16
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, PLANEJAMENTO EM ÁREAS RURAIS O PAPEL DOS TERRITÓRIOS DE CIDADANIA E O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL. Sérgio Augusto dos Santos 1 Christian Luiz da Silva 2 Resumo Trata o presente trabalho de uma caracterização e apresentação de políticas públicas implantadas pelo governo federal a partir de 2008 para a identificação de territórios de Cidadania. Tais políticas objetivam o acesso aos direitos de cidadania à parcela da população que habita no meio rural. Foi feito um resgate aos conceitos de território e espaço, na visão da Geografia, sua caracterização enquanto área de luta e fortalecimento de identidades regionais, sob a ótica da pobreza rural brasileira e políticas públicas desenvolvidas objetivando sua inclusão,havendo também dificuldades de acesso a estas políticas específicas, Ao se definir pobreza rural, objetivou-se deixar aparente que houve um desenvolvimento econômico no país que refletiu também no meio rural, havendo necessidade em se compreender que o combate à pobreza rural e acesso as políticas publicas pode ser considerado um desafio, levando-se em conta a diversidade dimensional do desenvolvimento econômico do Brasil. Palavras-chave:Territórios, Espaço, Políticas Públicas, Planejamento, Desenvolvimento. Introdução Trata o presente de uma reflexão sobre políticas públicas atuais para o desenvolvimento rural sustentável direcionado, direta ou indiretamente ao estímulo da agricultura familiar, a preservação ambiental e ao mundo rural/camponês em sua totalidade. Nesta ótica, a iniciativa em se implantar os Territórios de Cidadania, Programa 1 Geógrafo pela Universidade Estadual Paulista UNESP Campus Pres. Prudente, Analista em Desenvolvimento Agrário do INCRA/MDA, mestrando no Programa de Pós Graduação em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná PPGPGP/UTFPR (2014) Campus Curitiba.E-mail: [email protected] 2 Economista. Pós doutor em administração pela USP. Professor do programa de mestrado no Programa de Pós Graduação em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná PPGPGP/UTFPR. Campus Curitiba. E-mail:[email protected]

2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

  • Upload
    phamque

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL, PLANEJAMENTO EM

ÁREAS RURAIS

O PAPEL DOS TERRITÓRIOS DE CIDADANIA E O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL.

Sérgio Augusto dos Santos 1 Christian Luiz da Silva 2

Resumo

Trata o presente trabalho de uma caracterização e apresentação de políticas públicas implantadas pelo governo federal a partir de 2008 para a identificação de territórios de Cidadania. Tais políticas objetivam o acesso aos direitos de cidadania à parcela da população que habita no meio rural. Foi feito um resgate aos conceitos de território e espaço, na visão da Geografia, sua caracterização enquanto área de luta e fortalecimento de identidades regionais, sob a ótica da pobreza rural brasileira e políticas públicas desenvolvidas objetivando sua inclusão,havendo também dificuldades de acesso a estas políticas específicas, Ao se definir pobreza rural, objetivou-se deixar aparente que houve um desenvolvimento econômico no país que refletiu também no meio rural, havendo necessidade em se compreender que o combate à pobreza rural e acesso as políticas publicas pode ser considerado um desafio, levando-se em conta a diversidade dimensional do desenvolvimento econômico do Brasil.

Palavras-chave:Territórios, Espaço, Políticas Públicas, Planejamento, Desenvolvimento.

Introdução

Trata o presente de uma reflexão sobre políticas públicas atuais para o

desenvolvimento rural sustentável direcionado, direta ou indiretamente ao estímulo da

agricultura familiar, a preservação ambiental e ao mundo rural/camponês em sua totalidade.

Nesta ótica, a iniciativa em se implantar os Territórios de Cidadania, Programa

1Geógrafo pela Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus Pres. Prudente, Analista em Desenvolvimento Agrário do INCRA/MDA, mestrando no Programa de Pós Graduação em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – PPGPGP/UTFPR (2014) – Campus Curitiba.E-mail: [email protected] 2Economista. Pós doutor em administração pela USP. Professor do programa de mestrado no Programa de Pós Graduação em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – PPGPGP/UTFPR. – Campus Curitiba. E-mail:[email protected]

Page 2: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Governamental lançado em 2008, possui importância estratégica, uma vez que tem como

desafio os objetivos de: “(...) promover o desenvolvimento econômico e universalizar

programas básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento territorial

sustentável. A participação social e a integração de ações entre Governo Federal, estados e

municípios são fundamentais para a construção dessa estratégia”. (PORTAL DA

CIDADANIA, 2013).

