005000 o da 7f (5. Paulo) e o de réis2.000:0005000 o do da 8 (Porto Alegre).

§ 5? A responsabilidade do Estado pelas emissões - setá. coberta egarantida por qualquer dos bancos com o respectivo fundo social :iea1iza.

102 103

A letra hipotecária, fator e representante do crédito agrícola, que -

não tem dispensado favores do Estado em outros países, onde a propriedade rural se acha em circunstâncias mais prósperas que no Brasil, ficarodeada de todas as vantagens, próprias a facilitar a sua circulação comoinstrumento de crédito, podendo o governo empregar nesses títulos consideravel quantia, converter neles os-dihheiros- de empréstimos dos cofres Z - * - . . .

de órfãos, de bens de defuntos e ausentes e do evento, dos prêmios das - Se nao puder se constituir o banco em algumas das ditas circunscraloterias, dos depõsitos das Caixas Econômicas e Montes de Socorro, sen- çoes, sera ela incorporada a circunscraçao mais proxima.

do aceitas nas repartições publicas, para cauções fianças criminais e § 2° Competirá ao governo a nomeação dos presidentes das direto-para todos os casos emque se exige garaat1aeïaêliçes: . -

-

rias, que recairá em um dos membros das mesmas diretorias.

Gozando de tantos -privilégios, a letra hipotecária será procurada, - - 1 Aqueles delegados do governo preciacherão os deveres definidos iiotanto como as apolices, vaiado a ser puramente nominal a garantia do Es- art 1, 7 da lei de 22 de agosto de 1860 e terão voto na deliberaçãotado, . qual alias e marcado limite, decretando-se outras providências e das administrações a que presidirem

- 4ç.Xçalço para.sayaguarda do 1 Nenhumá letra hipotecária poderá ser emitida sem assinatára d fre:

Oé:

bahcos oderAo empregr’part de seú cat-emémiéstimoso .

:: -

- bre penhor de instrumênto aratôrios, frutos pendentes, animais e acessá- . -• - •rios, nos termos da Lei de 5de outubro de 1885, n? 3.272. -: - * -

• -. - Estes etapréstimos serão de grande 1canc para âpequenálavoura, -

que tem de propagar-se pelos terrenos até hojedesaproveitaos, e que emfuturo proximo serão convertidos pelos imigrantes em centros de cultura -

intensiva, servida por maquinismos modernos.

§ 3?- As letras hipotecárias só poderão representar empréstimos sobgarantia de propriedades rurais a juro que não exceda a 7% ao ano, ecom amortização calculada sobre o prazo convencionado-da-dívida entre5 e 20 anos. -

Page 52: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

:

104 105

do ou por se realizar e com a soma dos imóveis hipotecários. Cada umdos bancos fará entrar para o Tesouro ou Tesourarias de Fazenda, em,apólices da divida pública, uma quantia. correspondente a 10% do valordas emissões que’ fizer, até completar a importância.do respectivo capitalsocial, révertidos em seu favor os juros desse depósito, que será considerado como garantia da emissão.

Dada a eventualidade de qualquer adiantamento por parte do Tesouro, o governo fará vender destas apólices as que forem necessárias para oreembolso.

§ 6? Pelo produto liquido da receita dos bancos pagarse-á aosacionistas um dividendo, que não poderá excéder de 10% ao ano, revertendo o resto para o fundo de reserva.

Os bancos poderão criar reservas facultativas. ‘1êri’f’dta obrigatória.

§. 7? A. duiação dos bancos será de 30 anos, contados da data dodecreto, que autorizar sua incorporação. ‘ .

O”governo.rõhitícizrá’ã”dissóhïçAd’e”ínandará proceder à. liquidação do Bancci que perder metade .do seu capit4l rmiizado, sempre que P:respectivo fundo de reserva não cobrir ou mdenizar a perda verificada

Será’ lícito’ aos..bacos fazerêm emptêsümoaos propúetários.. .•..

• ‘ ‘riiái a êúrtopiazà sobre penhor de instmmentos aratôrios, frutos pn• dentes, de animais e acessóriosr noi ternos do art. 10 da Lei n? 3.272 de

5 de outubro de 1885. ‘ •, ‘

‘,Parà’ócórrer estes empréstimos poderá o banco rëservar ãté a.quinta’arte do seu capital reãlizado.

• Art. 2? As taxas e rendas destinadas para o fundo de emancipação, excluídas as relativas à propriedade servil e incluída a importânciada quota de 2/3 da taxa adicional de 5% conforme a Lei n? 3.270 de 28de setembro de 1885, art. 2?, §.3?,.lf e 2 partes, constituirão um fundodestinadoa ocorrer ao pagamento dos juros e amortização das letras hi-potecárias,. de.cujas emissões o Estado assumir a responsabilidade.

§ 1? O governo fica autorizado para empregar em letras hipotecá- -

rias da primeira emissão que fizerem os Bancos, deque•trata esta Lei, osaldo veiffici.dd io fundõ de mancipç è d s/3da taxa dos ieferidos 5% adicionais.

§ 2? É, outrossim, autorizado o governo para converter em letrashipotecárias, emitidas pelos bancos de que trata esta Lei e garantidas pelo Estado, os saidos dos dinheiros das seguintes origens:

Empréstimo do cofre de órfãos; -

Bens de defuntos, ausentes e do evento;Prêmios de loterias;Depósitos das Caixas Econômicas;

Depósitos dos Montes de Socorro.

§ 3?, As letras hipotecárias, garantidas pelo Estado, em ‘virtude

desta Lei, poderão ser admitidas para cauções nas repartições publicas.

para fianças criminais, e, em geral, para todos os casos em que a legisla

ção exige garantia constituída em apólice da dívida pública.

Art. 3? São revogadas as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 26 de junho de ‘1888. — João Alfredo Correia de

Oliveira.O Sr. Presidente: — À Câmara tomará na devida consideração a

proposta do governo. -.

O Sr. Presidente do Conselho e Ministro da Fazenda retira-se com

as mesmas formalidades com que fora recebido.

- Ç4.nai% da Câmara dos Deputados, sessão de’

26.06,1888, p,. 397-399)

Page 53: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

106

Discurso de Joaquim Nabuco

O Sr. Joaquim Nabuco pediu a palavra para mandar à mesa uma representação, que lhe foi dirigida, a fim de ser entregue a esta AugustaCâmara por três distintos abolicionistas da cidade do Recife, solicitandoque os livros da matrícula geral dos escravos do Império sejam cancela-dos ou inutilizados, de modo que não possam mais ter lugar pedidos deindenização. (Apoiados.)O orador se associa a este pedido comtanto mais convicção quanto,

se

os escravos tivessem sido desapropriados pelo Estado para seu uso, devia ele dar uma indenização; mas, comb o prejuízo resulta simplesmente -de uma modificação da nossa lei, se passasse neste caio o princípio daindenização, teríamos de indenizar todos aqueles interesses que são modificados por cada tarifa que votamos ou por cada alteração que fazemosnas leis do Império. (Muitos apoiados.).

