Ebook nascido-escravo

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  • 1. MARTINHO LUTERO Preparado por Cliffor Pond Editor Geral: J.K.Davies, B.D., Th.D.Verso condensada e de fcil leitura do clssicoA Escravido da Vontade (Martinho Lutero), publicado inicialmente em 1525 Editora Fiel

2. Ttulo do Original:Born SlaveSCopyright 1984 Grace Publication TrustPrimeira Edio em Portugus: 1992Segunda Edio em Portugus: 2007Todos os direitos em lngua portuguesareservados por Editora Fiel da MissoEvanglica LiterriaProibida a reProduo deste livro Porquaisquer meios, sem a Permisso escritados editores, salvo em breves citaes,com indicao da fonte.Editor: Pr. Richard Denham Editora Fiel Coordenao Editorial: Tiago SantosTraduo: Editora FielMisso Evanglica LiterriaAv. Cidade Jardim, 3978 Reviso: Laura Macal; Tiago Santos Bosque dos EucaliptosCapa e diagramao: Edvnio Silva So Jos dos Campos-SPPABX.: (12) 3936-2529 Direo de arte: Rick Denhamwww.editorafiel.com.brISBN: 978-8599145-30-2 3. SumrioPrefcio Edio em Portugus ..................................................... 7Prefcio: A Questo ............................................................ 11Apresentao: O Pano de Fundo do Livro e aControvrsia com Erasmo ................................... 13Captulo 1: O Que Ensinam as Escrituras .............................. 17Captulo 2: O Que Erasmo ensinava ...................................... 43Captulo 3: O Que Lutero PensavaSobre o Ensino de Erasmo................................... 67Captulo 4: Comentrio de Lutero ......................................... 87Post Scriptum: Histria Posterior da Controvrsia e sua Importncia Atual ....................................... 99 4. Prefcio Edio em PortugusMartinho Lutero, ao venervel D. Erasmo de Rotterdam,com os votos de Graa e Paz em Cristo. assim que Lutero introduz asua obra De Servo Arbtrio, A Escravido da Vontade, resposta famosaDiatribe sobre o Livre Arbtrio, que Erasmo publicou em 1524. Desidrio Erasmo (c. 1466-1536) e Martinho Lutero (1483-1546)permanecem como dois nomes precursores do esprito moderno, e entreeles h algumas semelhanas. Esses dois gigantes intelectuais europeusprotagonizaram no contexto explosivo, destinado a dissolver a unidadedo mundo medieval. Havendo passado pela Ordem agostiniana, ambosvieram a rejeitar mtodos hermenuticos da Igreja Romana, bem comomuitas de suas supersties e crendices. Ambos ofereceram grande con-tribuio disseminao do texto bblico em sua poca. Detentores deenorme capacidade para o debate acadmico, erudito, e partilhando detalento literrio, ambos escreveram acerca do livre arbtrio, embo-ra com uma diferena diametral: Erasmo, o humanista, defendendo; eLutero, o reformador, condenando. Isto marcou uma ruptura definitivaentre os dois homens, que, anteriormente, ofereciam-se mtuo enco-rajamento. Desde o debate de Leipzig (1519), os caminhos de ambosvinham conduzindo a rumos diferentes. 5. Nascido Escravo Publicado inicialmente em 1525, A Escravido da Vontade umprimor de composio polmica. Nesta obra transparecem com bastanteevidncia a personalidade e a franqueza dos sentimentos de Lutero. Afora lgica e persuasiva de seus argumentos revelam a mente treinadana disciplina da escolstica medieval. O estilo polmico de Lutero erao da poca em que viveu e traduz o vapor existente na atmosfera aca-dmica de ento. Na obra original (tanto mais do que no sumrio aquiapresentado), h ironias, asperezas, ad hominems e aluses indiretas. No obstante, o leitor deve comparar o texto luterano muito maiscom o bisturi de um resoluto cirurgio do que com a pena de um clnicoem seu receiturio. Na estima de Lutero, o tratado erasmiano era umaobra da carne. Contendo uma anamnese mal feita, partia de um princpiofalso e oferecia um placebo para uma ferida mortal. Lutero repudia aDiatribe de Erasmo expondo a doutrina bblica do pecado original. Semum diagnstico preciso acerca da enfermidade humana, no h comodiscernir de maneira apropriada o valor das boas-novas do evangelho dagraa de Cristo. Em sua rplica, Lutero procede a um honesto e rigorosoexame das Escrituras Sagradas, evidentemente preterido por Erasmo. Foi com a compreenso do puro evangelho que se abriu para Luteroa noo do cativeiro radical da vontade. Sem nenhuma dvida, na dou-trina da depravao do homem situa-se a pedra angular da Reforma.No corao da teologia de Lutero e da doutrina da justificao, est asua compreenso da depravao original e da pecaminosidade do ho-mem que ele conheceu muito bem, mesmo como um monge asceta naOrdem agostiniana. O reformador est muito bem qualificado para tratardo assunto da impiedade e da depravao. O que a verdadeira liberdade? Neste caso, v-se tambm que odiscurso sobre a condio servil da vontade no visa a outra coisa, seno ao discurso correto sobre a liberdade. Para Lutero, a livre vontade um termo divino, e no cabe a ningum, a no ser unicamente ma-jestade divina. Conceder ao ser humano tal atributo significaria nadamenos do que atribuir-lhe a prpria divindade, usurpando a glria do 6. Prefcio Edio em Portugus Criador. Lutero, assim, compreende que a pergunta pela liberdade davontade no fundo a pergunta pelo poder da vontade. Por isso mesmo,a livre vontade predicado de Deus. poder essencialmente especficodo prprio Deus.Lutero considerava A Escravido da Vontade a sua melhor e maistil publicao. O valor deste tratado inestimvel realmente, e poucoslivros h que sejam to necessrios no presente momento. O atual ensinode muitos que se denominam protestantes est em maior acordo comos dogmas papistas, ou com as idias de Erasmo, do que com os princ-pios dos Reformadores; analisado criticamente, tal ensino est em maiorharmonia com os Cnones e Decretos do Conclio de Trento do que comas Confisses de F Protestantes e Reformadas.O que o leitor tem em mos uma verso condensada e adaptada,facilitando o acesso ao clssico texto luterano. Oramos sinceramenteque o Senhor abenoe o leitor e que este, abraando com f o Eleito deDeus, Jesus Cristo, batalhe por manter sua Causa e sua Verdade nestesdias em que muito tem sido perdido. Que o livro seja um meio de edifi-cao e fortalecimento para todos quantos desejam ser instrudos pelosorculos de Deus!Gilson SantosMaio, 2007So Jos dos Campos SP 7. 10 Nascido Escravo 8. PrefcioA QuestoA questo : Possui o homem algo chamado li-vre-arbtrio? Pode um ser humano, voluntariamente e semqualquer ajuda, voltar-se para Cristo a fim de ser salvo de seuspecados? Erasmo respondia com um Sim!. Lutero, com umressoante No! Lutero estava convencido de que o conceitodo livre-arbtrio fere no mago a doutrina bblica da salvaoexclusivamente pela graa. Precisamos ter a mesma convic-o. Devemos combater o livre-arbtrio to vigorosamentequanto o fazia Lutero. Erasmo, o seu opositor, dizia: Possoconceber o livre-arbtrio como um poder da vontade huma-na, mediante o qual um homem pode aplicar-se quelas coisasque conduzem eterna salvao, ou pode afastar-se delas.A isso devemos replicar com um resoluto No! O homem jnasce escravo do pecado! O homem no livre. 9. 12 Nascido Escravo 10. apresentaoO Pano de Fundo do Livro e a Controvrsiacom ErasmoMartinho Lutero escreveu A Escravido da Vontade comoreao aos ensinamentos de Desidrio Erasmo. Nascido em Rotterdam,na Holanda, entre 1466 e 1469, Erasmo foi monge agostiniano durantesete anos, antes de viajar para a Inglaterra, onde foi motivado a aprofun-dar seu conhecimento do grego, chegando a produzir um texto crtico doNovo Testamento Grego (1516). Ele rejeitava os mtodos fantasiososde interpretao das Escrituras, bem como as muitas supersties dosmestres da Igreja Catlica Romana. Rebelou-se contra a preguia e ovcio, comuns nos mosteiros, mas, apesar disso, no foi um crente noevangelho. Ele era um humanista, pois acreditava que os homens podemconquistar a salvao, ao invs de dependerem exclusivamente de JesusCristo em sua morte e ressurreio. Erasmo acertadamente prefe- 11. 14 Nascido Escravoria uma abordagem simples do ensinamento cristo aos complicados epormenorizados mtodos dos telogos profissionais. Ele evitava as con-trovrsias e, por longo tempo, no procurou tratar publicamente sobre oconceito do livre-arbtrio. No entanto, ao faz-lo, constituiu um desa-fio que Martinho Lutero no pde ignorar. Martinho Lutero nasceu na Saxnia (hoje parte da Alemanha) eera cerca de catorze anos mais jovem do que Erasmo. Enquanto aindaera monge, passou por uma dramtica experincia com o evangelho dagraa de Deus. A partir de ento, compreendeu que cada crena e expe-rincia precisa ser testada atravs da autoridade das Escrituras Sagradas.Ele entendeu que a salvao recebida como uma graa divina, me-diante a f; e isto no vem de vs, dom de Deus; no de obras, paraque ningum se glorie (Ef 2.8,9). A sua prpria experincia confirmousua convico. Lutero era professor, telogo e tambm pastor. Os membros de suaigreja sabiam que ele sentia o que pregava. Ele no era um erudito secoe indiferente. Ele sentia a presso da eternidade cada vez que pregava.Isso o compelia, algumas vezes, a fazer coisas impopulares e, por vezes,at perigosas. Era algum disposto a defender a verdade de Deus, aindaque fosse contra o mundo inteiro. A princpio, Erasmo parecia ser um dos aliados de Lutero, visto queambos rejeitavam muitos dos erros e falhas da Igreja de Roma. Todavia,Lutero desafiava cada vez mais o ensinamento romanista da salvaomediante as obras, insistindo que o justo viver por f (Rm 1.17).Entrementes, Erasmo continuava na Igreja de Roma, e, como era umerudito, cedeu presso de sua igreja para defender o ensino do li-vre-arbtrio. Desafiando a solicitao de Lutero para que no fizessetal coisa, Erasmo publicou sua Discusso Sobre o Livre-Arbtrio, em1524, tendo escrito a Henrique VIII nestes termos: Os dados foram lanados. O livrete sobre o livre-arbtrio acabade ver a luz do dia.O livro agradou ao Papa e ao Sacro Imperador Romano, e foi elo- 12. Introduo 15giado por Henrique VIII. Este fato levou Lutero a declarar que Erasmo era um adversrioda f evanglica. Deus controlou soberanamente a intensa luta entreesses dois homens, para benefcio de seu reino. O conflito produziuuma grandiosa declarao da doutrina evanglica que tem, desde ento,enriquecido a Igreja de Cristo a obra de Lutero, A Escravido daVontade. Oferecemos aqui uma edio abreviada dessa grande obra.Pudemos reter muito do estilo de Lutero, embora no tenhamos segui-do sua ordem de apresentao. Comeamos por onde Lutero terminou,sumariando a sua posio doutrinria sobre a escravido da vontadehumana. Seguimos com outras sees, onde Lutero apresenta e, em se-guida refuta os argumentos de Erasmo. O estilo de Lutero normalmente nos impeliria a acrescentar cer-tas palavras, toda vez que ele emprega a expresso livre-arbtrio.Por exemplo: o livre-arbtrio que voc supe que existe. Entretanto,temos preferido refletir o sentido tencionado por Lutero usando aspas livre-arbtrio. E, nos captulos dois, trs e quatro, retivemos odiscurso direto de Lutero, conservando, tanto quanto possvel, a at-mosfera de sua obra. No inclumos cada argumento utilizado por Lutero, porque, se ofizssemos, isso ampliaria indevidamente este sumrio. 