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18 JAN | 2014 REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA 18:00 SALA SUGGIA Peter Rundel direcção musical Marisol Montalvo soprano Victor Pereira clarinete MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PROGRAMAS DE SALA 1ª Parte Hans Zender Fûrin No Kyô, para soprano, clarinete e ensemble [1989; c.18min.; estreia nacional] Unsuk Chin Gougalon, cenas de um teatro de rua [2009-2011; c.20min.; estreia nacional] 1. Prologue – Dramatic Opening of the Curtain 2. Lament of the Bald Singer 3. The Grinning Fortune Teller with the False Teeth 4. Episode between Bottles and Cans 5. Circulus vitiosus – Dance around the Shacks 6. The Hunt for the Quack’s Plait 2ª Parte Hans Zender Cinco Prelúdios de Claude Debussy [orq. 1991; c.13min.] 1. Voiles 2. Danse de Puck 3. Général Lavine – eccentric 4. Des Pas sur la Neige 5. Les Collines d’Anacapri Unsuk Chin Akrostichon‑Wortspiel (Acróstico‑Jogo de Palavras), sete cenas de contos de fadas para soprano e ensemble [1991; rev. 1993; c.17min.] 1. Hide and Seek 2. The Puzzle of the Three Magic Gates 3. The Rules of the Game – sdrawkcab emiT 4. Four Seasons in Five Verses 5. Domifare S 6. The Game of Chance 7. From the Old Time Abertura Oficial Ano do Oriente Portrait Unsuk Chin II – Compositora em Residência 17:15 | Cibermúsica Palestra pré‑concerto por Rui Pereira oriente 2014 Peter Rundel direcção musical Peter Rundel nasceu em Friedrichshafen, Alemanha, e estudou violino com Igor Ozim e Ramy Shevelov em Co‑ lónia, Hanôver e Nova Iorque, e direcção com Michael Gielen e Peter Eötvös. O compositor Jack Brimberg foi também um dos seus mentores em Nova Iorque. É convidado regularmente para dirigir a Orquestra da Rádio da Baviera, Orquestra Sinfónica Alemã e Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, Sinfónica da Rádio de Estu‑ garda, Sinfónica WDR de Colónia e orquestras das rádios de Hamburgo, SWR de Baden‑Baden, Frankfurt, Saarland, ORF de Viena, Orquestra Nacional da RAI em Turim, mu‑ sikFabrik em Colónia e Ensemble intercontemporain. No âmbito do teatro musical, dirigiu produções na Ópera do Estado da Baviera, Festwochen de Viena, Ópe‑ ra Alemã de Berlim e Festival de Bregenz. O seu trabalho na ópera inclui o repertório tradicional e também produ‑ ções teatrais de música contemporânea inovadora. Em 2005 tornou‑se maestro titular do Remix Ensemble no Porto – esta colaboração frutuosa é documentada pelo grande sucesso das apresentações em importantes festi‑ vais europeus. Depois de encerrar 2012/13 com uma produção acla‑ mada de Stockhausen no Lincoln Center Festival em Nova Iorque, nesta temporada destacam‑se três produ‑ ções de ópera em grande escala além de vários compro‑ missos orquestrais. Dirige a estreia de Universumsstulp de Stephan Winkler na Ópera de Wuppertal e uma nova pro‑ dução da ópera Bluthaus de Georg Friedrich Haas, ence‑ nada por Peter Mussbach, no Wiener Festwochen e no Kulturfabrik Kampnagel em Hamburgo. Peter Rundel foi novamente convidado para dirigir no Ruhrtriennale, des‑ ta vez com Die Materie de Louis Andriessen numa produ‑ ção de Heiner Goebbels. Notas ao programa disponíveis em www.casadamusica.com, na página do concerto ou no separador downloads.

