ARTIGO - Partilha de Bens_ Do Concubinato à União Estável

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  • 7/24/2019 ARTIGO - Partilha de Bens_ Do Concubinato Unio Estvel

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    09/11/2015 Partilha de bens: do concubinato unio estvel - Artigo jurdico - DireitoNet

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    Consideraes acerca dapartilha de bens na dissoluoda unio estvel

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    Partilha de bens: doconcubinato unio estvel

    A partilha de bens devida na unio estvel como garantia dedireitos aos conviventes e sua prole. Sendo que adota-se adiviso do patrimnio como no regime de comunho parcial debens no matrimnio.

    Por Gabriellen da Silva Xavier do Carmo

    INTRODUO

    O instituto da Unio Estvel se tornou foco de

    celeumas acaloradas no mbito do direito de famlia,

    pelo fato de que a prtica da convivncia marital sem

    necessariamente o vnculo matrimonial vem

    ocorrendo com mais frequncia nas ltimas dcadas e, sabendo-se que o

    ordenamento jurdico deve acompanhar a realidade social, a necessidade de criaode normas regulamentadoras garantidoras de direitos e deveres nova formao de

    famlia se tornou imprescindvel.

    Milhares de questionamentos vieram tona quanto partilha de bens na Unio

    Estvel, fazendo-se necessrios os debates acerca do tema, portanto, o presente

    artigo tem como proposta uma anlise pormenorizada dos efeitos patrimoniais na

    Unio Estvel,buscando aclarar questes levadas diariamente ao Judicirio quanto

    partilha de bens decorrente desta espcie de convivncia marital.

    Para responder aos operadores do Direito indagaes a respeito do que pode e deve

    ser ponderado quando da dissoluo da unio estvel ao que tange aos bens

    amealhados durante a constncia da unio, nos utilizamos da pesquisa documental,

    o que nos permitiu obter conhecimento doutrinrio de experts do direito de famlia e

    tambm o entendimento atual dos doutos magistrados em mbito nacional, pelo que

    visamos esclarecer ao leitor da presente pesquisa cientfica qual o vis jurdico da

    partilha de bens na Unio Estvel desde a sua instituio no ordenamento jurdico

    brasileiro.

    http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/9464/Partilha-de-bens-do-concubinato-a-uniao-estavel#rr_ancorahttp://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7439/A-partilha-de-bens-na-dissolucao-da-uniao-estavelhttp://www.direitonet.com.br/artigos/perfil/exibir/183549/Gabriellen-da-Silva-Xavier-do-Carmohttps://twitter.com/sharehttp://www.direitonet.com.br/artigos/perfil/exibir/183549/Gabriellen-da-Silva-Xavier-do-Carmohttp://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/9464/Partilha-de-bens-do-concubinato-a-uniao-estavel#rr_ancorahttp://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5637/Consideracoes-acerca-da-partilha-de-bens-na-dissolucao-da-uniao-estavelhttp://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7439/A-partilha-de-bens-na-dissolucao-da-uniao-estavelhttps://twitter.com/share
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    1. DO CONCUBINATO UNIO ESTVEL

    1.1 O Direito de Famlia e Sua Evoluo Histrica

    Tratando-se do assunto Famlia, importante se faz que sua anlise seja feita sob

    uma perspectiva histrica e interdisciplinar (antropolgico, jurdico, psicanaltico),

    para que possamos entender as mudanas, principalmente culturais, que ocorremnesta instituio.

    Tal anlise denota-se de extremo valor, tendo em vista que a partir dela que

    poderemos pensar e construir normas mais pertinentes e condizentes com os anseios

    da sociedade.

    Ao pesquisarmos sobre a histria da humanidade vamos perceber que desde as

    culturas orientais s ocidentais, sempre existiram agrupamentos Humanos. Desde osprimrdios dos tempos, os homens se reuniam em torno de algo, constituindo uma

    famlia, portanto, trata-se do segmento social mais antigo j reconhecido.

