11

Click here to load reader

Eivjd

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Estudo de impacto de vizinhança

Citation preview

Page 1: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

1

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

========================================= Objeto do EIV: Empreendimento Imobiliário destinado a uso comercial (supermercado) em início de construção no Loteamento “Residencial” Jardim Germania (Projeto no. 38593), Bairro do Córrego Grande, Florianópolis/SC. Projeto aprovado junto ao SUSP no. 28526-02 (51768) e IPUF (Pareceres no 0418/2003 e no 1387/2001), ambos órgãos da Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF). Proprietário do Empreendimento: VAHL – Comércio de Imóveis Ltda. CGC.: 78.638.533/0001-90 (Família Vahl, loteadores do Jardim Germânia) Requerentes do EIV: 21 proprietários de lotes (19 residentes) no Loteamento Residencial Jardim Germânia, conforme Ata de Reunião de Moradores de 05 de junho de 2004 (em anexo), representados pela proprietária Henriette Lebre La Rovere, residente à Rua Hannover, no. 175. Executor do EIV: Dora Maria ORTH - CPF.: 211 282 430/91

Arquiteta e Urbanista pela UNISINOS/RS, desde 1982

Doutora em Planejamento Territorial pela Université de Nancy II / França, desde 1991

Professora e Pesquisadora no Departamento de Engenharia Civil da UFSC, desde 1992.

(48) 3721 7765 / 9962 5821 [email protected]

Page 2: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

2

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV

Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004 =========================================

1. INTRODUÇÃO O Estudo de Impacto de Vizinhança – EIV- aqui apresentado, segue as recomendações constantes da Lei Federal no. 10.257, aprovada em 10/07/2001 e em vigor desde 10 de outubro do mesmo ano (ver artigos 36 a 38). Esta lei, conhecida pelo nome de Estatuto da Cidade, regulamenta o Capítulo de Política Urbana da Constituição Federal de 1988, estabelecendo diretrizes gerais e apresentando instrumentos a serem utilizados pelos governos municipais e as comunidades locais. Os princípios que regem essas diretrizes e instrumentos é assegurar o direito a cidades sustentáveis para as atuais e futuras gerações. Considerando o elevado ritmo de urbanização da população brasileira nas últimas décadas, a aplicação desses instrumentos se fazem de grande urgência para minimizar os graves problemas urbanos já acumulados: dificuldades de circulação, insalubridade, “feiúra”, violência, vida social em crescente degradação. O objeto do EIV aqui apresentado é um empreendimento imobiliário com fins comerciais, em implantação em loteamento de uso originalmente estritamente residencial, conforme o projeto original aprovado pela prefeitura através do processo no 009330/87 com alvará de licença no 1158, expedido em 19/09/1988. O Plano Diretor do Distrito Sede de Florianópolis – Lei Complementar no. 001/97, aprovado em outubro de 1997, alterou o zoneamento de parte do loteamento. Faixas ao longo da Rua João Pio Duarte, estrada geral do bairro Córrego Grande e limite com o bairro Santa Mônica, passaram de Área Residencial Exclusiva (ARE) para Área Residencial Predominante (ARP). Como as ARP permitem a implantação de “atividades comerciais de pequeno porte” abriu-se a possibilidade para a aprovação do projeto em estudo pelos órgãos governamentais competentes. 2. CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO Situação: O empreendimento situa-se na quadra urbana entre as ruas João Pio Duarte, Munique, Hannover e o Canal Córrego Grande (canal natural de drenagem que vem do morro...). O terreno é composto pelos Lotes 47, 48, 49, 50, 51, 52 e 53 da Quadra F, do Loteamento Residencial Jardim Germânia, aprovado pela prefeitura através do processo supracitado (cópia em anexo). Descrição da Obra: 01 bloco comercial de alvenaria (01 pavimento de 2.079,00 m2 + sobreloja + pavimento garagem), com área total construída de 5.236,84 m2, sobre terreno de 4.359,64 m2 de área. Altura da edificação é de aproximadamente 10 m em relação a Rua Hannover e 7 m em relação a Rua João Pio Duarte; o volume aproximado