Consequentemente, a discussão sobre o território e o consequente espaço no qual se

insere, ocorre através de uma definição que possibilita explicitar o papel da conjuntura e do

espaço social como agente no desenvolvimento. Deste modo, “O espaço representa um

elemento de referência para se ampliar a efetividade das políticas de promoção do

desenvolvimento no seu papel de reduzir desigualdades e equiparar as condições básicas da

cidadania.” Theise Galvão (2008, p.55). E ainda: “(...) é preciso chamar atenção para o fato de

que território não é o mesmo que espaço. A noção de território implica, evidentemente, uma

dimensão espacial.” (THEIS E GALVÃO 2008, p.62).

O que caracteriza oficialmente um Território de Cidadania como instrumento de

implantação de políticas públicas para a população do campo e da cidade, de acordo com a

publicação acessada no sítio do Portal da Cidadania, é: “O Território é formado por um

conjunto de municípios com mesma característica econômica e ambiental, identidade e coesão

social, cultural e geográfica. Maiores que o município e menores que o estado, os Territórios

demonstram, de forma mais nítida, a realidade dos grupos sociais, das atividades econômicas

e das instituições de cada localidade. Isso facilita o planejamento de ações governamentais

para o desenvolvimento dessas regiões”. (REVISTA TERRITÓRIOS DE CIDADANIA 2009,

p.3).

Nesta circunstância que objetivamos levantar a questão do desenvolvimento social e

econômico do/no campo. O campo, aqui entendido muito mais que o rural, sofreu e sofre

sempre a influência de teorias desenvolvimentistas, baseadas em um modelo clássico de

financiamento internacional, empresas aplicadoras de um modelo (geralmente públicas) e na

outra ponta o meio natural com seus habitantes recebendo auxílio de políticas compensatórias,

seja na forma financeira, seja na forma de ideias para melhorar seu nível de vida (quase

sempre balizados em um modelo exógeno) do qual tentam convence-los do que é o melhor

para sua existência, sem levar em conta seus aspectos sociais, econômicos, as diferentes

identidades regionais e culturais que permeiam a existência desta população.

Page 3: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Território e Espaço

Para fins de localização do conceito de território neste artigo, a compreensão de

território passa obrigatoriamente pela compreensão da forma como se inscrevem as políticas

de desenvolvimento territorial rural e o espaço em que tais políticas públicas se inserem. Útil

também relacionar que os conceitos de território e espaço são bem mais complexos que

podem parecer através de uma análise simplista, uma vez que: “O território diferencia-se do

espaço por repousar na dimensão política (estatal, sobretudo) de tal espaço construído”.

(LEFEBVRE, 1991) apud (THEIS E GALVÃO 2008, p.62). E ainda que:

Com efeito, “um território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder [...] um campo de força concernente a relações de poder espacialmente delimitadas” SOUZA, (1997, p. 24)”. Ou, dito de outra forma, “o território se define, mais estritamente, a partir de uma abordagem sobre o espaço que prioriza [...] as problemáticas de caráter político, ou que envolvem a manifestação/realização das relações de poder, em suas múltiplas esferas (HAESBAERT 2009, p. 625) apud (THEIS E GALVÃO 2008, p.62).

Schneider e Tartaruga (2004, p. 100), destacam que, neste cenário, a questão territorial

aparece através da noção de que é possível explicitar o papel do espaço enquanto local de

interação social e, a partir deste ponto, deste enquanto fator de desenvolvimento regional.

Assim, o foco na questão do território possibilita a criação e implantação de propostas reais de

intervenção do Estado, como é o caso do Programa Territórios de Cidadania, indicativo de

que há uma preocupação em entender o território, enquanto unidade de referência, como área

para a observação e coleta de dados, atuação e gestão no planejamento governamental.

Baseando-se nesses fatos, os autores relatam ainda que a geografia, reivindicando para

si um caráter por assim dizer analítico e conceitual do termo, vem buscando debater este novo

uso do território. Porém para essa ciência o conceito assume uma identidade menos

instrumental, unindo-se inequivocamente a uma mera discussão da projeção espacial do

poder. Dito de outra forma, a maneira como o conceito de território é tratado pela geografia é

difere de forma substancial do debate sobre o que é a abordagem territorial de

desenvolvimento rural. (SCHNEIDER E TARTARUGA 2004, p. 100).

Objetivando conceitualizar o território na atualidade, os autores resgatam três

concepções presentes na geografia, que seriam:

Page 4: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

(...) uma natural, outra individual e uma terceira espacial. A primeira, a concepção naturalista do território (território clássico), muito difundida, tem justificado historicamente, e ainda hoje, as guerras de conquista através de um imperativo funcional que se sustenta como natural, mas, em verdade, construído socialmente.

