A Ineficácia Do Estatuto Do Desarmamento Na Redução Da Criminalidade

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Uma analise sobre a relação do estatuto do desarmamento e a criminalidade.

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  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    CESUL - CENTRO SULAMERICANO DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE DE DIREITO DE FRANCISCO BELTRO

    A INEFICCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUO DA CRIMINALIDADE

    ANDERSON POZZEBON VIEIRA

    FRANCISCO BELTRO PR 2012

  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    ANDERSON POZZEBON VIEIRA

    A INEFICCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUO DA CRIMINALIDADE

    Monografia apresentada como requisito parcial para aprovao da Disciplina de orientao a Monografia II, do curso de Graduao de direito da Faculdade de Direito de Francisco Beltro, mantida pelo CESUL Centro Sulamericano de Ensino Superior.

    Orientador: Rodrigo Biesus

    FRANCISCO BELTRO PR 2012

  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    TERMO DE APROVAO

    ANDERSON POZZEBON VIEIRA

    A INEFICCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUO DA CRIMINALIDADE

    Monografia apresentada como requisito parcial de avaliao para obteno do titulo de Bacharel em Direito no Curso de Graduao em Direito da faculdade de Direito de Francisco Beltro, mantida pelo CESUL Centro Sulamericano de Ensino Superior, pela seguinte banca examinadora:

    _______________________________ Oriantador: Rodrigo Biesus

    _______________________________ Prof. Msc:

    _______________________________ Prof. :

    FRANCISCO BELTRO PR 2012

  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    A todos aqueles que defendem a possibilidade de legtima defesa atravs do uso consciente e preciso das armas de fogo, e todos aqueles que tem como virtude maior a honestidade.

  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    AGRADECIMENTOS

    A Deus por me manter firme apesar de tudo, ao Mestre Jesus Cristo pelos ensinamentos. Aos meus pais, por justificarem minha vida e minha felicidade, e ainda, por todas as oportunidades que me proporcionaram. Ao amigo, orientador e professor Rodrigo Biesus, pelo apoio na concluso deste trabalho. Daniela, minha namorada, que me apoiou muito no decorrer deste trabalho. Aos Amigos, Marco Aurlio Werner e Priscila Taioane Bandeira, que me acompanharam desde o comeo da faculdade e que a qualquer hora esto prontos para me apoiar.

  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    Quando, numa sociedade, o bem comum considerado algo parte e acima do bem individual, de cada um de seus membros, isso significa que o bem de alguns homens tem precedncia sobre o bem de outros, que so relegados, ento, condio de animais prontos para o sacrifcio.

    Ayn Rand Quem mata so os homens, no suas armas ou seus msseis.

    Papa Joo Paulo II

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    RESUMO

    A monografia intitulada A Ineficcia do Estatuto do Desarmamento na Reduo da Criminalidade tem como principal objetivo analisar os aspectos da Lei 10.826/03 que fazem com que a mesma no tenha eficcia quanto reduo da criminalidade. A relevncia social da pesquisa acadmica obtida, na medida em que visa contribuir com as pessoas que possuem e portam armas de fogo, bem como com aquelas que pretendem adquirir e obter a concesso de porte de arma de fogo com o intuito nico e exclusivo de promover a proteo prpria e porventura de terceiros contra atos criminosos. O problema que inspirou a pesquisa foi a promulgao da Lei 10.826 no ano de 2003, a qual, em sua concisa redao vetou muitas possibilidades de acesso s armas de fogo pelas vias legais, no impedindo por outro, que as armas cheguem por vias secundrias populao. No primeiro captulo apresentado um posicionamento histrico em relao evoluo das armas desde os primrdios da humanidade onde eram utilizados materiais grotescos at os dias atuais, com as modernas e eficazes armas de fogo. Aps o posicionamento histrico sobre as armas de fogo, apresentada a conceituao e modos de operao, funcionamento e utilizao das armas de fogo, e posteriormente a evoluo da legislao pertinente s armas de fogo no Brasil. O segundo captulo apresenta anlises da Lei em estudo por doutrinadores como ngelo Fernando Facciolli, e Guilherme de Souza Nucci, quanto ao acesso s armas de fogo, porte, e utilizao das mesmas na sociedade. Por fim, no terceiro captulo, foi analisada a pesquisa de campo feita com a oitiva de encarcerados, apresentando pensamentos doutrinrios e pesquisas quantitativas realizadas em outros pases acerca da utilizao e consequncias do uso de armas de fogo por civis. Apresentou-se ainda dados explanados durante audincia pblica na Cmara dos Deputados em que o tema pautado era justamente o porte de armas de fogo. Palavras - Chave: Estatuto do Desarmamento. Armas de fogo. Constituio

    Federal. Decreto Lei. Processo penal.

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    SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................. 08

    1 ARMAS DE FOGO E LEI DAS ARMAS DE FOGO .............................. 11

    1.1 EVOLUO DAS ARMAS DE FOGO ................................................... 11 1.2 ARMAS CONCEITO E CLASSIFICAO .......................................... 14 1.2.1 Armas Automticas .............................................................................. 18 1.2.2 Armas de Tiro Simples .......................................................................... 19 1.2.3 Armas Semiautomticas ........................................................................ 20 1.2.4 Armas de Repetio .............................................................................. 20 1.3 A EVOLUO DAS LEIS DAS ARMAS DE FOGO .............................. 21 2 DA APLICAO DA LEI NA SOCIEDADE .......................................... 30 2.1 ANLISE DA LEI ................................................................................... 30 2.2 DA RESTRIO AO ACESSO DAS ARMAS DE FOGO E MUNIES 35 2.3 DAS PENAS PREVISTAS EM LEI ........................................................ 39

    3 A INEFICCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUO DA CRIMINALIDADE ............................................................................ 43

    3.1 DA PESQUISA REALIZADA ................................................................. 43 3.2. DAS PESQUISAS ANALISADAS .......................................................... 48 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................. 53 REFERNCIAS ............................................................................................... 56 ANEXOS ........................................................................................................ 58

  • Monografia divulgada pelo Instituto DEFESA sob autorizao expressa do autor.

    INTRODUO

    O presente trabalho tem como rea do conhecimento o Direito Penal,

    Direito Constitucional e Direitos Humanos em especial o direito de poder portar

    uma arma de fogo e a variedade de reaes desencadeadas por este fato.

    Teoricamente, pretende-se compreender as falhas e lacunas na legislao

    vigente no que tange Lei de Armas de Fogo, visando esclarecer os motivos

    pelos quais tal legislao no atende seu objetivo maior que a reduo da

    criminalidade.

    A relevncia social obtida com esta pesquisa acadmica tem, na medida

    em que visa contribuir com as pessoas que no se utilizam de armas no seu dia-

    a-dia, esclarecer dvidas e conquistar direitos para aquelas que cotidianamente

    fazem uso destas, seja decorrente do exerccio da profisso ou por terem optado

    pela autorizao para portar uma arma de fogo.

    Justifica-se a escolha do tema, em decorrncia da afinidade e curiosidade

    pessoal do pesquisador, que objetiva com este trabalho esclarecer os fatos que

    fazem com que a Lei de Armas de Fogo, conhecida vulgarmente como Estatuto

    do Desarmamento, no alcance seu objetivo principal, e ainda, apresentar

    solues para tanto.

    Tambm chamaram a ateno, outros fatos e falhas na legislao, que

    esto descritos no corpo do texto.

    A utilizao das armas de fogo est presente em nossa histria desde o

    sculo IX d.C. quando os chineses inventaram a plvora, desde ento, pouco

    pouco, as diversas naes mundiais foram aderindo tal invento e cada vez mais

    aperfeioando o modo de utiliz-la, ou seja, desenvolvendo armas menores e de

    manuseio individual com capacidade de fogo cada vez maior.

    Sabe-se que a Constituio Federal de 1988, prev em seu artigo 5, que

    so inviolveis a intimidade, a vida privada, e a honra dos cidados brasileiros,

    garantindo o direito vida, segurana, liberdade e propriedade, e ainda,

    reza que a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar

    sem consentimento do morador, portanto abre precedente indiscutvel para a

    utilizao moderada e eficaz da fora para conter tais atos ofensivos. A Carta

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    Magna reza ainda em seu artigo 144, que a segurana dever do Estado e direito

    e responsabilidade de todos.

    Por outro lado, tem-se o aval para a utilizao da fora, at mesmo letal no

    caso da legtima defesa, a qual fica completamente inalcanvel sem a presena

    e utilizao de material equivalente ao utilizado para promover a ameaa, qual

    seja as armas de fogo.

    Para promover a compreenso do tema, a estruturao do presente

    trabalho monogrfico foi dividida em trs captulos.

    O primeiro captulo visa posicionar historicamente a evoluo das armas,

    desde a utilizao de paus e pedras, at a criao de armas semi-automticas e

    automticas, e ainda, demonstrar de forma clara a evoluo da legislao

    armamentista.

    Aps posicionar a histria, apresentado um conceito geral dos modos de

    utilizao das armas, bem como quanto aos direitos sobre elas, (porte e posse).

    Sob a mesma gide, classificar-se- os modelos de armas, calibres,

    funcionamento e modo de aquisio das mesmas.

    O segundo captulo apresenta uma sntese da Lei 10.826/03, de seu

    decreto regulamentador 5.123/04, e ainda de legislaes complementares ao

    tema abordado, apresentando posicionamentos de doutrinadores como ngelo

    Fernando Facciolli, Joo Lus Vieira Teixeira, Guilherme de Souza Nucci.

    O terceiro captulo apresenta dados estatsticos, com perguntas formuladas

    a indivduos que se encontram encarcerados pelos mais variados tipos de crimes,

    quanto utilizao das armas, modo de aquisio das mesmas, motivao para

    cometimento de ilcito contra pessoa armada, entre outros. Aprofundando-se no

    problema desta pesquisa, feito uma anlise de dados estatsticos do Brasil e de

    outros pases quanto interferncia das armas de fogo na vida em sociedade.

    O mtodo utilizado na pesquisa o indutivo com a pesquisa de campo, e

    dedutivo quando analisada a lei para a aplicabilidade no caso concreto, de modo

    que a base da pesquisa de ordem bibliogrfica, onde se consultou doutrinas

    adquiridas em livrarias online, e fornecidas pela biblioteca da faculdade de direito

    de Francisco Beltro.

    Por derradeiro, apresentam-se as consideraes angariadas com a

    realizao desta pesquisa acadmico-cientfica, a partir do enfoque e a

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    imprescindibilidade do tema, tanto para o direito ptrio, como tambm para

    aqueles que pretendem utilizar-se de armas de fogo ou apenas possu-las dentro

    de suas residncias para eventuais incidentes e tambm para todos aqueles que

    possam de alguma forma se beneficiar com este trabalho.