    No que tange constituio familiar de tais grupos, h socilogos que explicam que

    num primeiro momento histrico no existia vnculos de exclusividades entre homens

    e mulheres, isto , as relaes sexuais eram praticadas por todos os membros do

    grupo indistintamente, havendo poligamia e poliandria, bem como o matrimnio em

    grupo.

    No entanto, outros tericos sustentam a tese de que o agrupamento detinha uma

    natureza monogmica, primeiramente sob a chefia da mulher, depois sob a chefia

    masculina.

    Na viso do jusfilsofo Paulo Nader[1], em trs pocas diferentes da histria fizeram-

    se presentes trs formas de agrupamentos: A primeira delas teria sido a Horda, no

    qual homens e mulheres no possuam regras de convivncia e eram nmades. Numsegundo momento, passam de nmades para moradas fixas, vivendo de agricultura

    e tendo a mulher como autoridade mxima, momento em que foi denominado de

    matriarcado. E por derradeiro, uma terceira fase o patriarcado, no qual o homem se

    tornou o lder do ncleo familiar. Tal sistema perdurou-se at os nossos dias, muito

    embora tenha ocorrido a promulgao da Constituio Federal de 1988, esta insiste

    em permanecer no bojo das instituies familiares mais tradicionais.

    A Famlia, no Direito Romano, era conduzida e organizada por uma figura que

    exercia a autoridade central daquele ncleo, denominado depater familiae,

    exercendo sobre seus filhos o direito de vida e de morte. Podendo este, inclusive

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    vend-los, castig-los e impor penas severas. A mulher neste contexto tambm era

    totalmente subordinada ao marido, podendo ser repudiada pelo mesmo.

    Decorridos alguns anos, j no perodo ps-romano, a famlia passa a sofrer influncia

    do Direito Germnico, onde se aflora a espiritualidade crist, e o casamento passa a

    ter um carter de sacramento, isto , santificao. Nota-se aqui que a famlia j

    sofre uma importante transformao, passa do carter autocrtico para democrtico.

    Posteriormente, na Idade Mdia, as relaes familiares passam por uma nova

    modificao, pois passam a ser regidas unicamente pelo Direito Cannico, isto ,

    somente o casamento religioso era efetivamente reconhecido. Apesar de que as

    normas romanas continuavam exercendo influncia no que tange ao ptrio poder e

    s relaes patrimoniais entre os cnjuges, observando-se tambm as regras de

    direito germnico.

    J no Sculo XIX, marcado essencialmente pela Revoluo Francesa, e durante a

    vigncia do Estado Liberal Clssico, tal era conhecida como a Era das

    Codificaes. Dois cdigos marcantes deste perodo, foram o Cdigo Napolenico de

    1804 e o BGB (Brgerliches Gesetzbuch) Alemo de 1996. No entendimento de

    Napoleo Bonaparte, a famlia deveria estar sujeita absolutamente ao governo, de

    forma semelhante como a famlia est sujeita ao seu chefe. justamente por essa

    razo, que a mulher tratada de forma desigual no universo jurdico, ou pelo menosera, at ento. Tal Cdigo Napolenico ficou conhecido como a primeira grande

    codificao, influenciando todo o direito ocidental. Isso porque inovou descrevendo

    uma poca, sistematizando um corpo de leis, simplificando a ordem jurdica e

    facilitando a sua aplicao.

    Nestes moldes, o legislador brasileiro optou pela codificao, quando da confeco do

    Cdigo Civil de 1916, sofrendo influncias da famlia romana, a autoridade do chefe

    de famlia (ptrio poder) e trazendo o carter sacramental do casamento. Assim, e

    em razo disso, as diretrizes constitucionais tem lutado para sepultar tal

    desigualdade que ainda persiste, justamente devido a esta fincada tradio no pode

    desptico do pater famlia romano.

