APS PRONTA 2013 1º

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INSTITUTO DE CINCIAS DA SADE

CURSO DE FARMCIA

DOENAS PARASITRIAS TROPICAIS E NEGLIGENCIADAS MARCIA DE FATIMA GEHMB43CHI9So Jos do Rio Preto

2013

INSTITUTO DE CINCIAS DA SADE

CURSO DE FARMCIA

DOENAS PARASITRIAS TROPICAIS E NEGLIGENCIADAS MARCIA DE FATIMA GEHMTrabalho de Atividades Prticas Supervisionadas apresentado Universidade Paulista - UNIP, como requisito para aprovao na disciplina APS.Orientador: Prof. Lya BuenoSo Jos do Rio Preto

2013RESUMOAdoena tropicaltem uma correlao intrnseca no s com o ecossistema, mas tambm com a condio social da populao. Decorrente da pobreza, tambm o abandono do tratamento pelos doentes as estatsticas mostram que o abandono ao tratamento atinge grandes propores no pas, estimativas indicam dados entre 17% e 25%.

As principais causas de abandono podem ser atribudas desde a um tempo longo de tratamento, deficincia no sistema de atendimento aos doentes, falsa impresso de cura aps algumas semanas de tratamento e a fatores individuais (alcoolismo, etc...).

Alm dos fatores sociais, existem os problemas tcnicos, polticos e administrativos, que so comuns a qualquer programa de sade pblica. Resolver os problemas implica em aes com uso de tecnologia apropriada, estrutura sanitria bsica, enfoque epidemiolgico, deciso poltica e participao da sociedade.

Novos paradigmas, tm, portanto, que serem estabelecidos para o combate sdoenas tropicais.

Palavras-chave: Doenas, dengue, malria, febre amarela, Leishmaniose

INTRODUO

Adoena tropicaltem uma correlao intrnseca no s com o ecossistema, mas tambm com a condio social da populao. Decorrente da pobreza, tambm o abandono do tratamento pelos doentes as estatsticas mostram que o abandono ao tratamento atinge grandes propores no pas, estimativas indicam dados entre 17% e 25%.

As principais causas de abandono podem ser atribudas desde a um tempo longo de tratamento, deficincia no sistema de atendimento aos doentes, falsa impresso de cura aps algumas semanas de tratamento e a fatores individuais (alcoolismo, etc...).

Alm dos fatores sociais, existem os problemas tcnicos, polticos e administrativos, que so comuns a qualquer programa de sade pblica. Resolver os problemas implica em aes com uso de tecnologia apropriada, estrutura sanitria bsica, enfoque epidemiolgico, deciso poltica e participao da sociedade.

Novos paradigmas, tm, portanto, que serem estabelecidos para o combate sdoenas tropicais.

Situao atual

A pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos no combate sdoenas tropicais considerada um nicho de mercado de pouco interesse por parte das empresas estrangeiras. Embora se verifique a existncia de capacitao tcnico-cientfica no pas para o desenvolvimento e produo de medicamentos e seus insumos, o que se constata que os grupos trabalham isoladamente, de forma desarticulada e no integrada.

Conseqentemente, embora haja investimentos na rea, os recursos so dispersos, o que dificulta potencialidade de nossa biodiversidade est distante de uma explorao efetiva, e os entraves existentes para aprovao e registro de novas drogas desestimulam o desenvolvimento de novos produtos. As deficincias na operacionalizao das unidades vinculadas ao SUS (Sistema nico de Sade) prejudicam o acesso da populao aos medicamentos.

As novas tecnologias de comunicao vm abrindo, entretanto, a possibilidade de integrao com o ambiente externo, tanto ao nvel nacional quanto internacional.

Diarria

Segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS), a diarria provoca a morte de uma pessoa a cada 10 segundos em todo o mundo. Normalmente est associada desnutrio protico-calrica e a problemas de subdesenvolvimento decorrente da falta de higiene e sistemas de tratamento para gua e esgoto.

Crianas pobres so as mais atingidas, inclusive no Brasil, apresentando de 50 a 60 dias de diarria por ano. A morte de crianas devido diarria superior s mortes por pneumonia e sdoenasevitveis por vacina. No Brasil, um pas endemicamente parasitado, onde as condies sanitrias so precrias em vrias regies, o exame protoparasitolgico tem muita importncia no diagnstico da diarria. Ela pode ser classificada como de origem osmtica, secretora, motora ou exsudativa (disenteria). Na diarria osmtica preciso ter um elemento osmoticamente ativo no interior do intestino, que atraia gua para a luz intestinal.

No caso de diarria secretora, o exemplo clssico est relacionado com o clera, em que h um estimulo do complexo adenilatociclase e conseqentemente um aumento nas perdas hidroeletrolticas. A diarria motora causada por uma alterao na coordenao da musculatura lisa intestinal, enquanto na diarria exsudativa, que corresponde disenteria, o paciente pode perder sangue, muco e pus. Nesse ltimo grupo, podem ser includas as diarrias infecciosas, que afetam o clon intestinal, e as invasivas, como as salmoneloses e shigueloses.

O antidiarreico ideal deve inibir a hipersecreo intestinal, agir rapidamente, no causar constipao e o mais importante, no ter efeito sobre o sistema nervoso central. Um frmaco inovador oracecadotril (Tiorfan), uma nova droga que ativada no tubo digestivo por esterases, age no tubo digestivo por esterases insulares, age no mecanismo bsico da diarria, ou seja, evita a hipersecreo de eletrlitos e gua para o tubo digestivo.

A droga ativa o receptor delta (d) e no o receptor mi (m), como fazem os opiides, que podem causar bacteremias. Com isso, ela no produz um dos mais srios inconvenientes no tratamento da diarria, que a diminuio da mortalidade com favorecimento de crescimento bacteriano, o que pode agravar muito a diarria.

A droga age no principal mecanismo da maior parte dos casos de diarria, o mecanismo secretor. No revela qualquer efeito sobre a motilidade gastrointestinal, o sistema nervoso central, o sistema respiratrio ou o sistema endcrino. A substncia uma pr-droga absorvida oralmente. rapidamente convertida em composto ativo e uma hora aps a administrao j se tem o maior pico de atividade. O racecadotril (Tiorfan) no atravessa a barreira hematoenceflica e a dose usual de 100 mg trs vezes ao dia.

Febre amarela

Doena infecciosa aguda, causada por um vrus RNA, arbovrus do grupo B, ou seja, vrus transmitidos por artrpodes (Arthropod Borne Viruses) do gnero Flavivrus, famlia Togaviridae, com transmisso atravs de vetores alados.

basicamente uma antroposoonose, isto , uma doena de animais silvestres, que acomete o homem acidentalmente.

Diferencia-se em dois padres epidemiolgicos:o urbano e o silvestre. O primeiro deve-se a ao de um mosquito de hbitos urbanos, o Aedes aegypti, que transmite a doena de pessoas doentes a uma populao sensvel, e volta a causar temor pela possibilidade de reemergncia, devido a intensa proliferao do mosquito nos grande centros urbanos atualmente.

O ciclo silvestre, por sua vez mantido pelas fmeas de mosquitos antropoflicos (especialmente do gnero Haemagogos) as quais necessitam de sangue para amadurecer seus ovos:tm atividade diurna ma copa das rvores, ocorrendo a infeco do homem ao invadir o ecossistema viral. Aps um perodo de incubao mdia de trs a seis dias, surgem os primeiros sintomas, febre alta, cefalia, congesto conjuntival, dores musculares e calafrios.

Algumas horas depois podem ocorrer manifestaes digestivas, tais como:nuseas, vmitos e diarria, correspondendo fase em que o vrus est circulando no sangue (Perodo de Infeco), evoluindo em dois a trs dias cura espontnea (perodo de Remisso).

Formas graves da Febre Amarela podem surgir um ou dois dias aps a cura aparente, observando-se aumento da febre e dos vmitos, prostrao e ictercia (Perodo de Intoxicao).

Em seguida surgem outros sintomas de gravidade da doena, tais como:hematmese (vmito negro), melena (fezes enegrecidas), petquias (pontos vermelhos) e esquimoses (manchas roxas) em vrias regies da superfcie corporal, desidratao, agitao, delrio, parada renal, torpor, coma e morte (em cerca de 50% dos casos). O diagnstico essencialmente clnico, sendo que nas formas graves, somente obtido post-mortem.

No existe tratamento especfico, portanto utiliza-se de medicao sintomtica, preferencialmente o Paracetamol, evitando-se os salicilatos (cido Acetil Saliclico e derivados), em funo do risco de hemorragias. Pacientes com formas graves da doena necessitam de cuidados de Terapia Intensiva. Na preveno da Febre Amarela fundamental a aplicao da vacina Anti-Amarlica, na dose de 0,5 ml por via subcutnea, com reforo a cada dez anos. No se recomenda a aplicao em gestantes e portadores de imunodeficincia (inclusive pelo Vrus da Imunodeficincia Humana).

Dengue

O dengue existia no Estado do Rio de Janeiro at a dcada de 1940, quando o combate ao mosquito da febre amarela, o mesmo que transmite dengue, acabou com a doena. Esta voltou, junto com o mosquito, no final da dcada de 1980.

No incio dos anos 90, houve a introduo de um segundo tipo do vrus do dengue (o sorotipo 2, at ento tnhamos somente o sorotipo 1), aumentando o risco do nmero de casos de dengue hemorrgico. Os sintomas na forma hemorrgica evoluem rapidamente para sangramentos internos e nas mucosas, podendo ocorrer choques que levam morte. Ocorrem geralmente quando a pessoa, que j teve a doena por um dos tipos de vrus (existem 4, chamados sorotipos), ao qual passa a ser imune, contrai a infeco por um outro tipo.

Malria

Doena infecciosa, febril, no contagiosa, sub aguda, aguda e algumas vezes crnicas, causada por protozorios do gnero Plasmodium, principalmente as espcies vivax e falciparum, transmitida atravs da picada das fmeas dos mosquitos do gnero Anopheles. Dentre todos os anofelinos transmissores de malria (cerca de 200 espcies), o Anopheles darlingi destaca-se como a espcie mais importante. Distribui-se por toda a Amaznia, onde atinge anualmente uma parcela expressiva da populao, sendo frequentemente i aparecimento de formas graves, inclusive com elevada mortalidade. O perodo de incubao pode variar de nove a quarenta dias, os sintomas so mais graves nos indivduos primo-infectados.

O quadro clnico caracteriza-se por :cefalia, mialgias, prostrao, perda do apetite, mal-estar geral e calafrios seguidos de febre de incio sbito, elevada (acima de 40C) e intermitente, que ao cessar desencadeia intensa sudorese. Nas formas graves o paciente apresenta tambm vmitos, diarrias, cianose de extremidades, pele fria e pegajosa. Pode haver diminuio do volume urinrio nas 24 horas evoluindo para Insuficincia Renal Aguda.

Complicao frequente nos casos graves o Edema Pulmonar e a Sndrome de Angstia Respiratria do Adulto, alm de sangramentos digestivos, subcutneos e de outras localizaes, que em geral leva, morte. O diagnstico clnico-epidemiolgico e laboratorial, atravs da deteco de plasmdios no sangue perifrico (esfregao ou gota espessa), alm da utilizao de mtodos imunoenzimticos ou de radioimunoensaio nos casos de maior dificuldade diagnostica.