  • 1 ARMAS DE FOGO E LEIS DAS ARMAS DE FOGO

    1.1 EVOLUO DAS ARMAS DE FOGO

    Conforme se pde perceber atravs de estudos histricos, desde tempos

    imemoriveis, o homem utiliza-se de objetos com o intuito de agredir, atacar,

    ofender, ou ainda proteger-se ou proteger sua famlia e suas posses de alguma

    ameaa, seja esta de animais ou outros seres humanos.

    Conforme TEIXEIRA, (2001, p.15)

    [...] desde seu surgimento na face da Terra at os dias atuais, o homem se utiliza de algum meio para efetuar sua autodefesa. Apenas o que mudou foram as armas ou os meios utilizados, que acompanharam o desenvolvimento de novas tcnicas, a descoberta de novos materiais e as novas tecnologias que surgiram ao longo da prpria evoluo humana.

    Portanto, narra a histria que na idade da pedra, tempo em que os homens

    habitavam cavernas, estes, utilizavam-se de instrumentos como tacapes, pedras,

    galhos e outros tipos de objetos com o intuito de caar animais para sua

    sobrevivncia ou guerrear com inimigos, visto pois, que j utilizavam-se de armas

    para muitos objetivos.

    A vantagem da utilizao de tais instrumentos consiste no fato de que

    indivduos com menor potencial ofensivo, ou seja, tamanho e fora reduzidos,

    poderiam igualar-se ou at mesmo serem mais fortes que outros; (homens ou

    animais) o que desde ento passa a ser visto como potencial ofensivo das armas.

    Cumpre asseverar, que com o passar dos anos, os homens foram

    percebendo, que poderiam aprimorar suas armas, afiando uma das pontas de

    uma haste de madeira, ou amarrando uma pedra a ela, com isso, tais

    instrumentos foram evoluindo.

    Segundo TEIXEIRA (2001, p.15) Amarrando-se um cip nas duas pontas

    de um galho, fazia-se um arco, que impulsionava outros galhos distncia e

    assim por diante. Constata-se, portanto, que os homens perceberam que poderia

    ser confeccionado um arco com um cip trabalhado preso junto a uma vara

    arqueada, a qual dispararia um projtil com maior velocidade e alcance do que se

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    fosse lanado diretamente com o impulso da mo ou brao, surgindo assim o

    conjunto arco-e-flecha, que mais tarde tornaram-se as bestas e balestras.

    Segundo TEIXEIRA (2001, p. 15), Com o invento da fundio do ferro,

    surgiram armas mais elaboradas, como arcos, que arremessavam flechas com

    pontas metlicas, lanas, espadas, adagas, [...]. Tal evoluo foi de extrema

    importncia para a histria e para o aprimoramento das armas, visto que sem a

    fundio do ferro ou ao, as armas de fogo em tese, nunca poderiam ter se

    desenvolvido. Estas armas, com o passar dos anos, tiveram seu tamanho

    reduzido para facilitar sua camuflagem e seu transporte, porm tiveram

    aprimoramentos que as tornaram mais letais e mais resistentes condies

    adversas.

    Por volta do sculo IX d.C, os chineses descobriram a plvora, inicialmente

    utilizada para fins pirotcnicos, porm logo perceberam que tal descoberta

    poderia ser utilizada na rea blica, aprimorando assim a arte da guerra

    disparando projteis, inicialmente foram desenvolvidos canhes feitos de bambu,

    que logo foram substitudos por canhes feitos de ferro ou bronze, pesados, de

    difcil locomoo, porm em relao aos de bambu, tinham maior poder de fogo e

    consequentemente maior potencial ofensivo. Estes eram operados por duas, trs

    ou at quatro pessoas. Posteriormente, tais artefatos foram aprimorados, tendo

    seu tamanho reduzido, podendo ser operados por apenas uma pessoa, facilitando

    e agilizando sua operao.

    Aps o invento da plvora e o desenvolvimento das armas de fogo, no

    demorou muito para que o mundo todo utilizasse as mesmas, fato este de suma

    importncia para que estes objetos fossem aprimorados, criando-se os

    bacamartes ou garruchas, que eram armas de cano longo, carregadas pela boca

    do cano que disparavam uma esfera macia de chumbo ou ferro, porm tal arma

    tinha alcance reduzido, pois em uma distncia maior, perdia seu potencial

    ofensivo e seu projtil no tinha direo certa.

    Segundo informaes coletadas na internet, mais precisamente no site

    WIKIPEDIA, (2012, p. 1) aps alguns anos de aprimoramento da plvora, fora

    desenvolvida a plvora sem fumo, esta, no explode como a plvora negra,

    pois feita de pura nitrocelulose (plvora de base simples), queimando de

    maneira mais lenta, fazendo com que o projtil disparado seja impulsionado de

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    maneira uniforme durante todo seu trajeto ao longo do cano da arma, diminuindo

    o recuo e aumentando a velocidade de propulso.

    Os Estados Unidos foram sem dvida, a nao que mais contribuiu para a

    evoluo das armas de fogo, pas este, onde at os dias atuais, sua populao

    adoradora de tais instrumentos, e um dos pases onde a legislao armamentista

    mais flexvel, ou seja, fcil adquirir uma arma legalizada, at mesmo de

    funcionamento automtico com calibres potencialmente considerveis.

    MCNAB (1999, p.7) menciona em sua obra que Depois de Samuel Colt

    trazer seu revlver de percusso para o mercado em 1835, e Horace Smith e

    Daniel B. Wesson introduzirem a primeira munio de revlver, a pistola tornou-se

    uma arma vivel de combate.

    Samuel Colt foi um cidado americano, e oficial da marinha, que

    desenvolveu o revlver Colt, uma arma com capacidade para cinco ou seis

    munies, arma esta, revolucionria para a poca, e que at os dias de hoje, tem

    seu modo de funcionamento utilizado pelas mais diversas indstrias blicas em

    todo o mundo.

    De acordo com informaes coletadas no WIKIPEDIA (2012, P.1) Horace

    Smith e Daniel B. Wesson so os fundadores da S&W (Smith & Wesson),

    tradicional fabricante de munies e armas nos Estados Unidos, foram os

    responsveis pelo desenvolvimento do estojo descartvel de antecarga, que

    primeiramente era feito de papelo, e posteriormente passou a ser metlico, mais

    precisamente de lato, para que no sofresse danos causados pela umidade

    quando exposto condies adversas.

    O estojo de antecarga utilizado para conter num mesmo objeto, a

    plvora, a espoleta e o projtil, facilitando e tornando mais rpidas as recargas,

    permitindo assim uma enorme evoluo das armas de fogo, j que desta forma

    poderiam ser carregadas pela culatra, permitindo uma cadncia maior de tiros em

    menor tempo.

    As armas de fogo ao longo do tempo foram tendo seu manuseio cada vez

    mais simplificado e gil, e o poder de fogo aumentado, visto que os canos

    ganharam raias, ranhuras, que potencializam a velocidade do projtil e do

    melhor direcionamento e balanceamento a ele.

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    TEIXEIRA (2001, p. 16), expe que:

    [...] com o invento do cartucho metlico (para conter a carga de plvora e a espoleta, e para fazer a vedao da cmara de disparo, minimizando o escape de gases) foram diversificando-se os modelos, com diferentes sistemas de funcionamento, que continuaram evoluindo at a chegada das armas de fogo curtas, de alta tecnologia, como os revlveres e as pistolas fabricadas com ligas de polmero e/ou alumnio.

    O desenvolvimento e aprimoramento das armas de fogo, se comparado

    evoluo de outras invenes como os automveis, por exemplo, foi lenta, visto

    que desde a inveno da plvora at os dias atuais, as armas vm sendo

    melhoradas, com o intuito de proporcionar maior poder de fogo, com maior

    preciso e fornecendo maior segurana para quem s dispara, bem como para

    quem no deve ser alvejado em uma situao de conflito em rea urbana.

    Pode-se afirmar, segundo MCNAB (1999, p.13) que:

    Recentemente, levou-se a cabo experincias com metralhadoras que utilizaram a acelerao electromagntica, em vez de percusso, para o disparo das munies, tendo o resultado sido uma chuva de fogo de alta velocidade, denso, potente e surpreendentemente silencioso. Outras ideias j saram da mesa de desenho. A espingarda automtica G11 da Heckler & Koch dispara uma munio sem invlucro, em que o cartucho est inserido num retngulo de carga propulsora, que desaparece completamente ao ser disparado.

    Com tais evolues, verifica-se que as armas de operao individual vm

    sofrendo constantes aprimoramentos, e como explanou MCNAB (1999, p.13), o

    cartucho metlico que foi h alguns anos uma descoberta excepcional, est

    ficando ultrapassado, j que a eliminao da necessidade de ejeo do cartucho

    conferiu s armas desenvolvidas para a utilizao de carga propulsora intergrada

    ao projtil um elevado poder de fogo com reduo considervel no seu

    estampido.

    1.2 ARMAS - CONCEITO E CLASSIFICAO

    Arma, segundo FRAGOSO (1971, p. 76), o instrumento em condies de

    ser utilizado ou que pode a qualquer instante ser posto em condies de ser

    usado para o ataque ou a defesa.

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    Pode-se dizer segundo FRAGOSO (1971, p. 76), que at mesmo uma

    caneta ou material anlogo, ao ser cravada em algum com o intuito de ferir ou

    matar, considera-se arma, pois instrumento apto e que de pronto pode ser

    utilizado para uma finalidade lesiva.

    Outro conceito de arma o apresentado por SILVA (2000, p.77), o qual

    afirma que a ofensividade natural da arma, ou seja, a qual se considera por si

    mesma, devido a sua fabricao e pela sua finalidade de construo. Segundo o

    autor, no se incluem no conceito de arma as que eventualmente (ou

    acidentalmente) so usadas como arma, somente aquelas que so produzidas

    para a finalidade ofensiva podem ser consideradas armas.

    Analisando o conceito exposto por SILVA (2000, p.77), pode-se entender

    que um punhal ou adaga, so considerados armas, e uma espingarda ou pistola

    destinada ao tiro esportivo no, pois a primeira j fabricada com o intuito de ser

    utilizada como arma, e a segunda, como material desportivo.

