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Universidade de So Paulo
Escola de Engenharia de So Carlos
Departamento de Hidrulica e Saneamento
GESTO E GERENCIAMENTO DE
RESDUOS SLIDOS
Valdir Schalch1
Wellington Cyro de Almeida Leite2
Jos Leomar Fernandes Jnior3
Marcus Cesar Avezum Alves de Castro4
So Carlos
Outubro de 2002
1 Professor Doutor do Departamento de Hidrulica e Saneamento da EESC-USP 2 Professor Doutor do Departamento de Engenharia Civil - FEG-UNESP 3Professor Doutor do Departamento de Transportes da EESC-USP 4Professor Doutor do Centro Universitrio Anhanguera - FIAN e Universidade de Araraquara - UNIARA
i
SUMRIO
LISTA DE FIGURAS ....................................................................... ii
LISTA DE TABELAS ....................................................................... iii
LISTA DE QUADROS ..................................................................... iii
1 INTRODUO .......................................................................... 1
2 CONSIDERAES SOBRE RESDUOS SLIDOS .............. 3
2.1 Resduos Slidos: Definio e Classificao ...................... 3
2.2 Resduos Slidos no Meio Urbano ..................................... 6
2.3 Tecnologias de Tratamento e Destinao Final de Resduos Slidos Domiciliares ........................................... 10
2.3.1 Reciclagem de resduos slidos domiciliares ......... 11
2.3.2 Compostagem ......................................................... 22
2.3.3 Incinerao ............................................................. 34
2.3.4 Disposio final de resduos slidos domiciliares . 47
2.3.4.1 Aterro sanitrio ........................................ 47
2.4 Gesto de Resduos Slidos ............................................... 71
2.5 Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos ................ 72
3 A EXPERINCIA INTERNACIONAL NA GESTO DE RESDUOS SLIDOS ..............................................................
76
4 CONSIDERAES FINAIS .................................................... 87
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................... 89
ii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Recipientes com cores diferenciadas para a entrega voluntria de materiais reciclveis ............................................................................ 13
Figura 2 - Composio mdia da coleta seletiva .............................................. 16
Figura 3 - Composio mdia dos plsticos rgidos na coleta seletiva ......... 16
Figura 4 - Fluxograma do processo de compostagem em usinas .................. 23
Figura 5 - Usinas para cidades com populao entre 75 e 150 mil habitantes (processo "natural") ............................................................................ 26
Figura 6 - Usinas para cidades com populao superior a 300 mil habitantes (processo "acelerado") ........................................................................ 27
Figura 7 - Partes constituintes de um incinerador ............................................ 37
Figura 8 - Estruturas das famlias de dioxinas e furanos .............................. 43
Figura 9 - Estrutura do tetraclorodibenzeno-para-dioxina 2,3,7,8 (TCDD) e do tetracloro-dibenzenofurano 2,3,7,8 (TCDF) ........................... 44
Figura 10 - Volume de controle utilizado em estudos de aterros sanitrios ... 51
Figura 11 - Fluxograma para a obteno do licenciamento ambiental ........... 54
Figura 12 - Mtodo da trincheira ......................................................................... 58
Figura 13 - Mtodo da rampa ............................................................................... 59
Figura 14 - Mtodo da rea ................................................................................... 59
Figura 15 - Aterro em depresses ou ondulaes .............................................. 60
Figura 16 - Aterro em lagoa ................................................................................. 60
Figura 17 - Vista geral da superposio de clulas sanitrias e da distribuio dos drenos de gases em aterros sanitrios ................ 62
Figura 18 - Detalhe do dreno de captao de gases no aterro sanitrio .......... 63
Figura 19 - Corte transversal de um dreno horizontal .................................... 64
Figura 20 - Aes recomendveis para o gerenciamento integrado de resduos slidos .................................................................................................. 74
Figura 21 - Operaes efetuadas na rea de resduos slidos domiciliares ......... 75
iii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de resduo ... 6
Tabela 2 - Processos de transformaes utilizados para o gerenciamento de resduos slidos domiciliares ................................................................ 11
Tabela 3 - Distribuio de programas de coleta seletiva no Brasil, em relao a faixa populacional ............................................................. 15
Tabela 4 - Valores dos principais parmetros fsicos e qumicos para o controle de composto orgnico, conforme a legislao em vigor no Brasil .............................................................................................. 29
Tabela 5 - Especificao para a granulometria de fertilizantes ..................... 29
LISTA DE TABELAS
Quadro 1 - Recomendaes de projeto para uma usina de triagem e compostagem de resduos slidos domiciliares ........................... 21
Quadro 2 - Critrio para a avaliao das reas para a instalao de aterro sanitrio .............................................................................................. 57
Quadro 3 - Aes obrigatrias para o gerenciamento integrado de resduos slidos ................................................................................................. 74
1
1 INTRODUO
A maioria dos municpios brasileiros dispe seus resduos
slidos domiciliares sem nenhum controle, uma prtica de graves
conseqncias: contaminao do ar, do solo, das guas superficiais e
subterrneas, criao de focos de organismos patognicos, vetores de
transmisso de doenas, com srios impactos na sade pblica. O quadro
vem se agravando com a presena de resduos industriais e de servios de
sade em muitos depsitos de resduos domiciliares, e, no raramente, com
pontos de descargas clandestinas.
Nota-se que, na maioria dos municpios, o circuito dos
resduos slidos apresenta caractersticas muito semelhantes, da gerao
disposio final, envolvendo apenas as atividades de coleta regular,
transporte e descarga final, em locais quase sempre selecionados pela
disponibilidade de reas e pela distncia em relao ao centro urbano e s
vias de acesso, ocorrendo a cu aberto, em valas etc.
Em raras situaes, este circuito inclui procedimentos
diferenciados: coleta seletiva, processos de compostagem, tratamento
trmico, etc., e, mesmo assim, freqentemente esses processos so mal
planejados, o que dificulta a operao e torna-os inviveis em curtssimo
prazo.
O manejo inadequado de resduos slidos de qualquer origem
gera desperdcios, contribui de forma importante manuteno das
desigualdades sociais, constitui ameaa constante sade pblica e agrava
a degradao ambiental, comprometendo a qualidade de vida das
populaes, especialmente nos centros urbanos de mdio e grande portes.
No Brasil, a ausncia de definies polticas e diretrizes para a
rea de resduos nos trs nveis de governo (federal, estadual e municipal)
2
associa-se escassez de recursos tcnicos e financeiros para o
equacionamento do problema. Com relao aos aspectos legais, a
legislao brasileira ainda bastante restrita e genrica, por vezes
impraticvel, devido falta de instrumentos adequados ou de recursos que
viabilizem sua implementao.
Observando o Estado de So Paulo, constata-se que inmeras
intervenes pontuais, e no raro desencontradas vm se realizando. Os
exemplos mais freqentes se dirigem ao campo das alternativas de modelos
tecnolgico-operacionais, para sistemas integrados ou no de
gerenciamento de resduos slidos - coleta regular e seletiva, reciclagem,
unidades de triagem de resduos, compostagem manual ou mecanizada, etc.
Nesses casos, quase sempre a desarticulao institucional manifesta-se na
coexistncia de mltiplos agentes atuando de forma descoordenada no
setor, com superposio de competncias, baixa eficincia do processo
decisrio e evidente pulverizao na aplicao de recursos pblicos.
A situao evidencia a urgncia em se adotar um sistema de
manejo adequado dos resduos, definindo uma poltica para a gesto e o
gerenciamento, que assegure a melhoria continuada do nvel de qualidade
de vida, promova prticas recomendadas para a sade pblica e proteja o
meio ambiente contra as fontes poluidoras.
consenso entre os especialistas na rea de resduos slidos a
urgncia em equacionar o problema do tratamento e da destinao final do
lixo. Na verdade, em raras situaes h de fato o tratamento dos resduos
slidos, que em geral so apenas depositados em "lixes".
Uma anlise detida da questo dos resduos slidos no Brasil
constata que um dos grandes impasses existentes est no campo da gesto e
do gerenciamento do lixo.
3
somente criando uma poltica em que se definam claramente
diretrizes, arranjos institucionais e recursos a serem aplicados, enfim,
explicitando e sistematizando a articulao entre instrumentos legais e
financeiros que se poder garantir de fato a constncia e a eficcia nesse
campo.
Nos nveis de ao do governo so necessrias as maiores
mudanas: preciso fomentar o planejamento integrado, abarcando as
relaes entre questes ambientais, urbansticas, tecnolgicas, polticas,
sociais e econmicas.
A garantia de promoes continuadas no setor dos resduos
slidos s ocorrer com a existncia de uma poltica de gesto e o
compromisso de instituies sociais solidamente firmadas para mant-la. A
participao da sociedade civil componente indispensvel para isso.
2 CONSIDERAES SOBRE RESDUOS SLIDOS
2.1 Resduos Slidos: Definio e Classificao Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas -
ABNT:
resduos slidos so resduos nos estados slidos e semi-slidos, que resultam de atividades da comunidade, de origem: industrial, domstica, de servios de sade, comercial, agrcola, de servios e de varrio. Consideram-se tambm resduos slidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como determinados lquidos, cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgotos ou corpo d'gua, ou exijam para isso solues tcnicas e economicamente inviveis em face melhor tecnologia disponvel. (ABNT, 1987)
4
x Classificao de resduos slidos
Normalmente os resduos slidos so classificados segundo a
sua origem, como:
Urbanos: incluem o resduo domiciliar gerado nas
residncias, o resduo comercial, produzido em escritrios, lojas, hotis,
supermercados, restaurantes e em outros estabelecimentos afins, os
resduos de servios, oriundos da limpeza pblica urbana, alm dos
resduos de varrio das vias pblicas, limpezas de galerias, terrenos,
crregos, praias, feiras, podas, capinao;
Industriais: correspondem aos resduos gerados nos diversos
tipos de indstrias de processamentos. Em funo da periculosidade
oferecida por alguns desses resduos, o seguinte agrupamento proposto
pela ABNT-NBR 10.004 (1987):
Resduos Classe I (perigosos): pelas suas caractersticas de
inflamabilidade, corrosividade , reatividade, toxidade e patogenicidade,
podem apresentar riscos sade pblica, provocando ou contribuindo para
o aumento da mortalidade ou apresentarem efeitos adversos ao meio
ambiente, quando manuseados ou dispostos de forma inadequada;
Resduos Classe II (no inertes): incluem-se nesta classe os
resduos potencialmente biodegradveis ou combustveis;
Resduos Classe III (inertes): perfazem esta classe os resduos
considerados inertes e no combustveis.
