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234 A A NOVA CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES anotações de uma pesquisa empírica Resumo: Abordagem da revisão da classificação brasileira de ocupações (CBO), recentemente promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em parceria com algumas instituições de pesquisa, entre as quais a Funda- ção Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP. A discussão apresenta uma breve caracterização do contexto em que ocorreram as mudanças por que passou o mercado de trabalho brasileiro nas últimas décadas. Palavras-chave: classificação brasileira de ocupações; ocupações; famílias ocupacionais. Abstract: A survey of the revision of the Brazilian Classification of Occupations (CBO), recently carried out by the Ministry of Labor and Employment, in partnership with research institutions, among them Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) of the University of São Paulo. The discussion presents a brief description of the changes in the Brazilian labor market in recent decades. Key words: Brazilian Classification of Occupations; occupational clusters. NELSON HIDEIKI NOZOE ANA MARIA BIANCHI ANA CRISTINA ABLAS RONDET SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(3-4): 234-246, 2003 atividade de revisão da Classificação Brasileira de Ocupações foi conduzida no âmbito da Co- missão Nacional de Classificação, sob a coor- cionais. Fecharemos o artigo com algumas considerações finais, decorrentes da análise empreendida nas sessões anteriores. O CONTEXTO Nas últimas décadas, o mercado de trabalho brasileiro viu-se submetido a intenso processo de mudanças eco- nômicas, culturais, sociais e políticas, cujas manifestações se fizeram visíveis no âmbito da estrutura das ocupações, dos requerimentos de recrutamento e contratação de profissionais, da condição e vínculos de exercício profis- sional e das funções desempenhadas sob dada deno- minação ocupacional. Tais mudanças, mais acentuadas nos dois últimos lus- tros do século findo, têm sido relacionadas a uma gama variada de fatores, dentre os quais sobressaem a introdu- ção de novas tecnologias – em especial da informática e internet –, a adoção de novas modalidades de organiza- ção produtiva e de gestão, a abertura de mercados nacio- nais ao capital estrangeiro, o aumento da concorrência interna e o declínio do desempenho econômico do país. 2 Como sabido, tais fenômenos levaram à adoção de medi- das técnicas e administrativas de contenção de custos, por denação do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Em articulação com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística, reviu-se a classificação das ocupações brasileiras tendo em vista sua compatibilização com a clas- sificação internacional de ocupações (CIUO 88), definida pela Organização Internacional do Trabalho. Para dar conta da tarefa, o MTE estabeleceu parcerias com algumas insti- tuições brasileiras dedicadas à pesquisa socioeconômica, entre as quais a Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas Econômi- cas, da Universidade de São Paulo. 1 As páginas que se seguem relatam a experiência da Fipe na empreitada de revisão da CBO. A discussão está organizada em três partes principais: na primeira delas caracterizaremos brevemente o contexto em que ocorre- ram as mudanças por que passou o mercado de trabalho brasileiro nas últimas décadas; na sessão seguinte des- creveremos o conjunto de famílias ocupacionais e ocu- pações revistas pela Fipe, bem como o método adotado na coleta e atualização dos dados referentes às mesmas; na terceira sessão focalizaremos o ciclo de vida das ocu- pações, segundo os grandes grupos de famílias ocupa-

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Pesquisa sobre a CBO

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  • SO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(3-4) 2003

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    A

    A NOVA CLASSIFICAO BRASILEIRADE OCUPAES

    anotaes de uma pesquisa emprica

    Resumo: Abordagem da reviso da classificao brasileira de ocupaes (CBO), recentemente promovida peloMinistrio do Trabalho e Emprego, em parceria com algumas instituies de pesquisa, entre as quais a Funda-o Instituto de Pesquisas Econmicas (Fipe) da USP. A discusso apresenta uma breve caracterizao docontexto em que ocorreram as mudanas por que passou o mercado de trabalho brasileiro nas ltimas dcadas.Palavras-chave: classificao brasileira de ocupaes; ocupaes; famlias ocupacionais.

    Abstract: A survey of the revision of the Brazilian Classification of Occupations (CBO), recently carried outby the Ministry of Labor and Employment, in partnership with research institutions, among them FundaoInstituto de Pesquisas Econmicas (Fipe) of the University of So Paulo. The discussion presents a briefdescription of the changes in the Brazilian labor market in recent decades.Key words: Brazilian Classification of Occupations; occupational clusters.

    NELSON HIDEIKI NOZOEANA MARIA BIANCHI

    ANA CRISTINA ABLAS RONDET

    SO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(3-4): 234-246, 2003

    atividade de reviso da Classificao Brasileirade Ocupaes foi conduzida no mbito da Co-misso Nacional de Classificao, sob a coor-

    cionais. Fecharemos o artigo com algumas consideraesfinais, decorrentes da anlise empreendida nas sessesanteriores.

    O CONTEXTO

    Nas ltimas dcadas, o mercado de trabalho brasileiroviu-se submetido a intenso processo de mudanas eco-nmicas, culturais, sociais e polticas, cujas manifestaesse fizeram visveis no mbito da estrutura das ocupaes,dos requerimentos de recrutamento e contratao deprofissionais, da condio e vnculos de exerccio profis-sional e das funes desempenhadas sob dada deno-minao ocupacional.

    Tais mudanas, mais acentuadas nos dois ltimos lus-tros do sculo findo, tm sido relacionadas a uma gamavariada de fatores, dentre os quais sobressaem a introdu-o de novas tecnologias em especial da informtica einternet , a adoo de novas modalidades de organiza-o produtiva e de gesto, a abertura de mercados nacio-nais ao capital estrangeiro, o aumento da concorrnciainterna e o declnio do desempenho econmico do pas.2Como sabido, tais fenmenos levaram adoo de medi-das tcnicas e administrativas de conteno de custos, por

    denao do Ministrio do Trabalho e Emprego MTE.Em articulao com o IBGE Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatstica, reviu-se a classificao das ocupaesbrasileiras tendo em vista sua compatibilizao com a clas-sificao internacional de ocupaes (CIUO 88), definidapela Organizao Internacional do Trabalho. Para dar contada tarefa, o MTE estabeleceu parcerias com algumas insti-tuies brasileiras dedicadas pesquisa socioeconmica, entreas quais a Fipe Fundao Instituto de Pesquisas Econmi-cas, da Universidade de So Paulo.1

    As pginas que se seguem relatam a experincia daFipe na empreitada de reviso da CBO. A discusso estorganizada em trs partes principais: na primeira delascaracterizaremos brevemente o contexto em que ocorre-ram as mudanas por que passou o mercado de trabalhobrasileiro nas ltimas dcadas; na sesso seguinte des-creveremos o conjunto de famlias ocupacionais e ocu-paes revistas pela Fipe, bem como o mtodo adotadona coleta e atualizao dos dados referentes s mesmas;na terceira sesso focalizaremos o ciclo de vida das ocu-paes, segundo os grandes grupos de famlias ocupa-

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    A NOVA CLASSIFICAO BRASILEIRA DE OCUPAES: ANOTAES DE...

    sua vez determinantes de reduo do nvel de emprego edos postos formais de trabalho.

    O resultado desse amplo conjunto de transformaesfoi o aumento na discrepncia entre a Classificao Bra-sileira de Ocupao CBO, publicada em 1994, e a reali-dade de nosso mercado de trabalho. Como qualquer clas-sificao, trata-se de um documento mediante o qual sepretende reconhecer, nomear e codificar os ttulos e des-crever as caractersticas das ocupaes do mercado de tra-balho. No Brasil, a CBO utilizada na codificao doemprego do mercado de trabalho. Seu cdigo ocupacional a chave de identificao do emprego, juntamente com aClassificao Nacional de Atividade Econmica CNAEe da natureza jurdica dos estabelecimentos. O MTE uti-liza esses cdigos na Relao Anual de Informaes So-ciais Rais, no Cadastro Geral de Empregados e Desem-pregados Caged, no Seguro-Desemprego, dentre outrosregistros administrativos, e no controle da imigrao.Ademais, a CBO usada no rastreamento de vagas dosServios de Intermediao de mo-de-obra, na elabora-o de currculos e no planejamento da educao profis-sional. No setor pblico, porm fora do mbito desse mi-nistrio, utilizada nas estatsticas de mortalidade doMinistrio da Sade e na identificao da ocupao noImposto de Renda Pessoa Fsica IRPF pela Secretariada Receita Federal.

