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Comando da Academia de Polícia Militar Divisão de Ensino
Seção de Pós-graduação e Extensão
Curso de Especialização em Polícia e Segurança Pública 2017/1
MATERIAL DIDÁTICO
DESENVOLVIMENTO INTERPESSOAL
GOIÂNIA – 2017
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SUMÁRIO
Unidade I – Desenvolvimento de características pessoais
1. Quem sou eu?
2. Eu e os outros
Unidade II – Desenvolvimento interpessoal
1. Competência interpessoal
2. Motivação
3. Comunicação Interpessoal
4. Feedback
5. Conflito Interpessoal
6. Grupo e Equipe
7. Participação e Interação no Grupo
8. Liderança
Unidade III – Prevenção em saúde mental
1. Contextualização
2. Transtornos do Humor
3. Estresse
4. Síndrome de Burnout
5. Dependência química
6. Suicídio
7. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) – Trabalho (1,0 ponto)
Glossário
Bibliografia
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Apresentação
Teles (2003) define a psicologia como a ciência que busca compreender o homem
e seu comportamento, para facilitar a convivência consigo e com os outros.
Os psicólogos são especialistas em comportamento humano e podem trabalhar
com indivíduos, grupos e organizações. Eles utilizam métodos científicos para estudar os
fatores que influenciam o comportamento humano e aplicam uma série de terapias
psicológicas e intervenções para ajudar as pessoas a entenderem e controlarem suas
emoções e pensamentos. Algumas das atividades mais comuns no dia-a-dia de um
psicólogo incluem:
• Atendimento clínico individual ou em grupo.
• Dar apoio psicológico a pacientes hospitalizados e seus familiares.
• Ajudar pessoas a lidar com situações de estresse e insegurança.
• Fornecer orientação profissional a estudantes.
• Atuar na área de recursos humanos, selecionando pessoas para vagas de emprego e
ajudando na resolução de conflitos entre colegas de trabalho.
• Desenvolver atividades que visam maximizar as relações sociais em ambientes
corporativos.
• Analisar o comportamento de grupos de consumidores para informar profissionais de
marketing e publicidade.
• Aconselhar pessoas na resolução de conflitos judiciais.
• Coordenar sessões de terapia em grupo e workshops, como por exemplo, programas de
reabilitação, terapia familiar, gerenciamento de raiva ou assertividade.
• Desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão.
• Elaborar laudos técnicos.
Não é o lugar que define a postura de um profissional – embora nem todos pensem assim
– é antes a capacidade de refletir criticamente sobre teorias, métodos e práticas, avaliando
resultados e pensando a acerca das necessidades do país em que nos encontramos.
(Eizirik, 1988, pág. 33).
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Unidade I – Desenvolvimento de características pessoais
1. QUEM SOU EU?
“Quem sou eu?”, a sociedade contemporânea incentiva pouca tal reflexão. O
indivíduo é estimulado a desenvolver sua capacidade intelectual e seu raciocínio lógico.
Todavia, pouca ênfase é dada à compreensão de si mesmo, à capacidade de identificar,
compreender e gerenciar as próprias emoções.
A compreensão de si mesmo envolve os seguintes aspectos: autoconhecimento
e autocontrole.
1- Autoconhecimento- reconhecimento das proporias emoções e a relação
destas com os pensamentos e comportamentos;
2- Autocontrole- controlar as emoções de forma saudável: associando-as à
situação que está vivendo e procurando se envolver em atividades agradáveis até se
sentir mais calmo.
2. EU E OS OUTROS
A relação com os outros envolve a capacidade de identificar a emoção destes e
responder a ela de forma adequada.
Desde sempre, a convivência humana é difícil e desafiante. Escritores e poetas, ao
longo dos tempos, têm abordado a problemática do relacionamento humano. Sartre, em
sua admirável peça teatral Huis Clos, faz a famosa afirmação: “O inferno são os
outros...”.
Estaremos realmente condenados a sofrer com os outros? Ou podemos ter
esperanças de alcançar uma convivência razoavelmente satisfatória e produtiva?
Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é,
reagem às outras pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se, simpatizam
e sentem atrações, antipatizam e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram
em conflito, competem, colaboram, desenvolvem afeto.
Essas interferências ou reações, voluntárias ou involuntárias, intencionais ou não
intencionais, constituem o processo de interação humana, em que cada pessoa na
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presença de outra não fica indiferente a essa situação de presença estimuladora. O
processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre pessoas,
sob forma de comportamentos manifestos e não manifestos verbais e não verbais,
pensamentos, sentimentos, reações mentais e\ou físico-corporais.
Uma relação interpessoal saudável envolve: consciência social e a gestão de
relacionamento.
1- Consciência social- envolve a habilidade de estar atento às emoções e
preocupações dos outros, assim como saber notar e se adequar às regras sociais. Tal
habilidade envolve:
Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro;
Ser um ouvinte ativo;
Perceber a linguagem corporal do outro, pois um olhar, um sorriso, um gesto,
uma postura corporal, um deslocamento físico de aproximação ou afastamento
constituem formas não verbais de interação. Mesmo quando alguém vira as
costas ou fica em silêncio, isto também é interação – e tem um significado, pois
comunica algo aos outros.
2- Gestão de relacionamento- habilidade em se dar bem com os outros, lidar com
conflitos e se comunicar com clareza (já que esta é a forma humana mais
frequente e usual).
Toda pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto
do termo; a pessoa só pode construir uma ponte para
se comunicar com as outras ilhas se primeiramente
se dispuser a ser ela mesma e se lhe for permitido ser ela mesma.
Carls Rogers
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Unidade II – Desenvolvimento interpessoal
Desenvolvimento interpessoal é um processo que envolve a capacidade de
reconhecer e utilizar as habilidades pessoais no relacionamento com o outro.
Relacionamento interpessoal é, sem sombra de dúvida, um dos fatores que influenciam
no dia a dia e no desempenho de um grupo, cujo resultado depende de parcerias
internas para obter melhores ganhos. No ambiente organizacional é importante saber
conviver com as pessoas, até mesmo por ser um cenário muito dinâmico e que obriga
uma intensa interação com os outros, inclusive com as mudanças que ocorrem no
entorno, seja de processos, cultura ou até mesmo diante de troca de lideranças.
Pode ser orientado para três níveis de consequências:
1. Nível individual: o foco predominante é intrapessoal e interpessoal.
2. Nível grupal: o foco é interpessoal, e grupal, examinando-se os eventos de díade,
subgrupos e grupo total.
3. Nível organizacional: o foco predominante é o sistema, a organização como um
todo.
1. COMPETÊNCIA INTERPESSOAL
É a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com outras
pessoas de forma adequada às necessidades de cada um e às exigências da situação.
Dois componentes da competência interpessoal são: a percepção e a habilidade.
O processo de percepção precisa ser treinado para uma visão apurada da situação
interpessoal. Isto significa um longo processo de crescimento pessoal, abrangendo auto
percepção, autoconscientização, auto aceitação como pré-requisitos de possibilidades de
percepção mais realística dos outros e da situação interpessoal. Esse treinamento
perceptivo depende da disponibilidade psicológica do treinamento no exercício de receber
feedback. O autoconhecimento só pode ser obtido com a ajuda dos outros, por meio de
feedback, o qual precisa ser elaborado para auto aceitação dos componentes do eu.
Autoconceito é a maneira como vemos a nós mesmos. De forma consciente ou não, cada
um de nós faz uma imagem de si mesmo que influencia em tudo que dizemos, fazemos e
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percebemos em relação ao mundo. O Autoconceito reflete a maneira muito pessoal de
como uma pessoa organiza suas metas pessoais, crenças, competências e valores.
Muitos estímulos provenientes do mundo externo chegam até nós através dos
órgãos dos sentidos: visão, audição, tato, olfato, paladar. O que fazemos com essa
quantidade de estímulos? Organizamos, interpretamos, damos significação a eles, a
partir de um processo chamado percepção. Nossa tendência natural é não vermos as
coisas como elas são, mas através do que elas significam para nós e, é por isso, que
duas pessoas chegam a “ver” coisas diferentes diante de uma mesma situação.
A habilidade de lidar com situações interpessoais envolve: flexibilidade perceptiva
e comportamental, que significa procurar ver vários ângulos ou aspectos da mesma
situação e atuar de forma diferenciada, não rotineira, experimentando novas condutas
percebidas como alternativas de ação. Desenvolve-se a capacidade criativa para soluções
ou propostas mais originais, menos convencionais, com resultados compensadores.
Competência interpessoal, portanto, é resultante de percepção acurada realística
das situações interpessoais e de habilidades específicas comportamentais que conduzem
às consequências significativas no relacionamento duradouro e autêntico, satisfatório
para as pessoas envolvidas.
A competência interpessoal não é um dom ou atributo inato da personalidade, e
sim, uma capacidade decorrente da combinação de conteúdos intelectuais, emocionais e
atitudinais.
2. MOTIVAÇÃO
A motivação é um conceito da psicologia que tem sido intensamente discutido há
pelo menos um século, mas ainda é de difícil definição. Motivação é um construto e se
refere ao direcionamento momentâneo do pensamento, da atenção, da ação a um
objetivo visto pelo indivíduo como positivo. Esse direcionamento ativa o comportamento
e englobam conceitos tão diversos como anseio, desejo, vontade, esforço, sonho,
esperança entre outros. A motivação é um processo marcado pelas diferenças
individuais, que determinam:
- Necessidades diferentes
- Padrões de comportamento diferentes
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- Valores sociais diferentes
- Capacidades diferentes para atingir os objetivos.
A motivação humana é constante, infinita, flutuante e complexa. O indivíduo é um
todo organizado e integrado. O indivíduo como um todo se motiva, e não apenas parte
dele, e a satisfação, consequentemente, atinge o indivíduo todo.
A motivação depende de três variáveis:
1. Percepção do estímulo: A percepção é a função cerebral que permite ao indivíduo
organizar e interpretar as impressões sensoriais, de forma a atribuir significado ao
meio envolvente, a partir de histórico de vivências passadas.
2. Necessidade: É tudo aquilo que é estritamente necessário para a nossa vida, tudo
de bom, ou seja, é indispensável, é útil, não se pode deixar de ter.
3. Cognição: Um processo de conhecimento, que tem como material a informação do
meio em que vivemos e o que já está registrado na nossa memória. Portanto,
precisamos da cognição para obter uma boa motivação.
