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    Endereço para permuta:Rua Mal. José Inácio da Silva, 355Passo D’Areia - Porto Alegre - RS

    Tel: (51) 3361.6700www.faculdade.dombosco.net

    Porto Alegre, 2013

      REVISTA ATITUDE - Construindo Oportunidades  Periódico da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre  Ano VII - Nº 13 - Janeiro a Junho de 2013  Porto Alegre - Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre.

    ISSN 1809-5720

    A REVISTA ATITUDE - Construindo Oportunidades tem por nalidade a produção e a divulga-ção do conhecimento nas áreas das ciências aplicadas produzido particularmente pelo seu cor-po docente e colaboradores de outras instituições, com vistas a abrir espaço para o intercâmbiode ideias, fomentar a produção cientíca e ampliar a participação acadêmica na comunidade.O Conselho Editorial reserva-se o direito de não aceitar a publicação de matérias que nãoestejam de acordo com esses objetivos. Os autores são responsáveis pelas matérias assinadas.

    É permitida a cópia (transcrição) desde que devidamente mencionada a fonte.

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    Diretor/Director Prof. Dr. Pe. Marcos Sandrini - [email protected]

    Editor/Editor Prof. Dr. Silvio Javier Battello Calderon - [email protected]

    Comissão Editorial/Editorial Board Profa. Dra. Andréa Souza Castro - [email protected]

    Profa. Dra. Aurélia Adriana de Melo - [email protected]. Dr. Luís Fernando Fortes Garcia - [email protected]

    Prof. Dr. Silvio Javier Battello Calderon - [email protected]

    Coissão Cientíca/Scientic CommitteeProfa. Dra. Adriana Dreyzin de Klor (UNC/Córdoba, Argentina)Profa. Dra. Angela Beatrice Dewes Moura (FDB/Porto Alegre, RS)

    Prof. Dr. Bachir Hallouche (UNISC/Santa Cruz do Sul, RS)Prof. Dr. Carlos Garulo (IUS/Roma, Itália)

    Prof. Dr. Erneldo Schallenberger (UNIOESTE/Cascavel, PR)Prof. Dr. Fábio José Garcia dos Reis (UNISAL/Lorena, SP)

    Prof. Dr. Friedrich Wilherm Herms (UERJ/Rio de Janeiro, RJ)Prof. Dr. Geraldo Lopes Crossetti (FDB/Porto Alegre, RS)Profa. Dra. Letícia da Silva Garcia (FDB/Porto Alegre, RS)

    Pesq. Dr. Manoel de Araújo Sousa Jr. (INPE-CRS/Santa Maria, RS)Profa. Dra. Marisa Tsao (UNILASALLE/Canoas, RS)

    Prof. Dr. Nelson Luiz Sambaqui Gruber (UFRGS/Porto Alegre, RS)Prof. Dr. Neuri Antonio Zanchet (FDB/Porto Alegre, RS)

    Prof. Dr. Osmar Gustavo Wöhl Coelho (UNISINOS/São Leopoldo, RS)

    Prof. Dr. Stefano Florissi (UFRGS/Porto Alegre, RS)Pesq. Dra. Tania Maria Sausen (INPE-CRS/Santa Maria, RS)

    Avaliadores ad-hoc/Ad-hoc reviewersProf. Ms. Aécio Cordeiro Neves (FDB/Porto Alegre, RS)

    Prof. Dr. Bruno Nubens Barbosa Miragem (FDB/Porto Alegre, RS)Pesq. Ms. Camila Cossetin Ferreira (INPE-CRS/Santa Maria, RS)

    Prof. Dr. José Néri da Silveira (FDB/Porto Alegre, RS)Prof. Ms. José Nosvitz Pereira de Souza (FDB/Porto Alegre, RS)

    Profa. Ms. Luciane Teresa Salvi (FDB/Porto Alegre, RS)Prof. Dr. Luís Carlos Dalla Rosa (FDB/Porto Alegre, RS)

    Prof. Ms. Luiz Dal Molin (FDB/Porto Alegre, RS)Prof. Dr. Marcelo Schenk Duque (FDB/Porto Alegre, RS)Pof. Dr. Ricardo Alvarez (UM/Buenos Aires, Argentina)

    Pesq. Ms. Silvia Midori Saito (INPE-CRS/Santa Maria, RS)

    Profa. Ms. Viviani Lopes Bastos (UCS/Caxias do Sul, RS)

    Pblicação e Organização/Organization and PublicationRevista Atitde - Constrindo Oportnidades

    Rua Mal. José Inácio da Silva, 355 – Porto Alegre – RS – BrasilCEP: 90.520-280 – Tel.: (51) 3361 6700 – e-mail: [email protected]

    Prodção Gráca/Graphics Production Arte Brasil Publicidade

    R. P. Domingos Giovanini, 165 – Pq. Taquaral – Campinas – SPCEP 13087-310 – Tel: (19) 3242.7922 – Fax: (19) 3242.7077

    Revisão:Cristiane Billis – MTb 26.193

    Os artigos e manifestações assinados correspondem, exclusivamente, às opiniões dos respectivos autores.

    Revista Atitude - Construindo Oportunidades – Revista de Divulgação Cientíca da Faculdade

    Dom Bosco de Porto AlegreAno VII, Volume 6, número 13, jan-jun 2013 – ISSN 1809-5720

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    CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS .......................................................................9

    1. Os principais atores pertencentes ao entorno da inovação: cainos e barreiras  no Brasil .......................................................................................................11  Neuri A. Zanchet

    2. As anifestações no Brasil e o cenário político nacional ............................................19   Andrey Henrique Andreolla e Caroline Ceni

    3. Os odelos de Estado e as características da jrisdição.............................................27  Fabiano K. Clementel

    4. Controle e interação entre pais e los na Internet: a necessidade o  uma possibilidade? ..........................................................................................37

      Daniel Gonçalves Jacobsen, Adriana Paula Zamin Scherer 5. Os jovens pede passage... .............................................................................43  P. Marcos Sandrini

    6. A fndaentação racional da ética .......................................................................53  Tarcísio Ambos Danelon

    7. Idoneidade:reqisito indispensável da prossão jrídica............................................65  Giovanni Sant’Anna Brum

    8. O princípio do “nemo tenetur se detegere”, sa evolção e o contexto atal .................71   João Rodrigo da Luz

    9. Sbstitição Tribtária: estdo de caso na epresa Ciber  Equipamentos Rodoviários .................................................................................77  Caroline Hoch Gonçalves, Paulo Sérgio Pedro, Neusa Piacentini e Marília Sant’Anna

    10. Noções introdutórias para o estudo e a interpretação do Direito Civil ...........................91  Silvio Javier Battello Calderon e José Nosvitz Pereira de Souza

    DOuTRINA INTERNACIONAL ........................................................................111

    11. Las sociedades coerciales. una irada desde la norativa de Fente  convencional a nivel Regional. ......................................................................... 113  Candela Noelia Villegas

    12. Analisis crítico sobre la responsabilidad civil de los directores,  docentes proprietarios de los estableciientos edcativos .................................... 123   Adrián Sergio Cetrángolo

    13. La constitción recaza el dereco registral “extreista” -  Crítica al feticiso registral ........................................................................... 139  Gunther Hernán Gonzales Barrón

    RESENhAS E NOTCIAS ...............................................................................175

    14. Los derecos del considor. Visión Internacional. una irada interna ....................... 177  Carla Gisel Dominguez

    15. A Lei de Acesso à Inforação e o se aior gano ................................................. 179

      Marcelo Schenk Duque

    Sumário

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    Apresentação

    A Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre já completou 10 anos de exitência. Foi em novembrode 2002 que recebemos nosso recredenciamento. Um processo longo, prazeroso e empenhativo foifeito para que isto se tornasse uma realidade. Nosso grande objetivo era e é ajudar as novas geraçõesa se posicionarem diante da vida como prossionais e cidadãos. Queremos ser éis à missão que nos foideixada por Dom Bosco (1815-1888) de educar pessoas para serem “bons cristãos e honestos cidadãos”.

    Começamos com três cursos: Administração, Ciências Contábeis e Sistemas de Informação.Logo a seguir se juntou a esses o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária. Um pouquinho mais prafrente veio o curso de Direito. Todos estes cinco cursos já estão reconhecidos e já realizamos trezeformaturas. O que era projeto se tornou realidade. Sonhar é bom e melhor ainda é ver que o sonhocontinua nas realizações.

    A Revista Atitude já está em seu número 13. São sete anos de publicação ininterrupta. Somoscapazes, sim, de construir uma revista indexada no Qualis. Professores, alunos, convidados estão pre-sentes em suas páginas com o grande objetivo de defender, promover e alavancar a vida, cada vida,em todas as suas dimensões. Este é o sentido de nossa presença no mundo da educação superior.

    Nossa Faculdade conta hoje com um excelente grupo de mais de 70 (setenta) professoresmestres e doutores, cerca de 20 (vinte) prossionais técnico-administrativos, e aproximadamente de900 (novecentos) alunos que dão vida à instituição. Portanto, um milhar de pessoas promovendo-se epromovendo.

