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BENCATEL, Diana OrnellasAvaliao e reduo do risco de dano associado luz solar em duas novas galerias .Ensaios e
Prticas em Museologia. Porto, Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio da FLUP, 2012, vol. 2, pp. 92-110.
Avaliao e reduo do risco de dano associado luz solar em duasnovas galerias do Victoria and Albert Museum
Diana Ornellas Bencatel12
Resumo - Abstract
O risco de dano provocado pela luz natural em bens uma questo muito
importante para qualquer instituio cultural que pretenda preservar as suas colees,
sobretudo aquelas em exposio.
Este artigo foca uma avaliao realizada no Victoria and Albert Museum
(Londres) que visava detetar o risco de dano associado luz solar num conjunto de
peas de escultura a expor em duas novas galerias do museu. Para esta avaliao
procurou-se conhecer os nveis de radiao visvel no interior das galerias, informao
que foi cruzada com o plano de distribuio das esculturas no espao e com informao
relativa sensibilidade luz de cada pea. O estudo incluiu a avaliao da eficcia da
utilizao de blackouts nas janelas.
Esta avaliao foi decisiva para a definio de medidas de preveno que
permitissem minimizar o risco de um tipo de dano provocado pela radiao visvel
que se caracteriza por ser cumulativo e irreversvel.
For many cultural institutions with conservation concerns, the risk of damage on
collections caused by sunlight is an important issue.
12Profissional de Conservao Preventiva, formada em Arqueologia e com Mestrado em Museologia.
Desenvolveu trabalho de Conservao no Victoria and Albert Museum (Londres), no Arquivo Distrital do
Porto e no Museu da Cermica (Caldas da Rainha). Desde Janeiro de 2012 coordenadora da
Conserva.me!, uma equipa de conservadores que pretende contribuir para promover e implementar em
Portugal boas prticas de conservao preventiva.
Preventive Conservator, with a degree in Archaeology and an MA in Museum Studies. In the past few
years conservation work was carried out at the Victoria and Albert Museum (London, UK), at Arquivo
Distrital do Porto (Porto, Portugal) and at the Museu da Cermica (Caldas da Rainha, Portugal). Since
January 2012, Diana Bencatel coordinates Conserva.me!, a team of conservators that aims to contribute
to promote and implement good practices of preventive conservation in Portugal.
diana.o.bencatel@gmail.com
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Prticas em Museologia. Porto, Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio da FLUP, 2012, vol. 2, pp. 92-110.
This paper is focused on a risk assessment performed at the Victoria and Albert
Museum (London) related to the eventual negative effect of sunlight on a set of
sculpture that would be displayed in two new galleries of the museum. This assessment
included the analysis of: information concerning light levels inside the galleries, the
planned location of the sculpture throughout the galleries and the characteristics of each
sculpture, which determined its sensitivity to light. The effectiveness of using blackout
blinds on the windows was also assessed.
At the end, the objects with higher risk of damage were identified and
procedures to reduce the risk were presented.
Palavras-chave - Keywords
Luz solar, dano, escultura, museu, blackouts.
Sunlight, damage, sculpture, museum, blackout blinds.
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Avaliao e reduo do risco de dano associado luz solar em duasnovas galerias do Victoria and Albert Museum
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Diana Ornellas Bencatel
Em muitas instituies culturais, o dano provocado pela luz utilizada para a
visualizao dos bens expostos afigura-se, por vezes, como algo difcil de evitar. Em
termos de iluminao, as opes podem variar entre uma maior utilizao da luz
artificial em detrimento da luz natural, ou vice-versa, procurando-se nalguns casos a
soluo que permita um melhor controlo da intensidade da luz e do tipo e quantidade de
radiao emitida pela fonte de luz. Em qualquer dos casos, bens sensveis luz iro
deteriorar-se sempre que estiverem expostos a este agente de dano.