Está mais do que comprovado que pessoas desmotivadas tendem a diminuir sua
produtividade. Quando percebemos que nossa equipe está desmotivada devemos
identificar entre os integrantes, quem se tem o perfil motivador, quem possui a
capacidade de encorajar os outros.
Os motivadores cumprem muito bem o seu papel, pois desenvolvem procedimentos
diários que vão influenciar o grupo:
1. Focam as possibilidades em vez dos problemas, criando uma visão que convença o
grupo;
2. Ajudam os outros a se sentirem parte do todo, e aproveitam para aprender com os
seus colegas;
3. São focados nos objetivos, mas flexíveis em relação às formas de alcançá-los.
4. Falam o que pensam, mantendo a integridade entre suas palavras e ações. Desta
forma conseguem influenciar o grupo a acreditar que as metas valem a pena e são
atingíveis.
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3. Comunicação Interpessoal
A comunicação interpessoal é um método de comunicação que promove a troca
de informações entre duas ou mais pessoas. O importante na comunicação interpessoal é
o cuidado e a preocupação dos interlocutores na transmissão dos dados ou das
informações em questão para que se obtenha o sucesso no processo desejado.
Comunicação é a forma como as pessoas dividem e trocam informações, ideias e
sentimentos. Comunicar é transmitir (do emissor para o receptor) ou compartilhar
(emissor e receptor constroem a informação). A comunicação faz parte do nosso
ambiente social: Em uma conversa de botequim, em um gesto qualquer de reprovação,
em um sinal de trânsito, em um espetáculo de dança ou em um diálogo entre surdos-
mudos, só para citar alguns exemplos. É impossível dissociar nossa vida, nossas
necessidades, da comunicação! Envolve processos que mantém os indivíduos em contato
permanente e em todas as circunstâncias – pessoais e profissionais –propiciando a
interação.
O sucesso na comunicação não depende só da forma como a mensagem é
transmitida, a compreensão dela é fator fundamental, lembre-se que vivemos em
sociedade de cultura diversificada, e o que às vezes parece obvio para você para seu
interlocutor não é. Devemos sempre ser objetivos e claros na nossa comunicação, nunca
presumindo que "ele já sabe, e não preciso ficar explicando, porque isso é obvio." A
comunicação depois de transmitida de forma correta ao seu interlocutor, deve ter um
acompanhamento para ele saber se está agindo de forma correta, ou se precisa corrigir
ou melhorar, esse processo chamamos de feedback.
Tipos de comunicação
A comunicação varia de acordo com:
• Instrumentos utilizados para manter contato com o outro;
• As pessoas em processo de comunicação;
• Os objetivos em vista.
Instrumentos
Comunicação verbal – Utiliza-se a linguagem oral ou escrita para o estabelecimento do
contato. Envolve ritmo, tom, entonação da voz.
Comunicação não verbal – Instrumento utilizado na comunicação, que não é a
linguagem oral ou escrito.
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Pertencem a este grupo: gestos, expressões faciais, posturas, silêncios e ausências no
interior de certos textos. Vêm carregados de mensagens significativas, mais ainda do que
as palavras.
A comunicação verbal e a não verbal devem estar sempre sincronizadas no mesmo
indivíduo. Muitas vezes, a comunicação verbal e a não verbal estão em dissonância,
traindo o eu íntimo que o verbal tenta camuflar. Falamos uma coisa, mas estamos
expressando outra. A comunicação tende a se tornar fala intelectualizada, quando
reduzida exclusivamente à linguagem verbal.
A linguagem apenas não verbal dificilmente seria inteligível para o outro.
4. FEEDBACK
É um processo de ajuda para mudança de comportamento, é comunicar a uma
pessoa ou grupo, no sentido de fornecer-lhes informações sobre como sua atuação está
afetando outras pessoas.
No processo de desenvolvimento da competência interpessoal, feedback é um
processo de ajuda para mudança de comportamento, é comunicação a uma pessoa ou
grupo, no sentido de fornecer-lhe informações sobre como sua atuação está afetando
outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo (ou grupo) a melhorar seu
desempenho e assim alcançar seus objetivos.
O Feedback precisa ser:
- Descritivo ao invés de avaliativo – sem julgamento, apenas o relato de um evento.
- Específico ao invés de geral – quando se diz a alguém que ele é “dominador” isto tem
menos significado do que indicar seu comportamento numa determinada ocasião. “Nesta
reunião você não ouviu a opinião dos demais e fomos forçados a aceitar sua decisão para
não receber suas críticas exaltadas...”
- Compatível com as necessidades – de ambos, comunicador e receptor, pode ser
altamente destrutivo quando satisfaz somente às necessidades do comunicador sem
levar em conta as necessidades do receptor.
- Dirigido – para comportamentos que o receptor possa modificar, pois em caso
contrário a frustração será apenas incrementada se o receptor reconhecer falhas naquilo
que não está sob seu controle mudar.
- Solicitado ao invés de imposto – será mais útil quando o receptor tiver formulado
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perguntas que os que o observam possam responder.
- Oportuno – em geral o feedback é mais útil o mais próximo possível após o
comportamento em questão, dependendo naturalmente do clima emocional, etc.
- Esclarecido para assegurar comunicação precisa – um modo de proceder é fazer
com que o receptor repita o feedback recebido pra ver se corresponde ao que o
comunicador quis dizer.
Porque é difícil dar feedback?
Podemos reagir somente a um aspecto do que vemos no comportamento do outro,
dependendo de nossas próprias motivações, e com isto tornamo-nos parciais e
avaliativos, servindo o processo de feedback como desabafo nosso ou agressão, velada
ou manifesta.
Podemos também temer as reações do outro – sua mágoa, sua agressão, etc. isto
é, que o feedback seja mal interpretado. Outra situação é que muitas vezes a pessoa não
está preparada psicologicamente para receber feedback ou não deseja nem sente sua
necessidade, e se insistirmos no feedback a pessoa poderá duvidar dos nossos motivos
para tal, negar a validade dos dados, racionalizar procurando justificar-se etc.
Porque é difícil receber feedback?
É difícil aceitar nossas ineficiências e ainda mais admiti-las para os outros
publicamente. O receio do que a outra pessoa pensa a nosso respeito, o que isto poderá
afetar nosso status ou imagem. Podemos também ter reações defensivas.
Quando percebemos que estamos contribuindo para manter o problema e que
precisamos mudar para resolvê-lo, podemos reagir defensivamente: paramos de ouvir
(desligamos), negamos a validade do feedback, agredimos o comunicador apontando-lhe
também seus erros etc. às vezes, a resolução de um problema pode significar descobrir e
reconhecer algumas facetas de nossa personalidade que temos evitado ou desejado
evitar até de pensar.
Como superar as dificuldades
1) estabelecendo uma relação de confiança recíproca para diminuir as barreiras.
2) reconhecendo que feedback é um processo de exame contínuo.
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3) aprendendo a ouvir, a receber feedback sem reações emocionais (defensivas)
4) aprendendo a dar feedback de forma habilidosa, sem conotações emocionais.
Todos nós precisamos de feedback, tanto do positivo quanto do negativo,
precisamos saber o que estamos fazendo de forma adequada e o que não estamos
fazendo de forma adequada para tentarmos corrigir.
5. CONFLITO INTERPESSOAL
O conflito interpessoal é a situação na qual há pelo menos duas necessidades
simultâneas em que a satisfação da primeira implica a insatisfação da segunda,
impelindo a ação da pessoa para direções diferentes, acarretando desconforto.
O que torna os relacionamentos difíceis é a incapacidade das partes evoluírem do
conflito para o consenso. O conflito é na maioria das vezes inevitável, pois resulta das
diferenças entre as pessoas. Referimo-nos não só das diferenças de conhecimento, mas
principalmente de características pessoais, valores e crenças. Na maioria das vezes não
conseguimos sair do conflito, pois encaramos o comportamento do nosso interlocutor
como sendo uma ameaça, pelo simples fato de ser diferente do nosso.
Pode-se definir conflito como uma tensão que envolve pessoas ou grupos quando
existem tendências ou interesses incompatíveis.
O conflito ocorre em relações próximas e/ou interdependentes em que existe um
estado de insatisfação entre as partes.
A insatisfação pode ter várias origens: divergência de interesses, competição pelo
poder, incompatibilidade de objetivos, partilha de recursos escassos, desacordo de
pontos de vista…
A situação de conflito pode assumir o caráter de conflito intrapessoal (conflito
interno), conflito interpessoal (conflito entre pessoas) e conflito intergrupal (conflito
entre grupos).
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Etiologia dos Conflitos:
PROCESSO:
1. Diferenças individuais: formas de perceber, pensar, sentir e agir.
2. Diferenças de opiniões: discordâncias quanto a aspectos da tarefa, metas, meios ou
procedimentos.
3. Tensão: discussões, insatisfações e conflito aberto.
4. Emoções: afetos mais ou menos intensos.
5. Redução da objetividade: reduz a objetividade no grupo ao mínimo e altera o clima
emocional do grupo.
6. GRUPO E EQUIPE
GRUPO: Conjunto de indivíduos (aspecto numérico/material). Quando os indivíduos se
reúnem, trata-se de um nível descritivo e tem o indivíduo como a principal referência.
Tende a trabalhar voltado para um mesmo objetivo, com papéis e funções
definidos. Os integrantes do grupo geralmente não obtêm ótimos resultados como o
esperado, porque na maioria das vezes ninguém sabe direito o que o outro pensa, devido
à falta de comunicação. Não há presença de habilidades e a comunicação tende a ser
defeituosa, descontrolada, como uma obrigação. Cada um trabalha por si, ninguém ajuda
ninguém e a tendência é haver uma “competição” entre os membros.
No grupo podemos encontrar diversas deficiências, como por exemplo, as
divergências em relação aos problemas de trabalho ou as diferenças dos valores pessoais
de cada um, que acabam sendo manifestados no ambiente de trabalho, tornando as
pessoas falsas, fingindo ser o que não são e principalmente, dizendo dar conta de um
trabalho que não podem realizar sozinhas.
EQUIPE: Completamente diferente do grupo, na equipe os membros estão voltados para
os mesmos objetivos com papéis e funções BEM definidas e uma série de fatores
positivos, como criatividade, sinergia, habilidades, troca de experiências, etc.