O tratamento feito com drogas antimalricas com o uso de Cloroquina e Primaquina para P.vivax e Quinino associado a antimicrobianos e mas recentemente derivados da Artemisina, no tratamento de malria pelo P.falciparum. Os pacientes graves necessitam de cuidados em Unidade de Terapia Intensiva.

Medidas de proteo individual, com o uso de repelentes nas reas expostas do corpo e a instalao de telas nas portas e janelas das habitaes, so inviabilizadas pelas condies climticas regionais (calor e umidade excessivos). No momento no se dispe de vacinas para uso clnico.

Leishmaniose tegumentar americana - (LTA)

uma doena infecciosa, de evoluo que tende a cronicidade, no contagiosa, causada por diferentes espcies de protozorios do gnero Leishmania e transmitida por insetos hematfagos genericamente designados flebtomos. Trata-se de uma zoonose, pois tem como reservatrios animais silvestres picados pelos flebotomneos.

O homem infectado acidentalmente quando invade o ecossistema do protozorio, em atividades de extrativismo ou na implantao de projetos agrcolas em reas recentemente desmatadas. endmica na Regio Amaznica, com significativa incidncia. caracterizada pelo polimorfismo lesional, comprometendo a pele, comumente manifestando-se como uma leso ulcerada, nica ou mltipla, medindo entre 3 a 12 cm de dimetro, com bordos elevados, "em moldura de quadro", base granulosa e sangrenta, frequentemente associada infeco bacteriana secundria.

Dependendo das espcies de Leishmania e de fatores imunogenticos do hospedeiro podem ocorrer leses mucosas e cartilaginosas, que geralmente inicia-se na mucosa nasal, surgindo coriza e sangramento nasal, evoluindo para perfurao do septo e destruio da fossa nasal, mucosa, cartilagem e nos casos mais severos compromete o assoalho da boca, lngua, laringe, traquia e brnquios, com mutilaes graves, podendo afetar as funes vitais levando ao bito.

O diagnstico clnico, baseado nas caractersticas das leses cutneas e laboratorial atravs dos seguintes exames:raspado da borda na lcera, isolamento do parasita em cultura, isolamento do parasita em animais de laboratrio ("hamster"), Intradermoreao de Montenegro, imunofluorescncia indireta e exame antomo-patolgico da leso.

No tratamento da Leishmaniose Cutneo-Mucosa as drogas de primeira escolha continuam sendo os antimoniais pentavalentes, ou seja, meglumina antimoniais pentavalentes, ou seja, meglumina antimoniato e stibogluconato de sdio.

Em caso de insucesso com estas substncias pode-se utilizar outras drogas como Anfotericina B e Pentamidina. Todas so de administrao injetvel, com vrias aplicaes, dificultando a adeso dos pacientes. Fatores imunogenticos podem retardar consideravelmente a cicatrizao das leses. As condies eco-epidemiolgicas da Amaznia no permitem a instituio de medidas profilticas adequadas. No existe vacina disponvel para uso clnico.

Vacinas contra a malria-perspectivas

Para a Dra. Ruth Nussenzweig, pesquisadora da Universidade de Nova York - EUA, uma vacina contra a fase pr-eritroctica do parasita seria hoje imuno profiltica, evitando todos os sintomas da doena.

O problema de desenvolver uma vacina contra malria ficou ainda maior, pois encontramos grande resistncia do falciparum cloroquina, e h indcios de que Pvivax j comea a desenvolver a mesma resistncia, o que muito grave para a sade pblica:a comprovao de que seria possvel desenvolver uma vacina contra a doena foi conseguida h muitos anos em laboratrios, com roedores infectados por parasitas atenuados por raios gama. Posteriormente, conseguiu-se bons resultados em macacos, e no incio da dcada de 70 comearam os experimentos em humanos.

"Os resultados foram gratificantes, pois boa parte conseguiu ficar completamente imune contra Plasmodium falciparum e outro grupo infectado pelo P.vivax atenuado pelos raios gama ficou protegido contra o parasita.

No ano passado nos EUA e na Blgica com o apoio da SmithKline Beecham demonstramos ser possvel imunizar voluntrios humanos com uma protena hbrida que possui parte da protena da superfcie do vrus da hepatite B e parte da protena circunsposta da malria falciparum. Houve proteo completa de cerca de sete indivduos.

Hoje, estamos produzindo vacina sinttica que est sendo ensaiada em voluntrios humanos na Universidade de Maryland"", anima-se a doutora. Esta vacina, que contm alguns dos adjuvantes usados pelo exrcito americano e pela SmithKline Beecham, apresenta resultados preliminares que indicam que estes voluntrios esto desenvolvendo alta imunidade, em nveis idnticos aos alcanados pela protena hbrida.

Segundo a pesquisadora, "ainda cedo para falarmos em uma vacina, pois os experimentos em humanos so demorados. Foi necessrio esperar cerca de cinco anos para experimentar em humanos a primeira vacina conseguida em Maryland e teremos que esperar mais cinco para testar as novas vacinas, mas as perspectivas so boas".

Doenas tropicais

Essa denominao ainda pertinente porque, nostrpicos, os fatores climticos favorecem a proliferao de insetos, os principais transmissores dessasdoenas.

Atualmente, essasdoenasesto bastante relacionadas a fatores socioeconmicos, pois se manifestam mais nos pases pobres que em sua maioria se localizam nas regies tropicais e no tm condies de implantar medidas efetivas de controle, preveno e tratamento.

Por isso, asdoenas tropicais continuam sendo um problema grave de sade pblica, especialmente se considerarmos o alto ndice de mortalidade associado a elas.

Alm dos fatores sociais, existem os problemas tcnicos, polticos e administrativos, que so comuns a qualquer programa de sade pblica.

Resolver os problemas implica em aes com uso de tecnologia apropriada, estrutura sanitria bsica, enfoque epidemiolgico, deciso poltica e participao da sociedade.

Novos paradigmas, tm, portanto, que serem estabelecidos para o combate sdoenas tropicais.Doenas tropicaisso doenas que so predominantes ou exclusivas para as regies tropicais e subtropicais.

Asdoenasso mais prevalentes em climas temperados, em parte devido ocorrncia de uma estao fria, que controla a populao de insetos, forando hibernao.

Os insetos como mosquitos e moscas so, de longe, portador da doena a mais comum, ou vetor. Esses insetos podem transportar um parasita bactria ou vrus que contagiosa para humanos e animais.

Na maioria das vezes a doena transmitida por uma "mordida" do inseto, que faz com que a transmisso do agente infeccioso atravs da troca de sangue por via subcutnea. As vacinas no esto disponveis para qualquer uma das doenaslistadas aqui.

A explorao humana da floresta tropical, o desmatamento, aumento da imigrao e as viagens areas internacionais e aumento do turismo para outras regies tropicais levou a um aumento da incidncia de taisdoenas.Doenas Tropicais Programa Especial para Pesquisa e Treinamento em Doenas Tropicais (TDR)

Em 1975, o United Nations Children's Fund, o Programa das Naes Unidas, o Banco Mundial ea Organizao Mundial da Sade instituiu o Programa Especial para Pesquisa e Treinamento emDoenas Tropicais(TDR) para focar asdoenasinfecciosas negligenciadas que afetam desproporcionalmente as populaes pobres e marginalizadas em desenvolvimento de regies da frica, sia, Amrica Central e Amrica do Sul.

A carteira atual da doena TDR inclui as seguintes entradas:A doena de Chagas(tambm chamada tripanossomase americana) uma doena parasitria que ocorre nas Amricas, especialmente na Amrica do Sul. O agente patognico um protozorio flagelado chamado Trypanosoma cruzi.

Africano tripanossomaseou doena do sono, uma doena parasitria, causada pelo protozorio chamado trypansomes. Os dois responsveis pela tripanossomase Africano so Trypanosoma brucei gambiense e Trypanosoma brucei rhodesiense.These parasitas so transmitidos pela mosca ts-ts

Leishmaniosecausada por protozorios parasitas do gnero Leishmania e transmitida pela picada de certas espcies de flebotomneos.

Lepra(ou da doena de Hansen) uma doena infecciosa crnica causada pelo Mycobacterium leprae. A hansenase uma doena granulomatosa principalmente dos nervos perifricos e na mucosa do trato respiratrio superior, leses de pele so o principal sintoma externo.

Esquerda no tratada, a lepra pode ser progressiva, causando danos permanentes pele, nervos, membros e olhos. Contrariamente ao conceito popular, a hansenase no causa as partes do corpo para simplesmente cair, e difere da tzaraath, a doena descrita nas escrituras hebraicas e sido traduzido para o Ingls como a lepra.

A filariose linftica uma doena parasitria causada por parasitas como fio, sem-fins filarial chamados vermes nematides, todos transmitidos por mosquitos. Loa loa outro parasita filarial transmitida pela mosca veado. 120 milhes de pessoas esto infectadas no mundo. realizado por mais de metade da populao nas reas endmicas mais grave.

O sintoma mais visvel a elefantase:um espessamento da pele e dos tecidos subjacentes.

A malriacausada por protozorios parasitas transmitidos por mosquitos Anopheles fmea, pois eles so os alimentadores de sangue. A doena causada por espcies do gnero Plasmodium. A malria infecta 3-500 pessoas a cada ano, matando mais de 1 milho.

A oncocercoseou cegueira dos rios a segunda principal causa infecciosa mundo da cegueira. causada por Onchocerca volvulus, um verme parasita. transmitida atravs da picada de uma mosca preta. Os worms se espalham pelo organismo, e quando eles morrem, eles causam coceira intensa e uma resposta do sistema imunolgico forte que pode destruir os tecidos prximos, como o olho. Cerca de 18 milhes de pessoas esto atualmente infectadas com este parasita. Cerca de 300.000 foram irreversivelmente cego por ela.

A esquistossomosetambm conhecido como da bilhar ou febre do caracol, uma doena parasitria causada por vrias espcies de planria em reas com caramujos de gua doce, que podem transportar o parasita. A forma mais comum de transmisso por gua ou nadar em lagos, lagoas e outros corpos de gua contendo os caracis e do parasita. Mais de 200 milhes de pessoas no mundo esto infectadas pela esquistossomose.

Tuberculose(abreviado como TB), uma infeco bacteriana dos pulmes ou outros tecidos, que altamente prevalente no mundo, com mortalidade superior a 50% se no tratada. uma doena contagiosa, transmitida por aerossis expectorante de tosse, espirro, fala, beijo, ou cuspir. Mais de um tero da populao mundial tenha sido infectada pela bactria da tuberculose.