    1.2 A Famlia no Cdigo Civil de 1916

    Todas as Constituies anteriores Constituio de 1988, excetuando-se a de 1967,

    definiam a Famlia como aquela constituda pelo casamento civil e que este era

    indissolvel, estando sob a proteo estatal. Neste sentido, sob esta gide, surgiu

    dois polos distintos: priori uma famlia legtima, baseada no casamento civil e

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    estritamente dentro dos amparos legais e de outro lado a famlia ilegtima, criada s

    margens legais e no tendo as mesmas prerrogativas da primeira.

    O Cdigo de 1916, no trouxe especificamente a definio do instituto da famlia,

    apenas limitou-se a legitim-la atravs do casamento civil, tambm no

    mencionando sobre o casamento religioso, conforme verificamos no artigo 229 do

    referido Cdigo:

    Art. 229 Criando a famlia legtima, o casamento legitima os filhos comuns, antes

    dele nascidos ou concebidos.

    Nos comentrios de Maria Helena Diniz[2] ao artigo 229 do Cdigo Civil anotado, a

    famlia era a base da sociedade, moralmente, religiosamente, espiritualmente

    falando, vez que era mais slida que a ilegtima pois no concubinato inexistia o

    compromisso recproco entre o homem e a mulher

    O concubinato sempre foi associado a uma ideia de imoralidade, libertinagem, uma

    viso marginalizada, colada em posio inferior ao casamento. No entanto, esquece-

    se e que muito antes da criao da formalizao do ato da unio entre o homem e a

    mulher j existia a figura da famlia.

    Resta evidente, que o antigo Cdigo Civil, norteado por uma sociedade moralista e

    puritana, no tinha como escopo a proteo do ncleo familiar, mas simplesmenteevitar os escndalos provocados dentro daquela sociedade, toda vez que uma

    amante requeria seus direitos aps anos de convivncia ou uma filho bastardo

    postulava ser reconhecido.

    A Famlia somente merecia receber tal ttulo se adviesse de um casamento vlido,

    isto dentro dos preceitos da lei, sendo assim legitimada social e juridicamente.

    Contrariamente, aquela relao que se desse fora destes preceitos no detinha

    proteo do Estado e sequer era considerada como uma famlia..

    Justifica-se o aumento deste tipo de unio justamente pela carncia de informao,

    mormente no que tange aqueles locais mais atrasados do Pas, informaes estas

    concernentes tanto validade do casamento religioso, como sobre a possibilidade da

    dissoluo do casamento, que foi admitida com a Lei do Divrcio, sob n 6.515/77.

    Alm disso, segundo o Direito de Indenizao da Concubina, obra publicada no ano

    de 1953, no Arquivo Judicirio, trs fatores tambm foram cruciais para o aumentos

    das relaes de concubinato no Brasil: primeiramente em razo da Igreja que exigia

    o casamento religioso, sem levar em conta que para que tanto deveria ser afetado

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    civilmente o formalismo e os gastos com as documentaes inerentes a

    concretizao do casamento e, principalmente, a impossibilidade de casar-se

    novamente no caso de desquitao.

    Ora, restava evidente que a rigidez imposta pelo Cdigo de 1916 j no condizia com

    a realidade social da poca, principalmente com a lei de 1977, que admitia-se o

    divrcio. Entretanto, esta lei foi praticamente ignorada pela igreja, pois estes no

    admitiam o casamento de um divorciado.

    Com o advento da Constituio de 1988, o casamento deixou de ser requisito

    fundamental para a legitimao da famlia, por consequncia o conceito de Famlia

    modificou-se, pois antes ligava-se essencialmente aos efeitos do casamento.

    Neste sentido, a formalidade do casamento deixou de ser o cerne do interesse do

    Estado, este que passou a preocupar-se agora com o grupo familiar, garantido-lhe ocumprimento e a proteo de seus direitos, no importando sua origem,

    1.3 Entidade Familiar: do Concubinato Unio Estvel

    No restam dvidas de que a modificao que trouxe o artigo 226, pargrafo 3 da

    Constituio de 1988 foi que a causou maior repercusso no mbito jurdico, pois

    vejamos:

    Art. 226 A Famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado:

    (...)