Page 3: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

3

do bloco comercial é: 100 m x 22 m x 9 m (altura média) = 19 800 m3. As cores previstas são o branco e o azul. Descrição do uso: De acordo com informações obtidas junto à prefeitura, a obra foi licenciada para funcionamento de um supermercado, com área de vendas de aproximadamente 1200,00 m2, com 22 vagas externas e 90 vagas cobertas de estacionamento, resultando em um movimento médio superior a 2000 pessoas (sábados chegando a 2.900) usando constantemente o supermercado. Há ainda a previsão de um movimento médio diário de cerca de 700 veículos (sábados chegando a 800) e de 30 caminhões para descarga de mercadorias, mais os serviços especiais de lixo, limpeza, manutenção e segurança. 3. CARACTERIZAÇÃO DO ZONEAMENTO LEGAL Uso do solo A Lei Complementar no. 001/97, conhecida como Plano Diretor do Distrito Sede de Florianópolis, dispõe sobre o zoneamento, o uso e a ocupação do solo de Florianópolis e outras providências, e incide sobre a área urbana em estudo. A quadra urbana onde se localiza o empreendimento em estudo está em uma área residencial predominante, ARP-4 (faixa de 50 m ao longo da Rua Pio Duarte, lado norte). Confronta-se: ao norte por uma área residencial exclusiva, ARE – 6; ao sul, pela Rua João Pio Duarte e uma área mista central, AMC*-4; e a leste por uma área verde de lazer, AVL (Anexo I - prancha 14 dos Mapas de Zoneamento). As áreas residenciais, as mistas e as áreas verdes são áreas de usos urbanos. As Áreas Residenciais, AR, são áreas “destinadas à função habitacional, complementadas ou não por atividades comerciais e de serviços vicinais de pequeno porte” (Arto. 11, pág. 28). Podem ser: ARE, áreas residenciais exclusivas; e ARP, áreas residenciais predominantes. As Áreas Mistas, AM, são áreas que “concentram atividades complementares à função residencial” (Arto. 12, pág. 28). Podem ser de várias classes. As AMC são áreas mistas centrais destinadas a atividades comerciais.

“As Áreas Verdes (AV) são os espaços urbanos ao ar livre, de uso público ou privado, que se destinam à criação ou à preservação da cobertura vegetal, à prática de atividades de lazer e recreação, e à proteção ou ornamentação de obras viárias, subdividindo-se em:

I - Áreas Verdes de Lazer (AVL); II - Áreas Verdes do Sistema Viário (AVV); III - Áreas Verdes de Uso Privado (AVP).” (Arto. 15 – pág. 28)

As AVL, de interesse especial neste estudo, são detalhadas nos Artos. 101 a 104 (pág. 39). “Arto. 101 - A definição de Áreas Verdes de Lazer obedece a critérios de

Page 4: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

4

localização como a existência de cobertura vegetal, o uso público consagrado, ou a proximidade de equipamentos comunitários e dos elementos hídricos.” A adequação dos usos e atividades para essas áreas é definido no Plano Diretor vigente, Anexo II, conforme quadro resumo abaixo. Usos Urbanos / Áreas Zoneamento ARE - 6 ARP - 4 AMC* - 4 AVL Residencial Unifamiliar Adequado Adequado Adequado Condomínio Residencial Unifamiliar Adequado Adequado Proibido Cond. Residencial Multifamiliar Proibido Adequado Adequado Comércio Vicinal Tolerado2

Micro porte (até 50 m2)

Adequado5 Pequeno porte (até 150 m2)

Adequado

Lojas de Departamentos Proibido Proibido Adequado Super mercado e hipermercado (Área > 1.500,00 m2)

Proibido Tolerado3 Tolerado3

Galerias e Centros Comerciais Proibido Tolerado 3 Adequado Shopping Centers (Área > 10.000,00 m2)

Proibido Proibido Tolerado 3

Zoológico, Hortos e Parques Proibido Proibido Proibido AdequadoLocais para Recreação Infantil Adequado Adequado Adequado Adequado Observações: • Super mercado e hipermercado (Área > 1.500,00 m2) = PGT1, pólo gerador de

táfego classe 1, com exigência de 1 vaga/25 m2 de área construída (sem área de garagem, escadas, elevadores e casas de máquinas) + 2 vagas para carga e descarga ...

• Usos comerciais e de serviços com área construída > 500,00 m2, são classificados de grande porte; área de 150,00 a 500,00 m2 = médio porte; área de 50,00 a 150,00 m2 = pequeno porte; até 50,00 m2 = micro porte.