20140118 | Programa de Sala Remix Ensemble Casa da Música | REMIX ORIENTE

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Remix Ensemble Casa da MúsicaPeter Rundel direcção musicalMarisol Montalvo sopranoVictor Pereira clarinete1ª ParteHans Zender Fûrin No Kyô, para soprano, clarinete e ensembleUnsuk Chin Gougalon (Cenas de um teatro de rua) 2ª ParteHans Zender Cinco Prelúdios de DebussyUnsuk Chin Akrostichon-Wortspiel A arte e a filosofia do Extremo Oriente marcaram definitivamente a carreira do compositor e maestro alemão Hans Zender, o qual deu expressão musical a um poema japonês sobre a forma como percebemos os sons em Fûrin No Kyô, expressão associada ao vento e a sinos. Também Debussy foi um dos primeiros compositores ocidentais a utilizar técnicas da música oriental nas suas composições que resultam em representações cimeiras dos sons da natureza e da arte da sugestão.Com a música da sul-coreana Unsuk Chin mergulhamos nas tradições ancestrais do teatro de rua, tendo como pano de fundo a cidade ultramoderna de Hong Kong. Da mesma compositora, escutamos ainda sete contos de Michael Ende e Lewis Carroll na voz da soprano Marisol Montalvo.

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  • 18 JAN | 2014

    remix ensemble CAsA DA msiCA18:00 SALA SUGGIA

    Peter Rundel direco musical Marisol Montalvo sopranoVictor Pereira clarinete

    MECENAS PRINCIPALCASA DA MSICA

    MECENAS CASA DA MSICA APOIO INSTITUCIONALMECENAS PROGRAMAS DE SALA

    1 Parte

    Hans ZenderFrin No Ky, para soprano, clarinete e ensemble [1989;c.18min.;estreianacional]

    Unsuk ChinGougalon, cenas de um teatro de rua [2009-2011;c.20min.;estreianacional]

    1. Prologue Dramatic Opening of the Curtain2. Lament of the Bald Singer 3. The Grinning Fortune Teller with the False Teeth4. Episode between Bottles and Cans5. Circulus vitiosus Dance around the Shacks6. The Hunt for the Quacks Plait

    2 Parte

    Hans ZenderCinco Preldios de Claude Debussy [orq.1991;c.13min.]1. Voiles2. Danse de Puck3. Gnral Lavine eccentric4. Des Pas sur la Neige5. Les Collines dAnacapri

    Unsuk ChinAkrostichon Wortspiel (Acrstico Jogo de Palavras), sete cenas de contos de fadas para soprano e ensemble [1991;rev.1993;c.17min.]

    1. Hide and Seek2. The Puzzle of the Three Magic Gates3. The Rules of the Game sdrawkcab emiT4. Four Seasons in Five Verses5. Domifare S6. The Game of Chance7. From the Old Time

    Abertura Oficial Ano do Oriente

    Portrait Unsuk Chin II Compositora em Residncia

    17:15 | Cibermsica Palestra prconcerto por Rui Pereira

    oriente2014

    Peter Rundel direco musical

    Peter Rundel nasceu em Friedrichshafen, Alemanha, e estudou violino com Igor Ozim e Ramy Shevelov em Colnia, Hanver e Nova Iorque, e direco com Michael Gielen e Peter Etvs. O compositor Jack Brimberg foi tambm um dos seus mentores em Nova Iorque. convidado regularmente para dirigir a Orquestra da

    Rdio da Baviera, Orquestra Sinfnica Alem e Orquestra Sinfnica da Rdio de Berlim, Sinfnica da Rdio de Estugarda, Sinfnica WDR de Colnia e orquestras das rdios de Hamburgo, SWR de Baden Baden, Frankfurt, Saarland, ORF de Viena, Orquestra Nacional da RAI em Turim, musikFabrik em Colnia e Ensemble intercontemporain.No mbito do teatro musical, dirigiu produes na

    pera do Estado da Baviera, Festwochen de Viena, pera Alem de Berlim e Festival de Bregenz. O seu trabalho na pera inclui o repertrio tradicional e tambm produes teatrais de msica contempornea inovadora.Em 2005 tornou se maestro titular do Remix Ensemble