Na equipe, todos são muito transparentes. Dividem o que pensam e o que sentem em
relação ao trabalho e também em relação uns aos outros. Se existem críticas, estas são
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construtivas, jamais podem ser destrutivas. A colaboração entre os membros é invejável,
todos trabalham unidos, em busca de bons resultados para todos, como em um time.
Estão dispostos a ajudar uns aos outros quando necessário. Apesar de o ambiente de
trabalho ser o melhor possível, isso não significa que não haja conflitos, até existem,
mas esses são resolvidos da melhor forma, e vistos como fator de crescimento e
aprendizado para toda a equipe, que geralmente tendem a resolver o problema juntos.
7. PARTICIPAÇÃO E INTERAÇÃO NO GRUPO
É usual e enganoso pensar nos membros do grupo desempenhando apenas duas
funções distintas: liderança e participação simplesmente.
Em primeiro lugar, a própria liderança não pode ser assim tão marcada e
continuamente desempenhada por apenas um membro do grupo. Outros membros
assumem liderança informal, de acordo com as diferentes situações por que passa o
grupo em seus processos de interação. Em segundo lugar, a função membro do grupo
significando “não líder” poderia dar a impressão de um comportamento não-diferenciado
comum a todos os componentes do grupo, excluído o líder que tem um papel
nitidamente caracterizado.
Pesquisas realizadas em ambiente corporativo demonstraram que profissionais
competentes individualmente podem apresentar baixo rendimento na produtividade ou
limitações de sua capacidade por influência do grupo e da situação de trabalho. Quando
uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma base interna de diferenças que
englobam conhecimentos, informações, opiniões, preconceitos, atitudes, experiência
anterior, gostos, crenças, valores, estilo comportamental, o que traz inevitáveis
diferenças de percepções, opiniões, sentimentos em relação às situações compartilhadas.
A forma como essas diferenças são encaradas e tratadas – a maneira como nós as
administramos em nossa Vida pessoal e profissional – determina a maneira como nos
relacionamos com os membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subordinados.
O complexo processo de interação humana exige de cada participante um
determinado desempenho, o qual variará em função da dinâmica de sua personalidade e
da dinâmica grupal na situação-momento, ou contexto-tempo. Assim, no plano
intrapessoal, o indivíduo reagirá em função de suas necessidades motivacionais,
sentimentos, crenças e valores, normas interiorizadas, atitudes, habilidades especificas e
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capacidade de julgamento realístico; no plano interpessoal, influirão as emoções grupais,
o sistema de interação, o sistema normativo e a cultura do grupo: no plano situacional,
exercerão influencia o contexto físico e social imediato, o contexto cultural, o sistema
contratado de relações e a dimensão temporal.
Por conseguinte, personalidade, grupo e contexto não podem ser ignorados na
apreciação do papel desempenhado por membros de um grupo, em diversas
circunstâncias.
A interação humana é complexa e multidimensional. O processo de interação
humana supõe necessariamente comunicação, mesmo que haja intenção contrária.
Estamos sempre comunicando algo, seja por meio de palavras ou outros meios não-
verbais, tais como gestos, postura corporal, posição e distância em relação aos outros
etc. o simples fato de estar em presença do outro modifica o contexto perceptivo de cada
um, promovendo interação que é, afinal, comunicação, com mensagens emitidas e
recebidas de cada participante da situação conjunta. Quando alguém, em presença de
outros, fica silencioso, afasta-se, vira-se de costas, etc., na verdade, está interagindo e
comunicando algo aos demais, como, por exemplo: disposição para não dialogar,
constrangimento, ressentimento, agressão ou qualquer outro sentimento.
Quando se deseja estudar um grupo em funcionamento e compreender a
sequência de eventos, as modalidades de interação e suas consequências, faz-se mister
identificar os componentes relevantes dos processos de grupo.
Pode-se analisar um grupo através de sua composição, estrutura e seu ambiente,
as pessoas que compõem o grupo, as posições relativas que ocupam no grupo, suas
relações entre si, o espaço físico e psicossocial do grupo. Pode-se também considerar a
dinâmica, os componentes que constituem forças em ação e que determinam os
processos de grupo.
Visualizando-se o grupo como um campo de forças, em que umas concorrem para
movimentos de progresso do grupo e outras para dificuldades ou retrocesso, algumas
delas ressaltam no funcionamento grupal. São elas: objetivos, motivação, comunicação,
processo decisório, relacionamento, liderança e inovação.
Todos esses componentes influem decisivamente para a definição de normas de
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funcionamento e concomitante estabelecimento do clima do grupo. As pessoas que
compõem o grupo trazem seus valores, sua filosofia e orientação de vida. A interação
permite conhecimento mútuo e identificação de alguns pontos comuns que servirão de
base para a elaboração de normas coletivas, tácitas e explícitas, na dinâmica do grupo.
8. Liderança
Muitas teorias têm sido elaboradas a respeito de liderança a partir de um foco de
atenção ou abordagem predominante. A liderança envolve influenciar as atitudes,
crenças, comportamentos e sentimentos de outras pessoas.
Cabe fazer, inicialmente, uma distinção entre “líder” e “estilo de liderança”. Um
líder é a pessoa no grupo à qual foi atribuída, formal ou informalmente, uma posição de
responsabilidade para dirigir e coordenar as atividades relacionadas à tarefa. Sua maior
preocupação prende-se à consecução de algum objetivo específico do grupo. A maneira
pela qual uma pessoa numa posição de líder influencia as demais pessoas no grupo é
chamada “estilo de liderança”.
A Liderança e a participação eficaz em grupo dependem essencialmente da
competência interpessoal do líder e dos membros. O trabalho em equipe será mais
produtivo e eficaz se e quando os membros do grupo desenvolverem tal competência. A
sinergia gerada pelos esforços colaborativos promoverá resultados que representarão
muito mais do que a simples soma das competências técnicas individuais – será a
expressão genuína de um resultado conjunto do grupo.
Podemos entender como liderança como a capacidade de acionar e manter a
motivação dos membros de uma equipe de trabalho para o alcance de objetivos
propostos pela organização. Assim, liderança é o processo de influenciar as atividades de
um indivíduo ou grupo para a consecução de um objetivo numa situação, e num sentido
mais profundo “tem como essência o incremento influencial sobre e acima do
cumprimento mecânico das diretivas rotineiras da organização” (Katz e Kahn, 1967).
São dois os aspectos comumente ligados à compreensão da liderança:
- A liderança está ligada a um fenômeno grupal, isto é, envolve duas ou mais
pessoas.
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- Trata-se de um processo de influenciação exercido de forma intencional por
parte dos líderes sobre os seguidores.
Há diversas teorias sobre liderança, principalmente voltadas à liderança nas
organizações de trabalho. Elas já se basearam em traços da personalidade de líder, mas
atualmente se baseiam na forma como o líder interage com os liderados.
A teoria Caminho - Objetivos ou Caminho - Meta
Para essa perspectiva de liderança, quanto mais claros os objetivos e a ligação das
recompensas com eles, mais condições de desempenho são proporcionadas. Os líderes
eficazes podem melhorar o desempenho dos seus subordinados, por meio de ações
como:
1- Clarificar a percepção desses quanto aos objetivos do trabalho;
2- Ligar recompensas significativas ao atingir dos objetivos;
3- Explicar como os objetivos e as recompensas poder ser conseguidas.
Nessa teoria existem quatro tipos de comportamentos de liderança:
Liderança Diretiva: Esclarece aos subordinados sobre o que vão fazer e como
devem fazer, fornecendo orientação para execução das tarefas, coordenando e
planejando.
Liderança Apoiante: Dá especial atenção ás necessidades e o bem-estar dos
subordinados, melhorando o ambiente social da organização.
Liderança Participativa: Consulta os subordinados, ouve as suas sugestões,
levando-as em consideração na tomada de decisão.
Liderança orientada para os resultados: Define objetivos desafiadores para os
subordinados com expectativa de que eles alcancem elevados desempenhos.
Liderança centrada na tarefa
Estilo de liderança preocupado estritamente com a execução da tarefa e
com os resultados. É típica das empresas que costumam concentrar as pessoas em
cargos desenhados e padronizados. Preocupada exclusivamente com o trabalho e
conseguir que as coisas sejam feitas de acordo com os métodos estabelecidos e
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com os recursos disponíveis. O comportamento do líder é orientado para: Planejar
e definir como o trabalho será feito, atribuir responsabilidade pelas tarefas, definir
padrões de trabalho, e monitorar os resultados do desempenho.
Em curto prazo pode produzir melhores resultados de eficiência e de
produtividade, mas em logo prazo, produz insatisfação, rotatividade, elevado
absenteísmo, alto nível de desperdício, questões trabalhistas, reclamações e
redução do ritmo de trabalho.
Liderança centrada nas pessoas
Trata-se de um estilo preocupado com os aspectos humanos dos
subordinados e que procura manter uma equipe de trabalho atuante, com maior
participação nas decisões. Dá mais ênfase ás pessoas do que ao trabalho em si,
procurando compreender e ajudar os liderados, visando mais as metas do que os
métodos, sem negligenciar o desempenho desejado. O comportamento do líder é
orientado para: Ser apoio a retaguarda dos subordinados, desenvolver relações
sociais ajustadas, respeitar os sentimentos do grupo, ser sensitivo as suas
necessidades e mostrar confiança nos seguidores.
Aquilo que sou, a qualquer momento da minha vida, será determinado
por meus relacionamentos com
aqueles que me amam ou se recusam a me amar; com
aqueles a quem amo e quem me recuso a amar.
John Powell.
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Unidade III – Prevenção em saúde mental
1. Contextualização
O conceito de saúde mental mais recente inclui o olhar para as características
positivas do sujeito e não apenas para a problemática em si. Assim, a saúde mental não
é meramente a ausência de doença mental, mas a presença de “um estado de bem-estar
no qual o indivíduo utiliza as suas capacidades, lida com o estresse normal da vida,
trabalha de modo produtivo e frutífero e contribui para a comunidade” (WHO, 2004,
p.12). Essa definição fortalece a compreensão de que saúde mental destaca o bem-estar
(Keyes, 2007). Nesse raciocínio, existem dimensões psicossociais primordiais à
percepção de saúde mental. Essas dimensões estão relacionadas aos seguintes fatores:
presença de emoções positivas como esperança, entusiasmo e interesse pela vida;
qualidade de vida percebida, como satisfação em vários domínios da vida; funcionamento
psicológico positivo, com autonomia, relações interpessoais significativas e auto
aceitação, por exemplo; e, por último, funcionamento social positivo, com características
como senso de pertencimento e valorização das diferenças.