    O Decreto 3.665/2000 Regulamento de Fiscalizao de Produtos

    Controlados do Comando do Exrcito, denominado R-105, que vigora neste Pas,

    dispe sobre os tipos, calibres, funcionamentos e espcies de armas, bem como

    atribui definies aos termos presentes na Lei 10.826/03, chamada de Estatuto

    do Desarmamento.

    O Decreto 3.665/00, conhecido como R-105, em seu artigo 3 d definies

    conceituais quanto aos tipos de armas de fogo.

    Art. 3o Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicao, so adotadas as seguintes definies: XXXVII - carabina: arma de fogo porttil semelhante a um fuzil, de dimenses reduzidas, de cano longo - embora relativamente menor que o do fuzil - com alma raiada; XLIX - espingarda: arma de fogo porttil, de cano longo com alma lisa, isto , no raiada; LIII - fuzil: arma de fogo porttil, de cano longo e cuja alma do cano raiada; LXI - metralhadora: arma de fogo porttil, que realiza tiro automtico; LXIII - mosqueto: fuzil pequeno, de emprego militar, maior que uma carabina, de repetio por ao de ferrolho montado no mecanismo da culatra, acionado pelo atirador por meio da sua alavanca de manejo; LXVII - pistola: arma de fogo de porte, geralmente semiautomtica, cuja nica cmara faz parte do corpo do cano e cujo carregador, quando em posio fixa, mantm os cartuchos em fila e os apresenta sequencialmente para o carregamento inicial e aps cada disparo; h pistolas de repetio que no dispem de carregador e cujo carregamento feito manualmente, tiro a tiro, pelo atirador;

  • 16

    LXVIII - pistola-metralhadora: metralhadora de mo, de dimenses reduzidas, que pode ser utilizada com apenas uma das mos, tal como uma pistola; LXXIV - revlver: arma de fogo de porte, de repetio, dotada de um cilindro giratrio posicionado atrs do cano, que serve de carregador, o qual contm perfuraes paralelas e equidistantes do seu eixo e que recebem a munio, servindo de cmara;

    O artigo 16 do R 105, dispe quais so os calibres e funcionamentos de

    uso restrito, incluindo ainda as vedaes quanto simulacros de armas utilizadas

    pelas Foras Armadas Nacionais.

    Art. 16. So de uso restrito: I - armas, munies, acessrios e equipamentos iguais ou que possuam alguma caracterstica no que diz respeito aos empregos ttico, estratgico e tcnico do material blico usado pelas Foras Armadas nacionais; II - armas, munies, acessrios e equipamentos que, no sendo iguais ou similares ao material blico usado pelas Foras Armadas nacionais, possuam caractersticas que s as tornem aptas para emprego militar ou policial; III - armas de fogo curtas, cuja munio comum tenha, na sada do cano, energia superior a (trezentas libras-p ou quatrocentos e sete Joules e suas munies, como por exemplo, os calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto; IV - armas de fogo longas raiadas, cuja munio comum tenha, na sada do cano, energia superior a mil libras-p ou mil trezentos e cinquenta e cinco Joules e suas munies, como por exemplo, .22-250, .223 Remington, .243 Winchester, .270 Winchester, 7 Mauser, .30-06, .308 Winchester, 7,62 x 39, .357 Magnum, .375 Winchester e .44 Magnum; V - armas de fogo automticas de qualquer calibre; VI - armas de fogo de alma lisa de calibre doze ou maior com comprimento de cano menor que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milmetros; VII - armas de fogo de alma lisa de calibre superior ao doze e suas munies; VIII - armas de presso por ao de gs comprimido ou por ao de mola, com calibre superior a seis milmetros, que disparem projteis de qualquer natureza; IX - armas de fogo dissimuladas, conceituadas como tais os dispositivos com aparncia de objetos inofensivos, mas que escondem uma arma, tais como bengalas-pistola, canetas-revlver e semelhantes; X - arma a ar comprimido, simulacro do Fz 7,62mm, M964, FAL; XI - armas e dispositivos que lancem agentes de guerra qumica ou gs agressivo e suas munies; XII - dispositivos que constituam acessrios de armas e que tenham por objetivo dificultar a localizao da arma, como os silenciadores de tiro, os quebra-chamas e outros, que servem para amortecer o estampido ou a chama do tiro e tambm os que modificam as condies de emprego, tais como os bocais lana-granadas e outros; XIII - munies ou dispositivos com efeitos pirotcnicos, ou dispositivos similares capazes de provocar incndios ou exploses;

  • 17

    XIV - munies com projteis que contenham elementos qumicos agressivos, cujos efeitos sobre a pessoa atingida sejam de aumentar consideravelmente os danos, tais como projteis explosivos ou venenosos; XV espadas e espadins utilizados pelas Foras Armadas e Foras Auxiliares; XVI - equipamentos para viso noturna, tais como culos, periscpios, lunetas, etc; XVII - dispositivos pticos de pontaria com aumento igual ou maior que seis vezes ou dimetro da objetiva igual ou maior que trinta e seis milmetros; XVIII - dispositivos de pontaria que empregam luz ou outro meio de marcar o alvo; XIX - blindagens balsticas para munies de uso restrito; XX - equipamentos de proteo balstica contra armas de fogo portteis de uso restrito, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; e XXI - veculos blindados de emprego civil ou militar. [grifou-se].

    J o artigo 17 do mesmo Regulamento dispe acerca das armas e

    acessrios de calibre, funcionamento e tipo classificados como de uso permitido:

    Art. 17. So de uso permitido: I - armas de fogo curtas, de repetio ou semi-automticas, cuja munio comum tenha, na sada do cano, energia de at trezentas libras-p ou quatrocentos e sete Joules e suas munies, como por exemplo, os calibres .22 LR, .25 Auto, .32 Auto, .32 S&W, .38 SPL e .380 Auto; II - armas de fogo longas raiadas, de repetio ou semi-automticas, cuja munio comum tenha, na sada do cano, energia de at mil libras-p ou mil trezentos e cinqenta e cinco Joules e suas munies, como por exemplo, os calibres .22 LR, .32-20, .38-40 e .44-40; III - armas de fogo de alma lisa, de repetio ou semi-automticas, calibre doze ou inferior, com comprimento de cano igual ou maior do que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milmetros; as de menor calibre, com qualquer comprimento de cano, e suas munies de uso permitido; IV - armas de presso por ao de gs comprimido ou por ao de mola, com calibre igual ou inferior a seis milmetros e suas munies de uso permitido; V - armas que tenham por finalidade dar partida em competies desportivas, que utilizem cartuchos contendo exclusivamente plvora; VI - armas para uso industrial ou que utilizem projteis anestsicos para uso veterinrio; VII - dispositivos ticos de pontaria com aumento menor que seis vezes e dimetro da objetiva menor que trinta e seis milmetros; VIII - cartuchos vazios, semi-carregados ou carregados a chumbo granulado, conhecidos como "cartuchos de caa", destinados a armas de fogo de alma lisa de calibre permitido; IX - blindagens balsticas para munies de uso permitido; X - equipamentos de proteo balstica contra armas de fogo de porte de uso permitido, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; e

    XI - veculo de passeio blindado. [grifou-se].

  • 18

    Verifica-se no artigo supracitado, que os calibres de uso permitido, tem

    ainda como parmetro de classificao quanto energia do projtil na sada do

    cano. Por exemplo, no inciso II, a munio .22 LR, permitida, porm, a munio

    .22 LR do tipo Magnum, de uso restrito, j que ultrapassa mil libras-p quando

    da sua sada na boca do cano de uma carabina.

    O Decreto n 5.123/04, em seu artigo 11, repetiu o conceito do Decreto

    anterior (R-105), redefinindo arma de fogo de uso restrito como sendo aquela de

    uso exclusivo das Foras Armadas, de instituies de segurana pblica e de

    pessoas fsicas e jurdicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando

    do Exrcito, de acordo com legislao especfica.

    No que tange ao funcionamento das armas de fogo, conforme especificado

    pelos artigos supracitados, so classificadas como automticas, semiautomticas

    e de repetio, porm, existem ainda as operadas tiro tiro ou tiro simples, e

    as que podem funcionar em modo burst-fire, que nada mais so do que armas

    automticas que disparam trs projteis ao mesmo tempo, elevando

    consideravelmente seu poder de fogo.

    O artigo 3 do R-105 define o funcionamento das armas de fogo:

    Art. 3o Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicao, so adotadas as seguintes definies: X - arma automtica: arma em que o carregamento, o disparo e todas as operaes de funcionamento ocorrem continuamente enquanto o gatilho estiver sendo acionado ( aquela que d rajadas); XVI - arma de repetio: arma em que o atirador, aps a realizao de cada disparo, decorrente da sua ao sobre o gatilho, necessita empregar sua fora fsica sobre um componente do mecanismo desta para concretizar as operaes prvias e necessrias ao disparo seguinte, tornando-a pronta para realiz-lo; XXIII - arma semi-automtica: arma que realiza, automaticamente, todas as operaes de funcionamento com exceo do disparo, o qual, para ocorrer, requer, a cada disparo, um novo acionamento do gatilho;

    Estas so caractersticas gerais das armas de fogo, suas peculiaridades

    so abordadas na sequncia deste estudo.

    1.2.1 Armas Automticas

    Quanto ao conceito de armas de funcionamento automtico, segundo

    FACCIOLLI (2010, p. 377) [...] aquela em que o atirador pode manter a arma

  • 19

    em disparos contnuos at que seja suspenso o comando de disparo (gatilho) ou

    termine a munio do compartimento de recarga (carregador).

    Portanto, nas armas automticas os tiros so sequenciais com apenas um

    pressionamento no gatilho, porm quando o pressionamento cessar, os tiros

    tambm cessaro. Estas armas tem funcionamento complexo, e elevado poder de

    fogo, podendo disparar diversos projteis em um s segundo. Exemplos de armas

    com este tipo de ao so as metralhadoras, fuzis e algumas pistolas modernas

    como a Glock Auto (ustria), HK - Heckler & Koach (Alemanha) e Beretta M9

    (Itlia). As pistolas Glock e HK so vendidas no Brasil, entretanto somente no

    modo semiautomtico.

    TEIXEIRA (2001, p.17) define como arma automtica [...] aquela que com

    apenas um aperto do gatilho (e mantendo-o pressionado) dispara

    ininterruptamente at que a capacidade do carregador (pente) seja totalmente

    esgotada.

    Armas com funcionamento automtico so muito utilizadas por foras

    policiais e militares, porm em alguns pases como nos Estados Unidos, Sua, e

    ustria, estas armas so comercializadas livremente.

