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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI JEAN PAZ TIAGO FERREIRA DA SILVA ZILLAH AMORIM REIS AS TRANSFORMAÇÕES DIGITAIS E O IMPACTO NA TRAJETÓRIA DE BLOGS MUSICAIS BRASILEIROS ENTRE 2006 E 2016 São Paulo 2017

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

JEAN PAZ

TIAGO FERREIRA DA SILVA

ZILLAH AMORIM REIS

AS TRANSFORMAÇÕES DIGITAIS E O IMPACTO NA

TRAJETÓRIA DE BLOGS MUSICAIS BRASILEIROS ENTRE

2006 E 2016

São Paulo 2017

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JEAN PAZ

TIAGO FERREIRA DA SILVA

ZILLAH AMORIM REIS

AS TRANSFORMAÇÕES DIGITAIS E O IMPACTO NA

TRAJETÓRIA DE BLOGS MUSICAIS BRASILEIROS ENTRE

2006 E 2016

Trabalho de Conclusão Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Pós-graduado em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profª. Rose Naves e Profª Stefanie Carlan da Silveira.

São Paulo 2017

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JEAN PAZ

TIAGO FERREIRA DA SILVA

ZILLAH AMORIM REIS

AS TRANSFORMAÇÕES DIGITAIS E O IMPACTO NA

TRAJETÓRIA DE BLOGS MUSICAIS BRASILEIROS ENTRE

2006 E 2016

Trabalho de Conclusão Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Pós-graduado em Assessoria de Comunicação e Mídias Sociais da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profª. Rose Naves e Profª Stefanie Carlan da Silveira.

Aprovado em

Nome do orientador/titulação/IES

Nome do convidado/titulação/IES

Nome do convidado/IES

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RESUMO

O presente trabalho apresenta uma análise sobre blogs musicais brasileiros

nos últimos dez anos e o impacto após surgimento de novas plataformas digitais,

como o predomínio das redes digitais e de serviços de streaming.

Foi feito um recorte histórico do período compreendido entre 2006 e 2016 a

partir da trajetória de cinco blogs musicais brasileiros: “Floga-se”, “Poeira Zine”,

“Scream & Yell”, “Zap’N Roll” e “Zona Punk”. Além do fato de se manterem ativos no

recorte proposto, a escolha seguiu critério regional: todos os editores estão alocados

em São Paulo.

A princípio, a pesquisa queria identificar a existência de um padrão dos blogs

mencionados ao lidar com as transformações digitais, mas a análise de métricas e

dos perfis nas redes sociais e, principalmente, as respostas dos questionários

enviados, mostraram que essas transformações resultaram em impactos distintos.

Da quebra de trincheira entre o nicho musical e assuntos pessoais em

determinadas redes sociais à nova forma de interagir com o público por meio das

plataformas de streaming, a pesquisa apresenta, a partir dos exemplos

selecionados, caminhos escolhidos pelos editores para manter e elevar a audiência

dos blogs, ou dialogar com seu público. Entretanto, não se avalia as escolhas e

opiniões dos editores quanto a forma de lidar com as transformações digitais em

suas páginas.

Com os resultados obtidos, espera-se que o debate sobre conteúdo musical

na internet e sua relação com a interatividade digital seja ampliado.

Palavras-chave: blogs, web 2.0, música, streaming, indústria musical.

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ABSTRACT

The present paper introduces an analysis about Brazilian music blogs on the

last ten years and the impact by the raising of new digital platforms, such as the

social media dominance and the arriving of streaming services.

To reach that, it has been done an historical cut between 2006-2016 with data

from five Brazilian music blogs: “Floga-se”, “Poeira Zine”, “Scream & Yell”, “Zap’N

Roll”, and “Zona Punk”. Besides the fact that those blogs updated content on this

period, the selection followed regional criteria: all bloggers are living at São Paulo.

At the beginning, the research wanted to identify a possible standard between

the selected pages, but the metric analysis obtained by social media data from their

respective profiles, and the answers gave from online query showed that those

changes result in different impacts.

From the broken barrier between musical subject and personal preferences on

specific social media platforms until a new form to interact with an audience using

streaming services, our research shows, with those examples, different ways chosen

by the editors to maintain and elevates the blog audience, or simply dialogue with the

public. However, the research doesn’t measure the editor’s choices and opinions in

dealing with the digital changes on their blogs.

With the results collected, we hope to raise the debate about musical content

on the web and the subsequent digital interactivity.

Keywords: blogs, web 2.0, music, streaming, music industry

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9

1. INTERATIVIDADE: BLOGS E WEB 2.0 .................................................... 11

1.1 WEB 2.0 ................................................................................................. 11

1.2 BLOGS E NOVAS PLATAFORMAS ................................................................. 13

2. A MUDANÇA NO MERCADO DA INDÚSTRIA MUSICAL ........................ 15

2.1 TECNOLOGIA NO MERCADO MUSICAL .......................................................... 15

2.2 PLATAFORMAS, ARTISTAS E MERCADO ....................................................... 16

3. PLATAFORMA DE STREAMING .... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.8

3.1 NOVOS MODELOS MUSICAIS ...................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.8

3.2 FACILIDADE DE CONTEÚDO ........................................................................ 20

4. CASOS ....................................................................................................... 22

4.1 SCREAM & YELL ...................................................................................... 22

4.1.1 SCREAM & YELL: PERFIL .................................................................... 22

4.1.2 SCREAM & YELL: ESTUDO DE CASO ..................................................... 24

4.2 FLOGA-SE ............................................................................................... 27

4.2.1 FLOGA-SE: PERFIL ............................................................................. 27

4.2.2 FLOGA-SE: ESTUDO DE CASO.............................................................. 29

4.3 ZONA PUNK ............................................................................................. 31

4.3.1 ZONA PUNK: PERFIL .......................................................................... 31

4.3.2 ZONA PUNK: ESTUDO DE CASO ........................................................... 33

4.4 ZAP’N ROLL ............................................................................................. 34

4.4.1 ZAP’N ROLL: PERFIL .......................................................................... 34

4.4.2 ZAP’N ROLL: ESTUDO DE CASO ........................................................... 36

4.5 POEIRA ZINE ........................................................................................... 37

4.5.1 POEIRA ZINE: PERFIL ......................................................................... 37

4.5.2 POEIRA ZINE: ESTUDO DE CASO .......................................................... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 45

APÊNDICE - QUESTIONÁRIO ...................................................................... 48

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INTRODUÇÃO

Desde que passaram a ser encarados como meio de propagação de

conteúdo, os blogs musicais tiveram que se adaptar a padrões de consumo de seus

variados públicos. Se antes as pessoas se conectavam mais via desktop em suas

casas, hoje em dia a mobilidade dos smartphones e tablets tem exigido maior

adaptação dos sites ao conteúdo mobile. Soma-se a isso as mudanças no consumo

de música por parte dos internautas. Fator outrora determinante para que blogs

independentes1 mantivessem maior fidelidade de leitores.

De acordo com Nogueira (2011), muitas dessas páginas eram consideradas

“blogs de mp3”. Com a adesão maior a serviços de streaming, como Spotify, Deezer

e Apple Music, o consumo de mp3 diminuiu bastante: pesquisa online do instituto

“Opinion Box” especificamente sobre o mercado brasileiro afirmou que a pirataria de

música (muito associado ao mp3, pela facilidade de baixar música) diminuiu 31% até

20152. Nesse período, muitas páginas que disponibilizavam downloads legais e

ilegais – como “Um Que Tenha”, “Lágrima Psicodélica”, entre outros – viram o

‘espaço’ na internet minar cada vez mais suas atividades.

O surgimento de novas plataformas impactou diretamente no comportamento

daqueles que faziam uso de blogs para consumir música. Sites e aplicativos que

disponibilizavam conteúdo via streaming mostraram que o download já não era tão

necessário e fez com que os blogs criados para essa finalidade mudassem seu foco.

Além de hospedar arquivos, era necessário também criar conteúdo editorial

com informações relevantes sobre o material a ser compartilhado. Um exemplo disso

é o blog “Baixa Funda”,3 especializado em música brasileira e que entre os anos de

2009 e 2016 disponibilizou uma série de álbuns para download, cujas postagens

eram ricas em informações sobre os artistas e suas trajetórias.

O público tornou-se mais exigente em relação ao material disponível,

deixando de utilizar o blog apenas para buscar links. Era preciso, por exemplo, ter

um layout bem trabalhado, informações corretas e fácil navegabilidade.

1 De acordo com SCHITTINE, blogs são “espaço de questões pessoais que pertencem ao terreno da intimidade” (2004, p. 12). 2Disponível em: <http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/2015/01/23/streaming-diminui-pirataria-de-musica.html>. Último acesso: 05/03/2017. 3 Disponível em: <http://www.baixafunda.com.br>. Último acesso: 24/04/2017.

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Nem mesmo sites de grande porte, como o “Trama Virtual”4, resistiram aos

avanços tecnológicos e, após perderem espaço para plataformas virtuais mais

dinâmicas e com visuais mais atraentes, acabaram encerrando suas atividades. Já o

contemporâneo “MySpace”, considerado uma rede social, continua ativo, mas sem o

mesmo fluxo de acessos ou a relevância de outrora5.

Nesse contexto, houve maior crescimento de blogs dedicados a abordar

conteúdo musical de forma que o mp3 ou o download tornaram-se apenas

complementos, formas de ilustrar ou exemplificar o debate musical proposto. Essas

características norteiam cinco blogs selecionados para análise: “Scream & Yell”,

“Floga-se”, “Poeira Zine”, “Zona Punk” e “Zap’N Roll”. Todos eles, de São Paulo,

trabalham com a música enquanto conteúdo, usando recursos como vídeos de

YouTube, podcasts, playlists, entre outros formatos que endossam o conteúdo

musical elaborado por essas páginas, sejam eles texto, áudio ou vídeo.