13. c aptulo 1O Que Ensinamas EscriturasArgumentos:l: A culpa universal da humanidade prova que o livre-arbtrio falso ............192: O domnio universal do pecado prova que o livre-arbtrio falso ...............213: O livre-arbtrio no pode obter aceitao diante de Deusatravs da observncia da lei moral e cerimonial.............................................234: A lei tem o propsito de conduzir os homens a Cristo,dando-lhes o conhecimento do pecado.............................................................255: A doutrina da salvao pela f em Cristo prova queo livre-arbtrio falso ...................................................................................266: No h lugar para qualquer idia de mrito ou recompensapelas boas obras................................................................................................287: O livre-arbtrio no tem valor porque as obras nada tm a vercom a justia do homem diante de Deus ..........................................................298: Uma srie de refutaes ...................................................................................309: Paulo absolutamente claro ao refutar o livre-arbtrio ................................3110: O estado do homem sem o Esprito de Deus mostra que o livre-arbtrio nada pode fazer de natureza espiritual .................................3211: Aqueles que chegam a conhecer a Cristo no pensavam previamente sobre Cristo, nem O buscavam, nem se prepararam para conhec-Lo ............33 14. 1 Nascido Escravo Argumentos: 12:A salvao para o mundo pecaminoso pela graa de Cristo,exclusivamente mediante a f ..........................................................................33 13:O caso de Nicodemos, no terceiro captulo de Joo,ope-se ao livre-arbtrio................................................................................3514:O livre-arbtrio no tem utilidade, pois a salvao vem somente por meio de Cristo ......................................................................36 15:O homem incapaz de crer no evangelho, por issotodos os seus esforos no podem salv-lo ......................................................37 16:A incredulidade universal prova que o livre-arbtrio falso .......................38 17:O poder da carne, mesmo em verdadeiros crentes, mostra a falsidade do livre-arbtrio ...............................................................39 18:Saber que a salvao no depende do livre-arbtriopode ser muito reconfortante ............................................................................39 19:A honra de Deus no pode ser maculada..........................................................40As Escrituras so como diversos exrcitos que se opem idia de que o homem tem um livre-arbtrio para escolher e receber asalvao. Porm, basta-me trazer frente de batalha dois generais Paulo e Joo, comalgumas de suas foras. 15. O Que as Escrituras ensinam 1argumento 1 A culpa universal da humanidade prova que olivre-arbtrio falso.E m Romanos 1.18, Paulo ensina que todos os homens, semqualquer exceo, merecem ser castigados por Deus. A ira de Deus serevela do cu contra toda impiedade e perverso dos homens que detma verdade pela injustia. Se todos os homens possuem livre-arbtrio,ao mesmo tempo em que todos, sem qualquer exceo, esto debaixoda ira de Deus, segue-se da que o livre-arbtrio os est conduzindo auma nica direo da impiedade e da iniqidade. Portanto, em queo poder do livre-arbtrio os est ajudando a fazer o que certo? Seexiste realmente o livre-arbtrio, ele no parece ser capaz de ajudar oshomens a atingirem a salvao, porquanto os deixa sob a ira de Deus.Algumas pessoas, no entanto, acusam-me de no seguir bem deperto a Paulo. Eles afirmam que as palavras dele, contra toda impie-dade e perverso dos homens que detm a verdade pela injustia nosignificam que todos os seres humanos, sem exceo, esto culpados aosolhos de Deus. Eles argumentam que o texto d a entender que algumaspessoas no detm a verdade pela injustia. Entretanto, Paulo estavausando uma construo de frase tipicamente hebraica, que no deixadvida de que ele se referia impiedade de todos os homens.Alm do mais, notemos o que Paulo escreveu imediatamente antesdessas palavras. No versculo 16, Paulo declara que o evangelho o po-der de Deus para a salvao de todo aquele que cr. Isso significa que,no fosse o poder de Deus conferido atravs do evangelho, ningumteria foras, em si mesmo, para voltar-se para Deus. Paulo prossegue,asseverando que isso tem aplicao tanto aos judeus quanto aos gen-tios. Os judeus conheciam as leis divinas em seus mnimos detalhes, 16. 20 Nascido Escravomas isto no os poupou de estarem debaixo da ira de Deus. Os gentiosdesfrutavam de admirveis benefcios culturais, mas isto em nada osaproximava de Deus. Havia judeus e gentios que muito se esforavampor acertar a sua situao diante de Deus, mas, apesar de todas as suasvantagens e de seu livre-arbtrio, eles fracassaram totalmente. Paulono hesitou em condenar a todos eles. Observemos igualmente que, no versculo 17, Paulo diz que a jus-tia de Deus se revela. Assim, Deus mostra a sua retido aos homens.Mas Ele no um tolo. Se os homens no precisassem da ajuda divina,Ele no desperdiaria o seu tempo prestando-lhes tal ajuda. A conversode qualquer pessoa acontece quando Deus vem at ela e vence-lhe aignorncia ao revelar-lhe a verdade do evangelho. Sem isso, ningumjamais poderia ser salvo. Ningum, durante toda a histria humana,concebeu por si mesmo a realidade da ira de Deus, conforme ela nos ensinada nas Escrituras. Ningum jamais sonhou em estabelecer a pazcom Deus por intermdio da vida e da obra de um Salvador singular,o Homem-Deus, Jesus Cristo. De fato, o que ocorre que os judeusrejeitaram a Cristo, apesar de todo o ensino que lhes foi ministrado porseus profetas. Parece que a justia prpria alcanada por alguns judeusou gentios os levou a deixarem de buscar a justia divina atravs da f,para fazerem as coisas sua prpria maneira. Portanto, quanto mais olivre-arbtrio se esfora, tanto piores tornam-se as coisas. No existe um terceiro grupo de pessoas, que se situe em algumponto entre os crentes e os incrdulos um grupo de homens capazesde salvarem-se a si mesmos. Judeus e gentios constituem a totalidade dahumanidade, e todos eles esto debaixo da ira de Deus. Ningum tema capacidade de voltar-se para Deus. Deus precisa tomar a iniciativae revelar-Se a eles. Se fosse possvel descobrir a verdade por meio dolivre-arbtrio, certamente algum judeu, em algum lugar, t-lo-ia feito!Os mais elevados raciocnios dos gentios e os mais intensos esforosdos melhores dentre os judeus (Rm 1.21; 2.23,28,29) no conseguiramaproxim-los nem um pouco sequer da f em Cristo. Eles eram pecado- 17. O Que as Escrituras ensinam 21res condenados juntamente com todo os demais homens. Ora, se todosos homens so possuidores de livre-arbtrio, e todos os homens soculpados e esto condenados, ento esse suposto livre-arbtrio im-potente para conduzi-los f em Cristo. Por conseguinte, a vontade doshomens, afinal, no livre. argumento 2O domnio universal do pecado prova que o livre arbtrio falso. Precisamos permitir que Paulo explique o seu prprio ensinamen-to. Diz ele em Romanos 3.9: Que se conclui? Temos ns [os judeus]qualquer vantagem [sobre os gentios]? no, de forma nenhuma; pois jtemos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, esto debaixodo pecado. No somente so todos os homens, sem qualquer exceo, consi-derados culpados vista de Deus, como tambm so escravos dessemesmo pecado que os torna culpados. Isso inclui os judeus, os quaispensavam que no eram escravos do pecado porque possuam a lei deDeus. Mas, visto que nem judeus nem gentios tm se mostrado capazesde desvencilharem-se dessa servido, torna-se evidente que no homemno h poder que o capacite a praticar o bem. Esta escravido universal ao pecado inclui at mesmo aqueles queparecem ser os melhores e mais retos. No importa o grau de bondadeque um homem possa alcanar; isso no a mesma coisa que possuiro conhecimento de Deus. O que h de mais admirvel sua razo esua vontade, contudo, foroso reconhecer que esta mais nobre porodos homens est corrompida. Diz Paulo, em Romanos 3.10-12: Noh justo, nem um sequer, no h quem entenda, no h quem busque aDeus; todos se extraviaram, uma se fizeram inteis; no h quem faa 18. 22 Nascido Escravoo bem, no h nem um sequer. O significado dessas palavras perfei-tamente claro. Deus conhecido atravs da razo e da vontade humana.Porm, nenhum ser humano, somente por sua natureza, conhece a Deus.Precisamos concluir, portanto, que a vontade humana est corrompida eque o homem totalmente incapaz, por si mesmo, de conhecer a Deusou de agrad-Lo.Talvez alguma pessoa audaciosa atreva-se a dizer que somos ca-pazes de fazer mais do que de fato fazemos; porm, o que aqui nosinteressa o que somos capazes de fazer, e no o que estamos ou noestamos fazendo. O trecho das Escrituras citado por Paulo, em Romanos3.10-12, no nos autoriza a fazer tal distino. Deus condena tanto aincapacidade pecaminosa dos homens quanto os seus atos corruptos. Seos homens fossem capazes, ainda que o mnimo possvel, de movimen-tarem-se na direo de Deus, no haveria mais qualquer necessidade deDeus salv-los. Deus permitiria que os homens salvassem-se a si mes-mos. Porm, nenhum capaz de ao menos tentar faz-lo.Em Romanos 3.19, Paulo declara que toda boca se calar diantede Deus, porque ningum poder argumentar contra o julgamentodivino, visto que nada existe, em pessoa alguma, digno de ser elo-giado pelo Senhor nem ao menos um arbtrio livre para voltar-seespontaneamente para Ele. Se algum disser: Tenho uma capacida-de prpria, ainda que pequena, de voltar-me para Deus, esse algumdeve estar querendo dizer que pensa que nele h alguma coisa a qualDeus possa elogiar e no condenar. Sua boca no est calada! Mas talidia contradiz as Escrituras.Deus ordenou que toda boca ficasse calada. No apenas certos gru-pos de pessoas que so culpados diante de Deus. No apenas os fariseus,dentre o povo israelita, esto condenados. Se isso fosse verdade, entoos demais judeus teriam tido alguma capacidade prpria para guardar alei e evitar tornarem-se culpados. Porm, at mesmo os melhores dentreos homens esto condenados por sua impiedade. Esto espiritualmentemortos, da mesma forma que aqueles que, de maneira alguma, procuram 19. O Que as Escrituras ensinam 23guardar a lei de Deus. Todos os homens so mpios e culpados, e mere-cem ser punidos por Deus. Essas coisas so to evidentes que ningumpode nem mesmo sussurrar uma palavra que as contrarie! argumento 3O livre-arbtrio no pode obter aceitao diante de Deus atravs da observncia da leimoral e cerimonial. Eu argumento que quando Paulo disse em Romanos 3.20,21:...ningum ser justificado diante dele por obras da lei, pensouna lei moral (os dez mandamentos), bem como na lei cerimonial.Tem-se generalizado a idia de que Paulo tinha em mente apenas alei cerimonial o ritual de sacrifcios de animais e a adorao notemplo. espantoso que chamem Jernimo, que criou essa idia, desanto! Eu o classificaria de forma bem diferente! Jernimo declarouque a morte de Cristo ps fim a qualquer possibilidade de algum serjustificado (ou declarado justo) por meio da observncia da lei ceri-monial. Mas deixou inteiramente aberta a possibilidade de algumser justificado mediante a observncia da lei moral, contando apenascom as suas prprias foras, sem a ajuda de Deus. Minha resposta a isso que se Paulo referiu-se somente a lei ce-rimonial, ento seu o argumento no tem qualquer significado. Pauloestava afirmando que todos os homens so injustos e necessitados dagraa especial de Deus o amor, a sabedoria e o poder de Deus porintermdio dos quais Ele nos salva. O resultado da idia de Jernimoseria que a graa de Deus necessria para salvar-nos da lei cerimonial,mas no da lei moral. Todavia, ns no podemos observar a lei moral parte da graa divina. Voc pode intimidar as pessoas para que observemas cerimnias, mas nenhum poder humano pode for-las a guardar a 20. 