5
Resduos de servios de sade: so os resduos produzidos
em hospitais, clnicas mdicas e veterinrias, laboratrios de anlises
clnicas, farmcias, centros de sade, consultrios odontolgicos e outros
estabelecimentos afins. Esses resduos podem ser agrupados em dois nveis
distintos:
Resduos comuns: compreendem os restos de alimentos,
papis, invlucros, etc.;
Resduos spticos: constitudos de restos de salas de cirurgia,
reas de isolamento, centros de hemodilise, etc. O seu manuseio
(acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinao final) exige
ateno especial, devido ao potencial risco sade pblica que podem
oferecer.
Resduos de portos, aeroportos, terminais rodovirios e
ferrovirios: constituem os resduos spticos, que podem conter
organismos patognicos, tais como: materiais de higiene e de asseio
pessoal, restos de alimentos, etc., e veicular doenas de outras cidades,
estados e pases.
Resduos agrcolas: correspondem aos resduos das atividades
da agricultura e da pecuria, como embalagens de adubos, defensivos
agrcolas, rao, restos de colheita, esterco animal. A maior preocupao,
no momento, est voltada para as embalagens de agroqumicos, pelo alto
grau de toxicidade que apresentam, sendo alvo de legislao especfica.
Entulho: constitui-se de resduos da construo civil:
demolies, restos de obras, solos de escavaes etc.
6
Resduos Radioativos (lixo atmico): so resduos
provenientes dos combustveis nucleares. Seu gerenciamento de
competncia exclusiva da CNEN - Comisso Nacional de Energia Nuclear.
A seguir, na Tabela 1, expem-se os responsveis pelo
gerenciamento dos diferentes tipos de resduos.
TABELA l - Responsabilidade pelo gerenciamento de cada tipo de resduo TIPOS DE LIXO RESPONSVEL
Domiciliar Prefeitura
Comercial Prefeitura*
De Servios Prefeitura
Industrial Gerador (indstrias)
Servios de sade Gerador (hospitais etc.)
Portos, aeroportos e terminais ferrovirios e rodovirios Gerador (portos etc.)
Agrcola Gerador (agricultor)
Entulho Gerador*
Radioativo CNEN
Obs.: (*) a Prefeitura co-responsvel por pequenas quantidades (geralmente menos que 50 kg/dia), e de acordo com a legislao municipal especfica
Fonte: JARDIM et al. (1995)
2.2 Resduos Slidos no Meio Urbano
Os conflitos decorrentes da gesto e do gerenciamento
inadequado dos resduos slidos urbanos esto crescendo em relao direta
com a conscientizao da sociedade a respeito das questes ambientais.
O aparecimento de solues inovadoras, "adequadas a
qualquer situao" segundo os seus defensores, tem criado situaes
7
confusas junto s administraes municipais, aliadas peridica
rotatividade das equipes de dirigentes das prefeituras. O mesmo processo
que aprimora politicamente a democracia, promove, por outro lado,
descontinuidades e reestudos que muitas vezes ultrapassam o perodo frtil
de realizaes das administraes, protelando perigosamente solues de
lenta e complexa maturao, como as relativas aos problemas relacionados
com o tratamento e disposio final do lixo (ZULAUF, 1989).
O problema do volume de resduos slidos no Brasil, pode ser
visualizado ao constatarmos que, segundo o IBGE (Fundao Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica) (1992) o pas produziu no ano de
1991 perto de 250 mil toneladas dirias de resduos. Desse total, 76%
foram descarregados a cu aberto (lixo), 13% encerrados em aterros que
recebem algum tipo de controle (cobertura peridica), 10% dispostos em
aterros sanitrios, 0,9% tratados em usinas de compostagem e 0,1%
incinerados.
Ressalte-se que, cerca de 90 mil toneladas desse total era
composta por resduos de origem domiciliar, dos quais, cerca de 21% nem
sequer foram coletados, sendo destinados clandestinamente a terrenos
baldios, crregos, encostas, etc. (IBGE, 1992).
Provavelmente, desde a data do censo citado, esta quantidade
de resduos aumentou, no sendo registrada, no entanto, a implantao de
um conjunto de aes organizadas nos trs nveis de governo (federal,
estadual e municipal), capazes de comear a reverter a numerologia do
lixo.
Essa enorme quantidade de resduos no constitui somente um
problema de ordem esttica, mas representa tambm uma sria ameaa ao
homem e ao meio ambiente, diminuindo consideravelmente os espaos
teis disponveis.
8
No Brasil, os inmeros episdios crticos de poluio,
relacionada com a ausncia de tratamento e m disposio dos resduos,
registram principalmente a contaminao do solo e dos recursos hdricos
por metais pesados, solventes orgnicos halogenados e resduos de
denfensivos agrcolas. A ausncia de definies e diretrizes nos trs nveis
de governo associa-se escassez de recursos tcnicos e financeiros para o
equacionamento do problema, alm das dificuldades na aplicao das
determinaes legais.
consenso entre os especialistas a urgncia do estado adotar
um sistema de manejo adequado dos resduos, definindo uma poltica para
a gesto que garanta a melhoria da qualidade de vida, promova as prticas
recomendadas para a sade pblica e o saneamento ambiental.
O manejo dos resduos slidos depende de vrios fatores,
dentre os quais devem ser ressaltados: a forma de gerao,
acondicionamento na fonte geradora, coleta, transporte, processamento,
recuperao e disposio final. Portanto, deve-se criar um sistema dirigido
pelos princpios de engenharia e tcnicas de projetos, que possibilite a
construo de dispositivos capazes de propiciar a segurana sanitria s
comunidades, contra os efeitos adversos dos resduos.
A importncia desse sistema ressaltada quando se analisa o
manejo dos resduos, considerando-se os impactos ecolgicos, a correlao
com a defesa da sade pblica, modo de gerao na sociedade tecnolgica
e sua grandeza em termos qualitativos e quantitativos. O planejamento de
um sistema dessa natureza exige uma atividade multidisciplinar que, alm
dos preceitos da boa engenharia, envolve tambm: economia, urbanismo,
aspectos sociais, alm da participao efetiva dos diversos setores
organizados da sociedade (LEME, 1984).
Na maioria dos municpios brasileiros, a ausncia de modelos
9
de gesto e de prticas de gerenciamento adequado para os resduos slidos
d lugar a uma variedade de solues que, nos dias atuais, parece ser o
grande complicador do processo decisrio. O aterro sanitrio a soluo
mais econmica para as condies brasileiras, mas tem sido contestado
pelos incmodos que provoca junto vizinhana e se aplica com maiores
dificuldades nos grandes centros.
As usinas de triagem e compostagem tm ampliado o seu
espao no mercado, graas a fontes de financiamento em bancos de
desenvolvimento e devido ao desenvolvimento tecnolgico, embora ainda
seja questionada a qualidade do composto orgnico e o preo pago pelos
produtos reciclados nessas instalaes; a incinerao, se por um lado reduz
consideravelmente o volume do lixo, transformando sua frao orgnica
em cinzas inertes, tem contra si os elevados custos operacionais e de
investimentos, tanto nas instalaes de incinerao propriamente ditas
como em outras instalaes de proteo ambiental, que so imprescindveis
nos dias de hoje.
O fato que a significativa presena de matria orgnica em
decomposio, encontrada nos resduos domiciliares, determina a
necessidade de transporte gil e destinao imediata. A limpeza pblica
um servio oneroso, onde so consumidos entre 10 e 15% de todo o
oramento dos municpios (LEITE, 1995).
H ainda outras questes a serem consideradas: os servios de
limpeza pblica, por manusearem um produto de apelo forte, o lixo, tm sua
imagem ligada ao produto (o lixo) e no ao objetivo (a limpeza). Perde-se a
ligao a um conceito nobre em troca do resto, mal-cheiroso, do descartvel e
do objeto, o que acaba prejudicando o setor por falta do charme, que to
bem caracteriza as administraes de parques e jardins, dos calades, das
avenidas, do asfalto e das obras pblicas em geral (ZULAUF, 1989).
10
2.3 Tecnologias de Tratamento e Destinao Final de Resduos Slidos Domiciliares
A proposta de um modelo de gesto e de gerenciamento de
resduos slidos exige o conhecimento das distintas formas de tratamento e
destinao final de resduos.
O tratamento ou a industrializao dos resduos envolve um
conjunto de atividades e processos com o objetivo de promover a
reciclagem de alguns de seus componentes, como o plstico, o papelo, os
metais e os vidros, alm da transformao da matria orgnica em
composto, para ser utilizado como fertilizante e condicionador do solo, ou
em polpa para a utilizao como combustvel.
O tratamento nunca constitui um sistema de destinao final
completo ou definitivo, pois sempre h um remanescente inaproveitvel.
Entretanto, as vantagens decorrentes dessas aes, tornam-se mais claras
aps o equacionamento dos sistemas de manejo e de destinao final dos
resduos.
Segundo JARDIM (1995), as vantagens so de ordem
ambiental e econmica. No caso dos benefcios econmicos, a reduo de
custos com a disposio final a vantagem econmica que mais sobressai.
Dentre os fatores que recomendam o tratamento dos resduos pode-se citar:
- a escassez de reas para a destinao final dos resduos; - a disputa pelo uso das reas remanescentes com a populao de menor renda; - a valorizao dos componentes do lixo como forma de promover a conservao de recursos; - a economia de energia; - a diminuio da poluio das guas e do ar; - a inertizao dos resduos spticos;
11
- a gerao de empregos, atravs da criao de indstrias recicladoras.