    Para efeito da proteo do Estado, reconhecida a Unio Estvel entre o homem e

    a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua converso em

    casamento.

    Embora alguns doutrinadores entendam que a expresso Entidade Famlia no

    passou de uma palavra sinnima que o constituinte se utilizou para no repetir a

    palavra famlia, outros acreditam ser uma novidade constitucional, pois se refere

    famlia de uma forma mais abrangente do que aquela descrita nos cdigos.

    Resta evidente que a Constituio Federal de 1988, declarou que a unio estvel

    entre um homem e uma mulher deve ser considerada uma entidade familiar,

    portanto, um famlia. No entanto, o artigo deixa claro quanto a diversidade de sexodos conviventes, o que acabou gerando nos dias atuais uma srie de discusses

    sobre a validade da unio estvel entre homossexuais, porm que no ser o cerne

    de discusso de nossa pesquisa.

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    Para que seja considerada unio estvel, pressupe-se um lapso temporal que

    demonstre uma relao fixa, firme, slida assim, at aquelas relaes anteriormente

    denominadas de adulterinas, se enquadrarem-se nestas caractersticas sero

    consideras unies estveis.

    1.4 Lapso Temporal

    O Constituinte no declarou expressamente uma prazo especifico para que se

    configura-se uma entidade familiar, tendo em vista que o mesmo apenas quis

    demonstrar a afeio conjugal entre os companheiros, devendo ento julgados

    examinar quanto a estabilidade daquela relao trazida baila, nos moldes daquela

    exigida na Constituio. Consequentemente, aquelas prazos estabelecidos

    anteriormente foram revogados pela Constituio, inclusive o que determinava que a

    mulher comprovasse a unio por um tempo igual ou superior a cinco anos para que

    fizesse jus penso, ou caso tivesse filhos comum ao casal, trs anos.

    Hodiernamente, o juiz se ater a finalidade da unio, no ao lapso temporal, ou seja,

    se a estrutura da unio se parecer com a da famlia deve ela assim ser considerada a

    fim de receber a proteo do Estado.

    H a cogitao de um projeto de lei em que prev prazos para a unio estvel seja

    assim considerada, onde decorrer 5 (cinco) anos, caso no haja filhos, e dois anos,

    caso haja. Ora, esta lei, caso aprovada, parece ir de encontro a norma constitucional,

    pois esta em nenhuma momento se pronuncia com relao ao tempo da unio. Isso

    geraria efeitos negativos, como no exemplo a seguir: Suponhamos que um casal em

    unio por 3 (anos), ininterruptos, sem filhos, decidem viajar. No caminho ao destino,

    sofrem um acidente automobilstico e um deles acaba fatalmente se vitimando. O

    prazo neste caso ainda no havia se completado para a caracterizao da unio

    estvel. Ora, no poder deixar de se considerar estvel tal unio, pois apresenta a

    caracterstica affectio maritalis, o mero no preenchimento de lapso temporal

    disposto por lei infraconstitucional no poderia descaracterizar tal unio.

    1.5 A Constituio de 1998 e a Entidade Familiar

    Neste diapaso, com o advento da Carta de 1988, as famlias naturais ou de fato

    passaram a receber apoio estatal, e evidentemente, no h mais o que se falar em

    marginalidade da lei no que tange as unies livres.

    A Smula 382 do STF declara que a vida more uxrio dispensvel para expressar o

    desejo de constituio de uma famlia, facilitando assim a caracterizao de unio e a

    diviso dos bens adquiridos em conjunto.

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    Atualmente, no que tange aos bens, estes so considerados de ambos, se adquiridos

    na constncia do casamento, pois no se admite o enriquecimento de um em

    detrimento de outro, devendo assim ser partilhados aps a dissoluo da sociedade,

    salvo se existir previso contrria em contrato escrito.