24 Nascido Escravolei moral. Paulo estava argumentando que no podemos ser justificadosdiante de Deus mediante a tentativa de guardar a lei moral, ou mesmo alei cerimonial. Comer e beber, e fazer outras coisas semelhantes, em simesmas, nem nos justifica nem nos condena.Irei ainda mais longe, afirmando que Paulo queria dizer que a tota-lidade da lei, e no alguma poro particular dela, obrigatria a todoshomens. Se a lei no se aplicasse mais aos homens devido a morte deCristo, tudo quanto Paulo precisava dizer era isto e nada mais. Em Glatas3.10, Paulo escreveu: Todos quantos, pois, so das obras da lei, estodebaixo de maldio; porque est escrito: Maldito todo aquele que nopermanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para pratic-las.Nesse texto, Paulo busca apoio em Moiss para afirmar que a lei im-posta sobre todos os homens, e que o fracasso na obedincia lei sujeitatodos os homens maldio divina.Nem os homens que procuram obedecer lei, nem aqueles que notentam guard-la esto justificados diante do Senhor, porquanto todosesto espiritualmente mortos. O ensinamento de Paulo que h duasclasses de pessoas no mundo aquelas que esto espiritualmente vivase aquelas que no esto. Isto est em harmonia com o ensinamento deJesus Cristo em Joo 3.6: O que nascido da carne, carne; e o que nascido do Esprito, esprito. Para as pessoas que no possuem oEsprito Santo, a lei sem utilidade. No importa o quanto procuremguardar a lei, no sero justificadas exceto pela f.Finalmente, ento, se existe tal coisa como o livre-arbtrio, deveser a mais nobre das capacidades humanas, porque, mesmo sem o EspritoSanto, o livre-arbtrio afirma possibilitar ao homem guardar a lei intei-ra! Entretanto, Paulo assevera que aqueles que so das obras da lei noesto justificados. Isso significa que o livre-arbtrio, mesmo consideradopor seu melhor ngulo, incapaz de corrigir a situao do homem diantede Deus. De fato, em Romanos 3.20, Paulo afirma que a lei necessriapara mostrar-nos no que consiste o pecado: Pela lei vem o pleno conheci-mento do pecado. Aqueles que so das obras da lei no so capazes de 21. O Que as Escrituras ensinam 25reconhecer o que o pecado realmente . A lei no foi dada a fim de mostraraos homens o que eles podem fazer, mas para corrigir as suas idias sobreo que o certo e errado aos olhos de Deus. O livre-arbtrio cego, poisprecisa ser ensinado atravs da lei. E tambm impotente, pois no con-segue justificar ningum diante de Deus.argumento 4 A lei tem o propsito de conduzir os homens a Cristo, dando-lhes o conhecimento do pecado.O argumento a favor do livre-arbtrio que a lei no nos teria sidodada se no fssemos capazes de obedec-la. Erasmo, por repetidas vezesvoc tem dito: Se nada podemos fazer, qual o propsito das leis, dospreceitos, das ameaas e das promessas? A resposta que a lei no foidada para mostrar-nos o que podemos fazer. Nem mesmo a fim de aju-dar-nos a fazer o que correto. Paulo diz em Romanos 3.20: ...pelalei vem o pleno conhecimento do pecado. O propsito da lei foi o demostrar-nos no que consiste o pecado e ao que ele nos conduz mor-te, ao inferno e ira de Deus. A lei s pode destacar essas coisas. Nopode livrar-nos delas. O livramento nos chega exclusivamente atravsde Cristo Jesus, que nos revelado atravs do evangelho. Nem a razo,nem o livre-arbtrio podem conduzir os homens a Cristo, visto que arazo e o livre-arbtrio precisam da luz da lei para mostrar-lhes suaenfermidade. Paulo faz esta indagao em Glatas 3.19: Qual, pois, arazo de ser da lei? Entretanto, a resposta de Paulo sua prpria per-gunta o contrrio da resposta que voc e Jernimo do. Voc diz quea lei foi dada a fim de provar a existncia do livre-arbtrio. Jernimodiz que ela tem o propsito de restringir o pecado. Mas Paulo no diznada disso. Todo seu argumento que os homens precisam de graaespecial para lutar contra o mal que a lei revela. No pode haver cura 22. 26 Nascido Escravoenquanto a enfermidade no for diagnosticada. A lei necessria parafazer os homens perceberem a perigosa condio em que esto, a fim deque anelem pelo remdio que se encontra somente na pessoa de Cristo.Portanto, as palavras de Paulo em Romanos 3.20, podem parecer muitosimples, mas elas tm poder suficiente para fazer com que o livre-ar-btrio seja total e completamente inexistente. Diz Paulo em Romanos7.7: ...pois no teria eu conhecido a cobia, se a lei no dissera: Nocobiars. Isto significa que o livre-arbtrio nem mesmo reconheceo que o pecado ! Como, pois, poderia chegar a conhecer o que certo?E, se no sabe reconhecer o que certo, como poderia esforar-se porfazer o que certo? argumento 5 A doutrina da salvao pela f em Cristoprova que o livre-arbtrio falso. Em Romanos 3.21-25, Paulo proclama com toda a confiana:Mas agora, sem lei, se manifestou a justia de Deus testemunhadapela lei e pelos profetas; justia de Deus mediante a f em JesusCristo, para todos e sobre todos os que crem; porque no h dis-tino, pois todos pecaram e carecem da glria de Deus, sendojustificados gratuitamente, por sua graa, mediante a redeno queh em Cristo Jesus; a quem Deus props, no seu sangue, como pro-piciao, mediante a f... Essas palavras so como raios contra aidia do livre-arbtrio. Paulo faz distino entre a justia conferidapor Deus e a justia que vem mediante a observncia da lei. O li-vre-arbtrio s poderia ser uma realidade se o homem pudesse sersalvo mediante a observncia da lei. No obstante, Paulo demonstraclaramente que somos salvos sem dependermos, em absoluto, dasobras da lei. No importa o quanto possamos imaginar um suposto 23. O Que as Escrituras ensinam 27livre-arbtrio, capaz de praticar boas obras ou de tornar-nos bonscidados, Paulo continua asseverando que a justia dada por Deus de natureza inteiramente diferente. impossvel que o livre-arb-trio consiga resistir a assaltos de versculos como esses.Estes versculos desfecham ainda outro raio contra o livre-arbtrio.Neles, Paulo traa uma linha distintiva entre os crentes e os incrdulos(Rm 3.22). Ningum pode negar que o suposto poder do livre-arbtrio bem diferente da f em Jesus Cristo. Mas sem f em Cristo, conformePaulo esclarece, ningum pode ser aceito por Deus. E se alguma coisa inaceitvel para Deus, ento pecado. No pode ser algo neutro. Porconseguinte, o livre-arbtrio, se existe, pecado, visto que se ope f e no redunda em glria a Deus.Romanos 3.23 constitui-se em mais outro raio. Paulo no diz: to-dos pecaram, exceto aqueles que praticam boas obras mediante seuprprio livre-arbtrio. No h excees. Se fosse possvel nos tornar-mos aceitveis diante de Deus atravs do livre-arbtrio, ento Pauloseria um mentiroso. Ele deveria ter dado margem a excees. No entan-to, Paulo afirma, categoricamente, que em face do pecado ningum poderealmente glorificar e agradar a Deus. Todo aquele que agrada ao Senhordeve saber que Deus est satisfeito com ele. Porm, a nossa experincianos ensina que coisa alguma em ns agrada a Deus. Pergunte quelesque defendem o livre-arbtrio se existe neles alguma coisa que agradaa Deus. Eles sero forados a admitir que no existe. E isto que Pauloclaramente afirma.At mesmo aqueles que acreditam no livre-arbtrio precisam con-cordar comigo que no podem glorificar a Deus, contando apenas comseus prprios recursos. A despeito de seu livre-arbtrio, eles tm dvidase podem agradar a Deus. Assim, eu provo, com base no testemunho daprpria conscincia deles, que o livre-arbtrio no agrada a Deus. Apesarde todos os seus esforos e de seu empenho, o livre arbtrio culpado dopecado de incredulidade. Portanto, vemos que a doutrina da salvao pelaf completamente contrria a qualquer idia de livre-arbtrio. 24. 2 Nascido Escravo argumento 6 No h lugar para qualquer idia de mritoou recompensa pelas boas obras.Aqueles que pregam o livre-arbtrio afirmam que se no h livre-arbtrio, ento tambm no h lugar para o mrito ou para a recompensa.O que diro os defensores do livre-arbtrio a respeito da palavragratuitamente, em Romanos 3.24? Paulo diz que os crentes so justifi-cados gratuitamente, por sua graa. Como interpretam por sua graa?Se a salvao gratuita e oferecida pela graa divina, ento no se podeconquist-la ou merec-la. No entanto, Erasmo argumenta que a pessoadeve ser capaz de fazer alguma coisa a fim de merecer a sua salvao, ouela no merecer ser salva. Erasmo pensa que a razo pela qual Deus jus-tifica uma pessoa e no outra, que uma delas usou de seu livre-arbtrio,e tentou tornar-se justa, enquanto que a outra no o fez. Ora, isso transfor-ma Deus em algum que diferencia pessoas, ao passo que a Bblia ensinaque Deus no faz acepo de pessoas (At 10.34). Erasmo e algumas outraspessoas, como ele, admitem que os homens conseguem fazer muito pou-co, atravs de seu livre-arbtrio, para obterem a salvao. Afirmam queo livre-arbtrio tem apenas um pouco de merecimento no digno demuita recompensa. E, no obstante, ainda pensam que o livre-arbtriotorna possvel s pessoas tentarem encontrar a Deus. Imaginam, igual-mente, que se as pessoas no tentam encontr-Lo, cabe exclusivamente aelas a culpa, se no recebem a graa divina.Portanto, sem importar se esse livre-arbtrio tem grande ou pe-queno mrito, o resultado o mesmo. A graa de Deus seria obtida pormeio do livre-arbtrio. Todavia, Paulo nega toda a noo de mritoquando afirma que somos justificados gratuitamente. Aqueles quedizem que o livre-arbtrio possui apenas um pequeno mrito, erramtanto como aqueles que dizem que ele possui muito mrito, pois ambosensinam que o livre-arbtrio tem mrito suficiente para obter o favor 25. O Que as Escrituras ensinam 2de Deus. Portanto, em quase nada diferem um do outro.Na verdade esses defensores da idia do livre-arbtrio nos doum perfeito exemplo do que significa saltar da frigideira para dentro dofogo. Quando dizem que o livre-arbtrio tem apenas um pequeno m-rito, pioram a sua posio, ao invs de melhor-la. Pelo menos aquelesque dizem que o livre-arbtrio envolve um grande mrito (os chama-dos pelagianos) conferem um elevado preo graa divina, porquantoconcebem que um grande mrito necessrio para algum obter a sal-vao. Todavia, Erasmo barateia a graa divina, dizendo ser possvelobt-la por meio de um dbil esforo. No entanto, Paulo transforma emnada essas duas idias usando apenas uma palavra gratuitamente(Rm 3.24). Mais adiante, em Romanos 11.6, ele declara que a nossaaceitao diante de Deus depende apenas da graa de Deus: E, se pela graa, j no pelas obras; do contrrio, a graa j no graa. Oensino paulino perfeitamente claro. No existe tal coisa como mritohumano aos olhos de Deus, sem importar se esse mrito grande ou pe-queno. Ningum merece ser salvo. Ningum pode ser salvo atravs dasobras. Paulo exclui todas as supostas obras do livre-arbtrio, estabele-cendo em seu lugar apenas a graa divina. No podemos atribuir a nsmesmos a menor parcela de crdito para nossa salvao; ela dependeinteiramente da graa divina.argumento 7O livre-arbtrio no tem valor porque as obras nada tm a ver com a justia do homemdiante de Deus. Passarei agora a considerar os argumentos de Paulo, em Romanos4.2,3: Porque se Abrao foi justificado por obras, tem de que se gloriar,porm no diante de Deus. Pois que diz a Escritura? Abrao creu em 26. 