45478168 Historia Da Medicina Tradicional Chinesa

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Histria da Medicina Tradicional Chinesa ZhngY LshJoo Sampaio 2002

toda a teoria falsa []; a grande cincia consiste em abraar[]; analisar uma cincia inferiorDao de jing de Laozi (Sc VI a.C.)

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ndiceI II Introduo Do Homem primitivo dinastia Shng-Yn (at 1027) Descoberta de plantas e substncias medicinais Origem de tratamentos externos, acupunctura e moxibusto Primrdios da actividade mdica e proteco da Sade Desenvolvimento da Medicina e Farmacopeia Chinesa desde a dinastia Zhu poca dos Sn Gu(trs reinos) (1027 a.C 265 d.C.) Incio da compreenso das doenas Os sculos VI e V a.C. Ocidentais Inveno dos vinhos medicamentosos e decoes Gnese na proteco da sade Criao de um Sistema de Servio Mdico Formao de um sistema terico mdico O pleno desenvolvimento da Medicina e Farmacopeia Chinesa (desde as Dinastias X Jn, (anterior) e Hu Jn, (posterior) at s Dinastias Sui, Tang e Wda (Cinco Dinastias), (265d.C. 960d.C.) Cronologia de 220 a 960 Sistematizao da palpao do pulso Desenvolvimento nos factores patognicos e sintomatologia Progresso da Matria Mdica e da Medicina Sumrio de preparaes medicinais O grande desenvolvimento da Medicina Clnica Cirurgia Traumatologia Obstetrcia Pediatria A educao mdica e o sistema administrativo As trocas mdicas entre a China e os Pases estrangeiros Sistematizao Mdica, Desenvolvimento e Debates de Aprendizagem (Dinastias Song e Ming 960 1368 D. C.) Cronologia de 895 a 1644 Desenvolvimento da Educao Mdica Frmulas Acupunctura e moxibusto Ginecologia Pediatria Cirurgia e Traumatologia Medicina Forense Debates Mdicos durante as dinastias Jin e Yuan Trocas entre a China e pases estrangeiros Novos desenvolvimentos na teoria mdica e prtica (Ming e Qing 1368-1840) Farmacologia Tradicional Chinesa Desenvolvimento Sem Precedentes e Popularizao das Frmulas de Farmacologia da Medicina Tradicional Chinesa Especialidade de medicina interna 4 14 19 21 24 32 37 39 41 45 48 49

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59 60 63 65 65 69 72 73 73 74 75 76 78 81 82 86 87 90 92 92 93 94 94 97 99 104 107 109 2

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Cirurgia e traumatologia Obstetricia e ginecologia Pediatria Especialidade de oftalmologia, estomatologia e dentista e laringologia Acupunctura Terapia Popular Investigao Efectuada sobre os Clssicos Mdicos e Compilao de Diversos Trabalhos Mdicos VII Fim do imprio VIII Bibliografia IX Anexo

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IntroduoUm verdadeiro mbil de foras que trabalham contra ns hoje em dia na sia e em frica no dio milenar mantido pelo orientalismo asitico contra as ltimas rstia da era da civilizao ocidental que ainda ardem nessas regies. O que o Oriente no pode suportar, a luz potente e redentora numa cultura que proclama a liberdade civil e moral do homem contra essa tirania da casta que a tirania de base de todas as filosofias orientais. o que explica que a maravilhosa tecnologia da civilizao ocidental tenha sido totalmente assimilada, desde as fronteiras da sia at aos confins do Japo, sem ter sido sujeita, junto dos povos, a qualquer modificao das suas concesses filosficas e religiosas da vida humana. como se a China, a Rssia, a ndia e o Japo, para apenas nomear os maiores pases, tivessem tirado partido unicamente das cincias experimentais da nossa civilizao de forma a armar-se e equipar-se para destruir finalmente tudo o que mais profundo e essencial, o seu esprito e a sua moral1 Este texto, escrito por Costa Brochado em 1964, atesta bem a posio da Europa como a nica depositria da verdade factual dngrn. Alis, a verdade uma noo muito europeia 2. Assim, no cabe aos portugueses a exclusividade chauvinista em relao aos povos orientais, encontrando-se isso em textos semelhantes nos variados livros de histria dos diversos pases europeus3. A insaciada intolerncia alteridade paixo de que se alimenta o nosso pensamento levou-nos a ver vcuo naquilo que no nos reflecte, a classificar de incompleto o que de ns difere. 4 A posio antropolgica europeia, na interpretao do mundo oriental utilizando princpios desenraizados e mentalidades completamente desfasadas, continuamente atingem concluses destitudas de qualquer fundamento, tornando-se na sua maioria completamente ridculas. No h ningum no mundo com uma viso pura de preconceitos. [] A histria da vida individual de cada pessoa acima de tudo uma acomodao aos padres de forma e de medida tradicionalmente transmitidos na sua comunidade de gerao em gerao. [] Todo aquele que nasa no seu grupo delas partilhar com ele, e todo aquele que nasa do lado oposto do globo adquirir a milsima parte dessa herana5 De facto estes princpios so o produto de processos mentais, culturalmente prdeterminados, pelo conjunto dos factores constitutivos duma civilizao. Eles influenciam e modelam o julgamento, em todas as relaes que o esprito mantm com o real. o olhar que ns temos acerca das outras culturas e os conhecimentos que os acompanham, que agem ento como um verdadeiro prisma deformante. As diferentes facetas deste prisma so de ordem ideolgica, linguistica, e histrica. Se ns no tivermos conscincia destas deformaes, a compreenso que ns temos dos termos e1 2

Brochado, Costa Henrique o Navegador, Lisboa, 1964 Julien, Franois Le detour dun Grec par la Chine. In http://www.twics.com/~berlol/foire/fle98ju.htm, p. 2 (Retirado da Web em 27.11.2000) 3 Needham, Joseph La science chinoise et lOccident, ditions du Seuil, 1973 4 Moscovici, Serge A sociedade contranatura. Teorema, Livraria Bertrand. 1977. p. 35 5 Benedict, Ruth Padres de cultura. Edio Livros do Brasil. Lisboa, s/d, pp.14 15

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dos conceitos desenvolvidos por outra cultura, faz-se atravs dos critrios prprios da nossa, e, deste facto, incapazes de os integrar6 Ao falarmos da Histria da Medicina Chinesa no podemos deixar de pensar que a sua anlise sempre vista, por ns, numa lgica indutiva, i.e., do particular para o geral, e numa perspectiva antropolgica ocidental, e que a mesma contm erros nomeadamente, como a que j vimos acima, e que dizem respeito a uma incapacidade de penetrar na mentalidade oriental, cuja lgica essencialmente dedutiva se movimenta do geral para o particular. []Todas as parteiras chinas e canarias (da raa canarim7) curam de medicina e de quantas enfermidades h, sem ningum saber o que elas sabem. E como as mulheres dos portugueses, as mais delas, so chinas ou tm parte disso, so mais afeioadas a este modo de cura, por ser o seu natural e, pelo contrrio, estranham muito as curas ao modo portugus. De maravilha consentem que seus maridos faam uma cura perfeita ao nosso modo - como muitas vezes aconteceu - que, ordenando eu tal ou tal coisa ao enfermo, ou no lhe aplicar o que se lhe mandou fazer, ou acabam com ele que no faa. Estando actualmente curando, ao presente, dois portugueses, sem minha ordem chamou-se a cada um deles a sua parteira, com as quais se curavam e por esta desordem se foram para a outra vida8. Tentando sobrepor o poder curativo do Ocidente ao homnimo chins, o texto mostra ainda mais um pequeno pormenor, que, no nosso caso, se torna, no s sintomtico como importantssimo curam de medicina e de quantas enfermidades h, sem ningum saber o que elas sabem. A ignorncia acerca do Mundo Asitico, especialmente o Chins era uma realidade, exceptuando-se alguma aco no tempo da missionao jesutica. Alis, em 1877, o explorador Baro de Richthofen afirmava: Em nenhuma regio alargaram mais seus horizontes os missionrios da f crist, nem fizeram mais importantes conquistas para a cincia do que na China. frente de todos se nos deparam os jesutas do sculo XVII e XVIII, sem cuja actividade to vasta e profunda, a China, se exceptuarmos a costa, ainda hoje seria para ns uma terra desconhecida9. Excepes havia acerca do saber milenar chins, porm, a perspectiva era maioritariamente tendenciosa no sentido de serem os Ocidentais a levar o saber ao Oriente do que o inverso, e nem sempre com objectivos altrustas: de todas as matemticas [os chineses] so muito curiosos10ou ainda de todas as naes a China a que mais aprecia a Matemtica e Astronomia com tal excesso que parece faz depender destas cincias a conservao da monarquia e o bom governo do Estado11.Ribaute, Alain, Le barbare cuit, ou comment penser chinois, le dificile chemin qui mne de la plume au pinceau, de Alpha Wen. Revue Franaise de Mdecine Traditionnelle Chinoise. Em publicao. 7 habitante do Canar era o nome duma vasta regio no planalto dos Gates[...]abrangida actualmente por Maior e pelos distritos ocidentais de Hidrabad. In Dalgado, Sebastio Rodolfo Glossrio Luso-Asitico. Asian Educational Services. New Delhi. 1988 8 Representao enviada de Macau em 21 de Dezembro de 1625, in J. Caetano Soares, Macau e a Assistncia, Macau, 1950 9 Richthofen, Ferdinand von China. Berlim, 1877, I, p. 653 10 Semedo, Padre lvaro Imperio de la China. Lisboa, 1731, p. 53 11 Bosmans Documents relatifs Ferdinan Verbiest. Bruges, 1912, p.126

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Consequentemente, ser o Padre Matheus Ricci, apelidado de primeiro sinlogo12que ir explorar esta situao, pedindo e conseguindo junto do Geral da Companhia de Jesus huomini de buono ingegno e letterati13 capaz de emendar com segurana os erros da Astronomia snica e granjear para os missionrios a autoridade necessria ao seu ministrio de mestres da Religio14, o que, em alguns momentos, foi conseguido com xito, corroborando-se uma vez mais o Europocentrismo de imposio. No deixa de ser curioso que[] todo o estudo cientfico exige a ausncia de tratamento preferencial de um ou de outro dos termos da srie escolhida para ser estudada. [] S no estudo do prprio homem que as mais importantes cincias sociais substituram aquele mtodo pelo estudo de uma variao local a civilizao Ocidental.15 O prprio nome China, provavelmente deriva de Qn 16 nome de um dos reinos que existiram entre 453 e 222 a.C., localizado na zona montanhosa de Shensi, no extremo NE do mundo chins de ento, e que aps unificar os seus rivais fundou uma dinastia imperial homnima. Este nome, era o que era dado China pelos habitantes da sia Central, e que se supe ser a origem do nome snscrito Cna (c = tx), e que estar na origem do malaio e javans Cina (c = tx) e de elementos correspondestes na ndia moderna, onde o portugus China ter a sua origem que, por sua vez ter influenciado o mundo lingustico ocidental17. Daqui podemos observar que a denominao Zhnggu (Pas do Centro), que os chineses atribuem ao seu pas, no foi adoptada por nenhuma das lnguas ocidentais, perdendo-se, at na denominao China, o contedo da sua essncia. Os milhares de ciclos chineses (60 anos cada) tiveram em si a transformao constante, helicoidal (preconizado segundo o ciclo cosmolgico do Yjng), e o progresso auto-regulador, como um organismo vivo que muda lentamente de equilbrio, ou como um termostato vemos que os conceitos da ciberntica poderiam muito bem ser aplicados a uma civilizao que se soube manter numa trajectria segura, em cada momento, como se estivesse equipada com um piloto automtico, usando uma srie de feed-backs, permitindo restabelecer o statu quo a seguir a todas as perturbaes18, i.e. Zh (colocar em ordem)19. Uma sociedade que tinha normas muito estveis e que tinha como virtude no se deixar entravar: ela tem logicamente como condio a atitude de permanecer, em qualquer ocasio, na posio central (zhong) que s permite reagir totalidade da situao, de evitar tanto o excesso como o defeito e de promover a capacidade de fazer acontecer (cheng) na