A Tabela 2 resume alguns processos de transformaes de resduos
slidos domiciliares. TABELA 2 - Processos de transformaes utilizados para o gerenciamento de resduos slidos
domiciliares
Processo de Transformao Mtodos de Transformao Principal converso em produtos
Fsico Separao de componentes Manual ou mecnica Componentes individuais encon-
trados nos resduos domiciliares Reduo de volume Aplicao de energia em forma de
fora ou presso Reduo de volume do material original
Reduo de tamanho Aplicao de energia para reta-lhamento e moagem
Reduo de tamanho dos compo-nentes originais
Qumico Combusto Oxidao trmica Dixido de carbono (CO2), dixido
de enxofre (SO2), outros produtos de oxidao, cinzas
Pirlise Destilao destrutiva Vrios gases, alcatro e composto de carbono
Biolgico Compostagem aerbica Converso biolgica aerbica Composto humificado usado como
condicionador de solos Digesto anaerbica Converso biolgica anaerbica Metano (CH4), dixido de carbono
(CO2), hmus
Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. (1993)
2.3.1 Reciclagem de resduos slidos domiciliares
A reciclagem uma atividade econmica, que deve ser vista
como um elemento dentro do conjunto de atividades integradas no
gerenciamento dos resduos, no se traduzindo, portanto, como a principal
"soluo" para o lixo, j que nem todos os materiais so tcnica ou
economicamente reciclveis.
Segundo REINFELD (1994), a reciclagem no nova, pois os
comerciantes de sucata, com suas carrocinhas andando pelos arredores das
12
cidades em busca de materiais para serem reciclados, mostram uma
atividade de reciclagem j muito praticada.
Entretanto, no passado, procurava-se reciclar tudo o que
gerasse renda. Nos dias atuais, a sociedade de consumo tornou-se to
diversificada, que em muitos casos mais barato para as indstrias
produzirem materiais utilizando matria-prima virgem, em vez de
retrabalharem a sucata. Um exemplo disso diz respeito ao ao, uma vez que
existem mais de 30.000 graduaes desta liga que no so intercambiveis,
e algumas dessas graduaes altamente especializadas devem ser
produzidas a partir de fontes virgens, a fim de se garantir o contedo
qumico em quantidades necessrias. Quando o ao produzido a partir de
sucata, a utilizao do material resultante limitada. O ao de eixos e o de
estruturas de carros, quando misturados, no servem para qualquer um
desses propsitos. Os mesmos problemas ocorrem com a reutilizao do
papel, do vidro e do plstico, embora em escala diferenciada.
No obstante, alguns produtos podem ser produzidos a partir
do reaproveitamento quase que integral do material antigo, ou parte dele,
conforme a sua especificao. O alumnio e o vidro so exemplos desse
caso, principalmente quando esse ltimo separado em cores
diferenciadas.
Conforme JARDIM (1995), antes de uma comunidade decidir
estimular ou implantar a segregao de materiais, visando a reciclagem,
importante verificar se existe na regio mercado para o escoamento desses
materiais, pois segregar sem mercado, o mesmo que enterrar separado.
Outro fator importante, diz respeito sazonalidade de preos
para a venda de reciclveis, que varia de um material para outro. Segundo o
Compromisso Empresarial Para a Reciclagem, CEMPRE (1993), este fato
13
sugere que, no planejamento de programas de reciclagem, deve-se prever
um local para o armazenamento dos materiais coletados, para vend-los
quando os preos estiverem no pico.
x Coleta seletiva
Um dos caminhos para a segregao dos materiais reciclveis
a coleta seletiva, que consiste na separao de papis, plsticos, metais e
vidros na fonte geradora, sendo esses materiais posteriormente
classificados por categoria e encaminhados s indstrias recicladoras
(AMAZONAS, 1992). Este mtodo deve estar baseado na tecnologia,
empregada na separao, coleta e reciclagem dos materiais; na informao,
visando sensibilizar e motivar o pblico alvo; no mercado, para a absoro
do material recuperado.
A coleta seletiva pode ser realizada nos domiclios, por
veculo de carroceria adaptada, com freqncia semanal, ou atravs de
Postos de Entrega Voluntria (PEVs), mediante a instalao de caambas e
contineres de cores diferenciadas, em pontos estratgicos, onde a
populao possa levar os materiais segregados, conforme ilustra a Figura a
1.
Azul amarelo verde vermelho
papel metal vidro plstico FIGURA.1 -.Recipientes com cores diferenciadas para a entrega voluntria de materiais reciclveis
14
x Educao ambiental Uma comunicao cuidadosa e clara com a comunidade vital
para qualquer programa de coleta seletiva. Se o processo de planejamento
estimular a participao pblica, a comunidade provavelmente ter uma
identificao com o programa de reciclagem proposto, bem antes que ele se
inicie de fato. A educao ambiental tem se mostrado a chave fundamental
para o sucesso dos programas de reciclagem, pois propicia a aprendizagem
do cidado sobre o seu papel como gerador de resduos, atingindo escolas,
reparties pblicas, residncias, escritrios, fbricas, lojas, enfim, todos os
locais onde os cidados geram resduos.
Um dos princpios bsicos da educao ambiental sobre os
resduos o conceito dos trs "Rs": reduzir, reutilizar e reciclar.
reduzir: estimular o cidado a reduzir a quantidade de
resduos que gera, atravs do reordenamento dos materiais usados no seu
cotidiano, combatendo o desperdcio que resulta em nus para o poder
pblico, e conseqentemente, para o contribuinte, a par de favorecer a
preservao dos recursos naturais.
reutilizar: reaproveitar os mesmos objetos, escrever na frente
e verso da folha de papel, usar embalagens retornveis e reaproveitar
embalagens descartveis para outros fins so algumas prticas
recomendadas para os programas de educao ambiental.
reciclar: contribuir com os programas de coleta seletiva,
separando e entregando os materiais reciclveis, quando no for possvel
reduzi-los ou reutiliz-los.
15
x Coleta seletiva no Brasil
Segundo JARDIM (1995), o Compromisso Empresarial Para a
Reciclagem (CEMPRE) e o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT),
constataram, no ano de 1994, a existncia de 82 programas de coleta
seletiva operados pelas prefeituras no Brasil. Esses programas se
concentravam nos estados de So Paulo (26 programas), Rio Grande do Sul
(12), Paran (8), Minas Gerais (8), Santa Catarina (7), Bahia (4),
Pernambuco (4), Rio de Janeiro (4), Espirito Santo (2), Paraba (2),
Acre (1), Braslia (1), Mato Grosso do sul (1), Par (1) e abrangiam, at
ento, desde pequenos municpios at grandes capitais, conforme mostra a
Tabela 3.
TABELA 3 - Distribuio de programas de coleta seletiva no Brasil, em relao a faixa
populacional
Faixa Populacional (hab) Nmero de Municpios com Coleta Seletiva
menor que 20.000 17
entre 20.001 e 50.000 16
entre 50.001 e 100.000 14
entre 100.001 e 300.000 17
entre 300.001 e 600.000 7
maior que 600.000 11
Fonte: JARDIM (1995)
O desempenho desses programas foi avaliado pelo CEMPRE
atravs de uma linha de pesquisa denominada Ciclosoft, que pesquisou oito
cidades entre 1992 e 1994: Curitiba, Florianpolis, Porto Alegre, Salvador,
Santo Andr, Santos, So Jos dos Campos e So Paulo. As Figuras 2 e 3
ilustram alguns resultados obtidos pela pesquisa.
16
FIGURA 2 -.Composio mdia da coleta seletiva
Fonte: JARDIM (1995)
FIGURA 3 - Composio mdia dos plsticos rgidos na coleta seletiva
Fonte: JARDIM (1995)
17
Conforme mostra a Figura. 2, o conjunto papel/papelo se
destaca, embora, no perodo pesquisado, o item que mais tenha crescido,
seja o plstico.
O CEMPRE (apud JARDIM, 1995) estima que 25% da
porcentagem em peso do lixo domstico pode ser reciclado, embora esses
programas tenham apontado uma mdia de somente 4,6% de material
efetivamente reciclado, alcanando na localidade melhor sucedida um
ndice de 10,7%.
Outro fator preocupante o alto custo dos programas, em
mdia US$ 240 por tonelada, contra uma receita mdia de US$ 30 por
tonelada mdia de material comercializado.
Atualmente, o empenho na reciclagem no muito expressivo,
pois a disposio dos resduos ainda pouco onerosa, devido ao fato de se
utilizarem instalaes que basicamente so lixes, e no aterros
sanitrios.
x Aspectos econmicos e financeiros da coleta seletiva Do ponto de vista estritamente financeiro, a viabilidade de um
sistema de coleta seletiva pode ser determinada atravs de uma anlise de
custo-benefcio.
Os custos so classificados em : custo de capital e custos de
operao e de manuteno do sistema. Os custos de capital compreendem
terrenos, instalaes, veculos, conjunto de recipientes para a segregao,
projeto do sistema e demais custos iniciais. Os custos de operao e
manuteno compreendem: salrios, e encargos, combustveis e
18
lubrificantes, gua, energia, seguros, licenas, manuteno, administrao,
divulgao, servios de terceiros, leasing de equipamentos, entre outros.
Os benefcios so classificados em receitas e economias. As
receitas so oriundas da venda dos materiais reciclveis e as economias
dizem respeito reduo no custo de transferncia e disposio final desses
materiais.
Segundo o CEMPRE (1993), importante observar que a
anlise custo-benefcio no o nico indicador de viabilidade, j que no
leva em conta os benefcios sociais e ambientais decorrentes da reciclagem. x Vantagens da coleta seletiva
A coleta seletiva apresenta algumas vantagens expressivas,
dentre as quais se sobressai:
- a boa qualidade dos materiais recuperados, uma vez que no
ficaram sujeitos mistura com outros materiais presentes na massa de
resduos;
- a reduo do volume de resduos a serem dispostos em
aterros sanitrios;
- o estmulo cidadania;
- a maior flexibilidade, pois pode ser feita em pequena escala e
ampliada gradativamente;
- a possibilidade de parcerias entre escolas, associaes
ecolgicas, empresas, catadores, sucateiros, etc.