    1.2.2 Armas de Tiro Simples

    No que diz respeito s armas com funcionamento do tipo tiro simples,

    FACCIOLLI (2010, p.377), define que ... o sistema em que a arma necessita

    ser municiada manualmente depois de efetuado o disparo.

    Estas armas normalmente tem capacidade de at dois tiros, sendo que

    possuem um cano para cada tiro, com percussores separados, necessitando que

    se acione o percussor de forma independente do gatilho para que o tiro possa ser

    efetuado. Normalmente so armas do tipo espingarda, garruchas ou bacamartes,

    conforme expe TEIXEIRA (2001, p.16) Exemplo disso so os bacamartes

    (utilizados, por exemplo, pelos bandeirantes, no Brasil no sculo XVIII), que eram

    grandes armas de canos longos, semelhantes a um fuzil, carregadas pela boca do

    cano.

    Armas com este funcionamento esto caindo no desuso nos dias atuais,

    porm caadores e atiradores esportivos ainda s utilizam.

  • 20

    1.2.3 Armas Semiautomticas

    Quanto s armas semiautomticas, TEIXEIRA (2001, p. 17) dispe que As

    semi-automticas necessitam ter seus gatilhos premidos a cada disparo que se

    deseje efetuar, ou seja, para se efetuar trs disparos, necessrio que se aperte

    o gatilho trs vezes consecutivas, e assim por diante.

    FACCIOLLI (2010, p. 377) expe que Semiautomtico o sistema em que

    o carregamento ou a preparao para o seguinte disparo efetuada

    automaticamente em decorrncia do disparo anterior.

    O funcionamento destas armas na grande maioria decorrente dos gases

    expelidos pela queima da plvora, que proporciona o recuo da cpsula deflagrada

    ejetando-a para que um novo cartucho intacto adentre cmara de disparo.

    Exemplos clssicos deste funcionamento so as pistolas, algumas

    carabinas, rifles, fuzis e espingardas modernas. So armas utilizadas pelo mundo

    todo, seja por civis, atiradores ou foras policiais, tem cadncia de tiro muito boa e

    preciso considervel. Estas armas so muito utilizadas por atiradores esportivos,

    civis, foras militares, foras policiais, magistrados e promotores.

    1.2.4 Armas de Repetio

    FACCIOLLI (2010, p. 377) conceitua o modo de funcionamento do tipo

    repetio como sendo

    [...] o sistema em que a arma necessita de um acionamento por parte do atirador em preparao para o disparo seguinte. Esta ao pode ser realizada mediante uma alavanca, manivela de culatra ou ferrolho, deslizamento de manopla ou telha (bomba), engatilhamento do martelo ou co (ao simples de revlver), deslocamento do gatilho (dupla ao de revlver) etc.

    As armas de repetio tiveram papel fundamental no desenvolvimento de

    todas as armas de fogo utilizadas atualmente, haja vista o fato de que fora este

    funcionamento o desenvolvido por Samuel Colt, quando da inveno do primeiro

    revlver.

    MACNAB (1999, p.07) expe acerca da inveno do revlver:

  • 21

    No mundo da arma pessoal, o sculo XIX foi um tempo de progresso excepcional. Depois de Samuel Colt trazer o seu revlver de percusso para o mercado em 1835, e Horace Smith e Daniel B. Wesson introduzirem a primeira munio de revlver, a pistola tornou-se uma arma vivel de combate.

    As armas de repetio tem capacidade para mais de uma munio,

    apresentando na maioria dos casos apenas um cano, e para efetuar uma

    cadncia de tiro, a arma deve ser manobrada, ou seja, tem de ser efetuado um

    movimento com o ferrolho da arma ou com o percussor, o qual eliminar o

    cartucho deflagrado para que um novo adentre ou posicione-se na cmara para o

    disparo.

    As carabinas, espingardas pump-action, revlveres e rifles de preciso, so

    os maiores representantes desta categoria, so muito utilizados no tiro esportivo,

    algumas foras de segurana menos modernizadas utilizam ainda os revlveres,

    na maioria dos estados Brasileiros estes j foram substitudos pelas pistolas, as

    espingardas pump-action so utilizadas pelo mundo todo, j que so armas muito

    confiveis, com grande poder de fogo, curto alcance e Stopping Power (poder de

    parada ou poder de cessar uma ameaa com apenas um tiro) muito bom. Os rifles

    de repetio so muito utilizados no mundo inteiro, pois apresentam maior

    preciso em um tiro de longa distncia.

    1.3 A EVOLUO DAS LEIS DAS ARMAS DE FOGO

    A legislao brasileira pertinente regular a utilizao, porte e posse de

    armas de fogo, sempre foi bastante controversa, ininteligvel, e passvel de

    diversas emendas ao longo de sua vigncia, sendo assim modificada

    consideravelmente ao longo dos anos, gerando certa insegurana jurdica no que

    tange utilizao, posse e porte de armas de fogo.

    Acerca do controle das armas de fogo no Brasil atravs de previses

    legais, conforme entendimento de GOMES e OLIVEIRA (2002 p. 72) A evoluo

    do tratamento jurdico penal da matria sempre foi marcada por uma idia de

    necessrio controle sobre tais objetos.

    Desde o tempo de D. Pedro, tem-se disposies legais referentes s armas

    de fogo, chamadas naquela poca de armas defesas. O Cdigo Criminal do

  • 22

    Imprio, tambm chamado de lei de 16 de Dezembro de 1830, j dispunha sobre

    tal tema.

    CAPITULO V USO DE ARMAS DEFESAS Art. 297. Usar de armas offensivas, que forem prohibidas. Penas - de priso por quinze a sessenta dias, e de multa correspondente metade do tempo, atm da perda das armas. Art. 298. No incorrero nas penas do artigo antecedente: 1 Os Officiaes de Justia, andando em diligencia. 2 Os Militares da primeira e segunda linha, e ordenanas, andando em diligencia, ou em exercicio na frma de seus regulamentos. 3 Os que obtiverem licena dos Juizes de Paz. Art. 299. As Camaras Municipaes declararo em editaes, quaes sejam as armas offensivas, cujo uso podero permittir os Juizes de Paz; os casos, em que as podero permittir; e bem assim quaes as armas offensivas, que ser licito trazer, e usar sem licena aos occupados em trabalhos, para que ellas forem necessarias.

    Verifica-se no artigo 298 3 acima citado, que o porte legal de armas de

    fogo j era previsto naquela poca, s podendo gozar de tal direito quem o

    obtivesse atravs de licena concedida pelos Juzes de Paz.

    O artigo 297, utiliza o verbo usar, no dispondo quanto portar ou

    possuir, portanto, s incorreria na pena deste artigo, quem se utilizasse de uma

    arma proibida, abrindo o precedente para que se pudesse ter dentro de sua

    residncia qualquer arma.

    Tal legislao no previa que fosse realizado qualquer teste, tanto

    psicolgico quanto prtico, para a aquisio ou porte de arma, ademais, no fazia

    meno alguma quanto possuir uma arma, apenas quanto port-la.

    Presume-se, portanto que era permitido qualquer pessoa adquirir e ter

    dentro de sua propriedade uma ou mais armas.

    Quanto ao artigo 299, desde aquele tempo, j havia certa cautela quanto

    ao tipo, funcionamento ou calibre das armas que poderiam ser portadas pela

    populao, porm, as declaraes que a lei cita, s poderiam alcanar as armas

    que estivessem sendo portadas, e no as que estivessem guardadas na

    residncia dos cidados.

    Posteriormente, fora criado o Cdigo Penal de 1890, o qual continha

    apenas dois artigos acerca do uso e fabricao de armas de fogo, no dispondo

    nada acerca de calibres, tipo de funcionamento ou tipo de armas permitidas ou

    no.

  • 23

    CAPITULO V DO FABRICO E USO DE ARMAS Art. 376. Estabelecer, sem licena do Governo, fabrica de armas, ou plvora: Penas de perda, para a Nao, dos objetos apreendidos e multa de 200$ a 500$000. Art. 377. Usar de armas ofensivas sem licena da autoridade policial: Pena de priso celular por 15 a 60 dias. Pargrafo nico. So isentos de pena: 1, os agentes da autoridade publica, em diligencia ou servio; 2, os oficiais e praas do Exercito, da Armada e da Guarda Nacional, na conformidade dos seus regulamentos.

    O artigo 376 da legislao supracitada veda a fabricao de armas sem

    autorizao de autoridade competente, porm no dispe qual a autoridade

    competente para autorizar ou no a fabricao de tais objetos.

    J o artigo 377, vedava o uso de armas sem licena da autoridade policial,

    no dispondo quanto territorialidade desta autorizao (federal ou estadual), e

    ainda, no informava qual era a autoridade policial que poderia deferir ou no o

    porte de arma para um civil.

    Percebe-se, que tanto o Cdigo Criminal do Imprio, quanto o Cdigo

    Penal de 1890, previam o porte de arma para os oficiais de justia enquanto em

    diligncia.

    Quando da criao do Cdigo Penal de 1940, ou Decreto-Lei nmero

    2.848, de 07 de dezembro de 1940, tal legislao nem mesmo dispunha acerca

    das armas de fogo, apenas de causas de aumento e diminuio de penas,

    agravantes e atenuantes, bem como sobre bandos armados, no autorizando ou

    vedando o uso de armas de fogo.

    A Lei de Contravenes Penais, Decreto-lei nmero 3.688, de 3 de outubro

    de 1941, em seus artigos 18 e 19, dispunha sobre o porte, a fabricao,

    importao, exportao, posse e comrcio de armas de fogo, no definindo

    acerca de tipo, espcie, calibre ou funcionamento das armas que seriam ou no

    permitidas ao uso civil.

    PARTE ESPECIAL CAPTULO I DAS CONTRAVENES REFERENTES PESSOA

  • 24

    Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depsito ou vender, sem permisso da autoridade, arma ou munio: Pena priso simples, de trs meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de ris, ou ambas cumulativamente, se o fato no constitui crime contra a ordem poltica ou social. Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependncia desta, sem licena da autoridade: Pena priso simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil ris a trs contos de ris, ou ambas cumulativamente. 1 A pena aumentada de um tero at metade, se o agente j foi condenado, em sentena irrecorrvel, por violncia contra pessoa. 2 Incorre na pena de priso simples, de quinze dias a trs meses, ou multa, de duzentos mil ris a um conto de ris, quem, possuindo arma ou munio: a) deixa de fazer comunicao ou entrega autoridade, quando a lei o determina; b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de arma a tenha consigo; c) omite as cautelas necessrias para impedir que dela se apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manej-la.