A ideia é compreender como, em um recorte entre 2006-2016, toda essa

dinâmica – que vai da ‘mudança’ do que é considerado um blog musical, passando

pela predominância do mobile, maior presença dos serviços de streaming, uso das

redes sociais e até mesmo transformação de algoritmos nas buscas do Google e na

interação do Facebook, fez com que essas páginas ‘sobrevivessem’ ou se

adaptassem.

Para identificar essa mudança, foram feitas análises de dados de acesso e

perfis nas redes sociais, envio de questionário aos editores dos blogs e ampla leitura

de livros, notícias e artigos acadêmicos sobre a transformação digital nesses últimos

anos.

Com o presente trabalho, pretende-se dimensionar a relevância da

comunidade de blogs musicais (a partir do período estudado) e estimular um debate

acadêmico e intelectual sobre como a transformação digital impactou o conteúdo

musical dos blogs em 10 anos.

4 Site dedicado a divulgar músicas e discos de artistas independentes que permitia que o próprio artista usasse a plataforma para divulgar seu material. Ficou no ar de 2002 a 31 de março de 2013. 5 De acordo com Sean Percival, vice-presidente do MySpace entre 2009 e 2011, o último ano em que a rede social voltada para música esteve à frente do Facebook, em seu ‘auge’, foi em 2009, com 100 milhões de usuários. Em 2015, o Facebook atingiu a marca de 1 bilhão de usuários pelo mundo (DREDGE, 2015).

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Dessa forma, procura-se entender os desafios inerentes à atividade de

manter um blog musical, que vão da periodicidade da atualização de posts à

relevância, sendo elas influenciadas ou não pela transformação digital.

1. INTERATIVIDADE: BLOGS E WEB 2.0

1.1 Web 2.0

A web 2.0 é conhecida como a segunda geração de serviços online que

propõe a troca de informações de grupos com interesses comuns. O termo foi usado

pela primeira vez em 2004, ano em que diversas plataformas foram criadas e

continuaram se desenvolvendo, para facilitar o acesso ao conteúdo online sem a

necessidade de instalar um determinado programa no computador.

A forma de criar software mudou, fazendo com que muitos aplicativos que

permitem a interação, compartilhamento e divulgação sejam utilizados na internet

como pacotes de serviços pagos ou gratuitos.

Páginas como blogs e o site de compartilhamento de fotos “Flickr”, por

exemplo, surgiram com a web 2.0 e permitiram que o usuário trocasse ou buscasse

informações mais rápidas, sejam elas textuais ou iconográficas.

Além de poder buscar essas informações, é possível disponibilizar arquivos

do seu computador para outras pessoas acessarem ou fazer download após o

advento da web 2.0. A ideia é promover cada vez mais interação entre pessoas que

têm algo em comum.

A propagabilidade reconhece a importância das conexões sociais entre os indivíduos, conexões cada vez mais visíveis (e amplificadas) pelas plataformas da mídia social. Essa abordagem pode ainda incluir mensurações quantitativas da frequência e da amplitude dos deslocamentos de conteúdo, mas torna importante ouvir ativamente as maneiras pelas quais os textos de mídia são usados pela audiência e circulam por meio das interações entre as pessoas (JENKINS, FORD, GREEN, 2014).

Um website de sucesso é mensurado através da quantidade de acessos.

Esse dado torna mais fácil a análise do perfil do público que procura determinado

conteúdo, além de fornecer às empresas a informação de quais conteúdos são mais

visualizados, para que elas possam criar ações em busca de seus objetivos.

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Conseguir que uma notícia se propague positivamente é dizer que a

estratégia de comunicação funcionou. E, claro, que as notícias que se tornam ‘virais’

negativamente significam algo negativo para a empresa.

As queixas quanto à divisão digital meeira surgem, em parte, por ciúme profissional – sem dúvida, os produtores profissionais de mídia se irritam com a competição dos amadores. Mas existe outra explicação mais profunda: estamos usando um conceito proveniente da mídia profissional para nos referirmos aos comportamentos amadores, mas as motivações dos amadores são diferentes das dos profissionais (SHIRKY, 2011, p. 55).

Antigamente o conteúdo da mídia não era produzido pelos próprios

consumidores. Quando um deles emitia algum tipo de opinião, deixava de ser

consumidor. Por mais que qualquer indivíduo pudesse criar conteúdo, seja com

fotografias ou textos, dificilmente esta mensagem chegaria a tanta gente em poucos

segundos antes da web 2.0.

Jenkins (2009) afirma que "esse caso nos permite desafiar a afirmação do

senso comum de que, na era de uma web 2.0, conteúdos gerados por usuários em

alguma medida desalojaram a mídia de massa na vida cultural da pessoa comum”.

Hilderbrand (2007) complementa esse pensamento:

Para audiências de massa, ainda dominam a televisão aberta, a cabo e via satélite, (...) e o conteúdo em rede continuará alimentando esses fluxos. E eu desconfio que, para muitos tipos de público, o conteúdo em rede – novo ou antigo – ainda leva usuários ao YouTube, e conteúdos de amador são descobertos enquanto isso, através de links sugeridos, de resultados de busca alternativa ou de e-mails encaminhados” (HILDERBRAND, 2007, p. 50).

O que a análise de Hilderbrand não levou em conta, porém, é que uma boa

parte do conteúdo de mídia de massa existente no YouTube e em outras

plataformas não é autorizada – muitos usuários se apropriam de um conteúdo, às

vezes de maneira ilegal, e fazem upload na plataforma, com intuito de compartilhar e

gerar buzz na rede. Com o passar dos anos, o YouTube obteve maior controle do

que é colocado na plataforma, retirando o conteúdo quando notificado pelos

proprietários de direitos autorais.

A chegada da web 2.0 transformou o cotidiano das pessoas. Diversas

plataformas foram criadas para troca de conteúdos entre os usuários, algo que

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facilitou a interação entre eles. Se antigamente as pessoas se comunicavam por

cartas e e-mails, no século XXI tudo está online e a comunicação é feita

momentaneamente, em tempo real, facilitando a comunicação de modo geral.

1.2 Blogs e novas plataformas

Criado em 1995, o blog surgiu com a ideia de substituir o diário pessoal pelo

qual as pessoas narravam seu cotidiano na tela de um computador para o mundo.

Após ganhar destaque nas mídias, os blogs passaram a ser utilizados por jornalistas

e profissionais da moda, do entretenimento, do meio musical, entre outras áreas,

como forma de expressão e publicação eletrônica.

Segundo Ferreira (2006), o primeiro blog lançado no Brasil foi o “Blue Bus”6,

no ano de 1997, e teve publicações atualizadas até 2003.

Shirky (2011) afirma que "compartilhar pensamentos, expressões e mesmo

ações com outros (…) está se tornando uma oportunidade normal, não só para

profissionais e especialistas, mas para quem quiser”. Ainda segundo Shirky, essa

oportunidade pode funcionar em escalas e durações antes inimagináveis.

A linguagem dos blogs é diferente das demais mídias, e cada publicação,

denominada post, não tende a ser longa. Geralmente, o post é exibido do texto mais

recente até chegar ao mais antigo. Além de todas as características citadas, o leitor

pode tecer comentários em cada post e expor sua opinião sobre o assunto que lê.

Essa acessibilidade proporcionada pelo blog faz com que a interação entre autor e

leitor seja de maior proximidade.

Se você tivesse algumas semanas de folga, poderia passar todo o tempo que quisesse lendo diversas afirmações públicas em mailing lists, blogs, redes sociais, wikis, boletins de avisos e em todos os outros lugares online nos quais um indivíduo pode, com três minutos de digitação e pressionando um botão, tornar seus pensamentos disponíveis globalmente. E, se tentasse, ficaria exausto sem ao menos chegar perto de esgotar o que existe lá. Na verdade, você seria ultrapassado pelo desejo dos participantes de todo o mundo de se beneficiar desses recentes canais públicos (SHIRKY, 2011, p. 86-87).

6 Disponível em: http://www.bluebus.com.br/>. Último acesso: 24/04/2017

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Com o surgimento das redes digitais, os blogs têm se expandido para outras

plataformas, incluindo as próprias redes sociais, como forma de atingir o público nos

meios que eles mais frequentam.

Para difundir notícias rápidas e promover interação com o público, muitos

desses blogs foram importantes para o crescimento das mídias digitais.

De acordo com Jenkins, Ford e Green (2014), não se pode tentar forçar um

consumo de determinado conteúdo por parte do público, mas sim entender o que

eles buscam e criar formas de ganhar dinheiro com o que eles consomem.

As pessoas têm hoje uma nova liberdade para agir de forma organizada e em público. Em termos de satisfação pessoal, esse bem é bastante descomplicado - mesmo os usos banais de nossa capacidade criativa (publicar vídeos de gatinhos com novelos de lã no YouTube ou escrever verborragias num blog) são mais criativos e generosos do que assistir TV. Nós não nos importamos realmente com o modo como as pessoas criam e compartilham; é suficiente que elas exerçam esse tipo de liberdade (SHIRKY, 2011).

A cultura do compartilhamento é um exemplo disso: o YouTube ganha por

quantidade de visualizações e paga seus produtores de acordo com a quantidade de

acessos por parte dos usuários. Quanto mais pessoas compartilham aquele

conteúdo, mais chances têm de ser visto.

Jenkins, Ford e Green (2014) afirmam que “sites, como YouTube, tornam fácil

incluir material em blogs ou compartilhá-lo por meio dos sites das redes sociais”.

Além disso, “serviços como o Bitly permitem que as pessoas compartilhem links com

rapidez e eficiência. Plataformas como o Twitter e o Facebook facilitam o

compartilhamento instantâneo das conexões sociais de cada pessoa”.

