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Fundamentos da Homeopatia Aldo Farias Dias Fundamentos da Homeopatia Princípios da Prática Homeopática Curriculum minimum Aldo Farias Dias Grupo de Estudos Homeopáticos Samuel Hahnemann — GEHSH

Fundamentos da homeopatia_2000

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  1. 1. Fundamentos da Homeopatia Aldo Farias Dias Fundamentos da Homeopatia Princpios da Prtica Homeoptica Curriculum minimum Aldo Farias Dias Grupo de Estudos Homeopticos Samuel Hahnemann GEHSH
  2. 2. COLABORADORES Antnio Sampaio. Mdico veterinrio. PR. Carlos Henrique Duarte Alves Torres. Mdico Homeopata Pediatra. MG. Elias Carlos Zoby. Mdico veterinrio. SP. Helena de Oliveira. Mdica Homeopata Pediatra. MG. Javier Salvador Gamarra. Mdico Homeopata. Presidente da Fundao de Estudos Mdicos Homeopticos do Paran. Jos Antonio Mirilli. Mdico Homeopata. RJ. Luciana Louzada Farias. Estudante de medicina. UFRJ. Luiz Carlos Bernal. Mdico Homeopata. RJ. Marcos Dias de Moraes. Mdico Homeopata. RJ. Maria Leonora Veras de Mello. Mdica veterinria. RJ Sandra Brunelli. Mdica veterinria. RJ Captulo de Farmcia Organizao: Departamento de Farmcia Fundao de Estudos Mdicos Homeopticos do Paran FEMHPR Coordenador: Farm. Javier Salvador Gamarra Junior - Farmacutico Bioqumico e Industrial - PUC-PR Colaboradores: Farm. Ana Maria Graton Farmacutica Bioqumica UFPR Farm. Ana Paula Belisrio de Sousa Cristino Farmacutica Universidade Federal de Ouro Preto Farm. Egon Drevs Mittelbach Farmacutico Bioqumico, Industrial e de Alimentos PUC-PR Farm. Eliane Teresinha Crema Farmacutica Bioqumica Universidade Estadual de Ponta Grossa PR Farm. Jandira Romana Carneiro Bolda Farmacutica Bioqumica UFPR Farm. Maria do Rocio de Ligrio Farmacutica Bioqumica Universidade Estadual de Ponta Grossa PR Farm. Pricilla Camargo Andrade Zanoni Farmacutica Universidade do Sagrado Corao Bauru/SP
  3. 3. Prefcio O domnio da tcnica homeoptica exige um conhecimento dos fundamentos tericos em seu desenvolvimento histrico, crtica dos aspectos polmicos, deciso por um tipo de conduta. No raro o estudante ficar perplexo diante de conceitos contraditrios de seus mestres. necessrio um guia seguro para formar a prpria opinio. A prtica da homeopatia apresenta resultados irregulares e variados de mdico para mdico. possvel melhorar a qualidade das prescries pelo estudo continuado e avaliao crtica dos resultados. As duas edies anteriores, com o ttulo Manual de Tcnica Homeoptica, tiveram boa aceitao no meio homeoptico e tem sido adotadas como livro texto em cursos de formao e reciclagem. Nesta edio, todos os captulos foram revisados, ampliados e a bibliografia atualizada. Foram acrescentados os captulos referentes aos fundamentos tericos, desenvolvimento histrico da medicina e da homeopatia e farmcia homeoptica. O captulo de repertrio foram divididos em trs. Os captulos de Veterinria e Pediatria foram ampliados. Estas alteraes justificam a mudana do ttulo da obra para Fundamentos da Homeopatia, pois contempla todos os aspectos do curriculum minimum proposto pela AMHB. O objetivo geral deste livro orientar o mdico no estudo da Homeopatia. Indicar textos de apoio para os cursos de formao de especialistas em homeopatia; Dirigir o estudo para a prova de ttulo de especialista em homeopatia da AMHB; Indicar material de reviso para reciclagem dos conhecimentos; Descrever os procedimentos utilizados no ambulatrio do GEHSH. O aprendizado da homeopatia apresenta aspectos bastante peculiares. Os seus textos bsicos datam de mais de 200 anos e, no entanto permanecem atuais, pois so princpios e leis da natureza, registros de fatos patogenticos e clnicos, que como tais, no perdem nunca sua validade. A literatura homeoptica vasta e no raro que um homeopata tenha mais de 2.000 ttulos em sua biblioteca. E a produo literria no para de crescer, aps o reflorescer da homeopatia a partir da dcada de 1970. A primeira preocupao do estudante de homeopatia saber quais os livros que deve adquirir inicialmente. Teoria e tcnica 1. HAHNEMANN, S. Organon da Arte de Curar. Doenas crnicas. Parte terica. 2. KENT, J. T. Filosofia homeoptica. 3. EIZAYAGA, F. X. Tratado de medicina homeoptica. Ed. Merecel, 1981. 4. JAHR, G. A Prtica da Homeopatia - princpios e regras. RJ: IHJTK. 5. GHATAK, N. Doenas cronicas - su causa e curacion. Albatros, 1978. 6. ALLEN, H. J. Los miasmas cronicos - Psora e Pseudo-Psora. Albatroz, 1978. 7. DUDGEON, R.G. Lectures on theory and practice of homeopathy. B. Jain. Matria Mdica 1. HAHNEMANN. Materia Medica Pura. Doenas crnicas. 2. ALLEN, T.F. Enciclopedia of pure materia medica. 3. HERING, C. The guiding symptoms. 4. ALLEN, H.C. Materia medica of the nosodes 5. VIJNOSKY, B. Tratado de Materia Medica. 6. VERMEULEN, Frans. Concordant Materia Medica.. Second edition. Netherlands. 1997. 7. VERMEULEN, Frans. Synoptic Materia Medica I e II.. Netherlands. 1996.
  4. 4. 4 Curso de homeoptica Repertrios 1. KUNZLI, J. Kents repertorium generale. Germany: Barthel and Barthel, 1987. 2. DIAS, Aldo Farias. Repertrio homeoptico essencial. GEHSH. 1991, 2000. 3. RIBEIRO FILHO, Ariovaldo. Novo Repertrio de sintomas homeopticos. 1995. 4. SINTTICOS: Synthesis, The complete repertory, Murphy repertory, Phoenix repertory. 5. RIBEIRO FILHO, Ariovaldo. Conhecendo o repertrio e praticando a repertorizao. 1997. 6. HOA, J.H.B. Compndio de tcnica repertorial de Kent. Editorial Homeoptica Brasileira. 7. RESENDE, A.T. Repertrio e repertorizao. SP: Editorial Homeoptica Brasileira, 1972. Os captulos esto estruturados com o objetivo de introduzir o estudante aos diversos tpicos da doutrina e tcnica homeoptica e indicando as leituras para fixao e aprofundamento dos conceitos. Estrutura dos captulos: Breve introduo aos tpicos. Lista dos objetivos educacionais para orientar a avaliao do aprendizado. Indicaes de leituras. Desenvolvimento sinttico do tema do captulo. Lista de textos de estudo complementares. Questionrio de avaliao e reflexo. Indicaes de leituras adicionais. As duas edies anteriores, com o ttulo de Manual de Tcnica Homeoptica, demonstraram sua utilidade nos cursos de formao. Com a motivao de contribuir para o desenvolvimento da homeopatia em nosso pas, oferecemos aos nossos amigos homeopatas esta edio revisada e ampliada. Aldo Farias Dias Grupo de Estudos Homeopticos Samuel Hahnemann Rua do Catete 311/1014. 22220-001 Rio de Janeiro. RJ Tel: (021)285-5660 Fax. (021)556-1748 Email: [email protected] // [email protected] Endereo na internet: http://www.geocities.com/gehsh/ Email: [email protected] Dedicado a Paramahansa Yogananda
  5. 5. Prefcio da 2a edio O mdico no tem a scientia curandi, apenas a scientia administrandi. Paracelsus. Este livro orienta o mdico no estudo da Homeopatia. O domnio da tcnica homeoptica exige um conhecimento dos fundamentos tericos em seu desenvolvimento histrico, crtica dos aspectos polmicos, deciso por um tipo de conduta. No raro o estudante ficar perplexo diante de conceitos contraditrios de seus mestres. necessrio um guia seguro para formar a prpria opinio. A prtica da homeopatia apresenta resultados irregulares e variados de mdico para mdico. possvel melhorar a qualidade das prescries pelo estudo continuado e avaliao crtica dos resultados. Este o objetivo geral deste trabalho. O Manual de Tcnica Homeoptica apresenta os temas fundamentais da homeopatia. Indica as regras da boa prtica homeoptica. Os procedimentos sugeridos esto fundamentados no esprito da doutrina homeoptica com resumos e citaes dos textos clssicos. A primeira edio foi elaborada para os participantes dos cursos e Workshops do GEHSH, com o objetivo de orientar a prtica da Homeopatia. Descreve as regras da tcnica e um guia para o estudo da homeopatia. Demonstrou sua utilidade nos cursos de formao em diversas entidades formadoras. A segunda edio do manual corresponde a esta aceitao. Objetivos do manual: Indicar textos de apoio para os cursos de formao de especialistas em homeopatia. Dirigir o estudo para a prova de ttulo de especialista em homeopatia da AMHB. Descrever os procedimentos utilizados no ambulatrio do GEHSH. Indicar material de reviso para reciclagem dos conhecimentos. Caractersticas da segunda edio: Reviso de todos os captulos. Os captulos sobre a Matria Mdica e Repertrio foram totalmente refeitos. Introduo de novos captulos: semiologia elementar, semiologia miasmtica. Incluso de uma matriz curricular para cursos de formao de especialistas. Incluso de artigos sobre homeopatia veterinria, indicando a bibliografia. Atualizao da bibliografia, indicando as leituras fundamentais e complementares. Roteiro para estudo individual de aprofundamento e reciclagem. Estrutura dos captulos: Lista dos objetivos educacionais para orientar a avaliao do aprendizado. Indicaes de leituras de textos bsicos para o domnio do tpico. Desenvolvimento sinttico do tema do captulo. Lista de textos de estudo complementares. Questionrio de avaliao e reflexo. Indicaes de leituras adicionais. Aldo Farias Dias Grupo de Estudos Homeopticos Samuel Hahnemann Rua do Catete 311/1014. 22220-001 Rio de Janeiro. RJ Tel: (021)285-5660 Fax. (021)556-1748 Email: [email protected] Endereo na internet: http://www.geocities.com/gehsh/
  6. 6. O mdico 1 Fundamentos da Homeopatia Aldo Farias Dias
  7. 7. CAPTULO 1 O Mdico A mais elevada e nica misso do mdico restabelecer a sade nos enfermos, o que se chama curar 1 do Organon. O MDICO..........................................................................................................................................................2 FORMAO PSICOLGICA DO MDICO...........................................................................................................2 Conhecimento de si mesmo ...........................................................................................................................3 Cura de si mesmo...........................................................................................................................................7 MDICO HOMEOPATA .....................................................................................................................................8 Definies......................................................................................................................................................8 Conhecimento homeoptico ..........................................................................................................................8 AVALIAO.....................................................................................................................................................11 LEITURA ADICIONAL ......................................................................................................................................12 Formao psicolgica do mdico O melhor mdico tambm um filsofo. Galeno. A formao psicolgica do mdico a pedra fundamental para o exerccio da medicina. O remdio mais usado em medicina o prprio mdico, o qual, como os demais medicamentos, precisa ser conhecido em sua posologia, efeitos colaterais e toxicidade. Balint. O mdico que se aproxima da Homeopatia precisa compreender que vai se deparar com uma concepo da enfermidade e um mtodo de tratamento distinto da sua formao mdica tradicional. Isto vai exigir uma transformao de sua maneira de pensar e sentir a prtica da medicina. Uma atitude puramente materialista e organicista dificilmente poder conduzir a um entendimento e a uma prtica da Homeopatia que possa trazer resultados satisfatrios. A aquisio das habilidades necessrias para o bom exerccio da Homeopatia no consiste apenas em acrescentar conhecimentos especficos; implica numa TRANSFORMAO DA PERSONALIDADE DO MDICO.
