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    AUTONOMIA DA PESSOA JURDICA

    Rodrigo Ferreira

    INTROITO

    Em um primeiro momento, quando inferimos sobre a autonomia da

    pessoa jurdica, buscamos determinar os limites que se d a tal

    autonomia. Trata-se de um debate abrangente, que cerca no somente

    as questes relacionadas pessoa jurdica, mas, tambm, prpria

    autonomia da pessoa natural. Afinal de contas, h limites para a

    autonomia? Podemos afirmar que autonomia est intimamente ligada

    autossuficincia? Responder a estas questes, principalmente no que

    tange pessoa jurdica, no tarefa to simples, haja vista que h um

    acalorado debate a respeito do assunto.

    A priori, a que se pormenorizar, etimologicamente, o que autonomia.

    Desde os filsofos at os grandes doutrinadores do Direito, o conceito

    de autonomia vem sendo amplamente discutido. luz dos grandes

    mestres, far-se- necessrio trazer tona o conceito etimolgico efilosfico de autonomia:

    Etimologicamente autonomia significa o poder de dar a si a prpria

    lei, auts(por si mesmo) e nomos(lei). No se entende este poder

    como algo absoluto e ilimitado, tambm no se entende como sinnimo

    de auto-suficincia. (...) a definio que nos parece mais apropriada

    por designar melhor o sentido de autonomia a do Vocabulrio Tcnico

    e Crtico da Filosofia:"Etimologicamente autonomia a condio de

    uma pessoa ou de uma coletividade cultural, que determina ela mesma

    a lei qual se submete".(LALANDE, 1999, p. 115). Como a autonomia

    "condio", como ela se d no mundo e no apenas na conscincia

    dos sujeitos, sua construo envolve dois aspectos: o poder de

    determinar a prpria lei e tambm o poder ou capacidade de realizar.

    O primeiro aspecto est ligado liberdade e ao poder de conceber,

    fantasiar, imaginar, decidir, e o segundo ao poder ou capacidade de

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    fazer. Para que haja autonomia os dois aspectos devem estar

    presentes, e o pensar autnomo precisa ser tambm fazer autnomo.

    O fazer no acontece fora do mundo, portanto est cerceado pelas leis

    naturais, pelas leis civis, pelas convenes sociais, pelos outros, etc,ou seja, a autonomia limitada por condicionamentos, no absoluta.

    Dessa forma, autonomia jamais pode ser confundida comauto-

    suficincia. (ZATTI, Vicente. Autonomia e educao em Immanuel Kant

    e Paulo Freire. Pg. 12, 2007)

    Neste conceito, trazido pelo presente artigo, temos duas assertivas a

    serem analisadas: 1. etimologicamente, autonomia significa o poder

    de dar a si mesmo; e, 2. filosoficamente, autonomia condio, noqual dar-se-, em si mesma, o poder de determinar a prpria lei e

    tambm o poder ou capacidade de realizar. Desta forma, elementar,

    acima de tudo, temos uma compreenso do conceito de autonomia,

    que abarca a autodeterminao e a capacidade. Autodeterminao ao

    atribuir-se leis que sero evocadas para externalizar a autonomia da

    pessoa (aqui leia-se, pessoa na sua generalidade, tanto natural quanto

    ideal). Capacidade, pois autonomia requer o poder para desfrutardesse direito.

    Contudo, voltamos ao questionamento: autonomia absoluta?

    autossuficiente? Tambm, trazendo texto supracitado, h que se dizer

    que a autonomia limitada por condicionamentos e jamais pode ser

    confundida com auto-suficincia. Existem limites tangveis

    autonomia, que no emaranhar-se- com autossuficincia. No existe

    liberdade absoluta, h sempre limites para o exerccio da autonomia,

    pois o mesmo no pode ser instrumento para prejudicar o outro.

    Por isso, a importncia das normas para delimitar at onde vai a

    atividade autnoma da pessoa. A sociedade basicamente constituda

    por uma estrutura de normas que balizam o que lcito e o que ilcito,

    delimitando, inclusive, o papel da autonomia nessa estrutura jurdica,

    no caso nas normas legais.