No entanto, em muitos casos possvel conciliar a exposio de colees com a
sua preservao a longo prazo. Para isso fundamental a implementao de medidas de
conservao preventiva adaptadas a cada caso, medidas que contribuam para controlar
os nveis de radiao a que os bens esto expostos e que resultem na minimizao do
risco da ocorrncia de danos inaceitveis. Para planear a aplicao de medidas
adequadas podem efetuar-se anlises e avaliaes de natureza diversa (Ashley-Smith
1999), de acordo com a especificidade de cada coleo e com as caractersticas dos
espaos onde as peas esto ou sero expostas.
O trabalho apresentado no presente artigo foi desenvolvido no ano de 2010, no
Victoria and Albert Museum (V&A), em Londres. Consistiu numa investigao
relacionada com a incidncia da luz solar em duas renovadas galerias deste museu, onde
13Artigo baseado no projeto de investigao intitulado Gesto de risco de dano associado luz
solar: nova exposio de escultura no Victoria & Albert Museum, desenvolvido no mbito do
Mestrado em Museologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, segundo a orientaodo Professor Doutor Armando Coelho Ferreira da Silva.
Article based on the research project entitled "Risk assessment and modeling daylight at the V&As
Sculpture 1300-1600 Galleries", developed in the context of the Museology Master degree course at
Oporto University Humanities Faculty, under the supervision of Professor Armando Coelho Ferreira da
Silva.
Disponibilizado em/Available at URL: http://hdl.handle.net/10216/57335.
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iria ser exposta, durante 10 anos, uma coleo de peas de escultura, pertencente ao
acervo do V&A, produzidas entre o sculo XIV e XVII.
A investigao teve incio em abril de 2010, estando agendada para novembro
do mesmo ano a abertura ao pblico das referidas galerias (nmero 26 e 27). Durante
este trabalho foram aplicadas metodologias experimentais de estudo e de minimizao
do impacte nocivo que a luz teria sobre a coleo a expor.
Na sequncia da deciso dos responsveis do projeto da nova exposio de
adotar nestes espaos expositivos uma soluo de iluminao mista, ou seja, uma
combinao de iluminao artificial com iluminao natural, no foram levantadas
questes relativamente ao impacto da luz artificial nas peas, j que seria instalado um
sistema de iluminao novo, adaptado s necessidades dos visitantes e sensibilidade
luz das peas da coleo.
O mesmo no se verificou com a iluminao natural. Foram levantados
problemas quanto exposio das peas a esta fonte de luz (Pretzel 2004)mais difcil
de controlar, visto que ambas as galerias se encontram particularmente expostas luz
solar, que entra atravs de dez janelas de grandes dimenses, orientadas a Oeste,existentes em cada galeria.
O risco de dano associado radiao ultravioleta (UV) no foi considerado nesta
investigao, dado que as janelas das galerias seriam revestidas com filtros UV
(referncia: SUN-X-MT90). No entanto, foi necessrio equacionar o risco apresentado
pela radiao visvel (tambm designada por luz ou iluminncia), j que a hiptese
de bloquear totalmente a entrada de luz solar (direta e difusa), cobrindo-se
completamente as janelas, foi excluda: os designers envolvidos no projetoconsideravam importante manter as janelas parcialmente desobstrudas, para que os
visitantes tivessem a possibilidade de observar o jardim do museu a partir do interior
das galerias.
Embora menos energtica que a radiao UV, nveis demasiado elevados de
iluminncia podem contribuir para a ocorrncia de reaes fsicas ou qumicas
indesejveis em peas sensveis luz. Destas reaes podem resultar danos graves,
cumulativos e irreversveis, nomeadamente sob a forma de esvanecimento,
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escurecimento, alterao das cores (Michalski 1987: 4) e fragilizao do suporte das
peas (Thomson 1986: 13). Os danos podem tornar-se visveis de forma mais ou menos
rpida, dependendo dos nveis de iluminncia a que as peas estejam expostas, do
perodo de exposio e da maior ou menor sensibilidade luz dos materiais
constituintes. Caso no seja feito atempadamente um controlo que minimize a
ocorrncia de dano, este pode acabar por ser to extenso e profundo que a pea perde as
suas caractersticas originais e parte (ou mesmo a totalidade) do seu valor.
