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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIACENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
VALTER RIBEIRO JUNIOR
GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN):
UMA ANÁLISE SOCIAL
BELÉM - PA
2013VALTER RIBEIRO JUNIOR
GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN):
UMA ANÁLISE SOCIAL
Monografia apresentada ao Centro de Ciências Humanas e Educação da Universidade da Amazônia, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais.Orientadora: Profa. Dra. Ivone Maria Xavier de Amorim Almeida
BELÉM - PA
2013
VALTER RIBEIRO JUNIOR
GOVERNANÇA SOCIAL E A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROGRAMA DE SANEAMENTO DA BACIA DA ESTRADA NOVA (PROMABEN):
UMA ANÁLISE SOCIAL
Monografia apresentada ao Centro de Ciências Humanas e Educação da Universidade da Amazônia, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais.
Banca Examinadora
_________________________________________________Profa. Dra.Ivone Maria Xavier de Amorim Almeida - UNAMA
Orientadora
_________________________________________________Prof.Ms Rúbia Monteiro Pimentel Lavoura- UNAMA
Examinador
Apresentado em: _____/______/______
Conceito: ______________________
BELÉM - PA2013
Este trabalho é dedicado primeiramente, a Deus, por sua luz constante. Aos meus familiares, pela dedicação e apoio incondicionáveis. E, a todos que lutam por uma sociedade justa e comprometida com seus sujeitos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por sua força e luz constante já que sem
Ele nada teria sido possível;
À minha família pelo apoio e dedicação incondicional que me deu forças de
seguir firme até aqui e ajudaram-me na realização deste sonho que é a Graduação;
Aos amigos de curso pela amizade desprendida e pelo apoio nos momentos
difíceis já que chegar até aqui representou um esforço coletivo;
A todos que fazem da UNAMA este centro de excelência que pode me
fornecer às ferramentas necessárias para o bom desempenho da função e por me
fazer acreditar que daqui pra frente tudo vai ser diferente;
À professora orientadora desta monografia, por sempre ter buscado me
estimular e oferecer-me as melhores condições de diálogo, reflexão e
aprendizagem, estimulando meu lado crítico e meu papel ativo, incentivando-me, dia
após dia na construção deste trabalho e, sendo, para mim, uma verdadeira amiga,
por suas instruções e contribuições.
A todos que, de alguma forma, contribuíram para o sucesso deste trabalho.
A cidadania não é atitude passiva, mas ação permanente, em favor da comunidade.
Tancredo NevesRESUMO
O presente trabalho apresenta uma análise social sobre a questão da governança social e a influência dos stakeholders no Programa de Saneamento da bacia da Estrada Nova, denominado de PROMABEN. O referido programa busca implantar ações de desenvolvimento para a melhoria das condições de infraestrutura e saneamento básico, realizando interesse de qualidade urbana daqueles que moram ou transitam no entorno do empreendimento. O referido programa trará soluções para o mau uso e ocupação do solo urbano e tem como motivação o desenvolvimento urbano ambiental da BHEN, pois o Programa de Recuperação desta bacia (PROMABEN), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tem por objetivo a promoção da melhoria da qualidade de vida da população do município de Belém, em especial da BHEN, através de abordagem sócio-ambiental, da valorização do meio ambiente urbano, mobilização social e redução da pobreza. Esta pesquisa interessa-se pelas possibilidades da consolidação de novas formas de governança urbana, baseadas no princípio da organização em rede, pela identificação e caracterização dos indivíduos e de suas relações e percepções sócias sobre a ação. A pesquisa foi baseada no método de estudo de caso e utilizou-se da observação participante e de entrevistas semiestruturadas como forma de coleta de dados. O estudo revelou que embora o planejamento do projeto se proponha a realizar uma gestão social, os resultados demonstram que, na prática, a parceria existente entre stakeholders, governo e sociedade civil no PROMABEN ainda carece de melhor aplicação das principais características da gestão social: dialogicidade, transparência, democracia deliberativa e cidadania. Assim, é importante pensar em uma Governança Social com o objetivo de buscar a eficiência, que estimulem e agreguem o conhecimento local.
Palavras-chaves: PROMABEN; Stakeholders; Governança Social.
ABSTRACT
This paper presents an analysis on the issue of social governance and social influence of stakeholders in the basin Sanitation Program of the New Road, named PROMABEN. The program seeks to implement development actions for the improvement of infrastructure and sanitation, carrying interest of urban quality of those who live or travel in the vicinity of the project. This program will bring solutions to the misuse and occupation of urban land and is motivated by the development of urban environmental Bhen because the Recovery Program of the basin (PROMABEN), funded by the Inter American Development Bank (IDB), aims to further improving the quality of life of the population of the city of Belém, in particular Bhen through socio-environmental approach, enhancing the urban environment, social mobilization and poverty reduction. This research is interested in the possibilities of consolidation of new forms of urban governance, based on the principle of networking, the identification and characterization of individuals and their relationships and perceptions members about the action. The research was based on the method of case study and we used participant observation and semi-structured interviews as a means of data collection. The study revealed that while planning the project proposes to conduct a social management, the results demonstrate that in practice, the partnership between stakeholders, government and civil society in PROMABEN still needs better implementation of the main features of social management: dialogicity transparency, deliberative democracy and citizenship. Thus, it is important to think in a Social Governance in order to maximize efficiency, to stimulate and aggregate local knowledge.
Keywords: PROMABEN; Stakeholders; Social Governance.
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................
2.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.........................................................................
2.1.1 Empoderamento................................................................................................
2.1.2 A Governança Social........................................................................................
2.2 A ORGANIZAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DE REDES......................................
2.2 OS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL......................................
2.3 OS STAKEHOLDERS....................................................................................
3 METODOLOGIA...............................................................................................
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.............................................................
3.2 O PROJETO PROMABEN.............................................................................
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................
4.1 AS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS NO PROJETO........................................
4.2 OS STAKEHOLDERS ENVOLVIDOS NO PROJETO...................................
4.3 AS ANÁLISES DA SOCIEDADE....................................................................
4.4 O PROCESSO DE GOVERNANÇA ENTRE OS STAKEHOLDERS E
SUAS AÇÕES DE INTERAÇÃO. ........................................................................
5 CONCLUSÃO...................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................
ANEXOS..............................................................................................................
APÊNDICES.........................................................................................................
Introdução; questões teóricas e metodológicas da pesquisa
Esta pesquisa propõe uma análise social sobre a questão da governança
social e a influência dos stakeholders no Programa de Saneamento da bacia da
Estrada Nova, denominado de PROMABEN, desenvolvido pela prefeitura de Belém
no estado do Pará, que desde 2005 conta com o financiamento do Governo Federal
e outros órgãos da iniciativa privada.