  8. 8. O mdico 3 Em nenhuma profisso mais do que a de mdico existe a exigncia de conhecer tanto a TCNICA especfica como a prpria PERSONALIDADE do que conhece. Nossa cultura j no pode ignorar que os conhecimentos objetivos adquirem sentido e valor quando servem de meios para a expresso do prprio ser do homem. Os mesmos conhecimentos mdicos e a mesma tcnica podem ter um sentido distinto que conduz a resultados variveis, segundo a ATITUDE NTIMA DO MDICO que os pratica. Resulta ineludvel e inadivel que o mdico CONHEA A SI MESMO, observe sua prpria atitude interior e tome conscincia dos verdadeiros motivos que determinam sua investigao. Em uma Medicina da Pessoa, como pretende ser a de nosso tempo, categoricamente includa pela antropologia, a psicologia e a sociologia, no se pode e nem lcito afastar a pessoa do mdico do problema integral da clnica, como uma nova dimenso da medicina que deve enfrentar o conhecimento do homem. necessrio que o mdico conhea sua intimidade e compreenda os fatores emocionais que determinaram sua vocao de mdico e que seguem influindo em sua atitude objetiva e cientfica em relao ao paciente. Se o mdico no conhece a si mesmo no tem a liberdade espiritual que lhe permita ser objetivo e imparcial no exame da realidade clnica e foge de todo compromisso que lhe possa fazer reeditar sua desproteo. Paschero. Conhecimento de si mesmo Nosce te ipsum Os teus ouvidos esto enganados. E os teus olhos. E as tuas mos. E a tua boca anda mentindo, Enganada pelos teus sentidos. Faze silncio no teu corpo. E escuta-te. H uma verdade silenciosa dentro de ti. A verdade sem palavras. Que procuras inutilmente, H tanto tempo, Pelo teu corpo, que enlouqueceu. Ceclia Meireles. Cnticos. SP: Moderna, 1982. Identidade mdica O que significa ser mdico? Anlise da identidade mdica. ... do exposto, podemos concluir resumidamente que o mdico uma pessoa amadurecida, um cientista diplomado, consciente da educao permanente como indispensvel, altrusta, capaz de controlar suas emoes para preservar a relao mdico-paciente e no lhe causar dano, com domnio de mtodos e tcnicas, com funes especficas e universais, integrado a grupos societrios, isenta de preconceitos no trato do paciente, que ama sua atividade, pratica o bem, responsvel pela liderana da equipe de sade e instituies de assistncia, ensino e pesquisa no campo da sade, obediente a preceitos ticos etc. Adolpho Hoirisch Identidade mdica. Paracelsus A principal substncia da arte consiste na experincia e tambm no amor.
  9. 9. Leituras The Paracelsian revolution. Divided legacy. v1. H. Coulter. Paracelsus selected writings. Jacobi. Princeton University Press, 1973. Paracelsus define o mdico como servidor e ministro da natureza - Deus exerce seu poder atravs dos mdicos. Recomenda que cada um se esforce no estudo cotidiano e constante at atingir o grau mximo de maestria. Precisa conhecer o corpo, mas tambm alcanar o conhecimento da alma de seus pacientes. H dois tipos de mdico: aqueles que trabalham por amor, e aqueles que trabalham para o seu prprio benefcio. Ambos so conhecidos por seus frutos; o justo e verdadeiro mdico conhecido pelo amor a seus pacientes. O amor pelos pacientes deveria ser a primeira virtude do mdico. Hahnemann Indica trs tipos de mdicos a evitar: 1. o que se interessa apenas em cuidar das aparncias; 2. o que aumenta o nmero de pacientes at no poder mais lhes proporcionar o tempo necessrio: um agitado em contnuo movimento, sem outro valor a no ser ter a mo ligeira, os ps geis, os cavalos alados; 3. o mundano, que se satisfaz em conversas de salo e maledicncias. O mdico deveria ser um homem: simples, de bom senso, consciencioso, apto para responder ao que lhe compete, paciente, que no se irrita, no maldiz, que sabe escutar o sofrimento, que prescreve poucos medicamentos, um nico na maioria das vezes, que sabe elogiar os colegas, amigo da ordem e da tranqilidade, amoroso e caridoso. Observai como ele se comporta com os doentes pobres e se, quando sozinho em seu consultrio, ele se ocupa de trabalhos srios. Hahnemann. O amigo da sade. Motivao e atitude A nossa vida tem a ver com dois aspectos fundamentais: a motivao e a dedicao. A motivao vem no incio de nossas aes. Por que fazemos o que fazemos? Qual a nossa inteno? A motivao correta realizar nosso trabalho em benefcio das outras pessoas. Esta uma fora poderosa. A dedicao vem no final. Rena os resultados de seu trabalho, seus mritos, e os dedique conscincia nica, para que traga o benefcio esperado. parecido com a motivao. Como afirma a regra de ouro da espiritualidade: agir em nome daquele que age. A escolha da medicina deveria ter sido por uma autntica vocao. Sentir-se atrado por ela e desenvolver a capacidade de realizar o seu trabalho com amor. O mdico necessita conhecer os motivos que determinaram a escolha da profisso mdica e a especializao em Homeopatia. Reconhecer como a motivao influencia a relao mdico-paciente e os resultados de sua prtica. Deve ter uma atitude madura no exerccio de sua profisso e atuar com o nico propsito de tratar os seus pacientes. A maturidade implica em apresentar certas caractersticas como: capacidade de suportar frustraes; controlar os impulsos; adaptao a situaes novas; objetivos realistas, etc. O exerccio da Homeopatia no est dissociado de sua vida, do sentido que d sua atividade profissional e seus altos fins existenciais. A mais elevada e nica misso do mdico restabelecer a sade nos enfermos, o que se chama curar. 1 Ter esta atitude frente ao paciente pode parecer primeira vista um fato bvio, no obstante, no apenas o requisito indispensvel para o correto exerccio da Homeopatia, alm disso, todo aquele que no o leva em conta e tenta usar esta cincia para objetivos alheios ao de curar, encontra obstculos insuperveis para a obteno dos resultados que ela promete. Os que tiveram a oportunidade de conhecer seus mtodos, mas no perseveraram em seu trabalho, recolheram em menos tempo que imaginaram, somente os amargos frutos do fracasso, os quais, embora eles os atribuam Homeopatia, tm sua origem em usar-se dela para a prpria
  10. 10. O mdico 5 necedade e no para ser til ao enfermo. Isto acontece porque, quando antepomos ao objetivo de curar qualquer outra finalidade, nossa viso se obnubila a ponto de no ver nenhum dos sintomas caractersticos individualizantes que pode nos mostrar o enfermo. Que sorte pode ter um paciente se cai em mos de algum que incapaz de perceber? Maria Clara Bandoel. Qualidades Hahnemann, Kent e Roberts destacam que o mdico deve possuir: 1. um desejo altrusta de servir; 2. estabilidade de carter; 3. conhecimento da natureza humana; 4. observao livre de preconceitos; 5. perseverana no estudo at tornar-se mestre. Hipcrates indicava como condies para o exerccio da medicina: disposio natural, inclinao ao estudo, amor ao trabalho, grande aplicao. A arte de curar pessoal, subjetiva e intransfervel e demonstra-se pela vocao e vontade de ajudar o enfermo a curar ou ter uma morte digna. O verdadeiro e nico fundamento da relao mdico-paciente e deve ser o amor de misericrdia do mdico para com o enfermo que sofre e a f que suscitada no paciente pelo tratamento de um mdico com vocao de bondade. Paschero. bem sabido que para o homem existem diversas formas de amor. No seria possvel perguntar se para o mdico no existe outra forma de amor que poderia chamar-se amor mdico, onde os elementos de afabilidade e eventualmente de ternura se acham em local de destaque, em uma situao particular que impede sua exteriorizao e que fazem que esta forma de amor no possa ser vivida pelo mdico seno no interior de si mesmo, se no quiser contaminar com ela a relao teraputica que deve estabelecer com seu paciente? Schneider. The American Board of Internal Medicine define o profissionalismo em medicina como: O profissionalismo em medicina interna compreende aqueles atributos e comportamentos que servem para manter os interesses do paciente acima do prprio interesse pessoal. um compromisso com os mais altos padres de excelncia na prtica da medicina e na gerao e disseminao do conhecimento; um compromisso com as atitudes e comportamentos que sustentam os interesses e o bem estar dos pacientes; um compromisso em corresponder s necessidades de sade da sociedade. O profissionalismo aspira o altrusmo, disponibilidade, excelncia, dever, servio, honra, integridade e respeito pelos outros.
  11. 11. Tcnicas para o desenvolvimento pessoal Aquele que conhece os outros um sbio; aquele que conhece a si mesmo um iluminado. Lao Tse. 1. Pratique o exerccio psicolgico sugerido por Hahnemann, baseado na experincia dos antigos. A tcnica simples: Observe as prprias sensaes, inclinaes, pensamentos, emoes e desejos sem tomar nenhuma ao, mesmo mental apenas observar e nada mais! 2. Participe de uma patogenesia: O mdico que realiza uma experimentao em si mesmo, seguindo as orientaes dos 121 a 142 do Organon, amplia a capacidade de percepo de si mesmo e adquire maior intimidade com a sintomatologia homeoptica. 3. Adquira o hbito de meditar. Dedique alguns minutos, diariamente, para refletir em silncio sobre sua vida e relaes. Pratique meditao. Uma tcnica de meditao descrita em Medita. Swami Muktananda. Editora pensamento. Publicao Siddha yoga. Exerccios Budistas para a sade em O Poder curativo da mente. Tulku Thondup. Editora pensamento. Leia A voz do silncio. H.P Blavatsky. 4. Conhecimento de si mesmo. 919. Qual o meio prtico mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal? (Livro dos espritos. Allan Kardec). - Um sbio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo. 919a. Concebemos toda sabedoria desse ensinamento, mas a dificuldade est precisamente em conhecer-se a si mesmo; qual o meio de conseguir isso? - Fazei o que eu fazia quando estava na Terra: no fim do dia, interrogava minha conscincia, passava em revista o que havia feito e me perguntava se no havia faltado com o dever, se ningum tinha do que se queixar de mim. Foi assim que consegui me conhecer e ver o que havia reformado em mim. Aquele que, a cada noite, se lembrasse de todas as suas aes do dia e se perguntasse o que fez de bom ou de mau, orando a Deus e ao seu anjo da guarda para esclarec-lo, adquiriria uma grande fora para se aperfeioar porque, acreditai em mim, Deus o assistiria. Interrogai-vos sobre essas questes e perguntai o que fizestes e com que objetivo agistes em determinada circunstncia, se fizestes qualquer coisa que censurareis em outras pessoas, se fizestes uma ao que no ousareis confessar. Perguntai-vos ainda isso: se agradasse a Deus me chamar nesse momento, teria eu, ao entrar no mundo dos Espritos, onde nada oculto, o que temer diante de algum? Examinai o que podeis ter feito contra Deus, depois contra vosso prximo e, por fim, contra vs mesmos. As respostas sero um repouso para vossa conscincia ou a indicao de um mal que preciso curar. O conhecimento de si mesmo , portanto, a chave do melhoramento individual. Mas, direis, como proceder a esse julgamento? No se tem a iluso do amor prprio que ameniza as faltas e as desculpa? O avaro acredita ser simplesmente econmico e previdente; o orgulhoso acredita somente ter dignidade. Isso no deixa de ser verdade, mas tendes um meio de controle que no pode vos enganar.