    Fazemos parte de uma rede de Instituições de Educação Superior chamada IUS, ou seja,Instituições Universitárias Salesianas presente em quatro continentes com mais de 70 (setenta) insti -tuições. Todas com o mesmo objetivo, a mesma utopia, as mesmas metodologias, o mesmo desejo de

    encarnação no seu entorno. Como Dom Bosco, presentes na vida de milhares de jovens para apontarlhes caminhos para que construam oportunidades. Anal, somos uma Faculdade de Atitude construindooportunidades com os jovens universitários.

    Agradecemos a todos os que escreveram seus artigos, relataram suas experiências, zeramresenha de livros... A todos nosso respeito e nosso incentivo.

    REVISTA ATITuDE - Constrindo Oportnidades! 

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       C   i   ê  n  c   i  a  s

       S  o  c   i  a   i  s  e   A

      p   l   i  c  a   d  a  s

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    Os principais atores pertencentesao entorno da inovação:

    cainos e barreiras no BrasilNeuri A. Zanchet1

    RESumOO objetivo deste artigo, um ensaio teórico, é identicar e reexionar as principaispolíticas e barreiras à inovação no âmbito da estrutura produtiva brasileira. Alémdisso, busca discutir alguns avanços que ainda são necessários para consolidar eampliar a articulação entre os três principais atores pertencentes ao entorno da ino-vação (empresa, universidade e governo). As conclusões apontam que existe um am-biente de inovação no Brasil, mas as conexões entre seus atores são tênues, havendo

    ainda muitas barreiras que podem dicultar o crescimento e a própria sobrevivênciado sistema.

    PALAVRAS-ChAVES

    Empresa. Universidade. Governo. Políticas Públicas. Interação.

    ABSTRACT

    This study, a theoretical work, aimed to identify and reect on the main policies andbarriers to innovation within the Brazilian productive structure. In addition, it alsointends to discuss some advances that are necessary to consolidate and increase theconnection among the main social actors belonging to the surrounding innovation en-vironment (enterprises, universities and government). The conclusions point to theexistence of an innovation environment in Brazil, but the connections among theirsocial actors are weak. There are barriers that can difcult the growth and survivalof the innovation system.

    Keords

    Industry. University. Government. Public Policies. Interaction.

    1. Introdução

    Para muitos, invenção e inovação são sinônimos, mas na realidade são conceitos distintos. Se-gundo Rocha Neto (1996, p.27) invenção “refere-se a algo produzido pelo homem independentementede sua apropriação econômica ou utilidade prática”. É uma ideia elaborada ou uma concepção mentalde algo que se apresenta na forma de plano, fórmulas, modelos, protótipos, descrições e outros meiosde registrar ideias. A aplicação desta concepção mental na prática das empresas – obtendo-se resul-tados (melhorias, ganhos ou lucros) – é que transforma a invenção em uma inovação (Vasconcellos,2004).

    O conceito de inovação é conhecido desde Adam Smith no século XVIII, que estudava a re-lação entre acumulação de capital e a tecnologia de manufatura, além de conceitos relacionados àmudança tecnológica, divisão do trabalho e competição. Contudo, somente a partir do trabalho de Jo-seph Schumpeter estabeleceu-se uma relação entre inovação e desenvolvimento econômico (Teoria doDesenvolvimento Econômico, 1934). Joseph Schumpeter foi o primeiro autor a identicar a inovação

    (1)Bacharel em Administração. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz doSul – Unisc. Consultor de Empresas e professor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. [email protected] 

    Ciências Sociais e Aplicadas

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    como a principal força motriz do desenvolvimento, dotada de dinâmica própria que atua diretamentesobre as estruturas fundamentais da ordem econômica.

    Neste contexto, o objetivo deste artigo, um ensaio teórico, é identicar e reexionar asprincipais políticas e barreiras à inovação no âmbito da estrutura produtiva brasileira e discutir algunsavanços que ainda são necessários para consolidar e ampliar a articulação entre os três principais ato-res pertencentes ao entorno da inovação (empresa, universidade e governo).

    2. A interação entre epresa, niversidade e governo coo eleento fndaental paraa geração de inovação

    A relevância do conhecimento como base da inovação impõe a exploração e interação dasmais diferentes fontes para sua obtenção. Com todos os recursos disponíveis atualmente aliados àrapidez com que as mudanças vêm ocorrendo, há uma exigência crescente de combinação de fontesde informação e conhecimento.

    O modelo da Hélice Tríplice (Triple Helix), desenvolvido por Henry Etzkowitz e Loet Leydes -dorff, situa a dinâmica da inovação num contexto evolucionista, onde relações novas e complexasse estabelecem entre as três esferas institucionais: universidade, empresa e governo. Estas relaçõesderivam de transformações internas em cada hélice, das inuências de cada hélice sobre as demais, da

    criação de novas redes surgidas da interação entre as três hélices; e do efeito recursivo dessas redestanto nas espirais de onde elas emergem como na sociedade como um todo (MELLO, 2004).Assim a cooperação entre universidade, empresa e governo aparece neste início de século

    como um instrumento para alavancar o desenvolvimento tecnológico e a difusão de inovações, so -bretudo para as pequenas e médias empresas. A capacidade de inovação depende da realização dapesquisa cientíca e requer recursos humanos aptos a gerar e transmitir novos conhecimentos. Cabeàs empresas utilizar este conhecimento gerado nas universidades para o desenvolvimento de produtose ao governo cabe o papel de abrir caminho à inovação com incentivos scais e nanciamentos depesquisas.

    O Estado inovador, de acordo com Etzkowitz (2008, pg. 73), procura estimular a inovação e acompetitividade mediante novas formas de relações cooperativas, com base nas seguintes premissas:

    • fornece garantias ao capital privado que assim assume maiores riscos em investimentos;

    • concede incentivos scais e benefícios para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para promo-ver a inovação;• formula regras claras para reger a atividade econômica, os mercados e a moeda nacional;• cria agências de inovação e entidades híbridas público-privadas;• garante um sistema de propriedade intelectual e de proteção a patentes, estendido a uni -versidades que fazem pesquisa nanciada pelo governo e, assim, assumem uma terceira mis-são, além de ensino e pesquisa: a de criação interna de rmas (spinoffs), as quais representa-rão contribuição direta ao desenvolvimento econômico e social de sua região; e• nancia a pesquisa básica com capital de risco público.

    Trata-se, assim, de modelo que procura explorar ao máximo a capacidade inovadora da socie-dade e de todos os seus atores, de modo que possam alcançar o objetivo comum de desenvolvimento

    econômico e social baseado no conhecimento.No entanto, estudos apontam a existência de uma série de barreiras organizacionais, pessoais,prossionais e culturais, ocasionadas basicamente pelas diferenças de características e objetivosalmejados (MARIZ, 2009; CRUZ &  SEGATTO, 2009; SANTANA &  PORTO, 2009; SILVA, 2007; STAL & FUJINO, 2005; SEGATTO-MENDES & ROCHA, 2005; STAUB, 2001). Entre as barreiras na interação comas universidades, empresários têm destacado questões relativas ao comprometimento, à segurança eao sigilo das informações; a falta de mecanismos de intermediação e de acesso às informações sobre aprodução cientíca; aspectos burocráticos e legais; o despreparo das equipes para gerir projetos e asdiculdades em transferir resultados embrionários para o mercado (CRUZ & SEGATTO, 2009; SANTANA& PORTO, 2009; STAL & FUJINO, 2005; SEGATTO-MENDES & ROCHA, 2005), dentre outras. Integrantesdas universidades apontaram como barreiras nas interações com as empresas, a falta de postura pró-ativa e inovadora (SILVA, 2007; MARIZ, 2009), bem como a rigidez das regulamentações de órgãospúblicos e a estrutura organizacional e departamental (SANTANA & PORTO, 2009).

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    Já o governo destina um volume de recursos relativamente pequeno para a P&D. No Brasil,dispêndios em P&D em relação ao PIB permanecem abaixo da média da Organização para a Cooperaçãoe Desenvolvimento Econômico (OCDE), totalizando aproximadamente 1% nos últimos dez anos (1,19%em 2009), sendo realizados principalmente pelo setor público (responsável por 51,6% dos gastos, 0,61%do PIB, em 2009). Porém, em valores atualizados, o dispêndio total em P&D no Brasil cresceu de R$12bilhões em 2000 para R$ 37,8 bilhões em 2009, apresentando um aumento de 68% (IBGE, 2010; MCT,

    2011). Outros fatores limitantes são: o excesso de burocracia na utilização de recursos nanceiros, ainstabilidade de recursos nanceiros nas áreas de ciência e tecnologia; poucos ou tímidos incentivosscais; inadequada estrutura de nanciamentos e incentivos às atividades de P&D (MENDES, 2009;STAUB, 2001).

    3. As principais políticas de inovação no Brasil

    O Brasil é um país de tradição na adoção de medidas de apoio ao desenvolvimento Cientícoe Tecnológico (C&T). Desde a época do Império, logo após a chegada da Família Real ao país, foramcriadas instituições públicas de pesquisa nas áreas de botânica, agronomia, medicina e engenharia(MENDONÇA, 2008).