As diretrizes nacionais para o saneamento básico foi promulgada, em 2007,
por meio da LEI Nº 11.445/2007. Para os efeitos desta Lei, considera-se
saneamento básico um conjunto de serviços, infraestruturas e instalações
operacionais de: a) abastecimento de água potável, b) esgotamento sanitário, c)
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, d) drenagem e manejo das águas
pluviais urbanas. Em 2011 o Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística
publicou o Atlas de saneamento básico, importante instrumento para aferir a eficácia
da Política Nacional de Saneamento Básico, e as ações governamentais, através de
programas de saneamento, em escala estadual e municipal. Baseado no que
estabelece a lei 11.445/2007, e as informações do Atlas de saneando básico
(IBGE/200011) focaremos o PROMABEN, no estado do Pará, município de Belém.
A Bacia da Estrada Nova é uma das mais populosas bacias hidrográficas que
compõem o tecido urbano do Município de Belém, localizado às margens do Rio
Guamá e Baía do Guajará, cuja superfície é recortada por inúmeros igarapés, muitos
dos quais já canalizados.
O projeto, também chamado de “Portal da Amazônia”, tem o intuito de
melhorar a frente da cidade, abrindo um verdadeiro “janelão” para o rio. Tal
empreendimento, objetiva, também, o saneamento da área e o incremento turístico.
Todavia, problematizar o PRONBEM implica em estabelecer diálogos com as
perspectivas atuais de administração pública – empoderamento; governança social-
e a organização social através de redes – os projetos de desenvolvimento social e
os Stakeholders.
Na contemporaneidade, a administração pública brasileira e mundial vem
passando por transformações estruturais e funcionais, motivadas pelas sucessões
de crises fiscais e pela perda da capacidade do Estado de ser o provedor único do
bem-estar social. Além disso, a própria complexidade dos problemas modernos,
aliada a maiores pressões da sociedade, trouxe à tona a necessidade da reforma da
maneira do Estado existir e operar, para que ele pudesse enfrentar os desafios
lançados pelos novos tempos (Guberman & Knopp, 2009).
No esteio dessas problemáticas, o mundo assistiu, principalmente a partir do
final da década de 1970, nos Estados Unidos, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália,
à emergência de movimentos reformistas no âmbito público estatal, pautados em um
conjunto de princípios, técnicas e procedimentos, visando aumentar a eficiência e a
competitividade do Estado e que ficaram conhecidas como New Public Management
ou, traduzindo para a língua portuguesa, Nova Gestão Pública (NGP).
Sob o viés excessivamente fiscalista, a proposta implementada naqueles
países, embora tenha sido relevante do ponto de vista da redução das despesas
públicas, foi precária para a garantia do atendimento das demandas e direitos dos
cidadãos, o que provocou muitas críticas e levou a uma consequente revisão
conceitual e rediscussão da NGP ao longo da década 80 e 90, do século passado.
No Brasil, a NGP exerceu influência na reforma estatal iniciada em 1995,
tendo sido remodelada ao longo dos anos. A reforma gerencial do setor público
brasileiro surgiu da necessidade de transformar o modelo e o estilo de gestão da
administração pública, para orientá-la em direção a uma maior flexibilidade, à
descentralização, à individualização das responsabilidades e à busca da eficiência
na gestão pública.
Passadas três décadas do surgimento da onda reformista pautada na NGP, e
quase quinze anos do início de sua implementação no Brasil, tem-se discutido, na
agenda política e acadêmica, os seus êxitos logrados e os limites de suas
intervenções até aqui realizadas. São notórias, no Brasil, as suas contribuições para
a melhoria do funcionamento da burocracia pública e para a institucionalização de
alguns mecanismos de controle, como o de resultados (Quirós, 2006), a competição
administrada (Abrucio, 2006) e, em menor grau, o controle social (cunill Grau, 2006).
Anterior à reforma inspirada na NGP, no Brasil já se constatava a existência
de movimentos sociais organizados, que lutavam por maior abertura, transparência
e participação da sociedade civil na gestão pública, ou seja, a cidadania ativa na
formulação, implementação e no controle das políticas públicas.
As mudanças almejadas e provocadas na forma de condução e atuação
pública por esses dois movimentos (NGP e societal) traduzem-se na práxis, na
evolução de um government para uma governance ou da substituição, ainda que
parcial, do governance by hierarchies prevalente na burocracia estatal para novos
padrões de governança (governance) (Firmino, 2008).
Impende elucidar que a emergência da governance não implica na proscrição
do government, visto que o Estado possui legitimidade jurídico-normativa para o
exercício da autoridade que lhe foi outorgada em questões fundamentais como a
fiscalização, a regulação, a legislação, a tributação e arrecadação fiscal e a garantia
de direitos e bem-estar social.
Entretanto, na perspectiva da governance, o Estado passa a compartilhar
responsabilidades, riscos, recompensas e poder com outros atores, e isso implica a
adição de novas formas de uso de sua autoridade (Bourgon, 2010).
Robert Putnam (1993) tornou-se autor referencial nos estudos sobre a
sociedade civil, ao final do século XX e início deste. Ele desenvolveu vários
conceitos que são básicos para entender a questão do empoderamento, tais como
comunidades cívicas e capital social. O conceito de comunidades cívicas foi
caracterizado como "cidadãos atuantes e imbuídos de espírito público, por relações
políticas igualitárias, por uma estrutura social firmada na confiança e na
colaboração" (Putnam, 1993, p. 31).
Putnam (1993) diz que os hábitos democráticos derivam de relações
horizontais, espírito de reciprocidade e cooperação. Entretanto, a sua grande
contribuição foi articular estas formulações com um outro conceito, que ganhou nova
significação nos anos 1990: o de "capital social". Para ele, o conceito de comunidade
é impregnado de individualismo e o de capital social firmou-se nos círculos
intelectuais americanos para substituí-lo.
Para Putman,
capital social deve ser analisado por analogia com as noções de capital físico e capital humano, ferramentas e treinamento para intensificar a produtividade individual o cerne da idéia da teoria do capital social é que as redes têm valor...[..] Enquanto capital físico refere-se a objetos físicos e capital humano refere-se a propriedades dos indivíduos, capital social refere-se à conexão entre indivíduos, redes sociais e às normas de reciprocidade e lealdade que nascem deles. Neste sentido, capital social é claramente relatado como algo chamado "virtude cívica". A diferença é que "capital social" chama atenção para o fato de que a virtude cívica é mais poderosa quando imersa numa densa rede de relações sociais recíprocas. Uma sociedade de muitos indivíduos virtuosos, mas isolados, não é necessariamente rica em capital social " (Putnam, 2000, p. 18-19).
No contexto de sucessivas crises de endividamento e da incapacidade do
estado de promover o bem estar social a partir da década de 80, a gestão pública
passou e vem passando por transformações funcionais e estruturais visando se
adequar dentro dos padrões do regime neoliberal de ajustes econômicos e de
políticas sociais compensatórias (PINHO, 2010). Essa série de reformas que
perpassaram por gerações de experiências e que ficou conhecida como A New
Public Management ou a Nova Gestão Pública (NGP) visava uma maior eficiência,
efetividade e competitividade do estado, onde, no Brasil essas reformas se
direcionaram para uma maior flexibilidade, descentralização, individualização das
responsabilidades e á aplicação de princípios éticos na redefinição do papel do
estado (ALCOFORADO E KNOPP, 2010).