19
x Desvantagens da coleta seletiva
Como desvantagens, destacam-se as seguintes:
- elevado custo da coleta e transporte, pois necessita de
veculos especiais, que passam em dias diferentes dos da coleta
convencional;
- necessidade de um centro de triagem, onde os reciclveis so
separados por tipo, mesmo aps a segregao na fonte.
x Usinas de triagem e compostagem de resduos slidos domiciliares
Segundo GALVO JNIOR (1994), as usinas de triagem e
compostagem so centros de separao das fraes orgnicas e inorgnicas
dos resduos slidos domsticos, operacionalizados em maior ou menor
escala por equipamentos eletro-mecnicos. uma alternativa coleta
seletiva, podendo existir independentemente de haver ou no o sistema de
compostagem.
A instalao de usinas de resduos no Brasil iniciou-se em
Braslia-DF, h cerca de 30 anos, embora o maior incremento na utilizao
desses centros tenha ocorrido a partir da segunda metade da dcada de 80,
por iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
(BNDES), que colocou disposio das prefeituras municipais uma linha
de crdito para a compra de equipamentos (BLEY JNIOR, 1993). At o
20
incio do ano de 1994, mais de 70 usinas haviam sido instaladas no pas,
conforme levantamento realizado por GALVO JNIOR (1994).
As instalaes das usinas de triagem e compostagem podem
ser agrupadas em cinco setores: recepo e expedio, usina de triagem,
ptio de compostagem, beneficiamento e armazenamento de composto e
outras instalaes, conforme ilustra o Quadro 1, a seguir.
21
QUADRO 1 - Recomendaes de projeto para uma usina de triagem e compostagem de resduos
slidos domiciliares Fonte: JARDIM, (1995)
22
2.3.2 Compostagem
KIEHL (1979), define compostagem como sendo um processo
de transformao de resduos orgnicos em adubo humificado. Dois
estgios podem ser identificados nessa transformao: o primeiro
denominado digesto, e corresponde fase inicial da fermentao, na qual
o material alcana o estado de bioestabilizao e a decomposio ainda no
se completou. Porm, quando bem caracterizada, a digesto permite que se
use o composto como adubo, sem o risco de causar danos s plantas. O
segundo estgio, mais longo, o da maturao, no qual a massa em
fermentao atinge a humificao, estado em que o composto apresenta
melhores condies como melhorador do solo e fertilizante.
O produto final da compostagem, denominado composto,
definido como sendo um adubo preparado com restos de animais e/ou
vegetais. Esses resduos, em estado natural, no tm nenhum valor agrcola;
no entanto, aps passarem pelo processo de compostagem, podem
transformar-se em excelente adubo orgnico.
x Sistemas de compostagem
O processo de compostagem a partir dos resduos slidos
domiciliares pode ser dividido em duas fases distintas: a primeira, onde
ocorre um tratamento mecnico, visando retirar da massa de resduos os
produtos reciclveis e indesejveis e homogeneizar a massa de resduos e
reduzir a dimenso de seus constituintes; a segunda, em que o material
fermentado em leiras, completando o processo.
A Figura 4, resume o processo de compostagem em usinas.
23
RECEPO ESTEIRA DECATAO MOAGEM COPOSTAGEM PENEIRAMENTO
RECICLVEIS
REJEITOS
INDSTRIA
ATERROSANITRIO
COMPOSTO
SOLOPROCESSO
PRODUTO
DESTINO FINAL
LEGENDA
FIGURA 4 - Fluxograma do processo de compostagem em usinas
Fonte: GALVO JUNIOR (1994)
x Custos para a implantao de usinas de triagem e compostagem
Estudos do Compromisso Empresarial Para a Reciclagem -
CEMPRE e do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas - IPT apud JARDIM
(1995), estimam que o custo mdio de investimento por tonelada diria de
capacidade instalada da ordem de US$ 11.000 para instalaes de usinas
com processamento pelo mtodo "natural" de composto; e US$ 25.000 para
usinas operadas com processamento de composto pelo mtodo "acelerado",
excluindo-se o desembolso para a aquisio da rea, terraplenagem e
preparo do ptio de compostagem.
Caso se opte pela contratao de terceiros, esses valores
seriam da ordem de US$ 25.000 e US$ 45.000 para os processos "normal"
e "acelerado", respectivamente. Nesses valores est inclusa a terraplenagem
e o preparo do ptio de compostagem.
A prtica tem mostrado que as instalaes operadas pelo
processo "acelerado" so recomendveis para regies com produo diria
24
de resduos domiciliares superior a 200 toneladas dirias, uma vez que
requerem menor espao para os ptios, devido ao menor tempo de
permanncia do material compostvel.
Quanto s despesas operacionais, os dados brasileiros so
bastante imprecisos e desencontrados, pois dependem de uma srie de
possibilidades e de combinaes contratuais, que variam de uma localidade
para outra, tais como: operao pela prefeitura ou pela iniciativa privada,
incluso dos custos de manuteno, propriedade e comercializao do
composto e dos reciclveis etc.
Um modelo de usina com capacidade de operao de 110
ton/dia, operando pelo processo "acelerado", recebe do poder pblico cerca
de US$ 13,50 (excluindo-se as despesas de manuteno) por tonelada
processada, ficando com a propriedade tanto do composto como dos
materiais reciclveis. Esse preo pode atingir valores entre US$ 35,00 e
US$ 45,00 para usinas com capacidade de 50 ton/dia operando pelo
processo "natural" e at US$ 80,00 para usinas com capacidade superior a
200 ton/dia, operadas pelo processo acelerado, em que o composto e os
reciclveis no ficam com a operadora; neste caso, a operadora presta
servios especiais, tais como monitoramento do processo ou emprego de
pessoal altamente qualificado (JARDIM 1995).
CASTRO (1996) realizou levantamento do custo de operao
da usina de So Matheus, na cidade de So Paulo, cuja mdia mensal de
resduos processados foi no ano de 1995 cerca de 11.000 toneladas,
concluindo que esse custo foi de aproximadamente US$ 12 por tonelada
processada, relativo aos gastos com mo-de-obra e com a energia eltrica,
excluindo-se os gastos com a manuteno do equipamento.
25
x Espao fsico para a instalao de usinas de triagem e compostagem
As dimenses das reas para a implantao das usinas variam
de acordo com a topografia local, com o nvel de instalaes adicionais e
com o mtodo empregado no processamento do composto. Por exemplo,
para uma unidade com capacidade de processamento de 200 ton/dia,
recomenda-se uma rea de 12 hectares para uma usina operar pelo processo
"natural" e 8 hectares para operar pelo processo "acelerado", estando
includa a rea destinada ao aterro de rejeitos, que normalmente ocupa
metade da rea destinada usina. LINDENBERG (1992) sugere uma rea
mnima de 200 m2 por tonelada diria processada.
x Recursos humanos
A mo-de-obra pode ser considerada o fator que mais
influencia o custo operacional de uma usina de triagem e compostagem.
Seu dimensionamento depende de vrios fatores como: capacidade da
usina, qualificao, grau de mecanizao da usina, grau de beneficiamento
dos produtos etc.
Para um municpio de 110 mil habitantes, com uma usina
operando com duas esteiras de 16 metros de comprimento cada uma,
JARDIM (1994) sugere: 1 gerente, 6 funcionrios administrativos, 2
tcnicos de nvel mdio, 2 motoristas, 2 operadores de mquina e 53
tcnicos no qualificados.
GALVO JNIOR (1994), estudando 14 usinas, chegou a
uma relao mdia entre quantidade de resduos processados e mo-de-obra
empregada, de aproximadamente 1,6 ton/homens.dia. Segundo a pesquisa,
este ndice pode ser tomado como um dos indicadores de produtividade e
26
de eficincia das usinas, no significando, porm, que uma usina com
maior processamento de resduos por mo-de-obra seja melhor
operacionalizada que as demais. Para uma melhor avaliao de
desempenho seria necessrio compararem-se a produo de materiais
reciclveis, a quantidade e qualidade do composto e a quantidade de
rejeitos encaminhados para o aterro sanitrio.
As Figuras 5 e 6 ilustram alternativas de instalaes de triagem
e compostagem para cidades com populao entre 75 e 150 mil habitantes
(operadas pelo processo "natural"), e cidades com populao superior a 300
mil habitantes (operadas pelo processo "acelerado").
FIGURA 5 - Usinas para cidades com populao entre 75 e 150 mil habitantes (processo "natural").
Fonte: JARDIM (1995).
27
FIGURA 6 - Usinas para cidades com populao superior a 300 mil habitantes (processo "acelerado").
Fonte: JARDIM (1995). x Fatores que influenciam o processo da compostagem
Os principais fatores que influenciam o processo da
compostagem so de ordem nutricional e ambiental e, esto relacionados ao
controle do processo pelo homem e ao tipo de tecnologia utilizada no
processamento do composto (GALVO JNIOR, 1994).
x A influncia da aerao x A influncia da temperatura x A influncia da umidade x A influncia da relao carbono-nitrognio (C/N)
bioestabilizador
28
x Tempo de processamento da compostagem
O tempo necessrio para a compostagem de resduos orgnicos
est associado aos fatores que influem no processo, ao mtodo empregado
e s tcnicas operacionais. A compostagem natural demanda um tempo de
dois a trs meses para atingir a bioestabilizao e de trs a quatro meses
para a humificao. Pelo mtodo acelerado, a semicura atingida entre 45 e
60 dias e a humificao entre 60 e 90 dias. Essa diferena deve-se
basicamente durao da fase termfila no processo acelerado, que
reduzida de algumas semanas para 2 a 4 dias (JARDIM, 1995).
x Composto orgnico e legislao brasileira
O composto orgnico produzido atravs de resduos urbanos
domiciliares enquadrado na lei como fertilizante orgnico. Os textos
legais que dispem sobre o assunto so: Legislao Brasileira, do
Ministrio da Agricultura, Decreto-Lei 86955, de 18 de fevereiro de 1982,
que condiciona a comercializao de composto a seu prvio registro no
Ministrio da Agricultura e vrias portarias. A Portaria MA-84, de 29 de
maro de 1982 e a Portaria 01, da Secretaria de Fiscalizao Agropecuria
do Ministrio da Agricultura de 4 de maro de 1983, fixa parmetros
fsicos, qumicos e de granulometria, juntamente com as tolerncias
admitidas, conforme mostram as Tabelas 4 e 5.