Atti del IV Congresso Internazionale degli Orientalisti, II, p. 273 Venturi, Tacchi, Opere Storiche del P. Matteo Ricci. Macerata, 1913, II, ; carta de Pequim de 22 de Agosto de 1608 14 Rodrigues, Francisco Jesutas portugueses astrnomos na China- 1583-1805. Instituto Cultural de Macau, 1990 15 Benedict, Ruth Padres de cultura. Edio Livros do Brasil. Lisboa, s/d, pp.15 - 16 16 Ideograma [955] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p. 172 17 Tomaz, Luis Filipe CHINA. In Albuquerque, Lus de (Dir.) Dicionrio de Histria dos Descobrimentos Portugueses, Crculo de Leitores, Lisboa, 1994 18 Needham, Joseph La science chinoise et lOccident, ditions du Seuil, 1973, p.103 19 Cheng, Anne L ou la leon des choses. In Philosophie Philosophie Chinoise, Les ditions de Minuit (44) Dec. 1994, p. 5513

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sua integralidade 20. Pas do Centro que indica a temperana duma civilizao em oposio aos costumes dos Outros, [],do pas onde reina a justa moderao da civilizao no meio dos brbaros.21. Conforme elogia Ferno Mendes Pinto: [] H tambm outras embarcaes em que vem grande soma de mulheres velhas, que servem de parteiras e do mezinhas para botarem as crianas, e fazerem parir ou no parir. H outras embarcaes em que vem grande soma de amas para criarem enjeitados e outras crianas, pelo tempo que cada um quiser. [] Destas grandezas que se acham em cidades particulares deste imprio da China, se pode bem coligir qual ser a grandeza dele todo junto, mas para que ela fique ainda mais clara, no deixarei de dizer (se o meu testemunho digno de f) que nos vinte e um anos que duraram os meus infortnios, em que por vrios acidentes de trabalhos que me sucediam, atravessei muita parte da sia, como nesta minha peregrinao se pode bem ver, em algumas partes vi grandssimas abundncias de diversssimos mantimentos que no h nesta nossa Europa, mas em verdade afirmo que no digo eu o que h em cada uma delas, mas nem o que h em todas juntas vem a comparao com o que h disto na China somente. E a este modo so todas as mais cousas de que a natureza a dotou, assim na salubridade e temperamento dos ares, como na polcia, na riqueza, no estado, nos aparatos, e nas grandezas das suas cousas; e para dar lustro a tudo isto, h tambm nela uma tamanha observncia da justia, e um governo to igual e to excelente, que a todas as outras terras pode fazer inveja, e a terra a que faltar esta parte, todas as outras que tiver, por mais alevantadas e grandiosas que sejam, ficam escuras e sem lustro.22 Mas se esta viso do Oriente nos parece estranha, observe-se como Zhang Ting-you, no tempo dos Ming via os portugueses: [] pode dizer-se que o objectivo primeiro a vinda de Fu-lang-chi23 para a China foi o comrcio e que no havia quaisquer ms intenes, pelo menos no princpio. Embora suspeitouso dos seus motivos e, por conseguinte recusando-lhe o direito de pagar tributo (de Comrcio), o governo Ming no teve, contudo, nem o poder nem a vontade para fazer cumprir a interdio. O resultado foi um debate constante e uma confuso sem fim. As gentes de Fu-lang-chi so altas e tm grandes narizes. Os olhos so como os do gato e a forma da boca como a da guia. O pelo cresce-lhes at nas costas das mos e as suas barbas so vermelhas. Amam o comrcio e, apoiados no seu poder militar, tm o hbito de invadir e oprimir os pases mais pequenos. Vo a qualquer sitio onde haja lucro. O seu pas, algumas vezes referido como reino Kan-la-hsi, produz coisas valiosas como chifres de rinoceronte, presas de elefante, prolas e conchas raras. Usam roupas limpas e bonitas. Os toucados dos ricos so muito elegantes, mas as pessoas vulgares tm que se satisfazer com um chapu de palha ou de bambu. Um homem de posio inferior, quando v o seu superior, geralmente, afasta-se. Ao principio os de Fu-lang-chi eram devotos budistas; somente mais tarde mudaram a sua religio para o catolicismo. Utilizam os dedos para indicar a quantidade de dinheiro que tencionam pagar pelaJullien, Franois loge de la fadeur. ditions Philippe Picquier. 1991, pp. 42-43 Ryjik, Kyril Lidiot chinois. Payot, 1983, pp. 287-288 22 Pinto, Ferno Mendes Peregrinao. Edio cotejada com a 1 edio de 1614. Europa-Amrica. Mem Martins. 1988, Cap. 99 23 Flngj (francos) Durante a dinastia Ming, designa tambm os portugueses e os espanhis. Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, p. 39321 20

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mercadoria; no costumam escrever os contratos, mesmo quando as transaces envolvem milhares de taels24 de prata. Sempre que surge uma disputa, as partes envolvidas apontam para o cu e juram dizer a verdade. Normalmente no se enganam uns aos outros. Depois da conquista de Malaca, Pacem25 e Luzon26, nenhum dos outros pases ocenicos ousou desafiar a sua autoridade.27 De facto, a Europa baseia todo o seu pensamento na filosofia greco-romana, onde o princpio da ordem das coisas joga um papel fundamental na causa e efeito, onde as relaes so pobres no que respeita s referncias como um todo. Para o ocidental a verdade factual em cada momento o elemento mais importante. Esta verdade baseia-se no conceito de realidade cujo conceito etimolgico deriva da palavra real que por sua vez deriva do latim res28, objecto, matria, coisa palpvel, isto , coisa detectvel pelos sentidos. A verdade torna-se esttica, justificvel por si prpria, e portanto imutvel e/ou definitiva. Assim, o ocidente apenas acredita na existncia do que detectado pelos sentidos ou pelos instrumentos concebidos pelo seu racionalismo. Para os chineses, porm, a verdade uma verdade moral isto , a verdade tem como base a maneira justa ( Do)29 de fazer as coisas, o que faz desabrochar toda uma mentalidade dos valores do pensamento chins como um pensamento cosmolgico, que tem, como referimos, por base encontrar as chaves inteligveis do mundo, isto , as suas leis, as inter-relaes dependentes do lugar e do momento, i.e., da circunstncia. De facto, h que descobrir outros modos de inteligibilidade para alm da que a Europa detm 30. O pensamento chins um pensamento essencialmente relacional. Para se dizer paisagem, diz-se montanha e gua [] shnshi 31. Talvez por isso ao ler-se Confucius ou Chouangzen, no h a noo de verdade. O sbio chins autntico, [ ] zhnrn, mas autntico, no verdadeiro. [] portanto, a noo de verdade ela prpria uma noo particular. prefervel falar de inteligibilidade de coerncia 32 Para a China a eficcia da aco humana encontra-se na harmonia com o processo natural: existe uma relao de arranjo e a organizao que esto inseridas em sistemas24

Peso e moeda de conta no Extremo Oriente, equivalente 16 parte do cati ou a uma ona.O tael no tem existncia real. Representa um certo peso de prata pura que varia conforme as localidades. (Marques Pereira, Ta-ssi- yng-ku, Outubro de 1899).. In Dalgado, Sebastio Rodolfo - Glossrio Luso-Asitico. Asian Educational Services. New Delhi. 1988 25 Antigo reino do noroeste da ilha Samatra ou Sumatra. In Visconde de Lagoa - Glossrio Toponmico da antiga historiografia portuguesa ultramarina. Junta da Misses Geogrficas e de Investigao do Ultramar. Lisboa. 1950 26 Ilha filipina de Luo ou Luzon. In Visconde de Lagoa - Glossrio Toponmico da antiga historiografia portuguesa ultramarina. Junta da Misses Geogrficas e de Investigao do Ultramar. Lisboa. 1950 Zhang Ting-you Mng Sh (Histria dos Ming) Torrinha, Francisco Dicionrio Latino-Portugus. Edies Marnus, Porto. 1945 29 Cheng, Anne L ou la leon des choses. In Philosophie Philosophie Chinoise, Les ditions de Minuit (44) Dec. 1994, p. 52 30 Julien, Franois Le detour dun Grec par la Chine. In http://www.twics.com/~berlol/foire/ fle98ju.htm, p. 2 (Retirado da Web em 27.11.2000) 31 Idem, p.3 32 Idem, p. 1628 27

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mltiplos e hierrquicos, orientados e multifacetados que se sobrepem e se reorganizam de mltiplas formas, mas mantendo-se a responder a uma identidade estrutural reveladora da unidade ordenada do universo. Tal vivncia poderemos chamar de aco do homem no seu ecossistema. Se, como refere Hofstadter, o que caracteriza o pensamento [] uma representao flexvel, intencional, do mundo33, existem, porm, grandes diferenas na estrutura mental ocidental e oriental. Na lgica do ocidental, os elementos so linearmente concatenados, ao passo que no Oriente a estrutura mental funciona em rede, ou melhor, a sua aprendizagem funciona em espiral, onde os fenmenos aparecem como sinais uns em relao aos outros, a que no ser estranha a sua forma de representar o pensamento, i.e., a escrita ideogrfica, que aps 4 milhares de anos, a sua evoluo interna e a sua evoluo grfica so praticamente imperceptveis34. Melhor dizendo, o pensador ocidental compara-se a um oleiro que trabalha o barro a seu belo prazer, sem quaisquer tipos de limitaes, sem se preocupar com o mundo real que o cerca, dando largas sua imaginao criadora, muitas vezes filha exclusivamente da sua prpria abstraco terica limite, i.e., do tempo sem espao ou, estaticamente, do espao sem tempo35. Em contrapartida, o pensador chins como um lapidador, onde os veios naturais do jade so estudados para encontrar a ordem da Natureza, o que caracteriza a mentalidade chinesa por um gosto pronunciado por esta ordem, onde todo o ser deve ser objecto de uma estimulao segundo as tendncias naturais36. Nada pode escapar trade tin d rn cu terra homem; O cu envolve, contm e alimenta a terra com a sua energia, a qual produz, realiza e transforma. Produto e testemunho do cu e da terra, o homem formado pelas mesmas substncias, regido no interior do seu corpo pelas mesmas leis. A vida no seno a resultante das suas mudanas permanentes e inelutveis. Alimentar-se, respirar, participam desta fisiologia csmica37, isto , o universo fornece as prprias linhas da inteligibilidade, o sentido e a coerncia no advm do esprito humano em si, mas da anlise paciente e perspicaz do mundo envolvente: o microcosmos o espelho do macrocosmos. curioso como este conceito tambm existiu na Grcia antiga, com Demcrito (cerca de 460-370 a.C.), uma vez que este ensinava que o ser humano era um mundo em miniatura, um microcosmos, que reflectia todo o universo, o macrocosmos. Como um reflexo do macrocosmos, o microcosmos continha tomos de todo o tipo. Assim, at o pensamento, conscincia, sono, doena, e morte podiam ser explicados em termos da qualidade dos tomos ou perda de tomos. Ele interessou-se especialmente pela natureza da respirao porque pneuma, ou sopro vital, composto de luz, tomosalma altamente mveis, serviam como o veculo da vida 3833