    O artigo 18, j bania o comrcio ilegal de armas de fogo, sem citar os

    calibres e tipos de armas que poderiam ser comercializadas legalmente, e ainda,

    bania a fabricao de qualquer tipo de arma sem autorizao de autoridade

    competente, porm, no cita qual seria a autoridade competente para fiscalizar ou

    autorizar o comrcio, importao, exportao ou fabricao de armas de fogo.

    Em anlise ao artigo 19, percebe-se que houve uma preocupao do

    legislador quanto ao porte ilegal de armas de fogo, j que previa sano penal

    para quem portasse arma de fogo sem autorizao (porte). Considerava-se uma

    causa de aumento, quem j condenado com sentena transitada em julgado por

    violncia contra pessoa, fosse flagrado portando arma de fogo.

    Em apertada sntese, percebe-se ainda, referncia quanto disparo de

    arma de fogo, tal previso est disposta no artigo 28 da mesma lei.

    CAPTULO III DAS CONTRAVENES REFERENTES INCOLUMIDADE PBLICA Art. 28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela: Pena priso simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil ris a trs contos de ris. Pargrafo nico. Incorre na pena de priso simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil ris a dois contos de ris, quem, em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela, sem licena da autoridade, causa deflagrao perigosa, queima fogo de artifcio ou solta balo aceso.

  • 25

    Percebe-se que fora equiparado o potencial ofensivo de um disparo de

    arma de fogo, queima de fogo de artifcio. Fato este, notoriamente repudivel,

    visto que um artifcio pirotcnico tem teoricamente menor potencial ofensivo do

    que um disparo de arma de fogo.

    No ano de 1997, fora promulgada a lei 9.437/97, denominada Lei das

    Armas de Fogo. Tal lei pode ser considerada um tanto quanto concisa, face

    importncia da matria da qual tratava.

    A referida legislao, em muitos aspectos semelhante ao Estatuto do

    Desarmamento, porm esta deu origem e atribuiu funes ao SINARM Sistema

    Nacional de Armas, conforme expe os artigos 1 e 2.

    Art. 1 Fica institudo o Sistema Nacional de Armas - SINARM no Ministrio da Justia, no mbito da Polcia Federal, com circunscrio em todo o territrio nacional. Art. 2 Ao SINARM compete: I - identificar as caractersticas e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro; II - cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no Pas; III - cadastrar as transferncias de propriedade, o extravio, o furto, o roubo e outras ocorrncias suscetveis de alterar os dados cadastrais; IV - identificar as modificaes que alterem as caractersticas ou o funcionamento de arma de fogo; V - integrar no cadastro os acervos policiais j existentes; VI - cadastrar as apreenses de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais. Pargrafo nico. As disposies deste artigo no alcanam as armas de fogo das Foras Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros prprios.

    Quanto ao artigo 1, GOMES e OLIVEIRA, (2002 p. 20), expe que:

    O prprio legislador passou a encarar as armas de fogo como verdadeiros produtos controlados, sobre os quais o Estado deve manter uma rigorosa tutela. Para viabilizar esses controles, tornou-se necessria a criao de toda uma estrutura administrativa especial, corporificada e instrumentalizada por meio de um novo organismo denominado Sistema Nacional de

    Armas, ou simplesmente SINARM. [grifo do autor]

    Em anlise ao artigo 2, o qual atribui as competncias do SINARM,

    percebe-se que este, tem atribuies somente quanto ao cadastramento das

    armas, e no quanto sua fiscalizao, cabendo ao Ministrio do Exrcito tal

  • 26

    atribuio. Ainda citando GOMES e OLIVEIRA, (2002 p. 22) O cadastro a que se

    refere a nova legislao abrange no somente as armas de fogo, mas tambm

    seus proprietrios [grifo do autor].

    Tal legislao, fora a primeira a preocupar-se em atribuir um proprietrio

    uma arma de fogo, pois at ento, quando da aquisio de armas de fogo, estas,

    no haviam qualquer cadastramento em rgo de fiscalizao ou controle destas.

    Conforme cita TEIXEIRA, (2001, p. 23).

    A lei citada acima possui apenas vinte e um artigos e est dividida em cinco captulos, mas, no entanto, grande a sua importncia, independentemente do fato de ela ser uma boa ou m lei. E grandes so as discusses que ela gerou. Seus objetivos eram reduzir a criminalidade existente em nosso pas e coibir a violncia, por meio da restrio do acesso das pessoas s armas de fogo.

    Diante de inmeras lacunas da legislao acima descrita, dois meses

    depois, fora criado o Decreto 2.222/97, que veio regulamentar e suprir algumas

    falhas anteriormente existentes.

    FACCIOLLI (2010, p.16) explica quanto ineficcia e falta de estrutura da

    Lei 9.437/97.

    Vrios avanos puderam ser sentidos ao longo de pouco mais de seis anos da vigncia da Lei, tais como: criminalizou o porte de arma de fogo; disciplinou o registro e o porte; estabeleceu objetivos programticos para o sistema; inaugurou a Poltica Nacional de Controle de Armas de Fogo, dentre outros. A sociedade esperava mais... - ou melhor, aspirava apenas reduo da violncia armada, o que acabou no acontecendo! A frustrao social foi o principal fator que contribuiu para rurem as estruturas do 1 SINARM. [grifo do autor]

    No ano de 2003, a lei vulgarmente chamada de Estatuto do

    Desarmamento, qual seja, a Lei 10.826/03, fora criada. Nota-se, que conforme

    expe FACCIOLLI, (2010, p.19) Presso intensa da mdia e de ONGs

    promoveram a iluso de que a proibio da venda e da restrio ao porte de

    armas de fogo poderia acabar com a violncia que domina os grandes centros

    urbanos.

    Tal afirmao confirmada diante do exposto no site JURISWAY (2012,

    p.1) em artigo publicado pela Dra. Liduna Arajo Batista.

  • 27

    Em junho de 2003, foi organizada uma Marcha Silenciosa, com sapatos de vtimas de armas de fogo, em frente ao Congresso Nacional. Este fato chamou bastante ateno da mdia e da opinio pblica. Os legisladores tomaram para si o tema e criaram uma comisso mista, com deputados federais e senadores para formular uma nova lei. Esta comisso analisou todos os projetos que falavam sobre o tema nas duas casas e reescreveram uma lei conjunta: o Estatuto do Desarmamento.

    Quando da criao de tal lei, fora estipulado em seu prprio corpo, mais

    precisamente no artigo 35, um referendo, uma consulta popular, com os mesmos

    critrios de uma eleio para cargos polticos, para saber a opinio da populao

    quanto proibio ou no do comrcio de armas de fogo no Brasil, o qual,

    contrariando as expectativas da grande maioria dos representantes desta nao,

    segundo o jornal online FOLHA UOL (2012, p.1), teve um ndice nacional de

    63,94% dos votos contrrios ao desarmamento da populao e 36,06% favor,

    porm em alguns estados como o Rio Grande do Sul, 86,83% da populao,

    optou pelo direito de possuir armas de fogo.

    O maior marco desta legislao seu carter essencialmente restritivo,

    visando a dificultar o acesso da populao s armas de fogo, criando barreiras,

    que aos olhos do povo, s servem para barrar as pessoas de bem, no impedindo

    de forma alguma o acesso de criminosos s armas de fogo.

    FACCIOLLI, (2010 p. 19), nos mostra que Infelizmente, a cultura que se

    desenvolveu em torno das armas de fogo no Brasil a de repulsa, averso

    viso antiarmas. O instrumento em si (arma) no venal; o que o torna nocivo

    o seu mau uso....

    Diferentemente da Lei 9.437/97, a lei 10.826/03, imps algumas limitaes

    a quem pretende ter armas de fogo, e tambm, gerou obrigaes para estas,

    como por exemplo, a obrigatoriedade de teste de aptido psicolgica e tcnica

    para manusear arma de fogo. Conforme pode-se perceber no artigo 4 da referida

    Lei:

    Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado dever,

    alm de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovao de idoneidade, com a apresentao de certides negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justia Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de no estar respondendo a inqurito policial ou a processo criminal, que podero ser fornecidas por meios eletrnicos; (Redao dada pela Lei n 11.706, de 2008)

  • 28

    II apresentao de documento comprobatrio de ocupao lcita e de residncia certa; III comprovao de capacidade tcnica e de aptido psicolgica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. 1

    o O Sinarm expedir autorizao de compra de arma de fogo aps

    atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransfervel esta autorizao. 2

    o A aquisio de munio somente poder ser feita no calibre

    correspondente arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (Redao dada pela Lei n 11.706, de 2008)

    Atualmente, exige-se para a obteno de registro de arma de fogo, o que

    indispensvel para a aquisio de forma legal de uma arma que o cidado

    apresente seus documentos pessoais, certides negativas no mbito Federal,

    Estadual, Militar e Eleitoral, e ainda, que comprove no estar respondendo

    inqurito policial ou processo criminal, apresentar ainda, comprovante de

    residncia, e submeter-se exames psicolgicos e de capacidade tcnica para

    manuseio de arma de fogo.

    Quanto ao caput do artigo supracitado, FACCIOLLI, (2010 p. 80), critica a

    declarao de efetiva necessidade, pois entende ser critrio subjetivo, seno,

    verifica-se:

    O direito aquisio (melhor ainda: o direito ao acesso propriedade de arma de fogo) , essencialmente, um tema que gravita na rbita constitucional. A legitimao propriedade somente pode ser limitada pela funcionalidade social do bem, sendo a segurana consagrada como um direito social fundamental na Lex mxima. A presente assertiva importante pois, ao longo do texto normativo, percebe-se o intento em criar embaraos ao cidado de bem em adquirir uma arma de fogo. Arriscamo-nos a ir mais longe e constatar uma vontade em desestimular no a aquisio, mas a prpria inteno na propriedade mina-se a expectativa pelo direito, por via oblqua. [grifo do autor]

    O artigo 28 alterou a previso da lei 9.437/97, a qual dispunha que a idade

    mnima para aquisio de arma de fogo, era de 21 (vinte e um) anos, vedando

    agora, a compra de arma de fogo por menor de 25 (vinte e cinco) anos. Art. 28.

    vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados

    os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X

    do caput do art. 6o desta Lei.

    Portanto em apertada sntese, percebe-se que o legislador, ao criar tal lei,

    no observou as faixas etrias da responsabilidade civil, criminal ou eleitoral, as

  • 29

    quais gravitam entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um anos), entendendo o legislador,

    que indivduos menores de 25 (vinte e cinco) anos, no seriam capazes de

    possuir uma arma de fogo, mas seriam sim capazes de, por exemplo, conquistar

    um cargo de prefeito municipal ou deputado federal.