    Desde a edio pioneira de 1982, a CBO viu-se sub-metida a alteraes pontuais, sem modificaes estrutu-rais e metodolgicas de monta. A deciso de submet-la auma reviso, de sorte a torn-la mais consentnea com arealidade do mercado de trabalho, foi tomada em fins dos

    anos 90, e o produto desse esforo foi dado a pblico noltimo ano findo. Alm da reviso e atualizao completade seu contedo, a edio 2002 faz uso de uma nova me-todologia de classificao. Esta verso contm as ocupa-es do mercado brasileiro, organizadas e descritas porfamlias ocupacionais tambm denominadas grupos debase , cada uma delas correspondente a um conjunto deocupaes similares que integram um domnio de traba-lho mais amplo do que aquele da ocupao.

    O trabalho de modernizao da CBO contou, em suaetapa de descrio, com a participao de quatro entida-des, dentre as quais inclui-se a Fipe. O presente artigopretende resgatar, ainda que superficialmente, alguns as-pectos julgados relevantes da participao da FundaoSeade nesta experincia inovadora e de profunda impor-tncia para os estudiosos de nosso mercado de trabalho,administradores de recursos humanos e gestores eformuladores de polticas trabalhistas.

    FAMLIAS OCUPACIONAIS E OCUPAESDESCRITAS PELA FIPE

    A Fipe responsabilizou-se pela descrio de 181 fam-lias ocupacionais, nmero equivalente a pouco menos deum tero do total de famlias da nova verso da CBO.Mediante aquelas famlias previa-se dar conta da descri-o de 636 ocupaes. A Tabela 1 discrimina os grandesgrupos em que se enquadram as diferentes famliasocupacionais constantes da CBO.

    De acordo com a Tabela 1, pode-se verificar que asocupaes descritas pela Fipe distriburam-se por oito dos

    TABELA 1

    Distribuio das Famlias Ocupacionais e Ocupaes Descritas pela Fipe, segundo Grandes GruposBrasil 2002

    Grandes Grupos Famlias Ocupacionais OcupaesNos Absolutos % Nos Absolutos %

    Total 181 100 636 100

    1. Membros Superiores do Poder Pblico, Dirigentes de Organizaes deInteresse Pblico e de Empresas, Gerentes 36 20 135 21

    2. Profissionais das Cincias e das Artes 26 14 109 173. Tcnicos de Nvel Mdio 42 23 119 194. Trabalhadores de Servios Administrativos 15 8 68 115. Trabalhadores dos Servios, Vendedores do Comrcio em Lojas e Mercados 36 20 131 207. Trabalhadores da Produo de Bens e Servios Industriais 9 5 43 79. Trabalhadores em Servios de Reparao e Manuteno 5 3 8 110. Membros das Foras Armadas, Policiais e Bombeiros Militares 12 7 23 4Fonte: Fipe.

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    dez Grandes Grupos de famlias que estruturam a CBO2002, com acentuada concentrao nos grupos 3 (Tcni-cos de Nvel Mdio), 5 (Trabalhadores dos Servios, Ven-dedores do Comrcio em Lojas e Mercados), 1 (MembrosSuperiores do Poder Pblico, Dirigentes de Organizaesde Interesse Pblico e de Empresas, Gerentes) e, em me-nor grau, 2 (Profissionais das Cincias e das Artes).3 Fi-caram de fora, to-somente, os grupos concernentes sfamlias que albergam ocupaes rurais, includas asextrativas e industriais. Em ambos os casos, todavia, ainstituio encarregou-se da descrio das ocupaes re-ferentes aos cargos de direo e gerncia.

    No tocante queles descritos, verifica-se que a Fipe tevesob sua responsabilidade parcela importante de algunsgrandes grupos. Assim, no Grande Grupo 0 (Membros dasForas Armadas, Policiais e Bombeiros Militares), a fun-dao descreveu mais de trs quartos das 13 famlias; aparticipao correlata no caso do Grande Grupo 4 (Tra-balhadores de Servios Administrativos) situou-se em tor-no dos dois teros: 14 das 21 famlias do grupo. Os fatosrelatados neste captulo dizem respeito, portanto, des-crio das famlias mencionadas, atividade levada a caboentre maio de 2000 e o segundo semestre de 2002.

    Previamente realizao da atividade de descriopropriamente dita, os integrantes da equipe da Fipe foramtreinados no mtodo Dacum, em fins de fevereiro e inciode maro de 2000.4

    O processo de descrio das famlias ocupacionais pelosfacilitadores teve como ponto de partida o estudo do es-copo, atividade realizada a partir dos arquivos magnti-cos disponibilizados pelo MTE ao final da primeira fasedo Projeto de Modernizao da CBO. Nessa etapa, inicia-da em 1996 e completada trs anos depois, foi reunida adocumentao primordial para o trabalho das entidadesconveniadas, a saber:- Nomenclatura da nova CBO, com cerca de 600 famliasocupacionais. Reagrupa as ocupaes e os sinnimos daCBO94, bem como as novas ocupaes e ttulos surgidosposteriormente. Elimina ocupaes e sinnimos totalmenteextintos e ocupaes que se transformaram em atividadesde uma nova ocupao;- Reviso do ndice ampliado, tambm conhecido comosinnimos, com cerca de 30 mil ttulos;- Descrio sumria, em carter provisrio, redigida a partirde fontes secundrias (CBO/94, CIUO/88, dentre outros).

    Nessa documentao era possvel obter uma descriosumria de cada famlia ocupacional, o rol de ocupaes

    nela contemplado e, para cada ocupao, os respectivossinnimos. No que concerne s famlias trabalhadas pelaFipe, a documentao oriunda da primeira fase do Proje-to de Modernizao antecipava a incluso de 143 ocupa-es na nova CBO e a supresso de outras 46 que figura-vam da verso de 1994. 5 Estas foram mantidas apenas parafins de composio da srie histrica. Dentre as ocupa-es incorporadas, quase a metade enquadra-se no Gran-de Grupo 1, justamente aquele onde tambm se verificoua maior parcela de supresses. Apenas na famlia dos Di-retores Gerais (1210), foram suprimidas 35 ocupaes, oequivalente a mais de trs quartos daquele total. No de-correr do estudo de escopo, todavia, nem todas essasmudanas viram-se corroboradas. Assim, ocupaes comoas de Corretor Especializado em Locais para Antenas (siteacquisitor) e de Remarcador acabaram por ficar de forada CBO 2002, apesar de constarem da documentao daprimeira etapa do Projeto de Modernizao da CBO. Ade-mais, durante as investigaes que precederam a realiza-o dos painis, bem como durante a sesso de descrio,novas mudanas no mercado de trabalho acabaram sendoidentificadas.

    Pelo que ficou dito acima, pode-se verificar que essematerial constituiu um conjunto fundamental de informa-es, que balizou o trabalho de rastreamento dos profissio-nais a serem convidados para integrar os comits de espe-cialistas, permitiu identificar o aparecimento de ocupaesprximas (parentes) e, no caso de empresas, orientar osresponsveis pelas sesses do pessoal ou de recursos hu-manos na indicao dos empregados. Para as ocupaesformais, seu uso foi complementado com os dados da Rais-Identificada, que propicia conhecer, para cada ocupao,o nmero de postos de trabalho existentes em determina-da empresa, bem como seu endereo. Os dados da Raispermitem verificar, por exemplo, a distribuio espacialdas ocupaes no territrio brasileiro e, assim, garantircerto grau mnimo de representatividade regional.6

    O estudo dos escopos das famlias ocupacionais foirealizado mediante entrevistas em empresas, rgos e as-sociaes de classe e os prprios profissionais. Tambmos informes disponveis na internet foram amplamenteconsultados nesta fase do trabalho.

    Uma vez concludo o estudo do escopo, seguia-se oextenuante processo de agendamento dos especialistas. Emmdia, a presena de um especialista envolveu aproxima-damente dez tentativas frustradas. Grande parte da difi-culdade adveio da durao das reunies, que se estendianormalmente por dois dias, e do fato de tratar-se de ativi-

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    A NOVA CLASSIFICAO BRASILEIRA DE OCUPAES: ANOTAES DE...

    dade no remunerada para os especialistas convocados.No caso de algumas famlias do Grande Grupo 1, especial-mente aquelas referentes aos cargos de Diretores e Ge-rentes, buscou-se reduzir a durao das reunies median-te o uso de descries-tronco. Este recurso consiste emdetalhar, em sesses de apenas um dia, uma matriz Dacumcom as competncias e habilidades gerais e comuns que-les cargos, elaborada a partir de um conjunto de grficosobtidos pelo mtodo convencional. Em situaes de ab-soluta inviabilidade, por exemplo, dos Diretores Gerais(1210), as reunies foram substitudas por entrevistas (nomnimo cinco) no prprio local de trabalho, de duraovarivel. Em tais ocorrncias, o painel de validao nofoi realizado. A implementao de ambos os procedimen-tos ocorreu sob superviso e orientao do MTE.