A representação é a seguinte (lê);.

. .

.Augustos e Digrnssimos Srs Deputados á Assembleia Geral Legislativa. — O Dr. Antônio Joaquim de Barros Sobrinho, Numa Põmpíli éJooRam sentem sc.pTqf.unnte.ofend1dosWs:eus;.sentimentos:.de.:...

.:

dnsedeeidadAós bnisilèiràs pr ver queaidéia infelizda indénização aos ex-senhores de escravos, apesar de muito antipática. àgrandemaioria da população nacional, encontrou um esforçado difésor pariamentar na pessoa do Ex:Si. Bãrãó de Cotegipe...S. Ex, sem receio do severo julgamento da história, já traduziu. emprojeto apresentado na Câmara vitalícia as-inqualificáveis pretensões deindivíduos que desarrazoadamente se julgaram prejudicados nos seus interesses com a promulgação da civilizadora e humanitária lei de 13 demaio de 1888.

A extinção da escravatura não violou direitos dominicais de pessoaalguma, porque em nosso século nenhum homem civilizado e cristão sepoderá dizer impunemente e sem desonra proprietário de seu semelhante.Só deve ser indenizado o que sofreu injusto prejuízo, e nesse casoestavam as vitimas de três séculos de cativeiro e principalmente os africanos importados depois da lei de 1831 e seus..desventurados descendentes.Estão os peticionários seguros de que o patriotismo dessa AugustaCâmara imporá ao aludido projeto a reprovação que ele merece.Mas, infelizmente, a política do nosso País tem extraordinárias surpresas, e não se sabe o que será a Câmara vindoura, se os proprietáriosrurais triunfarem nas eleições, abafando, pelo número de seus representantes, a opinião adiantada, e no caso justissima, das cidades do litoral.

107

Nessa dúvida, vem os suplicantes requerer respeitosamente à Augusta Câmara temporária que se digne legislar, como justa medida de prevenção, que os livros das matrículas de escravos de todos os municípiosdo Império sejam cancelados ou inutilizados, para que em tempo algumposam servir de base às indicadas pretensões.

Certa como deve estar essa Augusta Câmara que a falada indenização seria tão contrária à honra do Império como fatal às já desorganizadas finanças públicas, esperam os suplicantes deferimento.E. R. M. — Dr. Antônio Joaquim de Barros Sobrinho. — NumaPompílio. — João Ramos.

(Anais da Câmara dos Deputados. sessto de24.07.1888, p. 262).

..

:

Page 54: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

C8THO68TSOLNIJNflDOU

Page 55: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Despacho do Ministro da Fazenda

Requerimentos despachados:

De José Porfírio Rodrigues de Vasconcelos e seus filhos, José deMeio Advim e o Dr. Anfriso Fialho, apresentando as bases para a fundação de um banco encarregado de indenizar os ex-proprietários de escravos ou seus herdeiros, dos prejuízos causados pela lei de 13 de maio de1888, deduzidos 50% de seu valor em favor da República. — Mais justo.eria,emelhor se consultaria o sentimento nacional, se se pudesse deséo—

• brir meio de indenizar os ex-escravos, não onerando o Tesouro. Indeferido.

-

- (Diário Oficial. Rio dd )aneiro. 12 nov. 1890, :5.26, co!. 2);..

111

Page 56: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

112

Recurso de Anfriso Fialho

• Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1890limo, e Exmo. Sr. Dr. Rui Barbosa -

A reflexão ‘que precede o despacho que O Paiz de hoje diz haver V.Ex dado a umaproposta para a fundação de um banco encarregado deindenizar os ‘ex-proprjetárjos dos escravos libertados pela Lei de 13 demaio de 1888, destoa tão completamente da seriedade que caracterizamtodos os atos de V. Ex que repugna-me admitir que Y. Ex tenha escrito semelhante coisa em matéria de tanta gravidade, quando seria maisnatural, no caso em que V. Ex não concordasse coin o pensamento dosproponentes, refletir pura e simplesmente a sua propostaAcredito, pois, que esse despacho e obra exclusiva de empregados degabinete. . -. .. ...

Por outro lado, a prdntidão com que foi dado esse despacho, antesmesmo de rea1ar-se a entrevista que tive a honra de solicitar de V Exa,9$ comertanos por demais zelosos de ‘redação do Paiz (unaco jornal quedeu hoje a noticia) e a curiosidade que um intimo dessaredaçAa —

qual éo mecanismo do banëo projetado:tudo iso autoria-me a crer que há entre auele despacho.e’aqueia reda• ção uma certa afinidade. . ‘•

tomo quer que seja, nà qualidade de’u dos’ ‘signatários da propós• •ta ‘em uestão. à qual, ao contrário do que se afirma no despacho enos cmentários, não acarretará, no fim das contas, ônus algum para otesouro nacional — eu não posso deixar de exprimir a mágoa que me• causou este desagradável incidente e pedir a V. Ex se digne de aprofundar o mecanismo do nosso projeto, porque estou convencido que, quandà õ tiver feito, reconhecerá facilmente què ele corresponde a uma necessidade real da sociedade brasileira e constituirá a prática de um ato dejustiça e eqüidade que contribuirá muito mais para a consolidação da República de que essas explosões de patriotisnio da parte de anônimos que,—-certamente, não podem alegar emfã’cifdõpaís antecedentes tão honrosos como os signatários da proposta, entre os quais se contam antigosoficiais superiores do exército e da armada nacionais.A conveniência social, a necessidade mesmo, da medida lembrada étão intuitiva que é minha convicção que a República a satisfará mais cedo ou mais tarde, e eu não sei mesmo como o seu primeiro Congresso,que deve ter por dever torná-la amada por todas as classes da sociedade,poderá repelir um bem reclamado por aqueles que mais contribuíram para a prosperidade da nação com aplausos unânimes daqueles mesmos que

_____•rr

‘ 113

hoje condenam uma medida reparadora e que eles, com certeza, aindanão estudaram.

Eu

termino, Sr. Ministro, pedindo se digne aceitar a expressão de

_________

minha respeitosa consideração.

DeV.ExDr. Anfriso Fialho.

(Arquivo Histórico da FCRB. Série Ministério daFazenda, 5/7 (457). • - -

Page 57: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Decisão s/n? de 14 de dezembro de 1890

Manda queimar todos os papéis, livros de matricula e documentosrelativos à escravidão, existentes nas repartições do Ministério da Fazenda.