  12. 12. O mdico 7 Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas aes, perguntai-vos como a qualificareis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais nos outros, no poder ser mais legtima em vs, porque Deus no tem duas medidas para a justia. Procurai, assim, saber o que os outros pensam, e no negligencieis a opinio dos opositores, porque estes no tm nenhum interesse em dissimular a verdade e, muitas vezes, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho, para vos advertir com mais franqueza do que faria um amigo. Que aquele que tem a vontade sria de se melhorar sonde sua conscincia, a fim de arrancar de si as ms tendncias, como arranca as ms ervas de seu jardim. Que faa o balano de sua jornada moral, como o mercador faz a de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que isso resultar em seu benefcio. Se puder dizer a si mesmo que seu dia foi bom, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar em outra vida. (Santo Agostinho). Cura de si mesmo O mdico deve levar uma vida equilibrada aplicando em si mesmo os princpios da manuteno da boa sade. As emoes do mdico atuam como um filtro que distorce a percepo da realidade do outro e pode introduzir elementos perturbadores na relao mdico-paciente. 1. Um mdico, que tem uma ansiedade de salvao de Chelidonium inquietao e desconforto da conscincia, sente que cometeu o pecado imperdovel e que estar eternamente perdida, sem salvao, pode imaginar que a ansiedade de salvao que o paciente est relatando seja igual sua. Porm ao modalizar o sintoma do paciente percebe que de Agaricus imagina-se na porta do inferno e que o cogumelo o comanda para cair de joelhos e confessar seus pecados. 2. A paciente Lachesis diz que se sente abandonada e o mdico Aurum, supe que ela pode estar imaginando que perdeu o direito ao afeto dos amigos, que o abandono de Aurum. O observador atento percebe que a vivncia do paciente corresponde a sentir-se fraca e infeliz, particularmente de manh, quando se sente, ao acordar, abandonada e infeliz. O sintoma do mdico interfere, dessa forma, na percepo do sintoma semelhante ao seu, comunicado pelo paciente. Alguns mdicos so mobilizados por esta identidade de sofrimento e passam a falar de si mesmos, afastando-se de sua misso que ouvir e cuidar do paciente. Outros vo alm e tentam impor ao paciente sua viso de mundo e suas defesas miasmticas, indicando solues que podem ser vlidas para si mesmo mas no para aquele paciente. O mdico deve resolver seus conflitos psicolgicos e submeter-se a um tratamento homeoptico com um colega de sua confiana. Poder ajudar melhor o enfermo, quanto mais tenha equilbrio, maturidade e latncia miasmtica.
  13. 13. Mdico Homeopata O que um mdico homeopata? Definies Mdico Homeopata o que acrescenta ao seu conhecimento da medicina, o conhecimento especial da teraputica homeoptica e observa a lei de similitude. Tudo o que pertence ao grande campo da cultura mdica seu por tradio, por herana e por direito. American Institute of Homeopathy. Mdico Homeopata aquele que prescreve o remdio nico em dose mnima dinamizada, selecionado de acordo com Lei dos semelhantes. Kent discute a impropriedade destas duas definies. Os princpios da Homeopatia exigem do mdico uma nova maneira de compreender a enfermidade e valorizar os sintomas. A definio do AIH poderia ser uma forma de dar status de homeopata a quem ignora os preceitos do Organon e da Matria Mdica Pura e aplica a Homeopatia de uma forma aloptica. A formao do mdico homeopata implica em: 1. adquirir conhecimentos pelo estudo continuado e participao de grupos; 2. desenvolver habilidades especficas para sua rea de atuao; 3. desenvolver atitudes facilitadoras da relao mdico-paciente e da prtica clnica em geral. Conhecimento homeoptico Assim como o homem pode ser refletido no espelho, assim o mdico deve ter um exato conhecimento da natureza humana. O mdico deveria falar daquilo que invisvel. O que visvel deveria pertencer ao seu conhecimento, e ele deveria reconhecer as doenas como todo mundo o faz, reconhecendo-as por seus sintomas. Mas isto est longe de o tornar um mdico; ele se torna um mdico somente quando conhece o que est ainda sem nome, invisvel e imaterial, no obstante eficaz. Paracelsus. Para adquirir o domnio da tcnica e melhorar os resultados clnicos necessrio: estudar continuamente a teoria, tcnica, matria mdica e repertrio; utilizar um novo paradigma para a compreenso da enfermidade, do tratamento e do processo de cura; avaliar os resultados de sua prtica; reconhecer o domnio e os limites da Homeopatia. No estado de sade, a fora vital imaterial (autocracia), que dinamicamente anima o corpo material (organismo), reina como poder ilimitado e mantm todas as suas partes em admirvel atividade harmnica, nas suas sensaes e funes, de maneira que o esprito dotado de razo, que reside em ns, pode livremente dispor desse instrumento vivo e so para atender aos mais altos fins de nossa existncia. 9. Quando o homem adoece, essa fora vital imaterial de atividade prpria, presente em toda parte no seu organismo (princpio vital), a nica, que inicialmente sofre a influncia dinmica hostil vida, de um agente morbgeno, somente o princpio vital. perturbado por uma tal anormalidade, que pode fornecer ao organismo as sensaes desagradveis e impeli-lo, destarte, a atividades irregulares a que chamamos doena; pois essa fora invisvel por si mesma apenas reconhecvel por seus efeitos no organismo, torna conhecida sua perturbao mrbida apenas pela manifestao de doena nas sensaes e funes (as partes do organismo acessveis aos sentidos do observador e mdico), isto , por sintomas mrbidos, e no pode torn-lo conhecido de outra maneira. 12.
  14. 14. O mdico 9 A afeco do dinamismo (fora vital) espiritual que anima nosso corpo no interior invisvel, morbidamente perturbado, bem como todos os sintomas exteriormente observveis, por ele produzidos no organismo, e que representam o mal existente, constituem um todo, um e o mesmo. O organismo , na verdade, o instrumento material da vida, no sendo, porm concebvel sem a animao que lhe dada pelo dinamismo instintivamente perceptor e regularizador, tanto quanto a fora vital no concebvel sem o organismo; conseqentemente, os dois juntos constituem uma unidade; embora em pensamento, nossas mentes separem essa unidade em dois conceitos distintos para mais fcil compreenso. 15. Habilidades As habilidades so adquiridas e aperfeioadas ao longo do aprendizado e da prtica clnica. Observao O observador mdico. Hahnemann. Com o objetivo de ser capaz de realizar uma boa observao, o mdico precisa possuir algo que no se encontra entre os mdicos comuns, mesmo em grau moderado, que a capacidade e o hbito de levar em conta cuidadosa e corretamente os FENMENOS que ocorrem na enfermidade natural, assim como os que ocorrem nos estados mrbidos excitados artificialmente pelos medicamentos experimentados no homem so, alm da habilidade para descrev-los com expresses mais apropriadas e naturais. Para perceber com exatido O QUE PARA SER OBSERVADO nos pacientes, deveramos dirigir todos os nossos pensamentos sobre o fato que temos em mos, quer dizer, transcendendo de ns mesmos, e exercer todo nosso esforo de concentrao para que nada nos escape. As fantasias poticas, as imaginaes fantsticas e as especulaes, devem ser suspensas por enquanto e devem ser suprimidos todo raciocnio forado, toda interpretao forada e a tendncia a explicar fatos fora de propsito. O DEVER DO OBSERVADOR consiste em apenas ter em conta os fenmenos e seu curso; sua ateno deveria estar sobre o que observa, no apenas para que nada do que esteja presente lhe escape, mas para que o que observa possa ser percebido exatamente como . Esta capacidade de observar com preciso, no absolutamente uma capacidade inata; DEVE SER ADQUIRIDA NA PRTICA, refinando e regulando as percepes dos sentidos; quer dizer, exercitando uma crtica severa das rpidas impresses que obtemos dos objetos externos, e ao mesmo tempo, devem preservar-se a calma, serenidade e firmeza de juzo necessrias, junto com uma desconfiana de nossas prprias faculdades de apreenso. A grande importncia de nosso objetivo deveria fazer-nos empregar todas as energias de nosso corpo e mente na observao; e deve ajudar-nos nesta direo uma grande dose de pacincia, auxiliada pelo poder da vontade, at o final da observao. Para educar na aquisio desta faculdade til o conhecimento dos melhores escritos dos Gregos e Romanos, com o objetivo de permitir nossa capacitao para conseguir retido no pensamento e sentimento, como tambm propriedade e simplicidade na expresso de nossas sensaes; a arte de desenhar a natureza tambm til, j que agudiza e exercita a viso, e portanto, nossos sentidos, ensinando-nos a formar uma verdadeira concepo dos objetos e a representar o que observamos, verdadeira e puramente, sem nenhum acrscimo da fantasia. Um conhecimento de matemtica tambm nos fornece o rigor necessrio para desenvolver o rigor do raciocnio. Assim equipado, o mdico no pode deixar de cumprir seu objetivo.
  15. 15. Comunicao O material disponvel nas Matrias Mdicas baseado na comunicao. O mdico aplica a lei dos semelhantes comparando o que percebeu, atravs da comunicao com o paciente, com o material patogentico. A interao humana no se reduz a um simples emissor - receptor, ela mediada pela comunicao. Stephanos Paterakis, da Homeopathia Europea estuda o tema da meta-comunicao e indica que os homeopatas, de uma maneira geral, desconhecem os segredos da comunicao humana e isto traz consequncias para a percepo dos sintomas do paciente, que vai depender da qualidade da comunicao. O mdico precisa identificar e compreender os elementos da: 1. comunicao humana; 2. comunicao no-verbal; 3. meta-comunicao. Atitudes facilitadoras Carl Rogers identifica trs atitudes facilitadoras da relao mdico-paciente: 1. EMPATIA: capacidade de compreender o outro a partir do ponto de vista do outro. No sentir pena do outro, compreender o outro verdadeiramente. Quanto maior empatia melhor a qualidade da histria clnica. 2. RESPEITO ou aceitao incondicional: capacidade de aceitar o paciente como ele , sem crtica ou julgamento dos seus pensamentos, sentimentos, reaes e conduta. 3. CONGRUNCIA: capacidade de ser voc mesmo numa relao, sem esconder-se atrs de uma mscara ou fachada. Expressar seu ser de maneira real e autntica. Significa sinceridade. Funo O mdico homeopata no se limita a prescrever medicamentos em doses infinitesimais, de acordo com a Lei dos Semelhantes. Seu treinamento em observar o subjetivo e permitindo que o paciente lhe fale de sua subjetividade, abre um espao de intercomunicao pessoal que mobiliza o centro da personalidade do enfermo. A funo essencial do mdico favorecer esta relao para perceber a sintomatologia do enfermo e os movimentos curativos de seu dinamismo vital. Escutar o enfermo numa atitude de aceitao e compreenso favorece o processo teraputico. Os fatores emocionais tm participao determinante na problemtica orgnica do paciente em mais de 70% dos casos. Deve existir uma relao entre o paciente e sua enfermidade, independentemente da figura do mdico. Se estiver certo, a Psicanlise est a ponto de desenvolver uma nova concepo, a que poderamos chamar de Enfermidade Fundamental ou talvez deficincia fundamental da estrutura biolgica do indivduo, envolvendo em vrios graus tanto sua mente quanto seu corpo. Todos os estados patolgicos posteriores, as Doenas Clnicas, deveriam ser consideradas sintomas ou exarcebaes da Enfermidade Fundamental, provocadas pelas diversas crises no desenvolvimento individual, externas e internas, psicolgicas e biolgicas. Quando o paciente enfrenta um problema que para ele de difcil soluo, em parte ou principalmente por causa de sua Enfermidade Fundamental, sua organizao sofre certo contraste e depois de algum tempo, que pode durar alguns minutos ou vrios anos, consulta o mdico para queixar-se de alguma doena. Balint. O mdico homeopata no se prope a ser um psicoterapeuta, no precisa fazer formao psicolgica ou psicanaltica ou se submeter a um tratamento psicolgico. Porm, se tiver as qualidades descritas anteriormente e se estabelecer uma boa relao com seu paciente, este relacionamento exerce uma funo teraputica e potencializa a ao de sua prescrio.
