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Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 1
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 2
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 3
PREFÁCIO
A estudo da Teologia Bíblica do Antigo Testamento é um manancial de conhecimentos, que
veio somar satisfatoriamente para o crescimento dos nossos obreiros.
O Mestre na Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Bispo Josias Brito esforçou-se
exaustivamente por apresentar, em especial aos nossos obreiros, um trabalho bem elaborado, que
vale a pena compulsá-lo.
Companheiros e companheiras, alunos e alunas do nosso Seminário em Teologia a nível
Bacharel, vamos crescer no conhecimento! e juntos faremos da nossa grande Igreja, uma potência
mundial.
Juntos somos fortes!!
Bispo Cordeiro
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 4
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 5
SUMÁRIO
CONCEITO GERAL .......................................................................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. .......................... 10
1.1. O Antigo Testamento .............................................................................................................................. 10
1.2. Por que chamar a Bíblia Hebraica de Antigo Testamento? .................................................................... 11
1.3. Os livros do Antigo Testamento? ............................................................................................................ 11
1.4. Autoridade do AT para os cristãos? .......................................................................................... .............. 12
1.5. Revelação e Inspiração ............................................................................................................................ 14
2. O PENTATEUCO ........................................................................................................ ................................ 15
2.1. Definição ......................................................................................... ........................................................ 15
2.2. Conteúdo do Pentateuco .......................................................................................................................... 16
2.3. A autoria do Pentateuco ..................................................................................................... ..................... 16
2.4. A mensagem religiosa do Pentateuco ..................................................................................................... 19
3. O LIVRO DE GENESIS .......................................................................................................... .................... 19
3.1. Introdução e Título ........................................................................................................... ....................... 19
3.2. Esboço de Gênesis ..................................................................................... .............................................. 20
3.3. Propósito do Livro .......................................................................................................... ......................... 20
3.4. A Estrutura de Gênesis ............................................................................................................................ 21
3.5. Gênero literário de Gênesis ................................................................................................. .................... 21
3.6. A teologia de 1-11 .......................................................................................................................... ......... 23
3.7. A História Patriarcal (2000 – 1500 a C.) ................................................................................................. 25
3.8. A Teologia das Narrativas ................................................................................................... .................... 26
3.9. Chaves para Gênesis ............................................................................................................................... 27
3.10. Conclusão ........................................................................................................... ..................................... 28
4. O LIVRO DE ÊXODO ....................................................................................................................... .......... 29
4.1. Introdução e Título ............................................................................................... ................................... 29
4.2. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 30
4.3. Esboço de Êxodo ..................................................................................................................................... 31
4.4. A importância de Moisés ..................................................................................................... ................... 32
4.5. O conflito com Faraó: as Pragas e a Páscoa, e, finalmente a Saída (caps. 5-12) ................................... 35
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 6
4.6. A chave para Êxodo .......................................................................................................... ..................... 40
4.7. Conclusão .................................................................................................................... ........................... 40
5. O LIVRO DE LEVÍTICO ............................................................................... ............................................. 41
5.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 41
5.2. Tema e Propósito ................................................................................................................................... 41
5.3. Esboço de Levítico .......................................................................................................... ....................... 42
5.4. A chave de Levítico ........................................................................................................... .................... 43
5.5. Os Sacrifícios .......................................................................................... ............................................... 44
5.6. Os Sacerdotes ............................................................................................................... .......................... 46
5.7. As Festas Solenes do Antigo Testamento .............................................................................................. 47
5.8. Conclusão ................................................................................................................... ............................ 49
6. O LIVRO DE NÚMEROS .................................................................................................................. ....... 50
6.1. Introdução e Título .................................................................................................. ............................... 50
6.2. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 51
6.3. Esboço de Números ................................................................................................................................ 52
6.4. A chave para Números ........................................................................................................ .................. 53
6.5. A Mensagem de Números....................................................................................................................... 53
6.6. Cristo em Números ........................................................................................................... .................... 56
6.7. Conclusão ................................................................................................................... ............................ 54
7. O LIVRO DE DEUTERONÔMIO ............................................................................................................. 57
7.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 57
7.2. Tema e Propósito .................................................................................................................................... 57
7.3. Esboço de Deuteronômio ...................................................................................................... ................. 58
7.4. A chave para Deuteronômio ................................................................................................... ............... 59
7.5. Pontos Teológicos em Deuteronômio ............................................................................. ....................... 59
7.6. Conclusão ................................................................................................................... ............................ 62
8. OS LIVROS HISTÓRICOS ....................................................................................................................... 62
9. O LIVRO DE JOSUÉ ............................................................................................................ ..................... 63
9.1. Introdução e Título ................................................................................................................................. 63
9.2. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 64
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 7
9.3. Autoria e Data do Livro ................................................................................................. ........................ 64
9.4. Esboço do Livro de Josué ...................................................................................................................... 65
9.5. A chave para Josué .......................................................................................................... ....................... 66
9.6. Pontos Teológicos em Josué .................................................................................................................. 66
10. O LIVRO DE JUIZES ........................................................................................................... ..................... 68
10.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 68
10.2. Autoria e Data ...................................................................................................................................... 69
10.3. Tema e Propósito .......................................................................................................... ....................... 69
10.4. Esboço do Livro de Juízes ...................................................................................................................... 70
10.5. A chave para Juízes.......................................................................................................... ...................... 71
10.6. O Ensino ...................................................................................................................... ........................... 71
11. O LIVRO DE RUTE .................................................................................. ................................................. 73
11.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ........................ 73
11.2. Conteúdo ............................................................................................................................................... 73
11.3. Autoria e Data .............................................................................................................. ......................... 74
11.4. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 74
11.5. Esboço do Livro de Rute ..................................................................... .................................................. 74
11.6. O Cenário ................................................................................................................... ............................ 75
11.7. A chave para Rute ................................................................................................................................. 75
12. O LIVRO DE SAMUEL ........................................................................................................... .................. 76
12.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ....................... 76
12.2. Autoria e Data ...................................................................................... ................................................. 77
12.3. Tema e Propósito ............................................................................................................ ........................ 77
12.4. Esboço de 1 e 2 Samuel ......................................................................................................................... 78
13. O LIVRO DE REIS ............................................................................................................. ........................ 80
13.1. Introdução e Título ......................................................................................................... ....................... 80
13.2. Conteúdo .............................................................................................. ................................................. 81
13.3. Autoria e Data .............................................................................................................. ......................... 81
13.4. Propósito ............................................................................................................................................... 82
13.5. Esboço de Reis .............................................................................................................. ......................... 82
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 8
14. A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL .................................................................................. 84
14.1. Introdução .............. ............................................................................................... ................................ 84
14.2. SAMUEL – Sacerdote, profeta e Juiz.................................................................................................... . 85
15. O PERÍODO DE TRANSIÇÃO .................................................................................................................. 86
15.1. Introdução .................................................................................................................. ............................ 86
15.2. As campanhas militares de Saul (13.1-14.52) ........................................................................................ 87
15.3. A escolha fatal de Saul (15.1-35) ........................................................................................................... 87
15.4. DAVI - Pastor, guerreiro, rei eleito (1Sm 16.1-2Sm 5.10) .................................................................... 88
15.5. Saul e Davi (16.1-31.13) ............................................................................................................ ............ 88
15.6. A fuga de Davi (21.1-27.12) .................................................................................................................. 89
15.7. Declínio e morte de Saul. (28. 1-31; 13.) ............................................................................................... 89
16. A DUPLA UNCÃO DE DAVI (2Sm 1.1-5.10) .......................................................................................... 90
16.1. Rei em Hebron ...................................................................................................................................... 90
16.2. Rei em Jerusalém ............................................................................................................ ....................... 90
17. DAVI CONSOLIDA SUAS CONQUISTAS (2Sm 5.11-24.25) ................................................................ 90
17.1. As batalhas ................................................................................................................. ............................ 90
17.2. As reformas religiosas ......................................................................................................... ................... 91
17.3. Um sucesso militar ........................................................................................ ......................................... 91
18. DAVI UM SER HUMANO .......................................................................................................... ............... 91
18.1. A manifestação de misericórdia (9.1-13) ............................................................................................... 91
18.2. O abuso de poder (11.1-12.31) .............................................................................................................. 92
18.3. Problemas na corte (13.1-18.33) ............................................................................................................ 92
19. A TRANSFERÊNCIA DO REINADO DE DAVI PARA SALOMÃO (1Rs 1.1-2.46) ............................ 93
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 95
AVALIAÇÃO 1 ................................................................................................................. .............................. 97
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 9
CONCEITO GERAL
Teologia é a ciência que trata do nosso conhecimento de Deus, e das coisas divinas. A
teologia abrange vários ramos, vejamos:
Teologia exegética - Exegética vem da palavra grega que significa extrair. Esta teologia
procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras.
Teologia Histórica - Envolve o Estudo da História da Igreja e o desenvolvimento da
interpretação doutrinária.
Teologia Dogmática - É o estudo das verdades fundamentais da fé como se nos
apresentam nos credos da igreja.
Teologia Bíblica - Traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia e
descreve a maneira de cada escritor em apresentar as doutrinas mais importantes.
Teologia Sistemática - Neste ramo de estudo os ensinamentos concernentes a Deus e
aos homens são agrupados em tópicos.
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 10
1. INTRODUÇÃO
A Bíblia é a maior obra de literatura, história e teologia já escrita. Em sua produção,
preservação, proclamação e resultado (mudou a história, tem mudado vidas), ela permanece
sendo o mais singular livro em existência.
1.1. O Antigo Testamento
O Antigo testamento é uma história redentora que lança o fundamento sobre o qual o
NT se edifica. Há uma relação progressiva nas Escrituras, e o que se antecipa no AT é
desvendado no NT. O AT olha para frente e o NT olha para trás, para o evento central de toda a
história – a morte substitutiva do Messias.1
1.2. Por que chamar a Bíblia Hebraica de Antigo Testamento?
O vocábulo “testamento”, dentro das designações Antigo Testamento e Novo
Testamento, dadas às duas principais divisões da Bíblia, recua até o termo latino “testamentum”
e até ao termo grego “diathekê”, vocábulo este que, na maior parte de suas ocorrências na Bíblia
grega significa “pacto” e não testamento. Em Jeremias 31.1ss é predito um novo pacto (em
hebraico “berith”) que ultrapassará aquele que foi estabelecido por Javé com Israel, no deserto
(cf. Ex 24.7ss). Quando ele diz nova, torna antiquada a primeira (Hb 8.13). Os escritores do NT
veem o cumprimento da profecia sobre o novo pacto na ordem inaugurada pela obra de Cristo;
Suas próprias palavras de instituição em 1Co 11.25 dão autoridade a essa interpretação. Os livros
do AT, pois, são assim chamados pela sua íntima associação com a história do “antigo pacto”; e
os livros do NT são assim denominados por serem os documentos básicos do “novo pacto”.
Os termos Antigo Testamento (palaia diathekê) e Novo Testamento (Kainê diathekê)
para as duas coleções de livros entraram no uso cristão no final do segundo século de nossa era.2
Segundo Gottwald, os judeus a conheciam como “Tanak”, ou seja, a acrossemia das primeiras
letras das três divisões da Bíblia Hebraica: Torá (lei), Nebhi’im (profetas) e Kethbhim
(escritos).3
1 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 1 2 DOUGLAS, J.D (org) O Novo Dicionário da Bíblia p. 217 3 GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliteraria à Bíblia Hebraica p. 19
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 11
1.3. Os Livros do Antigo Testamento
Se perguntássemos a qualquer cristão que ler seriamente a Bíblia, quantos livros têm no
AT, ele responderia: trinta e nove (39) livros, e daria até a divisão deles, Pentateuco, históricos,
poéticos, profetas maiores e menores; de fato, as nossas Bíblias nos fornecem esses dados, mas,
não era assim que a Bíblia hebraica ou Tanak era dividida.
Esta divisão que nós temos do AT segue a organização da Septuaginta4, foi depois desta
tradução que o AT foi organizado em: Pentateuco ou Lei (5 livros); Históricos (12 livros);
Poéticos (5 livros); Profetas (17 livros); assim nós temos trinta e nove (39) livros, padrão
utilizado pelas nossas Bíblias atuais.
Na Bíblia Hebraica os livros são arranjados em três divisões: a lei (Tora), os profetas
(nebhi’im) e os escritos (kethubhim).
(1) A lei (Gênesis, Êxodo, Levítico, Número e Deuteronômio);
(2) Os profetas são divididos em: (a) Profetas anteriores (nebhiim rishônim), compostos dos
livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis; (b) e os profetas posteriores (nebhiim ’aharônim),
compostos dos livros de Isaias, Jeremias, Ezequiel e o rolo dos doze (12) profetas (Oséias,
Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e
Malaquias); na Bíblia hebraica, esses doze escritos são agrupados em um único rolo,
enquanto que em nossas traduções são separados.
(3) Os Escritos – contém os restantes dos livros – primeiramente Salmos, Provérbios e Jó;
então os cinco rolos (meghillôth), a saber, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester;
e, finalmente os livros de Daniel, Esdra-Neemias e Crônicas. O total é tradicionalmente
computado como vinte e quatro (24) livros, ainda que estes vinte e quatro livros
correspondam exatamente à nossa computação comum de trinta e nove livros, visto que no
cânon hebraico os profetas menores são contados como um só livro (em contraste com os
doze livros de nosso compute), enquanto que consideramos Samuel, Reis, Crônicas e
Esdras-Neemias (do cânon hebraico), com dois livros cada.
4 Tradução do hebraico para o grego realizada por volta do ano 250 a.C. Setenta escribas se empenharam neste
trabalho, por isso essa obra foi intitulada de Septuaginta.
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 12
Na septuaginta, os livros são arranjados de conformidade com a similaridade dos
assuntos. O Pentateuco é seguido pelos livros históricos, poéticos e de sabedoria, e esses pelos
livros proféticos. Em certos respeitos essa ordem é mais fiel à sequência cronológica do que a
que aparece na Bíblia Hebraica, por exemplo, o livro de Rute aparece imediatamente depois de
Juízes (visto que registra acontecimentos verificados nos dias em que julgavam os juízes), e a
obra do cronista aparece na ordem Crônicas, Esdras-Neemias.
Na tríplice divisão da Bíblia Hebraica é refletida a linguagem de Lucas 24.44 (lei de
Moisés... Profetas... Salmos), mas comumente, o NT à lei ou os profetas (cf. Mt 5.17), ou a
Moisés e os profetas (Lc 16.29).5
1.4. Autoridade do AT para os cristãos.
O AT era a Bíblia usada por Cristo e pelos apóstolos. De modo quase uniforme (2Pe
3.16 é exceção), as palavras “Escritura” e “Escrituras” no NT se referem ao AT (e.g., João 5.39;
10.35; At 8.32; Gl 3.8; 2Tm 3.16). Por cerca de duas décadas depois de Cristo, as únicas partes
do NT que existiam era relatos de Sua vida e de seus ensinos. Durante esse período em que uma
igreja vigorosa estendia, a base para a pregação e o ensino foi o AT reinterpretado por Jesus e
seus primeiros seguidores.6
1.4.1. Jesus e o AT (João 5.39)
Cristo reconheceu a autoridade impositiva da Escritura, enquanto reservara para si
mesmo o direito de ser seu verdadeiro interprete. Cristo apelou muitas vezes para as Escrituras
como base para seus argumentos e ensinos. Isso é ilustrado pelo triplo uso de “está escrito” no
relato da tentação (Mt 4.1-11).
Mesmo tendo a atitude de muitos judeus de seus dias em ralação à autoridade de AT.,
Jesus o interpretou de modo bem diferente em pelo menos dois aspectos:
Primeiro, assim como os profetas, ele sentia a vacuidade de grande parte do legalismo
judaico, em que a rotina e o ritual tinham se tornado um substituto barato para a pureza do
coração, integridade e preocupação social (Mc 7.1-13; Mt 19.13; 12.7, que cita Os 6.6.). Como
5 DOUGLAS, (org) O novo Dicionário da Bíblia p.217 6 LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento p. 637
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 13
verdadeiro profeta, o novo Moisés, Jesus interpretou a Lei no sermão do monte (Mt 5-7).
Rejeitando algumas interpretações erradas, mas correntes da lei, Jesus destacou o amor; o
perdão e a piedade interior. Ele deu novo significado aos principais temas proféticos que alguns
mestres judeus haviam negligenciado ao superestimar a letra da lei.
Segundo, e de maneira mais distintiva, Jesus insistiu que ele era o cumprimento
pessoal do AT; ele é o tema principal (cf. Lc 4.21).
1.4.2. Paulo e o AT
Como judeu e rabino Saulo de Tarso conhecia bem o AT; como cristão e apostolo,
Paulo descobriu que textos familiares estavam repletos de significado. Assim como Jesus, ele
aceitava a inspiração plena e autoridade da Escritura (2Tm 3.16). Suas quatro epistolas
principais – Romanos, 1-2 Coríntios e Gálatas – mostram claramente como ele dependia do AT.
Atados a alusões e citações do AT, cada escritor apresenta um modo peculiar de
empregá-las. Tiago por exemplo, utilizou de modo maciço a tradição sapiencial de Israel,
conforme manifestada nas técnicas de ensino e no pensamento de Cristo, o Sábio maior. O autor
de Hebreus empregou textos-prova e tipos do AT para demonstrar a nítida superioridade de
Cristo e de Sua nova aliança.
Seguindo seu Senhor na aceitação da autoridade da Escritura, os escritores do NT
encontraram nela não a letra que mata, mas o testemunho do Espírito acerca da atividade de
Deus que concede vida. Eles viam as Escrituras não como coleções enfadonhas de leis
escravizadoras, mas como atos anteriores de um grande drama de salvação.
Para entender o AT como Escritura cristã, é preciso enxerga-la pelos olhos de Jesus e
seus apóstolos. Eles eram especialmente inspirados pelo Espírito de Deus para captar o
significado das palavras e feitos reveladores de Deus e o rumo que tomava.
Além disso, devemos estar conscientes do contexto original de uma passagem do AT.
Por que foi escrita? Quando? Que problemas lhe deram origem? Só podemos buscar uma
implicação plena da passagem para fé e para a vida cristã quando começarmos a entender o
intento dela para a própria época do autor. O contexto do AT não nos dirá tudo o que
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 14
precisamos saber acerca do significado da passagem. Mas se não começarmos dali, será fácil
torcer as Escrituras de acordo com os nossos propósitos.7
1.5. Revelação e Inspiração
A Bíblia é um livro singular. Por um lado, ela é uma extraordinária peça de literatura
humana; por outro lado, atribui sua origem a Deus. Os termos teológicos fundamentais que
expressa essa singularidade são “revelação” e “inspiração”.
1.5.1. Revelação
Revelação refere-se à manifestação (lit. desvendar) da verdade por Deus nas Escrituras.
Em Jeremias 18.18, é alistado três canais humanos da revelação divina no antigo Israel:
(1) Os sacerdotes, que davam ao povo instrução (tora) sobre assuntos religiosos e
éticos;
(2) Os sábios, que ofereciam conselhos acerca dos problemas da vida aos reis e ao
povo comum;
(3) Os profetas, que proferiam mensagens que expressavam os propósitos de Deus para
o povo;
Esses três grupos tinham basicamente um ministério oral: o AT nas suas três divisões de
Lei, Profetas e Escritos, é em sua essência o registro escrito das tradições faladas desses grupos.
Nos tempos do AT, esses três grupos eram aceitos como mediadores da vontade de
Deus para a comunidade dos crentes. Eram agentes da comunicação da vontade divina. Isso é
mais óbvio no caso dos profetas (Hb 1.1). Um oráculo profético típico começa com a expressão
“assim diz o Senhor”, conhecida como a fórmula do mensageiro, e com frequência termina com
a fórmula da declaração divina “diz o Senhor” (cf. Am 5.16,17; Jr 1.9; Is 40-48).
O ministério dos profetas não era o único meio de revelação divina, mas também
através da Lei (Dt 29.29) e da Sabedoria (Pv 2.6). O conceito de revelação foi expandido da
forma oral das mensagens de um profeta para a forma escrita, e então aplicado a ela como um
todo literário. Deus ainda falava (e continua falando) às gerações futuras de crentes por meio da
palavra escrita.
7 Ibid pp 637-643
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 15
1.5.2. A Inspiração
A inspiração relaciona-se à recepção inicial, pelo homem, dessa verdade mostrada pelo
Espírito divino.
A voz dos mediadores humanos escolhidos foi usada para transmitir as verdades que
Deus pretendeu revelar a Israel. A interação positiva entre o revelador divino e os porta-vozes
humanos exigiu “inspiração”. A inspiração é basicamente uma qualidade que se relaciona a
pessoas, mas também se torna uma característica dos livros, como produto de pessoas
inspiradas. O apostolo Paulo refletiu sobre esta qualidade do AT e o seu papel nos propósitos de
Deus de edificar os cristãos em sua fé e postura ética (2Tm 3.16).
A palavra de 2Tm 3.16 traduzida “por inspirada por Deus” pode ser literalmente vertida
“insuflado por Deus”; alude à obra do Espírito de Deus como agente da inspiração. Essa
inspiração é a operação do Espírito pela qual os profetas eram capacitados para proferir a
palavra de Deus. A palavra era o conteúdo de suas mensagens, enquanto o Espírito de Deus era
o poder transcendente que os capacitava a apreendê-la e proclamá-la.8
2. O PENTATEUCO
2.1. Definição
O termo Pentateuco é formado por duas palavras gregas: “penta” que significa “cinco”
e “teuco” que significa “rolo ou livro”, isto é, o livro em cinco volumes, ou cinco rolos. O
Pentateuco corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica (Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio), a principal e mais importante seção do tríplice cânon judaico.
Usualmente chamado pelos judeus de “sepher hattôrâ”, o livro da lei, ou então “hattôrâ” a lei.
As referências ao Pentateuco, no AT, se restringem geralmente aos escritos do
cronista, que emprega diversas designações: a lei (Ed 10.3; Ne 8.2,7,14; 10.34,36; 12.44; 13.3;
2Cr 14.14; 31.21; 33.8); o livro da lei (Ne 8.3); o livro da lei de Moisés (Ne 8.1); o livro de
Moisés (Ne 13.1; 2Cr 25.4; 35.12); a lei do Senhor (Ed 7.10; 1Cr 16.40; 2Cr 31.3; 35.26); a lei
de Deus (Ne 10.28,29); o livro da lei de Deus (Ne 8.18); o livro da lei do Senhor (2Cr 17.9;
34.14; Dn 9.11; Ml 4.4). não se pode dizer com certeza se as referências à lei, nos escritos
8 Ibid pp. 644-648
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 16
históricos, se referem ao Pentateuco como um todo ou a determinadas porções da legislação
mosaica, como por exemplo, a lei (Js 8.34); o livro da lei de Moisés (Js 1.8; 8.34; 2Rs 22.8); o
livro da lei de Moisés Js 8.31; 23.6; 2Rs 14.6); o livro da lei de Deus (Js 24.6).
O NT emprega designações semelhantes: o livro da lei (Gl 3.10); o livro de Moisés
(Mc 12.26); a lei (Mt 12.5; Lc 16.16; João 7.19); a lei de Moisés (Lc 2.22; João 7.23); a lei do
Senhor (Lc 2.23,24). As descrições do Pentateuco, em ambos os testamentos, servem para
salientar sua autoria divina e humana, sua autoridade obrigatória como e, sua forma escrita em o
livro.9
2.2. Conteúdo do Pentateuco.
O Pentateuco narra as relações de Deus com o mundo e, especialmente, com a família
de Abraão, desde a criação até a morte de Moisés. Existem seis divisões principais:
1. A origem do mundo e das nações (Gênesis caps. 1-11);
2. O período patriarcal (Gênesis caps 12-50);
3. Moisés e o Êxodo, ou a saída do Egito (Êxodo caps 1-18);
4. A legislação dada no Sinai (Êxodo 19-Número 10.10); que inclui a transmissão da lei,
a ereção do Tabernáculo, o estabelecimento do sistema levítico, e os preparativos finais para a
viagem desde o Sinai até a terra de Canaã.
5. As peregrinações pelo deserto (Número caps 10.11-36.13);
6. Os discursos finais de Moisés (Deuteronômio caps 1-34), que recapitulam os
acontecimentos do Êxodo, repetem e expandem os mandamentos baixados no Sinai.10
2.3. A autoria do Pentateuco
Durante séculos, tanto o judaísmo como o cristianismo aceitaram, sem levantar qualquer
dúvida, a tradição bíblica de que foi Moisés o autor do Pentateuco. Mas a partir do século XVIII,
algumas descobertas realizadas no campo exegético, têm levado a alguns eruditos a rejeitarem a
autoria mosaica do Pentateuco. Segundo eles há várias evidências dentro do próprio Pentateuco
que demonstra que ele foi escrito por várias pessoas e em épocas diferentes. Alguns mais
radicais chegam a defender que o Pentateuco é produto da evolução religiosa dos israelitas.
Vejamos algumas teorias a respeito da autoria do Pentateuco:
9 O Novo Dicionário da Bíblia p. 1257 10 Ibid p. 1258
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 17
2.3.1. A teoria tradicional – Moisés como autor do Pentateuco.
Comumente a tradição judaico-cristã tem atribuído a autoria do Pentateuco a Moisés.