Rui Barbosa, Mjnjsrj .e Secretário de Estado dos Negócios da Fazendae Presidente do Tribunsbjo Tesouro Nacional:Considerando que a Nação brasileira, pelo mais sublime lance de suaevolução histórica, eliminou do solo da pátria a escravidão — a instituição funestíssjma. que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da so‘ciedade, inficjoftoulhe..a..aosfera moral;Considerando, porém, que dessa nódoa social’,. ainda ficaramVestigio5nos arquivos públicos da administração; - -

Considerdo.. ‘que• a» República e”õbtiá’d’. dtnn éesvestígios por honra da Pátriça, e em, homenagem .aos nossos d:everes d -‘

-

fraternidade e soltdanedade para com a grande massa de cidadãos que

pela

abõljç do e1énj”vil’ entraram na’ comunhão’ btãsileira;Resolve: - ..,., ‘ . ‘ .

l Serão requisit.cjos de todas as Tesouranas da Fazenda todos ospapeis, livros e documentos existentes nas repartições do Ministério daFazenda, relatjyos ao elemento servil, matricula dos escravos, dos ingénuos, filho-ljvres de mulher escrava e libertos sexagenários, que deverão’ser sem demora remetidos a esta Capital e reunidos em ‘lugar apropriadona Recebedoria2? Uma comjo composta dos ‘Srs. João Fernandes Clapp, presidente da confeieração abolicionista, e do administrador da Recebedoriadesta Capital, dirigirá a arrdação dos referidos livros e papéis e procederá à queima e destruição imediata deles, que se fará na casa da máquina da Alfândega desta Capital pelo modo que mais convenientes pareceraconussão ‘

-

Capital Federal, 14 de dezembro de 1890.

115

Apoio de Antônio BentG e seus “Caifaíes” a Rui BarbosaeJoão Clapp.

TELEGRAMA DE JOÃO CLAPP A ANTÔNIO BENTO

‘.“Rio, 12-11-j890 — Abolicionistas da capital federal incorporam-se amanha ao grande préstito ae industriais e operários que vão saudar o ministro Rui Barbosa por ter negado seu apoio à fundação de um banco indenizador dos ex-proprietários de escravos. — João Clapp.”

(Diário de Noticias, Rio de Janeiro, 13 nov. 1890,p.’l)

“São Paulo -— Saúdo em nome dos abolicibiiistãs paulistas ‘a’ Rui Barbosa, por ter ordenado a destruiâo do arqúivo negro da escravidão; cumprimentanios o chefe por ser o presidente da comissão nornèada para talfim — Antônio Bento.”

(Diário de Notícias. Rio de Janeiro, 21 nov. 1890; -

p.1). ‘

-

(Obras Completas de Rui Barbosa, vol. XVII,1890, tomo II, pp. 338-40).

Decisão do Mij)istro da Fazenda

1

- RESPOSTA DE ANTÔNIO BENTO A JOÃO CLAPP. ‘

‘São Paulo; 13-11-1890 Reprente os abolicionistas paulistui na manifestação feita a’ Rui Barbosa — AntôilioBento.’t

,.‘. ;;;.. :...‘.. Wiário de tícias Rio’ e Janefro, J4

- . . ‘ . ‘

Rui Barbosa

Page 58: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

João aapp

A indenização de um valor imaginário, baseada na posse criminosade uni ente humano, já foi programa político com que alguns audaciosospretenderam subir ao poder em tempos idos.

Felizmente, para honra de nossa pátria, e por esforço patriótico dealguns homens honestos, quer do povo quer do Estado, nuncã se cotiseguiu uma lei que. sancionasse semelhante imoralidade. -

Quando,

porém, pensávamos que, em pleno ree republicano, jamais voltaria a exploração condenada, surge ela de novo, amparada porum deputado ao Congresso da União, e, segundo afirma este, por oltroscavalheirosquetêm patentes no exército e na armada.

Não duvidarnos que estes outros signatários do vergonhoso docu-.mento indeferido pelo honrado sr. dr. Rui Barbosa, atual ministro da

Fazenda

sej militares. ::O que podemos e assegurar que a classe a-que eles pertencem ou jápertenceram, repelirá esta óu qüalquer outra proposta semelhante à quese refere ao pagamento de um valor que se baseli em )ifl fato criminoso,.que por rigem primitiva mereceu para os seus autores .ó indulto dosgovernos. Lamentámos que no início de uma nova era de moral- social--venha se apresentar o pudor deum poyo, que tantos e tão boai exemplostem dado de patriotismo-e-deabnegação, ameaçando-o de levar de vencida a idéia de indenizar-se os ex-senhores de escravos.Posso também asseverar, em honra à maioria dos agricultores brasileiros, que, por circunstâncias muito especiais, encontram-se em dificuldades diante da áurea lei de 13 de maio de 1888, que ela .repele esta, como outras tentativas, de obter em seu nome favores do governo, os quaisnunca chegam ao fim anunciado. A essa louca ameaça, nós responderemos com a força moral das cpnsideraçaes sublimes.cjo4aureado ‘ministro------da Fazenda, lançadas no despacho que indeferiu a audaciosa proposta.Essa’ força, que vem de um. ato patriótico de tão elevado alcancemoral, não pôde deixar de encontrar um ponto de união forte e indestruüvel em todas as classes da nação, que se esforçam sobretudo pela suaelevação moral.

Presidente da Confederaçgo Abolicionista, JoAo Fernandes Clapp, participava da comissãonomeada pelo ministro Rui Barbosa, encarregou-se de dirigir e arrecadar os livros e papéisdo Ministério da Fazenda referente á escravatura e mandar proceder á queima e destruiçãoimediata doa mesmos, na casa de máquinas da Alfgndega do Rio de Janeiro.

117

Não -temos o mínimo receio que o famoso sindicato de indenizistaspossa alcançar no regime. republicano aquilo que por vezes foi repelidopelos estadistas do decaído Império.

Não. o conseguirão-, garanto, em nome de todos os que se bateram.por uma República que nos -assegura sobretudo a guarda fiel dos dinheiros da nação, apaz, a .ordem e o progresso, sendo este aliado inseparávelda moralidade administrativa.

Esse trapo de bandeira de corso político e industrial que já foi rotooficialmente pelo grande e ilustre brasileiro, o dr.. Rui Barbosa, será pornós completamente inutilizado, com os aplausos. unânimes de todos osque amam esta pátria, que se chama hoje a República dos Estados Unidos do Brasil, e não a República de estado próspero das indústrias quedepauperam os cofres públicos e desmoralizam os poderes constituídos.— João Çlapp. - -

. -:- -

‘ - -- ‘. . -,

(Diário de Noticias, Ridde Jaiiiro, 18 nov. 1890.)