30 Nascido EscravoDeus, e isso lhe foi imputado para justia. Ora, Paulo no nega queAbrao era um homem justo. Mas o ponto em questo que essa justiano lhe outorgou a salvao. Ningum discorda que as obras ms noso aceitveis diante de Deus. Isso bvio. O argumento paulino, entre-tanto, que nem mesmo as boas obras nos tornam aceitveis diante deDeus. Elas merecem somente a sua ira, jamais o seu favor. Em Romanos4.4,5, Paulo contrasta a pessoa que trabalha com aquela que no tra-balha. A justificao, que equivale a aceitao diante de Deus, no atribuda ao que trabalha, mas quele que no trabalha, mas cr noSenhor. No h posio intermediria. argumentoUma srie de refutaes. Preciso mencionar, de passagem, mais alguns argumentos contra olivre-arbtrio. Mas me referirei a eles apenas de modo breve, emboracada um deles, de per si, pudesse destruir completamente a idia do livre-arbtrio. Por exemplo, a fonte da graa mediante a qual somos salvos opropsito eterno de Deus. Isso, sem dvida, anula a sugesto de que Deus gracioso para conosco por causa de alguma coisa que possamos fazer. Um outro argumento fundamenta-se sobre o fato de que Deus pro-meteu a salvao por meio da graa (a Abrao), antes mesmo de haverdado a lei. Paulo argumenta, em Romanos 4.13-15 e Glatas 3.15-21,que se somos salvos mediante a observncia da lei, atravs do livre-arbtrio, isso significaria que a promessa da salvao pela graa foicancelada. E a f, igualmente, perderia o seu valor. Paulo tambm nos diz que a lei pode apenas revelar o pecado, sen-do incapaz de remov-lo. Visto que o livre-arbtrio s pode operarcom base na observncia da lei, no pode haver retido aceitvel diantede Deus obtida pelo livre-arbtrio. 27. O Que as Escrituras ensinam 31 Em ltimo lugar, estamos todos debaixo da condenao divina, emface da pecaminosa desobedincia de Ado. Estamos todos sujeitos aesta condenao, desde o nosso nascimento, incluindo aqueles que sopossuidores do livre-arbtrio se que pessoas assim existem! Deque outra forma ento poderia o livre- arbtrio nos ajudar, seno a pecare a merecer a condenao? Eu poderia ter deixado de lado esses argumentos, apresentando to--somente um comentrio geral sobre os escritos de Paulo. Todavia, quisdemonstrar quo ignorantes mentalmente so os meus oponentes, pordeixarem de perceber com clareza estas simples questes. Deixo quemeditem sozinhos a respeito desses argumentos.argumentoPaulo absolutamente claro ao refutar olivre- arbtrio. Os argumentos usados por Paulo so to claros que de admirarque algum possa compreend-los mal. Diz ele: ... todos se extravia-ram, uma se fizeram inteis; no h quem faa o bem, no h nem umsequer... Estou admirado do fato que certas pessoas afirmam: Algumaspessoas no se extraviaram, no se fizeram inteis, no so ms e nempecadoras. H alguma coisa no homem que o inclina para o bem. Ora,Paulo no fez essas declaraes em apenas algumas passagens isola-das. Algumas vezes ele as fez em termos positivos, em outras vezes,em termos negativos, usando palavras diretas ou utilizando contrastes.O sentido literal de suas palavras, todo o contexto e escopo de seu ar-gumento, resumem-se neste pensamento: parte da f em Cristo nadaexiste seno pecado e condenao. Meus oponentes esto derrotados,ainda que no queiram se render! Porm, no est ao meu alcance con-venc-los disto. Deixo isto operao do Esprito Santo. 28. 32 Nascido Escravo argumento 10O estado do homem sem o Esprito de Deusmostra que o livre-arbtrio nada pode fazer de natureza espiritual. Em Romanos 8.5, Paulo divide a humanidade em duas categorias aqueles que so da carne (ou da natureza pecaminosa) e aquelesque so do Esprito (ver tambm Joo 3.6). Isto s pode significar queaqueles que no tm o Esprito esto na carne e continuam presos umanatureza pecaminosa. Paulo insiste que ...se algum no tem o Espritode Cristo, esse tal no dEle (Rm 8.9). Isto significa, obviamente, queaqueles que esto sem o Esprito pertencem a Satans. O livre-arbtriono os tem beneficiado muito! Paulo afirma que os que esto na carneno podem agradar a Deus (Rm 8.8). Ele diz que pendor da carne inimizade contra Deus, pois no est sujeito lei de Deus, nem mesmopode estar (Rm 8.7). impossvel que tais pessoas possam fazer qual-quer esforo, por conta prpria, para agradar a Deus. Orgenes sugeriu que cada pessoa tem uma alma dotada da ca-pacidade de voltar-se para a carne ou para o Esprito. Mas isto apenas produto de sua imaginao. Ele sonhou com tal idia, e no tinhaqualquer meio de provar o que afirmava. Na verdade, no h posiointermediria. Tudo que no provm do Esprito carnal; e as melhoresatividades da carne so hostis a Deus. Trata-se do mesmo ensinamentoministrado por Cristo, em Mateus 7.18, de que uma rvore m no podeproduzir bom fruto. E tambm est em harmonia com a dupla declaraode Paulo O justo viver por f (Rm 1.17), e tudo o que no provmde f pecado (Rm 14.23). Aqueles que no tm f no esto justi-ficados; e aqueles que no esto justificados so pecadores, nos quaisqualquer suposto livre-arbtrio s pode produzir o mal. Portanto, o li-vre-arbtrio nada seno um escravo do pecado, da morte e de Satans.Tal liberdade, enfim, no liberdade alguma. 29. O Que as Escrituras ensinam 33argumento 11Aqueles que chegam a conhecer a Cristo no pensavam previamente sobre Cristo, nem O buscavam, nem se prepararam para conhec-Lo. Em Romanos 10.20, Paulo cita de Isaas 65. l: Fui buscado pelosque no perguntavam por mim; fui achado por aqueles que no me bus-cavam; a um povo que no se chamava do meu nome eu disse: Eis-meaqui, eis-me aqui. Paulo reconhecia, por sua prpria experincia, queele no buscara a graa de Deus, mas a recebera apesar de sua furio-sa clera contra ela. Ele diz, em Romanos 9.30,31, que os judeus, queenvidavam grandes esforos para observar a lei, no foram salvos poresses esforos, mas que os gentios, que eram totalmente mpios, foramalvos da misericrdia de Deus. Isso demonstra claramente que todos osesforos do livre-arbtrio do homem so inteis para a sua salvao. Ozelo dos judeus no os conduziu a parte alguma, ao passo que os mpiosgentios receberam a salvao. A graa gratuitamente ofertada a quemno a merece, nem digno; no conquistada por qualquer esforo queo melhor e mais justo dentre os homens tenha tentado empreender.argumento 12A salvao para o mundo pecaminoso pela graa de Cristo, exclusivamente mediante a f. Voltemo-nos agora para Joo, que tambm escreveu com eloqn-cia contra o livre-arbtrio. Ele diz, em Joo 1.5: A luz resplandecenas trevas, e as trevas no prevaleceram contra ela. E, em Joo 1.10,11:O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermdio dele, maso mundo no o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus no o re- 30. 34 Nascido Escravoceberam. Por mundo, Joo d a entender a humanidade inteira. Vistoque o livre-arbtrio seria uma das mais excelentes faculdades do ho-mem, deve ser includo em qualquer coisa em que Joo diz acerca domundo. Assim sendo, de acordo com esses textos, o livre-arbtriono reconhece a luz da verdade, mas antes, odeia a Cristo e ao seu povo.Muitas outras passagens, como Joo 7.7; 8.23; 14.7; 15.19; e l Joo 2.16;5.19, proclamam que o mundo (o que inclui, especialmente, o livre-arbtrio) est debaixo do controle de Satans.O mundo inclui tudo quanto no foi separado para Deus por meiodo Esprito Santo. Ora, se tivesse havido algum neste mundo que, pormeio de seu livre-arbtrio, tivesse chegado a conhecer a verdade e que,por intermdio do livre-arbtrio, no tivesse odiado a Cristo, ento Jooteria alterado o que escreveu. Entretanto, ele no o fez. Torna-se eviden-te, portanto, que o livre-arbtrio to culpado quanto o mundo. EmJoo 1.12,13, o mesmo apstolo prossegue: Mas, a todos quantos oreceberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aosque crem no seu nome; os quais no nasceram do sangue, nem da von-tade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. As palavrasno nasceram do sangue significam que intil algum depender desua origem familiar ou do local do seu nascimento. As palavras nem davontade da carne apontam para a insensatez de se depender das obrasda lei. E as palavras nem da vontade do homem mostram que nenhumesforo humano pode conseguir tornar algum aceitvel a Deus.Se que o livre-arbtrio tem alguma utilidade, ento Joo nodeveria ter rejeitado a vontade do homem, porquanto, de outro modo,estaria em perigo conforme Isaas 5.20: Ai dos que ao mal chamambem, e ao bem, mal. No h margem para dvida de que a origem fa-miliar intil para que algum, atravs dela, venha a obter a salvao,porque em Romanos 9.8 Paulo escreve: Isto , estes filhos de Deusno so propriamente os da carne, mas devem ser considerados comodescendncia os filhos da promessa.Alm disso, Joo tambm afirma, em Joo 1.16: Porque todos ns 31. O Que as Escrituras ensinam 35temos recebido da sua plenitude, e graa sobre graa. Isto posto, rece-bemos bnos espirituais exclusivamente atravs da graa derivada deOutrem, e no atravs de nossos prprios esforos. Duas idias contr-rias no podem ser ambas verdadeiras. impossvel que a graa divinaseja to sem valor que qualquer um, em qualquer lugar, seja capaz deobt-la, ao mesmo tempo que essa graa to valiosa que s podemosreceb-la atravs dos mritos de um nico homem, Jesus Cristo. Como eu gostaria que os meus opositores percebessem que quandoadvogam a causa do livre-arbtrio, esto negando a Cristo. Se podemosobter graa divina mediante o nosso livre-arbtrio, ento no temosnecessidade de Cristo. E, se temos a Cristo, no precisamos do livre--arbtrio. Aqueles que defendem o livre-arbtrio atestam sua nega-o a Cristo por meio de suas aes, porquanto alguns deles chegam aoextremo de apelar para a intercesso de Maria e de santos, no depen-dendo de Cristo como o nico mediador entre Deus e o homem. Todosesses tm abandonado a Cristo em sua obra como mediador e graciososalvador, considerando os mritos de Cristo de menor valor do que seusprprios esforos.argumento 13 O caso de Nicodemos, no terceiro captulo deJoo, ope-se ao livre-arbtrio. Consideremos as virtudes de Nicodemos (Jo 3.1,2). Ele confessa queCristo era idneo e que viera da parte de Deus. Faz aluso aos milagresrealizados por Cristo e procura-O a fim de ouvir algo de sua prpria boca.Porm, ao ouvir falar sobre o novo nascimento (Jo 3.3-8), porventura Nico-demos admite que era isso o que ele vinha buscando? No! Ele ficouatnito e confuso, repelindo a idia, a princpio, como uma impossibili-dade (Jo 3.9). Porventura os maiores filsofos chegaram a mencionar o 32. 