A segunda, a concepção do território do indivíduo põe em evidência a territorialidade. Algo extremamente abstrato, o espaço das relações, dos sentidos, do sentimento de pertença e, portanto, da cultura. O território, neste caso, assume diferentes significados para uma comunidade islâmica, para uma tribo indígena, para uma família que vive numa grande metrópole ou, ainda, entre as pessoas de cada grupo social.

E a terceira e última concepção, segundo Sposito (op.cit.), acaba gerando uma confusão entre os conceitos de território e de espaço. Neste caso, antes de se definir o conceito de território deve-se abordar o de espaço. Assim, tomando-se um quadro referencial da geografia brasileira (o mais atual), o conceito de espaço, ou espaço geográfico, segundo Santos (1999:51), seria aquele “formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá (1999: 51). apud (SCHNEIDER E TARTARUGA 2004, p. 103).

Assim sendo, o enfoque no território, enquanto área de planejamento das políticas

públicas pode ser considerada uma opção estratégica de governança. É inerente ao conceito de

território a sua característica intrínseca de agregadora espacial, de integração de seus atores

sociais, seus agentes públicos, os potenciais mercados e as políticas públicas intervencionistas

que objetivam seu desenvolvimento regional. Este enfoque no território enquanto aglutinador

carrega em si o sentimento de identidade, de “pertença”, de valorização de seu saber cultural,

no respeito à diversidade, na solidariedade, justiça e inclusão social e na equidade, alicerces

fundamentais na conquista e manutenção da cidadania para o agricultor familiar/camponês.

Nesta ótica, buscando abordar o conceito de território através da análise dos

fenômenos sociais que geram a identidade territorial com uma materialização do público,

como anseio comum de uma pacífica apropriação privada em troca de um desenvolvimento e

uma cidadania sob suspeita, que na realidade oferecem muito menos do que prometem, ou

seja, um território a medida do desenvolvimento: território como área de diversos conflitos

Montenegro Gomes (2006, P. 95), então: “Apesar de esse discurso estar cada dia mais

consolidado e sustentar a prática das políticas públicas para o desenvolvimento do meio rural,

no Brasil, o território com o qual trabalham é um território que dificilmente evoca o território

real, repleto de conflitos, de apropriações privadas etc.”(MONTENEGRO GOMES, 2006, p.

97)

Concomitantemente para Veiga (1999), apud Montenegro Gomes (2006, p 98), o

desenvolvimento rural estaria, assim, interligado a um fortalecimento e valorização da

Page 5: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

agroindústria familiar e a diversificação das economias dos territórios, estimulando o

empreendedorismo local e a logística institucional locais fruto do impulso dado pelo Estado.

O conceito de espaço, como já relacionado anteriormente, possui, juntamente ao

conceito de território, maior complexidade de interpretação do que pressupõe uma análise

superficial e simplista, uma vez que:

A emergência da abordagem territorial do desenvolvimento rural pressupõe que o nível adequado de tratamento analítico e conceitual dos problemas concretos deva ser o espaço de ação em que transcorrem as relações sociais, econômicas, políticas e institucionais. Esse espaço é construído a partir da ação entre os indivíduos e o ambiente ou contexto objetivo em que estão inseridos. Portanto, o conteúdo desse espaço é entendido como o território. Mas não se trata apenas do entendimento teórico e abstrato, pois esta perspectiva também propõe que as soluções e respostas normativas aos problemas existentes nesses espaços encontram-se nele mesmo. (SCHNEIDER, 2004, p. 97) apud (MONTENEGRO GOMEZ, 2006, p.98).

Assim, através desta dicotomia, podemos inferir que os conceitos são distintos, com

suas próprias definições e particularidades, o que fica melhor exemplificado na seguinte

citação:

Outra característica dos territórios está no fato de serem dinâmicos. Enquanto relações sociais projetadas no espaço, os territórios podem desaparecer mesmo que os espaços correspondentes (formas) continuem inalterados. Esta situação sugere a existência de territorialidades flexíveis, que podem ser territórios cíclicos, que se apresentamperiodicamente ou sazonalmente ou podem ser territórios móveis como os sugeridos por (SACK 1986) apud (SCHNEIDER E TARTARUGA 2004, p. 105).

Em conformidade, “O espaço representa um elemento de referência para se ampliar a

efetividade das políticas de promoção do desenvolvimento no seu papel de reduzir

desigualdades e equiparar as condições básicas da cidadania” Theis e Galvão (2008, p. 55).