116

A Indenização

____

Page 59: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Arquivo da Escravjdao

Realjzou..se ontem.,’ às horas da manhã, no edifício da Alfândega,a primeira queima dos. documentos e livros concernentes ao ignóbil tráfico de gente.

Assistiram ao ato a comissão nomeada pelo sr. ministro da Fazenda,composta dos cidadãos srs. João Clapp e João Paulo da Cruz Romano,administrador da Recebedoria do Rio, não comarecendo o sr. dr. RuiBarbosa, por ter de estár a essa hora no CongressoEstiveram também presentes os sr. Satamini, inspetor interino daAlfândega comendador Hasselman guarda-moe Reis, administradoras capazias, dr Galvão,’ engenheira de obras da Alfândega, Seixas deMagaihe5 Cícero de Sousa e Almeida, Frêderièo Júnior, Pinto Peixoto

• e putros cavalheiros, .

O mestre cariflteiro das obras, Jos& Francisco da Costa, no to daqueima apresentou a comissão o africano Custodio, de 10 anos de ida-.de operario da Alfândega pedindo que consentime ter ele a satisfaçãode assistir tambem a destruição completa dos atestados de martirio e de

- ‘Opróbrjó dà sua raça •.

.. :O Ciddo Clapp abraçando-j15lhe Que podia morrer em pazporque na República Brasileira ninguém -mais pOderia, continuar a infa

• ‘mar 0$ setís irniãos, fazendo bandeira política-e especulações mercantisde semelhante crime,. .poIqiie o fogo estava encarregado de apagar parasempre os seus vestígios dos arquivos públicos.• Encarregara5do seri’iço das fornalhas, com a máior Solicitude, 6primeiro maquinista Antônio Mota, o mandador geral, Antônio TeixefraCoelho.

- . -

À Proporção que vieren Rs remessas dos livros e. papéis da escravjdão, pertencentes aos Estados da União, se irá procedendo à queima.A Confederação Abolicionista pretende comemorar este fato patriótico do sr. ministro da Fazenda com na SOlenidade que o perpetue na

• memória dos nossos Vindouros

r4’ Belo Exemplo

119

Eis o que se passou no Congresso Nacional, ri sessão de sábado, apropósito do glorioso ato do Sr. ministro da Fazenda, mandando aniquiE lar os arquivos inúteis e infamantes da escravidão.

Pela resolução do ilustre ministro ficam as gerações futuras a salvode todas as vergonhas que o estado servil gerou e livres de que no parIamento ou em qualquer outro lugar ecoem as humilhações, de, que ninguém é culpado, como não há muito, na câmara francesa se ouviram insultos e sangrentas afrontas a um r rç8Eëntante da Guadelupe que se viu

-

- acusado de ser descendente de escravos.

.0

acerv da escravidão nada pode dar de útil ao Brasil sob o pontode vista.iiistór.ico, pois. só consta de misérias inenarrâveis desses tempos

— .- de barbaria. ‘Quéimar esses arquivos é fazer obra de benemerência, de

•.rnoralidade, degaiantia -às gerçOes furas, sem afetar inters àlumlegitimo e apenas estancando uma fonte de difamação histonca

‘‘‘ 6 Cohgresso -Nacional, - colocándo-se -‘à- altura da sua missâi

— congratulou-se -çom o governo por esse ator provando assim que aindaemplenh ‘República ficoú ao’ patriotisinb algúma coisa, que fazer nêita

pungente e dolorosaquestão d6 elemento serviLEis o que se passou no Congresso: (Õ.Sr.. Seabra.pela ordem):

-, -

- Peço a palavra sr. presidente, para apresentar consideração dacasauma s&ção que me .parece não poder deixai: de ser aprovada pelo Con-

gressoRefere-se ela ao fato de haver o governo mandado extinguir os- ,. últimos vestígios da escravidão.

A moção acha-se assinada por grande número de senadores e deputados, e espero que o Congresso, aprovando-a, fará justiça e prestará adevida homenagem ao patriótico governo provisório, que acabou de umavez para sempre com aquilo que era a nossa vergonha, a página negra dahistória do Brasil.

Vem à mesa, é lida e posta em discussão a seguinte:

(Diário de Noticias. Rio de Jaiieiro, 20 dez. 1890,p. 1). Moção

O Congresso Nacional congratula-se com o governo provisório, porter mandado fazer eliminar dos arquivos nacionais os últimos vestígiosda escravidão no Brasil.

Em 10 de dezembro de 1890.Barão de S. Marcos.General Almeida Barreto.

Page 60: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Conde de Figueiredo.José Simeão de Oliveira.Frederico Guilherme de Sousa Serrano.Virgilio C; Damásio.

- Juvêncio de Aguiar.

José Mariano.Belarmino Carneiro.Pedro Américo.Almeida Pernambuco.Luís de Andrade.

André Cavalcanti.João Barbalho.

O Sr. Badaró: — Sr. presidente, não quero que ninguém entendaque, ao levantar-me para pronunciar-me contra esta moção, eu pretendacondenar a obra meritória dos abolicionistas. O que faço é protestar ctra o ato de cremação de todo o arquivo da escravidão no 1 ‘

envolve interesse histórico. Nós, em vez de procurarmos

3. Meira de Vasconcelos.

120121

Mata Bacelar.Anibal Falcão.Luís Delfino.Urbano Marcondes.Fonseca Hermes.Domingos Rocha.D. Manhâci Barieto. A. Azeredo.JoAo Lopes. Joaquim Murtinho.José Avejino. Lauro Sodré.Barbosa Lima. Vitorino Monteiro.Uclion Rodrigues. Indio do Brasil.Serzede1oCorreja .. Lopes Trovão.Oliveira Pjntj. Carlos Campos.João de Siqjejra. . . . Atuide Júnior.

•........

Espírito Santo . . ‘ Muniz Fxeire.Pereira de• Lira. , ... .. . .. ..

. Gil Goulart.3. Ouriques.

. : . ..... ‘‘“•‘•‘J Retumba.

Jesuíno de Aibuquerque. .

.

Pedro Velho.’ ... . ‘ :.. ... ‘ ‘ Marcolino Moura.Jose Berqar t S L MedradoEpitácio Pessoa Artur RiosPrisco Paraiso - “

‘ 1 3 3 SeabraTeodureto.Souto . , . ‘ - . . Custódio José de Meio.Dr. Ferrejra Canto.’ . . .. . , ..

Belfort Vieira. :..:......:.:.:z:• ,

. Pais 4e Carvalho. ., • ‘ . -•A--Moreira da Silva.Frederico I3orges. ‘ .• ,

F. Mayrink.Costà Rodrigues. . . • • • Coronel Pires .Ferreira...L. Müller. Ant6nio JustiniãnôETeves Júnior.Tolentino de Carvalho. ‘•

Horn.A. Milton. . • . . Raimundo de Andrade.Santos Pires. , .. -

Marciano de Magalhaes.B. MendonçaAugusto de Freitas.Rosa Júnior.M. Valadão . Zama.A. Stockler.Amorjm Garcja.José Beviláqua.Paula Guiniaràes.Dionisio CerquejraFrancisco Argolo.A. Oxnelas.