Doenas Tropicais outras doenas tropicais negligenciadas

Adicional doenas tropicais negligenciadas incluem:DoenaAgente causador

AncilstomoAncylostoma duodenaleeNecator americanus

TricuraseTrichuris trichiura

TreponematosesTreponema pallidum pertenue, Treponema pallidum endemicum, Treponema pallidum carateum, Treponema pallidum pallidum

lcera de BuruliMycobacterium ulcerans

Homem Africano tripanossomaseTrypanosoma brucei, Trypanosoma gambiense

DracunculaseDracunculus medinensis

LeptospiroseLeptospira

EstrongiloidaseStrongyloides stercoralis

Transmitidas por Alimentos trematodiasesTrematoda

NeurocisticercoseTaenia solium

SarnaSarcoptes scabiei

Infeces por FlavivirusVrus da febre amarela, vrus do Nilo, vrus da dengue, vrus da encefalite Tick-borne

Algumasdoenas tropicaisso muito raros, mas podem ocorrer em epidemias sbitas, como a febre hemorrgica Ebola, febre de Lassa e do vrus de Marburg.

Existem centenas de diferentesdoenas tropicaisque so menos conhecidas ou raras, mas que, no entanto, tm importncia para a sade pblica.Relao de Doenas Tropicais do climaOs chamados "exticos"doenas nos trpicostm sido observadas tanto por viajantes, exploradores, etc, bem como pelos mdicos. Uma razo bvia que o actual clima quente durante todo o ano e ao maior volume de chuvas afetam diretamente a formao de criadouros, o maior nmero e variedade de reservatrios naturais edoenasdos animais que podem ser transmitidas aos seres humanos (zoonoses), a maior nmero de possveis insetos vetores de doenas. possvel tambm que as temperaturas mais altas podem favorecer a replicao de agentes patognicos ambos os organismos biolgicos dentro e fora.

Fatores scio-econmicos podem ser tambm em operao, j que a maioria das naes mais pobres do mundo esto nos trpicos. Os pases tropicais como o Brasil, que tm melhorado a sua situao scio-econmica e investiu em higiene, sade pblica e ao combate sdoenastransmissveis tenham alcanado resultados impressionantes em relao eliminao ou diminuio de muitasdoenas tropicaisendmicas no seu territrio.

As alteraes climticas, o aquecimento global provocado pelo efeito estufa, eo conseqente aumento nas temperaturas globais, esto causandodoenas tropicaise vetores para espalhar a altitudes mais elevadas em regies montanhosas e latitudes mais elevadas para que foram previamente poupados, como o sul dos Estados Unidos, regio do Mediterrneo, etc.

Por exemplo, nas florestas de Monteverde de Costa Rica, o aquecimento global habilitado quitridiomicose, umadoena tropical, a florescer e, portanto, em vigor populaes declnio dos anfbios do sapo arlequim de Monteverde. Aqui, o aquecimento global elevou a alturas de formao de nuvens orogrficas, e consequentemente, a cobertura de nuvens que possam facilitar as condies timas para o crescimento do patgeno implicado, dendrobatidis B..Preveno e tratamento de doenas tropicaisAlgumas das estratgias para o controle de doenas tropicais incluem:Drenagem de zonas hmidas para reduzir as populaes de insetos e outros vetores.

A aplicao de inseticidas e / ou repelentes de insetos) para superfcies estratgicas tais como:roupas, pele, construes, habitat de insetos e mosquiteiros.

O uso de um mosquiteiro sobre a cama (tambm conhecido como "rede de cama") para reduzir a transmisso noturna, j que certas espcies de mosquitos tropicais alimentam-se principalmente noite.

O uso de poos de gua e / ou filtragem de gua, filtros de gua ou de tratamento de gua com comprimidos de gua para produzir gua livre de parasitas.

Desenvolvimento e utilizao de vacinas para promover a imunidade da doena.

Profilaxia farmacolgica pr-exposio (para prevenir a doena antes da exposio ao ambiente e / ou vetores).

Profilaxia farmacolgica ps-exposio (para prevenir a doena aps a exposio ao ambiente e / ou vetores).

O tratamento farmacolgico (para tratar a doena aps a infeco ou infestao).

Ajudar com o desenvolvimento econmico em regies endmicas. Por exemplo, fornecendo microcrditos para permitir que os investimentos em agricultura mais eficiente e produtiva. Este, por sua vez, pode ajudar a agricultura de subsistncia para se tornar mais rentvel, e estes lucros podem ser usadas pelas populaes locais para a preveno da doena e tratamento, com o benefcio adicional de reduzir a taxa de pobreza.Conhea mais sobre estas doenas infecciosas, chamadas tambm de "tropicais"Dengue

Transmisso:A doena transmitida ao homem pelo sangue, atravs da picada da fmea do mosquito Aedes aegypti contaminado com um dos quatro subtipos de vrus da dengue

Preveno:Como ainda no h vacina, a melhor forma afastar o mosquito, que se reproduz em gua limpa e parada. Para isto, deve-se cobrir caixas-dgua e piscinas, esvaziar pneus e no deixar acumular gua em vasos de plantas

Sintomas:Os sintomas da dengue clssica se parecem com os de uma gripe:dor no corpo, na cabea, nas articulaes e olhos, alm de febre. Raramente h bito nesta forma da doena. J a hemorrgica, junte-se aos sintomas acima possveis sangramentos, que podem levar a bito

Tratamentos:Repouso, reposio de lquidos e medicamentos para alvio dos sintomas. A procura por um mdico essencial desde o aparecimento dos primeiros sintomas

A dengue um dos principais problemas de sade pblica do mundo. Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), estima-se que at 100 milhes de pessoas se infectam anualmente. No Brasil, a Secretaria de Vigilncia em Sade (SVS) teve registros de 93.463 casos entre janeiro e setembro de 2004, contra 329.844 no mesmo perodo no ano anterior. O estado com maior nmero de casos foi Minas Gerais, com 19.225.

Malria

Transmisso:Causada por protozorios do gnero Plasmodium, transmitida atravs da picada da fmea do mosquito do gnero Anopheles

Preveno:Ainda no h vacina, embora esteja sendo pesquisada no mundo todo. Repelente e roupas que cubram o corpo todo podem ajudar a se manter livre do mosquito

Sintomas:Febre, dor no corpo, desnimo, perda do apetite e mal-estar. Nas formas mais graves, podem haver vmitos, diarrias e pele fria. O bito pode ocorrer por edema pulmonar e sangramentos

Tratamentos:H medicamentos especficos contra o protozorio

Segundo a OMS, a doena infecciosa que mais causa problemas no mundo, s superada em nmero de mortes pela AIDS. No Brasil, est distribuda por toda a regio amaznica. Na dcada de 40, cerca de 6 milhes de brasileiros por ano contraram a doena. Campanhas de controle foram feitas, mas na dcada de 70, com a explorao da floresta, novamente alcanou nveis altos, com 450.000 a 500.000 casos anuais. Em 1999, foram mais de 600.000 casos e, segundo a SVS, em 2002, o nmero baixou para 349.000.

Febre amarela

Transmisso:H duas formas desta doena causada por um vrus. A silvestre transmitida na maioria das vezes pela fmea do mosquito do gnero Haemagogos. S atinge o homem acidentalmente, j que ele no fonte de alimento do mosquito. J a forma urbana, pelo Aedes aegypti, o mesmo transmissor da dengue. Segundo a SVS, a doena urbana j foi erradicada. A silvestre, por outro lado, tem importncia entre macacos nas florestas tropicais, por isso no h maneira de erradic-la

Preveno:A vacina antiamarlica a nica forma eficaz para prevenir a febre amarela. importante informar-se sobre focos da doena ao viajar para que a vacina possa ser tomada com antecedncia. A lista dos municpios est disponvel no site da SVS e tambm nos terminais e aeroportos das principais cidades do pas, onde h vacinao

Sintomas:Dor no corpo, vmito, febre e pele amarelada. Pode tambm causar hemorragias e leses no fgado e at no rim, podendo levar morte nestes casos mais avanados.

Tratamentos:No h tratamento especfico, apenas antitrmicos e hidratao. Procurar um mdico fundamental para a prescrio de medicamentos e conduta de tratamento.

A febre amarela foi um problema de sade pblica no Rio de Janeiro e Belm durante as primeiras dcadas do sculo XX, mas foi vencida graas campanha de vacinao promovida pelo sanitarista Oswaldo Cruz. Segundo o Ministrio da Sade, foram confirmados cinco casos (trs no Amazonas e dois no Par) em 2004, dos quais dois foram bitos.

Doena de Chagas

Transmisso:O protozorio Trypanosoma cruzi transmitido ao homem e outros animais pelo inseto "barbeiro" que, aps se alimentar do sangue, defeca eliminando o parasita e o colocando em contato com a ferida na pele da vtima, de onde vai para a corrente sangnea. transmissvel tambm de me para filho, atravs da placenta, e ainda por transfuso de sangue

Preveno:Ainda no h vacina. A nica maneira de evitar a doena afastando o vetor, atravs de inseticidas prprios e melhorando as casas, a fim de que o inseto no tenha onde se esconder

Sintomas:Aparecem ao longo da vida. Dificuldade para trabalhar, mal-estar, problemas neurolgicos, no corao e no sistema digestivo. Os sintomas podem se agravar e levar morte

Tratamentos:No h tratamento especfico para a doena, os remdios direcionados apenas diminuem a quantidade de protozorios no sangue. Cada sintoma deve ser tratado individualmente

O Trypanosoma cruzi foi descoberto s margens do Rio So Francisco pelo mdico Carlos Chagas, em 1909, e ganhou este em nome em homenagem a Oswaldo Cruz, a quem Chagas admirava.

Nada como viajar... No entanto, h que o fazer tomando em conta certos cuidados, que, ao no se verificarem, podero tornar a sua viagem, de lazer ou de negcios, no to agradvel, quanto seria de desejar... Os climas tropicais tm como uma das caractersticas, serem zonas endmicas de algumas enfermidades, que veremos adiante. fundamental ter sempre presente que, na maior parte das vezes, a preveno mesmo a melhor soluo .

Malria

uma doena infecciosa que afecta praticamente todos os pases tropicais, transmitida ao homem pela picada de um mosquito infectado com o parasita - Plasmodium

O perodo entre a picada do mosquito e o aparecimento dos sintomas varia geralmente de 7 a 30 dias

O quadro clnico varivel, no entanto comum aparecer:Febre intermitente;Calafrios;Suores abundantes;Dores musculares;Dores de cabea;Alteraes Gastrointestinais;Nuseas, vmitos e diarreias.

O diagnstico feito conjugando o quadro clnico e a anlise laboratorial identificando o parasita da malria

A doena pode evoluir para formas graves, e at mesmo mortais

No havendo uma vacina eficaz, torna-se necessrio que todos os viajantes tomem conscincia do risco que correm e conheam as medidas preventivas:Evitar as picadas de insecto;Tomar os medicamentos recomendados.

A Malria responsvel por 1 a 1,5 milhes de mortes por ano , segundo a OMS (Organizao Mundial de Sade)

PrevenoEvitar as picadas de insectos

Os insectos representam 85% de todos os organismos vivos face da terra. So atrados pelo odor corporal, pela cor das roupas, ou simplesmente pelos movimentos.

