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Luís A. W. Salvi ASTROLOGIA TELÚRICA O Retorno à Sabedoria das Estações 2003 © LAWS - Luís Augusto Weber Salvi Capa (sugestão, ver ao final): calendário. contatos: [email protected] Gloriosamente, a dança da nossa experiência vai evoluindo através do ciclo da natureza. 1

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Luís A. W. Salvi

ASTROLOGIA

TELÚRICA

O Retorno à Sabedoria das Estações

2003 © LAWS - Luís Augusto Weber Salvi

Capa (sugestão, ver ao final): calendário.

contatos: [email protected]

Gloriosamente, a dança da nossa experiência vai evoluindo através do ciclo da natureza.

Dane Rudhyar

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ÍNDICE

Apresentação 4

Introdução 8

Parte I

CÂNONE TRADICIONAL

Capítulo 1. Uma Tradição Universal 12

Capítulo 2. As Duas Grandes Correntes 14

Capítulo 3. A Astrologia Telúrica 18

Capítulo 4. Fundamentos do Telurismo Astral 25

Parte II

A MECÂNICA ASTROLÓGICA

Capítulo 5. O Horóscopo e sua Linguagem 33

Capítulo 6. Contribuições à Epistemologia Astral 38

Capítulo 7. Retomando os Fundamentos 43

Capítulo 8. Uma Hierarquia de Ciclos 47

Parte III

O CALENDÁRIO TELÚRICO

Capítulo 9. O Calendário Solar 53

Capítulo 10. Festas & Atividades 63

Capítulo 11. Calendário Universal de Atividades 72

Parte IV

TRANSPOSIÇÃO HEMISFÉRICA

Capítulo 12. O Resgate do Padrão Meridional 78

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Capítulo 13. Uma Brecha da Praxis Astrológica 82

Capítulo 14. Sobre o Sistema de Casas 87

Capítulo 15. Convenções & Mudanças 98

Capítulo 16. As Doutrinas Axiais 105

Apêndice1. As Regiões Zodiacais 118

Apêndice 2. O papel do Clima e da geografia na História 124

Apêndice 3. O Horóscopo das Árvores 131

Bibliografia e Obras Citadas 136

Sobre o Autor 139

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APRESENTAÇÃO

A Natureza é o fundamento de todas as coisas. E isto não seria nenhum “materialismo” estático, se acreditamos que a Criação seja algo divino, que suas estruturas internas estejam sujeitas a transformações e que uma força misteriosa atue por detrás de toda a evolução.

Nesta obra, se trata basicamente de resgatar a unidade tempo-espaço que subjaz ao verdadeiro saber astrológico, solidamente fundamentada na geografia sagrada como é, e para além da excessiva ênfase espacial dada na astrologia moderna. Isto nos traz inadvertidamente para os valores coletivos, na medida em que habitamos um espaço comum. Aquele que ignora a importância do ambiente na fundação de um horóscopo, perde seguramente a metade da teleologia do Destino. Infelizmente, o espaço ainda é empregado de forma quase incidental, salvo para considerações em torno do polêmico “sistema de casas”. O outro aspecto do tripé astral estaria nos fundamentos espirituais, cuja base é cósmica ou divina. No mais, o estruturalismo subjetivo completa o telurismo objetivo, permitindo ir além do misticismo e do fetichismo das crenças.

Trata-se, pois, de um trabalho epistemológico, na medida em que aprofunda a explicação das ciências tradicionais, permitido daí a superação de dogmas e superstições que comumente infestam estas práticas. Pouca utilidade objetiva tem a astrologia sem as suas conexões telúricas, que também lhe confere de resto as bases humanas e sociais. É preciso universalizar as práticas, como faziam os antigos, e para isto é fundamental conectar com a geografia sagrada, sendo a astrologia telúrica uma síntese e chave capital.

Fomos conduzidos para o telurismo astral através da busca do universalismo e da necessidade de conversão das fórmulas zodiacais para o Hemisfério Sul, através de anos de meditação e pesquisa multidisciplinar, cujos resultados prévios podem ser observados, por exemplo, em nossa obra As Estações Astrológicas, compilação de temas relativos à questão editados na Revista Órion de Ciência Astrológica.

Este enfoque não representa, todavia, nenhuma espécie de fixação pessoal. Na verdade, esta abordagem mais pragmática, naturalista e “exotérica” focalizada das Estações, sempre esteve equilibrada por uma visão paralela de ordem simbolista e “esotérica”,* afastada, portanto, de maiores vínculos fisiológicos; representando isto aquelas duas correntes gerais desta doutrina, a empírica e a simbolista (ver Capítulo “As Duas Correntes”, na presente obra), enfim, caminhos naturais a todo aquele que busca a verdade astrológica –vide Dane Rudhyar, um de nossos guias nesta tarefa.

E que em nossos trabalhos encontram sem dificuldades vias de convergência, sem dogmas ou preconceitos de nenhuma espécie, depuradas de atavismos e de leituras redutivas dos princípios universais. Existem muitos tipos de astrologias, cada qual

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baseada num dado conceito, uns mais puros, outros menos. Certamente a perfeição nunca está nos extremos, mas em algo mais próximo ao centro. O equilíbrio é o que nos permite realmente andar para adiante.

Devido a isto, mesmo considerando esta dupla vertente, astrônomos e astrólogos ainda terão possivelmente nas mãos uma “batata quente”. Aqueles que empregam sistemas fechados e acríticos, todavia estranharão a visão da verdade universalista sobre os fatos, convidando a uma integração interdisciplinar. Infelizmente, o equilíbrio é uma arte rara; não vivemos exatamente ainda um tempo de amor...

Assim, debalde tacharão este trabalho (e outros congêneres) de alguma espécie de “etnicismo”, como se houvesse muita escapatória disto em qualquer parte. Curiosamente, os acusadores serão muitas vezes justamente aqueles que praticam a mais particular das vertentes, a “astrologia de consumo” que é o horóscopo pessoal, entre outros desvios dos verdadeiros métodos tradicionais –de resto urgentes em toda a sociedade em construção como a nossa. No fundo lhes perturba qualquer ordem que não envolva o estrito interesse pessoal e imediato, diferente dos contemplados pela astro-filosofia (ou apenas Astrosofia). A própria tradição dirá, contudo, que a organização de uma cultura é trabalho para os séculos. “Fazer história”, significa refazer estruturas. Muito especialmente, em atender aquelas necessidades evolutivas de uma cultura ou sociedade, que apontam no rumo de sua ordem e consolidação.

A astrologia profunda (naturalista, coletiva, mundial e esotérica), apenas não é “pragmática” para quem o “útil” se limita ao estritamente pessoal, ao mensurável e, é claro, ao financeiro; numa sociedade onde o comércio ainda é mais importante do que a cultura interior e o dom coletivo. Esta é uma das chagas da cultura-de-alienação em que vivemos, onde as pessoas esquecem até mesmo que o grupal também comporta uma esfera de certo modo pessoal, e que deixar de atuar em conjunto é abrir mão da própria alma. E onde se ignora igualmente que toda a transformação passa pela tomada de posição em torno das bases culturais.

Na verdade, esta astrologia é um importante passo para a integração com a Natureza e com o social (ver nossa obra O Calendário Astrológico), mas também consigo próprio ou com os caminhos evolutivos, uma vez que o ser humano é um todo natural-social-espiritual. É assim, o enraizamento da cultura, ou o aspecto Saturno da astrologia, planeta que, na sua acepção uraniana, é o clássico regente da Idade de Ouro.

Também será rarefeito o apoio daqueles que vivem numa consolidada situação de coerência cultural, como é toda a sociedade do Hemisfério Norte (pese o perdurável espírito inquisitivo cristão que questiona a Astrologia). A exceção será daqueles que desejam aprofundar seus vínculos naturais através da astrologia, e também dos que entrevêem no telurismo mais que simples bases naturalistas, mas toda uma dinâmica evolutiva –ou seja, a sua extensão científico-racional como método cultural.

Todos os outros somente terão a perder com a autonomia cultural do Hemisfério Sul –ao menos é o que tenderão a pensar, o que pode no entanto ser muito relativo. Uma luz que se acende pode iluminar muito longe. Porque será que a Idade de Ouro da civilização, se difundiu a tal ponto, há cerca de 5 mil anos atrás?** Não se trata apenas de uma questão de “espírito de época”, mas também porque uma grande luz se fez e foi

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capaz de se difundir e iluminar todas as chamas potenciais, ou apenas algo adormecidas, tal como uma brisa no campo é capaz de fazer.

Conhecemos, pois, o jargão dos conservadores e dos liberais e tudo o que há por detrás: a velha rapina do colonialismo sob suas diversas formas, o que já não aceitamos, sob nenhuma máscara ou argumento, pois mesmo as razões mais profundas (isto é, as espirituais) já caem atualmente por terra com a nova vertente meridional da Tradição Sagrada.

É claro que temos consciência da ameaça de anarquia que isto representa (ou talvez, uma desordem criadora) onde, tendo-se em mãos estas ferramentas, cada qual desejará compor a sua própria “tradição”.

Na verdade, isto importa menos. Que mal pode haver, se cada um realmente tentar ser um sábio e fizer sinceros esforços nesta direção? Acreditamos piamente que a difusão da luz acima invocada, representou justamente um processo nesta direção. Julgamos esta competição sadia e até um fator de segurança e consolidação, sobretudo se for levada a cabo por agentes do Hemisfério Sul, nesta oportunidade; uma vez que os do Norte pouco teriam mesmo a fazer nesta direção, senão também resgatar certas bases científicas para além das superstições vigentes. Trata-se, afinal, de uma urgência inerente às culturas em formação.

É verdade que seria importante preservar a referência a um pólo central e irradiante, como forma de estabelecer um mínimo de ordem nas relações internacionais (porque seria disto que se trata). E neste sentido é que reivindicamos a nossa hora, não só do Hemisfério Sul, mas das Américas também, nesta que será a nossa época e local. A Era de Aquário incide afinal, sobre o território brasileiro.***

Apenas para mencionar a questão geográfica, as ciências do tempo e as ciências do espaço sempre formaram uma unidade. A própria palavra “horóscopo” significa hora-local, e em grego horai ainda significa a Estação do ano. As Estações são uma derivação das condições astro-geográficas. Enquanto copos significa “ver”. Assim, o horóscopo representa a rigor observar a Estação do ano.

Esta é uma forma integrada de empregar a astrologia, conformando com a grande tradição dos povos, seus ritos agrícolas e naturais. Entre os celtas, os signos são representados por árvores, certamente aquelas que florescem ou frutificam nas estações do Ano, quando se considera que se tornam assim o mais expressivas possível (ver sinopse do tema em nosso “Apêndice 2”, ao final).

Pelo contrário, aprecia-se geralmente na astrologia moderna algo tão vago que chega a ser insípido; e a isto até dão o nome de universal. No entanto, nunca houve tradição e sabedoria sem endereço ou destinatário certo. E são estas raízes que pulsam nesta obra, desejando fazer brotar a sua seiva vital.

Assim, as pessoas realmente sinceras ou de boa-vontade, deveriam fazer um esforço para inverter a ótica, e buscar ver com simpatia as razões profundas que subjazem à tais considerações, ou basicamente que:

1. Existem amplos fundamentos na adaptação dos signos ou do zodíaco nos hemisférios (como de resto já é feito em alguns níveis da astrologia);

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2. O Hemisfério Sul seja, realmente, um foco de renovação cultural de âmbito universal ou um novo pólo cultura tradicional, como se procura demonstrar mediante vários recursos neste e em outros trabalhos;

3. E que, especialmente, a região centro-hemisférica, balança climática do planeta, seja também um local predestinado na história da humanidade, por razões telúricas e culturais demonstráveis (como levaria a suspeitar um simples olhar no mapa mundi, buscando as grandes cidades sagradas da Antigüidade).****

Assinalar deste modo tempo e espaço, em nada se acha fora da tradição, muito pelo contrário. É a própria via de enraizamento conhecida como Geografia Sagrada, é o tornar-se universal através das bases unicamente acessível no local.

Convidamos assim o leitor para a grande aventura do conhecimento, para descerrarmos juntos os véus de Ísis. O conhecimento é certamente iluminador, e a astrologia profunda, desprovida de dogmas e mistificações, mas transparente ou translúcida, assim como pragmática e universalista, é certamente a sabedoria das Chaves da criação ou Brahmavidya.

Se o conhecimento é a base de toda a cultura, o saber correto representará certamente o endireitamento dos seus caminhos.

* Nosso livro Para Além das Estrelas (Ed. Agartha, 2008) é uma síntese desta visão, podendo-se ainda citar Os Peregrinos de Tula, compêndio sobre mitologia cósmica (igualmente com materiais da Revista Órion).

** Estamos nos referindo, incidentalmente, a um ciclo que culmina em nossos dias para, como é óbvio, recomeçar. E sugerindo, pois, a possibilidade de repetição do fenômeno descrito a seguir.

*** Ver um estudo profundo desta questão em nossa obra O Oráculo de Gaia - um Estudo de Arqueoastronomia Integrada, Ed. Agartha, AP, 2008.

**** Não obstante, devemos anotar que o autor se refere na verdade a um fenômeno de época, considerando que cada raça-raiz focaliza uma dada latitude. Ainda assim, o mencionado caráter central confere um especial significado à esta região, associando-a ao mito de Shambala, a “terra das origens” e local de onde surgem os avatares. Ver mais em nossa obra “Geografia Espiritual”, Ed. Agartha, 2008.

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INTRODUÇÃO

A “Cruz do Sul” aponta os caminhos

da identidade hemisférica.

A ocasião de transpor um sistema cultural qualquer, é também a oportunidade para fazer uma profunda revisão acerca de seus postulados fundamentais. Não basta apenas adaptar utilitária e superficialmente as coisas, sem questionar métodos e valores. É preciso fazer uma avaliação crítica das estruturas empregadas e dos conteúdos simbólicos de qualquer sistema em uso.

A teoria subjaz a toda a prática válida, e a Astrologia Filosófica reflete a necessidade de pensar e repensar as bases desta ciência, sob vários ângulos. Este é o espírito da Revista Órion de Ciência Astrológica, que editamos desde 1995 pela FEEU, P. Alegre, RS.

O presente trabalho diversifica a abordagem da astrologia, enveredando nas suas relações com outros cânones culturais como o calendário, a pirâmide e a geografia, além de elementos mais conhecidos como a religião e as festas sazonais. Ao mesmo tempo, aprofunda o debate técnico acerca da transposição dos cânones astrais para outro hemisfério.

Vamos também nos valer, a título de referência, algo extensamente dos trabalhos de Dane Rudhyar que, segundo Alexander Ruperti, lançou as bases de uma verdadeira “reformulação da astrologia” e foi “o primeiro a adaptar as premissas da astrologia aos olhos do mundo de Einstein” -o que significa passar da base estática e espacial da astrologia ptolomaica a uma base cinética moderna ou temporal, fundamentada sobre o princípio de movimento da Astronomia moderna.” (em A Roda da Experiência Individual, pgs. 13-14) Dialoga-se vividamente, pois, com Dane Rudhyar e seus seguidores, em quem tanto tem se inspirado, sendo possível observar momentos em que assume uma posição independente, em nome inclusive da renovação das coisas em favor do nascimento de um Novo Mundo, sem preconceitos e independente do passado ou do alheio.

Em função da proximidade natural entre os temas da astrologia e dos calendários, a presente obra termina por ser alvo de um duplo debate, um calendárico e outro astrológico. A eventual tomada de posição em favor do coletivo, poderia levar a substituir a palavra astrologia do título original por “calendário”, porém tradicionalmente todo este assunto costuma ser enquadrado dentro da “astrologia” (embora também costumemos dizer que “o horóscopo é uma forma de calendário pessoal”), salvo quando por razões específicas se deseje separar para dar ao calendário uma expressão meramente prática (profana) ou simbólica (religiosa), e não uma

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dimensão astral místico-construtiva (independente de haver ou não influências cósmicas).

Torna-se assim, em alguns momentos, veículo para discussões algo técnicas, requerendo certa familiaridade com os mecanismos da astrologia, da astronomia e do calendário. O processo de restauração/implantação de uma cultura tradicional como a que deve se retomar, é algo de elevada complexidade porque, além da necessidade de estabelecer o multi-nivelamento de linguagem que torna universal uma cultura, é preciso também adaptar certas convenções aos critérios locais, como são as estruturas sociais e muitos elementos de calendário, incluindo aqui a astrologia.

Nisto, não serve a aculturação e nem basta a adaptação: é preciso originalidade, palavra que, em seu sentido de embasamento, nos induz também à racionalidade e ao pragmatismo. De modo, o leitor se deparará com visões nada espantosas do zodíaco (e, por extensão, da pirâmide), como desprendimento das Estações do ano ou como hierarquia de interesses gerais. Sinal eloqüente da desmistificação dos antigos mistérios, úteis ao homem moderno contanto que se retire as capas de superstição recebidas ao longo dos milênios.

Existem, pois, textos algo discursivos em torno destes assuntos, como é o caso do sistema de Casas, cujos fundamentos também se enquadram num certo plano de telurismo, além de servir de base para discutir a problemática do calendário solar. E nisto não podemos fazer mais que sugerir ao leitor menos interessado nos detalhes, a buscar o resumo que tivemos o cuidado de incluir no final destes Capítulos.

O aspecto técnico avança para questionar inclusive certas praxis astrológicas correntes, visando assim aperfeiçoar o sistema astrológico. De todo modo, dificilmente se pretenderá convencer as pessoas a mudar de posições apenas através de argumentos astronômicos, por convincentes que possam parecer, servindo este trabalho como um complemento a outras manifestações culturais também necessárias.

Nos Apêndices, pode-se encontrar uma análise dos setores hemisféricos e sua importância psico-climática, que constitui uma das bases da geografia sagrada. O astro-telurismo é o momento de mais especificamente, “cantar as coisas da aldeia para ser universal” ou, mais precisamente, de encontrar o universal na relação profunda e plena com a Natureza e com a sociedade.

Nesta obra seguramente original, se explora uma das mais apaixonantes teorias astrológicas: a do Zodíaco das Estações. A partir da promessa científica deste rico filão, enfrenta o inevitável desafio de tratar da questão dos vínculos dos signos com os Hemisférios Norte e Sul, reforçando através disto as previsões sobre o novo translado do pólo espiritual do mundo para os “Antípodas”, como fora antanho nos dias da Atlântida, do qual os povos áryo-atlantes (egípcios, maias-nahuas, chineses) mantiveram a memória situando o seu “Norte” no Pólo Sul do globo -onde afinal ainda está localizado o pólo magnético da Terra.

Este trabalho visa, pois, enriquecer a discussão em torno do assunto. Alguns astrólogos já têm proposto e adotado a inversão dos signos, porém sem uma base teórica suficiente a nosso ver. Traz daí uma proposta de resgatar as bases naturais da astrologia e também investir no telurismo das Estações -para além das convenções e até de um “pragmatismo” astrológico de valor duvidoso-, visando reenraizar a cultura popular nos

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ciclos da vida natural, como mais uma tarefa para a Nova Era, em especial naqueles povos em formação que ainda não detém uma tradição realmente própria mas se mantém, pelo contrário, na observância de costumes enraizados em outras realidades. Partindo das mesmas bases, resgata-se através da análise astronômica os fundamentos da original astrologia celta, suas festividades sazonais, entre outras de diferentes culturas, propondo novos calendários.

Por seu elevado teor ecológico, a presente obra complementa outras do autor como “O Evangelho da Natureza” (Ed. IBRASA, SP) e “A Religião da Vida”. Representa também uma síntese e uma ponte notável entre duas disciplinas que desde o começo encontra nos trabalhos do autor um forte destaque: a Astrologia e a Geografia sagrada.

Com tudo isto, temos a certeza de colocar uma nova página na cultura telúrica do Novo

Mundo -até porque trazemos também a proposta de denominar de forma alternativa a

América do Sul de “Telúria”-, de resto tão enraizada historicamente sob os trópicos,

mas que carece de bases ainda para estabelecer a sua síntese final, que acontecerá

seguramente em algum momento, pelo estabelecimento de uma sociedade tradicional,

resultado da ação coordenada no tempo e no espaço e fruto do destino e da evolução

mundial.

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Parte I

CÂNONE TRADICIONAL

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Capítulo 1

UMA TRADIÇÃO UNIVERSAL

O calendário telúrico não é nenhuma novidade na civilização, apesar da desvalorização conceitual trazida pela civilização cristã* e, em termos pragmáticos, também para os povos modernos do Hemisfério Sul, que valem-se de um calendário colonial, reflexo daquilo que é ainda o conjunto de sua cultura, mediante uma ordem social que é resquício do passado e ainda em formação, sem classes autônomas realmente voltadas para o universal (que é a alma).

O conceito de celebração coletiva, compartilhar, amar e comungar, que deveria ser o propósito contínuo da civilização, desencadeada especialmente nas festividades regulares, está por isto nestas regiões mais distante que em qualquer outra parte, uma vez que as suas estruturas culturais desconhecem maior unidade e enraizamento, ou a coordenação do simbólico e do sensível.

As instituições devem se voltar para o conjunto da sociedade e para a integração das dimensões (tempo-espaço, natureza-alma, etc.); mais que apenas para o indivíduo e o imediato. E uma das bases para estabelecer este quadro deve ser o enraizamento dos símbolos culturais, porque deste modo teremos uma planificação e uma teoria daquilo que deve ser alcançado.

Todo o calendário tradicional é de base telúrica, ou seja, enraizado nos eventos sazonais-astronômicos do hemisfério. É verdade que o calendário cristão buscou sempre fugir de tudo isto, para escapar aos vínculos dos cultos “naturalistas”, nascidos na original tradição do telurismo e que formaram a base das nações e das culturas. Ainda assim, os resquícios permanecem e são eloqüentes neste calendário, resultando num esquema caótico, utilitário e meramente matemático.

Não obstante, o conflito é tolo e desnecessário. O calendário telúrico traduz uma astrologia vista desde o ângulo científico ou astronômico, sem descurar dos valores subjetivos, tornando, porém, perfeita a correspondência das diferentes dimensões da existência, conforme se acha designado no cerne dos grandes ensinamentos tradicionais de unicidade.

Para os povos da Europa e outras partes do mundo, são bem conhecidas as relaçõe entre os códigos simbólicos de tempo (calendários, astrologia, festas, etc.) e os eventos naturais regulares, especialmente da ordem das Estações do ano.

No Hemisfério Sul, por sua vez, onde a realidade sazonal é distinta e se adotou um calendário exótico mediante o processo colonial, tudo isto não passa de informações isoladas e sem maior significado –quase um mero fator de erudição e uma curiosidade cultural sobre um tempo de “superstições”, sepultado pela “superior” camada cultural

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cristã, e depois assolada pelo ciclo mais recente do materialismo– e não realidades vívidas que interferem na experiência cotidiana.

E claro que, para isto, vai embutida a proposta de um reacercamento da Natureza, para que estes valores tenham um significado, de resto vital para a saúde social. A mudança da Era demanda este resgate telúrico-existencial.

No Hemisfério Norte, este desprezo “piedoso” aos preceitos astro-geográficos e geo-psíquicos não e tão prejudicial, porque, de resto, todo o edifício cultural é de um modo ou de outro construído sobre correlações telúricas.

Deste modo, tudo o que propomos fazer, e sem nenhum recurso a exotismos (de fato, bem menos que o existente no calendário atual), seria o resgate das correlações tradicionais de tempo e espaço, ou entre geografia e astrologia, que são os dois pilares do calendário tradicional, base para todo o autêntico calendário –mesmo o cristão que, com suas deformações, pertence a uma Fundação cíclica e possui tacitamente um programa de conclusão, velado em última análise pela sua escatologia.

Por tratar dos fundamentos astrológicos vinculados aos fenômenos naturais, a presente abordagem tem uma vocação claramente “revolucionária”, nos termos da reposição dos fundamentos de uma cultura ou, “no caso”, de uma doutrina. A astrologia telúrica é, para o sistema astrológico, mais ou menos o que é o marxismo para a sociologia em geral: a refundamentação de uma praxis determinada.

Todas as ciências estão conectadas e a astrologia também é uma linguagem universal. Através da astrologia telúrica, seria inclusive possível dar uma mostra uma sociedade proletária, “diversificada (nas atribuições)” mas “sem classes (fixas)”; palavras paradoxais e relativas, portanto. Ou seja, mediante a riqueza das estações e seus conteúdos naturais e psicológicos.

Tradicionalmente, “raízes” significa natureza, trabalho e conhecimento. Neste sentido, a astrologia telúrica permite realmente entrever uma ordem social, dinâmica e universal, onde os elementos são as classes e os ritmos as suas etapas evolutivas.

É muito importante poder entrever através de esquemas claros as estruturas vitais e os planos universais de evolução. Esta é, pois, uma das coisas importantes que vamos estudar neste trabalho.

* Trata-se do célebre repúdio judaico-cristão a tudo o que possa cheirar a panteísmo, idolatria ou fetichismo. É a famosa dualidade pisciana, de uma época do mundo quase incapaz de reunir o uno e o diverso. Ainda assim muito foi feito durante a Idade Média.

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Capítulo 2

AS DUAS GRANDES CORRENTES

Como geralmente tem acontecido na História, a astrologia hoje se encontra profundamente dividida entre o simbólico e o empírico. Diante das dificuldades de compatibilizar a prática com uma teoria das origens ou com uma “explicação” original, e esta com a ciência, os adeptos das várias correntes se refugiam cada qual em sua trincheira, como se o verdadeiro problema fosse tentar dirimir a natural complexidade desta doutrina –é bom nunca esquecer– de base universalista.

A Grande Encruzilhada

Diversas visões têm alimentado a prática e a teoria astrológica. Cabe demonstrar, então, que existem duas grandes vertentes de abordagens, que podem ser em princípio classificadas de profana e sagrada, embora com a criação da “psicologia profunda” venham surgindo categorias intermediárias.

Observemos então com atenção o seguinte texto do astrólogo mundial André Barbault em A Astrologia Mundial:

“...na tradição existem duas correntes gerais, uma que, de Pitágoras aos neo-platônicos, se encontra na linha simbólica do astro como valor de signo, e a outra, ‘física’, que passa por Aristóteles, Ptolomeu e Morin, para a qual o astro é uma causa eficiente (para Kepler existia um todo físico, psicológico e metafísico).”

Assim, temos uma corrente que vê os elementos da astrologia como símbolos, e outra que vê nos astros causas eficazes em sí próprias –e alguns sábios ainda buscam conciliar ambas as óticas. Naturalmente, isto pode fornecer visões radicalmente distintas no tocante ao livre-arbítrio humano. Prossigamos sobre isto:

“Para os defensores da segunda via, de espírito tradicionalista, é natural que deva estar-se atento às necessidades do determinismo, pois o tratamento dos movimentos celestes se encontra naturalmente agravado de um necessitarismo de tipo científico. Entretanto, a essência da Astrologia se encontra mais além desta estrita sintaxe astronômica. O mundo do signo é o de um ser matemático cuja figura se encontra investida de uma grande dignidade ontológica. O Mundo é espelho de si mesmo, reproduzindo o interior no exterior por projeção de um e identificação de outro, estabelecendo-se uma relação de similitude entre o agente e o paciente, o signo e a coisa significada, o conteúdo semântico e a figura

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sintática, a atividade significante e a natureza, sendo esta, numa dupla homologia, a correspondente do microcosmo e do macrocosmo.”