Uma vez que, há deficiências de interpretação no conceito de espaço como ambiente

formulador de políticas públicas, os autores ainda advertem que:

(...) as leituras do espaço estão muitas vezes eivadas de dificuldades conceituais, de interpretações parciais, do uso inapropriado de conceitos, de descuidos para com a natureza das relações entre espaço e tempo na determinação do alcance das iniciativas. De um lado, tais deficiências de interpretação residem na inexistência de concepções nítidas; as análises mal acessam os referenciais teóricos subjacentes. De outro, as análises acabam por adotar opções simplificadoras, que reiteram a referência ao espaço como mera dimensão acessória ou complementar dos problemas ditos substantivos que pretendem tratar. Em qualquer caso, tende-se a transformar espaço, território e região em sinônimos (THEIS E GALVÃO, 2008, p. 56).

Page 6: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Tese corroborada por Lefebvre (1999), que não vê o espaço como formador de

políticas públicas, mas apenas como ferramenta na gestação e implantação das mesmas, por

conseguinte:

Certamente não é o espaço (social, urbano, econômico, epistemológico etc.) que pode proporcionar a forma, o sentido, a finalidade. No entanto, vemos essa tese surgir de todos os lados: o espaço como regra, norma, forma superior, em torno do qual poder-se-ia realizar um consenso de cientistas, quando não um “corpus” das ciências. Ora, o espaço é tão somente um médium, meio e mediação, instrumento e intermediário, mais ou menos intermediário, mais ou menos apropriado, ou seja, favorável. Ele jamais tem existência “em si”, mas remete a alguma coisa outra. A que? Ao tempo, existencial e simultaneamente essencial, ultrapassando tais determinações filosóficas, ao mesmo tempo subjetivo e objetivo, fato e valor, porque “bem” supremo dos que vivem mal ou bem; porque fim ao mesmo tempo que meio. (LEFEBVRE, 1999, p. 74).

E ainda:

Por fim, os territórios podem ser contínuos ou descontínuos. Os territórios contínuos são aqueles que possuemcontigüidade espacial, os mais usuais, enquanto os territórios descontínuos são os que não possuem uma contigüidade espacial. Alguns autores denominam estes de redeou território-rede; em termos gráficos, os territórios contínuos poderiam ser caracterizados por superfícies e osdescontínuos por pontos. Nos territórios descontínuos, emverdade, são apresentados espaços em diferentes escalas ouníveis de análise. Isto é, um território contínuo é um conjunto de pontos em rede numa escala determinada, noqual cada ponto representa um território contínuo, comforma e estrutura próprias e numa escala de menor dimensão. Nesse sentido, pode-se tomar, como exemplo, umagrande empresa ou uma cooperativa agrícola que teriamdiversas ramificações (filiais para o caso da empresa e, nooutro caso, propriedades rurais da cooperativa) subordinadas, em diferentes graus, à sede central.Dessa forma, os territórios-rede (descontínuos), comoarticulações entre espaços de diferentes escalas, apresentam claramente o problema de escala: em que, de um lado,na escala local (no território), está a informação factual, avalorização do vivido, a tendência à heterogeneidade, osdados individuais ou desagregados, os fenômenos manifestos; de outro lado, na escala regional ou global (no território-rede), está a informação estruturante, a valorizaçãodo organizado, a tendência à homogeneização, os dadosagregados, os fenômenos latentes (Castro, 1995) APUD (SCHNEIDER E TARTARUGA 2004, p. 105).

Os Territóriosde Cidadania, Políticas Públicas e o Desenvolvimento Territorial Rural

Essa abordagem governamental esta apoiada identificação de regiões com realidades

parecidas, baixa densidade populacional, cidades médias e pequenas, maior concentração de

agricultores camponeses ou familiares, assentamentos e acampamentos de trabalhadores

Page 7: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

rurais sem terra. Um estudo preliminar identificou quatrocentos e cinquenta territórios de

identidade no Brasil, desde pouco mais de cem foram considerados para o começo dos

trabalhos, sendo que atualmente são cento e vinte territórios de cidadania oficialmente

reconhecidos em todo o Brasil. Esta atuação esta apoiada no fato de haver certo capital social

coeso, o qual leva a carga de teorias geradas com o advento do desenvolvimento,testadas

anteriormente pelos mesmos agentes agora envolvidos.

Tal interpretação adota a concepção de território como sendo a seguinte;

(...) um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo a cidade e o campo, caracterizado por critérios multidimensionais – tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições – e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial. (MDA, 2005).

Para a Geografia, tem se mostrado como campo de pesquisa ainda inexplorado, talvez

pelo fato de ter sido “criado” por outra ciência essa política não seja ainda bem vista, ou pior,

ignorada por grande parte dos geógrafos, uma vez que “(...) ignoram que parte considerável

da realidade factual pode ser captada recorrendo ao conceito de território. A despeito das

controvérsias suscitadas por sua herança, já que sua origem costuma ser estrutura ativa (de

regressão, de permanência ou de desenvolvimento), não apenas como um perímetro-

receptáculo de eventos e atividades” (VELTZ, 1999) apud (THEIS E GALVÃO, 2008, p. 61).