29
TABELA 4 - Valores dos principais parmetros fsicos e qumicos para o controle de composto orgnico, conforme a legislao em vigor no Brasil
Parmetro Valor Tolerncia
pH mnimo de 6,0 at 5,4
Matria orgnica mximo de 40% at 36%
Nitrognio total mnimo de 1,0% at 0,9%
Umidade mximo de 40% at 44%
Relao C/N mximo 18/l at 21/l
Fonte: LUZ (1986)
TABELA 5 - Especificao para a granulometria de fertilizantes
Granulometria Exigncia (o produto deve passar)
Tolerncia
Farelado 100% em peneira de 4,8mm 90% em peneira de 2,8mm
at 85%
Farelado grosso 100% em peneira de 38mm 90% em peneira de 25mm
no admite
Fonte: JARDIM (1995)
Convm frisar que a Legislao Brasileira omissa para o
composto orgnico, quanto presena de metais pesados, fator que
preocupa os pases desenvolvidos, quando se trata de composto oriundo do
lixo urbano, que contm baterias, lmpadas opacas, cermicas, tinta de
impresso, couro, entre outros.
Pesquisas do IPT (1993) com amostras de compostos de
usinas do Estado de So Paulo, apresentaram valores mdios de metais
pesados: cobre (Cu) = 182 mg/Kg, zinco (Zn) = 433 mg/kg, chumbo
(Pb) = 188 mg/kg, cromo (Cr) = 54 mg/Kg, nquel (Ni) = 22 mg/Kg e
30
cdmio (Cd) = 6 mg/Kg. Ainda ressalta a pesquisa que, de acordo com a
legislao de alguns pases, esse composto poderia ser aplicado em solos da
Frana, ustria e Itlia, sendo proibido na Sua, pela concentrao de
cdmio e chumbo.
x Aplicao do composto
Os adubos qumicos (minerais ou inorgnicos) so fabricados
de modo a apresentarem uma relao ideal entre os chamados
macronutrientes, nitrognio (N), fsforo (P) e potssio (K), elementos
bsicos que os vegetais retiram do solo para a sua formao e
desenvolvimento.
Os adubos minerais, por lei, devem apresentar uma
concentrao no mnimo de 24%, em peso, desses macronutrientes e so
aplicados, com facilidade, na proporo de 500 kg em mdia por hectare.
Os compostos orgnicos obtidos pelo processo de
compostagem de lixo, pelo contrrio, apresentam uma concentrao baixa
desses macronutrientes, entre 1,5 a 2,5 % em peso (1,2% N + 0,6% K) e a
utilizao como adubo deve ser vista com reservas, uma vez que o seu uso
implica em mdia em uma quantidade 17 vezes maior em relao ao
fertilizante mineral. Sua utilizao aconselhada primordialmente para
melhorar as propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do solo, com
objetivos especificados por LUZ (1986):
- melhorar a estrutura do solo, conglomerando as terras frgeis
e soltas;
- aumentar a capacidade de reteno de ar e de gua no solo;
- prevenir e combater a formao de eroses;
31
- favorecer o estabelecimento de minhocas, besouros,
microrganismos e outros seres que revolvem e adubam o solo;
- facilitar o desenvolvimento das plantas, uma vez que as
razes crescem insinuando-se nos vazios existentes na terra;
- tornar o solo mais arvel.
Convm frisar que o composto de resduos slidos
domiciliares no pode ser empregado de maneira generalizada, pois seu
contedo relativamente elevado de sais pode ser prejudicial a uma srie de
plantas. Tambm o pH alcalino do composto restringe a sua aplicao em
plantas acidfilas: cenouras, alface, feijo, cebola, arbustos frutferos,
conferas e azalas so algumas plantas sensveis ao composto orgnico.
Dentre as plantas que aceitam bem o composto orgnico,
podem-se citar: rvores frutferas, vinhedos, plantas ornamentais, couve e
outras hortalias afins.
x Preo do composto
Com relao ao custo, estudos do IPT (apud JARDIM, 1995),
tomaram como base reas de plantio variando entre 5 hectares e 50
hectares: foram calculados o consumo de fertilizante mineral, o consumo
equivalente de composto orgnico e os respectivos custos de transporte por
quilmetro. Para distncia de 20 Km, apontada como mdia em vrias
usinas paulistas, o composto poderia ser comercializado por at US$
5,80/ton. se comparado ao fertilizante produzido base de uria, e at por
US$ 8,40/ton. se comparado ao fertilizante produzido base de sulfato de
amnia.
32
Nas usinas de compostagem, existe atualmente uma tendncia
a subsidiar a aquisio do composto orgnico para pequenos produtores,
em alguns casos entregando-o at a certas distncias, sem cobrar frete.
x Situao das usinas de triagem e compostagem no Brasil
Estudos realizados pelo IPT, em 1990, apontaram que 37
municpios detinham usinas de triagem e compostagem pelo processo
"natural", sendo que 17 delas encontravam-se paralisadas ou desativadas, 5
em obras e 15 em operao. Nesta ocasio, 20 municpios contavam com
instalaes de triagem e compostagem pelo mtodo "acelerado", sendo que
7 estavam paralisadas ou desativadas, 10 em obras e 3 em operao. No
ano de 1994, 8 instalaes pelo mtodo acelerado estavam em operao no
Brasil.
As principais causas das paralisaes e desativaes apontadas
pelo IPT (1993) e GALVO JNIOR (1994) foram:
- instalaes mal planejadas devido disputa das empreiteiras
pelos recursos do BNDES, cuja convico tcnica e mercadolgica nem
sempre foi ao encontro das especificidades dos municpios;
- falta de capacitao gerencial, tcnica e institucional para a
conduo das atividades;
- administradores pblicos equivocados ou vtimas de
propaganda enganosa por parte de vendedores, afirmando que as usinas
eram capazes de transformar todo o lixo em lucro, dispensando os aterros
sanitrios de rejeitos;
33
- localizao inadequada das usinas, acarretando problemas de
ordem ambiental e desentendimento com a populao vizinha ao
empreendimento;
- falta de mercados consumidores, tanto para os reciclveis
quanto para o composto, em distncias compatveis para esse gnero de
empreendimento.
Com base nas pesquisas de GALVO JNIOR (1994) e
CASTRO (1996), pode-se citar dois motivos que tm tornado a alternativa
das usinas de triagem e compostagem pouco atraentes para o
equacionamento do problema do lixo:
as usinas no solucionam o problema do lixo, pois qualquer
que seja o processo de operao apresentam no raramente at 50% de
sobras, rejeitos e refugos, constitudos por materiais orgnicos de difcil
decomposio, tais como: couro, borracha, madeira, alm de materiais
inertes, como areia, terra, cacos, plsticos, lixo de varredura, entulhos e
outros, que devem ser encaminhados para um aterro sanitrio, sempre
imprescindvel para receber os materiais no reaproveitveis.
- as usinas no so economicamente viveis, pois os produtos
reciclveis separados do lixo (sujos), no apresentam qualidades e
vantagens que justifiquem preo compensador, como pode ocorrer quando
esses produtos so separados (limpos) nas residncias.
Quanto ao uso do composto, devido ao fato de o lixo chegar s
usinas completamente misturado, mesmo submetido a onerosos processos
de beneficiamento, este apresenta uma srie de impurezas, tais como
partculas de vidros, de papis, de plsticos, de metais, etc., impossveis de
serem separadas do composto, fato que o torna bastante inferior aos
34
compostos provenientes de granjas, estbulos ou de torta de farelo de
algodo e mamona, disponveis no mercado a preos atraentes. Portanto,
nenhuma usina de triagem e compostagem mostrou-se auto-suficiente at
hoje, como propagam os vendedores aos dirigentes municipais.
Na aquisio desses equipamentos de "industrializao do
lixo", a preocupao no deve ser centrada somente na reciclagem de
material como metais, vidros, papis, papeles e plsticos, cuja proporo
aproveitvel no lixo chega no mximo a 15% da massa de resduos da
coleta regular, mas tambm na destinao final da parte orgnica do lixo,
cujo teor, no Brasil, chega a 50%, e uma vez disposta inadequadamente,
pode causar dano sade pblica e ao meio ambiente. Como j foi
explicitado anteriormente, o composto orgnico humificado pode ser
aplicado como corretivo em alguns tipos de solo, sem efeitos nocivos para
a sade pblica e o meio ambiente (LUZ, 1986).
consenso entre os pesquisadores em resduos slidos que as
instalaes de triagem e compostagem devem ser melhor estudas, tanto em
nvel tecnolgico quanto em nvel operacional, pois so grandes as
expectativas quanto otimizao desses equipamentos para auxiliarem no
equacionamento do problema dos resduos slidos domiciliares no Brasil.
2.3.3 Incinerao
A prtica de empilhar resduos e atear fogo ao ar livre um
costume que vem de vrios sculos. Esta atividade visava principalmente
evitar que a parcela orgnica do lixo entrasse em decomposio,
propagando vetores como ratos, baratas, moscas, alm do mau-cheiro.
Com o crescimento das cidades e o estabelecimento dos
35
servios de coleta do lixo esta prtica tornou-se inadequada, devido aos
incmodos causados s vizinhanas e aos danos provocados ao meio
ambiente. Entretanto, bastante comum verificar nos dias de hoje a adoo
deste procedimento, principalmente na zona rural e na periferia das cidades,
onde os servios de coleta de resduos se mostrem deficientes (LIMA,
1986).
J h algum tempo, principalmente nas grandes metrpoles,
em que a existncia de reas para a construo de aterros sanitrios cada
vez mais escassa, a incinerao vem sendo apontada como uma das
alternativas de tratamento de resduos slidos.
A incinerao de resduos consiste na sua combusto,
controlada atravs de equipamentos especiais denominados incineradores;
ela considerada um mtodo de tratamento de resduos slidos, semi-
slidos e lquidos.
Basicamente, a incinerao consiste num processo de reduo
de peso e volume do lixo. Os remanescentes da queima so geralmente
constitudos de gases, como o anidrido carbnico (CO2), o anidrido
sulfuroso (SO2), o nitrognio (N2), o oxignio (O2) proveniente do ar em
excesso que no foi queimado completamente, gua (H2O), cinzas e
escrias constitudas de metais ferrosos e inertes, como vidro e pedras.