Tendo em conta os j conhecidos efeitos destrutivos da luz (Ashley-Smith,
Derbyshire, Pretzel 2002), ainda numa fase inicial do projeto, os responsveis
determinaram que seriam instalados blackouts de um material totalmente opaco em
todas as janelas das galerias, de modo a possibilitar a reduo da entrada de alguma luz
natural. Ficou em aberto a questo relativa altura a que os blackouts seriam colocados,
um fator determinante para a entrada de maior ou menor quantidade de luz atravs das
janelas: era necessrio manter as janelas parcialmente desobstrudas e, simultaneamente,
evitar a ocorrncia de danos acelerados nas peas expostas sensveis luz.
Ficou a cargo da autora deste artigo, em estgio no Departamento de
Conservao do V&A, a realizao de uma avaliao do risco de dano provocado pela
radiao visvel proveniente da iluminao natural na coleo a expor nas galerias 26 e
27, de acordo com o plano de exposio existente na altura. Os resultados da avaliao
serviriam como base para o planeamento e apresentao de medidas de minimizao do
risco detetado ainda na fase de projeto da exposio.
O objetivo principal desta investigao centrou-se na identificao das peas da
coleo que ficariam sob maior risco de dano associado a nveis excessivos de
iluminncia. Para ir ao encontro deste objetivo procurou-se conhecer: 1. Caratersticas
da coleo; 2. Plano de distribuio da coleo nas galerias; 3. Nveis de iluminncia no
interior das galerias; 4. Eficcia dos blackouts.
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1. Caratersticas da coleo
Dado que determinados materiais e substncias tm maior tendncia que outros
para sofrer dano perante elevados nveis de iluminncia, era importante conhecer os
suportes e revestimentos existentes nas peas que constituem a coleo a expor.
A nvel de suportes verificou-se a presena de diversos tipos de madeira,
terracota, bronze, alabastro, mrmore, calcrio e estuque; no que se refere a
revestimentos, faziam parte do conjunto peas policromadas ( base de pigmentos,
corantes e lacas), envernizadas e vidradas.
Recorrendo escassa informao documental disponvel acerca das
caratersticas da coleo e anlise macroscpica efetuada a algumas esculturas, foi
determinada para cada pea um nvel potencial de sensibilidade luz. Optou -se por
fazer uma categorizao pessimista, considerando como mais sensveis aquelas peas de
que se desconhecia a origem do revestimento, geralmente o elemento das peas mais
facilmente deteriorvel perante nveis elevados de iluminncia (Crews 1987). Foram
consideradas trs categorias, de acordo com as regras determinadas pelo V&A Light
Policy (2006). As trs categorias indicam a resistncia luz do material (que incluisuportes e revestimentos) que constitui as peas:
Material estvel inclui escultura de metal ou pedra e escultura nopolicromada. Estas peas no requerem restries especficas de exposio luz;
Material durvel inclui a maioria da escultura policromada. Esta pode serexposta at 250 lux, durante cerca de 8 horas dirias (correspondentes ao horrio de
abertura do museu ao pblico);
Material sensvel por uma questo de preveno, inclui escultura revestidacom vidrados cuja origem se desconhece e com policromias onde se verificou a
presena de lacas. Considerou-se que, idealmente, estas peas devem ser expostas a uma
mdia de 50 lux14, tendo sempre presente a dose adequada gesto do risco de dano.
1450 lux foi considerado por Thomson (1986) como o nvel mnimo de iluminncia indispensvel, de uma
forma geral, para uma boa perceo das peas expostas por uma pessoa como uma acuidade visual
normal.
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Lux (o mesmo que lmen por m2) a unidade utilizada para medir a quantidade
de iluminncia numa superfcie.