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    A norma funciona como esquema de interpretao. Por outras

    palavras: o juzo em que se enuncia que um ato de conduta humana

    constitui um ato jurdico (ou antijurdico) o resultado de uma

    interpretao especfica, a saber, de uma interpretao normativa. Mastambm na visualizao que o apresenta como um acontecer natural

    apenas se exprime uma determinada interpretao, diferente da

    interpretao normativa: a interpretao causal. A norma que

    empresta ao ato o significado de um ato jurdico (ou antijurdico) ela

    prpria produzida por um ato jurdico, que, por seu turno, recebe a sua

    significao jurdica de uma outra norma. (KELSEN, Hans. Teoria Pura

    do Direito, pg. 3, 1999)

    A PESSOA JURDICA

    Quanto, especificamente, pessoa jurdica, a mesma surge de uma

    necessidade da pessoa natural, que se une a outras, para atingir

    determinados fins, como preceitua a eminente doutrinadora Maria

    Helena Diniz: a pessoa jurdica a unidade de pessoas naturais ou de

    patrimnios, que visa consecuo de certos fins, reconhecida pela

    ordem jurdica como sujeito de direitos e obrigaes. (DINIZ, pg.

    270, 2015)

    Outro grande doutrinador, Fbio Ulhoa Coelho, traz uma compreenso

    mais abrangente da pessoa jurdica:

    Pessoa jurdica o sujeito de direito personificado no humano.

    tambm chamada depessoa moral. Como sujeito de direito, temaptido para titularizar direitos e obrigaes. Por ser personificada,

    est autorizada a praticar os atos em geral da vida civil comprar,

    vender, tomar emprestado, dar em locao etc. ,

    independentemente de especficas autorizaes da lei. Finalmente,

    como entidade no humana, est excluda da prtica dos atos para os

    quais o atributo da humanidade pressuposto, como casar, adotar,

    doar rgos e outros. (COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Civil

    Parte Geral. Pg. 532, 2012)

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    A pessoa jurdica possui, na sua essncia, aptido para ser titular de

    direitos e obrigaes na ordem jurdica. Essa aptido somente

    possvel quando se une a vontade humana, por meio de um ato

    constitutivo, e o registro pblico desse ato. Assim, a pessoa jurdica dotada de personalidade, ou seja, capacidade para exercer direitos e

    ser evocada para responder a determinadas obrigaes.

    A capacidade da pessoa jurdica decorre logicamente da personalidade

    que a ordem jurdica lhe reconhece por ocasio de seu registro. Essa

    capacidade estende-se a todos os campos do direito. Pode exercer

    todos os direitos subjetivos, no se limitando esfera patrimonial. Tem

    direito identificao, sendo dotada de uma denominao, de umdomiclio e de uma nacionalidade. (DINIZ, Maria Helena. Curso de

    Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito Civil. Pg. 317, 2015)

    Conforme o Cdigo Civil de 2002, no seu art. 52, aplica-se s pessoas

    jurdicas, no que couber, a proteo dos direitos da personalidade.

    Neste sentido, no que couber ou seja, no so todos os direitos de

    proteo personalidade inerentes pessoa jurdica a pessoa

    jurdica dotada direitos da personalidade, tais como: o direito ao

    nome, marca, liberdade, imagem, privacidade, prpria

    existncia, ao segredo, honra objetiva (DINIZ, Pgs. 317 e 318). No

    so todos os direitos da personalidade da pessoa natural que so

    admissveis pessoa jurdica. Para exemplificar, segue julgado do

    Superior de Tribunal de Justia (STJ), REsp 1032014 RS

    2008/0033686-0, que trata de violao da marca, um dos aspectos

    que constitui a personalidade jurdica:

    STJ Recurso Especial REsp 1032014 RS 2008/0033686-0; Data de

    publicao: 04/06/2009; Ementa:Direito empresarial. Contrafao de

    marca. Produto falsificado cuja qualidade, em comparao com o

    original, no pde ser aferida pelo Tribunal de Justia. Violao da

    marca que atinge a identidade do fornecedor. Direito

    de personalidade das pessoas jurdicas. Danos morais reconhecidos. -O dano moral corresponde, em nosso sistema legal, leso a direito