Barbault enfatiza, pois, o caráter simbólico da astrologia e se declara tacitamente (também?) um simbolista, concluindo na unidade entre as duas visões, e torcendo por maiores iluminações:

“No estado atual da Astrologia, a circularidade do signo e da causa se fundem na mais tenebrosa incerteza. Todavia, não existe, e nem pode existir, ruptura entre um e outro que permita que cesse o equívoco entre eles e que possa extrair-se a parte suscetível de pertencer a cada um. Sem dúvida será necessário um longo caminho no conhecimento para sairmos deste sistema astrológico.”

Afinal, mesmo enfatizando o símbolo e a analogia, e com isto a liberdade, não se pode descartar a existência de energias cósmicas, que podem ou não influenciar o homem, mas sobretudo de ordem espiritual, diríamos. Pois, ainda que as estrelas distantes possam exercer influência física sobre nós, resta a questão da eventual presença de Hierarquias espirituais nas estrelas, tal como afirma a Astrologia Esotérica. É verdade que coisa semelhante se afirma acerca das esferas de nosso sistema solar, sagradas ou não, e nestas sabemos que nem remotamente a ciência aponta possibilidades de haver vida animada.

Seja como for, o caminho para a liberação do homem comum, é pela via simbólica, porque esta lhe devolve a liberdade. Até que, fortalecido, ele possa conectar-se positivamente com as forças cósmicas, atuando em planos sutis, mediante a invocação livre de suas energias superiores

Visões Paralelas

A depender da visão, as duas correntes são paralelas e não antagônicas.

Assim é que nossos próprios trabalhos estão de certo modo divididos nestas duas linhas, que não se antagonizam necessariamente. Assim, de um lado fazemos uma afirmação vigorosa do caráter simbólico da astrologia, especialmente para libertá-la de vínculos duvidosos e “explicações” provavelmente fantasiosas. Nisto, o primeiro refúgio se encontra na doutrina platônica que trata das formas “puras” e abstratas, ou na ordem estruturada da evolução das energias, tal como uma semente que, ao se desenvolver, determina as etapas de evolução de uma planta, seguindo aquilo que está delineado em seu “arquétipo” interior ou, como diríamos hoje, no DNA da planta.

Não está distante desta abordagem a visão psicológica ou subjetiva da astrologia, linha representada modernamente de forma magistral por Dane Rudhyar (que na verdade vai além dela, buscando a positiva individualização) e seus seguidores.

Em Para Além das Estrelas, demonstramos a forma como o zodíaco pode ser estruturado de maneira independente das chamadas “energias astrais”, o que é comum em diversos calendários astrológicos (ver também Revista Órion de Ciência Astrológica), focalizando uma abordagem mais propriamente abstrata ou idealista, no sentido platônico do termo, tratando, pois, de dispor em primeiro plano a questão dos

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arquétipos matemáticos ou as “formas” puras (em Platão, Idéia e Forma representam o mesmo, cabendo distinguir delas Manifestação e Substância).

Esta visão abstrata não deixa de ter, no entanto, certa dimensão elitista. Pode-se então recorrer ao extremo, do mais puro empirismo, animisno ou vitalismo, e ver a astrologia como uma direta emanação das energias naturais, uma espécie de catálogo ordenado da evolução dos ciclos da natureza ou, em síntese, uma lógica inerente a qualquer processo evolutivo. Esta vertente, que é desenvolvida por nós especialmente através do trabalho com as Estações, tem poucos adeptos nesta linha, sendo mais comum aqueles que buscam o chamado cientificismo, também em várias correntes, como a estatística ou ainda como a sideralista, ao modo oriental, onde se transpõe para o plano individual as ocorrências astronômicas do zodíaco sideral, o que a nosso ver seria um equívoco (mais um abuso reducionista da premissa “assim como é em cima é em baixo”?).

É também a corrente dos “práticos”, que demonstram geralmente pouco preocupação com a teoria, e quando o fazem terminam se refugiando na abstração do tipo causal. Partem da perigosa premissa de que “de qualquer maneira, a astrologia funciona”.

Ora, a constatação “estatística” do funcionamento está muito longe de confirmar as teorias dos astrólogos sobre as causas deste funcionamento. O subjetivismo de uma interpretação pode ser infindável, e segue as premissas que alguém decide tomar. Basta obsrvar que, se é pelas “energias”, todo o horóscopo as possui “todas” e ainda em vários níveis e estruturas paralelas. De fato, conhecemos um sem número de astrólogos que apreciam enveredar pelas mais ínfimas ramas “astrais” em buscas de “explicações” para isto ou para aquilo. Dentro de tal complexidade, seria quase impossível evitar a “funcionalidade” ou, pelo menos, a possibilidade de teorizar “explicações”.

Nisto, convém lembrar a teoria da “causação circular”, pela qual “tudo pode chegar a ser, em dadas circunstâncias, a causa de qualquer coisa, não havendo deste modo causas suficientes de nada.” Ainda que alguns desprezem esta teoria, o fato que os sofistas da Grécia antiga a demonstraram com bastante habilidade, e coisa parecida é feita hoje por advogados muito hábeis. Basta enveredar por uma ou por outra linha de raciocínio (pois talvez haja quem seja capaz de “provar” qualquer coisa que deseje). Por isto, os antigos comparavam a mente a um labirinto. No caso da astrologia, seria até mesmo possível conferir através disto “explicação” para a validade dos signos num hemisfério oposto. De resto, todos temos os doze signos, todos os planetas, etc. E os elementos se diversificam em nuances quase infinitas. Não será possível nisto tudo encontrar a visão da coisa em si, misturada à do olhar projetado?

É, enfim, como se o verdadeiro fator de uma conclusão fosse não o objeto observado, mas o princípio que se tem em vista, aquilo para o que os nossos pressupostos internos nos predispõe a perceber, numa subjetividade quase total há muito percebida pelos filósofos –e acaso isto não está próximo do voluntarismo que a moderna ciência vem descobrindo dentro da Física quântica?

Chegado a isto, e após tais digressões (e ainda outras que virão!), o leitor poderia ficar desesperado com qualquer espécie de astrologia e optar por esquecer o assunto. Pedimos, no entanto, um pouco mais de paciência. E nos permita observar que existem

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visões da astrologia bastante mais simples e originais.* Estamos já num labirinto, através das práticas atuais, e devemos dele sair.

As mentes modernas, acostumadas ao caos das recentes teorias da Física, talvez possam julgar aceitável qualquer idéia. De nossa parte estamos unicamente desejosos de “colocar os pé no chão” –e não importa o que digam os físicos sobre a sua realidade: eles mesmos afirmam que o universo pode ter várias portas (ou bases).

Por isto, fugimos sempre das “explicações psicológicas” das coisas, que partem do particular para o geral. E optamos pela visão de conjunto ou de estrutura, isto é, que vai do geral para o particular, que é a opção da Tradição de sabedoria.

Até porque, a vocação da astrologia telúrica é civilizatória e, assim, antes coletivizante do que individualista, resultando na elaboração dos Calendários universais, de especial valor para as relações sociais em todos os níveis; constituindo uma verdadeira astrologia social, portanto -além de “natural”-, ou uma visão intermediária entre a astrologia mundial e a astrologia pessoal.

Por esta razão também, o presente enfoque, embora preserve uma ótica diversificada para a explicação do zodíaco (e dos zodíacos), enfatiza a visão realista, concretista e naturalista, ou o telurismo, servindo especialmente aos calendários coletivos e aos zodíacos individuais. Por isto, num trocadilho com outro livro nosso, esta obra também se poderia denominar por sua vez “para aquém das estrelas”; servindo assim como um complemento para a citada obra, aprofundando as dissertações epistemológicas acerca das origens zodiacais, desta vez sob uma feitura naturalista. Nisto, tem por complemento direto o nosso outro livro As Estações Astrológicas, onde apresenta-se uma análise simbólica e espiritual das Estações do ano, com seus vínculos iniciáticos (para além, portanto, das meras considerações “vitalistas”), ao lado de matérias acerca da estrutura calendárica solar e seus marcos solares (extraídas da Revista Órion de Ciência Astrológica).

Assim, é possível que justamente a observação das tão desprezadas bases naturais da astrologia, possa restituir o elo perdido que falta para a reestruturação desta doutrina ou o seu reenraizamento. Tal coisa pode até ser confundida com certo fundamentalismo astrológico, mas é sempre mister erigir um conhecimento original sob o signo de Saturno.

* Neste sentido, a nossa obra O Calendário Astrológico (Compêndio de Astrologia Social) é uma apologia à simplicidade pessoal e à reintegração do horóscopo individual ao calendário coletivo, a partir da premissa que o único que vale realmente a pena no plano individual, são os fatores mais importantes do horóscopo.

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Capítulo 3

A ASTROLOGIA TELÚRICA

A Astrologia é uma ciência muito antiga e recebeu muitas capas de leituras através dos tempos. A forma atual popularizada é uma das mais grosseiras que existem, mas ainda hoje persistem no Oriente sistemas mais avançados e inclusive científicos.

Por isto tampouco acreditamos na Astrologia na forma como se pratica no Ocidente moderno. E sim numa outra forma que consideramos mais original e verdadeira, que é ter na Astrologia, sobretudo, uma linguagem simbólica -como em Pitágoras, Platão, Paracelso, Rudhyar, etc.-, ou seja, o registro das energias que evoluem em todos os sistema vivos dotados de consciência, inclusive em nós, e onde cada planeta simboliza os ritmos de nossas dimensões física, emocional, mental, espiritual, etc.

Estes ritmos são os mesmos dos planetas devido à grande unidade que existe no cosmos, e não à influência de um nível sobre outro; de modo que um plano se presta a ser simbolizado pelo outro. Tudo o que existe é um único e grande organismo, onde a estrutura do macrocosmo é igual à do microcosmo, tal como rezam os antigos tratados herméticos que “assim como é em cima é em baixo, para que se revele a unidade dos mundos.”

A astrologia também foi ojerizada pela Igreja em parte porque se usou para reforçar teses predeterminísticas, além de se pretender através dela substituir a ação da Providência.

Então, podemos concordar quando se contesta a influência dos planetas e das estrelas sobre a terra e especialmente sobre os seres humanos (o que não seria o caso da Lua, com uma evidente influência física, até com certos reflexos psíquicos). Entende-se assim o sentimento das pessoas em relação ao tema. Acontece que existem muitos equívocos em torno da matéria, e não apenas por parte dos leigos, mas sobretudo dos próprios expoentes.

A leitura apressada de princípios herméticos como “assim como é em cima é em baixo...” deram margem a visões equivocadas acerca da correspondência entre os mundos, dando lugar a uma causalidade fictícia e supersticiosa, além de filosoficamente repulsiva...

Porém, não obstante a crítica à tais leituras das origens, os resultados empíricos não sofrem alterações, na medida em que as energias existem (assim como os mecanismos verificados entre elas), surgindo porém de fontes outras, tais como do próprio homem, da humanidade e de Deus –a depender da dimensão temporal-zodiacal envolvida.

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Existe, portanto, realmente muita superstição e fetichismo na Astrologia. Isto é o que acontece com toda a ciência antiga que se preserva através de símbolos. Mas como restauradores de Verdades eternas, podemos dizer que a Astrologia no seu geral não está baseada nas estrelas, e sim em arquétipos e princípios universais (o mundo das “idéias” de Platão), e que se refletem de forma perfeitamente visível no telurismo, se é que se pode dizer assim, ou seja, está fundamentada fisicamente no ciclo das estações por simples analogia universal, uma vez que leis semelhantes regem todas as esferas da cosmos -especialmente em se tratando de ciclos análogos. Assim, se eu comparar o meu organismo ao de um gafanhoto, posso chegar a fazer um relatório tão inexato que alguém pode chegar a pensar que eu também sou um gafanhoto por igualmente ter pernas, olhos, boca, etc.

A psicologia dos signos reflete justamente a natureza destes ritmos e energias: as energias do fogo, do ar, da água e da terra, simbolizadas pelas quatro Estações, em seus aspectos de impulso, estabilização e término. Ou seja: os Doze signos são, basicamente, símbolos das energias das Estações em suas três fases de início, meio e fim. As quatro Estações formam um cosmos íntegro telúrico, registrado no Zodíaco através dos Quatro elementos, cujas divisões tríplices dão origem aos signos (como se sabe, os Elementos são simbolizados por triângulos). E são estes Elementos que sustentam os Quatro Temperamentos contemplados na Astrologia, os quais têm a sua base natural nas Estações.

Tudo isto está atualmente tão longe da nossa percepção, porque usamos os signos do Hemisfério Norte, trazidos com o processo de colonialismo cultural. Mas se estamos a adquirir e a desenvolver este novo conhecimento, é provavelmente por sermos representantes de uma cultura destinada a se tornar universal e apresentar uma vez mais os códigos da Totalidade do Ser para a humanidade, renovados segundo a necessidade dos tempos.

A Astrologia teve raízes telúricas, mas isto apenas é realmente lembrado quando chega a hora de reencontrar as suas bases. Para reafirmar os códigos astrológicos reais, devemos empreender um estudo profundo da simbologia astrológica de acordo com os ciclos naturais, visando aplicar na prática e localmente a premissa de que “assim como é em cima é em baixo”.

Por esta razão, ainda que em termos gerais se trate de Astrologia Simbólica, designamos também a Astrologia que praticamos aqui como Astrologia Telúrica, visando diferenciá-la das práticas fetichistas geralmente existentes, e então enfatizar as bases simbólicas e científicas desta ciência em seus vínculos locais com as Estações do ano.

Tratemos de aprofundar, no entanto, os preceitos originais desta doutrina.

O Tempo Cíclico

Com relação à concepção cíclica de tempo, se trata de um conceito universal e comum aos povos antigos. Tampouco é algo exótico, estando presente em todas as culturas ameríndias, mesmo as mais primitivas.

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A fim de realmente entender o que isto significa, caberia talvez ao homem moderno compreender corretamente o termo “ciclo”, que é na verdade um meio-termo entre o movimento circular e o movimento linear. O primeiro modelo cíclico é o próprio dia, que se repete sempre em termos de luz e sombra, porém nunca igual um ao outro, antes modificando-se tenuamente ao longo das Estações. Observando a repetição do padrão até onde é possível –anos, décadas, milênios...–, tudo isto é levado às suas últimas consequências, amparado sobre doutrinas “estruturantes” universais, segundo a clássica fórmula de comparar o inferior ao superior (analogia). E nisto, o cíclico longo termina por abranger o aparentemente linear.

Existem linhas de investigação científica que não são exploradas no mundo moderno, mas que eram amplamente contempladas pelos antigos. Da mesma forma, existe à margem da metodologia moderna, um amplo espectro de manifestações culturais apenas acessíveis pela experimentação direta, o que faz da atual cultura uma cultura grosseira e de segunda mão. A única experiência de primeira mão, é aquela que une o experimentador ao experimentado. Estamos falando da observação e da experiência de processos pessoais com energias.

Diremos, pois, que o tempo cíclico nada mais é que a classificação do tempo segundo suas divisões matemáticas, de ordem propriamente cronológica (dias, anos), espacial (graus) e geométrica (formas), atribuindo a cada divisão e ao seu conjunto, um conteúdo ontológico específico, segundo a natureza de cada segmento.

Existem inúmeras estruturas no cosmos; algumas ao nível de arquétipos, como de natureza matemática e geométrica, as quais atuam sobre as substancias determinando, por exemplo, o padrão regular dos cristais, como aqueles de seis lados (quartzo). Na natureza o seis também está presente no arco-íris, e como arquétipo no sólido regular que é o cubo, e ainda no ciclo espacial das esferas, refletido no sistema solar ao nível de planetas visíveis.

Este conjunto de dados físicos ou espaciais, naturalmente pode resultar divisões paralelas no tempo; a equiparação dos diversos sistemas de divisão pode trazer dados em comum.

O resultado completo pode produzir um esquema semelhante ao da “Pedra do Sol” asteca, com suas muitas divisões e subdivisões, considerada daí a mais completa súmula calendárica existente.

Astrologia Natural e Espiritual

Nos mitos astrais gregos, aparentemente é a Astronomia que é focalizada, mas quando esta se reúne ao Mito temos já uma concepção astrológica. Trata-se, pois, de projeções simbólicas dos ciclos astrais, que podem ser distribuídos pelas sucessivas camadas do cosmos, segundo as várias divisões possíveis do tempo. Se tomamos a “Pedra do Sol” asteca, encontramos ali um calendário “cheio”, da natureza da mandala, com divisões que vão quase desde o centro até a periferia da circunferência, em sucessivas fases ou camadas. Sabemos também como os próprios deuses têm sido associados aos signos astrológicos em diversos níveis.

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Quando observamos a importância que a Astronomia apresenta para a Astrologia, sobretudo em Zodíacos como o Ocidental, imaginamos que a relação entre ambos é indissolúvel, e que sua concepção seja o fruto de superstições ou, senão, de uma capacidade ímpar de observação e até de raciocínio.

Talvez esta relação seja assim intensa, mas de uma forma diferente a como se pretende colocar vulgarmente. Na verdade, a estrutura astrológica apenas chega até os dados astronômicos através de fórmulas matemáticas. De modo que as estrelas sejam em princípio, apenas reflexos ou referências dos ciclos abstratos ou matemáticos. E esta é uma das aplicações da filosofia de Platão, onde afirma que as “idéias” estão acima e precedem as coisas manifestadas.

Ao mesmo tempo em que concluiu investigações sobre fenômenos naturais e cíclicos relacionados especialmente ao clima e às estações, o ser humano percebeu que no plano espiritual as energias se apresentam numa ordem semelhante. Os cientistas modernos diriam que as mesmas leis regem todos os mundos; muito embora se possa com isto confundir humanos com gafanhotos.

É claro que a correlação sazonal não “explica” por si só a existência dos signos, embora tenha bem mais elementos para isto do que as distantes constelações sempre tão celebradas. De outra forma, nos povos aculturados por outros hemisférios, não se poderia manter os mesmos padrões. As verdadeiras causas são mais profundas e alcançam a dimensão espiritual.

O tempo, enquanto gestor de energias –psíquicas, se assim se quer– plantadas na terra, seja pela natureza, pela humanidade, por Deus ou pelo próprio indivíduo –e isto confere quatro níveis de energias– o tempo, se desdobra em ciclos de acordo com estruturas matemáticas inerentes ao cosmos.

O Mito do Eterno Retorno

A idéia do tempo cíclico era corrente entre os Antigos, e mesmo as religiões ocidentais prevêem esta concepção ao acatar o fato de que existiu um dia um Paraíso, e que este deverá voltar a existir em algum momento futuro, previsto no Apocalipse.

Por isto seria importante conhecer mais estas questões, investigando tudo aquilo que a Bíblia ensina, mas também conhecendo as idéias e as práticas das antigas civilizações que alimentavam noções semelhantes.

As pessoas no mundo moderno não sabem muito bem compreender e classificar as civilizações antigas. A forma como elas costumam se dirigir a estas construções culturais –que geralmente são magníficas, tal como existiram há partir de cerca de cinco mil anos, gerando a própria estrutura de civilização na qual ainda vivemos –é uma visão sempre deformada e parcial. Muitas vezes se trata de julgar as antigas concepções por aquilo que delas restou em tempos mais recentes, trazendo inevitavelmente, devido ao passar dos milênios, uma condição decadente. Por estes critérios, os conceitos de urbanismo, Estado e calendário deveriam ser colocados também de lado, juntamente com outras manifestações culturais da época como foram a monarquia e a astrologia.

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Uma das atribuições correntemente dadas à estas antigas culturas, é que eram, de um modo geral, místicas, ou mesmo muito religiosas, com cultos variados e, portanto, panteístas. Diz-se assim ao se aperceber entre outras coisas que, ali, todas as coisas estão envoltas pela aura do sagrado.

A grande verdade, no entanto, é que os Antigos não faziam distinção entre as várias instituições e as diferentes disciplinas, nem portanto entre aquilo que hoje distinguimos como sagrado e profano. O homem ocidental, por sua vez, permanece numa situação de sacralizar algumas coisas e profanar outras, gerando uma dualidade interior irremediável e doentia, que tem entre suas conseqüências a enfermidade individual, coletiva e planetária.

Esta antiga integridade universalista foi o que deu, afinal de contas, a imensa longevidade verificada nestas civilizações. Se devêssemos classificar estes povos de místicos, deveríamos antes esperar vê-los como ascetas errantes e sem estrutura material com dom de perdurar e expandir, como arquitetura e mesmo capacidade militar.

Pois na verdade eles eram antes holísticos -muito embora esta seja uma palavra moderna.

O Panteísmo e a Verdade Eterna

Pode chegar a ser muito difícil para a mentalidade moderna que tudo tende a compartimentar, entender o universalismo ou o ecletismo do pensamento antigo. Assim, ao ver que tudo é deificado, se pensará que os antigos eram muito místicos e religiosos, quando na verdade para eles tudo era tudo, isto é, material-espiritual a um só tempo, por exemplo.

Os antigos se inspiravam, pois, na idéia de que tudo está essencialmente unificado, e desta forma, todas as coisas se revestiam também de uma auréola sagrada, ou mística, dando a sensação, real ou fictícia, de que eram panteístas, quando na verdade havia uma unidade. O material estava impregnado pelo espiritual, mas também inversamente. Por isto tinham certas dificuldades de conceber o que chamamos de “Deus invisível”.

Com certeza, qualquer Deus que existisse desta forma, em algum momento teria se manifestado na Terra, tal como os cristãos aceitam as palavras de Jesus quando diz que permaneceria com eles apesar de subir aos céus. Assim, talvez estes antigos filósofos até alimentassem concepções religiosas semelhantes à dos cristãos. Mas também é possível que conceitos como onipresença, onisciência e onipotência, apontassem antes a capacidade ilimitada de compreensão que manifestam os sábios de Deus, assim como sua abrangência intelectual e espiritual, ou seu poder sobre as energias em geral. O próprio conceito de “transcendente” significa aqui, não a exclusão, mas todo o contrário, na superação dos opostos pela combinação e geração de um campo novo e superior de consciência, tal como velam muitos mitos originais de criação.

É possível que o panteísmo original tenha se agravado com o tempo, assumindo aspectos realmente idólatras, fetichistas e supersticiosos. Mas no princípio estas manifestações pertenciam a uma hierarquia de deuses que remontavam senão a uma unidade, como entre os egípcios, certamente a uma trindade, como no caso dos hindus.

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O fato é que, através disto, estas tradições teriam a capacidade de abranger a totalidade das energias e a circularidade do tempo cósmico. Por esta razão, a forma como denominam a si próprias é “Tradição Perene”, tal como o verdadeiro nome do Hinduísmo é Sanat Dharma, “Lei Eterna”. Vemos uma expressão doutrinal semelhante no Cristianismo através da rica simbologia do Apocalipse de São João, e até uma idéia semelhante, ao nível de profecia, onde diz que o Cristo aparece com um “Evangelho Eterno”, o qual, a nosso ver, pode ser o próprio Livro do Apocalipse, uma vez que este “novíssimo testamento” contempla realmente na sua estrutura, a globalidade das energias cósmicas, confluindo diretamente com as profecias do Oriente.

Era de opinião semelhante, embora no seu modo de pensar, o conceituado abade cisteriense calabrês Joaquim di Fiore, para quem o Apocalipse representa uma revelação nova e definitiva:

“O tema das obras mais importantes de Joaquim de Fiore (Liber Concordiae Novi ac Veteris Testamenti, Expositio in Apocalipsim e Psalterium Decem Chordarum) é a interpretação da visão profética das Sagradas Escrituras no contexto da História e a previsão do futuro da Igreja enquanto comunidade mística. Nessas obras Fiore funda o seu pensamento, depois traduzido na doutrina da Eterna Revelação ou do Evangelho Eterno, conforme à sua leitura do texto do Apocalipse.” (Wikipédia)

Esta concepção poderia ser aquilo que se pode definir como Verdade, pano-de-fundo para manifestações menores, entre elas as religiões específicas, fundadas sobre energias universais. Por isto os Brahmanes da Índia tem a sua formosa máxima de que “Não existe religião superior à Verdade.” Exemplo deste universalismo está que o Hinduísmo foi capaz de englobar a figura do Buda entre seus Avatares, entendendo a validade do papel reformador de Gautama.

Uma das grandes bases desta doutrina está, pois, na ciência da Astrologia como inventário das energias cósmicas, na evolução dos ciclos dentro de fórmulas matemáticas definidas. A Astronomia é apenas uma construção posterior, destinada a e gerar uma linguagem simbólica e uma ciência de correlações entre o espiritual e o físico; apenas mais tarde, com a perda deste saber, é que se passou a pensar que as estrelas enviavam energias para a Terra, gerando uma superstição que a Ciência moderna combate, com boa dose de razão.

Estes saberes eternos estão edificados sobre princípios imortais, especialmente da matemática, ao qual Pitágoras e Platão (também reduzidos a “místicos” modernamente) davam amplo valor. O mundo moderno já possui evidências sobre a correlação entre a geometria natural e a formação do universo, desde o nível das células e até do sistema solar.

Todas estas ciências estão baseadas em dois fatores: forma e essência, atuando no tempo e no espaço. De um lado, a estrutura, que é matemática e geometria, e de outro lado a substância, que é energia e consciência. Ao se manifestar no universo, a energia percorre ciclos matematicamente definidos.

A Astrologia nada teria a ver, portanto, com influências de planetas e de estrelas, representando antes o inventário das transformações que a energia divina recebe ao se

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manifestar no mundo. Ao nascermos, recebemos um quantum energético para empregar, e a vida é o desdobrar natural das suas próprias estações em ciclos e sub-ciclos.

De resto, num dado nível, a Astrologia está relacionada às Estações do ano, existindo uma relação direta entre o clima e o caráter, de modo que, num clima variado, o caráter humano também será versátil e flexível, expressando um cosmos humano apto à evolução. Esta é uma das bases do conceito racial na Tradição de Sabedoria. Neste aspecto, tempo e espaço, geografia e astrologia são inseparáveis.

Vários calendários usavam elementos geográficos na sua composição, como é o caso do sistema incaico de seques que dividia os arredores de Cuzco como um zodíaco, de modo que o imperador Inca se relacionava com cada setor num período do ano astrologicamente determinado. Os preceitos de geografia sagrada estavam determinados pelos aspectos calendáricos.

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Capítulo 4

FUNDAMENTOS DO TELURISMO ASTRAL

A Astrologia Telúrica é a doutrina que tradicionalmente restaura os pilares da cultura pela reposição de seus elementos de linguagem. Por esta razão, tal ciência ressurge na ocasião de implantação de uma nova cultura universal, tendo em vista a afirmação de bases culturais próprias e profundas. O telurismo baseia-se na observação dos ciclos da Natureza e nisto fundamenta as suas leis.

Como tudo o mais, a Astrologia Telúrica conta com dois elementos principais: teoria e prática. Nisto, também podem ser acrescentadas doutrinas que facilitam a adoção da nova ciência.

Teoria: das “Qualidades Primitivas” à Quintessência Zodiacal

O telurismo vincula o Zodíaco primariamente ao Ano Solar e suas Estações, tendo em vista o vínculo original entre signos e Estações. Toda a forma de Zodíaco ou de Calendário distinta, de maior ou menor duração, resulta em analogia desta observação original, científica e psicológica.

