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LFG – CIVIL – Aula 05 – Prof. Pablo Stolze – Intensivo I – 26/02/2009 2. DOS BENS JURÍDICOS – PARTE GERAL 2.1. Bem Jurídico: Conceito Não é matéria pacífica ou assentada na doutrina, dado seu cunho filosófico. “Com base na doutrina de Orlando Gomes, bem jurídico é toda utilidade física ou ideal, objeto de um direito subjetivo.” A grande discussão começa não tanto no conceito, mas na diferença entre bem e coisa. 2.2. Bem x Coisa Há divergência doutrinária sobre as definições de bem e de coisa. o Segundo Maria Helena Diniz, acompanhada por Silvio Venosa, a noção de coisa é mais abrangente do que a de bem. o Orlando Gomes afirma o contrário: bem é gênero e coisa é espécie. o Washington de Barros Monteiro, por sua vez, refere que pode haver sinonímia. Em prova, dizer que não há consenso na doutrina, mas é preciso se posicionar. A linha que mas adotada é a de Orlando Gomes, que segue o direito alemão. “Na linha do direito alemão, conforme parágrafo 90, do Código Alemão, a noção de coisa restringe-se a objetos corpóreos.” Ou seja, na linha do direito alemão, a coisa é o objeto corpóreo. De forma que bem jurídico é mais abrangente do que coisa. Isso porque o bem jurídico englobaria as utilidades corpóreas (coisas) e também as ideais, imateriais. Por isso Orlando Gomes diz que bem é gênero, já que se refere a utilidades físicas (coisas) e a utilidades ideais (imateriais). Isso porque no momento que você afirma que coisa tem sentido 69

Apostila. Alunos. Bens Jurídicos, Teoria Do Fato e Do Negócio Jurídico

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Bibliografia:

LFG CIVIL Aula 05 Prof. Pablo Stolze Intensivo I 26/02/2009

2.DOS BENS JURDICOS PARTE GERAL

2.1.Bem Jurdico: Conceito

No matria pacfica ou assentada na doutrina, dado seu cunho filosfico.

Com base na doutrina de Orlando Gomes, bem jurdico toda utilidade fsica ou ideal, objeto de um direito subjetivo.

A grande discusso comea no tanto no conceito, mas na diferena entre bem e coisa.

2.2.Bem x Coisa

H divergncia doutrinria sobre as definies de bem e de coisa. Segundo Maria Helena Diniz, acompanhada por Silvio Venosa, a noo de coisa mais abrangente do que a de bem.

Orlando Gomes afirma o contrrio: bem gnero e coisa espcie.

Washington de Barros Monteiro, por sua vez, refere que pode haver sinonmia.

Em prova, dizer que no h consenso na doutrina, mas preciso se posicionar. A linha que mas adotada a de Orlando Gomes, que segue o direito alemo.

Na linha do direito alemo, conforme pargrafo 90, do Cdigo Alemo, a noo de coisa restringe-se a objetos corpreos.

Ou seja, na linha do direito alemo, a coisa o objeto corpreo. De forma que bem jurdico mais abrangente do que coisa. Isso porque o bem jurdico englobaria as utilidades corpreas (coisas) e tambm as ideais, imateriais. Por isso Orlando Gomes diz que bem gnero, j que se refere a utilidades fsicas (coisas) e a utilidades ideais (imateriais). Isso porque no momento que voc afirma que coisa tem sentido mais estrito, referindo-se a objetos corpreos fica mais precisa a resposta. Imagine o seguinte: essa caneta objeto do meu direito subjetivo de propriedade, porque objeto corpreo. Mas fica estranho dizer que minha honra, minha privacidade so coisas. Isso no casa bem. A coisa, da Orlando Gomes dizer, no sentido corpreo.

Conclui-se, ento, a noo de bem jurdico genrica, abrangendo utilidades materiais (coisas), bem como utilidades ideais (a exemplo da honra ou da prpria vida).

O prprio Cdigo Civil quando disciplina o tema da aula de hoje fala em bens jurdicos. No fala em coisas. Exatamente porque a noo de bem mais ampla do que de coisa.

2.3.Classificao dos bens jurdicos

Destacam-se, as seguintes: bem imvel por fora de lei (art. 80, CC); bem mvel por fora de lei (art. 83, CC); bem principal e acessrio.a) Bem imvel por fora de lei (art. 80, CC).

Art. 80. Consideram-se imveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imveis e as aes que os asseguram;

II - o direito sucesso aberta.

Aqui, no queira visualizar a lgica. Todo direito real incidente sobre um imvel, como uma hipoteca tem, por fora de lei natureza de direito imobilirio. Por isso tanto formalismo na lavratura da hipoteca. De igual forma, o direito sucesso aberta. Direito sucesso aberta, na forma do art. 80, II, de natureza imobiliria. Direito sucesso aberta direito herana e esse direito tem natureza imobiliria. Por que o direito herana tem essa natureza? O que mais simples, vender o carro ou a casa ou o herdeiro ceder o seu direito herana? O inventrio est correndo. O herdeiro de 1/3 da herana, precisando de dinheiro, quer vender a sua parte. E isso perfeitamente possvel. A cesso de direitos hereditrios possvel. Para fazer isso no inventrio h uma srie de formalismos. Tem que ser por escritura pblica e, segundo alguns, a outorga uxria. Isso porque Cdigo diz que o direito herana como se fosse imvel.

O direito herana, nos termos do inciso II, do art. 80, tem natureza imobiliria, isso explica a exigncia legal de escritura pblica para cesso de direito hereditrio (art. 1.793), bem como o fato de respeitvel doutrina (Francisco Cahali) sustentar a exigncia de outorga uxria na seo, nos termos do art. 1.647, do Cdigo Civil.OBS.: Ver no art. 81 situaes em que os bens no perdem a natureza de imveis.

