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A Filosofia de René Descartes Cogito, ergo sum Dubito, ergo cogito, ergo sum

H1 - Aula 08

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A Filosofia de René DescartesCogito, ergo sum

Dubito, ergo cogito, ergo sum

Deve-se, principalmente, a três

fatores históricos o surgimento da

filosofia moderna: o humanismo

renascentista do século XV, a

Reforma Protestante e a revolução

científica no século XVIII.

Humanismo Renascentista(do século XIII a meados do século XVII)

Ganha força nas artes plásticas, retoma-se o

ideal clássico greco-romano em oposição as

concepções medievais. Valorização do ser

humano enquanto indivíduo, de sua livre

iniciativa e de sua criatividade.

Atualização da célebre afirmação de Pitágoras

pelos renascentistas: “o „homem‟ é a medida de

todas as coisas”.

A Reforma Protestante(1517 a publicação das 95 teses por Martinho Lutero)

A Reforma Protestante também ocupa a centralidade na constituição do saber filosófico sobre a modernidade.

Tira dos clérigos a centralidade da interpretação das escrituras bíblicas com sua reflexão sobre o sacerdócio universal, neste sentido, ele dá autonomia aos fiéis, pois cada um agora pode interpretar as Escrituras Sagradas.

A tradução da Bíblia do latim para o alemão viabiliza com mais vigor a individualização da fé, e conseqüentemente a individualização dos sujeitos.

Revolução Científica

Por sua vez, rejeita muitas verdades teológicas

como, por exemplo, o universo geocêntrico,

pondo no lugar do Planeta Terra o Sol, tornando

o modelo de organização do universo

geocêntrico, além da quantificar e qualificar do

tempo e do espaço.

Desencantamento das consciências

O saber ativo voltado à prática e não a

contemplação

Redescoberta do Ceticismo

“A oposição entre o antigo e o moderno, suscita

a problemática cética do conflito das teorias e da

ausência de critério conclusivo para a decisão

sobre a validade destas teorias” (Danilo

Marcondes).

Do desejo de definir a verdade...

“O bom senso ou a razão é naturalmente

igual em todos os „homens‟; e, destarte,

que a diversidade de nossas opiniões não

provém do fato de serem uns mais

racionais que outros, mas somente de

conduzirmos nossos pensamentos por

vias diversas e não considerarmos as

mesmas coisas”, René Descartes, em

Discurso Sobre o Método.

Nasceu em 31 de Março de 1596 na França

e faleceu dia 11 de fevereiro de 1650 Suíça

Dados Biográficos

1. Aos dez anos entrou para o importante Colégio de La

Flèche, jesuíta, onde desenvolveu profundo interesse pela

matemática e posteriormente pela física.

2. Graduou-se em Direito em 1618.

3. Alistou-se no exército, onde pretendia seguir carreira

militar.

4. Freqüentou a alta sociedade francesa antes de mudar-se

para a Holanda, procurando a tranqüilidade necessária

para pensar e, é claro, desenvolver seu método.

5. Viveu no contexto dos conflitos entre católicos e

protestantes na Europa.

6. Autocensurou sua obra, para evitar a repressão católica e

a reação protestante.

7. Após sua morte a Igreja Católica Romana listou suas

obras no “Index Librorum Prohibitorum.”

“Homem de sua época, Descartes foi,

ao mesmo tempo, viajante contumaz

e homem retirado, soldado engajado

em exércitos em guerra e homem em

busca de tranqüilidade, aliado de

católicos e de protestantes, homem

da corte e habitante da província,

pensador isolado e correspondente

da intelectualidade européia”.

Eclético, foi “autor de um manual de

esgrima e de uma das mais profundas

obras de metafísica, racionalista,

homem de ciência e interessado na

magia e nos mistérios dos rosa-cruzes,

a cuja ordem talvez tenha pertencido”.

“É a diversidade dessas experiências

que forma a matéria a partir da qual

Descartes desenvolve seu pensamento,

e é por insistência do próprio

Descartes que devemos compreender

o pensamento filosófico como

resultado da reflexão sobre a

experiência de vida” (Marcondes,

2001:162).

Ao transitar em múltiplas visões de mundo...

1. Destaca a fragilidade da busca pelo conhecimento concreto naquele contexto.

2. Critica a tradição que não oferece firmeza em suas verdades.

3. Propõe começar a construir um conhecimento do princípio. Começar tudo de novo.

Ao transitar em múltiplas visões de mundo...