Ações preventivas podem ser definidas como intervenções desenvolvidas para se
evitar o surgimento de doenças específicas, através da detecção, do controle e da
mitigação dos fatores de risco dessas enfermidades. As intervenções podem ser
direcionadas para grupos populacionais específicos ou para a população em geral. Este é
um referencial novo, já que, em geral, a área da saúde mental tem se dedicado mais ao
tratamento e à reabilitação dos portadores de distúrbios mentais.
São várias as pesquisas sobre a origem dos transtornos mentais desde a infância,
com avaliações sob o ponto de vista social e biológico, para o desenvolvimento de
ferramentas e métodos para a identificação precoce de crianças e de adolescentes que
apresentem fatores de risco para os distúrbios, possibilitando uma intervenção antes da
doença se manifestar. Porém, se diversos transtornos psiquiátricos têm um componente
genético, podemos falar em prevenção? As pesquisas sobre a relação entre fatores
genéticos e o ambiente sugerem que os genes não determinam as doenças de forma
definitiva, os transtornos psiquiátricos são resultado de uma interação complexa entre
vários genes de pequeno efeito (isto é, cada gene é responsável por parte dos sintomas)
e diversos fatores ambientais.
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As pesquisas indicam que os fatores ambientais são capazes de alterar a nossa
biologia. Embora eles não sejam capazes de modificar a sequência do DNA que
herdamos, o ambiente é capaz de alterar quais e como os genes são expressos em
determinadas células durante o neuro-desenvolvimento. A exata relação entre os fatores
genéticos e os fatores ambientais, bem como a magnitude do risco do desenvolvimento
de uma psicopatologia ainda são aspectos desconhecidos e provavelmente são bastante
diferentes para cada pessoa. Mas existe a possibilidade de serem criadas estratégias de
prevenção, quando se considera o papel, ainda inexplorado, do ambiente em “ativar” e
“desativar” as porções do nosso DNA.
Estabelecer critérios:
Pesquisa sobre estados mentais de risco apontam para o conjunto de sintomas ou
comportamentos que indicam a possibilidade do aparecimento futuro de um transtorno
mental grave. Existe na literatura a hipótese de que uma intervenção na fase de estado
mental de risco pode alterar o curso do transtorno, sendo possível reduzir o sofrimento
das crianças e adolescentes e prevenir a conversão para quadros mais graves, por isso é
um dos campos mais promissores para as pesquisas.
Tradicionalmente, são descritos três níveis de prevenção: primária, secundária e
terciária. A prevenção primária tem como objetivos evitar o aparecimento de um
transtorno mental e, assim, reduzir a incidência na população (número de casos novos
em um período de tempo específico). Um exemplo são as campanhas educativas sobre
os riscos do uso de álcool e drogas. A prevenção secundária visa à identificação precoce
e ao pronto tratamento de portadores do distúrbio, para a redução da prevalência na
população (número total de casos existentes em um determinado período de tempo) e do
tempo de duração do distúrbio. A prevenção terciária busca a redução da prevalência de
incapacidades residuais, para que as pessoas com doença mental crônica alcancem o
nível mais alto de funcionamento possível.
O objetivo é promover fatores de proteção, aspectos sadios que podem ser
ativados diante de situações adversas. Nessa abordagem, o psicólogo não impõe a
adoção de comportamentos, ele estimula o fortalecimento do grupo para que, se surgir
alguma adversidade, os indivíduos sejam capazes de ultrapassar o problema através da
resiliência ou consigam enfrentar e reagir, utilizando suas habilidades de vida.
21
O conjunto de fatores de proteção de cada indivíduo funciona como um recurso de
ajuda na interação com eventos estressores da vida, evitando consequências negativas
para a saúde mental. Exemplos de fatores de proteção são os vínculos afetivos, o humor,
o bom funcionamento cognitivo (inteligência), as habilidades de comunicação e as
habilidades sociais (relação interpessoal), relacionamentos sociais e afetivos (rede de
apoio social), acesso aos serviços de saúde e à educação e as políticas públicas de
proteção aos direitos humanos.
Os riscos relacionados à saúde mental podem ter diversas origens: física (como
doenças genéticas ou adquiridas), social (por exemplo, um ambiente violento),
psicológica (efeitos de abuso, negligência ou exploração, entre outros). O que determina
que uma pessoa seja vulnerável ou resiliente? A definição de eventos ou situações como
prejudiciais ou favoráveis não é única para todas as pessoas e para os diferentes
contextos. A literatura científica tem destacado cinco fatores gerais que explicam as
variações individuais frente à adversidade: idade, personalidade, suporte social,
experiências anteriores e os modelos de relação entre família e criança. Uma situação de
estresse pode representar um agravo, sendo um fator de risco. Entretanto, também pode
favorecer o desenvolvimento da resistência para vencer e superar o problema, nesse
caso representa um fator de proteção.
Uma das metodologias para promover os fatores protetivos é o ensino de
habilidades de vida, como, por exemplo, a habilidade para a tomada de decisões e para a
resolução de problemas, o pensamento crítico e a comunicação eficaz de sentimentos.
Como as habilidades sociais são aprendidas, é possível desenvolver estratégias de
prevenção a partir de programas de treinamento que podem ser aplicados nas escolas,
no âmbito do trabalho e, também, nos contextos da Psicologia Clínica e da Psicologia da
Saúde.
O fortalecimento das habilidades sociais para o combate dos comportamentos
agressivos estão estreitamente relacionados a diversos fatores, entre eles a dificuldade
de compreender a perspectiva do outro, de estabelecer relações satisfatórias e de lidar
com frustrações, bem como estão associados à falta de autocontrole e a muitos
problemas de comportamento, tanto externalizantes (agressividade, coerção, desrespeito
em relação ao outro) como internalizantes (mágoa, ressentimento, auto depreciação). As
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habilidades sociais podem gerar comportamentos substitutivos para a violência, sendo
que a escola é um contexto privilegiado para desenvolvê-las. Contudo, para se obter a
prevenção da violência interpessoal nas escolas, o trabalho com habilidades sociais
também deve ser direcionado para a família e para a comunidade em geral.
Intervenções de promoção de saúde tem por objetivo desenvolver habilidades e
oferecer recursos para o sujeito enfrentar adversidades pessoais e contextuais. A
prevenção tem como foco o aumento em fatores protetivos e a redução dos riscos de
aparecimento de problemas, incluindo os níveis de exposição ao risco. O tratamento
refere-se à assistência àqueles que já apresentam o diagnóstico de um transtorno,
podendo ser oferecido serviços de terapia breve ou de longa duração, conforme a
gravidade do diagnóstico.
Fatores de risco são as características ou variáveis que, se presentes em um
contexto, tornam pessoas ou grupos mais vulneráveis ao desenvolvimento de desfechos
negativos em saúde mental, enquanto os fatores de proteção modificam ou diminuem os
efeitos de risco. Os fatores de risco e de proteção podem ser pessoais ou ambientais,
podendo estar associados às funções cognitivas mais básicas ou à cultura de uma nação;
Alguns exemplos de fatores de risco para a saúde mental são: habilidades sociais pobres,
estilo de enfrentamento negativo, baixa autoestima, baixa auto eficácia, negligência e
maus-tratos parentais, exposição à miséria e violência na comunidade. Já os fatores de
proteção à saúde mental estão relacionados, por exemplo, a um repertório diversificado
de habilidades sociais, sucesso escolar, autoconceito positivo, participação em uma
comunidade acolhedora, práticas educativas parentais saudáveis e suporte social.
Saúde mental e trabalho
Para Sigmund Freud, a saúde mental é a “capacidade de amar e de trabalhar”.
Não é preciso ser um psicanalista para concordar com isso, e mesmo se você nunca
tivesse escutado falar em psicologia, concordaria que estas são as duas grandes áreas na
vida de um ser humano adulto: o amor, traduzido nos afetos, nos amigos, na família e
no erotismo, e o trabalho, na profissão, no dinheiro, na classe social, na produção, no
consumo, entre outros fatores. De forma ampla, nada ficou de fora: amar e trabalhar
resume a vida adulta. Pelo amor reproduzimo-nos, pelo trabalho produzimos- produzir e
reproduzir explica a nossa existência. Se é uma proposta da psicologia entender o
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indivíduo e enfrentar o sofrimento psicológico, a doença mental, os distúrbios
psicológicos, ou qualquer outro nome que queiramos dar s estes fenômenos, então, o
problema da psicologia estará em entender como os homens amam e como trabalham;
em seguida, terá de propor modos saudáveis de viver, ou seja, de amar e trabalhar.
Em outras palavras, se, por uma lógica inversa, a doença mental é a capacidade
de amar e de trabalhar, então, é o próprio amor e/ou o trabalho que se apresentam com
problemas. Assim, será preciso procurar na própria dinâmica da vida os problemas ou os
distúrbios que a vida inventou.
A abordagem preventiva na área da saúde mental também está presente nas
Polícias Militares. Em Goiás, a unidade que trabalha na área da Psicologia é o Serviço de
Psicologia pertencente ao Comando de Saúde. As atividades de preservação da ordem
pública e de polícia ostensiva expõem o policial militar a situações de perigo que podem
ter consequências graves e imprevisíveis. As emergências muitas vezes têm
consequências físicas, emocionais, ou ambas. Para promover um suporte psicológico
tanto para os policiais militares expostos a eventos potencialmente traumáticos quanto
para aqueles que, mesmo sem envolvimento direto nesses episódios, venham a
apresentar algum tipo de alteração comportamental, existe a assistência psicológica
disponível diariamente, independente de encaminhamento prévio.
Ela enfoca a saúde de forma ampla, abrangendo os aspectos biopsicossociais. Os
principais objetivos do serviço é promover o reequilíbrio psicoemocional do policial
militar, favorecendo o desenvolvimento pessoal e o consequente uso produtivo de suas
potencialidades; promover a interação do policial com a sociedade; fortalecer princípios
éticos e morais de hierarquia e disciplina; prevenir ocorrências que tenham como
resultado morte e/ou lesões corporais; maximizar a qualidade dos serviços prestados
para a sociedade; minimizar o grau de exposição ao risco e reduzir os efeitos traumáticos
ao longo da carreira. As pesquisas demonstram a relevância da Psicoterapia para o
encurtamento de períodos de sofrimento e para a prevenção de sintomas.