    FACCIOLLI (2010 p. 331), nos reza acerca do tema:

    A inteno do legislador foi clara: desarmar as faixas etrias com idade inferior a 25 anos por acreditar que, com esta medida reduziria os nveis de violncia e homicdios no Brasil. A idade 25 anos por si s no pode ser usada como termmetro para avaliar o grau de maturidade ou de responsabilidade do cidado. O uso de armas atividade tcnica, que, por si s, contribui para disciplinar o indivduo. O tiro no uma modalidade desportiva?.

    Ainda citando FACCIOLLI, (2010 p. 331), quanto busca da maioridade

    civil, este afirma:

    O esforo do legislador foi enorme ao longo de mais de oitenta anos em busca da unificao das maioridades civil-penal, o que somente conseguiu-se quando da vidncia do novo Cdigo Civil, em 2003. No mesmo ano, por via oblqua e inconstitucional, cria-se uma nova modalidade de maioridade.

    Verifica-se ante o exposto, que a maioridade torna-se um tanto quanto

    embaraada, j que para cumprir com o direito de cidado e votar para os cargos

    eletivos em mbito regional ou federal, de 16 anos, conduzir um veculo por

    exemplo, a maioridade considera-se aos 18 anos de idade, para ser candidato

    prefeito ou deputado federal, a maioridade de 21 anos, j para adquirir ou portar

    uma arma de fogo, o sujeito torna-se capaz apenas aos 25 anos de idade.

    Tais fatos so verdadeiros atentados contra o princpio da isonomia, visto

    que indivduos que tem por ofcio, por exemplo, a profisso de policial, ou militar,

    mesmo que menor de 25 anos de idade poder adquirir e portar uma arma de

    fogo, e outro, com profisso diversa destas, no poder.

  • 2 DA APLICAO DA LEI NA SOCIEDADE

    2.1 ANLISE DA LEI

    O Estatuto do Desarmamento marcado e conhecido pela sociedade,

    tanto pelos defensores do direito de portar e possuir armas, quanto por aqueles

    que tm um idealismo antiarmas, pelo seu carter extremamente restritivo de

    direitos, ferindo por vezes a prpria Constituio Federal.

    Segundo FACCIOLLI (2010, p.11):

    A nova Lei do Sinarm, elaborada em meio a presses de entidades governamentais e no governamentais, no foi edificada com imparcialidade em obedincia aos imperativos constitucionais de construo legislativa. Em diversas passagens cria imbrglios, obstaculizando a sua completa compreenso. No bastasse tratar-se de lei extravagante, ultrapassou os limites admitidos da harmonia e coerncia. [grifo do Autor].

    Conforme expe o site da REVISTA MAGNUM (2012, p.1), Esto no

    Supremo tribunal Federal (STF) 16 tpicos em pauta nas Aes Direitas de

    Inconstitucionalidade (ADIns), que dizem respeito ao Estatuto do Desamamento

    (Lei 10.826/03). [grifo do autor].

    Ainda citando o texto publicado na REVISTA MAGNUM (2012, p.1), o

    advogado Wladimir Reale, explica que O artigo 35 est prejudicado em funo do

    resultado do referendo, o que lastimvel, pois por duas vezes o Supremo j

    havia julgado inconstitucional a proibio do comrcio de armas de fogo e

    munio nas ADIns 2035 e 2290. [grifo do autor].

    Conforme exposto anteriormente, percebe-se que a lei em anlise, fora

    criada e aprovada s pressas, mediante forte presso da sociedade e de ONGs,

    para satisfao de uma pequena parcela da sociedade, fato este provado nas

    urnas, quando da votao favor ou contra o comrcio de armas e munies no

    pas.

    O artigo 5 da Constituio Federal assegura a todos em seu inciso XI, a

    inviolabilidade de seu domiclio. Conforme segue:

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

  • 31

    Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial;

    Em observncia aos fatos atuais gerados pela criminalidade, impossvel

    um cidado barrar a entrada de um criminoso armado em sua residncia, sem a

    possibilidade de possuir uma arma de fogo, o que adiante ser provado pela

    pesquisa de campo realizada.

    Ainda em anlise ao artigo 5, em seu inciso XXII, onde o estado garante o

    direito de propriedade, porm, como garantir a propriedade de seus bens, se

    algum, com maior potencial ofensivo, intenta retir-lo, ameaando seu direito

    vida, direito este, tambm garantido na CF, no caput do artigo 5.

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: XXII - garantido o direito de propriedade; [grifou-se]

    Com uma interpretao extensiva do Estatuto do Desarmamento, percebe-

    se que o ofensor dos direitos garantidos na Constituio Federal, pode ter o

    direito vida, e ainda, a um direito que no est presente na Carta Magna, qual

    seja o de propriedade sobre os bens alheios, visto que, com tamanhas restries

    impostas ao cidado de bem, torna-se quase impossvel adquirir uma arma de

    forma legal, pois um dos requisitos para esta obteno completamente

    subjetivo.

    Por exemplo, um advogado ameaado de morte em funo de seu

    trabalho, a partir da, solicita a aquisio de uma arma de fogo com esta

    justificativa, podendo esta ser indeferida, pois poder suprimir um direito alheio

    previsto na Carta Magna. Ou seja; o indivduo ameaado poder sofrer um

    atentado contra sua vida, mas no poder de maneira legal, tentar impedir tal

    ameaa.

    Tais dispositivos so completos atentados contra a liberdade individual, j

    que quando do mau uso de uma arma de fogo, o cidado que a utilizou de forma

    inadequada, ser punido na forma da lei, no cabendo administrao pblica

  • 32

    afirmar ser bom ou no para cada indivduo ter acesso uma arma de fogo, ou

    ainda, decidir em nome do cidado, se este, pode ter acesso uma ferramenta

    que possibilite uma reao de defesa contra uma ameaa sua vida ou seu

    patrimnio.

    Ainda em anlise ao inciso XXII da CF, observa-se que fica completamente

    suprimida tal garantia na anlise do 2 do artigo 16 do Decreto 5.123/04, que

    regulamentou a Lei 10.826/03.

    Art. 16. O Certificado de Registro de Arma de Fogo expedido pela Polcia Federal, precedido de cadastro no SINARM, tem validade em todo o territrio nacional e autoriza o seu proprietrio a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residncia ou dependncia desta, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsvel legal pelo estabelecimento ou empresa. 2

    o Os requisitos de que tratam os incisos IV, V, VI e VII do art. 12

    deste Decreto devero ser comprovados, periodicamente, a cada trs anos, junto Polcia Federal, para fins de renovao do Certificado de Registro. [grifou-se].

    V-se que mesmo garantido o direito de propriedade pela CF, se o

    indivduo que possui uma arma de fogo, no cumprir com o disposto no pargrafo

    acima citado, este, poder incorrer em crime e ainda perder a propriedade de sua

    arma de fogo.

    de bom alvitre salientar, que diante do exposto acima, fica evidente o

    descaso com as clusulas ptreas constantes no texto da Carta Magna, pois o

    direito propriedade sobre um bem adquirido de forma correta, dentro das

    especificaes legais, ficar sujeito perda, se o detentor de tal bem,

    simplesmente silenciar, ou melhor, permanecer inerte, fato este, que por si s,

    pode ser considerado abusivo, pois a perda da arma de fogo, ou a incurso em

    algum crime, no se dar por nenhuma prtica ilcita.

    este o entendimento do Coronel Paes de Lira, em texto publicado no site

    da ONG PELA LEGTIMA DEFESA (2012, p.1), veja-se:

    Nesse sentido, a Constituio Federal Brasileira garante em seu artigo 5. o direito vida, segurana e propriedade, que so os fundamentos da cidadania conforme prescreve o inciso II, do artigo 1., da prpria Constituio. Todos esses direitos so clusulas ptreas, ou seja, no podem ser retirados do ordenamento jurdico constitucional e muito menos desrespeitados, nos termos estabelecidos pelo inciso IV, do pargrafo 4., do artigo 60, da Carta Magna.

  • 33

    Uma das piores afrontas Constituio trazidas pela lei federal em questo diz respeito figura do registro renovvel da arma de fogo, ou seja, o proprietrio precisar renovar a prpria condio de domnio sobre o bem possudo, numa clara afronta ao constitucional direito de propriedade previsto no artigo quinto, caput, e seu inciso XXII, da Constituio Federal, que garante o direito de propriedade em sua plenitude. Assim, a lei criou uma figura inconstitucional, pois o direito de propriedade fica condicionado a uma verdadeira revalidao constante, o que no encontra amparo em nosso sistema constitucional, num desrespeito ao direito adquirido de quem legalmente possui uma arma decorrente do ato jurdico perfeito que foi sua aquisio. [grifo do Autor].

    Ainda no texto publicado por Paes de Lira, v-se a preocupao com a

    subjetividade da norma, pois a autoridade policial, ao analisar o requisito de

    efetiva necessidade, poder negar-lhe a renovao, retirando-lhe o direito

    propriedade de uma arma de fogo que indubitavelmente lhe pertence.

    A renovao obrigatria do Certificado de Registro de arma de fogo, determinada no 2, artigo 16 do Decreto 5.123 de 1/07/2004, submete o proprietrio ao critrio subjetivo da discricionariedade da autoridade policial, a qual pode entender que o proprietrio no atende ao requisito da efetiva necessidade, indeferindo a renovao e, por consequncia transformando o proprietrio legal de uma arma de fogo em potencial criminoso, pela impossibilidade em que foi colocado de revalidar tal documento. No restaria ao proprietrio da arma outra alternativa a no ser entreg-la ao Estado, configurando-se assim um autntico confisco.

    Ainda em anlise ao artigo 5 da CF, verifica-se que segundo o artigo 28

    da lei 10.826/03, nem todos os indivduos so iguais perante a lei. Veja-se: Art.

    28. vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo,

    ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII

    e X do caput do art. 6o desta Lei.

    As excees de que trata este artigo so:

    I os integrantes das Foras Armadas; II os integrantes de rgos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituio Federal; III os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municpios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condies estabelecidas no regulamento desta Lei; V os agentes operacionais da Agncia Brasileira de Inteligncia e os agentes do Departamento de Segurana do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica; VI os integrantes dos rgos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituio Federal;

  • 34

    VII os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas porturias; X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributrio. (Redao dada pela Lei n 11.501, de 2007)

    Pode-se, portanto constatar, que indivduos menores de 25 (vinte e cinco)

    anos de idade, pelo simples fato de ocuparem um dos cargos acima descritos,

    tem capacidade para portar uma arma de fogo, e outro, que por escolha pessoal,

    resolve seguir outra carreira profissional, como por exemplo um empresrio,

    mdico ou agricultor, no capacitado psicologicamente para portar uma arma de

    fogo de maneira consciente.