    no Porto esta colaborao frutuosa documentada pelo grande sucesso das apresentaes em importantes festivais europeus.Depois de encerrar 2012/13 com uma produo acla

    mada de Stockhausen no Lincoln Center Festival em Nova Iorque, nesta temporada destacam se trs produes de pera em grande escala alm de vrios compromissos orquestrais. Dirige a estreia de Universumsstulp de Stephan Winkler na pera de Wuppertal e uma nova produo da pera Bluthaus de Georg Friedrich Haas, encenada por Peter Mussbach, no Wiener Festwochen e no Kulturfabrik Kampnagel em Hamburgo. Peter Rundel foi novamente convidado para dirigir no Ruhrtriennale, desta vez com Die Materie de Louis Andriessen numa produo de Heiner Goebbels.

    Notas ao programa disponveis em www.casadamusica.com, na pgina do concerto ou no separador downloads.

  • Marisol Montalvo soprano

    A imprensa francesa considerou Marisol Montalvo uma verdadeira revelao no papel de Lulu, que cantou na pera Nacional de Paris: A soprano Americana tem uma forte presena vocal e de palco, e executa este papel exigente com incrvel intensidade . A personagem criada por Berg tornou se central no seu repertrio, tendo a desempenhado em muitos dos teatros mais prestigiados tais como a pera Alem de Berlim, Teatro de la Maestranza, pera de Toulouse e na produo aclamada de Calixto Bieto no Teatro da Basileia.Marisol Montalvo tem desenvolvido uma colaborao

    intensa com Christoph Eschenbach e a Orquestra de Filadlfia. Como intrprete requisitada das obras de Matthias Pintscher, cantou o seu Herodiade Fragmente com a Orquestra de Saarbrcken, Mitteldeutscher Rundfunk Orchester, num Concerto Promenade da BBC, e ainda em Munique, Paris e Londres; bem como Twilight Song e a estreia alem de Lespace dernier.Juntou se Filarmnica de Los Angeles para interpretar

    rias de concerto de Mozart e regressou para um concerto em celebrao dos 50 anos da bossa nova. Trabalhou ainda com a Sinfnica de Londres (Das klagende Lied), Orquestra de Paris (Double Jeu de Dalbavie), Filarmnica de Viena (Just an accident de Staar), Orchestre Colonne (Pour un monde noir de Chaynes), Festival Musica de Estrasburgo (Sieben Frhe Lieder de Berg e A Mind of Winter de Benjamin). Tem sido igualmente elogiada pelas suas interpretaes numa gama alargada de repertrio opertico.

    Victor Pereira clarinete

    Depois de estudar na Academia de Msica de Castelo de Paiva, Victor Pereira continuou a sua formao na Escola Superior de Msica e das Artes do Espectculo do Instituto Politcnico do Porto, onde concluiu a Licenciatura na classe de Antnio Saiote, tendo lhe sido atribudo o Prmio Fundao Eng. Antnio de Almeida. Detm ainda, desde 2006, o grau de Mestre em Msica (Performance) pela Universidade de Aveiro, onde trabalhou com Alain Damiens. Paralelamente, efectuou masterclasses com Perez Piquer, Michel Arrignon, Paul Meyer, Alain Damiens, Howard Klug, Phillipe Cupper, Guy Chadash e Guy Deplus. Foi premiado em vrios concursos dos quais se desta

    cam: o 1 Prmio no II Concurso Nacional de Jovens Clarinetistas (nvel superior), organizado pela Associao Portuguesa do Clarinete; 3 Prmio no I Concurso Internacional de Clarinete do Porto, no qual lhe foi tambm atribudo o Prmio do Pblico, 3 Prmio no Concurso Jovens Msicos (nvel superior) da RDP, 2 Prmio na categoria de msica de cmara (nvel superior) no Concurso Jovens Msicos da RDP e finalista no 3rd Osaka International Chamber Music Competition & Festa, no Japo. Victor Pereira solista do Remix Ensemble Casa da M

    sica desde 2000. Foi tambm convidado a colaborar com a Orquestra Sinfnica do Porto Casa da Msica, Orquestra Sinfnica da Galiza, Orquestra Gulbenkian, Filarmonia das

