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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS ASSESSORIA ESPECIAL PARA PROGRAMAS ESTRATÉGICOS NÚCLEO DE APOIO AOS ESTÁGIOS Curso de Agronomia RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO 1. INTRODUÇÃO A tendência à descentralização das políticas de desenvolvimento rural acelerada no Brasil a partir de 2003, com a criação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial - SDT, coloca como prioridade a consolidação dos atores territoriais enquanto promotores do desenvolvimento. No entanto, como concluem Nelson Giordano Delgado e Sérgio Pereira Leite na sua síntese recente sobre gestão social na política de desenvolvimento territorial: (...) em nossa análise observamos que para a existência de protagonismo social é indispensável: (1) a presença de atores com capacidade (com ‘habilidade social’, diriam Fligstein/Abramovay) de construção de coalizões ou de hegemonia que, embora defendendo interesses próprios, consigam a cooperação (ou a aliança) de outros atores, de modo a liderar a difusão coletiva da abordagem territorial e a implantação de sua institucionalidade; e (2) que esses atores sejam portadores de “ideias” e de propostas de desenvolvimento rural para o território que possam tanto “unificar”, por assim dizer, a linguagem comum dos atores territoriais, facilitando a capacidade de comunicação e de cooperação entre eles, como orientar, progressivamente, a formulação e a aprovação de projetos estratégicos coerentes com essas propostas de desenvolvimento. Como não há garantia de que um território possua atores com capacidade de viabilizar os requisitos necessários ao protagonismo social, esta é uma dimensão à qual os programas governamentais, em especial o Territórios da Cidadania, deveriam dedicar mais atenção, o que requer maior interação do programa com os atores e a institucionalidade territoriais (Miranda, al., 2011, p. 126-7). O principal limite à descentralização das políticas se encontra então na capacidade dos atores locais em defender de forma qualificada os seus interesses próprios, em elaborar propostas abrangentes de desenvolvimento local, compondo as parcerias necessárias para viabilizar a sua implementação. Entre as organizações de agricultores familiares e os empreendimentos de economia solidária, é geral a reivindicação de dispor de competências de nível médio ou superior para ajudar na profissionalização das entidades: qualificação

Relatório de estágio no centro público de economia solidária

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RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO

1. INTRODUÇÃO

A tendência à descentralização das políticas de desenvolvimento rural

acelerada no Brasil a partir de 2003, com a criação da Secretaria de

Desenvolvimento Territorial - SDT, coloca como prioridade a consolidação dos

atores territoriais enquanto promotores do desenvolvimento. No entanto, como

concluem Nelson Giordano Delgado e Sérgio Pereira Leite na sua síntese

recente sobre gestão social na política de desenvolvimento territorial:

(...) em nossa análise observamos que para a existência de protagonismo social é indispensável: (1) a presença de atores com capacidade (com ‘habilidade social’, diriam Fligstein/Abramovay) de construção de coalizões ou de hegemonia que, embora defendendo interesses próprios, consigam a cooperação (ou a aliança) de outros atores, de modo a liderar a difusão coletiva da abordagem territorial e a implantação de sua institucionalidade; e (2) que esses atores sejam portadores de “ideias” e de propostas de desenvolvimento rural para o território que possam tanto “unificar”, por assim dizer, a linguagem comum dos atores territoriais, facilitando a capacidade de comunicação e de cooperação entre eles, como orientar, progressivamente, a formulação e a aprovação de projetos estratégicos coerentes com essas propostas de desenvolvimento. Como não há garantia de que um território possua atores com capacidade de viabilizar os requisitos necessários ao protagonismo social, esta é uma dimensão à qual os programas governamentais, em especial o Territórios da Cidadania, deveriam dedicar mais atenção, o que requer maior interação do programa com os atores e a institucionalidade territoriais (Miranda, al., 2011, p. 126-7).