2. TRANSTORNOS DE HUMOR
a) Depressão:
Do ponto de vista psicopatológico, a depressão tem como elementos mais
salientes o humor triste e o desânimo (Del Pino, 2003).
24
As síndromes depressivas são atualmente reconhecidas como um problema
prioritário de saúde pública. Segundo levantamento da OMS, a depressão maior unipolar
é considerada a primeira causa de incapacidade entre todos os problemas de saúde
(incapacidade definida como uma variável composta por duração do transtorno, e uma
série de 22 indicadores de disfunção e sofrimento) (Murray; Lopez, 1996).
A depressão se caracteriza por uma multiplicidade de sintomas, tais como:
Sintomas relacionados ao Humor – Inclui tristeza, perda de interesse e/ou prazer, crises
de choro, variação diurna do humor (esta última, às vezes, classificada na categoria de
sintomas vegetativos). Essa categoria de sintomas é essencial para o diagnóstico de
depressão.
Sintomas Vegetativos ou Somáticos – inclui alterações no sono (insônia ou hipersonia),
no apetite e no peso; há perda de libido, obstipação e fadiga.
Sintomas Motores – inclui inibição ou retardo, agitação (mais em idosos), inquietação.
Sintomas Sociais – inclui apatia, isolamento, incapacitação para o desempenho das
tarefas cotidianas.
Sintomas Cognitivos – inclui desesperança, desamparo, ideias de culpa (que podem
chegar a delírios de culpa em depressões psicóticas) e de suicídio, indecisão, perda de
insight, isto é, do reconhecimento de que está doente.
Sintomas ligados à Ansiedade – inclui ansiedade psíquica, somática e fóbica (esta última
em poucas escalas).
Sintomas geradores de Irritabilidade – inclui hostilidade, auto e heterodirigida. A
autoagressão associa-se com o risco de suicídio. Outros autores consideram a
irritabilidade na categoria de alteração do humor
b) Mania
A euforia ou alegria patológica e a elação (ou expansão do Eu) constituem a base
da síndrome maníaca (Belmaker, 2004). Além disso, é fundamental e está quase sempre
presente a aceleração de todas as funções psíquicas (taquipsiquismo), manifestando-se
como agitação psicomotora, exaltação, loquacidade ou Logorréia e pensamento acelerado
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(Cassidy et al., 1998). A atitude geral do paciente é alegre, brincalhona ou irritada,
arrogante. Além das alterações propriamente do humor (euforia, elação) e do ritmo
psíquico (aceleração), na esfera ideativa verifica-se um pensamento em geral superficial
e impreciso; o paciente fala mais do que pensa (Binswanger [1961], 1973). De modo
geral, podem-se observar os seguintes sinais e sintomas nas síndromes maníacas
(Monedero, 1975):
Aumento da autoestima (O paciente sente-se superior, melhor, mais potente, etc.)
Loquacidade (Produção verbal rápida, fluente e persistente).
Elação (Sentimento de expansão e
engrandecimento do Eu).
Logorréia (Produção verbal muito rápida,
fluente, com perda das concatenações lógicas).
Insônia. (Mais precisamente, a diminuição
da necessidade de sono).
Pressão para falar (Tendência irresistível de
falar sem parar).
Ideias de grandeza, de poder, de
importância social.
Distraibilidade.
Tendência exagerada a comprar objetos ou a dar seus pertences indiscriminadamente.
Agitação psicomotora.
Irritabilidade (Pode ocorrer em graus
variados, desde leve irritabilidade até a franca agressividade).
Heteroagressividade (Geralmente
desorganizada e sem objetivos precisos).
Arrogância.
Desinibição social e sexual (Leva o indivíduo a
comportamentos inadequados em seu meio sociocultural; comportamentos que o paciente não realizaria fora da fase maníaca).
c) Transtorno bipolar do humor Mescla crises de depressão e mania; Crises médias de 03 meses, com inter-crises
de quase normalidade, durando em média 06 meses a 01 ano; Pode variar de
intensidade, podendo as crises serem leves, tanto a elação como a depressão; Crises
que se sucedem até por toda a vida. Normalmente as crises não estão vinculadas a
eventos da vida, ou seja, sem motivo.
d) Distimia
Trata-se de uma depressão crônica, geralmente de intensidade leve, muito
duradoura. Começa no início da vida adulta e persiste por vários anos. Os sintomas
depressivos mais comuns são diminuição da autoestima, fatigabilidade aumentada,
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dificuldade em tomar decisões ou se concentrar, mau humor crônico, irritabilidade e
sentimento de desesperança. Os sintomas devem estar presentes de forma ininterrupta
por, pelo menos, dois anos.
e) Transtornos de Ansiedade e Fobias
Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão,
caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo
desconhecido ou estranho. É um sinal de alerta que permite ao indivíduo ficar atento a
um perigo iminente, e tomar as medidas necessárias para lidar com a ameaça.
Ela “envolve” o sistema nervoso central, modificando o comportamento do
organismo. A ansiedade normal é uma sensação difusa, desagradável, de apreensão,
acompanhada por várias sensações físicas: mal estar epigástrico; aperto no tórax;
palpitações; sudorese; súbita necessidade de evacuar; inquietação...
A ansiedade e o medo passam a ser reconhecidos como patológicos quando são
exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo, ou qualitativamente diversos do
que se observa como norma naquela faixa etária e interferem com a qualidade de vida, o
conforto emocional ou o desempenho diário do indivíduo. A ansiedade Patológica é
uma resposta inadequada ao estímulo, em virtude de sua intensidade ou duração. Ela
paralisa o indivíduo, traz prejuízos ao seu bem estar; diminui seu desempenho nas
tarefas; não permite que ele se prepare e enfrente as situações ameaçadoras.
f) Transtorno de Pânico
Transtorno de pânico ou Síndrome de pânico é um transtorno de
ansiedade caracterizado por um intenso medo ou/e mal-estar com sintomas físicos e
cognitivos que se iniciam de forma brusca e alcançam intensidade máxima em cerca de 5
minutos e causando medo de morrer persistente e recorrente, o que aumenta a chance
de outros ataques. São ataques recorrentes de ansiedade aguda e grave, sem serem
motivados por circunstâncias específicas. Prevalência em adultos jovens (25 anos), 50%
mais frequente em mulheres. Etiologia: genética e psicossocial. Tratamento:
medicamentoso e psicoterapia. Sintomas: Primeiro ataque é espontâneo, inesperado;
crescentes, por até 30 minutos; sensação de Asfixia e Desmaio; palpitações, tremores,
sudorese, medo de enlouquecer ou morrer...
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Hoje em dia, ainda é comum que muitos médicos associem alguns casos de
transtorno do pânico a outras doenças, seja cardíaca ou neurológica, levando o paciente
a um tratamento errôneo. Porém, nem todas as situações podem ser diagnosticadas
como Síndrome do pânico, por isso, se faz necessária uma avaliação completa. Assim
como qualquer outro problema de saúde, uma medicação errada pode trazer outros
problemas para a saúde do paciente.
Uma das mais notáveis características da descrição de um paciente com
Transtorno do Pânico é a natureza física dos sintomas. Ao contrário do Transtorno de
Ansiedade Generalizada, onde a preocupação e tensão são predominantes, pacientes
com Transtorno do Pânico invariavelmente começam descrevendo a doença com
referência ao pulmão, coração, trato gastrointestinal e “nervos”. O número de queixas
físicas puras no Transtorno do Pânico o distingue das queixas mais “emocionais” dos
pacientes com transtorno de ansiedade generalizada
g) Transtorno de Ansiedade Generalizada
O início deste transtorno costuma ser insidioso, muitas vezes os pacientes têm
dificuldade em precisar quando começou e referem que foi se agravando até se tornar
intolerável, época em que procuram atendimento. Tem como característica a ansiedade
crônica, preocupações irrealistas ou excessivas, com sintomas somáticos. Apreensão:
preocupação com desgraças, perdas. Tensão motora: inquietação, tremores.
Hiperatividade autonômica: sensação de cabeça leve, sudorese, taquicardia...
Tratamento: ansiolíticos e psicoterapia.
h) Fobias Específicas
Fobias específicas são definidas pela presença de medo excessivo e persistente
relacionado a um determinado objeto ou situação, é restrita a situações específicas
como: Chuva, Animais, Altura, Escuridão, Sangue, Espaços fechados.
Diante do estímulo fóbico, o indivíduo apresenta quadro de ansiedade aguda,
procurando esquivar-se do estímulo aversivo. Apresenta sintomas como: Desespero;
Imobilidade; Agitação psicomotora; Ou até mesmo um ataque de pânico. Geralmente
inicia na infância, e quase não são tratadas.
Tratamento: Psicoterapia/ dessensibilização.
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i) Fobia Social
Fobia: Medo excessivo, imensurável de um objeto ou situação, esquiva e
ansiedade antecipatória. Medo patológico de agir de forma ridícula em público: comer,
beber, falar, enrubescer. Começa no início da adolescência; podendo ser restrita a algo
ou generalizada.
j) Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TCO)
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é um transtorno comum, crônico e
duradouro. É caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões. Obsessões são
pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como
intrusivos e indesejados. Compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais
em que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de
acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente. O Transtorno Obsessivo
Compulsivo é considerado uma doença mental grave. Ela está entre as dez maiores
causas de incapacitação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Estima-se que
cerca de 4 milhões de brasileiros sofram com a doença. São rituais (pensamentos e
ações) desagradavelmente repetidos, e incontroláveis. O ritual é uma forma de evitar o
pensamento obsessivo (lavar as mãos várias vezes antes de comer, para não se
envenenar e morrer). Surgem na adolescência ou início da vida adulta. Prognóstico ruim,
raramente consegue-se 80 % de melhora. Tratamento: Psicoterapia, antidepressivos e
antipsicóticos.
k) Transtorno de Estresse Pós-Traumático
O transtorno do estresse pós- traumático (TEPT) é uma entidade nosológica
distinta, onde o indivíduo deve ter sido exposto a um evento traumático (guerras,
tortura, estupro, experiência de combate, desastres naturais ou ocasionados pelo
homem, acidentes automobilísticos, estresse do trabalho). O quadro sintomático
completo deve estar presente por mais de 1 mês e a perturbação deve causar sofrimento
ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, ocupacional ou outras
áreas importantes da vida do indivíduo.