• Tolerado 2 = só a uma distância superior a 50 m de outro uso tolerado. • Tolerado 3 = de acordo com estudo específico de localização elaborado pelo

Órgão Municipal de Planejamento • Adequado 5 = somente loja e sobreloja ( pavimento térreo) Observa-se que a implantação de um supermercado numa ARP-4, assim como numa AMC*-4, é apenas tolerado e sob condições especiais. Considerando que a ARP tem como função principal a habitação, as condições devem ser bem mais severas do que na AMC, cuja função principal é comercial. Ressalta-se também que, conforme imposição do Plano deveria ter sido elaborado um estudo específico de localização para o empreendimento em questão, particularmente por ser de grande porte (área > 1.500 m2) o qual deveria ter sido apresentado e discutido com a comunidade vizinha, inclusive justificando porque esse empreendimento não é dirigido a AMC em face, onde os impactos de vizinhança seriam mais facilmente tratados. Não há indicação de que esse procedimento tenha ocorrido no presente caso.

Page 5: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

5

Sistema Viário Segundo o Plano Diretor vigente, o sistema viário urbano obedece a seguinte hierarquia: A hierarquia das vias de circulação em Florianópolis, segundo o Plano Diretor vigente (Lei Complementar 001/97, Arto. 119, Pág. 40/ 41), é:

• Vias Arteriais • Vias Principais • Vias Coletoras • Vias Sub-Coletoras • Vias Locais • Vias Preferenciais de Pedestres • Vias Panorâmicas • Ciclovias

O detalhamento apresentado no Art. 119, é parcialmente apresentado abaixo:

“ (...) II – Vias Principais, que tem a função de conciliar o tráfego de passagem com o tráfego local e propiciar facilidades ao transporte coletivo; (...) IV – Vias Sub-Coletoras, que tem a função de conciliar o tráfego das Vias Locais e encaminhá-lo às Vias Coletoras, apoiando a função comercial das Vias Coletoras e facilitando o acesso ao interior dos bairros; V – Vias Locais, as demais vias de circulação de veículos, tendo a função de possibilitar o acesso direto aos lotes e edificações; (...) Parágrafo 2 - É vedada a implantação de vias de circulação de veículos automotores sobre as praias, costões, dunas e mangues. (...)”

A Rua João Pio Duarte está classificada no Plano Diretor (Lei 001/97) como PI – 4 , Via Principal Insular. Chegando a ela tem-se Vias Sub-Coletoras Insulares (SCI) e Vias Locais Insulares (LI). (Prancha 14, Mapa do Sistema Viário, Anexo I) Unidades Espaciais de Planejamento - UEP As UEP’s são espaços urbanos que formam “unidades de vizinhança” ou bairros, usados em estudos e propostas urbanas. A Quadra F, do Loteamento Residencial Jardim Germânia em estudo, situa-se no Bairro Córrego Grande, composta pela UEP 12. (Prancha 3, do Anexo XIII da Lei 001/97 – Mapa das Unidades Espaciais de Planejamento). Faz face com a Rua João Pio Duarte, único acesso ao Bairro Córrego Grande e com a Rua Hannover. De acordo com o uso (função/atividade) e a ocupação (forma/padrão) dessa quadra, esta pode servir de espaço de transição entre as ARE-6 e AMC*-4, conforme intenção do zoneamento legal, ou pode servir de polo de conflitos. Os conflitos geram alterações significativas, fruto de uma dinâmica urbana natural de contornar situações insustentáveis. As alterações se fazem sentir: no valor dos imóveis; no uso do solo (residências de alto padrão, com menos de dez anos de uso, são reformadas para virar açougue, cabeleireiro,