A escria, geralmente da ordem de 15 a 20% da massa original
do lixo, deve ser encaminhada para um aterro sanitrio, e a sucata de ferro
pode ser reciclada.
Quando a combusto incompleta, os gases, principalmente o
monxido de carbono (CO) e partculas (fuligem ou negro de fumo)
exercem forte ao poluidora na atmosfera. Portanto, imprescindvel que
36
os incineradores modernos contem, alm da cmara de combusto, com
equipamentos complementares, como filtros destinados ao tratamento de
gases e agregados leves resultantes da combusto dos resduos (CETESB,
1985).
Outro aspecto importante a ser considerado na instalao de
incineradores a possibilidade da recuperao do calor gerado no processo
da queima dos resduos.
x Partes constituintes de um incinerador
Os rgos responsveis pelo controle da poluio ambiental
tm aumentado, cada vez mais, as exigncias relacionadas minimizao
dos impactos negativos gerados nos processos de tratamento e destinao
final de resduos slidos, principalmente no que diz respeito a instalaes
de incineradores. Essas exigncias visam a impedir que as experincias
desastrosas com usinas de incinerao em vrias partes do mundo se
repitam aqui, principalmente aquelas envolvendo resduos industriais.
Para que uma usina de incinerao opere com sucesso, uma
srie de informaes a respeito dos resduos a serem incinerados devero
direcionar o projeto. Entre elas incluem-se: - tipo, quantidade e composio dos resduos a serem
incinerados;
- poder calorfico inferior (PCI), que indica a quantidade de
calor liberado por uma determinada quantidade de resduos durante o
processo de queima;
- quantidade de ar necessrio para a combusto completa dos
resduos;
37
- quantidade e natureza das cinzas, eventualmente geradas no
processo etc.
O desconhecimento dessas e de outras variveis, pode resultar
em projetos equivocados, dificultando o controle, a operao e a
manuteno do equipamento, alm de aumentar os riscos de poluio do
meio ambiente. Equipamentos com essas caractersticas tm sido fechados
em vrios pases do mundo, gerando formidveis prejuzos aos cofres
pblicos, em funo do seu elevado custo. A Figura 7 ilustra um
incinerador utilizado para a combusto controlada de resduos slidos
urbanos nos Estados Unidos e seus principais componentes.
FIGURA 7 - Partes constituintes de um incinerador. Fonte: TCHOBANOGLOUS (1993)
Os componentes do incinerador mostrados na Figura 7
executam as seguintes etapas do processo:
38
a- recepo e carregamento - os veculos coletores, aps serem
pesados, descarregam os resduos em um fosso de armazenamento, dotado
de um dispositivo de drenagem e um sistema de aspirao de poeira.
Um ou dois sistemas multi-garras, que se movimentam atravs
de pontes rolantes, apanham os resduos, conduzindo-os a uma tremonha
ou funil de alimentao, ligado fornalha.
b- tremonha de alimentao - nas instalaes modernas, as
tremonhas de alimentao so dotadas de dispositivos que retm os
resduos, impedindo a troca de calor entre a fornalha e o meio externo,
alm de permitir a alimentao contnua da cmara de combusto.
c- pr-secagem - realizada para aumentar o poder calorfico dos
resduos; os incineradores modernos contam com uma grelha especfica para
esse fim.
d- cmara de combusto - trs fatores principais controlam
essa fase do processo: temperatura, tempo e turbilhonamento.
A temperatura deve se situar na faixa de 800 a 1000oC, uma
vez que os odores de compostos orgnicos so eliminados entre 800 e
900oC.
O tempo de permanncia de gases na cmara de combusto
muito importante para que se obtenha a combusto completa. As cmaras
de combusto devem ser amplas para reduzir a vazo dos gases, e altas,
para que os materiais volteis, cujo teor alto no lixo, misturem-se ao ar e
se inflamem.
O turbilhonamento indispensvel, pois provoca o aumento da
rea de contato das partculas com o oxignio necessrio para a queima. A
turbulncia obtida artificialmente, por injeo de ar a alta presso em
locais previamente escolhidos da cmara de combusto.
39
Alguns incineradores de resduos industriais perigosos contam
com uma cmara complementar, onde se completa a combusto dos gases e
das partculas por eles carregadas.
e- grelhas - so dispositivos intimamente ligados eficincia
do processo de queima; nos incineradores atuais, so constitudas por
barras estreitamente espaadas em forma de degraus, que oscilam
automaticamente em movimentos desencontrados, de forma a favorecer um
maior contato entre os resduos e o ar insuflado entre as barras. As escrias,
resultantes da queima, so transportadas de um degrau para o outro, at
deixarem a cmara de combusto.
f- extrao de escrias e cinzas - na sada da cmara de
combusto, as escrias passam por um britador que desfaz os torres de
lixo incinerado e amassa as latas. Em seguida, as escrias so
descarregadas em um tanque contendo gua para o seu resfriamento e,
posteriormente, empurradas por um rodo at uma correia transportadora
que conduz o material para a caamba de um veculo coletor. Essa escria,
representando cerca de 15% do material original, em seguida
encaminhada para um aterro sanitrio. Alguns incineradores so dotados de
ms encarregados de separar das escrias os materiais ferrosos, para serem
comercializados como sucata.
As cinzas, acumuladas na cmara de combusto, nos dutos e
na base da chamin, so removidas durante as paradas peridicas do
incinerador, atravs de sistemas mecnicos ou pneumticos.
g- dispositivos para recuperao de energia - alguns
incineradores so equipados com caldeiras, visando a recuperao do calor
gerado na combusto dos resduos.
40
O vapor gerado nesse equipamento devido troca de calor
com os gases da combusto, a ser utilizado diretamente para o aquecimento
de gua em industrias localizadas nas proximidades da usina de
incinerao, ou ainda ser transformado em energia eltrica atravs de
instalaes especiais, como as turbinas, a ser vendida s concessionrias de
energia.
h- filtragem e tratamento dos gases - segundo a CETESB
(1985), os gases de combusto deixam a cmara do incinerador a uma
temperatura entre 800 e 1000oC e devem ser resfriados antes de serem
submetidos a qualquer processo convencional de tratamento. Para os
incineradores atuais, so previstos um trocador de calor e um precipitador
eletrosttico. O trocador de calor pode produzir calor ou gua quente, gerar
eletricidade, ou mesmo fazer funcionar linhas de aquecimento, e desse
modo contribuir para a reduo dos custos de operao. Dessa forma, a
temperatura dos gases de combusto baixam, situando-se entre 200 e
300oC, permitindo que os precipitadores eletrostticos entrem em operao
e removendo grande quantidade de partculas, resultantes da combusto dos
resduos.
Os incineradores devem ainda ser dotados de sistemas de
lavagem de gases, para controlar a emisso de gases cidos tambm
formados durante o processo de queima dos resduos.
i- dispositivos de tiragem de gases - so constitudos de
chamins e ventiladores que lanam os gases na atmosfera. O tipo de
chamin mais empregada a "multi-flue", que consiste em um duto
principal, envolvido por uma camisa de concreto, contendo em seu interior
outros dutos menores, destinados a aumentar a velocidade de fluxo.
41
x Monitorizao do processo de incinerao No processo de incinerao, a temperatura de combusto dos
resduos e a emisso de gases devem ser rigorosamente monitoradas. Para
tanto, os incineradores devem ser dotados de sistemas de alarme e de
segurana contra eventuais falhas de operao. A temperatura monitorada
em vrios pontos do equipamento, principalmente na rea de combusto
dos resduos e na cmara de ps-queima, garantindo a ativao, caso haja
necessidade, de ps-queimadores para a adequao da temperatura de
queima dos resduos gasosos.
A monitorizao da velocidade do ar e dos nveis de oxignio
orienta a distribuio de ar no interior do incinerador.
x Controle da poluio As instalaes trmicas projetadas e operadas sem o devido
rigor tcnico produzem impactos ambientais diversos, incluindo emisses
gasosas e particuladas indesejveis, resduos slidos e efluentes lquidos.
Em condies apropriadas de construo, operao e manuteno, pode-se
atenuar a emisso desses agentes.
Vrios incineradores na Europa tiveram suas atividades
encerradas devido ao fato de a composio dos gases em particulado
emitidos na atmosfera no estar ajustada aos padres ambientais fixados.
x Controle de material particulado O material particulado formado no processo da incinerao
coletado por dispositivos como:
- filtros de tecido (filtros-manga), projetados com sacos de
tecido resistentes ao calor, que capturam as partculas;
42
- precipitadores eletrostticos, que tratam as emisses pela
aplicao de uma tenso nas partculas, carregando-as negativamente,
para posteriormente serem removidas por um sistema de placas carregadas
com carga positiva;
- lavadores venturi, que utilizam grandes volumes de gua
em forma de gotculas e, ao impactar a corrente gasosa, capturam as
partculas. O efluente lquido resultante desse processo deve ser
encaminhado para uma estao de tratamento.
x Controle de gases cidos O enxofre, o cloro orgnico e o nitrognio presentes nos
resduos domiciliares formam os gases cidos: xidos de enxofre (SOx),
cido clordrico (HCl) e xidos de nitrognio (NOx). As unidades
consideradas mais eficientes de controle desses gases so os lavadores de
"spray" de cal, seguidos de filtros-manga. Essa tcnica tambm eficiente
no controle da emisso de metais, dioxinas e furanos.
TCHOBANOGLOUS et al. (1993) e JARDIM (1995) detalham e
comparam a eficincia das tecnologias citadas.
x Dioxinas e os furanos As dioxinas (PCDD's) e os furanos (PCDF's) constituem uma
famlia de substncias organocloradas de 210 ismeros (75 de dioxinas e
135 de furanos), onde o elemento cloro (Cl), pode estar presente em
qualquer uma das posies numeradas (1,2,3,4,6,7,8,9), ou em todas
simultaneamente, conforme mostra a Figura 8.