Hofstadter, Douglas R. Gdel, Escher, Bach: Laos Eternos. Gradiva. 2000, p.358 Higounet, Charles Lcriture. Que sai-je? PUF. 1976, p. 30 35 A institucionalizao da ideia no ocidente pode dar-se como exemplo, a noo de cidado. Ningum, at hoje, viu o cidado, de facto h cidados, o cidado A, o cidado B, mas o cidado em si no tem correspondncia com o universo sensvel. 36 Cheng, Anne L ou la leon des choses. In Philosophie Philosophie Chinoise, Les ditions de Minuit (44) Dec. 1994, p. 53 37 Desroches, Jean-Paul La cigale et le Qi. In Unschuld, Paul U. - Mdecines Chinoises, Indigne ditions, 2001, p.11 38 Magner, Lois N. A History of the Life Sciences, 2 ed., Marcel Dekker, Inc., New York, 1996, p. 2534

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Alis, "organizao social e modo de pensar, esto intimamente imbricados num sistema de inter-gnese, e de inter-justificao recprocas, que formam o cadinho das ideologias. Na civilizao chinesa, mais, talvez, que em qualquer outra, a simbiose entre pensamento e sociedade, foi levada ao seu nvel de manifestao mais perfeito. Assim a referncia simblica estrutura social, extremamente frequente, no sistema conceptual da medicina chinesa tradicional. O conhecimento das caractersticas elementares dos sistemas sociais e ideolgicos da civilizao chinesa, e igualmente importante, para afinar a sua compreenso no estudo da medicina chinesa. Isto joga, com efeito, um papel primordial nos sistemas de representao, e as construes intelectuais, na base de numerosos processos de abstraco do pensamento chins. A reduo do conhecimento nica expresso cientfica, o condicionamento linguistico, e o molde scio-ideolgico, so os trs grandes amortecedores dos pressupostos antropolgicos ".39 O Taosta, alis, considerava necessrio observar uma via, um (Do)40, o que ele considerava ser a ordem da natureza. como se o taosmo pressentisse que o Homem s se conseguia socialmente organizar de uma forma correcta, integrado na natureza. Os ermitas taostas, retiravam-se da sociedade humana a fim de contemplar a natureza, tentando compreend-la atravs da intuio e da observao, o que os levou ideia de que todo o movimento pode ser exactamente previsto, dadas as leis do movimento e as condies iniciais em que se encontravam os objectos. Ora isto no seno o princpio do determinismo causal de Newton e dos seus herdeiros atravs do Sc. XVIII.41 No podemos deixar de notar a correlao entre isto e o facto de ter sido na China que se iniciaram a qumica, a astronomia e a anatomia, que podemos considerar como os primeiros passos do que veio a ser o mtodo cientfico. Ora, como refere Hawking: Tem sido certamente verdade no passado que aquilo a que chamamos inteligncia e descobertas cientficas tm acarretado uma vantagem de sobrevivncia. J no to claro que isto se mantenha: as nossas descobertas cientficas podem perfeitamente acabar por nos destruir a todos 42. Por outro lado, existe a "convico que o pensamento cientfico, no o nico mtodo que permite ao esprito humano um autntico acesso ao conhecimento real; [] existem, para o conhecimento, outras vias, diferentes, mas no menos justificveis, que o mtodo cientfico". 43 No por acaso que a China pensa menos [na] linearidade entre incio e fim do que num retorno circular das Estaes, [] porque calmamente, simplesmente, a vida no39

Ribaute, Alain, Le barbare cuit, ou comment penser chinois, le dificile chemin qui mne de la plume au pinceau, de Alpha Wen. Revue Franaise de Mdecine Traditionnelle Chinoise. Em publicao. 40 (1) Estrada, via, caminho. [] (3) (derivao metafsica na decadncia do taoismo) realidade e movimento espontneo do que existe. In Ryjik, Kyril Lidiot chinois. Payot, 1983, p. 320 41 Goswami, Amit O Universo autoconsciente como a conscincia cria o mundo material. Editora Rosa dos tempos. Rio de Janeiro. 1998, p. 36 42 Hawking, Stephen W. Uma breve Histria do tempo. Circulo de Leitores.1988, p.29 43 Ribaute, Alain, Le barbare cuit, ou comment penser chinois, le dificile chemin qui mne de la plume au pinceau, de Alpha Wen. Revue Franaise de Mdecine Traditionnelle Chinoise. Em publicao.

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para de se renovar fazendo-o no desaparecimento. Mas sem angstia, porque se sabe que tudo volta um dia na altura prpria. Que a nica arte, a nica validade de tudo fazer no momento certo. A estao serve de facto de base. De base vida, ao nascimento. O homem deve harmonizar-se com as mutaes do Cu e da Terra.44 Extrado do Da D Jng poderemos referir: O Homem tomar portanto modelo na Terra A Terra tomar modelo no Cu O Cu tomar o modelo da via A via modela-se no natural45 Ao contrrio do ocidente, a "adivinhao" chinesa no procura os pressgios, isto , no h uma interpretao do homem. O que existe o decifrar do decorrer dos acontecimentos. O seu fim a explicao do sentido conjuntural escondido dos elementos procurados e no a identificao dos sinais singulares da boa ou m sorte46. A corroborar tal facto, podemos referir como um primeiro exemplo deste facto, a utilizao prtica dos ritmos bioenergticos, presentes na confluncia dos troncos celestes e ramos terrestres nos ciclos Jaz, que os leva a conseguir prever, no s as tendncias das condies climatricas para cada ano, como ainda o pendor patolgico previsvel e as fragilidades energticas de acordo com estes ciclos. No h o absoluto, uma coisa no existe seno pelas relaes que ela detm. A sua existncia a consequncia das suas relaes, do mesmo modo que o inverso. Existe aqui uma ligao dialctica. 47O segundo exemplo faz parte dos cinco clssicos da tradio confuciana, o Yjng (o livro das mutaes)48, que contm 64 hexagramas, cada um dos quais evidencia o binmio espao-temporal, onde cada momento (tempo) e cada posio ( espao), identificam a ordem, e cada elemento em concreto. 49 Para aJulien, Franois Le bon moment. In La recherch Hors-serie n 5 Avr 2000, pp. 60-61 Dao De Jing Extracto do Captulo 25 46 Vandermeersch, Lon Ecriture et divination en Chine. In Espaces de la lecture, Anne-Marie Christin (Ed.), Bibliothque publique dinformation du Centre Pompidou, Editions Retz. 1988, pp. 66-67 47 Van Nghi, Nguyen; Bijaoui, Andr Les Bases fondamentales de lacupuncture/moxibustion Zhn Ji . Editions Autres Temps. 2000, p.9 48 Como veremos um pouco mais frente, se pudermos supor que as formas mais antigas da histria no mundo chins so como o prolongamento dos arquivos divinatrios em osso e em carapaa de tartaruga, a prpria adivinhao desenvolveu-se de forma autnoma na poca dos primeiros reis de Zhou. Paralelamente adivinhao pelo fogo que subsistir durante muito tempo por causa do seu carcter venervel, um novo procedimento por sua vez mais cmodo e mais complexo viu nascer o dia. Consiste na manipulao de leves varas feitas de caule de aquileia em que os nmeros pares ou impares permitem construir desenhos compostas de seis linhas contnuas (nmeros mpares) ou interrompidos (nmeros pares. Estes hexagramas num conjunto de 64 traduzem e realizam todas as estruturas possveis do universo e so dotadas duma fora dinmica por causa das possibilidades de mutaes de cada uma das linhas, masculinas ( yng) ou femininas ( yn), no seu impulso ou no seu declnio. Continuando a tradio dos adivinhos da poca dos yn, os especialistas da adivinhao por aquileia (shi) haviam de fazer nascer os primeiros elementos duma concepo do mundo, como um conjunto formado por foras e pelas suas origens opostas e complementares, e contriburam para os primeiros desenvolvimentos das matemticas. Os seus reflexos foram, no mundo chins, a origem das cincias e da filosofia. - Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, p. 83 49 O significado da mudana est ligado ao significado do tempo [], uma ausncia de mudana uma ausncia de tempo, e o tempo, mais que uma mudana dependente da mente. A mudana o que45 44

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mentalidade chinesa a ordem zh e o caos lun so fundamentais. Em cada momento de um novo pensamento, o livro das mutaes torna-se uma fonte renovada do pensamento chins onde existe uma identidade entre a estrutura (em forma de ordem) o yn, e a mutao yng, j que o caos considerado como uma desordem, isto , uma forma de ordem. O Do aparece como a estruturao do modo na totalidade bem ordenada, onde cada hexagrama descreve assim um aspecto da vivncia 50. O corpo humano[] aparece como que percorrido pelo [ 51] Q,52 i.e., o sopro. Etimologicamente falando, este Q [parece no estar] muito longe da noo de pneuma dos Gregos[]. A combinao dos ideogramas vapor e alimento evocam a frmula hipocrtica: [Fusai ek twn perrittwn mantwn 53]- os humores brotam do alimento. 54 A medicina Chinesa est baseada na cincia da compreenso do processo funcional da natureza como ela existe dentro do ser humano 55. A O Ni Jng Su Wen afirma seguir as leis do yin e do yang significa vida; actuar contrariamente s leis do yin e do yang significa morte. Seguir estas leis resulta na ordem (zh: ); actuar contrariamente a elas resulta no caos (lun: )56. Quando a doena se instala, ela leva desordem e perturba o Q. O remdio prioritrio levar a colocar o Q em equilbrio de forma a favorecer o retorno da Primavera 57.

acontece actualmente, na actualizao de uma dada entidade. O tempo a emergncia de uma srie de actualizaes logo que esteja estabelecida uma sequncia de fases dentro da actualizao. Brown, Jason W. Mind and Nature Essais on time and subjectivity. Whurr Publishers, London, 2000, p. 11 50 Vinogradoff, Michel Y Jng ou la marche du Destin. ditions Dervy, Paris, 1996 51 Ideograma [485] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.87 52 O que hoje os neurobilogos identificam como sendo o Biomagnetismo, atravs de magnetmetros como o SQUID Superconducting Quantum Interference Device Oschman, James L. (PhD) Energy Medicine The Scientific Basis. Churchill Livinstone, London, 2000, p.30 e p.80 53 physai ek ton perittomanton 54 Desroches, Jean-Paul La cigale et le Qi. In Unschuld, Paul U. - Mdecines Chinoises, Indigne ditions, 2001, p.11 55 Jarrett, Lonny S. Nourishing destiny. Spirit Path Press, Stockbridge, 2000, p.23 56 Idem, Ibidem 57 Desroches, Jean-Paul La cigale et le Qi. In Unschuld, Paul U. - Mdecines Chinoises, Indigne ditions, 2001, p.11