Assim sendo, associada ao determinismo geográfico, a Geografia tem considerado

território como um campo de estudo sobre as relações de poder entre seus mais diversos

agentes, por conseguinte:

Para se captar o que favorece a reprodução das desigualdades sócio-espaciais no Brasil é preciso apoiar-se na análise das relações de poder. E esta remete à noção, discutida neste artigo, de território. Com efeito, é colocando sob a lupa a dimensão territorial do processo de desenvolvimento brasileiro que se pode alcançar um entendimento de como as diversas frações da classe dominante vêm exercendo sua hegemonia; de como as elites vêm operando nas diversas escalas do território, com vistas à preservação de seus interesses e privilégios; de como mudanças sociais de caráter emancipatório podem ser exitosas. Trazer o conceito de território para o centro do debate sobre o desenvolvimento brasileiro sugere uma orientação em dupla direção: de um lado, na da desconstrução, em todas as escalas (nacional, regional, local), das condições que perpetuam o pacto conservador sobre o qual repousa o atraso estrutural do país; de outro, na da construção, participativa e subsidiariamente, em todas as escalas, de uma nova hegemonia, sobre a qual possa apoiar-se uma sociedade mais equitativa (Brandão, 2007, p. 216-217) apud (THEIS E GALVÃO, 2008, p. 66).

Page 8: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Mesmo assim tem usado o termo território, mesmo que de forma muito genérica ainda

e levando as muitas interpretações, aos olhos do público a política territorial parece ter sido

baseada nos territórios da Terceira Itália3.

Geralmente as políticas públicas com cunho de compensação social pretendem, de

forma ampla, proporcionar insumos e ferramentas para que os extratos sociais em condição de

vulnerabilidade objetivem um espaço favorável e inclusivo para sua inclusão social e

consequente cidadania. “Se bem que o resgate do papel do Estado (e do planejamento

territorial) constitua um fato inquestionável, também teve lugar uma reestruturação produtiva

nos dois últimos decênios, que levou ao surgimento de ilhas dinâmicas em vários pontos do

território”Theise Galvão (2008, p. 66).Nesta ótica, a política pública denominada Territórios

de Cidadania, implantada pelo governo federal no ano de 2008, trás como finalidade

universalizar os programas básicos de cidadania promovendo o desenvolvimento econômico e

social das comunidades inseridas, atendendo a lacuna ocasionada pela demanda dos governos

locais e da sociedade em torno de aproximação e definição de suas necessidades.

Assim sendo, com a delimitação de porções do espaço brasileiro em unidades de

Territórios de Cidadania, o governo federal busca, através dessa política, reconhecer as

realidades locais dos diversos grupos sociais que compõem cada um destes territórios,

objetivando fazer frente aos desafios e barreiras sociais, econômicos, ambientais, culturais e

institucionais, objetivando a sustentabilidade através de ações conjuntas entre o Estado e a

sociedade.

Com o caráter de política pública interministerial, uma vez que engloba as ações

institucionais de ministérios e órgãos do governo federal das mais distintas alçadas,no Comitê

Gestor Nacional integram secretários executivos e nacionais de todos os

ministérios/secretarias que participam da política. Entre as principais atividades desse comitê

estão a definição de novos territórios, aprovação derelatórios de gestão, definição e avaliação

de ações da política.

No Comitê de Articulação Estadual participam órgãos federais, estaduais e

representação das prefeituras dos Territórios e possuem a tarefa de auxiliar na divulgação da 3 A Terceira Itália, modelo de desenvolvimento territorial implantado naquele país após a segunda guerra mundial, o qual para muitos intelectuais brasileiros é a base na formulação do Programa Territórios de Cidadania. Tal modelo baseia-se em uma distinção entre distritos industriais, clusters e sistemas locais de produção, acreditando-se serem essas as bases do desenvolvimento. A chamada Terceira Itália — regiões onde se localizam Milão, Turim, Bolonha, Florença, Ancona, Veneza, Modena e Gênova — caracteriza-se pela existência de grupos de pequenas empresas, cuja principal estratégia é a inovação contínua e a utilização de métodos flexíveis de produção.

Page 9: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

política no Estado, apresentar propostas para ações e para a criação de novos territórios, além

de fomentar a participação e mobilização dos colegiados e acompanhar a execução da

política. O Colegiado Territorial possui representantes das três esferas de governo e da

sociedade local tendo a diversificada participação de vários setores e segmentos sociais

(associações, sindicatos, ONGs, cooperativas, universidades, escolas técnicas, representação

dos conselhos da saúde, da educação, etc.).