O principal limite à descentralização das políticas se encontra então na

capacidade dos atores locais em defender de forma qualificada os seus interesses

próprios, em elaborar propostas abrangentes de desenvolvimento local, compondo

as parcerias necessárias para viabilizar a sua implementação.

Entre as organizações de agricultores familiares e os empreendimentos de

economia solidária, é geral a reivindicação de dispor de competências de nível

médio ou superior para ajudar na profissionalização das entidades: qualificação

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técnica, apoio em gestão e administração, organização interna para

comercialização, redação de projetos, etc.

Os poderes públicos, as universidades procuraram recentemente atender esta

demanda através de iniciativas originais, como por exemplo:

A implantação dos CESOLs pela SESOL-SETRE do Governo do Estado da

Bahia, que visa disponibilizar infraestruturas comuns para comercialização

dos empreendimentos solidários, e prestação de serviços técnicos gratuitos e

adequados à realidade dos empreendimentos,

A UFRB implementa os seus cursos de graduação voltados para o público da

agricultura familiar e do associativismo (cursos de graduação em Tecnólogo

em Agroecologia e Tecnólogo em gestão de cooperativas, cursos de

Educação do Campo). Um ponto ainda não suficientemente discutido é a

identificação do conjunto de atores de apoio às entidades da agricultura

familiar e dos empreendimentos solidários, suscetível de oferecer estas

competências de nível médio e superior, de forma satisfatória (em quantidade

e qualidade).

Assim sendo, se focamos no curso de Tecnólogo em Gestão de

Cooperativas, continua se verificando certa dificuldade em equacionar o tripé:

(a) demanda social das entidades para competências de nível médio e

superior, (b) mercado de trabalho suscetível de empregar estas

competências, (c) parâmetros institucionais da Universidade (modo de

seleção dos discentes, períodos letivos, estrutura pedagógica e conteúdo dos

cursos). O objetivo do estágio é caracterizar as necessidades de assistência

técnica necessárias para superar os principais gargalos no desenvolvimento

dos empreendimentos da economia solidária e levantar a demanda de

formação profissional para atender a este público em todo território do

Recôncavo.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Dados comprovam que a temática do desenvolvimento territorial contempla os

setores públicos e privados. No estado da Bahia cresce uma forte vertente atenta

para trabalhar com esse tipo de política descentralizada. E assim, fortalecer os

aspectos sociais econômicos e culturais da região (ORTEGA, 2007). Contudo, as

organizações de empreendimentos solidários possuem limitações fundamentais e

necessitam da intervenção do poder público e de profissionais capacitados para

superar.

A Bahia possui grande extensão territorial, cerca de de 564 mil km², 417

municípios, população de 14,6 milhões de habitantes (IBGE, 2009). O Recôncavo é

um território da Bahia conhecido principalmente pela sua história e a forte cultura

influente em todo estado. A estrutura política e socioeconômica teve forte influência

de elementos exógenos (ARAÚJO, 2010). Primeiro baseado nos interesses de

Portugal e depois atendendo aos interesses do mercado internacional.

Para Araújo (2010), o Recôncavo baiano foi um dos espaços mais antigos no

processo de ocupação do território brasileiro, representado no período colonial pela

atividade açucareira o que configurava um Nordeste economicamente rico.

Desde 2007, a Bahia tem sido beneficiada pelas políticas de integração e

desenvolvimento territorial, bem como as ações para o fortalecimento de uma

sociedade mais justa e igualitária. Diversas ações e programas voltados para as

áreas sociais, como saúde, educação, segurança pública e infraestrutura social vêm

sendo executados, tanto na cidade de Salvador como nos municípios que integram

os territórios urbanos e rurais. Deste modo, o processo de regionalização implantado

pela estrutura governamental tende a impulsionar políticas públicas que auxiliem na

concretização de uma realidade menos desigual no território baiano (SEPLAN,

2010).