Por serem meios de comunicação que não dependem de altos investimentos

financeiros7, muitos blogs começaram a surgir no Brasil e, consequentemente, a

música acompanhou esse trajeto, tanto que algumas dessas páginas são dedicadas

a divulgar novidades sobre a indústria musical ou do mercado independente por

meio dos blogs musicais, nos quais os leitores têm acesso a informações sobre o

CD da banda favorita sem esperar pelos meios tradicionais, como rádio e televisão.

A partir dos blogs musicais, os leitores podiam fazer download das suas

músicas preferidas, com links autorizados (principalmente de artistas independentes,

7 As plataformas de blog mais utilizadas, como Blogger e Wordpress.com, podem ser desfrutadas gratuitamente

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ou seja, sem vínculos com gravadoras que viam nessa interação com blogs uma

forma de divulgar seu material) ou links não autorizados, com discos inteiros

disponibilizados em ferramentas de compartilhamento de arquivos, como

“Rapidshare” e “Megaupload”.

Naquela época (2012), “cyberlockers” como Megaupload e Rapidshare eram vistos como uma pirataria ameaçadora por muitos rótulos, assustados com a perspectiva de milhões de fãs receberem música de graça, seguindo links para estes serviços em vez de comprar CDs ou downloads (DOTCOM, 2015).

Os compartilhamentos não se atêm às ‘novidades’. Discos antigos tidos como

“clássicos” também têm sido propagados cada vez mais pelas gerações mais novas,

por conta da curiosidade de usuários que querem conhecer o passado de bandas

antigas. Muitas produtoras e franquias, inclusive, se aproveitam do termo “clássico”

para vender produtos e fazer merchandising.

2. A MUDANÇA NO MERCADO DA INDÚSTRIA MUSICAL

“Todas as gravadoras estão de portas fechadas. E você vai continuar fazendo música?” (Rogério Skylab)

2.1 Tecnologia no mercado musical

Assim como o rádio, a televisão e a mídia impressa, a indústria fonográfica

também sofreu com o avanço tecnológico. As gravadoras, que controlavam todas as

etapas da produção de discos, desde o planejamento do produto, escolha de artistas

e repertório, passando por todo o trabalho de estúdio, produção física, confecção de

capa, embalagem, estratégias de marketing e difusão, tiveram uma drástica redução

nas suas receitas, tendo que buscar alternativas para reduzir seus prejuízos.

As gravadoras terceirizaram os serviços de estúdio, fábrica, capa, embalagem

e distribuição. Além de repensar seus custos operacionais, deixaram de investir em

novos artistas, e em seu lugar, priorizaram nomes musicais já consagrados.

O surgimento de blogs musicais permitiu que discos inteiros fossem

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disponibilizados para download, e a proliferação de plataformas de

compartilhamento de arquivos, como o Napster8, permitiu que qualquer pessoa

tivesse acesso a discografias inteiras sem pagar nada por isso.

Criado em 1999, o Napster permitiu o pleno acesso a diversas músicas em

formato mp3 para download gratuito. O compartilhamento era mútuo e o arquivo

vinha direto do computador de outro usuário. Disponível de forma gratuita, o Napster

conseguiu dezenas de milhões de usuários e virou a indústria fonográfica de ponta

cabeça.

O advento do compartilhamento de música não é uma calamidade social fruto de uma malandragem generalizada, nem é a aurora de uma nova era da bondade humana. É apenas a junção de novas oportunidades a motivações antigas por meio dos incentivos corretos. Quando se entende isso, é possível mudar a forma de interação das pessoas de maneira fundamental, e se pode moldar o comportamento delas com coisas simples, como compartilhar música, e até com coisas tão complexas quanto o engajamento cívico (SHIRKY, 2011, p. 115).

Mesmo que se apresentasse como um método “revolucionário” de acesso, o

Napster gerou muitas controvérsias, como, por exemplo, a discussão em torno da

violação dos direitos autorais dos artistas e das gravadoras.

Mais do que uma ameaça ao mercado musical, essas novas plataformas

serviram como indicadores da mudança que estaria por vir.

2.2 Plataformas, artistas e mercado

A facilidade para baixar e compartilhar arquivos mudou também o

planejamento da carreira dos artistas. Uma vez que as receitas com vendas dos

discos físicos diminuíram, e ainda não existia uma política eficiente para a

comercialização de música online, os empresários do ramo tiveram que repensar os

formatos de distribuição.

O colapso da indústria fonográfica acabou fortalecendo a cena independente,

8 Plataforma de compartilhamento de arquivos em rede P2P criado em 1999 por Shawn Fanning e seu co-fundador Sean Parker e que permitia que os usuários fizessem o download de um determinado arquivo diretamente do computador de um ou mais usuários de maneira descentralizada, uma vez que cada computador conectado à sua rede desempenhava tanto as funções de servidor quanto as de cliente. Atualmente, o Napster é um serviço de assinatura de streaming musical pertencente à Rhapsody Internatonal Inc, contando com aproximadamente 40 milhões de faixas. Na virada do século, o programa protagonizou o primeiro grande episódio na luta jurídica entre a indústria fonográfica e as redes de compartilhamento de música na Internet.

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cujos artistas apropriaram-se das plataformas digitais para divulgar seu trabalho e

comunicar-se diretamente com seu público, que encara a música como um bem

cultural e não como um bem comercial.

Uma das plataformas de maior sucesso, e que durou cerca de 11 anos, o

“Trama Virtual” permitia que os próprios artistas postassem seus trabalhos e

produzissem conteúdo para os frequentadores do site. Além do pioneirismo no modo

como tratava a relação público-artista, o site também implantou o formato “download

remunerado”, no qual as bandas recebiam de acordo com o número de vezes que

suas músicas eram baixadas.

Outro fator impactante para a decadência da indústria fonográfica foi a

proliferação das redes digitais. A rede de maior sucesso nesse período, o Orkut9,

chegou a ter comunidades dedicadas ao download. A maior delas, denominada

“Discografias”, tinha cerca de 920.000 membros e disponibilizava obras inteiras de

artistas do mundo todo.

Atualmente existe uma infinidade de plataformas que permitem que o artista

ganhe dinheiro com a venda de suas músicas pela internet. Mas os valores

repassados ainda deixam muito a desejar.

O serviço de streaming Spotify, por exemplo, que adotou o slogan “música

para todos”, surgiu em outubro de 2008, e conta com mais de 100 milhões de

usuários ativos (50 milhões pagos). Com um acervo de mais de 40 milhões de

músicas, o Spotify paga uma quantia considerada irrisória para as bandas: 2% por

música acessada por assinantes e 0,3% por música acessada por não assinantes.

Levantamento feito pelo site “Information is Beautiful”10, de abril de 2015, com dados

de publicações como BBC, Rolling Stone, CD Baby, entre outros, mostra que para

um artista receber o valor de um salário mínimo nos Estados Unidos sua música

deve ser reproduzida 1,1 milhão de vezes no Spotify.

Mesmo assim, tanto os artistas independentes quanto aqueles que possuem

contratos com gravadoras, disponibilizam suas obras no catálogo da plataforma, e a

utilizam como forma de promoção e divulgação.

9 Orkut foi uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de janeiro de 2004 e desativada em 30 de setembro de 2014. Seu nome é originado no projetista chefe, Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google. O alvo inicial do Orkut era os Estados Unidos, mas a maioria dos usuários foram do Brasil e da Índia. No Brasil a rede social teve mais de 30 milhões de usuários. 10 Disponível em: <https://imagens.canaltech.com.br/87709-Infografico-Quanto-Artistas-Ganham-Online.jpg>. Último acesso: 01/06/2017

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3. PLATAFORMA DE STREAMING

Com a chegada do século XXI, a indústria musical se viu diante de um

impasse com a queda repentina da venda de discos e CDs. Em 2001, houve

diminuição de 6,5% nas vendas totais de álbuns físicos em todo o mundo. O declínio

foi ainda mais expressivo em regiões como América do Sul (-21,4%) e Oriente Médio

(-26,7%), justificado pela cópia descontrolada dos arquivos de CDs na internet,

muitos deles disponibilizados ilegalmente em sites de compartilhamento de arquivos

(IFPI, 2002, p. 3).11

Além dos CDs ilegalmente copiados, outras ferramentas contribuíram para a

proliferação do download ilegal, como Limewire (Sinnreich, 2011) e Napster.

A partir de 2006, a indústria musical sofreu novo revés com a chegada do

YouTube, site que permite aos usuários publicar áudios e vídeos. Apesar da grande

oferta de vídeos caseiros, videoclipes, trailers, entre outros formatos, o YouTube

despontou como o maior serviço de streaming de música: em 2015, a fatia de

internautas que ouviam apenas conteúdo musical pelo site de vídeos (48%) era

superior aos serviços de streaming Spotify, Tidal, Apple Music e Google Play juntos

(37%) (Activate, 2015).

3.1 Novos modelos digitais

Se antes havia a discussão da propriedade intelectual com a aquisição ilegal

de arquivos musicais, com a chegada do streaming o usuário passa a ter preferência

pelo acesso a um amplo acervo de mais de 40 milhões de músicas (volume

referência para a maioria dos serviços, como Deezer, Tidal e Apple Music). Quando

o Spotify iniciou suas operações na Suécia, em outubro de 2008, não demorou para

ser considerado um novo modelo de distribuição musical pela internet (Heimer, 2010

p. 1).

O Spotify foi pioneiro entre os serviços de streaming em criar o formato

freemium12, que permite ao usuário ter acesso à plataforma sem necessariamente

pagar por ela. Esse formato se sustenta pela publicidade: ao usufruir do serviço sem

11 Disponível em <http://www.ifpi.org/content/library/worldsales2001.pdf>. Último acesso: 04/04/2017 12 Mais detalhes, vide SEUFERT, E. Freemium Economics: Leveraging Analytics and User Segmentation to Drive Revenue. Morgan Kaufmann, 2014, p. 24

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assinar subscrição, o ouvinte se depara com propagandas, tanto da própria marca,

como de terceiros. O formato foi adaptado por outras plataformas, como Deezer e

Pandora13, com a diferença de que “alguns serviços permitem a escolha da música a

ser ouvida, e outros criam listas de reprodução automáticas, usando algoritmos com

base em informações dadas pelo usuário” (GURGEL, 2016, p. 49).