Entre os defensores deste ponto de vista está Paul Hoff, ele diz o seguinte: “Embora não se
afirme no próprio Pentateuco que este há sido escrito por Moisés em sua totalidade, outros livros
do AT citam-no como obra dele (Js 17.8; 23.6; 1Rs 2.3; 2Rs 14.6; Ed 3.2; 6.18; Ne 8.1; Dn 9.11-
13). Certas partes muito importantes são atribuídas a ele (Ex 17.14; Dt 31.24-26). Os escritores
do NT estão de pleno acordo com os do AT, falam dos cinco livros em geral com a ‘lei de
Moisés’ (At 13.39; 15.5; Hb 10.28). Finalmente as palavras do próprio Jesus dão testemunho de
que Moises é o autor (João 5.46; 8,4; 19.8; Mc 7.10; Lc 16.31; 24.27,44). Moisés mais do que
qualquer outro homem, tinha preparo, experiência e gênio, que o capacitavam para escrever o
Pentateuco. Considerando-se que foi criado no palácio dos faraós (veja At 7.22); foi testemunha
ocular dos acontecimentos do Êxodo e da peregrinação no deserto”.11
2.3.2. O segundo ponto de vista assegura que Moisés não escreveu todo o Pentateuco.
O Pentateuco é uma obra anônima, Moisés não é mencionado como seu autor, assim
como ninguém mais. A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AT em
particular e com as obras antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o autor era basicamente um
preservador do passado, limitando-se ao uso do material e metodologia tradicionais. A
“literatura” era mais uma propriedade comunitária do que particular.
Apesar disso, o Pentateuco contem indicações da atividade literária de seu personagem
principal, Moisés. Este é descrito de passagem recebendo ordens para redigir ou propriamente
escrevendo fatos históricos (Ex 17.14; Nm 33.2), leis ou trechos de códigos de leis (Ex 24.4;
34.27ss), e um poema (Dt 31.22). Mas sua contribuição não precisa se limitar de forma estrita à
parte do Pentateuco atribuída especialmente a ele.
A atividade literária de Moisés é corroborada por referências esparsas, mas
significativas no restante da literatura anterior ao exílio. Durante o exílio e depois dele, as
referências são muito mais numerosas.
11 O Pentateuco p. 16
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 18
(1) Livros pós-exílios (Crônicas, Esdras, Neemias, Daniel), referem-se com muita
frequência ao Pentateuco como um texto escrito com autoridade; todos recorrem aos
códigos do Pentateuco. Aqui ocorre pela primeira vez a expressão “livro de Moises”.
(2) Livros intermediários (i. é., os livros históricos do pré-exilio, Josué, 1-2 Samuel, 1-2 Rs)
referem-se muito raramente a atividade literária de Moisés. Todas as referências são a
Deuteronômio.
(3) Livros anteriores (i. é., os profetas do pré-exílico) não trazem tais referências.
Dois fatos devem ser destacados. Em primeiro lugar, informações bíblicas e várias
correntes da tradição concordam que Moisés escreveu literatura narrativa, legislativa e poética. A
participação de Moisés na produção do Pentateuco foi altamente formativa, embora seja pouco
provável que Moisés tenha escrito o Pentateuco conforme ele existe em sua forma final.
Em segundo lugar, o Pentateuco é uma obra complexa, composta, com uma longa e
intricada história de transmissão e crescimento. A fé afirma que esse desenvolvimento foi
supervisionado pelo o Espírito de Deus que prontificou Moisés a atuar e escrever de início.
Embora seja difícil detalhar esse processo com precisão, sua estrutura básica é razoavelmente
certa. As narrativas dos patriarcas foram conservadas, primeiro por via oral, durante o período de
escravidão no Egito. É provável que tenham sido colocadas em forma escrita pela primeira vez
durante o período de Moisés. A elas foram acrescentados os relatos, tanta poesia como prosa, do
Êxodo e da peregrinação, talvez no início do período davídico. Reunidos em várias compilações,
os documentos da era mosaica podem ter sido finalmente juntados numa única coleção por
Esdras, no período de restauração após o Exílio.12
Determinar quem escreveu o Pentateuco é uma situação complexa, se Moisés escreveu
todo ele, ou se parte dele, ou se ele iniciou e outros concluíram com base em tradições orais, é
uma questão que fica em aberto; mas nada disso altera o seu valor e a sua autoridade; ele foi
inspirado pelo Espírito de Deus. É a palavra de Deus e revela a Sua vontade. Se foi Moisés o
iniciador, e outros escribas compilaram até chegar à forma que temos hoje, uma coisa é certa,
eles foram inspirados pelo Espírito Santo.
12 LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento pp. 9,10
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 19
2.4. A mensagem religiosa do Pentateuco.
O Pentateuco deve ser definido como um documento que dá a Israel sua compreensão,
sua etiologia da vida. Aqui, por meio de narrativa, poesia, profecia e lei, a vontade de Deus
concernente a tarefa de Israel no mundo é revelada. O Pentateuco testifica sobre os atos
salvadores de Deus, o qual é Senhor soberano da história e da natureza.
Tendo-se exibido poderoso e abertamente como Senhor, no Êxodo, Deus levou os
israelitas a perceberem que Ele era o criador do universo, bem como aquele que dirige a história.
A graça de Deus é revelada não apenas em Seu livramento e orientação, mas igualmente
na transmissão da lei e na iniciação da aliança firmada. A graça de Deus exige um total
reconhecimento de Sua soberania, uma obediência completa à Sua vontade em toda esfera de
vida. Essa exigência é graciosa porque envolve o que é bom para Israel, o que a ajudaria a
realizar se verdadeiro potencial, e a levaria a descobrir o que não poderia fazê-lo sem a revelação
divina.
Qualquer que seja a origem do Pentateuco, atualmente aparece como um documento
que possui uma rica unidade interna. Trata-se do registro da revelação de Deus na história e de
Sua soberania sobre ela. Testifica sobre a santidade de Deus, que O separa dos homens, sobre
Seu amor gracioso, que os liga a Ele de conformidade com Suas condições.13
3. O LIVRO DE GÊNESIS
3.1. Introdução e Título
I. Gênesis é o livro dos primórdios. Seus cinquenta capítulos esboçam a história humana
desde a criação até Babel (caps 1-11) e de Abraão a José (caps. 12-50). Os primeiros onze
capítulos introduzem o Deus criador e os primeiros dias da vida, do pecado, do juízo, da família,
do culto e da salvação. O restante do livro focaliza a vida de quatro patriarcas da fé: Abraão,
Isaque, Jacó e José, de quem virá a nação de Israel, e por fim o Salvador, Jesus Cristo.
13 O Novo Dicionário da Bíblia p. 1264
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 20
A primeira parte focaliza o princípio e a difusão de pecado no mundo, e culmina no
dilúvio devastador nos dias de Noé. A segunda parte do livro focaliza o modo de Deus tratar com
um homem, Abraão, através de quem promete trazer salvação e benção ao mundo.14
II. Gênesis é um termo grego que significa “princípio, origem, começo”. Esse termo
surgiu a partir da tradução do AT hebraico para o grego, conhecida como a Septuaginta realizada
por volta do ano 250 a.C. Os judeus o chamavam de bereshith, a primeira palavra do livro, que
também significa “princípio, origem, começo”.15
3.2. Esboço de Gênesis
Parte Um: História Primeva.............................................................................................(1.1-11.9)
A criação (do mundo e do homem)........................................................................1.1-2.25
A Queda..................................................................................................................3.1-5.32
Tentação, queda e julgamento...................................................................................3.8-24
Depois da queda: linhagens conflitantes................................................................4.1-5.32
O Juízo do Dilúvio.................................................................................................6.1-9-29
O Juízo sobre Babel..............................................................................................10.1-11.9
Parte Dois: História Patriarcal....................................................................................(11.10-50.26)
A vida de Abraão..............................................................................................11.10-25.18
Introdução de Abrão.............................................................................................11.10-32
O pacto de Deus com Abrão..............................................................................12.1-25.18
A vida de Isaque...............................................................................................25.19-26.35
A vida de Jacó....................................................................................................27.1-36.43
A vida de José....................................................................................................37.1-50.26
3.3. Propósito do Livro
I. O livro de Gênesis é a introdução à Bíblia toda. É o livro dos princípios, tem sido
chamado de “viveiro ou sementeiro da Bíblia” porque nele estão as sementes de todas as grandes
doutrinas.
14 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia pp. 5,6 15 LASOR, William. Introdução ao AT p. 16
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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II. O Gênesis narra como Deus estabeleceu para si um povo. Relata a infância da
humanidade, porém o autor não pretende apresentar a história da raça toda; destaca apenas os
personagens e sucessos que relacionam com o plano de redenção através da história. Traça a
linhagem piedosa, que transmite a promessa de 3.15 (conhecida como proto evangelho), e vai
descartando as linhas colaterais, não lhes dando importância. A história da humanidade vai se
restringindo, cada vez mais, até que o interesse se concentre em Abraão, pai do povo escolhido.
A partir daí toda a história do AT trata, em grande parte, da história de Israel.16
3.4. A Estrutura de Gênesis.
O livro tem duas partes distintas: capítulos 1-11, a história primeva, e capítulos 12-50, a
história patriarcal. Gênesis 1-11 é um prefácio à história da salvação, tratando da origem do
mundo, da humanidade e do pecado. Gênesis 12-50 reconta as origens da história da redenção no
ato de Deus escolher os patriarcas, juntamente com as promessas de terra, posteridade e
aliança17.
3.5. Gênero literário de Gênesis.
I. Natureza literária de 1-11 – em primeiro lugar, esses capítulos são solidamente
caracterizados por dois tipos bem distintos de artifícios literários. Um conjunto de textos
(incluindo caps. 1; 5; 10; 11.10-26) distingue-se pelo caráter esquemático e arranjo lógico
cuidadoso.
Por exemplo, o capitulo 1 é formado por uma série altamente estruturada de orações
sucintas, quase padronizadas. Na criação, cada ordem encerra os seguintes elementos:
• Uma palavra introdutória de anúncio, “Disse Deus...” (1.3,6,9,11,14,20,24,26).
• Uma palavra de ordem criadora, “Haja”, por exemplo (1.3,7,9,11,14,15,20,24,25).
• Uma palavra para sintetizar o cumprimento, “e assim se fez” (1.3,7,9,11,15,24,30).
• Uma palavra descritiva de cumprimento, “Fez, pois, Deus...”, “A terra, pois, produziu...”
(1.4,7,12,16-18,21,25,27).
• Uma palavra descritiva de nomeação ou benção, “Chamou Deus...”, “E Deus os
abençoou...” (1.5, 8,10,22,29-30).
16 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 21 17 LASOR, William. Introdução ao AT p. 16
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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• Uma palavra de avaliação e aprovação, “E viu Deus que isso era bom”
(1.4,10,12,18,21,25,31).
• Uma palavra final de estrutura temporal, “Houve tarde e manhã, o [...] dia” (1.5,
8,13,19,23,31).
Esse estilo uniforme não é rígido porque a ordem, o comprimento e a apresentação
desses componentes variam. A sequência de ordens revela-se estritamente temporal,
cuidadosamente dividida em dois períodos: (1) a criação e a separação dos elementos do cosmo,
passando do geral para o particular (primeiras quatro ordens, vv. 1-13); (2) a ornamentação do
cosmo, do imperfeito para o perfeito (as quatro ordens seguintes, vv. 14-31). O relato chega ao
ápice na oitava ordem, a criação dos seres humanos. O capítulo todo parece um relato bem
elaborado de uma série de ordens que uma história.
De modo semelhante, os capítulos 5 e 11.10-32 são genealogias moldadas para repetir a
mesma estrutura para cada geração. Mas uma vez, o cap. 10, uma lista etnogeográfica, é marcada
por um caráter esquemático semelhante.
O segundo conjunto de passagens (caps. 2 – 3; 4; 6 – 9; 11.1-9) é bem diferente. Aqui se
usa a forma de história. Por exemplo, nos caps. 2 – 3 ouvimos uma refinada narrativa literária,
quase um drama. Cada cena é retratada com poucas pinceladas firmes e uma multidão de
imagens. O autor revela antropomorfismos ingênuos, mas expressivos, descrevendo Deus em
termos humanos. Javé, como um dos personagens do drama, aparece como oleiro (2.7, 19)
cultivador de jardim (v.8). cirurgião (v.21) e um pacífico proprietário de terra (3.8).18
II. Implicações para Gênesis 1 – 11. Os relatos de Gênesis 1 –11 não pertencem ao
gênero de “mito”; mas também não é história no sentido moderno de testemunho ocular, relato
objetivo; esses relatos transmitem verdades teológicas acerca dos eventos criados. O objetivo
desta narração bíblica é mostrar que o universo não surgiu do nada, ou por acaso, mas foi criado
do nada por um ser superior, houve uma intervenção divina nesta obra, a mão divina moldou
todas as coisas; o mundo é criação de Deus.
A narrativa bíblia apresenta o Deus verdadeiro, santo e onipotente. O criador existe
antes da criação e é independente do mundo. Deus fala e os elementos passam a existir. A obra
18 Ibid pp. 19,20
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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divina é boa, justa e completa. Depois que a família humana se rebela, Deus tempera seu
julgamento com misericórdia.
Gênesis não é um livro científico que se preocupa em fornecer uma descrição biológica
e geológica das origens; antes, seu propósito era explicar como tudo aconteceu, a natureza e a
dignidade singular dos seres humanos, em virtude de sua origem divina. Eles são feitos pelo
criador à imagem divina, ainda que prejudicado pelo pecado que tão cedo desfigurou a obra de
Deus.19
3.6. A Teologia de 1 – 11.
Como vimos o propósito fundamental deste material é teológico, vejamos agora alguns
temas principais deste material.
3.6.1. Deus como criador.
A Bíblia não se preocupa em provar a existência de Deus, ela já inicia afirmando no seu
primeiro versículo “que no princípio Deus criou céu e terra”. Desde o início, Gênesis nos
confronta com o Deus vivo, Deus inequivocamente pessoal. Ele é o único Deus, o Criador e
Senhor soberano sobre tudo que existe.20
Os antigos personificavam as forças da natureza como entidades divinas. Os fenômenos
naturais eram concebidos de acordo com a experiência humana. Hoje consideramos o mundo dos
fenômenos como uma “coisa”, mas os antigos reagiam a ele como uma “pessoa”. Para eles, a
variedade de forças personificava em deuses. Assim, a divindade era multipessoal, em geral
ordenada e equilibrada, mas às vezes caprichosa, instável e temerária.
O texto do capítulo 1 combate tal concepção de deidade. Ele retrata a natureza surgindo
de uma simples ordem de Deus, o qual é anterior a ela e dela independente. O sol, a lua, as
estrelas e os planetas, considerados deuses por outros povos, nem chagam a ser identificados
pelo nome. São mencionados simplesmente como luzeiros (vv.16-18). O mar e a terra não são
deidades primevas que geram outros deuses. Antes são objetos naturais (v.10). A descrição
demitiza o cosmo, cuja deificação havia conduzido ao politeísmo.
19 Ibid p. 23 20 KIDNER, Derek. Gênesis introdução e comentário p. 30
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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O hebraico bara “criar”, é uma palavra chave; esta palavra tem Deus como seu único
sujeito no AT, e não se faz nenhuma menção do material a partir do qual se cria algum objeto.
Ela descreve um modo de agir que não possui analogia humana. Só Deus cria, assim como só
Deus salva.
Um refrão importante no cap. 1 é a afirmação de que o que Deus cria é bom (vv.
4,10,12,18,21,25,31). Nenhum mal foi colocado na terra pela mão de Deus. O valor do mundo
brota unicamente do fato de que Deus o fez. O ápice consciente da criação é a humanidade (vv.
26-28). 21
3.6.2. O Pecado
Os caps. 2 – 3 responde porque as coisas estão arruinadas. Por que os homens estão
sujeito ao mal físico e moral? Como conciliar esse mal com a bondade de Deus e com a verdade
de que tudo se origina em Deus? Existe, evidentemente, um vasto abismo entre o mundo
conforme criado por Deus e o mundo que experimentamos. O drama nos caps 2 –3 revela que os
seres humanos se tornaram pecadores e corromperam a ordem criada mediante a desobediência
deliberada. Em consequência da ação deles, o mundo da experiência humana ficou fragmentado
e quebrado, alienado e caótico. O drama insiste que a humanidade, não Deus, é culpada pela
corrupção do mundo de Deus.22
O pecado surgiu por um ato deliberado e voluntário do homem; o homem abusou do
seu livre-arbítrio se rebelando contra seu criador, como resultado veio a desordem, o mal entrou
no mundo. Em Gênesis temos a resposta para aquela pergunta que meche tanto com a
humanidade, de onde veio o mal físico e moral?
O tema básico de Gênesis 1 – 11 é o poder corruptor do pecado. Desde o início da
rebelião humana, o pecado vem desfigurando e manchando a boa obra de Deus.
3.6.3. Deus julga o pecado humano.
Em cada episódio Deus se contrapõe ao pecado humano com julgamento. No Éden, ele
primeiro julga a serpente (3.14s.), depois, a mulher (v.16) e por fim o homem (v.17-24). O
21 William LaSor. Introdução ao AT p.24 22 Ibid p. 27
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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julgamento para cada um é o novo estado em que deve viver num mundo agora caracterizado
pelo pecado e pela alienação.
É importante notarmos aqui sobre o julgamento da mulher e do homem, que eles foram
punidos, mas não amaldiçoados. Apenas a serpente é amaldiçoada. O julgamento deles atinge
seus meios de sobrevivência, a procriação e a produção de alimentos.
O julgamento que Deus pronunciou contra Caim é de fato severo (cap. 4). Uma vez que
por suas mãos a terra bebeu o sangue de Abel, ele não lhe fornecerá seu produto. Caim é
condenado a ser fugitivo sobre a terra. Ele deixa a presença do Senhor e passa a viver na terra da
peregrinação sem fim (Node), no oriente distante.
O relato do dilúvio revela o grau excruciante que pode atingir o julgamento divino.
Assim também, o julgamento de Deus confronta o pecado da humanidade com o um
todo na torre de Babel. Para combater a ameaça das propensões malignas inerentes na existência
coletiva, Deus dispersa a humanidade confundindo-lhe a língua. Os homens se dividem em
incontáveis tribos e estados. Ao final do prólogo primevo, a humanidade encontra-se num estado
alienado; as pessoas estão separadas de Deus e uma das outras num mundo hostil. Indivíduos
lançam-se contra indivíduos, elementos sociais contra elementos sociais, nações contra nações23.
3.7. A História Patriarcal (2000 – 1500 a C.)
A segunda parte do Gênesis começa com a chamada de Abrão. “Ora, disse o Senhor a
Abrão: sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de
ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção”. (Gn
12.1-3). Na primeira parte do Gênesis, isto é, a história primeva, as personagens principais foram
Adão e Noé, cujas vidas serviam como sustentáculos para o plano de Deus e sua consequência
para a humanidade. Agora o personagem principal é Abrão. A história dele e de seus
descendentes preenche os capítulos restantes do livro de Gênesis e forma uma corrente que se
estende por toda a Bíblia. Este período é conhecido como o período patriarcal24.
23 Ibid p. 32 24 Patriarca – pai e chefe de uma família, tribo ou raça.
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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O chamado de Abraão inicia um desdobramento histórico radicalmente novo. Deus atua
na história para provocar uma série de eventos que, no final, preencherão a lacuna que o pecado
interpôs entre Deus e o homem. Deus chama Abraão de Ur dos caldeus, uma cidade pagã que
servia a outros deuses (Js 24.2). Em obediência à chamada divina, Abraão deixou sua terra natal
e foi para Canaã. Ele abandonou seus antigos costumes religiosos para seguir fielmente a Deus.
Esse mesmo Deus apareceu a cada um dos patriarcas, escolhendo-os e prometendo estar com
eles (Gn 12.1-3; 15.1-6; 28.11-15). Cada um por sua vez escolheu servir a esse Deus
reconhecendo-O como protetor da família e a ela vinculavam: “o Deus de Abraão”, “o Deus de
Isaque” e “o Deus de Jacó” (Gn 24.12; 28.13; 31.42,53; Êx 3.6).
3.8. A Teologia das Narrativas
3.8.1. Eleição e promessas divinas (12.1-3).
A eleição de Abraão é o início da história patriarcal. Deus recomeça a história da
redenção elegendo um homem para que através dele sejam realizados seus propósitos salvíficos.
Esse recomeço súbito realça, por contraste, o próprio chamado. Fornece um modelo pelo qual se
deve interpretar toda a história patriarcal.
A eleição e as promessas feitas a Abraão revelam a garça de Deus em resposta à
desobediência e ao julgamento registrado da primeira parte do Gênesis. A escolha de Abraão e as
promessas incondicionais de terra e nacionalidade têm como alvo maior as bênçãos de todas as
comunidades da terra. O início da história da redenção oferece uma palavra acerca de seu final.
A salvação prometida a Abraão abrangerá, por fim, toda a humanidade. Deus não dispensou para
sempre em ira, a família humana. Ele agora age para fechar o abismo causado pelo pecado entre
ele e o homem. Essa promessa atua como chave para compreensão de toda a Escritura.25
3.8.2. Fé e Justiça.
Nas histórias de Abraão, a promessas de incontestáveis descendentes afunila-se no
problema angustiante de um filho. O cumprimento é adiado de um modo estranho. O centro das
histórias é a fé demonstrada por Abraão. O convite a Abraão é radical. Ele deve abandonar suas
raízes – terra e parentes (12.1) – por um destino incerto, “a terra que te mostrarei”. E assim partiu
25 LaSor, William. Introdução ao AT p. 51
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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Abraão como o Senhor lhe ordenou (12.4). Abraão é apresentado como um paradigma de fé. Sua
obediência e confiança no Senhor que o chamou são exemplares. O fato de o autor lutar com a
questão da fé (e sua relação com a justiça) é visto em 15.6: “Ele (Abraão) creu no Senhor, e isso
lhe foi imputado para justiça”. A justiça de Abraão estava em sua confiança – sua fé – na
promessa de Deus. A justiça de Abraão residia em sua fé na promessa generosa de Deus. Assim,
a justiça de uma pessoa em relação a Deus é concretizada quando tal relacionamento é
caracterizado por fé (veja Rm 1.16s; Gl 3.6-9).26
Em Gênesis 12-50 são apresentados os elementos básicos do início da história da
redenção. Deus escolheu livremente um homem e seus descendentes por meio de quem “serão
benditas todas as famílias da terra”.
3.9. Chaves para Gênesis
Palavra-chave: Começo
Versículos-chaves (3.15; 12.3)
Capítulo-chave (15) – a aliança abraâmica é a parte central de toda a Escritura, a qual é
apresentada em 12.1-3 e ratificada em 15.1-21. Três promessas especificas são feitas: (1) a
promessa de uma grande terra (15.18); (2) a promessa de uma grande nação (13.16); e (3) a
promessa de uma grande benção (12.2).
Cristo em Gênesis – Cristo é a semente da mulher (3.15); é descendente de Abraão (12.3; cf. Gl
3.16), de Isaque (21.12), de Jacó (25.23) e da tribo de Judá (49.10). Cristo é também visto no
povo e nos eventos que servem como tipos. Adão é o tipo daquele que havia de vir (Rm 5.14). A
oferta aceitável que Abel ofereceu com o sangue de um sacrifício aponta para Cristo.
Melquisedeque (rei justo) é feito como filho de Deus (Hb 7.13).27
26 Ibid p. 55 27 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 8
Jesus, O Descendente da Mulher feriu a cabeça da serpente!
Disse o apóstolo Paulo: “vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher...” (Gl 4.4). Jesus feriu a serpente na cabeça, mortalmente. Isso aconteceu na cruz.
Foi ali que Jesus tomou sobre si os nossos pecados e fez expiação por eles; foi ali também
que ele enfrentou a morte, e a venceu. Paulo escreveu também que Jesus, “despojando os
principados e potestades (os poderes demoníacos), publicamente os expôs ao desprezo,
triunfando deles na cruz” (Cl 2.15). Esta foi a batalha decisiva. Porém, a consumação
dessa vitória está por acontecer, pois temos a promessa: “O Deus da paz, em breve,
esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás” (Rm 16.20).
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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3.10. CONCLUSÃO
Gênesis não é tanto uma história do homem quanto é o primeiro capítulo na história da
redenção humana. Como tal, é uma sublime interpretação espiritual seletiva da história. Gênesis
está dividido em quatro grandes eventos (1-11) e quatro grandes pessoas (12-50).
Os quatro grandes eventos capítulos de 1-11:
(1) Criação – Deus é o soberano Criador de todas as coisas;
(2) Queda – a origem do pecado; Deus criou o homem em perfeito estado, mas o homem
desobedeceu ao seu Criador;
(3) Dilúvio – o juízo de Deus contra a humanidade corrompida pelo o pecado;
(4) Nações – Gênesis ensina a unidade da raça humana: somos todos filhos de Adão através
de Noé, mas, em virtude da rebelião na Torre de Babel, Deus fragmenta a única cultura e
língua do mundo pós-dilúvio e dispersa o povo sobre a face da terra.
As Quatro Grandes Pessoas dos capítulos 12-50:
(1) Abraão – sua eleição é o ponto em torno do qual gira todo o livro;
(2) Isaque – Deus estabeleceu seu pacto com ele como um ele espiritual com Abraão;
(3) Jacó – Deus transformou este homem de egoísta em servo, e muda seu nome para Israel,
o pai das doze tribos;
(4) José – De escravo torna-se governador no Egito.28
Para refletir Gn 3.16
28 Ibid p. 9
Homem e Mulher – Equilíbrio em Cristo
O homem precisa saber que a sentença da mulher – ser-lhe submissa – não
lhe dá o direito de governá-la com rigor, ditatorialmente. Mesmo porque,
como escreveu o apostolo Paulo, quando ambos crêem em Cristo e se
submeteu ao seu senhorio, a distinção hierárquica desaparece,
permanecendo apenas as funções respectivas. “... já não há nem homem
(...) nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.26-28).