4. Pretendeu desconstruir a multiplicidade da doxa para

viabilizar o novo.

5. A cultura impede a razão (o conhecimento sobre

determinada coisa se contradiz em culturas diferentes).

6. Fundamentar uma nova ciência.

7. Fazendo nascer a dúvida.

Metáfora do pressuposto da teoria do conhecimento cartesiano, segundo Pe. Bourdin:

“Se vós tivésseis um cesto de maças dentre as quais haveriam podres, contaminando assim as restantes, o que fazer senão esvaziá-lo todo e, tomando cada maça uma a uma, recolocar as boas no cesto e jogar fora as más”

“Todas as noções que temos da realidade exterior, como o Sol e a Lua, por exemplo, poderiam não passar de imagens oníricas. Mas a realidade exterior também possui características que podemos conhecer por meio de nossa razão. Por exemplo, as relações matemáticas, ou seja, o que pode ser medido: comprimento, largura e profundidade. Essas propriedades quantitativas são tão evidentes para a razão quanto o fato de que sou um ser pensante. Já as propriedades qualitativas, tais como cor, odor e sabor, estão relacionadas aos nossos sentidos e não descrevem, na verdade, uma realidade exterior”.

O Corpo e a Mente“Descartes considerava o corpo

humano o resultado de uma

mecânica arrojada. Tecnologia de

ponta, como diríamos hoje. Mas o

homem possui também uma alma

capaz de operar independentemente

de seu corpo. Os processos do

corpo não possuem tal liberdade,

pois obedecem às suas próprias leis.

Mas aquilo que percebemos com

nossa razão não acontece no corpo,

e sim na alma, na mente,

independentemente da realidade

material.”

“Sempre ocorre uma interação entre alma e corpo. Para ele, enquanto a alma habita o corpo ela está ligada a ele por um órgão muito especial, uma glândula localizada no cérebro, dentro da qual ocorre esta constante interação entre espírito e matéria. Assim, para Descartes, a alma era constantemente perturbada por sentimentos e sensações que tinham a ver com as necessidades do corpo. Mas o objetivo deve ser entregar à alma o controle de tudo, pois, independentemente de serem fortes minhas dores de barriga, a soma dos ângulos de um triângulo será sempre de 180º.

O Corpo e a Mente

Desta forma, o pensamento pode se elevar

para além das necessidades do corpo e se

comportar “racionalmente”. Deste ponto de

vista, a alma é totalmente independente do

corpo. Nossas pernas podem envelhecer e se

tornar fracas, nossas costas podem se curvar

e nossos dentes começar a cair, mas a soma

de dois mais dois será sempre quatro,

enquanto em nós restar um lampejo de razão.

Pois a razão não envelhece nem se debilita.

Nosso corpo, ao contrário, sim”.

O Corpo e a Mente

O MÉTODO CARTESIANO – POR ONDE ANDA A

RAZÃO?

“A finalidade do método é precisamente pôr a razão no bom caminho, evitando o erro. O método, portanto, é um caminho, um procedimento que visa garantir o sucesso de uma tentativa de conhecimento, da elaboração de uma teoria científica. Um método se constitui basicamente de regras e princípios que são as diretrizes deste procedimento”.

Danilo Marcondes (2001:162)

O MÉTODO CARTESIANO – POR ONDE ANDA

A RAZÃO?

Ao propor um método único e específico, para orientar a produção do conhecimento científico, ele garante que em uma experimentação sempre se chegará ao mesmo resultado, desde que garantida a rigorosidade metodológica. Uma homogeneização metodológica. Uma unificação dos campos de conhecimento.

Duvidar metodologicamente de tudo.A Base da Teoria do Conhecimento Cartesiano

“Fazendo uma sondagem de suas próprias idéias, verifica-se que as que preferem referir-se a objetos físicos são instáveis e obscuras, facilmente atingíveis pela incerteza; outras, ao contrário, apresentam-se ao espírito humano com grande nitidez e estabilidade – exatamente as utilizadas pelas matemáticas (como “figura”, “número”). Essas idéias claras e distintas são concebidas por todos da mesma maneira, o que parece mostrar que elas independem das experiências dos sentidos (individuais e mutáveis), constituindo o substrato inato da pensée” (Motta).