    Diante de tal anlise, v-se que evidentemente tal suposio fere o

    princpio da isonomia, tambm conhecido como princpio da igualdade, dispondo

    basicamente, que todos so iguais perante a lei.

    FACCIOLLI (2010, p.330), nos ensina que:

    Atendidos os requisitos marcados na lei, no h justificativa plausvel para impedir os cidados, com capacidade civil e penal plenas ao exerccio do direito de propriedade. certo que o bem arma de fogo possui uma natureza especialssima, mas, nem por isso, pode servir como argumento para discriminar, genericamente, as diversas classes de brasileiros. [grifo do Autor].

    Devido lacuna deixada na lei, quanto possibilidade de portar ou

    possuir uma arma de fogo o Decreto 5.123/04, o qual regulamentou a lei

    10.826/03, em seu artigo 22, destaca uma excepcionalidade:

    Art. 22. O Porte de Arma de Fogo de uso permitido, vinculado ao prvio registro da arma e ao cadastro no SINARM, ser expedido pela Polcia Federal, em todo o territrio nacional, em carter excepcional, desde que atendidos os requisitos previstos nos incisos I, II e III do 1

    o do art. 10

    da Lei no 10.826, de 2003. (Redao dada pelo Decreto n 6.715, de

    2008).

    Os requisitos de que trata este artigo so:

    I demonstrar a sua efetiva necessidade por exerccio de atividade profissional de risco ou de ameaa sua integridade fsica; II atender s exigncias previstas no art. 4

    o desta Lei;

    III apresentar documentao de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no rgo competente.

  • 35

    Percebe-se analisando tais dispositivos, que o critrio de deferimento da

    concesso do porte, torna-se totalmente subjetivo quanto ao critrio para

    deferimento da autorizao de aquisio de arma de fogo.

    FACCIOLLI, (2010, p. 117), em se tratando do porte, afirma que A

    autorizao para o porte de arma de fogo de uso permitido ato sujeito ao

    preenchimento dos requisitos legais e a um juzo favorvel de convenincia e

    oportunidade por parte de Administrao.

    Quanto ao direito de herana, direito este previsto na Carta Magna de

    1988, este fica completamente esquecido ao analisar uma situao hipottica em

    que o filho, j rfo de me, agora com 22 anos de idade, acaba por perder o pai

    que sempre teve armas devidamente registradas, porm agora seu filho, o qual

    no possui ainda 25 anos, ter de entreg-las polcia ou ento transferi-las para

    um terceiro at que complete os 25 anos de idade exigidos por esta lei.

    Portanto, diante de tal anlise, constata-se a evidente e manifesta

    supresso s garantias previstas na Constituio Federal, j que diante da Lei

    10.826/03, fora suprimido o direito de propriedade, o direito legtima defesa, o

    direito vida, segurana, inviolabilidade do domiclio e at mesmo o direito de

    herana.

    2.2 DA RESTRIO AO ACESSO S ARMAS DE FOGO E MUNIES

    De acordo com FACCIOLLI (2010, p.12), [...] a Lei 10.826/03 no pode ser

    interpretada isoladamente, sem o seu Regulamento, sem o Decreto 3.665 de

    2000 e demais legislaes esparsas [...].

    Portanto, mostra-se necessrio analisar o artigo 4 da Lei 10.826/03:

    Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado dever,

    alm de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovao de idoneidade, com a apresentao de certides negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justia Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de no estar respondendo a inqurito policial ou a processo criminal, que podero ser fornecidas por meios eletrnicos; (Redao dada pela Lei n 11.706, de 2008) II apresentao de documento comprobatrio de ocupao lcita e de residncia certa;

  • 36

    III comprovao de capacidade tcnica e de aptido psicolgica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. 1

    o O Sinarm expedir autorizao de compra de arma de fogo aps

    atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransfervel esta autorizao. 2

    o A aquisio de munio somente poder ser feita no calibre

    correspondente arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (Redao dada pela Lei n 11.706, de 2008) 3

    o A empresa que comercializar arma de fogo em territrio nacional

    obrigada a comunicar a venda autoridade competente, como tambm a manter banco de dados com todas as caractersticas da arma e cpia dos documentos previstos neste artigo. 4

    o A empresa que comercializa armas de fogo, acessrios e munies

    responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto no forem vendidas. 5

    o A comercializao de armas de fogo, acessrios e munies entre

    pessoas fsicas somente ser efetivada mediante autorizao do Sinarm. 6

    o A expedio da autorizao a que se refere o 1

    o ser concedida,

    ou recusada com a devida fundamentao, no prazo de 30 (trinta) dias teis, a contar da data do requerimento do interessado. 7

    o O registro precrio a que se refere o 4

    o prescinde do cumprimento

    dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo. 8

    o Estar dispensado das exigncias constantes do inciso III

    do caput deste artigo, na forma do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas caractersticas daquela a ser adquirida. (Includo pela Lei n 11.706, de 2008)

    V-se diante da anlise do artigo supracitado, que o primeiro requisito a ser

    preenchido para a aquisio de uma arma de fogo, declarar a efetiva

    necessidade, que segundo FACCIOLLI (2010, p. 80) extremamente subjetivo:

    Quais os critrios a serem utilizados para avaliar a efetiva necessidade em se conceder a autorizao para compra de uma arma, em meio a uma sociedade cada vez mais violenta e insegura? Fica difcil definir critrios que sejam equnimes (ou pelo menos justos) para abranger a presente previso.

    E analisando o inciso I do referido artigo, pode-se ver, que somente

    cidados com carter ilibado, ou seja, que nunca tiveram qualquer problema nas

    esferas Federal, Militar, Estadual ou Eleitoral.

    J o inciso II, preocupou-se em localizar as armas que encontram-se nas

    mos de civis, pois exige que seja indicada a residncia do adquirente, e ainda

    quando ocupao lcita, o que gera muita polmica.

    FACCIOLLI (2010, p.1), d uma clssico exemplo: As mulheres que

    vendem o corpo outro exemplo interessante exercem ocupao lcita, no se

  • 37

    tem dvida. De que forma devem apresentar este tipo de documento

    comprobatrio, sem expor sua privacidade, sua intimidade?

    Acima exposto, encontra-se no inciso III, a previso de que necessria a

    comprovao de aptido tcnica para manuseio de arma de fogo, fato este, que

    estimula a clandestinidade e impercia, vez que, torna-se provvel que um

    cidado que pretende adquirir uma arma de fogo, no estar capacitado para

    manuse-la, pois teoricamente nunca teve uma, e ainda, se este quiser, antes da

    realizao dos exames prticos exigidos pela Polcia Federal, ter de recorrer

    vias ilegais para um treinamento de tiro, j que so inmeras as restries para

    conseguir um treinamento prtico de tiro e manuseio de armas de fogo.

    A aptido psicolgica ser atestada por psiclogo credenciado na Polcia

    Federal. FACCIOLLI (2010, p.86) expe:

    De qualquer forma, a aptido dever ser comprovada por ocasio de realizao de testes especficos, por profissionais dos quadros da Polcia Federal ou por profissionais credenciados pelo rgo inc. VII do art. 12 do Dec. 5.123/04. O no cumprimento das exigncias previstas enseja o indeferimento do pedido do interessado.

    Analisando o artigo 12 do Decreto 5.123/04, verifica-se o aumento dos pr-

    requisitos para a obteno de uma arma de fogo de uso permitido. Conforme

    segue:

    Art. 12. Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado dever: I - declarar efetiva necessidade; II - ter, no mnimo, vinte e cinco anos; III - apresentar original e cpia, ou cpia autenticada, de documento de identificao pessoal; (Redao dada pelo Decreto n 6.715, de 2008). IV - comprovar, em seu pedido de aquisio e em cada renovao do Certificado de Registro de Arma de Fogo, idoneidade e inexistncia de inqurito policial ou processo criminal, por meio de certides de antecedentes criminais da Justia Federal, Estadual, Militar e Eleitoral, que podero ser fornecidas por meio eletrnico; (Redao dada pelo Decreto n 6.715, de 2008). V - apresentar documento comprobatrio de ocupao lcita e de residncia certa; VI - comprovar, em seu pedido de aquisio e em cada renovao do Certificado de Registro de Arma de Fogo, a capacidade tcnica para o manuseio de arma de fogo; (Redao dada pelo Decreto n 6.715, de 2008).

  • 38

    VII - comprovar aptido psicolgica para o manuseio de arma de fogo, atestada em laudo conclusivo fornecido por psiclogo do quadro da Polcia Federal ou por esta credenciado. 1

    o A declarao de que trata o inciso I do caput dever explicitar os

    fatos e circunstncias justificadoras do pedido, que sero examinados pela Polcia Federal segundo as orientaes a serem expedidas pelo Ministrio da Justia. (Redao dada pelo Decreto n 6.715, de 2008). 2

    o O indeferimento do pedido dever ser fundamentado e comunicado

    ao interessado em documento prprio. 3

    o O comprovante de capacitao tcnica, de que trata o inciso VI

    do caput, dever ser expedido por instrutor de armamento e tiro credenciado pela Polcia Federal e dever atestar, necessariamente: (Redao dada pelo Decreto n 6.715, de 2008). I - conhecimento da conceituao e normas de segurana pertinentes arma de fogo; II - conhecimento bsico dos componentes e partes da arma de fogo; e III - habilidade do uso da arma de fogo demonstrada, pelo interessado, em estande de tiro credenciado pelo Comando do Exrcito. 4

    o Aps a apresentao dos documentos referidos nos incisos III a VII

    do caput, havendo manifestao favorvel do rgo competente mencionada no 1

    o, ser expedida, pelo SINARM, no prazo mximo de

    trinta dias, em nome do interessado, a autorizao para a aquisio da arma de fogo indicada. 5

    o intransfervel a autorizao para a aquisio da arma de fogo, de

    que trata o 4o deste artigo.

    6o Est dispensado da comprovao dos requisitos a que se referem

    os incisos VI e VII do caput o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma da mesma espcie daquela a ser adquirida, desde que o porte de arma de fogo esteja vlido e o interessado tenha se submetido a avaliaes em perodo no superior a um ano, contado do pedido de aquisio. (Includo pelo Decreto n 6.715, de 2008). [grifou-se]

    V-se em anlise ao inciso VI supracitado, que necessria a

    comprovao de aptido tcnica para o manuseio de arma de fogo, porm, antes

    da realizao dos exames prticos (prova de tiro e prova terica/prtica sobre as

    partes e funcionamento da arma de fogo a ser adquirida) no exigido por lei

    nenhum curso de capacitao para o manuseio destes objetos.