Como modelo de negócio, a principal vantagem dos serviços de streaming é

impedir que os usuários façam downloads e troquem os arquivos entre si. Dessa

forma, eles “provaram deter os meios técnicos para controlar o usufruto dos

conteúdos digitais e, assim, puderam negociar com artistas, gravadoras e editoras”

(Kischinhevsky, Vicente & De Marchi, 2015). Os autores detalham como funciona a

característica mercadológica desse modelo:

Seu modelo de negócio é baseado em uma experiência de consumo de conteúdos digitais que substitui a lógica da compra de um disco pelo acesso a uma grande quantidade de fonogramas hospedados nas redes digitais, permitindo que seu desfrute possa ser realizado sem que se precise baixar, arquivar e organizar esse conteúdo em dispositivos individuais (KISCHINHEVSKY, VICENTE & DE MARCHI, 2015, p. 303).

Em conferência realizada pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal,

o CEO da Universal Music Group, Lucian Graige, que detém a maior fatia da

indústria musical, revelou que um de seus principais objetivos é forçar a troca do

acesso gratuito aos serviços de streaming pelo formato pago (Karp, 2013). Junto às

gravadoras Warner Music Group, Sony Music Entertainment e EMI, a Universal

forma o “The Big Four”, que controla 82% da indústria doméstica só dos Estados

Unidos (Brock, 2013, p. 189)

Em abril de 2017, a Universal fechou um contrato com o Spotify que dá

acesso exclusivo aos usuários premium aos lançamentos do catálogo (Nicolaou,

2017). Na verdade, o Spotify não é o único serviço com parcerias específicas:

lançado em 2015, o Tidal, de propriedade do músico Jay Z, firmou conteúdo

exclusivo com artistas mundialmente conhecidos, como Beyoncé, Rihanna e Jack

13 Serviço de streaming que dispõe as músicas em formato rádio online disponível apenas nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Recentemente, o Pandora adquiriu o Rdio, serviço de streaming que também possuía mercado brasileiro.

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White14. A Apple Music também fechou contratos exclusivos com músicos como

Drake, Frank Ocean, Travis Scott, entre outros, oferecendo, além do streaming

exclusivo pelo período de duas semanas, programas exclusivos pela rádio online do

serviço, Beats 1, e propaganda em comerciais de TV. “Superestrelas exclusivas, por

sua vez, ajudaram a Apple e, em menor escala, o Tidal a gerar milhões de novos

clientes, intensificando a concorrência com o Spotify” (Knopper, 2016).

3.2 Facilidade de conteúdo

Diversas pesquisas apontam para uma redução na prática de downloads

ilegais com o advento do streaming, principalmente pela facilidade de ouvir música e

devido ao aprimoramento da infraestrutura de acesso à internet.

Byun (2016) defende que a crescente adoção a serviços como Spotify,

Deezer, YouTube, entre outros, tem a ver com o uso constante do celular.

“Consumidores usam seus smartphones para música, assim com para outros

propósitos (voz, email, vídeo, downloads de arquivos etc)”. Estima-se que 50% dos

usuários do Spotify acessam o serviço via aplicativo de celular, o que leva a algumas

dessas empresas a fecharem parcerias com empresas de telecomunicações. No

Brasil, por exemplo, o Deezer se aliou em 2014 à TIM, empresa de telecomunicação

da Telecom Italia, para oferecer acesso ao serviço sem cobrar franquia dos

clientes15.

Da mesma forma que os serviços de streaming são apoiados pela indústria,

por outro lado mantêm-se como importantes sustentáculos do mercado fonográfico.

Quando a Warner Music decidiu retirar conteúdo de seus artistas do YouTube, entre

janeiro e outubro de 2009, teve prejuízo de 10 mil unidades por semana dos discos

que figuravam entre a parada musical Billboard 200 (Hiller & Kim, 2014). Por conta

disso, antes do fim de 2009, decidiu disponibilizar o conteúdo pela plataforma Vevo,

joint-venture do YouTube e da Sony, que passou a ter participação da Universal.

Segundo Aguiar & Martens, quedas nas vendas assim acontecem porque os

consumidores encaram o streaming como uma ferramenta de descobertas musicais

14 Disponível em <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/09/tidal-servico-de-musica-rival-do-spotify-e-lancado-no-brasil.html>. Último acesso: 05/04/2017. 15 O Deezer também fechou parcerias com outras empresas de telecomunicações em outros países. Sobre a parceria com a Tim, no Brasil, vide: < http://www.deezer-blog.com/press/tim-e-deezer-firmam-parceria-e-lancam-novo-timmusic/>. Último acesso: 05/04/2017.

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(2016). Deve-se levar em consideração que esses serviços contam com algoritmos

de recomendações de artistas similares e dão a possibilidade de criar e reproduzir

playlists, que contêm músicas e artistas relacionados ao gosto musical do ouvinte.

De forma direta ou indireta, esses fatores podem influenciar na decisão de aquisição

musical, seja em formato digital ou físico.

Por outro lado, o streaming pode ser usado como dispositivo de amostragem para informar os consumidores sobre quais produtos comprar. Enquanto os canais de descoberta de música dos consumidores eram previamente dominados por estações de rádios tradicionais, eles agora compreendem muitas outras opções, como blogs de música e redes sociais. Os serviços de streaming também podem servir para o mesmo propósito e poderiam, nesse caso, estimular as vendas de música digital (Aguiar & Martens, 2016, p. 29).

Não há estudos específicos que relacionem o uso do streaming com conteúdo

propriamente musical, como blogs ou imprensa especializada. É sabido que algumas

bandas fazem uma ‘ponte’ entre os blogs, a disponibilização da música e o

compartilhamento nas redes sociais, como Vieira, Mendes & Alencar exemplificam

no caso da música paraense, usando as bandas Molho Negro e Gang do Eletro

como exemplos (2015)16. Mas a bibliografia que relaciona a dinâmica da chegada

dos serviços de streaming e o boom das redes sociais no conteúdo de blogs

especializados em música ainda é escassa, por ser um fenômeno pouco maturado

devido ao curto espaço de tempo.

16 VIEIRA, M. C; MENDES, M. C. L.; ALENCAR, A.F.C. Tecnologias digitais e streaming: a popularização da música paraense através das redes sociais na internet. Temática, 2015.

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4. CASOS

Os tópicos seguintes detalham os cinco blogs que exemplificam a discussão:

“Scream & Yell”, “Floga-se”, “Zona Punk”, “Zap’N Roll” e “Poeira Zine”, com análise

de dados, perfis das redes digitais e depoimentos colhidos através de questionário

online.

4.1. SCREAM & YELL

4.1.1 Scream & Yell: perfil

Layout do site “Scream & Yell” (fevereiro de 2012)

Layout do site “Scream & Yell” (maio de 2017)

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Criado pelo editor Marcelo Costa, o “Scream & Yell” surgiu primeiramente

como fanzine17 impresso, em 1998, na cidade de Taubaté (interior de São Paulo).

Em 10 de outubro de 2000, o fanzine migrou para o site “screamyell.com.br”, com

atualização diária sobre música e cultura pop em geral, incluindo cinema, literatura e

HQs.

“O que mais motivou a fazer o “Scream & Yell” foi falar de coisas que a

grande mídia não falava. A migração para a internet se deu pela facilidade da

atualização do conteúdo. Isso pesou bastante”, disse o autor.

Assim como na época do fanzine, em que o editor convidava jornalistas para

escrever conteúdo musical, na página “Scream & Yell” o editor manteve a proposta

de convidar colaboradores com o propósito de abordar assuntos musicais

pertinentes à cena independente da música brasileira, incluindo o pop mainstream e

o rock de diversas nacionalidades: norte-americano, britânico, português, latino etc.

Além de editor, Costa é o principal redator do site. Ele mantém colunas

pontuais, como “Dez Vídeos”, em que destaca 10 clipes musicais de um

determinado período, e “Download Gratuito”, categoria que separa diversos discos,

principalmente nacionais, disponibilizados para baixar gratuitamente, com

autorização dos artistas.

O site também tem a coluna “Conexão Latina”, mantida pelo jornalista

Leonardo Vinhas, que fala sobre músicos e cenas de países latinos, como

Argentina, Uruguai, Venezuela etc. Possui, também, seções de longas entrevistas

com artistas e textos sobre novos lançamentos fonográficos (coluna “Três Discos”),

novos filmes (“Três Filmes”) e livros (“Três Livros”), todos atualizados por diversos

jornalistas musicais.

Por conta da diversidade de redatores no site, Marcelo Costa mantém um

blog à parte dentro do portal “Scream & Yell”, onde estabelece uma ‘conversa

informal’ com os leitores sobre o que é abordado no site.

Outro assunto recorrente nas páginas de “Scream & Yell”: avaliações de

cerveja, por meio da coluna “Boteco”, em que descreve aromas, corpo, coloração,

entre outros detalhes sobre cervejas artesanais fabricadas no país ou importadas.

17 Publicações feitas por pessoas que dialogam especificamente com fãs de um determinado assunto. Os produtores de conteúdo podem ser amadores e profissionais, já que não existe uma editora ou Publisher responsável. O termo fanzine é uma contração da expressão em inglês fanatic magazine, que significa revista de fãs (YAMAI, 2012)

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Nos últimos anos, o “Scream & Yell” criou novas frentes de atuação: o “Selo

Scream & Yell”, que divulga lançamentos de artistas independentes e tributos a

músicos consagrados (como Belchior, Milton Nascimento, Engenheiros do Hawaii,

entre outros), feitos por músicos da nova geração. O primeiro lançamento foi o

álbum “Walverdes ao vivo”, lançado em março de 2011.