Onde se lê: “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como
ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher” (...), também está
escrito: “maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja
(...) (Ef 5.22,25). E noutro lugar: “maridos (...) vivei a vida comum do lar
(...) e, tendo consideração para com a vossa mulher (...) tratai-a com
dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida (...)
(1Pe 3.7).
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4. O LIVRO DE ÊXODO
4.1. Introdução e Título
O livro de Gênesis termina com a família de Jacó indo para o Egito. Neste tempo José é
governador no Egito, a fome que veio sobre aquela região fez com que os seus irmãos fossem em
busca de alimento no Egito, promovendo assim o reencontro com José, que agora é governador,
após o reconhecimento, José na posição de governador oferece um lugar melhor para toda a sua
família. Mas antes de morrer José disse aos seus irmãos que eles não ficariam para sempre no
Egito: “Estou à beira da morte. Mas Deus certamente virá em auxilio de vocês e os tirará desta
terra, levando-os para a terra que prometeu com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó” (Gn
50.24). Depois de aproximadamente quatrocentos anos de crescimento no Egito, a infante nação
de Israel está agora pronta para deixar atrás de si as cadeias da escravidão e para sair em busca
de uma nova pátria. Êxodo narra a libertação de Israel do cativeiro egípcio e a migração da nova
nação de Deus rumo a terra prometida liderado pelo o servo de Deus, Moisés. Êxodo é o registro
de nascimento de Israel como nação. Dentro do ventre protetor do Egito, a família judaica de
setenta pessoas rapidamente se multiplica29.
a- Êxodo – palavra grega que significa “marchar” ou “partir”. É uma palavra composta
que provem de ek, preposição grega que significa “fora de” e hodos, que significa “via” ou
“caminho”. Daí a ideia de saída. Êxodo é via que conduz para fora. O título hebraico, “We’elleh
Shemoth”, “E estes são os Nomes”, deriva-se da primeira frase em 1.1. O Êxodo no hebraico
começa com “E”, a fim de apresentá-lo como continuação de Gênesis. O título latino é “Líber
Exodus”, “Livro da Saída”, tomado do título grego30.
b- Egito. A história do Egito remota ao ano 3000 a. C., quando o reino do vale do Nilo
e o reino do delta foram unificados pelo rei Menés. A época clássica da civilização egípcia
chama-se Antigo Reino (2700-2200 a. C.). As enormes pirâmides, edificadas como túmulos
reais, e a grande esfinge de Gizé foram construídas neste período.
No século XVIII os hicsos invadiram o Egito e estabeleceram sua capital em Tânis (Zoá
Avaris). Os invasores procediam, provavelmente, da Ásia Menor e utilizavam carros puxados
29 Ibid p. 13 30 Ibid p.14
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por cavalos, e o arco composto, armas que os egípcios desconheciam. Contudo, os hicsos
permitiram que os egípcios mantivessem um governo secundário em Tebas e no Baixo Egito. Em
1570 a. C. os egípcios, dirigidos por Amósis I, expulsaram os odiados hicsos e estabeleceram o
Reino Novo (1546-1085 a. C.). É neste período que os hebreus estiveram no Egito.
O mais famoso conquistador egípcio e fundador do império do Egito na época do Novo
Reino foi Tutmés III (Tutmósis III) que reinou entre 1500 e 1450 a.C. Ramasés II (1290-1224
a.C.), considerado o Faraó do êxodo, por muitos estudiosos, destacou-se por seus projetos de
construção em Tebas e por continuar levantando as cidades de Armazéns, Píton e Ramessés.
A religião do Egito era politeísta. Prestava-se culto às forças da natureza tais como o
sol, a luz e o rio Nilo e também a certos animais e aves. Deificaram animais como o touro, o
gato, o crocodilo, a rã e a serpente. Os egípcios a atribuíam aos deuses a fertilidade da terra e dos
animais, a vitória ou a derrota na guerra e as enchentes do rio Nilo31.
c- A Data do Êxodo. Marcar com exatidão a data do Êxodo é uma tarefa muito difícil,
muitos historiadores e pesquisadores divergem-se entre si a respeito da data do êxodo. A certeza
que temos é que o Êxodo ocorreu entre o ano 1450 e 1220 a.C. No ano de 1220 Israel já estava
estabelecido em Canaã, pois um monumento levantado pelo Faraó Mereptá faz alusão ao
combate entre egípcios e israelitas na palestina, naquela data32.
A respeito da data do Êxodo há duas opiniões principais. A primeira opinião defende
que o Êxodo ocorreu no ano de 1440 a.C. a segunda opinião defende que o Êxodo ocorreu no
reinado de Ramessés II, entre 1260 e 1240 a.C. Se a data anterior é correta, Tutmés III, o grande
conquistador e construtor, foi o opressor de Israel, e Amenotepe II foi o Faraó do Êxodo33.
Segundo LaSor34, o período geral que mais se adapta ás evidencias bíblicas e extrabíblicas é a
primeira metade do século XIII a.C.
31 HOFF, Paul. O Pentateuco pp. 101-4 32 Ibid p. 104 33 Ibid 34 LASOR, William. Introdução ao AT p. 64
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 31
4.2. Tema e Propósito.
O tema de Êxodo é “redenção” – graciosamente Deus liberta e redime o seu povo da
escravidão do Egito.
O livro de Êxodo relata a transformação que a família escolhida de Gênesis passou até se
tornar em uma grande nação. Registra os dois grandes acontecimentos da história de Israel: “o
livramento do Egito e pacto da lei entregue no Sinai. O livramento do Egito possibilitava o
nascimento da nação, a entrega da lei modelava o caráter na nação a fim de que ela fosse
santificada ao Senhor.
O livro também descreve o cumprimento da promessa que Deus fez a Abraão, Deus havia
prometido a Abraão um grande território e uma grande nação. Primeiro Deus multiplicou o povo
do Egito, depois o livra da escravidão e a seguir o constitui uma nação35.
Êxodo é um livro de redenção. Deus o redentor não somente livra o seu povo da
escravidão do Egito mediante o seu poder que revela através das dez pragas, mas também salvou
o seu povo mediante o sangue, simbolizado no cordeiro pascoal (Ex 12). A páscoa ocupa lugar
central na revelação de Deus a seu povo, tanto no Antigo como no Novo Pacto, pois o cordeiro
pascoal é símbolo profético do sacrifício de Cristo (cf. Lc 22.7-20; 1Co 5.7). O livro de Êxodo
nos ensina muito sobre o caráter de Deus. No livramento do seu povo ele é misericordioso e
também poderoso. Sua santidade é revelada na lei, mas também ele é acessível mediante o
sacrifício oferecido no Tabernáculo. Há um paralelo espiritual entre o êxodo dos israelitas e
êxodo espiritual da Igreja do Senhor. O Egito vem a ser símbolo do mundo pecaminoso; os
egípcios simbolizam os pecadores escravizados; Moisés simboliza o redentor divino que livra a
seu povo mediante o poder e sangue e o conduz à terra prometida36.
4.3. Esboço de Êxodo
Primeira parte: O povo redimido do Egito (1.1-18.27)
I. O povo de Israel no Egito ..............................................................................................1.1-22
1. A rápida multiplicação do povo de Israel ...........................................................1.1-7
2. O castigo imposto a Israel .................................................................................1.8-14
35 HOFF, Paul. O Pentateuco. P. 105 36 ibid
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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3. O plano de extinguir Israel ..............................................................................1.15-22
II. A preparação dos líderes da redenção .......................................................................2.1-4.31
1. Moisés é salvo da morte ....................................................................................2.1-10
2. Moisés mata um egípcio...................................................................................2.11-22
3. Israel invoca ao Senhor Deus...........................................................................2.23-25
4. Deus chama Moisés.........................................................................................3.1-4.17
5. Moisés atende ao chamado de Deus.................................................................4.18-26
6. Israel aceita o chamado de Moisés como libertador........................................4.27-31
III. Israel é redimido da escravidão no Egito................................................................5.1-15.21
1. Moisés enfrenta Faraó.......................................................................................5.1-6.9
2. Moisés enfrenta o Faraó com milagres.........................................................6.10-7.13
3. Moisés enfrenta o Faraó com as pragas......................................................7.14-11.10
4. Israel é redimido por sangue através da Páscoa..........................................12.1-13.16
5. Israel é redimido do pode do Egito...........................................................13.17-15.21
IV . Preservação de Israel no deserto........................................................................15.22-18.27
1. Preservado da sede e da fome.....................................................................15.22-17.7
2. Preservado da derrota......................................................................................17.8-16
3. Preservado do Caos.........................................................................................18.1-27
Segunda parte: Deus se revela ao povo (19.1-40.38)
I. A revelação do Antigo Pacto.................................................................................19.-31.18
1. A preparação do povo......................................................................................19.1-25
2. a revelação do pacto.........................................................................................20.1-26
3. Os juízos........................................................................................................21.-23.33
4. A ratificação formal do pacto...........................................................................24.1-11
5. O Tabernáculo...........................................................................................24.12-27.21
6. Os sacerdotes..............................................................................................28.1- 29.46
7. A instituição do pacto.................................................................................30.1- 31.18
II. A resposta de Israel ao pacto..................................................................................32.1-40.38
1. Israel quebra o pacto..........................................................................................32.1-6
2. Moisés intercede pelo povo…………………………………………………..32.7-33
3. Moisés convence Deus a não abandonar Israel.........................................32.34-33.23
4. Deus renova o pacto com Israel ......................................................................34.1-35
5. Israel voluntariamente obedece ao pacto....................................................35.1-40.33
6. Deus enche o Tabernáculo com Sua Glória..................................................40.34-38
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4.4. A importância de Moisés
Moisés é o grande líder, é a figura chave do Pentateuco, de Êxodo a Deuteronômio
encontramos a marca dele. Foi o homem que Deus escolheu para uma grande obra, libertar o seu
povo da escravidão de do Egito. Através de Moisés, Deus operou maravilhas, desde as pragas
lançadas no Egito, à abertura do mar, o maná e diversos milagres, além disso, é com ele que
Deus fala e transmite a sua Lei, mandamentos para o controle ético da nova nação. É Moisés que
vai organizar essa nação formada por doze tribos e transmitir fielmente a ela os mandamentos de
Deus. Moisés é o grande profeta de Deus, e legislador da nação de Israel.
4.4.1. O nascimento de Moisés.
Como já falamos anteriormente o livro começa relatando o grande crescimento dos
hebreus no Egito. Estava se cumprindo a promessa que Deus havia feito a Abraão, “ele seria pai
de uma grande nação” (Gn 12.2), mas o preço era muito grande. Seu número cresceu tanto que o
Faraó começou a temer pela segurança de sua nação. Para proteger e enriquecer a sua nação, o
Faraó reduziu o povo de Israel a meros escravos. Ele o fez trabalhar em muitos projetos de
construção no Delta, principalmente nas cidades de Pitom e Ramessés. Quando esta estratégia de
evitar o crescimento dos hebreus falhou (Êx 1.15-21), ele decretou que todas as crianças recém-
nascidas do sexo masculino fossem mortas37. É nesta circunstância que nasceu Moisés. A sua
mãe o escondeu por um pequeno tempo, não podendo mais, ela o colocou num sexto betumado e
colocou no rio, sendo depois encontrado pela filha do Faraó (Êx 2.1-10). Moisés foi um milagre
de Deus.
A filha de Faraó deu-lhe o nome de “Moisés”, porque foi tirado das águas (Ex 2.10).
Pelo que tudo indica, Moisés foi criado na corte egípcia, recebendo educação para a realeza (cf.
At 7.22; Hb 11.23-28). Com certeza aprendeu, a ciência egípcia, o manejo de armas, a
administração. Essas habilidades o capacitavam para postos de confiança e responsabilidade na
administração nacional38.
37 LASOR, William. Introdução ao AT p. 70 38 Ibid
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4.4.2. Moisés em Midiã.
Moisés já adulto viu um egípcio maltratando um hebreu, ele o feriu e matou o egípcio.
Isto revela que Moisés tinha consciência de sua nacionalidade. Temendo o Faraó ele foge do
Egito e se refugia em Mídia. Ali ele se estabelece com Jetro, o qual veio a ser o seu sogro (Ex
2.11-25).
4.4.3. O chamado de Moisés.
Logo cedo Moisés tentou amenizar o sofrimento de seu povo usando sua própria
estratégia, o que resultou no assassinato de um egípcio, motivo pelo qual ele fugiu para Mídia.
Moisés que fora criado e educado na corte egípcia, tinha aproximadamente quarenta anos de
idade quando fugiu do Egito. Mesmo com toda a educação recebida no Egito, Moisés ainda não
estava preparado para liderar o povo de Deus na marcha pela libertação. Moisés agora passa
aproximadamente quarenta anos pastoreando ovelhas, isto deu a Moisés experiências que ele
precisa para liderar um grande número de pessoas na marcha pelo deserto. É neste período,
quando Moisés cuidava das ovelhas de seu sogro (Jetro) que Deus apareceu e ele numa visão
assustadora, o Senhor apareceu a ele numa chama de fogo; “uma sarça ardia mais não se
consumia” (Ex 3.2). Quando aproximou para ver o que era aquilo, ele foi abordado por uma voz
que saia de dentro do fogo: “vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus do meio da sarça,
o chamou e disse: Moisés! Moisés! (...) não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque
o lugar em que estás é terra santa. (...) Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de
Isaque e o Deus de Jacó (...)” (3.4-6). Deus declara a Moisés ter ouvido o clamor e aflição do
Seu povo, e comissiona agora e ele para libertar o povo (3.7-10). De repente, Moisés torna-se de
pastor de ovelhas para libertador. Nos versículos seguintes Moisés levanta uma serie de
desculpas para não ir, mas Deus o convenceu através de sinais que Ele era com Moisés, que era
no poder dEle que Moisés libertaria o seu povo.
A Família de Moisés
A despeito da corrupção dos hebreus no Egito, havia exceções. O lar em que
Moisés nasceu é um exemplo. O Novo Testamento refere-se à fé e a coragem dos
seus pais, Anrão e Joquebede (Hb 11.23). Anrão era neto de Levi e bisneto de
Jacó; Joquebede era filha de Levi e tia de Anrão (Êx 2.1; 6.16-20). Os irmãos mais
velhos de Moisés, Miriã e Arão, tinham 15 e 3 anos de idade quando Moisés
nasceu (Êx 2.4; 6.20; 7.7). Miriã veio a ser profetiza (Êx 15.20,21), e Arão
assistente de Moisés e, depois, sacerdote (Êx 4.14-16;28.1ss).
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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4.4.4. 4.4. Profeta e Legislador.
“Na qualidade de alguém especialmente proeminente em declarar e ensinar a verdade,
os mandamentos e a natureza de Deus, Moisés foi caracteristicamente o modelo de todos os
verdadeiros profetas posteriores, até a vinda d’Aquele de quem foi o precursor (Dt 18.22; At
3.22,23), do qual todos os profetas dão testemunho (At 10.43). Ele foi chamado por Deus não
apenas para conduzir o povo de Israel para fora da escravidão, mas igualmente para tornar
conhecida a vontade de Deus. E foi isso que fez, ao anunciar o livramento vindouro (Ex 4.30ss.;
6.8ss.), na comunicação dos mandamentos de Deus a Israel39”.
4.5. O conflito com Faraó: as Pragas e a Páscoa, e, finalmente a Saída (caps. 5-12).
Quando Moisés foi até Faraó e pediu para que ele deixasse o povo sair do Egito,
recebeu um não categórico como resposta, disse Faraó: “Quem é o Senhor para que lhe ouça eu
a voz, e deixe ir a Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir a Israel” (5.2).
Assim inicia-se uma grande guerra entre Faraó (que era considerado um deus) e Javé, o EU
SOU. Deus manifesta seu poder numa série de pragas contra o arrogante Faraó e o Egito.
“Uma das palavras hebraicas que se traduzem por “praga” significa dar golpes ou ferir.
Outras duas palavras descrevem as pragas como “sinais” e “juízos”. De modo que as pragas
foram tanto sinais que demonstram que o Senhor é o Deus supremo, como atos divinos pelos
quais Deus julgou os egípcios e libertou o seu povo. As pragas foram a resposta de Deus à
pergunta de Faraó: “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei?”(7.17). Cada praga foi, por outro
lado, um desafio aos deuses egípcios e uma censura à idolatria. Os egípcios prestavam cultos às
forças da natureza tais como o rio Nilo, o Sol, a Lua, a Terra, o touro e muitos outros animais.
Agora as divindades egípcias ficaram em evidente demonstração de sua impotência perante o
Senhor, não podendo proteger os egípcios das pragas40”.
4.5.1. A ordem e significado das pragas.
(1) A água do rio Nilo foi transformada em sangue (7.14-25). Os egípcios consideravam o
Nilo como um deus, e além disso, considera Hapi o deus das inundações. Essa praga
demonstrou a insuficiência dessas divindades.
39 O Novo Dicionário da Bíblia p. 40 HOFF. Paul. O Pentateuco p. 113
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(2) A terra ficou infestada de rãs (8.1-15). Os egípcios relacionavam as rãs com os deuses
Hapi e Ecte.
(3) A praga dos piolhos (8. 16-19). O pó da terra considerada sagrada pelos egípcios,
converteu-se em insetos muito importunadores.
(4) A praga das moscas (8.20-32). Talvez esta praga tenha sido contra os escaravelhos
sagrados, adorados pelos egípcios.
(5) A morte do gado (9.1-7). Amon, o deus adorado em todo o Egito, era um carneiro, animal
sagrado. Além dele, os egípcios adoram vários deuses em forma de bode, carneiro e touro.
(6) Úlceras e tumores (9.8-12). As cinzas que os sacerdotes egípcios espalhavam como sinal
de benção causaram úlceras dolorosas.
(7) A saraiva (9.13-35). A palavra trovão no hebraico significa “voz de Deus”, e isto insinua
que Deus falava aos egípcios em juízo.
(8) Os gafanhotos (10.1-20). Os deuses Ísis e Seráfis foram impotentes de protegerem o
Egito dos gafanhotos.
(9) A praga das trevas (10.21-29). Esta praga foi um grande golpe contra todos os deuses,
especialmente contra Rá, o deus solar. Os luminares celestes, objetos de culto, eram
incapazes de penetrar a densa escuridão. Foi um golpe direto contra o próprio Faraó, pois
era considerado filho de Rá (Sol).
(10) A morte dos primogênitos (caps. 11e 12.29-36). O Egito havia oprimido o primogênito
do Senhor e agora eles próprios sofriam a perda de todos os seus primogênitos41.
4.5.2. A Páscoa (12.1-13.16).
A palavra “páscoa” origina-se de um termo hebraico “pesah”, que significa “passar ao
largo”, ou “passar por cima”. Pois o anjo destruidor passou por cima das casas dos hebreus, as
quais tinham o sangue do cordeiro pascal nos batentes das portas. A páscoa marca a libertação
dos israelitas do Egito, pois somente depois da décima praga (a morte dos primogênitos) foi que
o Faraó deixou o povo sair. A páscoa ocorreu no mês de Abibe (que é também chamado de Nisã
na história posterior), que corresponde aos nossos meses de março e abril. A páscoa também
marcou o calendário religioso dos hebreus.
De acordo com o Novo Testamento, a páscoa é um símbolo da redenção em Cristo
Jesus; o cordeiro pascal que foi imolado, e o seu sangue foi aplicado nos batentes das portas,
41 Ibid p. 114
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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simboliza o sangue de Jesus que foi derramado por nós libertando-nos do pecado e da
condenação (cf. Jo 1.29; 1Co 5.6-8).
4.5.3. O Pacto da Lei.
Após o livramento da escravidão do Egito e a travessia milagrosa no mar Vermelho, o
povo hebreu viaja em direção ao Sinai, uma jornada de mais de dois meses (19.1). Chegando ao
monte Sinai, o povo acampou-se diante dele, e Moisés subiu ao monte para falar com Deus. Ali
Deus falou com Moisés, disse a ele que entraria em aliança com o povo para que ele se tornasse
propriedade dEle (19.5-19).
A condição da aliança foi anunciada por Deus: “se diligentemente ouvirdes a minha
voz, guardardes a minha aliança” (19.5). A aliança é um meio de estabelecer um relacionamento
(que não existe por vias naturais) sancionado por um juramento proferido numa cerimônia de
ratificação42. Todos os elementos que formam uma aliança estão presentes no Sinai. Em Êxodo
19.3-8 Israel é convidado a um relacionamento especial com Deus, descritos por três fases:
(1) Israel seria uma propriedade particular ou possessão de Deus. Implica tanto um valor
especial como uma relação íntima.
(2) Seria um reino de sacerdotes.
(3) Seria um povo santo, diferente das nações vizinhas. Seria uma nação separada para o
serviço de Deus.
As três promessas feitas aos hebreus se cumprem na Igreja, que é o Israel espiritual de
Deus (1Pe 2.9,10).
“O pacto da lei não teve a intenção de ser meio de salvação. Foi celebrada com Israel
depois de sua redenção alcançada mediante poder e sangue. Deus já havia restaurado Israel à
justa relação com ele, mediante a graça. Israel já era seu povo. O Senhor deseja dar-lhe algo que
o ajudasse a continuar sendo o seu povo e a ter uma relação mais íntima com ele. O motivo que
levasse a cumprir a lei haveria de ser o amor e a gratidão a Deus por havê-los redimidos e feitos
filhos seus43”.
42 LASOR, William. Introdução ao AT p. 79 43 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 131
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4.5.4. O decálogo (20.1-26)
Deus escreveu as suas palavras, ou seja, os dez mandamentos (as dez palavras, hebraico
dabar) em uma taboa de pedra e as deu a Moisés; esses mandamentos tinham a finalidade de
orientar o povo como eles deviam andar diante de Deus. Tanto seu comportamento ético quanto
espiritual deveria ser dirigido pelos mandamentos. Os quatro primeiros mandamentos tratam das
relações entre os homens e Deus; os outros tratam das relações entre os homens. A ordem é
muito apropriada. Somente os que amam a Deus podem em verdade amar a seu próximo. O
significado dos dez mandamentos consiste no seguinte:
(1) A unidade de Deus: “não terá outros deuses diante de mim”. Há um só Deus e só a
ele devemos oferecer culto. A adoração a anjos, a santos ou qualquer outra coisa é violação do
primeiro mandamento.
(2) A espiritualidade de Deus: “Não farás para ti imagem”. Proíbe-se não somente a
adoração de imagens ou deuses falsos, mas também o prestar culto ao verdadeiro Deus em forma
errada. Deus é espírito e não tem forma (Jo 4.23,24).
(3) A santidade de Deus: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. Este
mandamento inclui qualquer uso do nome de Deus de maneira leviana, blasfêmia ou insincera.
Deve-se reverenciar o nome divino porque revela o caráter de Deus.
(4) A soberania de Deus: “lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo”. Um dia da
semana pertence a Deus Reconhece-se a soberania de Deus guardando o dia de repouso, visto
que esse dia nos lembra que Deus é o Criador a quem devemos culto e serviço. “santificar” o dia
significa separá-lo para o culto e serviço.
(5) Respeito aos representantes de Deus: “Honra o teu pai e a tua mãe”. O homem que
não honra os seus pais tampouco honrará a Deus, pois esta é a base do respeito a toda a
autoridade.
(6) A vida humana é sagrada: “Não matarás”. Este mandamento proíbe o homicídio
mas não a pena capital, visto que a própria lei estipulava a pena de morte. Também se permitia a
guerra, visto como o soldado atua como agente do estado.
(7) A família é sagrada: “Não adulterarás”. Este mandamento protege a o matrimônio
por ser uma instituição sagrada instituído por Deus. Isto vigora tanto para o homem quanto para
a mulher (Lv 20.10).
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(8) Respeito à propriedade alheia: “Não furtarás”. Há muitas maneiras de violar este
mandamento, tais como não pagar suficientemente ao empregado, não fazer o trabalho
correspondente ao salário combinado, cobrar demasiado e descuidar a propriedade do senhor.
(9) A justiça: “Não dirás falso testemunho”. O testemunho falso, desnecessário, sem
valor ou sem fundamento constitui uma das formas mais seguras de arruinar a reputação de uma
pessoa e impedi-la de receber tratamento justo por parte dos outros.
(10) O controle dos desejos: “Não cobiçarás”. A cobiça é o ponto de partida de muitos
dos pecados contra Deus e contra os homens.44
Para refletir
4.5.5. O Tabernáculo
Duas passagens longas de Êxodo descrevem o tabernáculo e seus utensílios. Nos
capítulos 25-31, Deus revela a Moisés o plano, os materiais e os desígnios para construí-lo. Nos
capítulos 35-40, Moisés segue as ordens de Deus, nos menores detalhes.
O tabernáculo era um santuário portátil, formado de uma estrutura de madeira de acácia
recoberta por duas grandes cortinas de linho. Uma das cortinas formava a sala principal, o Lugar
Santo, enquanto a segunda cobria o Santo dos Santos (i.é., o Santíssimo Lugar), uma sala menor
no fundo da sala principal separada por uma cortina especial.45
O tabernáculo tinha vários nomes. Em regra geral, chamava-se “tenda” ou
“tabernáculo” por sua cobertura exterior que o assemelhava a uma tenda. Também se
44 Ibid pp. 132,133 45 LASOR, William. Introdução ao AT p. 82
As palavras, “porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos
pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (20.5)
devem ser interpretadas à luz do caráter de Deus e de outras passagens paralelas das
Escrituras. Deus é zeloso no sentido de ser exclusivista, não tolerando que seu povo
preste culto a outros deuses.