    Beiras e Ensemble Orquestral do Porto. professor de clarinete e msica de cmara na Academia de Msica de Castelo de Paiva e na Escola Profissional de Msica de Espinho.

    remix ensemble casa da msica

    Peter Rundel maestro titular

    Desde a sua formao em 2000, o Remix Ensemble apresentou em estreia absoluta mais de oitenta e cinco obras e foi dirigido pelos maestros Stefan Asbury, Ilan Volkov, Kasper de Roo, Pierre Andr Valade, Rolf Gupta, Peter Rundel, Jonathan Stockhammer, Jurjen Hempel, Matthias Pintscher, Franck Ollu, Reinbert de Leeuw, Diego Masson, Emilio Pomrico, Brad Lubman e Paul Hillier, entre outros. No plano internacional, apresentou se em Valncia,

    Roterdo, Huddersfield, Barcelona, Estrasburgo, Paris, Orlees, Bourges, Reims, Anturpia, Madrid, Budapeste, Norrkping, Viena, Witten, Berlim, Amesterdo, Colnia, Zurique, Luxemburgo e Bruxelas. O projecto The Ring Saga, com msica de Richard Wagner adaptada por Jonathan Dove e Graham Vick, levou o Remix Ensemble ao Festival Musica de Estrasburgo, Cit de la Musique em Paris, Saint Quentin en Yvelines, Thtre de Nmes, Le Thtre de Caen, Grand Thtre du Luxembourg e Grand Thtre de Reims. Em 2012 fez a estreia mundial do concertino para piano Jetzt genau! de Pascal Dusapin no programa de encerramento do Festival Musica de Estrasburgo, apresentou se na Fundao Gulbenkian em Lisboa e na Filarmnica de Berlim. Entre os projectos para 2013, mereceu destaque a pera Quartett, de Luca Francesconi, com encenao de Nuno Carinhas, apresentada no Porto e em Estrasburgo. Em 2014 apresenta em estreia mundial Le soldat inconnu de Georges Aperghis, uma encomenda da ECHO, e tem concertos agendados em Lisboa, Paris, Ourense, Madrid e Colnia.O Remix tem dez discos editados com obras de Pauset,

    Azguime, Crte Real, Peixinho, Dillon, Jorgensen, Staud, Nunes, Bernhard Lang, Pinho Vargas, Wolfgang Mitterer, Karin Rehnqvist e Pascal Dusapin. A prestigiada revista londrina de crtica musical Gramaphone incluiu o CD com obras de Dusapin na restrita listagem de Escolha dos Crticos do Ano 2013.

    A CASA DA MSICA MEMBRO DE

    Violino Angel GimenoJos PereiraAna Pereira

    ViolaTrevor McTaitDavid Lloyd

    ViolonceloOliver ParrFilipe Quaresma

    ContrabaixoAntnio A. Aguiar

    FlautaStephanie WagnerAna Raquel Lima

    OboJos Fernando SilvaFrancesco Sammassimo

    ClarineteVictor J. PereiraRicardo Alves

    FagoteRoberto Erculiani

    TrompaNuno Vaz

    TrompeteAles Klancar

    TromboneRicardo Pereira

    Percusso Mrio TeixeiraManuel CamposJoo CunhaPedro Fernandes

    PianoJonathan AyerstVtor Pinho

    HarpaCarla Bos

    BandolimAntnio Vieira

    PATROCINADOR ANO ORIENTE

    APOIO ANO ORIENTE

  • 3Hans Zender

    wiesbaden(alemanha),22denovembrode1936

    Hans Zender nasceu em Wiesbaden, Alemanha, a 22 de Novembro de 1936. Estudou nos Conservatrios de Frankfurt e Friburgo, diplomando se em composio (com Wolfgang Fortner), piano e direco. Nos anos sessenta obteve duas bolsas para residncias de um ano na Villa Massimo, em Roma, uma das distines mais importantes concedidas a artistas alemes. Em 1999 viria a ser convidado de honra da mesma instituio.Entre 1964 e 68 foi Maestro Titular da pera de Bona,