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Do Homem primitivo dinastia

Shng-Yn (at 1027)14

Quando caminhamos para as origens do tempo, cada povo insere na Histria dos tempos mais remotos um conjunto de elementos pertencentes ao limiar do possvel, rsteas e interpretaes de transmisses consecutivas, cuja mutao conjuntural em nada diminui a estrutura da memria social que pretende preservar, transformando-se as mais das vezes em mito, lenda ou rito. Deste modo devemos consider-los vlidos nas nossas observaes, no obstante a sua transmisso veicular aparentes fantasias, porque os mitos e os ritos oferecem como valor principal a preservao at aos nossos dias, de uma forma residual, modos de observao, e de reflexo que foram (e permanecem sem dvida) exactamente adaptados a descobertas de um determinado tipo: aquelas que autorizavam a natureza, a partir da organizao e da explorao especulativa do mundo sensvel em termos do sensvel. Esta cincia do concreto devia ser, pela essncia, limitada a outros resultados do que os prometidos s cincias exactas e naturais, mas ela no foi menos cientfica, e os seus resultados no foram menos reais. Assegurados dez mil anos antes das outras, ela so sempre o substracto da nossa civilizao 58 habitual considerar que alguns testemunhos sseos fragmentrios pertenceram aos prhomindeos do gnero Australopithecus, que existiram h cerca de 5 milhes de anos na Terra. Diversos cientistas consideraram que vestgio humano encontrado em Olduvai (Tanznia) ter vivido h cerca de 1.500.000 Fig.1 - Homem de Pequim , c. de 500.000, anos, onde parecia ter existido a gnese da encontrado em fabricao de utenslios, o que veio Zhukudin, em Dezembro de etimologicamente a nomear os representantes 1929, conhecido tambm por desta espcie: Homo habilis, no, ainda um Sinanthropus Homo sapiens, mas um intermdio entre os australopitecdeos e o primeiro homem. Porm, coexistindo com o Homo habilis, foi encontrado na China, na provncia de Ynnn e mais evoludo, o Homem de Yunmu, , cuja datao ascende a 1.700.000 anos. A existncia de cinzas e de ossos carbonizados perto do local onde foram desenterrados os dentes do Homem de Yuanmou sugere o possvel uso do fogo 59. A esta espcie encontrada na China, cujo representante mais antigo foi encontrado em Java (chamaram-lhe, inicialmente, Pithecanthropus) foi dado o nome de Homo erectus, e considerado o primeiro homem. (Entre a maior parte da comunidade cientfica, as caractersticas que poda caminar erguido, era capaz de producir y utilizar instrumentos simples, saba hacer uso del fuego y conservarlo[] 60, reuniu as condies fundamentais para garantir estar-se em presena do homem e no de um prhomindio). Para alm do encontrado em Yunmu, conhecem-se, entre outros desta espcie, o Homem de Lntin, com cerca de 800.000 anos, que detm uma caixa craneana de 780 cm3 contra os 656 cm3 do Homo habilis, mas com um aspecto ainda primitivo, onde se sobressai um crnio espesso com mandbulas salientes. Mas o mais conhecido foi descoberto em Zhukudin,perto de Pequim, cujos58

Levi-Strauss, Claude, La pense sauvage. Librairie Plon, Paris. 1962, pp. 29-30 Cotterell, Arthur China uma Histria cultural. Instituto Cultural de Macau. Gradiva. 1999, p.26 60 La Historia Coleccion China. Ediciones e lenguas extrangeras. Beijing. 1984, p. 659

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exemplares mostraram caixas cranianas entre 850 e 1300 cm3. Alm de fragmentos de quartzo talhados tambm se encontraram, mais uma vez, vestgios do uso do fogo. Com uma idade de 500.000 anos (ou mesmo 690.00061), ainda pertencendo ao Paleoltico inferior (que termina cerca 50.000 a.C.). Os seus descobridores vieram a chamar-lhe Sinanthropus ou Homem de Pequim62 , Fig. 1. A vida deste homem primitivo chins no ter sido diferente de outros elementos contemporneos em outras partes do globo. A sua dependncia da natureza era fundamental, movendo-se no acompanhamento das mudanas sazonais de recursos naturais, para no falar das dificuldades que viveram na adaptao s glaciaes por que passava (entre as quais se contam as de Gnz, Mindel, Riss e Wrm), com tempo ora frio e seco, ora hmido e quente. Tudo indica que a descoberta do fogo esteja associada origem dos primeiros Fig.2 Estaes Paleolticas chinesas cuidados de sade dos homens pr Paleoltico Inferior (600 000 50 000 a.C.) histricos. Nos primeiros tempos a Paleoltico Mdio (50 000 25 000 a.C.) sua utilizao era efectuada com o n Paleoltico Superior ( 25 000 10.000 a.C.) fogo criado por fenmenos naturais, transportando-o s suas cavernas e a tendo o cuidado de o preservar. Posteriormente, aprenderam a obt-lo por frico. A actividade destes povos primitivos foi encontrada perto de Pequim nas provncias de Ynnn, Fig. 2. Os estudos Shnx, Shnx, Hnn, e arqueolgicos, como vimos, mostraram que estas cavernas contm cinzas, restos de ossos de animais, provavelmente, na sua utilizao para a sua alimentao. O fogo, nestes tempos, ter dado luz, calor e proteco contra o frio bem como contra o ataque de animais selvagens ou de outros humanos. Os hbitos alimentares destes homens primitivos verificaram-se atravs do fogo, com a introduo da comida cozinhada na sua dieta. Tal facto levou ao aumento da diversidade alimentar, diminuindo o tempo do processo digestivo, para alm de ter levado o seu corpo a passar a ter uma maior capacidade de absoro nutritiva, diminuindo a incidncia de algumas doenas e reforando a sua constituio fsica. Podemos afirmar que o fogo aumentou a sua capacidade de se integrar na natureza, paradoxalmente, e expandir a sua capacidade de se libertar dela.

Zhenguo, Wang, et alii - History and Development of traditional Chinese Medicine. Science Press, Beijing, 1999 62 Leroy, Pierre Petite histoire de lhomme de Pkin. In Le Courier - Les origins de lhomme. Unesco, (XXV) Ago-Set , 1972

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Na investigao levada a cabo acerca destes primeiros habitantes da China, encontraram-se provas de que se alimentavam da caa e de actividades recolectoras, que j tinham uma comunicao pela fala, talvez em consequncia de uma actividade colectiva, desenvolvendo-se de grupos primitivos a comunidades em cl, e o sistema de casamentos endogmicos dava lugar ao exogmico intercls, com o consequente benefcio na constituio fsica63 . Mas a sua vida ter sido to difcil que a sua esperana de vida no ter ultrapassado os 14 anos de idade. H cerca de 40.000 anos, durante o Paleoltico mdio, surgem nesta regio, os primeiros homens modernos, cuja cultura comea a desenvolver-se rapidamente, substituindo os hbitos anteriores, nomeadamente nas tcnicas de caa e pesca, constituindo-se uma comunidade matriarcal . Um dos exemplos a referir acerca desta cultura o Homem de Lijing. A sua expanso alimentar foi aumentando com o desenvolvimento de utenslios de caa e pesca, Fig.3 Agulha do Homem da gruta superior de dando o seu salto Zhukudin. (adapt. Shouyi (Dir.), 1988) qualitativo no incio do Neoltico com a Revoluo Agrcola, onde se comearam a produzir cereais e vegetais como se pode comprovar pelos achados nas cavernas dos povos primitivos das provncias de Shnx e Zhjing. O constante alargamento das fontes de alimento e da sua variedade promoveram uma melhoria da sociedade primitiva. Estes povos antigos adquiriram a capacidade de manufactura de vesturio, factor que contribuiu para uma proteco acrescida da sade. Numa primeira fase este vesturio era constitudo por peles de animais que os protegiam contra o frio. Com o andar dos tempos, a sua habilidade levou-os a uma diversidade enorme de instrumentos, entre os quais se destacam agulhas feitas de osso que serviam, entre outros fins, para construir e reparar redes de pesca e vesturio. Diversas culturas se foram desenvolvendo ao longo dos tempos, mas ainda podemos referir a cultura do Homem de Zhukudin, i.e. perto do Fig. 4 Aldeia de Bnp (adapt. Cotterell, homnimo j referido, mas numa 1999) gruta superior, cujos restos revelaram que o homem a descoberto tinha a constituio do homem actual Homo Sapiens, e revelando j os primeiros traos mongis. A sua utensilagem revelou o uso do polimento nos objectos trabalhados. Um dos exemplaresZhenguo, Wang, et alii - History and Development of traditional Chinese Medicine. Science Press, Beijing, 199963

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encontrado na gruta superior de Zhukudin, perto de Pequim, uma agulha de formato redondo, polida, com a ponta afiada, com um pequeno orifcio na extremidade oposta, medindo 88 mm de comprimento por 3.3 mm de dimetro, Fig. 3. Para se conseguir construir uma agulha com tais caractersticas, o homem primitivo teve que aprender a trabalhar o osso em perfeio, sem o qual no seria possvel elaborar o pequeno orifcio aberto de um dos lados da agulha, o que no permitiria o seu uso para a confeco de vesturio. Este, para alm de beneficiar uma proteco da sade, comeava a colocar em evidncia o desenvolvimento de uma civilizao. De facto, estes povos que de uma forma natural habitavam em cavernas, aps uma Fig. 5 Pormenor de casa de vivncia em cl, comearam gradualmente a Bnp (adapt. Shouyi (Dir.), 1988) aprender a construir casas. O estabelecimento comunal, na sociedade matriarcal, levou inicialmente construo simples de casas, com o correspondente abandono das respectivas cavernas, como se pode verificar nas provncias de Hnn, Shnx e Gns. Entre estas, destaca-se a aldeia, tipicamente matriarcal, de Bnp , Figs. 4 e 5, na provncia de Shnx, com uma rea total de cerca de cinquenta mil metros quadrados, onde se incluem quarteires, lojas de cermica, e uma rea cultivada comunal. Pode ainda referir-se a existncia de 40 a 50 casas contguas, entre as quais se destaca uma casa rectangular de maior tamanho, e se supe ter servido de praa pblica para actividades do cl. A maior Fig. 6 Exerccios de Doyn, encontrados nas tumbas de parte destas Mawngdui casas era arredondado, construda ao nvel do solo, com telhados pontiagudos. Na sua evoluo estes povos foram alargando a sua cultura, ao nvel artstico e ao nvel espiritual, expresso na pintura, msica e dana, bem como no uso de ornamentos, o que atesta tambm o incremento da sua actividade laboral. De facto, associado s expedies de caa, ou outras actividades laborais, estes povos primitivos da China, passaram a espontaneamente celebrarem cerimnias evocativas dessas actividades, tendo-se apercebido que tais actos, lhes conferiam uma restaurao da fadiga, o relaxamento muscular, tudo contribuindo para uma melhor sade. Na obra Lushchnqi 18

Anais de Primavera e Outono de Lu, conta-se ainda que durante os tempos das inundaes, o moral do povo era baixo, a energia vital estagnava e os msculos e ossos contraam-se. Para curar isto as pessoas tentavam minimiz-lo danando64, o que nos leva descrio viva de situaes reumticas e da dana como um dos remdios. Com estas actividades, os antigos chinesas foram desenvolvendo o mtodo de preveno da sade conhecido por Doyn (Fig.6), que pode ser considerado como a forma mais arcaica de exerccio teraputico. Resumindo, o incremento relativo de alimentos, como resultado de uma melhor caa e de instrumentos de cultivo mais desenvolvidos, uma capacidade para confeccionar vesturio e construir casas, e o uso do Doyn, ajudaram o homem primitivo a iniciar a proteco da sua sade. Descoberta de plantas e substncias medicinais Ainda no totalmente bem conhecida a poca que, cerca de 8000 a.C., fez aparecer uma economia agrcola ainda rudimentar. Porm, no faltam os testemunhos arqueolgicos dos milnios seguintes, atravs dos vestgios no vale do rio Wi , actual Shnx , e na zona mediana do Rio Amarelo Hung-h, revelando j uma agricultura bem desenvolvida (Setaria Italica e Panicum miliaceum), a domesticao do porco e do co, e talvez j a galinha, usando utenslios variados tanto em pedra como em osso. As cermicas ainda so bastante grosseiras. Porm, no Sul da China os vestgios mais antigos tm motivos cordados. Estes factos, vm provar a existncia de uma tradio o Neoltico anterior a 5000 anos antes de Cristo, Fig. 7. Relativamente pocas posteriores esta data, foram at hoje descobertas diversas culturas distintas umas das outras e repartidas por territrios Fig. 7 Estaes Neolticas chinesas diferentes: 1. A cultura Neoltico Inferior Yngsho, datada de 5150 a 2690 l Neoltico Superior a.C., que abarca desde Gns plancie central e engloba as regies meridionais de Shnx, e de Hbi; 2. A cultura Dwnku, de 4746 a 3655 a.C., na pennsula de Shndng e uma parte da bacia do Rio Amarelo Hung-h; 3. Quatro culturas mais, nos vales do Yngz, onde se distingue a cultura do arroz, nas espcies Oryza sativa japonica eZhenguo, Wang, et alii - History and Development of traditional Chinese Medicine. Science Press, Beijing, 1999, p. 864