    Os bices enfrentados no agendamento dos profissio-nais vinculados ao setor bancrio requereram um longoesforo, do qual resultou a formao de uma comissoconstituda sob os auspcios da Assessoria de RecursosHumanos da Febraban e integrada por representantes dosindicados por alguns estabelecimentos bancrios, peloMTE e pela Fipe.7 As dificuldades no agendamento esti-veram relacionadas, de um lado, ao zelo com o sigilo quenormalmente cercam as operaes bancrias. Alm disso,o setor sofreu, durante a segunda metade dos 1990, umintenso processo de fuso e mudana de controlador, fe-nmeno marcado por uma ampla privatizao e por maci-o ingresso de capital estrangeiro. Por fim, somou-se ofato de ser o segmento financeiro, em especial o banc-rio, aquele para o qual a antiga CBO se mostrava profun-damente inadequado: cerca de dois quintos de suas infor-maes ocupacionais na Rais, obrigatoriamente fornecidasem consonncia com a CBO, eram enquadradas na cate-goria outros (antigo cdigo 90).

    A comisso formada junto Febraban com o objetivode diminuir esse descompasso incumbiu-se de avaliar aestrutura de ttulos das famlias ocupacionais especficasdo setor bancrio, suas ocupaes e sinnimos, compa-tibilizar os ttulos de cargos dos bancos participantes empostos e ocupaes da CBO94 e a nova CBO. Deste es-foro resultou uma consolidao preliminar dos ttulos decargos dos bancos participantes, classificados segundocinco domnios seguros, crdito, comercial, cmbio emercado de capitais , cuja descrio foi majoritariamen-te colocada sob a responsabilidade da Fipe.

    Ao se iniciar a segunda etapa do projeto de moderni-zao da CBO, j com a participao da Fipe, os ttulosforam novamente consolidados e reclassificados, desta

    feita a partir da nova estrutura da CBO. Obtiveram-se,assim, dois conjuntos de famlias ocupacionais: umconcernente quelas especficas e outro pertinente s trans-versais do setor bancrio. O primeiro conjunto ficou for-mado por 7 e o segundo, por 5 famlias, distribudas pelosquatro primeiros Grandes Grupos da CBO 2002.8 Ao tr-mino dessa tarefa, tais famlias passaram a ser descritasmediante a aplicao do mtodo Dacum. As dificuldadesno agendamento foram superadas mediante a convocaodos especialistas de 13 instituies bancrias, por inter-mdio da Febraban. Mesmo assim, os Diretores Gerais(1210) e os Diretores de Operaes de Servios em Insti-tuio de Intermediao Financeira (1227) acabaramsendo descritos mediante entrevistas. Tais desdobramen-tos fizeram com que a segunda fase do processo de des-crio se alongasse por cerca de dois anos.

    Os fatos relatados nos pargrafos precedentes, ao mes-mo tempo em que evidenciam algumas modalidades deresistncia enfrentadas pelos facilitadores da instituio,permitem aquilatar a magnitude do esforo e da persis-tncia envolvidos na superao das mesmas. A seo se-guinte registra as observaes colhidas pelos facilitadoresno curso das descries das diversas famlias. A percep-o das mudanas ocorridas no mercado de trabalho bra-sileiro foi acentuada entre os especialistas que participa-ram dos painis organizados pela Fipe. A freqncia comque estes profissionais mencionavam a necessidade deManterem-se Atualizados, durante a montagem da sualista de Competncias Pessoais constitui evidncia cabaldo vulto das mudanas a que precisaram adequar-se parapermanecer no mercado de trabalho.

    A sesso que se segue descreve o ciclo de vida dasocupaes, retratando movimentos de extino e desapa-recimento das mesmas.

    O CICLO DE VIDA DAS OCUPAES

    O mundo das ocupaes complexo e altamente din-mico, permanentemente afetado pelo contexto social e eco-nmico mais amplo e, ao mesmo tempo, capaz de afetaresse prprio contexto. Como os seres vivos, as ocupaesparecem estar sujeitas a um ciclo de vida. Elas nascem,crescem, transformam-se e eventualmente declinam emorrem.

    No que diz respeito ao mercado de trabalho brasileiro,as grandes transformaes pelas quais este vem passandonas ltimas dcadas refletiram-se diretamente em sua es-trutura ocupacional. Enquanto vrias ocupaes simples-

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    mente desapareceram, ou esto a caminho disso, outrasvm sofrendo uma reestruturao de suas funes, que leva definio de novos perfis profissionais. Esse processoest associado, como j foi visto, s modificaestecnolgicas ocorridas na economia, inclusive aquelas queafetam a organizao do trabalho dentro de empresas p-blicas e privadas. De uma maneira geral, esto sendo pre-senciadas mudanas cuja natureza no auto-evidente, mascuja direo importante entender para a definio de po-lticas pblicas adequadas.

    A presente sesso focaliza o ciclo de vida das ocupa-es, que se exprime na emergncia de novas ocupaes,na extino de outras e na transformao de muitas. Asinformaes em que se baseia a anlise provm, como ob-servado anteriormente, de depoimentos colhidos entre osespecialistas que colaboraram na pesquisa da Fipe, em trsmomentos sucessivos: durante o trabalho preliminar dedefinio do escopo de cada famlia, no painel de descri-o e no de validao.

    O conceito de ocupao emergente foi definido de for-ma ampla e no necessariamente isenta de ambigidades.Assim, as ocupaes qualificadas como tal podem ser efe-tivamente novas no mercado de trabalho, como seria dese esperar. Abrangem ainda, porm, aquelas que so no-vas do ponto de vista da CBO; ou aquelas que, emboramuito antigas, sofreram transformaes substanciais ouviram crescer significativamente o nmero de postos detrabalho a elas associados; finalmente, podem ser novasapenas no mercado de trabalho brasileiro, mas no nomercado de trabalho mundial como um todo.

    A unidade de anlise considerada compreende as fa-mlias ocupacionais e as ocupaes propriamente ditas.Alguns processos afetam todo o agrupamento profissio-nal, manifestando-se no mbito da famlia; outros so maiscircunscritos, cingindo-se a ocupaes especficas dentrode uma famlia ocupacional, sem afetar de modo signifi-cativo as demais categorias que a compem.

    A ordem adotada para a exposio segue a seqnciados Grandes Grupos definidos pela CBO 2002. Para cadaum desses grandes conjuntos, sero abordadas simultanea-mente as famlias e ocupaes em processo de extino eas emergentes.

    Dentre as ocupaes classificadas na nova Classifica-o Brasileira de Ocupaes (CBO) como pertencentesao Grande Grupo 1, ou seja, Membros Superiores doPoder Pblico, Diretores de Organizaes de InteressePblico e de Empresas e Gerentes, existem poucas ocu-paes realmente novas. No entanto, dada a reestruturao

    por que vm passando diversas empresas, principalmenteno setor privado, muitas delas extinguem postos de dire-toria e gerncia, fazendo com que os diretores e gerentesremanescentes acumulem funes diferentes.

    Nesse contexto, merece destaque a incluso de umanova ocupao na famlia ocupacional dos Gerentes ad-ministrativos, financeiros e de riscos (1421). Trata-se doGerente de riscos. De acordo com os especialistas pre-sentes ao painel de covalidao, essa ocupao ainda noatingiu no Brasil o nvel de importncia encontrado empases como os Estados Unidos, onde existe um nmerosignificativo de cursos regulares de graduao, ps-gra-duao e MBA na rea do chamado Risk Management.Trata-se, portanto, de uma ocupao em ascenso, queacompanha uma tendncia de mercado bastante forte noexterior, embora ainda em fase preliminar de expanso noBrasil.