A partir de abril de 2017, o editor Marcelo Costa começou a postar

semanalmente vídeos na plataforma YouTube. A seção “Scream & Yell Discos” fala,

a cada episódio, sobre um disco em específico, em vídeos entre três e oito minutos

de duração.

4.1.2 Scream & Yell: estudo de caso

O gráfico abaixo mostra a quantidade de acessos ano a ano do site “Scream

& Yell”, entre 2006 e 2016:

Costa informa que o público médio que acessa o “Scream & Yell” tem entre

15 e 45 anos e é interessado por música, literatura e cinema. O editor mantém

presença do site nas seguintes redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e Google

Plus.

Ao longo dos 10 anos analisados, Costa afirma que houve pouca mudança do

público, a não ser por renovações por parte dos leitores, que ele encara com

naturalidade. “Tem gente que leu o site entre 2002 e 2005 e nunca mais leu porque

a vida o levou para outro caminho, a cultura deixou de ser importante para ele,

outros fatores. E novos leitores surgiram”, pondera o editor.

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Mesmo com a maior presença do streaming (vide capítulo 3), Costa diz que

houve pouca influência na forma com que os leitores interagem com o “Scream &

Yell”:

São dois pontos interessantes: a gente valoriza muito o objeto físico (CD, vinil, K7) e mesmo o MP3, e uma das seções mais lidas do site é a de “Download Gratuito”. Eu achava que, com o tempo e a popularização do streaming, esses posts sobre “Download Gratuito” iriam perder força, mas ainda são muito procurados (COSTA, 2017).

O editor cita como exemplo os lançamentos exclusivos de discos que

integram a seção “Selo Scream & Yell”.

Lançado em 2014, o tributo ao Engenheiros do Hawaii atingiu a marca de 25

mil downloads, número que ele considera elevado. Dois anos depois, os tributos

dedicados ao cantor pernambucano Alceu Valença e à banda fluminense Paralamas

do Sucesso não tiveram recepção tão positiva, ainda que os grupos tenham

popularidade equiparável ao Engenheiros do Hawaii, segundo Costa. Em 2016, a

média de downloads dos tributos aos dois artistas foi de 7 mil – ou seja, apenas 28%

do total de usuários que baixaram o tributo ao Engenheiros do Hawaii.

“Percebo que já há influência do streaming nesses dois últimos lançamentos.

As pessoas não quiseram baixar o disco para ter para si, porque eles ouvem o que

querem em streaming sem uma relação direta de posse da música”, analisa Costa.

Em relação aos acessos ao site, a onipresença do streaming não resultou em

impacto negativo. Como mostra a tabela, houve uma escala ascendente de acessos

no site entre 2011 e 2016 – com exceção de 2015, que teve uma queda de 6% no

número total de acessos em comparação com o ano anterior.

Pelo período analisado, 2016 foi o ano em que o “Scream & Yell” mais obteve

acessos: 94 mil, um aumento de 18% comparado ao ano anterior (77 mil acessos).

Em 2016, serviços de streaming como Spotify e Apple Music, por exemplo, fincaram

presença no competitivo mercado de música digital, principalmente com o aumento

da comercialização de smartphones no Brasil. Conforme indica pesquisa da

Panorama Mobile Time/Opinion Box, o uso de streaming somente pelo celular

(incluindo outros serviços não totalmente dedicados ao conteúdo musical, como

YouTube e Netflix) no país subiu de 18,8% para 40,1% em 2016.

Sobre a não interferência desses dados de streaming em relação aos acessos

do “Scream & Yell”, Costa conclui: “A gente continuou fazendo a mesma coisa que a

gente fazia em 2001, por exemplo, e o público nos seguiu e apoiou”.

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O acompanhamento por parte do público também se deu por conta da

presença do “Scream & Yell” nas redes sociais. Pelo Twitter, o perfil de Marcelo

Costa conta com 17,5 mil seguidores (dados de maio de 201718). Além de divulgar os

textos publicados no site “Scream & Yell”, o perfil no Twitter “@screamyell” traz

postagens pertinentes aos assuntos música, cultura, literatura e mensagens

pessoais que expandem ao universo de futebol, política, viagens e sociedade, com

atualização diária.

No Facebook, a página “Scream & Yell” possui 13 mil fãs. A página é

atualizada diariamente e também diversifica os formatos de posts: além do conteúdo

do site, traz vídeos curtos que funcionam como teaser do “Scream & Yell Discos”,

publicado no YouTube, além de fotografias de artistas e links de sites externos, que

têm a ver com o conteúdo e os assuntos abordados pelo “Scream & Yell”.

Costa encara a presença nas redes sociais como “adaptação normal das

novidades”. “Sete anos atrás eu divulgava os textos no Orkut, e hoje tenho

Facebook e Twitter como ferramentas de contato com o público”, explica.

A mudança mais significativa no “Scream & Yell”, na avaliação de Costa, foi a

migração do publicador para “Wordpress”19, em 2008, “que facilitou extremamente o

trabalho de edição”. As adaptações do visual do site também marcaram uma nova

fase, “mas nada drástico, nada que tenha promovido uma nova forma de fazer o que

a gente faz, que continua sendo o que fazíamos em 2001, apenas com mais

experiência”, conclui o editor.

18 Todas as métricas de redes sociais dos blogs são referentes a maio de 2017. 19 O Wordpress é dividido em dois formatos: Wordpress.com, que possibilita a criação de um domínio gratuito com temas e layouts padronizados; e o Wordpress.org, formato pago que permite edição de programação em código aberto, de forma que o usuário possa construir o layout e as configurações do site de forma customizada, de um jeito que favoreça a identidade do site. Por isso, o Wordpress é uma plataforma de publicação usada tanto por blogs quanto por grandes publishers, como o jornal The New York Times e a revista The New Yorker.

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4.2 FLOGA-SE

4.2.1 Floga-se: perfil

Layout do site “Floga-se” (maio de 2017)

O editor Fernando Augusto Lopes criou o site “Floga-se” em fevereiro de

2006, motivado pela vontade de “compartilhar gostos de música”. De início, as

atualizações eram pontuais, com textos que falavam da cultura pop como um todo.

A partir de 2007, o “Floga-se” passou a ter mais atualizações, tratando de

cenários independente e alternativo de bandas brasileiras e internacionais, com

Lopes como único autor.

Nessa primeira fase em que esteve no ar, os textos eram mais pessoais. Ao

longo do tempo, o editor começou a se preocupar com os acontecimentos musicais

e com atualização do “Floga-se”, com informações sobre músicas, discos e clipes.

Em outra transição, o conteúdo passou a contemplar artigos, opiniões e críticas.

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De hard news no começo e um texto mais ‘descoladinho’, fomos evoluindo pra matérias, artigos, entrevistas, colunas, resenhas e outros materiais próprios com senso crítico mais agudo, com textos bem maiores e amplos (…) Os textos são tão longos quanto precisam ser, de modo que o público se molda a isso: acabamos atingindo leitores com esse mesmo perfil (LOPES, 2017).

Esse novo formato do “Floga-se” se solidificou com seções específicas. Uma

delas é o “Discos da Vida”, em que o editor entrevista um músico ou personalidade

influente no meio musical, pedindo para que ele mencione e disserte sobre os 10

discos musicais que considera essenciais em sua formação.

Outra coluna de destaque é “Pense ou Dance”. Nela, o editor faz um editorial,

muitas vezes em tom crítico, para falar sobre assuntos voltados ao meio musical,

como comportamento do público, influência do streaming, distribuição digital, selos

independentes, entre outros.

O site também possui colaboradores eventuais. Na coluna “CosmoPOPlitan”,

o músico e produtor Cesar Zanin comenta o cenário musical baseado no esquema

do-it-yourself. A seção “Resenhas” é dividida por textos de Lopes e do jornalista

Henrique Barbosa Justini.

Algumas seções foram eventuais e não são atualizadas há mais de dois anos.

É o caso de “Engrenagem”, assinada pelo músico Cadu Tenório, que indicava

artistas que trabalhavam com o conceito de noise-music20. O jornalista Al Schenkel

trabalhou em cinco artigos para a seção “Esquizofrenizando”, enquanto Renato

Malizia, curador do selo independente “The Blog That Celebrates Itself”, manteve 22

edições da seção “Noise Waves”, escrevendo sobre discos e bandas nacionais e

internacionais de rock shoegaze21.

O “Floga-se” não publica nada baseado em tendências apenas, nem busca atrair cliques a qualquer preço, de modo que é possível fazer um recorte de público dessa forma: leitores que gostam de música, de ler histórias sobre música, análises críticas mais aprofundadas e sobre o mercado. Tento evitar com que sejam apenas artistas que

20 Conceito de música experimental sem estrutura harmônica e rítmica que se vale de sons como microfonias, distorções de guitarra, efeitos de teclados, solos intrépidos de instrumentos de sopro, entre outros elementos que resultam no barulho como elemento central da música. 21 Subgênero do rock que surgiu na segunda metade dos anos 1980 no Reino Unido, com vocais melancólicos e variados efeitos nos pedais de guitarra. Os grupos mais conhecidos associados ao shoegaze são The Jesus & Mary Chain e My Bloody Valentine.

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querem ver seus trabalhos publicados - e os amigos desses artistas (LOPES, 2017).

Com postagens diárias, o site também reúne entrevistas com músicos

nacionais e internacionais, notícias sobre bandas do cenário independente e artigos

sobre álbuns clássicos nas seções “Revisitando” e “Discos (Pop) Perdidos”, todos

atualizados por Lopes. Além disso, o editor mantém desde 2013 o podcast “O Resto

é Ruído”, ao lado de Elson Barbosa, músico e proprietário do selo virtual Sinewave,

e a jornalista Amanda Mont’Alvão.