    No se pode mais exigir tambm a existncia de filhos para que haja a unio estvel,

    portanto o requisito da procriao nas unies matrimoniais ou estveis no so mais

    exigncias, como foi em outro momento.

    Na verdade, doa a quem doer, o instituto da famlia, como vimos no captulo anterior

    que traz a evoluo histrica, sempre existiu desde os primrdios, muito antes de ser

    institudo o casamento religioso e o casamento civil. O legislador simplesmente

    pretendeu com esse dispositivo constitucional alcanar aquelas unies que ficavam a

    sua margem, impondo-lhes no s direitos como obrigaes semelhantes aqueles

    existentes no casamento.

    Ora, sendo o Direito a expresso da evoluo histria-social da populao, no se

    poderia estagnar o Direito de Famlia quelas ideias ultrapassadas sobre a

    constituio familiar, devendo atender ao clamor social, ofertando segurana jurdica,

    garantindo o bem estar social e a dignidade dos seres humanos. Neste sentido, o

    reconhecimento da Unio Estvel como entidade familiar, era medida que urgia

    tendo em vista os reclamos oriundos da sociedade desde a dcada de 1970.

    Neste sentido, independentemente das divergncias de opinies pessoais e de

    doutrinadores com relao a este tema, o importante que a Constituio tratou de

    abarcar a unio estvel como entidade familiar, devendo esta ser respeitada,

    repudiando-se toda e qualquer forma de preconceito e termo pejorativo para

    referenci-la.

    1.6 Leis atuais que disciplinam a presente matria

    A grande questo que pairou quando da insero do artigo 226, pargrafo 3 da

    CF/88, foi de que se ela seria autoexecutvel ou necessitaria de uma lei ordinria

    que a disciplinasse. Para maior segurana jurdica, entendeu-se a necessidade de

    uma lei que completasse tal dispositivo.

    Neste diapaso, foram editadas as Leis n 8.671/1994, regulando os Direitos dos

    Companheiros, e a Lei n 9.278/1996, ambas com o intuito de disciplinar matria.No entanto, sofreram inmeras crticas dos operadores do Direito, sendo til

    somente em determinado momento do nosso ordenamento jurdico.

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    A Lei 8.671 de 1994 foi a primeira lei a tratar especificamente sobre as unies de

    fato entre homens e mulheres livres.

    A Lei 8.971/1994 trouxe regulaes sobre os alimentos e a sucesso das chamadas

    unies estveis, dando o direito para que os companheiros pudessem pleitear

    alimentos bem como herdar entre si.

    J a Lei 9.278/1996 diferenciou-se da anterior, tendo em vista que no fazia meno

    ao estado civil das pessoas, apenas exigia diferena de sexos. Esta lei trouxe uma

    srie de inovaes, tais como: deslocou a competncia para solucionar litgios das

    Varas Civis para as Varas de Famlia permitiu a converso em casamento atravs de

    requerimento ao Oficial de Registro Civil, atribuiu o direito da habitao no imvel

    familiar, deu direito a alimentos para o convivente necessitado em caso de

    dissoluo da sociedade, etc.

    Ocorre que tal legislao ainda vigente em nosso ordenamento jurdico, foi e ainda

    alvo de discusso e crticas, sob o argumento de conter normas inconstitucionais,

    bem como dar a impresso de favorecer os conviventes em relao aos casados

    civilmente, o que acabou culminando na elaborao de um Projeto de Estatuto da

    Unio Estvel, em tramitao atualmente.