Existem muitos ciclos no universo, que não possuem a mesma natureza e evidência do ciclo solar, não obstante manter com ele analogias, sobretudo quando detém a mesma estrutura numérica, tal como o ciclo de 12 anos do calendário chinês (relacionado às revoluções de Júpiter), ou mesmo os ciclos de 12 mil anos das quatro Idades do Mundo (de Ouro, Prata, Bronze e Ferro) que podem ser vistas como as “estações” da humanidade. Através de ciências como a do construtivismo ou estruturalismo, sabe-se hoje que a evolução psíquica também obedece a ciclos. Geralmente todos estes ciclos, mesmo quando sujeitos a variantes, seguem uma lógica temporal simples de começo, meio e fim.

A teoria é dada basicamente, pois, pela observação dos valores e elementos locais tendo em vista o desenvolvimento de uma astrologia tópica, estando assim implícita a afirmação da correlação entre signos e estações. Na prática, isto implica considerar, no nosso caso, um resgate de padrões originais através da inversão de signos, posto que a mencionada correlação serve atualmente apenas para o Hemisfério oposto.

Para isto, valoriza-se basicamente as chamadas “qualidades primitivas” que dizem respeito à questões climáticas e de temperatura –ou seja: “quente” e “frio” de um lado,

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e “seco” e “úmido” de outro–, localmente observadas. Isto nos confere quatro princípios originais, organizados em pares. Tratemos, pois, de observá-los na Natureza.

Uma Triplicidade original se baseia nas três grandes regiões dos Hemisférios:

a. o clima quente do Equador,

b. o clima temperado dos Trópicos,

c. o clima frio da região Sub-Tropical (ou Polar).

Para a formação dos Quatro Elementos, devemos destacar a dualidade quente-e-frio das “qualidades primitivas”, conforme se apresenta nas regiões extremadas do Equador e dos Pólos. Os Quatro Elementos surgem originalmente através das variações de “seco” e “úmido”, presentes nestas regiões extremadas. Daí, os Elementos ficam como que sediados ali de maneira permanente, nesta que seria uma ótica mais extremada, dualista e material, dividindo elementos superiores e inferiores nos seguintes termos:

Elementos Equatoriais Elementos Polares

(Quentes ou Positivos) (Frios ou Negativos)

Quente+Seco = Fogo (desertos) Frio+Seco = Terra (estepes)

Quente + Úmido = Ar (florestas) Frio+Úmido= Água (glaciares)

Estas amplas regiões seriam, pois, o extenso palco da humanidade, que é um reino quaternário. Ali vêm se desenvolvendo as quatro raças humanas tradicionais: a Lemuriana, a Atlante, a Ariana e a Americana –cada qual inicialmente com seu próprio universo intra-hemisférico, e depois irradiando a sua influência para o mundo.

O espírito tropical reuniria todos de uma forma harmônica e refinada, tendo especial vínculo com os menos extremos, que são os elementos Terra e Ar.

De qualquer forma, com isto temos os Elementos formados, representando uma estrutura alquímica de consciência assentada sobre a base cosmológica das “qualidades primitivas” combinadas. Mas ainda não temos o Zodíaco ou a verdadeira astrologia.

Não obstante, esta distinção também tende a hierarquizar os extremos formando uma faixa mais central (a menos que se busque distinguir absolutamente os pares –o que não parece conveniente), como se observa nesta análise em forma de cruz ou de mandala:

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N orte (q u e n te )

Oes

te (

úm

ido)

Leste (seco)

S u l (f r io )

Além disto, a composição do Zodíaco climático requer a participação de uma triplicidade real, envolvendo a terceira faixa climática que é a Temperada central. Notadamente, as regiões extremas não apresentam as Quatro Estações bem caracterizadas, mas apenas duas, ora mais quente ou tórrido, ora mais fria ou gélida. Enfim, não constituem verdadeiras Estações (ver também a respeito na Revista Órion n° 8, pgs. 53 ss.). Talvez isto explique porque as culturas das zonas do Equador e dos Pólos não costumam deter um culto zodiacal mais expressivo, e que a cultura astrológica seja uma realidade mais tropical e também sub-tropical. Apenas sob os Trópicos ou na região Temperada, temos um quadro sazonal de perfeito equilíbrio. Somente ali as qualidades primitivas se apresentam ritmicamente presentes, através das Quatro Estações:

Primavera = úmido + quente (Elemento Ar)

Inverno = úmido + frio (Elemento Água)

Outono = seco + frio (Elemento Terra)

Verão = seco + quente (Elemento Fogo)

Em tese, somente o signo Fixo expressa com fidelidade do elemento da Estação, sendo daí a chave do calendário telúrico. Mas a combinação de elementos nos quadrantes sazonais complica o quadro astrológico, a ponto de ser impossível encontrar, nos termos dados acima, uma posição ou ritmo de signos que expressa com fidelidade o elemento da Estação, a fim de servir de chave para o calendário telúrico. Não obstante, o efeito correlato é alcançado.*

Embora presentes no seu conjunto, ao contrário das Zonas extremas, os Elementos ou as Estações são mais fugazes nos Trópicos, e até por isto mais fáceis de ser assimiladas nos casos extremos de frio, calor, umidade ou secura; que de resto dificilmente chegam a extremos “alarmantes”. O convívio com a Natureza se torna assim amplo e agradável, com desafios suportados naturalmente, exigindo adaptações antes internas do que propriamente exteriores. Esta é, pois, a base do intenso telurismo do homem desta região: ele convive positivamente com a natureza e ama todo o seu rico ciclo de manifestação, que se incorpora então ao seu próprio ser.

Por tudo isto esta é uma região universal, um palco privilegiado para a cultura verdadeiramente sagrada ou superior, servindo de base para algo mais elevado.

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Havendo ali perfeito equilíbrio cíclico, não existe por consequência o predomínio de nenhum princípio climático-elementar. Com isto se escapa à especificidade e à rotulação, ocorrendo o surgimento de uma nova dimensão, sobre a super-síntese dos elementos.

Diante disto, talvez devêssemos denominar as energias extremas de proto-elementos. Pois, ao contrário das “qualidades primitivas”, os verdadeiros Elementos também apenas podem ser encontrados em perfeito estado de harmonia dentro de um quadro de equilíbrio espacial; de outra forma o que teremos são tendências extremas vinculados ao tempo e às Triplicidades climáticas. Embora nestas, a faixa Temperada apresenta maior “nobreza” e se torna palco de u’a humanidade superiormente dotada, afinal oferece recursos mais amplos para diversos fins.

Os quatro Elementos estão constituídos pelas “qualidades primitivas” combinadas. Mas, ainda que tais “qualidades” apresentem analogias com os quatro temperamentos tradicionais (bilioso, colérico, fleumático e sanguíneo), estes costumam antes ser vinculados aos quatro Elementos, os quais, por sua vez, juntamente aos três Ritmos, estruturam os signos zodiacais (exemplo: ÁRIES = Fogo + Cardinal; TOURO = Terra + Fixo), enquanto doze variantes possíveis das correlações de tempo e espaço. A região centro-hemisférica confere, assim, uma síntese de caráter, favorecendo uma transcendência sobre a condição humana média.

Esta região que denominamos “pirâmide climática” ou de “mandala sazonal”, tem por “ápice” ou centro o paralelo 30, localizado no exato centro do hemisfério (segundo a fórmula 1/2 raio = 30°), razão pela qual ali foram inauguradas as grandes tradições piramidais da Mesopotâmia e do Egito.

Deste modo, a Astrologia Telúrica apresenta também a antevisão da Quintessência através de uma síntese climática, quintessência a qual se manifestou espiritualmente através da Hierarquia árya de Adeptos. Tudo isto também confere um centro para o telurismo –geográfico, histórico, humano, espiritual...– e que não ao acaso é de onde irradia esta doutrina universalista, já não como função racial, mas segundo as determinações efetivamente universais de Shambala.

Chegamos aqui, portanto, ao “dogma” maior da Astrologia Telúrica, dado pelo vínculo original existente entre Zodíaco e o ano Solar. Os quadrantes zodiacais correspondem pois a Início, Meio e Fim de cada Estação, representando os ritmos Cardeal, Fixo e Mutável, que para Rudhyar significam “geração, concentração e distribuição de poder” (em Astrologia da Personalidade), resultando nos seguintes termos:

início = Áries (Equinócio)

PRIMAVERA meio = Touro

fim = Gêmeos

início = Câncer (Solstício)

VERÃO meio = Leão

fim = Virgem

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início = Libra (Equinócio)

OUTONO meio = Escorpião

fim = Sagitário

início =Capricórnio (Solstício)

INVERNO meio = Aquário

fim = Peixes

Naturalmente, estes sub-ciclos estão sujeitos a ser vinculados aos meses lunares, embora seja sempre algo problemático encaixar com exatidão o mês solar ao mês lunar. Estes, por sua vez, concedem semanas naturais de sete dias vinculadas às fases da Lua, de forte analogia com as quatro Estações. No Egito Antigo se manteve, porém, a correlação tríplice com doze meses de três semanas de 10 dias, associados aos decanatos: é o calendário solar “puro”.

Assim, o Ano Equinocial, Solar ou Zodiacal inicia na Primavera, símbolo do renascimento da vida. E o Ano Solsticial, Polar ou Planetário inicia no Inverno, tal como na Festa do Sol incaica que representa uma forma de “Natal do Sul”.

Estes são os padrões atuais do Hemisfério Norte, hoje adotados pelo Hemisfério Sul onde chegam totalmente invertidos, mas que a Astrologia Telúrica trata de recuperar visando afirmar uma estrutura de correlações ideal, real e perfeita também para nós os “Antípodas”.

Assim, para dar alguns exemplos, temos no caráter severo e reservado de Capricórnio –ou, em termos simbólico-estruturais, pragmático (“Terra”) e empreendedor (“Cardinal”)–, e regido pelo “frio” Saturno, uma expressão do início do Inverno (ainda que os Solstícios e Equinócios apenas relativamente possam ser considerados os efetivos “começos de Estações” -ver a respeito na Revista Órion n° 6, pgs. 63 ss.). Já o signo de Leão, generoso e organizado –ou, simbolicamente, dinâmico (“Fogo”) e realizador (“Fixo”)–, e regido pelo “cálido” Sol, é uma forte expressão do meio do Verão.

Em termos simbólico-estruturais, recuperamos os ritmos gerais do Zodíaco. Áries representa início e lhe cabe a Estação original “primaveril”, trazendo o frescor da juventude. No seu oposto, Libra simboliza equilíbrio e lhe cabe a posição central “outonal”.

Assim, apesar da estrutura dos signos do zodíaco ocidental não estarem agrupados por elementos (não sendo assim no zodíaco chinês –ver a nossa obra O Calendário Astrológico), a sua análise individual tende a demonstrar a realidade do vínculo sazonal. Este é um mistério que não pretendemos esgotar aqui, embora certas pistas sejam dadas. Os ritmos sim, são regulares, e necessários para determinar as estruturas ternárias.

Isto basta para exemplificar o vínculo “nato” entre o Zodíaco e o Ano Solar. É certo que encontramos paradoxos por toda a parte, a iniciar pelo fato de que os signos setentrionais têm “funcionado” no sul. Mostra de um lado o valor da convenção, e de outro afirma um predomínio cultural, quiçá de extensão colonial.

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E a ambivalência parece ir além. Como negar à outonal Libra, regida por Vênus (ou Afrodite), a esfera da beleza e da sensualidade (“venéreo”, “afrodisíaco”), feminina por excelência, um vínculo objetivo com a exuberante e florida Primavera? Inversamente, como tirar do primaveril Áries, regido por Marte, esfera de luta (“marcial”) e sacrifício (“martírio”), masculino por excelência, o vínculo com o Outono, quando a Natureza ensaia todo um recolhimento?

Temos outrossim, invariavelmente, o acompanhamento de esferas opostas dentro dos quadrantes; mesmo os dois “Saturnos” invernais são opostos entre si, representando de um lado o atavismo capricorniano e de outro lado o futurismo aquariano, segundo a imagem de Janus bifronte que representam na passagem do Ano. Deste modo, e para ilustrar os exemplos anteriores, a Primavera comporta também a Vênus de Touro e o Outono inclui o Marte de Escorpião –regências não tão características, se diria talvez, mas ainda assim ocupando o próprio centro das Estações, cabendo lembrar aqui a importância dos signos Fixos na definição dos Elementos.

Surgem aqui dois símbolos duodenários: a pirâmide (12 vértices) e o dodecaedro (12 faces), aludindo o primeiro aos vínculos alquímicos através das faces triangulares que simbolizam os Elementos, e o segundo aos vínculos astrológicos mediante as faces pentagonais que representa a quintêssencia. Acaso não podemos ver nisto os dois níveis da Jerusalém celeste anunciado nas profecias do Apocalipse, com os nomes dos 12 Apóstolos na base como alicerces e das 12 Tribos no alto como portais? Assim como os 24 anciãos que cercam o Cristo no hierofania. No mais, caberia observar a fórmula 30 x 12 = 360, permitindo o tríplice duodenário também anunciado para a Cidade cúbica, em termos de altura, largura e comprimento. Obviamente, a simetria das Estações forma no paralelo trinta uma cruz, uma mandala ou um quadrado simbólico.

Estas são, pois, algumas das bases da Astrologia Telúrica, científicas e psicológicas, incluindo a análise primária do ciclo anual e a investigação da presença das “qualidade primitivas” na Terra (latitudes & longitudes), aproximando-se nisto da Geomancia e da Geografia Sagrada ou Geosofia (ver as nossas obras acerca do assunto).

Praxis: as “Avenidas da História” e a Alquimia Racial

Em seu aspecto prático, o telurismo emprega todos os recursos tradicionais da Astrologia, tais como o levantamento de horóscopos e o acompanhamento dos trânsitos. Ao mesmo tempo, envereda por análises estruturais estáticas e dinâmicas.

Uma de suas grandes bases radica-se na análise do caráter cíclico dos eventos, denominada de “avenidas da história”, ou seja, a repetição de fatos que ocorrem regularmente segundo padrões semelhantes. Enfatiza nisto os acontecimentos da história sul-americana, com destaque para os eventos cíclicos sucedidos na faixa meso-hemisférica, ou do gauchismo em geral (do Rio Grande do Sul, no caso do Brasil), segundo a cultura comum do Cone-Sul, dada o seu caráter geográfico central (paralelo 30) e também em termos geo-políticos.**

Num outro nível, o conhecimento da constituição climática pode participar da organização das esferas sociais, seguindo certos planos de analogias. Vastu-mandala é o

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tabuleiro geográfico sobre o qual se planifica uma cidade ou mesmo toda uma civilização.*** Por isto tanto as cidades de Tenochtitlan como o inteiro Império dos incas estavam divididos em quatro setores hierarquizados, relacionados seja às classes sociais como às direções do espaço.

Todas as cosmologias sociais formuladas em esquemas proféticos da ordem dos templos e das cidades, têm em vista também uma planificação do espaço segundo a natureza dos elementos sociais organizados. Tal discriminação pode ser obtida de forma diversa, cabendo combinar a natureza com a evolução, ou a cosmologia com a alquimia. Pode-se assim valorizar os signos natais como faziam os pré-colombianos de maneira especial, ao conferir por nome dos indivíduos os próprios signos previstos na sua Astrologia, acompanhado do número do dia para efeito de “distinção” (por assim dizer).**** Ao lado disto, se pode organizar a sociedade em extratos dinâmicos, desatados de vínculos hereditários e definidos segundo as vocações manifestadas, como fizeram os gregos num certo momento. E se pode empreender ainda um treinamento contínuo de capacitação, tendo em vista os índices de qualidade desejáveis, incluindo aqui a possibilidade de transição de uma casta para outra, como faziam os hindus no início. Com este tríplice Programa contemplamos, pois, passado, presente e futuro.

* “A ordem verificada no zodíaco ocidental também tem a sua lógica, embora profunda e misteriosa. Decorre de uma combinação de tendências dentro de uma evolução cíclica onde se misturam os elementos (ou uma dada “alquimia inversa”), compondo de certo modo o caos original ou o círculo do samsara, com seus elementos “desordenados” requerendo uma organização hierárquica para fins de evolução superior. Além disto, a diversidade de elementos ilustra a combinação de energias existentes como sub-ciclos em cada plano evolutivo.” Luís A. Weber Salvi, O Calendário Astrológico (Cap. As Etapas Astrológicas da Vida).

** O conceito de História circunscreve-se, pois, topicamente, mas, irradia cada vez mais em esferas expansivas: Rio Grande do Sul –> Brasil –> América do Sul –> Américas –> Europa –> África –> Oriente Médio –> Oriente –> Extremo Oriente. Naturalmente, a direção é ambivalente em todos os níveis. Pois assim como se reconhece a influência de todas estas regiões, também se volta ativamente para influenciá-las, numa forma de relacionamento universal, visando trocas em vários planos.

*** Ver sobre este tema na Revista Órion de Ciência Astrológica, n° 8, artigo intitulado “Vaikuntha – O Paraíso Astrológico”.

**** Ver a este respeito na Revista Órion de Ciência Astrológica, n° 6, artigo intitulado “O Nome Astrológico”, reproduzido em nossa obra O Calendário Astrológico.

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Parte II

A MECÂNICA ASTROLÓGICA

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Capítulo 5

O HORÓSCOPO E SUA LINGUAGEM

A astrologia é certamente um assunto polêmico, até porque existem abordagens algo degradantes do tema, como são as generalidades jornalísticas ou os enfoques determinísticos e maniqueístas. Isto se deve à sua popularidade e pelo lamentável trato leigo do assunto.

Há muitos que tampouco têm qualquer noção do funcionamento da doutrina, que por outro lado apresenta ela mesma explicações talvez insuficientes ou senão irreais dos seus fatos. Finalmente, há aqueles que desprezam qualquer possibilidade de conhecimento na área do destino humano, que não passe exclusivamente pela intercessão divina. Quem desejar pensar assim, é problema seu: faz parte do livre-arbítrio, talvez da própria evolução. No entanto, as coisas não necessitam ser assim separadas, coisa que também executa aqueles que orgulhosamente renegam a providência.

Tentaremos neste Capítulo resolver algumas questões de base no que se refere ao saber astrológico, vinculado aos calendários civil e religioso, sem pretender “desmistificar” nada, mas sim discernir o papel, o lugar e o valor de cada coisa.

Inicialmente, tratemos de levantar os elementos básicos da astrologia ou do horóscopo em termos de significados gerais, através da análise dos elementos do horóscopo, para então tratar de aprofundar a questão zodiacal.

Os elementos do Horóscopo

Na medida em que se sofisticam os meios de produção e o tempo passa a ser mais usado em atividades intelectuais nos ambientes urbanos, o que termina por restar do modo de vida original é a essência de tudo, que é a experiência das Estações, base para todos os ritmos naturais, cristalizados no seres humanos através dos signos. Neste ponto, torna-se claro porque é tão importante reconectar os códigos zodiacais ao calendário solar natural.

Os signos representam aspectos da formação humana suscitados sob a energia das Estações: temperatura e luminosidade. O indivíduo que nasce num dado momento do ano, incorpora na sua essência as qualidades daquele momento, no ato simbólico original de nascer, análogo a uma “criação”.

Talvez o de mais “científico” que se possa chegar a isto (ainda que mais sutil do que os mecanismos agrícolas), seria em relação à equação de luz-energia existente no período, que se imprimiria no ser humano através de sua primeira respiração. No mais, se trata de toda uma estrutura consciencial coletiva, decorrente através de ciclos, e que é selecionada num segmento no momento em que nasce alguém, dando origem a uma sub-estrutura auto-consciente, filiada ao inconsciente coletivo. O ser humano é

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interiormente uma expressão de energias análogas aos ciclos sazonais. Cada indivíduo é representante de uma fase deste ciclo de transformação.

Esta seleção energética leva em conta tempo e local. Por isto horóscopo significa “hora & lugar”. A dinâmica espacial mantém tudo em movimento, mas no momento em que um horóscopo é levantado segundo uma data específica, tira-se como que uma “fotografia” deste momento cristalizado. Ficam então registrados os planetas, os signos e as casas, que formam os recursos básicos da linguagem astrológica.

Os planetas são esferas relacionadas às tendências ou focos de consciência humanas, questões como mente, imaginação, vitalidade, sensibilidade, vontade, etc. Tais dimensões ocupam posições definidas na escala consciencial humana (é a explicação do vínculo etimológico existente entre “plano” e “planeta”), daí estarem sujeitas a uma métrica particular que, devido à “unidade de todas as coisas”, se coaduna por sua vez aos ciclos planetários.

Segundo Santo Tomás de Aquino, os astros não influenciam sobre o nosso entendimento, mas sim sobre o nosso aparato corpóreo, e se agem sobre o nosso psiquismo e mentalidade seria apenas de forma acidental, considerando, por exemplo, o efeito interior de um acontecimento físico –uma enfermidade, um acidente, uma conquista material, etc. Isto seria científico pelo menos ao nível da Lua, na atualidade, mas uma antiga corrente de pensamento considera acima de tudo certas leis de correspondência, senão de causalidade, que terminam incluindo todos os planetas.

Para Rudhyar também, apenas o ser humano semi-consciente é que está sujeito às influências naturais –é o que chama de nível biológico de consciência:

“Se o ser humano viver de acordo com seus instintos, seu ritmo de mutação seguirá o dos fenômenos vitais da terra; ele agirá então como uma criatura das ‘estações’. Se atuar predominantemente como uma pessoa civilizada e intelectualmente atuante, os ritmos básicos da natureza serão carregados por contra-ritmos produzidos por regras de comportamento social, exigências da vida urbana e por suas próprias reações aos impulsos (...)” (em Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, pg. 103)

O autor manifesta certa resistência em admitir a influência climática como algo positivo –tende a reservar esta “influência” ao nível biológico ou primário da astrologia. Sabiamente, Rudhyar tampouco vincula o zodíaco às Estações, mas acata estas como uma de suas bases determinantes. Afinal, existem muitos zodíacos, e aquele de ordem sazonal afeta apenas uma de nossas dimensões de consciência.

Porém, nem tudo o que diz respeito ao clima é negativo! Devemos sim evitar os extremos, como em tudo, e nisto podemos empregar os mecanismos culturais mencionados. Porém, a influência natural pode ser positiva em todos os níveis: físico, emocional, mental e espiritual; podendo cada um ser particularmente favorecido por uma Estação, tal como os ciclos do dia e da noite são importantes para um cotidiano saudável e para elaborar o calendário dos diversificados ritmos da vida. É, realmente, sobre estas relações geo-psíquicas que se estruturam as festas sazonais e religiosas.

Na verdade, em A Astrologia da Transformação, Rudhyar propõe quatro níveis de leitura astrológica, o que se coaduna com os quatro extratos de consciência e/ou atividades comumente associados à humanidade, em termos de classes/castas e

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iniciações. Supõe-se também que cada um destes níveis contenha um zodíaco próprio, nos termos dados por Emma de Mascheville, por exemplo (ver adiante, assim como a análise crítica do uso destes e outros zodíacos no Ocidente). Abaixo reunimos ambas as realidades:

NÍVEL SISTEMA PERÍODO CENTRISMO

1. Biológico Casas 24 horas antropocêntrico

2. Sócio-cultural Tropical 1 Ano geocêntrico

3. Individualístico Era 2160 anos heliocêntrico

4. Transpessoal Ronda 26.000 anos cosmocêntrico

Tais níveis se coadunam aos planos físico, emocional, mental e intuitivo, respectivamente. Os dois primeiros níveis abrangem pessoas condicionadas às leis naturais e às regras sócio-culturais comuns, incluindo por isto a massa da humanidade. Os preceitos da astrologia antiga, com seu pré-determinismo “judiciário” e enfatizando os signos e a dualidade, valeria para elas. Nesta astrologia, os planetas e os signos são questões físicas e como tal exercem, senão influência, seguramente um impulso determinístico irresistível.

Os dois níveis superiores (os últimos da listagem) pertencem àqueles que assumem o seu destino nas próprias mãos, e que às vezes, até contrariando as normas, tornam-se veículos para o progresso social e cultural. Para estas pessoas é preciso definir formas mais sutis de astrologia, enfatizando os planetas ou a síntese, onde prevaleça maior liberdade e profundidade de visão. Na astrologia profunda, os elementos de linguagem são vistos como algo interno, de modo que, mais do que realidades espaciais, “signos, casas e planetas são fatores no tempo e revelam fases dos diversos processos da vida.” (Alexander Ruperti, A Roda da Experiência Individual, pg.14)

Não obstante, desde o ponto de vista epistemológico, uma das grandes falhas da astrologia ocidental estaria em dar menor importância à geografia do que ao tempo –como se a palavra “horóscopo” não unisse as duas coisas! É unicamente no sistema de Casas que os astrólogos consideram a questão das distorções astronômicas (e ainda com reservas; adiante veremos as soluções possíveis).

Este é, aliás, um significado adicional do telurismo, que inclui a questão climática e a luminosidade, ou a energia disponível na época do ano e no decurso do dia. No Inverno (e à noite) a energia solar é baixo e não há outro recurso que se interiorizar. No Verão (e de dia), com abundante energia e luminosidade, cabe expor-se aos elementos naturais. É como diz Dane Rudhyar:

“Dizer simplesmente que a Força-do-Dia começa a minguar depois do solstício de verão, não fornece um quadro psicológico exato do que acontece dentro da pessoa. O fato de uma força minguar não quer dizer apenas que ela se torna menos forte. Este minguar significa que essa força ativa e positiva está se afastando cada vez mais do campo da objetividade. Ela se torna cada vez mais subjetiva e introvertida, e também mais transcendente. Ela passa a se manifestar

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mais a partir de motivações inconscientes do que de motivações conscientes.” (Op. cit., pg. 28)

Tal coisa reserva, pois, toda uma possibilidade espiritual. Assim, no Verão a pessoa encontra abundantes energias na Terra ou fora de si, advindas da força solar. Mas quando chega o Inverno, o indivíduo deve buscar forças dentro de si; ele concentra-se e descobre os seus mananciais interiores. Daí o solstício do inverno velar a “Porta dos Deuses” ou da iniciação em Capricórnio.

Na dinâmica do espaço, os planetas estão qualificados pela energia de um dado signo zodiacal ou estação anual, e voltados primariamente para uma dada área de experiência (as casas).

Eis como define o tema Howard Sasportas:

“Os planetas representam impulsos, induções e motivações psicológicas peculiares. Os signos representam doze qualidades de ser ou doze atitudes perante a vida. As casas, no entanto, mostram áreas específicas da vida de cada dia ou em que campos de experiência tudo isto está acontecendo. Uma explicação bem simples seria: os planetas mostram o que está acontecendo, os signos mostram como está acontecendo e as casas mostram onde está acontecendo.” (em As Doze Casas, pg. 18)

Estes três grupos resumem, pois, a principal sintaxe astrológica ortodoxa no Ocidente moderno, em termos de horóscopo pessoal, envolvendo dois zodíacos, um biológico-individual (“Casas”) e outro anímico-coletivo (“Tropical”) –pois na verdade, esta distinção entre Casas e Zodíaco, ou entre o essencial e o temático, pode ser vista como superficial ou artificial. Tratam-se isto sim de dimensões distintas do ser humano, considerando os seus diversos níveis de interesses. Pois, na verdade, são todos zodíacos, porém de hierarquias diferentes; como demonstramos através dos quatro níveis astrológicos acima. O significado “temático” atribuído às casas talvez tenha algo a ver com o nível biológico. Ainda assim, distingui-las como estruturas distintas não seria próprio.