Art. 81. No perdem o carter de imveis:

I - as edificaes que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;

II - os materiais provisoriamente separados de um prdio, para nele se reempregarem.

o caso, por exemplo, das casas premoldadas. As edificaes, quando separadas do solo, conservando sua unidade, so imveis. Simples, mas vez por outra isso cai.b) Bem mvel por fora de lei

Art. 83. Consideram-se mveis para os efeitos legais:

I - as energias que tenham valor econmico;

II - os direitos reais sobre objetos mveis e as aes correspondentes;

III - os direitos pessoais de carter patrimonial e respectivas aes.

As energias tm valor econmico e so consideradas bens mveis. Tanto assim, que energia eltrica pode ser objeto de furto.

Fui na CEF e contra emprstimo. Dei meu relgio em garantia. Dar em garantia no penhorar. empenhar. O direito de penhor que incide sobre o relgio um direito mobilirio. Tem natureza mobiliria um direito real sobre bem mvel.O direito de crdito, por exemplo, tambm mobilirio. Imvel que no ser.

OBS.: Os navios e as aeronaves so bens mveis especiais, uma vez que, por exceo, admitem hipoteca e tm registro peculiar.No queria entender muito. Esse formalismo decorre da segurana necessria. Na essncia, so bens mveis, mas embora mveis, admitem hipoteca e, por exceo, tm registro especfico.

Outro artigo que pegadinha de prova:

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construo, enquanto no forem empregados, conservam sua qualidade de mveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolio de algum prdio.

Se voc tirou o tijolo para reempregar, ele no perde a natureza de imvel. Mas se ele chegou e no foi empregado, ainda mvel. Se o prdio foi demolido, sobraram tijolos mveis, obviamente.OBS.: O Cdigo de Defesa do Consumidor, adotando peculiar classificao, subdivide os bens quanto ao direito potestativo de reclamar por vcio de qualidade (art. 26), subdivide os bens em durveis e no durveis.

O prazo, no CDC, para exercer direito potestativo para reclamar por vcio de qualidade, do produto ou do servio de bens durveis? O prazo decadencial para reclamar de 90 dias. E do bem no durvel, 30 dias.Existe a garantia do contrato que a empresa pode dar ou no. Independentemente da garantia que o contrato lhe d, o CDC sempre d a garantia de 30 e 90 dias.

c) Bens Principais e Acessrios

Bem principal o que existe por si mesmo e acessrio aquele cuja existncia pressupe a do principal, acompanhando-o, segundo o princpio da gravitao jurdica.O princpio da gravitao jurdica significa que o acessrio gravita em torno do principal. Dando destino ao bem principal, ir segui-lo o acessrio, salvo disposio em contrrio. Dentro dos bens acessrios, destacam-se as seguintes espcies: Frutos, produtos, pertenas e benfeitorias.

A classificao dos frutos est na apostila, mas o professor s vai falar nisso quando der efeitos da posse. Por enquanto, basta saber o que fruto:FRUTO uma utilidade renovvel, cuja percepo no esgota a substncia da coisa principal.O bezerro, em relao vaca. Uma fbrica gera manufaturados: frutos industriais. Aluguel fruto civil.

O PRODUTO, por sua vez, uma utilidade que no se renova e cuja percepo esgota a coisa principal.

Petrleo produto. No se renova. Carvo mineral tambm, j que no renovvel.

PERTENA (novidade de 2002) a coisa que, sem integrar a coisa principal, acopla-se ou justape-se a ela conservando a sua autonomia (art. 93, CC), servindo-a. No integra a coisa principal. Permanece guardando sua caracterstica funcional.

Art. 93. So pertenas os bens que, no constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao servio ou ao aformoseamento de outro.

Arcondicionado perfeito exemplo de pertena. Ele se acopla coisa principal. No parte integrante. No pode ser comparado tubulao de gua. A escada de incndio tambm uma pertena unida por acesso intelectual. Televisor fixado na parede pertena. No parte integrante da sala, pertena.

O rdio em relao ao carro pertena? Jos Fernando Simo, professor da USP afirma que sim, ressalvada a hiptese do rdio integrado de fbrica. Existem rdios que vm de fbrica e no h como tir-los. Uma pertena jamais ser parte integrante. Ela se acopla ao todo.

A BENFEITORIA toda obra realizada pelo homem, na estrutura de uma coisa com o propsito de conserva-la (necessria), melhora-la (til) ou embeleza-la (volupturia) (arts. 96 e 97, do CC).

Art. 96. As benfeitorias podem ser volupturias, teis ou necessrias.

1o So volupturias as de mero deleite ou recreio, que no aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradvel ou sejam de elevado valor.

2o So teis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.

3o So necessrias as que tm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.

Art. 97. No se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acrscimos sobrevindos ao bem sem a interveno do proprietrio, possuidor ou detentor.OBS.: No posso, luz das regras do Cdigo Civil, confundir acesso com benfeitoria (matria a ser desenvolvida na matria de direitos reais).Mas apenas para matar a curiosidade, o professor vai adiantar: Acesso tem duas caractersticas que afastam da benfeitoria. um modo de aquisio de propriedade imobiliria, ao passo que a benfeitoria um bem acessrio. A acesso implica aumento de volume da coisa principal. A benfeitoria no implica necessria e consideravelmente aumento de volume na coisa principal, uma fez que feita na prpria estrutura da coisa. A benfeitoria, em tese, no tem esse condo. As acesses podem ser artificiais ou naturais. As benfeitorias so sempre artificiais.Construo significa aumento de volume da coisa principal. Construo acesso e no benfeitoria. Um curral uma acesso. A benfeitoria no aumenta em volume a coisa principal. Mas o professor voltar a esse assunto.A piscina acesso ou benfeitoria? E sendo benfeitoria, til, necessria ou volupturia? Depende. Em geral, piscinas so benfeitorias volupturias. A piscina em escola, numa clnica necessria para a finalidade dela. Piscina elevada com bar molhado deixa de ser benfeitoria, passa a ser uma acesso.