    Segundo Valle, Bonacelli e Sales Filho (2002), o início da política de C&T no Brasil deu-se em1951, no bojo dos governos militares que consideravam estratégica a área de C&T, com a criação doConselho Nacional de Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES). Para os autores, na década de 60, outros avançosforam realizados com a criação da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do Fundo Nacionalde Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico (FNDCT), que teve uma atuação intensa até os ns dadécada de 1970. Mas a crise econômica que assolou o mercado na época fez minguar os investimentosestrangeiros no Brasil e provocou a desaceleração das ações realizadas através do FNDCT, nanciadasem grande parte por esses recursos.

    Para Koeller (2007), até os anos 1990, muito pouco se avançou no estabelecimento de umapolítica de C&T no Brasil. Koeller (2007) atribuiu o pequeno avanço nas políticas de C&T o fato deque, entre 1980 e 1994, o Brasil viveu um período de altas taxas de inação, o que monopolizou aatenção dos governantes. Como resultado, nesse período, de acordo com Viotti (2008), a exemplo doque ocorrera no período anterior, obteve-se somente a formação de recursos humanos de alto nível

    para um efeito prático em termos de desenvolvimento tecnológico e a geração de inovações num nívelaquém do desejado.

    A partir dos anos 1990, a política de C&T passou a apresentar algumas novidades: preocupaçãocom a qualidade e a expansão da educação; reforma do sistema de propriedade intelectual; início econsolidação do processo de difusão de práticas de gestão de qualidade; promoção do empreendedo-rismo e das incubadoras de empresas e parques tecnológicos e introdução da inovação como objetivoda política. Parecia desenhar-se um novo ambiente institucional de C&T no Brasil, o qual enfrentouperíodos de instabilidade econômica que cumularam em um empréstimo do Fundo Monetário Interna-cional (FMI) e na adoção de uma política restritiva de metas scais e de inação, situação que come-çou a ser revertida somente no ano de 1998 quando se alcançou a redução e controle das variações nospreços. Esses fatores, para Koeller (2007), inuenciaram o desempenho das políticas de C&T à medidaque o país era obrigado a conviver com uma constante contenção de gastos públicos.

    Apesar disso, segundo Almeida et al. (2008), medidas isoladas foram sendo tomadas pelo go-verno federal. Em 1993, foi promulgada a Lei 8.661, que instituiu os primeiros incentivos aos empre-sários para a adoção de inovações. Em 1999 foram criados os primeiros fundos setoriais, incorporadosao Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientíco e Tecnológico (FNDCT), com exceção do Fundo parao Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (FUNTTEL). Ao todo são 16 fundos, dos quais 14são destinados a projetos especícos, um destinado à interação universidade-empresa (fundo verde--amarelo) e outro à melhoria da estrutura.

    Os fundos setoriais, de acordo com Valle, Bonacelli e Sales Filho (2002) foram uma tentativade minimizar ou suprimir alguns gargalos como a instabilidade de recursos, o baixo comprometimentodo setor privado, a concentração regional de recursos, a ausência de priorização e de diferenciação deáreas estratégicas e a limitada cooperação interinstitucional.

    Em 2002, houve uma ampliação dos incentivos scais do Imposto de Renda realizada pela lei10.637. Essa lei prevê que as pessoas jurídicas poderão deduzir do lucro líquido, na determinação do

    lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido, as despesas operacionaisrelativas aos dispêndios realizados com pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnoló-

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    gica de produtos. Vale ressaltar que o conceito de inovação engloba a criação de um novo produto ouprocesso, bem como a agregação de melhorias a produtos ou processos existentes.

    Também em 2002, foi lançado o Livro Branco da Ciência, Tecnologia e Inovação pelo Ministériode Ciência e Tecnologia (MCT). A publicação, que tinha um horizonte de tempo até 2012, reconheceua falência do modelo de importação de tecnologia e defendeu, além da promoção da competitividade,a elevação de renda da população e a preservação do patrimônio natural. Outras fraquezas apontadas

    pelo MCT foram: a pequena base cientíca do Brasil e a limitada capacidade do país em converter osavanços no conhecimento em inovações com impactos econômicos e sociais. Segundo Viotti (2008),a partir dos anos 2000, houve não só uma retomada das políticas industriais, como também a sua ar -ticulação com a política tecnológica. Nesse sentido, alguns instrumentos legais foram criados comotentativa de melhorar o ambiente institucional e estimular as inovações no âmbito das empresas.

    A promulgação da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), ocorridano nal de 2003, foi o primeiro passo dado pelo governo no processo de retomada do crescimento edesenvolvimento do País. As diretrizes deniram como objetivo da PITCE: “o aumento da eciênciada estrutura produtiva, aumento da capacidade de inovação das empresas brasileiras e expansão dasexportações” (GOVERNO FEDERAL, 2003, p. 2).

    No ano seguinte, a criação de dois órgãos do governo reforça sua atuação na tentativa dodesenvolvimento industrial e da inovação no país. O primeiro órgão, instituído em 2004, é a AgênciaBrasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior (MDIC) com a missão de promover o desenvolvimento industrial e tecnológicobrasileiro, por meio do aumento da competitividade e da inovação. Em geral seu objetivo é articulare promover a execução da Política Industrial em interação com os diversos órgãos públicos e com ainiciativa privada. Atua como secretaria executiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industriale do Comitê Nacional de Biotecnologia. Além disso, desenvolve cinco macroprogramas que mobilizam ereúnem entidades de fomento, representativas, acadêmicas, privadas e governamentais, contribuindopara a denição de estratégias que elevem o patamar de competitividade da indústria por meio dainovação, com foco na disseminação transversal de novas tecnologias e na inserção internacional dasempresas brasileiras. A ABDI possui seis eixos de atuação: articulação público-privada, programas es-tratégicos setoriais, inteligência competitiva, opções estratégicas e portadoras de futuro, mobilizaçãoe capacitação para inovação e desenvolvimento industrial, além de inserção externa (ABDI, 2008).

    O segundo órgão é o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) que atua na promoção e

    realização de estudos e pesquisas prospectivas na área de C&T e suas relações com setores produtivos;na avaliação de estratégias e de impactos econômicos e sociais das políticas, programas e projetoscientícos e tecnológicos; na difusão de informações, experiências e projetos à sociedade; na promo-ção de interlocução, articulação e interação dos setores de C&T e produtivo; no desenvolvimento deatividades de suporte técnico e logístico a instituições públicas e privadas e na prestação de serviçosrelacionado à sua área de atuação (CGEE, 2008).

    Ainda, em 2004, foi promulgada a Lei de Inovação (nº 10.973/2004) que mantém e amplia oapoio às parcerias U-E, à participação das universidades e centros de pesquisa no processo inovativoe à transferência de conhecimento da universidade para as empresas, principalmente através da obri-gatoriedade de criação dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas universidades e da liberaçãopara compartilhamento de laboratórios e equipamentos entre instituições de ciência e tecnologia eempresas. Além disso, a Lei abre espaço para a pesquisa tecnológica e a geração da inovação no setorprivado, permitindo, pela primeira vez no País, que recursos públicos não reembolsáveis possam serdestinados às empresas para compartilhamento dos custos e riscos das atividades inovativas. A pro-mulgação desta Lei possibilita, assim, a criação do programa de subvenção econômica, no âmbito doFNDCT, para produtos ou processos inovadores no setor privado (BRASIL, 2004).

    Em 2005, reforçando os avanços da Lei de Inovação, foi promulgada a Lei nº 11.196/05 con -vertida da MP 255/05 e alterada, em 2007, pela Lei nº 11.487, que cou conhecida como Lei do Bem.Essa Lei autoriza a utilização automática de benefícios scais para as empresas que invistam em P&De estejam dentro das exigências, sem necessidade de pedido formal. Esta facilidade agiliza e ampliao estímulo aos investimentos em atividades inovativas. O principal objetivo da Lei de Inovação é deli-near um cenário favorável ao desenvolvimento cientíco e tecnológico, além do incentivo à inovação.Suas bases se concentram em três pontos principais.

    • Constituição de ambiente propício às parcerias estratégicas entre as universidades, institu-tos tecnológicos e empresas. Estabelece diversos mecanismos de apoio e estímulo à constituição de

    parcerias estratégicas e ao desenvolvimento de projetos cooperativos entre universidades, institutostecnológicos e empresas nacionais.

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    • Estímulo à participação de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) no processo de ino-vação. Possibilita que as ICTs celebrem contratos de transferência de tecnologia e de licenciamentode patentes de sua propriedade, prestem serviços de consultoria especializada em atividades desen -volvidas no âmbito do setor produtivo, assim como estimula a participação de seus funcionários emprojetos em que a inovação seja o principal foco.

    • Incentivo à inovação na empresa. Concessão, por parte da União, das ICTs e das agências de

    fomento, de recursos nanceiros, humanos, materiais ou de infraestrutura, para atender às empresasnacionais envolvidas em atividades de pesquisa e desenvolvimento. Mediante contratos ou convêniosespecícos, tais recursos serão ajustados entre as partes, considerando ainda as prioridades da políticaindustrial e tecnológica nacional.

    Ambas as leis citadas têm como dar sustentação e apoio, do ponto de vista legal, a uma maiorinteração das instituições de pesquisa com o setor produtivo, seja por maior disponibilidade de recur-sos, seja por meio de regulamentações que facilitem as interações desses agentes.