  16. 16. O mdico 11 Avaliao Estudo de textos 1. O que a homeopatia tem a oferecer ao jovem mdico. Cap. 1 Princpios e arte... Roberts. 2. Acerca de la formacin del medico homeopata. Paschero. 3. A definio do mdico homeopata. Escritos menores. Kent. 4. Filosofando, introduo filosofia. Maria Lcia de Arruda Aranha. Editora Moderna, 1999. 5. O Mdico como paciente. Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro. Lemos Editorial. 2001 6. Physicians and the profession of medicine. Cap. 8. WEISS, G.L. The Sociology of Health, Healing and Illness. Questionrio 1. Por que importante cuidar da formao psicolgica do mdico? Cite dois fatores. 2. Qual a capacidade que o mdico deve possuir para realizar uma boa observao, segundo Hahnemann? 3. Por que o conhecimento de si mesmo importante para o exerccio da Homeopatia? 4. necessrio que o mdico esteja curado para poder praticar a homeopatia? 5. Qual a funo do mdico homeopata? 6. O que maneirismo mdico? 7. Quais as mudanas no status de mdico na sociedade atual? Reflexo 1. Quando e por que decidiu ser mdico? Que opes considerou? 2. Quando e por que decidiu ser homeopata? 3. O que mudou em sua personalidade aps a formao homeoptica? 4. Em que grau voc adota as atitudes descritas por Carl Rogers? 5. Pratica alguma tcnica de autoconhecimento? Que resultados observou? 6. Quais os seus defeitos e qualidades nas relaes interpessoais? 7. Comente a crtica de Kent definio do American Institute of Homeopathy.
  17. 17. 12 Leitura adicional 1. ACHTERBERG, J. Woman as healer. Shambala, 1990. 2. ARANHA, Maria Lcia de A. Filosofando, introduo filosofia. So Paulo, Moderna, 1999. 3. BALINT, M. O mdico, seu paciente e a doena. Rio de Janeiro, Atheneu, 1975. 4. BUZAN, Tony. Use both sides of your brain. 1991. 5. BUZAN, Tony. The mind mapbook 1996 6. CAMP, John. The healers art: the doctor through history. NY, Taplinger, 1977. 7. CESARMAN, E. Ser Mdico. Mxico, Instituto Mexicano de Cultura, 1991. 8. CHAUI, Marilena. Convite Filosofia. 9 ed. So Paulo, tica, 1999. 9. DROUAT, P. Le chaman, le physicien et le mystique. Paris, du Rocher, 1998. 10.HAHNEMANN, S. The Medical Observer. 11.HARTMANN, F. Salud y curacion segun Paracelso y el esoterismo. Dedalo,1977. 12.HEHR, G. S. Self-awareness and homeopathy. British Hom. Journal vol. 72, n2, april 1983. 13.HUXLEY, A. As portas da percepo. Porto Alegre, Globo, 1981. 14.JACK, Christian. A sabedoria viva do antigo Egito. Bertrand Brasil, 1999. 15.JACOBI, J. Paracelsus selected writings. NY, Princeton University Press, 1973. 16.KENNY, Anthony. The oxford illustrated history of western philosophy. Oxford, 1994 17.KRISHNAMURTI, J. A primeira e ltima liberdade. So Paulo, Cultrix, 1995. 18.LPEZ, Mrio. Fundamentos da clnica mdica. A relao paciente-mdico. Medsi, 1997. 19.KARDEK, Allan. O livro dos espritos. 20.LUZ, Hlio. O Mdico, essa droga desconhecida. Rio de Janeiro, Atheneu. [1994?]. 21.MELLO FILHO, Jlio de. Psicossomtica Hoje. Porto Alegre, Artes Mdicas, 1992. 22.NEEDLEMAN, Jacob O tempo e a alma. Ediouro, 1999. 23.PASCHERO, T.P. La Homeopatia, Medicina de la Persona. Acerca de la formacion del medico homeopata. Acta homeopathica Argentinensia. Ano VII-4, n0 17, p10-28. 1986. Ano VI-4, n0 15, p19-29. 1985. 24.PATERAKIS, S. Metacommunication and Homeopathia Europea. Congresso Lyon, 1986 25.RUSS, Jacqueline. Nouvel abrg de philosophie. Paris: Armand Colin, 1999. 26.SZAPIRO, S. El Medico Homeopata. Acta homepathica Argentinensia. Ano VI-2, 1985. 27.THORWALD, J. O segredo dos Mdicos Antigos. So Paulo, Melhoramentos, 1985. 28.TILLICH, Paul. A coragem de Ser. Paz e Terra, 1967. 29.THONDUP, Tulku. The healing power of mind. Shambala. 1996. Pensamento. 1998. 30.WEATHERALL, D. Science and the quiet art: medical research ant patient care. Oxford University Press, 1995. 31.WEISS, Gregory L. The Sociology of Health, Healing and Illness. Prentice Hall. 1996.
  18. 18. Evoluo da medicina 1 Fundamentos da Homeopatia Aldo Farias Dias
  19. 19. 2 Curso de Homeopatia CAPTULO 2 Evoluo da Medicina e da Homeopatia Para definir a histria da medicina, temos primeiro que definir o que medicina. E isto no uma tarefa fcil. Pois a medicina a mais antiga atividade do homem e a mais difundida. Os grandes pensadores mdicos sempre procuraram um conjunto de regras que permitisse a correta interpretao dos fatos. A histria demonstra que isto se d em duas linhas alternativas. Uma enfatiza a importncia dos dados sensoriais em si mesmos e baseiam o tratamento neles. A outra procura por uma ordem superior da realidade por trs dos fatos, e o tratamento guiado por estas suposies. Um termo mais comum para esta dicotomia o emprico e o racional. Harris Coulter. Divided Legacy. Vol. 1. EVOLUO DA MEDICINA E DA HOMEOPATIA ...................................................................................2 INTRODUO FILOSOFIA ..............................................................................................................................3 HISTRIA DA MEDICINA..................................................................................................................................3 HISTRIA DA HOMEOPATIA...........................................................................................................................11 Hahnemann: vida e obra ..............................................................................................................................11 A homeopatia aps Hahnemann ..................................................................................................................17 VITALISMO E HOMEOPATIA...........................................................................................................................18 Evoluo do pensamento vitalista................................................................................................................19 AVALIAO.....................................................................................................................................................22 APNDICE........................................................................................................................................................24 A DIVISO EM HOMEOPATIA: ALTAS versus BAIXAS..............................................................24 LEITURA ADICIONAL ......................................................................................................................................56 Histria da medicina....................................................................................................................................57 Vitalismo......................................................................................................................................................57 Histria da Homeopatia ...............................................................................................................................57
  20. 20. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 3 Introduo filosofia O estudo da filosofia essencial porque no se pode pensar em nenhum homem que no seja solicitado a refletir e agir. Isso significa que todo homem tem (ou deveria ter) uma concepo de mundo, uma linha de conduta moral e poltica, e deveria atuar no sentido de manter ou modificar as maneiras de pensar e agir do seu tempo. A filosofia oferece condies tericas para a superao da conscincia ingnua e o desenvolvimento da conscincia crtica, pela qual a experincia vivida transformada em experincia compreendida, isto , em um saber a respeito dessa experincia. Maria Lcia Arruda. Prefcio. Filosofando... 2 ed. So Paulo, Moderna, 1999. Leituras Histria da Filosofia. Brian Maggee. Edies Loyola, 1999. Filosofando: introduo filosofia. 2 ed. Maria Lcia de Arruda Aranha. SP, Moderna, 1999. Iniciao Histria da Filosofia. Danilo Marcondes, Zahar editor, 1997. Filosofia o mais completo guia. Jay Stevenson. Editora Mandarim, 2001. Convite Filosofia. Marilena Chaui. 9 ed. So Paulo, tica, 1999. Histria da Medicina Luciana Louzada Farias Estudante de Medicina - UFRJ A EVOLUO DO PENSAMENTO MDICO.
  21. 21. 4 Curso de Homeopatia Leituras Histria da Medicina. Albert S. Lyons, R. Joseph Petrucelli. Ed. Manole, 1995. Traduo de Medicine, an illustrated history. Abradale Press,1987. Histria ilustrada da medicina. Roberto Margotta. Ed. Manole, 1998. A Medicina e sua Histria. EPUC - Editora de Publicaes Cientficas, Ltda. 1989. Divided Legacy. A history of the schism in medical thought. Harris L. Coulter. 4vl. 1994. A evoluo da medicina. A. Bernardes de Oliveira. So Paulo, Livraria pioneira editora, 1981. Medicina pr-histrica A histria da medicina tem suas origens em rituais mgicos e sagrados. As danas dos povos primitivos faziam parte de ritos complexos onde se invocavam as foras sobrenaturais. A medicina sempre teve uma relao prxima com a religio, pois ambas tentam identificar e afastar os males que afligem os homens. Os conhecimentos da pr-histria provm do estudo dos fsseis, paleontologia, antropologia, paleopatologia, escultura e arte das cavernas. Muitas perguntas permanecem sem respostas. As doenas existiam antes do homem e atacavam os animais que instintivamente lambiam as feridas, se cortavam para produzir hemorragia e comiam determinadas ervas. H crnios do perodo neoltico com trepanaes, mas no se sabe qual o motivo real destas operaes, se para curar doena ou expulsar maus espritos. As idias e prticas mdicas das culturas primitivas da atualidade mostram grande variedade, embora se encontrem muitos pontos de identidade entre elas. A religio, a magia e o tratamento mdico parecem ser inseparveis. Mas eles no acreditam que todas as doenas sejam de origem sobrenatural, assim temos o curandeiro, o Shaman e o feiticeiro, para cuidar das doenas, segundo sua natureza. Civilizaes antigas Mesopotmia A medicina da civilizao Sumria, h 6 mil anos em Ur, na Mesopotmia, a mais antiga que se conhece. Era baseada na astrologia e se estabeleciam relaes entre o movimento dos astros e as estaes e entre as estaes e as doenas. Foram encontradas placas de argila usadas pelos sacerdotes, com escritos tratados mdicos completos. Acreditava-se que o sangue era a fonte de todas as funes vitais e o fgado o centro da distribuio do sangue e bero da vida. Antes de partirem para grandes misses os heris consultavam os augrios, estudando os lobos do fgado de um animal. O apogeu de sua civilizao ocorreu no incio do reinado de Hamurabi, 1728-1686 a.C, tornando Babilnia, sua capital. Descreviam quatro mecanismos de doenas: 1. Descuido ou negligncia das obrigaes religiosas e de carregar os amuletos protetores; 2. Castigo dos deuses, pelos pecados cometidos; 3. Efeitos de feitiarias e do mau olhado; 4. Resultado do acaso e fatalidade. A medicina era mgico-sacerdotal, mas havia tambm o sacerdote mdico e adivinho (assipu) e o mdico leigo (asu), nico a ser considerado nas penalidades do cdigo de Hamurabi. A medicina sacerdotal apoiava-se nos recursos sobrenaturais: rituais curativos e prticas de adivinhao do destino dos doentes. As medidas teraputicas incluam o sono nos templos, a transferncia da doena para um animal sacrificado e o emprego de ervas com o auxlio de encantamentos e palavras mgicas. O cdigo de Hamurabi, 2200 a.C, estabelece uma srie de situaes da prtica mdica com penalidades severas para as falhas, que eram aplicadas apenas aos mdicos operadores. Assim, no 215 - Se um cirurgio fizer uma inciso profunda no corpo de um homem livre, ou tratar de um olho e salvar sua vida e recuperar o olho, receber 10 shekels de prata. 218 - ... se causar a morte do homem ... ou destruir o olho do homem, eles cortaro fora sua mo.