43
Policlorodibenzeno-para-dioxina Policlorodibenzenofurano (PCDD's) (PCDF's) FIGURA 8 - Estruturas das famlias de dioxinas e furanos Fonte: TCHOBANOGLOUS et al (1993)
Alguns ismeros das famlias de PCDDs e PCDFs so
substncias extremamente txicas. Por exemplo: 2,3,7,8 TCDD - DL50
(porco de guin) menor que 1 g/kg do peso corporal. O agente laranja
(desfolhante usado na guerra do Vietn) estava contaminado com 2,3,7,8 TCDD.
H evidncias de que os PCDDs e PCDFs so cancergenos
em animais, mas para os seres humanos o fato ainda questionvel.
O mecanismo de formao de PCDD e PCDF em processos
trmicos envolvendo resduos slidos domiciliares no foram
determinados. So propostas trs fontes:
- a presena de PCDD e PCDF no prprio lixo;
- a formao durante a combusto devido a presena de
precursores aromticos clorados;
- a formao durante a combusto pela presena de
hidrocarbonetos e cloro.
O controle de emisso de dioxinas, furanos e metais feito
atravs do emprego de trs tecnologias distintas:
- separao na fonte;
- controle da combusto;
- controle de emisso de particulados.
tomos de oxignio
tomos de oxignio
44
Nos Estados Unidos da Amrica, foi estabelecido pela
Environmental Protection Agency -EPA, o limite de 30 ng/m3 para o total
de dioxinas e furanos emitidos de incineradores de resduos slidos
domiciliares, com capacidade igual ou superior a 250 ton/dia.
Na Alemanha, esse limite para incineradores de resduos
perigosos de 0,1 ng/m3 TEQ (unidade de Toxidade Equivalente), tendo
como referncia, os ismeros, onde o elemento cloro ocupa as posies
2,3,7,8 (tetraclorodibenzo-para-dioxina - TCDD), ou as mesmas posies
2,3,7,8 (tetraclorodibenzenofurano - TCDF), considerando-se que, dentre
as diversas combinaes possveis, esses ismeros so os que apresentam
maior toxidade. O valor de ambos, tomado como referncia, igual a 1,0
(um). As demais combinaes possveis so sempre menores que 1,0
(TCHOBANOGLOUS et. al., 1993).
Atualmente, no existem no Brasil entidades pblicas que
realizem anlises de teores de dioxinas e furanos em nvel de concentrao
to baixos. A Figura 9, mostra as estruturas tomadas como unidade de
Toxidez Equivalente (TEQ).
FIGURA 9 - Estrutura do tetraclorodibenzeno-para-dioxina 2,3,7,8 (TCDD) e do tetracloro-
dibenzenofurano 2,3,7,8 (TCDF)
Fonte: TCHOBANOGLOUS et. al. (1993)
tomos de oxignio tomos de i i
Cl
Cl
Cl
Cl
Cl
Cl
Cl
Cl
45
x Custos da incinerao Para a anlise de custos das instalaes de incinerao, devem-
se considerar os custos de capital e os custos operacionais
Para os incineradores modulares, com capacidade de processar
at 400 ton/dia, estima-se um custo de capital na faixa de US$ 100.000 a
130.000 por tonelada de capacidade. Para instalaes de maior capacidade
esse custo varia de US$ 80.000 a 90.000 por tonelada de capacidade.
Ressalte-se que para qualquer uma das situaes, os custos de
capital diminuem com o aumento da capacidade de processamento.
Com relao aos custos operacionais estima-se, em termos
internacionais, que uma instalao com capacidade de incinerao de 2000
ton/dia, custo US$ 20 por tonelada em base anual, incluindo manuteno e
operao.
Esses custos podem variar, de acordo com as condies
especficas locais e a tecnologia utilizada, devendo-se ressaltar que a
incinerao dos resduos industriais bem mais onerosa, podendo chegar a
US$ 3.000 por tonelada, dependendo do tipo de resduo (JARDIM, 1995).
x Legislao sobre incinerao no Brasil No Brasil, para as instalaes de incinerao com capacidade
superior a 40 ton/dia, exige-se a apresentao do Estudo de Impactos
Ambientais e do Relatrio de Impacto Ambiental EIA/RIMA, segundo a
resoluo CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente no 1, de 23
de janeiro de 1986.
Para instalaes com capacidade nominal menor, as
Secretarias de Estado do Meio Ambiente se encarregam da exigncia ou
dispensa do EIA/RIMA.
46
O licenciamento de incineradores compreende duas fases
distintas: a Licena de Instalao (LI), em que o projeto submetido ao
rgo de controle ambiental para anlise do projeto, dos impactos
ambientais e das medidas mitigadoras propostas e o Licenciamento de
Operao (LO), para o qual, entre outros, o interessado deve apresentar um
"plano de teste de queima", a ser apreciado pelos rgos de controle
ambiental.
x Vantagens e desvantagens da incinerao So vantagens relevantes da incinerao:
- reduo dos resduos em at 5% do volume e 15% do peso
original, tranformando-os em cinzas e escria, e aumentando
consideravelmente o perodo de vida til do aterro;
- eliminao satisfatria, sob o ponto de vista sanitrio, de
resduos de servios de sade, alimentos, medicamentos vencidos, sobras
de laboratrios e animais mortos;
- diminuio de distncia de transporte, devido possibilidade
de localizao da instalao em reas prximas aos centros urbanos;
- bom funcionamento, independentemente das condies
meteorol-gicas;
- possibilidade de recuperao de energia contida nos resduos.
Como desvantagens desse processo, destaca-se:
- investimento elevado;
- alto custo de operao e manuteno;
47
- possibilidade de causar poluio atmosfrica quando o
incinerador mal projetado ou mal operado;
- exigncia de mo-de-obra especializada na operao.
2.3.4 Disposio final de resduos slidos domiciliares
2.3.4.1 Aterro sanitrio Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT
aterro sanitrio de resduos slidos urbanos, consiste na tcnica de disposio de resduos slidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos sade pblica e segurana, minimizando os impactos ambientais, mtodo este que utiliza princpios de engenharia para confinar os resduos slidos menor rea possvel e reduzi-los ao menor volume permissvel, cobrindo-os com uma camada de terra na concluso de cada jornada de trabalho ou a intervalos menores se for necessrio (ABNT, 1984).
A aplicao desse processo difundida em quase todo o
mundo, por se apresentar como a soluo mais econmica, quando
comparada a outros processos (compostagem e incinerao, por exemplo),
que exigem grandes investimentos para a construo e para a manuteno
da estrutura tcnico-administrativa de operao (LEITE, 1991). Embora em
alguns casos a compostagem e a incinerao tornem-se viveis
economicamente, como o caso das grandes cidades, deve-se ressaltar que
tais mtodos no descartam a existncia de aterros sanitrios em suas
proximidades, uma vez que esses sistemas produzem resduos de processo
que no so aproveitveis, ou ainda por fator de segurana, na ocorrncia
de imprevistos que paralisem as instalaes.
48
A maioria das cidades brasileiras confunde aterro sanitrio
com "vazadouros", "lixes", "depsitos", etc., mtodos que, desprovidos de
critrios cientficos ou ecolgicos, so condenados sob o ponto de vista
sanitrio. Ressalte-se tambm que o lixo urbano conta com grande parte de
matria orgnica, que entra rapidamente em decomposio ao ar livre,
proliferando moscas, baratas, ratos, urubus, alm de exalar mau-cheiro
(BRANCO, 1980).
A falta de revolvimento peridico dessa massa orgnica faz
com que o oxignio em seu interior seja rapidamente consumido pela ao
bacteriana, dando lugar decomposio anaerbica, com desprendimento
de gases, como o metano, o gs carbnico, e alguns gases de odores
desagradveis, como o gs sulfdrico e mercaptanas, entre outros.
Outro fator preocupante a formao do "chorume" (frao
lquida, escura, cida e de odor desagradvel), durante a decomposio
anaerbia. Esse lquido pode infiltrar-se no solo ao ser lixiviado na forma
de percolado, podendo vir a poluir e contaminar as guas superficiais e
subterrneas.
Segundo LUZ:
chorume ou sumeiro o lquido oriundo da decomposio do
lixo e provm de trs fontes:
- umidade natural do lixo, que se agrava sensivelmente nos
perodos prolongados de chuva, principalmente se forem usados
recipientes abertos no acondicionamento
- gua de constituio dos vrios materiais, que sobra durante a
decomposio
- lquidos provenientes da dissoluo da matria orgnica pelas
enzimas expelidas pelas bactrias. Esses microrganismos
unicelulares, para se alimentarem, expelem enzimas que
49
dissolvem a matria orgnica, possibilitando em seguida a
absoro atravs das suas membranas. O excesso escorre como
lquido negro, caracterstico de resduos orgnicos em
decomposio (LUZ, 1981).
E percolados, ainda de acordo com o mesmo autor:
so as guas pluviais no desviadas da rea onde se realiza o
aterro, infiltraes de lagoas vizinhas ou do prprio lenol
fretico e nascentes no detectadas por ocasio da escolha do
local, cuja vazo se intensifica nos perodos de chuva
prolongada. Depois de atingido o ponto de saturao da massa
disposta no aterro, essas guas escorrem arrastando o chorume e
outros elementos prejudiciais tanto para o lenol subterrneo
como para os cursos de gua prximos (LUZ, 1981).
Segundo FELLENBERG (1980), os componentes orgnicos
do lixo sofrem decomposio bacteriana. A umidade que se desprende do
lixo arrasta consigo muitas substncias sulfuradas, nitrogenadas e cloradas,
txicas e de odor desagradvel, situao que se assemelha destilao por
arraste de vapor, que ocorre na queima do cigarro.
Particularmente em perodos de chuva, ocorrem nos depsitos
de lixo infiltraes de gua que penetram at as guas subterrneas.
Substncias solveis presentes no lixo so, assim, arrastadas para as
camadas mais profundas do solo.
Nas infiltraes provenientes do lixo predominam substncias
inorgnicas, como cloretos, nitratos, sulfatos e carbonatos. Entre os ctions,
predominam os ons magnsio, sdio, potssio, clcio e amnio; ons de
metais pesados ocorrem em quantidades menores que nas guas residurias
industriais.