Page 6: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

6

pet shop etc); na ocupação do solo (demolições e novas edificações, sempre maiores). Os desperdícios são sempre consideráveis e os resultados dificilmente satisfatórios. 4. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA 4.1 - Análise do Impacto Urbanístico Global O EIV analisará inicialmente o impacto global do empreendimento no espaço urbano, usando como subsídio os dados apresentados anteriormente. A importância dada ao Plano Diretor local está de acordo com as palavras registradas na apresentação do documento impresso da Lei Complementar 001/97 (pág. 11): “... um urbanismo moderno e ecologicamente correto não pode estar submetido a decisões bombeiras mas alicerçadas numa ação de planejamento expressas no Plano Diretor “. (Angela Amin – Plano de Governo – 1996).“ Se a Quadra F, do Loteamento Residencial Jardim Germânia, for destinada a habitação complementada por “comércio e serviços vicinais de pequeno porte”, conforme prevê a legislação em vigor, através de edificações de porte compatível (até 500 m2,, se comercial) e de baixo impacto visual e ambiental (pequeno tamanho), esta quadra virá a cumprir satisfatoriamente a função de proteger e fazer a devida transição entre a zona ARE–6, área residencial exclusiva, e a AMC*–4, área mista central, localizada do outro lado da Rua João Pio Duarte, a poucos metros da área em questão. Se, por outro lado, a Quadra F for utilizada para um comércio de grande porte (> 1500 m2), em edificação de alto impacto (um único grande porte de 100 m de comprimento) e pólo gerador de tráfego, conforme projeto aprovado e em implantação, esta quadra será integrada funcionalmente a AMC em frente, disseminando todos os impactos de um ponto comercial de grande porte por várias quadras no interior da ARE–6. Nessa hipótese, o Loteamento Residencial Jardim Germânia e imediações terá certamente, a mesma evolução do entorno do supermercado Santa Mônica (hoje Angeloni) implantado há menos de 20 anos, na extremidade norte do Bairro Santa Mônica. No caso acima, a implantação do supermercado Santa Mônica/Angeloni transformou toda a área urbana circundante, atraindo novas atividades de impacto, que, por sua vez, atraíram grande volume de veículos e pessoas, interferindo no uso residencial da metade norte do bairro. Fazendo um paralelo entre as duas situações, se o supermercado proposto for implantado na Quadra F do Jardim Germania, este deverá interferir de forma análoga nessa parte do bairro Córrego Grande. A função ou uso residencial dessa área nobre da nossa cidade será progressivamente substituído por outros usos acarretando uma previsível degradação da qualidade de vida almejada pelos que escolheram o bairro para residir. A autora do presente estudo não crê que seja essa a intenção manifesta no Plano Diretor do Município. A análise global dos impactos acima é complementada, a seguir, pela apresentação e discussão dos efeitos positivos e negativos do empreendimento na qualidade de vida da

Page 7: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

7

população residente na área e suas proximidades, conforme recomenda o Estatuto da Cidade, Lei 10 257, em seus Artigos 36 a 38. 4.2 Efeitos Positivos do Empreendimento a) Valorização Imobiliária dos Lotes da Quadra F.

É fato bem conhecido que terrenos para usos comerciais em zonas urbanas adensadas aumentam significativamente de valor se comparados a lotes para usos residenciais unifamiliares. Dessa forma, o efeito “positivo” aqui mencionado aplica-se exclusivamente ao proprietário do terreno que, por sinal, é o empreendedor da obra.

b) Implantação de um equipamento de uso público – mercado – nas proximidades

de zona residencial

A implantação do presente supermercado facilitará o acesso da população, não apenas do Loteamento Jardim Germânia, mas também das comunidades vizinhas, ao equipamento, possibilitando, inclusive, que essa população possa acessar o mesmo a pé sem necessitar de um meio de transporte (carro ou ônibus). Curiosamente, como se pode constatar da Ata de Reunião em anexo, a comunidade de moradores do Jardim Germânia, que, aparentemente, seria a maior beneficiária das comodidades do supermercado, demonstra grande insatisfação com a implementação deste empreendimento. Portanto, esse efeito aparentemente “positivo”, necessita ser esclarecido perante a comunidade. Observa-se a inexistência no projeto aprovado na prefeitura de documentação (por exemplo, uma pesquisa de opinião) que demonstre a concordância da comunidade à implantação do equipamento.

c) Novos postos de trabalho

Não resta dúvida que a instalação de um supermercado abrirá postos de trabalho, o que, per se, é um efeito positivo do empreendimento. Entretanto, na ótica do presente estudo, este efeito só poderá ser considerado realmente “positivo” se os postos de trabalho gerados forem ocupados por residentes da vizinhança, pois, nesse caso, racionalizar-se-á o tempo, os deslocamentos e a energia dos trabalhadores, entre outros benefícios locais. Caso isso não ocorra, o aspecto positivo apontado pode ocasionar mais uma sobrecarga para o sistema de transporte local que terá de acomodar o deslocamento de trabalhadores advindos de outros bairros.