Os limites de iluminncia a que as peas deveriam estar expostas nas novas
galerias foram definidos tendo em conta que, no V&A, foi definido que aceitvel
ocorrer nas peas do acervo do museu apenas uma Alterao Percetvel (1 AP) em 50
anos, provocada pela luz. Esta deciso foi tomada partindo do princpio que 10 AP
correspondem a um nvel de dano inaceitvel e que 30 AP equivalem ao esvanecimento
total das cores existentes. (Victoria and Albert Museum 2001, 1)
No caso de esculturas sensveis luz, a gesto do nmero de horas e dos nveis
de iluminncia a que esto expostas pode ser feita de diferentes formas: pode optar-se
por expor as peas a 50 lux durante oito horas dirias o que resulta num valor de
exposio total diria de 400 lux.hora ou a nveis superiores a 50 lux durante um
nmero mais limitado de horas por dia (por exemplo 100 lux durante quatro horas),
atendendo sempre ao limite total dirio aceitvel, de 400 lux.hora (Lei da
Reciprocidade) (Homem 2008). No caso de as peas especialmente sensveis luz
serem expostas a nveis de iluminncia muito superiores a 50 lux durante longos
perodos de tempo, aconselhvel o seu posterior armazenamento no escuro (por
exemplo em espao de reserva) durante perodos de tempo a definirpor vezes vrios
anosde acordo com a exposio luminosa j acumulada.
2. Plano de distribuio da coleo nas galerias
Na Planta 1 indicada a localizao prevista para cada escultura nas galerias,
data desta investigao. Foi atribuda a cada pea uma cor correspondente ao respetivo
nvel potencial de sensibilidade luz: verde corresponde a material estvel, amarelo a
material durvel e vermelho a material sensvel. Esta esquematizao contribuiu para,
numa fase posterior, identificar as peas sob maior risco de dano.
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Figura 6 - Plano de distribuio das peas nas galerias
3. Nveis de iluminncia no interior das galerias
Para conhecer os nveis de iluminncia provenientes da luz solar no interior das
galerias 26 e 27, foi feita monitorizao de valores verificados naqueles espaos entre
12 de maio e 18 de junho. O objetivo era conhecer valores referentes a todos os meses
do ano, visto que a exposio teria um carter permanente. No entanto tal no foi
possvel devido indisponibilidade da quantidade de equipamento de monitorizao
necessrio durante um perodo de tempo to longo, no esquecendo tambm que a
exposio iria abrir ao pblico muito em breve, em novembro de 2010.
A monitorizao foi feita com recurso a 30 monitores de luz (luxmetros)
Hanwelldo museu, instalados em diferentes pontos dentro das galerias. A maioria dos
monitores foi colocada em zonas prximas de localizaes previstas para a exposio de
peas da coleo, ao nvel dos olhos entre 1,40 m e 1,60 m de distncia do cho ,
virada para Oeste (direo a partir da qual a luz solar entra nas galerias, atravs das
janelas), e na vertical, de acordo com as concluses retiradas do exame efetuado forma
das esculturas (que revelou que a rea vertical das esculturas era, em mdia, muitomaior do que a rea horizontal).
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Figura 7 - Distribuio dos monitores de luz na galeria 26 e 27
Sabendo que os monitores utilizados tinham um ponto de saturao que rondava
os 5.000 lux (acima do qual os nveis de iluminncia no eram lidos corretamente) e que
no perodo em que a monitorizao foi realizada os nveis de luz natural atingiam
frequentemente valores mais altos, recorreu-se a adaptaes do equipamento: o sensor
dos monitores instalados em zonas das galerias onde se verificavam nveis de luz mais
altos foi revestido com uma ou duas camadas de filtro de luz (referncia: Sun-X MT20
Dark Neutral Ultraviolet Filter), de acordo com a sua proximidade das janelas, para
garantir que os nveis de luz fossem, de alguma forma, medidos. Foram posteriormentefeitos clculos para determinar os verdadeiros valores verificados nestes locais, tendo
em conta a percentagem de radiao visvel transmitida por uma ou duas camadas de
filtro (cerca de 24% e 5%, respetivamente).