Deus não castiga os filhos pelos pecados de seus pais senão nos casos em que os filhos
continuem nos pecados dos pais. Castiga os que o “aborrecem” e não os arrependidos.
“A alma que pecar, essa morrerá, o filho não levará a maldade do pai, nem o pai
levará a maldade do filho” (Ezequiel 18.20). Em vez disso a maldade passa de geração
a geração pela influência dos pais e quando chega a seu ponto culminante Deus traz
castigo sobre os pecadores (Gn 15.16; 2Rs 17.6-23; Mt 23.32-36).
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 40
denominava “tenda da congregação” porque ali Deus se reunia com seu povo (29.42-44). Visto
como continha a arca e as tábuas da lei, chama-se “tabernáculo do testemunho” (38.21).
Testificava a santidade de Deus e da pecaminosidade do homem. Chama-se, além disso,
“santuário” (25.8) porque era uma habitação santa para o Senhor.46
4.6. Chaves para Êxodo
Palavra-chave: Redenção
Versículos-chave (6.6; 19.5,6)
Capítulos-chave (12-14)
Cristo em Êxodo – em Êxodo há várias profecias indiretas a respeito de Cristo, vejamos:
➢ (1) Moisés – é um tipo de Cristo (18.15)
➢ (2) A páscoa – o cordeiro pascal representava Cristo, (cf. Jo 1.29,36; 1Co 5.7
➢ (3) O êxodo – Paulo relaciona o batismo com o evento do êxodo, visto que o batismo
simboliza a morte para o velho e a identificação com o novo (cf. Rm 6.2,3; 1Co 10.1,2).
➢ (4) O Maná e a Água – o Novo Testamento aplica ambos a Cristo (cf. Jo 6.31-35,48-63;
1Co 10.3,4).
➢ (5) O Tabernáculo – em seus materiais, cores, móveis e arranjo, o tabernáculo fala
claramente da pessoa de Cristo e do caminho da redenção.
➢ (6) O Sumo Sacerdote – de várias maneiras os sumos sacerdotes prefiguravam o
ministério de Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote (cf. Hb 4. 14-16; 9.11,12,24-28).
4.7. Conclusão
Êxodo é repleto dos poderosos atos redentivos de Deus em favor de Seu povo oprimido.
Começa com dores e termina com libertação; move-se do gemido do povo para a glória de Deus.
É o seguimento da história que começa em Gênesis com os setenta descendentes de Jacó que se
mudaram de Canaã para o Egito. Multiplicaram-se sob condições adversas em uma grande
multidão. Quando os israelitas finalmente se convertem ao Senhor Deus para a libertação da
escravidão no Egito, Deus prontamente lhes responde, libertando-os com braços fortes e com
grandes juízos (6.6). Deus fielmente cumpre sua promessa feita a Abraão séculos antes (Gn
15.13,14)47.
46 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 141 47 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 16
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5. O LIVRO DE LEVÍTICO
5.1. Introdução e Título
Deus libertou um povo da escravidão, tirou-o do meio do paganismo e transformou esse
povo numa nação; a intenção de Deus não era somente formar uma nação, mas uma nação
diferente, um povo santo que O adorasse. “Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e
separei-vos dos povos, para serdes meus” (Lv 20.26). Levítico focaliza o culto e o caminhar da
nação de Deus. É uma espécie de um manual divino para o povo recém- redimido, mostrando-lhe
como cultuar, servir e obedecer a um Deus santo. Tanto o acesso a Deus (mediante os
sacrifícios) quanto à comunhão com Deus (mediante a obediência) mostra a assombrosa
santidade do Deus de Israel, “sereis santos, porque eu [Senhor] sou santo” (Lv 11.44).
O Título hebraico é Wayyiqra que significa “ele chamou”. O Talmude faz referência a
Levítico como “a Lei dos Sacerdotes” e a “a Lei das ofertas”48. O título “Levítico” vem da
Septuaginta (tradução do hebraico para o grego). Levítico é um adjetivo que significa “o (livro)
levítico” ou o livro pertinente aos levitas. Na versão grega este livro recebeu este nome porque
ele trata da lei relacionadas com os ritos, sacrifícios e serviço do sacerdócio levítico. Mas
devemos levar em conta que nem todos os homens da tribo de Levi eram sacerdotes; o termo
“levita” referia-se aos leigos que faziam o trabalho manual do tabernáculo. O livro não trata
destes levitas, porém o título não é completamente inadequado porque todos os sacerdotes eram
da tribo de Levi49.
5.2. Tema e Propósito
O principal tema de Levítico evidentemente é “Santidade” (11.45; 19.2). O livro ensina
que para alguém aproximar do Deus santo são necessários o sacrifício e a mediação sacerdotal, e
só pode andar com o Deus santo com base na santificação e obediência. O povo escolhido de
Deus deve aproximar-se dele em santidade.
O propósito deste livro era ensinar o povo como eles deveriam se comportar diante de
Deus quanto ao culto, isto é, os procedimentos corretos para fazer sacrifícios, para observar os
48 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 23 49 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 155
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tempos solenes do calendário e como andar em comunhão com o Deus santo, vivendo sempre
em santidade. Ele é um guia para o culto e um código e lei para os sacerdotes e também para
todo o povo. Esse conhecimento permitia ao povo realizar seu culto de modo aceitável a Deus e
também monitorar os sacerdotes, verificando se cumpriam devidamente a lei. Além disso,
impedia que os sacerdotes ganhassem controle indevido sobre o povo, mantendo como
conhecimento secreto o funcionamento básico do santuário50.
O livro também tinha o propósito de preparar a mente humana para as grandes verdades
do Novo Testamento. Levítico apresenta o evangelho revestido de simbolismo. Os sacrifícios da
antiga aliança, especialmente o do grande dia de expiação, antecipavam o sacrifício do mediador
da nova aliança. Levítico é o pano de fundo para entendermos o significado do sacrifício de
Cristo no Calvário e sua glória redentora. Levítico revela a verdadeira face do pecado, revela a
graça e o perdão, e assim prepara os israelitas para a obra do Redentor.
5.3. Esboço de Levítico
Primeira parte: Leis de Acesso Aceitável a Deus: Sacrifício (1.1-17.16)
I. As Leis de Acesso Aceitável a Deus...........................................................................1.1-7.38
1. Leis de Acesso a Deus Quando em comunhão...............................................1.1-3.17
2. Leis de Acesso a Deus Quando destituído de comunhão..................................4.1-6.7
3. Leis para administrar a oferta..........................................................................6.8-7.38
II. As Leis dos Sacerdotes.............................................................................................8.1-10.20
1. A consagração do Sacerdote..............................................................................8.1-36
2. O Ministério do Sacerdócio...............................................................................9.1-24
3. O fracasso do sacerdócio (pecado de Nadabe e Abiu, Eleazar e Itamar).........10.1-20
III. Leis relativas à pureza...........................................................................................11.1-15.33
1. Leis concernentes a alimentos limpos e imundos............................................11.1-47
2. Leis concernentes a infância..............................................................................12.1-8
3. Leis concernentes à lepra............................................................................13.1-14.57
4. Leis concernentes à expiação...........................................................................15.1-33
IV. As Leis de Expiação Nacional..............................................................................16.1-17.16
1. Leis concernentes à purificação nacional através do Dia da Expiação............16.1-34
2. Leis concernentes ao local dos sacrifícios.........................................................17.1-9
50 LASOR, William. Introdução ao AT p. 89
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3. Leis concernentes ao uso de sangue...............................................................17.10-16
Segunda Parte: As Leis da Vida Aceitável com Deus: Santificação (18.1-27-34)
I. As Leis de Santificação para o Povo...................................................................... 18.1-20.27
1. Leis de pecado sexual.......................................................................................18.1-30
2. Leis de ordem social.........................................................................................19.1-37
3. Leis de penalidades..........................................................................................20.1-27
II. As Leis de Santificação para o Sacerdócio............................................................21.1-22.33
1. Práticas proibidas dos sacerdotes.....................................................................21.1-15
2. Pessoas proibidas ao sacerdócio.....................................................................21.16-24
3. Coisas proibidas ao sacerdócio........................................................................22.1-16
4. Sacrifícios proibidos ao sacerdócio................................................................22.17.30
5. O propósito das leis do sacerdócio.................................................................22.31-33
III. As Leis de Santificação no Culto..........................................................................23.1-24.23
1. Leis das festas..................................................................................................23.1-44
2. Leis dos elementos de culto...............................................................................24.1-9
3. Lei do nome de Deus......................................................................................24.10-23
IV. As Leis de Santificação na Terra de Canaã..........................................................25.1-26.46
1. Leis de santificação da terra de Canaã (ano Sabático e ano do Jubileu)..........25.1-55
2. Resultados da obediência e desobediência na terra de Canaã..........................26.1-46
V. As Leis de Santificação Mediante Votos....................................................................27.1-34
1. A consagração especial de coisas aceitáveis....................................................27.1-25
2. Coisas excluídas da consagração...................................................................27.26-34
3. A conclusão de Levítico......................................................................................27.34
5.4. Chaves para levítico
Palavra-chave: Santidade
Versículos-chave (17.11; 20.7,8)
Capítulo-chave (16) – o Dia da Expiação (Yom Kippur) era a mais importante data do
calendário judeu, bem como a única ocasião em que o sumo sacerdote entrava no Santo dos
Santos para “fazer expiação por vós, para purificar-vos, para que sejais limpos de todos os
vossos pecados diante do Senhor” (16.30).
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5.5. Os Sacrifícios.
Os sacrifícios era o meio pelo qual o povo podia aproximar-se de Deus. O Senhor
ordenou: “Ninguém aparecerá vazio diante de mim” (Êx 34.20; Dt 16.16). O sistema sacrificial
foi instituído por Deus para ligar a nação israelita a ele próprio. Não obstante, os sacrifícios
remontam ao período primitivo da raça humana. Em Gênesis 4 vemos que os filhos de Adão,
Caim e Abel já conheciam a prática do sacrifício. Mas o primeiro sacrifício que se encontra na
Bíblia foi feito pelo próprio Deus, quando Adão e Eva pecaram, Deus fez roupas de pele de
animais para cobri-los, isto nos leva a entender que houve um sacrifico de animais para fornecer
peles, ou seja, um animal foi sacrificado para cobrir o pecado do homem (cf. Gn 3.21).
Provavelmente Deus mesmo ensinou os homens a oferecer sacrifícios como meio de aproximar-
se dele. A ideia ficou gravada na mente humana e o costume foi transmitido a toda humanidade.
Com o passar do tempo, os sacrifícios oferecidos pelos os que não conheciam a Deus uniram-se
aos costumes pagãos e se corromperam.
5.5.1. Ideias relacionadas com os sacrifícios:
➢ Substituição e expiação. O homem que peca merece a morte, mas em seu lugar morre o
animal que com o seu sangue que é derramado sobre o altar cobre o pecado do homem.
➢ Consagração. Ao colocar as mãos sobre o animal antes de sacrificá-lo, o ofertante
identifica-se com o animal. Oferecida sobre o altar, a vítima representa aquele que
oferece e indica que o ofertante pertence a Deus.
➢ Indica a ideia jubilosa de comunhão com Deus nas ofertas de paz, pois o ofertante
participa da carne sacrificada em um banquete sagrado.
➢ Adoração. Sacrificar é também adorar a Deus.
5.5.2. A forma em que se ofereciam os sacrifícios (1.3-9).
➢ O ofertante leva pessoalmente o animal à porta da cerca do tabernáculo onde estava o
altar do holocausto.
➢ Depois o ofertante punha as mãos sobre o animal para indicar que este era o seu
substituto se identificando com ele.
➢ O próprio ofertante degolava o animal como sinal da justa paga de seus pecados.
➢ Em seguida o sacerdote aspergia o sangue no altar
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5.5.3. Os tipos de Ofertas
Nome da
Oferta
Propósito Tipo de Oferta Natureza da
Oferta
Ações do
Ofertante
Ações do
Sacerdote
Holocausto era
uma oferta
queimada por
inteiro, (‘olã –
aquilo que
sobe). 1.3-17; 6.
8-13
Para expiar o
pecado
Um macho sem
defeito do gado
(boi, bode ou
carneiro) ou
duas aves.
Queimada por
inteiro
Traz a oferta
coloca a mão
sobre a cabeça
do animal,
mata, tira a pele
e corta em
pedaços.
Aceita a oferta
esparge sangue
no altar. Coloca
os pedaços no
fogo.
Hattãt –
Sacrifício pelo
pecado – 4.1-
5,13; 6.24-30
Para expiar um
pecado não
intencional
específico.
Sacerdote:
novilho
Congregação:
novilho.
Governante:
bode.
Indivíduo
comum: cabra.
Individuo pobre
duas aves.
Individuo muito
pobre: farinha
Gordura
queimada
outras partes
queimadas
Traz a oferta
(anciãos
representa a
congregação.
Esparge sangue
no altar, queima
a gordura etc.,
come a carne.
Em caso de
incluir seu
próprio pecado,
queima a poção
fora do
acampamento.
Ãsham, oferta
por culpa,
transgressão
ou reparação –
5. 14-6.7; 7.1-
10
Para expiar um
pecado que
exigia
reparação ou
uma falha na fé
Igual a oferta de
purificação
(mas a
restituição
especificada)
Igual a oferta de
purificação
Igual a oferta de
purificação
(mais a
restituição
especificada)
Igual a oferta de
purificação
Minhã, oferta
de grãos ou
cereais – 2.1-16
6.14-23
Para garantir ou
manter a boa
vontade.
Consagração a
Deus dos frutos
do labor
humano
Flor de farinha,
bolos, biscoitos
ou primícias
com óleo,
incenso e sal,
mas sem
fermento e nem
mel, em geral
acompanhada
de sacrifício
animal.
Porção
memorial
(askarã)
queimada
Traz a oferta
toma uma
porção
Uma poção é
queimada e a
outra é comida
pelos sacerdotes
e seus filhos
Shelãmim,
ofertas
pacíficas – 3.1-
17; 7.11-21, 28-
36
Para render
louvor a Deus.
Era uma oferta
voluntária
Macho ou
fêmea do gado
bovino, caprino
ou ovino, sem
defeito
A gordura era
queimada e o
restante era
comido pelo
ofertante e seus
convidados na
presença do
Senhor. Aquele
que oferecia o
sacrifício
convidava
outros para o
banquete,
especialmente
ao levita, ao
pobre, ao órfão
e à viúva.
Traz a oferta
coloca a mão
sobre a cabeça,
mata tira a pele,
corta em
pedaços, come
o restante.
Aceita, esparge
sangue no altar,
queima a
gordura come o
restante no
mesmo dia.
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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5.5.4. Avaliação dos Sacrifícios.
“O sistema sacrificial não tirava o pecado realmente, “porque é impossível que sangue de
touros e dos bodes tire os pecados” (Hb 10.4). Somente o sangue de Cristo Jesus nos purifica de
todo pecado. Não obstante, os sacrifícios tinham valor porque eram como uma promessa escrita
de que Deus mesmo proveria o meio. Tinham valor simbólico até que Jesus oferecesse o
verdadeiro sacrifício. Ao depositar a sua fé em Deus e em sua provisão, simbolizada pelo
sacrifício, o crente era considerado justo51”.
Por outro lado, o sistema sacrificial preparou a mente dos israelitas para entender a ideia
de expiação e redenção que mais tarde seria realizada através de Cristo, que ofereceu o perfeito
sacrifício.
“Os sacrifícios incessantes de animais e a chama incessante do fogo no altar foram sem
dúvida propostos por Deus para gravar na consciência dos homens a convicção de sua própria
pecaminosidade e para ser um quadro perdurável do sacrifício vindouro de Cristo, para quem
apontavam e em quem foram cumpridos52”.
5.6. O Sacerdócio (Êx 28, 29; Lv 8, 9, 10, 21,22)
Antes de Deus dá a Moisés a Lei, o sacerdócio era exercido por cada chefe de família.
O chefe de família, ou chefe tribal tinha a responsabilidade sacerdotal perante Deus. Depois do
Êxodo, sendo que Deus desejava que Israel fosse uma nação de sacerdotes, Ele nomeou a Arão e
seus filhos para constituírem o sacerdócio. Israel deixou de ser apenas algumas tribos e se tornou
uma grande nação, já não era mais possível cada pai de família ser responsável pelo o culto. A
complexidade dos sacrifícios, a forma de culto, o trabalho no tabernáculo exige pessoas que
trabalhem em tempo integral, ou seja, um sacerdócio dedicado totalmente ao culto divino. A
vocação sacerdotal era hereditária de modo que os sacerdotes podiam transmitir as seus filhos
detalhadamente as leis cerimoniais. Deus escolheu primeiramente Aarão e seus filhos, e a partir
daí todos os sacerdotes descendiam desta linhagem. A tribo de Levi, da qual pertencia Aarão, foi
separada por Deus exclusivamente para o serviço sagrado. Mas nem todos os levitas eram
sacerdotes, serviam no tabernáculo fazendo o trabalho braçal, auxiliando os sacerdotes.
51 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 163 52 Henry Halley – APUD – HOFF, Paul. O Pentateuco p. 163
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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5.6.1. Funções dos sacerdotes.
➢ Servir como mediador entre o povo e Deus, interceder pelo povo e expiar o pecado
mediante o sacrifício, e desse modo reconciliar o povo com Deus.
➢ Consultar a Deus para discernir a vontade divina para guiar o povo ( Nm 27.21; Dt 33.8).
➢ Ensinar a lei de Deus ao povo (10.11).
➢ Ministrar nas coisas sagradas do tabernáculo.
5.6.2. O Sumo Sacerdote.
Era o sacerdote mais importante. Somente ele podia entrar uma vez por ano no lugar
santíssimo para oferecer o sacrifício expiatório pela nação de Israel. Somente ele podia usar o
peitoral com os nomes das doze tribos de Israel e atuava como mediador entre toda a nação.
Somente ele tinha o direito de consultar ao Senhor mediante Urim e Tumim. Embora o sacerdote
em alguns aspectos prefigura o crente, o sumo sacerdote simboliza a Jesus Cristo (1Pe 2.5; Hb
2.17).
5.6.3. Requisitos dos sacerdotes (caps. 21, 22).
Era preciso ser homem sem defeito físico (21.16-21). Devia casar-se com uma mulher
de caráter exemplar. Não devia se contaminar com costumes pagãos nem tocar coisas imundas.
A santidade de Deus exige da parte daqueles que se aproximam dEle um estado habitual de
pureza, incompatível com a vida comum dos homens53.
5.7. As Festas Solenes do Antigo Testamento
Decorrente dos feitos de Deus, os hebreus celebravam várias festas sagradas no decorrer
do ano às quais denominavam “santas convocações”. A palavra hebraica traduzida por “festa”
também pode ser traduzida por “uma ocasião assinalada”. Em regra geral eram ocasiões de um
dia ou mais de duração em que os israelitas suspendiam seus trabalhos a fim de reunir-se
jubilosamente com o Senhor. Ofereciam sacrifícios especiais de acordo com o caráter da festa
(Nm 28, 29) e se tocavam as trombetas enquanto eram apresentados os sacrifícios de holocaustos
e de paz. A maioria das convocações relacionava-se com as atividades agrícolas e com os
53 Ibid p. 166
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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acontecimentos históricos na nação hebraica. Foram instituídas como parte do pacto do Sinai (Êx
23.24-29).
5.7.1. Propósitos das Festas:
➢ As festas davam aos israelitas a oportunidade de refletir sobre a bondade de Deus. As
festas estavam relacionadas aos feitos de Deus, libertação, livramento, descanso,
suprimento, etc.
➢ As festas também proporcionavam ao povo de Israel o reconhecimento de que era o
povo de Deus.
5.7.2. O significado das festas
Nome da
Festa
Data no AT Descrição Propósito Referências no NT
O dia de
descanso, o
sábado, Êx
20.8-11; Lv
23.3
7º Dia
Dia de descanso sem
trabalho. Era a primeira
festa do calendário
sagrado.
Aos israelitas lembrava seu
criador e o fato de que ele
descansou de sua obra no
sétimo dia. Também fazia-os
ter em mente que o Senhor
os livrou da escravidão do
Egito e agora poderiam
dedicar a ele um dia da
semana.
Mt 12.1-14; 28.1; Lc
4.16; Jo 5.9; At
13.42; Cl 2.16; Hb
4.1-11
A Páscoa e
os pães
asmos. Êx
12.1-13.10;
Lv 23.5-8.
1º mês (abibe)
14º dia -
equivale
março ou abril
Matar e comer um
cordeiro, junto com ervas
amarga e pães sem
fermento (asmos), em
todas as casas.
Lembrar o povo do
livramento que o Senhor deu
das mãos dos egípcios.
Páscoa, portanto, significa
livramento, libertação.
Mt 26.17; Mc 14.12-
26; Jo 2.13; 11.55;
1Co 5.7; Hb 11.28
A festa das
semanas ou
Pentecostes:
Lv 23.15-
21; Êx
23.16; Nm
28. 26-31
3º mês (sivã)
6º dia –
equivale maio
ou junho
Festa de alegria; ofertas
obrigatórias e voluntárias,
incluindo-se as primícias
da colheita de trigo. A
palavra Pentecostes vem
do grego e significa
“qüinquagésimo”, pois a
festa caia sete semanas ou
cinquenta dias depois da
festa da páscoa.
Mostrar alegria e gratidão ao
Senhor pela benção da
colheita. É interessante que
o Espírito Santo foi
derramado no dia em que
celebrava esta festa, e o
resultado foi uma grande
colheita de almas.
At 2.1-4; 20.16; 1Co
16.8.
Festa das
Trombetas
- Lv 23.23-
25; Nm
28.11-15;
29.1-6;
7º mês (tisri)
1º dia –
equivale a
setembro ou
outubro
O tocar das trombetas
proclamava o começo de
cada mês, o qual se
chamava lua nova (Nm
10.10). Assembleia num
dia de descanso
comemorado com toque de
trombetas e sacrifícios.
Apresentar Israel diante do
Senhor pedindo o seu favor.
Marcava o fim da estação da
colheita e o primeiro dia do
ano novo do calendário civil.
O motivo da festa era
anunciar o começo do ano e
preparar o povo para o
apogeu das observâncias
religiosas.
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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Dia da
Expiação
(Yom
Kippur) – Lv
16; 23.26-32;
Nm 29.7-11.
10º dia do 7º
mês
Era o dia mais importante
do calendário judeu. Dia
de descanso, jejum e
sacrifícios de expiação
pelos sacerdotes e pelo
povo.
Neste dia, o sumo sacerdote
reunia todos os pecados de
Israel e os confessava a
Deus pedindo perdão. Neste
dia também entrava no lugar
santíssimo para fazer
expiação sobre o
propiciatório da arca. E isto
era feito apenas uma vez por
ano.
Rm 3.24-26; Hb
9.7; 10.3, 19-22
Festa dos
Tabernáculos,
Êx 23.16b;
34.22b; Lv
23.33-43; Nm
29. 12-34.
15-21º do 7º
mês
Era a última festa do ano e
durava oito dias.
Comemorava-se o final da
colheita e também a
peregrinação no deserto.
Os israelitas construíam
cabanas e viviam nelas
para lembrar-se dos anos
em que haviam morado
em tendas.
Rememorar a jornada do
Egito a Canaã, e agradecer a
Deus pelas bênçãos
recebidas.
Jo 7.2,37
Ano do
Jubileu – Lv
25.8-22;
27.17-24
50º ano Era o ano de
cancelamento de dívidas,
libertação de escravos e
devolução de terras ao
primeiro proprietário. .
Ajuda aos pobres;
estabilização da sociedade.
O objetivo era por freio ao
desejo desmedido de
acumular bens materiais, e
se impedia que houvesse
extremos de pobreza e
riqueza.
5.8. Conclusão
5.8.1. Levítico e o Novo Testamento
A legislação sacrificial registrada em levítico provê a base para a compreensão da morte
de Cristo como sacrifício (1Co 5.7; Hb 7.27; 9. 23-28). O livro de Hebreus lança luz sobre a
função de Cristo como sumo sacerdote superior (Hb 2.17; 3.1; 7.26-28). O NT como um todo
continua a convocar o povo de Deus à santidade (1Pe 1.15,16; Mt 5.48) e a reforçar as ideias de
Levítico com respeito à natureza e à importância da santidade. Lições acerca do culto ao Deus
santo e da manutenção da presença de Deus na comunidade dos fiéis são abundante em todo o
NT, que também oferece perspectiva da função sacerdotal de todos os que creem (1Pe 2.5,9).