LIVRO III - DOS FATOS JURDICOSTTULO I - DO NEGCIO JURDICO

CAPTULO I - DISPOSIES GERAIS

CAPTULO II - DA REPRESENTAO

CAPTULO III - DA CONDIO, DO TERMO E DO ENCARGO

CAPTULO IV - DOS DEFEITOS DO NEGCIO JURDICO

Seo I - Do Erro ou Ignorncia

Seo II - Do Dolo

Seo III - Da Coao

Seo IV - Do Estado de Perigo

Seo V - Da Leso

Seo VI -Da Fraude Contra CredoresCAPTULO V -DA INVALIDADE DO NEGCIO JURDICO1.TEORIA DO FATO JURDICO1.1.Fato jurdico: Conceito

Fato jurdico em sentido amplo todo acontecimento, natural ou humano apto a criar, modificar ou extinguir relaes jurdicas.

Essa matria essencialmente epistemolgica, variando de autor para autor. Mas com relao ao conceito de fato jurdico em sentido amplo, no costuma haver divergncia.

Agostinho Alvim dizia que fato jurdico todo fato relevante para o direito. Nem todo fato material fato jurdico, porque fato jurdico todo aquele relevante para o direito, que declare efeitos na rbita jurdica. Fato material sem consequncia jurdica: caneta que cai no cho. J a caneta arremessada contra algum, adquire roupagem jurdica.

comum perguntarem: qual a natureza jurdica disso ou daquilo. Natureza jurdica significa o que isso para o direito? Em que categoria voc enquadra isso no direito? Uma dica: dentro da linguagem chamada, linguagem kelseniana, esttica jurdica, o Cdigo Civil, na parte esttica, que a parte geral, contm alguns conceitos esttico que so fundamentais: pessoa, bem domiclio, fato. Nas perguntas que fazem em concurso, qual a natureza jurdica de tal coisa, na maioria das vezes, ou pessoa, ou fato ou bem. Mas perguntaram em um concurso para a magistratura qual a natureza jurdica de um peixe em alto mar? um bem jurdico. No pessoa e no fato. Mas em alto mar, no tem dono. Como se chama coisa de ningum? Res nulius. Ento, fato jurdico tambm conceito basilar, propedutico, na nossa disciplina.1.2.Fato jurdico: Classificao

Isso pode variar de autor para autor. A utilizada aqui de Orlando Gomes.

O fato jurdico em sentido amplo subdivide-se em fato jurdico em sentido estrito que, por sua vez, se bifurca em ordinrio e extraordinrio. O fato jurdico em sentido amplo subdivide-se ainda em ato-fato e subdivide-se em aes humanas. Essas por sua vez, bifurcam-se em ato jurdico em sentido amplo e ato ilcito.

Ato-fatoem sentido amploato jurdico em sentido amplo

aes humanas

Fato jurdicoato ilcito

ordinrioem sentido estrito

extraordinrio

a)Fato jurdico em sentido estrito

O fato jurdico em sentido estrito (a doutrina aqui no diverge muito) todo acontecimento natural relevante para o direito.

Fato jurdico em sentido estrito so fatos da natureza, independendem da vontade do homem.

Os fatos jurdicos em sentido estrito podem ser ordinrios, quando so comuns: nascimento, morte natural, decurso do tempo. Os extraordinrios, por sua vez, tem carga de imprevisibilidade ou inevitabilidade: furaco no litoral inesperado e causa efeitos jurdicos.

b)Aes humanasAs aes humanas tambm so fatos jurdicos e subdividem-se em ato jurdico em sentido amplo e ato ilcito. Ato jurdico em sentido amplo, espcie de fato jurdico em sentido amplo, toda ao humana lcita que deflagra efeitos na rbita jurdica.

Ato ilcito estudaremos nas aulas de responsabilidade civil, junto com abuso de direito.

Ato jurdico em sentido amplo toda ao humana voluntria, lcita. Segundo a doutrina, ato jurdico toda ao humana lcita, que deflagra efeitos na rbita do direito. No se pode confundir o ato jurdico (ao lcita) com o ato ilcito, que outra categoria.

Estamos seguindo uma linha filosfica. Na que seguimos, ato jurdico toda ao humana lcita que deflagra efeitos na rbita do direito. E nessa linha no pode ser confundida com ato ilcito que categoria em separado.

O Cdigo Civil traz a categoria do ato ilcito separada do ato lcito. O critrio metodolgico usado pelo legislador brasileiro coloca em ttulos separados exatamente por isso.

A despeito da polmica, seguimos a linha de Vicente Rao, Flvio Tartuce, Jos Simo e Zeno Veloso que ato jurdico a ao humana lcita, no se confundindo com o ato ilcito, categoria prpria com caracteres especficos.

Na linha que perfilhamos, ato jurdico ao humana lcita, no se confundindo com ato ilcito, categoria prpria tratada em separado.

O ato jurdico em sentido amplo sofre uma outra subdiviso: ato jurdico em sentido estrito e, a categoria mais importante de todas: negcio jurdico.

Ato jurdico em sentido estrito - O ato jurdico em sentido estrito menos importante do que seu irmo famoso, negcio jurdico, mas exatamente por no ter a dimenso terica e scio econmica do negcio que o professor tem o cuidado para chamar a ateno para essa categoria.

O que se entende por ato jurdico em sentido estrito?