4.2.2 Floga-se: estudo de caso

O gráfico abaixo mostra a quantidade de acessos ano a ano do site “Floga-

se”, entre 2010 e 2016. O editor Fernando Augusto Lopes afirmou que não tem

dados de acessos de 2006 a 2010 porque hospedava o site em outra plataforma:

Em relação ao público-alvo do “Floga-se”, Lopes diz que não tem controle

sobre esses dados. Desde que começou a publicar conteúdo, em 2006, ele declarou

que tem se esforçado para a construção de um público fiel, “que sempre vá ler algo

que o site publique, independente de indicações de terceiros”.

O ano em que o “Floga-se” teve mais acessos foi 2013, chegando a atingir um

total de 325 mil visitantes, total 12% maior em comparação ao ano anterior.

Em 2014, houve uma queda de 38% nos acessos, chegando a 200 mil

visitantes. Lopes atribui essa diminuição à mudança no algoritmo do Facebook, que

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naquele ano passou a privilegiar anúncios nas páginas administradas por empresas,

sites e instituições.

O Floga-se, bem como a maioria das publicações (creio) nos dias de hoje, depende muito das redes sociais e dos mecanismos de busca. O número de acessos diretos, via página inicial, vem diminuindo consideravelmente nos últimos anos, em detrimento a acessos diretos aos artigos, de modo que é notável que os leitores não acessam mais uma página inicial e vasculham-na em busca de artigos de interesse (LOPES, 2017).

O “Floga-se” está presente em duas redes sociais: Twitter, com 5.120

seguidores, e no Facebook, com 4.657 fãs (dados de maio de 2017). Nas duas

redes sociais, o editor costuma compartilhar, além do conteúdo do “Floga-se”,

artigos de outros sites, com assuntos pertinentes à proposta do “Floga-se”.

Desde 2014, o Facebook realizou outras mudanças de algoritmo. Nesse ano,

o impacto foi surtido em produtores de conteúdo, uma vez que páginas que não

promoviam conteúdo pago tiveram alcance reduzido de posts. Em 2016, a rede

social passou a privilegiar postagens de amigos e familiares, criando um novo

desafio para marcas e publishers na plataforma. A especialista em marketing na

internet Camila Porto explica que essa mudança gerou “queda de alcance orgânico”.

Em entrevista ao jornal Meio & Mensagem, Porto explicou: “Está cada vez mais

difícil para as marcas aparecerem organicamente no feed das pessoas. E é normal

que isso aconteça, pois o Facebook é uma ferramenta de mídia. Se eu não pago eu

não apareço” (Criscuolo & Pacete, 2016).

Lopes afirma não ter investido em posts patrocinados no Facebook, e vê isso

como um entrave, porque dificulta o alcance de seu conteúdo a um público que

potencialmente possa se interessar pelos artigos do “Floga-se”. “É pelas redes

sociais (ativamente) e mecanismos de busca (passivamente) que tento atingir essas

poucas e anônimas pessoas”, explica o editor.

Esse entrave é refletido nos números. Desde 2014, o “Floga-se” registra

quedas repentinas de acessos. Em 2015, chegou a ter 172 mil leitores, uma

diminuição de 14%. Em 2016, a tendência de queda permaneceu, e o “Floga-se”

obteve total de 140 mil acessos: 19% inferior comparado ao ano anterior e 30% a

menos que 2015.

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Com relação ao comportamento do público de modo geral, creio que a mudança se dá mais pela própria evolução da ferramenta ‘rede social’: o Facebook, o YouTube e o Instagram em especial. Agora, sendo blogueiro ou não, todo mundo se enxerga como "provedor de conteúdo" e "analista", com textos, imagens e vídeos sobre qualquer assunto. É a tal "era da lacração", momento que não pode ser descartado em impacto. Em resumo, a mudança mais significativa é que o público parece ter menos vontade e tempo pra ler (e ver e ouvir), já que muita coisa acontece ao mesmo tempo e ele não quer perder nada pra não ficar ‘de fora do assunto do momento’ (isso é uma tendência que se acentuou de dez anos pra cá), e vem se agravando com bastante velocidade nos últimos dois anos. Não tenho esperanças de que o quadro mude.

O predomínio das plataformas de streaming, segundo Lopes, não afetou em

nada os acessos ao “Floga-se”. Ele se diz “crítico às ferramentas e sistemas pago de

streaming”, embora utilize bastante “as facilidades e gratuidades do YouTube”, que

não conta com serviço de subscrição como os concorrentes Spotify, Apple Music,

Deezer, entre outros.

Diante da mudança do cenário externo, Lopes acredita que o melhor a se

fazer é “adaptar constantemente a linha editorial”, criando novos tipos de artigos e

colunas para equilibrar a balança entre a “música torta subterrânea com a música de

grande alcance comercial”.

4.3 ZONA PUNK

4.3.1 Zona Punk: perfil

Layout do “Zona Punk” (maio de 2017)

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O site “Zona Punk” foi criado em 1999 por três amigos que compartilhavam o

gosto por rock: Saulo Loureiro e os irmãos Leandro e Pedro Cupertino. Pouco tempo

depois, o jornalista Wladimyr Cruz assumiu a linha editorial do site, onde permanece

como CEO e editor.

Além do punk rock, subgênero musical mais encontrado nas linhas do site, o

“Zona Punk” abrange “várias vertentes musicais, dando unidade e espaço igual para

bandas novas independentes, lado a lado de grandes nomes do rock alternativo

mundial”.

Cruz contou que a ideia do “Zona Punk” começou como papel, que gerava um

alcance de 1.000 pessoas por mês com as cópias.

Quando começamos o site naquele ano [de 1999], eu tinha, sei lá, 300 amigos no ICQ22. Ou seja, eu conseguia atingir 1/3 das pessoas com qualquer texto escrito instantaneamente. Não fazia sentido seguir com o físico. O mote é escrever, comunicar. O site é apenas o meio (CRUZ, 2017).

Com atualização diária, o site possui 15 colaboradores e seções específicas.

A seção “Resenhas” traz textos sobre discos e shows sobre o underground do rock,

tanto nacional quanto internacional. Os textos da seção “Entrevistas” também

abrangem bandas e artistas nacionais e internacionais.

Como forma de aproveitar a predominância do streaming, o “Zona Punk”

atualiza playlists de curadoria própria pela plataforma Spotify. Pelo site, elas podem

ser encontradas na seção “Mixtapes”.

Na aba lateral, o site disponibiliza promoções de ingressos para shows,

geralmente obtidos com parcerias feitas com casas de show, bandas e festivais.

Segundo o texto de divulgação23, o “Zona Punk” trabalha em parceria com

“algumas das principais marcas do mercado independente e alternativo, desde

casas noturnas, espaços de show, até produtoras e marcas voltadas ao nosso

meio”.

No menu principal, a equipe disponibiliza link de midia-kit para anunciantes

que tenham interesse em divulgar suas marcas pelo “Zona Punk”.

22 Programa popular de bate-papo nos primeiros anos da internet que precedeu o Windows Messenger (ou MSN) 23 Disponível em: < http://zp.blog.br/?m=about >. Último acesso: 22/05/2017

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4.3.2 Zona Punk: estudo de caso

O “Zona Punk” possui presença nas seguintes redes sociais: Facebook, com

58,4 mil fãs; Twitter, com 18.080 seguidores; Instagram, com 10,4 mil seguidores;

Google Plus, com número não informado de fãs; e Spotify, com 354 seguidores.

Cerca de 70% do público que acessa o “Zona Punk” é masculino e possui

entre 25 e 34 anos. A maioria dos acessos é das cidades de São Paulo (SP), Rio de

Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG).

O site é atualizado diariamente, com média acima de um texto por dia.

Segundo Cruz, o “Zona Punk” registra em torno de 1.000 visitas únicas por dia,

distribuídas por diversas seções.

Com o passar dos anos, as redes sociais fizeram com que os acessos

diminuíssem, de acordo com Cruz: “Com a popularização do Facebook e do Twitter,

esse número diminuiu e mudou. Pois, agora, a pessoa não entra mais no site como

um todo, mas clica nos links que mais a agradam, diretamente no assunto que ela

busca”.

Por outro lado, as redes sociais possibilitaram novos tipos de interação com o

público. “Aumentou o diálogo e feedback entre site e público, e vice-versa, e

descentralizou-se a informação, criando uma curadoria pessoal do que cada um

quer ver, tirando a obrigatoriedade da visita no site”, detalha Cruz.

A presença do “Zona Punk” no Spotify denota adaptação às novas formas de

consumo dos leitores. “A popularização do streaming facilitou o acesso ao que é

escrito. Além de ler, agora o publico pode ouvir todas - ou quase todas - as

referências ditas, com uma facilidade imensa”, sintetiza Cruz. Até maio de 2017, o

perfil “Zona Punk” havia criado 28 playlists próprias pelo Spotify. Dessa forma, o

“Zona Punk” é o único dos exemplos que utiliza a ferramenta como propagadora do

conteúdo editorial do site.

Cruz afirma que uma das premissas do site é realmente estar presente nas

redes sociais, para fortalecer a comunicação com seus novos e antigos leitores.

Sobre se adaptar aos novos tempos, o editor conclui: “Apenas acompanhamos, sem

dramas, sem dor”.

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4.4 ZAP’N ROLL

4.4.1 Zap’N Roll: perfil

Layout do site “Zap’N Roll” (maio de 2017)

Layout do site “Zap’N Roll” (maio de 2011)

O site “Zap’n Roll”, também conhecido como o “Blog do Finatti”, surgiu em

2003 como coluna semanal do portal “Dynamite24”, que aborda assuntos voltados ao

rock e à cultura pop.