  22. 22. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 5 A origem da serpente como smbolo da medicina, motivo de controvrsia, mas tudo leva a crer que o Caduceu mdico teve suas origens na Mesopotmia, por volta do terceiro milnio antes de Cristo. frica Os textos de histria da medicina omitem a contribuio dos antigos africanos que podem ter sido os originadores da prtica mdica. Filsofos gregos, historiadores e mdicos relatam o quanto aprenderam dos escritos e tradies orais dos africanos. Atualmente h referncia a Imhotep, engenheiro, arquiteto, escriba, sacerdote e mdico africano que viveu cerca de 3000 anos a.C, considerando-o o pai histrico da medicina. Ele instruiu muitos gregos na arte da medicina, construiu o primeiro hospital e registrou seus conhecimentos sobre cirurgia, anatomia, patologia, diagnstico e observaes cientficas experimentais. (The oath of Imhotep Journal of the national medical assoc., 84:636-637. Pickett, 1992). Hebreus Como os demais povos antigos, os hebreus consideravam as doenas como castigos pelos pecados. No entanto, eram monotestas. Egito Os conhecimentos sobre a medicina egpcia provinham dos escritos de Homero, Herdoto, Hipcrates e Plnio. A arte da medicina dividida da seguinte maneira: cada mdico ocupa-se apenas de uma doena especfica. Em todos os lugares h muitos mdicos; alguns so especialistas dos olhos, outros da cabea, um dos dentes, outros, ainda, dos intestinos e muitos dos distrbios internos. Herdoto. A descoberta dos papiros mdicos, principalmente os de Georg Ebers, 1860, e Edwin Smith, 1930, trouxe novos fatos sobre a medicina do antigo Egito. O mais antigo destes papiros, em forma fragmentada, o de Kahun, que trata de veterinria e doenas das mulheres. Neles encontra-se, uma frmula contendo espinhos de accia finamente esmagados, misturados com tmaras e mel, de modo a formar uma pasta para ser introduzida na vagina, para evitar a fecundao. (os espinhos de accia h um ltex que desprende cido lctico, componente dos vulos anticoncepcionais da atualidade.) Os egpcios acreditavam que a respirao era a funo vital mais importante. Sabiam que o corao era o centro da circulao, mas achavam que esta dependia da respirao. A medicina era basicamente inicitica e exercida com a finalidade de exorcizar os pacientes dos poderes demonacos. Todas as curas eram reveladas pelos deuses e codificadas por Tot, conhecido como Hermes Trimegisto, em livros secretos, para serem usados pelos sacerdotes. A farmacopia era vasta e inclua muitas plantas que foram utilizadas posteriormente por Dioscorides, Galeno e Plnio. Os minerais tambm eram empregados, como o antimnio, cobre, sal, alumina, carvo vegetal. ndia A medicina indiana teve seu primeiro perodo, por volta de 1500 a.C, com os escritos do Ayurveda, especificamente sobre medicina. Seu apogeu foi no incio do sculo IX a.C. Destacam-se dois mdicos, Charaka e Susruta, cujas obras influenciaram os sistemas posteriores. Os indianos eram peritos na cirurgia plstica, notadamente na reconstruo do nariz, que era mutilado como punio do adultrio. China A inveno da medicina atribuda a Shen Nung, legendrio imperador, que teria reinado de 2838 a 2698 a.C., inspirado por Pan Ku, o deus da criao, segundo o Taoismo. Ele escreveu Pen Tsao ou herbrio com uma lista de 365 ervas, prescries e venenos. Muitas receitas ainda tm uso atual. Os chineses usavam tambm o sulfeto de sdio como laxativo e o ferro para anemia. Foram os pioneiros na imunizao contra a varola, introduzindo crostas de pstulas em p nas narinas.
  23. 23. 6 Curso de Homeopatia Atribui-se a Hwang Ti (2698-2598 a.C) , outro conceituado imperador, o Nei Ching ou Livro de medicina, a mais antiga obra da medicina chinesa. Os mdicos chineses costumavam tomar o pulso e analisavam as suas diferentes manifestaes, cada uma com um significado prprio. A acupuntura a prtica mdica tipicamente chinesa. A medicina ocidental s foi introduzida na China no sculo XIX. Por volta do sculo IV d.C a civilizao chinesa invadiu o Japo. Grcia A civilizao do mar Egeu inicia-se por volta de 3000 a.C, com a conquista das ilhas gregas pelos povos que habitavam a costa leste do Mediterrneo. A medicina grega desenvolveu-se paralelamente filosofia. Foi praticada pelos leigos e no pela casta sacerdotal. A magia foi substituda pela investigao, tornando-se cincia e arte. A obra de Homero a fonte mais antiga sobre a medicina helnica. O mdico era uma figura de respeito. Ele vale muitas vidas, inigualvel na remoo de flechas das feridas e na cura com blsamos preparados de ervas. Refere-se tambm a bandagens, compressas, mtodos para estancar as hemorragias e remdios base de ervas. Estas informaes dizem respeito as prticas das civilizaes de Creta e do mar Egeu. Os gregos reconheciam a importncia do sangue, mas no suas funes verdadeiras. A prtica da sangria era comum, cortando as veias ou aplicando ventosas. Posteriormente a cultura grega foi sofrendo as influncias orientais e a medicina foi tornando-se mais sacerdotal. A literatura depois de Homero, faz referncias a encantamentos, demnios, clarividentes e augrios. Muitos deuses gregos foram identificados com a cura: Apolo, Artemis, Atena e Afrodite. Mesmo os deuses do submundo eram capazes de curar ou prevenir doenas. O culto a Asclpio (Esculpio para os romanos) deve ter evoludo destas crenas. A serpente, seu smbolo, representava as foras do submundo e um sinal sagrado do deus da cura entre as tribos semitas da sia Menor. No sabemos se ele realmente existiu. Foi deficado aps sua morte e constituiu uma grande famlia, incluindo Panacia, que possua a cura para tudo e Higia, que dominava a sade pblica. Os primeiros santurios a Esculpio foram construdos por volta de 770 a.C. e o culto da serpente se difundiu. Quando o tratamento mdico leigo fracassava, as pessoas recorriam aos santurios de Esculpo, onde o tratamento era feito base de banhos, jejuns e cerimnias. Depois relatavam seus sonhos para serem interpretados pelos sacerdotes. Pode-se afirmar que a psicoterapia teve a o seu incio. As prticas mdicas sacerdotais mantiveram sua influncia durante o sculo V a.C at os sculos IV ou V d.C, quando o culto a Esculpo funde-se aos dos santos cristos. A escola filosfica greco-latina foi fundada por Pitgoras (580-489 a.C) e constitui-se numa base importante para a medicina cientfica. O princpio da harmonia e proporcionalidade da natureza refletia-se no organismo. Pitgoras, fundador da escola mdica de Crotona, conduziu seus primeiros estudos cientficos sobre anatomia e fisiologia. Alcmeon, contemporneo de Pitgoras, foi o mdico mais famoso de Crotona. Descobriu os nervos ticos e a trompa de Eustquio e afirmou que o crebro era o bero do intelecto e dos sentidos. Os ensinamentos de Alcmeon esto contidos em On nature, onde se encontram mecanismos das doenas e meios de tratamento e preveno, sem recorrer ao sobrenatural. Empdocles de Agrigento (500-430 a.C) considerava o mundo constitudo de quatro elementos que eram a raiz de tudo: terra, ar, fogo e gua. A escola greco-latina prosperava na Itlia Meridional e na Siclia e outras escolas desenvolviam-se em Cirene, norte da frica. A escola de Cnido, no extremo sul da sia Menor e a escola de Cs, nas ilhas de Rhodes.
  24. 24. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 7 A escola de Cnido considerava a patologia e a teraputica de forma mais localizada. Era mais intervencionista que expectante. Plato cita Eurifon e Ctsias como membros desta escola. Seus mtodos esto descritos nas Sentenas Cndicas, do corpus hipocraticus. A escola de Cs era mais famosa. Os mdicos da escola de Cs ocupavam-se mais do prognstico do que com as discusses sobre as causas da doena. Reconheciam a importncia das doenas gerais e no apenas s suas localizaes. A teraputica apoiava-se nas reaes defensivas naturais do organismo. No havia doenas e sim doentes. Hipcrates foi o maior professor da escola de Cs. Hipcrates nasceu em Cs em 460 ou 450 a.C. Aprendeu medicina com seu pai, que era mdico, e viajou por vrios pases. Ensinou na escola de Cs por muitos anos e adquiriu admirao e fama. considerado o pai da medicina. Hipcrates possua um profundo conhecimento do sofrimento humano e afirmava que o lugar do mdico era ao lado dos enfermos. O diagnstico era baseado na observao e no raciocnio. O conceito de doena era baseado na teoria da harmonia dos humores. A proporo adequada dos humores (sangue, flegma, bile amarela e bile vermelha) acarretaria o estado de sade e o desequilbrio, o estado de doena. H uma inter-relaao entre os elementos, os humores, as estaes e o temperamento. 1) fogo, bile amarela, vero, temperamento bilioso. 2) terra, bile negra, outono, temperamento melanclico. 3) gua, flegma, inverno, temperamento flegmtico. 4) ar, sangue, primavera, temperamento sanguneo. As qualidades: secura, frio, umidade, calor. Esta teoria ainda tinha adeptos durante a primeira metade do sculo XIX. Os humores, porm, no explicavam tudo. Era necessria uma fora propulsora para mant-los em atividade, em equilbrio, expuls-los ou retornar ao equilbrio, quando em desarmonia. Essa fora foi denominada de calor inato (enfiton termon), situada no ventrculo esquerdo do corao, segundo Hipcrates. Esta noo parece ter razes no fogo sagrado das religies, de um componente natural do homem, sua physis. Assim seria natural tambm uma tendncia para a cura das doenas. Foi a partir da que surgiram os lemas da vix medicatrix naturae e do primum non nocere. Escola de Cs Escola de Cnido Organismo e doente rgos e doena Descrio individual Classificao Concreto Abstrato Contexto forte Contexto fraco Holstico Redutivo Regime Remdio especfico Aps a morte de Hipcrates, houve avanos no estudo da anatomia e fisiologia. Aristteles, discpulo de Plato foi o tutor de Alexandre, filho de Felipe da Macednia, que fundou Alexandria, no Egito. Herfilo provavelmente foi o primeiro a dissecar um corpo humano. As escolas mdicas que se formaram foram: metodista, pneumatista, ecltica. Muitos mdicos gregos partiram para Roma. Cato, o censor, (234-149 a.C), considerava depravados os hbitos dos Gregos e acusava os mdicos gregos: Se aquela corja nos passar o que sabe, ser o fim de Roma, principalmente se os mdicos deles vierem para c. Eles juraram matar todos os brbaros usando a medicina, e, para eles, o que somos - brbaros. Roma Inicialmente a medicina era mgica e sobrenatural. Entre os inmeros prisioneiros das guerras encontravam-se mdicos que passaram a exercer a medicina com baixo nvel tcnico. O primeiro mdico grego a chegar a Roma foi Arcgatos, em 219 a.C. e foi recebido com honras. Asclepades foi muito bem sucedido em Roma. Recomendava dietas, exerccios, caminhadas, banhos e massagens. Seu lema era que os mdicos deviam tratar os doentes de forma rpida, segura e agradvel. Cito, tute et icunde.