Um terceiro nível, espiritual-planetário –às vezes vinculado ao zodíaco Sideral, como vimos, embora fosse melhor preenchida por um zodíaco menor, como o joviano–, não costuma ser anexado ao horóscopo pessoal no Ocidente, talvez por se julgar que a média das pessoas não sintoniza esta energia ou dimensão. Tal esfera integra no entanto (ou deveria fazer) o chamado horóscopo esotérico ou do iniciado, nos termos dados por Alice A. Bailey (ver a sua obra Astrologia Esotérica).

Não obstante, considerando os zodíacos relacionados aos quatro níveis de astrologia, acima, seria procedente uma crítica quanto à excessiva diferença de tempo entre um Ano solar e uma Era zodiacal (que por sua vez é um signo do Ano Cósmico, havendo assim direta conexão).

Caberia assim se buscar zodíacos intermediários para preencher a esfera humana, ou para codificar os ciclos pessoais de nível superior. Estes ciclos existem e são usados no Extremo-Oriente (China, Índia), tal como o citado ciclo de doze anos relacionado ao planeta Júpiter, ou mesmo o de 120 anos baseado no mesmo (através de certos cálculos puramente astrológicos a princípio) e que integraria um padrão cronológico de vida humana (condizente aos critérios da ciência moderna, e mesmo em termos bíblicos –ver

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Genesis 6,3). No Oriente (Índia), este planeta tem recebido como atribuição astrológica a dimensão espiritual (em sânscrito, um de seus nomes é Guru, “dissipador das trevas”), e seus ciclos regulam festivais espirituais muito populares como o Kumbha Mela (realizado sempre que Júpiter se encontra em Aquário, Kumbha). Adiante voltaremos ao assunto, e manteremos por ora a referência cósmica meramente ao nível de símbolo.

É preciso reconhecer aqui que a astrologia ocidental, é não apenas fragmentada mas também muito jovem. A limitada visão ptolomaica perdurou por todo o ciclo cristão, e foi apenas em meados do século XX que o tema passou a merecer um olhar renovado, mais moderno e profundo. A ausência de considerações em torno do ciclo joviano (e que todavia perdura), tão importante em todas as tradições de sabedoria, é um dos maiores testemunhos da insuficiência desta astrologia.

Além dos diferentes zodíacos e planetas, e já dentro da interação entre estes elementos, existem ângulos especiais a serem considerados, entre planetas e certas cúspides, formando os chamados “aspectos”. Estas angulações não apenas geram relações energéticas especiais (fluência, obstáculo), sendo nisto empregados também nas transmissões humanas em geral (determinando a posição de antenas), como também permitem estabilizar órbitas e gerar esferas, como no caso dos “pontos langragianos” da ciência.

Finalmente, existem os diversos recursos de prognose, tema que o leitor pode estudar em publicações especializadas como a Revista Órion de Ciência Astrológica. Nosso propósito atual se limita a investigar a questão do Zodíaco e do Calendário, focalizado especialmente em sua versão solar.

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Capítulo 6

CONTRIBUIÇÕES À EPISTEMOLOGIA ASTRAL

“Como funciona a astrologia?” Esta é uma pergunta que poucas pessoas se fazem, talvez porque se pretenda que a “explicação” já esteja dada, embora ela possa até ser algo falsa ou superficial.

A maioria julga que as energias astrológicas advém dos planetas e das estrelas, mas esta visão deixa lacunas impreenchíveis no sistema, além de ir contra as estimativas da ciência. Ninguém se detém para pensar que existem zodíacos que são quase puramente matemáticos, a exemplo de certos calendários orientais e mexicanos, e comumente a astrologia apenas se aproxima da astronomia, perdurando todavia apenas como um espelho da mesma. A astrologia -e isto é extensivo a muitos calendários antigos- usa a Natureza como uma simples referência, mas parte em busca de estruturas matematicamente mais perfeitas. A conhecida xilogravura alemã de acima faz alusão ao tema.

Há também quem sustente uma idéia não-causal, relacionada pois a uma suposta “sincronicidade” (Jung). Porém, numa leitura atenta dos axiomas herméticos, percebe-se apenas de correspondência entre os mundos.

Assim, antes de tudo, uma compreensão básica da astrologia deve eliminar o vínculo causal dos astros sobre o ser humano, o que não chega a representar uma visão moderna, mas tradicional, profunda e realista. Seguindo fielmente as antigas premissas herméticas (“assim como é em cima é em baixo...”), Dane Rudhyar afirma que a relação existente entre a humanidade e o cósmico que resulta na astrologia, é simplesmente da natureza de “duas séries de fatores –uma celeste e outra terrestre– (que) podem ser correlacionadas.” (A Astrologia da Transformação, pg. 41)

Seja como for, ao contrário da mentalidade comum, os grandes pensadores da Astrologia dificilmente procuram nas estrelas e nos planetas a verdadeira fonte das energias astrológicas.

Mas nada disto confere ainda um caráter científico à Astrologia, e a polêmica prossegue, alimentando uma antiga dualidade de visões entre a linha simbolista e a linha

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empírica. Enquanto resta ainda uma massa de céticos incapaz de apreender quaisquer das duas vias.

No entanto, aquele que investiga a Astrologia por seus efeitos e não por suas causas às vezes remotas, tende a achar que ela funciona. Isto aconteceu mesmo com aqueles que tentaram desmistificá-la, como certos estatísticos e céticos. Um problema está na tentativa de compreender o seu mecanismo, e ainda mais difícil é apreender as suas origens.

Alguns teóricos afirmam que o Zodíaco, tema central da astrologia, é uma estrutura de energia existente em torno a todo e qualquer organismo. Emma C. de Mascheville é uma das principais divulgadoras da popular versão do Zodíaco como a aura das coisas, especialmente dos organismos vivos. O tema é formulado em sua obra Luz e Sombra – Elementos Básicos de Astrologia):

“Onde há vida, há eletromagnetismo, e em conseqüência, vibrações que irradiam e que atraem.

“Onde há um ponto, há um círculo em redor –não somente em redor da pedra ou de um globo, mas também em redor de uma ação ou palavra, que, sendo emanados pela vida humana, têm vida. Este é o fato que possibilita fazer o estudo de uma criação mental e de uma idéia.” (pg. 19)

Ou seja, mesmo um pensamento é capaz de gerar um ciclo. Talvez seja como diz Jorge Luis Borges em O Aleph:

“O pensamento mais fugaz obedece a um desenho invisível e pode coroar, ou inaugurar, uma forma secreta” (pg. 12, conto “O Imortal”)

Vale a pena explorar esta questão do zodíaco como produto do pensamento ou do desejo. O que o leitor lerá a seguir é possivelmente uma teoria original a respeito do zodíaco (e da astrologia em geral), ou seja: o zodíaco visto subjetivamente como uma hierarquia de interesses.

Todos temos naturalmente uma série de áreas de interesse na vida. Estas atividades ou zonas de interesses diversificados possuem uma hierarquia própria, que por sí só determinaria uma estrutura de ordem zodiacal.

Certa hierarquia de instintos poderia ser usada para elaborar esta questão. Para isto, trataremos de definir quatro instintos associados aos planos de consciência (e que mantém por isto analogias com as iniciações humanas), que também se relacionam aos quatro elementos (e que ainda podem ser globalmente relacionados a certos planetas). Mencionemos daí:

a. Instinto de conservação física ou sobrevivência imediata (alimentação, moradia, higiene, etc.). Elemento Terra.

b. Instinto de expansão emocional e conservação como espécie (sexo, sociabilidade, etc.). Elemento Água.

c. Instinto de auto-afirmação individual e de desenvolvimento e expressão mental (conhecimento, razão). Elemento Ar.

d. Instinto de conservação espiritual ou anímica (religião, misticismo). Elemento Fogo.

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Talvez o leitor considere excessivamente sofisticado incluir a mentalidade e, sobretudo, a espiritualidade entre os instintos. No entanto, considerando a globalidade da dimensão humana, isto deve ser seriamente levado em consideração. Afinal, felizmente os idealistas e os filósofos fazem parte da humanidade. De outra forma, as religiões não encontrariam eco na alma coletiva, como aconteceu em estágios muitos primitivos do homem, e de tal ordem que se suspeita hoje que mesmo os hominídeos já tinham as suas formas de cultos religiosos.

E então, teríamos níveis ou formas de abordagens destes mesmos instintos, que no conjunto resultaria no zodíaco. Os ritmos denotam a flexibilidade com que nos debruçamos sobre as coisas. Ou seja, mais criativa (empreendedora), mais estável (organizadora) ou mais transformadora (intelectual, reflexiva).

Assim, ao abordarmos as questões materiais (Elemento TERRA) de forma criativa e profissional, estamos a expressar a energia de “Capricórnio”, porque este símbolo invoca um animal terrestre, agreste e austero. Se o fazemos em termos estáveis ou produtivos de trabalho, manifestamos a energia de “Touro”, animal terrestre útil no labor da terra. E se manifestamos atividade em termos flexíveis, expressamos a idéia de “Virgem”, símbolo feminino de serviço, doação e pureza.

Em termos psíquicos (Elemento ÁGUA), o aspecto criativo –de natureza doméstica por exemplo–, cabe à Câncer, o semi-aquático (anfíbio?) caranguejo, que vela o forma de ser deste signo, voltado para o passado e para o próprio interior. A natureza psico-fixa, capaz de abordar profundezas e mistérios ocultos, está representada por Escorpião, animal não muito diferente, porém mais passional e “perigoso”, além, é claro, de expressar uma consciência mais atualizada e grande fortaleza psíquica. Por fim, o aspecto mutável produz um espírito sensível e caritativo, representado pelo símbolo consciencial amplo e espiritual de “Peixes”.

No aspecto mental (Elemento AR), a atividade criativa tem uma forma social e artística, tendo em Libra o símbolo da relação do eu-e-do-outro. A função estabilizada desta energia, tal como no ensinamento espiritual, conduz a uma elevada intuição intelectual, desprendimento e dom de premonição, presente no símbolo de Aquário. E sua atividade mutável, curiosa e inventarial, recai em Gêmeos.

E na questão espiritual (Elemento FOGO), a tendência criativa, tal como no impulso de auto-sacrifício dos místicos e no idealismo dos fanáticos, está representado por Áries, o carneiro de imolação. A natureza estável dos mais nobres e elevados empredimentos manifesta a força solar e magnânima do Leão, o animal-rei. E a tendência espiritual mutável está simbolizada pelas buscas por viagens e conhecimentos superiores de Sagitário ou o centauro humano-cavalar, que sempre encontra na natureza meios de auto-expressão superior.

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O que torna o assunto ainda mais complexo, é a possibilidade de levantar vários zodíacos: diário, anual, joviano, sideral, etc. A menos que, à maneira esotérica consideremos os ritmos (ou os próprios elementos) em si mesmos como expressões dos níveis de consciência.

Porém, que fazer com os restantes zodíacos? Ao fim se poderia estabelecer uma escala complexa com ciclos e sub-ciclos na qual se teria a visão de “rodas dentro de rodas” (Ezequiel 1,16), integrando todas estas esferas.

Não obstante, existem diferentes níveis de entidades, e por isto pode haver horóscopos individuais, coletivos e planetários. Isto nos leva à questão dos diferentes Zodíacos e sua origem, tal como se acha na base de toda a astrologia.

A forma como nos voltamos para elas é que faz a diferença, e nisto tocamos o assunto do refinamento. Pode ser mais exterior (Personalidade), mais interior (Espírito), ou mais ou menos equilibrada (Alma). Tudo depende da direção em que voltamos nossas atenções. O ideal é o equilíbrio, mas geralmente apenas chegamos a isto oscilando entre extremos.

Podemos então definir o Zodíaco, genericamente, como uma estrutura matemática do ciclo de evolução de uma coisa qualquer; ainda que isto possa parecer muito abstrato. Quando jogamos uma pedra num lago, ela produz ondas. O Zodíaco seria o resultado do aparecimento ou da existência de algo, os efeitos que produz sua existência sobre outros campos. Os signos são os desdobramentos dos potenciais gerados pelo impulso motriz de uma dada existência. A astrologia é o registro dos ciclos da experiência humana, o ciclo existencial codificado em suas fases e naturezas, especialmente através do Zodíaco. O Zodíaco é, pois, uma esfera que contempla todas as situações da vida. São doze possibilidades de experiência à disposição do ser humano, sempre presentes ainda que de forma potencial ou latente. O zodíaco seria assim um calendário universal de transformações. A visão abaixo trata do tema, embora enfatizando uma face interior:

“O coração secreto do tempo é mudança e crescimento. Cada experiência nova, que desperta em nós, contribui para nossa alma e aprofunda-nos a memória. Uma pessoa é sempre um nômade viajando pelas fronteiras, por experiências continuamente diferentes. Em cada nova experiência, outra dimensão da alma manifesta-se. Não é de admirar que, desde tempos antigos, o ser humano tenha sido entendido como peregrino. Tradicionalmente, esses peregrinos percorreram territórios estranhos e lugares desconhecidos. No entanto Stanislavsk, dramaturgo e pensador russo, disse que ‘a mais longa e a mais emocionante viagem é a viagem para o íntimo’.” (John O’Donohue, Anam Cara –Um Livro de Sabedoria Celta)

Nisto, é possível decalcar uma seqüência lógica de estruturação de uma atividade, com reflexo nos signos zodiacais, como por exemplo: busca (iniciativa), empreendimento (produção), entendimento (racionalização), enraizamento, irradiação, adaptação, socialização, transformação, aspiração, autoridade, projeção e universalismo.

Eis a descrição dos doze signos numa sequência lógica causal. Existem vários sistemas tradicionais que promovem regularmente esta leitura causal de seus ciclos,

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podendo-se mencionar aqui o Eneagrama sufi e o Bhavachakra (também com doze elos cauasis ou nidanas) budista. Assim, uma leitura “instintiva” do zodíaco remete diretamente à noção de carma e enlace de encarnação próprio do esquema budista.

Numa outra acepção (não contraditória), o Zodíaco seria uma escala qualquer unindo algum par de opostos, que pode ser vida e morte, céu e terra, passado e futuro, matéria e espírito, etc.

O ciclo telúrico possui uma dimensão pragmática, sensível e racional. Uma forma de aplicar o telurismo é através da racionalidade. Compreender o mecanismo zodiacal sob diferentes pontos de vista, sugerindo lógica e analogia, pode ser neste caso algo já bastante satisfatório.

Capítulo 7

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RETOMANDO OS FUNDAMENTOS

Alguns vêem um padrão zodiacal científico e imediato nas Estações do ano solar, como Dane Rudhyar, que apresenta a sua visão da importância das Estações na concepção zodiacal, nos seguintes termos:

“O Zodíaco usado na nossa astrologia tem muito pouco, ou nada, a ver com estrelas distantes como entidades isoladas. O Zodíaco é um antigo registro das séries cíclicas de transformações efetivamente vivenciadas pelo ser humano durante o ano; um registro escrito em linguagem simbólica, que usa as estrelas como uma forma gráfica, por mera conveniência, para formar imagens simbólicas atraentes à imaginação de u’a humanidade, bastante infantil para se impressionar mais por figuras do que por processos abstratos e generalizados do pensamento.

O autor afirma aqui então, que a humanidade encanta-se mais por fábulas do que por conceitos, ou mais por ídolos que por idéias. Assim, o texto da astrologia, ou sua forma convencional, representa efetivamente apenas uma “linguagem” compreensível das massas. Prosseguimos:

“O que o Zodíaco tem de essencial não são os hieróglifos desenhados nos mapas celestes, nem as histórias simbólicas desenvolvidas em torno de temas mitológicos gregos –por mais significativos que estes sejam. É, sim, a experiência humana da mutação. E para uma humanidade que vivia muito próxima da terra as séries de ‘humores’ da natureza durante todo o ano era a representação mais forte da mutação; porque as mudanças internas, emocionais e biológicas, da natureza humana correspondiam muito intimamente às mudanças externas da vegetação.” (Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, pg. 23)

O texto demonstra claramente o significado do telurismo para a Astrologia, ainda que o autor não chegue a considerar a capacidade da Natureza em induzir humores análogos na humanidade, e menos ainda acerca de se aproveitar esta base natural para aprofundar experiências profundas de base espiritual presentes nas festas do calendário (adiante comentaremos a questão da “mitologia” mencionada pelo autor). Não obstante, chega-se a sugerir esta correlação, ainda que com reservas, a fim de preservar a autonomia humana –que de fato existe, numa lei de correspondências que, todavia, é incrementada pelos fenômenos:

“Gloriosamente, a dança da nossa experiência vai evoluindo através do ciclo da natureza. O Sábio observa, embora cada fase dessa dança pulse em sua consciência. Ele é espectador, embora seja também parceiro de todos os protagonistas nessa dança universal.” (Rudhyar, Op. cit., pg. 30)

De forma simplificada, podemos considerar o zodíaco anual, como sendo o registro da influência psíquica do clima e das estações sobre o ser humano. A questão complica porque um signo astrológico impõe uma marca definitiva no indivíduo. Aquele que nasce sob um signo possui uma tendência geral por ele determinada. É a importância simbólica e espiritual que possui a fundação em Astrologia. Mas, ao mesmo tempo, a astrologia trabalha com elementos móveis: trânsitos, progressões, etc. Acaso o leitor se

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sente com vertigens, observando o mundo desde dentro da Torre de Babel? Isto não seria de estranhar, razão pela qual o telurismo define-se antes como uma espécie de anti-astrologia, mantendo de pé apenas aquilo que realmente importa, que são as questões mais gerais, as únicas que podem interessar a uma sociedade em formação ou em evolução. E nisto se insere, é claro, as relações telúricas de paisagem e de clima.

Em Astrologia da Personalidade, Rudhyar define em termos claros a importância do ciclo solar (base do Zodíaco) e também do ciclo diário (base do Sistema de Casas), fundamentados nos movimentos de translação e rotação da Terra, sobre a natureza humana, enquanto esferas de alcance coletivo e individual respectivamente. Diz ele sobre o primeiro:

“Estações e climas afetam o ser e a consciência coletivos de raças e grupos humanos. Afetam o crescimento e desenvolvimento de corpos e de todos os elementos fisiológicos –que pertencem ao domínio do coletivo.

“O ciclo anual é verdadeiramente de grande importância no desenvolvimento do indivíduo, mas é importante em sua maior parte e em termos do crescimento ou decomposição fisiológica do corpo terrestre, em termos de modificações periódicas das forças vitais do corpo. As energias vegetativas e animais na pessoa estão sujeitas a esse ciclo –especialmente estas últimas, já que as primeiras talvez estejam mais fortemente conectadas às fases lunares. O sistema nervoso grande simpático dominado pelo plexo solar é fortemente influenciado por esse ritmo anual, que também afeta o influxo de energias do ‘inconsciente coletivo’ na consciência.” (pg. 139)

Assim, em termos psico-mentais, podemos definir o Zodíaco como uma estrutura de consciência, gerada pela compenetração do psiquismo pelas energias vinculadas ao calendário, sejam telúricas ou espirituais. O ciclo anual afetaria o corpo físico do ser humano, enquanto esfera coletiva ou racial -o que seria capaz de nos conectar ao superior, enquanto experiência anímica.

Ainda assim, para Rudhyar estes seriam já padrões antigos e defasados em relação ao atual nível cultural da humanidade (diria tratar-se aquele de um “nível inferior de coletivismo”, com certeza).

A nosso ver, tais opiniões anti-vitalistas, entremeadas, é verdade por considerações que valorizam o telurismo, e embora desejando levar as pessoas para níveis “mais elevados de consciência” (o que quer que isto signifique), deixam de ser construtivas quando não levam em conta a necessidade de implantação de novas estruturas zodiacais em outras partes do globo, e até por desconsiderar a própria alteridade cíclica das civilizações.

No mais, aferrar-se a posições elitistas a respeito do zodíaco, pela desvalorização ou desconsideração da importância permanente do vitalismo, é alimentar o preconceito e manter a divisão da cultura, o abismo entre os que compreendem e os que não compreendem, e entre os que aceitam e os que não aceitam. Enfim, tudo o que o astrólogo desejoso de difundir o seu saber e expandir sua atividade não almejaria.

Todo o ser humano tem um pai e uma mãe; existe um Sol e uma Lua; e a vida tem sempre uma base física. Ficamos na terra graças ao alimento. Então, não deixemos nos enganar com abstrações. A vida é, antes de tudo, algo concreto e positivo, e todo o resto

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parte disto -como ensina aliás a Ciência da Alquimia, para quem tudo parte da “matéria-prima”.

A visão de Rudhyar pode ter algum sentido sob dois pontos de vista, um particular e outro geral: 1. o estabelecimento desta base na cultura setentrional; 2. a ultrapassagem deste grau desde o ponto de vista racial.

No entanto, seja na fundação de cada nova raça, como na existência de cada indivíduo, é necessário repassar estas etapas originais. Até por isto, considerando as questões individual e construtiva, é na verdade impossível desconsiderar em qualquer parte ou tempo, a importância dos elementos básicos do telurismo na construção da cosmologia cultural.

De outra forma, seria como dizer que todos podem morar na mesma casa, o que não é verdade, ou que para fazer uma nova casa não é preciso colocar alicerces porque outros já o dispuseram alhures. Ora, cada casa necessita ser própria e... completa! As eventuais sofisticações ficam por conta dos detalhes e dos acabamentos, quiçá mesmo na complexidade da planta. Ainda assim as estruturas gerais são recorrentes. E mais do que isto, todos os elementos anteriores necessitam ser observados, porque a evolução sempre se dá sobre as bases antigas.

Ao mesmo tempo, existe a possibilidade da recorrência de ciclos originais que voltam a valorizar estruturas antigas sob uma nova ótica universal. É o que ocorre hoje, quando o cânone quaternário “atlante” volta a ser valorizado na quarta raça sagrada (a americana -ou teluriana como a chamamos no Sul-, após a lemuriana, a atlante e a ariana). Já não se trata, pois, de uma etapa básica e primitiva de cultura, mas da aplicação de um padrão específico e de forma universal, numa civilização emergente onde a Natureza pontifica como um valor supremo. Neste sentido, a compreensão dos novos cânones espirituais trinitários de Joaquin di Fiore reforçam a importância do telurismo.

É preciso, pois, ter certo cuidado com as modernas tentativas de “desmistificar” o pensamento antigo por parte de pensadores de propensão científica ou simbólica, o que, se de um lado seria útil para redefinir certas bases mentais, também podem remover leituras paralelas que pertencem à ótica unificadora da Tradição. Alexander Ruperti, um divulgador de Rudhyar, escreve então em sua obra dedicada às casas astrológicas:

“Na ótica da astronomia moderna, é preciso desmistificar o Zodíaco. Este não é uma entidade estática, uma localização no espaço, comportando doze zonas ou Signos que exercem influências invariáveis. É uma expressão do movimento anual da Terra em torno do Sol; portanto, da órbita terrestre. Geocentricamente falando, o Zodíaco não é senão uma forma de analisarmos o ciclo solar em doze fases. Toda mitologia que se mistura a esta análise é puro simbolismo e criação do espírito arcaico –certamente uma criação das mais preciosas e mais inspiradoras, mas hoje deveríamos ir além e nos aperceber da estrutura universal que se aplica a qualquer ciclo.” (A Roda da Experiência Individual, pg. 15, Ágora, SP, 1987)

É preciso observar que a “mitologia” está aplicada em primeiro lugar aos céus remotos, às estrela e constelações, objetos do Ano cósmico e referência para o plano espiritual. Não se trata de imaginar influências nas estrelas, mas de associar certas energias próprias à evolução humano-planetária em si, aos ciclos em que a Terra se

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volta para estas esferas siderais durante períodos prolongados. O céu serviria, portanto, apenas como um relógio cósmico para demarcar a evolução humano-planetária.

Mas por que não pensar que estas “faixas” celestes ou, na verdade, o próprio cinturão da Terra, impregnado por tais energias, se projete sobre a humanidade também através do ciclo anual e até do período diário? Seja como for, se esta mitologia sideral foi em parte adotada como um padrão algo universal, e estendido aos movimentos do ano solar e outros, é unicamente porque estes realmente servem de veículo para energias maiores através do culto religioso e espiritual, revivendo e reatualizando as energias cósmicas através do rito, embora tal coisa não ocorra necessariamente, cabendo, no entanto, manter aberta esta possibilidade aos que estiverem preparados.

Dito em outras palavras, aquilo que a humanidade chega a vivenciar apenas através dos milênios na lenta evolução coletiva-planetária, o sábio se capacita a conhecer através da religiosidade consciente cultuada nas datas coletivas anuais, e ainda mais, o iniciado alcança expressar no seu culto pessoal diário. Por isto existem tantos zodíacos, pois além de cada ser humano ser múltiplo, ele também é “único”. No Capítulo seguinte avançaremos nesta análise.

Capítulo 8

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UMA HIERARQUIA DE CICLOS

No entanto, caberia se observar que, numa leitura maior, o coletivo tangencia o anímico, correspondendo assim às energias da Alma. Tradicionalmente, o Sol está vinculado a este nível, e é em torno dele que a Terra exerce o seu movimento de translação. De fato, esta influência psicológica é de tal natureza, a ponto de gerar a estrutura do Zodíaco e o calendário civil, vinculados às datas religiosas.

O ciclo diário confere por sua vez a energias da individualidade ou da Personalidade, vinculada à Lua (mencionada por Rudhyar, mais acima). Cabe ver que o movimento de rotação da Terra está estritamente vinculado aos ciclos lunares. Enquanto que um ciclo maior, o de rotação axial ou movimento de nutação, seria de ordem superior ou do Espírito. Seu vínculo real ou simbólico, é com a estrela Polar ou com o pólo celeste, assim como ao Grande Ano de Platão ou a “ronda” cósmica. E desde o ponto de vista sideral, este Ano Cósmico representa um “sistema de casas” maior. Esquematizando então:

MOVIMENTO ESFERA CICLO CALENDÁRIO NÍVEL

a. Rotação Lua Dia Natural Personalidade

b. Translação Sol Ano Civil Alma

c. Nutação Pólo Ronda Religioso Espírito

A esfera cósmica “polar” pode ser conectado através dos ritmos do ano “solar” e do calendário religioso, tendo a Natureza telúrica como elo para a Natureza cósmica. Mesmo os ciclos “lunares” do dia podem ser empregados tendo em vistas tais analogias (adiante voltaremos ao tema através das meditações diárias).

O período diurno serviria para conectar as energias expansivas do Verão e os ciclos positivos da Criação, e o período noturno serviria para conectar as energias de recolhimento do Inverno e os ciclos negativos da Criação. Nisto, os períodos de transição do crepúsculo e da aurora, seriam análogos às épocas dos Equinócios: Outono e Primavera, assim como os ciclos intermediários da Criação.

Tratemos agora de oferecer uma noção didática do ciclo anual como paradigma de evolução. Em Astrologia, Psicologia e os Quatro Elementos, Stephen Arroyo apresenta quatro níveis de leitura astrológica: causal, simbólica, holística e energética. É o nível simbólico que mais nos interessa de imediato, uma vez que trata dos signos do Zodíaco como “símbolos de processos cósmicos e de princípios universais”. Isto inclui não apenas os fenômenos do ano solar, como também a idéia de arquétipo.

A partir disto, apresenta e aprimora a “tentativa feita por Ebertin (1960) de relacionar o ritmo anual das estações aos signos do Zodíaco”, que transcrevemos nas páginas que seguem.

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SIGNO

Carneiro

Touro

Gêmeos

Câncer

Leo

Virgem

Libra

Escorpião

Sagitário

Capricórnio

Aquário

Peixes

ESTAÇÃO

Tempo de germinação, energia em expansão.