    Dando continuidade ao objetivo de mudança do patamar tecnológico brasileiro, em 2007, foilançado o Plano de Aceleração do Crescimento da Ciência, Tecnologia e Inovação (PAC de C,T&I) comações a serem executadas e objetivos a serem alcançados no período entre 2007 e 2010. O objetivodo Plano é articular cinco políticas e programas (Plano de Aceleração do Crescimento e Infraestrutu-ra, Política de Desenvolvimento da Agropecuária, Plano de Desenvolvimento da Saúde e o Plano deDesenvolvimento da Educação) que levem à consolidação da política econômica e ao crescimentoeconômico do País. O Plano possui quatro prioridades estratégicas gerais, subdivididas em 21 linhasde ação: a) Expansão e consolidação do Sistema Nacional de C,T&I, incluindo ações para consolidaçãoinstitucional, formação e capacitação de recursos humanos e infraestrutura e fomento da pesquisa deCiência e Tecnologia (C&T); b) Promoção da inovação tecnológica nas empresas, visando estabelecerinstrumentos de estímulo, nanciamento e suporte à inovação tecnológica diferenciados, de acordocom as necessidades especícas das grandes empresas, das médias e pequenas empresas e das start --ups de incubadoras de empresas e parques tecnológicos; c) Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,-D&I) em áreas estratégicas, estabelecendo 12 áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional quereceberão grande estímulo para pesquisa; d) C,T&I para o desenvolvimento social, visando estimular ainserção e difusão da C&T na sociedade com melhoria do ensino, popularização da C,T&I na sociedadee uso de tecnologias para o desenvolvimento social (MCT, 2007).

    Em 2008, foi lançada uma nova política industrial no Brasil, a política de desenvolvimento

    produtivo, com objetivo de dar sustentabilidade para o crescimento econômico, aumentar os inves-timentos produtivos e as taxas de crescimento econômico. Estabeleceram-se 25 setores prioritáriose três grandes programas de apoio a estes setores: a) Programas para fortalecer a competitividade:Bens de Capital Seriados, Bens de Capital sob Encomenda, Complexo Automotivo, Complexo de Ser-viços, Construção Civil, Couro, Calçados e Artefatos, Indústria Aeronáutica, Indústria Naval, Madeirae Móveis, Plásticos, Sistema Agroindustrial, Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos; b) Programasmobilizadores em áreas estratégicas: Nanotecnologia, Biotecnologia, Complexo da Defesa, ComplexoIndustrial da Saúde, Energia, Tecnologias de Informação e Comunicação; e c) Programas para conso-lidar e expandir a liderança: Celulose, Mineração, Siderurgia, Indústria Têxtil, Confecções e Carnes.

    De acordo com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), os principais desa-os da política de desenvolvimento produtivo são ampliar a capacidade de oferta no País, preservar arobustez do balanço de pagamentos, elevar a capacidade de inovação e fortalecer as Micro e PequenasEmpresas (MPEs). Quatro macrometas foram estabelecidas para serem alcançadas até 2010, aumentoda taxa de investimento, ampliação da participação das exportações brasileiras no comércio mundial,elevação do dispêndio em P&D e ampliação do número de MPEs exportadoras, além das metas por pro-gramas especícos. As ações da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) são subdivididas em trêsníveis de atuação: a) Ações sistêmicas: focadas em fatores geradores de externalidades positivas parao conjunto da estrutura produtiva; b) Destaques estratégicos: temas de política pública escolhidos de-liberadamente em razão de sua importância para o desenvolvimento produtivo do País no longo prazo,quais sejam, regionalização, MPEs, exportações, integração com América Latina e África e produçãosustentável; e c) Programas estruturantes para sistemas produtivos: orientados por objetivos estraté-gicos tendo por referência a diversidade da estrutura produtiva doméstica (ABDI, 2008).

    Posteriormente, em 2009, foi autorizada a concessão de subvenção econômica ao Banco Na-cional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em operações de nanciamento destinadasà aquisição e produção de bens de capital e à inovação tecnológica. Nesse mesmo ano, em meio às

    medidas anticíclicas decorrentes da crise econômica global, foi criado o Programa de Sustentação doInvestimento (PSI), para subvenção econômica da União na modalidade de equalização de juros. O PSI

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    sionadas basicamente pelas diferenças de características e objetivos almejados, que podem dicultaro crescimento e a própria sobrevivência do sistema. Entre essas, destacam-se as barreiras na interaçãocom as universidades. Empresários têm destacado questões relativas ao comprometimento; à seguran-ça e ao sigilo das informações; a falta de mecanismos de intermediação e de acesso às informações so-bre a produção cientíca; aspectos burocráticos e legais; o despreparo das equipes para gerir projetose as diculdades em transferir resultados embrionários para o mercado. Integrantes de universidades

    apontam como barreiras nas interações com as empresas a falta de postura pró-ativa e inovadora, bemcomo a rigidez das regulamentações de órgãos públicos e a estrutura organizacional e departamental;o excesso de burocracia na utilização de recursos nanceiros; a instabilidade de recursos nanceirosnas áreas de ciência e tecnologia; poucos ou tímidos incentivos scais; inadequada estrutura de nan-ciamentos e incentivos às atividades de P&D resultando em lacunas entre universidades, empresas egoverno.

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    As manifestações no Brasile o cenário político nacional

     Andrey Henrique Andreolla e Caroline Ceni1

    RESumO

    O presente trabalho foi realizado com o objetivo de apresentar os fatores de todas asmanifestações que têm ocorrido no mundo, e como isso iniciou a situação no Brasil.Compreender a Primavera Árabe, ou seja, as revoltas que ocorreram no Oriente Mé-dio e serviram de exemplo para as aclamações por justiça em solo nacional, bem comos resultados nesses países e no Brasil após a ida do povo às ruas, buscando melhoriasem setores carentes de atenção por seus governantes.Analisar o cenário político nacional, conhecer e compreender o motivo de isso iralém de vinte centavos de aumento no transporte público, apesar desse acréscimoter sido a gota que faltava para acrescentar às insatisfações brasileiras, fazendo comque as pessoas saíssem às ruas e pedissem menos impunidade e mais investimentonas necessidades dos cidadãos.Não menos importante e também passível de estudo, entender a situação do brasi-leiro em relação à Copa do Mundo de 2014, assim como quanto à Copa das Confe-derações que se realizou no mês de junho deste ano, e as estratégias que o governoadotou para tais eventos.

    PALAVRAS-ChAVES

    Manifestações. Primavera Árabe. Brasil. Cenário Político.

    ABSTRACT

    This study was conducted with the aim of showing the factors of all the demonstra-tions that have been happening in the world, and how the same situation has startedhere in Brazil.The objective is to understand the beginning of the Arab Spring, the revolts thathappened in the Middle East and served as an example for the demand of justice onhome soil, as well as the results that followed in those countries and in Brazil afterthe people have gone to the streets, asking for improvements in areas lacking atten-tion from their leaders.Analyzing the national political scenery, understanding why this is more than twentycents increasing in public transportation, although this increasing was the drop that

    was missing to add of Brazilian dissatisfaction, causing people to leave the streets,asking less impunity and more investment in the needs of citizens.No less important and also liable to study, understanding the situation of Brazil in re-lation to the World Cup 2014, as well as the Cup Confederations which were realizedin June this year, and the strategies that the government adopted for such events.

    KEywORDS

    Manifestations. Arab Spring. Brazil. Political Scenery

     

    (1) Acadêmicos de Direito da Universidade Regional Integrada – URI - Campus de Erechim. E-mails: [email protected] [email protected]

    Ciências Sociais e Aplicadas

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    Introdução

    O objetivo desse trabalho é analisar os fatores que promoveram as manifestações ocorridasno Brasil, como elas iniciaram e que resultados trarão. Quando surgiram as “Diretas Já” e o “ForaCollor”, as reivindicações eram endereçadas a grupos determinados. Porém, hoje nota-se uma espéciede manifestação inédita. As causas são diversicadas e as melhorias e mudanças que se buscam são

    abrangentes, em todos os setores do país, na educação, saúde, transporte e economia.É percebido nas ruas a revolta de pessoas que pagam uma carga muito elevada de impostos enão tem a reciprocidade desejada, devido ao governo não oferecer qualidade nos serviços essenciaisofertados. E a dimensão de tudo se agrava quando se verica o valor exorbitante, na casa dos bilhões,com as despesas em estádios e aeroportos para a Copa do Mundo, muitas vezes ultrapassando o limiteprevisto no projeto inicial. Outro fator de insatisfação generalizada é a impunidade que tem acome-tido o país. Os governantes esqueceram que ocupam um lugar de destaque, no qual tem a obrigaçãode representar o povo, e não buscar o melhor para si, ou seus partidos, por meio de favorecimentosilícitos.

    Busca-se entender, não apenas em uma visão local, como também internacional, os motivosque levaram os cidadãos brasileiros e dos países envolvidos na Primavera Árabe, a saírem às ruas parabuscar melhorias no seu governo, o respeito e dignidade às condições de vida.

    Dessa forma, é imprescindível a importância deste artigo para entender o atual cenário ver-de-amarelo. É como se o sentimento de conformismo que preenchesse a cabeça das pessoas fossesubstituído pelo sentimento de mudança. Percebe-se que é a hora de mostrar a cara nas ruas e lutarpor condições melhores para todos os brasileiros.