A participação do Estado no desenvolvimento da Economia Solidária é de

extrema importância, no que tange às ações articuladas das diversas áreas do

governo de modo a promover mudanças no sentido do investimento social, da

legislação ou do reconhecimento da Economia Solidária e suas formas associativas,

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porém, sem esquecer que o protagonismo deve ser sempre dos empreendimentos

econômicos solidários, principais atores dessa economia.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA por meio da Secretaria de

Desenvolvimento Territorial – SDT inicia, em 2003, o processo de conformação de

territórios rurais. Para tanto, materializa órgãos colegiados como a Comissão de

Instalação das Ações Territoriais – CIAT e o Colegiado de Desenvolvimento

Territorial – CODETER, fortalecendo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural

Sustentável, incorporando comunidades quilombolas, indígenas e pescadores

artesanais como membros participantes, com voz e voto nas Comissões Temáticas

que têm como foco de planejamento e gestão o território rural e território de

identidade.

São conhecidas as tensões fundamentais vivenciadas pelas organizações, entre

de um lado os serviços que procuram oferecer aos seus sócios e a maximização dos

critérios de eficácia e efetividade, e do outro o foco principal no humano, na

reciprocidade, na solidariedade, na transparência e legitimação democrática que

compõem o projeto associativo. Num texto recente, Frantz (2012) expõem

claramente essas contradições para o cooperativismo, analisando a cooperativa

como uma entidade reunindo uma associação e uma empresa. A noção de reforço

institucional ás organizações camponesas e empreendimentos da economia

solidária sustenta uma ampla literatura metodológica. Uma síntese recente se

encontra em Dugué, al., 2012. Estes elementos serão úteis para construir o nosso

próprio método de diagnóstico aprofundado da situação das organizações e das

suas necessidades.

A análise do conjunto existente de atores posicionados para oferecer as

competências de nível médio e superior apontada como necessárias nos

diagnósticos, deverá se basear numa leitura atual do social em escala local,

sociedade formada de rede de relações e de comunicação, representada na noção

de capital social, como desenvolvida por exemplo em Abramovay (1998) e mais

recentemente por Van der Ploeg (2008).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

Para a identificação das necessidades de competência de nível médio e

superior das organizações (objetivo específico a), será analisada e diagnosticada a

situação de 10 organizações representativas da agricultura familiar e 10

empreendimentos solidários do Recôncavo da Bahia.

A amostra destas 20 organizações, será estabelecida com as entidades

parceiras da atividade (CESOL, INCUBA, CODETER, EBDA). Serão utilizados os

critérios de nível de consolidação e experiência das entidades, de abrangência

(número de associados e abrangência geográfica), e das principais funções

assumidas pelas organizações, entre outras:

― Funções coletivas da produção (máquinas e infraestruturas, beneficiamento

comuns);

― Gestão dos Recursos Naturais comuns (definição e controle de regras de

acesso);

― Evolução técnica (conselho técnico e de gestão, extensão, experimentação);

― Gestão das infraestruturas sociais (postos de saúde, lazer, locais de reunião);

― Fornecimento de crédito, intermediação de financiamento;

― Melhoramento das condições de comercialização (feiras, cooperativas,

mercados);

― Formulação e implementação de projeto territorial (participação em instâncias);

― Co-gestão e implementação das políticas territoriais, ambientais, das políticas

públicas;

― Representação política, negociações e informação aos sócios.

Para cada uma delas será realizado um diagnóstico aprofundado, visando

relacionar as demandas de competências identificadas à problemática específica de

cada organização. O diagnóstico deverá abranger os temas seguintes (a partir de

Mercoiret, 1994):

1. Analisar/explicar o histórico da organização : fundadores, evolução da

extensão

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geográfica, e das atividades, eventuais conflitos internos e externos.

2. Inventariar as atividades atuais: ver lista anterior.

3. Análise financeira dos resultados global e por atividade. Origem dos recursos

financeiros. Projetos e tipos de prestação. Análise de tendência. Avaliação do peso

econômico da organização à nível local.