5.8.2. Lei e Graça.
Às vezes afirma-se que a salvação sob a antiga aliança era adquirida através das obras
da lei, enquanto sob a nova aliança, as pessoas recebem a salvação mediante a fé em Cristo. Esta
afirmação é um equívoco, uma distorção dos ensinos de Paulo. Um estudo cuidadoso da Torá
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(Lei), bem como o restante do AT, mostra que as pessoas nunca são salvas por seus próprios
esforços – mas apenas pela graça de Deus. Todos merecem condenação e morte por haver
pecado. Deus, por sua graça, dispõe-se a aceitar a pessoa na base da fé, provendo o meio de
redenção. Era assim que Paulo compreendia a aliança que Deus fez com Abraão, pois ela não foi
anulada por causa da lei dada a Moisés (Gl 3.6-18). No tocante a salvação, o escritor de Hebreus
afirma: “porque é impossível que sangue de toros e de bodes remova pecados” (Hb 10.4).54
6. O LIVRO DE NÚMEROS
6.1. Introdução e Título
Nome. Originalmente este livro não tinha nome. Na Bíblia Hebraica ele era identificado
pela palavra do primeiro versículo, Bemidbar, que significa “No deserto”, o qual está mais
relacionado com o caráter do livro. O Nome Números se originou do grego arithmos, que
significa números, este nome foi dado pelos tradutores da Septuaginta (tradução do AT hebraico
para a língua grega), pois o livro narra dois recenseamentos, o primeiro nos primeiros capítulos e
o segundo no capítulo 26. A Vulgata Latina seguiu este título e o traduziu por Liber Numeri
(Livro de Números), e desta forma seguiu as outras versões, usando o nome de Números.
Número é o livro das peregrinações. A maior parte deste livro descreve as experiências
de Israel durante a peregrinação no deserto. O Livro de Números começa com a antiga geração
(caps. 1-12), move-se através de um período de trágica transição (caps. 13-20) e termina com a
nova geração (caps. 21-36) postada à entrada da terra de Canaã. A história narrada neste livro
cobre um período de trinta e oito anos.
No Livro de Número, Moisés é novamente a figura dominante, pintado em toda a sua
grandeza e fraqueza, e guiando o povo em todos os aspectos. Por intermédio dele o Senhor fala
poderosamente a Seu povo, e deu a Israel uma variedade de leis, falando com o seu servo “boca
a boca” (12.6-8). Por muitas vezes Moisés age como intercessor a favor do povo (11.2; 12.13;
14.13ss.; 16.22; 21.17). Moisés era “mui manso, mas do que todos os homens que havia sobre a
terra” (12.3; cf. 14.5; 16.4ss.), mas, não obstante isso tinha também suas falhas humanas.
Contrariando a ordem de Deus ele bateu na rocha (20.10ss.), e em certa ocasião queixou-se
temperamentalmente (11.10ss.; cf. 16.15). Depois de Moisés em questão de proeminência,
aparece Arão (1.3,17,44; 2.1; especialmente caps. 12, 16 e 17).
54 LASOR, william. Introdução ao AT p. 105
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O assunto de Números é o fracasso de Israel. O povo de Israel chegou à fronteira da
terra prometida, mas por causa da incredulidade não puderam entrar na terra prometida, e
tiveram que peregrinar por quarenta anos no deserto. O Livro Números reúne em si tanto fatos
históricos ocorridos no deserto, quanto também leis e regras dada a Israel.
6.2. Tema e Propósito
O tema de Êxodo é a “consequência da incredulidade e desobediência ao Deus Santo”.
O propósito de Números era registrar as histórias das peregrinações de Israel desde o
Sinai até a preparação em Moabe para a entrada na terra prometida. Mas o livro não é exaustivo
em seus relatos, mas seleciona os eventos que são importantes para o desenvolvimento do
programa redentivo de Deus. A narrativa deixa claro que os trinta e oito anos de peregrinação
foram uma punição pela falta de fé: ninguém da geração incrédula teve permissão para entrar na
terra prometida (Nm 14.20-45; cf. Dt 1.35ss.). Números, portanto, não é só um trecho de história
antiga, mas outra lista dos atos de Deus. Trata-se de uma história complexa de infidelidade,
rebelião, apostasia e frustração, em contraposição com a fidelidade, presença, provisão e
paciência de Deus.55
6.3. Esboço de Números
Primeira Parte: A preparação da Antiga Geração para tomar Posse da Terra Prometida
(1.1-10.10)
I. A Organização de Israel..............................................................................................1.1-4.49
1. Organização do povo (recenseamento e disposição do acampamento)..........1.1-2.34
2. Organização dos sacerdotes (recenseamento e ministério dos levitas)...........3.1-4.49
II. Santificação de Israel...............................................................................................5.1-10.10
1. Santificação mediante separação........................................................................5.1-31
2. Santificação mediante o voto de nazireu............................................................6.1-27
3. Santificação mediante o culto.........................................................................7.1-9.14
4. Santificação mediante a orientação divina..................................................9.15-10.10
55 LASOR, William. Introdução ao AT p. 107
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Segunda Parte: O Fracasso da antiga geração em tomar posse da terra prometida (10.11-
25.18)
I. O fracasso de Israel em Cades...............................................................................10.11-12.16
1. A partida do Monte Sinai...............................................................................10.11-36
2. O fracasso do povo.............................................................................................11.1-9
3. O fracasso de Moisés.....................................................................................11.10-15
4. A provisão de Deus para Moisés....................................................................11.16-30
5. A provisão de Deus para o povo....................................................................11.31-35
6. O fracasso de Miriã e Arão (rebelião e punição)...............................................12.1-6
II. O Clímax do fracasso de Israel em Cades..............................................................13.1-14.45
1. A expiação da terra...........................................................................................13.1-33
2. A rebelião do povo contra Deus.......................................................................14.1-10
3. A intercessão de Moisés em favor do povo...................................................14.11-19
4. O julgamento de Deus sobre o povo..............................................................14.20-38
5. Israel se rebela contra o juízo divino.............................................................14.39-45
III. O Fracasso de Israel no deserto............................................................................15.1-19.22
1. Revisão das ofertas..........................................................................................15.1-45
2. A rebelião de Coré...........................................................................................16.1-40
3. Rebelião de Israel contra Moisés e Arão........................................................16.41-50
4. O papel do sacerdócio..................................................................................17.119.22
IV. O fracasso de Israel rumo a Moabe......................................................................20.1-25.18
1. A morte de Miriã...................................................................................................20.1
2. Moisés e Arão fracassam.................................................................................20.2-13
3. Edom recusa a dar passagem a Israel............................................................20.14-21
4. A morte de Arão.............................................................................................20.22-29
5. Vitória de Israel sobre os Cananeus...................................................................21.1-3
6. O fracasso de Israel............................................................................................21.4-9
7. A caminhada até moabe.................................................................................21.10-20
Terceira Parte: a preparação da Nova Geração para tomar posse da Terra Prometida
(26.1-36.13)
I. Reorganização de Israel...........................................................................................26.1-27.23
1. O segundo recenseamento................................................................................26.1-51
2. Método para a divisão da terra..................................................................26.52-27.11
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3. Designação do novo líder de Israel................................................................27.12-23
II. As regulamentações sobre ofertas e votos..............................................................28.1-30.16
1. As regulamentações dos sacrifícios............................................................28.1-29-40
2. As regulamentações dos votos.........................................................................30.1-16
III. A conquista e divisão de Israel.............................................................................31.1-36.13
1. Vitória sobre Mídia..........................................................................................31.1-54
2. Divisão da terra oriental do Jordão..................................................................32.1-42
3. Sumário das jornadas de Israel........................................................................33.1-49
4. Divisão da terra ocidental do Jordão.........................................................33.50-34.29
5. Cidades especiais (cidades dos Levitas e cidades de refúgios)........................35.1-34
6. Problemas especiais na posse de Canaã...........................................................36.1-13
6.4. Chaves para Números
Palavra-chave: Peregrinações
Versículos-chave: (14.22,23; 20.12)
Capítulo-chave: (14) – este capítulo pode ser o ponto crítico e decisivo de Números, quando
Israel rejeita a Deus, recusando subir e conquistar a terra prometida. Deus julga Israel “segundo
o número dos dias em que espiastes esta terra, cada dia representando um ano, levarei sobre vós
vossas iniquidades, quarenta anos, e conhecereis minha rejeição” (14.34).
6.5. A Mensagem de Número
No livro de Número como no caso da Bíblia inteira, o Deus da aliança, Todo Poderoso e
fiel como Ele é, revela-se a si mesmo; e essa revelação que reúne as diferentes porções do livro
de Números numa unidade. Nas leis e regulamentos que impõe, Deus demonstra o seu cuidado
para com o seu povo. Israel se revolta frequentemente contra Ele. Em resultado, a ira do Senhor
de acende: ‘Ele não permite que o pecado passe sem ser castigado (11.1-3,33ss.; 12.10ss.; cap.
14). No entanto, Deus não repudia o Seu povo, permanece fiel à Sua aliança.
6.5.1. A Presença de Deus.
Deus se manifestou de uma forma real e visível ao povo de Israel. Em todo o tempo de
peregrinação pelo deserto, Deus se fez presente na vida se Seu povo. A nuvem de fogo que
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cobria o tabernáculo era uma revelação visível da presença de Deus (9.15-23). Quando a nuvem
se erguia, o povo andava, quando parava, o povo acampava. Enquanto a nuvem permanecia
sobre o tabernáculo, o povo permanecia no acampamento. A nuvem ambulante e a arca
representavam Deus andando com Seu povo para protegê-los e suprir-lhes as necessidades.
6.5.2. A providência de Deus para o povo.
O período em que o povo de Israel passou peregrinando no deserto foi uma
demonstração do cuidado e provisão de Deus em favor de Seu povo. Números destaca três
maneiras do cuidado divino para com Seu povo:
➢ (1) Deus orientou, protegeu e supriu as necessidades materiais do povo (10.11-14.45;
caps. 16-17; 20-25; 27.12-23; 31.1-33.49);
➢ (2) As instruções através de suas leis (1.1-10.10; cap. 15; caps. 18-19; 26.1-27.11; caps.
28-30; 33.50-36.13);
➢ (3) A instituição de padrões efetivos de liderança (11.1-14.45; 16.1-35; 27.12-23).
Deus proveu o “maná” para alimentar o povo e, quando este se cansou da dieta
vegetariana, enviou codornizes (Êx 16). Essa história é desenvolvida em Números 11. Ali o
cuidado providencial de Deus é visto em contraposição às murmurações e reclamações do povo.
A provisão das codornizes foi ao que parece temporária; o maná, porém, continuou por toda a
jornada, cessando apenas quando os israelitas entraram em Canaã (Js 5.12).56
As provisões legais esboçadas em Números moldaram o culto de Israel e julgaram sua
desobediência durante a jornada; também preparam o povo para quando tomasse posse da terra,
o destino visado em Números. A estrutura organizacional em tribos, clãs e famílias (caps. 1-4);
as cerimônias de confissão e restituição (cap. 5); os regulamentos para sacrifícios e ofertas,
inclusive a Páscoa e o Pentecostes, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos (caps. 7-10;
15-19; 28); as diretrizes para a divisão da terra e a reserva de cidades para os levitas (caps. 32-
35) – tudo isto eram instrumentos da graça de Deus para lhes dar condições de viver em
comunidade como povo de Deus na jornada e no assentamento.57
56 Ibid p. 116 57 Ibid
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6.5.3. A Paciência de Deus.
Há vários episódios em Números que revela a “longanimidade de Deus”. Deus foi
paciente para com Seu povo. Por várias vezes este povo se rebelou contra Deus e quis voltar ao
Egito. As queixas, as rebeliões e murmurações eram constantes, mas Deus se manteve fiel ao seu
projeto redentor, e apesar de tudo isto Ele continuou suprindo as necessidades do povo.
6.5.4. A Terra.
Todo o livro de Números está voltado para a conquista da terra de Canaã. Os capítulos de 1-10
descrevem os preparativos para a viagem do Sinai a Canaã, 11-12 a viagem propriamente dita,
13-14 a tentativa abordada de conquista. Canaã é alvo constantemente presente do povo, que em
Números na verdade nunca alcançada. Teologicamente, três aspectos dessa terra são enfatizados
em Números:
➢ Primeiro, o Senhor havia dado aos filhos de Israel (32.7,9), mais precisamente a
Abraão, Isaque e Jacó (Nm 32.11; Gn 12.1ss.; 14.16; 17.8; 26.3; 28.13). Estas
promessas garantiam que Israel seria capaz de conquistar a terra no tempo certo; a
incredulidade dos espias foi ainda mais horrível, porque na sua missão eles visitaram
especialmente a região de Hebrom, onde pela primeira vez a terra fora prometida a
Abraão, e onde ele e sua família haviam sido sepultados (13.22-24; cf. Gn 13.14-18.1;
23; 35.27-29; 50.13).
➢ Segundo, a terra de Canaã devia ser uma terra santa, santificada pelo fato de Deus
está habitando com o Seu povo (35.34; cf. Lv 26.11,12). Por esta razão os habitantes
nativos deviam ser expulsos, e os seus santuários e ídolos deviam ser destruídos. Só o
Senhor devia ser adorado ali (33. 51,52). A presença de Deus era a garantia de que de
fato aquela seria uma terra “que mana leite e mel” (13.27; 14.8), onde o povo
continuaria a se multiplicar e a gozar a vida (24. 5-7; Lv 26.3-10).
➢ Terceiro, a terra devia ser propriedade permanente de Israel. Isto é declarado mais
explicita em Gênesis do que em Números (Gn 13.15; 17.18), mas esta é a implicação
clara das leis de jubileu (Lv 25) e das regras a respeito de casamento e herdeiros de
terra, em Números 36: “as tribos dos filhos de Israel se hão de vincular cada uma a sua
herança” (36.9). A desobediência pode importar em exílio da terra, mas há um
compromisso de restauração final (Lv 26.40-45; cf. Dt 30.1-10).
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➢ Embora o Novo Testamento reafirme a validade das promessas patriarcais, ele
considera-as como de âmbito universal (Rm 9.4). Da mesma forma como hoje são
incluídos como membros do povo de Deus todos os que são filhos de Abraão pela fé,
assim também Canaã se tornou imagem de uma “pátria superior, isto é, celestial”, uma
Nova Jerusalém da qual são excluídos pecado e morte (Gn 3.7; Hb 11.16; Ap 21).58
6.6. Cristo em Números
A serpente que Deus ordenou que Moisés levantasse (21.4-9), tipificava a obra de
Cristo (Jo 3.13,14). A rocha de onde saiu água era também um tipo de Cristo (1Co 10.4). O maná
diário simbolizava Jesus Cristo o Pão da Vida (Jo 6.31-33). A diretriz e a presença de Cristo são
vistas na coluna de nuvem e de fogo, e o refúgio dos pecadores em Cristo pode ser visto nas seis
cidades de refúgios (35.9-34).59
Para pensar
6.7. Conclusão
Em Gênesis, Deus elegeu um povo; em Êxodo, ele o redimiu da escravidão do Egito,
em Levítico Ele o santificou; e em Números, ele o dirigiu. Números ensina a importante lição de
que a fé bíblica amiúde requer confiança em Deus contra as aparências (neste caso, o prospecto
da aniquilação por forças inimigas e superiores). Duas extensas passagens do Novo Testamento
se volvem para esta experiência no deserto com vistas a ilustrar esta verdade espiritual. Em 1Co
10.1-12, ela ilustra o perigo da autoindulgência e imoralidade; e em Hebreus 3.7-4.6, ela ilustra o
tema da entrada do descanso de Deus através da fé. Números começa com a antiga geração,
move-se através de um trágico período transitório e termina com a nova geração no pórtico da
terra de Canaã.
58 WENHAN, Gordon J. Números, Introdução e Comentário pp.47,48 59 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 33
A serpente de bronze – como é que a serpente, símbolo de Satanás e do mal, pode ser símbolo de Jesus Cristo?
Na realidade não é uma figura de nosso Senhor, mas do pecado carregado sobre Cristo na cruz (2Co 5.21). A
imagem da serpente morta e impotente, levantada na haste, simboliza a destruição do pecado e do castigo da
lei. O que nos chama atenção também, é que o povo de Israel levou a serpente para Canaã, e séculos mais
tarde, eles adoraram e chamaram de Neustã, a qual foi destruída pelo rei Ezequias (cf. 2Rs 18.4).
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7. O LIVRO DE DEUTERONÔMIO
7.1. Introdução e Título
Depois de trinta e oito anos de peregrinação pelo o deserto, a nova geração agora se
encontra à fronteira de Canaã. Durante este período os israelitas ficaram restritos ao deserto de
Parã em Cades Barnéia. Somente quando a velha geração morreu, isto é, aqueles que saíram do
Egito com a idade acima de vinte anos, é que tiveram a autorização de retornarem a jornada
rumo à terra prometida. Moisés, consciente de que estava impedido de entrar na terra prometida
(Dt 1.37), aproveitou a ocasião para pregar três longos discursos ao povo de Israel. A essência
desses discursos encontra-se no livro de Deuteronômio. Israel estava preste a cruzar o rio Jordão
e iniciar a conquista de Canaã e Moisés estava por terminar a sua carreira. Moisés, então, prepara
o povo para a toma da prometida terra, trazendo à memória do povo os preceitos e obras de
Deus, sendo que esta nova geração não viu muito do que Deus falou e fez. Moisés lembra à nova
geração a importância da obediência se eles porventura estiverem dispostos a aprender do triste
exemplo de seus antepassados. Movendo-se do passado (história de Israel) para o presente
(santidade e prática de Israel) e para o futuro (novo líder de Israel), Moisés realça a fidelidade do
Deus de Israel, “que nos tirou...para nos dar a terra” (6.23).60
O Título hebraico é ’elleh haddebãîm, que significa: “São essas as Palavras”, ou então
apenas haddebarîm, “As Palavras”, tomando da frase inicial do livro em 1.1: “Estas são as
palavras”. As palavras iniciais de Moisés à nova geração são dadas de forma oral e escrita, de
modo que dure por todas as gerações. Deuteronômio tem sido chamado de “o quinto livro da
lei”, visto que completa os cinco livros de Moisés. O povo judeu o tem também denominado
Mishneh Hattorah, “repetição da lei”, o que é traduzido na Septuaginta como To
Deuteronômio Touto, “Esta segunda Lei”. Entretanto, Deuteronômio não é uma segunda lei,
mas a adequação e expansão de grande parte da lei original dada no monte Sinai. O Título
português provém do título grego Deuteronomion, que significa a segunda lei, ou repetição da
lei.61
7.2. Tema e Propósito
60 Ibid. p. 39 61 Ibid p. 40
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O tema-chave de Deuteronômio é “Guarda-te que não te esqueça”. O assunto
apresentado por Deuteronômio é a exortação à lealdade ao Senhor e advertência contra a
apostasia. O propósito pode ser sumariado da seguinte maneira:
➢ (a) Preparar o povo para a conquista de Canaã. Moisés repete a frase “entrai e possuí a
terra” trinta e quatro vezes, e adiciona trinta e cinco vezes a frase “a terra que o Senhor
teu Deus te deu”.
➢ Apresentar os preceitos da lei em termos práticos e espirituais para serem aplicados à
nova vida em Canaã.
➢ Estimular lealdade ao Senhor e à sua lei. Pode-se dizer que o ensino de Deuteronômio é
a exposição do grande mandamento “Amarás pois o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todas as suas forças” (6.5).62
7.3. Esboço de Deuteronômio
Primeira Parte: O Primeiro Sermão de Moisés: O Que Deus Fez Por Israel (1.1-4.43)
I Prefácio do Pacto...............................................................................................................1.1-5
II. A revisão dos atos de Deus por Israel........................................................................1.6-4.43
1. Do Monte Sinai a Cades.....................................................................................1.6-46
2. De Cades a Moabe.............................................................................................2.1-23
3. Conquista do Oriente do Jordão....................................................................2.24-3.20
4. Transição de Liderança....................................................................................3.21-29
5. Sumário do Pacto...............................................................................................4.1-43
Segunda Parte: O Segundo Sermão de Moisés: “O Que Deus Espera de Israel” (4.44-26.19)
I. Introdução à Lei de Deus..............................................................................................4.44-49
II. Exposição do Decálogo............................................................................................5.1-11.32
1. O Pacto de Deus com Israel.......................................................................5.1-33
2. Ordem de ensinar a lei...............................................................................6.1-25
3. Ordem de conquistar Canaã.......................................................................7.1-26
4. Ordem de lembrar-se do Senhor................................................................8.1-26
5. Mandamentos acerca da autojustificação..............................................9.1-10.11
6. Mandamentos referentes a bênçãos e maldições..............................10.12-11.32
III. Exposições das leis adicionais..............................................................................12.1-26.19
62 HOFF, Paul. O Pentateuco p. 225
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1. Exposição das leis cerimoniais....................................................................12.1-16.17
2. Exposição das leis civis.............................................................................16.18-20.20
3. Exposição das leis sociais...........................................................................21.1-26.19
Terceira Parte: O Terceiro Sermão de Moisés: “O que Deus Fará Por Israel” (27.1-34.12)
I. Ratificação do pacto em Canaã...............................................................................27.1-28.68
1. Construção do altar............................................................................................27.1-8
2. Admoestação à obediência à lei.......................................................................27.9-10
3. Proclamação das maldições............................................................................27.11-26
4. Advertências do pacto......................................................................................28.1-68
II. Instituição do pacto palestino.................................................................................29.1-30.20
1. O pacto se baseia no poder de Deus...................................................................29.1-9
2. As partes do pacto..........................................................................................29.10-15
3. Advertências do pacto...............................................................................29.16-30.10
4. Ratificação do pacto palestino.......................................................................30.11-20
III. A transição do mediador do pacto....................................................................... 31.1-34.12
1. Moisés comissiona Josué e Israel.....................................................................31.1-21
2. O Livro da Lei é depositado...........................................................................31.22-30
3. Os filhos de Moisés..........................................................................................32.1-47
4. A morte de Moisés....................................................................................32.48-34.12
7.4. Chaves Para Deuteronômio
Palavra-chave: Pacto
Versículos-chave: (10.12,13; 30.19,20)
Capítulo-chave: (27) – a ratificação formal do pacto ocorre no capítulo 27, para Moisés, os
sacerdotes, os levitas e todo o Israel: “Presta atenção e ouve, ó Israel, neste dia te tornaste o povo
do Senhor teu Deus” (27.9).
7.5. Pontos Teológicos em Deuteronômio
Deuteronômio é um livro riquíssimo, nele há vários conceitos teológicos, motivo pelo
qual, foi muito usado pelos profetas e até mesmo pelo Senhor Jesus. Vejamos alguns desses
conceitos teológicos.
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7.5.1. O Credo.
O que nos chama a atenção neste livro é forma de um credo que aparece em 6.4ss., o
qual é conhecido pelos judeus como o “Shemá”: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a
tua força”.
Este credo é tratado com seriedade de tal maneira, que o texto segue dizendo que essas
palavras deveriam estar no “coração” (v6), deveriam ser ensinadas aos filhos (v.7), carregá-las
presas ao corpo (v.8). É importante também ressaltar que o Senhor Jesus tomou as palavras do
v.5 como o primeiro e maior mandamento (cf. Mt 22.37).
O credo destaca a unidade e a singularidade de Javé, o Deus de Israel, especificamente
no relacionamento estabelecido entre ele e seu povo.63 Este credo ensina de forma específica o
monoteísmo (o Senhor nosso Deus é o único) e exclui qualquer forma de politeísmo (crença em
vários deuses). Javé é o único Deus que os israelitas deveriam amar.
Amá-lo de todo coração, alma e força não deixam espaço para devoção a outros deuses.
Além disso, eleva a fidelidade a Deus acima de todos os compromissos humanos de lealdade.
7.5.2. A eleição de Israel.
A eleição é o conceito de que Deus, dentre todas as nações, escolheu Israel para ser o
seu povo. Este ensino está baseado na chamada de Abraão (Gn 12.1-3; 15.1-6). Essa ideia é
lançada na primeira linha do chamado de Moisés (Êx 3.6). Encontra-se na revelação do Sinai (cf.
(Êx 20.2,12) e no sistema sacrificial apresentado em Levítico (cf. Lv 18.1-5,24-30).
A eleição divina não é um ato arbitrário, mas está relacionada à obra redentiva. Deus
chama Abraão, e dele forma uma nação para este propósito. Deus escolhe Israel não por causa da
superioridade numérica, mas porque o Senhor os amava (7. 6-8). Por causa desta eleição, Israel
devia destruir todas as nações na terra de Canaã (7.1). Israel não podia ter nenhuma aliança e
63 LASOR, William. Introdução ao AT p. 129
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nem ter misericórdia para com elas (7.3). Acima de tudo, deviam destruir todos os símbolos
religiosos dos cananeus (7.5).
Relacionado à eleição divina, estava também o propósito de que “todas as famílias da
terra fossem abençoadas” (Gn 12.3). O ciúme de Deus para com Israel não brota de sua
indiferença para com outros povos; antes, surge de sua preocupação de que Israel transmita a
verdade divina aos outros povos. Se Israel não for cuidadoso para guardar a verdade que Javé
revelou em palavras e atos, a verdade nunca chegará ao restante do mundo.
Por este motivo Israel deveria ser imparcial com as nações cananéias, todas elas
juntamente com cultura e religião deveriam ser exterminadas, pois, do contrário, Israel seria
corrompido por elas e não cumpriria os propósitos divinos.
7.5.3. A relação de Aliança.
A aliança que Deus fez com Israel não foi um mero contrato ou acordo entre pessoas,
onde implica reciprocidade. Mas ela começa no amor de Deus por Israel (7.8). Assim, mesmo
que o povo falhe e não cumpra a sua parte da obrigação – como certamente não fizeram no
deserto e ao longo da maior parte de sua história – Deus não quebrará sua aliança (4.31).
7.5.4. O conceito de Pecado.
Deuteronômio enfatiza de maneira clara a gravidade do pecado. Ela pode ser vista nos
relatos de bênçãos e maldiçoes (caps. 27-28). A liturgia das doze maldições (27.11-26) cobre um
leque de crimes espirituais, raciais e sexuais semelhantes ao do Decálogo, embora mais
abrangente. A longa lista de benção (28.1-19) abrange toda a gama de dádivas graciosas de Deus
para o povo no campo político, agrícola e militar. Em contrapartida, uma série ainda maior de
maldições (28.15-68) ameaça tudo o que os israelitas possam prezar, da liberdade à saúde, da
prosperidade à posse da terra.