50
O valor da DBO (demanda bioqumica de oxignio) de guas
de infiltrao provenientes de depsitos de lixo mais antigos da ordem de
200 a 2000 mg/l. Em lixo recente, estes valores atingem no raramente
demandas superiores a 20000 mg/l. Nos esgotos sanitrios "in natura" estes
valores so bem inferiores, oscilando entre 200 e 400 mg/l.
O lixo de procedncia industrial geralmente altera a
composio das guas de infiltrao; normalmente a proporo de
compostos orgnicos menor que no lixo domstico. As guas de
infiltrao passam a conter substncias de forte ao txica, quando ocorre
despejo ilegal, e de resduos industriais contendo arseniatos, cianetos, etc.
sem medidas de segurana.
Se estas guas de infiltraes alcanarem guas superficiais ou
profundas, contribuiro acentuadamante para a eutrofizao, por causa do
elevado teor de substncias minerais. A contaminao das guas profundas
por estas infiltraes depende no s da profundidade em que se situa o
lenol, mas tambm da fora de adsoro e da capacidade de autodepurao
do solo atravessado. A natureza do solo influencia tambm a velocidade de
escoamento das guas infiltradas, de modo que "depsitos" de lixo ou at
mesmo aterros sanitrios mal operados, podem comprometer as guas
profundas imediatamente ou aps alguns decnios.
A Figura 10 mostra um modelo terico da formao de
lquidos percolados em aterros sanitrios.
51
FIGURA 10 - Volume de controle utilizado em estudos de aterros sanitrios.
Fonte: TCHOBANOGLOUS et al. (1993)
Na construo de aterros sanitrios, independentemente da
tcnica construtiva empregada, o risco de contaminao das guas
superficiais e subterrneas existe. Esse risco est aliado infiltrao do
chorume, s falhas que eventualmente podem ocorrer na construo e
operao dos aterros e infiltrao das guas de chuva, que aumentam
consideravelmente a quantidade de percolado.
A infiltrao do percolado geralmente ocorre na forma de
pluma, com migrao descendente na direo da gua subterrnea.
x Planejamento para locao
Exigncias econmicas hoje obrigam a ocupao cada vez
mais racional do solo, fazendo-se necessria a seleo criteriosa de locais
para a deposio dos resduos slidos, de modo a preservar os recursos
naturais peculiares a cada regio.
52
Pases que se adiantaram na questo dos resduos slidos j
vm h algum tempo empreendendo estudos cujo objetivo otimizar a
metodologia necessria escolha de stios para a implantao de aterros
sanitrios.
O Brasil, pas tropical, apresenta caractersticas bastante
distintas das encontradas nesses pases, onde predomina o clima frio e
moderado. Essas diferenas justificam estudos que levem em conta as
nossas peculiaridades naturais - climticas, hidrolgicas e geolgicas -, a
fim de que se estabelea um conjunto de regras para a seleo preliminar e
a escolha desses stios, no deixando de mencionar, tambm, os aspectos
sociais, econmicos e culturais, entre outros.
Para a construo de um aterro verdadeiramente sanitrio, uma
srie de exigncias devem ser verificadas, a fim de que todas as estruturas
deste gnero de empreendimento funcionem conforme o previsto no
projeto.
x Critrios para implantao
O licenciamento ambiental das instalaes de tratamento e
disposio final de resduos slidos no Brasil realizado a partir da
aplicao da Resoluo CONAMA 001/86 (Conselho Nacional do Meio
Ambiente), que institui a obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental
- EIA, e do Relatrio de Impacto Ambiental-RIMA, para as atividades
modificadoras do meio ambiente (aguarda-se nova Resoluo).
No Estado de So Paulo, a normatizao dos procedimentos
para o licenciamento ambiental foi estabelecida pela Resoluo SMA 42/94
(Secretaria de Estado do Meio Ambiente), que institui dois instrumentos
preliminares para a exigncia ou dispensa de EIA e de RIMA: o Relatrio
53
Ambiental Preliminar - RAP e o Termo de Referncia - TR.
O RAP configura-se como o documento bsico para o
licenciamento ambiental e instrumenta a deciso do rgo ambiental sobre
a exigncia ou dispensa de EIA/RIMA. O contedo do RAP, a ser
desenvolvido pelo empreendedor, geralmente atravs de consultoria
especializada, inclui os seguintes itens:
- objeto do empreendimento;
- justificativa do empreendimento quanto necessidade,
apresentao das alternativas locacionais e tecnolgicas estudadas e
defesa da alternativa adotada;
- caracterizao do empreendimento;
- diagnstico ambiental preliminar na rea de influncia do
empreendimento, refletindo as condies atuais do meio fsico, biolgico e
scio-econmico, interrelacionadas em um diagnstico integrado, que
permita a avaliao dos impactos decorrentes da implantao do
empreendimento;
- identificao dos principais impactos que podero ocorrer
como conseqncia das diversas aes previstas para a implantao e a
operao do empreendimento;
- medidas mitigadoras, compensatrias e/ou de controle
ambiental, considerando os impactos previstos.
A Resoluo SMA 42/94 estabelece, ainda, que o
licenciamento ambiental se dar atravs de trs etapas: Licena Prvia - LP,
Licena de Instalao - LI e Licena de Operao LO, de acordo com o
fluxograma mostrado na Figura 11.
54
RAP TR EIA
LP LI LO
FIGURA 11 - Fluxograma para a obteno do licenciamento ambiental
Fonte: Secretaria de Estado do Meio Ambiente - RAP (1995)
Deve-se observar que, dependendo do volume de resduos
slidos gerado diariamente, ser necessria a apresentao do EIA/RIMA.
No entanto, este fato no dispensa a apresentao do RAP.
x Estudos para seleo de reas para a implantao
No processo de escolha de reas para a implantao de aterros
sanitrios, conforme JARDIM (1995), deve-se ter sempre em mente a
importncia das caractersticas do meio fsico. Uma rea adequada significa
menores gastos com preparo, operao e encerramento do aterro, mas
fundamentalmente significa menores riscos ao meio ambiente e sade
pblica.
Os trabalhos de viabilizao exigem, assim, a compatibilizao
de vrios fatores, buscando-se o equilbrio entre os aspectos sociais, as
alteraes no meio ambiente e os custos do empreendimento. Para tanto,
parte-se de estudos gerais, identificando-se as vrias reas potenciais, sendo
priorizadas as mais promissoras.
Os seguintes dados devem ser levantados para a orientao da
escolha da rea do empreendimento:
55
x Dados gerais
- dados populacionais: nmero de habitantes atuais, flutuante e
projetado, bem como as taxas de variao populacional;
- caracterizao dos resduos: quantidade e qualidade dos
resduos que se deseja encerrar no aterro sanitrio;
- informaes sobre o manejo de resduos slidos no
municpio: este item contempla os dados referentes varrio,
acondicionamento, coleta e transporte dos resduos, bem como os tipos e
caractersticas dos equipamentos utilizados, tempo e rotina da coleta, entre
outros.
x Dados geolgicos e geotcnicos
Constituem-se em ferramenta fundamental para a escolha do
local mais adequado para a disposio, pois as informaes obtidas atravs
desses estudos contribuem de forma decisiva na minimizao dos impactos
ambientais provocados pela disposio dos resduos.
Na construo de aterros sanitrios, independentemente da
tcnica construtiva empregada, o risco de contaminao das guas
superficiais e subterrneas existe. Esse risco est aliado infiltrao do
chorume, s falhas que eventualmente podem ocorrer na construo e
operao dos aterros e na infiltrao das guas de chuva que aumentam
consideravelmente a quantidade de percolado.
A infiltrao do percolado geralmente ocorre na forma de
pluma, com migrao descendente na direo da gua subterrnea. O grau
de contaminao pode ser controlado atravs do conhecimento das
56
caractersticas fsicas do solo e da distncia entre a fonte de poluio e o
nvel do lenol fretico.
A possibilidade de contaminao decresce com o aumento
dessa distncia, devido acentuada diluio e absoro do poluente, sendo
grande a chance de sua degradao. Nas regies planas, a poluio
espalhada para fora da rea do aterro em numerosas ramificaes.
Alguns atributos fsicos e ambientais devem ser identificados e
analisados durante a seleo de stios para a construo dos aterros
sanitrios, conforme destacam ZUQUETTE e GANDOLFI (1992). So
eles:
Relevo do solo
Material no consolidado
Escoamento superficial e infiltrao
Nvel das guas subterrneas
Substrato rochoso
Compressibilidade do solo
Material de cobertura do aterro
x Dados sobre guas superficiais
x Dados sobre clima
x Dados sobre legislao
x Dados scio-econmicos
O Quadro 2 mostra o modelo proposto pelo autor citado.
57
CLASSIFICAO DAS REAS DADOS NECESSRIOS RECOMENDADA RECOMENDADA
COM RESTRIES NO-
RECOMENDADA Vida til Maior que 10 anos (10 anos, a critrio do rgo ambiental)
Distncia do centro atendido Maior que 10 km 10-20 km Maior que 20 km Zoneamento ambiental reas sem restries no zoneamento ambiental Unidades de
conservao ambiental e correlatas
Zoneamento urbano Vetor de crescimento mnimo
Vetor de crescimento intermedirio
Vetor de crescimento mximo
Densidade populacional Baixa Mdia Alta
Uso e ocupao das terras reas devolutas ou pouco utilizadas Ocupao intensa
Valorizao da terra Baixa Mdia Alta Aceitao da populao e de entidades ambientais no-governamentais
Boa Razovel Inaceitvel
Distncia dos cursos d'gua (crregos, nascentes etc.)
Maior que 200 m Menor que 200 m, com aprovao do rgo ambiental responsvel
QUADRO 2 - Critrio para a avaliao das reas para a instalao de aterro sanitrio
Fonte: JARDIM (1995) x Classificao e mtodos de operao
O aterro sanitrio tem por objetivo prioritrio a destinao
final dos resduos slidos, entretanto, pode assumir, em determinadas
situaes, um papel secundrio, porm no menos importante, recuperando
reas degradadas pela ao do homem ou da prpria natureza. A tcnica e
os cuidados a serem observados nesse caso, devem levar em conta os
preceitos