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Oryza sativa indica, que constituem o principal cereal desde cerca de 5000 a.C.; 4. Diversas outras culturas mais a sul, mas no to precoces, no que respeita ao desenvolvimento agrcola.65 Na sua actividade recolectora, os povos primitivos, continuando essa actividade num perodo que oscila entre os 10.000-6000 anos a.C., (o que as lendas chinesas apelidam de Idade Pastoral) apanhavam e comiam frutas selvagens e sementes, bem como razes de plantas, de forma a aplacar a sua fome. Como resultado desta actividade, ao contrrio de permanecerem de boa sade, muitas vezes vomitavam, ficavam de diarreia, chegando ao coma e por vezes morte, resultado de ingerirem plantas venenosas. Estas experincias funestas foram levando aprendizagem na identificao das plantas e elementos que lhes eram nefastos, bem como daqueles alimentos que lhes eram benficos para o corpo; para alm disto, tudo indica que tambm iam aprendendo quais as plantas e substncias que o os aliviavam dos diversos mal-estares, quando eram ingeridas. , pois, possvel, que todo este saber tenha sido uma acumulao ao longo dos anos, numa primeira fase no conhecimento de plantas selvagens, tais como o helboro (Rhizoma e Radix Veratri - L L) e o ruibarbo (Radix e Rhizoma Rhei D Hung) e mais tarde, como vimos no Neoltico mdio, num perodo que oscila entre os 6000-3000 anos a.C., o desenvolvimento da Agricultura primitiva, naquilo que o mundo da lenda apelida de Idade Agrcola. De acordo com a tradio oral, trs imperadores que reinaram do sc. XXIX ao sc. XXVII a.C., estabeleceram as fundaes da Medicina Chinesa66. Cronologicamente, Fx, autor da doutrina yin-yang, Shn Nng, o primeiro herbicista, Hung-d, que escreveu o mais antigo livro conhecido de Medicina Chinesa67, Shn Nng o divino trabalhador, o imperador lendrio passa, tambm, por ter ensinado a agricultura China primitiva. Alis, at cerca de 2207 a.C., consideram outros historiadores chineses estar-se na poca dita w d j - dos cinco imperadores, perodo lendrio em que Shn Nng ter sido o segundo monarca68. Neste perodo de remota antiguidade, vivendo a comunidade em cl, a pouco e pouco foram descobrindo os efeitos medicinais de troncos, razes, folhas, flores, frutos e sementes, conhecidos pelo nome genrico de Bn Co ou ervas, atendendo a que a maior parte destas substncias medicinais eram ervas.69 Na provncia de Zhjing, no Oriente chins, em 1973 70, encontraram-se restos de pevides de cabaa com pelo menos 6000 anos, o que prova que esta j era cultivada nesta regio. Os elementos histricos de que se dispe mostram que esta espcie vegetal era usada com fins teraputicos correntes. De facto conhece-se o seu efeitoGernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, pp.42-43 Swerdlow, Joel L. (PhD) Natures Medicine Plants that heal. Washington, National Geographic Society, 2000, p. 36 67 Idem, Ibidem. 68 Ideograma [4317] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.814 69 Segundo a cronologia tradicional, durante a idade do bronze, tero existido 3 dinastias: a dos Xia (2207-1766 a.C.); Shang (1766-1122 a.C.); Zhou (1121-256 a.C.). A maioria dos arquelogos consideram estas datas demasiado elevadas, e quanto existncia da 1 dinastia, muitos investigadores duvidam da sua veracidade, uma vez que no existem provas cientficas anteriores a cerca de 1700 a.C. Cf. c/ Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, p. 45 70 Weikang, Fu Abrege de la Medecine et de la Pharmacologie chinoises. Editions en Langues tragres. Beijing. 1989, p.6566 65

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diurtico bem como na reduo do inchao. A precocidade do seu emprego medicinal talvez justifique a antiga palavra xunh71 que se refere tabuleta identificadora da venda de drogas e/ou de se exercer MTC, utilizada nos ltimos 1000 anos, com uma cabaa pendurada porta das farmcias ou de determinadas clnicas de MTC. Na Hu Hn Sh Histria (dinstica) dos Hn posteriores (25-220 d.C), redigido por Fn Y72, refere-se uma pequena histria fantasiada acerca de um idoso que abriu uma farmcia numa feira, colocando porta uma cabaa. Cada vez que a feira fechava, o farmacutico saltava para dentro da cabaa e desaparecia. Esta histria fantasiosa ter dado origem expresso: Que medicamentos h numa cabaa? 73. Alis, ainda hoje na China, a cabaa identificadora da farmcia. Porm, a alimentao dos povos primitivos inclua a carne o que os levou a conhecerem, do mesmo modo, outras drogas de origem animal. Assim, tero tido conhecimento dos efeitos teraputicos da gordura animal, sangue, medula ssea, miudezas, no tratamento de doenas. Numa fase mais avanadas da sociedade primitiva, entra-se na Idade do bronze, onde, para alm de toda a panplia de instrumentos metlicos, o homem foi conhecendo, do mesmo modo, qual o efeito dos elementos minerais sobre a sua sade. Atravs do exposto, podemos concluir que o descobrimento de substncias medicinais levou um tempo histrico considervel, consubstanciado numa lenda referida no Livro do Prncipe de HuiNn (Hui Nn Z)74, (talvez escrito h cerca de 2000 anos), cuja interpretao representa o conjunto dos Chineses da Antiguidade, que pela sua longa prtica, fizeram nascer a medicina e a farmacopeia chinesas: "Shen Nong [75]bebeu alguma centena de ervas e as guas de numerosas fontes para ensinar s pessoas o que era comestvel e o que no era. Durante as suas investigaes, chegava a ingerir 70 plantas txicas num nico dia".76

Origem de tratamentos externos, acupunctura e moxibusto Na sociedade primitiva, as pessoas no podiam proteger-se convenientemente contra animais selvagens, a fome e as doenas. A esperana de vida do homem primitivo era muito baixa devido a numerosas doenas, e a taxa de mortalidade ser extremamente71 Weikang, Fu Abrege de la Medecine et de la Pharmacologie chinoises. Editions en Langues tragres. Beijing. 1989, p.65 72 Ideograma [1768] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.339 73 No Ocidente a expresso aqui h tudo como na botica (farmcia) no parece estar muito longe da mesma ideia 74 [] compilao filosfica de tendncia taosta e sincrtica composta sob a direco de Li n, Prcipe de Hui-nn (morto em 122 A..C.) - Ideograma [2187] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.418 75 Provavelmente o j referido e lendrio divino trabalhador. 76 Weikang, Fu Abrege de la Medecine et de la Pharmacologie chinoises. Editions en Langues tragres. Beijing. 1989, p.7

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alta, era um fenmeno comum. De facto, o habitat deste homem primitivo inclui condies climticas difceis influenciam a sua constituio fsica: desidratao durante o vero, chuvas abundantes e frio intenso no inverno, dos quais no consegue defender-se no seu habitat rudimentar. Alm disso, coabitam com ele bactrias e parasitas, impondo-lhe uma vasta gama de doenas contra as quais no sabe lutar77. Os estudos efectuados sobre a comunidade do Homem de Pequim, com 40 esqueletos fossilizados levaram a concluir que mais de um tero das pessoas morreram em idades compreendidas entre os 14 e os 15 anos, e apenas: 6% conseguiram viver entre 50 e os 60 anos de Idade. Na provncia de Shndng, em Dwnku, foram encontradas mais de 10 tumbas de crianas, das quais a mais velha morreu com a idade de 15 anos, sendo a mdia de idade de cerca de dez anos, algumas das quais apenas tinham alguns meses de idade. As parcas condies de vida e as epidemias das doenas causavam a morte prematura de muitas crianas. Epidemias, infeces e feridas ocorriam com frequncia, sendo estas ltimas as maiores responsveis pelas causas das mortes da espcie humana, como atestam os achados encontrados na maioria das escavaes arqueolgicas. O homem primitivo foi aprendendo a usar a lama, a escolher determinadas folhas e ervas medida que ficava envenenado pelos diversos animais, ou com feridas abertas por animais selvagens, ou at como resultado de lutas tribais. Como vimos, o uso do fogo ter sido uma descoberta com utilizao polivalente, entre as quais se conta o conforto Fig.8 Pormenor de um bin sh (adapt. Hoizey, do seu calor, mas tambm o alvio da dor com aplicao 1988) localizada de calor. Para este fim, usavam pedras e areia aquecidas nas zonas dolorosas do corpo, cuja inrcia trmica retinha o calor durante mais tempo, aliviando a dor provocada pela humidade e pelo frio. Ao longo dos tempos, as pedras passaram a ser substitudas por compressas, numa aco progressivamente melhorada. O uso da moxibusto comeou, ento, a ser usada com ramos, ervas ou plantas, de modo a estimular termicamente determinados pontos do corpo. O seu uso foi levando, progressivamente, aprendizagem de novas curas e aplicaes. Na obra s wn y f fng y ln, - tratado acerca de questes simples sobre diferentes terapias, refere que as pessoas do Norte que viviam nas terras altas expostas s condies atmosfricas frias onde era hbito comerem a cu aberto, sofriam de distenses abdominais devido ao frio que se arrastava nas vsceras e intestinos, que podiam ser devidamente tratadas atravs de moxibusto. Por isso, a moxibusto originria do Norte78. Quem fala de moxibusto fala de artemsia ho artemisia vulgaris; esta na China tem uma longa tradio medicamentosa: o processo teraputico dura at aos dias de hoje, queimando folhas da planta, para actuarem como h mais de 5000 anos se fazia.Sournia, Jean-Charles Histria da Medicina. Instituto Piaget, Lisboa, 1995, p.11 Zhenguo, Wang, et alii - History and Development of traditional Chinese Medicine. Science Press, Beijing, 1999, pp. 6-778 77

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O uso da Acupunctura est directamente correlacionado com a maior habilidade que o homem primitivo foi adquirindo no fabrico de utenslios ora lticos, ora de madeira ou de osso. Estes eram fabricados utilizando enxs, machados e facas, que, para alm de servirem de elementos de fabricao de outros instrumentos, tambm eram usados para fins teraputicos. No era raro o seu uso para abrir feridas mal cicatrizadas a fim de expurgar o pus ou para fazer sangrar. Na sua evoluo pragmtica de construo de instrumentos, a diversificao dos mesmos foi aumentando de acordo com os fins a que se destinavam. Um dos instrumentos que os arquelogos chamaram bin sh (agulha de pedra para acupunctura) uma pedra afiada que eles acreditam ter servido como instrumento teraputico, Fig. 8. De um lado, por ser afiada e ter um perfil semi-circular e achatado, podia ser utilizado para cortar a pele ou a carne. Do outro lado a sua forma indicia o seu uso em acupunctura. A zona intermdia tem a forma quadrada, facilitando a sua manipulao. Na provncia de Shndng, foram encontrados 2 bin sh deste tipo mas com a forma cnica, e outro de forma oval de um lado e piramidal do outro, encontrado na provncia de Hbi. Como se referiu acima, os instrumentos lticos comearam a ser acompanhados de instrumentos de osso, tendo-se encontrado agulhas de osso g zhn em variadas escavaes arqueolgicas, cujo fim curativo se torna indubitvel, uma vez que de um lado encontramos uma ponta aguada de forma cnica, ao passo que a outra extremidade cega (sem orifcio algum), de forma oval. S mais tardiamente se desenvolveram as agulhas metlicas com base nestas de pedra e osso.