    1. Gatilo

    Começou no Oriente Médio. Em ato de desespero, um jovem tunisiano ateou fogo ao própriocorpo contra as condições de vida no país. Sua morte deu início a protestos, que logo culminaramna saída do então presidente Zine al-Abidine Ben Ali, que estava no poder desde 1987, para a ArábiaSaudita.

    As manifestações aumentaram. Os próximos a saírem às ruas foram os egípcios que, por meioda força da população, zeram renunciar o seu presidente, Hosni Mubarak, depois de trinta anos no

    poder. Líbia e Iêmen também derrubaram seus ditadores por meio da pressão popular. Na Líbia, Mu -amar Kada, no poder desde 1969, foi capturado pelo Conselho Nacional de Transição, e posteriormen-te, morto. Pouco tempo depois, uma multidão ocupou as ruas de Trípoli, capital líbia, para comemoraro que simbolizaria o m do governo mais longo, tanto na África, quanto no mundo Árabe; nascia aLíbia livre. Seguindo a mesma onda de resultados, a pressão popular no Iêmen encaminhou pedidos derenúncia do então presidente Ali Abdullah Saleh (ESTADÃO, 2011).

    O ato desesperado do jovem rapaz, formado, mas que precisava vender frutas para sustentara sua família, deu origem à chamada Primavera Árabe. A indignação do povo só cresceu, motivando asmanifestações em países como Marrocos, Irã e Jordânia (COSCELLI, CHACRA, RAATZ, 2011).

    A força popular mostrava sua cara, com uma mensagem simbolizando que poderia lutar porgovernos mais justos em seus países. Era a hora da mudança. O copo de água se encheu até a borda;a última gota fez tudo transbordar. No Brasil, não poderia ser diferente.

    2. Verás qe lo te não foge à lta

    A última gota do copo de água verde-amarelo se denominou de vinte centavos, e iniciou nametade de junho deste ano, deixando perplexas autoridades da União, Estados e municípios. De umsimples protesto contra o aumento da passagem de ônibus, foram incorporados temas até então poucodiscutidos, mas que reetem diretamente na vida das pessoas. O cenário econômico internacionalrevela que nossos problemas internos não são causados por fatores vindos de fora; o cenário internorevela aumento da inação, baixo crescimento da economia, perda do poder aquisitivo em face dereajustes automáticos de serviços públicos precários, que, tendo em vista o alto nível de impostospagos, chegam até o seu consumidor nal, o popular brasileiro, sem o tal padrão FIFA exigido hoje nosestádios que irão sediar um ou dois jogos da Copa do Mundo de 2014. Além disso, há uma percepção deque os condenados pelo mensalão, um dos maiores crimes de desvio de dinheiro dos últimos temposdo país, não irão car atrás das grades.

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    Havia um silêncio sepulcral por parte dos governantes, causando uma sensação de revolta nocidadão brasileiro. O povo não aguentava mais tamanha impunidade, ao mesmo tempo em que pre-cisava de uma resposta. O clamor da multidão nas ruas era o grito que precisava chegar até Brasíliapara que uma medida fosse tomada e a esperança em um país mais justo fosse restabelecida. Algumasvitórias foram conquistadas, como a não efetivação da Proposta de Emenda à Constituição 37, por

    exemplo; algumas outras ainda estão por votação. Mas se nota que há inúmeras formas de atuar juntoao desenvolvimento e melhoria do país. O mais importante até aqui não se manifestou em preço daspassagens reduzidas ou na queda da PEC 37, mas sim na certeza de que o povo tem força, e pode fazervaler seus direitos junto ao Congresso Nacional, mudando o rumo e o cenário político e, aos poucos,melhorando a vida na nossa pátria amada.

    3. Os otivos de indignação do povo brasileiro

    Imagine a seguinte cena: você, pai de família, ganhando pouco mais de um salário mínimopara o sustento da sua casa, destinando um terço deste para os impostos que, teoricamente, deveriase reverter em serviços gratuitos e de qualidade na saúde, educação, moradia e transporte públicopara sua prole. Agora, essa última parte lhe é negada, e o investimento do seu “um terço”, e de todosos outros brasileiros também, são gastos em estádios e aeroportos para alguns jogos de futebol. E,ainda por cima, para você ir trabalhar antes do sol raiar, você precisará desembolsar vinte centavos amais todo dia. Se a situação era de certa forma contornável, esses vinte centavos não fariam tanta di-ferença, certo? Porém, aumenta vinte centavos no transporte público, mais um tanto na gasolina parao seu carro na hora de abastecer e também mais um pouco na alimentação, enquanto os serviços que,teoricamente, deveriam melhorar sua qualidade pela maior carga de impostos, só pioram, trazendodemora e menos qualidade na sua efetivação. Multiplicando isso por quase todos os brasileiros quepassam por essa situação no seu cotidiano, entende-se o início das revoltas populares que tiveram seuápice entre junho e julho deste ano no país.

    As manifestações tomaram proporções nunca antes vistas na história recente da democraciado Brasil. Há tempos o povo não se levantava e clamava por justiça como nos últimos dias o fez. Impul-sionados por uma rede de atualizações vinte e quatro horas por dia, a internet foi o veículo necessáriopara levar informações a todo o momento aos manifestantes nos quatro cantos do Brasil, e estimular,

    através disso, que os movimentos crescessem a cada dia. Incentivados por seus compatriotas em di -versos estados e cidades, cada vez mais brasileiros saíam do conforto de suas casas para enfrentaras ruas e gritar por justiça em território nacional. Gritos de liberdade e apartidarismo zeram partedo cenário brasileiro em praticamente cada município tupiniquim. Com cartazes, gritos de guerra efaixas, relembrando os tempos dos “caras pintadas”, pessoas de todas as idades aderiram aos movi -mentos sociais que pediam honestidade e transparência no governo. Era hora de reivindicar direitos,e motivos não faltavam.

    Se tudo começou por causa da redução no valor do transporte urbano, pedido alcançado, nasruas os gritos continuavam. Temas para cartazes não faltavam; além da PEC 37, o povo clamava pormenos dinheiro público nos estádios “padrão FIFA” para a Copa do Mundo, e mais saúde, educação evalorização dos professores, por exemplo. O aumento das passagens foi o estopim, mas à medida queas ruas foram cando cheias, elas também se tornaram um caldeirão de reivindicações e protestos.

    O Brasil encontra-se na 85º posição do Índice de Desenvolvimento Humano no contexto mundial, nãoobtendo evolução neste quesito. Pelo ranking que mostra comparativos de distribuição de renda nomundo, o Brasil ocupa a 117ª posição. Isso tudo sem citar hospitais e escolas em condições precárias,com prossionais mal remunerados e infraestrutura em condições inferiores de aceitação. Todos essesíndices reetem diariamente na vida da maioria dos brasileiros.

    Além da cobrança pela melhoria dos serviços essenciais prestados à população, o povo reivin-dicava outra coisa: em primeiro lugar, a política hoje é o que mais incomoda o cidadão brasileiro. Acorrupção foi o tema mais citado como motivo dos manifestantes para protestar. E o alvo principal foiescolhido a dedo pelo povo: as vaias para a presidente Dilma e o presidente da FIFA, Joseph Blatter, sóaumentaram o clima tenso da abertura da Copa das Confederações.

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    4. A Copa das Manifestações

    “O futebol é bom para que as pessoas não pensem em coisas perigosas”.Vicente Calderón, nos anos 1960, então presidente do Atlético de Madri,em entrevista a uma emissora de TV.

    Em 30 de junho desse ano, fomos campeões dentro das quatro linhas, no Maracanã, em cimada toda poderosa Espanha, invicta há 19 meses e atual campeã mundial. Do lado de fora do estádio,o que se noticiavam eram as manifestações populares, chegando a reunir entre 4 a 5 mil pessoas nasproximidades do estádio em que se realizava o jogo, a m de protestar contra os números gastos paraa realização deste evento e dos próximos, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 (WASSER-MAN, QUERO, 2013).

    Para construir doze estádios para os jogos, serão gastos R$ 7,1 bilhões – R$ 1,2 bilhão a maisdo que havia sido planejado em 2010. Para os demais gastos, que incluem obras em aeroportos, demobilidade urbana, segurança, soma-se um total de R$ 28,1 bilhões. Desse total, aproximadamente85% são nanciados pelo poder público, quer por meio de investimentos diretos, quer por empréstimoscom juros reduzidos. Ou seja, enquanto milhares de brasileiros vibravam nos estádios, outros tantospressionavam as autoridades, cobrando um repasse de investimento tamanho em áreas necessitadashoje no Brasil, como educação, transporte, saúde e segurança (HELAL, HERDY, GRANDELLE, 2013).

    E apesar de todo esse clamor e desespero por parte dos brasileiros, Blatter armou que, “casoos protestos aconteçam de novo, teremos que nos perguntar se tomamos uma decisão errada de dar aoBrasil o direito de sediar a Copa”. Se pensarmos na estrutura precária que tem o nosso país, desde afalta de mobilidade urbana em grandes cidades até a falta de estrutura nos hospitais e escolas, é evi-dente que a decisão foi um erro. Analisando mais a fundo, o questionamento que ca é tentar enten-der porque um país se oferece para ser a sede da Copa do Mundo, um evento que envolve 32 países emilhares de turistas, se não consegue oferecer segurança e serviços básicos para a própria população.