Os monitores foram programados para registar automaticamente um valor de
iluminncia de 60 em 60 segundos, 24 horas por dia, sete dias por semana.
Para aceder aos registos efetuados pelos monitores recorreu-se a relatrios
criados a partir do OCEAN (Object Centred Environmental Analysis Network), o
sistema centralizado de gesto ambiental utilizado pelo V&A. Este sistema permite a
recolha automtica das medies realizadas por monitores ambientais espalhados pelo
museu, possibilitando um fcil acesso aos dados em tempo real em computadores
pessoais. Este sistema baseia-se na utilizao da radio-tecnologia, permitindo a
utilizao de cerca de um milhar de monitores. A data e hora a que correspondem os
dados recolhidos so indicadas automaticamente.
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Tendo em conta que foi possvel monitorizar nveis de iluminncia no interior
das galerias apenas durante pouco mais de um ms, procurou-se uma forma de conhecer
valores aproximados de iluminncia para os meses no monitorizados.
Existe o pressuposto de que a quantidade de luz natural verificada no interior de
um espao pode ser calculada tomando como base nveis de luz medidos no exterior
desse espao (BRE 1986). Esta relao considerada por McMullan (2007, 150)
teoricamente constante, na medida em que em ambas as localizaes as variaes
ocorrem na mesma proporo, acompanhando as alteraes das caractersticas do cu.
Para a avaliao em curso, foi colocada a hiptese de criar um modelo de clculo
que permitisse conhecer nveis aproximados de iluminncia verificados no interior das
galerias a partir de valores conhecidos de iluminncia externos. Este modelo de clculo
poderia ser elaborado no caso de se encontrarem correlaes lineares simples
satisfatrias entre valores de iluminncia internos e externos obtidos nas mesmas datas.
No caso de se conseguir elaborar este modelo, poderiam ser calculados valores mdios
de iluminncia internos para os meses no monitorizados nas galerias 26 e 27 a partir de
valores de iluminncia externos de meses j passados, obtidos pelo monitor externo
Hanwell, em permanente funcionamento no telhado do museu desde 2008.
Neste sentido foram procuradas correlaes entre dois conjuntos de dados: entre
nveis de iluminncia internos e nveis de iluminncia externos referentes aos meses de
maio e junho de 2010 perodo em que houve monitorizao tanto no interior das
galerias como no exterior. Para detetar correlaes lineares simples optou-se por usar
grficos de disperso, elaborados em Excel. Em cada grfico acrescentou-se a respetiva
linha de tendncia (linear), equao de reta e coeficiente de correlao.
Perante um grfico deste tipo, para identificar a presena de correlao linear
simples entre os dados inseridos pode comear por se analisar a posio dos pontos
apresentados: se na sua maioria se encontrarem concentrados ao longo (ou prximos) da
linha de tendncia, porque se dever estar perante uma boa correlao. Se os pontos se
apresentarem muito dispersos, poder significar que no existe uma correlao linear
simples entre os conjuntos de dados ou que a correlao existente fraca.
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Figura 8 - Relao entre os nveis de iluminncia externos e internos (monitor 26) no perodo
entre as 16h e as 19h (GMT). O coeficiente de correlao confirma a existncia de uma correlao linear
simples satisfatria entre dados (R2
= 0,71).
Para confirmar a presena, ou ausncia, da referida correlao recorreu-se
anlise do Coeficiente de Correlao (Coeficiente de correlao (R2) corresponde
poro de variao da varivel dependente relativamente varivel independente) dos
dados inseridos em todos os grficos elaborados: se o valor se encontrasse entre 0,7 e 1,
estava-se perante uma boa correlao linear simples (quanto mais prximo de 1, mais
perfeita a correlao). Se o valor fosse inferior a 0,7, considerava-se que a correlao,
embora pudesse existir, no era satisfatria.
No final da anlise a este conjunto de dados, concluiu-se que as raras correlaes
encontradas se limitavam a perodos do dia muito restritos, a zonas muito especficas
das galerias e o coeficiente de correlao encontrava-se em todos os casos no limite
mnimo para se considerar a existncia de uma correlao linear simples satisfatria.