    Cabe acrescentar que muitas vezes o gerente de riscosno ocupa um cargo com esse nome, embora atue comotal. Segundo os especialistas, as funes desse profissio-nal diferem daquelas executadas pelos engenheiros de se-gurana industrial, de tempos e mtodos, de qualidade,de riscos ou dos tcnicos de seguros, principalmente noque diz respeito aos compromissos objetivos e mensurveisa partir dos resultados operacionais da empresa. As ativi-dades desenvolvidas pelo gerente de riscos no se carac-terizam como atividades gerenciais por excelncia, umavez que esto mais voltadas s atividades desenvolvidasdentro de um processo produtivo, o que lhes d um cunhomais executor.

    O Grande Grupo 2 (Profissionais das Cincias e dasArtes) rene ocupaes cujas tarefas demandam conhe-cimentos profissionais de alto nvel de competncia liga-do ao ensino superior, alm dos profissionais das artes edesportos. Dentro desse grupo existem diversas famliasocupacionais que possuem uma ou mais ocupaes novasou em processo de reestruturao.

    o caso, por exemplo, dos Professores de artes do en-sino superior (FO 2349), que congregam as seguintes ocu-paes: Professor de artes do espetculo, Professor de artesvisuais e Professor de msica no ensino superior. Emborano possa ser considerada uma famlia ocupacional emer-gente, o mercado de trabalho brasileiro tem especificidadesque o distinguem do mercado de pases onde o ensinosuperior nessa rea est sedimentado h mais tempo. Se-gundo os especialistas presentes aos painis de descrioe validao, houve mudanas substanciais em um perodorelativamente recente no Brasil, com a implementao de

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    A NOVA CLASSIFICAO BRASILEIRA DE OCUPAES: ANOTAES DE...

    inmeros cursos superiores de graduao na rea de ar-tes, que compreendem os segmentos de artes visuais, tea-tro, dana e msica. Isso gerou a necessidade de uma r-pida e por vezes radical adaptao no perfil dos professoresque lecionam nesses cursos. Antigamente, a arte era aces-svel a poucas pessoas e era ensinada principalmente ematelis dos prprios artistas. A mudana assinalada afe-tou esse padro. Hoje em dia, nem sempre um professorde artes efetivamente um artista, ele pode ser um espe-cialista em determinada rea e com isso qualificar-se paratransmitir seus conhecimentos aos alunos.

    Merece destaque tambm a famlia ocupacional das Se-cretrias executivas e bilnges (FO2523), que congregaas ocupaes de Secretria executiva, Secretria bilngee Secretria trilnge.9 Segundo o relato dos especialis-tas, no se observa a tendncia de extino da profisso.Na prtica, grande parte das secretrias ainda executa ta-refas tradicionais, s vezes atendendo mais de um diretorou at mesmo toda uma rea. Nos ltimos anos houve umadiminuio significativa no nmero de postos de trabalhode secretria nas empresas, devido basicamente a doismotivos: informatizao e reestruturao funcional, dian-te da necessidade de reduzir custos operacionais. Com adifuso dos computadores de uso pessoal, os executivospassaram a executar fcil e rapidamente tarefas antes de-legadas s secretrias, cujo perfil profissional sofreu alte-raes significativas, levando-as a atuar cada vez maiscomo assessoras do executivo. Isso significa que a profis-so foi afetada por um duplo movimento, de diminuio donmero de postos de trabalho associada a alguma perda defunes tradicionais, mas, ao mesmo tempo, absoro denovas funes e ampliao de responsabilidades.

    A famlia ocupacional dos Locutores, comentaristas ereprteres de rdio e televiso (FO 2617) rene profissio-nais cujo perfil apresentou modificaes bastante impor-tantes nos ltimos anos, que afetaram as ocupaes com-ponentes da famlia: ncora, Comentarista, Locutor,Narrador e Reprter de rdio e televiso. Como em outrossetores da economia, houve uma srie de alteraes econ-micas e tecnolgicas, associadas a um processo de reorgani-zao funcional, em que as empresas enxugaram considera-velmente o nmero de funcionrios em seus quadros.

    Nesse contexto, a prpria definio das atividadesprecpuas de um Locutor de rdio e televiso mudou subs-tancialmente. Atualmente, as atividades de locuo so de-sempenhadas por jornalistas, que no mais simplesmente lemas notcias, como no modelo anterior. Eles tornaram-se pro-fissionais multifuncionais e multimdia, para os quais no

    basta nem mesmo chega a ser necessrio ter uma belavoz. Eles atuam no processo desde a produo da notcia atsua apresentao. A tendncia do mercado substituir o lo-cutor tradicional por um profissional com formao em jor-nalismo capaz de atuar indiscriminadamente em rdio, tele-viso e outros meios de comunicao.

    No caso do rdio, as mudanas tecnolgicas nos equi-pamentos utilizados facilitaram a operao de equipamen-tos. Assim, as tarefas tcnicas, como a de operador detransmisses externas no rdio, podem ser hoje tambmdesempenhadas pelo prprio locutor, quando este atua forada sede da emissora. O advento das rdios FM e das TVspor assinatura tambm foi um importante fator na induodas mudanas observadas.

    Cabe acrescentar que a partir da dcada de 90 o locu-tor clssico passou a chamar-se ncora, por influnciados Estados Unidos, onde existia h muito tempo. Essadiferena, que primeira vista parece indicar uma meramudana de terminologia, reflete uma transformao maisprofunda no perfil profissional dos especialistas que exer-cem essa funo.

    No domnio da informtica, ainda no Grande Grupo 2,existem diversas ocupaes emergentes e em reestru-turao. Isso se deve principalmente ao fato de que omercado de trabalho ligado a esta rea ser relativamentenovo e encontrar-se em fase de consolidao. Assim,muitos profissionais possuem uma atuao mais abran-gente, executando diversas tarefas, padro que no neces-sariamente ser mantido no futuro prximo.

    o caso, por exemplo, do Web master, profissionalresponsvel pela manuteno de um website, que entendeo site de forma global e o administra. ele quem garanteo contato entre as diversas reas: produo de contedo,design, desenvolvimento e manuteno do site. Os espe-cialistas presentes aos painis relataram que, com osurgimento do ambiente web, muitas vezes este profissionalacumulava funes que iam desde a elaborao de textosat o gerenciamento dos sites. No entanto, com a especia-lizao do mercado, as funes foram aos poucos sediferenciando e se tornando mais especficas, embora oweb master tenha de certa forma mantido sua caractersticade programador. Trata-se, portanto, de um profissionalrelativamente novo no mercado, que exerce funes bas-tante hbridas e muito variveis de uma empresa para outra.

    J a figura do Web Designer surgiu com o aparecimen-to dos recursos visuais dentro do ambiente web. Ele oresponsvel pela parte visual dos sites, fazendo inclusiveinterface com a animao. ele quem desenha e define

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    as cores e o design das pginas ou dos sites. A formaodesse profissional tende a ser bastante heterognea, umavez que atualmente integrada por indivduos com dife-rentes origens profissionais, entre eles arquitetos, artistasgrficos e profissionais da indstria grfica, entre outros,que decidiram aproveitar as oportunidades abertas graasao surgimento do ambiente web.

    Finalmente, os especialistas mencionaram a figura do WebEditor, profissional responsvel pelo contedo dos textosapresentados nos sites. A maioria deles possui formao emjornalismo, relaes pblicas ou publicidade, entre outras.Na verdade, observa-se aqui um fenmeno parecido com oque determinou a mudana do perfil do locutor, acima rela-tada: trata-se de um jornalista que exerce suas funes emum meio de divulgao diferente do usual.

    O Grande Grupo 3 (Tcnicos de Nvel Mdio) com-preende aquelas ocupaes cujas atividades requerem umnvel de conhecimento tcnico para sua execuo. inte-ressante notar a presena de indivduos com formaouniversitria nesse grande grupo, que rene um grandenmero de famlias ocupacionais. Essa presena cres-cente, embora, em tese, a execuo das atividades norequeira escolaridade de nvel superior. Na prtica, con-tudo, observa-se a exigncia cada vez maior de formaouniversitria para preenchimento das vagas oferecidas nomercado de trabalho. Essa exigncia pode ser atribuda auma gama de fatores, inclusive o aumento do nvel dedesemprego, que leva o indivduo a aceitar tarefas aqumde sua qualificao formal.

    Vale mencionar, a propsito, a existncia de trs fam-lias ocupacionais ligadas educao que vm passandopor uma srie de modificaes. Aqui existe uma mesclade processos de extino de ocupaes e criao de no-vas, bastante difcil de descrever. A mudana afeta as fa-mlias dos Professores de nvel mdio na educao in-fantil (FO 3311), Professores de nvel mdio no ensinofundamental (FO 3312) e Professores leigos no ensinofundamental (FO 3321).