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    de personalidade, ou seja, a bem no suscetvel de avaliao em

    dinheiro. - Na contrafao, o consumidor enganado e v subtrada,

    de forma ardil, sua faculdade de escolha. O consumidor no consegue

    perceber quem lhe fornece o produto e, como consequncia, tambmo fabricante no pode ser identificado por boa parte de seu pblico

    alvo. Assim, a contrafao verdadeira usurpao de parte da

    identidade do fabricante. O contrafator cria confuso de produtos e,

    nesse passo, se faz passar pelo legtimo fabricante de bens que

    circulam no mercado. - Certos direitos de personalidade so

    extensveis s pessoas jurdicas, nos termos do art. 52 do CC/02 e,

    entre eles, se encontra a identidade. - Compensam-se os danos morais

    do fabricante que teve seu direito de identidade lesado pela

    contrafao de seus produtos. Recurso especial provido. (STJ

    Recurso Especial REsp 1032014 RS 2008/0033686-0, Data de

    publicao: 04/06/2009)

    Inclusive, entrando da seara Constitucional dos Direitos Fundamentais,

    pacfico o entendimento jurisprudencial em torno da sua aplicao

    junto pessoa jurdica.

    Os direitos fundamentais suscetveis, por sua natureza, de serem

    exercidos por pessoas jurdicas podem t-las por titular. Assim, no

    haveria por que recusar s pessoas jurdicas as consequncias do

    princpio da igualdade, nem o direito de resposta, o direito de

    propriedade, o sigilo de correspondncia, a inviolabilidade de domiclio,

    as garantias do direito adquirido, do ato jurdico perfeito e da coisa

    julgada 138. Os direitos fundamentais honra e imagem, ensejando

    pretenso de reparao pecuniria, tambm podem ser titularizados

    pela pessoa jurdica. O tema obj eto de Smula do STJ, que assenta

    a inteligncia de que tambm a pessoa jurdica pode ser vtima de ato

    hostil a sua honra objetiva. A Smula 227 / STJ consolida o

    entendimento de que "a pessoa jurdica pode sofrer dano moral".

    (MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustava Gonet. Curso de

    Direito Constitucional. Pg. 172, 2015)

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    Seguindo a raciocnio acima exposto, podemos afirmar que pessoa

    jurdica, dotada de personalidade (constituda por ato contratual e

    registrada publicamente), lhe garantida diversos direitos

    personalssimos, que nos permite concluir que dotada de autonomia.Mas, autonomia em relao a quem, enquanto sujeito? Autonomia, em

    relao ao que, enquanto objeto?

    AUTONOMIA DA PESSOA JURDICA

    O princpio da autonomia da pessoa jurdica no est explcito no

    Cdigo Civil de 2002. Mas est imanente em vrios dos seus artigos,

    como bem esclarece Fbio Ulhoa Coelho:

    O princpio da autonomia das pessoas jurdicas, como dito, encontrava-

    se, no Cdigo Civil anterior, expresso num dispositivo que afirmava

    no se confundirem elas com os seus integrantes. Na lei atual no se

    encontra reproduzido igual dispositivo. A autonomia, e suas

    implicaes acima delineadas, porm, decorre da interpretao

    sistemtica de diversas normas. O art. 46, V, por exemplo, estabelece

    que um dos elementos constantes do registro civil da pessoa jurdica

    a existncia ou no de responsabilidade subsidiria dos seus membros

    pelas obrigaes dela; o art. 1.052 restringe a responsabilidade de

    cada scio da sociedade limitada ao valor de suas quotas, e assim por

    diante. (COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Civil Parte Geral. Pg.

    536 e 537, 2012)

    Alis, Fbio U. Coelho, o grande doutrinador que esclarece de formabastante lcida o cerne do princpio da autonomia jurdica. Corolrio

    dos princpios relacionados personalidade, aos direitos fundamentais,

    supracitados, o princpio da autonomia da pessoa jurdica de suma

    importncia para o sistema jurdico brasileiro. Se este princpio no

    prevalecesse em nosso ordenamento jurdico, possivelmente, isso

    criaria uma insegurana jurdica que inviabilizaria muitos negcios

    relacionados pessoa jurdica. E o ponto principal deste princpio,

    conforme Fbio U. Coelho:

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    A mais relevante consequncia dessa conceituao das pessoas

    jurdicas sintetizada no princpio da autonomia.As pessoas jurdicas

    no se confundem com as pessoas que a integramdizia preceito do

    antigo Cdigo Civil. Em outros termos, a pessoa jurdica e cada um dosseus membros so sujeitos de direito autnomos, distintos,

    inconfundveis. (...) Em razo do princpio da autonomia da pessoa

    jurdica, ela mesma parte dos negcios jurdicos. Faz-se presente

    celebrao do ato, evidentemente, por meio de uma pessoa fsica que

    por ela assina o instrumento. Mas a pessoa jurdica que est

    manifestando a vontade, vinculando-se ao contrato, assumindo

    direitos e contraindo obrigaes em virtude do negcio jurdico.

    (COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Civil Parte Geral. Pg. 533,

    2012)

    Tem-se uma separao entre as pessoas que integram a pessoa

    jurdica, pois como j foi dito anteriormente, a pessoa jurdica dotada

    de personalidade que perfaz direitos e obrigaes independentes dos

    seus administradores. A manifestao de vontade da pessoa jurdica,

    que goza de autonomia para, entre outras coisas, assumir obrigaescontratuais em seu nome. A pessoa jurdica um ente que no se

    confunde com os seus administradores ou scios, ao contrrio, h uma

    linha divisria determinada pelo princpio da autonomia da pessoa

    jurdica.

    Em decorrncia do princpio da autonomia da pessoa jurdica, ela (e

    no os seus integrantes) que participa dos negcios jurdicos de seu

    interesse e titulariza os direitos e obrigaes decorrentes. Tambm

    ela quem demanda e demandada em razo de tais direitos e

    obrigaes. Finalmente, apenas o patrimnio da pessoa jurdica (e

    no o de seus integrantes) que, em princpio, responde por suas

    obrigaes. (COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Civil Parte Geral.

    Pg. 536, 2012)

    Contudo, ressalte-se que essa autonomia no quer dizer que sejailimitada e, sem sombra de dvida, que se trata de um ente

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    autossuficiente haja vista que regida e administrada por pessoas.

    H limitaes que singularizam a autonomia pessoa jurdica. A maior

    nfase dada s limitaes dessa autonomia diz respeito

    responsabilidade civil da pessoa jurdica.

    Quanto responsabilidade das pessoas jurdicas, poder-se- dizer que

    tanto a pessoa jurdica de direito privado com a de direito pblico, no

    que se refere realizao de um negcio jurdico dentro dos limites do

    poder autorizado pela lei, pelo contrato social ou pelo estatuto,

    deliberado pelo rgo competente e realizado pelo legtimo

    representante, responsvel, devendo cumprir o disposto no contrato,

    respondendo com seus bens pelo inadimplemento contratual, conformeprescreve o art. 389 do Cdigo Civil. (...) A Constituio Federal de

    1988, no art. 173, 5, dispe que a lei, sem prejuzo da

    responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurdica,

    estabelecer a responsabilidade desta, sujeitando-a s punies

    compatveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem

    econmica e financeira e contra economia popular. (DINIZ, Maria

    Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do Direito Civil.Pg. 321, 2015)

    As limitaes da autonomia da pessoa jurdica, possui alguns vieses:

    legiferante, ou seja, quando a lei delimita as fronteiras na qual esto

    sujeitas as pessoas jurdicas, sob o ponto de vista da responsabilidade

    civil e penal; e, moral, pois a autonomia da pessoa jurdica no pode

    ser desvirtuada para fins ilcitos. Inclusive, se houver abuso da

    personalidade jurdica, o prprio Cdigo Civil traz um artigo especfico

    para a soluo deste caso:

    Art. 50.Em caso de abuso da personalidade jurdica, caracterizado pelo

    desvio de finalidade, ou pela confuso patrimonial, pode o juiz decidir,

    a requerimento da parte, ou do Ministrio Pblico quando lhe couber

    intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relaes

    de obrigaes sejam estendidos aos bens particulares dos

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    administradores ou scios da pessoa jurdica. (Lei n 10.406, de 10 de

    Janeiro de 2002, que institui o Cdigo Civil)

    Trata-se, conforme o artigo do Cdigo Civil acima citado, da

    desconsiderao personalidade jurdica, caso em que haja abuso da

    personalidade jurdica. A requerimento da parte ou do Ministrio

    Pblico, o juiz pode desconsiderar a autonomia de que goza a pessoa

    jurdica, para que determinados efeitos processuais sejam estendidos

    a seus administradores ou scios.