Deste modo, e para uma melhor proteco individual:Evite sair entre o entardecer e nascer do solPrefira roupas de cores claras (os mosquitos so atrados por cores escuras)Use sempre vesturio com mangas compridas, calas, meias e sapatos fechados, a partir do entardecerNo use perfumes ou "aftershaves" sobretudo noite (os cheiros fortes atraem os mosquitos)Proteja as zonas expostas (rosto, pescoo, pulsos tornozelos) com repelente de insectos que contenha Deet numa concentrao superior a 30%, para adultos, renovando regularmente a sua aplicao - leia e siga com ateno as recomendaes de utilizaoEvite actividades junto a cursos de gua, lagos; ribeiros, zonas pantanosas e hmidas (zonas preferidas pelos mosquitos)Durma sempre em edifcios bem conservados, em quarto com porta e janelas fechadas e de preferncia climatizadoPulv erize o quarto com insecticida aps o arejamento matinal e mantenha as janelas fechadasUtilize difusores de insecticida (elctricos ou a pilhas)Considere a hiptese de uso da rede mosquiteira impregnada com insecticida quando no dormirem ambientes climatizados

MedicamentosToda a medicao tem efeitos secundrios e no existe nenhum tratamento perfeito. A malria mais perigosa e mortal do que qualquer medicao preventiva ou curativa, a qual tem salvo milhares de vidas ao longo dos anos

A preveno pode implicar a ingesto de medicao antes, durante e depois da estad a

Os tratamentos baseiam-se em recomendaes da Organizao Mundial de Sade e dependem de:Local de viagemTipo de viagem (estadia b reve, de longa durao ou estad as repetidasEstado de sade do viajanteIdade do viajante

Torna-se fundamental o cumprimento das regras de ingesto dos medicamentos (quantidades e horrios) para que possam atingir a eficcia desejada.

O que fazer perante a doena?Aps uma estadia num pas tropical, sempre que surja febre inexplicvel (temperatura superior ou igual a 37.2) acompanhada ou no de outros sintomas, deve contactar-nos de imediato

Fora do horrio normal de funcionamento da UCS, deve dirigir-se a um servio de urgncia onde deve alertar para o facto de ter estado num pas tropical. No entanto, contacte logo que possvel a sua equipa de sade

Se ainda se encontrar num pas tropical, deve procurar com urgncia um mdico que aps confirmao do diagnstico prescrever o tratamento adequado.

Diarreia

A vulgarmente designada diarreia do viajante uma das situaes mais frequentes nas estadias em pases tropicais

Geralmente associada s ms condies de higiene alimentar, na maioria dos casos provocada por infeco bacteriana

Dura normalmente poucos dias e raramente perigosa

O tratamento baseia-se na re-hidratao e dieta

Os anti-diarreicos podem diminuir o nmero de dejeces diarreicas mas podem causar complicaes, no caso de infeco sria. S os deve tomar quando tiver a certeza de que se trata de uma diarreia benigna

A preveno passa essencialmente pela higiene alimentar.

Preveno (Cuidados alimentares e outros)BebidasInforme-se do estado da gua que bebe.Beba sempre gua engarrafada (verifique a integridade do selo), fervida ou tratada com purificadores de gua.Gelo, s feito com gua engarrafada.No beba sumos naturais de fruta ( normalmente so acrescentados com gua).Beba caf e ch feitos com gua engarrafada.Use gua engarrafada para lavar os dentes e a cara.

ComidasEvite:O marisco (fonte de infeco comum)Saladas e vegetais no cozinhadosLeite e derivadosGelados de provenincia desconhecidaAlimentos crus ou mal passados

Prefira sempre alimentos com elevados tempos de cozedura e consuma-os logo de seguida

Coma apenas fruta descascada na altura de consumir

No deixe alimentos destapados no quarto:atraem mosquitos e correm perigo de contaminao

Lave as mos com frequncia e antes das refeies

E no se esquea, em relao a qualquer alimento:cozinhe-o, descasque-o, ferva-o, ou... esquea-o!!!

Sinais de Alarme2 a 3 dejeces diarreicas por hora.Febre elevadaPresena de sangue ou muco nas fezesDesidratao grave (lngua seca, olhos encovados)Se tiver diarreia numa zona geogrfica onde se verificou a presena de clera, consulte sempre um mdico com urgncia

Importante:Deve manter uma ingesto abundante de lquidos, com a certeza de que no esto contaminados, mesmo antes da consulta.

O que fazer perante a doena?Dietas para GastroenteritesNas primeiras horas de perturbao intestinal, considere uma paragem alimentar.

Gradualmente ingira lquidos (pequenas pores de cada vez):gua fervida ou mineralgua de arroz (1 litro de gua com trs colheres de arroz, ferver at reduzir para metade)Bebida de cola, sem gsCh preto fraco

Conforme a evoluo, inicie a ingesto de alimentos slidos:Torradas sem gorduraMa ou pra cozidaArroz cozidoCarne magra cozidaPapas de arrozGrelhadosCenoura cozida

Evite enquanto no houver recuperao total:Leite ou derivadosVegetaisFruta cruaGorduras

A ORGANIZAO Mundial da Sade (OMS) inclui em seu stio para tropical diseases oitodoenasque ocorrem exclusiva ou especialmente nos trpicos, e esclarece que, na prtica, a designao se refere adoenasinfecciosas que proliferam em condies climticas quentes e midas.

Algumas dessas doenas so causadas por protozorios como a malria, as leishmanases, a doena de Chagas e a doena do sono. Outras so causadas por vermes como as esquistossomases, a oncocercase e as filarases linfticas. Uma viral, a dengue.

A nomenclatura dessasdoenascom a terminao em ase, como acima, de aceitao parcial entre os parasitologistas brasileiros que muitas vezes preferem a terminao ose. Usaremos ose, uma vez que os dicionrios Houaiss e Aurlio registram ambas as formas.

As oitodoenas tropicaisda OMS so transmitidas ao homem de maneiras variadas, mas sempre por um vetor que geralmente um inseto hematfago. As esquistossomoses no tm vetores, mas tm hospedeiros intermedirios, caramujos, que, na gua, liberam as formas infectantes para o homem.

A designao doenas tropicais no foi inveno da OMS, pois j constava do vocabulrio mdico desde o sculo XIX. Surgiu sem data fixa e foi se consolidando medida que microrganismos eram reconhecidos como causadores dedoenase tinham seus mecanismos de transmisso elucidados.

A expanso colonizadora da Inglaterra, da Frana e scios menores, entre os quais os Estados Unidos, expandindo-se para o Caribe e o Pacfico, havia descortinado um mundo novo repleto de riquezas explorveis, mas tambm dedoenasdesconhecidas ou quase desconhecidas. Como a maioria das novas colnias se situava nos trpicos, essasdoenascuriosas e exticas foram apelidadas de tropicais.

Para aglutinar os conhecimentos em torno da patologia dos trpicos, foram criadas sociedades mdicas:The Society of Tropical Medicine of Philadelphia, depois transformada em American Society of Tropical Medicine, em 1903, e The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, em 1909.

Patrick Manson, o responsvel pela mosquito theory de transmisso dedoenasinfecciosas, e que em 1899 havia fundado a London School of Hygiene and Tropical Medicine, foi o primeiro presidente da Royal Society. Essas instituies sacramentaram a designao doenas tropicais na terminologia mdica.

Muitos cientistas, especialmente dos trpicos, contestaram desde o incio a designao de doenas tropicais, pela conotao implcita de que elas estariam vinculadas a alguma maldio ou fatalidade biogeogrfica. Inflexveis, concordavam com Afrnio Peixoto que, em seu primeiro curso como catedrtico de Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, poucos anos depois da criao da Royal Society, proclamaria enfaticamente que doenas climticas no existem. H, nos bastidores da argumentao de Peixoto e de muitos de seus contemporneos, uma manifesta objeo viso de que o clima tropical, no as precrias condies de vida e econmicas das populaes tropicais, fosse o responsvel pelas doenas tropicais. A primeira metade do sculo XX assiste ao acirramento de posies conflitantes, mdicas e leigas, sobre as razes das doenas tropicais.

Essas posies se cristalizavam em duas vises antagnicas sobre as doenas tropicais:a)so doenas de populaes colonizadas, exploradas, miserveis, que por acaso se concentram nos trpicos;

b)so doenas de regies insalubres, caniculares, sujas e propcias a todas as formas de doenas estranhas ao mundo civilizado.

Nasdoenas tropicais, h certamente um forte componente de subdesenvolvimento, conseqncia tardia do colonialismo, mas h tambm certa fatalidade tropical, conseqncia da heterogeneidade das evolues geolgica e biolgica.

Propomos analisar essa dualidade, fazendo antes a ressalva de que todas as doenas humanas, em princpio, so tropicais, uma vez que a espcie humana se originou nos trpicos, e, com ela, suas doenas. So exceo aquelas doenas que a humanidade foi adquirindo, ao longo de sua histria (algumas recentemente) de companheiros de jornada como ces, gatos, roedores, aves e mesmo de parentes prximos, os primatas.

A malria um bom comeo para a anlise. Os microrganismos que a causam so protozorios parasitas dos glbulos vermelhos do sangue distribudos em quatro espcies do gnero Plasmodium. Dentre todos os animais da terra, essas quatro espcies parasitam apenas o homem, a quem so transmitidas por um mosquito que as leva de um homem doente a um homem sadio (por pouco tempo). Esse mosquito hematfago, arquiinimigo da humanidade, chama-se Anopheles, surgiu na terra milhes de anos antes das espcies humanas de plasmdio e conta com um contingente de milhares de espcies espalhadas por todo o mundo.

Por sua vez, as quatro espcies de plasmdio acompanham o homem desde que, juntos, Homo sapiens e Plasmodium spp., saram da frica para povoar a Terra. Em cada canto da Terra, glido, temperado ou tropical, a dupla contou com a cumplicidade de uma j existente espcie de Anopheles para se perpetuar e proliferar. A trade Homem-Plasmdio-Anopheles ocupou o mundo. Nenhum recanto habitado pelo homem pde evitar a malria, exceto as regies polares.

A malria tornou-se flagelo universal. Nenhuma nao antiga ou moderna lhe escapou. A prpria Europa foi vitimada pela malria a partir de sua invaso pelo Homo sapiens h mais de 50 mil anos, e dela continuou vtima pelo sculo XX adentro, independentemente de religies e regimes sociais. Uma doena universal, pandmica, no restrita aos trpicos, como o foram a varola e a peste.

Segundo a definio da OMS, contudo, a malria est listada entre asdoenastropicais. E, de fato, hoje assim considerada. Se examinarmos a distribuio mundial da malria contempornea, veremos que ela prevalece e apresenta maior incidncia em pases situados entre os trpicos, isto , entre as latitudes 2723 Norte e Sul. Fazem exceo os pases do Oriente Mdio, particularmente o Afeganisto, o norte da ndia e algumas regies do sul da China onde a malria residual; mas, sem dvida, a malria hoje se concentra nos trpicos.

Uma primeira concluso se impe diante desses fatos:se a malria j foi universal, pandmica, certamente ela no esteve ou est presa a uma fatalidade biogeogrfica tropical. Ela poderia vicejar e vicejou em qualquer lugar do mundo, tropical ou no. Se hoje ela tende a se concentrar nos trpicos por alguma outra razo.