Reforçando essa postura da sociedade civil, Denhardt e Denhardt (2003)
ressaltam que o
“ser humano é, antes de mais nada, um ser político que age na comunidade; que a comunidade politicamente articulada requer a participação do cidadão para a construção do bem comum; e que o bem comum precede a busca do interesse privado”.
Nesse contexto segundo Firmino (2011),
a atividade pública passando pelas medidas da NGP, vai experiênciar o surgimento de uma administração fragmentada, desarticulada, decorrente da tendência para a criação das agências, da privatização, da contratação externa e cita como exemplo as parcerias público-privado (PPP) na adoção de formas híbridas de organização como medidas para compensar a falta de integração e cooperação dos agentes sociais, não só essa como também existindo as organizações sociais (OS), as relações tri-setoriais, a intersetorialidade, ações locais de desenvolvimento e outras como modelos de gestão social.
Nesse sentido então é notório falar de governança pública como a relação
que se expande, saindo do isolamento intraorganizacional e buscando se inter-
relacionar-se com outros atores da sociedade partindo-se da antiga governança
pública – a governancebyhierarchies – onde predomina uma teia de relações
verticais pautada nas hierarquias (FIRMINO, 2011), para uma nova governança, que
para Martins (1998), seria o inverso da publicgovernance considerada pelo mesmo
como sendo estadocêntrica.
Neste sentido, governança é um conceito-chave para explicar estruturas e
processos relacionais complexos em diversas instâncias e níveis, tanto no seio da
sociedade civil quanto das organizações do Estado e da iniciativa privada – e entre
todos eles. O conceito é demarcador de relações sociais e organizacionais
alternativas àquelas baseadas no centralismo decisório unidirecional, propondo a
transição de uma gestão monológica para uma gestão mais dialógica. Falar em
governança é falar em distribuição de poder entre os atores, transparência e controle
(mútuo) sobre decisões e ações.
Adjetivar a governança em função do contexto no qual ela é praticada é
exercício básico para que se possa delimitá-la no plano teórico. Quando a
governança ocorre no âmbito das organizações de mercado, denominamos
governança corporativa. Quando se operacionaliza no âmbito das organizações ou
interorganizações da sociedade civil (terceiro setor) atribuímos o nome de
governança comunitária.
Quando esse processo se dá no âmbito das organizações públicas estatais,
em um ou mais níveis federativos (multi-level public governance), atribuímos, aqui, o
nome de governança pública. Já quando é praticada em arranjos organizacionais de
composição plural, envolvendo agentes estatais e não estatais, públicos e privados
com ou sem fins lucrativos, para a co-gestão da coisa pública (defesa de interesses
públicos, co-produção de bens e serviços para a promoção do bem-estar social),
denominamos governança social. É social porque se considera a sociedade como
um todo, composta por três esferas de poder institucionalizadas: Estado (nos níveis
federal, estadual e municipal), terceiro setor, iniciativa privada.
Nessa totalidade social o Estado é apenas parte constituinte – e não por isso
menos relevante. É social porque envolve a participação de outros atores sociais –
do mercado e do terceiro setor – na feitura, na implementação, no monitoramento e
avaliação de políticas, programas e projetos públicos, junto ao Estado.
Na perspectiva da governança social existem três dimensões ou finalidades
de interação público-privado-sociedade civil, ou seja, a atuação conjunta dos três
setores para: (i) a construção coletiva da agenda estratégica pública – assegurando
maior legitimidade; (ii) a implementação de políticas e/ou a produção de bens
públicos e privados; e (iii) o acompanhamento, o monitoramento e a avaliação da
política, programa, projeto, ação ou omissão pública através de diversos
mecanismos e canais democráticos de prestação de contas – assegurando
transparência, accountability e o efetivo controle social (adaptado de MARINI, 2008).
Próximo ou correlato ao conceito de governança social aqui proposto está o conceito
de intersetorialidade (FISCHER et. al., 2003) – ou parcerias, alianças e redes tri-
setoriais (TEODOSIO, 2009), os diálogos, as conexões e intercâmbios que se
estabelecem entre os agentes dos três setores sociais para a solução de problemas
complexos.
Nesse modelo, constituir-se-ia uma economia mista, com o compartilhamento
de bens e serviços públicos e privados pelos atores dos três setores. Para a
promoção mais efetiva do desenvolvimento pelas políticas, projetos ou ações
públicas é de extrema importância a prática da governança social intersetorial em
consonância com a realidade e a dinâmica (territorialidade) dos territórios sobre os
quais elas incidem.
A territorialidade refere-se às relações que se processam nos territórios,
remetendo ao cotidiano da população; às relações entre o Estado, a sociedade civil
organizada e cidadãos, que com interações políticas, econômicas, sociais e
simbólico-culturais transformam o território em um ente vivo (SANTOS, 2006).
Segundo Fontes Filho e Louzada (2009)
a governança social é construída a partir do descentramento de tomada de decisões sobre as necessidades e demandas de determinado grupo de interesses exigindo o compartilhamento de responsabilidades dos atores envolvidos, onde o estado junto com o setor privado e com as organizações da sociedade civil passam a agir de maneira articulada em rede na formulação, implementação, execução e avaliação das politicas e programas sociais.
Dessa forma as fronteiras entre os três setores tornam-se menos rígidas,
havendo maior permeabilidade entre o estatal e o não estatal onde estado e
sociedade tornam-se um todo indivisível estabelecendo-se um encadeamento lógico
de atribuições e compromissos de cada parte. (BRESSER-PEREIRA, 1998).
Já a definição de Governança utilizada vem de Bresser-Pereira (1998), está
ligada à forma com que se utilizam os recursos e a capacidade para
transformar em realidade, de modo eficiente, as políticas públicas formuladas pelos
governos no regime democrático. Governança e governabilidade são conceitos que,
muitas vezes, se confundem, pois não estão consolidados na sociedade. Enquanto
governabilidade se refere á capacidade política de um governo de agir conforme os
seus apoios representativos e da sociedade, “governança é a capacidade financeira
e administrativa, em sentido amplo, de um governo implementar políticas.” Por esse
conceito de governança adotado, é importante distinguir, também, para fins
didáticos e de aplicação aos trabalhos, a governança pública da governança social.
A governança pública refere-se à estrutura organizacional e de meios que um
determinado ente federativo disponha para exercer sua função de Estado e que
viabilize a realização dos seus programas e projetos sociais. Enquanto que a
governança social é a estrutura social existente numa determinada localidade,
também para viabilizar a ação social e o desenvolvimento, só que nesse caso não
só do Governo do ente federado, mas também das demais instituições que
compõem a sociedade, como o mercado e a sociedade civil.
Enquanto a governança pública está relacionada ao aspecto interno da
administração pública, à sua máquina administrativa, a governança social está
ligada às relações formadas entre as instituições do Estado, mercado e
terceiro setor em uma determinada localidade, que se manifesta, especialmente,
pelas inter-relações estabelecidas entre elas e pela complementaridade de suas
ações, tendo sempre o Estado como coordenador desse processo.