4. Organização interna. Definição e número de membros, forma de adesão.

Estatuto

jurídico. Organograma e instâncias de tomada de decisão. Grau de transparência na

gestão financeira. Origem e renovação das lideranças. Remuneração dos cargos.

Empregados (quem são eles, de quem dependem).

5. Projeto da organização. Análise que faz do histórico, do contexto, do futuro.

Projeto político. Projeto territorial. Discussão interna e externa do projeto.

6. Alianças e parcerias. Por atividade. Na parte financeira. Nos momentos de crise,

conflitos, evolução. Formalização dos acordos (convênios, contratos). Com outras

entidades, com Estado (análise detalhada).

Os diagnósticos serão restituídos às respectivas entidades, em reuniões de

trabalho organizadas para identificar as demandas de competência de nível médio e

superior.

Nessas reuniões de restituições serão também discutidos a melhor forma

institucional de oferecer essas competências (contratação pela própria entidade,

pelo poder público, pela extensão rural, o fomento, a sociedade civil e as ONGs, o

sindicalismo e os movimentos sociais).

O trabalho de diagnóstico e identificação de demanda à nível de organização

será realizado pela equipe de professores e os estudantes graduando.

Para a segundo objetivo específico, o da identificação de demandas de competência

de nível superior das entidades de fomento / apoio do Território do Recôncavo, será

analisada a situação de 10 entidades de apoio/fomento. A amostra será constituída

à partir das entidades com maior experiência no Território do Recôncavo, levando

em conta a discussão das formas institucionais anteriormente realizada com as

organizações.

A metodologia completa do estágio de graduação da Universidade Federal do

Recôncavo da Bahia em parceria com o Centro Público de Economia Solidária -

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Cesol está apresentada acima e será realizada pelo conjunto de professores,

estudantes e parceiros envolvidos. Cabendo neste relatório de estágio

supervisionado e com tempo determinado entre os meses de Janeiro a Maio de

2015, apenas Analisar/explicar o histórico de uma organização (COOPEMARFS)

que é composta por três grupos de base: Associação Comunitária da Tapera e KM

07, Comunidade Quiamba I e Lagoinha e o Grupo de Mulheres de Macaúbas.

4. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Metas Atividades Período (mês/ano)

Conhecer as

organizações

Reunião com os

empreendimentos

Janeiro

Inventariar todas as

organizações e fazer um

diagnóstico

Diagnóstico Fevereiro

Buscar apoio aos órgãos

do estado

Planejamento e

elaboração de um plano

de ação com as

organizações

Março

Levantamento das

demandas

Visitas semanais aos

empreendimentos

Março

Identificação dos

principais problemas

Visitas semanais aos

empreendimentos

Abril

Elaborar um relatório de

diagnóstico da

COOPERMAFS

Construção de relatório Maio

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5. RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO DOS EMPREENDIMENTOS LIGADOS A

COOPERMAFS NO MUNICÍPIO DE SAPEAÇU, BAHIA.

Este relatório apresenta um breve histórico e os resultados obtidos na

assessoria do Cesol em três empreendimentos ligados a COOPERATIVA DAS

MULHERES AGRICULTORAS FAMILIARES DE SAPEAÇU - COOPERMAFS:

Associação comunitária da Tapera e Km 07, Grupo de mulheres de Macaúbas e

Grupo união faz a força – Associação Quaimba I e Lagoinha. Todos estão

localizados no município de Sapeaçu distante 163 Km da capital Salvador, Bahia.

No ultimo censo IBGE, (2010) o município se estende por 117,2 km² e contava

com 16 597 habitantes no último censo. A densidade demográfica é de 141,6

habitantes por km² no território do município. As coordenadas geográficas

segundo a classificação de Köppen são: latitude: 12° 43' 34'' Sul Longitude: 39°

10' 45'' Oeste. A temperatura média é 23.0 °C. A média anual de pluviosidade é

de 1066 mm.