    No referido projeto de lei para que se caracterize a unio estvel, h critrios mais

    rgidos e objetivos, tornando mais difcil sua incidncia, por exemplo, nela exige-se

    um prazo de cinco anos, ou dois em casos de filhos em comum e a possibilidade de

    realizar-se o casamento civil, beneficiando assim beneficiando somente as pessoas

    no impedidas. Os pontos inovadores foram no sentido de que os direis e deveres

    dos companheiros assemelharam-se aos do casamento, pois foram garantidos

    alimentos ao companheiro hipossuficiente em caso de dissoluo da unio, a

    substituio do dever de fidelidade pelo dever de lealdade. E no que tange aos bens,

    foi institudo o regime de comunho parcial, salvo se estipulado diversamente entre

    as partes. Foi estabelecido tambm, o direito de usufruto e herana. E por

    derradeiro, para a converso da unia em casamento, consumando o prazo legal,

    basta apenas a declarao dos companheiros comprovando a relao entre eles,

    dispensando-se, portanto, os proclamas e editais.

    2. A PARTILHA DE BENS

    2.1 Conceito

    A partilha de bens a diviso do patrimnio do casal adquirido durante a constncia

    da unio.

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    O artigo 1.575, do Cdigo Civil, traz a possibilidade de partilhar bens quando

    ocorrida dissoluo da sociedade e do vnculo conjugal, in verbis:

    Art. 1.575 A sentena de separao judicial importa a separao de corpos e a

    partilha de bens.

    Pargrafo nico. A partilha de bens poder ser feita mediante proposta dos cnjugese homologada pelo juiz ou por este decidida.

    A doutrina ptria, a legislao vigente e a jurisprudncia pacificaram o entendimento

    de que o partilhar bens no se limita apenas herana, como tambm pode ser

    entendido em outros estudos, porm, pode se tratar da sentena que extingue o

    vnculo conjugal contendo a diviso dos bens do casal.

    Baseando-se no dispositivo legal acima mencionado, se faz possvel verificar aaplicabilidade da partilha de bens na unio estvel.

    Na unio estvel so aplicadas as regras da partilha, preconizadas no Cdigo Civil,

    para o casamento sob regime de comunho parcial de bens. No entanto, os

    conviventes necessitam de um reconhecimento dessa unio, mormente ao tempo de

    convivido para que seja definido o patrimnio comum a partilhar.

    Neste passo, entende-se que os bens comuns do casal comprovadamente adquiridosdurante o perodo de convivncia, devem ser divididos na proporo de 50% para

    cada se houver a dissoluo da unio. Devendo ser excludos da partilha os bens

    contrados por apenas um dos companheiros antes do incio da unio estvel ou

    aqueles comprados com o produto exclusivo da venda de outros bens anteriores

    relao. Com este entendimento, Gildsio Pedrosa[3] exemplifica: se um dos

    companheiros j possua um imvel antes de estabelecer a relao estvel e vendeu

    para adquirir outra na constncia da unio, o valor oriundo da venda do bem anterior

    deve ser reservado e no entra na partilha.

    Cumpre ressaltar que bens adquiridos por herana ou doao tambm no devem

    ser objeto da partilha. Apenas se comprovada a inteno de beneficiar o casal, o que

    vem causando cada vez mais litgio no Judicirio.

    Ainda, se durante a unio estvel os conviventes realizaram benfeitorias em um

    imvel em que um deles era proprietrio, o dono do bem tem o dever de indenizar o

    ex-companheiro com a metade gasta nas obras de melhoria do imvel.

    A jurisprudncia tem entendido neste sentido:

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    09/11/2015 Partilha de bens: do concubinato unio estvel - Artigo jurdico - DireitoNet

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    SOCIEDADE DE FATO. NOIVADO. PARTILHA DE BENS. PROVA. 1. Havendo sociedade

    de fato, cabe a cada parte retirar o valor correspondente contribuio que prestou

    para a consecuo do resultado econmico ou patrimonial, sob pena de configurar

    enriquecimento sem causa. 2. Tendo a parte comprovado despesas para melhoria do

    bem, cabe ser ressarcida do valor que comprovadamente gastou. Recurso provido

    em parte. (Apelao Cvel 70009420035, Stima Cmara Cvel, Tribunal de Justiado RS, Relator: Srgio Fernando de Vasconcellos Chaves, julgado em 06.10.04).