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O uso destes instrumentos, bin sh e g zhn, no nos aparece descrito como era executado, porm, atravs de uma lenda chinesa poderemos ter uma ideia mais objectiva: Fx 79 provou ervas e construiu bin[s] de pedra de forma a curar as pessoas das doenas80. Os dicionrios de caracteres chineses, indicam, habitualmente, que bin significa a cura de doenas picando com uma pedra81, de facto o ideograma bin, no Dicionrio Ricci, referido como 1 - agulha de pedra para acupunctura; 2 picar com uma agulha de pedra 82. Hungf M (215-282 d.C.), autor da obra zhn ji ji y jng clssico de acupunctura e moxibusto83, primeira obra sistemtica de acupunctura e moxibusto84, diz que Fx criou os caracteres escritos para substituir os registos feitos de ns, desenhou os oito trigramas de modo a explicar a criao de Fig.9 As 9 agulhas de Fx todas as coisas do mundo, afirmando, ainda, a tradio que FX ter criado as 9 agulhas (Fig.9) com as quais ter fundado a acupunctura. A lenda que nos refere esta figura mtica, corresponder ao espao e tempo da manufactura de agulhas de pedra em forma de sovela, datadas de h cerca de 5500- 4000. Mas o maior esclarecimento acerca destas bin sh, aparece-nos no primeiro tratado mdico conhecido pela histria da humanidade [] o primeiro clssico, bem conhecido da

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[] personagem lendria tido como o primeiro soberano da China e o inventor dos Trigramas; ensinava ao povo a agricultura, a pesca e a pecuria - Ideograma [1602] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.306 80 Advanced Textbook on Traditional Chinese Medicine and Pharmacology. Vol. I. State Administration of Traditional Medicine. New World Press. Beijing. 1995, p.14 (traduo livre do ingls) 81 Idem, Ibidem 82 Ideograma [4032] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.755 83 Shouyi, Bai (Dir.) Precis dHistoire de Chine. Editions en Langues Etrangeres. 1988, p. 257 84 Weikang, Fu Abrege de la Medecine et de la Pharmacologie chinoises. Editions en Langues tragres. Beijing. 1989, pp.103-104

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Medicina Interna85, o Ne Jng (tratado do interno), cuja autoria se atribui ao Imperador Amarelo, o lendrio HUNG-D [ ] que supostamente ter vivido por volta do ano 2800 (a.C.) 86. Na parte da obra acerca de Questes Bsicas, refere que as doenas nas terras de Leste so todas carbnculos87, pelo que devem ser tratadas com a pedra bian, que ento originria do Leste. As doenas nas terras do Sul so espasmos com entorpecimento que devem ser tratados com finas agulhas. Assim as nove formas de agulhas foram desenvolvidas no Sul88. Daqui podemos concluir que a pedra bin foi de facto o incio da Acupunctura na China. A obra ainda refere que as nove antigas agulhas so: 1. agulhas redondas (o corpo um cilindro e a ponta tem a forma oval) usadas para massajem dos pontos de acupunctura; 2. agulhas de ponta afiada (o corpo redondo e a ponta um prisma com trs gumes afiados) usadas para extrair sangue; 3. agulhas redondas e afiadas (o corpo ligeiramente grosso e a ponta redonda e afiada) usadas para puncturas rpidas; 4. agulhas chn [ - espalmadas] (a cabea grande e larga, mas a ponta afiada, parecida com a ponta de uma seta), boa para penetrao superficial no corpo humano; 5. agulhas capilares (o corpo extremamente fino), largamente usadas para diversos fins; 6. agulhas d [ - rombas] (o corpo grande e larga, mas a ponta ligeiramente embotada) usada para pressionar; 7. agulhas espada (o corpo parece-se com uma espada com lminas de ambos os lados) usadas para cortar e libertar pus; 8. agulhas grandes (o corpo bastante grosso mas a ponta ligeiramente arredondada), algumas vezes usadas para pontos articulares; 9. agulhas compridas (o corpo o mais comprido das nove, cerca de 20 cm) usadas para punctuar msculos grossos. [] a inveno destas nove agulhas tornou-se o smbolo do progresso tanto na manipulao como na teoria da acupunctura89.

Primrdios da actividade mdica e proteco da Sade O perodo histrico que se iniciou cerca do sculo XXI a.C., na China, tem sido considerado como o incio da dinastia Xi que, segundo a tradio teria sido fundada por D y (2207-2198 a.C), sedentarizada ao longo do rio Amarelo Hungh, com base econmica esclavagista, com produes em pedra, mas tambm com oChoy, Pedro Fitoterapia Tradicional Chinesa Generalidades. Associao Portuguesa de Acupunctura e Disciplinas Associadas (APA-D.A.). Lisboa, (Ciclostilado). 2000, p.2 86 Idem, Ibidem 87 Manuila, L. et alli Dicionrio Mdico. Climepsi Editores.Lisboa, 2000, p. 118 : carbnculo - Doena infecciosa contagiosa, comum ao homem e ao gado, devida a bactria carbunculosa (Bacillus anthracis), cujos esporos, muito resistentes, contaminam o solo e diversos produtos de origem animal. Distingue-se uma forma externa, por penetrao dos bacilos ao nvel de uma ferida (pstula maligna) e uma forma interna (carbnculo gastrintestinal ou carbnculo pulmonar). O carbnculo tornou-se numa doena rara graas s medidas sanitrias que protegem os indivduos expostos infeco e graas vacinao do gado. O tratamento pelos antibiticos, por vezes associado seroterapia, reduziu consideravelmente a mortalidade. O termo neste contexto, porm, parece significar, genericamente, infeco. 88 Advanced Textbook on Traditional Chinese Medicine and Pharmacology. Vol. I. State Administration of Traditional Medicine. New World Press. Beijing. 1995, p.14 (traduo livre do ingls) 89 Jingfeng, Bai Episodes in Traditional Chinese Medicine. Chinese Literature Press, Beijing, 1998, pp. 26-2885

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incio da idade do bronze, sendo a sua cultura conhecida por uma cermica preta. Durante o sc. XVIII a.C., surge, tambm ao longo do Rio Amarelo Hung-h, na seco Norte da actual provncia de Hnn, uma cultura e uma sociedade apelidadas de dinastia Shng (conhecida tambm por dinastia Yn, depois do reinado de Pn-gng, i.e., aps a instalao da sua capital em nyng 90 . A sua a rea geogrfica de actuao era bastante grande, e os seus vestgios revelam uma civilizao j bastante evoluda, detendo todo um conjunto de conhecimentos e tcnicas, cujos antecedentes nos so bastante obscuros, aparecendo-nos, de uma forma bastante elaborada, a escrita, a fuso do bronze, os carros de guerra, as tcnicas de arquitectura, as prticas divinitrias, os diversos tipos de vasos de sacrifcio, os motivos de decorao, etc.. A sua cultura baseava-se na agricultura e pastorcia, em que parte da populao vivia em pequenas cidades, onde o estrato mais elevado da nobreza empregava numerosos artesos, mas a grande massa da populao ainda vivia como camponeses em condies s da Idade da Pedra. Alis, esta e a dinastia seguinte constituem-se o perodo apelidado por diversos historiadores a sociedade dos escravos. De facto, este estrato nobre, dedicava-se aos sacrifcios humanos e a animais como o co, e guerra. Em diversos lugares aparecem homens decapitados ou cabeas sem corpo, no sendo estranho a esta prtica o uso de prisioneiros de guerra. A sua actividade simultaneamente religiosa, guerreira, poltica, administrativa e econmica. A linha real a cabea duma organizao onde os chefes de linhagens so simultaneamente chefes do culto familiar que veremos um pouco mais frente. Esta dinastia durou at ao sculo XI a.C. utilizando uma sofisticada forma de escrita ideogrfica que perdura at aos dias de hoje. Grande parte dos ideogramas sobreviveram at aos nossos dias na sua forma e com o significado que detinham ento. Outros, porm, caram em desuso e na obscuridade, pelo que se torna difcil ou impossvel a sua compreenso. Esta escrita foi preferencialmente usada em ossos e carapaas de tartaruga, os ji g wn, escritos durante o sc. XIII a.C., para serem usados nos orculos, o que permitiu um estudo razovel acerca da sua cultura. Simultaneamente, as inscries em bronze jn wn, apareciam, bem como a sua variante zhng dng wn - inscries em sinos e vasos rituais. Porm, deve-se a esta poca, a criao de um calendrio cujos anos e meses eram representados nas inscries oraculares em osso por nmeros cardinais, enquanto que dez ideogramas representavam os troncos celestes e outros doze designavam os ramos terrestres, tendo sido empregues para nomear os dias dum ciclo sexagesimal.[] Se bem que o calendrio foi sujeito ao longo dos sculos por numerosas modificaes e que o clculo foi sempre sendo melhorado em preciso, o ano lunar e os ciclos de 60 dias deviam permanecer em uso por mais de 3000 anos. O uso de um calendrio revestia-se de uma importncia significativa para o desenvolvimento dos anais da histria91.

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Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, p. 46 Shouyi, Bai (Dir.) Precis dHistoire de Chine. Editions en Langues Etrangeres. 1988, p. 68. Nota do autor: de origem tipicamente divinatria, viriam a ser, em poca mais tardia estudados de uma forma sistemtica e objectiva, vindo a constituir um mtodo verdadeiramente cientfico.

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Quanto ao comportamento desta dinastia relativamente sade, temos de ter presente o carcter altamente supersticioso desta cultura e que as informaes de que se dispe visam apenas a vida dos reis e dos elementos a ele mais chegados, no havendo, at ao momento, qualquer forma de determinar as medidas que eram tomadas pelos estratos mais baixos da Sociedade Shng (Fig.10). Alis, Oliveira et alii (1996)92, distingue, na evoluo da medicina, quatro fases: fase mgica, fase sacerdotal ou religiosa, fase emprica e fase cientfica. Exemplo de medicina de carcter mgico encontramos entre os Imprios Babilnico, Caldeico-Assrio, no vale do Eufrates, bem como a Egpcia, ao passo que a sociedade Hebraica era de carcter sacerdotal. No 93 perodo Vdico , a medicina Fig.10 A China dos Primeiros Tempos (adapt. Indiana era mgica ou Cotterell, 1999) mgico-sacerdotal, e no 94 perodo Bramnico , o conhecimento mdico maior a nvel anatmico, mas sempre submetido religio95. Sournia (1995) afirma que na Mesopotmia antiga a doena [] vivida como um castigo ou um pecado: A impuresa atingiu-me. Julga a minha causa, toma uma deciso a meu respeito; extirpa do meu corpo a doena m, destroi todo o mal da minha carne e dos meus msculos deixar-me hoje, e possa eu ver a luz (retirado de tbuas de prognsticos mdicos, cerca de 2000 a.C.). [] Utilizam-se diversos tipos de diagnstico de natureza divinatria: sonhos, voos de aves, data de uma cheia, cor e direco do fumo sobre uma chamin, forma de uma mancha de leo, etc. A hepatoscopia, dado que o fgado era considerado o rgo essencial do pensamento e dos sentimentos, devia conhecer o maior sucesso, [] pois este tipo de mntica visceral praticar-se- mais tarde correntemente entre etruscos e os hititas. Estudava-se, assim, a profundidade dos sulcos do fgado e a configurao dos seus lobos para estabelecer o prognstico da doena96. Conhecida como mais desenvolvida, a medicina egpcia, tem Imotep como tendo sido o mdico mais conhecido (ano 2800 a.C), dado que era92

Oliveira, L. N. Ferraz de; Dria, Jos Lus Histria da Medicina, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Cincias Mdicas, Lisboa, 1996, p. 3 93 perodo dos livros sanscritos ou Veda estende-se at cerca de 2500 a.C. 94 perodo Bramnico cobre o ltimo milnio a.C. 95 Oliveira, L. N. Ferraz de; Dria, Jos Lus Histria da Medicina, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Cincias Mdicas, Lisboa, 1996, p. 31 96 Sournia, Jean-Charles Histria da Medicina. Instituto Piaget, Lisboa, 1995, pp.24-25