O Cesol inicialmente constrói um Diagnóstico Organizacional Participativo

para levantar informações necessárias para um Estudo de Viabilidade

Econômica do Empreendimento. O DOP é uma ferramenta que permite

diagnosticar, intervir e propor mudanças. Este é um processo de compreensão

das potencialidades e limites de uma organização. Para garantia da

compreensão mais realista, dar-se ao DOP um enfoque metodológico

participativo. A análise organizacional tem-se tornado, segundo Jeffcutt (1994), o

gerenciamento da incerteza na busca de restabelecer ordem na desordem, que

os especialistas têm sido incapazes de resolver.

Para realização da Assessoria, em qualquer empreendimento, a equipe

técnica do Cesol emprega os seguintes procedimentos:

o Realização do Seminário Municipal de Economia Solidária/Oficina de

Sensibilização e priorização dos grupos para acompanhamento direto;

o Oficinas de trabalho com os membros da associação comunitária

objetivando: i) sistematizar o conhecimento da história do

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empreendimento solidário; ii) aprofundar questões que surgiram a partir

da vista ao local de produção; iii) identificar como o empreendimento

econômico solidário se organiza para adiquirir matérias-primas,

produzir, pagar custos, comercializar e remunerar os associados;

o Redação sistemática e processual de relatório para ser apresentado e

discutido com o grupo.

Contudo, este relatório consolida as informações, os resultados dos

diagnósticos e registra as demandas solicitadas pelo grupo. No levantamento

histórico foi levado em consideração à trajetória do grupo e os acontecimentos

importantes para firmação da identidade do grupo, parceiros envolvidos no

processo e outras informações que foram disponibilizadas em memória coletiva

do grupo.

5.1 ASSOCIAÇÂO COMUNITÁRIA DE TAPERA E KM 07

A história deste empreendimento esta arraigada da vivencia das pessoas que

integram o grupo, o aprendizado do fabrico e da comercialização do beiju, atividade

que perpassa as relações de gênero e de geração, pois homens e mulheres naquele

espaço reportam práticas daquela atividade. No texto que segue os nomes foram

mantidos apenas os nomes que sustentam a história do empreendimento, mantendo

em sugilo os demais.

Os relatos apontam que dona Nenzinha fazia beiju de coco há mais de sessenta

anos e ensinava a todos, passando de geração em geração. Seu Bartolomeu que é

um dos mais antigos da comunidade diz que foi aprendiz de dona Nenzinha, pois

trabalhou para ela por 27 anos. Além da colaboração de outras pessoas, pois

utilizou a casa de farinha delas por empréstimo, aonde chegava a colocar quinze

carros de mão de raiz de mandioca para a fabricação de beijus. Enfatiza que foi ele

quem trouxe para sapeaçu a fama do município dos beijus de coco.

Já em 2002, seu Bartolomeu ensinou ao Sr. Zé do Beiju que repassou para

Edson, até então garoto, que vendia nos municípios e que ficava pensando que

poderia vender para prefeitura e expandir seus negócios. Em meados de 2008

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participaram de um edital do Ministério da Cultura onde contam a história do beiju de

coco e acabam ganhando um curso de cinema, para alguns integrantes da

comunidade. Com toda a divulgação acabaram recebendo uma homenagem a

artistas de Cruz das Almas com a criação da Banda Beiju de Coco. Sendo assim,

em 2009, realizaram um vídeo com o nome “A força de um Grito” que teve

lançamento em todo o Brasil, com a participação dos doze componentes do grupo.

Diante dessas atividades o município viu a importância do grupo e com o intuito

de valorizar, os convidou a participar do Programa Nacional de Alimentação Escolar

– PNAE, tudo isso tinha uma importância social muito grande para eles, pois são

irmãos de igreja, e faziam uma troca de saberes a tal ponto que a igreja ficou

conhecida como Igreja do Beiju. Nesse momento Edmilson relata que naquele

tempo ao se dirigir a casa do pai de uma pretendente, foi questionado sobre a

atividade que exercia, e ao dizer que vendia beiju o pai da moça o questionou, se

sua filha só irá comer beiju? Ficou evidente a discriminação pelo trabalho exercido.