Entre as atribuições dos Colegiados estão elaborar o Plano Territorial de

Desenvolvimento, sugerir novas ações para uma nova matriz, identificar demandas locais para

que o órgão gestor priorize o atendimento, apresentar projetos estratégicos para o governo,

promover a interação entre gestores públicos e conselhos setoriais (TERRITÓRIOS DA

CIDADANIA, 2008).

Os órgão governamentais envolvidos no programa são elencados na figura à seguir:

Figura 1 – órgãos do governo federal envolvidos no Programa Territórios de Cidadania

Fonte: Revista Territórios de Cidadania (2009, P.7).

Até o momento atual, foram reconhecidos e efetivados oficialmente cerca de cento e

vinte Territórios de Cidadania, distribuídos de acordo com o critério que leva em conta o seu

histórico de vulnerabilidade social e características culturais Estes estão distribuídos em

território nacional da seguinte maneira: Norte, com vinte territórios reconhecidos, Nordeste,

com cinquenta e seis, sudeste com quinze, Centro Oeste com doze e Sul com dez territórios.

REVISTA TERRITÓRIOS DE CIDADANIA (2009, p.10/11).

Page 10: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Elencamos no mapa que se segue estes territórios e sua distribuição no país:

Mapa 1 – cento e vinte Territórios de Cidadania já reconhecidos no país.

Fonte: Sistema de Informações Territoriais (SIT), acessado em jan./2013.

Ainda, de acordo com o Portal da Cidadania (2013), tomando como ponto de origem o

planejamento e a constituição dos procedimentos que abrangem e incrementam a amplificação

Page 11: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

dos serviços prestados através dos órgãos públicos envolvidos e da desconcentração das

políticas públicas compensatórias. Desconcentração esta feita do governo para a população,

ou dito de outra forma, do Estado para a sociedade como um todo, é que torna possível a

interação entre todos os atores envolvidos no processo de desenvolvimento sustentável nestes

Territórios de Cidadania, o que direciona na realização das ações incrementadas através de

sua área de abrangência, atingindo porcentagem significativa da população brasileira,

conforme quadro abaixo:

Quadro 1, abrangência do Programa Territórios de Cidadania.

Abrangência dos cento e vinte Territórios de Cidadania

Destinatários diretos Quantidade Porcentagem/Brasil

Municípios Beneficiados 1.852 33%

População 42,4 milhões 23%

População Rural 13,1 milhões 46%

Agricultores Familiares 1,9 milhão 46%

Assentados da Reforma Agrária 525,1 mil famílias 67%

Pescadores 210,5 mil 54%

Comunidades Quilombolas 870 66%

Terras indígenas 317 52%

Fonte: Revista Territórios de Cidadania (2009, P.7), tabulado pelo autor.

Então, o Programa Territórios de Cidadania origina-se através de uma proposta

ambiciosa: combater a pobreza rural. Para tanto, esta política pública baseia-se, de acordo

com o sítio oficial do Programa na Internet Portal de Cidadania (2013), no estímulo à

implantação de uma sequencia de possibilidades metodológicas de maior precisão,

originando-se através de um critério de seleção com diretrizes específicas, objetivando, desta

forma, maior coordenação e integração, com consequente aumento de eficiência no seu aporte

Page 12: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

em suas mais diversas atribuições institucionais, dos órgãos públicos envolvidos e destes com

a sociedade, os critérios de seleção são elencados no quadro à seguir:

Figura 2, Critérios de Seleção dos Territórios.

Fonte: Revista Territórios de Cidadania (2009, P.12),

Útil relacionar que durante a gestão do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, o governo

federal, apoiado na abordagem regional, realizaram a inclusão no PPA 2004-2007 (Plano

Plurianual) do PRONAT (Programa Nacional de Desenvolvimento de Territórios Rurais),

coordenadas pelas SDT (Secretaria de Desenvolvimento Territorial) do MDA (Ministério do

Desenvolvimento Agrário).Essa abordagem governamental esta apoiada identificação de

regiões com realidades parecidas, baixa densidade populacional, cidades médias e pequenas,

maior concentração de agricultores camponeses ou familiares, assentamentos acampamentos

de trabalhadores. Desta abordagem governamental que foi originado o Programa Territórios

de Cidadania, sendo que as maiorias dos territórios reconhecidos neste Programa estão

baseados nestes territórios rurais já reconhecidos como tal, sendo que atualmente existem

cento e sessenta Territórios Rurais já reconhecidos pelo MDA, quarenta a mais dos que os já

reconhecidos como sendo Territórios de Cidadania. (MDA, 2013)

Há, porém, condicionantes no que se refere ao papel do governo federal na criação dos