As comorbidades mais frequentes ao TEPT são: transtorno depressivo maior,
tentativa de suicídio, abuso de substâncias, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno
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do pânico.
Diretrizes Diagnósticas da CID -10 para Transtorno de Estresse Pós-Traumático
são: Repetidas revivências do trauma sobre forma de memórias intrusas (flash back) ou
sonhos. Medo e evitação de indicativos que relembrem ao paciente o trauma original.
A Ansiedade e a Depressão estão comumente associadas aos sintomas. O início segue ao
trauma com um período de latência que pode variar de poucas semanas a meses (mas
raramente excede seis meses). Pode apresentar curso crônico.
3. Estresse
O estresse não é uma doença, mas o estado do organismo submetido a tensão,
com participação de componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações
psicofisiológicas que podem ocorrer em situações de confronto, medo, ira, excitação,
indecisão e até situação de extrema felicidade.
Também pode ser definido como uma relação particular entre uma pessoa, o meio
em que vive e as circunstâncias as quais está submetida. Onde a própria pessoa avalia a
situação vivenciada como uma ameaça, ou algo que exige dela esforço, que coloca em
perigo seu bem-estar.
Como é a resposta do nosso corpo ao estresse?
Em geral as pessoas respondem de modo semelhante ao estresse. O início do estresse
é através de um longo processo bioquímico, que se instala independente da causa da
tensão. Várias são as respostas ao estresse: Taquicardia, Sudorese Excessiva, Tensão
Muscular, Boca Seca, Sensação de Estado de Alerta, etc.
Fonte do estresse – É qualquer situação advinda de um estado emocional forte,
que quebra a homeostase interna e exija adaptação.
Estressores internos: Frio, Fome e Dor.
Estressores externos: Fatores psicossociais relacionado com a história de
vida/adaptação.
Efeitos Causados pelos Elementos Estressores
Adoecimento- sobrecarga dos órgãos vitais; Imunidade - enfraquecimento do
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sistema de defesa; Redução no desempenho do trabalho; Perdas nas relações
sociais e afetivas; Prejuízo da qualidade de vida.
Causas
Excesso de atividades/ má distribuição do tempo; Acúmulo de raiva e sentimentos
negativos; Problemas de relacionamento; Descontrole diante de situações críticas;
Preocupação excessiva; Falta de descanso ou lazer; Dificuldades em lidar com
perdas.
Fases do Estresse:
1ª Fase de Alerta: São alterações fisiológicas que preparam o organismo para enfrentar
as excitações, incômodos ou ameaças.
É um confronto inicial com o estressor, é uma reação de alerta que se instala no
organismo, eliciando comportamento de luta ou fuga.
SONO: Muita dificuldade para pegar no sono e agitação na hora de dormir.
ORGANISMO: Músculos retesados, taquicardia, suor, perda do apetite, respiração
ofegante (tensão se reflete na mente), boca seca, nó no estômago.
TRABALHO: No trabalho, grande produtividade e criatividade (vara a noite sem
dificuldades).
SEXO: muita energia sexual. O sexo funciona como relaxante.
HUMOR: Eufórico, sensação de poder. Pode ter grande irritabilidade.
2ª Fase de Resistência: É uma fase mais acentuada, o organismo já apresenta doença,
precisando de acompanhamento médico e/ou psicológico.
Se o estressor permanece ou se ele é intenso, mas não letal, o organismo tenta
restabelecer seu equilíbrio interno, reparar o dano.
SONO: Normalizado, pois o organismo utiliza a energia para eliminar os sintomas e
mascarar o estresse.
ORGANISMO: Cansado, mesmo tendo dormido bem. A memória começa a falhar.
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Sensação de estar doente.
TRABALHO: Produtividade e criatividade voltam ao usual, mas sem grandes ideias.
SEXO: A libido começa a baixar, o sexo já não desperta tanto interesse.
HUMOR: Obcecado pela fonte do stress. Torna-se repetitivo e fica chato. Pode ter início
o uso abusivo de medicamentos e bebidas alcoólicas.
3ª Fase de Exaustão: Esta fase é muito perigosa: Surgem severas alterações físicas ou
cerebrais com risco de doenças crônicas, risco de morte através de infarto, hemorragia
cerebral, úlcera perfurada, suicídio, etc.
Quando o estressor perdura, e ocorrem outros estressores cumulativos, o processo
evolui, há exaustão psicológica, começam a aparecer doenças e pode levar a morte.
SONO: Tem dificuldade para pegar no sono, dorme pouco, acorda muito cedo sem se
sentir revigorado.
ORGANISMO: Desgastado. Podem surgir doenças graves, como depressão, úlceras,
pressão alta, diabetes e infarto, e em casos raros, até morte súbita.
TRABALHO: Não consegue concentrar-se nem tomar decisões. Produção quase nula,
perda do interesse pelo trabalho; fobia ao ambiente de trabalho e à farda.
SEXO: Desejo praticamente nulo.
HUMOR: Apático, foge dos amigos e perde o senso de humor. Falta de vontade para
participar de atividades usuais. Pode ficar agressivo e perder o senso de realidade. Vários
pensam em morrer.
Prevenção do estresse:
Alimente-se de maneira saudável e em períodos regulares.
Não faça uso de tranquilizantes sem orientação médica.
Mantenha, pelo menos, uma atividade física periódica, com orientação médica.
Administre seu tempo realizando uma atividade por vez.
Programe e tire férias anuais.
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Crie e mantenha atividades de lazer; durma o suficiente para o seu descanso.
Reavalie suas atividades e modo de pensar.
Evite o fumo, café e bebidas alcoólicas.
Resolva os problemas de forma racional, encarando-os positivamente.
Delegue atividades e aprenda a trabalhar em grupos.
Procure ser mais compreensivo e menos exigente.
Mantenha a mente alerta e o corpo relaxado.
Desenvolva um bom relacionamento interpessoal.
Procure conhecer seu organismo e respeite-o, não ultrapassando seus limites.
Melhore a qualidade de sua vida.
Procure ajuda de profissionais especializados (médicos clínico-gerais e/ou psiquiatras,
psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, etc.).
Procure uma convivência harmoniosa com a família.
Como lidar com os agentes Estressores?
A mudança de atitudes inclui principalmente evitar crenças geradoras do estresse. É
necessário ser aprovado ou estimado por todas as pessoas que são importantes em
nossas vidas. Devemos ser “perfeitos”, para sermos considerados pessoas de valor.
Devemos controlar tudo e todos o tempo todo. É melhor evitar do que enfrentar
dificuldades e responsabilidades pessoais na vida. Preocupamo-nos com os problemas
dos outros, procurando resolvê-los. Minha felicidade depende das outras pessoas.
4. Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout é uma doença relacionada ao trabalho. Trata-se de um
estado de exaustão física, emocional e mental, causado pela discrepância entre as
expectativas do indivíduo e a sua vivência no trabalho. É o resultado final de um
processo gradativo de desilusão, vivenciado pelos indivíduos diante da impossibilidade
de derivar do seu trabalho um sentido existencial.
O burnout é a resposta a um estado prolongado de estresse, ocorre pela
cronificação deste, quando os métodos de enfrentamento falharam ou foram
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insuficientes. Enquanto o estresse pode apresentar aspectos positivos ou negativos, o
burnout tem sempre um caráter negativo (distresse). Se, por um lado, o estresse
pode estar relacionado a qualquer acontecimento que exija uma grande necessidade de
adaptação do indivíduo (ex: estudos, casamento, divórcio, falecimento de um ente
querido, problemas financeiros...), o burnout está SEMPRE relacionado ao trabalho.
É mais comum em profissões que exigem o contato direto com pessoas, tais
como: professores, assistentes sociais, bancários, enfermeiros, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas, médicos e dentistas, policiais, bombeiros, agentes penitenciários,
recepcionistas, gerentes, atendentes de telemarketing, motoristas de ônibus, dentre
outros.
O burnout pode ser causado por estresse em excesso, mas não é a mesma coisa.
E mesmo que o estresse seja um pré-requisito para o burnout, este não será
necessariamente causado por muito estresse. Para que o burnout ocorra, deve existir um
fator psicológico adicional.
São consequências do burnout: exaustão emocional (resultante das demandas
emocionais no relacionamento do profissional com os usuários dos seus serviços);
despersonalização (atitude do profissional para se distanciar do estresse gerado na
relação com o usuário, tratamento do cliente como objeto e não como pessoa); baixa
realização pessoal (avaliação negativa do profissional de seu desempenho no trabalho
e de seu relacionamento com o público)
O burnout é desenvolvido por indivíduos motivados, com altos objetivos pessoais e
expectativas acerca do que o trabalho pode prover. Pessoas com baixa motivação podem
experimentar estresse, alienação, depressão ou fadiga, mas não o burnout.
São sintomas do burnout:
Físicos: Fadiga constante, Distúrbios do sono, Dores musculares ou osteomusculares,
Cefaleias, Enxaquecas, Perturbações gastrointestinais, Imunodeficiência, Transtornos
cardiovasculares, Disfunções sexuais.
Psicológicos: Falta de atenção e concentração, Alterações de memória, Lentificação do
pensamento, Sentimento de alienação, Sentimento de solidão, Impaciência Baixa
autoestima, Desânimo, Depressão.
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OBS: a diferença da depressão presente no burnout daquela característica do transtorno
de humor é que, no burnout, o sentimento de tristeza e apatia está relacionado
SOMENTE com o trabalho. Já no transtorno de humor, a depressão é sentida com relação
à vida de uma forma geral. Tristeza e apatia se fazem presentes em QUALQUER situação
da vida do indivíduo que, antes, era tida como prazer. O estado depressivo no burnout é
temporário e orientado para uma situação precisa na vida da pessoa e afeta apenas o
campo profissional, enquanto a depressão atinge todas as áreas da vida do indivíduo.
Comportamentais: Negligência, Irritabilidade, Agressividade, Incapacidade para
relaxar, Dificuldade na aceitação de mudanças, Perda de iniciativa, Aumento do consumo
de substâncias (álcool, drogas...), Comportamento de alto risco, Suicídio (em casos
extremos).
Tratamento
Uma vez estabelecido o diagnóstico, o tratamento poderá ser realizado visando à
recuperação do indivíduo, através do uso de medicamentos (quando necessário) e
medidas psicoterapêuticas individuais e/ou em grupo. A psicoterapia promove o
autoconhecimento, favorecendo o desenvolvimento de melhores estratégias de
enfrentamento frente às dificuldades da vida. O uso de medicamentos melhora os
sintomas de ansiedade e depressão.