Revigoração e fortalecimento, criação da forma.

Vivificação, tempo da floração.

Fecundação e fertilização.

A maturidade da semente.

A colheita, utilização daquilo que foi cultivado.

Equilíbrio e coordenação na economia da natureza.

Processo, na natureza, de término da vida; continuação da vida na semente.

O sono de inverno na natureza.

Cristalização das formas no inverno.

Tempo de espera antes da primavera.

O entumescimento da semente dentro da terra.

CORRESPONDÊNCIA PSICOLÓGICA

A vontade, o impulso para agir, o espírito empreendedor, auto-consciência, o desejo de liderar.

Perseverança, consolidação, o poder de dar forma, o sentido da forma.

Vivacidade, versatilidade, superficialidade.

Abundância de sentimentos, paternidade e maternidade.

A vontade de criar, a autoconfiança, os frutos.

Diligência e cuidado, ordem, natureza domesticada, faculdade para criticar.

Senso de justiça, luta pela harmonia, senso comunitário.

Paciência e perseverança, luta impiedosa pela sobrevivência.

Cultivo do lado interior ou espiritual da vida, planejamento esperançoso do futuro.

Luta incansável pela sobrevivência, paciência, apego a formas sociais cristalizadas.

Atitude expectante, poderes de observação, muitos planos.

Primeiros movimentos da nova vida dentro dos remanescentes da velha.

Para aqueles que desejam conhecer um estudo mais profundo da simbologia sazonal ao nível de Zodíaco, sobretudo, recomendamos a mencionada obra Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, de Dane Rudhyar. Para a sua aplicação local, basta adaptar os princípios para o Hemisfério Sul, invertendo em seis meses/signos as nossas datas (ver adiante).

Mencionamos, pois, entre estes precursores, não tanto os práticos que, às vezes, se apressam a adotar um novo sistema quase como quem deseja apenas lançar moda, sem uma base filosófica sólida. Damos antes preferência a alguns teóricos que, mesmo sem propor ou assumir uma prática alternativa em favor do Hemisfério Sul, ou até expressando idéias parciais, terminam por contribuir com este processo de mudança

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através de algumas de suas teorias e percepções ou, seja como for, mediante o salutar diálogo das idéias. Adiante voltaremos a mencionar os trabalhos iluminadores destes e de outros expoentes.

As Analogias dos Ciclos

Uma primeira dificuldade para compreender as origens do Zodíaco, deriva de entender que o Zodíaco é uma estrutura universal mas se aplica a muitos padrões de evolução, e que para compreender cada tipo de Zodíaco é preciso adaptar a mente à cada esfera ou realidade contemplada. Isto envolve o indivíduo, a coletividade, o planeta, etc., cada um dentro de uma esfera específica, ainda que todas análogas entre si, em termos numéricos ou estruturais: 12 anos, 120 anos, 1.200 anos, 12.000 anos...

Nesta direção, encontraremos ciclos ainda menores, como os de 12 meses, 12 semanas e até 12 horas, empregados na astrologia e nos calendários correntes. Nisto, os menores são também sempre sub-ciclos dos maiores (ou “fractais” e hologramas), estando nestes incorporados, como os átomos formam células que são parte integrante de um órgão e este por sua vez de um corpo.

E de todos estes, é o ciclo de 12 meses, vinculado ao ano solar, que apresenta a mais rica evidência de sua natureza, através da riqueza de suas etapas ou estações. Por analogia, o dia de 24 horas apresenta estrutura semelhante com suas quatro partes; a fim de manter a analogia, antigamente se registrava no dia completo apenas 12 horas, com duas horas das atuais cada, tal como se mantém atualmente no sistema de casas astrológicas.

É possível que uma vez assimiladas as bases destes paradigmas científicos, possamos nos aventurar em realidades mais sutis, e em ciclos de maior envergadura, podendo eventualmente construí-los ou preenchê-los.

De certa forma estes dois zodíacos formam os calendários presentes no moderno horóscopo pessoal: os signos solares e o sistema de casas. A única estrutura análoga que incidentalmente participa do quadro é o ciclo de Júpiter, de 12 anos, embora sem um calendário próprio como existe no Oriente, onde está também adaptado para formar um calendário de 120 anos, capaz de abarcar toda a vida humana. Talvez a descoberta de Urano (ciclo de 84 anos) permita atualmente um “calendário vital” ainda mais natural, aplicando a fórmula 12 x 7 anos.

Idéia, Ideal e Ídolo

Para Rudhyar “estes símbolos (do Zodíaco) são como lentes que trazem para foco nítido os sentimentos, os pensamentos e especialmente as experiências de muitas gerações de membros de uma comunidade, tribo ou instituição religiosa, do mesmo modo que uma lente trás para O foco as radiações difusas do Sol.” (Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, pg. 12).

Também podemos considerar que existe uma unidade entre o ideal, o conceitual e o sensível, e que talvez este último fosse até preponderante, por estar mais próximo da

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experiência cotidiana, servindo ele sim como lente ou catalisador para a experiência superior. Por isto desprezar a base natural é perigoso, por representar esta “matéria-prima”.

Os conceitos não são os desencadeadores do sensível, eles andam juntos. Na medida em que se experiência durante as Estações certas tendências, se encontra no simbolismo astrológico dos signos ou no simbolismo espiritual das festas, os elementos catalisadores da experiência social ou espiritual.

Juntos, o conceito permite uma transcendência do sensível. Nisto, os símbolos astrológicos ensinam os povos sobre a natureza da época, do mês e da estação. Ao conhecer o signo do mês, alguém saberia o que fazer naquele período para melhor aproveitar o tempo. A imagem da Cabra torna a pessoa taciturna, e a figura do Carneiro lhe induz a ter iniciativas, pois se tratam de figuras conhecidas. E isto é feito de forma superior quando o símbolo está imbuído de um caráter religioso.

O signo astrológico confere a consciência da energia que “está no ar”, através das Estações. E através disto ele tratará de expressar as suas energias de forma criativa através das festas populares. Por sua vez, o símbolo religioso confere um canal para o aprofundamento espiritual das coisas. Podemos assim listar os seguintes itens:

Idéia = símbolo religioso, festas, conceitual, espiritual.

Ideal = signos civis, atitudes e metas, psíquico, social.

Ídolo = imagens profanas, estações, sensível, individual.

Tudo isto é, pois, tão mais importante, na medida em que alcança fundir as coisas, como pode ser melhor observado nas sociedades tradicionais, onde as festas são prolongadas em grandes recolhimentos ou em extensas peregrinações.

E assim, ao invés de reinar o “império dos sentidos” e o subjetivismo dos instintos, a Natureza seria como que o aval do mundo visível, dado como sinal em resposta à Sabedoria.

Conclusão

A astrologia tem atravessado importantes fases de reestruturação, mas ainda hoje permanecem muitos aspectos polêmicos e merecedores de atenção. Além de caber reinterpretar alguns postulados e buscar maior coerência, restam importantes lacunas a serem preenchidas.

Tampouco se têm muitas vezes oferecido explicações satisfatórias sobre seus mecanismos, cabendo usar nisto a percepção e a imaginação, uma vez que na prática “a astrologia funciona”.

Assim, além das dificuldades inerentes de compreensão, existem também explicações insatisfatórias, uma vez que séries inteiras de interpretações e aplicações podem ser conferidas a esta estrutura universal que é o zodíaco. O ciclo das Estações do ano seria um dos mais evidentes e imediatos.

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Parte III

O CALENDÁRIO TELÚRICO

Capítulo 9

O CALENDÁRIO SOLAR

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Para alguns, a expressão “calendário telúrico” pode sugerir uma noção semelhante à de calendário agrícola (ou natural), quando na verdade isto reflete apenas uma parte dos fatos, posto que este também se vincula aos ciclos lunares. O que entra em questão aqui é o reflexo do clima sobre o ser humano, na medida em que o ciclo das Estações induz a uma complexa rede de experiências vitais, tanto físicas como psíquicas, e tanto mentais como espirituais.

A vida pode ser definida como uma espiral de experiências que ascende continuamente na medida em que são vividas. A dança das Estações marca o ritmo da experiência da vida. As Estações do ano determinam o ritmo e a natureza destas experiências vitais, cujas fases e etapas representam o cumprimento de um propósito auto-determinado no começo do ciclo-maior ou do ano. O início do ano é a data correta para realizar os nossos planos ou projetos, e o fim do ano é o momento de realizar um balanço das conquistas, das realizações e das experiências adquiridas. Teremos sabido receber os “presentes” da vida?

As Estações do ano induzem a experiências mais radicais sob climas extremos, e a vivências mais amenas sob climas mais equilibrados. Quem desconhece que o verão é mais exteriorizante e o inverno mais interiorizante? E que primavera e outono concedem um verdadeiro idílio mental ou estético-emocional?

Por representar um ciclo completo da Natureza, o ano solar expressa um padrão universal de experiências, pleno ou completo. Na sua especificidade, o ciclo solar está relacionado, sobretudo, ao reino vegetal, ainda que incida direta ou indiretamente sobre todos os outros reinos. Nisto, temos no homem uma analogia com o plano emocional, ou seja: o ciclo das Estações se presta a edificar acima de tudo a sensibilidade humana, onde as emoções têm suas necessidades satisfeitas na experiência sazonal e tudo o que representa em termos de recolhimento (Inverno), reflexão (Outono), expansão (Verão) e estética (Primavera).

As Estações são neste sentido alimentos da alma, tal como afirmamos sempre que os “elementos” são os alimentos da totalidade humana. A partir disto podemos levantar o seguinte quadro:

5 Inverno ................ Plano Espiritual

Primavera ........... Plano Psíquico

Outono ................ Plano Mental

Verão ................... Plano Físico

Assim, chamamos de telurismo o vínculo direto entre o homem e a Natureza, e a influência que esta pode exercer através de seus ciclos e ritmos sobre as atividades humanas, especialmente a partir das esferas do Sol e da Lua, que determinam os principais calendários humanos.

O calendário solar é essencialmente telúrico, e o calendário religioso aproveita estes ciclos para induzir no ser humano experiências da Totalidade, através das tendências psicológicas inerentes às Estações em termos de recolhimento, expansão e harmonia física e psicológica.*

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Seria importante, pois, caracterizar a relação entre as estações e as idades da vida, especialmente a transição entre as duas estações originais –Inverno e Primavera– e seus símbolos.

As Idades da Vida e as Estações

As estações do ano costumam ser relacionadas às idades da vida no imaginário popular; mas à luz da ciência e da tradição talvez estas correlações merecessem algumas correções. Assim, a idéia do “inverno da vida” pareceria sugerir a velhice, uma fase de recolhimento. E a primavera seria todo o oposto, quando temos o nascimento e a mais tenra infância; a época e que a vida brota e floresce.

Não obstante, para a tradição de sabedoria, o inverno representa a primeira etapa da vida, incluindo a vida intra-uterina, e também o nascimento, seguindo a simbologia solar do solstício. É, pois, esta transição entre o oculto e o manifestado. O inverno é assim a etapa da formação elementar do indivíduo, a sua infância, uma etapa de fortes restrições mas também de grandes descobertas, como nos processos espirituais, sendo tudo isto simbolizado por Saturno.

A primavera surge, por conseqüência, como a etapa de adolescência, manifestando um padrão de equilíbrio na existência humana, simbolizado pelo equinócio, através da tomada da auto-consciência e das transformações da puberdade. Ali se manifestam a beleza e o vigor, na sua mais pura expressão, tudo isto simbolizado pela impulsividade do planeta Marte. É quando podemos equiparar o ser humano aos anjos.

Não por acaso os calendários se dividem para começar seja no inverno, seja na primavera. Tratam-se de duas formas de começo, um interior ou espiritual no Inverno, e outro exterior ou físico na Primavera.

Seguindo a nossa seqüência, o Verão traz a maturidade da vida, a expressão mais plena e soberana, quando o ser humano se expressa com toda sua força e consciência, simbolizados pelo Sol, coroando suas conquistas e realizações com auto-expressão profissional e reconhecimento social. E tal como no solstício que o caracteriza, o Verão traz ao mesmo tempo após certo tempo o inevitável declínio da vida.

Finalmente, temos o Outono, correspondendo à velhice. E a expressão “Outono da vida” é das mais acertadas. Nesta estação as folhas perdem a cor e caem, como os cabelos dos velhos. E a natureza entra em recolhimento, dentro e fora do ser humano.

Este é, pois, o quadro em questão:

Inverno ............................ Infância

Primavera ....................... Adolescência

Verão ............................... Maturidade

Outono ............................ Velhice

Telurismo & Religiosidade

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Uma coisa que nunca tem sido muito ventilado, é que o calendário religioso é também um calendário telúrico, e menos ainda que ambos estão na base do conceito de Zodíaco –ou seja, as Estações e os grandes eventos espirituais. Em Ísis em Véu, H. P. Blavatsky chamou a biografia de Jesus de “mito solar”, porém não chegou a inverter a questão, demonstrando que o ciclo anual também reflete os processos espirituais. Num certo sentido, o que importa é o mito solar, o arquétipo universal, que talvez apenas Deus-mesmo realmente o apresente. Todos os seus representantes têm suas biografias adaptadas para este padrão. Daí o Natal, símbolo do nascimento divino, ocorrer sob o solstício de Inverno, quando a luz começa a ressurgir na Terra, imagem anual da “meia-noite”, portanto.

O calendário religioso determina os ritos das experiências da vida e do crescimento espiritual humano, induzido uma experiência de Totalidade através do ritmo das estações que formam o ciclo anual da vida, com seus marcos específicos de preparação, experiência e superação. Tudo isto está registrado no Zodíaco através dos três signos associados a cada Estação, seguindo os ritmos de impulso, fixidez e mudança.

Assim, a correlação signos-estações também é importante, porque a Astrologia não representa apenas uma formulação de signos específicos desconectados, mas um calendário no qual se desenvolve todo um processo existencial, onde signos e estações surgem como etapas do rito humano de vida, que é por sua vez reflexo dos atos divinos em seu próprio nível.

É isto que possibilita vivenciar o verdadeiro significado dos símbolos e dos marcos religiosos, e a experiência real das etapas da vida, pois o calendário religioso se destina a fornecer ao homem comum um acompanhamento mínimo dos grandes acontecimentos espirituais, tal como se verifica na existência dos seres superiores. Possibilita também a aquisição de um padrão de vida enriquecido, múltiplo e pleno em certo nível.

Hoje em dia se presta pouca atenção no Ocidente para as datas do calendário religioso. Afinal as práticas que as acompanham foram muito abrandadas pela urbanização. E a expansão da cultura para hemisférios com realidades distintas tornou ainda mais remota a observância das festas religiosas anuais. No entanto, o calendário festivo é importante porque acompanha os ciclos da Natureza, permitindo-nos experienciar os ritmos da vida. O clima é importante para alavancar as energias psíquicas empregadas nas festas e procissões. Uma festa de Verão tem um caráter mais celebrativo ou expansivo, enquanto que uma festa de Inverno tem um caráter mais introspectivo ou reflexivo.

Mas, se mesmo no Norte esta sabedoria viva se perdeu, tornando as datas quase meras convenções de calendário, isto ocorre ainda mais no Sul. Considerando que as datas religiosas são feitas para o Hemisfério Norte, em concordância com sua própria estrutura climática anual, ocorre que tudo isto fica completamente invertido e inapto no Hemisfério Sul, impossibilitando seguir o calendário religioso na verdadeira acepção do termo, e limitando-se a encenar uma paródia quase meramente simbólica, sem maiores chances de vivenciar os seus verdadeiros significados, e menos ainda de aprofundá-la através da experiência sensível inicial que o clima propicia, em conexão com a data simbólica.

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No Hemisfério Sul, somos amplamente ignorantes do que tudo isto representa, porque a experiência diária do clima está totalmente desconectada das datas do calendário. E até por isto, o significado e a importância de doutrinas psíquicas vinculadas aos calendários como é a da Astrologia, se tornam cada vez mais remotas. Vejamos, porém, a forma como o telurismo é capaz de resgatar os fundamentos destas ciências.

O Calendário Religioso

O calendário religioso é uma reprodução da infância sagrada, que é o período de 12 anos (ciclo de Júpiter “o jovem”, Iove ou Iahweh) da vida de Deus que vai do nascimento à iluminação, entendida especialmente em termos simbólicos, tal como o “nascimento” ou o despertar espiritual em Capricórnio, e a “cruz” espiritual em Áries, passando pelas buscas e provações de diferentes índoles, pelo batismo e a confirmação, os diferentes tipos de relacionamentos, etc. Enfim, todos os assuntos que entram na temática geral do Zodíaco, embora sob uma qualidade superior.

A cruz é Saturno, presente em Capricórnio, com seu ciclo de 29 anos. É a idade em que os dois ciclos se reúnem, formando a conjunção simbólica da Estrela de Belém, no (re)nascimento divino, que é mais que o nascimento místico, e por sua vez mais que o nascimento natural –este último sendo de menor importância numa biografia divina.

Na verdade, como disse Bailey, os Evangelhos estão trançados com “uma linha de prata e outra linha de ouro”. É possível que um dia se reestruture e complete este calendário religioso em todos os seus matizes.

Como vimos, muita coisa pode ser “zodiacal”. O calendário religioso proporciona uma experiência sintética da biografia divina. Se poderia fazer também um “Zodíaco” com as 14 Estações do Calvário, tal como se apresentam nas Igrejas, lembrando porém que, como estes acontecimentos decorreram em poucos dias, serviriam melhor para um culto mais específico (talvez uma meditação de 14 ou mesmo de 12 dias) dentro de cultos maiores. São elas: 1. Jesus é condenado à morte; 2. Jesus toma a cruz nos ombros; 3. Jesus cai pela primeira vez; 4. Jesus encontra sua aflita mãe; 5. Simão ajuda Jesus a levar a cruz; 6. Verônica enxuga o rosto de Jesus; 7. Jesus cai pela segunda vez; 8. Jesus consola as filhas de Jerusalém; 9. Jesus cai pela terceira vez; 10. Jesus é despido de suas vestes; 11. Jesus é pregado na cruz; 12. Jesus morre na cruz; 13. Jesus é tirado da cruz; 14. Jesus é depositado no sepulcro.

As “Festas de Transição”

O Grande Período Festivo corresponde à uma transição realizada entre o Ano Novo Planetário (Natal, em Capricórnio) e o Ano Novo Zodiacal (Páscoa, em Março), ocupando a Estação de Inverno. Este é um ciclo especial de acontecimentos superiores, por assim dizer, com uma nota especial na realidade humana, de certa forma transcendental, como se fosse a sua dimensão sagrada. Por outro lado, desde o início do Ano Zodiacal, em março, até o Natal, em dezembro, temos nove meses.

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O que significa esta transição de 270 dias, similar ao ciclo da gestação humana? Considerando uma concepção realizada na Primavera, o nascimento humano se dará no Inverno. Assim, esta transição valoriza a realidade humana, vista como período de gestação humana, ou sua experiência interior, para quando chegar o Inverno poder haver a exteriorização e o amadurecimento, ainda que, de maneira algo paradoxal, o Inverno seja o período de recolhimento, tendo, porém, agora a marca da consciência. Não é muito diferente do que acontece na passagem para o décimo ano de vida, quando a criança adquire maturidade e auto-consciência, concluindo aos doze anos, quando temos a completa transição da infância para a adolescência.

Não por acaso a gestação humana corresponde a nove meses, sendo de um ano o ciclo completo da Natureza. Nisto podemos ver a palavra humano como “um-ano”. E aquilo que está representado no ciclo de Inverno é, na verdade, uma chave para superação do humano ou para a evolução de seus ciclos, demonstrado pela revelação do drama divino.

O exótico calendário meso-americano antigo, Tzolkin ou Tonalpohualli, também contempla um ciclo próximo desta natureza, ou seja, de 260 dias. E seu início mais conhecido na atualidade (pois existem divergências entre os povos locais) incide a 26 de Julho. Há várias explicações para esta data. Alguns a consideram uma correção da precessão equinocial num calendário equinocial (ou estival), enquanto outros vêem nela uma correção (parcial) do passo de Sírio. Tomando a primeira hipótese, em especial, a relação com o calendário solar, Haab, –relação aliás intrínseca a este sistema– é sugestiva, uma vez que este calendário inicia em Fevereiro. Não podemos neste caso fazer mais do que seguir pistas e pressupor sobre as origens ou a natureza deste sistema.

O Natal, celebrado em 25 de dezembro, é a mais importante festa cristã, comemorando o aniversário do nascimento de Jesus Cristo. A data foi tomada aos persas, que nela celebravam o nascimento do deus solar Mithra, numa época em que o mithraísmo tinham enorme popularidade dentro do exército romano. Simboliza o nascimento de Deus, velando, porém, o desenvolvimento do mito solar na sua relação original com o solstício, que ocorre a rigor em 21 de dezembro. Teria sucedido aqui o desconto dos dias epagomenais (aquele que excedem a “conta redonda” de 360 dias); não obstante, o mesmo parece ocorrer após a data, nos chamados “dias de festas” que duram até o final do ano. A razão desta redundância seria as sucessivas reformas de calendário realizadas em diferentes épocas (e até civilizações) sem o suficiente critério crítico, acarretando inclusive na perda da conexão original entre astrologia e calendário.

A doação de presentes na data parece ter sido em função das dádivas conferidas a Jesus pelos Reis Magos, no entanto já era uma prática observada nas Saturnais, festas romanas em honra ao deus Saturno, realizadas no mês de Dezembro, quando se trocavam presentes, organizavam sorteios e se concediam aos escravos alguns dias de liberdade. De caráter religioso, as Saturnais celebram a volta da Primavera, que simboliza o renascer na natureza.

A falta de introspecção comum ao período de Verão no qual a Festa se realiza no Hemisfério Sul, incrementa o lado comercial nestas regiões. Na verdade, não é em todos os países que se trocam presentes no Natal. Em alguns isto acontece no Dia de Reis, a 6 de janeiro, que celebra a chegada dos Reis Magos, quando especialmente as crianças

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recebem presentes. Esta festa é ainda chamada de Epifania, e desde o século V engloba também o batismo de Jesus por João.

O Carnaval é o período anual de festas profanas, celebrada numa data móvel, geralmente no mês de fevereiro. A palavra deriva do hábito de se comer carne nestes dias, em oposição à Quaresma que lhe seguia, quando esta dieta estava interditada. Comumente se vincula também o Carnaval às Saturnais, daí seu vínculo com o Diabo e o Pecado na ótica cristã. A palavra “bacanal” vem de Baco, deus do vinho e do delírio místico e um deus supremo na Macedônia identificado a Dionísio, cujas festas estão base do teatro grego; ambos se vinculam a Vênus/Afrodite, que é um dos símbolos mais importantes na presente época do mundo. A acepção do Carnaval como uma festa de luxúria (uma tendência sempre controlada no passado europeu) é ampliada pelo clima de verão no Hemisfério meridional.

A Quaresma é o período que vai da Quarta Feira de Cinzas até a Páscoa, sendo definida como um tempo de penitência para católicos e ortodoxos, durando 46 dias para os primeiros. Parece ter sido instituída em torno do século III, quando eram determinados “jejuns” (abstinência de carne) durante todo o período. Isto mudou em 1949, suprimindo-se as restrições alimentares e prescrevendo-se o jejum apenas na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira santa. Estes jejuns ainda transparecem no mês islâmico de Ramadã, que resulta na mesma época, quando os muçulmanos jejuam durante os dias.

A Semana Santa inicia no Domingo de Ramos, que é o domingo anterior ao Domingo da Páscoa, celebrando a entrada de Jesus em Jerusalém. A Páscoa, festa celebrada em memória da ressurreição do Cristo, combina data móvel e fixa (servindo de referência para todas as festas celebradas em datas móveis), uma vez que deve ser celebrado necessariamente após 21 de março, conforme convenção de base evidentemente astrológica, vinculando-a assim ao ano novo zodiacal iniciado em 21 de março. Isto reafirma o sentido da Páscoa enquanto passagem (pessach), segundo a tradição hebraica, podendo-se ver aqui o Mar Vermelho como um símbolo do Zodíaco; de natureza psicológica, esta esfera comumente está representada pelas águas na simbologia antiga.

É absurda a convenção de definir datas através do calendário lunar e dos domingos. Primeiro porque isto é capaz de alterar em quase um mês uma data festiva, e depois porque desconsidera o próprio valor da data como feriado (mais uma concessão à “vida civil”, ou melhor, “produtiva”).

Como isto surgiu? O calendário judaico era lunar, e daí se imaginou que os eventos deveriam ser regulados pela lua. Ou ocorreu a festa pascal numa dada fase lunar e se pretendeu perpetuá-la, como se a época solar não fosse muito mais importante. O calendário católico ainda procura harmonizar as duas coisas, sem respeitar estritamente a nada.

A medida é “útil” para não dar excessivo valor ao calendário e seus ciclos, resultando na diabólica desestruturação e desenraizamento consciencial da sociedade. Quê importa? Cristo é que salva! Mas, terá ele ombros tão largos assim? É fácil ser negligente com a Terra quando se pensa que ela pouco vale. No entanto, está escrito: “Serão destruídos os que destroem a Terra” (Apocalipse).

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Caso tratássemos de fixar o dia do Carnaval em função desta data (equinócio), ele ocorreria em 1° de fevereiro e o dia de Cinzas cairia a 5 de fevereiro. Este último é um dos pontos centrais do ano, vinculado à metade (“idos”) de Aquário, um dos quatro signos “fixos” que centralizam o Zodíaco determinando a Cruz das Estações.

A Eucaristia pascal, ou o sacrifício litúrgico do pão e vinho, é também um rito agrícola, ocorrida na época das colheitas, simbolizando a frutificação da vida na Primavera, realizada após o recolhimento invernal.

Ao contrário dos cristãos que se abstém de carne na sexta-feira santa, a Páscoa judaica envolvia o sacrifício de um cordeiro, além do uso do pão ázimo. A idéia é que Jesus teria substituído o cordeiro simbólico, em oposição ao evento patriarcal onde Isaaque, na iminência de ser sacrificado por seu pai Abrahão, foi substituído por um cordeiro.

Trata-se da chegada da graça e da redenção ao mundo, daí ser a Páscoa também vinculada ao Pentecostes. Esta passagem do divino para o humano, através do sacrifício divino, resume a transição do Ano Planetário (solstício de inverno) para o Ano Zodiacal (equinócio de Primavera); encerrando daí esta transição.

Depois vem o Pentecostes, que no cristianismo representa a difusão dos dons do Espírito Santo. Trata-se de outra festa adaptada da tradição hebraica, onde celebrava a entrega das Tábuas da Lei, cinquenta dias após a saída do cativeiro no Egito. Originalmente, era a “festa da colheita” entre os cananitas, ou dos primeiros frutos (as primícias), e que os judeus adotaram de início como a “festa das semanas”, por contar com sete semanas, tal como anuncia a Bíblia, ciclo porém assinalado pelo profeta Daniel em anos. Nisto, contando a partir do início do Ano Zodiacal, a data incide a 1° de junho. No cristianismo se trata da difusão dos dons do Espírito Santo.

Em junho temos outras Festas. A proximidade entre o São João e a Festa do Espírito Santo é sugestiva. João em hebraico é iohanes, de ionah que significa pomba, símbolo do Espírito Santo.