  25. 25. 8 Curso de Homeopatia Dioscrides classificou as plantas medicinais e considerado o pai da matria mdica. Descreveu as propriedades medicinais de 600 plantas, 90 minerais e 168 substncias animais. Aulo Cornlio Celso, no incio da era Crist, escreveu De res medica, um compndio enciclopdico, arranjado sistematicamente. Caio Plnio Segundo (23-79 d.C), escreveu uma histria natural em 37 volumes. Sorano de feso (98-138 d.C), foi o obstetra mais famoso da antiguidade e autor de Sobre as doenas das mulheres, texto usado durante quinze sculos. Cludio Galeno estabeleceu-se em Roma no ano 162. Logo conquistou fama de bom mdico e escritor. Era mdico particular e amigo de dois imperadores. Atacava seus colegas mdicos e os acusava de incompetentes. Escreveu cerca de quatrocentos tratados, dos quais apenas 83 restaram de um incndio. Afirmava que cada leso implica em mudana de funo. Era muito sagaz no diagnstico e o tratamento era baseado no conceito dos opostos - contraria contrariis. Apesar dos erros, sua obra influenciou a medicina durante mais de mil anos. A srie de epidemias e pestes que coincidiram com a queda do imprio Romano e a impotncia dos mdicos em curar tais doenas geraram uma reao contra a abordagem racional e cientfica da medicina e ressurgiram as prticas supersticiosas. Idade mdia O perodo entre 500 e 1500 considerado como a idade mdia. A prtica mdica na primeira parte desta era referida como medicina monstica, pois era realizada nos monastrios. A medicina era oficialmente controlada pela igreja em Bizncio, que era francamente hostil aos mdicos. A doena era considerada benfica para testar a f do doente e seu compromisso com Deus e a igreja. A doena ocorria como uma punio de Deus, possesso demonaca ou resultado de feitiaria. Estas etiologias espirituais requeriam tratamento religioso, oraes, penitncia ou graa de santos. Alguns tipos de doenas eram relacionadas com determinados santos. O Islamismo foi fundado por Mohammed em 622 d.C. Seus seguidores conquistaram quase metade do mundo conhecido e por volta do ano 1000, o imprio rabe estendia-se da Espanha ndia. Os rabes eram muito interessados em medicina e construram muitos hospitais. Seus ensinamentos iriam constituir uma ponte entre a medicina Greco-Romana e Renascentista. Os mdicos rabes mais conhecidos foram Rhazes e Avicena. Os Cnones de Avicena influenciaram o ensino mdico durante sculos. A segunda metade da era medieval conhecida como o tempo da medicina escolstica. Em 1130, o conclio de Clermont proibiu os monges de praticarem a medicina. As universidades passaram a ocupar um lugar de destaque na formao dos jovens mdicos. Nesta era vrias epidemias devastaram a Europa. A escola de Salerno preservou os ensinamentos da medicina rabe. Os textos da escola de Salerno eram expressos em versos. Era permitida a presena de mulheres estudantes de medicina. Sculos XV e XVI O mundo medieval desapareceu com as viagens de Vasco da Gama, Colombo, Magalhes. A renascena representou um renascimento das artes e filosofia, da investigao cientfica, avanos tecnolgicos e da medicina. A cegueira escolstica da idade mdia foi substituda pelo humanismo, que valoriza a dignidade do indivduo, a importncia da vida terrena (e no apenas da vida aps a morte) e da liberdade religiosa. Os desenhos de Leonardo da Vinci ilustram a arte de desenhar a fisiologia e pode ser considerado como o pai da anatomia. Andreas Vesalius (1514-1564) refutou muitas das descries anatmicas e idias mdicas de Galeno. Com apenas 28 anos de idade, publicou De humani corporis, a base da medicina moderna.
  26. 26. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 9 Paracelsus foi autor de mais de 300 obras, de medicina com base em observaes at estudos sobre alquimia e metafsica. Jean Fernel (1497-1558) contribuiu para livrar o pensamento mdico das amarras de Galeno. Sua obra Universa medica foi usada por mais de dois sculos. Durante a renascena foram publicados muitos livros de obstetrcia e pediatria, na lngua do pas, em lugar do latim. Sculo XVII O sculo XVII considerado a idade da revoluo cientfica, a idade de ouro da cincia. Enquanto as cincias naturais avanavam a passos largos, a medicina parecia regredir poca medieval. A cirurgia no se beneficiava dos conhecimentos da anatomia do sculo anterior e os cirurgies eram considerados inferiores. Entre os filsofos do sculo destacam-se Ren Descartes (1596-1650). Seu Discurso do mtodo, em 1637, adotava uma generalizao do mtodo matemtico e desenvolvia uma viso mecanicista do mundo. Descartes deduzia os fenmenos do mundo das idias gerais provenientes da intuio das verdades auto-evidentes. Para Descartes, a experimentao era principalmente ilustrativa, mas til quando o raciocnio dedutivo no era conclusivo. Francis Bacon (1561-1626) foi outro filsofo da cincia que priorizava a experimentao e o mtodo indutivo, que consistia em colecionar fatos, sem nenhuma hiptese em mente e pesquisar uma teoria geral que poderia surgir deles. Iatroqumica ou qumica mdica foi o nome dado fuso da alquimia, medicina, e qumica. Era praticada pelos seguidores de Paracelso, nos sculos XVI e XVII, sendo uma alternativa para a filosofia mecanicista que domina a cincia. Jan Baptista Van Helmont (1577-1644) foi o lder da Iatroqumica e do Paracelsianismo no sculo XVII. Sua comparao entre o peso da urina com o da gua foi a primeira medida da densidade especfica da urina. Outra contribuio foi o reconhecimento de que o ar composto de vrios gazes. Como Paracelsus, acreditava que a doena era uma entidade distinta que existia parasitando o corpo. Isto contrastava com a concepo de Galeno onde a doena era parte da pessoa e representava um desequilbrio dos humores. Concluiu, pela experimentao, que os fermentos (enzimas) eram partes fundamentais de todos os mecanismos fisiolgicos. Recusava as sangrias e utilizava medicamentos qumicos e melhorou o emprego do mercrio. Franz de la Boeh, chamado de Franciscus Sylvius (1614 1672). Seu entendimento da medicina era emprico, fazendo uso dos conhecimentos da qumica. Fez do laboratrio um instrumento essencial para a prtica da medicina. A ascenso do atomismo foi de importncia fundamental para o desenvolvimento da cincia e por conseqncia, da medicina. O conceito teve sua origem na antigidade e foi plenamente desenvolvido por Democritus de Abdera e Leucippus de Mileto, no quinto sculo antes de Cristo. Foi reativado no terceiro sculo depois de Cristo por Epicurus. Na idade mdia, o atomismo, no teve muito reconhecimento, devido sua conotao atesta. Foi redescoberto na renascena e reforado no sculo XVII pelos esforos de Pierre Gassand (1592 - 1655). Robert Boyle (1627 1691) foi outro importante proponente do atomismo. Galileo Galilei (1564 1642) foi outro nome importante para a cincia moderna. Formulou as leis do movimento da terra, posteriormente ampliadas por Isaac Newton (1642-1727) para o universo. A iatromecnica, ou iatrofsica, explicava os fenmenos mdicos como objetos em movimento. Giovanni Alfonso Borelli (1608 1679) foi um dos lderes da iatromecnica. Partindo de uma unidade simples, o msculo, expandiu suas investigaes para os rgos e por fim para o organismo todo. Giorgio Baglivi (1669 1707) representou o extremo da iatromecnica, comparando cada rgo a uma mquina especfica. Santorio Santorio (1561 1636), construiu o termmetro e desenvolveu pesquisas sobre a fisilologia do metabolismo. Em 1677, Antony Van Leeuwnhoek (1632 1723), um comerciante de linho, descobriu o espermatozide, com a ajuda de um microscpio. Niklaas Hartsoecker (1656 1725), publicou gravuras mostrando pequenos
  27. 27. 10 Curso de Homeopatia homens pr-formados (homunculi) nos espermatozides examinados pelo microscpio. No final do sculo XVII existiam duas teorias opostas sobre a origem dos embries. A teoria da pr-formao era dominante. A partir do minsculo indivduo presente no esperma o embrio se desenvolvia. A teoria da epignese. O organismo seria formado a partir da substncia primitiva, que ia se transformando em diversos estgios e formando as estruturas orgnicas. William Harvey (1578 1657), demonstrou que o sangue circulava num sistema fechado. Isto foi a descoberta mais importante do sculo XVII. Houve precursores de Harvey, como Michael Servetus (1511 1553), Matteo Realdo Colombo (1516? 1559) e Andrea Cesalpino (1519 - 1603). Um precursor bem mais antigo foi Ibn-Nafis (1210-1280). No entanto foi Harvey que solucionou a maioria dos problemas e o responsvel pelo entendimento atual da circulao sangnea e suas contribuies so uma da mais valiosas da histria da medicina. No sculo XVII ocorreram outros progressos nos conhecimentos anatmicos e fisiolgicos e os termmetros e microscpios muito contriburam para isto. Galileu construiu o primeiro termmetro em 1592. Hermann Boerhaave (1668 1738) fez amplo uso clnico do termmetro. Anders Celsius (1701-1744) reintroduzia a escala decimal. Karl August Wunderlich (1815-1877), analisando milhares de casos, chegou concluso de que a febre era um sintoma e no uma doena, e que a temperatura to importante quanto o pulso. Os dois nomes mais importantes da microscopia do sculo XVII so Antony Van Leeuwenhoeck (1632 1723) e Marcelo Malpighi (1628-1694), o pai da biologia microscpica. Desenvolveu tcnicas para o exame dos tecidos no microscpio e confirmou a existncia dos capilares pulmonares, postulados por Harvey. Muitos outros progressos se fizeram. Francis Glisson (1597 1677) descreveu, em detalhes, o fgado, estmago e intestinos. Thomas Wharton (1614 1673) descreveu as glndulas endcrinas e excrinas. Thomas Willis (1621 1675) descreveu o sistema nervoso. Thomas Sydenham (1624 1689) considerado o Hipcrates Ingls. Era um excelente observador e descreveu a febre reumtica e a gota Distinguiu a escarlatina do sarampo. Insistia que a primeira obrigao do mdico era conhecer e cuidar dos seus doentes. Dava muita ateno aos sintomas e progresso da doena. A doena seria uma condio alheia ao organismo, que reagia ela, na tentativa de eliminao das substncias indesejveis do sangue. Acreditava nos poderes curativos da natureza e utilizou a China e o pio. Giovanni Maria Lancisi (1654 - 1720), props uma reforma radical no ensino da medicina e foi um dos pioneiros da sade pblica. A teraputica consistia em sangrias, purgativos, restries dietticas, exerccio e o uso de drogas inespecficas, vegetais, minerais e animais. As epidemias eram comuns e a introduo da China para o tratamento da malria, modificou alguns conceitos sobre a doena. Sculo XVIII O sculo XVIII foi um perodo de mudanas polticas e cientficas importantes. A guerra da sucesso Espanhola, o surgimento dos Estados Unidos da Amrica e a revoluo Francesa. A prtica da medicina firmava- se em bases cientficas slidas. Foram construdos muitos hospitais e enfermarias. Houve muitos conflitos entre as idias tradicionais e a viso cientfica, apoiada na experimentao. O iluminismo do avano cientfico refletia-se na medicina. Na Itlia, os trabalhos de Giovanni Battista Morgagni (1682-1771) forneceram as bases para o conceito anatmico de patologia. Ele considerado o fundador da anatomia patolgica. Lavoisier demonstrou que a respirao um processo de combusto. Porm, a antiga maneira de pensar ganhou nova vida com o ressurgimento do animismo, por Stahl e depois pelo vitalismo com Barthez. Mdicos importantes deste sculo foram: Hermann Boerhaave (1668-1738); Georg Ernst Stahl (1659 - 1734); Friederich Hoffmann (1660-1742); Albrecth von Haller (1708-1777); William e John Hunter (1729-1793); William Cullen (1712-1790); John Brow (1735-1788); Giovanni Rasori (1766-1837); Samuel Hahnemann (1755- 1843); Friedrich Anton Mesmer (1734-1815).