    cargo que veio a desempenhar tambm na Orquestra Sinfnica da Rdio de Saarbrucken (1971 84) e Orquestra de Cmara da Rdio Holandesa (1987 90). Foi ainda Maestro Convidado Principal da pera Nacional de Bruxelas (1987 90) e, desde 1999, Maestro Convidado e membro do Conselho Artstico da Orquestra Sinfnica SWR de Baden Baden e Friburgo. Entre 1984 e 87 foi Director Musical da pera Estatal de Hamburgo. membro das Academias das Artes de Hamburgo, Berlim e Munique. Mais recentemente, na temporada de 2005/06, foi Compositor em Residncia da Orquestra Sinfnica Alem de Berlim. Hans Zender foi Professor de Composio no Conser

    vatrio de Frankfurt entre 1988 e 2000, cidade que lhe atribuiu o Prmio Goethe em 1997. Recebeu igualmente o Prmio da Cultura de Hessen. A sua discografia vasta, contando se ainda numerosas gravaes para a televiso. Mantm uma actividade regular a nvel internacional, como maestro convidado.No domnio da composio, Hans Zender afirmou

    se internacionalmente a partir dos anos sessenta, muito particularmente em dois domnios: a msica vocal, onde se destacam a srie de peas vocais Canto I (1965) a Canto VII (1992) ou, mais recentemente, Tres canciones (2005) e Logos Fragmente (2008), e a vertente vocal da msica cnica com Stephen Climax (1984) ou Don Quijote de la Mancha (1991); o domnio da transcrio, ou adaptao de obras de outros compositores, sendo de destacar Cinco Preldios de Debussy (1991, includos neste programa), Schuberts Winterreise (1993) e 33 Vernderungen ber 33 Vernderungen (escritas em 2011, segundo as Variaes Diabelli de Beethoven, a apresentar pelo Remix Ensemble no prximo dia 11 de Maro de 2014).

    Neste programa esto representadas estas duas vertentes. A primeira obra em programa, Frin No Ky, para soprano, clarinete e ensemble, data de 1989 e inscreve se no domnio da msica vocal com acompanhamento instrumental. Esta obra denota, ainda, outra vertente importante no percurso do compositor: a influncia da cultura japonesa enquanto reflexo da forte impresso que lhe causou a primeira viagem ao pas do Sol nascente. O intelectualismo da Europa, a tecnologia, a presso e o rudo da vida quotidiana: tudo isso me pareceu contestvel como nunca antes, afirmou Hans Zender por altura da sua primeira obra sob a influncia da cultura japonesa, Muji no kyo, para soprano, instrumentos solistas e ensemble (1975), com base num texto japons da Idade

    Mdia e que se caracteriza pela simplicidade e o silncio. Seguiu se um ciclo de sete peas, iniciado em 1977 e concludo vinte anos depois, com o ttulo comum Lo Shu, expresso que na China antiga designava um quadrado dividido em nove partes e que levou o compositor a reflectir sobre o espao e o tempo contidos nessa estrutura.Frin No Ky tem por base uma quadra do poeta Ikkyu

    (1394 1481), um monge budista Zen natural de um subrbio de Quioto.

    Numa mudez imvel, num som em movimento.Ser o sino, ser o vento, ser a voz do sino?Apavorado, o velho monge acorda da sua sesta diurna.O que precisa de soar? A viglia da meia noite ao meio dia?