“Mesmo quando sonhamos, acreditamos viver

algo de real. E existe alguma coisa que

marque a diferença entre as sensações que

experimentamos no sonho das que vivemos

quando estamos acordados? „Quando penso

com cuidado no assunto, não encontro uma

única característica capaz de marcar a

diferença entre o estado acordado e o

sonho‟, escreve Descartes. E prossegue:

„Tanto eles se parecem, que fico

completamente perplexo e não sei se estou

sonhando neste momento‟” Gaarder.

Conta-se que um determinado camponês

“acreditava ter sonhado que dormira na

cama de um barão. E quando estava na

cama do barão achava que sua vida como

pobre camponês não passava de um

sonho.”

“Descartes, porém, estabeleceu este ponto como o marco zero para a sua reflexão. Ele chegou à conclusão de que a única coisa sobre a qual podia ter certeza era a de que duvidava de tudo. E foi então que compreendeu o seguinte: se havia um fato de que ele podia ter certeza, este fato era o de que ele duvidava de tudo. Se ele duvidava, isto significava que ele pensava. E se ele pensava, isto significava que ele era um ser pensante. Ou, como ele mesmo dizia: „Cogito, ergo sum’” Gaarder.

Objetivo da Dúvida:

Livrar o ser humano do

preconceito e das noções

incertas sem fundamento

seguro.

Resolvendo a Eterna Dúvida“Descartes invoca a “garantia de Deus”

para o fato de que tudo aquilo que

reconhecemos por meio de nossa razão

corresponde a uma realidade”.

COGITO, ERGO SUM

PENSO, LOGO EXISTO

Somente esta afirmação não

pode ser posta em dúvida.

PENSANDO NO MÉTODO DE RENÉ DESCARTES

Pergunta Cartesiana: Mas como conhecer o mundo e a verdade sobre ele se minhas paixões e sensações me impedem de percebê-lo com clareza?

Respostas

1. Esta situação exige abandonar a primeira (1ª) pessoa e assumir a posição de um observador externo (ao invés de: “eu percebi que...” “percebe-se que...” )

2. Levantar sistematicamente dúvidas sobre o objeto do conhecimento.

3. Buscar a fragilidade dos argumentos cristalizados sobre o objeto e trilhar em direção ao concreto e objetivo.

4. Subtrair a ação e a influência do mundo e do corpo sobre a reflexão da mente.

5. Desprender-se de si próprio para conhecer o mundo lá fora.

Base Metodológica

1. Preceito da Análise

2. Preceito da Síntese

3. Preceito da Enumeração

Base Metodológica1. Regra da evidência

“Jamais escolher alguma coisa

como verdadeira que eu não

conheça evidentemente como tal”;

isto é, evitar cuidadosamente a

precipitação e o pré-conceito.

Base Metodológica2. Preceito da Análise

Dividir cada uma das dificuldades

que se apresentam em tantas

parcelas quantas sejam

necessárias para serem resolvidas.

Base Metodológica3. Preceito da Síntese

Conduzir com ordem o pensamento,

começando dos objetos mais simples

e mais fáceis para serem

conhecidos, para depois tentar

gradativamente o conhecimento dos

mais complexos.

Base Metodológica4. Preceito da

Enumeração

Realizar enumerações para

constatar que nada foi omitido.

Para René Descartes a auto-

responsabilidade, o autodomínio e

a autodeterminação são aspectos

fundamentais do método, pois só

com esta rigorosidade proposta é

possível chegar ao conhecimento

exato.

Descartes pretende conhecer o

mundo de fora o que é possível, para

ele, somente através de faculdades

que estão dentro daquele que anseia

conhecer.

Isto é, conhecer o mundo das formas

e dos objetos só é possível com as

idéias que estão dentro dele próprio.

Não basta construir o

conhecimento verdadeiro,

antes deve ser refutado tudo

aquilo que foi dito

anteriormente a respeito.

Metodologicamente deve-se buscar a fragilidade dos argumentos sobre os objetos, por tempos cristalizados, e invalidá-los substituindo-os por um conhecimento EXATO, FIRME e CONCRETO, construído através de um método mecânico e funcional.

Bibliografia

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: ed. Ártica, 1999.

DESCARTES, René. Meditações. Em: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

DESCARTES, René. O Discurso do Método. Em: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

GAARDER, Jostein. “O Mundo de Sofia: Romance da História da Filosofia”. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Jorge Zahar Ed. Rio de Janeiro 2001.

REALE, Giovanni/ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. Ed. Paulinas, São Paulo 1990.

TAYLOR, Charles. As Fontes do Self. São Paulo: Loyola, 1997.