36 Nascido Escravonovo nascimento? Eles nem ao menos podiam buscar aquelas realidadespertencentes salvao, antes da chegada do evangelho. Ora, quandoadmitem isso, esto admitindo que o seu livre-arbtrio ignorante eincapaz! Por certo, aqueles que ensinam o livre-arbtrio esto loucos;porm no se calaro nem daro glrias a Deus. argumento 14O livre-arbtrio no tem utilidade, pois a salvao vem somente por meio de Cristo. Torna-se claro, em Joo 14.6, onde se l que Jesus Cristo o ca-minho, e a verdade, e a vida, que a salvao s pode ser encontradaem sua pessoa. Sendo esta a verdade, tudo quanto est fora de Cristo spode ser trevas, falsidade e morte. Qual necessidade haveria da vinda deCristo a este mundo, se os homens, naturalmente, pudessem compreen-der o caminho de Deus, entender a verdade de Deus e compartilhar davida de Deus? Nossos opositores dizem que os homens perversos possuem li-vre-arbtrio, embora abusem dele. Se isso fosse realmente assim, entohaveria algo de bom no pior dos homens. E se isso fosse realmente ver-dade, ento Deus seria injusto ao conden-los. Entretanto, Joo diz queaqueles que no crem em Jesus Cristo j esto condenados (Jo 3.18).Contudo, se os homens fossem possuidores dessa coisa boa chamadalivre-arbtrio, ento Joo deveria ter dito que os homens s esto con-denados por causa de sua parte m, e no devido quela boa parte nelesexistente. As Escrituras dizem: O que, todavia, se mantm rebelde con-tra o Filho no ver a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus(Jo 3.36). Sem dvida est em pauta todo o homem. Pois, se assim nofosse, ento haveria uma parte no homem capaz de impedi-lo de ser con-denado, e ele poderia continuar pecando sem o menor temor, firmado no 33. O Que as Escrituras ensinam 37conhecimento de que no poderia ser condenado. Tambm lemos em Joo 3.27 que o homem no pode receber coisaalguma se do cu no lhe for dada. Isto se refere especialmente capa-cidade da pessoa cumprir a vontade de Deus. Somente aquilo que vem doalto pode ajudar um homem a cumprir a vontade do Senhor. Mas o livre-arbtrio no vem do alto, o que significa que o livre-arbtrio intil. Em Joo 3.31, diz ainda o mesmo apstolo: ...quem vem da terra terreno e fala da terra; quem veio do cu est acima de todos. Ora, porcerto o livre-arbtrio no tem origem celestial. Pertence terra, nolhe havendo outra possibilidade. E, assim sendo, isso s pode significarque o livre-arbtrio nada tem a ver com as realidades celestiais; cogi-ta somente das coisas terrenas. O Senhor Jesus afirma, em Joo 8.23:Vs sois c de baixo, eu sou l de cima; vs sois deste mundo, eu destemundo no sou. Se esta afirmativa de Jesus quisesse dizer apenas queos corpos de seus ouvintes eram terrenos, tal declarao seria desneces-sria, pois eles j sabiam disso. O que Jesus quis dizer que aos seusouvintes faltava, absolutamente, qualquer poder espiritual, e que este spoderia ser recebido de Deus. argumento 15O homem incapaz de crer no evangelho, por isso todos os seus esforos no podem salv-lo. Na passagem de Joo 6.44, Jesus Cristo diz: Ningum pode vira mim se o Pai que me enviou no o trouxer. Isto no deixa qualquerespao para o livre-arbtrio. E o Senhor Jesus passou a explicar comoalgum trazido pelo Pai: Portanto, todo aquele que da parte do Paitem ouvido e aprendido, esse vem a mim (v. 45). A vontade humana,por si mesma, incapaz de fazer qualquer coisa para vir a Cristo embusca de salvao. A prpria mensagem do evangelho ouvida em vo, 34. 3 Nascido Escravoa menos que o prprio Pai fale ao corao e traga a pessoa a Cristo.Erasmo pretende suavizar o sentido claro desse texto ao comparar oshomens a ovelhas, que atendem ao pastor quando este lhes estende ocajado. Argumenta que nos homens h alguma coisa que responde aochamado do evangelho. Porm isso no acontece, porque quando Deusexibe o dom de seu prprio Filho a homens mpios, estes no reagemfavoravelmente antes que Ele opere em seus coraes. De fato, sem aoperao interna do Pai, os homens inclinam-se mais a odiar e perseguirao Filho, do que a segui-Lo. Entretanto, quando o Pai mostra aos homensquo maravilhoso seu Filho, queles a quem tem dado entendimentoespiritual, eles so atrados a Cristo. Essas pessoas j so ovelhas econhecem a voz do pastor! argumento 16A incredulidade universal prova queo livre-arbtrio falso. Em Joo 16.8, Jesus afirma que o Esprito Santo viria para convencero mundo do pecado... E no versculo seguinte, Ele explica que o pecadoconsiste no fato de que os homens no crem em mim. Ora, esse pecadode incredulidade no se acha na pele ou nos cabelos, mas na mente e navontade. Todos os homens, sem exceo, so to ignorantes do fato de suaculpa de incredulidade quanto ignoram o prprio Jesus Cristo. A culpa daincredulidade precisa ser-lhes revelada pelo Esprito Santo. Portanto, tudoquanto existe no homem, incluindo o livre-arbtrio, est condenado aosolhos de Deus, contribuindo apenas para aumentar a culpa acerca da qualele ignorante, enquanto Deus no a revelar. A totalidade das Escriturasproclama Cristo como o nico meio de salvao. Todo aquele que estiverfora de Cristo est debaixo do poder de Satans, do pecado, da morte e daira divina. Somente Cristo pode resgatar os homens do reino de Satans. 35. O Que as Escrituras ensinam 3No somos libertos por qualquer poder que em ns mesmos exista, masto-somente pela graa de Deus.argumento 17O poder da carne, mesmo em verdadeiros crentes, mostra a falsidade do livre-arbtrio. Por alguma razo, Erasmo, voc ignorou os meus argumentos base-ados em Romanos 7 e em Glatas 5. Esses dois captulos mostram-nosque at mesmo nos verdadeiros crentes a fora da carne tanta queeles no podem fazer aquilo que sabem que devem e querem fazer. Anatureza humana to m, que mesmo as pessoas que so dotadas doEsprito de Deus, no somente falham em fazer o que direito, como atmesmo lutam contra isso. Portanto, que possibilidade h de que aque-les que so destitudos do novo nascimento venham a praticar o bem?Conforme diz Paulo, em Romanos 8.7: O pendor da carne inimizadecontra Deus. Eu gostaria de conhecer o homem que capaz de fazercair por terra tal argumento!argumento 1Saber que a salvao no depende do livre-arbtrio pode ser muito reconfortante. Confesso que eu no gostaria de possuir livre-arbtrio ainda que omesmo me fosse concedido! Se a minha salvao fosse deixada ao meuencargo, eu no conseguiria enfrentar vitoriosamente todos os perigos,dificuldades e demnios contra os quais teria de lutar. Porm, mesmoque no houvesse inimigos a combater, eu jamais poderia ter a certezado sucesso. Eu jamais poderia ter a certeza de haver agradado a Deus, 36. 40 Nascido Escravoou se haveria ainda mais alguma coisa que precisaria fazer. Posso pro-var isso mediante a minha prpria dolorosa experincia de muitos anos.Porm, a minha salvao est nas mos de Deus, no nas minhas. Ele serfiel sua promessa de salvar-me, no com base no que eu fao, mas emconformidade com a sua grande misericrdia. Deus no mente, e nopermitir que o meu adversrio, o diabo, me arranque de suas mos.Por meio do livre-arbtrio, ningum poder ser salvo. Mas, por meioda livre graa, muitos sero salvos. E no somente isso, mas tambmalegro-me por saber que, como um cristo, agrado a Deus, no por causadaquilo que fao, mas por causa de sua graa. Se trabalho muito poucoou errado demais, Ele, graciosamente, me perdoar e me far melhorar.Essa a glria de todo cristo. argumento 1A honra de Deus no pode ser maculada. Talvez algum fique preocupado, pensando que difcil defender ahonra de Deus em meio a tudo isso. E talvez diga: Afinal de contas, Deuscondena aqueles que no podem deixar de ser pecaminosos, e que soforados a permanecer dessa maneira porque Ele no os escolheu para asalvao. Como Paulo diz: ramos por natureza filhos da ira, como tam-bm os demais (Ef. 2.3). Porm, voc poder ver essas questes por umoutro ngulo. Deus deveria ser reverenciado e respeitado por ser miseri-cordioso para todos quantos Ele justifica e salva, embora sejam totalmenteindignos. Sabemos que Deus divino. Ele tambm sbio e justo. A suajustia no da mesma categoria que a justia humana. Ela est acima denosso poder de apreenso plena, conforme Paulo exclama, em Romanos11.33: profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conheci-mento de Deus! Quo insondveis so os seus juzos e quo inescrutveisos seus caminhos! Se concordamos que a natureza, o poder, a sabedoria e 37. O Que as Escrituras ensinam 41o conhecimento de Deus esto muito acima dos nossos, ento tambm de-veramos acreditar que a sua justia maior e melhor do que a nossa. Elenos fez a promessa de que quando chegar a revelar para ns a sua glria,ento veremos claramente aquilo no que agora devemos acreditar queEle justo, sempre o foi e sempre o ser. Eis um outro exemplo. Se voc usar da razo humana para consi-derar a maneira como Deus governa os acontecimentos do mundo, serforado a dizer que Deus no existe, ou que Ele injusto. Os mpiosprosperam e os piedosos sofrem (J 12.6 e SI 73.12), e isso parece serinjusto. Por esse motivo, muitos homens negam a existncia de Deuse dizem que as coisas acontecem movidas pelo acaso. A resposta quedamos a essa questo que h uma vida aps a vida presente, e que tudoquanto no tiver sido castigado e corrigido nesta vida, ser castigado ecorrigido na vida futura. A vida terrena nada mais que uma preparaopara, ou, ainda melhor, o comeo da vida que vir. Esse problema temsido debatido por toda a Histria, mas a soluo no tem sido encontra-da, exceto pela crena no evangelho, conforme ele se acha nas pginasda Bblia. Trs raios de luz brilham sobre a questo: a luz da natureza,da graa divina e da glria celestial. Mediante a luz da natureza, Deusparece ser injusto, porquanto os piedosos sofrem e os mpios prosperam.A luz da graa divina ajuda-nos a compreender melhor as coisas, embo-ra ainda no explique como Deus pode condenar algum que, por suasprprias foras, nada pode fazer seno pecar e ser culpado. Somente aluz da glria celeste explicar isso plenamente, naquele dia vindouro,quando Deus revelar a Si mesmo como inteiramente justo, embora osseus juzos ultrapassem a nossa limitada compreenso de seres huma-nos. Um homem piedoso cr que Deus conhece de antemo e pr-ordenatodas as coisas, e que nada acontece, seno pela sua soberana vontade.Nenhum homem, ou anjo, ou qualquer outra criatura, em vista de taisfatos, dotado de livre-arbtrio. Satans o prncipe deste mundo econserva cativos todos os homens, a menos que eles sejam libertos pelopoder do Esprito Santo. 38. 42 Nascido Escravo 39. c aptulo 2 O Que Erasmo ensinavaArgumentos:l:Definio de Erasmo do livre-arbtrio ..........................................................452: Argumento de Erasmo baseado em um livro apcrifo .....................................473: Trs pontos de vista de Erasmo a respeito do livre-arbtrio .........................484: Voltando ao argumento de Erasmo baseado em Sracides (Eclesisticos) 15.14-17..............................................................495:Exame posterior do uso que Erasmo fezde Sracides (Eclesisticos) 15.14-17 ...............................................................506: Os argumentos de Erasmo devem significar que a vontade do homem completamente livre ....................................................517: Gnesis 4.7 outro texto que prova que receber um mandamento no significa ter a capacidade de obedec-lo ...................................................528: Deuteronmio 30.19 a lei designada para nos dar conhecimento do pecado ..................................................................................539: Confuso de Erasmo acerca da lei e do evangelho ..........................................5410: A vontade revelada de Deus e a vontade secreta de Deus................................5611: A obrigao no evidncia de capacidade para obedecer..............................5712: O homem no deve intrometer-se na vontade secreta de Deus .........................59 40. 