    Os gastos e exigências exorbitantes trouxeram à tona uma espécie de ditadura consentidapela FIFA, imposta ao Brasil através de seus padrões de qualidade. Jérôme Valcke, secretário geralda entidade, fez-se valer de um comentário que causou revolta e indignação em críticos dos eventos,armando que “menos democracia, às vezes, é melhor para organizar uma Copa. Quando você temum chefe de estado forte, que pode decidir, como Vladimir Putin na Rússia, em 2018, é mais fácil para

    nós, organizadores”. A armação foi o gatilho para as palavras e protestos dos críticos do padrão FIFA,cobrando o mesmo zelo não apenas em estádios e aeroportos, mas também em serviços essenciais paraa população e que hoje carecem de máximos cuidados e reparos para seu bom funcionamento. Por trásde tudo isso, estão processos decisórios importantes que têm afetado a vida de milhões de brasileiros,mas que até agora contaram com a participação zero dos cidadãos. Não há transparência nem respeitoaos direitos estabelecidos pela Constituição Federal nesse processo.

    Enquanto dentro de campo, Neymar, Fred, Júlio César e companhia conseguiram reverter ofavoritismo espanhol e garantir o título ao Brasil, no dia a dia a luta do povo brasileiro continua. Oadversário, nessa batalha, são as las do atendimento público de saúde, as condições precárias noshospitais, a falta de infraestrutura e professores mal remunerados dentro da sala de aula e, princi-palmente, talvez o maior inimigo do povo brasileiro: o seu representante dentro do parlamento, queprecisa ser uma referência no que tange a fazer valer os direitos do seu representado. Nessa questão,a força das manifestações populares conseguiu resultados signicativos: a redução de preços de pas-sagens, que foi o estopim de tudo, e a tão desejada queda da Proposta de Emenda à Constituição 37.O povo se questionou quem se beneciaria com isso, gritou e teve seu pedido prontamente atendidopelos parlamentares.

    5. A conqista da não aprovação da PEC 37

    A tão famosa Proposta de Emenda à Constituição 37 pretendia retirar os poderes investigativosdo Ministério Público no momento em que o Estado Democrático de Direito brasileiro passa por umacomplicada e preocupante crise. Proposta pelo deputado Lourival Mendes, do PTdoB, a campanha afavor da PEC 37 foi considerada “muito estranha, pois aconteceu em um momento em que o Minis -tério Público é admirado em todo o mundo e, designadamente na Europa, por ser um exemplo deindependência e ecácia na luta contra a corrupção”, segundo Antônio Cluny, Procurador-Geral junto

    ao Tribunal de Contas de Portugal. Caso tivesse sido aprovada, o Ministério Público, instituição mais

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    independente em relação aos prefeitos, governadores, ministros e demais agentes políticos, cariaimpedido de investigar fraudes e abusos, dependendo da ação da polícia que está hierarquicamentesubordinada a estes poderes (MC DONALD, 2013).

    Por outro lado, há a corrente que defende a inutilidade da sua queda, feita por um Congressoacuado pela multidão, que desconhecia o seu verdadeiro teor. A m de atender ao clamor que vinhadas ruas, desconhecendo o tratamento constitucional e legal do tema, derrubou a referida e, então,

    desnecessária proposta. Como justicativa para tal adjetivo, é armado que, aprovada a PEC 37 ounão, em nada modicaria a clareza do artigo 144, § 4º, da Constituição Federal, ao estabelecer queapenas aos delegados caiba a apuração de investigação criminal. Tal artigo prevê que a polícia judi-ciária, e não o Ministério Público, é apenas constituída por delegados de carreira, únicos com com-petência constitucional para conduzir as investigações criminais. Na redação do mesmo, “às políciascivis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União,as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares” - em nenhummomento estabelece que as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais pertencem,simultaneamente, ao Poder Judiciário e ao MP. Declara apenas que são do Judiciário. Pelas palavras dopresidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Ivan Sartori, “a PEC 37 não pretendiaretirar nada do Ministério Público, pois não se retira de alguém algo que esse alguém não tem”. Sendoo delegado membro da polícia judiciária, este não é polícia no Ministério Público. Por essa razão, devepresidir o inquérito policial, devendo remeter suas conclusões ao magistrado, a que se subordina, enão ao titular do direito de acusar. Este, pela própria Constituição, pode requisitar investigações aosdelegados e acusar os delegados suspeitos de prevaricação, não mais que isso, visto que é parte nasinvestigações e não pode ser “parte” e “juiz” ao mesmo tempo (MARTINS, 2013).

    No m das contas, com as galerias lotadas de estudantes, promotores e procuradores, foidecretada, por meio de 430 votos, a queda da Proposta de Emenda à Constituição 37. O povo foi àsruas contra a corrupção, taxando todos os delegados de corruptos e todos os membros do MinistérioPúblico de vestais. A Constituição, dessa vez, não foi alterada. Várias opiniões surgiram a seu respeito.O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que “negar ao Ministério Público a possibilida-de de investigar seria incapacitar, não a instituição, mas a sociedade brasileira para o exercício plenodo direito à efetividade da tutela penal, notadamente contra a criminalidade de colarinho branco”.Com ponto de vista contrário, o advogado criminalista Leandro Vasques defendeu que, embora aOAB reconheça “a boa intenção e relevância do MP”, também compreende que o pacto federativo

    determina que seja exclusivamente da polícia a competência de investigar crimes. Segundo o próprioMP, em todo o mundo, apenas três países vedam a investigação de seus Ministérios Públicos: Quênia,Indonésia e Uganda. Sabe-se que, efetivamente, caso aprovada a proposta, sepultaria cerca de dozemil investigações do MP que foram abertas entre os anos de 2009 e 2013, e permanecem inconclusas.Isso ocorreria porque o seu texto previa que apenas as policias federal e civil poderiam realizar inves-tigações criminais.

    Entre os motivos daqueles que defenderam e daqueles que rejeitaram a ideia da Proposta deEmenda à Constituição 37, ca uma certeza: a força e o grito do povo nas ruas inuenciaram direta-mente na decisão do Congresso. Portanto, é de notório conhecimento que o cidadão brasileiro, unido,tem capacidade para mudar os rumos do cenário político no Brasil, seja através de manifestaçõespacícas, seja através de representantes no Congresso Nacional.

    6. Cenário político no BrasilO aumento do descrédito na política brasileira é evidente. Nas “rodas” de conversa, é quase

    unânime a armação de que não existem mais políticos honestos no Brasil. Comparações com outrospaíses, onde a corrupção é considerada crime hediondo, são as mais impetradas para comparar o ce-nário político daqui com os do exterior. E motivos realmente não faltam para o desânimo da populaçãocom os seus governantes. A sensação de impunidade contra os praticantes do mensalão é grande, poisestes, além de estarem envolvidos em um dos maiores crimes políticos da história do país, ainda assimvoltam aos seus assentos em Brasília, para tratar de interesses do cidadão brasileiro e discutir qual éo melhor rumo que o país deve tomar.

    O cenário político brasileiro passa por uma grave crise, talvez a maior da sua história, desdea implantação da Constituição Federal em 1988. O povo, depois de quase três décadas, volta às ruas,exigindo melhorias nos serviços essenciais prestados pelo governo e transparência no controle da má-

    quina pública por seus representantes.De fato, a vitória dos “caras pintadas” na década de 90 trouxe uma constituição forte e,

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    teoricamente, uma base para solucionar todas as divergências e controlar o país da forma mais justae honesta para todos os que nascem em território verde-amarelo. Entretanto, a prática mostra ou-tra situação. Nos dias atuais, a população nota que o sistema é manipulado para sustentar quem ocontrola, uma parcela mínima da população brasileira, mas escolhida por esta para estar em Brasíliarepresentando seus interesses. Uma reforma política proposta pela atual presidente do país é umaresposta aos gritos das ruas, porém, isso não altera todo o cenário nacional, muito menos traz aquilo

    que o povo tanto pediu nas ruas.Indubitavelmente, essa mudança não será realizada em pouco tempo. Várias são as questõesem aberto dentro da política nacional que precisam de conserto. Acuado pela pressão popular, o le-gislativo sucumbiu quanto aos seus pedidos e algumas ações já foram tomadas. O povo se fez ouvir,e o seu clamor foi agraciado com votações positivas pelo Congresso Nacional em relação ao cidadãobrasileiro. Tal qual uma legítima democracia deve ser.

    Todavia, essa mutação só se reetiu através de medidas drásticas, como foram as manifesta-ções pacícas envolvendo milhares de pessoas pelo Brasil afora. A verdadeira conquista da democraciasó se dará quando, mesmo com o povo em silêncio, este saiba que ações corretas e em prol do desen-volvimento social estejam sendo tomadas por quem as cabe. O sentido da democracia se completaráno momento em que o cidadão brasileiro tenha a certeza de que está representado por um deputadoou um senador verdadeiramente preocupado com o seu bem-estar social e o desenvolvimento do país.Essa é a verdadeira reforma política: só faz o trabalho quem realmente sabe e se preparou para tal.