    O ttulo parte da juno das palavras Fu (vento) e Rin (sino). Segundo o prprio compositor Hans Zender, este um poema sobre percepo acstica. Na sua explicao, prossegue: A obra dividida em quatro partes enuncia o poema em quatro lnguas: a primeira parte em japons, a segunda em ingls. Depois segue se uma cadncia instrumental. A terceira parte contm os textos em alemo e a quarta parte contm fragmentos entrelaados em japons, ingls, alemo e chins, os quais, reunidos, engrandecem a proporo do texto. Por outro lado, cada uma das quatro partes est relacionada com as estrofes respectivas do poema: a primeira pela sua atitude contemplativa, a segunda pelo seu jogo de comparao, a terceira parte pelo seu aspecto dramtico e a ltima pelo reforo exttico, no sentido de uma impenetrabilidade racional do todo.

    A segunda pea de Zender no programa, Cinco Preldios de Claude Debussy, data de 1991 e insere se no domnio da orquestrao. As cinco peas escolhidas fazem parte do conjunto de 24 Preldios para piano do compositor francs Claude Debussy (1862 1918), publicados em dois cadernos de 12 Preldios nos anos 1910 e 1913. Os preldios de Debussy so obras da maior importncia na literatura pianstica universal. Ao contrrio de ciclos de preldios anteriores e at mesmo posteriores, como os de Bach, Chopin, Alkan ou Chostakovitch, os preldios de Debussy no esto conectados por um esquema de relaes tonais entre si. Na verdade, cada um constitui uma pea independente, razo pela qual so muitas vezes apresentados individualmente ou em pequenos grupos escolhidos pelos intrpretes. Acresce que cada um tem um ttulo de carcter extramusical, facto que na maior parte dos casos no constitui um plano programtico mas antes uma sugesto para a interpretao. Vrios autores partilham a opinio de que Debussy ter alcanado nestas peas o expoente mximo na chamada arte da sugesto, a induo de imagens e outros estmulos sensoriais atravs da msica. Diversos compositores orquestraram peas para pia

    no de Debussy, nomeadamente preldios, praticamente desde a data da sua estreia. A tarefa representa sempre uma interpretao das prprias intenes do compositor e uma atribuio de significado resultante de uma an

  • 4lise detalhada da msica. partida, a transposio para os sons de uma orquestra de uma obra escrita para piano abre um grande leque de possibilidades tmbricas. Isso particularmente relevante no caso da msica de Debussy devido ao grande detalhe polifnico da sua escrita, aos diferentes nveis de tessitura representados, variedade de tonalidades ou escalas que surgem, por vezes, em simultneo. E o prprio Debussy chegou a utilizar nos seus preldios para piano trs e quatro sistemas de pautas em simultneo (em vez dos dois comuns), no porque fosse necessrio mas para, assim, criar uma comunicao mais clara das suas intenes. A escolha de Hans Zender recaiu sobre quatro preldios

    do primeiro caderno (Voiles, Danse de Puck, Des Pas sur la Neige e Les Collines dAnacapri) e um preldio do segundo caderno (Gnral Lavine eccentric). A sua ordenao corresponde a uma dramaturgia escolhida por Zender.

    A seleco tem incio com Voiles, pea enigmtica e contemplativa escrita na escala de tons inteiros. A primeira indicao de tempo, Modr, seguida da rara indicao: num ritmo sem rigor e caressant. As terceiras descendentes que iniciam a pea so entregues aos obos e logo depois dobradas pelas flautas. Este motivo apresentado com coloridos em constante mutao devido a uma criteriosa escolha de instrumentos. Sob ele, as cordas cantam a melodia principal, pontuada por efeitos tmbricos na percusso e um ostinato rtmico na harpa. Toda a execuo rtmica desta pea lenta, muito devido densa polifonia que Hans Zender escolhe e indicao original sem rigor, representa uma extrema complexidade. O penltimo preldio do primeiro caderno inspirado