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primeiro ministro do fara Djeser, da 3 dinastia menfita, porm, segundo todas as probabilidades, a patologia egpcia pouco difere da mesopotmica (Sournia, 1995) 97. Os Shng j tinham desenvolvido a noo de doena. A enfermidade definida aqui como a primeira experincia, isto , a percepo subjectiva de sensao de indisposio que pode ser sentida, na alterao do comportamento. A doena, pelo contrrio um produto socialmente determinado, um conceito reformulado da primeira abordagem e experincia de enfermidade. Contudo, possvel caracterizar doena como um desvio definidamente claro, dentro de um conjunto especfico de ideias no que diz respeito s causas e caractersticas e tratamento da enfermidade, tendo como referencial o estado normal da sade do ser humano. Daqui, algumas manifestaes de enfermidades podem, em sociedades diferentes, ser compreendidas como sendo doenas completamente diferentes. Os Shng tinham uma familiaridade com muitos espcies diferentes de enfermidades, porm, apenas reconheciam o nmero limitado de doenas. Por exemplo, dores de dentes, e dores na cabea, balonamento abdominal, e dores nas pernas eram apenas diferentes sintomas da mesma doena. Como se afirmou mais acima, esta era ainda uma sociedade em que a superstio detinha bastante influncia. Nela flua a preponderncia da maldio de um antepassado; estes dominavam o mundo dos vivos, mas, em contrapartida, estavam dependentes destes para lhes levarem provises98. Os antepassados desejavam, por exemplo, que os seus ossos repousassem, na sua tumba, em boas influncias de fng shi (ventos e guas), obtendo a reciprocidade de prosperidade e sade para todos os descendentes.99 Se os vivos falhassem no cumprimento destas obrigaes, as reaces dos antepassados no se faziam esperar. A eles se tentava chegar atravs de intermedirios, da a importncia de se recorrer aos orculos acerca do tempo, da guerra, pagamento de tributos, caa, sonhos, planos de viagem, alianas polticas e enfermidades. Com esta mentalidade, muitas doenas tinham a sua fora causal na vontade dos antepassados. O ideograma j (enfermidade) muito comum nos ji g wn, perante o orculo. Nestes textos, j aparece em conjuno com partes do corpo humano ou de funes corporais; neste figurava um homem tocado por uma flechaIdem, ibidem Cf. c/ Coulanges, Fustel de La cit antique. Librairie Hachette.s/d. pp. 34-35 : (obra escrita acerca dos usos, costumes e tradies mais remotas greco-romanas) Havia uma troca perptua de bons ofcios entre os vivos e os mortos de cada famlia. O antepassado recebia dos seus descendentes a srie de refeies fnebres[]. O descendente recebia do antepassado a ajuda e a fora de que tinha necessidade. O vivo no podia passar sem o morto , nem o morto sem o vivo. Por este meio uma ligao potente se estabelecia entre todas as geraes duma mesma famlia e fazia um corpo eternamente inseparvel. Cada famlia tinha o seu tmulo, onde os seus mortos vinham repousar um ao p do outro, sempre juntos. Todos os que tinham o mesmo sangue deviam a estar enterrados e nenhum homem doutra famlia poderia ser admitido. A se celebravam as cerimnias e os aniversrios. A cada famlia acreditava ver os seus antepassados sagrados. Em tempos muito antigos, o tmulo estava dentro da prpria propriedade da famlia, no meio da habitao, no longe da porta, a fim, diz um ancio, que os filhos, entrando ou saindo de suas moradas, encontrassem de cada vez os seus pais e cada vez lhes dirigissem uma invocao. Assim, o antepassado permanecia no meio dos seus; invisvel, mas sempre presente, ele continuava a fazer parte da famlia e a ser o pai. Ele imortal, ele feliz, ele divino, ele interessava-se acerca do que tinha deixado de mortal na terra. [] O gerador parecia-lhes um ser divino, e eles adoravam o seu antepassado [] necessrio que este sentimento tenha sido muito natural e muito forte, uma vez que ele aparece como princpio duma religio na origem de quase todas as sociedades humanas; encontramos nos Chineses []. 99 Unschuld, Paul U. Medicine in China A History of Ideas. Univerty of California Press, Ltd, London, 1985, p. 2798 97

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sofrendo de dor 100. Das 200.000 inscries encontradas distinguiram-se 14 combinaes diferentes onde se incluem ideogramas de olhos, cabea, ouvidos, nariz, boca, dentes, pescoo, abdmen, p, calcanhar, bem como voz, urina e parturiente. A aco dos espritos do vento tambm eles tinham aqui o seu lugar, falando-se de vento maligno, juntamente com a neve, que constituam as duas causas mais comuns das doenas de aco mstico-mgica, cuja soluo passava frequentemente pelo sh (shaman- representante dos mortos) ou pelo w (feiticeiro).101 Mas havia tratamentos na poca Shng. A arqueologia atesta-o.[] no lugar Shang de Taixi, perto de Gaocheng, cidade de Hubei102 foram encontradas cerca de trinta sementes de fruta com caroo, entre as quais a y l Prunus Japonica e to Prunus Persica. Ambas com propriedades teraputicas apreciadas desde h muito, o caroo de pssego mencionado na bibliografia como recomendadopara matar os pequenos vermes. Nos dias que hoje, a medicina tradicional emprega-os em ginecologia103.Quanto ao y l, o seu caroo lubrifica os intestinos e relaxa-os sendo empregue na obstipao devida desidratao intestinal; do mesmo modo pode ser empregue para promover o metabolismo hdrico104. Durante este perodo, as pessoas comearam a adquirir alguma compreenso acerca das doenas. Os nomes de mais de vinte tipos de doenas, incluindo doenas da cabea, ouvidos, nariz, dentes, abdmen e ps, e desordens peditricas, ginecolgicas, e obsttricas, foram gravadas, como referimos, na mais antiga forma escrita descoberta da China - ideogramas e registados em ossos e carapaas de tartaruga. Enquanto grande parte destas doenas foram diferenciadas de acordo com as diversas partes do corpo humano, algumas eram referidas depois das caractersticas das doenas, tais como malria, sarna, timpanismo105 e cries106. Por exemplo, o ideograma para timpanismo parece-se com lombrigas num recipiente indicando que existem parasitas no abdmen, e o ideograma para as cries indica que os orifcios nos dentes so causados por vermes 107. O registo das cries dentria nos ideogramas chineses gravados nos ji g wn, so o registo mais antigo deste tipo na histria mundial da medicina, 700 - 1000 anos mais cedo que os registos semelhantes em outras sociedades antigasWeikang, Fu Abrege de la Medecine et de la Pharmacologie chinoises. Editions en Langues tragres. Beijing. 1989, p.13. Cf. tambm com: Ideograma [404] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.74 101 Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, p. 52 102 Hoizey, Dominique Histoire de la mdicine chinoise. dition Payot, 1988, p. 29 103 Idem, Ibidem 104 Advanced Textbook on Traditional Chinese Medicine and Pharmacology. Vol. II. State Administration of Traditional Medicine. New World Press. Beijing. 1995, p.72 105 Manuila, L. et alli Dicionrio Mdico. Climepsi Editores. Lisboa, 2000, p.590 timpanismo, Sonoridade particular obtida percusso de um rgo distendido por gases, e mais especialmente em caso de distenso do abdmen devida presena de gs ou de ar em quantidade excessiva nos intestinos ou na cavidade peritoneal. 106 Idem, p.119 - crie dentria - Destruio localizada e progressiva dos dentes. A crie dentria atinge em primeiro lugar o esmalte (crie do primeiro grau), em seguida a dentina que atacada pelas bactrias (crie do segundo grau) e pode chegar necrose da polpa dentria (crie do terceiro grau). 107 Note-se que hoje em dia se utilizam dois ideogramas para a ideia de crie dentria: y fng. O primeiro ideograma [n 5616] significa dente; o segundo ideograma [n 1587] significa loucura, demncia. -- Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p. 1068 e p. 300, respectivamente.100

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encontradas no Egipto, ndia e Grcia. Outras palavras relacionadas com doenas escritas em ideogramas nos ji g wn dizem respeito a desordens fisiolgicas. Por exemplo, desordens orais afectando a voz indica doenas da boca e faringe com perda da capacidade de falar, e perda da vista significa cegueira, zumbidos, insnia, etc. Particularmente, o registo que h uma epidemia este ano, mostra que as pessoas j compreendiam que havia anos em que determinadas doenas prevaleciam. Segundo o Zhul Rituais dos Zhu (sc. IV-III a.C) a dor de cabea aparece mais frequentemente na primavera, a sarna e outras doenas cutneas no vero, a malria no outono e a bronquite no inverno108. Isto mostra que se conhecia a relao estreita entre as condies climatricas e o aparecimento das doenas. Comparando as repeties das condies climatricas anuais todos os 60 anos, com registos anteriores de epidemias, no ter sido difcil correlacion-los com o referido calendrio Jaz. No ocidente, a ideia de que as doenas so consequncia do mau funcionamento dos rgos e no da interveno de espritos malignos encontra-se nos tratados de Ywti, que foi mdico de Ramss I e de Seti II [(primeira metade do sc. XIV a.C.)], ou seja, oitocentos anos antes de Hipcrates a formular109. Do sc. XX a.C. ao sc. VII a.C., a populao chinesa foi aprendendo acerca de maior nmero de doenas. Mais de 20 doenas esto registadas em trabalhos antigos, com nomes constantes baseados nas caractersticas das mesmas, por exemplo: papos, disenteria, peste, hemorridas, carbnculos110, inchaos, malria, lceras, sarna, surdez, mania, massas abdominal, vento mau, doenas epidmicas, demncia, verrugas, e fistulas. Isto representa um desenvolvimento na taxonomia das doenas das partes do corpo nas inscries nos ji g wn. No ser despropositado aqui referir que, relativamente ao estudo da medicina chinesa, tm existido diversas abordagens, entre as quais a de Erwin Ackerkneckt, em 1940, onde os conceitos mdicos devem ser compreendidos como integrados em aspectos culturais, em vez de observados como elementos absolutos independentes 111. Alis, no que diz respeito, origem da medicina, o estudiosos criaram dois pontos de vista completamente diferentes durante bastante tempo. Por um lado, continuam em discusso permanente acerca dos sistemas mstico-mgicos como gnese da tentativa do homem combater as doenas. Desta forma se criaram santos, feiticeiros, ou justificaes no instinto animal para este fim. Esta uma manifestao de duas vises do mundo, diametralmente opostas - o materialismo contra o idealismo, ou dialctica contra metafsica. Na fase posterior da sociedade, co-existiram dois conceitos mdicos conflituosos e de exclusividade mtua - ou as pessoas usavam a medicina para tratar as doenas ou acreditavam na fora da magia. Este foi um fenmeno histrico universal que, alguns autores aproveitam para tentar querer fazer acreditar que o povo ChinsWeikang, Fu Abrege de la Medecine et de la Pharmacologie chinoises. Editions en Langues tragres. Beijing. 1989, p.13. 109 Tubiana, Prof. Maurice Histria da Medicina e do pensamento mdico. Editorial Teorema, Lisboa, 2000, p.32 110 Vide nota 87 111 Unschuld, Paul U. Medicine in China A History of Ideas. Univerty of California Press, Ltd, London, 1985, p. 3108

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nunca estabeleceu uma separao clara dos mundos do mito [112]e a realidade, chegando a reafirmar que esto to imbudos um no outro que dificilmente se pode dizer onde comea um e acaba o outro113. No nos encontramos a afirmar se o povo chins ou no, religioso, muito menos se o foi no passado ou no. H necessidade de no se generalizar, boa maneira Ocidental, o que no Oriente se foi desenvolvendo, sincrnica e diacronicamente. De facto, h que notar que, a partir de determinado momento, a medicina chinesa desenvolveu um processo contnuo de depurao das influncias idealistas tendo-se norteado este processo segundo os princpios do que Joseph Needham chamou de materialismo orgnico114, formando gradualmente seu prprio sistema terico global.