Page 61: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

exatores, cujas contas ainda não tenham sido tomadas, quanto à arreca

• dação laquë1e imposto, deverá a vefificação dessa responsabilidade ser

feita pela confrontação-da importância das certidões extraídas dos talões,com as partidas do livro da receita . — T. de Alencâr Araripe.”

///

22

Circular do Ministro da Fazenda

123

uma obra de verdadeiros iconoclastas, devíamos ter a nossa Torre doTombo, um edifício destinado a recolher os papéis de todos os arquivosdo País. -

Somos um povo novo, que corremos o risco de ter dificuldades paraescrever a nossaiiistória, porque é deplorável o queseobserva em todasas mumcipalidades e nas repartições das antigas províncias: pôr toda aparte o mesmo abandono, o mesmo descuido, e por filtimo o-fato demandar-se queimar grande numero de documentos que podiam servir pa- “Convindo, para cumprimento das instruções expedidas por este mira se escrever com exatidão a historia do Brasil no futuro rnsterio, em 14 de dezembro de 1890 que fiquem extmtos todos os livros

O Sr Lamounier Godofredo— A vergonha nunca ha de deixar de e papeis referentes ao elemento servil, recomendo aos Srs inspetores das

existir; não é a cremação que a fará desaparecer. -. tesourarias da Fazenda que providenciem, com toda a urgencia, para que

.OSr, B,d6 Além distô, não se podem fazer apagar os sejam incinerdos, sem, demora, os livros de lançamento e as declaraçoes

vestígios da escravidão, porque para atestá-la aí está a debilidade da para a cobrança da taxa de es,desa raça. (Muito bem; muitõ bem). - -

•juizo que os houver expedido; ex-vi do art. 5. da-Lein.- - . - novembro de 1888; desaparecendo por este modo os. ultimos documentos•

Nmguem mais. pedindo a palavra, e encerrada a discussão. - que atestam a ex-propriedade servil. -

Posta a votos, e a moção aprovada“A incineração sera feita em presença da Junta da Fazenda, e disto

Honra ao Congresso Nacional se lavrara uma ata minúciosã, da qual se remetera copia a este muuste

(DiAiio dè NotTczas Rio de Janeiro 22 dez ta90 -. -,-.iI+., — + wrr, -n*n at,p si rencnsabilidade‘‘-:‘

p.t).

Circular de 13 de maio de 1891 -

“Circular n? 29 — Ministério dos Negócios da Fazenda ‘— Rio deJaneiro, 13 de maio de 1891. -

(Di1ria Oficia). Rio de Janeiro, 13 maio 1891, pp.

2.037-8):

Page 62: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

124

- 125

Ata de Incineraçãoda Empresa Locomoção e Móveis precedidos pela banda de

música da Polícia.

Cid Teixeira, Bahia em timpo dc província. Salva

“Aos treze dias do mes de maio de mil oitocentos e noventa e três,.

dor, Fundaçâo Cultural do Estado da Bahia, 1986,septuagésimo da Independência, quinto da abolição do elemento servil,

.., 192-193. (Série Cultura Baiana, 4).quinta (sic) da Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil, 1em presença do Dr. Secretário do Governo do Estado representando o -Dr. Governador; Com. Dr. José Luis de Almeida Couto, Intendente Municipal; Dr. Augusto Pedro Gomes da Silva, Chr.,. de Policia; cidadãoJosé Ramos da Silva Júnior, Inspetor da Alfândega; comissões do Sena-do; da Câmara dos Deputados; do Conselho Municipal, Dr. Sátiro de -Oliveira Dias, Diretor da Instrução Pública; representantes da imprensa;funcionalismo público; diretores da Sociedade Baiana Treze de Maio;grande concurso de cidadâos de todas as classes sociais e da Comissão - -

• Popular que espontaneamente ofereceram-se para tornar solene o ato da -incineração dos livros e mais papis oficiais referentes ao elemento servil •remido pela áurea lei de 13 de maia ‘de ‘1888, em cumprimento da ordem • - - - , •

‘ transiiiftjda0Dr. Diretor do Arquivo Público deste Estado pelo então • - • ‘Governador chefe de Divisão reformado Joaquim Leal Ferreira em oficio -.de M de dezembro de 1891, em execução ao Ófido-circuJaj Mmisterzc,da Agricultura, Comercio e Obras Publicas (Antãa Gonçalves de Faria)-

‘ le 25. doCjtadojnês e ano, fozm destrujdo5pelo fogo, às doze hoias de -. •hoje, no Campo dós Mártires, os mesmos docuxiientos já referidos, que • - -

daAlfândega, no Tesouro do Estado ‘ •e na Secretaria do Governa, excetuados;’ tiniëameqté, os que nostraxam: , ‘

ter algum interesse histórica. Do que tudo para constar mandou o Dr. ‘Diretor do Arquivo 1úblico do Estado lavrar neste livro, esta ata que vai ‘

- ‘‘‘ pelo mesmo assinada, pelas autoridades presentes, represent da mi-prensa, diretores da Sociedade Baiana Treze de Maio, Comissão Populare mais pessoas presentes ao ato. E eu, José Carlos Ferreira, amanuensedo Arquivo Público a escrevi e assinei.”

A ata ficou à disposição dos presentes para assinaturas, O intenden- -te, o chefe de policia, o Secretário do Governo, que era Manoel Pedro de_esende, Salvador Pires de Carvalho e Albuquerque, do Inititutõ Histórico, Aloisio de Cai-valho, do Jornal de Notícias, Torquato Bahia, doDiário da Bahia, Joflo Florêncjo Gomes, diretor do melhor colégio dacidade, Pânfio Santa Cruz e Eduardo Carigé, grandes nomes da campanha abolicionista, Frederico Lisboa que dirigia o Arquivo do Estado emais todos os presentes assinaram o documento. , -

Ali, no Campo da Pólvora, durante horas, o povo esteve assistindo -à fogueira de uni enorme monte de papeis, para lá removido, por dois —

Page 63: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

-- -

- ÊICE

Page 64: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

129

Os Açoites, prática nefanda

‘....- .:.....: ... ..:

“No pelourinho — conta Vieira Fazenda — eram surrados os escra

vos. Há na obra de Rugendas uma estampa que horroriza, é um pungen

te epigrama aos nossos antigos costumes.

Ela devia ser destruída como o foram todos os papéis e documentos

que se referiam aos tristes e escandalosos fatos de escravidão no Brasil”.’