    As trs famlias citadas renem professores cuja for-mao foi adquirida na prtica ou em cursos de, no mxi-mo, nvel mdio, que atuam na educao infantil e no en-sino fundamental (antigos primrio e ginsio). Houve umamudana legal segundo a qual, a partir de 2007, somentepodero habilitar-se a preencher os postos de trabalhoassociados a essas ocupaes indivduos com diplomauniversitrio ou formados por treinamento em servio.10Isso significa que aqueles que no tiverem concludo osegundo grau at 2007 no podero continuar lecionan-

    do. Perante essa exigncia, os docentes vm se atualizan-do para poder continuar no exerccio de suas funes quan-do da aplicao da nova lei.

    O caso dos professores leigos merece destaque, umavez que so profissionais que no possuem a formaomnima j exigida por lei, o que poder determinar aextino dessa categoria. Vale mencionar, porm, que amaioria desses profissionais participa de programas doMEC (como o Proformao Programa de Formao deProfessores em Exerccio), cujo objetivo a formao deprofessores leigos num nvel equivalente ao do magist-rio. Esses programas beneficiam prioritariamente as Re-gies Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

    A famlia ocupacional dos Profissionais de direitos au-torais e de avaliao de produtos dos meios de comuni-cao (FO 3524) tambm sofreu modificaes profundasem sua estrutura, que resultaram na convergncia de pro-cessos de extino e emergncia. Inicialmente, antes dotrabalho de definio de seu escopo, foi identificada peloMTE como a famlia dos Agentes de Fiscalizao de Es-petculos e Meios de Comunicao, composta apenas pelaocupao de Tcnico em Censura, tristemente associadaao perodo da ditadura militar no Brasil. Com a aboliodesse tipo de censura, a ocupao deixou formalmente deexistir no mercado de trabalho. Persistem, porm, os pro-fissionais que atuam na rea de direitos autorais, na fisca-lizao de espetculos de msica, dana, etc. Por outrolado, os especialistas apontaram a necessidade de orien-tao do pblico a partir da definio de faixas etrias paraas quais diversos tipos de produtos culturais so adequa-dos. Alm dessa tarefa, algumas empresas que atuam nes-se segmento sentiram a necessidade de recrutar profissio-nais incumbidos da avaliao qualitativa do programa, queabrange funes relacionadas avaliao dos meios decomunicao do ponto de vista tico, educativo e artsti-co, sendo que os profissionais podem realizar a classifi-cao indicativa e qualitativa da programao.

    Os participantes dos painis destacaram que, enquantoas ocupaes de Agente de Direitos autorais e Ouvidor demeios de comunicao (ombudsman) so bem definidasno mercado de trabalho, a ocupao de Avaliador de pro-dutos do meio de comunicao, que define o responsvelpela avaliao e classificao, qualitativa e indicativa dosprogramas, ainda relativamente nova e encontra-se emfase inicial de estruturao, no estando efetivamenteimplantada na maioria das empresas.

    Um fenmeno interessante foi observado em relao ocupao de Radiotelegrafista, enquadrada pela CBO 2002

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    na famlia ocupacional dos Operadores de rede de telepro-cessamento e afins (FO 3722), ao lado do Operador derede de teleprocessamento. No perodo de definio doescopo e na convocao para os painis, o facilitador tevegrande dificuldade de recrutar radiotelegrafistas, tendo defaz-lo na Regio Norte, por intermdio da Funai. Valenotar que na estrutura original da CBO, que balizou apesquisa do facilitador da Fipe, o ttulo dessa famlia foidefinido como sendo Tcnicos em operao de mquinasde transmisso de dados, prevendo-se que compreendiaoito ocupaes distintas. Contudo, aps a investigaodetalhada de sua situao atual no mercado de trabalho,esse nmero ficou reduzido a dois, sendo que, no caso doradiotelegrafista, observou-se sensvel perda de especi-ficidade. Os especialistas presentes aos painis confirma-ram a existncia desse processo: embora tenham mantidoa ocupao na famlia, apontaram sua tendncia extino.

    No caso da famlia ocupacional dos Tcnicos emnecrpsia e taxidermistas (FO 3281), os especialistas tam-bm registraram a ocorrncia de uma alterao interes-sante no perfil das atividades executadas pelos profissio-nais da rea. O ttulo da famlia ocupacional propostoinicialmente pelo MTE (Embalsamadores e Taxidermis-tas) foi modificado pelos especialistas no painel de vali-dao. De acordo com o comit, a alterao justifica-sepelo fato de que o embalsamamento apenas uma das tc-nicas de conservao de corpos. Optaram, contudo, porpreservar o ttulo de Embalsamador para designar uma dasocupaes da famlia, pois este o termo utilizado nomercado de trabalho, embora o referido profissional uti-lize outras tcnicas alm do embalsamamento. Os especia-listas relataram ainda que a ocupao de Embalsamador hoje pouco expressiva no mercado de trabalho, uma vezque, oficialmente, a atividade deve ser desenvolvida porum mdico patologista. O mdico responsvel por assi-nar a liberao do corpo embalsamado, embora, na prti-ca, ele costume ensinar as operaes tcnicas ao pessoalde apoio, que as executa.

    A segunda ocupao que integra a famlia a de Taxi-dermista. A Taxidermia uma especializao da Biolo-gia, e conta ainda com um pequeno nmero de profissio-nais no mercado de trabalho brasileiro. Trata-se de umaatividade auxiliar da biologia, cuja finalidade a conser-vao de animais mortos, utilizando somente a pele curti-da do exemplar. Existe ainda a Taxidermia Artstica e aCientfica, desenvolvida em Universidades e Museus, como objetivo de catalogar espcies para a preservao da his-tria natural.

    Cabe ainda ressaltar que, por motivos tcnicos, foi eli-minado o sinnimo Empalhador de Animais. De acor-do com os especialistas, esse termo incorreto, pois astcnicas de taxidermia utilizam uma infinidade de mate-riais alm da palha (a que o sinnimo eliminado faz refe-rncia) na recomposio do corpo do animal a partir desua pele.

    O Mecnico de vo, que integra a famlia ocupacionaldos Pilotos de aviao comercial, mecnicos de vo e afins(FO 3411), outra ocupao do Grande Grupo 3 que estperdendo expresso no mercado de trabalho em decor-rncia de mudanas tecnolgicas. O profissional com essetipo de formao e experincia era recrutado apenas paratrabalhar nas aeronaves de grande porte. As aeronavesmodernas, porm, que possuem computador de bordo,prescindem de seu trabalho. Os raros remanescentes daocupao tm deixado o Pas, acompanhando antigosavies vendidos para outros pases, principalmenteafricanos.

    Quanto s ocupaes emergentes, cabe mencionar a fa-mlia ocupacional dos Tcnicos de odontologia (FO 3224),que rene as ocupaes de Tcnico em higiene dental,Prottico dentrio, Atendente de consultrio dentrio eAuxiliar de prtese dentria. O trabalho prvio de defini-o de escopo e os painis realizados apontaram osurgimento de uma nova ocupao, o Tcnico em higienedental, que atua majoritariamente em rgos pblicos, soba superviso de um cirurgio-dentista.

    Durante os trabalhos da fase de descrio da famliaocupacional dos Tcnicos de seguros e afins (FO 3517),os especialistas presentes ao painel de descrio identifi-caram uma ocupao emergente, a do Tcnico de Inspe-o Veicular. De acordo com os participantes, esse pro-fissional pode passar a existir em larga escala no mercadode trabalho num futuro prximo, em funo das exign-cias dos Detran estaduais e das seguradoras de veculos.Trata-se de um profissional que realiza inspees em ve-culos que passaram por alteraes em sua estrutura origi-nal, sofreram sinistros ou foram reformados e, portanto,necessitam de aprovao para transitar. Vale acrescentar,porm, que essa ocupao no foi reconhecida pelo co-mit de validao e, portanto, no aparece na verso finalda famlia ocupacional.

    Na mesma famlia, outra ocupao descoberta duranteos trabalhos, mantida aps a validao, foi a do Tcnicode Resseguros, que negocia, administra e controla os con-tratos com o IRB (Instituto de Resseguros Brasil), rgoque possui o monoplio dos resseguros no pas. Como

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    existem estudos no sentido de quebrar esse monoplio,poder vir a ocorrer uma expanso dos postos de trabalholigados a essa ocupao no futuro.