A Festa de São João ocorre em 24 de junho, e a de São Pedro e São Paulo em 29 de junho. Porém, sobre elas incidem possíveis adaptações calendárias, e não está descartado que certas festas deste período sirvam de algum modo aos propósitos do Hemisfério Sul, tal como na analogia existente entre a festa de São João e a Festa do Sol dos incas, que abre o calendário meridional. Ambas são celebradas com fogueiras, embora o significado sazonal possa ser até oposto.

Resumo do simbolismo dos principais festivais

Apresentamos agora um resumo da conexão entre o simbolismo das festas e o Zodíaco. Em termos climáticos, a correlação também é propícia, isto é, no Hemisfério Norte atualmente, para onde foi estabelecida. É este padrão que segue, pois, as seguintes considerações.

A abertura do Ano Solsticial ou Planetário, sob Capricórnio, representa a preparação da Natureza para o recolhimento do inverno. É um nascimento oculto o do Natal, interior, como a etapa subterrânea da semente em busca de luz.

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Sob Aquário, temos a catarse do Carnaval, que serve como um expurgo das fantasias, no final de uma velha existência.

A Quaresma cai no final do inverno, aproveitando-se ainda as férias. Este período de preparação para a transição anual e incide sobre o ascético signo de Peixes.

E a Páscoa, quando se realizava o sacrifício do cordeiro, cai sobre o signo de Carneiro. Ali temos o início do Ano Zodiacal e o reinício das atividades anuais sob o equilíbrio climático da Primavera.

Assim, toda esta transição é realizada entre o Ano Novo Planetário (em Capricórnio) e o Ano Novo Zodiacal (em Março).

Na Primavera ocorre a brotação, sob Áries. A germinação é o dom da primavera, embora nas fases mais desenvolvidas seja também a etapa da flor.

Touro é o robustecimento do broto com folhas e com o verde da clorofila alquimiza uma abertura para o Sol. Após o sacrifício individualizado de Áries, vem a colheita socializada de Touro, celebrada no rito agrícola da Páscoa.

Gêmeos é o dom do movimento, da observação, quando a planta acompanha o movimento do Sol.

Estas três etapas formam uma unidade, e muitas plantas elementares nela permanecem.

Se Áries é a fonte, Touro é o lago e Gêmeos é o rio. Câncer é a evaporação sob a atração “lunar”. Leo é a nuvem que reúne esta umidade.

Áries é o impulso juvenil da força da luz recém emergindo das trevas, matizada pelo planeta da virilidade, Marte. É o ímpeto da adolescência insegura e idealista, como o broto recém surgido à luz, puro mas frágil. Touro é a estabilização da energia, a transformação do impulso em propósito. Gêmeos é a agilização e a comunicação, o programa e a mídia. Maio é o mês das noivas, pegando Touro e uma parte de Gêmeos, enfatizando planetas de relacionamento: Vênus e Mercúrio.

Observemos agora algumas realidades e símbolos a respeito do Natal, festa que está muito mais relacionada à abertura do Ano solar do que se pode imaginar.

As Dádivas do Natal

Natal é acima de tudo a grande dádiva de Deus, da salvação que renasce ciclicamente sobre a Terra.

Ao pensar no Natal, devemos refletir que a data representa um dom universal, reforçado pelos presentes outorgados pelos Reis Magos –reunidos hermeticamente na figura do Trismegisto “três-vezes-grande” e das três fases da Opus alquímica- ao menino Jesus.

Embora apreciamos trocar objetos simbolizando os nossos votos de fartura e prosperidade, vale lembrar o simbolismo dos três tipos de presentes dados a Jesus, onde o ouro é a riqueza material, o incenso é a espiritualidade e a mirra é a ciência. Indica também a Sociedade, a Realeza e Sacerdócio, e hoje também falaríamos de

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Humanidade, Hierarquia e Shambala, assim como da trina Sinarquia de Saint Yves d’Alveydre -entre outras visões do tema.

Trata, enfim, da unidade de Corpo, Alma e Espírito ou, numa palavra, da integridade do ser humano, algo que toda a doutrina sã deveria buscar contemplar.

Além disto, os reis Magos representam o ecumenismo, já que pertencem às três grandes raças que trazem as suas heranças culturais a cada humanidade que nasce, como acontece nas Américas, por exemplo, talvez mesmo antes de Colombo. Tudo isto e muito mais está presente no presépio que São Francisco organizou para a humanidade.

Assim, nesta data abençoada, saudemo-nos uns aos outros com votos de felicidades e realizações plenas, em “todos os mundos” e “para todos”, já que todos fazemos parte essencial do grande Concerto da Vida. A troca dos diferentes presentes entre todos –como símbolos dos dons universais- dá a chave para isto.

Por isto rezemos assim nesta data:

“Senhor, tal como recebestes as três dádivas de ouro, incenso e mirra, faz-nos também plenos e dadivosos para que a nossa família seja feliz em todos os mundos, e que estas bênçãos possam alcançar todos os seres. Amém.”

Porque o 25 de Dezembro

Tem sido sempre buscadas explicações para a razão do 25 de Dezembro, a data de Natal, já que a Bíblia nada fala a respeito, havendo sido antes adotado a partir de um decreto papal no ano 350. Citaremos na sequência três razões envolvidas nisto tudo.

Mítico-Religiosa. A explicação mais corrente diz respeito à data relacionada ao nascimento de Mithra, deus solar cujo culto nasceu na Índia no século XIV a.C., migrou para a Pérsia onde adquiriu destaque, e desde ali alcançou grande importância no exército romana, a ponto de rivalizar perigosamente com o culto cristão. Depois que o cristianismo se tornou uma religião oficial, um papa conseguiu transferir a data usada para celebrar o nascimento de Mitra para a figura de Jesus.

Astronômica. Busca-se também uma tentativa de explicação astronômica, pois a data está próxima à do solstício de inverno no Hemisfério Norte. Dizem alguns, talvez sem muita precisão, que o dia 25 representa o “retorno do sol” após três dias, registrando a “parada” solar durante o solstício quando ele altera o seu curso de descendente para ascendente, determinando a base da epifania do Sol invictus que está na base do culto mitraico, oficializado em Roma em 274 pelo imperador Aureliano. Estes fatos integram o calendário setentrional, porém no Hemisfério Sul existe uma celebração paralela em data correspondente, como se observa na Festa do Sol incaica celebrada a 24 de Junho nos Andes, data esta que deveria ser adotada como a do verdadeiro Natal meridional.

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Matemático-Calendárica. Existe uma questão ainda ignorada modernamente, mas cuja importância é muito conhecida entre os estudiosos dos calendários antigos, que é o chamado “registro da conta redonda”. Quer dizer, quando se busca equiparar os 360 graus da circunferência a 360 dias do ano, buscando nisto a harmonia e a integração de tempo e espaço. Maias-nahuas e egípcios realizavam esta prática, atribuindo aos cinco dias restantes (chamados epagomenais) um caráter nefasto no primeiro caso, e sagrado no segundo caso; sendo época dedicada para o recesso ou para as festividades (tais como as Saturnálias romanas). De todo modo, eles eram considerados ’”dias fora do tempo” dentro do calendário solar. Este fato parece estar na base também dos cultos solares envolvendo a data em questão.

O calendário ocidental moderno, além de ser soli-lunar, é uma colcha de retalhos que reúne origens múltiplas e ainda sofreu a influência de reformas recentes.

* Vale dizer que, embora combatendo o paganismo, a Igreja sempre conviveu com a sabedoria popular da Natureza, embora tenha enfraquecido significativamente estes vínculos. Quando chegou a Época da Grande Contestação (Protestantismo, Materialismo), tudo foi arrasado em nome de um “humanismo” alienante da unidade cósmica.

Capítulo 10

FESTAS & ATIVIDADES

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As festas sazonais possuem várias finalidades: religiosa, social e até econômica. O calendário festivo religioso acompanha os ciclos da Natureza. E pode se tornar muito difícil seguir o calendário religioso sem as regras do telurismo. O resultado é uma pseudo-cultura superficial e individualista, sem unidade ou organicidade.

E é assim que sentimos uma coisa enquanto pensamos outra, tornando vazios nossos pensamentos ao invés de amparar e estimular sentimentos potenciais, e fazendo os nossos cultos meramente convencionais ao invés de reflexos de experiências pessoais; gerando tudo isto uma espécie de esquizofrenia cultural, incapaz de permitir aprofundar o significado das coisas.

A estranheza com que nós, do Hemisfério Sul, ouvimos falar de práticas espirituais que mereceriam ser adotadas como a do Ramadã, são redobradas pelo fato de nos encontrarmos na estação oposta. Mesmo para um muçulmano será mais difícil acompanhar aqui o rito porque, além de contar com poucos simpatizantes locais, ainda deve enfrentar o ritmo natural oposto. Esta dupla barreira cultural-climática torna pratica-mente impossível a adaptação de um hábito exótico.

Mas, se de um lado isto nos afasta da coerência entre conceito mental (as “festas”) e experiência sensível (o “clima”), por outro lado isto nos confere uma situação potencialmente privilegiada enquanto detentores de dualidades (“candidatos à transcendência”), assim como a urgência para fazer tal revisão. O resultado pode ser a conquista de uma ampla restauração.

Adaptação das Datas no Hemisfério Sul

Não é possível construir uma civilização com os códigos simbólicos invertidos. Permanecer neste critério oposto é manter uma essência colonial. Queremos o refinamento da cultura, e com isto estamos falando em termos de símbolos, de interiorização, de sutilização e síntese dos elementos. Os homens naturais têm pouca simpatia pela astrologia porque não compreendem as suas bases telúricas

Cabe ter em vista então a adaptação das datas do ano religioso para o Hemisfério Sul –mas é claro que a simples disposição da data meridional é insuficiente, porque devemos mudar o calendário como um todo, incluindo o começo do ano e o nome dos meses, também eles “invertidos”.

Abaixo, colocamos também sempre que necessário as festas em pares, posto tratarem-se de típicas festas de transição (entre estações e pontos-médios) reunidas ou próximas, e por isto duplas (às vezes triplas):

FESTA Hemisfério Norte Hemisfério Sul

Ano Novo 1° de Janeiro 1° de Julho

Reis 6 de Janeiro 6 de Julho

Carnaval 5 de Fevereiro 5 de Agosto

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Cinzas 10 de Fevereiro 10 de Agosto

Paixão 19 de Março 19 de Setembro

Páscoa 21 de Março 21 de Setembro

Pentecostes 10 de Maio 10 de Novembro

Corpus Cristi 19 de Junho 19 de Dezembro

São João 24 de Junho 24 de Dezembro

São Pedro 29 de Junho 29 de Dezembro

Nossa Senhora 15 de Agosto 15 de Fevereiro

Todos os Santos 1° de Novembro 1° de Maio

Finados 2 de Novembro 2 de Maio

Natal 25 de Dezembro 25 de Junho

(João Evangelista)

São João Evangelista é celebrado junto ao Natal. São João Batista é celebrado na data oposta, segundo o registro bíblico de ter nascido seis meses antes de Jesus, e ter declarado a este, ao modo dos ciclos de luz do ano, “é preciso que ele cresça e eu diminua”. Ambos têm relação com os dois Janus, segundo René Guenón (em Os Símbolos da Ciência Sagrada), assinalando os dois inícios de ano, o setentrional e o meridional.

O DUPLO-JANUS: OS “SATURNOS DE CAPRICÓRNIO E DE AQUÁRIO

Neste sentido, quando se celebra as datas do Buda em maio (nascimento, iluminação e morte), existe no Hemisfério Norte a Primavera. Quanto a Maitreya, o novo avatar, presente já num contexto meridional, as suas principais datas (nascimento, iluminação, etc.) tendem a ocorrer no Inverno local, em consonância com o mito solar.

O Pentecostes relaciona-se ao Festival de Asala ou do Cristo, segundo Alice A. Bailey, a chamada “Festa da Humanidade” celebrada na Lua Cheia de Junho (Primavera-Verão setentrional), sob o signo de Gêmeos, aproveitando o vínculo entre Mercúrio (regente deste signo) e o Espírito Santo. No Sul o evento cai na transição Outono -Inverno. Comumente se associa a data a Maitreya e recita-se ali a Grande Invocação, abaixo.

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A GRANDE INVOCAÇÃO

Do ponto de Luz na Mente de Deus,

Flua luz às mentes dos homens;

Desça a Luz à Terra.

Do ponto de Amor no Coração de Deus,

Flua amor aos corações dos homens;

Volte Cristo à Terra.

Do centro onde a vontade de Deus é conhecida,

Guie o Propósito as pequenas vontades dos homens

O Propósito que os Mestres conhecem e servem.

Do centro a que chamamos raça dos homens,

Cumpra-se o Plano de Amor e Luz

E mure-se a porta onde mora o mal.

Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam o Plano na Terra.

A Grande Invocação, transmitida por Alice Ann Bailey, busca fomentar a União dos Centros mundiais de Shambala, da Hierarquia e da Humanidade, um fator essencial para restabelecer a Ordem do Mundo (o “Plano”) e redimir o planeta na ocasião de crises mais pronunciadas, pela recordação da sua Divina filiação.

Assim, o Dia da Grande Invocação, é o Festival de Asala, na Lua Cheia de Junho, também chamada de “Festival da Humanidade ou do Espírito Santo”, e ainda “Festival do Cristo-Maitreya”.

A Teosofia atesta que Maitreya surgirá na sétima sub-raça árya, que é a brasileira, nação sobre a qual também incide a faixa cósmica da Nova Era. Na verdade o avatar vem na transição dos ciclos, inclusive raciais. O Calendário Maia-Nahua demonstra que o Quinto Mundo (ou a Quinta Raça-raiz) termina em 2012, de modo que a manifestação do Cristo-Buda já se assoma, ele que se relaciona à figura histórica de Jesus. Sua tarefa é implantar a Nova Religião mundial (pela Iniciação solar, através da técnica da Invocação-e-Evocação), tendo como instrumento os seus Apóstolos e os Novos Servidores do Mundo, que são os 144 mil eleitos mencionados no livro do Apocalipse.

Existem também datas menores como os dias dos pais, das crianças, dos namorados, das noivas, etc. Nas sociedades tradicionais, as festas e os feriados costumavam se multiplicar. Não obstante, eram dedicados a algum deus, que no caso incluiriam as realidades mencionadas. Assim, Vênus inclui o feminino e a beleza, Marte expressa o masculino e o vigor, Júpiter a juventude e a sabedoria, Saturno alude à velhice e à

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espiritualidade, o Sol aponta para a paternidade e a Lua para a maternidade, Mercúrio é a dualidade e a mudança, etc.

De fato, o calendário deverá ser todo refeito, sejam as datas religiosas, as festas agrícolas e os nomes dos meses. Mudar signos sem mudar meses cria confusões; para não competir e causar problemas, a melhor fórmula seria usar uma outra língua, contanto que tivesse um respaldo mitológico similar ou superior; tarefa que pode não ser fácil de alcançar. Contudo, a vizinhança andina pode oferecer uma solução, com sua única grande tradição calendárica meridional.

As datas do início e meados do mês ficam vinculadas. Em Roma se dava grande importância aos idos (metade) do mês, que é onde iniciavam os signos. A reforma gregoriana alterou seis dias e estes começam agora em torno do dia 21 de cada mês. Existe uma teoria que as Casas astrológicas iniciam na realidade na sua metade, onde demonstrariam maior força. O grau 15 dos signos fixos (Aquário, Touro, Leão e Escorpião) é considerado sagrado e de força, incidindo sobre o dia seis dos meses de Fevereiro, Maio, Agosto e Novembro. Tratam-se das festas mais importantes dos celtas, como veremos a seguir. Abaixo, temos a mandala quadrada das Estações e seus signos.

V E R Ã O

I N V E R N O

O

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A

V ir g e m L e ã o C â n c e r

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Gêm

eos Tou

ro Áries

C a p r ic ó r n io A q u á r io P e ix e s

Para efeitos de esclarecimento, vamos tratar de comentar as datas e seus significados através das estações do Hemisfério Norte, para onde elas foram elaboradas. Os observadores do Hemisfério Sul deverão fazer um esforço de transposição, e para facilitar oferecemos as datas correspondentes (opostas) neste hemisfério meridional.

Os Quatro Marcos Solares

Os dias seis dos meses de Maio, Agosto, Novembro e Fevereiro, são considerados especiais porque correspondem ao grau 15 de cada signos fixos, ou Touro, Leão, Escorpião e Aquário, configurando a cruz central do Zodíaco, eixos de forças associado os quatro poderes elementais. Segundo Rudhyar, o 15° grau dos signos fixos é um ponto de “descenso de energias divinas” (cf. Astrologia da Personalidade). A astrologia

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indiana divide os signos pela sua metade (para efeitos de polaridades), semelhante aos “idos” dos meses dos romanos.

Palavras como Quaresma (46 dias) e Pentecostes (50 dias), fazem alusão inequívoca aos ciclos de 45 dias existentes entre a Páscoa e os pontos médios que a cercam (no rumo dos solstícios), originando no caso o dia de Cinzas e a Festa do Espírito Santo, que incidem próximo a estas datas. Tais dias, com pequenas modificações representam, por exemplo, as festas mais importantes do calendário celta (ver adiante).

O que significam estas quatro datas? Ocorre que, desde o ponto de vista da evolução da luz (e não do clima), que determina as proporções de luz e sombra durante os dias, as Estações iniciam, a rigor, nos “Pontos Médios” existentes entre os solstícios e os equinócios, ou na metade dos signos fixos; posto que solstícios e equinócios são apenas situações clímax da condição solar, sendo na verdade o centro das Estações e não o seus inícios. Afinal, a relação de luz-e-sombra nem sempre é idêntica à evolução climática, a qual sofre a ação da inércia.

Abaixo vemos esta realidade diagramada, tendo os marcos solares representados pelos signos fixos na cruz transversal:

C â n c e r

L e ã o

L ib r a

E s c o r p iã o

E Q U I N Ó C IO S

SOL

ST

ÍCIO

S

Á r ie s

To u ro

C a p r ic ó r n io

A q u á r io

Isto significa que as Estações têm o seu início “oficial” com um atraso de 45 dias. E o que justifica este atraso é que, do ponto de vista climático, ocorre uma espécie de inércia produzida pelo “acúmulo climático”, capaz de empurrar para frente o início solar das Estações. Ou seja: a soma da temperatura, ao esquentar a terra e a atmosfera, produz certa estagnação que conserva o clima da estação para além do seu marco solar de transição.

E então, na ausência de outro marco astronômico, empregam-se os solstícios e os equinócios para definir as Estações, marcos estes que, além de apresentar o clima da Estação já bastante caracterizado, seriam de resto intransponíveis, uma vez que aquilo que lhe sucede já representa uma nova fase da Estação (para maiores detalhes sobre esta questão, ver Revista Órion de Ciência Astrológica, n° 6).

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No Hemisfério Norte, os quatro marcos solares se associam aos “Quatro Ventos”, que de certo modo também existem nos pampas, através dos ventos Pampeiro, Nordeste, Minuano e Oceânico.

Mencionamos o Ba-Guá chinês; pois estes oito pontos astronômicos (incluindo solstícios e equinócios) podem ser equiparados aos seus oito trigramas, inclusive com seu processo de mutação correspondente.

Estas datas estão assinaladas no calendário dos antigos celtas da Europa ocidental, como suas quatro grandes festividades anuais do Fogo que, segundo William Bloom, “celebram as quatro fases distintas do ciclo anual da fertilidade, do crescimento, natural e agrícola, ou seja: despertar, crescimento, colheita e descanso. Alguns destes festivais se refletem no ritmo sagrado de outras culturas ao redor do mundo e alguns foram adotados por religiões mais novas.” (Bloom, Tempos Sagrados – Ritos de Passagem e Festivais Sazonais)

Estas quatro festas, com o significado, as Estações e ainda o seu correspondente meridional, seriam:

DATA SIGNIFICADO ESTAÇÃO SETENTRIONAL MERIDIONAL

Imbolc Despertar Primavera 1° de Fevereiro 1° de Agosto

Beltain Crescimento Verão 1° de Maio 1° de Outubro

Lughnasa Colheita Outono 1° de Agosto 1° de Fevereiro

Sammain Descanso Inverno 1° de Outubro 1° de Maio

Ainda que se tratem dos “festivais de fogo” (os quatro fogos podem ser descritos como: fagulha, magnético, elétrico e plasmático), o vínculo dos Elementos é evidente, por incidirem praticamente sobre os marcos solares da cruz central do Zodíaco, tradicionalmente vinculada ao centro ou ápice dos quatro elementos. Através disto os celtas testemunharam um conhecimento calendárico e astronômico excepcional.

O Imbolc corresponderia à época de Carnaval e Cinzas no calendário ocidental, e na mitologia celta marca o fim da mítica batalha final do herói irlandês Cu Chulainn, iniciada na época de Samain (a festa anterior, abrangendo assim todo o Verão).

Segundo Anne Ross, Beltain seria considerada “a mais sagrada de todas as festas celtas” (Druidas, Deuses e Heróis da Mitologia Celta, pg. 17). Nada diz sobre seu caráter, mas temos informações inter-culturais expressivas. Os tibetanos tinham uma data importante na época do Beltain:

“De acordo com uma tradição que remonta, segundo se diz, a Langdarma, o último soberano do Tibet, no décimo-quinto dia do quinto mês os deuses protetores desciam em todos os médiuns. Naquele dia, os oráculos, homens e mulheres, entravam em transe ao mesmo tempo em todas as regiões, enquanto a multidão apertava-se em seus templos.” (Anne Chayet, A Mulher no Tempo dos DalaiLamas, pg. 282, Papirus Editora, Campinas, SP, 1995)

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O interessante é que esta data corresponderia à época do Pentecostes no calendário ocidental, quando o Espírito Santo desceu em todos os fiéis segundo a Bíblia (Atos).

A Festa do Divino, relacionada à festa do Pentecostes, foi trazida pelos casais açorianos e está ligada a eventos político-religiosos portugueses do final da Idade Média, resultando na tradição do império do divino Espírito Santo, com as procissões da bandeira do divino (cores vermelha e branca) que antigamente entrava em todas as casas, sugerindo que este aspecto de Deus visita todos os homens.

O Lughnasa era a festa do deus Lugh (ou Lugos), identificado a Mercúrio pelos romanos, sendo o corvo um de seus símbolos. Era o deus celta mais importante, e a festa em sua honra foi substituída pelo imperador romano Augusto para uma festividade em sua própria memória. No cristianismo a festa passou a se chamar Lammas, ou “festa da colheita”, e mais tarde “festa dos lavradores”.

É interessante que a data desta festa, situa-se no centro de um amplo período de celebrações que ocupa duas semanas antes e duas semanas depois da data. Desta forma, o seu caráter central e piramidal é amplamente declarado.

E o “dia de Samain, é a data mais forte e perigosa do ano celta, quando o Outro Mundo é acessível aos mortais (sob seu próprio risco) e os deuses fazem brincadeiras com os humanos” (Anne Ross, op. cit.). Esta data mais tarde se tornou a festa de Hallowe’en, e as abóboras usadas como lanternas substituíram as caveiras empregadas originalmente.

Passemos a analisar o significado destas datas no ciclo natural das estações, celebradas com grandes fogueiras (é curioso como varia o formato das fogueiras no Brasil: no Sul são triangulares, e no Nordeste são quadradas; isto pode ser aproveitado simbolicamente), e sua simbologia de importância agrícola. Para isto transcrevemos o texto “As Quatro Fases” da mencionada obra de William Bloom, Tempos Sagrados – Ritos de Passagem e Festivais Sazonais:

“Imbolc é conhecido como o primeiro dia da primavera celta. Sua palavra-chave é despertar. Ele indica que a parte mais hostil do inverno já passou e uma nova onda de força vital está pronta para avançar no caminho do crescimento. É como se a Mãe Natureza começasse a despertar de um sono profundo. (...) Esta nova onda de energias vital ainda não pode entrar em ação, mas surgem os sinais e sensações de que ela está começando a se manifestar. Ela avisa o momento certo de começar a preparar a terra para o plantio.

“Beltane (Beltain) celebra o início e o decorrer do ano novo. No começo de Maio a maior parte do trabalho já está feito. O solo foi preparado, o plantio foi feito e agora só é preciso cuidar, tomar conta. Os frutos do trabalho vão começar a se manifestar. As grandes fogueiras de Beltane são acesas e elas clamam por proteção e cooperação, demonstram agradecimento por essa cooperação e celebram a riqueza da vida terrena.

“Lammas (Lughnasa), no começo de Agosto, é quando surgem os primeiros sinais significativos da colheita. Já é possível começar a colher alguma coisa e a maior preocupação é pela segurança e completo aproveitamento da safra. Mais uma vez é tempo de agradecer, mas também de contínua invocação e cuidado.

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“Samhain (Sammain), marca o fim do ciclo agrícola. Este festival acontece no fim de Outubro e também é conhecido como o Fogo da Paz e o final do ano celta. Terminou a colheita. O solo já foi preparado para o Inverno. Os espíritos da natureza, grandes e pequenos, retornam a seu ciclo de contemplação interior. Toda atividade se aquietou e nos preparamos para as longas noites que estão por vir. Faltam muitas semanas até o Solstício de Inverno e quatro Luas até Imbolc, a Primavera e o grande renascimento.”

Tratemos enfim de relacionar tempo e espaço. Existe uma relação entre as faixas dos Trópicos e os Solstícios, que como se sabe, demarcam os limites tropicais pela ascensão reta do Sol. -tal como a linha do Equador é uma faixa central demarcada pelos Equinócios. A inclinação do eixo da Terra (que é causa das Estações) é fundamental para tudo isto, daí ser esta inclinação a mesma da faixa tropical, ou 23,5 graus.*

O Ritmo Diário

Uma forma de acompanhar no cotidiano a estrutura das estações, visando uma conscientização dos ciclos da vida, é se recolhendo para meditar quatro vezes ao dia, buscando assim uma analogia com as mesmas e suas festividades, nos seguintes termos:

Inverno ............................ Meia-Noite

Primavera ....................... Amanhecer

Verão ............................... Meio-Dia

Outono ............................ Entardecer

Os muçulmanos realizam orações cinco vezes ao dia, o que condiz com certa estrutura espiritual do mundo antigo. Mas este ritmo quaternário é perfeito desde o ponto de vista da natureza, da humanidade e do homem futuro. Ele “abre” os períodos do dia e determina um pólo de consciência no alto de cada ciclo, tal como fazemos nos ritos sazonais em relação às estações.

Esta etapas de transição das estações ou do dia, são importantes porque são momentos em que as energias estão em equilíbrio, em estado de mudança para ingressar num outro ritmo. É como se a própria natureza estivesse num estado especial de “repouso dinâmico”.

Se deveria por isto passar a ver os solstícios e os equinócios não como o começo das Estações, mas como o seu ápice. Ocorre ali algo mágico, como no mito do sol se deter que ocorre nos solstícios, quando por cerca de três dias o Sol parece não se mover em sua jornada lateral, uma vez alcançado o seu ponto máximo de declinação, o que segundo alguns teria sido aproveitado por Josué para forjar um milagre (Js 10, 12). Esta fixidez é considerada um momento de poder. Quando está no máximo de luz a data era considerada glorioso, e quando está no seu mínimo, era considerada tenebrosa. Já nos equinócios prevalece maior harmonia e as celebrações têm outro caráter.

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Algo semelhante acontece nas etapas diárias. Meditar à meia-noite (ou apenas orar, como as crianças faziam antigamente) confere maior harmonia no sono e proteção ao espírito (corresponde ao “Fundo-do-Céu no zodíaco pessoal), em meditação profunda e introspectiva.