O modelo de governança pública prevê uma nova organização da
máquina administrativa do Estado para atuar segundo suas novas funções e papéis,
especialmente no momento de reformas do final do século XX e após a Constituição
Federal de 1988, em que o Estado se torna o organismo central da sociedade, que
articula o mercado e a sociedade civil, além de suas próprias organizações,
para atuarem segundo seus papéis. Paraisso, esse mesmo Estado necessita
ter instituições fortes e ágeis.
Conforme Bresser-Pereira (2007):
Além de ser capazes de construir democraticamente uma estrutura legal adequada à consecução dos objetivos da sociedade, a organização do Estado ou a administração pública deve ser eficaz e eficiente no fornecimento dos serviços exigidos pelos eleitores.
Segundo Bresser-Pereira (2007),
o modelo estrutural de governança pública, proposto pela reforma da gestão pública de 1995 é importante para o Estado, independente da ideologia do governante, pois possibilita que o Estado possa atuar como articulador das instituições da sociedade, junto ao mercado – promotor do desenvolvimento – e as entidades da sociedade civil, para promover o desenvolvimento econômico e a justiça social.
O reconhecimento de que as organizações não contemplam em si mesmas
todos os recursos e competências necessárias para uma oferta compatível com a
demanda é um dos fatores que remete as organizações a afirmarem suas ações
articuladas de complementaridade em redes. Segundo Rodrigues (2006), a palavra
rede vem do latim retis, que significa teia, tratando-se de um entrelaçamento de fios
que formam uma espécie de tecido de malha aberto. O termo vem ganhando novos
significados, entre eles, a relação de pessoas e organizações que mantêm contato
entre si com um objetivo comum.
O conceito de redes aparece como chave cognitiva privilegiada na compreensão das mudanças de grande magnitude que ocorrem nas esferas políticas, econômicas e sociais. Alguns pré-requisitos para a formação de redes são apresentados a seguir: 1) No plano social, a preexistência de um conjunto de organizações e/ou associações criadas para a consecução de propósitos específicos; 2) No plano estatal, a preexistência de um conjunto de órgãos instituídos para a consecução de propósitos específicos, distribuídos por esferas e setores de governo relativamente estanques; 3) Situações-problema complexas identificadas; cujo enfrentamento requer intervenção por agente intersetorial ou interorganizacional; 4) Formação de uma articulação visando formas de atuação conjunta e à cooperação de diversos esforços voltados ao enfrentamento da situação-problema, sem prejuízo da autonomia de cada uma das unidades integrantes da rede; 5) Manutenção da identidade e prosseguimento das atividades específicas de cada unidade integrante da rede. (MINHOTO; MARTINS, 2001, p. 92).
Ainda segundo Minhoto e Martins (2001)
as mudanças no modelo organizacional de hierarquia para o de estado-rede vai se constituir como uma das marcas significativas das reformas implementada através de novos arranjos institucionais permeada por uma alta performance estratégica tendo como características principais a horizontalidade dos saberes, autonomia dos participantes e compartilhamento de informações.
Marshall (1982) destaca que a aglomeração das organizações em estruturas
de redes resulta em maior competitividade em relação a outras organizações
dispersas no sistema econômico, tendendo a desenvolver formas de ações
conjuntas, que possibilitem ganhos de eficiência e de competitividade.
As observações anteriores ganham força por meio de estudos de vários
autores, que colocam a capacidade de geração de vantagens competitivas como
uma das principais características dessa forma de cooperação em redes, dentre
eles: Garcia (2001), Porter (1998), Schmitz (1992) e Scott (1994).
Há várias razões para as empresas cooperarem em redes horizontais. Essas
razões observam as diferenças de objetivos estratégicos, de posições de mercado,
ações atuais e passíveis de outras empresas e o status corrente da própria
empresa. Observando-se a teoria da dependência de recursos, pode-se afirmar que
as empresas cooperam em redes pela busca de recursos valiosos que elas não
possuem. (KASA, 1999 apud PEREIRA; PEDROZO, 2003).
A estrutura de redes está diretamente relacionada à cooperação entre
diferentes atores. Segundo Casarotto e Pires (2001), a sistemática de redes se
apresenta de duas formas. A primeira é a rede do tipo topdown, na qual uma
organização pequena pode tornar-se fornecedora ou sub-fornecedora de uma
empresa mãe, sendo uma rede na qual as pequenas organizações dependem
diretamente das estratégias da empresa-mãe, tendo pouca ou nenhuma flexibilidade
e influência nos destinos do grupo.
O segundo tipo de rede, ainda segundo Casarotto e Pires (2001), é um
sistema flexível de organizações considerado o sustentáculo de sociedades
altamente desenvolvidas. Nesse caso, as empresas se unem por consórcio com
objetivos amplos ou mais restritos, sua relação cultural é altamente relevante e sua
concretização está fortemente ligada aos modelos de desenvolvimento regional.
Esse tipo de relação está chamando a atenção de vários pesquisadores do mundo
pela possibilidade de geração de empregos e de assegurar desenvolvimento
sustentado.
Algumas possibilidades de abrangência são observadas no sistema de
consórcios: fabricação do produto, valorização do produto, valorização da marca,
desenvolvimento de produtos, comercialização, exportação, padrões de qualidade,
obtenção de créditos, capacitação, entre outras.
A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico- OCDE -
define “local” como um espaço que detém uma identidade, uma dinâmica própria e
especificidades que mantêm as relações de interdependência com áreas mais
vastas. No Brasil, o que se denomina “local” remete à esfera municipal, que é um
ambiente que não oferece uma grande variedade de atores, nem as condições
de informações e facilidades de comunicação suficientes para garantir os laços
entre as diferentes redes sociais, que são fatores importantes para as ações de
desenvolvimento.
Para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES,
o desenvolvimento local é uma estratégia que atravessa os âmbitos empresariais, institucionais e da sociedade civil e busca construir o “sentido de comunidade local”, inicialmente a partir da construção de uma identidade territorial, evoluindo em seguida para a sustentabilidade dos projetos de ações desenvolvimentistas. Isto aponta para diferentes caminhos segundo as características e capacidade de cada economia, recursos e capital social da comunidade.
Segundo Arns et al (2004),
a inserção econômica e social das populações carentes é um grande desafio para os governos e sociedade. No entanto, os meios e instrumentos para viabilizar essa inserção são de difícil implementação.
Em nível conceitual, estão surgindo alguns consensos quanto às estratégias
que levem nessa direção, como participação, autonomia, descentralização,
integração de ações e controle social. No entanto, o desafio maior é
transformar em prática estas proposições nas quais se confundem aspectos técnicos
e ideológicos.
De acordo com Ávila (2001),
os governos têm sido pressionados pela comunidade nacional e internacional, pela sociedade civil organizada e por usuários dos serviços públicos a apresentarem maior eficiência na aplicação dos recursos orçamentários e efetividade nos resultados esperados das políticas e programas sociais.
A mesma pressão se faz sobre as organizações não -governamentais
que, subvencionadas com recursos estatais, de agências multilaterais e da
iniciativa privada transitam entre o campo privado e o público, muitas vezes com
pouca clareza sobre sua atuação.