Estas concluses inviabilizaram a criao de um modelo de clculo fivel, o que
impossibilitou o clculo de nveis aproximados de iluminncia internos com base em
valores de iluminncia externos para os meses em que no foi feita monitorizao
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dentro das galerias. Devido limitao de tempo reservado a esta investigao, no foi
possvel procurar outros tipos de correlao, que se considera provvel existirem.
4. Eficcia dos blackouts
Para avaliar a eficcia da utilizao dos blackouts, que seriam instalados em
todas as janelas, na reduo da entrada de luz natural, realizaram-se medies para
calcular a percentagem de iluminncia verificada no interior das galerias com os
blackouts posicionados a diferentes alturas.
Tendo em conta que estes mecanismos de bloqueio de luz seriam instalados nasgalerias 26 e 27 j depois de terminado o estgio da autora desta investigao no V&A,
as medies foram realizadas numa galeria de escultura de caractersticas muito
semelhantes s das galerias em anlise, em cujas janelas haviam sido instalados
blackouts similares queles escolhidos para as galerias em remodelao.
Recorrendo a um luxmetro,Megatron DL3, foram feitas medies rpidas num
ponto a trs metros de distncia das janelas (aproximadamente a meio da profundidade
da galeria), ao nvel dos olhos (a cerca de 1,60 m do cho). Os blackouts foram
colocados a quatro alturas diferentes: totalmente subidos, a cobrir 1/3 da rea das
janelas, a cobrir 2/3 da rea das janelas e totalmente descidos. Foram feitas 10 medies
em cada uma das quatro posies, o que permitiu obter uma mdia considerada bastante
fivel.
A anlise dos valores de iluminncia obtidos revelou que, com os blackouts a
cobrir 1/3 da rea das janelas, se verificou em mdia uma reduo dos nveis de luz de
cerca de 31%; a cobrir 2/3, cerca de 68%; e a cobrir a totalidade da rea das janelas,
cerca de 97%. De acordo com estes resultados, a reduo dos nveis de iluminncia
proporcionada pelos blackouts parece ser aproximadamente proporcional rea das
janelas coberta.
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Figura 9 - Percentagem de iluminncia verificada no interior da galeria com os blackouts a
quatro alturas diferentes.
As concluses quanto eficcia dos blackouts e os valores obtidos durante a
monitorizao dos nveis de iluminncia internos durante os meses de Maio de Junho
permitiram a identificao de variaes de nveis de iluminncia nas diferentes zonas
das galerias ao simular diferentes posicionamentos dos blackouts. O exemplo mostrado
a seguir refere-se galeria 27, sendo a situao da galeria 26 muito semelhante.
O primeiro grfico (Figura 5) representa a exposio mdia diria (em lux hora)
da galeria 27 luz natural, durante o perodo de monitorizao, sem blackouts nas
janelas 24 horas por dia.
Figura 10 - Exposio mdia diria da galeria luz natural sem blackouts nas janelas 24 horas
por dia
O segundo grfico (Figura 6) representa a exposio mdia diria da galeria
simulando a presena de blackouts a cobrir cerca de 63% da rea das janelas 24 horas
por diaesta rea coberta foi calculada tendo em conta a proposta dos designers quanto
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altura a que consideravam adequado manter os blackouts nas janelas. Comparando os
dois grficos e respetivas escalas facilmente percetvel a diferena entre os valores
obtidos nas duas situaes, verificando-se uma reduo muito significativa do valor de
iluminncia acumulado se os blackouts cobrirem uma rea significativa das janelas.
Figura 11 - Exposio mdia diria da galeria luz natural com blackouts a cobrir cerca de
63% da rea das janelas 24 horas por dia.