Além do tratamento individual dos trabalhadores afetados, medidas de
reorganização do trabalho, como o incentivo à comunicação na instituição para acabar
com o isolamento das pessoas sob risco de desenvolverem a síndrome do esgotamento
profissional, são bastante eficazes.
Como tentativa de aliviar os sintomas decorrentes da síndrome, a pessoa pode
recorrer ao uso de álcool, drogas e em caso extremo, ao suicídio. Por isso, intervenções
precoces são necessárias para evitar o agravamento do caso, e elas devem ocorrer tanto
no âmbito da instituição de trabalho (reorganização das atividades, mudança da cultura
organizacional, aprimoramento do sistema de recompensas) quanto individual
(fortalecimento das estratégias de enfrentamento, melhora da autoestima).
O tratamento da síndrome de burnout inclui uma mudança no estilo de vida, para
um modo mais moderado de viver. Cuidados com a saúde, sono e alimentação são
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imprescindíveis, assim como praticar exercícios físicos regularmente e manter uma vida
social ativa.
5. Dependência Química
a) Transtornos mentais pelo uso de substâncias psicoativas
Uma substância psicoativa é qualquer substância química que, quando ingerida,
modifica uma ou várias funções do SNC (Sistema Nervoso Central), produzindo efeitos
psíquicos e comportamentais. São substâncias psicoativas: álcool, maconha, cocaína,
café, chá, diazepam, nicotina, heroína, etc. As substâncias psicoativas produzem, de
modo geral, uma sensação de prazer ou excitação, cuja correspondência cerebral está
vinculada às chamadas áreas de recompensa do cérebro, como o nucleus accumbens, a
área tegumentar e o locus ceruleus (Sadock; Sadock, 2007).
A intoxicação é definida como uma síndrome reversível específica (alterações
comportamentais ou mentais, como prejuízo do nível de consciência e outras alterações
cognitivas, beligerância, agressividade e/ou humor instável) causada por substância
psicoativa recentemente ingerida.
O abuso de substâncias psicoativas ocorre quando há uso recorrente ou contínuo
de uma substância psicoativa, uso este que é lesivo ou mal adaptativo (levando a
prejuízos ou sofrimento clinicamente significativos). Tal uso produz prejuízos ao sujeito
em sua vida familiar, no trabalho ou na escola (ausência ao trabalho, fracasso escolar,
brigas familiares, etc.). Também ocorre de forma recorrente em situações nas quais há
perigo para a integridade física do sujeito (dirigir veículos, ter atividade sexual com
desconhecido, operar máquinas, etc.) e pode implicar problemas legais (Sadock; Sadock,
2007).
O conceito de uso nocivo de uma substância psicoativa é mais restrito que o de
abuso. Refere-se a um padrão de uso que causa dano à saúde física (esofagite ou
hepatite alcoólica, bronquite por tabagismo) ou mental (depressão associada a pesado
consumo de álcool) (OMS, 1993).
Fissura (correspondente ao craving, em inglês) é o termo que se dá ao desejo
intenso de usar uma substância.
A tolerância refere-se à diminuição do efeito de uma substância depois de
36
repetidas administrações. O organismo passa a necessitar de quantidades cada vez
maiores da substância para que se obtenha o mesmo nível inicial de seu efeito. As
substâncias que produzem tolerância tendem a gerar mais dependência física;
entretanto, há substâncias químicas que produzem rápida tolerância (como o LSD), mas
que não ocasionam dependência física significativa.
A síndrome de abstinência é o conjunto de sinais e sintomas que ocorrem horas
ou dias após o indivíduo cessar ou reduzir a ingestão da substância que vinha sendo
consumida geralmente de forma pesada e contínua (APA, 2002). Para cada substância ou
grupo de substâncias, há diferentes sinais e sintomas de abstinência. No entanto,
observam-se com certa frequência os seguintes sintomas gerais de abstinência:
ansiedade, inquietação, náuseas, tremor, sudorese, podendo, nos casos muito graves,
ocorrer convulsões, coma e morte.
A dependência a substâncias psicoativas é definida como um padrão mal
adaptativo de uso de substâncias em que há repercussões psicológicas, físicas e sociais
que resultam da interação entre o ser humano e uma substância psicoativa. Além de tais
repercussões, a dependência inclui fenômenos como a tolerância, sintomas de
abstinência, uso contínuo ou muito frequente de quantidades significativas da substância
(geralmente maiores que as pretendidas pelo sujeito). Há, na dependência, um grande
envolvimento do sujeito com a substância; ele gasta muito tempo (e interesse afetivo)
em atividades que implicam a obtenção ou o consumo da substância. Tipicamente o
sujeito estreita seu repertório de interesses, abandonando outras atividades sociais,
pessoais e ocupacionais que não envolvam o consumo. Finalmente, na dependência,
embora o indivíduo possa ter consciência (mesmo que apenas parcial) dos problemas
físicos, psicológicos e sociais que a substância produz em sua vida, o uso permanece
contínuo (APA, 2002).
Com o desenvolvimento da dependência, ocorre, principalmente para as
substâncias ilegais, aumento da preocupação e de atitudes que visam a sua aquisição.
Vai se intensificando uma redução dos interesses do indivíduo por questões não
relacionadas à substância (redução do repertório), passando o sujeito a dedicar todo o
seu tempo e sua energia para localizá-la, adquiri-la e consumi-la. Essa obsessão pela
substância o leva a negligenciar outros aspectos de sua vida e a desinteressar-se por
assuntos e pessoas que antes lhe despertavam atenção e interesse (Frances; Franklin,
37
1989). A diminuição da autoestima é um ponto importante da síndrome de dependência
de substâncias psicoativas. Ela ocorre associada com redução dos interesses,
deterioração dos cuidados consigo mesmo, perda de vínculos sociais (que não
relacionados à substância) e envolvimento com atividades criminosas para obtê-la. Essa
diminuição da autoestima relaciona-se também com perda do auto respeito, sentimentos
de vazio e de solidão e depressão.
Alguns dependentes tornam-se desnutridos, descuidam-se do vestuário, da higiene
e dos dentes e têm vida sexual promíscua (que é um fator importante para a
contaminação por doenças como a AIDS e a sífilis). Assim como o envolvimento com a
substância acaba por tornar-se compulsório, o processo de recuperação implica envolver-
se afetivamente em outras atividades e desenvolver relações afetivas com pessoas
significativas, reconquistando, assim, a autoestima.
b) Alcoolismo ou síndrome de dependência de álcool
Bebidas alcoólicas têm sido utilizadas pelos seres humanos desde o início da
história. O abuso e a dependência de álcool, que ganhou proporções epidêmicas nos
últimos séculos, têm algumas particularidades relevantes, dignas de serem aqui
discutidas. O álcool é uma substância que produz, ao longo dos anos, significativa
tolerância e dependência física. O abuso do álcool caracteriza-se por um padrão
patológico de ingestão repetitiva de bebidas alcoólicas (padrão mais qualitativo que
quantitativo), ocorrendo repercussões sobre a saúde física, sobre o bem-estar psicológico
e sobre o funcionamento familiar e profissional (Ramos; Bertolote, 1997). Já a síndrome
de dependência de álcool (SDA) é definida como um estado psíquico e físico resultante
da ingestão repetitiva de álcool, incluindo a compulsão para ingerir bebidas alcoólicas de
modo contínuo ou periódico, havendo a perda do controle. O fenômeno de tolerância
geralmente está presente. Os aspectos característicos da SDA são:
1. Empobrecimento do repertório. O padrão de ingestão de álcool é cada vez
mais estereotipado e repetitivo.
2. Relevância da bebida. O indivíduo não obtém gratificação de outras fontes,
apenas do álcool.
3. Aumento da tolerância ao álcool. A tolerância é cada vez maior, podendo
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diminuir nas fases terminais do alcoolismo.
4. Sintomas repetitivos de abstinência. O indivíduo vai acrescentando ao seu
curriculum os vários episódios de abstinência ao álcool ou mesmo de delirium tremens.
5. Esquiva ou busca de alívio para os sintomas de abstinência. O indivíduo
passa a apresentar o comportamento de beber logo pela manhã para aliviar o
desconforto de uma abstinência incipiente.
6. Compulsão para beber. É entendida como sinônimo de perda do controle.
7. Reinstalação mais rápida da tolerância após a abstinência. O fenômeno
de tolerância, que inicialmente demora anos para se instalar, pode reinstalar-se com
muita rapidez em alcoolistas após meses de abstinência.
8. Negação. O alcoolista crônico, embora muitas vezes já se apresente
gravemente comprometido pelo uso regular do álcool, tanto do ponto de vista físico como
psicossocial, nega terminantemente que o álcool seja um problema em sua vida, que
abusa do álcool, que não consegue parar de beber, que é dependente e que perdeu o
controle sobre o seu padrão de ingesta (Duffy, 1995).
Epidemiologia: O álcool é a droga psicoativa mais utilizada em todo o mundo. Segundo
a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que a prevalência esteja em torno de
15% da população. No Brasil, existem 18 milhões de alcoolistas e atinge três homens
para cada mulher.
Diagnóstico: Os alcoolistas apresentam um funcionamento social ou ocupacional
comprometido por fatores como: Violência enquanto intoxicado; faltas ao trabalho; perda
de emprego; dificuldades legais; acidentes de trabalho e de tráfego; discussões com a
família ou amigos por causa do uso excessivo.
c) Principais transtornos mentais induzidos pelo álcool
INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA: Consumo excessivo de álcool em um curto espaço de
tempo; Os sinais podem ser: Neurológicos; Psíquicos; Comportamentais. Os traços de
personalidade como timidez ou desconfiança, podem ser exagerados ou reduzidos. O
início é súbito, com comportamento hostil e agressivo. O episódio é de curta duração e
há amnésia subsequente.
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SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA: Sintomas frequentemente se caracterizam
por: Tremores (mãos, língua e pálpebras); Náuseas; Vômitos e mal estar; Taquicardia;
Sudorese; Aumento de pressão arterial. Em geral desaparece após sete dias.
TRATAMENTO DO ALCOOLISMO CRÔNICO: É um transtorno de difícil tratamento, as
recaídas são frequentes e desanimadoras. O objetivo é evitar o impulso irresistível para
beber. A técnica: é o tratamento múltiplo, que envolve a associação de psicoterapia
individual, de grupo e de família; uso de medicamentos.