Evidenciando a reflexão sobre o turismo sustentável, coloca-se em questão O
Programa de Reabilitação Urbana e Ambiental da Bacia da Estrada Nova
(PROMABEN), mais conhecido como “Portal da Amazônia”, uma proposta de
intervenção na orla sul da cidade de Belém, com a pretensão de revitalizar a orla
para fins de lazer e turismo. O PROMABEN na sua essência, trata-se de um
programa que engloba vários projetos; prevê a abertura da orla de Belém até a
Universidade Federal do Pará, com seis pistas, de 70 metros de largura, com área
de passeio, estacionamento e ciclovia. Parte do espaço deverá ser reservada para
área de lazer, incluindo quadras de esporte, áreas com equipamentos de ginástica,
restaurantes e quiosques, nos moldes das orlas construídas nos grandes centros,
como Recife e Rio de Janeiro.
O uso do termo stakeholder começou a se generalizar recentemente, no final
da década de 80, cujo marco foi o trabalho de R. Edward Freeman em Strategic
Management: a Stakeholder Approach, publicado em 1984.
O objetivo principal desta teoria era oferecer aos empresários e executivos
uma ferramenta para compreenderem os interesses e os desejos do “outro”
(isto é, dos stakeholders, definidos como os indíviduos afetados e/ou
interessados, direta ou indiretamente, pelos empreendimentos econômicos) e
aprender a lidar, estrategicamente, com eles e a gerenciar as diferentes
percepções e interesses.
Para desenvolver tais estratégias, segundo ele, seria necessário responder
a três perguntas básicas sobre seus stakeholders: 1. Quem são eles? (seu perfil,
atributos e características de comportamento)2. O que eles querem? (refere-se aos
seus interesses e metas) 3. Como eles tentarão atingir suas metas e satisfazer seus
interesses? (esta questão é relativa aos meios para se alcançar os fins)
Como uma figura de retórica, o “capitalismo de stakeholder” fornece uma
visão mais amplae inclusiva do papel e das responsabilidades das empresas
na sociedade, além de apenas remunerar seus acionistas. O termo apenas
recentemente foi incorporado ao contexto legal, enquanto que o termo shareholder
(acionista) já é utilizado há muito tempo.
Os stakeholders de uma companhia têm poder porque carregam um
“stake” (um bastão, de madeira ou metal), simbolicamente entendido como uma
poderosa arma capaz de destruir a empresa quando seus interesses não são
satisfeitos. Os chamados stakeholders voluntários são aqueles que suportam
alguma forma de risco em antecipação a alguma forma de ganho, ou incremento de
valor. São eles: os acionistas, os empregados, os fornecedores, e os consumidores.
E os stakeholders involuntários estão expostos ao risco sem conhecimento prévio e
sem garantia de benefício: o governo, as comunidades e o meio ambiente.
O diálogo com grupos de interesse é uma metodologia participativa, de
consulta social, que mapeia e caracteriza o perfil de cada stakeholder e capta sua
percepção e as suas expectativas sobre uma determinada empresa e sua atividade.
A coleta de dados é feita de forma sistemática, executada por uma
equipe multidisciplinar, orientada para obter, no menor tempo possível, e
evitando-se gastos excessivos, novas informações e hipóteses. Foi desenvolvido
como uma alternativa às tradicionais análises sobre a situação social nos países
em desenvolvimento, que envolvem coleta exaustiva de dados e um grande
número de pesquisadores, durante um longo período de tempo, acarretando num
aumento substancial dos custos de pesquisa.
Além disso, ao incorporar a consulta direta a indivíduos representativos dos
grupos e técnicas de dinâmica de grupo, faz emergir uma série de demandas,
expectativas e problemas não captados através dos canais fixos e formais de
comunicação.
Durante as dinâmicas coletivas, criam-se oportunidades para a população
local colaborar ativamente não só no levantamento dos dados, mas, também,
na construção da análise, aportando, a esta, particularidades do sistema e
“insights” pessoais suscitados pela dinâmica coletiva.
O programa de consulta sistemática aos stakeholders fornece,
fundamentalmente, um quadro das tendências comportamentais e das possíveis
estratégias a serem adotadas pelos diferentes grupos de interesse face a uma
determinada situação. Neste sentido, é um instrumento apropriado para captar a
dimensão de subjetividade existente em todo e qualquer processo de escolhas e de
decisão estratégica dos atores sociais.
As técnicas de Diálogo com os Stakeholders passaram a ser cruciais, não
apenas na comunicação interna dos órgãos responsável de um projeto, mas
também, na formulação da estratégia que visem expressar o compromisso com a
sociedade.
Assim, o objetivo geral desta pesquisa é investigar as possibilidades da
consolidação de novas formas de governança urbana, baseadas no princípio da
organização em rede, identificando e caracterizando os envolvidos.
De forma específica, quer-se verificar os interesses dos diferentes
stakeholders, a partir de suas metas, interesses e meios de ação; identificar o nível
de interação entre os satakeholders; caracterizar as instituições envolvidas; analisar
a percepção da sociedade e de todos os envolvidos quanto aos reais objetivos e
alcances da ação; analisar o processo de governança entre os stakeholders e suas
ações de interação.
A pesquisa busca salientar diferenças no que diz respeito aos motivos
ideológicos que estimularam a ampliação da participação pública ao processo de
concretização das práticas interativas e, finalmente, aos atores sociais a cujo
fortalecimento se visa por meio de novos arranjos políticos, bem como também
busca enfatizar as diferentes percepções da sociedade civil sobre a ação envolvida.
Partindo de uma reflexão teórico-conceitual sobre a concepção da
governança urbana, este trabalho pretende discutir a experiência do Portal da
Amazônia, envolvendo a participação pública na cidades de Belém, no que diz
respeito à sua possível contribuição para consolidar novo modo de governança
urbana, alinhado com as potencialidades da emergente sociedade em rede e capaz
de lidar com as crescentes tensões e contradições que caracterizam as cidades
contemporâneas.
Desta forma, metodologicamente, propõe-se o método qualitativo para servir
de base a pesquisa. Uma pesquisa de abordagem qualitativa se faz necessária, pois
segundo Minayo (2007), essa abordagem trabalha com o universo dos significados,
dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Os
fenômenos humanos passam a ser entendido como parte da realidade social, pois o
que distingue o ser humano não é só o agir, mas o pensar sobre o que produziu e
por interpretar suas ações a partir da realidade vivida.
A pesquisa de campo, segundo Duarte (2002, p. 152) “implica incorporar
referências teórico-metodológicas de tal maneira que se tornem lentes a ferramentas
invisíveis a captar sinais, recolher indícios, descrever práticas, atribuir sentido a
gestos e palavras”. Corresponde à coleta de informações no local onde o fenômeno
ocorre. A confiabilidade e legitimidade de uma pesquisa empírica dependem,
fundamentalmente, da capacidade de o pesquisador articular teoria e empiria em
torno de um objeto, questão ou problema de pesquisa, demanda esforço, leitura e
experiência.