A nota é de 8 de outubro de 1901. Em que pese o tom jornalístico,

escrito certamente como eco da decisão do Ministério da Fazenda dê

mandar queimar os documentos relativos às mátrículas dos esçravos, o

velho cronista dá a origem, da palayra picota, pelourinho”ou”’polé, que

significa o símbolo da autonàrnia múnicipal e era onde por iso mesmo

se

exercitava .a justiça em nome d’EI Rei. Rei .absolutõ, pode-se acrescen

tar como eram os monarcas portugueses çl’iflanho ate Dom João VI ou

Dom Miguel, pelo menos. Após a independência, começaram no entanto

a er derrubados os pelourinhos Alguns subsisuram o de Cabo Frio so

•«“.«desápareceu em:l8r53 g,4e aúposem 18 .7.A..4estruíçAOL.dos.Pe10ufi.

— nhos. era um smal de que o povo não tinha boas lembranças da justiça

Teal.:. Edeejava’varêd mória’sem’1ue ‘dei,Casse estígios. “

.ViI.azenda:.prde

.por igual a destruição de gravuras como. as de

Rugenda., que documentam ,os, horrçres da escravidão. No’ entanto, o

grande desenhista alemão não foi. o único a xar ‘em seus tr,abaihos as

torturas que os senhores de escravos impuseram às. suas propriedades,’

sem que delas quisessem abrir mão. Jean Baptiste Debret já o havia feito

antes de Rugendas. Além do desenho ou desenhos, na sua Voyage Pitto

resque et Historique au Brésil dá-nos o artista francês uma descrição va

lios’issima das’ txecuçôes públicas. Vale a pena ‘tranàrevê-la na excelente

tradução de Sérgio Milliet. Veja-se por exemplo a explicação da prancha

45 do álbum de Debret:

“O povo admira a habilidade do carrasco que, ao levantar para apli

car o golpe, arranhn de leve a epiderme, deixando-a em.carne viva.,depois

da terceira chicotada. Conserva ele o liraço levantado durante o intervalo

‘de alguns segundos entre cada golpe, tanto para contá-los em voz alta

como para economizar suas forças até o fim da execução. Aliás, tem o

cuidado de fabricar ele próprio seu instrumento, a fim de facilitar essa

tarefa. Trata-se com efeito de um cabo de chicote de um pé de compri

mento com sete ou oito tiras de couro espessas e retorcidas. Esse instpi

mento contundente nunca deixa de produzir efeito, quando bem seco,

mas ao se amolecer pelo sangue precisa o carrasco trocá-lo, mantendo

para isso cinco ou seis a seu lado, no chão.

Page 65: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

130 131

O lado esquerdo da cena está ocupado por um grupo de condenados hermeneutas estabeleciam a distinção de que a Constituição asseguravaenfileirados diante do pelourinho onde o carrasco acaba de distribuir 40 os direitos do cic.iadão e não os do escravo Para o negro o açoite oou 50 chicotadas. É natural que entre os assistentes, os mais. atentos se- aorrague, o bacalhau. -

jam os dois negros das -eitremidades do grupo, pois coube-lhes em geral O Dr. Manuel Ribeiro da Rocha, que praticou no século XVIII naa um ou outro substituir a vitima mandada para o pau da paciência, co- Bahia a profissão de advogado, na sua célebre obra’Etíope resgatado,mo se chama o pelourinho; por isso suas cabeças abaixam à medida que 1758, aconselhava que não se devem “arbitrar os açoites dos escravosas chicotadas aumentam.não apenas aos 200, 300 ou 400, como se acha já ado’nas fazendas,

É no pelourinho que se pode avaliar o caráter do negro castigado e engenhos e lavras minerais; devem-se, sim, arbitrar aos 20, 30 e 40”.o grau de irritabiidade de seu temperamento geralmente nervoso. Acon- Naquela época, não era só costume “sarjar”- as nádegas dos escratece mesmo que se modifique na execução o número de golpes, em vista .....vos, depois dos açoites, a fim de, conforme ali se diz,h “evacuar por estedo esgotamento das forças doindiyiduo demasiado impressionável, o que modo o sangue que ficou pisado e se pode apostemar, como tambémme foi dado verificar com um jovem mulato, escravo de um rico proPne-’-:—”:,-—.. cauterizar as pisaduras com pingos de lacre derretido”.tario.

. :, . .. ,. :.,“ Em ,L861, um aviso ministerial do governo imperial resolveu, moderarErnbora’fortemen€e. amarrados. como mostra o desenho, a dor 4á-lhe

««« o entusiasmo dos juizes surradores, aconselhando a que limitassem o casenergia suficiente para se erguer na ponta dos. pes a cada chicotada rece- tigo a 200 açoites A pratica dessa crueldade levantou protestos como obida, movimento cónvulsivo tantas vézes repetido que o suor da fricção‘, de Joaquim Nabuco, em artigo publicado n’O Paiz, -de 29 de julho dedo ventre e das çoxas da vitima acaba polindo o pelourinho a certa altu- 1B86 Cinco escravos do fazendeiro Domiciano Caetano do Vale tinham‘na Enquanto ‘alguns condenados (e estes são teinufeis) demonstram uma sido condenados pelo juiz de Paraiba do Sul sendo um a gales perpetuasgraiideforçw’de”caráter;’sofrendo em”silênciá’at& a última ‘chkxitadá. - e quatro a 300 açoites. -

Logo ‘depois de desamaxrdo, e o negro castigado deitado no chão Tão barbaros foram os castigos assistidos aliás pelo juiz Dr Césarde Cabeça para baico a fim de evitar-se a perda dê sangue, eachaga es- . .

•- Vilaboim, que dois escravos morreram. ‘ .condida sob a fralda da camisà escapa assim à picada dos enxames de. ‘ .

moscas que logo se põem a procura desse homvel repasto Finalmente, O senador Dantas na sessão do Senado do dia seguinte leu o trechoterminada a execição os condenados ajustam suas calças e todos dois do artigo de Nabuco, censurando energicamente o fato nele exposto epor dois, voltam para a prisãó com a mesma escolta que os trouxe. ‘.

