A Crítica Mundana de Edward Said

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A Crítica Mundana de Edward Said

Rodrigo GuimarãesDoutorando em Meios e Processos

Audiovisuais – Universidade de São Paulo

Edward Said• Palestino• Cresceu no Cairo• Estudou em Colégio Vitoriano

(legado colonial)• Estudou nos EUA, PhD em

Harvard, estudo sobre Joseph Conrad

• 1967 – Guerra Israelita-Árabe muda a vida dele

• Árabes são perseguidos• Discursos islamofóbicos, racistas

circulam• Torna-se um dos expoentes dos

estudos pós-coloniais com Orientalismo (1978).

• A Questão Palestina (1979); Covering Islam (1981); The World, The Text and The Critic (1983) etc.

Orientalismo

• O discurso de Orientalismo a um só tempo constrói e provoca a dominação dos designados como “orientais” no processo de conhece-los.

• “(…) ver o Orientalismo como uma simples racionalização do domínio colonial é ignorar o fato de que o colonialismo foi justificado com antecedência pelo Orientalismo (1978, p.39).

Mundanidade

Click icon to add clip art• Conceito (worldliness) surgiu tanto das análises culturais de Said quanto da experiência dele como Palestino e exilado.

• É uma resposta de Said ao pós-estruturalismo dos anos 70, que ele admirava mas que para ele era pouco politizado pelo mundo fora dos textos e da academia.

• Crítica da Especialização: impõe uma linguagem inacessível e cria dogmas culturais. Academia fala consigo mesma. O crítico mundano precisa ser “amador” no que faz.

Mundanidade

• Críticos de Said perguntaram como povos colonizados devem ser entendidos fora dos processos de representação.

• Para Said, no entanto, a realidade é uma característica da textualidade em si , da mundanidade do texto, e aquestão não é tanto a de uma representação dominante esconder a realidade, mas sim a luta entre representações diferentes e contestadoras entre si.

Mundanidade do Texto

• “( ... ) A essência do espírito crítico de Said é a recusa de ser trancado em uma escola, ideologia ou partido político e sua determinação de não isentar nada de críticas.”

• “Para Said, o problema com a crítica contemporânea é o seu extremo funcionalismo , que presta muita atenção às operações formais do texto, mas muito pouco à sua materialidade.”

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Mundanidade do Texto

• A materialidade do texto refere-se a várias coisas: as maneiras, por exemplo, em que o texto é um monumento, um objeto cultural procurado, disputado, possuído, rejeitado ou alcançado no tempo. Materialidade do texto também inclui o alcance de sua autoridade.

• Said constrói o conceito de Mundanidade em relação ao estruturalismo (onde o texto não precisa de um Autor, como em Barthes) e ao pós-estruturalismo (onde o texto não tem um significado central, como em Derrida). Ambos retiravam a relação direta do texto com o mundo, com as relações de poder.

Mundanidade do Texto

• "O texto é produzido pelo mundo, um concerto das forças materiais de poder neste mundo, e a contextualidade/localidade de que fala especificamente.”

• Conceito de Afiliação/Filiação de textos: “Recriar a rede de afiliação é, portanto, tornar visível, dar materialidade de volta, aos fios que prendem o texto à sociedade, autor e cultura." (Said, 1983, p.175).

Mundanidade do Crítico• O crítico mundano precisa ser “amador” no que faz. A

linguagem tecnocrata/especialista silencia sobre questões de opressão e resistência.

• O crítico, como um ser do mundo, não tem opção senão reproduzir esse mundo, nem que seja pela negação, ou mesmo que inconscientemente.

• O crítico está inserido na crítica que faz, tem responsabilidade pela leitura, mesmo que parcial.

• “A crítica é, portanto, não uma ciência, mas um ato de engajamento político e social que é por vezes paradoxal, por vezes contraditório, mas que jamais se solidifica em certeza dogmática.”

• A tarefa do crítico seria humanista: “falar da verdade ao poder”. Leitura “contrapontística”: rejeita a univocalidade.

• Para falar a “verdade”, o crítico precisa ser um “exilado”, sem se identificar totalmente com qualquer sociedade, um buscador entre culturas, sem um ser multicultural em (des)construção.

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O que é a Crítica, afinal, para Said?• “Na sua suspeita de conceitos totalizadores, em seu

descontentamento com objetos reificados, em sua impaciência com alianças, interesses especiais, feudos imperializados e hábitos ortodoxos da mente, a crítica é mais ela mesma e, se o paradoxo pode ser tolerada, menos ela mesma no momento em que começa a se transformar em dogma.” (Said, 1983, p.29).

• “Se a crítica não é redutível nem a uma doutrina ou uma posição política sobre uma questão particular, e se é para ser do mundo e auto-consciente simultaneamente, então sua identidade é a sua diferença em relação a outras atividades culturais e sistemas de pensamento ou métodos.” (Said, 1983, p.29).

• Há uma “co-incidência entre interrogação e imaginação”.

• Crítica como prática e não apenas teórica.

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O que é a Crítica, afinal, para Said?• A crítica não é feita “depois do evento” somente.• “Said rejeita explicitamente o papel secundário

geralmente atribuído a crítica contemporânea: se assumirmos vez que os textos compõem o que Foucault chama de fatos de arquivo, o arquivo sendo definido como a presença social discursiva do texto no mundo, então a crítica também é outro aspecto do presente.

• “Em outras palavras, ao invés de ser definido pelo passado em silêncio comandado por ela para falar com o presente , a crítica , não menos do que qualquer texto, é o presente no curso de sua articulação, suas lutas por definição.” (1983, p.51)

• A tarefa do crítico seria humanista: “falar da verdade ao poder”.

Críticas à “Mundanidade”

• “Dizer a verdade ao poder” presume uma outra posição de autoridade: do intelectual que tem legitimidade pra dizer.

• Uma crítica baseada em Foucault poderia perguntar: e quem vai “dizer sobre o poder para a verdade?”; “Quem pode determinar o que é resistir?”

• Uma crítica baseada em Derrida poderia afirmar que o crítico ser “auto-consciente” e “não-dogmático” é uma prática desconstrucionista ou é só mais do Mesmo: metafísica.

• É possível a “pluralidade de visão” multicultural num crítico individual? Não seria necessário para isso incluir outras vozes e mesmo assim possivelmente falhar?

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