    num personagem shakespeariano e dos mais conhecidos. D pelo nome de La Danse de Puck, sendo Puck um espirito malfico que habita os bosques e assusta os viajantes que se atrevem a atravess los. O preldio extremamente rico nas articulaes de cada motivo e na sua dimenso polifnica, deixando mesmo adivinhar possveis orquestraes, sobretudo nos motivos associados a toques de trompas ou trompetes. Zender toma uma opo densamente polifnica, desde logo ao dispersar o motivo inicial por vrios instrumentos. Simultaneamente, oferece pea um lirismo e um carcter prximo do grotesco que no piano so praticamente impossveis de alcanar.Em Gnral Lavine eccentric, a orquestrao pe em

    evidncia o lado excntrico do personagem com as sonoridades do trompete e do trombone, sendo que a caixa refora, ainda mais, o seu lado militar. A escolha do contrafagote para o solo que representa o caminhar do general, acompanhado ao ritmo de cake walk, assinala o lado humorstico da pea. De Pas sur la Neige (passos sobre a neve) encontra uma

    aluso muito directa ao ttulo logo no incio. As duas primeiras notas que fazem uma espcie acompanhamento perptuo representam os passos na neve, sendo que a primeira (nota R) mais rpida e fica presa, a soar para a segunda, mais longa (nota Mi), como se os ps ficassem presos na neve. Zender brilhante na atmosfera esttica e nostlgica que alcana.

    Les Collines dAnacapri um preldio extremamente virtuoso, de ritmos rpidos e articulao muito clara, privilegiando os sons cristalinos do piano e explorando a ressonncia de harmnicos. Nos instrumentos de sopro e nas cordas estes efeitos so extremamente difceis, sobretudo nas passagens de uns instrumentos para os outros. H vrios ritmos de dana, homenagens a tarantelas e, na parte central, uma cano napolitana feita com mais rubato, momento em que a orquestrao permite acrescidos recursos expressivos.

    ruipereira(2014)

    Unsuk Chin seul,14dejulhode1961

    Unsuk Chin nasceu em Seul, na Coreia do Sul, estudou com Ligeti em Hamburgo e actualmente reside em Berlim. uma das compositoras mais importantes da sua gerao, tendo sido galardoada com os prmios Grawemeyer (2004) pelo seu Concerto para violino e Arnold Schnberg (2005). A sua obra inclui tanto partituras electrnicas como acsticas. Com uma linguagem moderna, a msica de Chin lrica e tem um poder comunicativo que a distancia de correntes doutrinrias, revelando um ouvido apurado para a instrumentao, cores orquestrais e imaginao rtmica.As composies de Unsuk Chin so regularmente inclu

    das nas programaes das orquestras, ensembles de msica contempornea e solistas mais prestigiados do mundo, contando com o apoio entusiasta de maestros como Kent Nagano, Simon Rattle, Peter Etvs, David Robertson, Myung Whun Chung e George Benjamin, e dos violinistas Christian Tetzlaff e Viviane Hagner. Tm sido tocadas por agrupamentos como a pera Estatal da Baviera, Filarmnica de Berlim, Sinfnica de Chicago, Filarmnica de Los Angeles, Filarmnica de Londres, Filarmnica da Radio France, Sinfnica Alem de Berlim e Filarmnica da China, e ainda Ensemble intercontemporain, London Sinfonietta, Ensemble Modern and Kronos Quartet.A msica de Unsuk Chin est gravada na srie 20/21

    da Deutsche Grammophon, e a pera Alice in Wonderland est disponvel em DVD editado pela Unitel Classica. Foi a primeira Compositora em Residncia da Orquestra Filarmnica de Seul e Directora Artstica do Ciclo de Msica Contempornea desta orquestra desde 2006. Recentemente foi compositora associada do Tonsttarfestival no Konserthus em Estocolmo. Em 2014 Compositora em Residncia na Casa da Msica e no prximo ms de Maro o alvo de um concerto monogrfico no Miller Theatre em Nova Iorque.

    Notas da compositora

    Gougalon (cenas de um teatro de rua). O ttulo deriva do alto alemo antigo. Inerentes ao ttulo esto os seguintes significados: vendar os olhos; fazer gestos ridculos; ludibriar algum com pretensa magia; ler a sorte.