Territórios de cidadania, uma vez que o mesmo apenas vêm repassando recursos aos núcleos

colegiados municipais, conduta temerária, pois:

Page 13: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Não se trata, contudo, de propor uma simples transferência de recursos a articulações intermunicipais. A ideia é que essa ajuda da coletividade ao planejamento de ações locais de desenvolvimento rural tenha o caráter de uma contrapartida a determinados compromissos que deverão ser assumidos por essas articulações. Ou seja, a participação do governo federal deve ser de natureza contratual e não pode se restringir a um repasse de recursos financeiros. Nas fases de diagnóstico e planejamento, a ajuda governamental poderá até ser mais efetiva se envolver uma alocação temporária de recursos humanos com a capacitação necessária. Por exemplo, financiando grupos de estudos de universidades e de outros centros intermunicipais. E também estabelecendo contratos de financiamento apenas com as articulações que apresentarem os melhores projetos. O caráter seletivo desse tipo de arranjo deve ter como referencia a qualidade dos planos de desenvolvimento apresentados, e não qualquer outro critério prévio à análise dos Planos.(VEIGA, 2003, p. 52).

Baseado nesses fatos, o autor propõe que os na época da publicação eram

denominados simplesmente Territórios Rurais, posteriormente inclusos no Programa

Territórios de Cidadania, sejam objeto de Planejamento competente, desafiando o atraso

destas regiões e objetivando seu consequente desenvolvimento:

Está pois lançado o desafio de se propor um plano que possa realmente ajudar as regiões rurais a garantir bem-estar e cidadania aos que nelas preferirem viver. Um plano que facilite o acesso da população brasileira à efetiva liberdade de poder optar pelos modos de vida mais diretamente relacionados com a natureza. Um plano que ajude a assegurar digna existência e sadia qualidade de vida aos que prefiram habitar e/ou trabalhar fora das aglomerações metropolitanas e grandes centros urbanos. Um plano que ajude a conservar e realimentar a fonte de recursos naturais do crescimento econômico, promovendo simultaneamente justa repartição dos benefícios alcançados, em conformidade com os ideais da Agenda 21 das Nações Unidas. Um plano voltado para o efetivo respeito de cinco princípios constitucionais da atividade econômica: busca do pleno emprego, defesa do meio ambiente, redução das desigualdades regionais e sociais, função social da propriedade, e tratamento favorecido para empresas de pequeno porte”. (VEIGA, 2003, p. 52).

Metodologia

Objetivando a aglutinação das informações presentes neste estudo e para uma melhor

compreensão dos temas propostos, foi realizado o levantamento de um conjunto de

referenciais, derivados de diversos acervos bibliográficos.

Foram realizadas pesquisas e compilações através da leitura de obras de autores que

são referência na área, no Brasil e no exterior. Além disso, buscamos acervos disponíveis na

internet, consultas à legislação, além de coleta e análise de artigos publicados em periódicos e

Page 14: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

anais de eventos científicos afetos aos temas de administração, planejamento,

desenvolvimento e reforma agrária.

Inicialmente, foram adotados critérios específicos qualitativos, uma vez que, devido à

natureza diversa e multifacetada do objeto de estudo, os pesquisadores buscarão oporem-se a

simples suposição de um único modelo de pesquisa, objetivando diferenciar a natureza do

fenômeno estudado.

Constituído, por seres humanos que por sua própria característica comportam-se de

acordo com os sentimentos, experiências e valores, estabelecendo suas próprias relações

sociais.(Godoy 1995),objetivando a sistematização dos instrumentos analisados, após os

mesmos foram filtrados e incorporados ao trabalho em questão, de acordo com a sua

contribuição analítica referente aos temas propostos.

Outra parte é a reflexão realizada de forma empírica por um dos autores que é servidor

do INCRA há dez anos, lidando diretamente com a rotina administrativa da autarquia e com a

população afetada. São inúmeros os trabalhos de campo realizados entre os anos de 2004 e

2014, nestes trezentos e vinte e três projetos de assentamento, procurando, juntamente às

famílias assentadas, desenvolver e aplicar novas estratégias de desenvolvimento.

Um envolvimento profissional tão estreito, unido à uma busca pelo conhecimento

acadêmico e científico, que vem sendo realizada através do curso de mestrado profissional em

planejamento e governança pública, do Programa de Pós Graduação em Planejamento em

Governança Pública na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, permite-nos

desenvolver uma melhor reflexão acerca que esta ânsia na busca pelo desenvolvimento não é

afeta apenas aos projetosde assentamento, mas também no sentido de melhoria na

implantação do planejamento, de uma melhor administração. Este anseio é compartilhado

pelos assentados por aquela parcela do pessoal capacitado e comprometido com a reforma

agrária que compõe quadros na autarquia.