Grupos de alcoolistas anônimos (AA) é uma comunidade voluntária, que desenvolve
apoio e orientação aos alcoolistas e familiar.
6. Suicídio
O que é suicídio?
O suicídio configura-se como morte intencional auto infligida. Isto é, quando a
pessoa decide tirar sua própria vida.
O Suicídio é um problema complexo para o qual não existe uma única causa ou
uma única razão. Ele resulta de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos,
psicológicos, sociais, culturais e ambientais.
É difícil explicar porque algumas pessoas decidem cometer suicídio, enquanto
outras em situação similar ou pior não o fazem. Contudo a maioria dos suicídios pode ser
prevenida. Suicídio é agora uma grande questão de Saúde Pública em todos os países.
Capacitar a equipe de atenção primária à saúde para identificar, abordar, manejar e
encaminhar um suicida na comunidade é um passo importante na prevenção do suicídio.
Suicídio e transtornos mentais
Estudos tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento revelam dois
importantes fatores relacionados ao suicídio. Primeiro, a maioria das pessoas que
cometeu suicídio tem um transtorno mental diagnosticável. Segundo, suicídio e
comportamento suicida são mais frequentes em pacientes psiquiátricos. Esses são os
grupos diagnósticos, em ordem decrescente de risco de: depressão (todas as formas);
transtorno de personalidade (antissocial e borderline com traços de impulsividade,
agressividade e frequentes alterações do humor); alcoolismo (e/ou abuso de substância
em adolescentes); esquizofrenia; transtorno mental orgânico.
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O estado mental e o suicídio
Três características em particular são próprias do estado das mentes suicidas:
1. Ambivalência: A maioria das pessoas já teve sentimentos confusos de cometer
suicídio. O desejo de viver e o desejo de morrer batalham numa gangorra nos indivíduos
suicidas. Há uma urgência de sair da dor de viver e um desejo de viver. Muitas pessoas
suicidas não querem realmente morrer – é somente porque elas estão infelizes com a
vida. Se for dado apoio emocional e o desejo de viver aumentar, o risco de suicídio
diminui.
2. Impulsividade: Suicídio é também um ato impulsivo. Como qualquer outro impulso,
o impulso para cometer suicídio é transitório, dura alguns minutos ou horas. É
usualmente desencadeado por eventos negativos do dia-a-dia.
Acalmando tal crise e ganhando tempo, o profissional da saúde pode ajudar a diminuir o
desejo suicida.
3. Rigidez: Quando pessoas são suicidas, seus pensamentos, sentimentos e ações estão
constritos, quer dizer: elas constantemente pensam sobre suicídio e não são capazes de
perceber outras maneiras de sair do problema. Elas pensam rígida e drasticamente.
A maioria das pessoas suicidas comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas
frequentemente dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de
não valer pra nada”, e assim por diante. Todos estes pedidos de ajuda não podem ser
ignorados. Quaisquer que sejam os problemas, os sentimentos e pensamentos da pessoa
suicida tendem a serem os mesmos em todo o mundo.
Sentimentos
Pensamentos
Tristeza, depressão “Eu preferia estar morto”
Solidão “Eu não posso fazer nada”
Desamparo “Eu não aguento mais”
Desesperança “Eu sou um perdedor e um peso pros outros.”
Autodesvalorização “Os outros vão ser mais felizes sem mim”.
O comportamento suicida pode ser prevenido e, para isso, um bom planejamento
e a criação de programas envolvendo diversos profissionais qualificados para tal fim são
necessários. A comunidade, evidentemente, deve ser trabalhada conjuntamente. Não só
podemos trabalhar com os profissionais que estão no posto de saúde, mas também com
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os voluntários que desenvolvem algum tipo de trabalho nos bairros, com igrejas,
organizações não governamentais (ONGs). A prevenção do comportamento suicida é um
grande desafio não só para a Psicologia, mas para toda a sociedade, por ser um desafio
social, econômico e político.
Os principais fatores de risco para o suicídio são história de tentativa de suicídio e
transtorno mental. O uso de drogas, principalmente do álcool, aumenta a impulsividade
e, com isso, o risco de suicídio.
Existem estágios no desenvolvimento da intenção suicida, iniciando-se geralmente
com pensamentos/ideação de morte, após com um plano e finalizando com o ato de
morte. É importante considerar que para cada suicídio cometido existiram em média, de
10 a 20 tentativas anteriores.
Portanto, é falso afirmar que “quem fala não faz”. É preciso ficar atento aos sinais,
àquilo que a pessoa fala ou faz que indique desejo de morrer.
Estima-se que de 15 a 25% das pessoas que tentam suicídio cometem nova
tentativa no ano seguinte, 10% conseguem consumar o ato em algum momento no
período de 10 anos, compreendido entre a tentativa anterior e o suicídio consumado.
Ao longo da vida, de cada 100 pessoas, 17 chegam a pensar em suicídio, cinco a
planejar, três tentam e apenas uma pessoa chega a ser atendida em um pronto-socorro.
Contudo, não podemos esquecer que o ato suicida nem sempre envolve
planejamento, a pessoa pode cometer suicídio sem ter demonstrado previamente esta
intenção, porém, estes casos são minorias. Na grande maioria dos casos de suicídio, as
pessoas dão sinais de sua intenção.
Entre todos estes grupos, o de maior risco é o das pessoas que já tentaram o
suicídio. Apenas uma em cada três delas chega aos serviços de pronto-socorro (urgência
e emergência), recebe o primeiro atendimento, mas nem sempre é encaminhada para
serviços de saúde mental onde pode receber cuidados adequados. Sem tais cuidados, a
maioria dessas pessoas pode voltar a tentar o suicídio.
7. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
A qualidade de vida no trabalho proporciona uma maior participação por
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parte dos colaboradores, criando um ambiente de integração com superiores, com
colegas de trabalho, com o próprio ambiente de trabalho, visando sempre a compreensão
das necessidades dos colaboradores. A QVT se preocupa principalmente com dois
aspectos importantes que é o bem estar do trabalhador e com a eficácia organizacional.
Com a necessidade das empresas se tornarem mais competitivas no mercado veio à
busca incessante da qualidade total.
Acompanhando esta qualidade total também surgiu a QVT, que está
focalizada no potencial humano e no meio que convive em todos os sentidos. Um
programa adequado de QVT busca uma organização mais humanizada e proporciona
condições de desenvolvimento pessoal ao indivíduo.
O mundo vive hoje um momento de transição fantástico que se reflete na
busca incessante pelo incremento da competitividade organizacional. Tal desafio, por sua
vez, pode ser apontado como um dos responsáveis pela necessidade da qualidade. É
importante ressaltar que o ser humano traz consigo sentimentos, ambições; cria
expectativas, envolve-se, busca o crescimento dentro daquilo que desenvolve e realiza.
Então, é preciso que deixemos de lado aquela ideia de que o homem trabalha tão
somente para a obtenção do salário, que nega seus sentimentos, que não se frustra com
a falta de crescimento, que não se aborrece com o total descaso dos seus gestores que
apenas lhe cobram a tarefa e não o orientam para a real situação da empresa, que lhe
negam o acesso às informações, que o tratam apenas como uma peça a mais no
processo de produção. É necessário que saibamos que, cada vez que ele entra na
empresa, está entrando um “ser” integrado e indivisível, com direito a todos os sonhos
de autoestima e auto realização.
A inteligência emocional é a aptidão mestra – é ela
que determina como nos saímos na vida, aumentando
nossa capacidade de fazer planos, alcançar metas,
solucionar problemas e sentir prazer com o que fazemos.
Daniel Goleman
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Glossário
Agorafobia – é um transtorno de ansiedade muito comum nos quadros de síndrome do
pânico e refere-se ao medo de andar nas ruas, dificuldade de sair sozinho de casa,
dificuldade de ir a certos lugares como mercados ou cinema pois sente forte apreensão
difícil de compreender e muitas vezes surge a necessidade de ter alguém ao lado para
lhe dar segurança.
Belicoso – Guerreiro; de ânimo aguerrido; disposto para a guerra.
Comorbidade – Designação de duplo diagnóstico. Corresponde a associação de pelo
menos duas patologias num mesmo paciente.
Despersonalização – Processo psíquico no qual surge a impressão de que se é
estranho a si mesmo, de que o sentir e o agir carecem de participação ativa, efetuando-
se de modo quase automático; ocorre também a sensação de que o corpo ou algumas de
suas partes não formam uma unidade.
Dessensibilização – tratamento que visa diminuir a sensibilidade alérgica de um
indivíduo através da inoculação de doses, no início mínimas e depois progressivamente
crescentes, do antígeno que gera o fenômeno alérgico.
Distresse é um termo da psicologia e psiquiatria para o estresse excessivo, ou seja, que
é maior que o necessário a ponto de causar problemas sofrimento. Nem todo estresse é
negativo, o estresse benéfico é chamado de eustresse.
Endofenótipos – é um conceito na análise da genética dos transtornos mentais e do
desenvolvimento, sendo um tipo especial de biomarcadores
(substância que pode ser medida e indica a ocorrência de processos biológicos - normais
ou patológicos ou respostas farmacológicas a intervenções terapêuticas. Seu propósito é
dividir os sintomas em fenótipos mais estáveis e com uma ligação mais próxima com os
genes.
Estereótipo – Ideia, conceito ou modelo que se estabelece como padrão. Ideia de
Preconceito. Coisa que não é original e se limita a seguir modelos conhecidos.
Logorréia – compulsão para falar, loquacidade exagerada que se nota em determinados
casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande
número de ideias que passam por sua cabeça.
Metamotivação – Refere-se à necessidade de crescimento e a um comportamento
inspirado por valores, e está presente comumente em pessoas auto- atualizadoras, as
quais já estão devidamente gratificadas em suas necessidades inferiores.
Nosológica – Parte da Medicina que descreve, estuda e classifica as doenças.
Obstipação, também chamada de prisão de ventre ou constipação intestinal, é
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caracterizada pela dificuldade constante ou eventual da evacuação das fezes, que se
tornam ressecadas.
Resiliência – A resiliência é um aspecto psicológico, definido como a capacidade de o
indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações
adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico.
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https://www.youtube.com/watch?v=ZXxyb1moHZk “Entre Quatro Paredes” – Huis Clos – Jean Paul Sartre
– YouTube.