4.3) Efeitos Negativos do Empreendimento a) Desvalorização Imobiliária dos Lotes e Residências Vizinhos. Em contrapartida à valorização dos lotes da quadra F, haverá uma desvalorização imobiliária significativa dos lotes e residências vizinhos ao empreendimento. Chama atenção ainda o fato que o proprietário do Loteamento – que é o empreendedor da obra – vendeu os lotes do mesmo com a garantia de que todas as quadras, exceto a quadra N (onde foi construído um Posto de Combustíveis), teriam uso “exclusivamente residencial” conforme consta do Memorial Descritivo aprovado na Prefeitura (cópia em anexo).

Page 8: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

8

b) Impacto Viário As compensações previstas no projeto de reforço do sistema viário, circundante ao empreendimento, não são julgadas suficientes nem adequadas pelos motivos apresentados a seguir. A abertura do túnel na Beira-Mar Sul e o crescimento do Córrego Grande, Lagoa da Conceição e demais bairros circunvizinhos, proporcionaram uma grande intensificação do trânsito na Rua João Pio Duarte Silva. Com efeito, hoje já se tornou comum haver congestionamentos nessa rua, inclusive, com um aumento significativo do número de acidentes. Consta do plano de desenvolvimento viário do bairro, feito pelo IPUF, a duplicação desta via pública. Entretanto, essa será uma obra, provavelmente, demorada em vista das inúmeras dificuldades existentes (desapropriações, derrocamentos, construção de ponte sobre o rio Córrego Grande, para citar algumas). Um Supermercado é, reconhecidamente, um pólo gerador de tráfego. Nesse caso, trata-se de um prédio de mais de 5000 m2 de área construída, o qual ocasionará um fluxo médio de 700 veículos por dia. Nos horários de pico, o entra e sai de veículos será intenso o que, certamente, demandará extrema atenção e paciência por parte dos motoristas que estiverem trafegando pelo local, isso supondo que ninguém utilizará a Rua João Pio Duarte como estacionamento. Haverá ainda, diariamente, o tráfego de algumas dezenas de caminhões que abastecerão o Supermercado e que terão de manobrar em espaço bastante exíguo. Segundo informações obtidas na Prefeitura, a aprovação do projeto deu-se na condição de que o empreendedor se responsabilizasse pela duplicação da Rua João Pio no trecho em frente à área do Supermercado. Como a ponte sobre o Córrego Grande, que apenas tangencia o terreno do empreendimento, não será duplicada, haverá um gargalo no fluxo de veículos que tornará o trânsito complicado e perigoso mesmo com a pista duplicada. – isto supondo que a duplicação seja realmente feita. Portanto, é possível antever que essa duplicação de algumas dezenas de metros da rua não vai compensar o acréscimo de trânsito oriundo do supermercado. Como resultado prevê-se que o funcionamento do supermercado sobrecarregará ainda mais o trânsito da principal via de acesso ao bairro prejudicando toda a comunidade que utiliza essa via pública. Em face da enorme importância desse assunto, recomenda-se um estudo específico, com levantamento de dados de fluxo de veículos, sobre o impacto do empreendimento no trânsito da Rua João Pio Duarte Silva. Um segundo aspecto refere-se ao acesso ao estacionamento do supermercado. Segundo consta do projeto aprovado pela prefeitura, o acesso ao estacionamento não será pela Rua João Pio Duarte, mas, sim, pela Rua Hannover, atualmente estritamente residencial e sem saída (terminando em cul-de-sac, próximo ao Córrego. ). Há ainda a previsão de ligação da extremidade Leste da Rua Hannover com a Rua João Pio utilizando a faixa de 15 m na margem Oeste do Córrego, conforme discutido no item seguinte. Essas alterações no sistema viário circundante transferem grande parte do impacto do tráfego para o interior dos loteamentos vizinhos, não só do Loteamento Residencial Jardim Germânia. Os serviços pesados de carga e descarga de mercadorias e manejo de lixo, além das casas de força e máquinas estão projetados para implantação