44 Nascido Escravo Argumentos 13: A lei mostra a fraqueza humana e o poder salvador de Deus...........................60 14: O Novo Testamento prov instrues para guiar os justificados......................61 15: A base para o galardo do crente a promessa de Deus e no o mrito do homem ................................................62 16: A soberania de Deus no anula a nossa responsabilidade ................................64 41. O Que Erasmo ensinava 45argumento 1 P Definio de Erasmo do livre-arbtrio.ara ser justo, terei de citar a sua prpria definio de livre-arbtrio. Voc diz: Compreendo o livre-arbtrio como o poder davontade humana mediante o qual uma pessoa pode aplicar ou afastar-sedas coisas que conduzem eterna salvao. Voc pode realmente chamar isso de definio? Uma definioprecisa ser clara, e cada aspecto dessa declarao precisa ser explicadopara tornar-se claro. Alm disso, voc comea definindo uma coisa, mastermina definindo algo inteiramente diferente. Quero dizer que somenteDeus tem a liberdade de vontade que voc descreve e ainda supe quepertence aos homens. Entretanto, o homem como um escravo, cujanica liberdade consiste em obedecer a seu senhor. Os seres humanos sagem de acordo com as determinaes de Deus. Ser isso liberdade dearbtrio como voc a descreve? Por conseguinte, terei de considerar essa suposta definio em seusvrios aspectos. Alguns deles so suficientemente claros, mas tenho derealar outros aspectos, antes que possa mostrar onde eles erram. Elesparecem ter medo da luz, como se fossem culpados de alguma coisa.Comearei supondo que o poder da vontade humana, a respeitodo qual voc fala, seja o de aceitar ou rejeitar alguma coisa, o po-der de aprovar ou desaprovar. Essa realmente a funo da vontadehumana. Mas, em seguida, voc acrescenta: ...mediante o qual umapessoa pode aplicar-se.... O que voc est fazendo separar o ho-mem de sua vontade. Est dando pessoa o poder de dirigir a suavontade. Entretanto, a vontade de um homem faz parte dele aparte dele que faz essas escolhas. Obviamente, separar o homem desua vontade e conferir-lhe poder sobre ela, absurdo! Se, porventura,entendi mal a questo, a culpa sua, Erasmo, por no haver escritocom mais clareza! 42. 46 Nascido Escravo Em seguida, quais so as coisas que conduzem eterna salva-o? Elas tm de ser as palavras e as obras de Deus. Nenhuma outracoisa pode conduzir-nos salvao eterna. Alis, a mente humana incapaz de apreender o significado da salvao. Paulo diz: Nemolhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coraohumano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (l Co2.9). Paulo passa ento a dizer como podemos tomar conhecimentodessas realidades: Mas Deus no-lo revelou pelo Esprito... (l Co2.10). Isso sem dvida significa que sem o Esprito Santo jamaistomaramos conhecimento dessa salvao, e assim sendo, no pode-ramos nos dedicar a busc-la. Alguns dos homens mais bem instrudos deste mundo tm consi-derado as verdades espirituais como bobagem. De fato, quanto maisbrilhantes tm sido as suas mentes, mais ridculas lhes parecem seras verdades espirituais. Os homens s podem chegar a reconhecer asrealidades dos valores espirituais em seus coraes quando o EspritoSanto os ilumina. Em seguida, voc assevera que o livre-arbtrio a capacidadeque a vontade humana tem, por si mesma, de decidir se aceita ou no apalavra e as obras de Deus. Isso equivale a fazer com que a vontade hu-mana seja capaz de escolher entre o cu ou o inferno. Isso significa queno h espao para a atuao do Esprito Santo ou para a graa divina,colocando a vontade humana no mesmo nvel de Deus. Os pelagianos tambm fizeram isso. Mas voc os ultrapassa!Eles distinguiam em duas partes o livre-arbtrio o poder de com-preender a diferena entre as coisas e o poder de escolher entre elas.Porm, para voc o livre-arbtrio tem o poder de escolher coisaseternas, embora seja totalmente incapaz de entend-las. Desse modo,voc criou um meio livrearbtrio. Alm disso, voc contradiza si mesmo, visto que afirmou que a vontade humana nada podefazer sem a graa divina. No entanto, quando voc escreveu umadefinio do livre-arbtrio, concedeu total liberdade para a vontade 43. O Que Erasmo ensinava 47humana. Voc um homem muito estranho! Prefiro at mesmo o ensinamento de alguns dos antigos filsofosaos seus. Eles diziam que um homem entregue a si mesmo s fariao que errado. O homem s poderia escolher o bem com a ajuda degraa divina. Eles diziam que os homens so livres para cair, masprecisam de ajuda para elevarem-se! Porm, risvel chamar issode livre-arbtrio. Com base em tais conceitos, eu poderia afirmarque uma pedra tem livre-arbtrio, pois s pode cair, a menos queseja erguida por algum! O ensino daqueles filsofos, porm, ainda melhor do que o seu, pois a sua pedra, Erasmo, pode escolher sesobe ou desce! argumento 2 Argumento de Erasmo baseado em um livro apcrifo. Voc alicera a sua defesa do livre-arbtrio no livro apcrifo deSracides (Eclesisticos) 15.14-17: No princpio ele fez o homem e odeixou entregue ao seu prprio arbtrio. O escritor desse livro apcrifoainda adiciona as seguintes palavras sobre os mandamentos e preceitosde Deus: Se queres, guardars os mandamentos, e fars fielmente a suavontade. Diante de ti foi colocado o fogo e a gua, podes estender a mopara onde quiseres. Diante dos homens esto vida e morte; a cada umser dado o que lhe agradar. Eu poderia eliminar esse suposto texto de prova asseverando que olivro de Sracides (Eclesisticos) nunca foi includo pelos judeus comoporo integrante do Antigo Testamento; porm, basta-me dizer quevoc mesmo afirmou que tal livro obscuro e ambguo. Levaria umaeternidade, para voc ou para qualquer outro apresentar uma passagemque diga claramente no que consiste o livre-arbtrio. 44. 4 Nascido Escravo argumento 3 Trs pontos de vista de Erasmo a respeito do livre-arbtrio. Voc apresenta trs pontos de vista acerca de um mesmo livre-arbtrio. Examinemo-los! O primeiro a idia que o homem no podequerer fazer o bem; ele no pode tomar tal iniciativa, progredir nessadireo ou consumar o bem, sem a graa especial. A esse ponto de vista,voc chama de rgido, mas suficientemente provvel. O segundo ponto de vista, que voc reputa ainda mais rgido, o de que o livre-arbtrio s pode conduzir o homem ao pecado, e quesomente a graa divina pode conduzi-lo bondade. O terceiro ponto de vista, que voc considera como o mais rgidode todos, que o livre-arbtrio no tem qualquer sentido, e que Deus a causa tanto do bem quanto do mal que em ns existe. Voc se declara disposto a aceitar o primeiro desses trs pontos devista, porquanto permite que o homem faa algum esforo. E afirma queope-se aos dois outros. Voc parece no saber o que est dizendo! Essesno so, realmente, trs diferentes pontos de vista. So um nico pontode vista, expresso mediante diferentes palavras, em ocasies diferentespor seus oponentes. Sua definio de livre-arbtrio em coisa algumaassemelha-se ao primeiro ponto de vista, o qual voc declara aceitvel.A sua definio assegura que o livre-arbtrio pode fazer tanto o bemquanto o mal. No entanto, o ponto de vista que voc aceita, afirma que avontade humana no pode escolher o bem sem a ajuda da graa divina.Assim, voc j conta com duas vontades humanas em desacordo. Aoaceitar o primeiro ponto, voc concorda que o livre-arbtrio no podepraticar o bem. Voc mesmo disse, um pouco antes: A vontade humana to maligna que perdeu a sua liberdade, sendo forada a servir ao pe-cado, no podendo retomar a um estado melhor. No obstante, quandoeu digo exatamente a mesma coisa, voc diz: Nunca se ouviu coisa 45. O Que Erasmo ensinava 4to absurda. O que voc escreve significa que tentar ser bom, est e aomesmo tempo no est no poder do livre-arbtrio. Se isso no umabsurdo, eu gostaria de saber o que ! As suas afirmativas so de tal modo contrrias umas s outras queno h qualquer possibilidade delas permanecerem coesas. No h meiotermo entre ser capaz de fazer o bem e no ser capaz de fazer o bem. No que concerne ao segundo e ao terceiro pontos de vista quevoc delineou, nada h neles que j no se encontre no primeiro. Ostrs pontos de vista concordam plenamente uns com os outros. Voc dizque se ope ao segundo e ao terceiro, mas todos os trs afirmam quea vontade humana perdeu a sua liberdade, sendo forada a servir aopecado, no podendo pr o bem em prtica. Ora, se isso verdade, se-gue-se que quando o ser humano pratica algum mal, assim age porque forado. Ele no pode evit-lo.argumento 4Voltando ao argumento de Erasmo baseadoem Sracides (Eclesisticos) 15.14-1.Retornemos quela passagem do livro apcrifo de Sracides(Eclesistico), a fim de compar-la com o primeiro dos trs pontos devista que acabamos de aludir. Esse ponto de vista, que voc afirma serprovavelmente correto, declara que o livre-arbtrio no pode querer pra-ticar o bem. No entanto, aquela passagem extrada do livro de Sracides(Eclesisticos) foi citada a fim de provar que o livre-arbtrio pode fazeralgo de bom. Segundo a sua opinio, essa passagem deveria apoiar o pri-meiro ponto de vista, no entanto ela no diz nada a respeito do assunto.Seria como algum citar uma passagem qualquer sobre Pilatos, como go-vernador da Sria, a fim de provar que Cristo foi o Messias!Mas para sermos justos, consideraremos o trecho de Sracides 46. 50 Nascido Escravo(Eclesisticos) 15.14-17. Esse trecho comea dizendo: No princpio elefez o homem e o deixou entregue ao seu prprio arbtrio. At essa altura,no h qualquer referncia aos mandamentos. O homem era dotado deuma vontade inteiramente livre quando o Senhor Deus o tornou senhor detodas as coisas. Mas, ento lemos que Deus acrescentou seus mandamen-tos e preceitos: Se queres, guardars os mandamentos, e fars fielmentea sua vontade... E isso tambm exprime uma verdade. Deus tirou o ho-mem de sua posio de domnio, e, dali por diante, ele ficou debaixo dosmandamentos. No era mais livre. Portanto, voc pode ver que possvelcompreender essa passagem de Sracides (Eclesisticos) de uma maneiraque concorda comigo e no com voc! A minha compreenso desse trechoconcorda com a totalidade das Escrituras. A sua maneira de compreend-lo faz esse texto voltar-se contra as Escrituras em sua inteireza. argumento 5Exame posterior do uso que Erasmo fez deSracides (Eclesisticos) 15.14-17. Voc, Erasmo, sugere que as palavras Se queres, guardars osmandamentos mostram que o homem capaz de escolher com liber-dade. Argumentar assim avaliar o que seriam as palavras de Deus deacordo com a razo humana. Porm, eu posso provar que, mesmo deconformidade com a razo humana, as palavras Se queres, guardars osmandamentos nem sempre significam uma capacidade para obedecer.Por exemplo, os pais com freqncia dizem a seus filhos para fazeremalgo, no para provarem o que eles podem fazer, mas a fim de provar queeles no podem fazer, para que aprendam a pedir ajuda. tambm assim que Deus lida conosco. Ele d a sua lei a fim demostrar-nos a nossa total incapacidade de observ-la. Esse o ensina-mento de Paulo em Romanos 3.20 e 5.20 e em Glatas 3.19,24. 