    O entendimento acima assume que em processos que envolvam partilha de bens a

    tarefa se revela extremamente rdua, portanto, tem-se que o mais justo dividir por

    metade os direitos e obrigaes.

    2.2 A Ao de Reconhecimento e Dissoluo de Unio Estvel

    Para que se faa possvel a partilha de bens diante da dissoluo de uma unioestvel necessrio que seja ajuizada uma Ao de Reconhecimento e Dissoluo de

    Unio Estvel com Partilha de Bens. Neste processo judicial, ambos os conviventes

    tem a responsabilidade de fazer prova do tempo em que durou a unio, bem como

    quais os bens devem ser partilhados. Se no houver litgio entre o casal, o

    procedimento pode ser realizado mediante escritura pblica lavrada em cartrio

    extrajudicial, desde que no momento da dissoluo no haja filhos menores, situao

    em que requer a interveno do Ministrio Pblico. Em ambos os casos pelo menosum advogado deve ser contratado para orientar e formalizar o acordo firmado pelo

    casal.

    A determinao do lapso temporal convivido imprescindvel para que sejam

    discriminados quais os bens que realmente sero partilhados. Em decorrncia disso,

    a orientao mais benfica que os casais que vivem em unio estvel elaborem

    declarao por meio de escritura pblica o momento em que iniciaram a unio

    objetivando a constituio de uma famlia.

    Esporadicamente determinada a partilha de bens ainda que somente um dos

    companheiros mantenha a casa financeiramente, isto porque a Lei presume como

    sujeitos partilha os bens conquistados onerosamente durante a unio estvel. Nas

    palavras de Gildsio Pedrosa: Se no conseguir comprovar que o recurso para

    aquisio do bem na constncia da unio estvel proveniente de herana, doao

    ou sub-rogao de um bem anterior unio estvel, o juiz presumir que houvemutua colaborao e o bem ter que ser partilhado.

    certo que quando as pessoas constituem a unio estvel, no pretendem dissolv-

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    la. Contudo cada vez maior o nmero de casais que se separam. Portanto, nada

    mais razovel do que tomar cuidados antes e durante a convivncia para no passar

    por aborrecimentos no futuro. Os comprovantes dos investimentos feitos pelos

    companheiros durante a unio estvel devem ser guardados, assim como os

    documentos que identificam a origem dos recursos. Alm de facilitar a partilha dos

    bens do casal em eventual dissoluo, esses comprovantes sero teis em caso deconflito com os herdeiros do companheiro falecido[4].

    CONCLUSO

    Podemos concluir que o Direito de Famlia brasileiro sofreu profundas modificaes

    em seus institutos, justamente devido s transformaes culturais e sociais

    decorridas no seio de nossa sociedade.

    Atravs da evoluo histrica-social pudemos acompanhar que trilhamos por umdireito eminentemente patriarcal, no qual o homem era o grande lder dspota do

    ncleo familiar, isto porque, submetia a mulher e filhos a seus rspidos

    mandamentos, em seguida passamos para um Direito humanitrio norteado pelo

    princpio da dignidade da pessoa humana, visando a proteo da vida e da liberdade.

    Nesta fase, j se afasta aquele direito preconceituoso e cria-se uma nova ordem

    jurdica, sendo esta mais humana e civilizada e menos brutal e materialista.

    Logicamente as transies se deram lentamente, principalmente atravs de duas leis

    especficas, quais sejam: o Estatuto da Mulher Casada, e depois com a Instituio do

    Divrcio. Porm, foi somente aps a promulgao da Constituio Federal de 1988

    que as mudanas mais profundas aconteceram socialmente e legalmente falando.

    Hodiernamente, temos um Direito de Famlia bem diferente daquele pautado no

    tradicionalismo, rigidez e descriminaes, pois se d nfase ao principio

    fundamentador de todo o sistema jurdico: a dignidade da pessoa humana, emconjunto com os princpios da liberdade, igualdade e pluralismo de entidades

    familiares, entre outros.