Muitos autores se debruaram sobre o estudo desse tema: Vicente Rao, Jos Abreu, Marcos Bernardo de Melo, por exemplo. Mas o que ato jurdico em sentido estrito? At aqui aprendi que espcie de ato jurdico em sentido amplo.

Tambm denominado de ato no negocial, o ato jurdico em sentido estrito traduz um simples comportamento humano voluntrio e consciente, cujos efeitos esto previamente determinados em lei.

Ato jurdico em sentido estrito se notabiliza por essas duas caractersticas: comportamento humano voluntrio com efeitos predeterminados na lei. A no h autonomia negocial ou livre iniciativa. No h autonomia para a escolha dos efeitos do ato realizado. No se tem escolha. No se tem autonomia privada na escolha dos efeitos do ato que se realiza. Isso porque esses efeitos esto sempre determinados na lei.

Este tipo de ato pode ser exemplificado nos meros atos materiais e nos de comunicao. Meros atos materiais, comportamentos humanos, atos reais, atos da vida. So atos jurdicos em sentido estrito e a gente nem percebe. Exemplo clssico: percepo de um fruto, apropriando-se dele. Se voc se assenhora de um bem que no pertence a ningum, o efeito jurdico da lei automtico: voc passa a ser dono. No voc que escolhe. a lei que escolhe. A percepo de um fruto lhe faz dono por fora de lei. Esse efeito predeterminado na lei. Outro exemplo: tipo de forma de aquisio de propriedade chamada de especificao. Bom exemplo de ato jurdico em sentido estrito. Na especificao, algum, por fora de lei, adquire a propriedade de uma matria-prima quando transforma em obra final. Eu me apropriei de uma argila e transformei em um vaso. No momento que a pessoa transforma matria prima bruta, adquire propriedade por especificao. Eu, voluntria e conscientemente, transformei matria bruta em original e adquiri propriedade por fora de lei. O efeito jurdico decorrente daquele ato jurdico em sentido estrito dado pelo sistema jurdico e no pela autonomia privada.Outro exemplo: fixao de domiclio. Quando voc realiza o ato de fixao de domiclio voc est voluntariamente realizando ato jurdico em sentido estrito. O efeito jurdico transformar aquele local em centro de sua vida jurdica. Quem escolhe o efeito a lei. Voc escolhe apenas se mudar, mas o ato de fixao do domiclio dado pela lei.

Atos de comunicao tambm. So atos jurdicos em sentido estrito, as chamadas participaes. Qual o nico efeito jurdico de uma intimao e de um protesto? apenas comunicar. So atos jurdicos em sentido estrito porque o efeito jurdico quem d a lei.

No d para comparar um ato jurdico em sentido estrito com um contrato porque no contrato no se est realizando um simples comportamento jurdico cujo efeito est na lei. No contrato, voc tem liberdade negocial, autonomia privada, escolhe a outra parte, prazos, etc.

Negcio jurdico Nos negcios jurdicos existe uma palavra-chave. Liberdade a chave. O negcio jurdico dotado da liberdade na escolha de seus efeitos. fruto da autonomia privada porque permite que as partes possam perceber os efeitos que elas mesmas escolheram.

Mesmo no contrato de adeso, sabendo que a autonomia privada quase que totalmente desoxigenada, alguma autonomia privada existe, ainda que seja aderir ou no ao que foi proposto. Desaparecendo a autonomia privada, desapareceria por completo o prprio contrato (mesmo de adeso). A teoria da autonomia privada passa por uma crise, mas mesmo nos sistemas soviticos mais exacerbados, a liberdade negocial jamais desapareceu no contrato. Se isso desaparece, o prprio negcio jurdico desaparece. O que vai caracterizar o negcio jurdico em maior ou menor escala que sempre haver autonomia privada e liberdade negocial na escolha dos efeitos que se perseguem. Quando eu percebo o fruto, o efeito dado pela lei, mas quando fao um testamento, mesmo com condicionamento de ordem pblica, eu tenho que ter alguma liberdade. Testamento negcio jurdico, assim como o contrato. Alm do contrato, h outros negcios jurdicos. E o que se tem que saber que no negcio jurdico existe a liberdade negocial que no ato jurdico no existe.

O negcio jurdico, por sua vez, pedra-de-toque das relaes econmicas mundiais, , na sua essncia, de estrutura mais complexa do que o ato em sentido estrito. Isso porque, no negcio temos uma declarao de vontade, emitida segundo o princpio da autonomia privada, pela qual o agente disciplina efeitos jurdicos possveis escolhidos segundo a sua prpria liberdade negocial.

Existe portanto, uma lea, uma margem muito maior de atuao porque no negcio o agente percebe efeitos jurdicos possveis segundo sua prpria liberdade de escolha. Em maior ou menor grau, sempre haver alguma liberdade de escolha. Aqui h liberdade negocial tpica que no ato jurdico no h. Essa autonomia hoje limitada por valores constitucionais. Ela foi reconstruda a partir da constitucionalizao do direito civil. Se vc tira a liberdade negocial, a figura do negcio jurdico desaparece. O crime est para o penalista assim como o negcio jurdico est para o civilista. Ato-fato jurdico

Pontes de Miranda percebeu que estava faltando alguma pea, uma categoria para fecharmos o esquema. Percebeu que entre a categoria do fato e do ato, haveria a categoria do ato-fato jurdico. A teoria do ato-fato de grande complexidade.

Embora o Cdigo Civil no haja contemplado em norma especfica o ato-fato, a doutrina trata da matria (Marcos Bernardes de Mello).