O blog é alimentado com postagens semanais sobre o cenário da cultura pop

e do rock alternativo, pautado por fatos históricos que, na opinião do editor, tenham

causado “encontro (ou reencontro) inesperado”.

24 Disponível em: <www.dynamite.com.br>. Último acesso: 07/05/2017

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Os textos costumam ser longos e repletos de ‘emoção’, com aspecto

opinativo. De entrevistas a ‘aventuras’, o “Zap’n Roll” é atualizado com base em

relatos pessoais do editor Humberto Finatti.

São textos em que relembro histórias pessoais e de situações quando a enfiação grotesca de pé na lama em álcool e drugs foi a tônica. São relatos tão bizarros e bacanas que estou compilando-os para publicar um livro, a ser lançado ainda este ano se possível (FINATTI, 2017)

A linguagem em primeira pessoa flerta com o Jornalismo Gonzo 25e se

caracteriza pelo tom ácido e pela objetividade, como podemos observar no título da

postagem a seguir, captada em outubro de 2011:

Print de post do site “Zap’N Roll” (outubro de 2011)

Em vários momentos o editor torna-se o próprio personagem da narrativa, e o

leitor acaba fazendo parte do seu universo e vivenciando suas experiências, a

maioria delas pelas noites em casas e festas da cidade de São Paulo.

25 É considerado gonzo o estilo narrativo, cinematográfico ou de qualquer tipo de produção midiática em que o narrador principal torna-se personagem da obra, modificando-a de acordo com seu ponto de vista. Nesse estilo, a ação do narrador e sua relação com o ambiente são tão importantes quanto o factual. O “jornalismo gonzo” tem seu maior ícone na figura do jornalista Hunter S. Thompson, A origem do termo gonzo tem diversas versões, uma delas é de que a palavra é uma gíria da Irlanda usada para designar o último homem que acaba em pé em uma bebedeira. O jornalista que batizou este estilo foi Bill Cardoso, que utilizou a "gonzo" em referência a um texto de Hunter Thompson.

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4.4.2 Zap’N Roll: estudo de caso

Finatti afirma que o “Zap’N Roll” possui cerca de 70 mil acessos mensais,

“número que tem se mantido ao longo dos anos”. Ele conta que o blog surgiu a partir

da necessidade de dedicar mais espaço ao rock alternativo e à cultura pop em geral.

“Não há um público-alvo em especifico. O blog é lido tanto por jovens quanto

por pessoas mais velhas”, diz o editor.

Com presença nas redes sociais Facebook (609 curtidas) e Twitter (716

seguidores), Finatti afirma que a maior resistência que passou nos últimos anos tem

a ver com o consumo de música digital.

E como sou um jornalista coroa, ranzinza e rabugento, sempre tive pavor de baixar discos e de ouvir música online, sou do tempo do vinil que eu amava e amo até hoje. Mas, enfim, tive que ceder e me render ao mundo da musica digital (FINATTI, 2017).

Com a maior presença do streaming, Finatti reforça que a ‘rendição’ à música

digital tornou-se inevitável. Isso porque, para escrever sobre os álbuns, era

necessário “escutar música online e baixar músicas na web”, segundo o editor.

Em relação ao comportamento dos usuários, Finatti atribui a mudança a

fatores comportamentais. Houve “muita mudança (…) Há 10 anos ainda havia um

sentimento de amor pela cultura pop e pelo rock em geral”.

Atualmente, para ele, o “rock está praticamente morto e as pessoas que

consomem música possuem um gosto musical muito mais pop e descartável”.

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4.5 POEIRA ZINE

4.5.1 Poeira Zine: perfil

Layout do site “Poeira Zine” (abril de 2017)

Layout da seção “Poeira Cast”, podcast do site “Poeira Zine” (abril de 2017)

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“Poeira Zine” nasceu em 2003 em versão impressa de maneira independente.

Seu conteúdo foi pensado para abordar diversos artistas que, segundo os criadores,

nunca tiveram a atenção da grande mídia. Atualmente a publicação é editada

bimestralmente e pode ser adquirida em lojas de músicas e sebos espalhados por

várias cidades do país.

O site é uma criação do jornalista e crítico musical Bento Araujo, que já atuou

como freelancer nos jornais “Folha de S. Paulo” e “O Estado de S. Paulo” e as

revistas especializadas em música “Rolling Stone”, “Bizz”, “Road Crew” e “Rock

Brigade”.

Araujo diz que o “Poeira Zine” surgiu “para suprir uma carência: a de

publicações abordando bandas e artistas que nunca tiveram espaço na mídia

impressa brasileira”. Ele afirma que o intuito é apresentar novas perspectivas

“sonoras e literárias para quem adora música”.

Araujo lançou recentemente o livro “Lindo Sonho Delirante: 100 discos

psicodélicos do Brasil (1968-1975)”, uma celebração à música psicodélica e

inventiva produzida no país nesse período.

Outro destaque do site é o podcast semanal “PoeiraCast”, em que Araujo

conversa, em formato descontraído, com os jornalistas José Damiano, Ricardo

Alpendre e Sérgio Alpendre sobre música, principalmente sobre o cenário do rock e

da música independente.

Os episódios são disponibilizados às quartas-feiras e são produzidos e

dirigidos pelo próprio Bento Araujo. Locução e edição ficam por conta de Ricardo

Alpendre.

Destaca-se, também, a seção “Em Pauta”, um espaço reservado para a lista

de raridades que o site resgata e disponibiliza para seu público. Por meio dessa

seção, é possível ter acesso a desconhecidos grupos musicais da cena psicodélica

brasileira no mainstream – ou mesmo sobre artistas internacionais de carreira

consolidada, mas pouco conhecidos pelo público brasileiro, segundo o editor.

Já a coluna “Capa Histórica” traz uma série de capas de discos considerados

clássicos do rock, acompanhado do nome do designer, o nome do disco, o nome do

artista e uma resenha sobre a obra.

O “Poeira Zine” também conta com entrevistas exclusivas, seção dedicada

somente a bandas nacionais e listas com os temas mais diversificados dentro do

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espectro musical. O site também possui loja virtual e está disponível nas seguintes

redes sociais: Facebook, Pinterest, Twitter, YouTube, Instagram e Tumblr.

4.5.2 Poeira Zine: estudo de caso

Com média de 700 visualizações diárias, o “Poeira Zine” descreve o público-

alvo como “colecionadores de discos, geralmente homens entre 20 e 60 anos”.

O site tem atualização de um texto por dia e, dos exemplos de estudo de

caso, é o que tem maior presença em redes sociais. Pelo Facebook, mantém

contato com 9.070 pessoas. Por meio do Twitter, o “Poeira Zine” tem 3.069

seguidores, e 2.288 seguidores no Instagram.

Conhecido por seus podcasts, o “Poeira Zine” disponibiliza as músicas

tocadas em playlists do perfil no Spotify, com 3.708 seguidores. Outro site de

streaming em que marca presença é o YouTube, onde possui 689 inscritos no canal.

Além disso, o “Poeira Zine” possui perfis no Google Plus, Pinterest e Tumblr.

Diferente dos outros modelos, o “Poeira Zine” tem um produto final, ou seja,

um formato físico em revistas. Nos últimos 10 anos, o editor Bento Araujo disse que

a mudança de comportamento do público resultou em impacto negativo:

O impacto maior foi com a versão impressa; a versão online continuou na mesma média. Rolou uma queda nas vendas e na quantidade de assinantes e anunciantes. (…) senti menos pessoas interessadas na leitura de textos longos e impressos. Menos pessoas dispostas a pagar por conteúdo também (ARAUJO, 2017).

Essa mudança de comportamento é atribuída à onipresença das redes

digitais e pelo fato de o público dar preferência ao conteúdo disponibilizado em

formato digital – em vez da versão impressa, fenômeno que também se aplica à

queda de vendas de jornais e revistas em diversas partes do mundo.

Quanto ao streaming, Araujo diz que a interferência é praticamente nula, “pois

nunca disponibilizamos músicas no site”. De fato, o principal conteúdo do “Poeira

Zine” é o podcast, hospedado na plataforma “4Shared”, com a opção de subscrição

pelo programa iTunes.

As músicas reproduzidas nos programas (que ultrapassam 300 edições) não

dependem da disponibilidade de serviços como Spotify ou YouTube, por exemplo.

Como é comum em podcasts, elas são integradas na edição final do programa, que

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é reproduzido como se fosse uma única faixa. Em média, os programas têm entre 30

e 40 minutos.

Desde que surgiu, em 2003, o “Poeira Zine” manteve o mesmo formato de

podcast, com quatro apresentadores e conteúdo voltado ao rock independente e

mainstream. Como o podcast tem sido o principal canal de contato com os ouvintes,

Araujo conta que tanto as redes sociais quanto o streaming pouco interferiram na

trajetória do site. “A mudança foi mais visual e estética, do que de conteúdo”,

concluiu Araujo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de 10 anos, o comportamento dos internautas mudou

significativamente. A tecnologia proporcionou experiências mais completas de

navegação com a comercialização de dispositivos mais potentes. E essas

transformações continuam acontecendo, vide o atual predomínio do mobile, que

exige de editores e publishers adaptação do layout e da disposição textual a um

dispositivo que cabe na palma da mão dos leitores.

Blogs e sites tiveram que acompanhar essas transformações, observando as

especificidades de cada nicho. Nesse quesito, os blogs musicais estão em torno de

uma dinâmica em que o comportamento do usuário é crucial para que ele consuma

ou interaja com esse tipo de conteúdo. Em 2006, por exemplo, o YouTube estava

em seu primeiro ano no ar. Muitas páginas que abordavam temas musicais tinham,

majoritariamente, o texto escrito e a imagem como recursos visuais.