    O povo brasileiro deu o seu recado e gostou da resposta. Mesmo em menor quantidade nasruas, há a perspectiva de mudança no cenário político. E o mais interessante do protesto acabou sendomudanças pleiteadas não só a nível nacional, mas principalmente local. Vários jovens, nunca antesligados em política, se inteiraram sobre o assunto e os movimentos que estavam ocorrendo no país ecomeçaram a se organizar e cobrar mudanças também em seus municípios, através de grupos de lide-rança e organizações. A política deixou de lado o adjetivo de “chata” e passou a se tornar interessanteaos olhos dos mais novos, pois através dela descobriram que poderiam defender seus direitos e buscaruma melhor condição de vida, cobrando do Estado aquilo que lhes é devido, e até mesmo um trabalhomais honesto e transparente por quem o faz.

    A transição na face do cenário político nacional está clara. Objetivos foram alcançados com aforça de quem realmente governa o país: os cidadãos brasileiros. Em meio a opiniões diversas, sabe-se que alguma coisa mudou. Não eram mais os partidos políticos exigindo direitos e deveres, mas sim

    as pessoas que saíam do conforto de suas casas para protestar por melhorias. Um avanço concreto foiestabelecido, pautas comuns foram encontradas, e a semente para a teoria da democracia no país sairdo papel e efetivamente se tornar prática foi plantada. A sonolência já não impera, os olhos de todosestão mais abertos para assuntos antes deixados de lado pela população.

    Considerações nais

    A reforma no poder político é urgente. Enquanto o parlamentar cassado volta à sua casa le-gislativa e o condenado pelo Supremo não está na cadeia, a população brasileira paga impostos cadavez mais elevados e não obtém qualidade dos serviços que deveriam ser ofertados pelo Estado. Issofaz crescer a indignação no país. As manifestações são apenas a ponta do iceberg, e podem servir detrampolim para novas ações, pensamentos e atitudes do povo brasileiro, tendo em vista o que a Cons-

    tituição Federal assegura como direito de cada cidadão e, assim, garantir mudanças ao cenário políticono qual se encontra o Brasil.Notados os resultados das ações de resposta dos parlamentares, uma boa solução para a

    situação do cenário político nacional seria reivindicar maior preparação como exigência para ospleiteadores de cargos eleitorais no país. Tendo em vista que vários prossionais de diversas áreasnecessitam de uma preparação, e até mesmo uma prova posterior para exercerem seus cargos, nadamais justo do que estabelecer o mesmo para quem está ali para fazer um dos trabalhos mais im -portantes no Brasil: garantir da forma mais adequada possível as necessidades essenciais da grandeparte da população brasileira – vide direitos e garantias fundamentais instituídos no artigo 5º daConstituição Federal de 1988.

    O que se nota hoje é uma realidade distorcida: uma carga de impostos altíssima não é des -tinada para as necessidades da população brasileira, ao mesmo tempo em que o povo é obrigado a“engolir” a impunidade de políticos corruptos. O Brasil quer mostrar com essas manifestações e vaias

    que não é apenas o país do samba e do futebol. Também tem anseios e força para ir às ruas e cobraro que lhe é devido pelo Estado.

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    Os odelos de Estadoe as características

    da jrisdiçãoFabiano K. Clementel1

    RESumO

    Este texto foi elaborado com o propósito de discutir os modelos de Estado, a partir damodernidade, e seus reexos na jurisdição. No início, optou-se por resgatar algumascaracterísticas do período medieval na tentativa de entender a crise paradigmáticaque aquele espaço de convivência sofreu ao alavancar para uma nova realidade, quegradualmente foi se afastando daquela forma de viver e compreender o mundo até

    chegar à concepção de Estado Moderno. A partir daí são tecidas considerações sobreas características dos modelos de Estado, bem como sobre as formas de manifesta-ção da jurisdição em cada um destes modelos. Ao nal, nossa tentativa é identicarqual o modelo de Estado brasileiro atual, bem como compreender como a jurisdiçãotem se manifestado hodiernamente.

    PALAVRAS-ChAVES 

    Período medieval. Período moderno. Modelos de Estado. Jurisdição. Realidadebrasileira.

    ABSTRACT

    This paper was written with the purpose of discussing the models of state, frommodernity and its consequences in the jurisdiction. At rst, we chose to rescue somefeatures of the medieval period in an attempt to understand the paradigmatic crisisthat living space has the leverage for a new reality, which gradually moved awayfrom that way of living and understand the world until the design the Modern State.From this account are woven on the characteristics of the model state, as well asthe manifestations of jurisdiction in each of these models. Finally, our attempt is toidentify which model of the Brazilian state current, as well as understand how thecourt has spoken of today.

    KEywORDS

    Medieval Period. Modern period. Models of State. Jurisdiction. Brazilian reality.

    Considerações iniciais

    O presente artigo tem o propósito de discutir a concepção moderna de Estado, enfrentando-aa partir de seus modelos, e procurando identicar quais são os seus reexos na Jurisdição. Para tanto,o texto seguirá uma forma estruturalmente simples.

    Inicia-se com uma breve regressão ao período pré-moderno, com o objetivo de anotar as prin-cipais características daquele modelo de vida, além de tentar explicar a dinâmica social que levou àcrise do modelo referido. Após, busca-se mostrar que o resultado da superação desta crise é a concepção

    Ciências Sociais e Aplicadas

    (1) Advogado. Doutorando em Direito. Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS. Especialista em Ciências Penais pela PUCRS. Graduado emDireito pela PUCRS. [email protected].

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    moderna de Estado, formada, especialmente, a partir da construção de três pilares daquele período econtexto, a saber: (a) o indivíduo, (b) o Direito Natural e (c) o contrato social. Essas bases foram pensa -das e criadas na perspectiva do modelo de racionalidade moderna, e, nesta ótica, possibilitaram que sereetisse sobre a concepção de Estado e sua estrutura.

    Importante referir que a percepção temporal adotada neste texto não se xa em datas cro-nológicas referentes à história da humanidade. Pensa-se que a dinâmica social é fruto de um processo

    histórico, e não de um recorte de realidade cabível “em uma caixinha de recordações.” Com isso, ascaracterísticas apontadas como modernas, muitas vezes poderão ser vericadas no contexto medieval,já que acolá é o seu nascedouro, na maioria das vezes.

    Em seguida, o texto tem a proposta de demonstrar, de maneira interdisciplinar, vários aspec-tos da vida humana que podem ser percebidos na ciência, na cultura e nas artes, os quais, de algumaforma, impulsionaram a humanidade, pari passu, à mutação dos modelos de Estado – Estamental, Ab-solutista e Liberal, respectivamente –, e percorrendo o surgimento do Estado de Direito, reetido nosmodelos políticos de Estado Liberal, Social e Democrático, respectivamente.

    Frisa-se que estes modelos de Estado foram sendo criados em conformidade com a necessi -dade de cada contexto histórico-temporal, e suas estruturas e instituições, em especial a Jurisdição,caracterizaram-se de forma muito peculiar em cada uma destas fases.

    Ao nal, o artigo propõe uma reexão acerca do momento atual da Jurisdição, em especial nonosso país, procurando entendê-la de acordo com o modelo de Estado contemporaneamente vigente.Por derradeiro, não se deve esquecer que o presente trabalho é introdutório e tem tão somente oobjetivo de (re)visitar criticamente alguns conceitos já consolidados.

    1. Antecedentes do Estado moderno e o se ascender

     Antes de se falar dos modelos de Estado presentes na modernidade, é importante regressaralguns séculos, ainda no período medieval, de modo que se possa tornar possível a compreensãodos fenômenos da época pré-moderna, os quais são verdadeiramente responsáveis pela mudança deposturas e atitudes dos indivíduos na modernidade, já que no medievo as pessoas escolheram aquelemomento nal de crise como o instante perfeito para realizar uma ruptura, ou melhor, uma transiçãoparadigmática da forma de ver e encarar o mundo. Vale lembrar que o medievo é um cenário restrito aapenas parte do mundo (Europa Ocidental), a qual teve seu modo de vida conduzido sob a perspectivado cristianismo.

     As características básicas da Idade Média são: 

    “(...) teocentrismo e unidade da fé, fragmentada cá e lá, por heresias; losoa e teologia escolástica;domínio do Ponticado e do Império; feudalismo; corporações; cruzadas; Ordens mendicantes; Inquisi -ção; preservação da cultura clássica romana e recuperação da cultura e losoa gregas.”1 

    Para Lênio Streck e Bolzan de Morais2, em contrapartida, as características do medievo reve-lam aspectos que, paulatinamente, levaram à substituição do modelo. São eles:

     A – permanente instabilidade política, econômica e social; B – distinção e choque entre poder espirituale poder temporal; C – fragmentação do poder, mediante a innita multiplicação de centros internosde poder político, distribuídos aos nobres, bispos, universidades, reinos, corporações, etc.; D – sistema

     jurídico consuetudinário embasado em regalias nobiliárquicas; E – relações de dependência pessoal,hierarquia de privilégios.

    Para compreender a Idade Média, segundo Dumont, é necessário que se faça, antes, uma es-colha antropológico-metodológica pela espécie de sociologia a ser utilizada. Opta-se neste texto pelaconcepção do homem como um ser social, ainda que dotada de suas individualidades, e da sociedadecomo algo natural.