Conclusões

A construção da cidadania só é efetivada através de um processo democrático amplo.

Neste contexto, identificar e conceber territórios, partindo-se da premissa da aglutinação de

identidades regionais, é fundamental como componente de estruturação e promoção do

desenvolvimento rural sustentável.

Page 15: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Acentua-se como estímulo a esta estratégia, a necessidade em se promover e apoiar

todo o processo de desenvolvimento de competências, tanto de pessoas quanto de instituições

públicas, naqueles espaços de convivência social concebidos como Territórios de Cidadania,

com a constante articulação e implantação das políticas públicas específicas, por intermédio

de elaboração dos planos de desenvolvimento destes Territórios de forma participativa com a

população atingida, salientando-se a importância do fortalecimento das comunidades rurais,

enfatizando-se a agricultura familiar/camponesa.

Concomitantemente, a abordagem do território enquanto referencial no conceito da

evolução do desenvolvimento rural sustentável consiste em princípio essencial na elaboração

deste espaço singular para o planejamento, assim também como de identificação deste como

ferramenta de gestão participativa e descentralizada de políticas públicas.

Procura-se um acordo em que o Estado necessita ser gestado como espaço público a

sociedade participativa torne-se uma ferramenta básica decisória norteadora na busca pelo

desenvolvimento regional. O amplo acesso da população aos órgãos públicos, a gestão

participativa em orçamentos, conselhos e câmaras são instrumentos fundamentais no

planejamento do território.

Um expediente que objetive um planejamento estratégico de desenvolvimento

territorial sustentável deverá estar fundamentado na evolução, implementação e

estabelecimento de métodos que se auto completam, quais sejam: um de fomento a

participação de todos os atores envolvidos no processo de desenvolvimento regional, através

da constituição de fóruns de planejamento participativo e outro de articulação entre

instituições de políticas públicas objetivando o desenvolvimento das capacidades do espaço

ora considerado território.

Almejando conquistar o desenvolvimento, faz-se necessário trabalhar aquelas que são

as duas vertentes de execução: o aspecto político e o técnico. A primeira pode ser

compreendida como uma ação intermediária, enquanto a segunda como um objetivo

finalístico. No âmbito político, o objetivo seria o de se procurar maior entendimento e

articulação das instituições envolvidas, com vistas à conquista dos interesses comuns através

de métodos e objetivos semelhantes como metas ao desenvolvimento.

Page 16: 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E …200.19.73.116/anais2/wp-content/uploads/2015/08/652.pdf · Simpósio de Geografia da UDESC ... Trata o presente trabalho de uma caracterização

Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina

XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC

Há que se levar em conta a necessidade premente de se definir as responsabilidades

legais institucionais dos órgãos envolvidos, além de constantesdebates entre todos os atores

objetivando a defesa política do desenvolvimento territorial.

BIBLIOGRAFIA CITADA

GODOY, A.S. Introdução à Pesquisa Qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas (RAE). SP, v.35, n.2, p.57-63; mar./abr., 1995.

LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo Horizonte, UFMG, 1999.

MDA/SDT. Marco Referencial para o apoio ao Desenvolvimento de Territórios Rurais. Documentos Institucionais 02-2005.

MDA/SDT.http://portal.mda.gov.br/portal/sdt/programas/Territorios_rurais/10364997, acesso em 07 jan. 2013.

MONTENEGRO GOMEZ, Jorge R. Desenvolvimento Em (Des)Construção Narrativas Escolares Sobre Desenvolvimento Territorial Rural, Presidente Prudente, São Paulo, 439p., (Tese de Doutorado) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Unesp, 2006.

PORTAL DA CIDADANIA. Disponível em: <http://www.territoriosdacidadania.gov.br/>. Acesso em 17 dez. 2013.

REVISTA TERRITÓRIOS DE CIDADANIA. 2009, Disponível em: <http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/pageflip/>. Acesso em 20 dez. 2013.

SCHNEIDER, Sergio; TARTARUGA, Ivan GP. Território e abordagem territorial: das referências cognitivas aos aportes aplicados à análise dos processos sociais rurais. Revista de Ciências Sociais e Econômicas, Campina Grande, v. 23, n. 01, p. 99-116, 2004.

THEIS, Ivo M.; GALVÃO, Antonio C. F. A formulação de políticas públicas e as concepções de espaço, território e região. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V. 14, n. 2, Nov. 2012, p. 55-69. Disponível em:http://www.anpur.org.br/revista/rbeur/index.php/rbeur/article/view/4101 Acesso em 20 set. 2013.

VEIGA, J. E. Cidades Imaginárias: O Brasil é menos urbano do que se calcula.2 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.