47. O Que Erasmo ensinava 51 argumento 6 Os argumentos de Erasmo devem significar que a vontade do homem completamente livre. H uma contradio bsica em seu argumento. Por um lado, vocdiz que as palavras de Sracides (Eclesisticos) 15.14-17 Se queres,guardars os mandamentos... significam que o homem pode livrementeescolher. Mas voc tambm diz que o primeiro dos trs possveis pontosde vista provavelmente verdadeiro. No entanto, esse ponto de vistaafirma que o livre-arbtrio no pode fazer bem algum. Voc no podemanter essas duas posies! Ora, o livro de Sracides (Eclesisticos) no diz Se queres, etentares, guardars os mandamentos, diz: Se queres, guardars osmandamentos. Por conseguinte, se o livro de Sracides (Eclesisticos)favorece o livre-arbtrio, em algum sentido, deve estar em pauta umaliberdade total, no apenas parcial. Essa foi a concluso a que chegaramos pelagianos acerca dessas palavras. Qualquer um que deseje discordar dos pelagianos enfrentar umgrande problema. Tal pessoa talvez queira apenas conceber um livre-arbtrio parcial, a exemplo do que voc faz. O que significa que umhomem livre meramente para desejar e tentar obedecer a Deus. Ospelagianos retrucariam dizendo que essa passagem ensina um comple-to livre-arbtrio ou uma completa servido da vontade. E levariamesse argumento ainda mais adiante, para o trecho que diz: ...Se queres,guardars os mandamentos, e fars fielmente a sua vontade. Como re-sultado disso, os pelagianos ensinavam que o homem livre para crer.No obstante, na Bblia, Paulo enfaticamente argumenta contra tal idia,ao dizer que a f um dom especial conferido por Deus (Ef 2.8). Contudo, cumpre-me retornar ao meu argumento de que o livrode Sracides (Eclesisticos) no prega o livre-arbtrio. Constitui um 48. 52 Nascido Escravogrande erro argumentar que as palavras Se queres, guardars os man-damentos, devem significar portanto, tu podes. O primeiro homem,Ado, era assistido pela graa de Deus e, no entanto, desobedeceu.Se Ado desobedeceu, o que podemos ns fazer, antes de havermosrecebido qualquer graa divina? O livre-arbtrio completamente im-potente. Se pusermos a situao de Ado ao lado do trecho de Sracides(Eclesisticos) 15.14-17, voc ver que esse trecho, longe de manifes-tar-se em favor do livre-arbtrio fortssimo argumento contra talidia. Essa passagem, pelo contrrio, ensina o nosso dever de cumprir avontade de Deus e no a nossa capacidade de obedecer a Deus. argumento 7 Gnesis 4.7 outro texto que prova que receber um mandamento no significa ter acapacidade de obedec-lo. Erasmo, voc cita as palavras de Gnesis 4.7: ...eis que o pecadojaz porta; o seu desejo ser contra ti, mas a ti cumpre domin-lo,para provar que maus pensamentos podem ser controlados, no levando,necessariamente, ao pecado. Uma vez mais voc contradiz a si mesmo.Voc j havia dito que o ponto de vista que provavelmente verdadeiro aquele que afirma que a vontade humana no pode querer o que bom.No entanto, aqui voc diz que o homem pode dominar os maus desejos,sem fazer qualquer aluso ajuda de Cristo ou do Esprito Santo. Esse texto bblico, na verdade, no est ensinando nada disso. umoutro exemplo de que ao homem mostrado o que ele deve fazer, e no oque ele pode fazer. Outro exemplo disso o primeiro mandamento: Noters outros deuses diante de mim.... Os textos citados so mandamentos, emandamentos no implicam a capacidade de obedecer. Pelo contrrio, de-monstram incapacidade de obedecer, como, por exemplo, no caso de Caim. 49. O Que Erasmo ensinava 53argumento Deuteronmio 30.1 a lei designada paranos dar conhecimento do pecado. Essa a terceira passagem que voc cita a favor do livre-arbtrio.No texto se l: Te propus a vida e a morte, a bno e a maldio: es-colhe, pois, a vida.... Voc diz: O que poderia ser mais claro, do quedizer que o homem tem liberdade de escolha? Entretanto, replico quevoc est cego! Quando Moiss disse escolhe, pois, a vida, porventurao povo israelita escolheu a vida? Se eles tivessem feito essa escolha, noteria havido necessidade das operaes do Esprito Santo. Voc diz: ridculo dizer a um homem, diante de dois caminhos,para ele ir pelo que lhe agrada, se apenas um dos caminhos estiver livre sua frente. Que ilustrao tola! verdade que ns estamos diante deuma bifurcao; porm os dois caminhos e no somente um estofechados para ns. Somos incapazes de tomar o caminho que conduz aobem, sem a graa de Deus. E nem mesmo podemos tomar o outro cami-nho, sem a permisso de Deus! Em Romanos 3.20, Paulo no diz: Pelalei vem o pleno conhecimento da bondade, nem: Pela lei vem o plenoconhecimento da vontade. Ele diz: Pela lei vem o pleno conhecimentodo pecado. A lei no ensina o que os homens podem fazer, mas o queos homens devem fazer. Em seguida, voc cita Deuteronmio 3 acerca de escolher, dedesviar-se e de observar. Voc diz que se as pessoas no tm realmen-te poder para fazer essas coisas, ento os mandamentos so destitudosde significado. Uma vez mais, porm, todos esses mandamentos dizem oque as pessoas devem fazer e no o que podem fazer. No so destitudosde significao. Tm por desgnio ensinar ao homem orgulhoso o quoimpotente ele . Voc tenta ridicularizar essa posio, comparando-a aum homem que esteja totalmente amarrado, menos o seu brao esquer-do. Ento lhe dito que h um bom vinho sua direita e veneno sua 50. 54 Nascido Escravoesquerda. -lhe ento ordenado que escolha um deles. O que voc esttentando provar com essa ilustrao? Estar tentando provar a liberdadeabsoluta da vontade humana? Mas quo esquecido voc ! Voc j tinhadito que o livre-arbtrio nada pode fazer sem a graa de Deus. Voctentou ridicularizar a minha posio com a sua ilustrao, porm deixe-me expor a minha posio com uma ilustrao melhor. Imaginemos umhomem com ambos os braos amarrados! Esse homem gaba-se de que livre para mover seus braos para a direita e para a esquerda. Ordena-se,ento, a ele que mova um brao em uma certa direo no a fim dedivertir-se com ele, mas a fim de provar que ele incapaz de obedecer.Nas Escrituras aprendemos que o homem no apenas est amarrado porSatans, mas tambm iludido na crena de que livre para fazer o que direito. A lei de Moiss foi dada para mostrar aos homens que eles estoiludidos com sua liberdade imaginria. argumentoConfuso de Erasmo acerca da lei e doevangelho.Voc se vale de inmeras passagens para provar a sua posio, masfracassa completamente em sua tentativa de mostrar a diferena entre alei e o evangelho. Deixe-me mostrar como o evangelho ensinado empassagens que voc pensa que dizem respeito lei. Para exemplificar,consideremos o texto de Jeremias 15.19: Se tu te arrependeres, eu tefarei voltar e estars diante de mim...; e Zacarias 1.3: Tornai-vos paramim, diz o Senhor dos Exrcitos, e eu me tornarei para vs outros...Porventura, tornai-vos prova que o homem tem a capacidade de vol-tar? E amars, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu corao, de toda atua alma, e de toda a tua fora (Dt 6.5), prova que ele tem capacidadepara amar a Deus? Essas palavras no provam que os homens possam 51. O Que Erasmo ensinava 55voltar-se para Deus contando apenas com a sua prpria capacidade. Mas,quando os homens entendem o que devem fazer, ento eles perguntaroaonde podero encontrar a capacidade para obedecer. As palavras tor-nai-vos para mim no significam tentai tornar-vos para mim. Vocdiz que a graa divina posta disposio quando os homens tentamvoltar-se para Deus. Mas isso faria tambm a segunda parte desse ver-sculo significar eu tentarei tornar-me para vs! Isso seria espantoso!Talvez a graa tambm esteja disposio do Senhor! Longe de ns os argumentos vazios! A palavra tornar utilizadanas Escrituras tanto em sentido legal como em sentido evanglico.Quando ela usada em sentido legal, trata-se de um mandamento obriga-trio, no apenas uma tentativa do homem de obedecer, mas uma completamudana em sua vida (Jr 4. l; 25.5 e 35.15). E quando a palavra tornar empregada em seu sentido evanglico, ela proferida por Deus comoum consolo e uma promessa, quando coisa alguma exigida de ns, mas,antes, a graa de Deus nos oferecida (SI 14.7; 116.7 e 126.1). Zacariasexibe-nos tanto a mensagem da lei quanto a mensagem da graa. A totali-dade da lei resumida nas palavras tornai-vos para mim; a totalidade dagraa, nas palavras e eu me tornarei para vs outros. Voc interpreta de igual maneira Ezequiel 18.23: Acaso tenho euprazer na morte do perverso? diz o Senhor Deus; no desejo eu antesque ele se converta dos seus caminhos, e viva? Uma vez mais, vocinterpreta as palavras que ele se converta como a capacidade de faz-lo. Voc faz desse trecho lei, ao invs de evangelho. Faz dele uma ordempara que ns no pequemos. Isso lei. No entanto, o Senhor declara:Porque no tenho prazer na morte de ningum... (Ez 18.32), e aludeclaramente ao castigo do pecado que o pecador merece e o sabe. Deusest dando a tal pessoa esperana do perdo e salvao. As palavras dalei pesam sobre aqueles que no sentem nem reconhecem os seus peca-dos. A esses mostrado o que devem fazer. Entretanto, o evangelho dirigido queles que so afligidos pelo senso de pecado e so tentados acair no desespero. 52. 56 Nascido Escravo Portanto, essas palavras em Ezequiel, no tenho prazer namorte de ningum, longe de provarem o livre-arbtrio, provam exa-tamente o contrrio. Elas mostram quo impotentes somos parte daspromessas de Deus. De fato, vamos nos tornando cada vez piores, en-quanto a graa de Deus no nos dada. Essas palavras de misericrdia sonecessrias para salvar pecadores (a menos que voc imagine que Deusdiz essas coisas s por dizer). Ningum aceitar essa promessa divina se-no aquele a quem a lei houver mostrado seu pecado. Aqueles que aindano sentiram o poder da lei de Deus e no temem o julgamento e a morteeterna, no tm interesse pelas promessas misericordiosas de Deus. argumento 10A vontade revelada de Deus e a vontade secreta de Deus. Na passagem do livro de Ezequiel que acabamos de considerar, oprofeta no trata, de forma alguma, da questo por que algumas pessoasso convencidas do pecado atravs da lei e outras no. Tambm no tratade por que algumas pessoas recebem a graa de Deus e outras no. Precisamos estabelecer clara distino entre a vontade revelada deDeus e a vontade secreta de Deus. Deus, de acordo com a sua vontadesecreta, planejou que aqueles aos quais escolheu receberiam sua miseri-crdia. No nos compete inquirir a questo, mas adorar reverentementeao Senhor. Devemos nos interessar por aquilo que Deus nos tem revela-do e no por aquilo que Ele reserva para Si mesmo. Aplicados ao nosso texto, esses pensamentos significam que Deus,oculto em sua majestade, no lamenta pela morte do pecador. Mas Deus,como nos revelado, lamenta sobre a morte que v em seu povo, e temagido de modo tal que o pecado e a morte sejam eliminados. imposs-vel sermos orientados pela vontade secreta de Deus, pois no sabemos 53. O Que Erasmo ensinava 57no que ela consiste. Basta-nos saber que a vontade secreta de Deus exis-te, de modo que venhamos a tem-Lo e ador-Lo. Se estamos falando de Deus, da maneira como Ele nos revelado, absolutamente certo dizer que a culpa nossa se perecermos, porque,na verdade, a falha encontra-se na vontade do homem (Mt 23.27). Maspor que Deus no remove essa falha de cada ser humano, ou por quenos considera responsveis pelo erro que no podemos evitar, no noscompete indagar a respeito. E mesmo que indagssemos, no obtera-mos resposta, conforme diz Paulo, em Romanos 9.20: Quem s tu, homem, para discutires com Deus?argumento 11 A obrigao no evidncia de capacidadepara obedecer. Voc prossegue com o argumento: Se no est dentro da capacidadede cada indivduo obedecer ao que ordenado, ento todo encorajamen-to nas Escrituras, todas as promessas, ameaas, repreenses, bnos,maldies e tantos exemplos so inteis. Porm, conforme j tenhoesclarecido por vrias vezes, as passagens bblicas que impem o sensode dever no podem ser utilizadas para provar a existncia de um livre-arbtrio, conforme voc sugere. Uma das ltimas passagens que voc emprega em respaldo suaposio Deuteronmio 30.11-14, que diz: Porque este mandamento,que hoje te ordeno, no demasiado difcil, nem est longe de ti. Noest nos cus, para dizeres: Quem subir por ns aos cus, que no-lotraga, e no-lo faa ouvir, para que o cumpramos? Nem est alm do mar,para dizeres: Quem passar por ns alm do mar, que no-lo traga, e no-lofaa ouvir, para que o cumpramos? Pois esta palavra est mui perto de ti,na tua boca e no teu corao, para a cumprires. 