O fato de ser uma categoria intermediria, j significa alguma coisa. Significa que tem algo do fato da natureza e tem algo da ao do homem. verdade isso. H situaes que, embora derivem do homem, no podem ser consideradas aes humanas voluntrias. Isso fcil de ver em penal. Bettiol nos d um exemplo timo para entender, ainda que aplicado no campo penal: cidado entra no museu contemplando a obra-prima, num dado momento, tem uma micro-hemorragia no nariz e espirra sangue no quadro. ao tpica? Realizou um comportamento humano voluntrio? ato ou fato jurdico? Ato reflexo (como o martelo no joelho) voluntrio ou no? Isso um ato (provm do homem) ou um fato (provm da natureza). Pontes de Miranda percebeu: h comportamentos que esto entre o fato e o ato, que so o ato-fato.

No ato-fato, embora o comportamento derive do homem e deflagre efeitos jurdicos, desprovido de voluntariedade e conscincia em direo ao resultado jurdico existente.

A criana de 3 anos entrega a nota de 1 real ao dono da lanchonete pedindo bala e obtm as balas. Como classificar esse ato? Uma doutrina poderia dizer: um contrato de compra e venda nulo por incapacidade absoluta do agente, mas cujos efeitos so socialmente aceitos. Se o exemplo for dado com um jovem de 15 anos, absolutamente incapaz, mas ele j tem conscincia econmica do ato que realiza. Tem noo jurdica. Neste caso, o jovem de 15 anos realiza um contrato de compra e venda porque tem conscincia do ato econmico que realiza, o contrato nulo, mas os efeitos so aceitos. Mas uma criana de 3 anos que entrega uma cdula muito diferente. Realiza, indiscutivelmente, um ato-fato jurdico: ato humano desprovido de conscincia, mas que ainda gera efeitos. Comportamento humano, que embora humano desprovido de voluntariedade e conscincia, mas ainda assim, gera efeitos.

Jorge Ferreira, com base em Pontes de Miranda, exemplifica tambm o ato-fato na compra de um doce por criana de tenra idade.2.TEORIA DO NEGCIO JURDICO

No existe forma mais recomendvel de entender o negcio jurdico do que dividi-lo em uma trplice perspectiva. So trs os planos de anlise: plano de existncia, plano de validade e o plano de eficcia.

a trplice perspectiva de anlise do negcio jurdico. Mas ainda na parte introdutria, vamos estudar as teorias explicativas do negcio jurdico.

2.1.Teorias Explicativas do Negcio Jurdico

Sero tratadas as duas principais:

a)Teoria Voluntarista (da vontade)

1 Corrente: esta primeira corrente sustenta que o ncleo do negcio jurdico a vontade interna, a inteno do declarante, havendo influenciado fortemente o Cdigo de 2002 (art. 112).

Na corrente voluntarista o negcio jurdico vicia na vontade interna, na inteno. Essa corrente viu na vontade interna o ncleo do negcio:

Art. 112. Nas declaraes de vontade se atender mais inteno nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Muitos autores lem esse artigo como resultado da influncia da corrente voluntarista que dizia que o ncleo do negcio a inteno, a vontade interna.

Acontece que havia uma segunda corrente na doutrina:

b)Teoria Objetiva ou Teoria da Declarao

Essa segunda teoria, diferentemente, desenvolvida na Alemanha, sustenta que o ncleo do negcio jurdico no a vontade interna, a vontade externa que se declara.

Essa corrente diz que o negcio vale, no pelo querer, mas pelo que se declarou. Quando falamos em negcio jurdico, as duas coisas tm que ser consideradas, a vontade interna e a externa que se declara. Na sua essncia, o negcio o que voc pensou e o que voc declarou. Nenhuma das duas melhor do que a outra. Elas se conjugam.

E se o que eu declarei no corresponde com o que pensei? porque a h um vcio de vontade. Exemplo: erro, dolo. Para ser perfeito, a vontade interna no negcio jurdico, tem que ser a causa da vontade que se declara. As duas teorias se unem.2.2.Plano de Existncia do Negcio Jurdico

um plano substantivo, onde se analisa a substncia do negcio jurdico.

Cdigo Civil no contemplou um ttulo ou uma seo para o plano de existncia. Ele adota uma soluo dicotmica. Quando vc abre o Cdigo Civil, ele tem l um plano de validade e de eficcia. Mas no trata especificamente do plano de existncia. O codificador foi dicotmico.

Ento o plano de existncia no existe? Alguns autores resistem a ele, mas a doutrina forte quanto existncia do plano existencial. H situaes que requererem o enquadramento nessa categoria.

Neste primeiro plano, ns analisamos os pressupostos existenciais ou elementos constitutivos do negcio jurdico, sem os quais ele um nada.

Faltando qualquer desses pressupostos de existncia, o negcio inexistente. No nulo. Ele inexistente. Nulidade e anulabilidade esto no plano de validade. Se faltar qualquer desses pressupostos constitutivos, o negcio inexistente. Quais so esses pressupostos?

Todo negcio jurdico para existir dever ter:

1 Pressuposto de existncia: MANIFESTAO DE VONTADE a soma da vontade interna com a vontade externa que se declara.

2 Pressuposto de existncia: AGENTE emissor da vontade.

3 Pressupostos de existncia: OBJETO

4 Pressuposto de existncia: FORMA

A teoria, quase toda, se encaixa neste esquema. Todo negcio para existir pressupe que haja vontade (a interna e a que se declara). Ausente a manifestao de vontade o negcio inexistente. Coao fsica: neutraliza por completo a vontade e o negcio inexistente. Exemplo: Grandalho chega para uma senhora de 90 anos e diz que ela vai assinar um contrato. Mas ela no quer. Ele pega a digital dela e coloca no documento. O que houve a? Houve coao fsica que neutralizou completamente a manifestao de vontade. Este negcio no nulo. inexistente. Ausente a manifestao de vontade, o negcio inexistente. Se voc qualificado como parte no contrato, mas no assinou, o negcio inexistente porque todo negcio para existir deve haver manifestao de vontade.