Tendo em conta que data desta investigao ainda no tinha sido decidido se
os blackouts seriam mantidos totalmente descidos fora do horrio de abertura do museu
ao pblico ou no, calculou-se ainda a exposio mdia diria das galerias no caso de a
de a sua altura ser gerida se forma a cobrirem 63% da rea das janelas durante o horriode abertura do museu ao pblico (das 10h s 18h) e 100%, ou seja, a totalidade da rea
das janelas, durante as restantes 16 horas (entre as 18h e as 10h). Os valores obtidos
nesta ltima simulao, comparados com aqueles representados no grfico da Figura 6,
revelaram uma reduo de cerca de 16% da exposio mdia diria das duas galerias
luz natural. Esta reduo, concluiu-se, daria mais um contributo significativo para
reduzir a velocidade de dano nas peas mais sensveis luz expostas naqueles espaos.
Peas sob maior risco de dano
A anlise dos dados da monitorizao realizada no interior das galerias permitiu
ainda conhecer nveis mdios de iluminncia por hora verificados em cada ponto
monitorizado. Foram feitos clculos para determinar os valores que se teriam verificado,
durante o perodo de monitorizao, num cenrio provvel: com os blackouts instalados
nas janelas altura prevista (a cobrir cerca de 63% da rea das janelas) durante o
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horrio de abertura do museu ao pblico e totalmente descidos durante as restantes 16
horas.
Estes valores mdios horrios, por terem sido obtidos a partir de um conjunto de
dados recolhidos num perodo em que se verificaram em geral nveis muito elevados de
iluminnciaentre os meses de maio e junho de 2010 , permitem ter uma boa noo
dos locais onde se verificam nveis de luz mais ou menos elevados em ambas as
galerias, quando comparados entre si (nos meses de Outono e Inverno, os nveis mdios
de iluminncia devero ser significativamente mais reduzidos do que aqueles
apresentados na Figura 7).
Os nveis mdios de iluminncia por hora (indicados em lux) obtidos foram
cruzados com a informao referente localizao prevista para cada escultura nas
galerias. Desta forma foram identificadas as peas que, perante estes nveis mdios de
iluminncia e de acordo com a sensibilidade luz de cada escultura e correspondente
limite de iluminncia a que aconselhvel ser exposta, teriam associado um risco de
dano mais acentuado e inaceitvel, em comparao com as restantes peas.
Foram identificadas trs peas em cada galeria sob maior risco, assinaladas nogrfico de superfcie seguinte (Figura 7): na galeria 26, uma pea de material sensvel
luz e duas de material durvel, e na galeria 27 duas peas de material sensvel e uma de
material durvel.
Figura 12 - Identificao das peas sob maior risco de dano acelerado
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Propostas de medidas de mitigao do risco de dano
As concluses resultantes da avaliao efetuada constituram a base para a
apresentao de propostas de medidas de mitigao do risco de dano detetado. As
propostas, apresentadas a todos os profissionais envolvidos no projeto das novas
galerias, foram as que a seguir se apresentam:
a) Manuteno dos blackouts altura proposta pelos designers (a cobrir cerca de
63% da rea das janelas)ou, preferencialmente, a uma altura mais baixa, durante o
horrio de abertura do museu (entre as 10h e as 18h) e totalmente descidos durante as
restantes 16 horas, entre as 18h e as 10h.
b) Alterao da localizao das seis esculturas identificadas como
estando sob maior risco de dano acelerado. Recomendou-se a elaborao de um novo
plano de exposio destas peas dentro das galerias, distribuindo-as por zonas das
galerias com nveis mdios de iluminncia mais reduzidos, mais adequados
sensibilidade luz de cada escultura. Foram fornecidos aos Conservadores responsveis
por esta questo os valores mdios de iluminncia verificados nas galerias, para que
pudessem identificar mais facilmente as zonas preferenciais de exposio.
c) Revestimento das janelas com filtros de luz Sun-X MT80 Dark Neutral
Ultraviolet Filter, de modo a bloquear a entrada de 80% de radiao visvel proveniente
do exterior sem obstruir a visibilidade para o jardim.
A partir de informao conhecida relativa a limitaes de ordem oramental e a
conflitos de interesse entre as partes envolvidas no projeto, sabia-se que era provvel a
implementao de apenas duas das medidas apresentadas, a a) e a b).
