AULA 9 - Desarmamento

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26.09.2009

legislao penal especial 9 aula (prof. silvio maciel)

estatuto do desarmamento lei 10.826/2003:

Introduo evoluo legislativa no Brasil do tratamento legal das condutas envolvendo armas de fogo:

At 1997: as condutas envolvendo armas de fogo no Brasil eram meras contravenes penais (crime-ano, delito vagabundo, delito liliputiano).

Lei 9437/1997: transforma essas contravenes em crimes. Todos os crimes estavam concentrados no art. 10 da Lei 9437/1997. Esse dispositivo punia a posse, o porte, o comrcio e o disparo de arma de fogo. Todas essas condutas estavam tipificadas no mesmo dispositivo incriminador, com a mesma pena.

Consequncia: condutas de gravidades totalmente diferentes eram punidas com a mesma pena, o que acarretava em violao aos princpios da proporcionalidade e da individualizao da pena. Este ltimo princpio ocorre em 3 momentos:

1. no plano legislativo, quando a pena cominada.

2. no plano concreto, quando a pena aplicada na sentena.

3. no plano da execuo da pena.

Portanto, cominar a mesma pena para comportamentos totalmente diferentes viola o princpio da individualizao da pena no plano legislativo.

Lei 10826/2003: revoga a Lei 9437/1997. Esta lei pune:

1. posse de arma de uso permitido: art. 12.

2. porte de arma de uso permitido: art. 14.

3. posse ou porte de arma de uso proibido: art. 16.

4. disparo: art. 15.

5. comrcio: art. 17.

6. trfico internacional: art. 18.

Na Lei 10826 condutas de gravidades diferentes so punidas em tipos penais diferentes com penas diferentes, atendendo aos princpios da proporcionalidade e da individualizao da pena.

Competncia para julgamento dos crimes do Estatuto do Desarmamento:

A Lei 10826 manteve o sinarm (Sistema Nacional de Armas), que j existia na Lei 9437/1997. As atribuies desse rgo foram ampliadas.

O sinarm um cadastro nico das armas que circulam no pas.

O sinarm entidade da UF. Portanto, o cadastro e o controle de armas no Brasil federal. Por essa razo, surgiu uma corrente, especificamente no TJ/RJ, sustentando que todos os crimes da Lei 10826 seriam de competncia da JF, pois todos esses crimes ofenderiam/atingiriam o controle de armas no Brasil (interesse da UF).

Essa questo chegou ao STJ, que decidiu que os crimes da Lei 10826 seguem a regra geral, ou seja, em regra so de competncia da Justia Estadual. Esses crimes s sero de competncia da JF se atingirem interesse direto e especfico da UF.

Fundamentos do STJ para chegar a esse entendimento:

1. os crimes do Estatuto do Desarmamento atingem interesse apenas genrico e indireto da UF. No atingem interesse especfico e direito da UF, suas entidades autrquicas ou empresas pblicas, que justifique a competncia da JF. O mesmo raciocnio se aplica s leis de crimes ambientais (ver aula 4 de Legislao Penal Especial).

2. O bem jurdico protegido nesses crimes a segurana pblica. E a segurana pblica bem que pertence coletividade e no UF.

Ver STJ, HC 45845/SC (SC adere ao entendimento do TJ/RJ).

obs. importantes sobre competncia:

1. O crime de trfico internacional de armas (art. 18, Lei 10826) de competncia da Justia Federal.2. Arma raspada atinge e compromete diretamente o controle de armas no Brasil. Mas nesse caso, o STJ decidiu que o fato de arma ser raspada, por si s, no fixa a competncia da JF. A competncia para julgar crime com arma raspada continua sendo da JE. Ver STJ, HC 59915/RJ (2008).

Crimes do Estatuto do Desarmamento:

Art. 12 posse irregular de arma de fogo de uso permitido:Posse irregular de arma de fogo de uso permitidoArt. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, em desacordo com determinao legal ou regulamentar, no interior de sua residncia ou dependncia desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsvel legal do estabelecimento ou empresa:Pena deteno, de 1 (um) a 3 (trs) anos, e multa.Bem jurdico tutelado/objeto jurdico/objetividade jurdica: incolumidade pblica/segurana da coletividade.

Sujeito ativo: para uma corrente da doutrina trata-se de crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. Outra corrente preconiza ser esse crime prprio (que exige uma qualidade especial do SA), ou seja, ele somente poder ter como SA o morador da residncia ou o responsvel legal pelo estabelecimento comercial onde est a arma ilegal.

Sujeito passivo: se o bem jdco protegido a segurana pbca, o SP do crime a coletividade/sociedade. Trata-se, portanto, de crime vago, sem vtima determinada (a vtima vaga, sendo a coletividade).

Delmanto: o SP desse crime de posse ilegal tambm o Estado, na medida em que o crime compromete o controle de armas no Brasil.

Outros autores entendem que o SP constante ou formal de todo e qualquer crime o Estado.

Tipo objetivo/elementos do tipo penal:

Condutas:

- possuir: estar na posse.

- manter sob sua guarda: reter sob seu cuidado.

Trata-se de expresses sinnimas, que demonstra a mania do legislador de se auto-repetir (Nucci). Logicamente, quem mantm sob sua guarda necessariamente tem a posse da arma.

Objeto material:

O nome do crime diz menos do que o tipo diz (ver partes destacadas em azul no dispositivo). O objeto desse crime arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido.

Acessrios (Decreto 3665/2000, art. 3, II: acessrio de arma: artefato que, acoplado a uma arma, possibilita a melhoria do desempenho do atirador, a modificao de um efeito secundrio do tiro ou a modificao do aspecto visual da arma): objetos que, acoplados arma, melhoram o seu funcionamento ou eficincia. Partes da arma desarmada no so acessrios (ex: cano no acessrio). Tambm no so acessrios objetos que no melhoram o desempenho da arma. Ex: coldre (capa de couro em que a arma guardada) no acessrio.

Ex. de acessrio: mira-laser.

Munio: se o indivduo tiver somente munio na casa dele estar cometendo o crime do art. 12. Isso no caso de a munio ser de uso permitido. J a posse ilegal de arma de fogo, munio ou acessrio de uso proibido ou restrito configura o crime do art. 16, Lei 10826. Ex: portar pistola calibre 9 mm crime tipificado no art. 16, da Lei 10826.

Elemento normativo do tipo:

Expresso em desacordo com determinao legal ou regulamentar.

Para se possuir uma arma em casa ou no local de trabalho necessrio um registro expedido pela Polcia Federal, obtido aps prvia autorizao do sinarm. Logo, se o indivduo tem posse de arma registrada pela PF sua posse ser legal.

Mas se o indivduo tiver posse de arma no registrada pela PF? Trs situaes:

1. indivduo pode possuir arma em casa ou no trabalho com registro expedido pela PF: posse legal.

2. indivduo pode possuir arma em casa ou no trabalho com registro antigo expedido pela Polcia Civil/Estadual (que era a responsvel por emitir esse registro): aplica-se o art. 5, par 3, Lei 10826: O proprietrio de arma de fogo com certificados de registro de propriedade expedido por rgo estadual [Polcia Civil] ou do Distrito Federal at a data da publicao desta Lei que no optar pela entrega espontnea prevista no art. 32 desta Lei dever renov-lo mediante o pertinente registro federal, at o dia 31 de dezembro de 2008, ante a apresentao de documento de identificao pessoal e comprovante de residncia fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigncias constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei.

3. indivduo pode possuir arma em casa ou no trabalho sem nenhum registro: aplica-se o art. 30, da Lei 10826: Os possuidores e proprietrios de arma de fogo de uso permitido ainda no registrada devero solicitar seu registro at o dia 31 de dezembro de 2008, mediante apresentao de documento de identificao pessoal e comprovante de residncia fixa, acompanhados de nota fiscal de compra ou comprovao da origem lcita da posse, pelos meios de prova admitidos em direito, ou declarao firmada na qual constem as caractersticas da arma e a sua condio de proprietrio, ficando este dispensado do pagamento de taxas e do cumprimento das demais exigncias constantes dos incisos I a III do caput do art. 4o desta Lei. (Redao dada pela Lei n 11.706, de 2008) (Prorrogao de prazo) Pargrafo nico. Para fins do cumprimento do disposto no caput deste artigo, o proprietrio de arma de fogo poder obter, no Departamento de Polcia Federal, certificado de registro provisrio, expedido na forma do 4o do art. 5o desta Lei. (Includo pela Lei n 11.706, de 2008).

obs:Ocorre que os prazos constantes dos arts. 5, par 3 e 30 foram prorrogados at 31.12.2009 pela Lei 11922, de 13.04.2009 (art. 20 Ficam prorrogados para 31 de dezembro de 2009 os prazos de que tratam o 3o do art. 5o e o art. 30, ambos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003). Observar que essa lei trata do seguinte: Dispe sobre a dispensa de recolhimento de parte dos dividendos e juros sobre capital prprio pela Caixa Econmica Federal; altera as Leis nos 11.124, de 16 de junho de 2005, 8.427, de 27 de maio de 1992, 11.322, de 13 de julho de 2006, 11.775, de 17 de setembro de 2008, e a Medida Provisria no 2.185-35, de 24 de agosto de 2001; prorroga os prazos previstos nos arts. 5o e 30 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; e d outras providncias. Trata-se praticamente de um ato secreto!!!

Logo, a posse de arma de fogo de uso permitido (e no raspada) com registro antigo ou sem nenhum registro no configura crime at 31.12.2009. At essa data h o que o STF chama de abolitio criminis temporria (que tem prazo certo para durar).ateno: esse prazo para a regularizao de armas s se aplica posse de armas de fogo de uso permitido e no raspada, no se aplicando /ao:

- posse de arma de fogo de uso proibido (pistola 9 mm) ver STJ HC 124454 (2009).- posse de arma de uso permitido com a numerao raspada ver STJ HC 124454 (2009). Ex: revolver calibre 38 (arma de uso permitido) com numerao raspada.- ao porte ilegal de arma de fogo (pessoa portando ilegalmente qualquer arma fora de casa ou do local de trabalho caso contrrio ser posse), seja de uso permitido, restrito ou proibido jurisprudncia pacfica STF/STJ.HABEAS CORPUS. PENAL. ESTATUTO DO DESARMAMENTO. ARTIGO 16, CAPUT E INCISO III, DA LEI 10.826/03. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORRIA. INEXISTNCIA. CRIME COMETIDO NA VIGNCIA DA MEDIDA PROVISRIA N. 417. IMPOSSIBILIDADE DE REGULARIZAR AS ARMAS APREENDIDAS. TIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM DENEGADA.

1. Esta Corte vem entendendo que, diante da literalidade dos artigos relativos ao prazo legal para regularizao do registro da arma, prorrogado pelas Leis 10.884/04, 11.118/05 e 11.191/05, houve a descriminalizao temporria no tocante s condutas delituosas relacionadas posse de arma de fogo, tanto de uso permitido quanto de uso restrito, entre o dia 23 de dezembro de 2003 e o dia 25 de outubro de 2005.

2. A nova redao dada aos dispositivos legais pela Medida Provisria n. 417, convertida na Lei n. 11.706/2008, prorrogou at o dia 31 de dezembro de 2008 apenas o prazo para a regularizao de armas de fogo de uso permitido, no contemplando as armas de uso restrito ou de numerao raspada, como no caso dos autos.

3. O Paciente, flagrado no dia o dia 09 de abril de 2008, no tinha qualquer possibilidade de regularizar as armas que possua nem as entregou espontaneamente autoridade competente, o que evidencia a existncia de justa causa para a ao penal, pela demonstrao do dolo de manter em seu poder armas de fogo de origem irregular.

4. Habeas corpus denegado.

HC N. 96.446-SPRELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

EMENTA

Habeas corpus. Constitucional e penal. Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 14 da Lei n 10.826/03). Vacatio legis especial. Atipicidade temporria. Abolitio criminis. No aplicao ao crime de porte. Precedentes da Corte.1. A jurisprudncia desta Suprema Corte firme no sentido de que as condutas possuir e ser proprietrio foram temporariamente abolidas pelos artigos 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento (Lei n 10.826/03), mas no a conduta de portar, sem permisso legal, arma de fogo, ainda mais quando o porte se d em lugar pblico, como na espcie.

2. Habeas corpus denegado.Elemento espacial do tipo penal:

... no interior de sua residncia ou dependncia desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsvel legal do estabelecimento ou empresa.

O STF diferencia posse de porte:

- posse: deve ocorrer no interior da residncia do infrator, ou no interior do local de trabalho em que o infrator seja o titular/proprietrio ou o responsvel legal.

- porte: ocorre em qualquer local fora dos supra mencionados.

Ex1: dono do restaurante possui uma arma calibre 38 guardada no balco do restaurante. O garom, por sua vez, possui outra arma calibre 38 guardada no balco do restaurante. O dono do restaurante est cometendo crime de posse ilegal (art. 12). J o garom est cometendo porte ilegal de arma de fogo, j que no proprietrio, tampouco responsvel legal pelo estabelecimento.

Ex2: se a pessoa tem arma de uso permitido em casa em desacordo com determinao legal ou regulamentar, estar cometendo o crime de posse do art. 12. Mas, se essa mesma pessoa resolve sair com a arma na cintura estar cometendo o crime de porte do art. 14.

Consumao:

O crime se consuma no momento em que o agente assume a posse ilegal da arma.

Tentativa:

A doutrina entende no ser possvel por se tratar de crime de mera conduta.

Art. 13 omisso de cautela:Omisso de cautelaArt. 13. Deixar de observar as cautelas necessrias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficincia mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:Pena deteno, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorrem o proprietrio ou diretor responsvel de empresa de segurana e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrncia policial e de comunicar Polcia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio ou munio que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.Esse dispositivo possui 2 crimes diferentes: um no caput e outro no pargrafo nico.

art. 13, caput:Bens jurdicos tutelados/objetos jurdicos/objetividade jurdica: aqui h 2 bens jurdicos a serem tutelados:

- objeto jurdico imediato: incolumidade pblica (sempre em qualquer crime do Estatuto do Desarmanento).

- objeto jurdico mediato: vida e integridade fsica de menores de 18 anos e portadores de deficincia mental.

Trata-se, portanto, de crime de dupla objetividade jurdica, ou seja, crime que protege 2 bens jurdicos diferentes.

Sujeito ativo:

S pode ser o proprietrio ou possuidor da arma de fogo, no qualquer pessoa que deixa a arma prxima da criana, adolescente ou portador de deficincia mental (...que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade). Trata-se da pessoa que tem o dever de cautela, ou seja, que deve observar os cuidados para que criana, adolescente ou portador de deficincia mental no se apodere de arma.

Obviamente, a criana no pode ser SA!

Sujeitos passivos:

Se h 2 bens jurdicos protegidos, naturalmente o crime possui 2 sujeitos passivos. Trata-se de crime de dupla subjetividade passiva.

Sujeito passivo primrio: coletividade.

Sujeitos passivos secundrios: menor de 18 anos e as pessoas portadoras de deficincia mental.obs1: no caso do menor de 18 anos no importa se a vtima j adquiriu a maioridade civil. Ou seja, mesmo que o menor de 18 anos j tenha adquirido a maioridade civil (pela emancipao, por ex.), haver o crime, pois o tipo penal est apenas preocupado com a idade do menor e no com a sua capacidade civil.obs2: o tipo penal pune deixar arma prxima a pessoa portadora de deficincia mental, no caso de o sujeito ativo no observar as cautelas necessrias para que a portadora de deficincia se apodere da arma. Logo, omitir as cautelas com relao pessoa portadora de deficincia fsica no configura o crime. O que a lei quer impedir que a arma fique em poder de quem no tem a exata capacidade mental de entender os seus perigos. J o deficiente fsico tem total conscincia do que uma arma representa, no fazendo sentido a sua incluso no tipo penal como vtima do crime.

obs3: o tipo penal no exige nenhuma relao de parentesco entre autor e vtima. Ex: policial vai a um churrasco na casa de outro amigo e deixa a sua arma prxima ao filho de 12 anos do dono da casa. Entre o policial e o filho do amigo no h qualquer relao. Mas o crime persiste.

Conduta:

Deixar de observar as cautelas necessrias .... Trata-se de crime culposo para a maior parte da doutrina. Significa quebra do dever de cuidado objetivo. A negligncia modalidade de culpa.

Como a conduta deixar de, estamos diante de crime omissivo puro/prprio.

Objeto material:

somente a arma de fogo. Lembrar que no art. 12 os objetos so arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitidos. Logo, deixar culposamente acessrios ou munies ao alcance de menores e deficientes mentais fato atpico.

Essa arma de fogo pode ser de uso permitido, restrito ou proibido. Tanto faz. Logo, deixar uma AR 15 ou uma arma de calibre 38 perto de menor ou deficiente mental d no mesmo. A espcie de arma ser considerada na dosagem da pena: quanto mais letal a arma, maior a gravidade do crime.

Elemento normativo:

a culpa. Esse crime no punido na modalidade dolosa.

Aquele que entrega dolosamente uma arma a um menor de 18 anos ou doente mental responde por qual crime?

Caso seja menor de 18 anos haver o crime do art. 16, par nico, V, do Estatuto do Desarmamento (vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessrio, munio ou explosivo a criana ou adolescente).

J no caso de entrega dolosa de uma arma de fogo para um doente mental podem ocorrer 2 situaes:

- Caso se trate de arma de uso permitido art. 14.

- Caso se trate de arma de uso proibido art. 16.

Consumao:

A consumao se d com o mero apoderamento da arma pela vtima. O professor entende que a simples omisso de cautela j configuraria o crime.

H, contudo, uma divergncia na doutrina sobre a natureza desse crime se formal ou material:

1 corrente: o crime material porque ele exige um resultado naturalstico, qual seja, o apoderamento da arma pela vtima (criana, adolescente ou deficiente). Logo, o crime possui e exige um resultado naturalstico. O professor concorda com essa corrente, que majoritria.

2 corrente: o crime formal porque o resultado naturalstico no o apoderamento da arma (embora o crime se consume com o apoderamento), e sim a efetiva ofensa vida ou integridade fsica da vtima (no caso de a vtima se ferir ou se matar). O professor entende ser absurda essa corrente.

Para quem entende ser esse crime formal, estaremos diante de um crime culposo sem resultado naturalstico (que seria a ofensa vida ou integridade fsica da vtima). Trata-se de uma exceo, pois, em regra, o crime culposo possui resultado naturalstico. Tambm se trata de exceo o crime de prescrever culposamente drogas constante da Lei de Drogas (art. 38, Lei 11343/2006), justamente por se tratar igualmente de crime culposo sem resultado naturalstico.

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou faz-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar:Pena - deteno, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqenta) a 200 (duzentos) dias-multa.Pargrafo nico. O juiz comunicar a condenao ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertena o agente.Tentativa:

No possvel por se tratar de crime culposo e omissivo puro/prprio.

Concurso de crimes:

A doutrina entende que, alm do crime de omisso, o sujeito responde tambm pelo crime de posse/porte de arma de fogo, se for o caso. H concurso material de crimes, por protegerem bens jurdicos diferentes.

art. 13, pargrafo nico:Nas mesmas penas incorrem o proprietrio ou diretor responsvel de empresa de segurana e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrncia policial e de comunicar Polcia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio ou munio que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

Trata-se de tipo penal autnomo em relao ao caput.

Bem jurdico tutelado/objeto jurdico/objetividade jurdica:

A incolumidade pblica e tambm o Estado, que aqui tambm vtima do crime. A falta de comunicao compromete diretamente o controle de armas.

Apesar de o Estado ser vtima, o STJ j entendeu no ser o crime de competncia da Justia Federal.

Sujeito ativo:

Trata-se de crime prprio, pois somente poder ser cometido pelo proprietrio pelo diretor responsvel de empresa de segurana ou de transporte de valores.

Sujeito passivo:

Sujeito passivo primrio: coletividade.

Sujeito passivo secundrio: Estado.

Condutas:

O crime consiste em deixar de:

1. registrar ocorrncia policial.

E2. comunicar PF perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessrio ou munio que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.Logo, o tipo penal impe um duplo dever de comunicao: registrar ocorrncia policial e comunicar a PF perda, furto, roubo ou qualquer forma de extravio.

Prevalece na doutrina o entendimento de que a falta de uma dessas comunicaes j configuraria o crime, porque o tipo penal exige um duplo dever de comunicao. Portanto, se o SA registra a ocorrncia, mas no comunica PF ou vice-versa, haver o crime. A falta de qualquer uma das comunicaes crime.

Entendimento minoritrio: a falta de uma comunicao fato atpico, pois cabe o Estado manter um cadastro nico das armas e integrar a comunicao entre seus rgos. Logo, o indivduo que registrou a ocorrncia ou comunicou a PF no pode ser responsabilizado pela falta de integrao e comunicao entre os rgos do Estado. Fazendo uma das duas comunicaes exigidas no pargrafo nico (registro da ocorrncia ou comunicao PF) a pessoa j teria cumprido com o seu dever.Objeto material:

Art. 12: arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido.

Art. 13, caput: arma de fogo, de uso permitido ou proibido/restrito.Art. 13, pargrafo nico: arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido ou proibido/restrito.obs: caso a arma esteja em situao irregular, no haver o dever de comunicar o seu furto ou extravio. Prevalece que o objeto material desse crime se restringe s armas de fogo em situao regular. Se o indivduo comunica o furto ou extravio de arma em situao irregular ele estar produzindo contra si prova do crime de posse ou porte irregular de arma de fogo, acessrio ou munio. Ningum obrigado a se auto-incriminar.

obs: prevalece o entendimento de que esse crime do pargrafo nico doloso, sendo punido a ttulo de dolo. S h crime se o SA deixar de fazer as comunicaes dolosamente.

Se a falta de comunicao for culposa, tratar-se- de fato atpico.

Logo:

- Art. 13, caput: crime culposo.

- Art. 13, pargrafo nico: crime doloso.Consumao:

Somente se d 24 horas depois de ocorrido o fato, pois o crime deixar de comunicar o fato nas primeiras 24 horas. O indivduo tem 24 horas para comunicar.

Trata-se de crime a prazo, ou seja, que se consuma depois de um determinado lapso temporal.Doutrina: depois de ocorrido o fato o mesmo que depois da cincia do fato. Trata-se de interpretao corretiva do tipo penal. Ex: arma furtada na 6 feira. O responsvel legal somente ficou sabendo desse furto na 2 feira, ou seja, 48 horas aps o fato. Caso a interpretao do dispositivo ocorresse ao p da letra, chegaramos absurda concluso de que o responsvel teria que ser punido, h que houvera o transcurso das 24 horas. Como ele poderia ter comunicado o extravio da arma sem antes ter cincia do fato? Trata-se de responsabilidade penal objetiva, sem dolo, culpa, tampouco conhecimento do fato. Da a necessidade da correo pela doutrina.

Tentativa:

No h, porque se trata de crime omissivo puro/prprio.

Art. 14 porte irregular de arma de fogo de uso permitido:Porte ilegal de arma de fogo de uso permitidoArt. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar:Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.Pargrafo nico. O crime previsto neste artigo inafianvel, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)obs: porte: fora da residncia ou do local de trabalho. Caso a arma esteja em residncia ou local de trabalho dar-se- a posse.

Bem jurdico tutelado/objeto jurdico/objetividade jurdica:

A incolumidade pblica.

Sujeito ativo:

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.

Sujeito passivo:

A coletividade. Trata-se de crime vago.

Tipo objetivo/elementos do tipo penal:

Condutas:

Trata-se de crime de conduta mltipla ou de conduta variada. tipo misto alternativo ou plurinuclear vrios ncleos verbais (como o do art. 33, da Lei 11343/2006.

Consequncia: a prtica de vrias condutas no mesmo contexto ftico configura crime nico, no havendo concurso de crimes, nem formal. Ex: agente adquire, transporta, mantm sob sua guarda e passa a ter em depsito arma de fogo. O n de condutas ser considerado apenas na dosagem da pena.

Objeto material:

o mesmo do art. 12, ou seja, arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido. A diferena se restringe s condutas: art. 12 trata da posse e o art. 14 trata do porte.

Questes polmicas:1. Esse crime do art. 14 um delito que deixa vestgios, no caso a arma. indispensvel o exame pericial da arma para a comprovao da materialidade delitiva? No. O STF e o STJ pacificaram o entendimento segundo o qual no h necessidade de exame pericial para a comprovao da materialidade delitiva do crime do art. 14 (laudo pericial na arma exame de corpo de delito). Logo, ainda que no haja laudo, ou ainda que o mesmo seja nulo h a possibilidade de reconhecimento do crime, ainda que a arma no tenha aptido para disparar. Ver STJ, HC 89509 (2008). O fundamento do STF e do STJ o fato de o delito do art. 14 ser reputado crime de delito abstrato, correntemente aceito no STJ e no STF, no obstante moderna doutrina (LFG) refutar a existncia desse crime. Ver tambm STJ, REsp 953853/RS (2008).

No mesmo sentido, STF, RHC 91553/DF (1 Turma 23.06.2009): crime de porte de arma de fogo crime de perigo abstrato que prescinde da demonstrao da ofensividade real da arma.

2. Arma de fogo desmuniciada e sem condies de pronto municiamento configura crime?A situao no poderia ser mais confusa e no h entendimento majoritrio:

1 Turma do STF, HC 91553/DF (julg. 23.06.2009 unnime): arma desmuniciada crime.

5 Turma do STJ, HC 122221/SP (julg. 05.05.2009): arma desmuniciada crime.2 Turma do STF, HC 97811/SP (julg. 09.06.2009 no foi unnime Ellen Gracie e Joaquim Barbosa divergiram): arma desmuniciada no crime.6 Turma do STJ, HC 110448/SP (julg. 18.08.2009): arma desmuniciada no crime.Dica: maioria do STF entende ser crime, pois h 2 votos divergentes na 2 turma.

Doutrina: prevalece o entendimento de que arma desmuniciada crime. Fundamento: como a Lei 10826 pune apenas o porte de munio, nada mais lgico que puna apenas o porte de arma. Se a munio sem arma crime, a arma sem munio tambm .

Fundamento dos Ministros STF e do STJ que entendem no ser crime o porte de arma desmuniciada: inexistncia de ofensa ao princpio da lesividade. Entendimento contraditrio com aquele manifestado na questo 1 supra (pacfico no STJ e no STF), segundo o qual no haveria necessidade de exame pericial para a comprovao da materialidade delitiva do crime do art. 14. Se se considera ser o crime de perigo abstrato, a arma de fogo desmuniciada deve ser crime.

3. Porte de munio sem arma crime pelo texto do art. 14. De igual forma, o STJ entende que o porte apenas de munio configura crime. Ver REsp 883824.No STF a questo ainda no foi resolvida. H um julgamento sobre o tema j iniciado, mas ainda no concludo (HC 90075).Elemento subjetivo:

Dolo.

Consumao:

Se d com a prtica de qualquer uma das condutas do tipo.

Tentativa:

Em tese possvel, como no caso do verbo adquirir: o indivduo preso quando est tentando adquirir a arma de fogo.

Art. 14, par nico:

Esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF na ADI 3112-1. Significa dizer que esse crime afianvel, pouco importa se est ou no a arma registrada em nome do agente.

Fundamento do STF: a proibio de fiana desproporcional gravidade do delito violao ao princpio da razoabilidade.

O porte de mais de uma arma configura crime nico ou vrios crimes em concurso formal?

O porte ilegal simultneo de vrias armas configura crime nico. O n de armas ser considerado na dosagem da pena.

Art. 15 disparo de arma de fogo:Disparo de arma de fogoArt. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munio em lugar habitado ou em suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela, desde que essa conduta no tenha como finalidade a prtica de outro crime:Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.Pargrafo nico. O crime previsto neste artigo inafianvel. (Vide Adin 3.112-1)Bem jurdico tutelado/objeto jurdico/objetividade jurdica:

A incolumidade pblica.

Sujeito ativo:

Qualquer pessoa, sendo crime comum.

Sujeito passivo:

Coletividade.

Elemento subjetivo:

Dolo, no se punindo o disparo culposo.

Condutas:

O tipo penal diz mais que o prprio nome do crime. O tipo pune no s o disparo de arma de fogo, mas tambm acionar munio (deflagrar munio sem disparar arma de fogo). Quando a munio falha (no dispara), mas foi acionada, h a configurao de crime (a munio picota por ser velha ou por ter a arma algum defeito). Logo, no necessrio que a munio dispare, bastando que seja acionada.

Elemento especial do tipo:

Esse crime s ocorre se o disparo ou acionamento ocorrer em lugar habitado ou suas adjacncias, em via pblica ou em direo a ela.

Acionar munio ou disparar arma de fogo em local ermo ou desabitado no configura crime.

Logo, se um indivduo com uma arma, com registro e porte for a um local abandonado e efetuar um disparo praticar fato atpico.

Trata-se de delito subsidirio, pois ele somente existe se o disparo no tiver como finalidade a prtica de outro crime. Trata-se de uma subsidiariedade expressa, que est no prprio tipo penal. Logo, um disparo para matar tem por finalidade o homicdio, e, caso alcance seu objetivo o agente ter praticado apenas o homicdio.

Problema: o tipo penal menciona apenas a finalidade de prtica de outro crime, independentemente de ser ou no mais grave que o enunciado no art. 15, Lei 10826. Caso essa redao seja levada ao p da letra, o crime de disparo estar afastado quando o objetivo a prtica de crime mais grave ou menos grave que o prprio disparo. Esse o posicionamento de uma parte da doutrina, partindo de uma interpretao literal do dispositivo.

Porm, para a corrente doutrinria e jurisprudencial majoritria o crime de disparo somente ficar afastado se o disparo tiver por finalidade um crime mais grave que ele. Caso o disparo tenha por finalidade um crime menos grave, evidentemente esse crime menos grave no poder absorver o crime mais grave. Logo, para essa corrente, nesse caso de crime-fim menos grave prevalece o crime de disparo ou haver concurso de crimes. Ex: algum atira no dedinho de outrem. Logicamente, a leso leve no pode absorver o crime de disparo, que mais grave por ostentar pena mxima de 4 anos de recluso. Por essa razo, haver concurso formal entre leso e disparo.

Art. 15, par nico:

Esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF na ADI 3112-1, pelos mesmos motivos pelos quais foi declarada a inconstitucionalidade do art. 14, par nico. Fundamento do STF: a proibio de fiana desproporcional gravidade do delito violao ao princpio da razoabilidade. Logo, o crime de disparo afianvel.

Consumao:

Ocorre com o mero disparo ou acionamento da munio. Trata-se de crime de perigo abstrato: h o crime mesmo que o disparo ou acionamento no cause perigo a ningum.

O disparo deve ser em local habitado ou via pblica, mas no necessita gerar perigo concreto. Ex: o indivduo para em uma rua vazia s 2:00 a.m. e d um tiro para o alto. Por ter sido em via pblica, haver o crime, ainda que o tiro no tenha gerado perigo concreto a terceiros.

Tentativa:

Possvel, quando a pessoa desarmada antes de efetuar o disparo.

obs: 2 ou mais disparos configuram crime nico (uma s conduta fracionada em n atos). A quantidade de disparos somente ser considerada na dosagem da pena.Art. 16 posse ou porte de arma de fogo de uso proibido ou restrito:Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restritoArt. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depsito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito, sem autorizao e em desacordo com determinao legal ou regulamentar:Pena recluso, de 3 (trs) a 6 (seis) anos, e multa.

obs: se a arma for permitida, a posse configura o crime do art. 12 e o porte configura o crime do art. 14.

Mas, caso se trate de arma proibida, tanto a posse como o porte configuram o crime do art. 16.

Aplica-se ao crime do art. 16 tudo o que foi dito com relao aos crimes de posse e de porte de arma permitida. A diferena entre os arts. 12 e 14 e o 16 precisamente o objeto material, que no caso do art. 16, caput apenas arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito.

O conceito de arma de fogo de uso proibido ou restrito est no Decreto 3665, sendo o art. 16, da Lei 10826 norma penal em branco, heterognea ou heterloga (norma complementada por um decreto).

Condutas equiparadas art. 16, par nico:

Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorre quem:I suprimir [fazer desaparecer] ou alterar marca, numerao ou qualquer sinal de identificao de arma de fogo ou artefato;II modificar as caractersticas de arma de fogo, de forma a torn-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;III possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendirio, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar;IV portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numerao, marca ou qualquer outro sinal de identificao raspado, suprimido ou adulterado;V vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessrio, munio ou explosivo a criana ou adolescente; eVI produzir, recarregar ou reciclar, sem autorizao legal, ou adulterar, de qualquer forma, munio ou explosivo.O par nico tipo penal autnomo em relao ao caput. Concluso: as condutas do par nico possuem como objeto material tanto armas de fogo, acessrios e munio de uso proibido ou restrito como as de uso permitido. Trata-se de doutrina e jurisprudncia pacficas.INFORMATIVO N 558TTULOPorte Ilegal de Arma de Fogo com Sinal de Identificao Raspado

PROCESSO: HC - 99582Para a caracterizao do crime previsto no art. 16, pargrafo nico, IV, da Lei 10.826/2003, irrelevante se a arma de fogo de uso permitido ou restrito, bastando que o identificador esteja suprimido. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que condenado pela prtica do crime de porte ilegal de arma de fogo com numerao raspada (Lei 10.826/2003, art. 16, pargrafo nico, IV) pleiteava a desclassificao da conduta que lhe fora imputada para a figura do porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (Lei 10.826/2003, art. 14). Sustentava a impetrao que, se a arma de fogo com numerao raspada de uso permitido, configurar-se-ia o delito previsto no art. 14 e no o do art. 16, pargrafo nico, IV, ambos do Estatuto do Desarmamento. Observou-se que, no julgamento do RHC 89889/DF (DJE 5.12.2008), o Plenrio do STF entendera que o delito de que trata o mencionado inciso IV do pargrafo nico do art. 16 do Estatuto do Desarmamento tutela o poder-dever do Estado de controlar as armas que circulam no pas, isso porque a supresso do nmero, da marca ou de qualquer outro sinal identificador do artefato potencialmente lesivo impediria o cadastro, o controle, enfim, o rastreamento da arma. Asseverou-se que a funo social do referido tipo penal alcanaria qualquer tipo de arma de fogo e no apenas de uso restrito ou proibido. Enfatizou-se, ademais, ser o delito de porte de arma com numerao raspada delito autnomo considerado o caput do art. 16 da Lei 10.826/2003 e no mera qualificadora ou causa especial de aumento de pena do tipo de porte ilegal de arma de uso restrito, figura tpica esta que, no caso, teria como circunstncia elementar o fato de a arma (seja ela de uso restrito, ou no) estar com a numerao ou qualquer outro sinal identificador adulterado, raspado ou suprimido. HC 99582/RS, rel. Min. Carlos Britto, 8.9.2009. (HC-99582)

I e IV: o indivduo quando vai alterar ou raspar/suprimir a numerao de uma arma normalmente praticar tal conduta em casa. Trata-se de tipo inaplicvel, pois praticamente impossvel descobrir quem suprimiu ou alterou a numerao da arma. Normalmente, a pessoa alega que comprou a arma dessa maneira. Para corrigir esse problema, a Lei 10826 inseriu o inciso IV: portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numerao, marca ou qualquer outro sinal de identificao raspado, suprimido ou adulterado. Logo, se o infrator no incidir no inciso I incidir no inciso IV.

As condutas dos incisos I e IV se consumam com a simples prtica de qualquer dos verbos, sendo que nos verbos suprimir ou alterar o crime se consuma com a simples supresso ou alterao, ainda que as autoridades consigam identificar a arma.

Tentativa: possvel em condutas como suprimir ou alterar.

II. a conduta consiste em transformar arma de uso permitido em arma de uso proibido ou restrito. Trata-se de prova que o art. 16, par nico pode ter versar sobre arma de uso permitido.

Esse inciso II pune modificar as caractersticas da arma com 2 finalidades: para torn-la arma proibida (ex: trocar o cano da arma de calibre permitido por calibre proibido) ou para induzir em erro perito, juiz ou autoridade policial.

Esse crime se consuma com a simples modificao da arma com uma das finalidades supra, ainda que a autoridade no seja induzida em erro (fraude no d certo).

Conflito aparente de normas: se essa conduta no estivesse na Lei 10826 ela configuraria o crime de fraude processual, constante do art. 347, CP. Pelo princpio da especialidade, no se aplica o crime de fraude processual, mas sim a Lei 10826.

III. o objeto material desse crime no nem arma, nem acessrio, tampouco munio. artefato explosivo (ex: bomba de fabricao caseira) ou incendirio (ex: granada).V. essa conduta revogou tacitamente o art. 242, ECA (lei posterior Lei 10826 trata da mesma matria de lei anterior ECA).

Esse crime tambm possui explosivo como objeto material. No caso de fogos de artifcios, haver a configurao de crime do ECA.

Art. 17 comrcio de arma de fogo:Comrcio ilegal de arma de fogoArt. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depsito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito prprio ou alheio, no exerccio de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessrio ou munio, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal ou regulamentar:Pena recluso, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.Pargrafo nico. Equipara-se atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestao de servios, fabricao ou comrcio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residncia.Objeto material:

Incolumidade pblica.

Sujeito ativo:

o comerciante ou industrial legal ou ilegal (clandestino) de armas de fogo, acessrios ou munio. Trata-se de crime prprio, que somente pode ser cometido por quem comercializa ou industrializa armas de fogo, acessrios ou munio.

Sujeito passivo:

Coletividade.

Tipo penal:

Crime de conduta mltipla ou variada tipo misto alternativo. A prtica de vrias condutas em um mesmo contexto ftico configura crime nico.

Objeto material:

Arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido, proibido ou restrito. Tanto faz.

Mas, caso seja arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito haver uma causa de aumento de pena prevista no art. 19: Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena aumentada da metade se a arma de fogo, acessrio ou munio forem de uso proibido ou restrito.

Elemento subjetivo:

Dolo.

Consumao:

Ocorre com a prtica de qualquer das condutas enumeradas no tipo.

Tentativa:

Possvel nas modalidades adquirir, receber, montar (ex: o indivduo preso no momento em que est montando uma arma ilegalmente), adulterar, vender, etc.

Esse crime ou no habitual?No, ou seja, a prtica de um nico ato ilegal relacionado no tipo j configura o crime, desde que o sujeito ativo seja comerciante ou industrial (ambos legais ou ilegais) de arma de fogo, acessrio ou munio.

Ex1: loja de arma de fogo no shopping. O dono vende 200 armas ilegalmente e 1 ilegalmente ele vai responder pelo crime do art. 17.

Ex2: dono de um restaurante vende a arma dele para seu cliente. Ele no vai responder pelo crime do art. 17, pois o dono do restaurante no exerce o comrcio ou a indstria de armas de fogo. Caso o dono do restaurante tenha vendido arma de fogo de uso permitido incidir no art. 14. Caso seja de uso proibido, a incidncia ser do art. 16.

Art. 18 trfico internacional de arma de fogo:Trfico internacional de arma de fogoArt. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou sada do territrio nacional, a qualquer ttulo, de arma de fogo, acessrio ou munio, sem autorizao da autoridade competente:Pena recluso de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.Trata-se de novidade da Lei 10826.

importar e exportar:Objeto jurdico:

Incolumidade pblica.

Sujeito ativo:

Qualquer pessoa, sendo crime comum.

Sujeito passivo:

Coletividade.

Tipo penal:

Antes do Estatuto do Desarmamento, as condutas importar e exportar configuravam crime de contrabando, previsto no art. 334, CP. Atualmente, pelo princpio da especialidade essa conduta se enquadra na Lei 10826.

Consumao:

Ocorre quando o objeto material entra ou sai do territrio brasileiro.

Tentativa:

Possvel.

favorecer a entrada ou sada:Antes da Lei 10826 se essas condutas fossem praticadas por funcionrio pblico caracterizariam o crime de facilitao de contrabando do art. 318, CP. Atualmente, essas 2 condutas, praticadas por particulares ou por funcionrios pblicos caracterizam o crime do art. 18, Lei 10826.

Consumao:

Ocorre com simples favorecimento, ainda que o favorecido no logre entrar ou sair com a arma do pas. Trata-se de crime formal.

Tentativa:

Doutrina entende ser possvel na forma escrita.

Competncia para julgar o crime do art. 18 em todas as suas condutas: JF.

Objeto material do crime do art. 18 em todas as suas condutas: arma de fogo, acessrio ou munio de uso permitido ou proibido. Tanto faz.

Mas, caso seja arma de fogo, acessrio ou munio de uso proibido ou restrito haver uma causa de aumento de pena prevista no art. 19: Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena aumentada da metade se a arma de fogo, acessrio ou munio forem de uso proibido ou restrito.

Art. 21:

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 so insuscetveis de liberdade provisria. (Vide Adin 3.112-1).Esse dispositivo foi declarado inconstitucional pelo STF. Logo, os 3 crimes mencionados no art. 21 podem ser objeto de liberdade provisria. O fundamento do STF para a declarao da inconstitucionalidade foi a aplicao do princpio ou presuno do estado de inocncia. A lei no pode, de antemo, proibir por proibir a liberdade provisria.

Todos os dispositivos do Estatuto do Desarmamento que proibiam fiana ou liberdade provisria foram declarados inconstitucionais pelo STF na ADI 3112. Portanto, em todos os crimes da Lei 10826 cabvel fiana e/ou liberdade provisria sem fiana.

A venda ilegal de arma de fogo configura qual crime?

- venda entre no comerciantes art. 14 (arma permitida) ou art. 16 (arma proibida).

Mas: em ambos os dispositivos no h o verbo vender. Mas ele est implcito nas condutas fornecer ou ceder.

- venda por comerciante de arma de fogo art. 17, seja a arma permitida ou proibida.

- caso a venda envolva transao internacional art. 18, seja a arma permitida ou proibida, ainda que o sujeito ativo seja comerciante de armas.