  28. 28. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 11 Hermann Boerhaave destacou-se como um dos maiores mdicos do sculo, que enfatizava a importncia do mdico ao lado do enfermo e contava com os poderes curativos da natureza, como Hipcrates. Gerard van Swieten fundou a primeira clnica universitria. Leopold Auenbrugger desevolveu o mtodo da percusso, valorizando a cincia do diagnstico do exame fsico. Mesmer utilizava um tratamento com magnetismo animal e atraiu muitos clientes ricos e famosos. Samuel Hahnemann desenvolveu a Homeopatia, a partir da publicao do primeiro ensaio em 1796. Edward Jenner (1749-1823), adaptou a vacina contra a varola das vacas para produzir imunidade contra a varola. Iniciava, assim, em 1796, uma nova era para a medicina preventiva. Sculo XIX As primeiras dcadas do sculo XIX foram uma continuao do anterior. A descoberta da anestesia e dos microorganismos como causadores de doenas foram dois aspectos que mais influenciaram o conceito de doena e das formas de tratamento. A caracterstica mais importante era a correlao que se estabelecia entre os achados de laboratrio e autopsias com as observaes clnicas. A escola de Paris desempenhou um papel marcante, onde se destacam: Bichat, Laennec, Magendie, Claude Bernard. Rudolph Virchow foi o maior patologista do sculo XIX. Afirmava que as doenas manifestavam-se nas clulas na forma de humores invisveis. Louis Pasteur desenvolveu a teoria microbiana e vacina contra a raiva. Paul Ehrlich foi o fundador da imunologia. A descoberta da penicilina, em 1928, por Alexander Fleming foi um marco no desenvolvimento dos frmacos modernos. Histria da homeopatia Evoluo da homeopatia. Leituras Hahnemann, esboo de uma biografia. Robert E. Dudgeon. Trad. Revista da APH, v59,3-4, 1994. Parte histrica. Iniciao homeoptica. Jos Emygdio R. Galhardo. RJ, 1936. 1. HAEL, R. Samuel Hahnemann his life and work. B. Jain Publishers. 1921. 2. RIMA, Handley. In Search of the later Hahnemann. Beaconsfield publishers. 1997. 3. WINSTON, Julian. The faces of homeopathy: the book. New Zealand. Hahnemann: vida e obra Christian Friedrich Samuel Hahnemann nasceu em Meissen, em 11 de abril de 1755, filho de Joanna Christiana Spiess e Christiano Godofredo Hahnemann, pintor em uma fbrica de porcelana. Hahnemann nasceu entre 10 e 11 de abril, depois de meia-noite do dia 10, conforme o registro paroquial. O mundo homeoptico, entretanto, festeja o nascimento do mestre a 10 de abril, como o prprio Hahnemann tambm fazia. A sua infncia foi feliz, com seus trs irmos. Costuma vagar pelos montes e tinha grande admirao pela natureza e pelas plantas, em particular. Seu pai era carinhoso, mas de princpios rgidos. Ensinava pela ao: agir e ser sem parecer. Aos 12 anos de idade era um adiantado aluno de humanidades. Em certa ocasio Hahnemann, ao traduzir um texto latino, fez comentrios fora do texto, mostrando as reformas que deviam sofrer a educao. O professor, no satisfeito com as idias liberais de seu aluno, o puniu. Os colegas, indignados com a injustia, conduziram Hahnemann ao diretor da Escola, o Dr. Mueller. Depois de ouvir as ponderaes de Hahnemann, o diretor respondeu-lhe: Embora criana sois mestre e mestre ficareis. A partir deste momento tendes licena para freqentar a classe que quiserdes.
  29. 29. 12 Curso de Homeopatia Aos 14 anos de idade j substitua o professor de grego em suas aulas. Ao trmino destes estudos preliminares, devido a problemas econmicos, o pai o empregou no comrcio, em Leipzig. Voltou em segredo para a casa paterna e ficou oculto por sua me por um perodo. Coincidentemente, o Dr. Mueller foi designado para a escola principesca Santo Afra e este ajudou Hahnemann contratando-o como seu assistente. Disse Hahnemann: Eu procurava assimilar o que lia; lia pouco, porm muito bem; e punha tudo em ordem no meu esprito, antes de passar adiante... No esquecia, entretanto, de procurar exerccio para o meu corpo, movimento ao ar livre, esta alegria e esta fora, graas aos quais podia facilmente manter a tenso contnua de meu esprito. Aos 20 anos de idade, em 1775, decidiu estudar medicina na universidade de Leipzig. Antes, deixou uma tese para os seus professores, A maravilhosa conformao da mo do homem. Sem recursos para pagar os estudos, obteve permisso para cursar gratuitamente e para sua subsistncia dava aulas de Ingls e Francs para um jovem grego e fazia tradues para o alemo de obras em francs, ingls e italiano. Em cada duas noites, dormia apenas uma. Ao final de dois anos, decepcionado com o ensino em Leipzig, transferiu-se para Viena. Um pequeno incidente atrasou sua partida. Hahnemann no o revelou em sua autobiografia, mas os historiadores descobriram. Ele havia reservado 20 thaleres para sua partida, mas o jovem grego confessou-lhe que havia se utilizado deles, retirando de sua gaveta e perdendo-os no jogo. Implora perdo a Hahnemann e este lhe responde: -no falemos mais nisto. Em sua autobiografia no relata o fato e diz apenas que: o remorso merece o perdo e eu guardo em segredo o nome e as circunstncias. O Dr. Quarin, mdico da imperatriz Maria Thereza, dirigia o hospital dos irmos da misericrdia em Leopoldstadt. Hahnemann apresentou-se a ele, com uma carta de recomendao de um de seus professores. Logo conquistou a confiana e amizade do Dr. Quarin, e o acompanhava nas visitas sua clientela particular. Hahnemann diz: devo meu diploma de mdico ao Dr. Quarin. Samuel de Bruckenthal foi nomeado governador de Transylvania e Hahnemann foi indicado para ser seu assistente. O governador era um dos altos membros da maonaria e fez com que Hahnemann fosse aceito como maom na loja Santo Andr. Hahnemann nunca foi um maom regular. Hahnemann permaneceu 21 meses em Hermannstadt, classificando a riqussima coleo de medalhas do governador, elaborando um sistema de fichas para a biblioteca e exercendo a clnica entre a populao. Em 1779, Hahnemann abandona Hermannstadt e vai para Erlangen, na Alemanha, para defender sua tese e doutorar-se. Enquanto aguardava a realizao da prova, lecionava grego, latim, ingls, hebraico, italiano, srio, espanhol e alemo. Em 10 de agosto deste ano defendeu sua tese: consideraes sobre as causas e o tratamento dos estados espasmdicos, recebendo o grau de doutor em medicina. Instalou-se em Hettstedt, em Mansfeldschen, cidade de 3 a 4 mil habitantes, centro de minas de cobre. Nesta poca correspondia-se com Jos Bonifcio de Andrada e Silva, o patriarca da independncia, sobre assuntos de mineralogia. Redigiu diversos escritos de medicina. Em 1781 vai morar em Dessau, a 50 quilmetros de Hettstedt. A apaixona-se por Joanna Leopoldina Henriqueta Kuechler, nascida em 1 de janeiro de 1764. Hahnemann com 26 anos e Henriqueta com 17 anos, jovem, ativa e bem educada. Vai para Gommern, a 40 quilometros de Dessau, procura de recursos. Depois de um ano e meio de solido em Gommern vai procura da noiva, casa-se em 17 de novembro de 1782 e regressa a Gommern. Neste ano publica os primeiros ensaios mdicos onde h um artigo sobre o cncer, despertando o interesse do mundo mdico para si. Escreveu guia para tratamento das velhas chagas e lceras, publicado, em Leipzig, 1784. Pela primeira vez Hahnemann ataca as concepes mdicas, sem demonstrar respeito pela cincia da poca e sem considerao pelos seus colegas, censurando-os os que se nivelavam a barbeiros e carrascos, praticando a medicina mais por ignorncia do que por convico. Em Gommern, nasceu sua primeira filha, Henriqueta, em 1783.