112 113

Quanto sua importncia vide nota 58 Chinese Gods and Myths Grange Books, Rochester, 1998, p. 7 114 Needham, Joseph La science chinoise et lOccident, ditions du Seuil, 1973, p.14

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Desenvolvimento da Medicina e Farmacopeia Chinesa desde a dinastia Zhu poca dos Sn Gu(trs reinos) (1027 a.C 265 d.C.)32

Foi numa cidade de nome Zhu, estabelecida em Shnx, que foi posto termo dinastia dos - Shng-Yn. Tal mutao parece ter acontecido cerca de 1050 ou 1025 a.C. Esta cidade, exterior ao domnio Shng, encontrava-se em contacto e com relaes com as populaes brbaras das Regies ocidentais, onde foi tirado partido da utilizao do cavalo. Os Zhu, de costumes mais guerreiros que a Dinastia anterior, parecem ter feito um maior uso do carro de guerra e ter inventado um novo tipo de atrelagem com quatro cavalos na frente. Conduzidos por aquele que a histria posterior ser conhecido sobre o nome de rei Wn, a populao de Zhu, marchou sobre Hnn no momento em que o ltimo soberano da Dinastia anterior se encontrava ocupado com uma guerra contra os brbaros de Huai do curso ao avano vitorioso dos Zhu, o rei Wn morre em combate e o rei W sucede-lhe. Os Yn so definitivamente vencidos na batalha de My. Tudo indica que este perodo do incio do sc. X a.C. se caracterize por um incio expansionista, com a respectiva colonizao, tendo-se atingido a actual Bijng Pequim. A sociedade nobre do sc XI ao sc VII a.C., encontra-se na continuidade da estrutura da dinastia Shng, sendo a agricultura bafejada pelo progresso dos sistemas de irrigao. Uma vez mais a sociedade encontra-se enraizada nos domnios e nos cultos familiares hierarquicamente organizada, tendo no topo o domnio real e o culto dos antepassados dos Zhu. O rei detm o ttulo de tinz filho do Cu, sendo suposto ter o fardo do shngd Senhor do alto, ao qual o nico a ter o direito de sacrificar. A sua capital Zhuzng, centro cultural de toda a comunidade das cidades Zhu, local onde se encontra o templo dos reis defuntos. O poder detido em cada cidade por famlias, cujo valor depende do nmero de carros de guerra, privilgios religiosos, antiguidade das suas tradies, e proximidade na ligao casa real, posse de emblemas e de tesouros, etc. A meio do sc. X a.C., o rei M, imps a inscrio nos vasos de bronze que serviam ao culto ancestral o processo verbal das cerimnias de investidura ou de doao, a fim de perpetuar (e porque no controlar) a lembrana dos direitos adquiridos. Os seus poderes territoriais detinham um fng limite; a coeso interna assegurada pela ordem dos cultos familiares, mas com ramos principais e ramos secundrios, numa complexidade bastante superior ao do tempo dos Shng. Os cargos e privilgios conferidos pelo rei eram em princpio revogados, mas o desenvolvimento dos principados e o reforo das famlias grandes dignatrias pretenderam torn-los cargos hereditrios, criando um estado menos centralizado. Os acontecimentos precipitaram-se, na primeira metade do sc. VII a.C., pelos ataques das populaes de Shnx e a reduo do domnio real. O desenvolvimento destes principados criou uma sociedade nova, com novos usos e costumes, com a diminuio do poder real, aumentando-se uma nobreza vida de prerrogativas e atenta s questes de protocolo, um ideal de nobreza guerreira, uma moral de honra e prestgio. Tal estado scio-poltico-religioso, iria diminuir consideravelmente o sistema de hierarquias culturais e de ritos que asseguravam a coeso da proeminncia linhagem real, com toda a panplia de consequncias associadas.115

115

Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, pp. 53-60

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Na poca Chnqi 116, desenhou-se uma oposio entre as antigas cidades da plancie Central, cujas linhas principescas remontavam fundao de Zhu os principados do Centro, Zhnggu, termo que, tal como foi explicado na Introduo, mais tarde ser aplicado ao que ns apelidamos de China e as cidades perifricas que comeavam a formar unidades polticas mais alargadas e poderosas. Entre eles encontramos Jn, no vale do rio Fn, em Shnx; Q, a NW de Shndng, pas enriquecido pelo comrcio do sal, peixe, seda e metais; Ch, na regio de Yngz e os vales de Hbi. As alianas no se faro esperar, com a hegemonia dos Q de Shndng , dos Qn de Shnx, e os Jn, de Shnx, num aumento progressivo das suas oposies, tendo passado para plano Fig. 11 Os reinos combatentes (482-221 a.C.) (adapt. secundrio as tradies Cotterell, 1999) comuns e o mesmo tipo de cultura. Ser esta luta crescentemente agressiva entre os q xing sete potncias que vai caracterizar o perodo de guerras da poca dos zhngu - Reinos Combatentes, desde o sc. V-III a.C (Fig.11). Eles iro anunciar as transformaes que se iro seguir: a concentrao do poder nas mos de um s, e a formao do Estado centralizado, em 221 a.C. Mas esse perodo ser uma poca de profundas modificaes na sociedade, nos usos e costumes.117 Esta situao catica era exacerbada por casos de parricdios, uxoricdios e fratricdio, perpetrados nas famlias com o poder, revelando uma quebra moral daChunqiu. Obra elaborada ao longo de sculos, parece ter tomado a sequncia dos arquivos divinatrios da poca de nyng e teve por objecto a constituio duma cincia dos precedentes diplomticos e religiosos, astronmicos e naturais. Os anais mais antigos parece remontarem ao sc. XI a.C.. Os Anais de Outono e Primavera de Lu, ainda mantm originais, cujas datas de elaborao se encontram entre 722 481 a.C. - Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, pp. 8283. De facto esta poca, que trata a homnima Crnica Primavera e Outono(722-481 a.C.), extrado dos arquivos oficiais do Ducado de Lu, apresentado com um fundo moral, incluindo julgamentos crticos atribudos a Confcio. Ideograma [1258] do Dictionaire Franais de la Langue Chinoise. Institut Ricci Kuangchi Press, 1999, p.234 117 Gernet, Jacques Le monde chinois. Armand Colin, Paris, 1999, p. 61116

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sociedade. Porm, esta dinastia viu desenvolver-se novas tecnologias, a produo do ferro e do sal, com um incremento da economia monetria, e uma maior mobilidade popular. Sero os Qn (Fig.12) que iro sobrepor-se aos outros estados, na data j referida. Para tal, uma mudana de actuao foi praticada na arte da guerra, no importava mais a obedincia aos princpios antigos, apenas o sucesso era importante, e uns atrs dos outros, os reinos caram sob a sua dominao.118 O seu wng [rei] Zhng, em 221 a.C., no 26 ano do seu reinado, aps ter unificado a China, tomando o ttulo de Sh Hung -Primeiro Imperador, passou a chamar-se Sh Hung-d.

Fig.12 Os Imprios Qn (221-207 a.C.) e d.C.) (adapt. Cotterell, 1999)

X Hn (Ocidentais 206a.C. 9

No obstante a unificao do imprio ter levado destruio dos outros estados, os conselheiros Sh Hung-d, levaram-no a utilizar um programa de reformas bastante profundas, cuja posta em prtica necessitou de uma determinada agressividade de forma a tentar eliminar todos os vestgios dos paticularismos do perodo feudal, o que levou a uma srie de aces bastante radicais: os propritrios das terras ficaram sem elas, tendo as suas administraes cabido a oficiais superiores; a nobreza passou a ser obrigada a viver na cidade; houve uma reorganizao administrativa e militar completa; deu-se uma normalizao cultural na escrita; da mesma forma foram normalizados os pesos e medidas, incluindo a largura das estradas, o que permitiu uma integrao econmica dos diversos particularismos regionais; recolha e destruio pelo fogo de todas as obras escritas, excepto as ligadas a tratamentos mdicos, drogas, oraclos, agricultura e florestas. Tais medidas talvez tenham tido o objectivo acrescido de nada se opor nova aco governativa.

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Unschuld, Paul U. Medicine in China A History of Ideas. Univerty of California Press, Ltd, London, 1985, p. 31

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Onze anos aps a criao do imprio, Sh Hung-d morre sem que os seus dois sucessores tivessem conseguido opor-se aco dos antigos elementos vencidos, tendo os nobres por um lado e pelo outro os trabalhadores rurais do imprio. A guerra civil instala-se mas, em 202 a.C., um simples polcia citadino, Li Bng, vence a faco da nobreza. Ser ele que sob o nome de Go-Z ou Go-d ir fundar a dinastia dos Qin Hn (anteriores) ou X Hn (Ocidentais), que perdurar at ao ano 9 a.C. Este perodo foi, pela primeira vez na histria da China, um perodo de paz e estabilidade interna. Dos imperadores desta dinastia, o que viveu entre 141-87 a.C., o imperador W-d, desenvolveu um sistema poltico que permaneceu a caracterstica da Fig.13 poca dos Sn Gu(trs reinos): Wei (220-265); China durante os Shu (221-263); Wu (222-280) (adapt. Cotterell, 1999) subsequentes 2000 119 anos. Alis, entre muitas outras iniciativas estruturais, por sugesto de Dong Zhongshu, W-d, em 136 a.C., proclamou o confucionismo doutrina oficial do estado.120 Do ano 9 a 23 d.C., parte da China ser governada por Wang Mang que, no obstante a usurpao do trono que cometeu, criando a dinastia Xin, tentou limitar a riqueza das famlias poderosas [] e aliviar a misria dos camponeses-agricultores121. A resistncia a reformas e as rebelies motivadas por fomes na sequncia do rebentamento dos diques do rio Amarelo, levaram sua deposio e morte. Em 25 d.C., d-se em Luoyang a entronizao de Guangwudi, membro do cl imperial Hn, criando a dinastia Ho Hn (25-220d.C.), mas cujo lugar se deveu ao apoio de grandes latifundirios, com a119

Unschuld, Paul U. Medicine in China A History of Ideas. Univerty of California Press, Ltd, London, 1985, p. 33 120 Cotterell, Arthur China uma Histria cultural. Instituto Cultural de Macau. Gradiva. 1999, p.116 121 Cotterell, Arthur China uma Histria cultural. Instituto Cultural de Macau. Gradiva. 1999, p.127

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resultante fragilidade de poder. As lutas com os povos do Norte, os Xingn 122 (populaes de origem palo-siberiana que ocupavam a Monglia ), continuaram sem progressos, desgastando o Imprio. Desde o ano de 107 at 184, as revoltas e tumultos viro a ser uma constante que ir desaguar numa grande revolta dos turbantes amarelos, em 184. Mesmo vencidos, a sua aco levar, junto com a prepotncia do imperador Xiandi, a que um senhor da guerra, Cao Cao o substitua, dando lugar poca dos Sn Gu(trs reinos): Wei (220-265); Shu (221-263); Wu (222-280) (Fig.13) Incio da compreenso das doenas A compreenso das doenas inclui, tambm, um entendimento acerca das suas causas, levando progressiva diminuio na crena da influncia de espritos demonacos e de deuses, de feiticeiros e supersties como causadores de doenas, ao longo deste vasto perodo de tempo. Com base em trabalhos mais antigos no mdicos, tais como Lushchnqi - Anais de Primavera e Outono de Lu123, Zhul Rituais dos Zhu (sc. IV-III a.C), lj - Memrias dos Ritos (sc. IV-III a.C), Gngyng zhun - A i