Com o passar dos anos, ampliou-se as possibilidades de integrar conteúdo

multimídia em sites e blogs. Além do YouTube, ainda dominante, outros serviços de

streaming musicais, como Spotify, Deezer e, alguns anos depois, Apple Music e

Tidal, permitiram incorporar seus players nas páginas musicais. Consequentemente,

os embeds26 criaram novas formas de interatividade. Se antes o usuário tinha que

sair do blog em busca da música a que o autor se referia, com o passar dos anos a

reprodução musical passou a coabitar o mesmo espaço que a crítica, resenha ou

simples menção a ela.

Concomitante a essa transformação, as redes sociais se tornaram o habitat

favorito dos internautas. Estudo da empresa de pesquisa de marketing eMarketer

constatou que, em 2016, o Brasil tinha cerca de 93,2 milhões de pessoas com redes

sociais ativas (FORBES BRASIL, 2016). O predomínio de Facebook, Instagram e

Twitter, para citar os principais, alterou a forma com que os indivíduos chegam a um

conteúdo. O Google ainda é o principal buscador orgânico, mas blogs e sites tiveram

que se aproximar de seus antigos e novos leitores com a criação de fan pages e

perfis em busca de seguidores.

26 Termo em inglês para ‘incorporar’ vídeos em sites e blogs. Nesse processo, o editor copia o código de programação HTML do vídeo (ou áudio) e cola no publicador. É uma prática que as próprias plataformas incentivam, por dar mais audiência ao conteúdo compartilhado. Segundo Vasco (2016), a incorporação específica do YouTube “para a maioria dos casos apresenta mais vantagens”, por ser mais rápida e interativa.

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Na presente análise constatamos que, diante de todas essas mudanças, os

cinco editores de seus respectivos sites reagiram de forma diferente. No caso de

Marcelo Costa, do “Scream & Yell”, os perfis no Instagram e no Twitter extrapolam a

experiência de visitar o site. Além de compartilhar todos os textos produzidos, Costa

revela hábitos e opiniões pessoais (além de links de outros sites) sobre outros

assuntos, como política, cultura e fotos de viagens que realiza – algo que não

aparece com frequência no site “Scream & Yell”, por exemplo, focado em conteúdo

musical. Por conta da forte presença nas redes sociais, Costa é o editor que

apresenta a segunda maior quantidade de seguidores no Twitter e no Instagram dos

exemplos analisados – atrás apenas do site “Zona Punk”, que apresenta alto ritmo

de postagens em todas as redes sociais que mantém.

Diferentemente de Costa, o editor Wladimyr Cruz, do “Zona Punk”, conta com

colaboradores que se dividem no compartilhamento de conteúdo pelas redes

sociais. Esse reforço foi eficaz para que o site alcançasse seu público em redes

distintas, como Facebook e Google Plus, a rede social com menor adesão pelos

blogs pesquisados.

Com mais colaboradores à disposição, o “Zona Punk” se propõe a testar mais

ferramentas para se aproximar do público. Isso justifica a criação de perfil no Spotify,

serviço que exerce função parecida com a de rede social ao permitir a criação e

personalização de playlists de acordo com a proposta do site, dando ao usuário a

opção de ‘seguir’ perfis. Mesmo que pareça um número pouco expressivo, a marca

de 350 seguidores mostra que o site está atento às possibilidades de interação que

o streaming oferece, muito além da incorporação no conteúdo do site.

Para Cruz, serviços como o Spotify facilitaram o acesso ao conteúdo escrito,

opinião que não é acompanhada pelos demais editores que integram a presente

pesquisa. Costa, que mantém uma seção de “download gratuito” autorizada pelos

artistas, disse que se impressionou ao ver que os leitores continuam baixando discos

pelo “Scream & Yell”, independente da popularização do streaming. Fernando

Lopes, do “Floga-se”, se mantém avesso ao streaming pago, mas assume usar com

frequência as “facilidades do YouTube” para incorporar vídeos. Na visão de Costa e

Lopes, a chegada do streaming não eliminou de vez o ato de adquirir música a partir

do download.

Sobre as transformações impostas pelas redes sociais, os editores têm

opiniões divididas. Lopes comparou a importância de Facebook e Twitter aos

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motores de busca orgânicos (como Google e Yahoo, por exemplo): “são essenciais

para espalhar um artigo”. Costa disse que usa as redes sociais para compartilhar

conteúdo desde a época do Orkut, e pouca coisa tem mudado desde então quanto à

interatividade do “Scream & Yell”

Humberto Finatti, do “Zap’N Roll”, e Bento Araujo, do “Poeira Zine”,

mostraram indiferença tanto à influência do streaming, como das redes sociais. Essa

posição é consequência da forma com que os editores trabalham com o conteúdo

musical. Araujo tem o podcast como principal ferramenta. Diferentemente de um site

ou blog, o podcast não se integra às músicas disponibilizadas nos serviços de

streaming (Spotify e Apple Music têm maneiras diferentes de lidar com podcasts27,

mas nenhuma delas favorece blogs e sites independentes). Nesse caso, a presença

do “Poeira Zine” no maior número de redes sociais (comparado aos demais blogs

pesquisados) tem mais a ver com branding estratégico para reforçar a existência do

podcast, do que trazer mais acessos. Essa é uma hipótese, uma vez que Araujo não

forneceu dados detalhados de números de acessos do “Poeira Zine”.

Finatti é o editor que mais se diferencia dos exemplos pesquisados, já que

não costuma utilizar as redes sociais para compartilhar os textos que escreve no

“Zap’N Roll”, muito menos se apoia em plataformas de streaming ao mencionar

músicas e discos. Seu site é quase um diário, com linguagem em primeira pessoa e

de característica informal. A indiferença às transformações digitais acaba se

manifestando como um traço de sua resistência ao que denomina ‘rendição’ ao

mundo da música digital.

A maior surpresa do presente trabalho foi constatar a heterogeneidade de

opiniões quanto às transformações digitais no período analisado. Sites e blogs foram

severamente impactados pelas novas demandas tecnológicas, por isso a adesão

dos editores é parcial. Mas, para a seleção dos blogs musicais, optamos por editores

localizados na cidade de São Paulo. As respostas dos questionários e a análise das

páginas e das redes sociais de cada um deles mostrou que a geolocalização pouco

influencia no trato com os blogs musicais e na consequente interação com o público.

27 Em alguns países, Spotify permite o upload de podcasts na plataforma. Até maio de 2017, a funcionalidade não havia chegado ao Brasil. Apple Music, por outro lado, tem programas de rádio com curadoria especializada em formato podcast. Entretanto, esta opção não é aberta aos assinantes, somente a profissionais contratados pela própria Apple Music.

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Páginas musicais com perfis mais personalistas, como é o caso do “Zap’N

Roll”, são mais avessos à proliferação das mídias digitais como um todo. “Scream &

Yell” e “Floga-se” não descartam o uso das redes sociais para compartilhar

conteúdos que ultrapassam o alcance de seus respectivos sites (ou seja, vão além

da música, abrangendo política, futebol, tecnologia, entre outros assuntos). Já os

sites “Poeira Zine” e “Zona Punk”, que contam com a colaboração de outros

profissionais, são mais presentes nas redes sociais, mas com fins estritamente

musicais. No caso específico do site editado por Cruz, o streaming também serve

como propagador da linha editorial do “Zona Punk”: ao criar uma lista de reprodução

musical no Spotify chamada “SetList ZP: Black Sabbath”, por exemplo, o site se

mostra alinhado à discografia da banda liderada por Ozzy Osbourne.

Devido à amostra reduzida, é precipitado afirmar que a heterogeneidade de

opiniões seja reflexo da comunidade de blogs musicais como um todo. Por mais que

as redes sociais e o streaming estejam intrínsecos ao debate sobre o presente e o

futuro do conteúdo musical na internet, os editores esboçam reações distintas para

dialogar e chegar ao público propenso a visitar suas respectivas páginas.

Além do mais, com o crescimento de serviços como Spotify e Apple Music, a

sociedade se aproxima a um novo capítulo sobre a discussão de consumo e direitos

da música digital. Inevitavelmente, os blogs musicais serão afetados por isso – de

forma que, no futuro, faz-se necessária a análise de amostra mais ampla, em

distintos intervalos de tempo.

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APÊNDICE – QUESTIONÁRIO

As transformações digitais e o impacto em blogs musicais Questionário para monografia de pós-graduação em Assessoria de Imprensa e Redes Sociais, da Universidade Anhembi Morumbi, com 5 blogs musicais específicos. *Obrigatório

Endereço de e-mail * Seu e-mail:

O que mais te motivou a iniciar o blog/site? Sua resposta

Qual foi a quantidade de visitas únicas a cada ano, entre 2006 e 2016? Poderia nos

passar essa métrica? Se não puder, qual a estimativa? Sua resposta

Descreva o público-alvo do seu blog/site. Pode utilizar dados métricos e/ou

observações a partir das pessoas com quem vocês interagem pelo blog/site ou pelas

redes sociais. Sua resposta

Qual a frequência de publicações do blog/site? o Mais de um post por dia o Um post por dia o Posts semanais o Posts quinzenais o Posts mensais o Não há frequência específica

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Em quais redes sociais sua página está presente? o Facebook o Twitter o Instagram o Google + o Pinterest o Snapchat o Spotify e/ou Deezer, Apple Music, SoundCloud, Tidal ou Google Play

Outro:

Qual foi o maior impacto no seu blog/site com as transformações digitais ao longo de

10 anos? Sua resposta

Você sentiu mudança do comportamento do público ao longo de 10 anos. Se sim,

qual(is)? Descreva. Sua resposta

Como as novas formas de consumir música, principalmente com a chegada do

streaming, afetaram o seu blog/site? Sua resposta

Você sentiu que teve que se readaptar? De que forma? Sua resposta