A razo, em verdade, o subdesenvolvimento e a conseqente misria das populaes tropicais.

Atentando para esse fato, agncias como o Unicef, o Banco Mundial e a prpria OMS lanaram h pouco mais de 30 anos um programa especial, Special Program for Research and Training in Tropical Diseases (TDR), cujo foco seriam as doenas infecciosas que acometem desproporcionalmente as populaes pobres e marginalizadas do mundo. Ato imediato, o TDR adicionou a tuberculose e a lepra s molstias tropicais clssicas da OMS.

Outras foram adicionadas em vrios momentos lista de Neglected Tropical Diseases (NTD) da OMS:tracoma, lcera de Buruli, dracunculose, dengue, pian. Totalizam quatorze essas doenas negligenciadas, mas paradoxalmente, medida que as condies de sade das populaes subdesenvolvidas melhoram, esse nmero tende a crescer. Isso porque em vias de erradicao h s uma doena, a dracunculose, enquanto outras, at ento ignoradas pela importncia das molstias maiores, vo ganhando visibilidade no cenrio sanitrio mundial.

A tuberculose ilustra e compe bem o quadro dedoenasde populaes tropicais pobres. Ela sempre foi doena universal, causada por uma bactria e transmitida pelo contgio direto inter-humano. Tanto quanto a malria, no poupou nenhuma poca histrica e nenhuma populao da Terra. Ao lado de pobres e despossudos, recrutou entre suas vtimas os filhos das nobrezas e das artes da belle poque europia e dos esplendores imperiais do Oriente. Porm, nas ltimas dcadas, a tuberculose tem se especializado em populaes pobres, desprovidas de infra-estrutura, pessoal tcnico e recursos para a sade, com especial predileo pelos atingidos pela Aids.

A prevalncia global da tuberculose ainda alta:mais de nove milhes de novos casos por ano. Em nmeros absolutos de casos novos, a China, a ndia e a Rssia ainda so os pases que pagam maior tributo doena, mas em relao incidncia por nmero de habitantes, os pases tropicais, particularmente os africanos, detm a liderana.

Uma ostensiva overall poverty est presente nos pases onde a malria e a tuberculose proliferam. Por terem sido, at ontem, doenas universais, elas no condicionam sua prevalncia contempornea a peculiaridades climticas dos trpicos.

A rigor, os pases tropicais so muito heterogneos e geograficamente tm pouco em comum. Estendem-se das alturas andinas s plancies da frica, de pantanais a desertos, de florestas equatoriais e do mundo aqutico da Oceania ao semi-rido, s caatingas e savanas do Brasil e da frica. No mbito climtico, o que o mundo tropical tem mesmo em comum apenas um inverno moderado, resultante das isotermas que compartilham.

No que se refere ao aspecto social, os trpicos tambm so heterogneos:etnias e religies as mais variadas, autctones ou importadas. Nada peculiar ou privativo dos trpicos.

Comum de fato aos trpicos a overall poverty. Dos 50 pases com menor PIB do mundo, todos so tropicais, como o so os pases com renda per capita inferior a US$ 2,5 mil por ano. Com uma ou outra exceo, como o Afeganisto, so tropicais tambm os pases em que pelo menos 50% da populao esto abaixo da linha da misria, e os pases em que 60% a 80% dos habitantes vivem com menos de US$ 1 por dia. No estranha que nos pases tropicais a desigualdade na distribuio de renda seja das maiores do mundo, mas estranha que o ndice de satisfao com a vida seja alto em alguns desses pases, o que nos conforta um pouco.

No possuindo recursos, e os poucos havidos sendo mal utilizados, os pases tropicais pobres investem parcimoniosamente em sade. Os indicadores de sade tabulados pela OMS mostram que os piores ndices de mortalidade infantil, de mdicos, enfermeiras e leitos hospitalares por habitantes encontram-se entre os pases tropicais. Deve-se concluir da que, de fato, doenasclimticas no existem, e que todo mal vem da misria ou da indolncia prevalente nos trpicos? No, certamente no. O componente econmico pode ser o mais importante, mas no est ausente do triste cenrio dasdoenas tropicaisum constante componente de fatalidade biogeogrfica. Examinemos alguns exemplos.

A tripanossomose africana ou doena do sono, tropical por excelncia, causada por duas subespcies, especializadas no homem, do grande grupo do Trypanosoma brucei. A doena tem certo polimorfismo clnico, mas sua forma predominante e mais grave a que, depois de um longo perodo de silncio subclnico, se manifesta com severo comprometimento do sistema nervoso central, paralisias, letargia, obnubilao progressiva e morte.

Da seu nome inicial de letargia dos negros, que passou a doena do sono medida que colonizadores brancos a foram adquirindo. Hoje h tratamento, mas caro e de complicada ministrao. Nos sculos XIX e XX, milhes de africanos foram vtimas da doena que, em 1990, admitia-se infectar entre 300 e 500 mil pessoas.

A doena ocorre sob a forma de surtos epidmicos itinerantes e nunca incidiu fora da frica, em qualquer outro lugar do mundo, tropical ou no. A tripanossomose ocupa uma larga faixa do territrio africano, que abriga cerca de 70 milhes de pessoas e que se estende do Oceano ndico ao Atlntico, e do deserto do Saara ao Kalahari, poupando apenas os extremos norte e sul do continente. E por que isso? Porque a doena transmitida por uma voraz mosca hematfaga que s vive e prolifera dentro desses limites geogrficos. Essa faixa territorial conhecida como o cinturo da ts-ts (tsetse belt), e fica compreendida, mais ou menos, entre os 20 Norte e Sul.

Existem vrias espcies de ts-ts (gnero Glossina) que disseminam tripanossomas distintos entre mamferos silvestres, rpteis e aves.

Podem transmitir doenas de importncia econmica entre animais domsticos:bovinos, ovinos, caprinos e eqinos. O porco uma vtima preferencial da ts-ts e tambm abriga tripanossomas, incluindo os humanos.

Os tripanossomas do homem, Trypanosoma brucei gambiense e T. b. rhodesiense, so transmitidos por ts-tss do grupo palpalis ou do grupo morsitans, respectivamente. As glossinas do grupo palpalis proliferam em matas ancilares ou matas arbustivas sempre na proximidade de colees de gua, e normalmente se alimentam do sangue de grandes rpteis, como os crocodilos.

As glossinas do grupo morsitans preferem as savanas e picam preferencialmente ruminantes silvestres. Porm, nem uma nem outra se cria fora do tsetse belt.

Apesar do intenso trfico de escravos, nem a glossina nem a tripanossomose africana se instalaram no Novo Mundo. Inmeras outras moscas sim, incluindo a mosca comum e a varejeira, mas a Glossina jamais.

Nem se expandiu para o lado do Oriente, apesar do comrcio imemorial entre a frica, a ndia e o Oriente Mdio. Essa absoluta fidelidade geogrfica da Glossina frica explica a fatalidade tropical da doena do sono, que realmente uma doena tropical; ou melhor, africana estrita.

A oncocercose outra doena fiel, mas no tanto, frica. Essa doena essencialmente tropical causada por um verme nematide, a Onchocerca volvulus, que se localiza na derme do homem.

Ali, vermes machos pequenos (aproximadamente de 4 cm) e generosas fmeas (aproximadamente de 50 cm) se enrolam e formam novelos que se expressam em ndulos ou tumoraes drmicas, nem sempre supurativas, mas sempre antiestticas. Esses ndulos tm marcada preferncia pelas partes expostas da pele, especialmente face e couro cabeludo, mas em populaes desnudas ou seminuas os ndulos ou oncocercomas esto por toda parte.

Os vermes se reproduzem nos recnditos da derme onde as fmeas parem larvas chamadas microfilrias (aproximadamente de 0,5 cm). Essas trafegam pelo subcutneo e podem chegar aos humores das cmaras oculares, crnea e retina. Provocam reao inflamatria que freqentemente leva cegueira. Na frica Equatorial, cerca de 18 milhes de pessoas albergam a oncocerca, das quais 250 mil esto cegas.

O sofrimento e a solidariedade humana para o problema so to grandes que os jardins da OMS em Genebra exibem uma escultura em tamanho natural de uma criana conduzindo um velho cego oncocerctico. So mesmo to grandes, que o laboratrio fabricante da Ivermectina, droga ativa contra as filrias, resolveu doar gratuitamente o medicamento para os programas de combate oncocercose.

A doena chamada tambm de cegueira dos rios (river blindness), porque se restringe s populaes das margens de rios e riachos de guas limpas e correntes onde se criam seus vetores. Esses so moscas do gnero Simulium, a mosca negra (black fly) dos ingleses ou o popular borrachudo brasileiro, onde as filrias ingeridas com o sangue de pacientes migram para a tromba e se transformam em larvas prontas para infectar novos indivduos.

Da frica, trazida por migrantes escravos ou outros, a doena veio para o Novo Mundo, onde encontrou simuldeos permissivos e prosperou em regies equatoriais e supraequatoriais, como Equador, Colmbia, Venezuela, Amrica Central e sul do Mxico. No Brasil, restringe-se a populaes nativas e indgenas da Amaznia, particularmente Roraima.

No Novo Mundo, a doena fica na casa dos milhares, e, em geral, no leva cegueira, provavelmente porque menor a afinidade pela retina e crnea das filrias desse lado do Atlntico. Considerando a enorme populao, a larga distribuio e a voracidade dos simuldeos no Brasil, estranha que a doena no seja mais freqente e nem ocorra do Nordeste ao Sul do pas, onde abundam simuldeos e para onde o trfico escravagista foi intenso.

Ser que a oncocercose mais especificamente uma doena equatorial, isto , um subtipo dedoena tropical? Talvez fatores climticos de temperatura e umidade das regies equatoriais do Novo Mundo e da frica sejam os nicos a permitir o desenvolvimento das filrias nos simuldeos ou apenas nessas regies proliferem simuldeos capazes de transmitir a doena. Seja como for, a oncocercose , e sempre foi, uma doena restrita aos trpicos, o que sublinha o fatalismo biogeogrfico dasdoenas tropicais.

As filarioses linfticas so igualmente restritas aos trpicos. So causadas pelos vermes nematides Wuchereria bancrofti e Brugya malayi, espalhados por todo o mundo tropical, o ltimo restringindo-se ao sudeste asitico.

Machos sempre pequenos (aproximadamente de 4 cm) e fmeas avantajadas (aproximadamente de 9 cm) vivem e acasalam-se em ndulos linfticos de homens e mulheres, mas de nenhuma outra espcie animal. As fmeas parem larvas, microfilrias, que caem na circulao sangnea.

Os vermes, sendo numerosos em conseqncia de infeces sucessivas, podem obstruir a drenagem dos vasos linfticos levando ao acmulo de linfa a montante.

O comprometimento da drenagem linftica leva ao ingurgitamento das regies comprometidas, geralmente membros inferiores e escroto, gerando as chamadas elefantases. As filarioses so relatadas no alto Nilo desde a Antigidade, e a esttua de pelo menos um fara exibe sinais de elefantase da perna. Escrotos enormemente inflacionados so comuns em estatuetas africanas de 1.500 anos e em pacientes contemporneos.