A apostasia ou idolatria era o pecado mais abominável de todos (cf. 29.18-20). O
pecado da idolatria era tão sério que os israelitas eram ordenados a matar um irmão, filho ou
filha, esposa ou amigo que tentasse incitá-los a servir outros deuses (cf. 13.8-15). As penalidades
para a idolatria eram terrivelmente severas. A única explicação para isso é a santidade de relação
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de aliança. Devemos observar que essas penalidades severas foram ordenadas por Deus durante a
conquista de Canaã. Como regra geral, a Bíblia não ordena que o povo de Deus mate todos os
incrédulos.64
7.5.5. Deus na História.
O conceito de que Deus de fato atua na história é uma doutrina bíblica sem igual. Em
Deuteronômio esse tema bíblico é de uma forma singular. O livro inteiro é uma exposição de
atos divinos em favor de seu povo. Deuteronômio enfatiza o agir de Deus ao longo da história de
Seu povo. A saída do Egito (7.19), a entrega da lei (5.5); a travessia do deserto, a entrada para
uma longa vida de felicidade (4.40), etc. a história humana não é algo que se desenvolve
aleatoriamente, mas tudo acontece dentro da vontade de Deus. Deus dirige a história humana.
7.6. Conclusão
Deuteronômio, antes de ser uma coletânea de preceitos, é uma reflexão sobre os
fundamentos de toda a nossa obediência a Deus, a saber, sua ação na vida e na história de Seu
povo. Este livro ensina também a moral do amor em atos: o amor do Senhor compromete todos
os âmbitos da existência humana, da política à higiene, da vida social ou familiar ao reencontro
do irmão, até mesmo o respeito pelo animal (22.7) ou pela árvore (20.19).
Este livro desempenhou um papel importante na história e na religião de Israel. O
código deuteronômico foi a norma para julgar as ações do reis de Israel. Ao descobri-lo no
templo, sua leitura despertou um grande aviamento no ano 621 a.C. (2Rs 22). Foi a base da
exortação de Jeremias e de Ezequiel. Os judeus escolheram a grande passagem de 6.4,5 como
seu credo ou declaração de fé. No Novo Testamento, Deuteronômio é citado mas de oitenta
vezes. Por exemplo: na tentação no deserto, Jesus o citou para refutar Satanás (Mt 4.1-11).
8. OS LIVROS HISTÓRICOS
Nesta parte falaremos dos livros bíblicos conhecidos como históricos. Mas, devemos
ressaltar que na Bíblia Hebraica, os livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis não são chamados de
históricos, mas, sim, de profetas anteriores. Como já vimos, na Bíblia Hebraica, os livros estão
64 Ibid pp. 133-5
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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arranjados em três categorias: Tora (lei) ou Pentateuco; Profetas, que subdividem em duas
categorias: profetas anteriores que são os livros citados acima, e profetas posteriores, a saber,
Isaias, Jeremias, Ezequiel e o livro dos doze (que vai de Oséias a Malaquias); e, os demais livros
formam a terceira divisão, isto é, os Escritos. Devemos também observar que no Cânon
Hebraico, o livro de Daniel não foi incluído entre os profetas, e sim, entre os escritos, quanto a
isto falaremos quando chegarmos ao livro de Daniel.
Estes livros foram chamados de históricos, pelo fato deles darem sequência às narrações
contidas em Deuteronômio, aonde este para aqueles dão continuidade, contando a história do
povo de Deus. Os livros da Lei (ou Pentateuco) trazem o relato dos atos de Deus desde a criação
até o limiar da terra prometida. A história continua na segunda divisão principal da Bíblia
Hebraica: os profetas anteriores que são também identificados como históricos juntamente com
os livros de Rute, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.
Estes livros descrevem as ocupações e assentamento de Israel na Terra Prometida, a
transição dos juízes à monarquia, a divisão e declínio do reino, os cativeiros do reino do Norte
(Israel) e do Sul (Judá) e o regresso do remanescente65.
9. O LIVRO DE JOSUÉ
9.1. Introdução e Título
Ainda que este livro dar sequência ao que vem sendo narrado em Deuteronômio, ele
constitui o início de uma nova divisão do AT, os livros históricos. Foi sob a liderança de Josué
que os israelitas finalmente, entraram na terra prometida. A primeira metade do livro fala da
conquista da terra por parte dos israelitas, a qual realizaram com a ajuda de Deus. Sendo tomado
Jericó e Aí. Estrategicamente a conquista começou pela parte sul e depois a parte norte.
A segunda metade do livro refere-se à divisão da terra. Cada tribo recebeu uma porção.
O livro termina com o desafio que Josué fez ao povo e sua morte. De maneira sucinta o livro
registra a preparação para a tomada da terra, a milagrosa travessia do rio Jordão, a queda das
muralhas de Jericó e, de uma forma gradativa, o povo vai conquistando o território cananeu.
Através de três campanhas militares, envolvendo mais de trinta exércitos inimigos, o povo de
Israel aprende a crucial lição sob a capaz liderança de Josué: a vitória vem por meio da fé em
65 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 50
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Deus e da obediência à Sua Palavra, e não propriamente do poderio militar ou da superioridade
numérica.
A morte de Moisés marca a transição de Deuteronômio para Josué. No final de
Deuteronômio, os israelitas estavam acampados nas planícies de Moabe, esperando Deus ordenar
que avançassem e tomasse posse da terra. Moisés que os havia liderado até ali, não entraria na
terra (Dt 3.23-27; 32.48-52). Deus havia instruído a Moisés a transferir a liderança para Josué
(3.28; 31.23). Pouco depois de fazê-lo, Moisés morreu (34.5,9). O livro de Josué retoma a
história neste ponto (Js 1.1-5).
O Título do livro se origina da personagem central do livro: Josué filho de Num ministro
e sucessor de Moisés – apresentado como líder da conquista e da instalação das tribos em Canaã.
Seu nome original Hoshea (Oséias) (Nm 13.8), que significa “salvação”; Moisés, porém,
evidentemente muda para Yhoshua (Nm 13.16), que significa “Yahweh é Salvação”. É também
chamado Yeshua, uma forma abreviada de Yehoshua. Este é o equivalente hebraico do nome
grego Iesous (Jesus)66.
9.2. Tema e Propósito
O Tema deste livro é “a tomada da terra prometida”. O propósito histórico é documentar
a conquista de Canaã pelos israelitas sob a liderança de Josué. Este livro também nos ensina que
a vitória e a benção decorrem da obediência e confiança em Deus. A fé ativa leva a obediência,
que por sua vez traz benção. O livro enfatiza a fidelidade pactual de Deus às suas promessas
relativas a uma terra para Israel, e a santidade de Deus em trazer juízos sobre os imorais
cananeus67.
9.3. Autoria e Data do Livro
Não temos certeza de quem escreveu o livro. Entre os autores que se tem insinuado se
incluem Finéias e Eleazar. A tradição judaica atribui o livro a Josué. O próprio livro afirma que
Josué se não escreveu todo o livro, ao menos parte escreveu. O uso da primeira pessoa em 5.1
indica que o autor atravessou o rio Jordão; em 24.26 fala “Então Josué escreveu estas palavras no
Livro da lei de Deus”.
66 Ibid p. 54 67 Ibid p. 56
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A unidade de estilo e organização sugere uma autoria única para a maior parte do livro.
Três pequenas porções, contudo, devem ter sido adicionadas após a morte de Josué. São elas (1)
a captura de Queriate-Sefer feita por Otniel (15.13-19; cf. Js 1.9-15); (2) a migração de Dã para o
norte (19.47; cf. Jz 18.27-29); e (3) a morte e sepultamento de Josué (24.29-33). Estas foram
acrescentadas por outros autores. Mas ainda assim, não é possível afirmar categoricamente que
Josué escreveu a maior parte do livro.
Uma boa parte do material, contém características de uma testemunha ocular. Além
disso, muitos detalhes do livro dão a entender que esses relatos foram contemporâneos de Josué.
Entretanto, expressões que aparece no livro como “até o dia de hoje”, demonstram claramente
um período um tanto posterior ao do evento em si. Desse modo, parece que a obra consiste em
material (oral ou escrito) da época de Josué, parte dele reelaborado, bem como em material
claramente posterior68.
Quanto à data, o livro de Josué não pode ser datado de forma precisa, provavelmente foi
escrito antes da monarquia, durante o período dos juízes.
9.4. Esboço do Livro de Josué
Primeira Parte: A Conquista de Canaã (1.1-13.7)
I. A preparação de Israel para a conquista da terra prometida........................................1.1-5.15
1. Josué substitui a Moisés e é aceito pelo povo como novo líder.........................1.1-18
2. Josué organiza militarmente a Israel.................................................................2.1-5.1
3. Josué prepara Israel espiritualmente..................................................................5.2-12
4. A aparição do Comandante do Senhor.............................................................5.13-15
II. A conquista de Canaã.................................................................................................6.1-13.7
1. A conquista da Canaã central..........................................................................6.1-8.35
2. Conquista do sul de Canaã............................................................................9.1-10.43
3. Conquista do norte de Canaã............................................................................11.1-15
4. Conquista de Canaã sumariada.................................................................11.16-12.24
5. Partes não conquistada de Canaã.......................................................................13.1-7
68 LASOR, William. Introdução ao AT p. 154
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Segunda Parte: O Assentamento em Canaã (13.8-24.33)
I. O assentamento a Leste do Jordão................................................................................13.8-33
1. Fronteiras geográficas......................................................................................13.8-13
2. Fronteiras tribais.............................................................................................13.14-33
II. O assentamento a Oeste do Jordão.........................................................................14.1-19.51
1. O primeiro assentamento feito em Gilgal...................................................14.1-17.18
2. O segundo assentamento feito em Silo.......................................................18.1-19.51
III. O assentamento da comunidade religiosa.............................................................20.1-21.45
1. Seis cidades de refúgio.......................................................................................20.1-9
2. Seleção das cidades levíticas............................................................................21.1-42
3. O assentamento de Israel é completado.........................................................21.43-45
IV. As condições para a continuação dos assentamentos...........................................22.1-24.33
1. O altar do testemunho......................................................................................22.1-34
2. A obediência promove a benção.................................................................23.1-24.28
3. Josué e Eleazar morrem.................................................................................24.29-33
9.5. Chaves para Josué
Palavra-chave: Conquista
Versículos-chaves (1.8; 11.23)
Capítulo-chave (24). Antes de sua morte e em preparação para a maior transição de liderança,
de um homem (Josué) a muitos (os juízes), Josué recapitula para o povo o cumprimento das
promessas divinas e então os desafia a seu compromisso com o pacto (24.24-35), o qual é
fundamento para toda vida nacional bem-sucedida69.
9.6. Pontos Teológicos em Josué
9.6.1. O Deus que cumpre as promessas.
Há séculos Deus havia feito a promessa de dar a Abraão a terra de Canaã, esta promessa
foi repetida a Isaque e Jacó, Moisés e a toda nação. E através de Josué, o novo líder, Deus faz
cumprir a sua promessa, sob a liderança de Josué o povo de Israel pisou na terra prometida.
69 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 56
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9.6.2. O Conceito de Aliança.
Em Josué o conceito de aliança é desenvolvido principalmente pela conquista da terra:
“Desta maneira deu o Senhor a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais” (21.43); “Nenhuma
promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel: tudo se cumpriu”
(v.45).
9.6.3. A conquista do Descanso.
Um dos grandes conceitos expressos do livro de Josué, é o descanso das angústias, da
escravidão, das dificuldades do deserto e dos rigores da guerra (1.13; 11.23). Deus concedeu
descanso a Israel, o que seus pais incrédulos não haviam podido obter (cf. Sl 95.11). Em Hebreus
4.1-11 é demonstrado que isso foi um ‘tipo’, isto é, o princípio que o salmista aplicou em sua
própria geração é igualmente válida para o crente no Novo Testamento, e a promessa é final e
completamente cumprida (v.8) apenas no descanso que Deus nos proveu na Pessoa de Cristo70.
Para Refletir
Josué age como um elo histórico que continua a história inacabada no Pentateuco. É
uma história teológica que ensina lições morais e espirituais ao conduzir Israel do deserto aos
tempos dos juízes.
70 O Novo Dicionário da Bíblia p. 872
Por que Deus mandou exterminar a População de Jericó e os povos Cananeus?
Deus não tem prazer na morte do ímpio. Ele quer que todos se arrependam, e convertam
e sejam salvos (Ez 18.32). Mesmo assim, a Bíblia fala de um ponto sem retorno, que,
uma vez ultrapassado, torna a condenação inevitável (Jr 11.11; 14.11,12).
Deus dissera a Abraão, em Canaã, que sua descendência seria peregrina em terra
estrangeira, mas na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a
medida da iniqüidade dos amorreus (Gn 15.16). De fato, a descendência de Abraão
passou quatrocentos anos no Egito. Enquanto isto, os povos de Canaã, genericamente
chamados amorreus, agravaram seus pecados ao máximo. Por assim dizer, encheu-se a
medida de sua iniqüidade.Certamente seu pecado mais terrível era a adoração de ídolos,
o que geralmente incluía a perversão sexual e o sacrifícios de crianças. A destruição
desses povos seria ao mesmo tempo o juízo de Deus sobre eles e um modo de proteger o
Seu povo desse influência maléfica (cf. Dt 20.16-18; Lv 21.1-5). (CÉSAR, Éber M.
Lenz. HGB p. 195)
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10. O LIVRO DE JUÍZES
10.1. Introdução e Título
O livro de Juízes narra a história de Israel desde o falecimento de Josué até o
levantamento de Samuel. Depois da morte de Josué, seguiu-se um período de desorganização, de
discórdia entres as tribos e de derrotas. O livro narra os altos e baixos de Israel. Em Josué Israel é
um povo forte que está conquistando a terra prometida, em Juízes, às vezes ele é conquistado
pelo paganismo de Canaã; em Josué ele é um povo obediente e triunfante, em Juízes, ele é
rebelde e desobediente a Deus, e, como consequência, é derrotado e escravizado pelos povos
vizinhos. Quando Israel obedecia conquistava a terra, quando desobedecia, perdia.
A história é mais ou menos assim: o povo se rebelava contra Deus e seguia outros
deuses, como consequência era derrotado e subjugado pelos inimigos; o povo se arrependia
clamava a Deus por socorro, Deus então respondia levantando um Líder (juiz) que libertava o
povo dos inimigos. Quando morria este juiz, o povo voltava novamente a pecar, isto aconteceu
várias vezes. A história se repetia da seguinte maneira:
Em sete ciclos distintos de pecado, o livro de juízes mostra como a nação se afastou da
Lei de Deus, e em lugar disso “fizeram tudo o que era reto aos seus próprios olhos (21.25).
Resultado: corrupção de dentro e opressão de fora.
Título – o livro recebe este nome por causa de seus principais personagens, shôphetim
– juízes, governadores, libertadores ou salvadores. Esses juízes, entretanto, eram mais do que
simplesmente árbitro judiciais, eram libertadores (3.9), eram dotados pelo Espírito de Deus, para
livramento e preservação de Israel (6.34) até o estabelecimento do reino. O juiz era um líder
carismático, não escolhido oficialmente pelo povo, mas levantado por Deus. Não era rei e não
estabelecia dinastia ou uma família governante. O juiz era uma pessoa - homem ou mulher
O povo faz o que é mau, servindo a outros deuses.
Deus envia uma nação para oprimi-lo.
O povo clamava a Deus.
Deus levanta um libertador.
O opressor é derrotado.
O povo tem descanso.
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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(Débora foi juíza, cap. 4-5) – escolhida por Deus para expulsar o opressor e dar paz à terra e ao
povo.71
10.2. Autoria e Data
O livro de Juízes não faz qualquer declaração direta sobre a data em que foi escrito,
apenas a duração de cada judicatura é indicada.
O cântico de Débora (5.2-31) reivindica composição contemporânea (5.1 c. 1215 a. C.)
e sua autenticidade é geralmente aceita. Mas o livro como um todo, não poderia ter sido
compilado senão daí a mais dois séculos. Refere-se à destruição e cativeiro de Silo (18.30,31)
durante a juventude de Samuel (1Sm 4.1-4, c. 1080 a.C.); e o último acontecimento que registra
é a morte de Sansão (Jz 16.30,31), que ocorreu poucos anos antes de Samuel haver sido
reconhecido como juiz (c. de 1063).
O escritor do livro de Juízes, provavelmente deve ter sido um homem que agiu durante
o princípio do reinado de Saul (antes de 1020 a.C. e talvez fosse um profeta ou pelo menos, um
dos associados proféticos de Samuel72. Na realidade, quanto a questão da autoria e data podemos
apenas conjecturar, o livro pode ter sido escrito durante o reinado de Saul ou durante os
primeiros anos do reinado de Davi (1011-1004 a.C.).
Quanto à cronologia do período dos juízes, deve ser obtida considerando tanto os inícios
do período da realeza como a data de entrada em Canaã. Com efeito, o conjunto das tradições
relatadas deve situar-se entre 1200 e 1020 a.C., sendo esta segunda data a do estabelecimento da
monarquia.
10.3. Tema e Propósito
O propósito de Juízes é narrar a história de Israel desde a morte de Josué até o tempo de
Samuel e o início do reino unido. Como os demais livros históricos da Bíblia, o livro de Juízes
apresenta os fatos históricos de forma bem seletiva e temática. Por exemplo, os capítulos 17-21
na realidade precederam a maior parte dos capítulos 3-16, mas aparecem no final do livro para
ilustrar as condições morais que prevaleciam no período. Juízes fornece um panorama geográfico
71 LASOR, William. Introdução ao AT p. 167 72 O Novo Dicionário da Bíblia
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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da apostasia para ilustrar sua disseminação e um panorama cronológico para ilustrar sua
crescente intensidade. Juízes também fornece uma explicação e defesa da monarquia de Israel
(cf. 17.6; 18.1; 19.1; 21.25). A nação necessitava ser unificada por um rei justo. O tema de Juízes
é “a insensatez de Israel e a misericórdia de Deus”73.
10.4. Esboço do Livro de Juízes
Primeira Parte: A Determinação de Israel e o fracasso em completar a conquista de Canaã
(1.1-3.4)
I. O fracasso de Israel em completar a conquista ..............................................................1.1-36
II. O juízo divino por não se completar a conquista.........................................................2.1-3.4
1. O juízo é anunciado pelo anjo..............................................................................2.1-5
2. A geração piedosa morre....................................................................................2.6-10
3. O juízo divino é descrito..................................................................................2.11-19
4. O inimigo é deixado como prova....................................................................2.20-3.4
Segunda Parte: O livramento de Israel durante o sete ciclos (3.5-16.31)
I. A campanha do sul .....................................................................................................2.5-5.31
1. Otniel..................................................................................................................3.5-11
2. Eúde..................................................................................................................3.12-30
3. Sangar....................................................................................................................3.31
II. Campanha do norte: Os Débora e Baraque................................................................4.1-5.31
1. A vitória de Débora e Baraque sobre os cananeus.............................................4.1-24
2. O cântico de Débora...........................................................................................5.1-31
III. A campanha central...................................................................................................6.1-10.5
1. Gideão.............................................................................................................6.1-8.32
2. Abimeleque...................................................................................................8.33-9.57
3. Tola....................................................................................................................10.1-2
4. Jair......................................................................................................................10.3-5
IV. Campanha oriental: Jefté........................................................................................10.6-12.7
V. Segunda campanha do norte.......................................................................................12.8-15
1. O juiz Ibzão......................................................................................................12.8-10
73 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 63
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2. O Juiz Elom....................................................................................................12.11-12
3. O juiz Abdom.................................................................................................12.13-15
VI. A campanha ocidental: Sansão.............................................................................13.1-16.31
1. Seu nascimento.................................................................................................13.1-25
2. Casamento errado.............................................................................................14.1-20
3. A magistratura de Sansão.................................................................................15.1-20
4. Seu fracasso......................................................................................................16.1-31
Terceira Parte: A depravação de Israel em pecar como os cananeus (17.1-21.25)
I. O fracasso de Israel através da idolatria..................................................................17.1-18.31
1. Exemplo de idolatria pessoal...........................................................................17.1-13
2. Exemplo de idolatria tribal...............................................................................18.1-31
II. O fracasso de Israel através da imoralidade................................................................19.1-30
1. Exemplo de imoralidade pessoal......................................................................19.1-10
2. Exemplo de imoralidade tribal.......................................................................19.11-30
III. O fracasso de Israel através da guerra entre as tribos...........................................20.1-21.25
1. Guerra entre Israel e Dã...................................................................................20.1-48
2. Fracasso de Israel depois da guerra.................................................................21.1-25
10.5. Chaves para Juízes
Palavra-chave: Ciclos
Versículos-chave: (2.20,21; 21.25)
Capítulo-chave: (2) – o segundo capitulo de Juízes é uma miniatura de todo o livro quando
registra a transição da geração santa para a geração ímpia, a forma dos ciclos e o propósito em
não destruir os cananeus.
10.6. O Ensino
Pelos princípios apresentados em juízes 2.6-3.6, e pelos concretos exemplos históricos
fornecidos pelo restante do livro, seu ensino pode ser sumarizado da seguinte maneira:
10.6.1. A indignação de Deus contra o pecado (2.11,14).
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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Até mesmo de um ponto de vista pragmático torna-se claro que a esperança de
sobrevivência de Israel dependia de sua identidade intertribal; no entanto tal esforço cooperativo
só se originava de uma dedicação comum ao seu Deus (cf. 5.8,9,16-18). A perda da fé significa
sua extinção.
10.6.2. A misericórdia de Deus em vista do arrependimento (2.16).
Deus ouve o clamor do povo e em cada ocasião concede o Espírito Santo a um juiz para
que livre o seu povo de seus inimigos. O pecado acarreta punição, mas o arrependimento traz
livramento e paz. Até mesmo a opressão estrangeira servia como um meio para a graça divina,
para a edificação de Israel (3.1-4). Deus usou os povos pagãos vizinhos para punir os israelitas
por idolatria e práticas concomitantes.
10.6.3. A total depravação do homem.
Pois, depois de cada livramento, “falecendo o juiz, rescindiam e se tornavam piores do
que seus pais, seguindo após outros deuses, servindo-os e adorando-os” (2.19). A sociedade
individualista havia demonstrado seu inerente caráter inadequado, pois o homem, deixado
sozinho, inevitavelmente faz o mal (17).
A providência operava mais devidamente do que em nossos dias. Mas os seus princípios
básicos permanecem internamente, são: a nação pecaminosa será punida, a arrependida será
salva, e todos os sistemas centralizados no homem estão destinados a falhar. A única esperança
válida da história repousa na vinda de Cristo, o Rei.
O Livro de Juízes registra o fracasso da teocracia devida à falta de fé e obediência. Os
israelitas foram desleais ao seu divino Rei, e por fim acharam mais fácil seguir um rei terreno.
Há um grande contraste entre o livro de Juízes e de Josué, veja no gráfico abaixo.
JOSUÉ JUÍZES
Liberdade Escravidão
Progresso Declínio
Conquista pela fé Derrota pela incredulidade
“Nunca nos aconteça que deixemos
o Senhor para servirmos a outros
deuses” (24.16)
“E os filhos de Israel fizeram o que era
mau aos olhos do Senhor, e se
esqueceram do Senhor seu Deus; e
serviram aos baalins e a astarote” (3.7)
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Bacharel de Teologia 73
Israel serviu a Deus (24.31) Israel serviu a si próprio (21.25)
Israel conhecia a pessoa e o poder de
Deus (24.16-18,31)
Israel não conhecia nem a pessoa e
nem o poder de Deus (2.10)
Moralidade objetiva Moralidade subjetiva
Pressão externa de Israel Israel desce em espiral
Pecado julgado Pecado tolerado
Fé e Obediência Ausência de ambas
11. O LIVRO DE RUTE
11.1. Introdução e Título
Na Bíblia Hebraica, a história de Rute se situa entre os “Ketubim” ou Escritos, a terceira
divisão do cânon hebraico. É lido anualmente pelos judeus na festa das semanas. Na Septuaginta,
na Vulgata e na maioria das versões modernas, o livro vem imediatamente depois do livro de
juízes. Alguns judeus consideram este livro como um apêndice do livro de juízes, e não o conta
separadamente na enumeração total dos livros do cânon.
Rute é um dramático livro de amor, amizade e lealdade que nasce dentro de um
ambiente hostil, marcado pela imoralidade, pela idolatria e pela guerra. Rute, uma pobre viúva
moabita, decide radicalmente deixar a sua pátria e seguir a sua solitária sogra judia em Belém.
Deus honra seu compromisso guiando-a ao campo de Boaz (um parente próximo), onde ela colhe
grãos e eventualmente encontra um esposo. O livro se encerra com uma breve genealogia na qual
o nome de Boaz é proeminente como bisavô do rei Davi, através de quem adviria o Cristo74.
Título – o livro recebe o nome de sua personagem principal, Rute. Este nome pode ser
uma modificação moabita da palavra reuit, que significa “amizade ou associação”.
11.2. Conteúdo
Por causa da fome, Elimeleque de Belém leva a família para morar em Moabe.