Meditar pela manhã é aproveitar o melhor momento do dia com energias de pureza e novidade (corresponde ao começo do zodíaco pessoal ou o “Ascendente”), impulsionando o espírito para ser senhor de todo o dia.

Meditar ao Meio-Dia é reabastecer com o máximo de energias solares para encarar uma boa refeição (é o Meio-Céu” no sistema de Casas) e boa digestão, harmonizando-nos para o período da tarde.

E meditar no entardecer representa realimentar o reservatório interior para a noite, período favorável à reflexão e ao recolhimento, assim como à vida familiar (trata-se do “Descendente” no zodíaco particular).

E com isto nutrimos todas as dimensões de nosso ser: o corpo físico pela manhã, o corpo emocional à tarde, o corpo mental à noite, e o corpo espiritual de madrugada.

Devemos meditar por um tempo mínimo de meia-hora de cada vez, e quando possível na Natureza, especialmente ao meio-dia.

* Neste caso, os Pontos Médios do calendário, situados entre os trópicos e os solstícios, teriam uma analogia com o paralelo 30, que possui todavia uma realidade geográfica diferente. Por isto os “Pontos Médios” são muito importantes num calendário tropical. (sic)

Capítulo 11

CALENDÁRIO UNIVERSAL DE ATIVIDADES

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A astrologia permite raciocinar a realidade do mundo em todas as suas instâncias. Sua teoria geral pode ser aplicado a qualquer setor institucional –casamento, economia, política, psicologia, sociologia, etc.– e também ao seu conjunto, como de resto parece ser realmente sua grande vocação.

O que vamos apresentar a seguir serve de base simbólica e, se se quer, mesmo cronológica, para a programação de atividades sociais nas sociedades de molde tradicional ou de “classes cíclicas” (varnashramas, em sânscrito).

Assim, a estruturação social e pedagógica pode encontrar na Astrologia um sintético programa de atividades, a ponto de podermos identificar possivelmente nos signos, novas pistas para o conjunto das atividades dos ashramas (etapas de vida).*

Aplicações astrológicas

A Astrologia contempla em sua estrutura todas estas realidades. E os chamados “elementos” representam atividades fixas:

TERRA = produção/estudo;

ÁGUA = comércio/matrimônio;

AR = administração/pedagogia;

FOGO = religião/aposentadoria.

Temos aqui, portanto, as bases de uma cosmologia social. Enquanto os seus ritmos representariam as fases internas:

CARDINAL = aprendizado;

FIXO = realização;

MUTÁVEL = ensino.

O estudo é “cardinal” por ser o início de tudo. O trabalho é “fixo” porque permite produzir e aprofundar as coisas. E o ensino é “mutável” porque a pedagogia é um processo transformador para quem a exerce e uma doação maior de saber e de experiência, e neste caso se está como que se “despedindo” de um elemento ou classe, através do legado da experiência.

Ou seja: em cada atividade o indivíduo deve vivenciar as três etapas, na medida em que assimila com perfeição cada fase: primeiro como aprendiz, logo como praticante e finalmente como instrutor –exatamente como nos estágios ashrâmicos de vida, ainda que a “aposentadoria” se fundiria aqui com um novo começo ou aprendizado.

O “CURRÍCULO ASTROLÓGICO”

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A combinação destas sete situações produz os (3x4) 12 signos zodiacais. Assim, podemos ver o zodíaco como um calendário sócio-cultural, apto inclusive a estruturar e a “cronometrar” as atividades e suas fases. Observaremos então um possível currículo de atividades baseado no Zodíaco:

Áries = noções espirituais (sermões, culto);

Touro = atividade física e produtiva (trabalhos manuais, jardinagem);

Gêmeos = estudos, investigações (passeios, pesquisas);

Câncer = estudo de história;

Leão = política (estado, governo);

Virgem = saúde (higiene, anatomia, ginástica);

Libra = sociologia, arte;

Escorpião = misticismo, direito;

Sagitário = filosofia, geografia;

Capricórnio = arquitetura, simbologia;

Aquário = tecnologia, comunicação;

Peixes = religião, medicina.

Certo é que estas são apenas algumas visões do tema, que de qualquer modo indica um progressivo refinamento, produzindo uma síntese e uma elevação capaz de conduzir ao estágio seguinte.

UM CALENDÁRIO ZODIACAL

Já numa programação cultural ao nível de ashramas, um modelo vitalício poderia ter o seguinte perfil:

A. Conhecimento ou “Elemento TERRA”:

Nível 1: Cardinal = saber/atividade naturalista;

Nível 2: Fixo = saber/atividade produtiva e social;

Nível 3: Mutável = saber/atividade empreendedora.

B. Matrimônio ou “Elemento ÁGUA”:

Nível 1: Cardinal = sexualidade instintiva;

Nível 2: Fixo = sexualidade afetiva;

Nível 3: Mutável = sexualidade sublimada.

C. Administração ou “Elemento AR”:

Nível 1: Cardinal = administração municipal;

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Nível 2: Fixo = administração estadual;

Nível 3: Mutável = administração nacional.

D. Sacerdócio ou “Elemento FOGO”:

Nível 1: Cardinal = iniciação de probacionários;

Nível 2: Fixo = iniciação de discípulos;

Nível 3: Mutável = iniciação de adeptos.

Note-se que as etapas 1 e 3 (como também de certo modo também as etapas 2 e 4) são pólos complementares: um aprende e outro ensina. Para não repetir os temas, diversificamos as atividade do item 3.

Assim, todos os ashramas têm os três momentos, sendo simplesmente as três etapas técnicas de qualquer realidade: começo, meio e fim; ou aprendizado, prática e perfeição. As quatro castas, com sua três etapas cada uma, perfazem doze fases que podem ser expressas portanto em termos zodiacais.

Não se define claramente aqui a natureza dos signos, mas sim as atividades; embora aqueles se achem sugeridos pelos elementos que encabeçam os ternários. Para uma análise mais detalhada desta versão zodiacal com signos agrupados por elementos, ao “molde das Estações” e do zodíaco chinês, ver nossa obra O Calendário Astrológico [Cap. “As Etapas Astrológicas da Vida (varnashramas)]”. E para uma visão do Zodíaco corrente como calendário de atividades ashrâmicas, ver Brahmanismo - a Síntese social (Cap. “Uma Programação Zodiacal”).

Calendários de atividades

Este quadro de atividades é, portanto, antes de tudo simbólico e não possui uma aplicação cronológica imediata, ainda que possua certamente a sua cronologia ideal, e que seria num primeiro momento de 12 anos –coisa a rigor, e em princípio, apenas acessível aos “deuses” (avatares). Não obstante, é preciso respeitar as vocações reveladas e os ritmos pessoais, sem impedir o acesso àquilo que a natureza pessoal determina e da forma como o solicita.

No geral, as dificuldades para superar uma etapa podem representar um limite pessoal, e determinaria uma casta, até em definitivo, embora os esforços para progredir possam continuar. Neste caso, qual o registro de tempo a empregar?

Investiguemos inicialmente o ritmo diário para fins escolares. Todo o tipo de aprendizado, realização e ensinamento, deve ser combinado, de forma rítmica, de modo ao indivíduo poder se sobressair na sua vocação. O zodíaco apresenta uma espécie de programa de atividades, oferecendo inclusive linhas gerais para um calendário cotidiano que, a depender do calendário vital adotado (ver abaixo), pode ir até os 21 anos ou mais. As notas que os estudantes alcançam nas matérias, permitiriam ter uma idéia sobre a sua vocação e casta final.

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Este currículo didático de base zodiacal pode ter por base o zodíaco domal, chamado “sistema de Casas” (o tema é avaliado criticamente em Capítulo específico), cujo início ocorre ao amanhecer (ou no “Ascendente”). É claro que as horas noturnas não permitem atividades de vigília, podendo ainda assim receber uma “programação” subjetiva (tarefas “astrais”).

Logo, devemos eleger um calendário mais amplo para a existência, por assim dizer, nas etapas/estágios de vida.

Em termos ideais, é possível que o ciclo de 120 anos surja como uma primeira sugestão óbvia, aproveitando a base zodiacal 12. Ele está presente na Bíblia (idade do homem pós-diluviano) e nas modernas considerações da ciência, sendo usado na China (com base na revolução de Júpiter de 12 anos e os cinco elemento, repetidos 2 vezes, ou 12x5x2). Neste caso, suas subdivisões principais (elementos/classes) seriam de 30 anos e as secundárias (ritmos/estágios) de 10 anos.

Como isto soa ainda impraticável em nossos dias, mais realista seria o ciclo de 60 anos, metade do anterior e também usado no Extremo Oriente (sem a mencionada duplicação ou 12x5), como “alternativa” para o Kali Yuga (“Idade Negra”), onde os humanos vivem menos. Matematicamente, teríamos então (quatro) ciclos de 15 anos e sub-ciclos de 5 anos.

Estes, por sua vez, soam algo curtos: conclusão do trabalho/estudo aos 15 anos? Final do matrimônio aos 30? Existem opções, como a de valer-se do ciclo de 72 anos (corresponde a um grau do ciclo sideral), mantendo 12 anos iniciais como uma etapa formativa elementar, e dispondo sobre ele os 60 anos mencionados com as divisões dadas. As datas-chave seriam: fase 1: 13-27 anos; fase 2: 28-42; fase 3: 43-57 fase 4: 58-72 anos. Soa mais adeqüado, embora também leve os primeiros ciclos de vida para um pouco distante.

Outro ciclo astronômico que adquire importância é o 84 anos, da revolução de Urano (planeta considerado como regente astrológico da Nova Era), que se divide por quatro em 21, 42, 63 e 84 anos. A “maioridade” aos 21 anos já tem sido observada e parece bom para o casamento. O valor 42, vinculado aqui à instrução/política, também soa paradigmático nas escrituras, assim como o 43 em ciclos orientais conhecidos (embora não como metade de ciclo, mas como conclusão, o que sugere outra estrutura). Os 63 anos dariam início à aposentadoria/sacerdócio, quando o indivíduo se dedica à sabedoria e ao conselho geral.***

Em outras partes dedicaremos maior atenção a estes ciclos. De qualquer forma, estas idades são gerais e devem obedecer a certas cronometrias espirituais, que podem alterar em função da própria casta e sua preparação interior (“velocidade evolutiva”).**

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* Ver também “Esboços para um Calendário de Produção”, adiante. Sobre o varnashrama, remetemos o leitor às nossas obras sociológicas, especialmente Sociologia Universalista, Brahmanismo e A Árvore da Tradição.

** A idéia da “aposentadoria” nesta fase soa a uma adaptação face a situação racial árya, onde as instituições do clero não estavam ainda bem estabelecidas. Na nova raça isto muda e o sacerdote pode seguir detendo uma função social maior.

*** Em Brahmanismo -a Síntese social (Cap. “Ciclos Ashrâmicos”), Ed. Agartha, apresentamos também os ciclos em termos de manvantara, ou seja, sem a simetria regular dos zodíacos, seguindo antes um plano clássico de progressão iniciática.

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Parte IV

TRANSPOSIÇÃO HEMISFÉRICA

Capítulo 12

O RESGATE DO PADRÃO MERIDIONAL

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Astrologia não é apenas convenção, mas experiência viva. Rudhyar reúne ambas as coisas na seguinte colocação:

“Quando falo (dos signos), estou falando em termos de símbolos carregados do poder psíquico de incontáveis gerações de seres humanos que viveram no Hemisfério Norte, onde a astrologia usada na Ásia e na Europa nasceu como um sistema de símbolos baseada nas experiências típicas dos povos norte-hemisféricos.” (Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, pg. 13)

Não é, portanto, apenas o atavismo que está em questão, mas também a experiência diária, introjetada certamente no inconsciente coletivo por repetição contínua, até formar uma “aura grupal”; na visão deste autor. Observemos agora o seguinte parágrafo, fundamental para toda a nossa tese de uma astrologia tópica:

“Dissociar a astrologia do estado da cultura e da sociedade no qual o astrólogo vive e efetua seus cálculos e interpretações não tem sentido. Todo sistema conceitual tem de ser compreendido em termos das condições de vida –sociais e pessoais, além das geográficas– das pessoas que agem, sentem e pensam. A ‘verdade’ ou, antes, a validade de uma ação ou de um pensamento só pode ser aferida em função do quadro sócio-cultural mais amplo e, mais profundamente, com referência a uma só fase específica da evolução da humanidade ou, pelo menos, de parte da humanidade.

“Como em geral isso não se faz, ou só é feito com a distorção resultante de se projetar nosso presente estado de consciência sobre as mentes e os sentimentos dos homens antigos ou de outras raças, daí resulta muita confusão.” (Dane Rudhyar, As Casas Astrológicas, pg. 10)

Vale apenas considerar que isto também se estende às raças muito novas ou em formação, e não apenas (talvez até nem tanto) às antigas.

Portanto, a bem da verdade, as Estações tampouco são meras referências simbólicas, mas embasamentos psíquicos úteis para uma experiência superior focalizada alquimicamente através das datas religiosas. Do contrário, se o mais importante fosse a convenção, não haveria problemas em adotarem todos as correlações do Hemisfério Sul. Mas, logo se buscaria “justificar” o status quo astrológico com o fato de 9/10 da população mundial situar-se no Hemisfério Norte.

Vejamos a sequência de opiniões do investigador J. L. San Miguel de Pablos:

“1. Não vejo como se poderá defender a inversão dos signos no outro hemisfério da Terra sem pôr ao mesmo tempo em questão a unidade fundamental do Inconsciente Coletivo do gênero humano que, para mim ao menos, dimana da unidade profunda da própria humanidade por cima de qualquer enfrentamento, por doloroso e terrível que possa ser. Penso que sem essa unidade do Inconsciente –quer dizer, de seus Arquétipos essenciais– a humanidade como tal, simplesmente não existiria.

“Agora bem; as nove décimas partes dos humanos vivem no Hemisfério Norte, e a desproporção há de ter sido ainda maior no passado. Isto, longe de ter algo a ver com nenhuma ‘superioridade’ dos habitantes da metade norte do mundo, resulta estar simplesmente condicionado pela repartição de mares e continentes no Globo. Então, se a imensa maioria de seres humanos têm vivido e criado cultura –

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no mais profundo sentido– precisamente no Hemisfério Norte, é natural que na formação desse Inconsciente Coletivo único que se reflete na simbólica astrológica, tenham sido eles que tenham marcado a pauta quanto à ordem dos signos do Zodíaco. E que a humanidade inteira –a antropomassa total– se banhe em um mundo de arquétipos que têm surgido contemplando antes de tudo os céus boreais.

“2. Se o Zodíaco deve ser considerado como um campo, então se lhe deve poder identificar por um único vetor perpendicular à órbita da Terra. E de nenhum modo caberia, em tal caso, que estivese qualificado inversamente em um e outro hemisfério.” (em Espacio y Simbolo en Astrologia, pg. 196)

Percebe-se que as opiniões são em geral extremadas –senão francamente equivocadas, seja mediante interpretações particulares ou confusão de esferas. De início, o verdadeiro foco setentrional da cultura se deve à expressão espiritual árya relacionada a este hemisfério durante os últimos cinco mil anos da Terra. No outro Capítulo voltaremos a este assunto.

O segundo item confunde dois tipos de zodíacos: os questionamentos acerca da inversão de signos não costumam incluir o ciclo sideral, mas somente o solar ou tropical. Explicamos.

O zodíaco sideral é uma esfera que atua realmente de forma unificada para todo o planeta. Trata-se, afinal, de um ciclo que não se relaciona ao indivíduo e nem à coletividade, um zodíaco cósmico que não se conecta diretamente ao solar, senão de forma simbólica e parcial. Pode-se, todavia, salientar a dupla divisão entre zodíaco e casas, que se repete a nível sideral e solar/diário, gerada pela dupla questão precessional. Os pólos representam fatores de unificação, mas nem tudo nesta esfera é setentrional. Está comprovado que, em termos cósmicos, existe um pólo norte cósmico, e em termos terrenos existe um supremo pólo magnético ao sul (sujeito não obstante a ser alterar ciclicamente). Nisto, caberia se considerar possíveis vínculos entre a natureza inversa destes pólos e os zodíacos opostos.

Neste aspecto, os astrólogos dividem-se também em duas correntes: os sideralistas baseam-se na estrutura do Zodíaco sideral, considerando-o sujeito às determinações do ponto vernal como fator original ou causal; e os tropicalistas usam diretamente um zodíaco solar matemático, vagamente baseado nas Estações.

Na verdade, é discutível se este zodíaco subjetivo, que teria talvez uma ordem matemática, não estaria igualmente sujeito às distorções astronômicas. De fato, apesar de expressar elementos subjetivos, também poderia estar diretamente vinculado à realidade física, representando isto uma vez mais a tradicional fórmula de correspondência (do tipo “assim como é e cima é em baixo”). A Doutrina de Maitreya reúne uma série de opostos desta natureza: interior/exterior, passado/futuro, masculino/feminino, superior/ inferior.* Um ou mais destes pares de opostos poderiam se enquadrar no tema em questão.

O calendário não poderia ser simétrico e meramente matemático, em toda a parte, porque certas atividades seguem o ritmo das estações. Há coisas que no entanto são fixas e universais, como o tempo da gestação e mesmo os ritmos agrícolas (o que pode ser não obstante variável em número, segundo as latitudes).

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Da mesma forma, o relógio cósmico não é um tema pacífico, e se discute o verdadeiro início das Eras. Pois na verdade, todo o sistema astrológico está sujeito a profundas reformulações e é merecedor de questionamentos.

Assim, apenas a primeira parte mereceria maiores considerações. Porém, acaso o “Inconsciente Coletivo” seria assim tão unificado? Ou seria fruto de uma cultura racial, mais ou menos regionalizada, como sugerem certas teorias esotéricas? E que, como também demonstra Dane Rudhyar, o Zodíaco seja realmente desprendido, em parte ao menos, mas de forma básica, das Estações e portanto da experiência regional, mais que da contemplação dos céus” desde qualquer parte do mundo?

No que se refere à primazia humana “setentrional”, os argumentos são certamente fortes. E vamos mais longe, é possível até que o próprio sistema astrológico tenha sido criado no Hemisfério Norte. No entanto isto não impediu que ele fosse usado no Sul, e com todas as regalias locais a que tem direito –a menos que se prove que a rica Astrologia Andina emprega critérios exóticos, o que nos parece bastante duvidoso, posto tratar-se de civilizações tão antigas, originais e sábias. José Arguelles, estudioso de calendários americanos e geografia sagrada, chega a afirmar em A Ascensão da Terra que a Porta do Sol de Tiwanaco representa um calendário para o Hemisfério Sul. Quem há de dizer também que as figuras de Nazca, que muito provavelmente são signos astrológicos, sirvam para exaltar um zodíaco setentrional (considerando se tratar de um ciclo solar)?

Felizmente o Hemisfério Sul não é uma “terra de ninguém” e nunca o foi. Pelo contrário, pensamos que o estudo destas antigas manifestações possa ajudar a desenvolver uma vez mais as bases de uma profunda cultura austral.

De resto, não está provado que parte da cultura meso-americana não tenha originado dos Andes. Pois ainda que as evidências sejam mais fortes em favor da influência extremo-oriental (como torna indiscutível obras como A Imagem Mítica, de Joseph Campbell), a partir da função daquela cultura pelo povo-jaguar olmeca, nem por isto pode-se descartar elementos andinos na cultura mexicana, a partir da própria raça maia, cuja origem é ainda desconhecida, mas que para nós carrega traços de povo montanhês (apesar de viver nas planícies do Yucatan) e seriam assim aymarás descidos dos Andes centrais (aliás ayma = maya?). Na verdade, pesquisas recentes têm observado contatos com a área do Equador já nos primórdios da olmeca, cultura que caberia comparar com a do povo-jaguar da América do Sul, a colombiana Chavin de Huantar. Não obstante, tanto o Equador como a Colômbia, encontram-se acima da linha do Equador (calendário setentrional?).

Nisto, é claro que o argumento colonialista trata de se impor:

“A cultura européia se espalhou por todo o globo, através das conquistas, invenções e expansão econômico-industrial. Onde quer que esta cultura tenha dominado povos e terras, onde a linguagem, os símbolos e as tradições européias formaram a mentalidade coletiva e a imaginação das pessoas, também os símbolos astrológicos se implantaram na psique coletiva dos seres humanos –como fez a religião cristã e outras religiões cujos fundadores também se originaram no Hemisfério Norte” (Rudhyar, Op. cit., pg. 13).

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A recordação final não deveria ser casual. O foco espiritual deveria ser apresentado como o único fundamento legítimo para a universalização de um padrão cultural -e mesmo assim sob o apelo “esotérico” dos ciclos e, nisto, dos limites. Todo o sistema astrológico acompanha datas-chaves espirituais e ciclos calendáricos raciais, sendo disto que tira a sua validade original, ou suas “energias” profundas. É isto que pode dar certa validade universal a um sistema astrológico, na medida em que se acate uma religião vinculada a tal sistema, reduzindo-se outrossim quase meramente a nível de símbolos, sejam os signos ou as datas, e pouco a realidades vívidas.

Nisto, Dane Rudhyar reconhece certas dificuldades para a adoção deste sistema astrológico no Hemisfério Sul. No entanto, reafirmando situar-se na linha puramente simbolista, declara a primazia da convenção e do atavismo, pelo valor universal do sistema atual em função do ciclo cultural vigente (?) – assim como, é claro, na “funcionalidade” da Astrologia atual.

Tal posição apenas seria aceitável na medida em que se acata a cultura norte-hemisférica como matriz: Ásia, Europa e agora Estados Unidos, “renunciando-se” à unidade cultural local. No entanto, se o próprio ritmo da vida determina que também deva haver uma transição cíclica de pólos culturais no planeta, e que este calendário aponta como o novo foco outro hemisfério, torna-se necessário considerar seriamente a alteridade (= “aquilo que diz respeito ao outro”) histórica. E nisto, a própria astrologia detém recursos para asseverar acerca das realidades cíclicas dos hemisférios -ver a nossa “A Mutação do Mundo” de Yves Christien (Ed. Pensamento, SP) e a nossa obra “O Oráculo de Gaia” (Ed. Agartha, AP). Adiante desenvolveremos este tema.

E a conclusão é a seguinte: se as bases estão deformadas, todo o conjunto está comprometido. A razão pela qual o sistema setentrional “funciona” aparentemente aqui no sul, segue sendo misteriosa (sem descartar todos os argumentos acima estudados). Mas uma possível explicação estaria na questão dos eixos zodiacais, que aproxima ou complementa os valores dos signos opostos, trazendo uma chave importante em relação à validade dos signos no outro hemisfério. Por isto o tema da complementaridade dos signos opostos (ou doutrina de “luz-e-sombra”) também será abordado na continuação.

* Ver a respeito em nossas obras “Tushita - o Reino da Felicidade” (IBRASA, SP) e “Dharma - a Canção da Vida” (Ed. Agartha, AP).

Capítulo 13

UMA BRECHA DA PRAXIS ASTROLÓGICA

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O título acima diz respeito não diretamente a uma falha do sistema astrológico, mas a uma abordagem “clássica”, ainda que polêmica e que incidentalmente também contém falhas (que serão igualmente analisadas na seqüência), capaz de corroborar as nossas propostas sobre distorção zodiacal.

Pois, se aprofundamos a análise das coisas, parece que torna-se insustentável a intransigência contra a alteridade astrológica, e descobrimos que a resistência dos eruditos e dos práticos contra a adaptação zodiacal não é infinita.

As Distorções Domais

Assim é que, quando se depara com questões técnicas incontornáveis, existentes dentro da própria prática astrológica, Rudhyar (visto também como um grande teórico e um dos poucos que tem refletido mais séria e imparcialmente sobre estas questões), considera seriamente a necessidade de levar em conta a alteridade hemisférica. A questão aparece especialmente através dos métodos empregados para levantar o zodíaco domal de 24 horas chamado sistema de Casas, associado à evolução individual-biológica.

Ora, nos meios mais usados, as Casas não apenas são invertidas nos hemisférios norte e sul, como ainda sofrem distorções na medida em que o horóscopo é levantado em diferentes latitudes dos hemisférios. Ambas as questões são de grande interesse para nós, embora neste momento focalizemos apenas a primeira delas. Eis a conclusão do sábio:

“(...) precisamos levar em consideração que cada hemisfério da Terra e as regiões polares precisam ter seu próprio tipo de astrologia. Quando nada, temos de reinterpretar alguns dos fatores astrológicos básicos na relação das situações astronômicas em cada uma dessas regiões.” (Rudhyar, As Casas Astrológicas, pg. 42, Ed. Pensamento, SP)

O sistema de casas representa um dos cálculos astrológicos em que os recursos da astronomia são levados mais em conta, para além de convenções e generalidades. E como se percebe, as consequências práticas disto são avassaladoras. Aqui não existe argumento colonialista, porque seria insustentável chamar o poente de “Ascendente” e o nascente da “Descendente” –a própria linguagem denunciaria o descalabro. Isto apenas não se estende ao zodíaco solar –que tampouco chega a representar nenhum dogma religioso–, porque os astrólogos não estão habituados a relacioná-lo com as Estações do ano e a calculá-lo também em termos topocêntricos. Mas pode ser uma simples questão de tempo para tal coisa acontecer.

O cálculo as casas dependem inteiramente da latitude, e da hora local. Por esta razão, para o levantamento das casas é necessário determinar também o local do acontecimento, numa das raras situações em que a astrologia inclui o elemento geográfico em seus cálculos. Assim, a problemática das Casas pode ser usada como referência para um novo modelo zodiacal telúrico.

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Emma de Mascheville, baseada em sua longa experiência, questiona a teoria do Zodíaco enquanto um “sensitivo atmosférico” sujeito a ser invertido em cada hemisfério. A validade universal do sistema setentrional certamente tem se afirmado por convenção. E pergunta, no final: “Como será então para os que nascem no Equador e nos Pólos?” (op. cit., pg. 21)

Certamente ela não se referia unicamente à faixa do Equador e aos pontos dos Pólos, porque senão seria esta uma falsa questão, uma vez que, como centros ou limites que são, o Equador e os Pólos são territorialmente insignificantes. Pode ser até difícil saber exatamente onde ficam se não estiverem bem demarcados –e isto, na medida ainda em que alguém lá possa vir a se preocupar com tais assuntos (os esquimós, por exemplo, estão tão preocupados com a própria sobrevivência que até transformam os seus idosos em comida de ursos).

Aliás, se alguém nasceu exatamente sobre o Equador, terá certos problemas para levantar um horóscopo tradicional, onde as Casas se invertem nesta faixa, embora não seja exatamente este o principal foco da polêmica em torno deste sistema, como veremos adiante.

De resto, o problema seria semelhante àquele com que a Astrologia comumente se depara no tocante às pessoas que nascem na passagem entre signos ou casas. A existência de zonas de umbral é inevitável e são, como se sabe, um campo interessante de dualidade ou mistura de energias. Não obstante, a sua existência não compromete o conjunto do sistema, uma vez que se trata apenas de uma passagem ou umbral –tema, aliás, que poderia soar familiar à criadora do sistema de eixos zodiacais como “luz e sombra”.

Na verdade, aquilo à que referia a sábia (e devemos lembrar que Emma era de origem alemã e tinha certas dificuldades com o idioma local), diz respeito à todas àquelas vastas faixas incluídas como região de clima equatorial e região de clima frio/polar, onde inexistem as quatro estações, mas apenas duas, e ainda com distorções extremas de temperatura: quente e tórrida no primeiro caso, e fria e gélida no segundo caso.