    H uma srie de julgados que perfilam e trazem tona aspectos

    estruturalmente ligados autonomia da pessoa jurdica. Aqui quesegue o julgado do Superior Tribuna de Justia (STJ), em Recurso

    Especial (REsp) 1208852 SP 2010/016235-5:

    Ementa:RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. DESCONSIDERAO

    DAPERSONALIDADE JURDICA. MEDIDA EXCEPCIONAL. DECISO QUE

    DEFERE O PEDIDO. IMPUGNAO. LEGITIMIDADE DA

    PESSOA JURDICA. SUCUMBNCIA. PATRIMNIO MORAL ATINGIDO.

    DEFESA DA AUTONOMIA E DA REGULAR ADMINISTRAO.

    PROVIMENTO. 1. Desconsiderar a personalidade jurdica consiste em

    ignorar a personalidade autnoma da entidade moral,

    excepcionalmente, tornando-a ineficaz para determinados atos,

    sempre que utilizada para fins fraudulentos ou diferentes daqueles

    para os quais fora constituda, tendo em vista o carter no absoluto

    da personalidade jurdica, sujeita sempre teoria da fraude contra

    credores e do abuso do direito. 2. No ordenamento jurdico nacional, orol dos capacitados interposio dos recursos est no artigo 499 do

    Cdigo de Processo Civil, do qual emerge a noo de sucumbncia

    fundada no binmio necessidade/utilidade. O sucumbente/vencido

    detm legitimidade para recorrer, tendo em vista a capacidade do

    recurso de propiciar ao recorrente situao mais favorvel que a

    decorrente da deciso hostilizada. 3. pessoa jurdica interessa a

    preservao de sua boa fama, assim como a punio de condutasilcitas que venham a deslustr-la. Dessa forma, quando o anncio de

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    medida excepcional e extrema que desconsidera a

    personalidade jurdica tiver potencial bastante para atingir

    o patrimnio moral da sociedade, pessoa jurdica ser conferida a

    legitimidade para recorrer daquela deciso. 4. A leso injustaao patrimnio moral, que valor agregado pessoa jurdica,

    fundamento bastante a legitim-la interposio do recurso com vistas

    recomposio do estado normal das coisas alterado pelo anncio da

    desconsiderao, sempre com vistas defesa de sua autonomia e

    regular administrao. 5. No mesmo sentido, precedente da Terceira

    Turma do STJ, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi: "O interesse na

    desconsiderao ou, como na espcie, na manuteno do vu protetor,

    podem partir da prpria pessoa jurdica, desde que, luz dos requisitos

    autorizadores da medida excepcional, esta seja capaz de demonstrar a

    pertinncia de seu intuito, o qual deve sempre estar relacionado

    afirmao de sua autonomia, vale dizer, proteo de

    sua personalidade" (REsp 1421464/SP, Rel. Ministra NANCY

    ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe 12/05/2014). 6. Recurso especial

    provido.

    Para finalizar, um questionamento se faz premente: se h que se

    considerar em grande relevo a autonomia da pessoa jurdica e, por

    outro lado, levar em considerao os seus limites, o que pesar mais

    na balana da justia? A autonomia da pessoa jurdica ou o limite

    imposto a ela? Quando se tem casos jurdicos que envolve a autonomia

    da pessoa jurdica, o juiz deve basear-se no elemento casustico, isto

    , no caso concreto, para delimitar ou no autonomia da pessoajurdica.

    Referncias bibliogrficas

    COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral. Volume 1.

    Editora Saraiva, 5 Edio, 2012.

    DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria Geral do

    Direito Civil. Volume 1. 32 Edio 2015.

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    KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Editora Martins Fontes, So

    Paulo, 7 Edio, 2006.

    MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de

    Direito Constitucional. Editora Saraiva, 10 Edio Comemorativa,

    2015.

    ZATTI, Vicente. Autonomia e educao em Immanuel Kant e Paulo

    Freire. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.