    1

    ULLMANN, Reinholdo Aloísio. A universidade medieval. Coleção Filosoa 111. 2ª ed., ver. e aum. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 31.2 STRECK, Lenio Luiz, e MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência Política e Teoria Geral do Estado. 3ª Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,2003, p. 21.

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    É que se o homem está sempre inserido no fato social total3, é por meio dos fatos de sua cons-ciência (ideias e valores) determina toda sua paisagem mental, alguns elementos como a economia, apolítica, o indivíduo e a moralidade podem ser analisados.

    Sob a ótica ideológica de Dumont, pode-se dizer que o medievo era marcado pelo espiritua -lismo, ou seja, o indivíduo, categoria criada nesta época, é um indivíduo-fora-do-mundo, porque viviaem-relação-com-Deus. A vida no mundo social (mundanidade) era condicionada pela vida espiritual

    (extramundanidade). Assim, as pessoas desta época viviam em comunidade por meio do holismo (opo-sição ao individualismo)4.A Igreja dos primeiros séculos predominava sobre a maneira de organização social, já que a

    relação entre Estado e Igreja sempre foi dimensionada como algo que decorresse da vontade de Deus,gurando a pessoa apenas como coadjuvante, sem qualquer ingerência sobre si; vivia para Deus. Nestecontexto, a Igreja Católica reivindicou para si a autoridade e levou água ao moinho do holismo, legiti-mando a ordem estamental feudal e falando em nome da comunidade dos éis, sempre amparada nasdoutrinas patrísticas e escolásticas.5 

    Com o progresso do individualismo, a partir do século XIII, e a emancipação política da Igreja,com o consequente renascimento do Estado, a paisagem social começa a mudar. Como lembra CelsoRodrigues, as novas sociabilidades emergentes no interior da ordem feudal demarcaram a aceleraçãodo processo de formação do indivíduo moderno.6 

    Dumont demonstra que a crise medieval começa a surgir com o enfraquecimento da Igreja ea instabilidade do poder papal frente às questões mundanas e até extramundanas. Se antes Estado eIgreja estavam unidos, pois a relação entre eles era algo que decorria da vontade de Deus, ainda quecada um tivesse a sua atribuição7, agora a Igreja enfraqueceu frente às mutações sociais – insuportabi-lidade das relações feudais de suserania e vassalagem, capitalismo incipiente com os primeiros burgos,questionamento dos dogmas religiosos (Poder) pela autoridade real, intensicação dos contatos como Oriente, dentre outros.

    Em resumo, os aspectos que revelam a crise nas estrtras do ndo edieval (cristianismoe regime feudal) mais importantes de serem referidos são: (a) o surgimento do individualismo8, coma eliminação da verticalidade própria da comunidade (sociedade estamental), e criação da horizonta-lidade (todos os indivíduos são iguais); (b) o surgimento do capitalismo mercantil (criação dos burgos– burgueses como novos tipos sociais – corporações de ofício, etc.); e (c) a transformação da Igreja,adquirindo forma política (Tribunais da Santa Inquisição, por exemplo).

    Um panorama possível de se traçar seria: 1) A supremacia da Igreja na Idade Média; 2) A re-volução que leva à supremacia do Estado, com as teorias calvinistas e luteranas sobre o ser humanoe Deus9, na época moderna; 3) E a continuidade subjacente na transformação 10. Esse panorama denascimento do Estado Moderno teve alguns aspectos que marcaram a transição: 1) Galileu e Newton(nas ideias cientícas); 2) Renascimento (retorno dos céticos, com as ideias sobre a cultura); 3) Re-forma (desao às autoridades tradicionais da Igreja); 4) Ação (guerras religiosas, revolução comercial,expansão além-mar); 5) E o choque com novas culturas11.

    É a partir desta realidade que a humanidade muda de rumo, dando um salto da comunidadeholística para a sociedade dos indivíduos. Porém, para entender a complexidade do contexto é ne -cessário compreender o pensamento que nele se ambientaliza. Nessa dimensão, os homens fogem darazão contemplativa para uma razão ativa, direcionando-se para dentro de si mesmos (antropocentris-mo). É esta concepção de razão que cimentou as bases do Estado Moderno, seus órgãos e poderes, eestá espalhada culturalmente, na sociedade, na mentalidade das pessoas, nos seus conceitos, na sua

    3 No sentido proposto por Louis Dumont, onde o homem tem um espectro de realidade a sua volta e é a partir desta perspectiva global que ohomem deve procurar conceber os fenômenos sociais. Na perspectiva do autor, fato social total é o complexo especíco de uma dada socie-dade, mas que pode identicar tanto os aspectos comuns como as diferenças na sociedade. Não existe fato sociológico independentementeda referência à sociedade global em questão Ver, neste sentido, DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologiamoderna. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 13.4 Idem, 38.5 RODRIGUES, Celso. O individualismo moderno e o tempo do direito. Revista de Estudos Criminais. Ano VII – 2007 – nº 24, p. 118.6 Idem, p. 119.7 Segundo Dumont, “... se a Igreja está no Império para os negócios do mundo, o Império está na Igreja para as coisas divinas.” (Op. Cit., 47).8 O ser humano torna-se indivíduo quando a noção de direito se prende não mais a uma ordem natural e social, mas ao ser humano particular.Com a categoria do indivíduo surge uma nova noção de poder, a qual é concebida nos dias de hoje, que está calcada na ideia de liberdade esociedade em oposição à noção de poder própria do contexto da comunidade (estamentos, relações de suserania e vassalagem, etc.).9 Conforme Celso Rodrigues, “(...) nos dois reformadores temos a armação do indivíduo moderno: em Lutero Deus é acessível à consciênciaindividual pela fé e pelo amor, sem intermediários; em Calvino, um Deus como vontade inspira uma fé não-contemplativa, orientada paraação.” (RODRIGUES, Celso. O individualismo moderno e o tempo do direito. Revista de Estudos Criminais. Ano VII – 2007 – nº 24, p. 121).10 DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 80.11 BAUMER, Franklin Le Van. O pensamento europeu moderno. Volume I, séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Edições 70, 1977.

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    forma de pensar; enm, na sua forma de ver e encarar o mundo12.

    2. Os odelos do Estado moderno O nascimento do Estado Moderno está imbricado na transição e na transformação das ideias

    políticas ocorridas na Idade Média. É a emancipação destas ideias que demonstra o germe da teoria

    moderna de Estado. Como nos disse Aderson de Menezes, é neste contexto de maior liberdade quecomeça a eclodir o Estado Liberal, pois “(...) a luta entre o poder temporal e o poder espiritual, tra-vada em prol do reestabelecimento e nova consolidação do Estado, determinou ambiente propício àeclosão das monarquias de caráter absolutista.”13

    Surgem, nesta seara, três institutos que deram origem à primeira noção de Estado Moderno:o indivíduo, o Direito Natural, e o Contratualismo. Esses institutos se revelam (a) pelo surgimento doracionalismo antropocêntrico, onde o indivíduo é um indivíduo-no-mundo (iniciado no nal do séculoXV e consolidado no século XVI), (b) pelo incremento do Direito Natural Moderno (o jusnaturalismo éo espaço onde se dene que existem direitos naturais inalienáveis, próprios da concepção de ser hu-mano, e essa denição ocorre por inuências diretas da concepção de razão oriunda da modernidade),(c) e pelo surgimento das teorias contratualistas, onde, em síntese, ocorre o processo de laicizaçãodo Direito (o direito não depende mais da religião. O seu conteúdo passa a ser uma mera convençãoreconhecida como valiosa. Assim, a partir da compreensão da natureza pelo espírito humano, as leispositivas seriam constituídas, expressando o poder e a vontade dos indivíduos).14 

    Vale lembrar que a supremacia da Igreja, no período medieval, é substituída agora pela supre-macia do Estado, e pela emergente cultura racional (Descartes) como força motriz do poder temporal.Na modernidade, a razão substitui a fé. Essa razão fez com que a comunidade cristã hierárquica seatomizasse em dois níveis: foi substituída por numerosos Estados individuais e estes por homens indi-viduais.

    Celso Rodrigues ensina que a ênfase no caráter “renovador” do Renascimento deve ser rela -tivizada enquanto um típico exemplo de construção de um mito historiográco – o mito da origem damodernidade. Para ele, isto congura uma situação ccional, assentada no caráter racional presentena cultura renascentista15. Por isso, falar-se da origem da modernidade é assumir um ponto de partidaalheio às diversidades existentes naquele contexto em favor do seu mito fundador.

    2.1 O Estado Liberal A primeira forma de Estado centralizado foi o Estado Estamental (entre o Medieval e o Absolu-

    tista), formado pela alta nobreza, baixa nobreza, clero e a burguesia das cidades, onde se pactuavamdocumentos jurando lealdade entre si e obediência aos seus príncipes e reis. Assim foram no século XIVos reinos da Inglaterra, da França, da Espanha, de Portugal e da Suécia, por exemplo. Ainda não vigoraa perspectiva do Direito como instrumento estatal, embora essa nova forma de Estado inuenciarádiretamente na elaboração das Constituições modernas16.

    Posteriormente, surgiu o Estado Absolutista