    Na famlia ocupacional dos Tcnicos em secretariado,taqugrafos e estenotipistas (FO 3515), vale destacar quea nova denominao do Estengrafo, consagrada pelomercado, na verdade desdobra-se em duas ocupaes: oTaqugrafo, que procede manualmente s atividades deregistro, tanto no setor pblico quanto privado (depoimen-tos, discursos, etc.); e o Estenotipista, cujas atividadesrefletem o avano tecnolgico na rea de comunicaes,j que faz uso do computador no exerccio de suas fun-es, possibilitando o registro dos fatos em tempo pre-sente (close caption, mensagens para deficientes auditi-vos na televiso, atividades que necessitem de legendas).

    A famlia ocupacional dos Acupunturistas, podlogos,quiropraxistas e afins (FO 3221) agrupa duas ocupaesj existentes na CBO 94 (Acupunturista e Quiropraxista),ao lado de uma nova ocupao definida no mbito da novaCBO: o Podlogo. Inicialmente havia sido definida comoocupao tambm o Tcnico em Fisioterapia, que com-punha o ttulo da famlia. No entanto, durante o estudo deescopo, essa denominao mostrou-se inadequada.11

    Na verdade, os profissionais que prestam servios nessarea, em geral conhecidos como atendentes, no so re-conhecidos como tcnicos em fisioterapia. Entre os moti-vos alegados destacam-se: o fato de que estes profissio-nais no possuem formao na rea de sade, tampoucoformao especfica em fisioterapia; no prescrevem exer-ccios ou verificam se os mesmos esto sendo realizadoscorretamente (o que feito pelo fisioterapeuta). Suas fun-es consistem apenas em instalar os pacientes em apare-lhos especficos, utilizando-os sob constante superviso;tambm cuidam da limpeza e organizao da clnica. Ou-tra razo que levou solicitao de excluso da denomi-nao tcnico em fisioterapia foi o fato de no ter sidolocalizada nenhuma instituio de ensino que ministrasseo curso de fisioterapia em nvel mdio.

    Os especialistas que representaram a ocupao dosPodlogos destacaram que sua prtica advm da medici-na ortodoxa, e seus procedimentos direcionam-se sadedo p. Tratam de afeces, infeces, patologias dos pse deformidades podolgicas, utilizando-se de instrumen-tal prfuro-cortante, medicamentos de uso tpico, rtesese prteses. Com a multiplicao de clnicas especializadasnos grandes centros urbanos brasileiros, h indcios de queessa ocupao venha conquistando um lugar de maiordestaque no mercado de trabalho brasileiro.

    Ainda dentro do Grande Grupo 3, os Recreadores (FO3714) constituem uma famlia ocupacional relativamentenova no mercado, que tende a ser mais valorizada. Segundoos especialistas, isso vem ocorrendo principalmente de-pois que hotis e resorts reconheceram a importncia desseprofissional como diferencial para atrair um maior nme-ro de clientes. Apesar de existirem alguns cursos na rea desde cursos tcnicos pertencentes ao sistema Senai/Senac at cursos de graduao em Gesto de Lazer e Even-tos , a maioria dos profissionais no possui formaoespecfica. Nesse sentido, seu nvel de escolaridade variamuito, indo desde o segundo grau incompleto at o nvelsuperior, este nem sempre na rea especfica).

    O Grande Grupo 4, Trabalhadores de Servios Admi-nistrativos, compreende as ocupaes ligadas ao traba-lho burocrtico, com ou sem contato constante com o p-blico.

    Dentro desse grande grupo, merece destaque a famliaocupacional dos Apontadores e conferentes (FO 4142).No trabalho inicial de definio do escopo, a facilitadoraentrevistou vrios empresrios e diretores de recursoshumanos do setor industrial que relataram a extino daocupao de Apontador de Produo, decorrente de mu-danas tecnolgicas. No prosseguimento do trabalho, foipossvel constatar que as atividades dessa rea foram in-corporadas por outras ocupaes, porm o redesenho dotrabalho, quando da reestruturao produtiva, diferia deempresa para empresa e de setor para setor. Na constru-o civil, os apontadores de produo e de mo-de-obraso ainda numerosos, e provavelmente ainda o sero pormuito tempo. Tambm permaneciam, segundo os entre-vistados, em atividades de apontamento de produo deservios pblicos. Durante a realizao dos painis, veri-ficou-se, de um lado, a tendncia ao desaparecimento daocupao de Apontador (seja de produo, seja de mo-de-obra), devido incorporao de novas tecnologias aoprocesso produtivo, que levam ao esvaziamento das fun-es exercidas; de outro lado, porm, os trabalhadoresremanescentes vm acumulando funes tradicionalmen-te exercidas por trabalhadores de outros cargos. A ten-dncia seria assim a transformao do apontador em umencarregado que tem, entre outras tarefas, a funo deapontador de mo-de-obra e/ou de produo.

    Ainda nessa mesma famlia ocupacional, foi includauma ocupao inexistente na CBO 94, embora antiga nomercado de trabalho: o Conferente de carga e descarga,que atua na rea porturia e anota tudo o que diz respeitoao embarque e desembarque de mercadorias nos portos e

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    terminais porturios (avarias, tipo de carga, volume, peso,etc.). Ao conferir, o profissional toma nota e/ou aponta,realizando tarefas muito semelhantes s executadas pelosapontadores, o que justificou sua incluso nessa famliaocupacional.

    Entre os Operadores de telefonia (FO 4222), a ocupa-o de Telefonista propriamente dita encontra-se em pro-cesso de extino, segundo o depoimento dos especialis-tas e os contatos feitos durante o trabalho prvio dedefinio de escopo. A tendncia da ocupao desapa-recer, devido aos avanos tcnicos nos sistemas de tele-comunicaes. Atualmente, grande parte das ligaes feita diretamente da origem para o destino, sem a necessi-dade de auxlio de telefonistas. Por outro lado, em em-presas pequenas e mesmo em algumas mdias, os recep-cionistas ou secretrios fazem o servio de atendimentotelefnico. Em empresas grandes, os departamentos jpossuem ramais diretos e os funcionrios fazem e rece-bem suas prprias ligaes. O telefonista fica mais comoprestador de informaes em casos especiais em que osusurios externos no possuem o nmero direto do ramal.

    Os participantes dos painis mencionaram outros fatoresque esto levando progressiva extino da ocupao. Umdeles o servio de atendimento eletrnico, que est se ex-pandindo muito entre empresas de todos os portes. Nesse caso,os ramais dos departamentos so fornecidos pela gravao.Adicionalmente, foi mencionado o processo de terceirizaodo atendimento das operadoras telefnicas, como a Embratele a Telefnica. Tais empresas no possuem mais teleo-peradores em seu quadro de funcionrios, pois contratamoutras empresas para esse servio, sendo caracterizadas maiscomo prestadoras de informaes do que de completadorasde chamadas. A difuso da internet tambm provocou mu-danas nas ocupaes dessa famlia, pois informaes comonmeros da lista telefnica, cdigos de rea interurbanos einternacionais e tarifas podem ser obtidas diretamente no siteda operadora.

    importante registrar o esvaziamento do mercado demuitas ocupaes que integram a famlia ocupacional dosOperadores de equipamentos de entrada e transmissode dados (FO 4121). Essa famlia, que na CBO 94 abrigavadez ocupaes, agora abriga apenas quatro: Datilgrafo,Digitador, Operador de mensagens de telecomunicaes(correios) e Supervisor de digitao e operao. Ocupaesque constavam da CBO 94, ligadas operao de mquinasde escritrio tais como Conferidor (cartes e fitas),Operador de equipamento de entrada de dados, Operadorde mquina contbil, Operador de mquinas classificadoras

    e tabuladoras e Operador de teleimpresso , forameliminadas ou fundidas em funo das mudanas tec-nolgicas no setor, entre elas o advento do computadorde uso pessoal. Mesmo algumas das remanescentes, comoDatilgrafo e Digitador, vm perdendo expresso numricano mercado de trabalho.

    O Grande Grupo 5, Trabalhadores dos Servios, Ven-dedores do Comrcio em Lojas e Mercados, rene tra-balhadores cujo conhecimento e experincia so utiliza-dos na prestao de servios (em geral, de proteo esegurana) s pessoas ou na venda de mercadorias no co-mrcio em geral.