Page 9: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

9

na via local – Rua Hannover, penalizando sobremaneira as zonas residenciais próximas, recentemente implantadas. c) Questões Ambientais Uma das modificações previstas no sistema viário para atender a necessidade do empreendimento invade a faixa de domínio público de 30 m nas margens do Córrego que é área “non aedificandi” conforme imposição legal do Código Florestal (Lei Federal no. 4771 de 15/09/1965). O projeto também não respeita a faixa de domínio de 6m, adotada usualmente pelos órgãos governamentais locais, em áreas já urbanizadas (Art. 136, parágrafo 2, do Plano Diretor do Distrito Sede, pág. 43). Segundo o Plano Diretor, o Córrego está inserido e protegido por uma AVL, a qual será ocupada em parte pelo presente projeto. Outro importante aspecto ambiental refere-se a diminuição progressiva de áreas permeáveis para absorção das águas pluviais e de áreas de recepção de cheias, além da diminuição de AVL, já subdimensionadas na região. Observa-se que os canais de drenagem natural e as áreas verdes são os locais preferenciais para o escoamento e o armazenamento das águas de chuva e, por isso, desempenham um papel importante em episódios de cheias. No entanto, é comum em bacias hidrográficas que cortam zonas urbanas, impermeabilizar o solo e encerrar esses canais em tubulações subterrâneas, visando ganhar espaços para outros usos (vias de circulação, estacionamentos, edificações) com resultados bastante negativos. Pelas características do presente empreendimento, sua implantação na Quadra F do Jardim Germânia oferece risco para o agravamento das inundações já sofridas pelos bairros adjacentes ao córrego em passado recente, causando prejuízos ainda maiores principalmente para a população dos bairros a jusante do local como Parque São Jorge e Santa Monica. Nesse contexto, o projeto de traçado da Rua Itapiranga, sobre o canal do Córrego Grande (ver http://floripa geoguia.com.br) também mostra-se totalmente inadequado uma vez que ocupará completamente a AVL existente às margens do Córrego. Finalmente, o projeto hidrosanitário do supermercado prevê, na ausência de sistema coletor de esgotos, a construção de uma estação de tratamento sobre fossa na extremidade Leste da área localizada a poucos metros do Córrego. Sendo este um supermercado de grande porte, prevê-se que haverá uma grande quantidade de dejetos a ser eliminada. A proximidade entre a estação de tratamento e o córrego abre a possibilidade de contaminação deste último por infiltração através do lençol freático. Esse importante aspecto deveria ter sido alvo de estudo detalhado, o que não ocorreu. d) Impacto na Paisagem Urbana A paisagem urbana é o cenário onde acontece a vida urbana em seus aspectos ligados a habitação, circulação, trabalho e lazer da população. Toda vez que este cenário perde em qualidade, a vida urbana também perde. Enquanto aceitarmos desculpas de natureza econômica, não conseguiremos criar alternativas que sejam convenientes para nosso futuro enquanto cidadãos e seres humanos. Uma edificação na forma de um grande volume com dimensões de 100 m x 22 m x 9 m, não compensa a perda da vista do horizonte e do céu. Essa perda está sendo uma constante na cidade de Florianópolis, onde nós, construtores do espaço, estamos escondendo progressivamente nossas belezas naturais atrás de prédios e mais prédios. Considerando ainda que em Florianópolis a vista do verde no alto dos morros é muitas vezes confundida com a