  30. 30. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 13 a eleio do medicamento e a maneira de us-lo que caracteriza o verdadeiro mdico, o que no est ligado a nenhum sistema, recusa o que no investigado por ele mesmo e no toma a palavra de outrem, tendo a coragem de pensar por si mesmo e tratar de acordo com isto. Hahnemann. Depois de 2 anos e 9 meses em Gommern, Hahnemann retoma a vida nmade. Permaneceu 4 anos em Dresde, dedicado clnica, escritos e estudos. Estabeleceu relaes com Lavoisier e substituiu o Dr. Wagner como diretor de sade pblica, despertando a inveja de seus colegas e surgiram calnias e crticas injustas. Acusavam Hahnemann de no saber qumica. Dos 30 aos 35 anos, de 1785 a 1790, Hahnemann escreveu trabalhos originais e traduziu obras estrangeiras que reunidas representam mais de 3.500 pginas. Destes trabalhos destaca-se o Envenenamento pelo arsnico, determinando os meios de detectar seu envenenamento. Com isto contribuiu para a proibio livre de sua venda como p para a febre. Experimentou muitos medicamentos em ces, documentando suas observaes com 861 experincias recolhidas de vrios autores. Em 1786 nasceu seu filho Frederico, segundo dos onze filhos: Henriqueta, 1783. Frederico, 1786. Guilhermina, 1788. Amelia, 1789. Carolina, 1792. Ernesto, 1794. Duas meninas gmeas, uma no sobreviveu e outra recebeu o nome de Frederica. Eleonora, 1803. Carlota, 1805 e Luiza, 1806. Aps o nascimento de Guilhermina, em 1788, Hahnemann foi morar num subrbio de Dresde, chamado Lochwitz. Mudou-se para So Miguel, em 1789, e instala-se em Stoetteritz, subrbio a sudeste de Leipzig, a cidade livre, fonte dos conhecimentos. Hahnemann atendia aos clientes e dedicava-se aos estudos e trabalhos literrios no tempo que sobrava. Apesar de ter atingido uma relativa prosperidade desde o tempo que residiu em Dresde, Hahnemann decide abandonar a medicina. Um certo dia, hora habitual das consultas, participa aos clientes que resolvera abandonar a prtica profissional da medicina. O que mais influenciou esta deciso foi sua incapacidade de tratar das graves doenas que acometeram seus filhos. Hahnemann observara a ausncia de base cientfica da teraputica, sem uma lei diretriz, sem previso. Uma medicina que fazia sofrer os doentes, onde era comum a aplicao de custicos violentos e sangrias. A gota que transbordou foi a molstia de um amigo. Hahnemann era o mdico assistente de um dos seus melhores amigos, cujo estado era de prognstico sombrio. Tentando um ltimo esforo, prescreveu um ou mais medicamentos de sua confiana, considerados hericos. Seu amigo, na manh seguinte era um cadver. No suportou a este golpe e com o cadver do amigo foi sepultada a dvida que ainda poderia ter sobre o valor da teraputica aloptica. Onde pois achar recursos certos? Em torno de mim s encontro trevas e deserto. Nenhum conforto para meu corao oprimido. Oito anos de prtica, exercida com escrupuloso cuidado, fizeram-me conhecer a ausncia do valor dos mtodos curativos ordinrios. No sei, em virtude da minha triste experincia, o que se deve esperar dos preceitos dos grandes mestres. Talvez seja, entretanto, prpria da medicina, como diversos autores j tm dito, no conseguirmos atingir a um certo grau de certeza. Blasfmia! Idia vergonhosa!... A infinita sabedoria do Esprito que anima o universo no teria podido produzir meios de debelar os sofrimentos causados pelas doenas que ele prprio consentiu viessem atingir os homens? A soberana paternal bondade daquele que nenhum nome dignamente poderia design-lo, que largamente proveu as necessidades de animculos invisveis, espalhando em profuso a vida e o bem estar em toda a criao, seria capaz de um ato to tirnico, no permitindo que o homem, seu semelhante, com o sopro divino, pudesse encontrar, na imensidade das coisas criadas, meios prprios para desembaraar seus irmos de sofrimentos muitas vezes piores do que a prpria morte? Ele o Pai de tudo que existe, assistiria impassvel ao martrio a que as molstias condenam as mais queridas de suas criaturas, sem permitir ao gnio do homem, a quem facilitou a possibilidade de perceber e criar, de achar uma maneira fcil e segura de encarar as molstias sob seu ponto de
  31. 31. 14 Curso de Homeopatia vista e de interrogar aos medicamentos para saber em que caso cada um deles pode ser til, a fim de fornecer um recurso real e preciso? Renunciarei a todos os sistemas do mundo a admitir tal blasfmia. No! H um Deus bom, que a bondade e a prpria sabedoria. Deve haver, pois, um meio criado por ele de encarar as molstias sob seu verdadeiro ponto de vista e cur-las com segurana. Um meio que no seja oculta nas abstraes sem fim, nas hipteses, cujas bases sejam constitudas pela imaginao. Por que esse meio j no foi encontrado, h mais de vinte ou vinte e cinco sculos j passados, quando existiam homens que se diziam mdicos? porque est muito prximo e muito fcil. No h necessidade para l chegar, nem de brilhantes sofismas, nem de sedutoras hipteses. Portanto, como deve haver um meio seguro e certo de curar, tal como h um Deus, o mais sbio e o melhor dos seres, abandonarei o campo ingrato das explicaes ontolgicas. No ouvirei mais as opinies arbitrrias, embora tenham sido reduzidas a sistemas. No me inclinarei diante da autoridade de homens clebres! Procurarei onde se deve achar esse meio que ningum sonhou, porque muito simples; porque ele no parece muito sbio, envolvido em coroas para os mestres na arte de construir hipteses e abstraes escolsticas. (trechos da carta que Hahnemann escreveu para Hufeland, em 1808). Nos doze anos seguintes a 1789, Hahnemann mudou de residncia vinte vezes, e vivia praticamente na misria, com a mulher e seus filhos em um nico quarto. Tendo abandonado a medicina, vivia de tradues, trabalhando dia e noite e fumando cachimbo para vencer o sono. No clinicava, mas continuava estudando a medicina, procura de algo que ele no sabia, mas pressentia existir: uma lei racional de cura. Ele j compreendia que a primeira condio para usar com vantagem os medicamentos era conhecer seus efeitos sobre o organismo humano. Traduz a Matria Mdica de William Cullen, editada em Edimburgh 1788 e no se convence da ao teraputica ser devida a uma ao fortificante sobre o estmago. Relata: Eu tomei, durante vrios dias, ttulo de experincia, quatro dracmas de boa quinina, duas vezes por dia. Meus ps e a ponta dos meus dedos ficaram primeiramente frios; eu fiquei cansado e sonolento; em seguida meu corao comea a palpitar; meu pulso ficou duro e rpido; uma ansiedade intolervel e tremedeiras (mas sem calafrios); cansao em todos os membros; depois pulsaes na cabea, rubor na face, sede; em breve todos os sintomas habitualmente associadas febre intermitente aparecerem sucessivamente, sem apresentar os reais calafrios. Para resumir, todos estes sintomas que para mim so tpicos de febre intermitente apareceram sucessivamente, como a estupefao dos sentidos, um tipo de enrijecimento de todas as articulaes, mas, acima de tudo, o entorpecimento, uma sensao desagradvel que parece ter sua sede no peristeo de todos os ossos do corpo. Tudo apareceu. Esta crise durava cada vez de duas a trs horas e se reproduzia quando eu repetia a dose e no de outra forma. Eu parei o remdio, e me reencontrei uma vez mais em boa sade. A casca peruana, que utilizada como remdio contra a febre intermitente, age porque ela pode produzir sintomas similares aos da febre intermitente no homem so. A primeira experimentao de China permitiu reformular o antigo princpio da similitude. Assim, 1790 considerado o ano do nascimento da Matria Mdica Homeoptica. O falecimento do imperador da ustria, Leopoldo II, foi uma oportunidade para Hahnemann atacar abertamente a medicina da poca. Hahnemann experimentou diversas substncias e esperava a oportunidade de comprov-las publicamente. Em 1792, influenciado pelo interesse do duque Ernesto de Saxe-Gotha, transferiu-se para Gotha. O duque colocou disposio de Hahnemann uma parte de seu castelo de caa para servir de casa de sade para enfermos mentais.
  32. 32. Evoluo da Medicina e da Homeopatia 15 Klockenbring era um escritor famoso e foi acometido de mania violenta em 1792. Foi tratado por 6 meses, sem sucesso, pelo Dr. Wichmann, notvel alienista. Pinel tratou dele no Hospital de Bicetre, tambm sem sucesso. Klockenbring foi o primeiro cliente que Hahnemann tratou em Gotha. Hahnemann acolheu Klockenbring com cuidado e gentileza. Observou, durante duas semanas o paciente, sem prescrever qualquer medicamento, tentando obter sua confiana. Depois realizou a prescrio que o restabeleceu e em 1793, Klockenbring regressou a Hanover, completamente restabelecido. Hahnemann curou outros casos de loucura e prescrevia por correspondncia. Como no conseguiu atrair muitos doentes para o castelo, resolveu abandonar a hospitalidade do duque, em maio de 1793, pouco depois da cura de Klockenbring. Instalou-se em Molschleben, vila a alguns quilmetros de Gotha. Surgiu uma epidemia de crosta lctea e seus filhos a contraram, tendo sido curado por hepar sulphur. Em 1794, instala-se em Pyrmont, em condies de grande misria. Na viagem morre, em acidente, seu filho Ernesto. Em 1796 foi morar em Koenigslutter, onde em 1799, Belladona curou vrios casos de uma epidemia de escarlatina. Em 1796 publica o primeiro ensaio sobre a nova doutrina: Ensaio sobre um novo princpio para descobrir as virtudes curativas das substncias medicinais... Escreveu um pequeno trabalho pequeno opsculo de segredos teis. Seus adversrios encontraram nele pretexto para atac-lo. Os farmacuticos o odiavam, pois Hahnemann reclamava para os mdicos o direito de preparar seus medicamentos. No outono de 1799, Hahnemann foge da cidade e foi assaltado por seus inimigos, a filha sofreu fratura de perna e foram obrigados a passar 6 semanas em estado de misria na aldeia de Muhlhau. Depois foi para Altona e em 1880 transferiu-se para Hamburgo. Em 1801 se instalou em Machern, aldeia perto de Leipzig. Em 1808, Hahnemann entrou num perodo de glria. A clientela aumentava pelos resultados que obtinha com a nova medicina. Em 1811, instala-se pela terceira vez em Leipzig, em condies econmicas bem mais favorveis. Hahnemann solicitou autorizao para realizar conferncias na universidade de Leipzig. Fez sua primeira conferncia, em 26 de junho de 1812, em latim: dissertao histrica e mdica sobre o heleborismo. Em 28 de setembro de 1812 foram inauguradas as suas conferncias com grande assistncia. Hahnemann tinha, ento, 57 anos de idade. Abria o Organon e comeava a coment-lo com entusiasmo e atacava a alopatia, provocando desagrado de muitos. Apesar disto conseguiu reunir seus primeiros discpulos: Franz, Gross, Hartmann, Hornburg, Langhamer, os dois irmos Rueckert, Stapf e Wislicenus. Hahnemann conseguiu chamar a ateno para a nova medicina. Hahnemann inaugurou, em sua residncia, o Instituto homeoptico, onde recebia os discpulos e ministrava um curso de 6 meses de durao. Em 1813, uma epidemia de tifo atingiu Leipzig e o xito de Hahnemann, obtendo curas fantsticas foi excepcional. Porm a Homeopatia sofria sucessivos ataques. Em 1820, Hahnemann tratou do prncipe Scwarzenberg, acometido de hemiplegia direita. O prncipe consegue alguma melhora com as indicaes dietticas de Hahnemann, mas logo as desobedece, abusa do lcool e falece de um ataque de apoplexia, cinco semanas aps. Os professores da universidade de Leipzig atriburam a Hahnemann a morte do prncipe. O professor Clarus, que autopsiou o cadver, apresentou argumentos capciosos para difamar Hahnemann, caluniando-o terrivelmente. Em 1821, abandona Leipzig e vai para Koethen, sendo acolhido pelo duque de Anhalt, prncipe Fernando e a duquesa Jlia. Apesar desta proteo, o povo no o acolheu devidamente. Durante os 15 anos que viveu em Koethen, Hahnemann quase no saia de casa. Sua clientela, seus estudos e o carinho da famlia lhe bastavam. Os ataques s teorias homeopticas atingem o auge em 1825, com o emprego das doses infinitesimais. At ento Hahnemann utilizava os medicamentos em tinturas e baixas diluies. Em 31 de maro de 1830 falece a esposa.
  33. 33. 16 Curso de Homeopatia Na tarde de 8 de outubro de 1834, desce de uma carruagem um jovem estrangeiro; um francs, conforme pareceu aos que presenciaram o desembarque. Tratava-se, no entanto, de uma senhorita francesa que usava roupas masculinas e viajava s, para proteger-se. Seu nome era DErvilly. Trs meses depois estavam casados e 5 meses depois mudaram-se para Paris. Estes episdios esto romanceados em. A homeopathic love story. Hahnemann and Melanie. Rima, Handley, 1990. Caso notvel foi a cura da filha de Ernest Legouv, membro da academia francesa. Sua filha de 4 anos fora desenganada pelos mdicos mais famosos de Paris. Hahnemann a observou durante algum tempo e no dia seguinte iniciou o tratamento. Houve uma agravao no dcimo dia e por fim a menina se curou. Isto provocou muita discusso e a academia de medicina solicitou ao ministro Guizot que proibisse Hahnemann de exercer a homeopatia. O ministro negou o pedido com estas consideraes: Hahnemann um sbio de grande mrito. A cincia deve ser para todos. Se a homeopatia uma quimera ou um sistema sem valor prprio, cair por si mesma. Se for, ao contrrio, um progresso, se difundir apesar de todas as nossa medidas de preservao; e a academia, antes que ningum, deve desej-lo, pois tem a misso de fazer progredir a cincia e de alentar seus descobrimentos. Hahnemann falece em Paris de uma afeco brnqui