No processo de coleta de dados, foram realizadas entrevistas com 20
sujeitos- moradores de áreas do entorno do projeto PRONABEM e Portal da
Amazônia. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, cuja estrutura
investigativa pretendeu traçar um perfil desses sujeitos – STAKEHOLDERS – quem
são? O que almejam? quais expectativas possuem em relação a essas obras?
Desta forma, este trabalho visa chamar atenção para os impactos
socioculturais e econômicos do Programa Portal da Amazônia para a comunidade
do bairro do Jurunas na capital paraense, bem como verificar de que forma a
comunidade está sendo beneficiada e incluída socialmente no Programa.
1- O que é o projeto PRONABEM?
O Programa PROMABEN contempla um conjunto de obras nos canais
principais das sub-bacias da Bacia da Estrada Nova. As obras envolvidas são de
caráter repetitivo e por este motivo o programa se estrutura a partir de uma amostra
representativa de investimentos composta de intervenções nos canais Caripunas,
Timbiras e Bernardo Sayão.
As obras da Bacia da Estrada Nova fazem parte de um extenso projeto da
Prefeitura Municipal de Belém (PMB), com recursos próprios e financiamento do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por meio de empréstimo contraído
pela PMB. As obras vão começar na Rua Veiga Cabral, no bairro da Cidade Velha, e
seguirão até a Avenida Fernando Guilhon, na Cremação. Depois chegarão aos
bairros de Nazaré, Cremação, Jurunas, Batista Campos, Condor, São Brás e
Guamá. Em todo percurso serão promovidas ações de recuperação de canais e
urbanização completa das áreas, entre outros serviços como capacitação
profissionalizante, formação de empreendedores e educação ambiental. Pois, o
PROMABEN é um programa cujo objetivo é a recuperação da bacia da estrada
nova, um ambiente tomado completamente pela ocupação desordenada, área com
indicadores sanitários e epidemiológicos altíssimos, devido a precárias condições de
vida dos mais de 300 mil habitantes que ocupam esta área.
Figura 01 – Imagem aérea do Portal da Amazônia
Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazônia
O Banco Interamericano de Desenvolvimento está financiando este projeto
para o município de Belém, com o a finalidade de conservar o meio ambiente
equilibrado, promovendo a sustentabilidade ambiental do uso e ocupação do solo.
O projeto Portal da Amazônia é composto por dois grandes projetos: a
Macrodrenagem da Estrada Nova e a Orla de Belém, seguido pela abertura da orla
até a Universidade Federal do Pará, e este projeto é formado por parcerias entre o
Governo Federal e órgãos de iniciativa privada.
O Projeto tem como alvo beneficiar a vida de mais de 200 mil pessoas
melhorando o saneamento da área e incrementando o turismo. Para execução
completa de toda a obra, a prefeitura tem buscado parcerias com os governos
Federal e Estadual, além de recursos, através de financiamento do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), e apoio da iniciativa privada. O projeto prevê a
abertura da orla até a Universidade Federal do Pará, com seis pistas, de 70 metros
de largura, com área de passeio, estacionamento e ciclovia.
O projeto foi desenvolvido pela prefeitura de Belém que tem por objetivo torna
o PORTAL da AMAZÔNIA uma iniciativa de desenvolvimento à cidade de Belém,
tanto na parte de infra-estrutura, visando à proteção do Rio Guamá para controlar a
entrada da água quando coincide o período de chuvas com a cheia da maré, o
saneamento da área em que constitui o projeto, quanto na parte estética da cidade,
que em meio à implantação deste empreendimento se formaria um “janelão” na
frente da cidade de Belém, ampliando o seu campo de turismo gerando emprego e
renda em meio à entrada e saída de turistas à cidade.
A formação do turismo através do PORTAL da AMAZÔNIA gera o
desenvolvimento local, progredindo a integridade cultural através da conservação e
uso dos recursos naturais ligados as necessidades econômicas, sociais e estéticas,
visando contribuir para as oportunidades sociais com a geração de emprego e
viabilidade competitiva da economia. Outro fator de grande ênfase no programa do
PORTAL da AMAZÔNIA seria a Reabilitação Urbana e Ambiental da Bacia da
Estrada Nova, devido ao fato de existir a proposta de intervenção na orla da cidade
visando para fins de lazer e turismo. A ilustração abaixo apresenta o projeto em sua
versão original:
Figura 02 : Projeto Portal da Amazônia
Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia
2- O discurso oficial
O Portal da Amazônia tem a missão de “mudar a cara da cidade” sem
esquecer as características ribeirinhas da área envolvida no bairro do Jurunas, com
habitações ainda sem saneamento básico, água encanada e algumas sob o rio
extravasando seus dejetos no mesmo.
Figura 03 – Vista aérea do Portal da Amazônia – Maquete eletrônica
Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia
O projeto urbanístico do Portal da Amazônia, pelo menos em sua versão
original, privilegia a paisagem do lugar. Toda estrutura do complexo permite “olhar o
rio” em toda sua extensão. A pouca arborização do espaço sinaliza para a vasta
dimensão de água que se estende para além da dimensão da cidade, com
visibilidade que alcança a região das ilhas, pelo menos aquelas que ficam de frente
para a cidade de Belém.
Porém, o próprio discurso afirma que o Programa seguirá os moldes das orlas
construídas nos grandes centros brasileiros, como Rio de Janeiro e Recife, que têm
realidades sócio-espaciais bem diferentes da realidade belenense.
A intervenção urbana está dividida em quatro eixos, o primeiro visa à melhoria
da drenagem urbana, o qual inclui a micro e a macrodrenagem, no sentido da
construção de sistemas de drenagem de águas pluviais, proteção de cabeceiras,
construção e adequação de canais, implantação de galerias e coletores pluviais,
responsabilizando-se também pelo reordenamento e reassentamento de famílias
através do desenvolvimento de soluções habitacionais para as pessoas que vivem
nestes locais. O segundo eixo visa à infra-estrutura viária, que inclui a construção de
vias ao longo dos canais de drenagem e a via do rio Guamá que receberá o
tratamento urbano-paisagístico e será interligada a parques lineares.
Na sequência, o terceiro eixo é o de infra-estrutura de saneamento, o qual
financiará as inversões em serviços de água potável e esgotamento sanitário das
comunidades reassentadas. O último visa à sustentabilidade social e institucional,
que inclui três programas: participação comunitária, comunicação social e educação
ambiental (BELÉM, 2007).
No discurso oficial, o projeto da Macrodrenagem pretende beneficiar
diretamente 200 mil famílias que moram próximas do canal que se estende ao longo
da Av. Bernardo Sayão. Uma área que apresenta altos índices de pobreza e
insalubridade e que, pelo projeto, será transformada com limpeza e recuperação do
canal, com instalação de drenagem e esgoto, além da construção de ruas e
calçadas urbanizadas com áreas de lazer. O projeto ainda prevê a construção de
novas moradias e indenizações para as famílias que deverão ser realocadas em
função das obras.