Alm da vontade, preciso que haja agente emissor da vontade, ou pessoa fsica ou jurdica. Todo negcio jurdico para existir precisa de um agente.

E para existir, todo negcio tem que ter um objeto. Um bem jurdico ou uma prestao. Contrato de emprstimo de dinheiro sem dinheiro inexistente. O mtuo no existe.

Para existir, alm de manifestao de vontade, agente e objeto, todo negcio tem que ter uma forma. A vem o problema. Faltando a forma o negcio no seria nulo, invlido? Por que inexistente? Muitos pensam assim porque ao estudar essa matria, aprenderam que para a existncia de um negcio era preciso agente capaz, objeto lcito e forma prescrita ou no defesa em lei.

Mas na prova, se o examinador pergunta: quais so os pressupostos do negcio jurdico? A resposta vem sem pensar: agente capaz, objeto lcito e forma prescrita ou no defesa em lei. Mas o ideal que frente a essa pergunta a resposta seja inicialmente feita com outra pergunta. Pressupostos de existncia ou de validade? Com isso, o examinador vai sacar que voc conhece os dois planos. Os pressupostos de existncia so: manifestao de vontade (interna e externa), agente, objeto e forma. A forma elemento existencial do negcio, sim. Quem melhor tratou disso foi Vicente Rao.

A forma o revestimento exterior da vontade, ou seja, o veculo pelo qual a vontade se manifesta. Todo negcio, pois, pressupe uma forma: oral, escrita, linguagem mmica (ou de sinais).

Isso no se confundiria com a vontade externa? Mas a doutrina prefere colocar a forma como elemento autnomo. Todo negocio pressupe que haja uma forma. Voc firmou um contrato, forma escrita. Voc pede emprestada uma caneta de seu colega. Forma oral. Fazer sinal para o nibus celebrar negcio jurdico de transporte.

OBS.: 9 Concurso para Delegado de Polcia/RJ: Quem cala consente. Este ditado popular tem respaldo no direito civil? Em outras palavras, em carter excepcional, admite-se que o silncio seja considerado forma de celebrao do negcio? Viu-se que todo negcio para existir depende de uma forma. Mas ser que por exceo, o silncio poderia repercutir no campo do direito civil? O negcio para existir precisa de manifestao de vontade, agente, objeto e forma. A forma, pressuposto de existncia no pode ser confundida com o que se chama de forma prescrita em lei. Se voc vender seu imvel de valor superior a 30 salrios mnimos, a forma, como pressuposto de validade, a prescrita em lei (escritura pblica). No se pode confundir a forma, requisito de existncia, COM a prescrita em lei, requisito de validade.

Um senhor (Pedro) entra no gabinete do juiz com a melhor roupa que tinha: um terno pudo. Trouxe o problema: comprou uma gleba de terra de um vizinho. O valor foi superior a 30 salrios mnimos. O vizinho faleceu e deixou herdeiros que passaram a dizer que o terreno no era dele. Ele (Pedro) disse que tinha a escritura pblica registrada. Pegou um saco plstico e com orgulho verdadeiro da dignidade do homem de bem, tirou de l uma folha de caderno rasgada e suja e disse: aqui est minha escritura pblica. O juiz, vendo no gesto a boa-f objetiva estampada, disse que o documento poderia servir para a adjudicao ou usucapio. Mas esse negcio jurdico que celebrou com o vizinho era existente? Houve manifestao de vontade? Sim. Houve agente? Sim. Houve objeto? Sim. E tambm houve forma, apenas no foi respeitada a forma exigida em lei para aquela espcie de negcio jurdico. O negcio existe, mas uma vez que o imvel era mais que 30 salrios, a concluso : o negcio existe, mas invlido. Plano de EXISTNCIAEstudamos a substncia do negcio jurdico. Como se compe o a estrutura existencial do NJ, os chamados elementos constitutivos e pressupostos de existncia. Vimos que o negcio jurdico na sua estrutura existencial compe se de manifestao de vontade, agente, objeto e forma. A forma, entendida como um meio pelo qual a vontade se manifesta (exemplo do seu Pedro).

A pergunta deixada no ar foi: o silncio pode ser entendido como um meio de manifestao da vontade? Por exceo, por ser um meio de externar a vontade? Quem cala consente Esse ditado tem respaldo no direito civil?

um tipo de pergunta profunda para prova dissertativa.

Nos termos do pensamento do professor Caio Mrio, em sua clssica obra Instituies do Direito Civil, regra geral, o silncio o nada, no traduzindo manifestao de vontade. Excepcionalmente, a teor do art. 111, do Cdigo Civil Brasileiro, na linha do art. 218, do Cdigo de Portugal, o silncio, em determinadas situaes, pode gerar efeitos jurdicos.

Essa pergunta deve ser respondida assim: o silncio o nada, mas em determinadas situaes, admite que o silncio possa gerar efeitos. Excepcionalmente, em situaes devidamente justificadas na forma do art. 111, do Cdigo Civil.

Art. 111. O silncio importa anuncia, quando as circunstncias ou os usos o autorizarem, e no for necessria a declarao de vontade expressa.

Exemplo: na doao pura, o silncio do donatrio no prazo fixado, importa aquiescncia (art. 539, CC)

Em algumas situaes, o silncio pode repercutir juridicamente.

OBS.: O silncio reveste-se de grande importncia na situao de dolo negativo, prevista no art. 147.

Art. 147. Nos negcios jurdicos bilaterais, o silncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omisso dolosa, provando-se que sem ela o negcio no se teria celebrado.

Com isso, encerramos o plano de existncia, ingressamos no plano de validade.

Plano de VALIDADE

O CC adotou uma forma dicotmica. Ao sistematizar o negcio jurdico no iniciou com o plano de existncia, mas com o plano de validade. Ele no desconsidera o plano de existncia. Apenas inicia no plano de validade, no art. 104, que cuida dos pressupostos de validade do negcio jurdico.