Page 10: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

10

necessidade humana de um mínimo de área verde (10m2/hab conforme a ONU), todos deveriam se empenhar para aumentar as áreas verdes no interior dos bairros e não diminuí-las. Além desse aspecto conceitual, a presença de um grande prédio de concreto vai destoar do padrão arquitetônico das demais casas residenciais existentes no bairro, comprometendo a composição urbanística da área. e) Impacto na Qualidade de Vida da População Residente na Área Adicionalmente à perda da vista do horizonte e do verde e da desfiguração arquitetônica apontadas no item anterior, a edificação em análise por esse EIV implicará numa diminuição da circulação do ar nas vizinhanças do prédio a qual poderá afetar o micro-clima local. De fato, a orientação Leste-Oeste do prédio vai fazer com que este funcione como um anteparo para os ventos do quadrante Sul prejudicando a ventilação de um trecho do bairro que poderá passar a ter temperaturas acima da média. Esse efeito, associado ao aumento do tráfego de automóveis e caminhões e a constante movimentação de veículos que acessam a garagem do supermercado causará uma deterioração da qualidade do ar nas imediações do prédio, particularmente, na fachada Norte (Rua Hannover), que faz fronteira com uma zona exclusivamente residencial (ARE). O empreendimento em questão necessitará para a sua operacionalização de equipamentos geradores de ruído, como câmaras frigoríficas, gerador de energia elétrica, equipamentos de ar condicionado e circuladores de ar, além da circulação de caminhões, e das operações de carga e descarga, as quais normalmente acontecem nas primeiras horas da madrugada para o adequado abastecimento da loja. Deve-se considerar também o trânsito de veículos, o que aumentará significativamente o ruído de fundo da região. Para avaliação do impacto que a comunidade do entorno sofrerá em função do ruído a ser gerado pelo empreendimento, tem-se que observar que o mesmo encontra-se em ARP, e a comunidade vizinha encontra-se em ARE. A Lei Complementar CMF n°.003/99 que dispõe sobre ruídos urbanos e proteção do bem estar público estabelece para a ARP limites de 55dB(A) para o horário diurno( das 7:00 às 19:00 hs), 50 dB(A) (das 19:00 às 22:00 hs) e 45dB(A) (das 22:00 às 7:00 hs) De acordo com o artigo 3°, parágrafo 2° desta Lei o empreendimento deverá atender aos limites do zoneamento onde se dá o incômodo, ou seja, o da ARE. Sabe-se, porém, das dificuldades técnicas do enquadramento no limite de 45dB(A) de alguns equipamentos como geradores e equipamentos de ar condicionado, sem contar que operações de carga e descarga e trânsito de caminhões e veículos não são passíveis de controle como as fontes estacionárias o são. Assim, deve-se considerar o tipo de empreendimento em questão como de grande potencial de poluição sonora, com repercussão na saúde e na qualidade de vida da comunidade vizinha. É importante considerar ainda que esses equipamentos além do ruído, geram vibrações, as quais, comprovadamente, causam danos à saúde humana. As vibrações, diferentemente do ruído que se propaga pelo ar, são ondas mecânicas que se propagam pelo meio sólido, como o concreto, solo, madeira, etc. Dessa forma, apesar de não serem audíveis pelo ouvido humano, são sentidas pelo corpo justamente por encontrar aí um meio de se propagar. Quanto à vibração não há regulamento legal, porém os males

Page 11: Eivjd

ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA - EIV Relatório Técnico - Profa. Dra. Dora ORTH - junho de 2004

11

que esta causa, como o stress e a insônia, já são de conhecimento da comunidade médico científica. A presença de um supermercado de grande porte vai, necessariamente, atrair um grande fluxo de veículos ao local. Atualmente, em vista das características exclusivamente residenciais da vizinhança, as ruas dessa parte do bairro são muito utilizadas por crianças que vão e voltam, a pé, das escolas, por pessoas que usufruem da tranqüilidade do local para suas caminhadas diárias e da movimentação, em geral, de pessoas e crianças que residem na vizinhança. A circulação despreocupada de todas essas pessoas ficará comprometida frente ao entra-e-sai de veículos que acessarão a garagem através da Rua Hannover, elevando sobremaneira o risco de acidente dos pedestres. Finalmente, o volume de lixo, inclusive orgânico, produzido por um supermercado é muito maior do que o gerado por residências unifamiliares. Por mais cuidado que se tenha, é praticamente certo que a presença desse lixo vá atrair ratos e insetos à região. A presença e possível proliferação desse tipo de animais, numa área residencial que inevitavelmente ficará muito próxima, coloca em risco a saúde das famílias que ali residem. Portanto, a combinação dos fatores apontados acima indica que a presença do supermercado afetará negativamente a salubridade da região causando uma degradação generalizada da qualidade ambiental urbana da vizinhança no entorno do supermercado. 5. CONCLUSÃO FINAL DO “EIV” Em vista das análises feitas e das questões apresentadas, a conclusão deste Estudo é de que os efeitos negativos da obra sobre a vizinhança sobrepõem-se de forma cabal aos efeitos positivos indicando ser inadequada a construção deste tipo de empreendimento no local. Florianópolis, junho de 2004. Profa. Dora ORTH – UFSC/ECV – Grupo de Pesquisa Gestão do Espaço E-mail: [email protected] (48) 3721 7765 / 9962 5821