Infelizmente, ele e os dois filhos morrem ali, deixando a esposa, Noemi, e as esposas moabitas
dos filhos, Rute e Orfa. Quando termina a fome, Noemi volta para Judá. Convence Orfa voltar
para Moabe, mas Rute, resoluta, recusa-se a isso. As duas viúvas retornam para Belém bem no
início da colheita. Em busca de alimento, Rute vai buscar grãos e chega por acaso no campo de
74 Ibid p. 69
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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Boaz, parente de Elimeleque. Como parente, Boaz tem a responsabilidade de casar-se com a
viúva desse parente. Assim, Noemi envia Rute para que proponha tal casamento. Boaz dispõe-se
mais um parente mais próximo tem prioridade legal de propor este casamento antes dele. No
ponto alto da história, Boaz obtém este direito com habilidade, casa-se com Rute, e os dois têm
um filho. O livro celebra-o como filho de Noemi (4.17a), pois o pequeno Obede preserva a
linhagem familiar dela. E, mais importante do que isso, virá a ser avô de Davi.75
11.3. Autoria e Data
Assim como outros livros da Bíblia, o livro de Rute não indica o seu autor. A tradição
judaica indicava Samuel como o possível autor. Mas isso é inconcebível, o pano de fundo é o
tempo dos juízes, mas sua escrita é posterior a este período; isto é indicado quando o autor
explica costumes mais antigos (4.1-12), além disso Davi aparece em Rute (4.17,22) e Samuel
morreu antes da coroação de Davi (1Sm 25.1). Rute provavelmente foi escrito no período do
reinado de Davi visto que o nome de Salomão não aparece na genealogia. Não sabemos de fato
quem o escreveu, mas isto de maneira nenhuma diminui a autoridade do livro.
11.4. Tema e Propósito
“Os capítulos 17-21 formam um apêndice ao Livro de Juízes, oferecendo duas
ilustrações de injustiça durante o período dos juízes. Rute serve como uma terceira ilustração da
vida durante esse período, uma ilustração de piedade. É um quadro de fé e obediência reais
(1.16,17; 3.10), que atrai benção (4.13,17). Rute também ensina que os gentios creriam no
verdadeiro Deus (três das quatro mulheres mencionadas na genealogia de Jesus Cristo em
Mateus 1 eram gentias – Tamar, Raabe e Rute). Este livro explica como uma mulher gentia se
tornaria membro da linhagem real de Davi e mostra a origem divina da dinastia davítica (4.18-
22). Este livro tem como tema a redenção, especialmente ao se relacionar com o Parente-
Remidor. Ele revela o gracioso caráter de Yahweh e o soberano cuidado por seu povo”76.
11.5. Esboço do Livro de Rute
I. Noemi fica viúva e também perde os seus dois filhos e retorna de Moabe para sua terra com
sua nora Rute...........................................................................................................................1.1-22
75 LASOR, William. Introdução ao AT p. 568 76 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 71
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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II. Rute vai colher espigas no campo de Boaz, parente de Noemi, que a acolhe com
benevolência............................................................................................................................2.1-23
III. Noemi, sabendo que Boaz tem sobre Rute um direito de resgate, aconselha a nora a incitar
Boaz a desposá-la....................................................................................................................3.1-18
IV. Ele cede ao pedido e, após a desistência de um resgatador mais próximo, toma Rute por
mulher. Ela dá-lhe um filho: Obede, pai de Jessé, pai de Davi ..............................................4.1-17
V. A genealogia de Perez até Davi........................................................................................4.18-22
11.6. O Cenário
Rute divide em quatro cenários distintos: (1) o país de Moabe (1.1-18); um campo em
Belém (1.19-2.23; (3) uma eira em Belém (3.1-18); (4) a cidade de Belém (4.1-22).
O cenário dos primeiros oito versículos é Moabe, uma região ao nordeste do mar Morto.
Rute 1.1 apresenta o cenário do restante do livro: “Sucedeu que, nos dias em que os juízes
julgavam”. Este é um tempo de apostasia, de guerra, de declínio, de violência, de derrocada
moral e anarquia. Rute fornece um dado muito precioso do outro lado da história – o santo
remanescente que permanece fiel às leis de Deus.
11.7. Chaves para Rute
Palavra-chave: Parente-Remidor
Versículos-chaves (1.16;3.11) – “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e
deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali
pousarei eu; teu povo é meu povo, teu Deus é meu Deus” (1.16).
“Agora, pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade de meu
povo sabe que é mulher virtuosa” (3.11).
Capítulo-chave (4) – neste capítulo vemos a transição de Rute de uma viúva pobre e sem filhos
para o matrimônio e riqueza (2.1). Ao pôr em exercício a lei que regulava a redenção da
propriedade (Lv 25.25-34) e a lei concernente ao dever de irmão de suscitar descendência
(filhos) em nome do falecido (Dt 25.5-10), Boaz introduz uma moabita na linhagem de Davi e
eventualmente de Jesus Cristo.
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Rute é um livro simples, porém, profundo. É um dos melhores exemplos de literatura de
amor e piedade filiais. Ele prover uma ponte entre os juízes e a monarquia (sua última palavra é
Davi). Ilustra a fidelidade em meio à infidelidade. Doutrinariamente, Rute alcança os gentios que
estão fora do escopo da redenção. Deus acolhe não somente israelitas, mas também todos
aqueles que a semelhança de Rute se devotarem ao Senhor reconhecendo-O como único Deus
(1.16,17). Moralmente, Rute ensina ideais de integridade em questão de parentesco e
matrimônio.
12. OS LIVROS DE SAMUEL
12.1. Introdução e Título
O livro de Samuel (1º e 2º) registra a transição de Israel de uma teocracia para uma
monarquia; o reinado de Saul, e o reinado de Davi. As vidas e atos de Samuel, Saul e Davi
provêm de uma tríplice divisão em linhas gerais. O período coberto é de aproximadamente cem
anos, de c. de 1050 até 950 a.C.
A divisão de Samuel em dois livros é muito recente. Uma nota massorética77 a 1Sm
28.24, indica que o “centro do livro” se encontra neste lugar. Os tradutores gregos devem ter
copiado a tradução em dois rolos, que intitulavam 1º e 2º livros dos reinados. Tal divisão,
seguida pela vulgata78 (que chamava 1º e 2º livros dos reis, se impôs à Bíblia Hebraica a partir do
século XV / XVI.
Samuel, o ultimo juiz e o primeiro grande profeta em Israel, ungiu o primeiro rei. Ainda
que as credenciais físicas de Saul sejam impressionantes, sua atitude de indiferença para com
Deus resulta em que o reino é tirado de sua família. Em seu lugar, Samuel unge o jovem Davi
como rei-eleito. Com ciúmes, Saul passa a perseguir violentamente a Davi, mas a boa mão de
Deus era com ele, e o livrou das mãos de Saul.
O Título “Samuel” procede de uma antiga tradição rabínica que dava ao profeta Samuel
por autor destes livros. Samuel significa “Nome de Deus ou Deus ouvi”.
77 Os massoretas eram um grupo de rabinos (estudiosos) que redigiram A Bíblia Hebraica acrescentando as letras
vogais, visto que no seu original a língua hebraica não tinha vogais, esses homens se encarregaram de acrescentar as
vogais facilitando assim, a sua leitura. 78 Tradução da Bíblia para o Latim
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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12.2. Autoria e Data
Os livros de Samuel são anônimos, a tradição judaica atribui ao profeta Samuel a
autoria destes livros, mas precisamos observar que o profeta morre antes de terminar o primeiro
livro de Samuel (1Sm 25.1). Com base em 1Cr 29.29,30; argumentam que a obra de Samuel
depois de sua morte, fora continuada pelos profetas Natan e Gad. Mas parece que o próprio
Samuel deixou alguns registros já escritos (1Sm 10.25). Todos os três homens evidentemente
contribuíram para a formação destes dois livros, mas não quer dizer que foram eles que
escreveram estes livros. É bem provável que um único compilador, provavelmente membro da
escola profética, tenha usado estas crônicas para compor toda esta obra. Isto é também sugerido
pela unidade de plano e propósito, bem como pelas suaves transições entre seções.
A data para a composição de Samuel (1º e 2º) foi provavelmente após a morte de
Salomão (931 a.C.), porém antes do cativeiro assírio do reino do norte (722 a.C.).79
12.3. Tema e Propósito
Os livros de Samuel apresentam uma história profeticamente orientada da monarquia
primitiva de Israel. O primeiro destes livros toma a história de Israel no ponto em que ela foi
deixada em Juízes 16.31. Samuel seguiu Sansão, e também teve de tratar com os filisteus, uma
vez que Sansão não consolidou uma vitória permanente. 1 Samuel traça a transição de liderança
em Israel dos juízes aos reis, de uma teocracia a uma monarquia. Samuel também revela o papel
crítico dos profetas em suas exortações divinamente comissionadas, dirigidas aos reis e ao povo
de Israel.
Entre 1 Samuel 31.13 e 2 Samuel 1.1 não há nenhuma interrupção narrativa. Os dois
volumes formam originalmente um só livro com o propósito de apresentar uma perspectiva
divina do estabelecimento do reino unido sob Saul e sua expansão sob Davi. Estes livros
reiteradamente ilustram a hostilidade entre as dez tribos do norte e a duas do sul, bem como a
dificuldade de mantê-las unidas. A cisão final entre Israel e Judá, que ocorreu depois da morte de
Salomão em 931 a.C., não traz nenhuma surpresa à luz de 1 e 2 Samuel.
79 WILKINSON, Bruce. Descobrindo a Bíblia p. 84
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12.4. Esboço de 1 e 2 Samuel
1º Livro de Samuel
I. A conclusão dos tempos dos Juízes.............................................................................1.1-7.17
1. O nascimento e consagração de Samuel............................................................1.1-18
2. A oração de Ana.................................................................................................2.1-11
3. A maldade dos filhos de Eli e anúncio do julgamento contra esta família......2.12-36
4. O chamado do menino Samuel..........................................................................3.1-21
5. A derrota dos israelitas e a arca é tomada pelos filisteus...................................4.1-11
6. A morte de Eli..................................................................................................4.12-22
7. A arca em Asdode e Ecrom................................................................................5.1-12
8. O retorno da arca a Israel..................................................................................6.1-7.1
9. Os filisteus são derrotados em Mispá.................................................................7.2-17
II. O princípio da história da monarquia.......................................................................8.1-15.34
1. O povo pede um rei............................................................................................8.1-22
2. Designação e nomeação de Saul como rei.................................................9.1-10.1-27
3. Saul alcança vitória sobre os inimigos e liberta a cidade de Jabes..................11.1-15
4. Samuel fala ao povo resignando o seu cargo...................................................12.1-25
5. Saul desobedece e é repreendido por Samuel....................................................13.-15
6. A desvantagem militar de Israel.....................................................................13.16-22
7. Vitória de Israel sobre os filisteus....................................................................14.1-23
8. O juramento impensável de Saul....................................................................14.24-48
9. A família de Saul............................................................................................14.49-52
10. Desobediência e rejeição de Saul...................................................................15.1-35
III. O fim do reinado de Saul e a designação de Davi para ser rei..............................16.1-31.13
1. Davi é ungido rei pelo profeta Samuel.............................................................16.1-13
2. Davi a serviço de Saul....................................................................................16.14-23
3. A luta entre Davi e o gigante Golias................................................................17.1-58
4. Davi é perseguido por Saul.........................................................................18.1-24.22
5. A morte de Samuel................................................................................................25.1
6. Davi e Abigail..................................................................................................25.2-44
7. Davi poupa novamente a vida de Saul.............................................................26.1-25
8. Davi entre os filisteus.......................................................................................27.1-12
9. Saul e a médium de Em-Dor............................................................................28.1-25
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10. Os filisteus desconfiam de Davi.....................................................................29.1-11
11. Davi derrota os amalequitas...........................................................................30.1-31
12. O suicídio de Saul..........................................................................................30.1-13
2º Livro de Samuel
I. Os triunfos de Davi e as suas lamentações a respeito de Saul e Jônatas...................1.1-10.19
1. Davi recebe a notícia da morte de Saul..............................................................1.1-27
2. Davi é ungido rei em Judá ...................................................................................2.1-7
3. Is-Bosete proclamado rei e a guerra entre Judá e Israel....................................2.8-3.1
4. Os filhos de Davi em Hebrom.............................................................................3.2- 5
5. O apoio de Abner a Davi....................................................................................3.6-21
6. Joabe mata Abner.............................................................................................3.22-39
7. O assassinato de Is-Bosete.................................................................................4.1-12
8. Davi se torna rei de Israel...................................................................................5.1-25
9. A arca é levada para Jerusalém..........................................................................6.1-23
10. A promessa de Deus a Davi.............................................................................7.1-17
11. A oração de Davi............................................................................................7.18-29
12. As vitórias militares de Davi............................................................................8.1-18
13. Davi e Mefibosete............................................................................................9.1-13
14. A guerra contra os amonitas...........................................................................10.1-19
II. O pecado e tribulações na vida de Davi.................................................................11.1-21.22
1. O pecado de Davi com Bete-Seba....................................................................11.1-27
2. Natã repreende Davi.........................................................................................12.1-31
3. Tamar é violentada por Amnon........................................................................13.1-22
4. Absalão mata Amnon.....................................................................................13.23-39
5. Absalão volta para Jerusalém e conspira contra o reino de Davi................14.1-15.12
6. Davi foge de Absalão.....................................................................................15.13-37
7. Davi e Ziba.........................................................................................................16.1-4
8. Simei amaldiçoa Davi......................................................................................16.5-14
9. O conselho de Husai e de Aitofel..............................................................16.15-17.29
10. A morte de Absalão........................................................................................18.1-18
11. Tristeza e luto de Davi..............................................................................18.19-19.8
12. Davi retorna para Jerusalém...........................................................................19.9-43
13. A rebelião de Seba contra Davi......................................................................20.1-26
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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14. Os gibionitas são vingados.............................................................................21.1-14
15. Guerra contra os filisteus.............................................................................21.15-22
III. Cântico e últimas palavras de Davi......................................................................22.1-24.25
1. Cântico de louvor de Davi...............................................................................22.1-51
2. As últimas palavras de Davi...............................................................................23.1-7
3. Os principais guerreiros de Davi......................................................................23.8-39
4. O recenseamento e a praga...............................................................................24.1-25
Historicamente, 1Samuel fornece o elo crucial entre os juízes e a monarquia. É uma
narrativa que fornece uma perspectiva espiritual sobre três personagens bem diferentes cujas
vidas foram entretecidas: Samuel, Saul e Davi. Este é o primeiro livro a usar a palavra Messias
(ungido 2.10). 2Samuel continua o relato da vida de Davi no ponto onde 1Samuel termina. Logo
depois da morte de Saul, o rei eleito se transforma no rei entronizado, primeiro sobre Judá e
depois sobre todo o Israel.
13. OS LIVROS DE REIS
13.1. Introdução e Título
Aos livros de Samuel, que narram a fundação da monarquia hebraica seguem-se Reis,
cuja história continua até sua queda sob os assaltos dos poderosos impérios da Assíria e da
Babilônia, isto é, desde os últimos dias de Davi (cerca de 970 a.C). até à tomada de Jerusalém
em 587 a.C., uma duração de cerca de quatro séculos. A cisão política e religiosa, que se seguiu à
ascensão ao trono do segundo sucessor de Davi, cindiu a nação em dois reinos rivais, o de Israel
e o de Judá, e findou com o desaparecimento do primeiro na luta com a Assíria (721 a.C.),
delimitando este lapso de tempo em três períodos, com reflexos análogos na composição da obra.
Como os dois livros de Samuel, os dois livros de Reis eram originalmente um só na
Bíblia Hebraica. O Título original era Melechin, “Reis”, extraído da primeira palavra em 1.1:
Vehamelech, “Ora, o Rei”. A sua divisão em dois livros aconteceu quando foi traduzido para a
língua grega. Os tradutores artificialmente dividiram o livro de Reis no meio da história de
Acazias em dois livros. Eles chamaram os Livros de Samuel de “Primeiro e Segundo Reinados”,
e os Livros de Reis de “Terceiro e Quarto Reinados”.
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13.2. Conteúdo
O livro é escrito à base de um esquema simples e transparente, sobretudo na segunda e
maior parte, daquela dos reinos separados. Seu enredo é formado pelas notícias sobre cada um
dos reis, quer de Judá, quer de Israel, redigido com um cunho uniforme e distribuído em três
partes: 1) Introdução: sincronização do outro reino com o rei contemporâneo, duração do reinado
no momento e para os reis de Judá também os anos de idade à elevação ao trono e nome da
rainha-mãe. 2) Corpo: qualidades morais relativamente à religião e ao culto mosaico, e breves
referências a algum fato mais relevante. 3) Epílogo: envio para notícias mais amplas, aos "anais
dos reis" (de Judá ou de Israel, segundo o caso), morte e sepultura.
Nas linhas deste traçado, inserem-se os mais amplos e minuciosos relatos de coisas
concernentes à religião e à atividade dos profetas, entre os quais avultam as grandiosas figuras de
Elias e Eliseu. O interesse religioso, sobre o qual se fixa o olhar do autor sagrado, manifesta-se,
inclusive nos poucos acontecimentos políticos narrados com abundância de pormenores fora do
comum, como as ações de Acab (1Rs cc. 20-22), a ascensão de Jeú ao trono (2Rs 9:1-7), o cerco
e libertação de Jerusalém do exército de Senaquerib (2Rs 18:13-19:37). Essas notícias mais
abundantes formam o fundo do livro, ao passo que os esquemáticos perfis dos reis, donde lhe
vem o título usual, constituem-lhe como que a moldura e o enredo. As primeiras, o autor hauriu-
as das histórias dos profetas, transmitidas, por escrito ou de viva voz; pelos discípulos dos
mesmos. Nos segundos, isto é, na mencionada moldura, devemos ver um trabalho mais pessoal
do redator final, baseado por certo em bons documentos.
O valor histórico do livro dos Reis é incontestável. Garantido pela inspiração divina, é
confirmado por documentos paralelos da história profana, cabendo a primazia à assírio-
babilônica, que aqui se nos apresenta com tão grande riqueza, não igualada para nenhum outro
livro do Antigo Testamento.
13.3. Autoria e Data
Não nos foi transmitido quem seja o autor de Reis; seu nome permanecerá
provavelmente para sempre ignorado, ao passo que a idade pode ser deduzida do próprio livro.
Se os últimos quatro vv. (2Rs 25:27-30) não são um apêndice ou acréscimo posterior, como em
si é possível, sem, contudo, parecer provável, o autor teria terminado a sua obra entre os anos
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560 (37° da prisão de Joiaquin) e 538 a.C., que marca o fim do exílio babilônico, porque não faz
nunca alusão ou referência a este grande acontecimento.
13.4. Propósito
Os dois livros de Reis, como um todo, traçam a monarquia desde o ponto de sua maior
prosperidade sob Salomão até sua extinção e destruição nos cativeiros babilônico e assírio. Eles
registram os eventos que servem de eixo central na carreira dos reis de Israel e Judá, e mostra
como a desobediência e a rebelião contra Deus levam ao fracasso e à subversão da monarquia.
Reis foi escrito seletivamente, não exaustivamente, de um ponto de vista profético, para ensinar
que o declínio e o colapso dos dois reinos ocorreram por causa do fracasso por parte dos
governantes e do povo em dar ouvidos às advertências dos mensageiros de Deus.
13.5. Esboço de Reis
1º Livro de Reis
I. O estabelecimento de Salomão como rei.....................................................................1.1-2.46
II. A ascensão de Salomão como rei...............................................................................3.1-8.66
1. A oração de Salomão.........................................................................................3.1-28
2. A administração de Israel por Salomão.............................................................4.1-34
3. A construção do Templo e da casa de Salomão..............................................5.1-8.66
III. O declínio de Salomão como rei.............................................................................9.1-11.43
IV. A divisão do reino.................................................................................................12.1-14.31
1. Causa da divisão...............................................................................................12.1-24
2. Reinado de Jeroboão em Israel.................................................................12.25-14.20
3. Reinado de Roboão em Judá..........................................................................14.21-31
V. O reinado de dois reis em Judá: Abias e Asa..............................................................15.1-24
VI. Os reinados de cinco reis em Israel: Nadabe, Baaasa, Ela, Zinri e Onri........... 15.25-16.28
VII. O reinado de Acabe em Israel...........................................................................16.29-22.40
1. O ministério do profeta Elias......................................................................17.1-19.21
2. Guerras com a Síria..........................................................................................20.1-43
3. Assassinato de Nabote......................................................................................21.1-16
4. A morte de Acabe...........................................................................................21.17-29
VIII. O reinado de Josafá em Judá.................................................................................22.41-50
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IX. O reinado de Acazias em Israel...............................................................................22.51-53
2º Livro de Reis
I. O reinado de Acazias em Israel......................................................................................1.1-18
II. O reinado de Jorão em Israel......................................................................................2.1-8.15
1. A transição de Elias a Eliseu..............................................................................2.1-25
2. O ministério do profeta Eliseu........................................................................4.1-8.15
III. O reinado de Jeorão em Judá.....................................................................................8.16-24
IV. O reinado de Acazias em Judá................................................................................8.25-9.29
V. O reinado de Jeú em Israel.....................................................................................9.30-10.36
VI. O reinado da rainha Atalia em Judá...........................................................................11.1-16
VII. O reinado de Joás em Judá................................................................................11.17-12.21
VIII. O reinado de Jeoacaz em Israel.................................................................................13.1-9
IX. O reinado de Jeoás em Israel..................................................................................13.10-25
X. O reinado de Amazias em Judá...................................................................................14.1-22
XI. O reinado de Jeroboão II em Israel..........................................................................14.23-29
XII. O reinado de Azarias em Judá....................................................................................15.1-7
XIII. O reinado de Zacarias em Israel..............................................................................15.8-12
XIV. O reinado de Salum em Israel...............................................................................15.13-15
XV. O reinado de Manaém em Israel............................................................................15.16-22
XVI. O reinado de Pecaias em Israel.............................................................................15.23-26
XVII. O reinado de Peca em Israel................................................................................15.27-31
XVIII. O reinado de Jotão em Judá...............................................................................15.32-38
XIX. O reinado de Acaz em Judá....................................................................................16.1-20
XX. O reinado de Oséias em Israel..................................................................................17.1-41
XXI. O reinado de Ezequias em Judá.........................................................................18.1-20.21
XXII. O reinado de Manasses em Judá............................................................................21.1-18
XXIII. O reinado de Amon em Judá.............................................................................21.19-26
XXIV. O reinado de Josias em Judá...........................................................................22.1-22.30
XXV. O reinado de Jeoacaz em Judá............................................................................23.31-34
XXVI. O reinado de Jeoaquim em Judá.....................................................................23.35-24.7
XXVII. O reinado de Joaquim em Judá..........................................................................24.8-16
XXVIII. O reinado de Zedequias em Judá................................................................24.17-25.21
XXIX. O governo de Gedalias.......................................................................................25.22-26
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XXX. A libertação de Joaquim da Babilônia.................................................................25.27-30
É visível o caráter essencialmente religioso desta história dos reis. Numerosos
ensinamentos de doutrina e vida religiosa estão contidos especialmente na atividade dos profetas,
que ocupam continuamente o centro da cena, e nas reflexões do autor sagrado sobre o
procedimento dos reis e dos povos, que frequentemente rematam o quadro. Cumpre não deixar
de notar o impressionante fato de que, enquanto no reino cismático de Israel houve em apenas
dois séculos (c. 930-730 a.C.), nada menos de oito mudanças de dinastia, no vizinho e
politicamente mais fraco reino de Judá dominou, por mais de 4 séculos (c. 1010-586 a.C.),
constante e invariavelmente a descendência de Davi, embora não faltassem as violências e os
contrastes a partir do exterior (intromissões de Atalia, de Necão, de Nabucodonosor). Verificava-
se assim a promessa divina feita a Davi por boca do profeta Natan (2 Sam 7), anúncio e penhor
do reino do Messias, filho de Davi por excelência (Lc 1:32), insigne pedra limiar na preparação
da salvação humana.
14. A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL
14.1. Introdução
O período da história de Israel descrito em 1-2 Samuel e 1Reis 1-11 apresenta mudanças
marcantes na vida política, social e religiosa. Iniciando-se no árido período dos juízes, quando
não havia rei em Israel, o período termina com o império de Salomão em pleno florescimento.
Israel começa como uma colisão frágil e flexível de tribos unificadas por certos laços étnicos e
sociais, mas principalmente por uma fé comum em Javé. Ao final do período Israel é a nação
mais poderosa da Ásia oriental. Em 1Samuel, as pessoas fazem peregrinações para o santuário
menos sofisticado de Eli em Siló. Em 1Reis 1-11 realizam suas festas em um templo Real,
projetado com esmero, cuja construção e manutenção lhes exigem quantidade penosa de recursos
e boa vontade. O registro dessas mudanças surpreendentes centra-se na história de quatro
pessoas: Samuel, Saul, Davi e Salomão. As luzes brilham com maior intensidade sobre Davi. Os
relatos sobre Samuel e Saul formam o prólogo e os que tratam das festas e extravagâncias de
Salomão, o epílogo. O que domina o enredo é a ascensão de Davi ao trono e sua luta para mantê-
lo.
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14.2. SAMUEL- Sacerdote, profeta, Juiz (1Sm 1-7)
Talvez o maior personagem do Antigo Testamento desde Moisés, Samuel desempenhou
papel fundamental na transição crítica da coalizão tribal para o reinado. Um verdadeiro líder
carismático, ele incorporou os maiores ofícios de seu tempo. Nada do que acontecia entre as
tribos era alheio ao seu interesse. Atuando numa variedade de funções, ele serviu fielmente às
tribos quando as pressões externas exercidas contra Israel pelos filisteus exigiram mudanças
extremas no campo social e político. Para seu crédito, Samuel foi capaz de moldar o futuro de
Israel ao mesmo tempo em que se apegava às práticas da aliança e insistia nelas.