Edmilson relata com emoção que aos 15 anos já carregava caldeirão nas costas

com 30 a 40 Kg de beiju, para vender no comercio e nas outras cidades pegando

carona com caminhoneiros. Em um momento conseguiu vender bem e ao pagar o

material de uso ao Sr. Bartolomeu restou-lhe R$ 35,00, que com felicidade comprou

uma quarta de farinha e levou pra casa.

Em 2011 entraram de no Programa de Aquisição de Alimentos – PAA através da

Cooperativa de Mulheres Familiares de Sapeaçu – COOPERMAFS. A formalização

com ata, estatuto, diretoria e CNPJ se deu em 2013, atualmente estão buscando

reconhecimento da comunidade como Quilombola, além de estarem desenvolvendo

na comunidade Educação de Jovens e Adulto –EJA, pois acreditam que é

importante inserir os jovens no trabalho e incentivá-los a estudar.

Sr. Bartolomeu diz que a aceitação por parte dos clientes de fora do município é

grande e valorosa, relata que uma cliente dele, morador de Santo Antônio de Jesus

o recebe dentro de casa para tomar café junto com ela. Edson também relata que há

uma, maior valorização por parte da comunidade. Contam que alguns deles saem

para vender beiju ate na Ilha de Itaparica e que foram os primeiros a fazer esse tipo

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de coisa, pois saem em comboio de seis a sete pessoas. Sr. Bartolomeu diz que a

produção é individual. Edson lembra que antes eram todos juntos na casa de farinha

de Dona Nenzinha, mas atualmente os membros possuem fogão industrial e outros

ainda em forno a lenha.

5.2 GRUPO DE MULHERES DE MACAÚBAS

Este grupo é composto por 13 mulheres que trabalham coletivamente na

produção de bolos de Puba e Aipim, doces e cocadas de goiaba, caju e maracujá.

Realiza venda à domicílio e entrega direta, além disso, utiliza o mercado

institucional, ou seja, comercializa sua produção para o poder público através do

Programa de Aquisição de Alimentos – PAA.

O que motivou a criação deste grupo de mulheres foi a falta de trabalho, em 2011

proporcionou um contesto favorável à cooperação. Na ocasião, houve uma palestra

da Secretaria Municipal de Agricultura, no prédio escolar da comunidade, sobre

Assistência Técnica para Mulheres, que convidou as mulheres para organização do

grupo.

Inicialmente foram convidadas 40 pessoas, mas no dia da reunião, por motivos

diversos, compareceram 18. Destes começaram a trabalhar 16 pessoas que foram

acompanhadas pela secretaria de agricultura e a Empresa Baiana de

Desenvolvimento Agrícola-EBDA que procederam com as capacitações (produção

de sequilhos, polpas, cocadas, bolos e bolachinhas) para a comunidade de

Macaúbas.

De acordo depoimentos o primeiro pedido para a comunidade solicitou 200 quilos

de bolo, que por parte da comunidade foi absorvido com espanto e só conseguiram

atender a 150 quilos por falta de material para produção. Esta solicitação foi para

entrega à Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. A produção era feita

coletivamente na sede doada por um morador da comunidade. Estrategicamente

dividiu-se a produção na hora de ir ao forno, pois a grande demanda levou a

necessidade de otimização do espaço.

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Em abril de 2012 no aniversário da cidade o grupo fez a primeira exposição

pública dos seus produtos (bolos e doces) na feira. Parte do grupo relatou q a feira

foi cansativa e a outra parte disse que foi divertido e diferente.

Em seguida o grupo necessitou realizar um empréstimo junto ao Banco do

Nordeste – BNB através do Agroamigo no valor de R$ 5 mil que foram investidos na

compra dos materiais para a produção. Em sequência conseguiram através do

projeto da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, um

liquidificador, uma mesa, um fogão, um freezer, uma despolpadora, um compressor

e uma empacotadora.