Estas foram apenas propostas, na medida em que, depois de terem acesso a toda
a informao contida no relatrio redigido aps a avaliao, ficou a cargo dos
responsveis pelo projeto optar pelas medidas a aplicar, de acordo com a sua
viabilidade.
No foi possvel apresentar sugestes de eliminao de risco. Para o eliminar
seria necessrio cobrir todas as janelas com um tipo de estrutura que no permitisse
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qualquer entrada de luz natural no interior das galerias atravs das janelas, o que no foi
considerado como opo pelos designers do projeto.
Consideraes finais
Este trabalho acabou por se revelar um exemplo da forma como grande parte das
instituies culturais de Londres encara o trabalho de conservao de acervos: mesmo
quando os recursos so escassos, como o eram para o projeto desta nova exposio no
Victoria and Albert Museum, existe o cuidado de avaliar, de forma mais ou menos
profunda, de que modo que os bens so afetados quando inseridos num contexto, que
pode ser novo ou no. Este tipo de avaliao, que pode focar um ou vrios agentes de
dano (destacando-se frequentemente a luz pelo tipo de degradao que provoca),
contribui geralmente de forma significativa para se tomarem atempadamente medidas
preventivas que ajudam a evitar, retardar ou interromper a ocorrncia de danos em bens
que se pretende preservar. Entre as medidas consideradas adequadas a cada situao,
normalmente existem opes mais ou menos dispendiosas: por muito escassos que
sejam os recursos, nomeadamente financeiros, materiais e humanos, sempre possvelfazer alguma coisa para reduzir o risco de dano existente. Ao aplicar algumas medidas,
est-se simultaneamente a evitar perdas patrimoniais e a evitar a necessidade de
recorrer, mais cedo ou mais tarde, a intervenes profundas, e de um modo geral muito
dispendiosas, nos benspor exemplo de restauro.
Contatar com esta realidade londrina contribuiu para perceber que em Portugal
h ainda muito a fazer na rea da Conservao Preventiva. J existem muitos
profissionais de museus, bibliotecas e arquivos sensibilizados para estas questes, masparece haver ainda muito desconhecimento quanto quilo que se pode fazer com os
(poucos) recursos disponveis. O acesso a bibliografia atualizada, a formao contnua
na rea, a disponibilizao de recursos e o apoio dado a estes profissionais por parte de
quem lidera as instituies que zelam pelo nosso patrimnio fundamental para evitar
perdas, tantas vezes desnecessrias, de objetos, memrias edinheiro.
No que se refere ao tema da presente investigao, um trabalho que poder
servir de introduo e de exemplo para avaliaes de carcter diverso que se pretendam
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realizar, mesmo que em muito menor escala, em qualquer instituio onde a luz, em
especial a solaruma fonte de luz econmica e de grande qualidade , tenha um papel
de destaque para a observao e, em muitos casos, degradao de bens.
Referncias bibliogrficas
Ashley-Smith, Jonathan. 1999. Risk assessment for object
conservation. Oxford: Butterworth & Heinemann.
Ashley-Smith, Jonathan; Derbyshire, Alan e Pretzel, Boris. 2002. The
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Bencatel, Diana Ornellas. 2010. Gesto de risco de dano associado luz
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do Mestrado em Museologia. Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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Buildings: an aid to energy efficiency.Digest 309, parte 1.
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ConservationN. 2, Volume 32: pp. 65-72.
Homem, Paula Menino. 2006 2007. Ferramentas inovadoras para
monitorizao ambiental e avaliao de danos para objectos em museus, palcios,
arquivos e bibliotecas: a exposio luminosa e os dosmetros LightCheck(R).
Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Homem, Paula Menino. 2008. Radiaes electromagnticas visveis/invisveis.
Apresentao Power Point. Apresentada na unidade curricular de Riscos, Museus e
Vulnerabilidades do Mestrado em Museologia. Faculdade de Letras da Universidade do
Porto.
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