    Verifica-se no caso em comento, que conforme o 2 do artigo 4 da Lei

    10.826/03, regulamentado pelo artigo 21, 2 do Decreto 5.123/04, ambos

    regulamentados pela Portaria 12 do COLOG (Comando Logstico), que h uma

    quantidade evidentemente limitada quanto aquisio de munies no comrcio

    nacional.

    Ressalta-se o disposto na Portaria 12 do COLOG:

    Art. 3 A quantidade de cartuchos de munio de uso permitido, por arma registrada, que um mesmo cidado poder adquirir no comrcio especializado, a seguinte:

  • 39

    I - at 300 (trezentas) unidades de cartuchos de munio esportiva calibre .22 de fogo circular, por ms; e II - at 200 (duzentas) unidades de cartuchos de munio de caa e esportiva nos calibres 12, 16, 20, 24, 28, 32, 36 e 9.1mm, por ms. Art. 5 A quantidade de munio de uso permitido, por arma registrada, que cada cidado poder adquirir no comrcio especializado (lojista), anualmente, de at 50 (cinqenta) unidades. Art. 9. Ficam estabelecidas as seguintes quantidades mximas de partes de munio e de cartuchos de munio que podero ter as suas aquisies autorizadas. VII - caador de subsistncia e proprietrio de arma de fogo de cano longo (acima de 24 polegadas ou 610 mm) e alma lisa: a) espoletas, at 200 (duzentas) unidades por ms; b) estojos, at 200 (duzentas) unidades por ms; e c) plvora (mecnica e/ou qumica), at 1 (um) Kg por ms.

    Verifica-se no artigo 5 supracitado, possvel perceber que h uma certa

    disparidade na lei, pois armas longas de calibre .22, tem disposio 300

    unidades de munio mensalmente, enquanto uma arma de porte como uma

    pistola calibre .380, vem ter apenas 50 munies por ano.

    A quantidade de 50 cartuchos derivada da Portaria 40 do Ministrio da

    Defesa, e segundo FACCIOLLI (2010, p.92) Um dos aspectos mais polmicos da

    Portaria 40/MD foi restringir a aquisio anual de, no mximo, cinquenta

    cartuchos de munio, ao ano, por tipo de calibre de arma regularizada.

    Ainda em anlise ao presente caso, controverso afirmar que um cidado

    que no seja filiado a clube de tiro ou de caa, se aperfeioe no tiro se este pode

    adquirir apenas 50 munies para arma de porte no decorrer de um ano, ficando

    assim impossvel deste treinar disparos de arma de fogo, pois se utilizar a

    munio para treinamento poder ficar sem para sua defesa.

    Ocorre, portanto, que no decorrer de trs anos da expedio do registro

    da arma de fogo, o cidado que a possui, ter de renovar o registro desta, e para

    isso, sua capacidade tcnica para disparar uma arma de fogo de modo que no

    coloque a vida de ningum em perigo, ser atestada, porm, sem treinamento, o

    que poder resultar em um desastroso resultado do exame prtico.

    2.3 DAS PENAS PREVISTAS NA LEI

    Conforme dispe o artigo 12 da Lei 10.826, denominada Estatuto do

    Desarmamento, ilegal a posse de arma de fogo em desacordo com

  • 40

    determinao legal ou regulamentar, mesmo que no interior de sua residncia,

    fato este, punvel com deteno de 1 (um) 3 (trs) anos, cominada com multa.

    Diante de tal artigo, ao confrontarmo-lo com o requisito subjetivo para a

    aquisio de uma arma de fogo, e ainda, em anlise juntamente com o artigo 23

    do Cdigo Penal, abaixo transcrito:

    Art. 23 - No h crime quando o agente pratica o fato: (Redao dada pela Lei n 7.209, de 11.7.1984) I - em estado de necessidade; (Includo pela Lei n 7.209, de 11.7.1984) II - em legtima defesa;(Includo pela Lei n 7.209, de 11.7.1984) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerccio regular de direito.(Includo pela Lei n 7.209, de 11.7.1984)

    Pode-se constatar, que se caso um cidado, correndo iminente risco de

    sofrer um atentado contra sua vida, solicita a aquisio de uma arma de fogo no

    comrcio legal, e esta negada, ele teria sim o direito de possuir uma arma de

    fogo mesmo que em desconformidade com a lei para garantir sua proteo, pois

    estaria amparado no inciso I e II, pois estaria agindo por estado de necessidade e

    ainda em legtima defesa por um risco iminente, amparado nas causas

    excludentes de ilicitude.

    O artigo 14 do Estatuto do Desarmamento, exaustivo quanto maneiras

    de configurar o delito de porte ou posse ilegal de arma de fogo:

    Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar: Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Pargrafo nico. O crime previsto neste artigo inafianvel, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.

    Percebe-se diante do exposto, que a lei procurou abranger qualquer

    possibilidade de porte ou posse irregular de uma arma de fogo.

    FACCIOLLI (2010, p.220) afirma que:

    No temos a menor dvida de que a inteno do legislador foi a de esgotar, ao mximo, o rol de aes passveis de enquadramento penal, com o fito de intimidar criminosos e pessoas que usam de forma indiscriminada e sem controle armas, munies ou acessrios.

  • 41

    J o artigo 15 da mesma lei, prev o delito no caso de disparo de arma de

    fogo, citando em seu caput, lugar habitado, gerando assim vrias controvrsias.

    A lei aplicada na contemporaneidade tem interpretado como lugar habitado, todo

    e qualquer lugar onde possa existir algum residindo. Portanto analisa-se:

    Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela, desde que essa conduta no tenha como finalidade a prtica de outro crime: Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Pargrafo nico. O crime previsto neste artigo inafianvel

    Segundo FACCIOLLI (2010, p.223), Buscou o legislador coibir o disparo

    aleatrio, gerador das chamadas balas perdidas que diariamente atingem

    pessoas inocentes dentro de casa, no interior de veculos, em faculdades,

    colgios etc. [grifo do autor]

    NUCCI (2009, p.91) define lugar habitado como sendo

    [...] o local que possui em redor, pessoas residindo. Cuida-se de analisar, no caso concreto, em que tipo de regio ocorreu o disparo. Se ningum por ali habita, natural no haver sentido algum na punio, pois o disparo em local ermo no constitui perigo para a segurana pblica.

    Portanto, quem dispara arma de fogo em rea rural, campos, matas e

    demais locais ermos, sem colocar a vida de outrem em risco, no incorre na pena

    prevista no artigo em apreciao. este o entendimento de FACCIOLLI (2010,

    p.223):

    O agente que realiza disparos em reas rurais, campos, matas e demais locais desabitados no incorre no tipo descrito. O mesmo no ocorre com quem executa disparos apontando uma arma para cima, nas periferias da cidade, em ruas desabitadas ou vias pblicas com pouco movimento.

    Quanto ao disparo de arma de fogo, a lei nada dispe acerca do disparo

    efetuado para repelir uma ameaa ou agresso, chamado de tiro de advertncia.

    Portanto, se um indivduo, mesmo possuindo uma arma devidamente registrada,

    com munio adquirida de forma legal, e durante a madrugada perceber que um

    indivduo est tentando adentrar em sua residncia, teoricamente este no poder

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    nem mesmo efetuar um disparo de arma de fogo, sob pena de incorrer no crime

    tipificado no artigo 15 da lei 10.826/03.

    FACCIOLLI (2010, p.224) comenta:

    Em tese e a princpio, pode o agente atirar em estado de necessidade ou em legtima defesa, contudo poder ser responsabilizado a ttulo de culpa e/ou administrativamente pelos danos causados a terceiros, nos termos do pargrafo nico do art. 23 do Cdigo Penal brasileiro.

    Por fim, no mnimo desarrazoado o fato de que inafianvel tal crime,

    visto que, fica critrio da autoridade competente julgar o local do disparo ser

    local ermo, desabitado, ou ainda, o agente estar em estado de necessidade,

    amparado por excludente de ilicitude.

    este o entendimento de FACCIOLLI (2010, p.222):

    Por fim, verifica-se absolutamente desarrazoada a inafianabilidade atribuda aos crimes definidos nos arts. 14 e 15 da Lei 10.826/03, porquanto no podem estes ser equiparados a terrorismo, prtica de tortura, trfico ilcito de entorpecentes ou crimes hediondos (Constituio Federal, art. 5, XLIII). Em realidade, constituem crimes de mera conduta que, embora reduzam o nvel de segurana coletiva, no se equiparam aos crimes que acarretam leso ou ameaa de leso vida ou propriedade.

    Diante do exposto, at o presente momento, verificou-se um carter

    extremamente restritivo quanto ao acesso s armas de fogo e munies,

    porquanto, apenas para os sujeitos que pretendem adquiri-las de forma legal, no

    obstaculizando o acesso s armas de fogo por vias perversas, fato este que

    posteriormente demonstrar os aspectos faltantes da lei que fazem com que a

    mesma no logre xito na reduo da criminalidade.

  • 3 A INEFICCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUO DA

    CRIMINALIDADE

    3.1 DA PESQUISA REALIZADA

    Para se chegar a uma concluso acerca do tema aqui discutido, fora

    realizada pesquisa de campo para coletar dados, para que posteriormente estes

    sejam comparados com dados angariados das mais diversas fontes e de diversos

    locais diferentes, at mesmo de outros pases.

    A presente pesquisa de campo fora realizada de forma que 50 (cinquenta)

    criminosos, encarcerados junto carceragem da Delegacia de Polcia da cidade

    de Francisco Beltro - PR, qual seja a 19 SDP, foram ouvidos separadamente,

    sem serem identificados, e aps terem aceitado colaborar com a presente

    pesquisa cientfica.

    Os indivduos foram questionados quanto idade, escolaridade, renda

    mensal, ocupao laboral, utilizao de arma de fogo em cometimento de crimes,

    origem e valor das armas e munies, e quanto precauo em se abordar

    vtimas armadas.

    Foram entrevistados indivduos condenados ou aguardando julgamento

    pelos mais variados tipos de crimes, desde embriaguez ao volante, at latrocnio,

    homicdio, estupro e sequestro, com faixa etria entre 19 (dezenove) e 53

    (cinquenta e trs) anos.

    Dentre os crimes com emprego de armas de fogo cometidos pelos

    entrevistados, esto presentes os crimes de homicdio, l