Mais de 120 milhes de pessoas esto infectadas pelas filrias em todo o mundo, incluindo cerca de 50 mil no Brasil, e aproximadamente 40 milhes de indivduos esto incapacitados ou deformados pelas elefantases.

Estima-se que mais de um bilho de pessoas estejam sob risco de contrair uma das filrias que so transmitidas de homem a homem por mosquitos comuns, isto , os onipresentes e cosmopolitas pernilongos.

O Aedes da dengue e os Anopheles da malria tambm podem transmitir as filrias, mas no so os mais importantes. O mais importante mesmo o pernilongo comum do gnero Culex. As microfilrias sugadas com o sangue de indivduos infectados se desenvolvem nesses mosquitos e so transmitidas a pacientes em potencial.

Todavia, so necessrias infeces mltiplas para que a doena se manifeste. Os agentes usados no tratamento das filarioses, os mesmos da oncocercose, so doados gratuitamente pelos laboratrios produtores, exemplo raro, mas dignificante, da indstria farmacutica. As filarioses esto sob a presso de programas intensivos de controle globais e locais, e sua incidncia tende a diminuir em todo o mundo.

Um fato chama a ateno nas filarioses. Seus vetores, os pernilongos, esto em toda parte do mundo e picam todo tipo de gente, nobres e pobres, prias e papas, desde tempos imemoriais, mas as filarioses s ocorreram e ocorrem nos trpicos. Existir a alguma fatalidade biogeogrfica, temperatura, umidade? No h duvidas de que exista, mas exatamente qual, no se sabe.

As duas esquistossomoses principais acometem 200 milhes de pessoas, metade das quais na frica e as restantes no Oriente Mdio e na Amrica do Sul, especialmente no Brasil e na Venezuela.

Trs esquistossomoses mais brandas e de menor importncia esto restritas ao sudeste asitico, incluindo China e Japo. Todas so causadas por vermes e veiculadas por caramujos.

Os vermes adultos vivem nas veias intestinais ou vesicais, e seus ovos so eliminados, respectivamente, com as fezes ou urina dos pacientes. O Schistosoma mansoni vive nas veias intestinais (sistema porta), e os ovos que no chegam luz do intestino podem refluir para o fgado, onde provocam focos de inflamao que cicatrizam como fibroses, levando eventualmente cirrose heptica e s suas graves conseqncias.

O Schistosoma haematobium vive nas veias do plexo vesical, e seus ovos podem provocar fibroses e pequenas hemorragias urinrias, cuja cronicidade pode causar anemias de gravidade clnica varivel. A esquistossomose mansoni do Brasil foi importada da frica com o trfico negreiro, instalando-se no litoral nordeste e leste com focos dispersos por todo o pas. Nos anos 1950 chegou a acometer mais de seis milhes de brasileiros.

A esquistossomose haematbica nunca se instalou no Brasil, apesar do trfico negreiro, prevalecendo em toda a frica Equatorial e Subequatorial com ramificaes pelo vale do Nilo, Arglia, Tunsia e Arbia Saudita. Dos ovos dos vermes depositados em colees de gua doce, emergem larvas (miracdios) que invadem caramujos do gnero Biomphalaria no Brasil e na frica, e de caramujos do gnero Bulinus na frica.

Nos caramujos as larvas se multiplicam e originam novas larvas (cercrias) que abandonam seus caramujos e saem nadando procura do homem que usa essas colees de gua para todas as finalidades, sobretudo na frica. O S. haematobium nunca se estabeleceu no Novo Mundo porque nunca se adaptou Biomphalaria, nem no Brasil nem na frica, requerendo exclusivamente determinadas espcies de Bulinus para proliferar que, por sua vez, no se adaptaram s Amricas.

Por sua vez, o S. mansoni trazido da frica pelos escravos encontrou aqui numerosas espcies de Biomphalaria onde puderam proliferar. As esquistossomoses so um exemplo convincente de fatalismo geogrfico, particularmente a haematbica que, apesar do intenso trfego milenar e atual entre todas as regies geogrficas, se recusa a deixar a frica, quando muito fazendo algumas incurses a Madagascar e ao Oriente Prximo.

As leishmanioses so causadas por diferentes espcies de Leishmania, protozorios intracelulares do homem e de animais domsticos e silvestres. As leishmanioses cutneas da Amaznia so exemplo inquestionvel de maldio tropical.

As demais leishmanioses incidem no s na regio tropical, mas tambm um pouco mais ao norte, incluindo pases mediterrneos. A rigor, no mereceriam a qualificao de tropicais nem dedoenasde populaes marginalizadas, pois ocorrem em muitas regies do mundo desenvolvido como a Pennsula Ibrica e a Itlia, a Grcia e a Turquia. A mais grave das leishmanioses, causada pela Leishmania donovani, a visceral ou calazar (kala-azar, febre negra), descrita pela primeira vez na ndia, mas presente tambm na frica e na Amrica Latina.

Apresenta cerca de 500 mil casos novos por ano em todo o mundo. A doena, de evoluo crnica e debilitante, resulta da proliferao das leishmnias nos macrfagos do bao, fgado e da medula ssea.

doena de difcil diagnstico e, quando no tratada, mortal. A ndia, o Brasil, a Etipia e o Sudo, alm dos pases do norte da frica, so os que pagam maior tributo doena. J foi importante na China, mas hoje l est sob controle. Na presente dcada, o Brasil vem apresentando cerca de trs mil casos novos por ano. Nmeros no terrivelmente assustadores se comparados aos 600 mil casos novos da malria ou 100 mil da tuberculose.

Outras leishmnias causam ulceraes cutneas e cutneo-mucosas, antiestticas e deformantes, mas raramente letais. Entre elas se encontram leishmnias do Velho Mundo, particularmente do Oriente, benignas como a Leishmania tropica, e dezenas de espcies do novo mundo, sendo proeminente a L. braziliensis identificada por Gaspar Viana, agressiva e deformante pelas leses que causa nas mucosas bucal e farngea, incluindo destruio das cartilagens nasais.

Segundo estimativas da OMS, o mundo apresenta cerca de um milho de casos novos por ano; o Brasil, 30 mil. As leishmanioses do Novo Mundo no so pscolombianas, ou seja, no foram importadas do Velho Mundo. So autctones e aqui provavelmente prevalecem desde a chegada do Homo sapiens h 30-10 mil anos a julgar pelas leses tpicas encontradas em mmias Incas e em estatuetas datadas de mais de 2.000 anos a.C.

As leishmnias so transmitidas ao homem por um grupo de minsculas moscas, conhecidas como sandflies pelos anglfonos e por uma srie de nomes regionais onde quer que vicejem. Todas pertencem ao grupo dos flebotomneos.

No Velho Mundo so do gnero Phlebotomus; no Novo, do gnero Lutzomyia.

Os flebtomos so hematfagos vorazes e se alimentam de toda sorte de vertebrados:anfbios, rpteis, aves e mamferos, disseminando entre eles tripanossomas e leishmnias.

Diferentes espcies de flebtomos vo buscar as leishmnias humanas em diferentes hospedeiros:as leishmnias viscerais, especialmente no homem infectado ou no co. Em verdade, na maior parte do mundo, o prprio homem doente o reservatrio da leishmaniose visceral, mas no Brasil o co ainda tem um papel muito importante como reservatrio.

No caso das leishmanioses cutneas brasileiras, os principais reservatrios so os abundantes roedores silvestres, ubquos na floresta amaznica e em reas recmdesflorestadas.

A leishmaniose visceral, de incidncia domiciliar ou peridomiciliar, passvel de controle.

A China nos deu o exemplo:com o tratamento em massa, borrifao com inseticidas e a eliminao de ces, ela conseguiu, a partir de 1950, reduzir a prevalncia do calazar de 500 mil casos para no mais de duas centenas.

J as leishmanioses cutneo-mucosas, particularmente as amaznicas, parecem ser de controle muito mais difcil, quase impossvel. As lutzomyias esto por toda a parte na floresta e picam de dia e de noite suas vtimas preferidas, os oni-presentes roedores que so reservatrios inesgotveis de leishmnias.

Quando o homem se intromete nesse ciclo, nesse oceano de lutzomyias e leishmnias, corre o risco de ser picado por uma e infectado pela outra. O risco maior em reas recm- colonizadas em que a devastao e fuga de roedores fazem do homem uma fonte de alimento mais importante do que o habitual para as lutzomyias.

No h como evitar. a inelutvel maldio da rain forest. No se pode pulverizar toda a floresta nem exterminar os roedores e outros reservatrios. A agresso natureza traria danos maiores que a prpria doena. H que esperar por uma eficaz vacina, que ainda no est a caminho, para neutralizar a maldio tropical.

A associao dos fatores pobreza e trpico, mais do que qualquer fator isoladamente, foi sempre cruel para com a humanidade, conspirando para fazer um inferno da vida de milhes de seres humanos.

Isso se expressa muito claramente em um ndice, o Disability-Adjusted Life Years (Daly), concebido pela OMS para avaliar o impacto de uma doena (disease burden), aferido pelos ndices de morte prematura e doena debilitante nas populaes. Em resumo, o Daly mede o tempo de vida perdido, seja com morte prematura, seja com doena debilitante, pela populao global (ou regional, conforme o desejado).

Uma unidade Daly igual a um ano de vida.

As Daly para as doenas tropicais listadas pela OMS so:malria, 46,5 milhes de anos perdidos pela humanidade; tuberculose, 35 milhes; filarioses, 5,8 milhes; leishmanioses, 2 milhes; esquistossomoses, 1,7 milho; doena do sono, 1,5 milho; doena de Chagas, 667 mil; dengue, 616 mil; oncocercose, 484 mil; lepra, 199 mil.

Com relao ao nmero de mortes por ano, a situao tambm lamentvel:tuberculose, 1,5 milho; malria, 1,2 milho; leishmaniose visceral, 51 mil; doena do sono, 48 mil; dengue, 19 mil; esquistossomoses, 15 mil; e doena de Chagas, 14 mil. Para completar, enquanto a expectativa de vida no Japo se situa em oito dcadas, em muitos pases da frica Tropical varia em torno de quatro.

O que, porm, est se tornando cada vez mais evidente que o fatalismo tropical pode ser revertido significativamente pelo desenvolvimento econmico e sanitrio em geral, ou pelo aporte pontual de recursos especficos.

O controle da tripanossomose americana ou doena de Chagas no Brasil um claro exemplo de como isso possvel. A doena de Chagas causada pelo Trypanosoma cruzi, que s ocorre no Novo Mundo, e que est separado de seus parentes causadores da doena do sono h pelo menos 100 milhes de anos, quando a frica e a Amrica do Sul se afastaram.

O concomitante divrcio de faunas e floras sublinhou a disjuno continental de tripanossomas e vetores. Os ancestrais das glossinas (ts-tss) sobreviveram na frica, enquanto os ancestrais dos triatomneos colonizaram a Amrica do Sul. No poderia haver um caso de mais clara fatalidade biogeogrfica tropical. A afortunada Europa no herdou nem um nem outro dos ancestrais.