O art. 104 aperfeioou um artigo do Cdigo Civil anterior, muito criticado pelo tratamento que dava ao elenco de pressupostos de validade que fazia. O cdigo novo aperfeioou a disciplina. No que tange ao art. 104 as crticas, em parte persistem porque os pressupostos de validade no foram todos enfrentados. Ento a anlise de sala de aula faz uma abordagem mais ampla com o objetivo de complementar os pressupostos de validade do Cdigo Civil.

Vimos que o plano de existncia o plano substantivo. Faltando um pressuposto de existncia o negcio jurdico inexistente. E se faltar pressupostos de validade? O NJ invlido. A invalidade o gnero do qual decore a nulidade e a anulabilidade. Ele tanto pode ser nulo, quanto pode ser anulvel.

Os pressupostos de validade traduzem requisitos de qualificao do negcio, para que tenha aptido para gerar efeitos jurdicos.

Se voc diz que o negcio vlido, significa que os pressupostos de validade concorrem, ou seja, o negcio est qualificado para gerar efeitos na rbita do direito. Os pressupostos de validade partem dos pressupostos de existncia. Quais so os pressupostos de existncia? Manifestao de vontade, agente, objeto e forma. Eles nada mais so do que os pressupostos de existncia qualificados. Faltando qualquer desses quatro elementos, o negcio inexistente. Se faltar vontade, no existe, se faltar objeto, no existe, se no tiver agente no existe e se no tiver forma, no existe (salvo situaes excepcionalssimas como a do silncio). Para o negcio existir tem que ter vontade, agente, objeto e forma.

Pressuposto de validade para ser vlida, a manifestao de vontade tem que ser totalmente livre e de boa f, o agente tem que ser capaz e legitimado, o objeto tem que ser lcito e possvel e determinado (ou ao menos determinvel) e a forma, para ter validade, ou livre ou prescrita em lei.

Chegamos a esses pressupostos de validade qualificando os pressupostos de existncia:

Manifestao de vontade livre e de boa f

Agente capaz e legitimado

Objeto lcito, possvel e determinado ou ao menos determinvel

Forma livre ou prescrita em lei.

Se a questo da prova tem uma hiptese de negcio jurdico em que no houve emisso da vontade, no negcio inexistente. Se faltar o agente, no existe. Mas se o agente existir e for incapaz? O negcio invlido. Se falta o agente, o negcio inexistente. Se o objeto juridicamente impossvel, o negcio invlido. No negcio jurdico que Sr.Pedro celebrou havia forma, mas no era forma prescrita. O negcio existiu, mas era invlido. Basta raciocinar com a relao que h entre existncia e validade.

Contrato de prestao de servios sexuais negcio jurdico existente? Caiu em concurso. H manifestao de vontade? Sem dvida (o cidado para o carro, conversa); h agentes, h objeto (atividade) e existe forma manifestada (verbal). Os elementos esto presentes. O negcio existe. Mas ele vlido? A vontade foi manifestada de boa-f? Sim. O agente legitimado? Sim. O objeto lcito? Neste ponto entramos numa questo das mais interessantes da aula de hoje. O site oficial do Ministrio do Trabalho, traz a classificao brasileira de ocupaes e reconhece (no cdigo 5198 ou 5191) o profissional do sexo. Ento, o profissional do sexto tem sua atividade reconhecida posto no disciplinada por lei. Na verdade, esse contrato existe, mas pode ser invlido por ilicitude do objeto. O objeto existe, mas ilcito. Essa invalidade discutvel, como veremos daqui a pouco.

Transplantando isso para nossa matria, para o negcio existir, tem que ter vontade, agente, objeto e forma. Para existir e ser vlido, a vontade tem que ser livre, o agente capaz e legitimado, o objeto lcito, possvel e determinado ou determinvel e a forma livre ou prescrita. Se a questo do concurso disser que o jovem de 16 no celebrou negcio jurdico, esse negcio existe, mas invlido por incapacidade do agente.

Ateno para o aspecto da licitude. A pergunta colocada boa para entender.

Licitude, segundo Orlando Gomes, traduz compatibilidade com a lei e com o padro mdio de moralidade.

Isso muito discutvel. O que so bons costumes, padro mdio de moralidade? Licitude do objeto, segundo a doutrina brasileira significa no s compatibilidade com a lei, mas com o padro mdio de moralidade. Mas isso muito discutvel. Tem uma carga enorme de subjetividade nisso. O que significa padro mdio de moralidade? Em geral, uma banca de concurso exigira como resposta a essa pergunta do contrato de prestao de servio sexuais, que negcio existente, posto invlido por ilicitude do objeto, tendo em vista afronta o padro mdio de moralidade, o que absolutamente discutvel.

O professor obrigado a dizer que cientificamente, contudo, existe ainda a noo de padro mdio de moralidade no direito civil que hoje vem sendo reconstruda com bases constitucionais, perdendo o conservadorismo de outrora, mas ainda existe.

Outra questo interessante ainda no pressuposto de validade diz respeito manifestao de vontade livre e de boa-f. Ouviram falar dos defeitos do negcio jurdico? Erro, dolo, coao moral, leso (vcio novo), estado de perigo, simulao e fraude contra credores. Esses defeitos do negcio jurdico interferem no plano de existncia ou de validade? Validade. Isso porque em geral, esses defeitos atacam os pressupostos de validade manifestao de vontade livre e de boa-f. Quando h defeito do negcio jurdico o negcio existe, mas invlido. A vontade no foi totalmente livre ou no foi praticada de boa-f.