Para a execução da Macrodrenagem, a Prefeitura de Belém conta com um
financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no valor de
U$135 milhões. Sob a coordenação do Programa de Saneamento da Bacia da
Estrada Nova (PRONABEM), a construtora Andrade Gutierrez é responsável pelas
obras previstas para o trecho entre a Rua Av. Veiga Cabral à Av. Fernando Guilhon
e adjacências, com contrato no valor de R$149.533.106,38. Já a Orla de Belém vem
para complementar o projeto da Macrodrenagem, ampliando os benefícios para os
moradores da área e de toda a capital paraense. De acordo com dados do projeto,
serão 6 km de orla entre o Mangal das Garças e a Universidade Federal do Pará:
uma verdadeira janela voltada para o Rio Guamá, equipada de infraestrutura
adequada para a prática de esportes ao ar livre, realização de eventos, turismo e
lazer. A Andrade Gutierrez também é responsável pelas obras da Orla de Belém,
sob a coordenação da Secretaria Municipal de Urbanismo. Abaixo, algumas imagens
do Portal da Amazônia, com seus espaços voltados para a prática de esportes,
turismo e lazer:
Figura 04 – imagem de uma das quadras polivalentes
Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia
Figura 05 – Vista da orla do Portal da Amazônia
Fonte: www.prefeituradebelemqportaldaamazonia
Figura 05 – Vista de um dos quiosques do Portal da Amazônia
Fonte: www.prefeituradebelem/portaldaamazonia
À primeira vista, podemos pensar o Portal da Amazônia e todo projeto da
Macrodrenagem como derivada de hábitos democráticos (PUTNAM,1993),
derivados de relações horizontais, espírito de reciprocidade e cooperação. E, por
conseguinte, seu projeto – desde a fase de planejamento à execução – contou com
a participação efetiva do “capital social” (PUTNAM, 1993) diretamente envolvidos –
os Stakeholders.
Na mesma proporção, o projeto PRONABEM pode ser pensado como fruto de
uma gestão social, cujo eixo pauta-se na garantia de participação, autonomia,
descentralização e integração de ações e controle social por parte das comunidades
envolvidas. Já que os governos, pressionados por setores nacionais e
internacionais, assim como pela sociedade civil organizada, tendem a apresentar
maior eficiência no planejamento e aplicação de recursos voltados para programas
de políticas sociais.
Todavia, quando se investiga o outro lado do projeto, ou seja, os
Stakeholders, a visão desses sujeitos se contrapõe ao discurso oficial e seus
discursos revelam a visão unilateral da ideia de progresso e desenvolvimento social
legitimada nos documentos e falas oficiais. Eis o que vamos tratar no próximo tópico.
3- O outro discurso: a visão dos Stakeholders
Como já foi ventilada na introdução deste texto, a categoria Stakeholder foi
utilizada foi utilizada nos estudos sobre gestão social por R. E. Freeman (1984). Tal
categoria passou a se constituir em ferramenta utilizada por empresários e
executivos na busca da compreensão sobre interesses e desejos do “outro” –
indivíduos afetados e/ou interessados, direta ou indiretamente, pelos
empreendimentos econômicos. De acordo com o autor, antes de desenvolver
qualquer estratégia de desenvolvimento econômico, seria necessário responder a
três perguntas sobre os Stakeholders: quem são? O que querem? Como irão atingir
suas metas e satisfazer seus interesses?
No processo de realização da pesquisa de campo mantivemos contato com
vinte sujeitos, moradores em áreas diretamente afetadas pelo projeto PRONABEM e
Portal da Amazônia. Neste estudo tais sujeitos são considerados stakeholders. Na
esteira de Freeman (1984), procuramos direcionar as entrevistas, tentando traçar um
perfil destes sujeitos, indagando sobre as perguntas –chave e, para além, tentando
sobretudo compreender qual a visão que possuem sobre o projeto PRONABEM e
Portal da Amazônia.
Os vinte sujeitos entrevistados são homens e mulheres que residem na Av
Bernardo Sayão - em travessas, ruas e passagens que margeiam esta avenida - ,
inseridos na faixa etária de 29 a 75 anos. Deste universo investigado, 45%
desenvolvem atividades informais – são vendedores ambulantes, biscateiros,
lavadores de carro. Já 55% estão inseridos no mercado formal de trabalho –
vendedores de lojas no Centro Comercial de Belém, empregadas domésticas e
agentes de saúde. Uma parcela significativa, 63% advém da região das ilhas –
Combu, Cotijuba, Acará. Apenas 37% diz ter nascido em Belém, no mesmo espaço
que estão até hoje, como ilustra a fala de D. Maria:
[...] eu nasci aqui. Meu pai e minha mãe vieram de Abaetetuba para
trabalhar aqui. Viemos todos, eu e meus irmãos. Essa casa é minha. Meu
pai construiu a dele ai na frente e aqui atrás é de todos os filhos. Quando
chegamos, aqui era um alagado só. Não tinha rua, era estiva. Quando
chovia, isso alagava tudo. (D. Maria do Perpétuo Socorro. Moradora da
Pass. União. Vendedora ambulante. Entrevista concedida em 03 de maio de
2013)
O nível de escolaridade dos entrevistados oscila entre 1º grau incompleto –
58% e 2º grau completo – 42%. Deste universo, as mulheres se destacam. 83%
concluíram o 2º grau. Este dado permite compreender porque as mulheres
investigadas possuem maiores remunerações – em média 1 salário mínimo e meio –
em se comparando com os homens, que possuem média de remuneração entre
meio a um salário mínimo.
Das unidades domésticas, apenas 23% possuem sanitário próprio. O
restante, ou seja, 77% não possuem, fazendo uso de espaços coletivos – banheiros
e sanitários existentes nas vilas.
Estes sujeitos, quando começaram a ter conhecimento a respeito do projeto
PRONABEM e Portal da Amazônia, criaram expectativas positivas. Acreditaram que
suas vidas iriam mudar para melhor, principalmente em relação à moradia. Sobre
este fato, Seu Domingos diz:
Quando os funcionários da prefeitura vieram fazer a inscrição da gente,
pegar os dados, ver as casas, eles informaram que ia acontecer esse
projeto, que a gente ia se cadastrar para o programa de moradia, que as
casas iam ser de alvenaria e que a gente ia ser indenizado. Todo mundo da
rua começou a ficar feliz, né? A gente ia finalmente ter uma vida melhor[...]
como era muita gente, o pessoal da prefeitura disseram que ia primeiro os
moradores mais antigos, mais velhos, né? Mas até hoje eu não sei lhe dizer
como estão fazendo essas coisas. A gente não tem informação. O pessoal
da associação de moradores já foi na prefeitura, mas não informam direito,
só dizem que estão estudando[...] e a gente continua desse jeito (Seu
Domingos da Costa. Vendedor ambulante. Morador da passagem Feliz.
Entrevista concedida em 08 de setembro de 2012)
Dona Conceição tem visão semelhante a de seu Domingos e diz que:
[...] depois que a prefeitura reunião com a gente, todo mundo ficou cheio de
esperança. Na conversa os funcionários ficaram perguntando da gente o
que a gente achava do projeto, o que a gente queira, se ia melhorar a vida
da gente, essas coisas. O pessoal ficou feliz, achando que ia mudar, que os
nossos filhos iam ter espaço pra brincar, que a gente ia sair da lama, mas
ainda está tudo do mesmo jeito. (D. Conceição Silva. Comerciária. Moradora
da Passagem Coração de Jesus. Entrevista concedida em 08 de setembro
de 2012).
