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Haroldo Lima: Dilma, convoque eleições já!

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Page 1: Haroldo Lima: Dilma, convoque eleições já!

Derrotar o impeachment, salvar a democracia, sair da crise

Haroldo Lima

O processo de impeachment da presidenta Dilma vai revelando, cada vez

mais, contradições e perfídias. Atinge personalidades de destaque, amplia

a crise política, coloca mal todos os três Poderes constituídos da

República.

Depois de termos nos tornado a sexta economia do mundo e quando

nossas históricas desigualdades sociais e regionais estavam diminuindo,

passamos a enfrentar dificuldades crescentes, oriundas de fatores

externos e internos.

O Poder Executivo não conseguiu conter a queda de nossa produção,

debelar a desindustrialização, impedir que entrássemos em recessão e

que a recessão se estendesse por dois anos seguidos.

Um esquema corrupto foi descoberto, revelou-se grande, organizado e

antigo, atuante dentro e fora da nossa maior empresa, a Petrobras. O

esquema foi combatido, mas o sistema Petrobras foi abalado e toda a

economia foi atingida.

Forças políticas derrotadas na eleição de 2014 não acataram seu resultado

e, desde então, postulam o afastamento da presidenta eleita.

Gradativamente foi-se conformando uma frente oposicionista com os

derrotados na eleição, com setores do Judiciário, do Ministério Público

Federal e da Polícia Federal, em íntima sintonia com a grande mídia do

país.

Page 2: Haroldo Lima: Dilma, convoque eleições já!

O Poder Legislativo, a partir da Câmara dos Deputados, deu andamento ao

impeachment da presidenta, sem que se configurasse crime de

responsabilidade contra a mesma. Realizou uma sessão bizarra, chamada

de "sessão do horror", tamanho o seu baixo nível. Pouco depois, por ser

réu em processo de corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF), o

presidente da Câmara foi afastado de suas funções. Seu sucessor não

consegue sequer dirigir os trabalhos de rotina.

O Poder Judiciário, pela ação do STF, contribuiu para dotar o

impeachment de um rito juridicamente sólido, mas acumulou tantas

distorções que ficou fragilizado. Recebeu, do Procurador Geral da

República, pedido de afastamento do presidente da Câmara e só o

despachou quase cinco meses depois, quando o dito presidente já

encaminhara o impeachment, por ato monocrático de vingança, em

aberto "desvio de poder". Mandou prender um senador flagrado em

gravações conspiratórias, Delcídio do Amaral, ligado ao governo Dilma, no

exercício de seu mandato e sem flagrante delito, e não fez até agora nada,

quando outro senador, Romero Jucá, contrário ao governo Dilma, foi

pilhado em situação absolutamente similar.

A crise, portanto, é ampla e geral. Alcança os três Poderes da República.

As recentes gravações apresentadas por Sérgio Machado, em suas

delações, só a fazem expandir e mostrar o quanto a corrupção era

profunda no lado contrário ao governo Dilma, até então estranhamente

acobertado pelo juiz Sérgio Moro.

Sair da crise salvando a democracia é objetivo do qual não se deve abrir

mão. Isto passa pelo respeito à legalidade democrática,

desenganadamente definida pela vontade soberana das urnas de 2014,

Page 3: Haroldo Lima: Dilma, convoque eleições já!

que elegeu Dilma Rousseff para a presidência da República; passa,

também, por repelir este impeachment sem crime que, por isso, é visto

como um golpe, ainda mais agora, depois que o seu articulador principal

no Senado, Romero Jucá, disse, de viva voz, nas gravações do Sérgio

Machado, que o impeachment era necessário para conter a "sangria" em

curso, barrar a Lava Jato e preservar corruptos a ele ligados.

Uma vitória do impeachment no Senado truncaria a democracia no país.

Introduziria na cena política um governo ilegítimo, que seria o de Temer.

Despertaria críticas no exterior, inclusive dos mais destacados órgãos de

imprensa, que já não poupam censura ao governo transitório que hoje

Temer dirige, como se transitório não fosse. Não teria chance de governar.

Reporia no Brasil a luta pela restauração da democracia, contra um

governo que não foi eleito e que desbancou, sem razões, um governo

legitimamente eleito.

A votação ocorrida no Senado, quando da "admissibilidade" do

impeachment, precisa ser revertida. Naquela votação, 55 senadores

votaram pela continuidade do processo. Se na votação do julgamento esse

número cair para 53, o impeachment estará derrotado, porque os 2/3 de

votos para cassar o mandato da presidenta não seriam atingidos.

Alterar posições da votação passada é assim essencial e é factível. Não só

porque alguns senadores votaram na "admissibilidade" dizendo não estar

votando no impeachment, como porque a presidenta Dilma, e forças que

a apóiam, poderão enfrentar essa votação de mérito com uma proposição

eminentemente nova, a de buscar os caminhos para antecipar a eleição

direta para presidente da República.

Page 4: Haroldo Lima: Dilma, convoque eleições já!

A derrota do impeachment no Senado, na votação final que se aproxima,

será a demonstração de que a vontade de 54 milhões de eleitores

brasileiros que votaram em Dilma naquela eleição de 2014 foi respeitada.

A democracia ficaria fortalecida.

Contudo, nosso desafio não é só salvaguardar o resultado democrático

das urnas. É encontrar, através da democracia, uma saída para o país. A

presidenta Dilma, reempossada, restaurará a legalidade democrática, mas

terá enorme dificuldade em governar a Nação, sem base parlamentar e

com baixa popularidade. A crise persistirá, com novos episódios, quem

sabe, mais complexos ainda.

A decisão pela antecipação da eleição direta para presidente da República

- uma espécie de Direta Já - cria o pressuposto para o encontro do meio

adequado disto ser feito. Um plebiscito poderia autorizar o Congresso a

essa antecipação.

A presidenta Dilma, com sua formação patriótica e democrática, ao se

comprometer com esse caminho, ajudaria, e muito, a luta pela derrota do

impeachment. Uma alternativa democrática seria aberta para o país.

Haroldo Lima - é engenheiro, consultor na área de petróleo, ex-deputado federal, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. É membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil