Upload
vudieu
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
A PAISAGEM DO CERRADO NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
Ercília Mendes Ferreira
Mestrado em Geografia/Campus de Aquidauana,
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Email: [email protected]
Cássia Julita Dresch
Mestrado em Geografia/Campus de Aquidauana
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Email: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho busca fazer uma análise espaço-temporal da evolução da paisagem a partir das
contribuições obtidas na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal: Potencialidades e
Fragilidades”, ofertada no Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul e tem como objetivo geral avaliar a modificação da paisagem no contexto histórico em decorrência da
ocupação econômica e social do Estado de Mato Grosso do Sul, Para tanto foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, de modo a caracterizar o Bioma Cerrado e a transformação que o mesmo atingiu dentro do
território sul mato-grossense. Como resultado, a pesquisa atinge o objetivo de entender a relação
socioeconômica que vive o estado ocasionando nesta modificação.
Palavras-chave: Cerrado. Território. Paisagem
ABSTRACT
This study aims to make a spatiotemporal analysis of the evolution of the landscape from the contributions
obtained in the course "Landscape Ecology in the Cerrado and Pantanal: Potentials and fragilities," offered in
the Master's Program in Geography of the Federal University of Mato Grosso do Sul and has the general
objective to evaluate the landscape change in historical context as a result of economic and social occupation
of the State of Mato Grosso do Sul, for both a literature search was conducted in order to characterize the
Cerrado and the transformation that it reached in the mato Grosso do Sul territory. As a result, the research
achieves the objective of understanding the socio-economic relationship that lives the state causing this
change.
Key-words: Cerrado. Territory. Landscape
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
Introdução
O homem ao se apropriar da natureza e modificá-la, cria ou produz o espaço geográfico,
onde está implícito tanto a dinâmica natural quanto a dinâmica social, pois o território é o resultado
das formações sociais que ali vivem e atuam, para tanto, considera-se o momento histórico, político
e econômico, “o espaço geográfico somente surge depois de o território ser usado, modificado ou
transformado pelas sociedades humanas, ou quando estas imprimem na paisagem as marcas de sua
atuação e organização social” (SANTOS, 2002, p. 29)
O Estado de Mato Grosso do Sul possui uma rica biodiversidade de fauna e flora, no
qual 61% da sua formação compreende o bioma Cerrado e, outras regiões como a área do Pantanal.
No avanço histórico e econômico do estado, vem sendo criado um novo mosaico que somado a
beleza natural destes ecossistemas uma nova paisagem se estrutura.
O presente trabalho busca fazer uma análise espaço-temporal da evolução da paisagem a
partir das contribuições obtidas na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal:
Potencialidades e Fragilidades”, ofertada no Programa de Mestrado em Geografia da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul e tem como objetivo geral o intuito de realizar um comparativo
sobre a modificação da paisagem no contexto histórico em decorrência do uso e ocupação do
território do Estado de Mato Grosso do Sul, assim compreendermos como se encontra o domínio
cerrado em nosso estado.
Metodologia
Esta pesquisa é caracterizada como descritiva e bibliográfica, pois realiza a busca de
fatos históricos no contexto político e econômico na formação do Estado de Mato Grosso do Sul
que influenciaram na modificação da paisagem. O instrumento de coleta de dados utilizado foi
através de pesquisa bibliográfica que serviu de base para descrever a evolução e desenvolvimento
ao longo do tempo de várias regiões do estado, assim contribuindo para construção teórica deste
trabalho.
A estrutura da pesquisa se inicia com a abordagem teórica que contempla a
caracterização geral do domínio Cerrado e sua localização em todo o território brasileiro,
utilizando-se de conceitos apresentados na disciplina “Ecologia da Paisagem no Cerrado e Pantanal:
Potencialidades e Fragilidades”, do Programa de Mestrado em Geografia da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul.
Na sequência é realizada uma descrição sucinta da formação histórico-territorial do
Estado de Mato Grosso antes da divisão em dois Estados: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
destacando os aspectos históricos, geográficos e econômicos, contextualizando a pesquisa em seu
universo de estudo.
Em seguida, são consideradas as modificações ocorridas na paisagem do Estado de
Mato Grosso do Sul, principalmente no Cerrado em decorrência das plantações de erva-mate, do
complexo sojeiro, sua mecanização, as plantações de cana-de-açúcar e o eucalipto. Finalizando com
a realidade da paisagem do Estado e os impactos ambientais decorrentes destas atividades.
Caracterização do Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de
2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de
Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí,
Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e
Amazonas (BRASIL, s.d.).
Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado
potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade. Considerado o berço das águas no Brasil, devido
a geografia de planalto, o relevo, a geologia, a vegetação e 6 das 8 maiores bacias hidrográficas
brasileiras dependem do cerrado. 30% da biodiversidade brasileira, 1 em cada 4 vive no cerrado, o
que corresponde a 5% das espécies do planeta (BRASIL, s.d.).
Considerado como um dos hotspots mundiais de biodiversidade, o Cerrado apresenta
extrema abundância de espécies endêmicas e sofre uma excepcional perda de habitat. Do ponto de
vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do
mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande diversidade
de habitats, que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofisionomias
(RIBEIRO; WATER, 2008).
Dentre os potenciais do cerrado destacamos: a vegetação, os recursos hídricos, a
biodiversidade, a agroecologia, a qualidade de vida, corredores ecológicos, as UCs, o SNUC. A
fragilidade consiste nas queimadas, os desmatamentos, as voçorocas, os assoreamentos, os
agrotóxicos, a desertificação e a extinção de inúmeras espécies de plantas e animais.
São encontrados aproximadamente, 12.000 espécies de plantas das quais 35% são das
áreas savanicas, 30% das florestas, 25% de áreas campestres, e 10% ainda precisa ser melhor
estudada quanto a sua distribuição original pois pode ocorrer em mais de um ambiente (EMBRAPA
Cerrados, 2013).
O clima dominante na região é o tropical quente subsumido, caracterizado por forte
estacionalidade das chuvas. Há duas estações bem definidas: uma seca de maio a setembro e outra
chuvosa de outubro a abril. A precipitação anual é de 1500 +_500mm. Períodos de seca de uma a
três semanas, os veranicos pode ocorrer durante a estação chuvosa, especialmente nos meses de
janeiro e fevereiro. A temperatura média anual apresenta amplitude de 21,3 a 27,2 graus Celsius
(EMBRAPA Cerrados, 2013).
Os solos são antigos, profundos, bem drenados, com baixa fertilidade material e acidez
elevada. Classificam-se em latossolos, concrecionais, podzólicos, litolicos, cambissolos, terras
rochas, areia quatzosas, lateritícos, hidronorficos e gleis.
A fisionomia da vegetação mais comum é a formação aberta de árvores e arbustos
baixos coexistindo com uma camada rasteira baixa, podendo ser descrita em termos gerais como,
savana extremamente de matas ciliares, no conjunto da paisagem são consideradas as mais comuns:
o campo Limpo, campo sujo, o cerrado, o cerradão e as matas de galeria. No geral, podem ser
descritos onze tipos fitofisionômicos gerias, nos quais apresentam subtipos: a) formações florestais
(Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão); b) Formações savânicas (Cerrado s.s.,
Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e c) Formações campestres (campo Sujo, Campo Rupestre
e Campo Limpo) (BRASIL, 2007)
De acordo a EMBRAPA (2012) a ocupação do Cerrado pelos agricultores inicialmente
deu-se em áreas de solos ácidos e com baixa fertilidade. Foram necessárias políticas públicas que
permitiram o desenvolvimento regional, assim como a geração de tecnologias modernas que
facilitaram um bom desempenho agropecuário e na produção agrícola. Assim, o Cerrado passou a
ser considerado o “Celeiro de grãos” e, chamado por algumas empresas como o “Celeiro do
mundo”, devido a sua importância dentro da economia nacional. As características físicas e
históricas do cerrado favoreceram a mecanização, a monocultura e a concentração de terras.
A ocupação assim como a construção de estradas transformou uma grande área de biota
natural em uma paisagem cada vez mais fragmentada “composta por ilhas inseridas numa matriz de
agroecossitemas” (BRASIL, 2007, p. 14).
Estado de Mato Grosso do Sul
Para compreendermos a transformação da paisagem do Estado de Mato Grosso do Sul,
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
se faz necessário reportarmos ao antigo Estado de Mato Grosso, destacando sua ocupação já no
período republicano onde nota-se que entre as principais atividades econômicas que se
desenvolveram no então Estado do Mato Grosso, no início do século XX, estavam a produção de
borracha e a poaia na região norte do Estado, além da presença de usinas de açúcar em sua parte
central, enquanto na parte sul do Estado predominava a criação de gado e do cultivo da erva-mate
(Figura 1) (LOBATO, et. al, 2010, p. 11).
Com um recorte geográfico do período de 1870 a 1937, Silva (2011, p. 6), apresentou
um mapa onde demonstrou o início da exploração de ervais nativos na região do sul do Estado de
Mato Grosso (1870) até a aprovação da Constituição que proibiu o arrendamento de grandes áreas
em região de fronteira (Figura 2). Em sua pesquisa cita a origem das primeiras fazendas no sul do
Estado com criação de gado de corte, período este compreendido aos anos 30 do século XIX.
Figura 1: Mapa das principais atividades
econômicas no espaço Mato-grossense: Início
do Século XX.
Figura 2 – Sul do Estado de Mato Grosso –
Região de domínio da erva-mate (1870-1937)
Após a criação do Estado de Mato Grosso do Sul pela Lei Complementar nº. 31, de 11
de outubro de 1977, instalado a 1º de janeiro de 1979, no qual abrange uma extensão territorial de
350.549 Km2, o Cerrado já contava com a evolução das plantações de sojas em todo seu Bioma no
território brasileiro (Figura 3), assim o novo estado também encontra-se inserido nesta evolução.
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
Figura 3 – Expansão da Soja – período de 1996 a 2006
Em decorrência de vários fatores, que vão desde as condições naturais à melhoria de
infraestrutura e logística a soja foi uma das culturas que mais progrediram no contexto nacional.
Porém, tem provocado grandes transformações na paisagem do território, principalmente no
domínio Cerrado.
Os impactos que surgiram com as plantações foram aumento de desmatamentos,
degradação do solo, erosões, assoreamentos de rios, eutrofização de rios, nível de cobertura e perda
gradual da fertilidade dos solos e, principalmente em decorrência da irrigação o agravamento da
disponibilidade de recursos hídricos.
Vale destacar que essas regiões “oferecem condições físicas para expansão deste tipo de
lavoura, tanto em áreas de cerrado ou transição cerrado-floresta, quanto em zonas de campo ou
ainda em terras desmatadas e áreas degradadas pela pecuária” (PASQUIS; VARGAS, 2009, p. 4).
Outra plantação que tem destaque no estado, pois recebe incentivos do Governo
Federal, é a cana-de-açúcar. Destacamos que esta produção traz benefícios para a balança comercial
do estado e do país (Figura 4), mas em contrapartida, gera também consequências como a
exploração de mão de obra, exploração ambiental, entre outros (DOMINGUES; TÓMAZ JUNIOR,
2012).
Figura 4 – Produção de Cana-de-açúcar no Estado de Mato Grosso do Sul período 2004/2011.
Este tipo de atividade dominado pelo capital agroindustrial canavieiro vem causando
diversas transformações no estado: econômicas, sociais, políticas, ambientais e espaciais,
contribuindo cada vez mais com a modificação da paisagem do domínio cerrado. Assim,
destacamos a região Centro-Sul do estado onde ocorre maior investimento do capital canavieiro,
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
confirmado pelo crescimento do número de empresas agroindustriais. Vale ressaltar que a região
COREDES Grande Dourados, vários municípios líderes na plantação de soja já possuem de 03 a 02
unidades agroindustriais (Figura 5).
Com exceção da região pantaneira, que é protegida por lei (Zoneamento Agroecológico
da Cana-deAçúcar – ZAE Cana), percebe-se um predomínio e uma concentração maior das
unidades agroprocessadoras na Região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul, no entanto há também,
outras unidades espalhadas pelo restante do estado.
Desta forma, diante desta mudança vem sendo construída a territorialização da cana-de-
açúcar de forma acelerada, em decorrência de incentivos fiscais, por parte do governo federal bem
como por parte do governo estadual e municipal. Nesse sentido, a produção da pecuária e de
alimentos em alguns municípios tradicionais passam a conceder o seu espaço à cultura canavieira,
gerando assim um reordenamento espacial e territorial da atividade agroindustrial canavieira no
contexto sul-mato-grossense.
Figura 5 – Territorialização das Unidades Agroindustriais canavieiras nos municipios Sul-mato-grossenses –
2010.
A Bacia do Ivinhema (Figura 6), foi caracterizada por Chiaravalloti et. al. (2014), no
ano de 2013, e apresentou uma análise do cenário das mudanças ambientais, sociais e econômicas
ocorridas no sudeste do Mato Grosso do Sul em decorrência das plantações canavieiras e
instalações de usinas. A Bacia do Ivinhema é constituído de 26 municípios, utilizou a bacia como
limite amostral pelo fato de 23 usinas em operação no estado estarem localizadas em 16 municípios,
destes, destacou sete onde foi realizada a entrevistas a campo: Nova Alvorada do Sul, Rio Brilhante,
Dourados, Caarapó, Naviraí, Angélica e Ivinhema (Figura 10).
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
Figura 6 – Mapa da Bacia do Ivinhema com destaque para a região de Cana-de-açúcar em vermelho
Fonte: Dados de 2011 elaborados com base nas informações do portal CanaSat
<http:www.dsr.inpe.br/laf/canasat/index.html>
Ressalta a importância do aquífero guarani na região, porém em entrevistas realizadas
com gestores públicos e a sociedade civil, obteve as seguintes afirmações:
O próprio órgão ambiental do estado salienta que muitas usinas na região do Mato Grosso
do Sul não são transparentes no EIA/RIMA sobre a utilização de águas do aquífero. Assim,
mesmo que algumas descrevam que optarão pela água dos rios, acabam utilizando as águas
subterrâneas, em razão da maior facilidade e constância do volume disponível. Dessa
maneira, o órgão competente autoriza um processo de captação de água; e a usina utiliza
outro, o qual não passou pelo processo de autorização e fiscalização. Pesquisadores do
Instituto do Meio Ambiente e Desenvolvimento (IMAD) afirmam que essa utilização é
rotineira em toda a região de Dourados (MS). Muitos agentes municipais mostraram-se
preocupados com essa utilização, embora a falta de transparência por parte da usina leve a
uma impossibilidade de qualquer ação, pois eles não sabem o que realmente acontece
(Chiaravalloti et. al., 2014, p. 8)
Além dos problemas levantados em relação aos recursos hídricos que vem sofrendo
degradações durante esses anos de avanço tecnológico na agricultura do estado, destacamos o
trabalho realizado por Gutierrez et. Al. (2012), no qual apresenta uma análise espaço temporal
utilizando um Sistema de Informações Geográficas, no qual foi possível investigarem o processo de
expansão das áreas cultivadas de cana-de-açúcar, nas safras compreendidas nos períodos de 2005,
2006 e 2007, que estavam adentrando as Unidades de Conservação. Identifica no Município de
Nova Alvorada do Sul, localizada no Sudoeste de Mato Grosso do Sul (Microrregião de Dourados),
dos 19402 hectares destinados ao cultivo da cana (safra 2007), 5.329,66 hectares se encontram
dentro da Área de Proteção Ambiental Municipal Rio Vacaria, criada em 2007, pelo Decreto
Municipal n. 1.614 (Figura 7).
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
Figura 7 – Áreas de Cultivo de cana e Áreas de Proteção Ambiental no Município de Nova Alvorada do Sul (MS) – Safra 2007.
Santos (2011), pesquisa os motivos que levaram os pequenos agricultores da região sul
do Estado de Mato Grosso do Sul a plantarem eucalipto nas suas pequenas propriedades rurais.
Porém, analisando outras literaturas, esse hábito vem se estendendo por todas as regiões do estado,
não só nas pequenas áreas rurais como as grandes plantações que surgem no estado, tornando Mato
Grosso do Sul um dos grandes produtores de eucalipto no Brasil (Figura 8).
Figura 8- Distribuição da área de plantios de Eucalyptus por Estado, 2010.
Fonte: anuário da ABRAF, 2011.
Avaliação da Paisagem do Cerrado Sul Matogrossense
O Estado de Mato Grosso do Sul, desde a sua criação passa por grndes transformações,
as quais foram impostas pela dinâmica da ocupação social e econômica de seu território, que
acarretou consequências como o antropismo sócio-ambiental que o bioma cerrado vive atualmente.
As informações obtidas através da interpretação de imagens, que vão desde o período de
1870 a 2011, mostram a nova configuração da paisagem, destacando momentos distintos como a
vegetação nativa característica do cerrado, o avanço da pecuária (Figura 9) e das plantações de soja
(Figura 10), a infraestrutura resultante da ocupação humana e da economia e um novo cenário, o
avanço das plantações de cana-de-açúcar (Figura 11) e eucalipto e, para o melhor escoamento
destas produções, a construção de novas estradas que cortam o estado em todas as direções (Figuras
12 e 13), como a implantação e pavimentação da MS-040, considerada a rota de insumos como
eucalipto e carvão vegetal para as indústrias de celulose de Três Lagoas, é uma obra estratégica no
processo de diversificação da matriz econômica adotada pelo governo estadual, considerando que
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
com a logística, o estado poderá triplicar o plantio de florestas e criar novos polos de produção,
como o moveleiro. O crescimento das áreas de eucalipto é visível ao longo de todo o trecho em
construção, onde também predomina a pecuária no município de Santa Rita do Pardo.
Figura 9 - Serra da Bodoquena (com áreas de
pastagem
Figura 10 - Área sendo preparada para plantio sem
a presença de mata nativa.
Figura 11 – Córrego Lavanda na área de
plantio da cana-de-açúcar, no município de
Nova Alvorada do Sul.
Figura 12 - Construção da MS-040
Figura 13 – MS 040, já conhecida como a rodovia da morte dos bichos
Considerações Finais
Ao longo dos anos o homem vem alterando e degradando a vegetação e, em algumas
regiões de forma irreversível, a ponto de, em algumas áreas de atividade agrícola mais intensa, não
observarmos mais locais com cerrado nativo.
Assim como na vegetação, os recursos hídricos também passam por grandes alterações.
Considerando que o uso inadequado do solo acarreta à diminuição do fluxo natural das águas
oriundas das chuvas e acarreando o assoreamento dos canais de águas superficiais, alterando
significativamente a paisagem original.
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
Nas figuras utilizadas para evidenciar as alterações da paisagem do bioma cerrado no
Estado de Mato Grosso do Sul, ficaram nítidos que o mesmo se apresenta de modo fragmentado.
Foi possível interpretar claramente a presença de desmatamento em áreas de alimentação de
nascentes, assim como perceber que a má gestão de recursos hídricos é enorme, onde uso para
irrigação podem causar danos irreversíveis a disponibilidade de água.
Desta forma, concluímos que a alteração do meio ambiente, que gera como
consequência a mudança da paisagem ocorre apenas em detrimento das necessidades e interesses do
homem. Neste contexto, quando analisamos de forma temporal a alteração da paisagem, estamos
estudando as relações estabelecidas na dinâmica desta paisagem, tendo como principal responsável
por esta alteração o homem, que através de suas ações interfere na dinâmica natural de todo o
sistema. Soma-se a este processo de modelação da paisagem, a economia como um dos maiores
causadores das projeções futuras desta modificação.
Referência Bibliográfica
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Biodiversidade do Cerrado e Pantanal: áreas e ações
prioritárias para conservação. Brasília : MMA, 2007.540 p.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. O Bioma cerrado. Disponível em
<http://www.mma.gov.br/biomas/cerrado> Acesso em: 28 set 2015.
CHIARAVALLOTI, R. M. ; SANTANA, S. ; MORAIS, M. S. ; Rocha, L. M. V. ; FREITAS, D.
M. . Efeitos da Expansão da Cana de Açúcar no Sudeste do Mato Grosso do Sul e Possíveis
Caminhos para uma Agenda Sustentável. Sustentabilidade em Debate, v. 5, p. 117-135, 2014.
DOMINGUES, Alex Torres; THOMAZ JÚNIOR, Antonio. A territorialização da cana-de-açúcar
no Mato Grosso do Sul. Caderno Prudentino de Geografia, Presidente Prudente, n.34, v.1, p.138-
160, jan./jul.2012.
EMBRAPA CERRADOS. O Cerrado. 2013. Disponível em: <https://www.embrapa. br/cerrados.
Acesso em: 28 set 2015.
EMBRAPA, O Cerrado. 2015. Disponível em: <http://www.cpac.embrapa.br/unidade /ocerrado/>.
Acesso em: 28 set 2015.
GUTIERREZ, Lorena A. Rojas; SILVA, Diego Correia da; CASADEI, Juliana de Mendonça;
ABREU, Wilson F.de Souza; SILVA, Luciana Ferreira da; PEREIRA, Joelson Gonçalves;
FACCENDA, Odival; ALVES, Maria Ap. Martins. Desenvolvimento do setor sucroalcooleiro da
região Grande Dourados/MS: uma análise sob unidades de conservação. Revista Brasileira de
Gestão e Desenvolvimento Regional. V. 8, n. 2, p. 300-318, mai-ago/2012, Taubaté, SP, Brasil.
LOBATO, Alessandra da Silva; CARVALHO, Danilo Raiol de; SILVA, Marcela Alves da;
BRITO, Miguel Sá de Souza. A Formação Histórico-territorial do Mato Grosso, as
Transformações e Impactos Decorrentes da Expansão da Soja. Para onde? (UFRGS), v. 1, p. 8-
27, 2010.
OLIVEIRA, Geraldo César de. Solos da Região dos Cerrados: reconhecimento na paisagem,
potencialidades e limitações para uso agrícola. Curso de qualificação profissional a distância.
Lavras : FAEPE, 2009. 69 p.
PASQUIS, Richard; VARGAS, Gloria M. A soja em Mato Grosso: determinantes do seu avanço e
problemas socioambientais. In: AGUIAR et. al. Desenvolvimento Territorial Diretrizes para a
VI Seminário Internacional AMÉRICA PLATINA (VI SIAP) e I Colóquio Unbral de Estudos Fronteiriços TEMA: “América Platina: alargando passagens e desvendando os labirintos da integração”
Campo Grande, 16,17 e 18 de novembro de 2016
UEMS (Unidade Universitária de Campo Grande)
ISBN: 978-85-99540-21-3
Região BR-163. Brasília : WWF, Brasil, 2009. Disponível em:
http://www.dialogos.org.br/arquivo/colecao/ASojaemMatoGrosso.pdf Acessado em 28 set 2015.
RIBEIRO, J.F. ; WALTER, B. M. T. . As principais fitofisionomias do bioma Cerrado. In: Sueli
Matiko Sano; Semíramis Pedrosa de Almeida; José Felipe Ribeiro. (Org.). Cerrado: ecologia e
flora. 1ed.Brasília/DF: Embrapa Cerrados/Embrapa Informação Tecnológica, 2008, v. 1, p. 151-
212.
SANTOS, João Carlos Pereira dos. Cultivo de Eucalipto como Alternativa de Renda aos Produtores
da Região Sul de Mato Grosso do Sul Anais do Encontro Científico de Administração,
Economia e Contabilidade, v. 1, n. 1 (2011)
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo, Edusp. 2002.
SILVA, Walter Guedes. Controle e domínio territorial no sul do Estado de Mato Grosso: uma
análise da atuação da Cia Matte Laranjeira no período de 1883 a 1937. Revista agrária, São Paulo,
n 15, pg 102-125, 2011.