    Na famlia dos Agentes comunitrios de sade e afins(FO 5151) inclui-se uma ocupao emergente, a de Agen-te comunitrio de sade. Essa ocupao foi criada na d-cada de 90, principalmente por iniciativa do Ministrioda Sade. Os especialistas que exercem a ocupao pres-tam assistncia de sade em comunidades carentes, entreas quais a dispensa de cuidados simples de sade sob su-perviso de profisssionais do setor, a orientao da co-munidade para a promoo da sade, a participao emcampanhas preventivas, o incentivo a atividades comuni-trias e assim por diante.

    Nota-se tambm na mesma famlia ocupacional, a pre-sena de uma ocupao em processo de extino, que aParteira leiga. Muito comum nas zonas rurais brasileirasainda em meados do sculo XX, essa profisso entrou emdesuso com a difuso dos servios de sade e o aumentoda possibilidade de acesso das parturientes a hospitais epostos. Segundo as parteiras leigas que participaram dospainis, a rede pblica de sade est se empenhando emaproveitar seus conhecimentos e habilidades ancestrais noatendimento comunidade prestado pelos postos e pelarede hospitalar. Elas tornaram-se, portanto, auxiliares darede oficial de sade.

    Com o declnio da navegao fluvial no Brasil, ocupa-es tipicamente ligadas a esse setor encontram-se em pro-cesso de extino ou de transformao. Entre elas, desta-ca-se a ocupao de Taifeiro, que pertence famlia dosTrabalhadores de segurana e atendimento aos usuriosde transportes (FO 5111). Apesar de essa mesma deno-minao aparecer como sinnimo em outra famliaocupacional (Praas das foras armadas FO 0103), na FO 5111 que ela aparece como ocupao propriamen-te dita. O Taifeiro o profissional responsvel pela orga-nizao e controle do paiol (despensa da embarcao), peloservio de refeies aos passageiros ou tripulantes, bemcomo pela limpeza e arrumao das partes internas das

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    embarcaes. Os especialistas apontaram a ocorrncia deuma mudana de nfase nas funes executadas por esseprofissional. Parte de suas funes antigas foi perdida,principalmente no que diz respeito ao atendimento a pas-sageiros e tripulao durante as refeies. Por outro lado,o taifeiro passou a desempenhar um maior nmero de ati-vidades relacionadas ao controle de alimentos, limpeza eorganizao dos paiis (paioleiro).

    A famlia ocupacional 5211 congrega os Operadores doComrcio em Lojas e Mercados, integrada por sete ocupa-es: Vendedor em comrcio atacadista, Vendedor de co-mrcio varejista, Promotor de Vendas, Demonstrador demercadorias, Repositor de mercadorias, Atendente de far-mcia (balconista) e Frentista. Nessa categoria tambm seenquadraria a ocupao de Remarcador do comrcio, pro-fissional empregado pelas grandes redes de supermercadospara remarcar o preo das mercadorias. Dois motivos expli-cam a transformao sofrida nas atividades desses especia-listas: a difuso do uso de cdigos de barras, de um lado, e oarrefecimento da inflao no Brasil, de outro. Com a mu-dana, as atividades do Remarcador passaram a ser exercidaspelo prprio Repositor de mercadorias.

    Em outra famlia do Grande Grupo 5, observam-semudanas relacionadas a processos de extino e emergnciade certas ocupaes e tcnicas. Trata-se da famlia dos Tra-balhadores dos servios funerrios (FO 5165), que congregauma nica ocupao, a do Agente funerrio. Os trabalhadoresque atuam nessa rea trabalham tanto em estabelecimentosprivados como nos servios funerrios municipais. Em ambosos casos, vm procurando atualizar-se em tanatopraxia,uma moderna tcnica de conservao de cadveres que sevem difundindo inclusive nos servios municipais. Segundoos especialistas, a tendncia que, aos poucos, os agentesfunerrios venham a exercer as atividades de Tanatlogo ouTanatopraxista. O antigo Coveiro, definido como abridorde covas, acha-se em extino nos grandes meios urbanos,em face da substituio das covas pelas gavetas, construdaspor empreiteiras. Nestas localidades, os coveiros subsistemem cemitrios pertencentes a algumas religies que adotamoutros mtodos de sepultamento, como os israelitas. Nascidades menores, o sepultamento em covas ainda predo-minante e, portanto, ainda existe um grande nmero decoveiros. Vale acrescentar que os especialistas que parti-ciparam da descrio no gostavam do vocbulo coveiroe, tambm por isso, insistiram fortemente na sua substituiopor sepultadores.

    A famlia ocupacional dos Trabalhadores de serviosveterinrios, de higiene e esttica de animais domsticos

    (FO 5193) inclui um tipo de trabalhador que vem adqui-rindo importncia cada vez maior no mercado de traba-lho, segundo os especialistas que participaram dos pai-nis. As exposies de animais de pequeno porte esto setornando mais freqentes no pas, e exigem os serviosdo Esteticista de animais domsticos, que se torna cadavez mais requisitado, inclusive em decorrncia do maiorvulto da criao domstica de ces, gatos e outros ani-mais. A proliferao das chamadas petshops no Brasil tam-bm vem demandando um nmero crescente de Banhistase Tosadores, treinados nas tarefas de banho e tosa, res-pectivamente, de animais domsticos. Tais profissionaisadquirem seu desenvolvimento profissional na experin-cia de trabalho e em cursos de especializao.

    O Supervisor de Lavanderia, pertencente famliaocupacional dos Supervisores de lavanderia (FO 5102),tambm pode ser considerado uma ocupao emergenteno mercado de trabalho. A demanda por esse profissionalreflete o crescimento das empresas especializadas em la-vagem de roupa, setor no qual se nota um processo rpidoe intenso de terceirizao de atividades. De acordo comos especialistas que participaram dos painis, a tendncia de que esse tipo de empresa cresa ainda mais nos pr-ximos anos e, com ela, a ocupao mencionada.12

    A famlia ocupacional dos Catadores de materialreciclvel (FO 5192) tambm pode ser includa entre asocupaes emergentes, seno pela natureza da ocupaopropriamente dita, pelo menos por sua expresso numricano Brasil de hoje, pelas mudanas tecnolgicas associa-das ao exerccio da profisso e, principalmente, pela formade organizao do trabalho. Os catadores ainda congregam,em sua maioria, trabalhadores autnomos, que trabalhampor conta prpria. Segundo relatado no painel de descrio,muitos desses trabalhadores so antigos moradores de ruaque foram treinados para a ocupao. Entretanto, vemocorrendo um movimento de organizao desses profissio-nais em associaes do tipo cooperativas, como meio demelhorar sua renda, suas condies de trabalho e suacapacitao profissional. Assim, funes tipicamenteencontradas nas cooperativas, tais como pesador, balan-ceiro, rasgador de saco, enfardador, separador e triador,que antes eram de responsabilidade dos empregados dosdonos de ferro velho, hoje so crescentemente exercidaspelos prprios catadores no interior das cooperativas.

    Quanto ao Grande Grupo 6 (Trabalhadores Agrope-curios, Florestais e da Pesca), a Fipe no foi respons-vel pela descrio ou validao de nenhuma famlia ocu-pacional pertencente a essa categoria.

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    A NOVA CLASSIFICAO BRASILEIRA DE OCUPAES: ANOTAES DE...

    O Grande Grupo 7 (Trabalhadores da Produo deBens e Servios Industriais) compreende as ocupaesda construo civil, da produo extrativa e da produoindustrial em geral. Dentro dessa categoria, destacam-seduas famlias ocupacionais descritas pela Fipe e que apre-sentam modificaes no perfil de suas ocupaes. Trata-se dos Condutores de veculos sobre trilhos e cabos a-reos (FO 7826) e dos Trabalhadores em manobras detransportes sobre trilhos (FO 7831).

    A primeira dessas famlias compreende seis ocupaes:Operador de trem de metr, Maquinista de trem, Maqui-nista de trem metropolitano, Motorneiro, Auxiliar de ma-quinista de trem e Operador de telefrico (passageiros).As atividades exercidas pelo Operador de trem de metr,embora no sejam novas, vm sofrendo alteraes. Comoatualmente a conduo do metr feita de forma autom-tica, o operador passou a ter como funo principal amonitorao do sistema e do painel de falhas. Suas ativi-dades consistem na identificao de sinais e em providen-ciar solues para as falhas. Ele s passa a operar manual-mente a composio quando o sistema automtico nofunciona. O mesmo processo ocorre com o Maquinista detrem: graas a mudanas tecnolgicas na operao dosequipamentos, o profissional dessa rea, cujas atividadescaracterizavam-se antes como mecnicas, foi transforma-do em operador de sistemas automatizados.