No final de 2012 e início de 2013 a seca que afetou vários municípios do

recôncavo paralisou as atividades do grupo. Durante este período o município de

Sapeaçu declarou Estado de Emergência por conta da Seca e conseguiram pegar

empréstimos com desconto de 80%. Em abril de 2013 o grupo participou novamente

da feira no aniversário de Sapeaçu e desta vez todas relataram que foi bem tranquilo

e que já dominavam a dinâmica.

5.3 GRUPO UNIÃO FAZ A FORÇA – ASSOCIAÇÃO QUIAMBA I E LAGOINHA

O início das discussões para formação deste grupo foi em 2009 e durou um ano.

Nesse período a Secretaria de Agricultura de Sapeaçu em parceria com a EBDA

realizou diversos cursos para motivação associativista, onde foram capacitadas 15

pessoas da comunidade de Quiamba I e Lagoinha para a produção de sequilhos.

Em 2010 foi realizado um intercambio de saberes com o grupo do município de

Ichu-BA. Esta troca de experiência motivou o grupo que relataram que as mulheres

de Ichu possuem muito mais dificuldades e mesmo assim possuem produção

satisfatória.

Seguido deste acontecimento o grupo fez um empréstimo um junto ao Banco do

Nordeste – BNB através do Agroamigo no valor de R$ 5 mil que foram investidos na

compra de equipamentos (liquidificador, balança, forno, mesa, formas e bacias).

Tambem receberam doação de equipamentos (freezer, geladeira e fogão) através

da União de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária - UNICAFES.

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Este grupo foi convidado a participar da feira no aniversário de Sapeaçu a partir

deste momento.

Em 2011 o grupo começou a comercializar para o poder público através do

Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, neste momento o grupo contava com

12 pessoas.

Em 2012 o grupo contava com apenas 8 pessoas devido a seca que atingiu o

município e dificultou a produção e paralisação das atividades.

Entre 2013 a 2014 houve o cancelamento do convênio com a CONAB, pois o

valor de venda estava defasadp (sendo R$ 6,50 por quilo de sequilho) enquanto que

o preço comercial estava em R$ 10,00.

Foram contemplados no Projeto de Autonomia da Secretaria de Políticas para

Mulheres da Bahia – SPM, mas que até agora os recursos não saíram, o que

dificulta a reforma programas para o local onde elas estão instaladas. Na

continuidade do PAA, é feito uma lista de presença e todas recebem no final da

produção.

Hoje o grupo atua no município em parceria com a Associação Comunitária da

Tapera e KM 07 e o Grupo de Mulheres de Macúbas que juntos formam a

Cooperativa de Mulheres Agricultoras Familiares de Sapeaçu – COOPERMAFS. O

grupo relata que o problema central hoje esta relacionado ao produto que a

cooperativa produz, pois não possuem marca e isso dificulta a identificação

necessária e a venda para os estabelecimentos comerciais. Para sanar esta

dificuldade o grupo tomou uma iniciativa de se reunir e criar uma logomarca

chamada “sabor de fruta”, além disso, para organizar o grupo elas fizeram também

um recibo (de compra e venda), de entrega dos produtos.

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6. CONCLUSÃO

Os grupos se formaram para superar determinadas dificuldades específicas, se

fortaleceram e atualmente as dificuldades principais são:

1. O baixo acesso às políticas públicas;

2. O numero reduzido de associados;

3. A falta de assistência técnica qualificada;

4. A descapitalização dos associados;

5. A comercialização.

A cooperativa é dependente do poder público e deverá desenvolver-se no

sentido que possa garantir o acesso a esses direitos, mas também a autogestão da

cooperativa.

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ARAÚJO Alessandra Oliveira. Dinâmica territorial do Recôncavo: espacialidade

e temporalidade. Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos. ENG. 2010. Porto

Alegre – RS.

BAHIA, Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, Secretaria do

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