A conclusão da primeira parte do Portal da Amazônia não é vista da mesma
maneira pelos entrevistados. 25% considera uma obra importante para a cidade e
75% acredita que a obra não trouxe nenhuma melhoria para os moradores da área.
No grupo dos que consideram a obra importante para Belém está D. Orlandina que
diz:
Eu achei maravilhoso. É tudo muito bonito, né? Eu consegui montar minha
banca de bombons e vendo lá. Bem perto do quiosque. É dessa venda que
eu tiro meu sustento e sustento meus filhos. Então, eu posso dizer que pra
mim melhorou, né? (D. Orlandina Pereira. Moradora da Av. Bernardo Sayão.
Entrevista concedida em 08 de setemro de 2012)
Já no grupo dos que não observam nenhuma melhoria para os moradores da
área, a fala de D. Maria é significativa, quando diz que:
[...] eu não vejo melhorias nenhuma pra gente daqui. A gente
continua sem saneamento. O aterramento só ficou lá no início, aqui continua
tudo desse jeito [...] Fui nesse portal só uma vez. É bonito. Mas a gente não
come boniteza. Cadê que esse projeto trouxe emprego pros moradores
daqui? Quem tá empregado? A gente nem pode passear por lá. Final de
semana é só gente de carrão que anda de bicicleta, de patins [...] outro dia
meu neto me pediu um patim pra andar na orla, e eu disse pra ele, com que
dinheiro que ia comprar? Só se deixasse de comprar comida. Meu neto
ficou chorando...( D. Maria do Perpétuo Socorro. Moradora da Pass. União.
Vendedora ambulante. Entrevista concedida em 03 de maio de 2013)
Ao analisar as falas dos sujeitos investigados, percebe-se uma série de
contradições cuja integração prevista pelo programa entre os stakeholders
envolvidos é insuficiente, há planos diferenciados de ações, falta de comunicação
entre os mesmos tornando o projeto sombrio, confuso e de difícil entendimento até
mesmo aos seus técnicos.
A dificuldade de acesso do próprio autor desta pesquisa aos projetos de cada
órgão participante do planejamento desta obra foram grandes, como através da
Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo, onde alguns documentos sobre o
andamento do projeto não puderam ser analisados com a justificativa de que, devido
a reestruturação das secretarias, com a troca de secretários e assessores, as
autorizações para visualizar os documentos requeridos levariam tempo para serem
adquiridas, ou seja, se para pesquisas acadêmicas as barreiras são várias, como
seria para um morador local, com pouco entendimento sobre projetos urbanísticos
verificar a situação da obra?
As contradições no PROMABEN são grandes e perceptíveis aos mais atentos
sobre o andamento das obras, existe uma batalha judicial em torno da realização
dos Estudos de Impacto Ambiental previsto na legislação urbana atuante
(EIA/RIMA), estudo este que só foi aplicado após as denuncias feitas a OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) e mídia local por parte dos moradores do bairro e que foi
concluído em setembro de 2007 por empresa de Engenharia contratada da
prefeitura. Há ainda a discussão sobre o aterro utilizado na obra (aterro normal que
é retirado de qualquer área) sendo que no projeto original constava que seria
utilizado aterro hídrico, retirado do fundo do próprio rio, que não afetaria o meio
ambiente e ainda ajudaria na continuidade da economia local, tornando a orla mais
navegável em nível de profundidade, posto que no bairro do Jurunas utiliza-se
bastante o rio como meio de transporte.
Essas são apenas algumas das lutas encaradas para a execução do
programa. Mas há destaque principalmente ao fato da Prefeitura ter desconsiderado
que qualquer grande intervenção urbana exige o levantamento de Estudo de
Impacto de Vizinhança (EIV).
Baseados no Estatuto da Cidade é que seriam obtidas as licenças ou
autorizações de construções. O EIV tem a função de levantar os elementos positivos
e negativos de qualquer empreendimento ou atividade pública visando à qualidade
de vida da comunidade local e de áreas próximas.
Fundamentadas na ideia de sustentabilidade e da apresentação da atividade
turística como uma conciliadora do processo de desenvolvimento regional e local, é
possível desvelar os princípios básicos para que haja integração entre comunidades
e seus agentes do progresso.
No Turismo sustentável as características naturais e culturais de uma região,
bem como, na maioria dos casos, as suas características sociais e comunitárias
representam a oferta potencial do território que o desenvolvimento turístico procura.
Assim sendo, a atividade turística só pode ser eficiente e viável num médio e longo
prazo se garantir que os recursos de que depende vão ser mantidos e mesmo
melhorados. Como refere R. Butler,
"turismo sustentável é o turismo que se desenvolve e mantém uma área (ambiente, comunidade) de tal forma e a uma tal escala que garante a sua viabilidade por um período indefinido de tempo sem degradar ou alterar o
ambiente (humano ou físico) em que existe e sem pôr em causa o desenvolvimento e bem-estar de outras atividades e processos" (Butler, 1993).
Ao excluir a escuta do morador no processo de implantação de um Projeto
nega-se categoricamente um dos príncipios fundamentais da sustentabilidade, que é
o de inserção da comunidade no seu local de origem. É preciso apresentar formas
de atrelar o progresso que será trazido pelo Portal da Amazônia a comunidade já ali
existente.
4- Considerações finais
Ao fim da pesquisa, com base no referencial teórico, é oportuno sugestionar
algumas estratégias que propiciem a inserção da comunidade no Portal da
Amazônia, como, por exemplo: a criação de postos de informações ao morador; a
integração entre a comunidade e os técnicos da prefeitura por meios de reuniões
periódicas, explicando de forma objetiva como acontecerá o processo de
remanejamento e reassentamento das famílias dando a oportunidade de voz aos
autóctones; o atrelamento entre ONG’s, consultores ou instituições especializadas a
fim de mostrar à população seus direitos e responsabilidades na construção da obra.
Conclui-se que o “Portal da Amazônia” é muito mais que um programa de
intervenção urbanística e apresenta a possibilidade de mudar a realidade de uma
parcela da população que não cresceu “de costas para o rio”, desenvolvendo de
maneira diferenciada modos de produção e de sociabilidade. É notório que essa
população está as margens das discussões e tomadas de decisões sobre as
alterações em seu local de moradia, que o poder público ao elaborar o programa
não ouviu seu principal contribuinte, fiscalizador e supervisor, o povo.
O PROMABEN quando lançou mão das práticas discursivas acabou por
abdicar da sua legitimação.
Através das práticas observadas, em se tratando de planejamento voltado
para o setor do turismo, é bastante difícil estabelecer ações que priorizem a
população local, já que há uma tendência em tomar como primeira meta o aumento
do número de turistas bem como da qualidade na prestação dos serviços. No
entanto, as lacunas observadas através deste estudo no planejamento do “Portal da
Amazônia” devem ajudar próximas pesquisas a compreender as falhas e a mostrar
que é possível gerar o desenvolvimento local com inclusão social.
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