14.2.1. A infância de Samuel (1.1-3.21)
Samuel era filho de Elcana, um piedoso efraimita, e de sua esposa, Ana, que por longo
tempo fora estéril, e fizera um voto que se Deus lhe desse um filho ele seria dedicado ao serviço
do Santuário. A promessa de Ana parece indicar sua intenção de consagrar o filho como narizeu:
"abster-se-á de vinho e de bebida forte..., Nm 61.21" não passará navalha pela cabeça. 1Sm
11.1b".
Esse voto é uma apresentação apropriada para Samuel, que defendeu com firmeza,
durante toda a vida, os padrões históricos de Israel diante dos meios termos e indiferença. Ser
narizeu significava manter o estilo antigo , favorecendo a simplicidade seminômade das gerações
antigas em detrimento da influência sofisticada de Canaã .
Quando a oração de Ana foi respondida com o nascimento de Samuel, não fez nenhuma
peregrinação a Siló até desmamá-lo, provavelmente aos três anos (1Sm1.22). Então o levou a Eli
e o dedicou ao serviço do Senhor junto com a oferta de ação de graças (Lv 7.11ss.). Seu
magnífico cântico de louvor é registrado, e termina com uma observação profética
provavelmente sobre o Rei messiânico, indicando também a função futura de Samuel na
formação da monarquia (1Sm 2.10).
14.2.2. O chamado de Samuel (3.1-21)
Esse capítulo anuncia a expansão do ministério de Samuel, que passa do mero
aprendizado do sacerdócio para o pleno ofício profético. O relato da voz que Samuel ainda
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rapazinho confundiu com a de Eli mostra que Samuel recebeu um chamado direto de Deus para
ser profeta. Sua primeira revelação dizia respeito à derrubada da casa de Eli, e só com muita
relutância é que Samuel comunicou a mensagem a Eli (3.1-21). Samuel foi crescendo em
estatura na presença do povo, e toda terra compreendeu que Samuel fora encarregado com um
ofício profético da parte do Senhor.
14.2.3. Samuel como juiz (7.3-17)
Foi a trágica derrota de Israel e a perca da arca, usada como talismã contra os filisteus,
quando os filhos de Eli figuraram entre os mortos, significou o fim da sucessão de Eli, e a
rejeição do sacerdócio araônico. Embora não seja explicitamente afirmado, Samuel, a única
pessoa então em vista, assumiu as rédeas até então nas mãos do falecido Eli (cf. 4.1). Como seus
nobres predecessores, Débora, Baraque, Gideão e Sangar; ele instou as pessoas ao
arrependimento (v 3-9). O Senhor desbaratou os filisteus em Mispa, e os israelitas então
recobraram a confiança em Deus, mantiveram os filisteus à margem e também recapturaram boa
parte do território perdido. Essa passagem (v. 3.-17), que parece um episódio de juízes, é o
último relance da antiga ordem. Crescia o clamor por um rei.
15. O PERÍODO DE TRANSIÇÃO.
15.1. Introdução
A pressão da oposição filistéia exigiu uma nova tática de Israel. Nem o idoso Samuel
nem seus irresponsáveis filhos podiam proporcionar a liderança necessária àquele momento. A
ameaça das comunidades filistéias altamente organizadas só poderia ser combatida com as
mesmas armas: Israel precisava de um rei. A monarquia era necessária para a sobrevivência de
Israel.
O padrão realmente bem-sucedido de governo para Israel era um equilíbrio delicado-
nem teocracia nem monarquia, mas teocracia por meio da monarquia. Para Israel ser povo de
Deus, Deus precisava ser reconhecido como o verdadeiro governante. Entretanto Deus podia
governar por meio de um rei humano. No meio dessa tensão, Saul seguiu para a liderança das
tribos.
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De acordo com 1Sm 9-13, a entronização de Saul foi realizada em etapas, elevando-o
gradativamente em cada uma delas diante do povo, primeiro foi ungido por Samuel (em
obediência à ordem de Deus [9.16] depois que os dois se encontraram quando Saul estava à
procura das jumentas extraviadas de Seu pai). Mais tarde em Mispa, foi destacado por sorte de
clã de Matri da tribo de Benjamim (10.21). Depois Samuel tenta apresentá-lo ao povo (10.20,21).
Figura marcante, Saul conquistou muito apoio popular, apesar da oposição de alguns agitadores
(v 25-27).
Por fim, uma invasão amonita coloca em prova os dons carismáticos de Saul (11.1-5).
Ainda que tivesse sido ungido em particular e chamado publicamente para tal posto, ele
continuava trabalhando no campo quando soube do ataque amonita contra Jabes-Gileade. As
tribos foram reunidas e as forças amonitas, destruídas ou dispersas. Parece que Saul ainda
considerava Samuel co-regente ou co-juiz (cf. v. 7). O sucesso de Saul sufocou toda oposição a
sua regência, e mais uma vez, em Gilgal, Samuel o proclamou rei.
15.2. As campanhas militares de Saul (13.1-14.52)
Os filisteus impunham pressões constantes sobre a nova monarquia. Eles
monopolizavam a "indústria metalúrgica” (13.19,22) e se aproveitavam da superioridade de seus
carros (v.5) quando o terreno permitia. Eram mais capazes de manter uma vantagem militar
evidente sobre os Israelitas. Antes da época de Saul, as tribos não tinham um exército
permanente, dependendo de voluntários em tempos de emergência. Quando Saul ou seu filho,
Jônatas derrotaram uma guarnição filistéia em Gibea (13.3), era certo que viriam retaliações (cf.
v. 17ss). Num ataque relâmpago, o astuto e corajoso Jônatas e seu escudeiro infligiram tamanha
perca para os filisteus que atiçaram a coragem dos Israelitas (14.1-14). Ao expulsá-los da terra
montanhosa de Efraim, Saul ganhou alívio da opressão filistéia. Isso lhe permitiu travar outras
guerras contra outros vizinhos, inclusive Moabe, Amom, Edom e Amaleque (v. 47ss).
15.3. A escolha fatal de Saul (15.1-35).
A ascensão de Saul foi gradual; assim como também seu declínio. A desobediência
flagrante de Saul provocou sua rejeição final. Dois episódios são registrados. Por causa de sua
impaciência Saul teve o atrevimento de usurpar os direitos sacerdotais de Samuel (13.8ss.),
sacrificando ele mesmo os animais. A insensibilidade de Saul diante dos limites do seu oficio
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deram claros sinais a Samuel de que sua primeira experiência na monarquia estava fadada ao
fracasso.
Quando o rei não deu ouvidos à ordem de exterminar a espada todos os amalequitas, seu
gado, e seus bens, a suspeita de Samuel ficou confirmada (1Sm 15.1-3). Como Acã (Js 7.1ss.),
Saul não levara a sério a guerra santa, o pouco caso de Saul para com a ordem divina foi
considerado rebelião por Samuel. O profeta permaneceu resoluto apesar dos apelos de Saul (v.
24-31). A lição tinha de ficar clara, por maior que fosse o preço: para o rei ou para o plebeu, a
obediência era melhor que o sacrifício (v. 22).
15.4. DAVI - Pastor, guerreiro, rei eleito (1Sm 16.1-2Sm 5.10)
Num sentido, a narrativa de Samuel e Saul (caps. 1-15) pode ser interpretada como um
prólogo ao relato instigante da ascensão de Davi ao trono. Os livros de Samuel e Reis tratam de
Davi e sua família, assim como a sequência de histórias de Gn 11-26 - Êx 19.25 trata de Abraão
sua família. O relato da vida de Davi é contado em três seções:
A ascendência de Davi ao trono - 1Sm 16.1- 2Sm 5.10
O reinado de Davi - 2Sm 5.11-24.25
A transferência do reinado - 1Rs 1.1- 2.46
15.5. Saul e Davi (16.1-31.13)
Quando Deus rejeitou Saul como rei de Israel, Davi foi revelado como seu sucessor, ao
profeta Samuel, o qual o ungiu, sem qualquer ostentação, em Belém (16.1-13). Depois de
ungido, o poder carismático retirou-se de Saul (16.13). Em lugar do Espírito do Senhor, um
espírito maligno veio a ele. Ao que parece Saul passou a sofrer crises agudas de depressão que só
podiam ser aliviadas pela música. É essa situação curiosa que fez cruzar o caminho de Saul e
Davi (v. 18,23). A princípio tudo correu bem. Saul simpatizava com o jovem Davi, e o nomeou
seu escudeiro. Então o bem conhecido incidente que envolveu Golias, o campeão dos filisteus,
alterou tudo (1Sm 17).
A vitória de Davi elevou-o a uma posição de responsabilidade dentro do exército de
Saul . Mais do que isso, fez com que Jônatas, filho de Saul, se agradasse dele (18.15). Quando a
popularidade de Davi começou a suplantar a de Saul, o rei tornou-se ciumento e desconfiado e
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procurava matá-lo (v.6-11). Embora Davi ainda tivesse acesso à corte, sua aceitação por Saul
diminuía à medida que o comportamento do rei se tornava cada vez mais turbulento.
15.6. A fuga de Davi (21.1-27.12).
Os estágios seguintes da história de Davi estão assinalados por uma fuga constante da
perseguição incansável por Saul. Nenhum lugar de descanso estava seguro por muito tempo;
profeta, sacerdote, inimigo nacional, ninguém podia dar-lhe abrigo, e aqueles que o ajudavam
eram cruelmente punidos pelo rei enlouquecido pela ira (1Sm 22.6-12). Mesmo a intervenção de
Jônatas não podia proteger permanentemente Davi. Mais tarde, outros de seu clã, sem dúvida
temendo retaliação, juntaram-se a ele no exílio. Com seu grupo heterogêneo de cerca de
quatrocentos companheiros fugitivos (22.2), Davi quase sempre se escondia de dia e viajava de
noite para escapar de Saul.
As táticas de Davi com Saul eram defensivas, não agressivas. Por duas vezes teve nas
mãos a vida do rei, mas recusou-se a matá-lo (24.4ss.; 26.6ss.). Sua atitude para com Saul era de
respeito e reverência por um líder ungido por Deus. Saul por outro lado, foi implacável na
caçada a Davi. Apesar da constante ameaça dos filisteus, persegui compulsivamente Davi e seu
grupo a ponto de negligenciar suas responsabilidades reais.
15.7. Declínio e morte de Saul. (28. 1-31; 13.)
Ao enfrentar um ataque violento dos filisteus vindo do norte, Saul entra em pânico e
mesmo sabendo que Deus não aprovava tal atitude, consulta uma médium e se engana com uma
visão pensando ser Samuel vindo dos mortos (28.2ss.). Seu desejo era receber um socorro da
parte de Deus, porém, a resposta que teve foi que: pela sua desobediência perderia a sua coroa
para Davi e por fim seria morto pelos filisteus, ele e seus filhos.
Sem nenhuma misericórdia (31.1ss.), os filisteus forçaram a batalha contra Saul e seus
filhos. Os mais jovens caíram primeiro, e Saul ferido, pediu um golpe de misericórdia. Quando
seu escudeiro se recusou a fazê-lo, Saul lançou-se sobre a sua própria espada. Os filisteus se
alegraram com a morte de Saul e com a vulnerabilidade de Israel. Mas ainda teriam de acertar
contas com Davi.
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16. A DUPLA UNCÃO DE DAVI (2Sm 1.1-5.10).
16.1. Rei em Hebrom
Uma vez morto Saul, Davi procurou a vontade de Deus e foi orientado a retornar a Judá,
sua própria região de nascimento. Ali seus compatriotas de tribo ungiram-no rei, e estabeleceu
residência em Hebrom, durante sete anos e meio (5.5). Os primeiros dois anos desse período
foram ocupados pela guerra civil que estourara entre os apoiadores de Davi e os antigos
cortesãos de Saul, os quais haviam estabelecido um dos filhos de Saul, Is-bosete, como rei, em
Manaim. Parece que Abner, fiel capitão de Saul, manipulava Is-bosete em todas as situações, e
por isso foi proclamado rei em outras tribos. Nada indica que o governo de Is-bosete tenha
conquistado amplo apoio popular,. Sua capital ficava na transjordânia, o que reduziu muito, o
que reduziu muito sua influência entre as tribos, que viam cada vez mais Davi como líder . Após
a morte de Abner e Is-bosete, a oposição organizada contra Davi chegou ao término, e foi ungido
rei sobre as doze tribos de Israel, em Hebrom, de onde pouco depois haveria de transferir sua
capital para Jerusalém (2Sm 3-5).
16.2. Rei em Jerusalém
O reino unido precisava de uma capital central bem identificada com o novo rei. A
fortaleza cananéia de Jerusalém permanecera fora do controle de Israel durante seus dois séculos
e meio de ocupação da terra. Cidade antiga (cf. Gn 14.18), Jerusalém estava localizada no ponto
ideal para ser a capital de Davi. Colocada entre as duas metades de seu reino, num território que
nenhuma tribo podia reclamar, era suficientemente neutra para servir como fator unificador. Os
detalhes da conquista de Davi são obscuros, mas seus homens podem ter rastejado por um canal
de água (5.8). A captura de Davi da nova capital tornou-a literalmente sua -"a cidade de Davi". O
relato detalhado e complexo da ascensão de Davi ao reino encerra-se nesse ponto. Sua conclusão
é marcada pelo resumo do editor (v.10).
17. DAVI CONSOLIDA SUAS CONQUISTAS (2 Sm 5.11-24.25)
17.1. As batalhas (5.11-25).
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Ao tomar posse de Jerusalém e torná-la sua cidade Davi, quase que de imediato;
começou a fazer o que Saul não conseguira: expulsar da terra os filisteus. Bem versado nas
táticas filistéias e abençoado pela direção de Deus, Davi foi capaz de obter vitórias decisivas e de
controlar e confinar o inimigo em suas próprias fronteiras (5,17-25) pela primeira vez em 150
anos.
17.2. As reformas religiosas.
Um dos erros básicos de Saul fora a sua insensibilidade para com as instituições
religiosas de Israel, em especial o santuário central e o sacerdócio. Mas Davi percebeu a
importância da herança espiritual de Israel e procurou perpetuá-la e promovê-la. Israel não
poderia ser realmente unida, a menos que seu chefe político fosse também seu líder religioso.
Esse golpe de mestre ampliou a lealdade do povo para com ele. Sua participação
desinibida nas cerimônias de consagração ofendeu Micau, sua esposa recatada (6.20), mas seu
entusiasmo destacava-o como um dos que reverenciavam o Deus de Israel e promoviam a fé,
reputação bem merecida e jamais perdida. Davi trouxe de volta a arca da aliança, desde Quireate-
Jearim, e colocou-a num tabernáculo especialmente preparado em Jerusalém.
Muito da organização religiosa que posteriormente haveria de enriquecer a adoração no
templo, deve sua origem aos arranjos para os cultos do tabernáculo feitos por Davi, nesse tempo.
17.3. Um sucesso militar
Quando se assentou a poeira de várias batalhas, os filisteus, bem como os edomitas,
moabitas, os amorreus e as grandes cidades-estados da Síria, como Damasco, Zobá e até Hamate,
estavam ou sob controle ou subjugadas a ele. Agora com certeza o reino mais poderoso da Ásia
ocidental, as fronteiras de Israel estendiam-se do deserto ao Mediterrâneo e do Golfo de Ácaba,
encostas do Hamate no Orontes.
18. DAVI, UM SER HUMANO.
18.1. A manifestação de misericórdia (9.1-13)
Teologia Bíblica do Antigo Testamento
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O retrato da bondade de Davi para com a casa de Saul e sua profunda consideração por
Jônatas, esboçada em toda narrativa, é reforçado por sua misericórdia para com Mefibosete, filho
de Jônatas. A menção específica da deformidade física destaca a condescendência do rei (1) tais
enfermidades eram consideradas julgamento de Deus (veja Jo 9.1ss.). (2) um aleijado não podia
servir de ameaça ao domínio de Davi. O tratamento bondoso para com um membro da família
rival é ainda mais notável diante do costume frequente entre os orientais de exterminar a
descendência masculina da família real adversária. Davi manteve sua promessa a Jônatas,
poupando a vida de seus descendentes (1Sm 20.14-17; 2Sm 21.1-6).
18.2. O abuso de poder (11.1-12.31)
Um episódio durante a guerra contra os amonitas (1.1-27) mostrou outra face de Davi.
Enquanto seu exército estava em marcha, Davi permaneceu na capital, quando então ocorreu seu
encontro ilícito com Bate-seba. Em sua trama desesperada para livrar-se de Urias, o marido dela,
Davi acrescentou um homicídio ao adultério. O rei cuja obrigação principal era cumprir os
termos da aliança e assegurar justiça em todos os níveis da sociedade, havia ele próprio violado
de maneira grosseira a aliança. Empregara seu poder para fins cruéis.
18.3. Problemas na corte (13.1-18.33)
Iniciou-se um conflito aberto pela coroa quando Amnom, filho mais velho de Davi
(3.2), aproveitou-se injustamente de sua meia-irmã Tamar e depois a rejeitou com crueldade,
embora pudesse tê-la pedido em casamento (13.1-19). Absalão o terceiro filho (3.2), sem dúvida
com segundas intenções, resolveu vingar a honra da irmã e remover um rival na sucessão do
trono. Irritou-se amargamente pelo fato de o pai não punir Amnom. Depois de dois anos matou
Amnom e fugiu para Gesur, estado arameu e terra natal de sua mãe (v.20-39). Joabe, um general
de Davi conseguiu que rei permitisse a volta de Absalão a Jerusalém. Por dois anos não teve
acesso a corte do pai (14.1-33).
A conspiração dissimulada tornou-se rebelião aberta quando Absalão proclamou-se rei
em hebrom (V7-17). Cresceu o apoio à rebelião de Absalão. Davi reuniu seu fiel grupo de
mercenários filisteus e fugiu de Jerusalém.
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Depois de consolidar suas forças na transjordânia, Davi, provavelmente acompanhado
de grupos de cidadãos fiéis, enviou três exércitos para combater Absalão. Eles esmagaram de
forma decisiva as tropas rebeldes. Absalão foi morto por Joabe, contra as ordens do pai dele. O
general sabia que seria impossível obter paz enquanto Absalão vivesse (17.1-24.21). O duplo
pecado de Davi, homicídio e adultério, marcam uma mudança importante na narrativa, passando
de benção a julgamento, de triunfo a tragédia, de narrativa centrada no ministério público de
Davi para outra centrada em sua personalidade íntima - vulnerável, sensível, piedosa e humilde
diante de Deus. Davi é apresentado como portador da possibilidade histórica de Israel e como
veículo dos propósitos de Deus em Israel.
19. A TRANSFERÊNCIA DO REINADO DE DAVI PARA SALOMÃO
(1Rs 1.1-2.46)
Adonias, o mais velho dos filhos sobreviventes (2Sm 3.4), reivindicara fortemente o
trono, alistando o apoio de Abiatar e Joabe, o sacerdote e o general de Davi. Chegou a Jerusalém
a notícia de que Adonias tinha na verdade realizado uma festa de coroação em Rogel. Em reação,
Natã, o profeta, e Bate-seba, mãe de Salomão, pressionaram para que nomeasse Salomão.
Cedendo ao pedido da esposa favorita, Davi selou a indicação de Salomão com um voto. O rei
então deu provas concretas passando a ele seu exército particular de mercenários filisteus.
Adonias, fez mais uma tentativa de destronar Salomão pedindo a consorte de Davi,
Abisague, por esposa após a morte do pai. Salomão percebendo as implicações políticas do
pedido do irmão, executou Adonias. O novo rei baniu abiatar para Ananote (cf. Jr 1.1) e matou
Joabe para cumprir a última vontade de Davi: a vingança pela morte de Absalão e Amasa. Por
fim Salomão reinou sem rivais em Judá e Israel (1Rs 2.1-46).O governo dinástico fora
estabelecido. Por quase quatro séculos, os reis de Jerusalém seriam filhos de Davi.
Como primeiro governante dinástico de Israel, Salomão assumiu o oficio sem poder
carismático óbvio. No relato que teve em Gibeão, porém, Deus lhe ofereceu a escolha de dons
(1Rs 3.5-14). Salomão consciente de suas amplas e pesadas responsabilidades, requisitou uma
mente sábia e perspicaz. Tirou plena vantagem de seus contatos internacionais, de sua riqueza e
da ausência de guerras para se dedicar a realizações literárias. O legado mais duradouro e
influente da era de Salomão foi o templo de Jerusalém. Apenas nesse período Israel teve uma
combinação de riqueza, governo centralizado e alívio de ataques inimigos necessária para
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completar um projeto dessa magnitude. Os recursos do reino de Salomão e os laços de amizade
com a fenícia (5.1) foram explorados ao máximo para promover uma casa de adoração. Artesãos
estrangeiros eram indispensáveis a vida pastoril dos israelitas não estimulava o artesanato;(2) a
proibição contra qualquer réplica da deidade (Êx 20.4) tendia a limitar a atividade artística.
A política externa de Salomão baseava-se em alianças de amizade, muitas vezes seladas
por casamento, e na manutenção de um exército colossal. Os empreendimentos comerciais de
Salomão trouxeram uma riqueza fabulosa. Infelizmente, essa riqueza não beneficiou todas as
classes em Israel. Nem aliviou a severa taxação necessária para sustentar os grandes projetos de
construção. as pessoas comuns, na realidade, talvez tivessem menos conforto no reinado de
Salomão que nos de Davi e Saul. A tendência à centralização da riqueza, que provocava a ira nos
grandes profetas do século VIII, começou no reinado de Salomão.
Salomão termina seus dias de forma desagradável a Deus. Abraçou as religiões de suas
esposas, desobedecendo ao ideal monoteísta de Israel. Afastou-se de suas responsabilidades reais
na condição de guardião da fé.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BUCKLAND, A.R. Dicionário Bíblico Universal. Editora Vida
CESAR, Éber M. Lenz. HGB- História e Geografia Bíblica. Editora Candeia.
DOUGLAS, J.D. (org) O Novo Dicionário da Bíblia. Editora Vida Nova.
GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. Editora Paulus.
HOFF, Paul. O Pentateuco. Editora Vida
HARRINGTON, Wilfrid J. Chaves para a Bíblia. Editora Paulus.
LASOR, William. Introdução ao Antigo Testamento. Editora Vida Nova.
KIDNER, Derek. Gênesis, Introdução e comentário. Editora Vida Nova.
WENHAN, Gordon I. Números, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova
WILKINSON, Bruce & BOA, Kenneth. Descobrindo a Bíblia. Editora Candeia.
BÍBLIA TEB – Tradução ecumênica da Bíblia. Editora Loyola
BÍBLIA E REFERÊNCIA THOMPSON. Editora Vida
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Prova n°01 – QUESTIONÁRIO
1. Se perguntássemos a qualquer cristão quantos livros têm no AT, ele responderia: trinta e nove (39) livros,
e daria até a divisão deles, Pentateuco, históricos, poéticos, profetas maiores e menores; de fato, as nossas
Bíblias nos fornecem esses dados, mas, não era assim que a Bíblia hebraica ou Tanak era dividida. Na
Bíblia Hebraica o Antigo testamento são arranjados em três divisões . Quais são eles? Assinale com (X) as
alternativas corretas.
a) ( ) A lei
b) ( ) Os escritos
c) ( ) Livros Poéticos
d) ( ) Os profetas
2. A Bíblia é um livro singular. Por um lado, ela é uma extraordinária peça de literatura humana; por outro
lado, atribui sua origem a Deus. Quais são os termos teológicos fundamentais que expressa essa
singularidade? Assinale com (X) a alternativa correta.
a) ( ) Profecia e inspiração
b) ( ) Profecia e conspiração
c) ( ) Revelação e conspiração
d) ( ) Revelação e inspiração
3. O pecado surgiu por um ato deliberado e voluntário do homem, onde o mesmo abusou do seu livre-arbítrio
se rebelando contra seu criador, como resultado veio a desordem e o mal entrou no mundo. Em Gênesis
narra todos este contexto sobre Adão, porém como é conhecido este pecado na bíblia ? Assinale com (X) a
alternativa correta.
a) ( ) rebelião
b) ( ) Glutonaria
c) ( ) Mentira
d) ( ) Inveja
4. O Pentateuco deve ser definido como um documento que dá a Israel sua compreensão, sua etiologia da
vida. Aqui, por meio de narrativa, poesia, profecia e lei, a vontade de Deus concernente a tarefa de Israel
no mundo é revelada. Quais são os livros do Pentateuco? Assinale com (X) a alternativa correta.
a) ( ) Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
b) ( ) Gênesis, Êxodo, Levítico, Juízes e Deuteronômio
c) ( ) Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio e Josué
d) ( ) Gênesis, Êxodo, Levítico, Juízes e Josué
5. Num sentido, a narrativa de Samuel e Saul (caps. 1-15) pode ser interpretada como um prólogo ao relato
instigante da ascensão de Davi ao trono. Os livros de Samuel e Reis tratam de Davi e sua família, assim
como a sequência de histórias de Genesis e Êxodo trata de Abraão sua família. O relato da vida de Davi é
contado em três seções, quais são eles? Assinale com (X) a alternativa incorreta.
a) ( ) A ascendência de Davi ao trono.
b) ( ) A queda de Davi com Beteseba.
c) ( ) A transferência do reinado.
d) ( ) O reinado de Davi.
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