  • 5O ttulo refere se a um momento proustiano que vivi completamente inesperado durante a minha primeira estadia na China: em 2008 e 2009 visitei Hong Kong e Guangzhou, entre outros lugares. A atmosfera das zonas residenciais antigas e pobres, com as suas vielas estreitas, vendedores ambulantes de comida e pequenos mercados tudo isto muito perto de ecrs gigantes, edifcios ultramodernos, e centros comerciais a brilhar fez me recordar momentos da minha infncia h muito tempo esquecidos. Lembrou me muito a cidade de Seul nos anos sessenta, do perodo aps a guerra da Coreia e anterior modernizao radical. De condies que hoje em dia j no existem na Coreia do Sul.Lembrei me, em particular, de uma trupe de saltimban

    cos que vi por diversas vezes quando era criana, num subrbio de Seul. Estes msicos e actores amadores viajavam de terra em terra para venderem remdios caseiros que na melhor das hipteses no causavam nenhum efeito s pessoas. Para entreter os habitantes de cada lugar, montavam uma pea de teatro com msica e dana, dividida em vrias cenas. (Recordo ainda que os argumentos rodavam volta de amores no correspondidos e que terminavam invariavelmente com o suicdio da herona.) O nvel era muito amador e extremamente kitsch, mas, no entanto, originava emoes fortes entre os espectadores: o que no assim to surpreendente se pensarmos que tambm era praticamente o nico tipo de entretenimento num dia a dia marcado por grande pobreza e estruturas repressivas. Brinquedos e entretenimentos com electrnica ( j para no falar de Arte) eram, obviamente, desconhecidos. Assim, toda a vila estava presente neste grande acontecimento, uma circunstncia de que todos queriam beneficiar: videntes, vendedores ambulantes e charlates. Entre estes estavam tambm os negociantes de perucas, a quem as jovens podiam vender, para levar algum dinheiro para as famlias, as suas prprias tranas e rabos de cavalo.Gougalon no se refere directamente a esse teatro de

    rua miservel e diletante. As recordaes acima descritas servem apenas de moldura, assim como os nomes de cada andamento no pretendem ser ilustrativos.Esta pea sobre um imaginrio de msica folclrica

    que estilizado, quebrado em si prprio, e apenas aparentemente primitivo.

    Akrostichon Wortspiel (Acrstico Jogo de Palavras), uma encomenda da Fundao Gaudeamus, foi composta em 1991 por altura do Concerto de atribuio do Prmio Gaudeamus e a sua primeira audio, numa verso incompleta, decorreu em Amesterdo, pelo Nieuw Ensemble sob a direco de David Porcelijn. A obra foi concluda dois anos mais tarde e a estreia da verso definitiva decorreu no Queen Elizabeth Hall, a 8 de Setembro de 1993, num concerto do Premiere Ensemble sob a direco de George Benjamin.Akrostichon Wortspiel consiste em sete cenas dos con

    tos de fadas The Endless Story de Michael Ende e Alice through the Looking Glass de Lewis Carroll. Os textos seleccionados foram trabalhados de diferentes formas: por vezes, as consoantes e as vogais foram agrupadas aleato

    riamente; outras vezes as palavras foram lidas em sentido contrrio de forma a manter o significado simblico.Cada uma das sete peas construda em redor de uma

    nota que funciona como um centro de controlo, mas nos seus meios de expresso cada pea completamente diferente das outras. So expressos sete estados emocionais distintos, de acordo com a descrio dos contos, oscilando entre o luminoso e o grotesco.As afinaes de alguns instrumentos do ensemble va

    riam entre um quarto e um sexto de tom de forma a alcanar uma boa microtonalidade. A soprano, no seu solo, flutua entre estes dois sistemas de afinao, dependendo da sua prpria percepo a cada momento.

    (Traduo das verses inglesas: Rui Pereira)