Exemplos: coao moral, psicolgica (se vc no assinar o contrato, eu fao isso). A coao moral embaraa, mas no neutraliza a vontade. Algum que sofre a ameaa manifesta vontade viciada. Por isso, os defeitos do negcio jurdico atacam a validade porque a vontade no foi totalmente livre. No dolo, voc enganado. A outra parte age de m-f, atacando a boa-f da sua manifestao de vontade. Assim, no dolo o negcio jurdico tambm invlido. Os efeitos do negcio atacam a validade do negcio jurdico. E para o negcio jurdico ser vlido, a manifestao de vontade tem que ser livre, de boa-f, o agente capaz e legitimado, o objeto lcito possvel e determinado e a forma livre.

OBS.: No que tange forma, o art. 107, do Cdigo Civil, consagra o princpio da liberdade como regra geral. Por exceo, a forma pode ser exigida ou para efeito de prova do negcio, art. 227, denominando-se negcio ad probationem, ou a forma pode ser exigida como pressuposto de validade, art. 108, negcio ad solemnitatem.

Art. 107. A validade da declarao de vontade no depender de forma especial, seno quando a lei expressamente a exigir.

Quando a lei prescreve determinada forma, duas situaes podem acontecer: ou a forma foi prescrita para efeito de prova do negcio (matria estudo de processo civil e que o cc cuida no art. 227), ou a forma exigida como pressuposto de validade (que o nosso estudo de hoje). Ento, quando a forma exigida para efeito de prova e no foi observada, o negcio no ter como ser provado em juzo. Isto est claro no art. 227:

Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal s se admite nos negcios jurdicos cujo valor no ultrapasse o dcuplo do maior salrio mnimo vigente no Pas ao tempo em que foram celebrados.

Ento, negcio que tem valor superior a 10 salrios mnimos exige forma escrita para efeito de prova.

Pargrafo nico. Qualquer que seja o valor do negcio jurdico, a prova testemunhal admissvel como subsidiria ou complementar da prova por escrito.

Todavia, a prova prescrita na lei como forma de validade do negcio, ou seja, se voc no usar a forma prescrita em lei, o negcio existente invlido. A forma, como requisito de validade, est regulada no art. 108:

Art. 108. No dispondo a lei em contrrio, a escritura pblica essencial validade dos negcios jurdicos que visem constituio, transferncia, modificao ou renncia de direitos reais sobre imveis de valor superior a trinta vezes o maior salrio mnimo vigente no Pas.

Em geral se usa a referncia de salrio nacional, mas tem que ver o que diz a jurisprudncia do Estado. Se o nj versar sobre o tema tratado no art. 108, a forma pblica requisito de validade. Se as partes no observarem isso, o negcio existente, mas invlido. Isso significa se voc vender seu apartamento de 500 mil reais, tem que lavrar escritura pblica. Se no observar isso, o negcio invlido porque o negcio solene, existe forma publica como requisito de validade.

Pegadinha dentro do art. 108: no disposto a lei em contrrio. H situaes em que o prprio ordenamento jurdico admite mesmo no negcio jurdico imobilirio acima de 30 salrios, que a forma seja particular.

OBS.: Por exceo, admite-se a no observncia da forma pblica, ainda que o valor aventado no negcio seja superior a 30 salrios mnimos, como se d com a promessa de compra e venda (arts. 1.417 e 1.418).

Seu apartamento pode valer 15 milhes de reais. A promessa de compra e venda pode ser feita por instrumento particular. Em geral isso mesmo que acontece: A construtora entrega para voc um contrato de adeso. A norma especfica permite.

Esse valor de 30 salrios mnimos estipulado no negcio para efeito de se observar a forma pblica um valor arbitrado pelas partes ou um valor que a administrao pblica estima para efeitos tributrios? Se o seu apartamento vale 250 mil, vc declara isso no negcio e esse valor que vai ser levado em conta para efeito tributrio. Mas para efeitos de se observar a forma pblica, de onde sai esse valor? As partes declaram ou a prefeitura estimou?

O Enunciado 289, da IV Jornada de Direito Civil, firmou entendimento no sentido de que o valor fixado no negcio para efeito de lavratura de escritura pblica, nos termos do art. 108, o arbitrado pelas partes e no pela Administrao Pblica para efeitos tributrios.

289 Art. 108. O valor de 30 salrios mnimos constante no art. 108 do Cdigo Civil brasileiro, em referncia forma pblica ou particular dos negcios jurdicos que envolvam bens imveis, o atribudo pelas partes contratantes e no qualquer outro valor arbitrado pela Administrao Pblica com finalidade tributria.

Com isso, temos o plano de validade e, faltando qualquer dos seus pressupostos, o negcio invlido, dando origem nulidade e anulabilidade. S depois do plano da existncia que se adentra o plano de validade e s depois se chega ao plano da eficcia. Primeiro se nota se existe, depois se vlido e, por ltimo se produz efeitos.

Esse terceiro plano, segundo o professor da USP, Antnio Junqueira de Azevedo, estudam-se a eficcia jurdica do negcio e os elementos acidentais que interferem nesta produo de efeitos.

J vimos que o negcio existe, que vlido e, por ltimo, estudamos a eficcia jurdica do negcio. Neste terceiro plano que ser estudado na ltima aula de parte geral, o professor vai apresentar um esquema global. No plano da eficcia, sobre o qual o professor ainda falar, estudamos os elementos que interferem na eficcia jurdica do negcio. Esses elementos so chamados de acidentais porque podem ou no ocorrer. So tambm chamados de modalidades. Estudamos primeiramente os elementos que interferem na eficcia, os conhecidos elementos: condio, termo e modo ou encargo.

Com isso, o professor apresentou o esquema completo da teoria do negcio jurdico, que vai do plano de existncia ao plano de eficcia sobre o qual ainda falar. Vamos recuar um pouco agora, para depois entrar novamente no plano da eficcia.PAGE 81