- para o qual o articulista chamava a atençao da Princesa Regente. O Mi-- . . ‘ . . -, . -

nistro da Justiça, Ribeiro da Luz, não pôde negar, antes confirmou a--’Essas execuções publicas, restabelecidas ‘com todo o rigor em 1821,ocorrência, apresentando um telegrama do juiz de direito. Prometeu proforam suprimidas em 1829 e passaram a ser realizadas desde entao numvidenciar. Destas ninguém teve conhecimentoEMas o ruidoso caso serviu,umco lugar ingreme e pouco freqüentado, a porta da prisão do Castelo, . . -

- sen dúvida, para apressar a votação e discussão do projeto abolindo ademolida com a ‘construção do Arsenal do Exercito”.2pena dos açoites, que afinal se consumou a 15 de outubro de I885.Evanisto de Morais, o velho, ocupa-se largamente do mesmo assun-.

to, no clássico A Campanha Abolicionista (1879-1888), ao tratar O presidente do Conselho, Barão de Cotegipe, fez no entanto umade 10, de. junho de 1835, Código Criminal do Império, que punia com a 1 rçstnição: a de que era necessario continuar os castigos moderados...pena de morte dos crimes dos escravos que atentassem contra a vida de Os escravos supliciados em Paraiba do Sul chamavam-se Launndo

- - seu senhor, sua mulher, ascendentes ou descendentes, administradores e- Tadeu, Alfredo e Benedito e haviam sido. ‘entregues aos capitães-demato

feitores. “Se o ferimento ou a ofensa física forem leves, a pena será de 1 João Correia Ventura, João Correia Machado,»José Rodnigues de Lima eaçoites à proporção das circunstâncias mais ou menos agrhvantes”. Prudêncio Vieira, os quais, acompanhados por escravos, os levaram, a

A Lei ia de encontro à Constituição de 25 de março de 1824, que pé, algemados e atados à cauda de seus cavalos, para a fazenda do dono,dispunha no § 19 do Art 179 “Desde já ficam abohdo os açoites, a conforme relato de R Magalhães Junior em sua biografia A vida turbutortura, a marca de ferro,.quente e todas as peúas cruéis”. Não obstante, ‘ lenta de José do Patrocinio.4o Código Criminal, posto em vigor em 16 de dezembro de 1830, e aper- Esses casos foram divulgados pela imprensa. E os outros que ocorre-’feiçoado na sua crueza em 1835 mandava aplicar aos escravos a pena de 1 ram aos milhares no vasto interior do Pais inteiramente desconhecidosaçoites A Lei era uma para os cidadãos e outra para os escravos Os pelo publico da Corte9 Jose Bonifacio o Moço, denunciava no Senado””

Page 66: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

i..o,.

4,08

‘6°o.—o,.

132 133

esses “assassinatos legais”, praticados a granel. A interpelação do Audrada ao ministro da Justiça, Ribeiro da Luz, provocou gargalhadas, norecinto quando o titular da pasta, do alto da sua autoridade, afirmouque os escravos de Paraiba do ‘Sul tinham morridó. de congestão cerebral.

Noatético diálogo entre José Bonifâcio e o ministro, interpelou oprimeiro: “A morte verificou-se com todos os sacramentos legais: nãofaltou mesmo a graça divina da’ multiplicação do azorrague. Ora, o quetem os magistrados com isso, executores ou.não executores da sentença?Hão de ezflreter-se em alterar a forma do instrumento do suplício, comofensas das velhas usanças”.’ ‘

Assim era a justiça no tempo da escravidão. Para José Bonifácio, aaritmética escravocrata transformava a pôna de açoites em pena de morte... Parece inconcebível, mas a verdade é que a Lei iníquãõëfiã.abolidt após a lib.çrtação dos: sexagenáriós, em 18864 Sexagenários que ‘tivessem completado .65. anos de idade. ‘‘ . •.‘ . .

F.A.B.

NOTAS

1. FAZENDA, José Vieira. Antiqualhas e mem6rias do Rio de Janeiro. Rio de janeiro,

- — Qj S,tijp{,oj çe r4jLçkQJyj9p7, .

2. DEBRET, Jeaxi Baptiste, Wagem pitoresca e histórica ao Brasil. Tradução de SérgioMiUiet43f ed., São Paulo, Livraria Marfins Editores, 2v., t. I,.pp. 265-66.

3. MORAIS, Evaristo de. A Campanha Abolicionista (1879-1888). Prefácio de Evaristode Morais Filho. 2 cd.. Brasilia, Editora Universidade de Brasilia, 1986, p. 179 e nota169.

4. MAGALHÃES Júnior, Raimundo. A vida turbulenta de José do Patrocínio. Rio deJaneiro, Sabiá, 1969, pp. 202-203. - - -

5. ANDRADA e SILVA. José Bonifácio de, dito o Moço. Discursos parlamentares.Seleção e introdução’ de Francisco de Assis Barbosa. Brasilia, Câmara dos Deputados,1979. (Série Perfis Parlamentares, 13.)

Page 67: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

i

Exe

cuçõ

espú

bUca

sn

iode

Jane

iros

Pel

otir

inho

doId

amp

dGS

an4na.

Des

enho

deR

ugen

das

Cor

tesi

ado

Inst

itut

oH

isfó

ric

e.G

eógr

áfic

oas

i1ei

ro.

Afr

ican

osat

irad

osao

mar

cheg

ada

dopo

rto

doR

ioe

Jaii

eio,

para

qu

osne

grei

ros

esca

pass

em,

assi

m,

àfi

scal

iaaç

Ao

doco

rsàr

ioirí

gles

,qu

ese

van

fund

o.G

ravu

radea

uto

rnê

oid

enti

fica

do,

cerc

ade

1850

Ar4

uivo

part

icul

arde

Am

êric

oJa

cobi

naL

acom

be.

..

**

Page 68: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

0

1i;

iÍ;ç

j

Cen

ade

excu

çdes

públ

icas

nopeI

ouri

nI,

bam

poLi

sntÁ

na

Rio

deJ

aneI

o.

JBD

ebre

t,C

orte

sia

doIn

sqtu

toH

itô

rico

.eG

eogr

áfic

oB

rasl

efro

.:

a

:4

Fei

tor

cast

iga

imi

ecra

,am

arr

ado,

com

Ølt

amçn

teix

ilia

d,;

num

afa

zend

ano

sar

redo

res

doR

iode

Jane

iro.

JBD

eret

.C

ort

esi

a

dotn

stit

uto

His

tóri

coe

Geo

gráf

ico

Bra

sile

iro.

:

Page 69: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

4

- --

4

W11LIOGRAFIA

Page 70: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Bibliografia4

1. Fontes primárias.

Arquivo de Rui Barbosa. Série Ministério da Fazenda.

BRASIL. Congresso. Câmara dos Deputados — Anais. Rio de Janeiro, Typ. H. J. Pinto, 1888. Vois. 1-7. . -

BRASIL — Congresso. Senado Federal. Anais. Rio de Janeiro, Typ. Nacional, 1888.Vois. 1-6.

DIÁRIO OFICIAL. Rio de Janeiro, 1890.

2.

Periôdicos

•.

.

. DIARIO DE NOTICIAS. Rio de Janeiro, 1890.* . *. .. . . . ...

:.. .... JORNALDO BRASIL. Rio de Janeiro, 19.