    O Princpio da Isonomia, um dos mais importantes nesta toada, foi estabelecido

    como clusula ptrea na Constituio de 1988. Assim independente de origem, cor,

    raa, posio social, todos, sem distino, so iguais perante a lei. Neste sentido,

    no h o que se falar, a partir deste marco, em lder ditador dentro do ncleo

    familiar. A mulher e os filhos passam a ser tratados com respeito e com paridade de

    direitos. Inclusive e principalmente aquela expresso discriminatria referindo-se a

    filhos tidos fora do casamento. que outrora existia, hoje em dia expressamente

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    proibida tal denominao sendo considerado ato discriminatrio sujeito a sanes.

    Deixamos para trs aquele Direito de Famlia com influncias ntidas dos Direitos

    Romanos, Germnico e Cannico, para instaurar um novo modelo que atenda aos

    anseios sociais.

    A Famlia, hoje, no precisa mais recorrer-se ao casamento para que sejaconsiderada legtima, bastando sua finalidade e intuito de constituir um lao de

    afinidade, devendo esta ser respeitada e protegida pelo Estado. Obviamente, que o

    surgimento desta nova entidade, no deslegitima o casamento como ato formal, mas

    significa dizer que o casamento no a nica forma de ser entendida como

    constituio de famlia.

    Pode-se afirmar, que o constituinte acabou com uma hipocrisia que sondava a

    sociedade, pois a unies livres existiam h anos, porm eram ignoradas pelasociedade, por ser uma afronta ao direito familiar e aos bons costumes da poca.

    Assim, milhares de famlias passaram a ser aparadas pelo novo ordenamento

    jurdico, passando os filhos a serem considerados iguais com paridade de

    tratamento, da mesma forma o homem e a mulher que encontram-se em p de

    igualdade, repudiando-se a prevalncia da figura masculina.

    Denota-se do presente trabalho que com a evoluo do reconhecimento da sociedade

    de fato a guarida do Estado teve de se fazer presente, considerando-se que se faz

    necessria a proteo dos direitos dos sujeitos em sua totalidade e o ordenamento

    jurdico deve abrigar as novas temticas do cotidiano.

    Ainda, do presente artigo podemos concluir que a partilha de bens devida na unio

    estvel como garantia de direitos aos conviventes e sua prole. Sendo que adota-se a

    diviso do patrimnio como no regime de comunho parcial de bens no matrimnio e

    a tutela jurisdicional pode ser auferida mediante ao de reconhecimento edissoluo de unio estvel.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    NADER, Paulo.Filosofia do Direito.7 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998.

    DINIZ, Maria Helena. Cdigo Civil Anotado.So Paulo: Saraiva, 1995.

    DIAS, Maria Berenice. Manual do Direito das Famlias. 10 ed. So Paulo: Revista dosTribunais, 2014.

    BRASIL. Constituio Federal. Braslia: Senado Federal, 1988. Disponvel em:

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    Acesso em: 25 de maio de 2015.

    PEDROSA, Gildsio. A partilha de bens na dissoluo da unio estvel. Disponvel

    em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/7439/A-partilha-de-bens-na-

    dissolucao-da-uniao-estavel> Acesso em: 20 jun 2015.

    PESSOA, Nlio Bicalho. Unio Estvel no Cdigo Civil de 2002: a partilha de bens.

    Evocati Revista. Ano 1, n. 4, abril. 2006. Disponvel em:

    Acesso em:

    20 jun. 2015.

    [1]NADER, Paulo.Filosofia do Direito. 7 ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998.

    [2] DINIZ, Maria Helena.Cdigo Civil Anotado. So Paulo: Saraiva, 1995.

    [3]PEDROSA, Gildsio. A partilha de bens na dissoluo da unio estvel.

    [4]PEDROSA, Gildsio.

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