Os triatomneos, comumente chamados de barbeiros, so hempteros hematfagos com espcies distribudas em trs gneros principais:Triatoma, Panstrongylus e Rhodnius que proliferam em diferentes biomas das Amricas do Norte, Central e do Sul. Espcies de barbeiros podem ser encontradas desde tocas e furnas terrestres at copas de rvores, especialmente palmeiras. Barbeiros se alimentam do sangue dos mais variados mamferos, desde tatus at primatas, sendo generalistas em relao a vtimas.

Marsupiais e tatus devem ter sido os hospedeiros originais do T. cruzi que, a partir deles e graas promiscuidade hematfaga dos barbeiros, se disseminou entre as vrias ordens de mamferos da Amrica do Sul e, posteriormente, da Amrica do Norte. O homem deve ter sido includo na promscua lista de vtimas dos barbeiros assim que chegou s Amricas, h 30-10 mil anos.

Mas s se tornou um alimentador regular e constante de barbeiros quando os levou para sua casa e os domesticou junto com mamferos infectados pelo T. cruzi. Conjetura-se que isso tenha ocorrido nas populaes pr-colombianas dos Andes que criavam em suas casas, para comer, o porquinho da ndia (Cavia spp.) de quem os barbeiros (Triatoma spp.) tambm se alimentavam.

A partir da, os barbeiros, particularmente o Triatoma infestans, adaptaram- se to bem ao domiclio humano e a seus moradores (homens, ces e outros animais) que passaram a preferir o homem para seus repastos sangneos e a morar e procriar na casa do homem.

Adoraram os longos, escuros e clidos tneis das casas de pau-a-pique ou taipa, que se erguiam por todo o territrio brasileiro. noite, o T. infestans emergia desses tneis para picar o homem, de preferncia na tenra regio palpebral ou rosto em geral, da o nome de barbeiro, que lhe damos, ou beijoqueiro (kissing bug), que lhes do os anglfonos.

Ao se alimentar, o barbeiro defeca no rosto que o alimenta. Em suas fezes esto tripanossomas infectantes que, percorrendo o orifcio da picada, chegam s clulas subjacentes que invadem e onde se multiplicam. Clulas abarrotadas de tripanossomas arrebentam e os liberam para o sistema circulatrio por onde chegam a outras clulas. Barbeiros se infectam ingerindo sangue com tripanossomas circulantes. No homem, os tripanossomas tm preferncia por neurnios do sistema nervoso autnomo e por clulas musculares do corao.

A destruio progressiva dessas clulas responde pelos sintomas da doena crnica:leses do sistema motor do corao com arritmias, bloqueios e paradas cardacas; leses das fibras cardacas com diminuio de seu poder contrtil e insuficincia cardaca; leses dos neurnios dos esfncteres do esfago e clon sigmide que apresentam progressiva dificuldade de abertura, ocasionando a formao de megaesfago e megaclon.

A morte pode ocorrer j na fase aguda ou em qualquer momento da fase crnica, mas em geral a doena se estende por muitos anos.

O tratamento medicamentoso complicado, pouco eficiente na fase crnica da doena e com muitos riscos e efeitos colaterais.

A doena de Chagas e a malria eram as mais graves endemias brasileiras.

At os anos 1970, cerca de 20 milhes de brasileiros estavam infectados pelo T.cruzi e at 1980 havia pelo menos 120 mil casos novos da doena por ano.

j sabamos que o controle da doena era possvel porque So Paulo havia reduzido o nmero de casos novos com a borrifao de inseticidas em domiclios infestados por barbeiros. Na dcada de 1980, o Brasil, juntamente com pases do Cone Sul e a Organizao Pan-Americana de Sade (Opas), adotou um programa intensivo de combate ao barbeiro domiciliar (Southern Cone Chagas Initiative). O sucesso desse programa foi absoluto.

No Brasil, aps poucos anos de borrifaes sistemticas e bem planejadas, o nmero de casos novos caiu praticamente a zero. A doena de Chagas transmitida pelos barbeiros domiciliados (Triatoma e Pastrongylus) provou ser controlvel.

Esporadicamente ocorrem ainda casos de transmisso domiciliar, mas resultam de focos residuais em vias de extino graas a uma vigilncia sanitria permanente.

Infelizmente, muitos pases da Amrica Latina no empreenderam programas semelhantes. A Bolvia, por exemplo, ainda apresenta uma incidncia de mais de 80 mil casos por ano. Nos pases situados acima do Equador, os principais transmissores do T. cruzi para o homem e para o co so barbeiros do gnero Rhodnius e o Triatoma dimidiata, domstico.

Estratgias para o controle da transmisso, ainda que diferentes das adotadas pelos pases do Cone Sul, so claramente possveis, e os pases da Amrica Central j se organizaram para enfrent-lo dentro de um programa regional: Central America Chagas Initiative.

No Brasil, como em toda a parte, incluindo os Estados Unidos, o T. cruzi continua presente em mamferos e barbeiros silvestres, e nem a parceria nem os parceiros se extinguiro nos prximos milhes de anos.

Dessa forma, a qualquer momento podem surgir, e tm surgido no Brasil, focos de doena de Chagas em pequenas comunidades instaladas em reas densamente povoadas por mamferos e barbeiros infectados.

A Amaznia o cenrio propcio para tais eventos. Alm disso, tm espocado aqui e ali focos de infeco chagsica por causa da ingesto de sucos de frutos (aa) e cana-de-acar acidentalmente triturados com barbeiros infectados com tripanossomas de animais silvestres. Esses surtos de infeco oral costumam acometer dezenas de pessoas de uma s vez, mas so sempre limitados.

Episdios de ambos os tipos podem ocorrer a qualquer momento; porm, doena de Chagas em escala nacional como dantes, nunca mais.

E por que no, se a fatalidade biogeogrfica tropical de barbeiros e tripanossomas no foi alterada e os dois viles continuam em cena e impunes como sempre? Porque, como dissemos, o desenvolvimento neutraliza essa fatalidade e o desenvolvimento sanitrio j atingiu o Brasil. As casas de taipa diminuram, e as que restaram so regularmente borrifadas com inseticidas providos pelos servios de sade.

Recursos financeiros so disponibilizados e a vigilncia sanitria est presente. O desenvolvimento , sem dvida, o melhor antdoto fatalidade tropical.

Em Honduras, no Equador, um especialista segura barbeiro do gnero Triatoma dimidiata.Sob esse prisma, as duas posies conflitantes sobre as razes das doenas tropicais do incio do sculo XX em realidade no so antagnicas, mas se complementam:fatalidade biogeogrfica e subdesenvolvimento so os genitores das doenas tropicais. Alis, h doenas que, no fosse o subdesenvolvimento, no mais existiriam atualmente. H vrios exemplos dessasdoenas, que a OMS agrupa sob o rol de doenas negligenciadas.

O pian ou bouba (yaws, do ingls) so treponematoses da pele e, como a prpria sfilis, so facilmente tratveis com penicilina:s sobreexistem porque as populaes afetadas no tm acesso a servios de sade. A lcera de Buruli, rara ou no diagnosticada no Novo Mundo, causada por uma micobatria que provoca extensas leses cutneas geralmente dos membros inferiores em populaes ribeirinhas ou de reas alagadias.

O tracoma, infeco clamidial ocular, que eventualmente ocorre tambm no Brasil, vitimiza 80 milhes de pobres, dos quais seis milhes j esto cegos. Isso sem falar nas verminoses intestinais, menos alarmantes, mas ainda bastante prevalentes em pases subdesenvolvidos ao lado do clera e das genricas diarrias infantis.

Essasdoenastodas, conforme o gosto, poderiam ser chamadas de tropicais ou de doenas do subdesenvolvimento, mas o nome ecltico de doenas negligenciadas adotado pela OMS abrange todas sem singularizar os trpicos como fator causal. mais adequado assim.

Tradicionalmente, asdoenas tropicaiseram consideradas uma espcie de tributo obrigatrio que os habitantes dos trpicos pagavam por viver numa regio de clima privilegiado.

Essas doenas adquiriam caractersticas epidmicas e acometiam milhes de pessoas que viviam em determinadas reas.Malria, doena de Chagas, febre amarela, leishmaniose, dengue esto entre as enfermidades que costumam ser rotuladas dedoenas tropicais.

Na maior parte das vezes, o microorganismo transmitido por insetos que encontram nos trpicos seu habitat ideal.Exceo feita febre amarela, no existem vacinas para essasdoenas, mas h tratamento que ser to mais eficaz quanto mais precocemente comear.

Problema grave de sade pblica

DrauzioO que so doenas tropicais? Essa designao ainda empregada atualmente?Stefan Cunha Ujvari Na poca em que os ingleses estiveram empenhados em colonizar regies nos trpicos, principalmente na frica, Sudeste Asitico e ndia, entraram em contato com uma srie de doenas desconhecidas no continente europeu e que receberam o nome dedoenas tropicaisou doenas dos trpicos.

Essa denominao ainda pertinente porque, nos trpicos, fatores climticos e de umidade favorecem a proliferao de insetos, os principais transmissores dessas doenas.

Hoje, elas esto bastante relacionadas a fatores socioeconmicos, pois se manifestam mais nos pases pobres que em sua maioria se localizam nas regies tropicais e no tm condies de implantar medidas efetivas de controle, preveno e tratamento.

Por isso, asdoenas tropicaiscontinuam sendo um problema grave de sade pblica, especialmente se considerarmos o alto ndice de mortalidade associado a elas.

Malria

DrauzioParticularmente no Brasil, qual a situao da malria atualmente?Stefan Cunha UjvariA situao da malria estvel, mas essa estabilidade no animadora porque na dcada de 1990, em mdia, foram notificados 500 mil novos casos por ano. Acredito, porm, que esse nmero seja muito maior, se computarmos os casos que no so notificados quando o tratamento no administrado em servios pblicos.

A malria estava relativamente bem controlada nas dcadas de 1950/1960, mas reapareceu nas dcadas de 1970/1980 com a ocupao populacional desordenada que ocorreu na periferia da Amaznia Legal. Estradas foram abertas, sistemas de irrigao instalados e houve a corrida do ouro em Rondnia, no noroeste amaznico. Tudo isso fez com que o nmero de casos aumentasse consideravelmente e atingisse o pico de 500 mil novos casos notificados por ano.

No se consegue controlar a malria no habitat do mosquito transmissor da doena que vive na floresta tropical. O que se pode fazer implementar medidas de controle na periferia especialmente da floresta amaznica. Certos cuidados como drenar reas alagadas para impedir a formao de criadores de mosquitos, colocar telas nas janelas para que eles no entrem nas casas, esto voltados para combater o mosquito nas regies peridomiciliares.

Alm disso, pessoas que viajam para esses lugares e adentram a floresta hoje o ecoturismo tornou-se uma opo importante de lazer deveriam entrar em contato com um rgo especializado emdoenas tropicaispara obter informaes a respeito do que fazer antes de viajar. Em So Paulo, no Hospital das Clnicas, existe o Ambulatrio do Viajante que, de acordo com a regio a ser visitada, orienta sobre a necessidade de tomar vacina contra a febre amarela ou remdios profilticos para a malria, por exemplo.