JORNAL DO COMMERCIO Rio de Janeiro 1890

PAIZ, O Rio de Janeiro 1890

3 Livros e Artigos

BONIFÁCIO, José. Discursos..Parlamentares. Sei. e introd. de Francisco de Assis Barbosa. Brasília, Câmara dos Deputados, 1979, 327 p. (Perfis Parlamehtarès, 13):

CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que NãoFoi. São Paulo, Companhia das Letras, l987.,196-p..L..

CLAPP, João. “A Indenização”. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 18 nov., 1890, p. 1.

CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro. Notícia histórica e descritiva da cidade.Edição do IV Centenário. 3 ed., rev. e aum. Rio de Janeiro, José Olympio, 1965. 2...vols. (Rio 4 Séculos).

DANTAS, Francisco de San Tiago. Dois Momentos de Rui Barbosa. Conferências. Riode Janeiro, Casa de Rui Barbosa, 1949. 127 p.

DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Notas de Sérgio Milliet. 3 ed., São Paulo, Martins, vol. 1, pp. 265-266.

FAZENDA, José Vieira. Antiqualhas e Memórias do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,Impr. Nacional, 1921-1943. 5 vois.

RALHO, Aifriso. História da Fundação da República no Brasil. Rio deJaneiro, Laemmert, 1891.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. 7 cd., Rio de Janeiro, José Olympio, 1952. 2 vois. (Documentos Brasileiros, 36, 36A).

FREYRE, Gilberto et alii. Estudos Afro-Brasileiros. Rio de Janeiro, Anel, 1935.

GOULART, José Alípio. Da Fuga ao Suicídio: Aspectos da Rebeldia do Escravo noBrasil. Rio de Janeiro, Conquista, 1971.

Page 71: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil monãrquico. Do Império â República. SãoPaulo, Difusão Europeia do Livro, 1972. V. 5, p. 213.

KARASCH, Mary C. Slave life in Rio de Janeiro (1808-1850). Princeton University‘Press,1987,422p.

LACOMBE, Américo Jacobina. Á Sombra de Rui Barbosa. São Paulo/Brasília, Cia.Ed. Nacional/INL, 1978 — 226 p. (Brasiliana, vol. 365).

_______

“A Queima dos Arquivos da Escravidão”. Revista Branca (9): 7/10, OUt.-nOv.,1949.

SLENES, Robert W. “O Que Rui Barbosa Não Queimou”: Novas Fontes para o Estudoda E.raYidão no Sêtalo XIX”. &túdos Econômicos. São Paulo, 13 (1); 117-149,jan./abr., 1983.

TEIXEIRA, Cid. Bahia em tempo de província. Salvador, Fundação Cultural do Estado daBahia, 1986. (Série Cultura Baiana, 4).

VIANA FILHO, Luis. ONegro na Bahia. Rio de Janeiro, José Olymi5io, 1946.

_______

“Rumos eCjfras do Trãfco,Baiano”. Estudos Brasileiros, Rio de Janeiro (15).

_______

A’ Vida de Rui Barbosa. Introd. de Luis Forjaz Trigueiros. l1 ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1987.

SOUSA, Otávio Tarqüínio de. “Estudos Afro-Brasileiros”. O Jornal, Rio de Janeiro, 9fev., 1936.

142

_______

“Fontes da História do Brasil; perigos de destrnição”. Franca, Memória da 1Senlana da História, 1979. -

_______

“Rui Barbosa e a Queima”. Digesto Econômico, set./out, 1983.

MAGALI-IÃES JÚNIOR, Raimundo. A Vida Turbulenta de José do Patrocínio. Rio de - - . .

Janeiro, Sabzá, 1969, pp. 202-203. (Hora e Vez do Brasil, 3).

MORAIS, Evaristo de. A Caaipanha Abolicionista (1879-1 888). Pref. de Evaristo de Mo- . . .. .

rais Filho 2* cd , Brasilia Ed Universidade de Brasilia 1986 p 179 e nota 169(Temas Brasileiros, vol. 60). . .

NABUCO, Carolina A. Vida de Joaquim Nabuco. 2 cd.,. São Paulo Ed. Nacional, . . . -: .

1929. 499 p. . - . . . . . . . . .

NABUCO Joaquim Discursos Parlamentares Intr de Gilberto Freyre Brasilia; Cãnsa.ra dos Deputados, 1983. 595 p. (Perfis. Parlamentares, 26) —

NEQIJETE

Lenine. “Os.Açoites: Castigo e Pena”.. Arquivos do..Minjsrério da Justiça.. . *

illa;’4a(l70):3-28;oist./dez_, :1987..,’:‘ ‘:. ‘ .

‘‘ ‘-“f’=

-•‘. : :, :•.:::::.::.:,:-: -::: ‘--:::::

OLIVEIRA, Franklin de. Morte da Memória Nacional. Rio de Janeiro, Civilização Bra- . . *

* .. . -.. . . .

si1eira,l.967.. .:.zz....’.’:.._ ......_ . .. . . . . •. . . .. ..

.

PERES, Fernanda da. R,ocha. Memória da Sé Salvador, Impr. Oficial.dG Estado, .1.974. . .‘ . .: .

RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. 3 ed., São Paülo, Cia; Ed. Nacional, ‘ ‘ ‘ . . . . -

1945. 435 p. (Brasiliana, vol. 9). . . - .

Rj3UÊS, José Honório. A Pesquisa Histórica no Brasil. 3 cd., São Pau- . . .

Este livro foi compostolo/Brasilia,.Cia. Ed. Nacional/INL, 1978. 306 p’ (Brasiliana, vol. 20). , .

e impresso nas oficinas gráflcas do

RUGENDAS, Johann Moniz. Voyage Pittoresque dans Xc Brésil. Paris, Engelmenn, DEPARTAMENTO DE IMPRENSA NACIONA11835. ..-. .. , . no 1? semestre de 1988

para a

FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOACódigo: 00508

Os livros da Fundação Casa de Rui Barbosa podemser adquiridos por reembolso postal

ou diretamente àRua São Clemente, 134

Rio de Janeiro, RJ:CEP 22260

Tel.: (021) 286-1297- Telex: (021) 37232

SOLICITE NOSSA LISTA DE PREÇOS

Page 72: Rui Barbosa e a queima dos arquivos

Este livra foi compostoe impresso nas oficinas gráficas do

DEPARTAMENTO DE IMPRENSA NACIONALno 1? semestrede1988

para áFUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA

Código: 00508

Os livros, da FInldaçâQ Casa de Rui Barbosa podemser adquiridos por reembolso postal

ou diretamente áRuaSão Clemente, 134Rio de Janeiro, RJCEP 22260Te!.: (021) 286-1297Telex: (021) 37232

SOLICITE NOSSA LISTA DE PREÇOS