    Na categoria dos trabalhadores de manobras sobre tri-lhos, as ocupaes da famlia ocupacional foram rees-truturadas, restringindo-se hoje a apenas duas: Manobradore Agente de ptio. Simultaneamente, houve a extino dealgumas ocupaes, expressas na alternncia das funesde Manobrador e Maquinista. Em outras palavras, Maqui-nistas e Manobradores so atualmente escalados para exer-cer ambas as funes em perodos alternados. O mesmoprocesso ocorre com os Agentes de Ptio, que, alm deexercerem as atividades intrnsecas de sua funo, taiscomo a liberao de trens para partida, o controle de car-gas e o controle de entrada e sada de trens do ptio, soescalados tambm para executar atividades de manobrasdos trens. Parece assim repetir-se o fenmeno apontadopara muitas ocupaes aqui analisadas: a tendncia aorecrutamento de profissionais polivalentes capazes de atuarem vrias frentes ao mesmo tempo.

    CONSIDERAES FINAIS

    Este artigo buscou registrar, e assim preservar, algunsaspectos relacionados descrio, pela Fipe, de alguns

    grupos de base da CBO 2002. A riqueza dos detalhes ob-servados deu ao mesmo um carter necessariamente des-critivo, mas a brevidade do tempo disponvel e a recen-tidade dos fatos examinados impedem que as colocaesnele expostas sejam encaradas como completas e defini-tivas. Apenas os aspectos mais proeminentes relaciona-dos ao mercado de trabalho foram aqui considerados. Seriapor isso por demais ocioso repeti-los aqui.

    Pelo fato das informaes estarem fundamentadas naexperincia especfica da Fipe, e por se tratar de uma ta-refa realizada a partir de um mtodo de natureza eminen-temente qualitativa, parece oportuna a sugesto de darprosseguimento pesquisa, com o intuito de verificar avalidade das afirmaes expostas ao longo do texto luzde dados de carter quantitativo. Nesse sentido, os infor-mes levantados na PNAD e/ou na Rais poderiam ajudar acompor um quadro mais completo.

    importante reconhecer, mais uma vez, a importncia dotrabalho de modernizao da CBO levado a cabo pelo MTEcom a colaborao de quatro entidades externas, conformerelatado em MTE/SPPE 2002. sabido que a padronizaoda linguagem elemento central quando se trata de informa-o da gesto pblica. A elaborao de polticas pblicasconsistentes com a nossa realidade socioeconmica depen-de da qualidade da informao que recebem seus formu-ladores. Especificamente na gesto das polticas de empre-go e de formao do trabalhador brasileiro, tal adequaofica condicionada disponibilidade de informaes padro-nizadas e atualizadas. Depende, portanto, da existncia deuma rede de informaes ocupacionais.

    A publicao da CBO 2002 representou um passo im-portante na direo preconizada. Ela constitui um instru-mento imprescindvel de organizao do levantamento deinformaes, anlise e divulgao de dados pela adminis-trao do Estado, alm de contribuir para normalizar oscritrios de prestao de informaes do setor privado aopoder pblico. Para que consiga subsistir como uma fer-ramenta til deve, contudo, acompanhar as mudanas domercado de trabalho, que tm sido constantes e, nos anosrecentes, aceleradas. Esse o desafio do documento re-cm-dado a pblico.

    Por seu carter inovador, que se revelou em muitosaspectos do levantamento de dados sobre as ocupaes, atarefa de reviso da CBO foi sujeita a bices cuja supera-o envolveu incontveis decises. O acerto ou no des-tas ficar evidente nos anos vindouros, pois os momentosfuturos de reviso da CBO representaro oportunidadesconvenientes para eventuais correes.

  • SO PAULO EM PERSPECTIVA, 17(3-4) 2003

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    NOTAS

    Verso preliminar submetida ao Comit Cientfico do VIII EncontroNacional da Associao Brasileira de Estudos do Trabalho, realizadoem So Paulo em outubro de 2003.

    1. Para uma descrio pormenorizada das instituies conveniadas eda pesquisa de modo geral, ver MTE/SPPE, 2002.

    2. Uma anlise oportuna de algumas dessas transformaes, em mbi-to mundial, pode ser encontrada em Castells, 1999.

    3. Por tomar como referncia a CIUO88, a CBO 2002 organiza as ocu-paes, em seu nvel mais agregado de informaes, em dez GrandesGrupos (GG), definidos segundo o nvel de competncia e similarida-de nas atividades executadas. Na CIUO88 essas variveis foram reu-nidas com base em quatro graus de escolaridade. Alm da escolarida-de, a CBO 2002 leva em conta, principalmente, o nvel de complexi-dade das atividades requeridas para o exerccio das ocupaes (MTE,SPPE, 2002). Em decorrncia deste procedimento, diferentemente daCIUO88, que atribuiu ao GG 9 o nvel de competncia 1 (no-qualifi-cados), a nova verso brasileira no enquadra qualquer grupo no nvelmencionado. Os GG descritos pela Fipe correspondem aos nveis 2 (GG4, 5, 7 e 9), 3 (GG3) e 4 (GG2). Assim como o documento internacio-nal, a CBO 2002 no estabelece tal correlao para os GG 0 e 1, porabarcarem ocupaes com nveis de competncia heterogneos.

    4. Os treinamentos foram ministrados pelos professores LawrenceCoffin e Pierre Morin, ambos vinculados Capra/CVA.

    5. Para uma relao completa das ocupaes no contempladas na CBO94 e includas na estrutura da CBO 2000, ver MTE/SPPE, 2002.

    6. Tal afirmao no deve sugerir obviamente que a descrio dasfamlias ocupacionais mediante o mtodo Dacum tem representatividadeestatstica. Os comits foram formados segundo as regras estipuladaspelo mtodo e basearam-se em princpios, fundamentalmente,qualitativos.

    7. De modo no necessariamente continuado e com grau de en-volvimento variado, participaram da Comisso representantes do HSBCBank Brasil, Banco Mercantil de So Paulo, Banespa, Bradesco, Ita,Real ABN AMRO S/A e Sudameris.

    8. Foram consideradas famlias especficas do setor bancrio: Direto-res de Operaes de Servios em Instituio de Intermediao Finan-ceira; Gerentes de Operaes de Servios em Instituio de Interme-diao Financeira; Profissionais da Administrao Econmico-Finan-ceira; Profissionais de Comercializao e Consultoria de Servios

    Bancrios; Corretores de Valores, Ativos Financeiros, Mercadoriase Derivativos; Tcnicos de Operaes e Servios Bancrios e Escri-turrios de Servios Bancrios, esta ltima integrada tambm pelaocupaco de Caixa de Banco, O rol das famlias transversais ficou for-mado pelas famlias: Diretores Gerais; Gerentes Administrativos, Fi-nanceiros e de Riscos; Gerentes de Tecnologia da Informao; Ana-listas de Sistemas Computacionais e Economistas.

    9. importante dizer que se trata de uma profisso predominantemen-te feminina, como se pde observar no recrutamento dos painis deespecialistas, confirmando o que se verificou em pesquisas anteriores.(ver, por exemplo, Bianchi; Pastore, 1999).

    10. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, no 9.394/96; art.87, pargrafo 4o).

    11. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito)disponibilizou uma srie de documentos que comprovam a inexistnciajurdica dessa ocupao. Junto a esse dossi, tendo por base a CBO94, o Coffito solicitou alteraes para a CBO 2002.

    12. Resta saber se a atividade de superviso de lavanderias pode serenquadrada juntamente com outras ocupaes de natureza semelhan-te. Afinal, trata-se de uma atividade administrativa, que guarda bas-tante semelhana com a atividade de superviso em outros ramos deatividade.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BIANCHI, AM.; PASTORE, J. Novas evidncias acerca das ocupa-es no mercado de trabalho. Nova Economia, v.9 n.1, jul. 1999.

    CASTELLS, M. A sociedade em rede. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1999.

    MTE/SPPE. Classificao Brasileira de Ocupaes: CBO 2002.Braslia: MTE, 2002.

    NELSON HIDEIKI NOZOE: Professor Assistente Doutor da FEA-USP.

    ANA MARIA BIANCHI: Professora Titular da FEA-USP.

    ANA CRISTINA ABLAS RONDET: Economista, Pesquisadora da Fipe.