54. 5 Nascido Escravo Voc diz que essas palavras no somente mostram que nos pos-svel cumprir aquilo que elas nos ordenam, mas que algo to fcilquanto cair de uma pinguela. Porm, se realmente esse o sentido dapassagem, ento temos de concluir que Jesus Cristo foi um tolo por des-perdiar seu tempo. Ele derramou o seu sangue, a fim de nos garantir oEsprito Santo, embora, o tempo todo, no tivssemos qualquer necessi-dade dEle, porquanto todos podemos fazer, fcil e naturalmente, aquiloque Deus requer de ns. Mas, se esse o caso, como isso se harmonizacom o seu prprio argumento de que provavelmente seja verdadeiro oponto de vista de que o livre-arbtrio no pode fazer o bem sem a gra-a divina? Voc j se esqueceu de que escreveu isso? Portanto, quase nem preciso referir-me explicao de Paulosobre Deuteronmio 30.11-14, em Romanos 10.8. Preciso apenasexaminar essa passagem, para ver que nenhuma palavra dita a res-peito do livre-arbtrio. Por exemplo, o que significam para vocexpresses como: no demasiado difcil, nem est longe de ti,nos cus e alm do mar? Elas to-somente aludem a coisas quedevemos tentar fazer. Mas nada dizem quanto nossa capacidade defazer essas coisas. Elas meramente referem-se noo de distncia.Eu sei que tudo isso uma lgica infantil, mas, que posso fazer quan-do me deparo com argumentos to tolos? Nesta passagem, Moissmostrou, de forma patente, ser legislador fiel. Ele deixou o povo sema desculpa de desconhecer a lei de Deus. Eles no precisavam olharem lugar algum a fim de tomar conhecimento do que Deus exige.Eles no podiam alegar ignorncia, como desculpa por no observarlei. Eles no podiam dizer que tudo era um mistrio. Tudo estavaclaro para que todos vissem. Ento, do livre-arbtrio so retiradastodas as desculpas para desobedecer. Repito que esses textos bblicos mostram-nos somente aquiloque Deus requer. Mostram-nos o que devemos fazer, mas que nopodemos fazer. Seu intuito mostrar-nos quo impotentes e quopecaminosos ns somos. 55. O Que Erasmo ensinava 5argumento 12 O homem no deve intrometer-se na vontadesecreta de Deus. Agora chegamos aos seus textos comprobatrios do NovoTestamento. Voc destaca o texto de Mateus 23.37: Jerusalm!Jerusalm!... quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinhaajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vs no o quisestes! Vocargumenta que, se tudo acontece precisamente conforme Deus deseja,ento Jerusalm poderia replicar com justa causa: Por que desperdiasas tuas lgrimas? Se no tinhas a inteno que dssemos ouvidos aosprofetas, ento por que os enviaste? Por que nos consideras respons-veis, quando Tu decidiste aquilo que deveramos fazer? Porm, conforme eu j disse, no nos compete intrometermo-nosna vontade secreta de Deus, pois as coisas secretas de Deus esto intei-ramente fora do nosso alcance (l Tm 6.16). Devemos dedicar o nossotempo considerando o Deus encarnado, o Senhor Jesus Cristo, em quemDeus tornou claro para ns o que deveramos e o que no deveramossaber (Cl 2.3). verdade que o Deus que se tornou carne exclamou:Quantas vezes quis eu... e vs no o quisestes! Cristo veio a este mun-do a fim de realizar, sofrer e oferecer a todos os homens tudo quanto necessrio sua salvao. Mas alguns homens, endurecidos por causada vontade secreta do Senhor, rejeitam-nO (Jo 1.5,11). O mesmo Deusencarnado, entretanto, chora e lamenta-se em face da destruio eternados mpios, ainda que, em sua divina vontade, propositalmente Ele ostenha deixado perecer. No nos cabe perguntar por qu, mas antes, nosprostrarmos admirados diante de Deus. Neste instante alguns diro que logo que sou empurrado para umcanto, evito enfrentar frontalmente a questo, dizendo que no devemosnos intrometer na vontade secreta de Deus. Entretanto, isso no in-veno minha. Foi dessa maneira que Paulo argumentou em Romanos 56. 60 Nascido Escravo9.19,21; e Isaas, antes de Paulo (Is 58.2). evidente que no devemosprocurar sondar a vontade secreta de Deus, sobretudo quando observa-mos que so justamente os mpios que so fortemente tentados a faz-lo.Ns devemos adverti-los a ficar calados e reverentes. Se algum quiserlevar avante essa forma de inquirio, bem-vindo a faz-lo; porm, des-cobrir-se- lutando contra Deus. Quanto a ns ficaremos observandopara ver quem vencer! argumento 13A lei mostra a fraqueza humana e o podersalvador de Deus.Um outro trecho que voc cita Mateus 19.17: Se queres, porm,entrar na vida, guarda os mandamentos. Voc indaga como que aspalavras se queres poderiam ter sido dirigidas a algum cuja vontadeno livre. No entanto, voc j havia concordado que o livre-arbtriono pode querer nenhuma coisa boa e que, sem a graa divina, pode so-mente servir ao pecado. Como, ento, pode querer provar que a vontadehumana inteiramente livre? Ser realmente verdade que a cada vez emque dizemos a algum se quiseres, ou se desejas, significa que exis-te a capacidade de se fazer aquilo? Suponha que digamos o seguinte: Sevoc quiser comparar-se a Davi, ter de produzir salmos como os dele.No estaramos dizendo que isso nos seria impossvel, a menos queDeus nos capacitasse para tanto? Assim, nas Escrituras encontramos ex-presses similares a essa, para nos mostrar o que pode ser feito no poderde Deus e o que no podemos fazer por ns mesmos. Essas expressesno somente mostram coisas que no podemos fazer com nossos pode-res naturais, mas tambm revelam uma promessa do tempo em que essascoisas sero realizadas atravs do poder de Deus. Poderamos exprimiro sentido das Escrituras assim: Se chegares a manifestar a vontade de 57. O Que Erasmo ensinava 61guardar os mandamentos (o que ters, no por ti mesmo, mas atravs deDeus, que a d a quem Ele deseja), ento, eles te preservaro. Dessa maneira, podemos perceber que no podemos fazer nenhumadaquelas coisas que nos so ordenadas, ao mesmo tempo em que pode-mos fazer todas elas; pois, nossas fraquezas pertencem a ns mesmos ea nossa capacidade nos dada atravs da graa de Deus. argumento 14O Novo Testamento contm instrues para guiar os justificados Voc emprega um argumento alicerado em muitas refernciasdo Novo Testamento a respeito de boas e ms obras. Por exemplo:Regozijai-vos e exultai, porque grande o vosso galardo nos cus;pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vs (Mt5.12). Voc diz que, se tudo feito porque assim Deus o deseja, nopode haver qualquer mrito nas boas obras. Isto posto, voc quer que otexto signifique que o homem pode fazer, sem a ajuda divina, boas obrasque merecero recompensas no cu. Ora, vejam s! O livre-arbtriotem sofrido algumas distores, medida em que o seu livro avana!No somente o livre-arbtrio capaz de querer e de realizar o bem,mas agora voc tambm quer que o mesmo merea a vida eterna! Nessecaso, que necessidade temos de Cristo ou do Esprito Santo? Homens espertos podem ser cegos para as coisas que so per-feitamente claras s pessoas comuns! Voc no consegue perceber adiferena entre o Antigo e o Novo Testamento. No Antigo Testamento,h leis e ameaas cujo propsito fazer-nos avanar para as promessasencontradas no Novo Testamento. No Novo Testamento encontramoso evangelho, onde achamos a graa e o perdo dos pecados, que nosforam obtidos pelo Cristo crucificado. Alm disso, h encorajamento 58. 62 Nascido Escravoe instrues cujo intuito despertar aqueles que forem justificados,aps haverem recebido a graa e perdo, para que produzam o fruto doEsprito e para que carreguem ousadamente a cruz. Voc est cego com respeito a total operao regeneradora doEsprito de Deus, vendo nas Escrituras somente leis por meio das quaisos homens deveriam viver. Isto surpreendente, em algum que tem pas-sado tanto tempo estudando as Escrituras. O texto de Mt 5.12 tem tantoa ver com o livre-arbtrio como a luz tem a ver com as trevas, tendopor nico desgnio encorajar os apstolos, que j estavam debaixo dagraa divina, a fim de perseverarem diante das dificuldades do mundo. argumento 15 A base para o galardo do crente apromessa de Deus e no o mrito do homem O galardo, referido em Mateus 5.12, uma espcie de promessa.Uma promessa, entretanto, no prova que podemos fazer coisa algu-ma. Prova apenas que, se fizermos certas coisas, seremos galardoados.A questo se realmente podemos fazer as coisas em razo das quais ogalardo dado. Alguns dizem: O prmio posto perante todos os quecorrem, assim sendo, todos podem correr e obter o prmio! No essauma lgica ridcula? Poderia ser til para alguns, se a noo do livre-arbtrio pudesse ser estabelecida por meio de tais argumentos! Voc procura argumentar que se Deus j decidiu tudo de antemo,ento no podemos falar em galardo. Se quer dizer com isso que vocno recompensaria quem trabalha com m vontade, eu estou de acordo.Porm, quando as pessoas praticam o bem ou o mal propositadamente,ento, com toda a justia, recebem o galardo ou a punio. Isso ver-dade, mesmo quando as pessoas so incapazes de alterar a sua vontadepor seus prprios esforos. Se, porm, s podemos desejar fazer o que 59. O Que Erasmo ensinava 63bom capacitados pela graa divina, da bvio, que o mrito e o galar-do provm exclusivamente da graa divina. Entretanto, no deveramos falar sobre mritos humanos. Melhor falar acerca das conseqncias daquilo que fazemos. Nada existe debom ou de mal que no venha a receber sua devida retribuio. O infer-no e o julgamento divino, certa e seguramente, esperam pelos mpios.Da mesma forma, certo que um reino espera pelos piedosos, porque omesmo foi-lhes preparado por seu Pai celestial (Mt 25.34). Se tentarmosfazer o bem a fim de merecermos herdar o reino de Deus, haveremos defracassar, mostrando assim que somos mpios. Os filhos de Deus fazemo bem visando a glria de Deus, e no alguma recompensa. Por conseguinte, qual o significado daquelas passagens bblicasque prometem o reino de Deus ou ameaam com o inferno? (Gn 15.1; 2Cr 15.7; J 34.11; Rm 2.7). Elas simplesmente mostram o resultado deuma vida boa ou de uma vida m. Seu propsito instruir e alertar. Nadadizem a respeito de mrito, mas ensinam aquilo que devemos fazer, en-corajando-nos a prosseguir at ao fim (Gn 15.1; l Co 15.58; 16.13). como se quisssemos consolar algum, dizendo que o que ele est fazen-do agrada a Deus, ou como se quisssemos advertir a algum, dizendoque o que ele est fa