DrauzioNo existe vacina contra a malria, mas h remdios que podem ser tomados como profilaxia. Em que casos eles devem ser utilizados por uma pessoa que v viajar para o Amazonas?Stefan Cunha Ujvari H muito se tenta desenvolver uma vacina para a malria, mas at agora sem sucesso e os remdios que existem precisam ser usados com muito critrio porque induzem tolerncia. Da mesma forma que os insetos, principalmente os mosquitos, desenvolveram resistncia aos inseticidas criados na primeira metade do sculo XX e as bactrias, resistncia a certos medicamentos, o agente da malria tambm fica resistente. Por isso, o remdio no vendido em farmcias.

S os rgos do governo podem fornec-lo depois de analisar as condies da regio qual a pessoa se dirige. Se ela vai fazer turismo numa embarcao, saindo de Manaus, navegando pelos rios e volta, no h tanto risco e no se recomenda o uso do medicamento. Para viajar tranqila, porm, deve entrar em contato com os rgos capazes de orient-la. Repito, em So Paulo, o centro de referncia o Ambulatrio dos Viajantes no Hospital das Clnicas. As orientaes podem ser obtidas pessoalmente ou por telefone e levam em conta o itinerrio programado.Se for necessrio tomar o remdio, basta um comprimido uma vez por semana para prevenir a doena.

DrauzioQuais so os principais sintomas da malria?Stefan Cunha Ujvari A febre provocada pela malria uma das mais altas que existem. Quando a pessoa picada pelo mosquito, o agente entra na corrente sangnea e passa por um perodo relativamente curto de incubao em que amadurece no fgado. Depois, entra nas hemceas, nos glbulos vermelhos, onde se multiplica at que elas se rompem.

Nesse momento, ocorre liberao grande nmero de parasitas na corrente sangnea o que provoca febre de 40 ou mais, de incio abrupto, acompanhada por tremor e dores musculares intensas.

Interessante notar que algumas enfermidades das hemceas, alvo principal do agente da malria, o plasmodium, funcionam como proteo contra a malria.

A anemia falciforme, por exemplo, muito comum na frica onde surgiu a doena, uma delas. Por qu? Porque quando o parasita penetra na hemcea j doente, ela se rompe e no o deixa proliferar. Isso fez com que o nmero de casos de anemia falciforme crescesse muito na frica, pois houve uma espcie de seleo natural.

Voltando aos sintomas da malria, as pessoas que moram na periferia da floresta amaznica, os garimpeiros de Rondnia, por exemplo, quando procuram um rgo especializado para tratamento, j sabem que esto com a doena porque reconhecem os sintomas dada a alta freqncia em que ela ocorre naquelas regies.

DrauzioA febre da malria tem um ritmo bastante caracterstico. Voc poderia descrev-lo?Stefan Cunha Ujvari A febre pode ocorrer a cada trs dias (febre ter) ou a cada quatro dias (febre quart) porque o ritmo depende do ciclo dos agentes, o Plasmodium vivax e o Plasmodium falciparum. O que amadurece e prolifera mais rpido provoca o rompimento da hemcea a cada trs dias e o outro, de ciclo mais lento, a cada quatro dias.

A malria uma doena grave com ndice de mortalidade importante se o tratamento no for adequado e precoce, especialmente se o agente for o Plasmodium falciparum. uma doena endmica no Brasil, j que 500 mil novos casos por ano no representam um nmero desprezvel.

Dengue e febre amarela

DrauzioVamos falar da dengue,doena tropicalque inferniza a vida do homem na cidade grande.Stefan Cunha Ujvari interessante perceber que a histria da humanidade caminha junto com a dos microorganismos. Estudos a respeito do material gentico do vrus da dengue demonstraram que a populao viral aumentou muito na natureza nos ltimos 200 anos, coincidentemente com a ps-revoluo industrial e a urbanizao do homem. O lixo orgnico que passou a ser acumulado em volta das casas nas cidades funcionou como recipiente para a gua da chuva e favoreceu a proliferao do mosquito transmissor do vrus, o Aedes aegypti.

No entanto, na dcada de 1960 ele havia sido erradicado na Amrica do Sul. No Brasil, foi extinto graas s medidas adotadas por Osvaldo Cruz no comeo do sculo XX para acabar com a febre amarela que tambm transmitida por esse mosquito. Sem ele por perto, o vrus da dengue e o da febre amarela urbana desapareceram.

Acontece que na dcada de 1970 o controle foi relaxado e o Aedes aegypti entrou novamente no pas e de casa em casa, de cidade em cidade, se espalhou pelo Brasil inteiro. Seu retorno foi facilitado pelo acmulo de lixo, desta vez lixo industrial, que coletava gua da chuva. O habitat estava preparado e o vrus, que veio nas embarcaes procedentes do Sudeste Asitico e da Oceania, voltou a ameaar a populao urbana.

Casos de dengue reapareceram no incio da dcada de 1990 e gradativamente foram aumentando at que, em 2002, ano da pior epidemia, 700 mil novos casos foram registrados.

No momento, estamos cercados pela malria que se dissemina na periferia da floresta amaznica e pela dengue, nas regies urbanas, nas cidades prximas ao litoral.

DrauzioO problema que o Aedes aegypti, alm de transmissor da dengue, transmite tambm a febre amarela.Stefan Cunha Ujvari Esse mosquito tambm pode transmitir o vrus da febre amarela, doena que se manifesta principalmente na periferia da floresta amaznica. Nos ltimos anos, porm, focos dessa doena surgiram em outros locais e o interesse maior das pessoas pelo ecoturismo pode explicar o fato.

provvel que picadas pelo mosquito na floresta, tenham voltado doentes para as cidades e infectaram os Aedes aegypti. Em 1999, houve uma epidemia pequena de febre amarela urbana na Chapada dos Veadeiros e, em 2001, uma no noroeste de Minas Gerais. Isso sugere que a febre amarela urbana, doena extinta no Brasil desde a dcada de 1940, pode estar voltando.

Sintomas da dengue e da febre amarela

DrauzioQual a diferena entre os sintomas da dengue e da febre amarela?Stefan Cunha Ujvari Os sintomas iniciais so muito parecidos. A dengue provoca febre elevada e dor no corpo intensa porque o vrus age sobre a musculatura, especialmente sobre a musculatura responsvel pelo movimento dos olhos. Por isso, a dor atrs dos olhos muito forte. Esses sintomas, porm, so inespecficos. O sinal de alerta para o diagnstico dado pela inexistncia de um de foco infeccioso que justifique a febre e pelo fato de o paciente vir de uma rea onde exista a doena.

Apesar dos sintomas da febre amarela serem praticamente os mesmos, numa minoria de casos, o paciente caminha para uma piora importante. O vrus acomete o fgado que inflama e o indivduo adquire colorao amarelada, principalmente no branco dos olhos. a ictercia e da vem o nome da doena.

Drauzio pequena a porcentagem dos que desenvolvem ictercia?Stefan Cunha Ujvari pequena. A grande maioria dos casos passa como um quadro viral que acaba evoluindo bem. A minoria que desenvolve ictercia apresenta distrbios de coagulao e sangramentos. A febre amarela uma doena viral que pode no admite descuidos porque pode apresentar complicaes bastante graves.

DrauzioNo existem remdios especficos para o vrus da dengue e da febre amarela?Stefan Cunha Ujvari- No h remdios. O controle dessas doenas feito nas reas urbanas. De cinco anos para c as medidas esto sendo largamente divulgadas. Por exemplo, praticamente todos sabem do risco que correm quando deixam recipientes que acumulam a gua da chuva nos arredores das casas.

Para a febre amarela, entretanto, existe vacina. Ela eficaz desde que seja tomada com antecedncia, isto , 30 dias antes da viagem. Muita gente entra em contato com o Ambulatrio do Viajante na vspera da partida. A, j tarde para a preveno da doena.

Doena de Chagas

DrauzioQuais as principais caractersticas da doena de Chagas?Stefan Cunha UjvariO barbeiro, um besouro pequenininho, o agente transmissor da doena de Chagas. O protozorio responsvel pela doena no transmitido diretamente pela picada, mas pelas fezes do inseto que entram no ferimento quando a pessoa coa o local picado.

DrauzioQual a prevalncia da doena de Chagas no Brasil?Stefan Cunha UjvariA incidncia da doena de Chagas, no Brasil, esteve alta na dcada de 1970, em torno de 100 mil novos casos por ano. Hoje em dia, aps o controle a incidncia bem pequena. A maioria das pessoas que procuram assistncia vem do interior, onde no existe rede confivel de notificao. Alm disso, a doena crnica e durante aproximadamente dez anos os sintomas no se manifestam. Quando o caso complica, reflete uma situao que ocorreu muitos anos atrs.

DrauzioA profilaxia da doena complicada porque implica o controle permanente dos fatores de risco.Stefan Cunha Ujvari Alm do combate contnuo aos barbeiros que transmitem a doena de Chagas preciso que as casas no tenham frestas onde eles possam alojar-se o que no fcil se considerarmos o nvel socioeconmico dos habitantes dessas regies.

Leishmaniose

DrauzioVamos falar um pouco sobre a leishmaniose. Quais as caractersticas gerais da doena?Stefan Cunha UjvariO agente transmissor do protozorio que provoca a leishmaniose o flebtomo chamado Lutzomyia spp que se distribui pelas regies centro-oeste e nordeste e alcana o sul, principalmente o Paran.

H duas formas de leishmaniose. A tegumentar, causada pela Leishmania braziliensis, L. amazonensis e L. guyanensis (as duas ltimas restritas regio amaznica) acomete s a pele. A pessoa tem uma ferida que no cicatriza e descobre que est com a doena quando vai ao mdico e faz uma bipsia. A outra a leishmaniose visceral, causada pela Leishmania chagasi, em que h comprometimento do fgado e do bao.

Em 1997, houve um surto dessa doena em So Lus do Maranho, Teresina e Fortaleza que coincidiu com o fenmeno El Nio e uma seca terrvel que obrigou a populao do interior a migrar para a periferia dessas cidades, levando consigo os cachorros, animais que funcionam como reservatrio do parasita. O mosquito pica o cachorro e infecta o homem.

DrauzioExiste tratamento para a leishmaniose?Stefan Cunha Ujvari Existe um remdio especfico para a leishmaniose, sob a forma de injeo que o paciente deve tomar durante 21 dias. importante destacar que, nas regies de risco, leso na pele que no cicatriza merece ateno especial, porque a forma mais leve da enfermidade no d febre, mal-estar, nem o doente fica acamado. Em alguns casos, pode aparecer comprometimento da regio do septo nasal. O nariz sangra e descasca, s vezes, h colabamento e o odor ftido. O otorrinolaringologista o mdico indicado para diagnosticar o problema e conduzir o tratamento.

Nas formas mais graves, a pessoa tem febre, mal-estar, emagrece e o baoaumenta de tamanho. No se trata de uma doena que evolua rapidamente, um pouco mais crnica. Por isso, se a febre custa a passar, as pessoas precisam investigar a causa do problema, porque uma das caractersticas da leishmaniose provocar febre de durao bastante prolongada.

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