Não se trata, pois, apenas da existência de padrões norte e sul, que se invertem na altura do Equador (posto serem as Estações opostas nos dois hemisférios), mais ou menos como ocorrem com os ventos que mudam de direção nesta região de forma algo abrupta.

Acontece que, mesmo dentro de cada hemisfério, também existe uma distinta distribuição climática, tendo como extremos os climas do Equador e dos Pólos. E isto comprometeria a aplicação da estrutura do Zodíaco como realidade climática-sazonal nestas áreas.

Mas, quem pode dizer que não é exatamente isto que acontece (ao menos em parte, como veremos)? Acaso as estruturas psíquico-grupais destas regiões não serão realmente diferentes (talvez mais simplificadas)?

Lembremos que existem três zodíacos representando distintas esferas de consciência: Personalidade, Alma e Espírito. São os três elos do Ser, ou a Trindade no ser humano.

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Ora, a distribuição na Terra destes três zodíacos é desigual, embora harmônica: cada um é perfeito em cada região! Nisto, podemos estar observando idéias como as neo-platônicas da diversidade-na-unidade e da variedade das formas para configurar a complexidade do Plano divino (ver Plotino, Enéadas) -o que se relacionaria ao Espírito Santo. Aquilo que diz respeito à natureza das almas e aos “planos” celestes, certas doutrinas também aplicam ao destino terreno: cada alma encarna numa região a ela afim ou se manifesta através dela.

A realidade solar é, portanto, apenas uma das bases do Zodíaco, e num dado nível, que é o anímico-coletivo -porém, neste plano pode ser até a mais importante. Existem outras explicações para o Zodíaco, embora possam ser às vezes mais abstratas. Por outro lado, não há como negar os fatos, ou seja: que a diversidade climática enriquece o caráter humano.

Ora, o Zodíaco apenas tem sentido enquanto realidade humana (os signos animais são apenas simbólicos). De modo que qualquer questão que empobreça a diversidade e a riqueza do caráter humano (como pode ser o clima), compromete inevitavelmente a estrutura zodiacal.

O que acontece então com o zodíaco neste nível? Ora, a faixa psicológica também fica deslocada e deformada, para extremos –ou seja, tal como acontece no sistema de Casas astrológicas. Por esta razão é que, ao observar os costumes dos nordestinos, por exemplo, parece se estar a ver “pessoas de outro mundo”, tal a distância cultural com os sulistas, por exemplo. Apesar de se situa no mesmo hemisfério austral, o calor permanece no inverno com todos os seus costumes (praias, festas), parecendo quase outro hemisfério.

À primeira vista pareceria absurdo pensar que nestas regiões inexistem os signos zodiacais completos ou estariam deformados, porque o espectro climático se acha reduzido. No entanto talvez seja exatamente isto o que aconteça, ao menos em relação ao zodíaco solar, que é aquele que diz respeito à evolução coletiva ou social, à integração da consciência ou à evolução da alma.

Neste caso, os signos estariam sujeitos à uma ampla desproporção conforme a época do ano. Na região do Equador, os signos de Verão e Primavera seriam mais amplos que os de Inverno e de Outono, ao passo que na região dos Pólos se inverteria a equação. É mais ou menos isto o que acontece com o sistema de Casas, através das variantes de luz e sombra nos dias e noites nas diferentes latitudes. Tal distorção apresenta no entanto algumas exceções temporais e geográficas:

“Essa ‘distorção’ só não aparece na primavera e no outono, ou quando nos encontramos no Equador.” (Bruno e Louise Huber, As Casas Astrológicas, pg. 36).

Fora o Zodíaco solar (12 meses) relacionado à alma e ao coletivo, existem também o sistema de casas (24 horas), que é um zodíaco pessoal ou biológico, e o zodíaco mundial ou sidéreo (26 mil anos), que é uma esfera espiritual.

Pois bem, no caso do primeiro, os astrólogos acatam bem as deformações telúricas que este zodíaco sofre (em função da realidade astronômica, portanto). Ora, porque não reconhecer também a mudança telúrico-astronômica do zodíaco solar das Estações em direção aos pólos? Aqueles que aceitam um sistema de casas “deformado”, também

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deveriam aceitar outros zodíacos “irregulares” (e não estamos falando aqui dos astrônomos, com suas teorias peculiares sobre as teses astrológicas).

Os astrólogos são certamente mais criterioso nos cálculos do sistema de Casas. Com isto, percebem que, nos pólos, a deformação do ano solar também altera dramaticamente (na verdade quase anula) a proporção diária de luz e sombra, a ponto de existirem apenas duas estações no ano, sendo os dias sempre claros por seis meses ou sempre escuros nos outros seis meses. A ponto de se poder dizer que nem é o dia que muda: é o ano. Dias e noites sequer existem – e são óbvios os transtornos biológicos e a necessidade de adaptação dos seres vivos a estas condições.

“(...) no círculo Ártico e acima dele –bem como no Antártico– os mapas astrológicos assumem uma forma muito peculiar, e em muitos casos nem podem ser feitos, porque durante vários meses o Sol não se levanta nem se põe.” (Rudhyar, Op. cit., pg. 41)

Ou seja, como levantar um zodíaco baseado nos ritmos de luz e sombra, se o Dia e a Noite não aparecem? O autor inclui que sequer os planetas são perceptíveis nestas altas latitudes, apenas as estrelas.

Diz Alexander Rupertti em A Roda da Experiência Individual:

“Quando desejamos estabelecer um tema para as proximidades dos pólos, visando longos períodos em que o Sol não se levante ou não se ponha, os sistemas de domificação habitualmente empregados não funcionam. A distorção (função da latitude), ocasionada pela projeção do círculo das Casas sobre o círculo do Zodíaco, é exagerada a tal ponto que podemos encontrar quatro ou cinco Signos nos limites de uma só Casa, enquanto outras Casas contém apenas 8 ou 9 graus de um mesmo Signo.” (pg. 11)

Assim, próximo aos pólos, os horóscopos teriam, de um lado, alguns Signos contendo vários temas (Casas) e, de outro lado, as restantes Casas contendo as outras seções zodiacais (Signos), com uns poucos segmentos equilibrados na faixa de transição. As implicações disto, na interpretação astrológica, é que alguns assuntos teriam grande complexidade psíquica e outros seriam muito pobres, enquanto que alguns signos teriam enorme versatilidade e múltipla disposição e outros seriam rígidos e inflexíveis. Ou seja, algumas dimensões e áreas da vida seriam superenfatizadas e enriquecidas, enquanto outras seriam deprimidas e empobrecidas

O autor acrescenta que, em função disso tudo, na Alemanha muitos astrólogos simplesmente deixaram de utilizar o sistema de Casas! Mais comumente, este quadro tem levado a reformulações da prática astrológica, de modo que em algumas regiões se chegou a estabelecer um sistema fixo de casas na natureza do zodíaco matemático:

“Nos países nórdicos –e na Inglaterra– o problema da domificação levou ao emprego do que se chamou de Casas iguais.” (Ruperti, Op. cit., pg. 11)

Tal coisa naturalmente pode por em xeque a verdade astrológica –isto é, qual seria o meio (mais) correto (no Capítulo seguinte, pretendemos aprofundar mais o assunto). É interessante que, no caso das Casas astrológicas, Rudhyar não aceita um sistema simétrico e matemático baseado apenas no horizonte, à semelhança do empregado para o zodíaco solar:

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“Usar só o horizonte como base de referência equivale hoje a considerar a posição deitada como a única significativa para o indivíduo.” (As Casas Astrológicas, pg. 41)

Em O Ritmo do Zodíaco, Dane Rudhyar afirma que “o Espírito é a totalidade da atividade cíclica.” (pg. 104) Complementa dizendo que “esta totalidade é imparcial e constante em sua qualidade de vida porque contém as energias complementares num estado de equilíbrio” (pg. 105), de modo que os momentos dos equinócios seriam especialmente espirituais ou, no seu dizer, “portas de iniciação”. Como sabemos, o equinócios são as principais bases para os cálculos zodiacais no geral. Preferimos assim não destacar aqui o termo “espírito” e optamos pela qualidade da integridade, aplicada aos três grandes níveis conscienciais humanos: Personalidade, Alma e Espírito.

Consideremos então a seguinte situação: o indivíduo nasce “em trânsito” num local de grande distorção temática, passando o resto da vida numa região tropical. O que terá mais importância e veracidade: a foto de nascimento ou a do crescimento atual? A Astrologia poderia dizer que ambas as coisas têm valor, e que especialmente nestes casos é preciso comparar a carta natal com as suas revoluções (solar, lunar e outras) periódicas. E isto serviria para testificar a importância das revoluções na astrologia.

Adiante apresentaremos uma análise criteriosa das regiões do planeta segundo as suas realidades zodiacais e níveis médio de consciência, nos termos acima dados.

Capítulo 14

SOBRE O SISTEMA DE CASAS

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Devemos aproveitar a ocasião para analisar alguns quesitos polêmicos acerca do sistema de Casas, não apenas da forma como é levantada no Hemisfério Sul, mas em toda a parte. Afinal...

“As casa são o elemento astrológico mais contestado pelos Astrólogos e o de mais difícil compreensão pelos leigos, porque engloba e descrevem toda a vida exterior.” (Huber, Op. cit., pg. 35)

Visão Crítica do Sistema

Não é apenas a dubiedade gerada pelas “opções” de sistemas de Casas que merecem uma análise crítica, mas também a sua estruturação básica. Como veremos, a questão da transposição hemisférica (e ainda mais que isto) merece novamente uma abordagem analítica.

A rigor, a interpretação astrológica leva muito pouco em conta o fato das Casas representarem o ciclo diário, a não ser na sua estruturação astronômica geral. E nem se a interpreta verazmente como sendo um calendário cotidiano (ou um relógio solar). E acaso isto seria possível? Os horários atribuídos às Casas, impede o seu uso como um calendário diário, como demonstra a análise temática das Casas. Afinal, as incongruências logo se apresentam –que faz a “Casa do Trabalho” no horário das 2 à 4 da madrugada, por exemplo? Mas ninguém questiona o sistema e sequer investiga a sua estruturação. Para piorar, existem as mencionadas distorções regionais.

Na verdade, sendo casas temáticas, as horas noturnas têm pouco a ver com atividades propriamente ditas e não poderiam ser adequadamente preenchidas, a não ser em temos simbólicos, como de resto se faz mesmo neste nível astrológico.

O problema é que a análise do sistema de Casas em vigência, demonstra que ele possui uma estrutura simbólica oposta ou em desacordo à do calendário solar, o qual seria por sua vez uma espécie de paradigma astrológico. O curioso é que esta anomalia ocorre, neste caso, em ambos os hemisférios!

Este equívoco parece alterar o valor das Casas. Assim, uma visão de conjunto demonstra existir uma incoerência, se assim se pode dizer, entre a simbologia solar e a das Casas, fato notável especialmente na simbologia dos solstícios.

Observemos o seguinte: o Trópico de Câncer representa o (clímax do) Verão (no Hemisfério Norte, é claro). Numa analogia com o dia, teríamos com certeza por correspondência o horário do Meio-Dia. E no caso oposto, Capricórnio, cujo solstício determina a maior noite, deveria ser comparada ao horário da Meia-Noite no esquema domal.

No entanto, Câncer corresponde à Casa IV no sistema domal, a da família e bens-de-raiz, no Fundo-do-Céu ou à Meia-Noite. E a Casa análoga à Capricórnio, à Casa X, no Meio-do-Céu e ao Meio-Dia! Citemos:

“A vontade de amalgamar dois sistemas de doze fatores tem tido curiosas implicações sobre o plano simbólico, em especial para Câncer e Capricórnio, que são mais afetados. De tal sorte que (através da analogia com as Casas) se

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encontram no canceriano partes próprias do verão e outras da noite, e no capricorniano partes própria do inverno e outras do dia.” (Halbron, Las Claves de la Astrologia, pg. 39)

Não que inexista tal dualidade nos signos. Mas o fato é que com isto se quebra o preceito de analogia que sustenta o próprio edifício da astrologia. Haveria fórmulas, não obstante, para se corrigir a situação.

Como vimos, aos domificações do Hemisfério Sul devem ser invertidas na Tábua de Casas. Neste caso, se não fizéssemos esta transposição, tudo ficaria bem nos termos da analogia acima formulada, configurando através da correlação Meio-Dia/Solstício de Verão” a premissa tradicional “assim como é no superior é no inferior”. No entanto, a inadequação permaneceria no Hemisfério Norte. De modo que, neste caso, todos os cálculos atualmente realizados para definir as Casas, devem ser invertidos em todas as partes.

Aparentemente, a adoção de um padrão de Casas similar ao zodíaco astronômico seria uma aparente solução uma vez que, situado no lado direito do horóscopo, ele sobe a partir da linha do Ascendente. Esta possibilidade tem sido aventada:

“A forma como os astrólogos dispõem as Casas no círculo tem sido vivamente criticado por um deles, León Lasson (Traité d’astrologie moderne, Ed. Claude Depaire, 1954, p. 38), porque fazem partir a Casa I por baixo do horizonte, e não por cima.” (Halbron, Op. cit., pg. 38)

“Tal como tem mostrado Jacques Dorsan, baseado em Cyril Fagan, convém situar as primeiras casas por cima e não por baixo do horizonte, de modo que o simbolismo da invisibilidade seja resguardado para a ‘morte’ e as ‘viagens’, já que ambas correspondem a um ‘eclipse’, a um ‘desaparecimento’. Sendo a morte uma ‘colocação sob a terra’, um enterramento.”

“(Também) pensamos ter existido um sistema de correspondências entre as casas e as partes do corpo humano. Assim, pois, as casas colocadas sob o horizonte, estariam em conexão com a zona inferior do corpo que seria a parte ‘escondida’. O sexo, que corresponde à casa VIII, pertenceria assim à parte ‘invisível’.” (Jacques Halbron, Revista Mercúrio-3, Primavera 1994, Espanha)

Embora os astrólogos tenham os seus próprios postulados, eles não desprezam a astronomia. Vale lembrar então que os astrônomos iniciam o zodíaco no lado direito da carta, observando a tradição do Sol nascer no Leste. Deste modo, ao invés de descer no rumo noturno (embora as Casas subam desde o Fundo-do-Céu), os signos iniciam subindo a esfera celeste, em direção ao Meio-Dia, tal como a Primavera é seguida pelo Verão, de modo que ali no alto acharemos a Casa IV. Esta seria, pois, a disposição correta do sistema de Casas, senão do próprio zodíaco – e talvez fosse mesmo mais condizente chamar de “Ascendente” a cúspide de uma área que subisse sobre o horizonte.

Este novo modelo de horóscopo, teria, portanto, a Casa IV como Meio-do-Céu, acarretando certamente numa outra interpretação nas relações de luz e sombra e até uma redisposição dos signos e planetas na Casas. Basicamente, o arco inferior relacionado ao Eu seria iluminado estaria agora na luz e o arco superior relacionado ao Outro estaria agora na sombra. Ora, é fácil situar a consciência na luz e o “inconsciente coletivo” na

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sombra. E este padrão não é estranho ao zodíaco solar e tampouco ao sideral, através da mitologia cósmica do Dia e Noite de Brahma.

Nisto, com certeza não estamos infringindo nenhuma lei e nem inventando alguma heresia, a não ser talvez para os astrólogos que tenham interpretado as coisas de maneira equivocada.

Para isto, bastaria valer-se de uma Tábua de Casas de Meio-Dia ou não efetuar a inversão hemisférica nas Tábuas de Meia-Noite. Pois uma forma “natural” de fazer o Ascendente “subir o horizonte”, seria colocá-lo no outro lado do Zodíaco, tal como fazem os astrônomos.

Alguns problemas se impõem, no entanto, para adotar um padrão similar ao astronômico. O padrão astronômico seria a resposta aparente para o resgate da analogia sazonal. Porém, estendido para o sistema de Casas, manteria a incoerência da evolução das Casas oposta ao seu registro de tempo.

Desta contradição, qual teria maior peso? Certamente o registro dos horários, pelo qual se estabelecem as Casas. Assim, o esquema de casas é essencialmente um esquema reversivo.

Afinal, seria mais coerente fazer a evolução das Casas acompanhar o registro dos seus horários, que é no sentido dos ponteiros do relógio. O sistema de Casas deveria ser coerente e fazer seguir a direção das Casas na mesma direção dos horários. (Poder-se-ia inclusive perguntar por que não começar a Casa 1 à Meia-Noite, o que nos traria uma correspondência com outro padrão de zodíaco, chamado polar ou solsticial, e sobre o qual se baseia o calendário cristão –descontando uma série de malversações, é claro).

Assim, mais que simplesmente alterar o arco de tempo, deve-se realmente buscar uma reversão de ciclo zodiacal, padrão que se acha de forma parcial em vários sistemas astrológicos.

Em relação a tais questões, temos quatro processos que podem resultar em confusão entre si. Nenhum destes conceitos está atualmente em uso no horóscopo individual. São eles:

a. Ciclo retroativo. É o chamado “efeito precessional” causado pela evolução do ponto vernal/ascencional, avançando de forma retrógrada em dois níveis: sobre o zodíaco sideral através do início do ano solar (Equinócio Primavera), e sobre o ano solar através do início do ciclo domal (Ascendente). Trata-se de uma sobreposição de ciclos e níveis sem efeito de substituição. Assim, qualquer signo/casa pode ser sobreposto a outro.

b. Ciclo inverso. É a inversão de signos mediante um avanço de arcos de tempo, resultando na troca pelo signo oposto (exemplo: Áries é substituído por Libra).

c. Ciclo regressivo. É a inversão da evolução zodiacal sem alterar a ordem dos signos, como no zodíaco esotérico de Bailey, onde os signos em si não são trocados, mas apenas a sua direção é invertida ou regredida (exemplo: Peixes-Áries via Libra).

d. Ciclo reversivo ou reflexivo. É a legítima inversão do sentido zodiacal, que passa a avançar em sentido horário permitindo obter um verdadeiro efeito-espelho (exemplo: Áries é substituído por Peixes e vice-versa).

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O efeito desejado é o “d”, ou efeito-espelho. O mais interessante, é que a teoria da reversão (e não mera inversão de arcos) das Casas, encontra respaldo nos mais puros dados estatísticos levantados pelos Gauquelin.

O casal percebeu que em certas Casas astrológicas a presença de planetas define temperamentos. Contudo, estas casas não são exatamente aquelas que os astrólogos esperariam. Vejamos inicialmente este comentário de J. L. San Miguel de Pablos:

“(...) o interessante dado desse desvio do máximo efeito da angularidade, para trás no sentido das casas, de modo que a intensidade máxima da ação planetária parece dar-se nos setores tradicionais 12°, 9°, 6° e 3°.” (Op. cit., pg. 25)

Como o comentarista não acrescenta nenhuma explicação consistente neste campo (evocando meramente uma “comum troca de horários” nos partos), citamos outro autor acerca do mesmo tema:

“As Casas X e I, que se consideram como as mais poderosas, são para Gauquelin as Casas IX e XII, que não possuem exatamente a mesma reputação.” (Halbron, Op. cit., pg. 38)

Não há de ser porque se trata da cruz mutável, que segundo Bailey se relaciona à Personalidade (que é a esfera do sistema de Casas). Nem porque, numa outra visão, o ritmo mutável significa uma forma de perfeição. Bailey não é determinante quanto à relacionar o sistema de Casas à Alma (e sequer o próprio Ascendente), antes admitindo estar vinculado à Personalidade. Adiante voltaremos ao assunto.

Diz então o próprio Michel Gauquelin, a título de conclusão, no prefácio de sua obra A Cosmopsicologia:

“Na descrição e interpretação dos próprios tipos planetários, importantes divergências experimentais se opõe à tradição. Contudo, não deixa de estar provado cientificamente o significado psicológico de certos fatores cósmicos de nascença.” (pg. 12)

Ora, o que o pesquisador está a afirmar, é que a Astrologia funciona, mas que suas convenções não estão coerentes com os fatos. E algo deve ser mudado para reverter este quadro. Retornemos a Halbron:

“Toda vez que, no caso das Casas, o erro resulta mais grave, é porque se valorizam os planetas em lugares em que não se encontram (veja-se Michel Gauquelin, Songes et mesonges de l’astrologie, Ed. Hachete, 1969, pg. 225). (Halbron, Op. cit., pg. 38)

Onde estariam estes erros? Ora, as áreas magnéticas encontradas por Gauquelin situam-se de forma contígua e precedente às Casas angulares tradicionalmente consideradas as mais fortes do tema. Assim, para que estas Casas coincidissem com o “fator-Gauquelin”, bastaria fazer com que a cúspide do “Ascendente” subisse pelo horizonte (e não que descesse), alcançando-se assim o chamado “efeito-espelho.

Não se trata, pois, de inverter o avanço dos planetas, num “processo muito parecido ao da precessão dos equinócios; (onde) o Sol avança para trás na ordem das Casas, desde a casa I para a Casa XII, e não da I à II; se bem que ao final da Casa I é alcançado

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antes de seu começo, como sucede com a constelação de Áries –pela precessão–, que oferece seu rabo antes de oferecer sua cabeça.” (Halbron, pg. 38)

À imagem do ciclo precessional maior, o sistema de Casas também apresenta um registro de certo modo inverso ao do sentido dos signos –ainda que de forma parcial, pois o sistema de Casas é precessional apenas nos horários, mas não na sua simbologia ou na relação de casas, que segue nisto o zodíaco solar como se fosse um alter ego zodiacal.

Esta constatação deve coincidir com a percepção de que as chamadas “Eras” astrológicas definidas pela precessão dos equinócios, representam na realidade um sistema de Casas cósmico, como demonstrou Emma C. de Mascheville (ver Revista Órion de Ciência Astrológica, n° 2, PoA, FEEU, 1996). Ocorre que as Casas siderais (ou “Eras”) também deveria ser coerente e constituir um verdadeiro zodíaco à parte e não se confundir com o ciclo astronômico. Ainda que as pessoas pensem conhecer bastante o assunto, ele ainda está na realidade sendo descoberto e o sistema elaborado.

Tais sistemas são formas reversivas de zodíaco que atuam como um registro compensatório, como que querendo desfazer o “nó do tempo”. (No entanto, no próprio zodíaco acontecem ciclos de transformação, mediante os ritmos e, no clássico, inclusive pela dupla estrutura planetária de duplo sentido e polaridade.)

Não obstante, o que se chama comumente de “inversão dos signos”, é na verdade meramente um adiantamento de arco, determinando signos opostos. Não se trata de uma espécie de reflexo do tipo espelho (símbolo propício à esfera astral/emocional ou mesmo da Alma). Se tivesse maior coerência, isto é, as casas seguindo os horários que as definem ao invés de ir ao contrário, o sistema de Casas seria a única manifestação autenticamente reversiva do horóscopo ocidental.

Esotericamente, o caráter reversivo possui certa dimensão anímica, e Bailey relaciona de maneira vaga o Ascendente à alma. Diz a autora em Astrologia Esotérica: “O signo ascendente indica a vida planejada para esta encarnação ou o propósito imediato da Alma” (pgs. 6 e 18). Assim, não é determinante quanto à relacionar o sistema de Casas à Alma (e sequer o próprio Ascendente), antes admitindo estar vinculado à Personalidade. Mas a Lua, como intermediária entre sol e terra, é outra candidata à esta relação onde a alma intercede entre o corpo e o espírito.

Portanto, uma pergunta se impõe aqui: –Se o sistema de Casas é reversivo, o que segundo Bailey é o atributo de um zodíaco de Alma, como manter a bastante óbvia conotação de Personalidade para o sistema de Casas?

A resposta pode ser a seguinte. Consideremos inicialmente a analogia existente entre o plano astral (2° plano) e a alma (4° plano): ambos vêem a realidade desde um ângulo refletido ou “espelhado”, ainda que em níveis de qualidade diferentes entre si. E o sistema de casas seria na realidade um zodíaco astral, plano este incluído na esfera da Personalidade.

Outra possível solução é que, aquilo que consideramos um ciclo direto progressivo, já seria a verdadeira direção regressiva ou reflexa –isto é, se pensarmos que o ciclo mais elevado deva ser sempre refletido. Temos as analogias entre o ciclo solar e o ciclo sideral, e entre o sistema de Casas e o sistema das Eras siderais. As Casas teriam relação com o plano astral e as Eras estariam associadas à Alma.

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Ainda que o padrão precessional seja evocativo de ciclos “reversivos” da Astrologia esotérica (onde os signos em si tampouco são realmente trocados, mas apenas a sua direção é invertida), seria preciso fazer com que o zodíaco de Casas mude efetivamente a sua direção para coincidir com Gauquelin.

Assim, a conclusão seria: efetuar o efeito-espelho a partir da atual posição Ascendente. A menos que se alterassem também outros fatores. Pois, como se fosse pouco, a tudo isto caberia se acrescentar a observação da alteridade hemisférica também relação aos signos.

Neste caso, porém, ficaria mais difícil fazer coincidir com os dados de Gauquelin, sem alterar outras estruturas do horóscopo. É certo que esta modalidade de horóscopo altera as correlações gerais, diferindo da corrente correlação entre casas e signos. Este tema raramente é colocado em pauta, mesmo pelos astrólogos mais argutos e investigativos. No entanto algumas luzes têm sido acesas.

É preciso pois, em síntese, tratar de coordenar as seguintes indicações acerca das Casas astrológicas:

a. A Analogia com o Dia (calendário cotidiano de atividades)

b. A analogia com o Ano (correlação Estações / Cúspides principais);

c. A analogia com as Eras (natureza precessional);

d. A incoerência interna do sistema (a direção horária dos registros difere do sentido anti-horário das Casas);

e. O padrão ascencional astronômico (face ocidental / ascensão real para a luz);

f. A semelhança com as formulações de Bailey (zodíaco reversivo e conteúdo anímico);

g. As constatações de Gauquelin (ênfase nas Casas “mutáveis”, contra o dogma astrológico da prioridade das Cúspides “cardinais”)

h. A transposição hemisférica do sistema de Casas (seu recurso usual soa incorreto).

Reunindo, harmonizando e sintetizando estes preceitos, podemos seguramente redefinir o sistema de Casas. Nisto algumas questões podem surgir, como este: –Se é o sistema de Casas segue um sentido reverso, a analogia sazonal não está mesmo perdida?

Resposta: Cremos que não, pois os princípios em sí não alteram. Se fôssemos regressar no tempo sobre nossas “pegadas”, iríamos encontrar os mesmos fenômenos na ordem que deixamos atrás. Se o zodíaco solar dos horóscopos (e mesmo o sistema de das Eras) está errado, este já é outro assunto. Afinal, Câncer também ficaria na sombra ou na base nesta espécie de estruturação, que é incomum em Astrologia, embora não em Astronomia, que no entanto inverte devidamente os arcos salvando as correlações. Neste ponto, certamente seria necessário adotar o padrão astronômico.

Para isto, pode ser necessário fazer evoluir as Casas para cima a partir da atual posição do Ascendente, à esquerda do horóscopo, posto que a simples adoção do padrão

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astronômico, de ascensão pelo lado direito, não permitiria a almejada coincidência e nem eliminaria a incoerência da direção anti-horária das Casas; assim, pode ser necessário seguir desprezando este padrão, ao menos em termos de lado, embora não no caráter verdadeiramente ascencional de signos/casas que apresenta. Não deixa de ser curioso chamar de “Ascendente” um signo que, afinal, caminha para baixo do horizonte.

As dificuldades são grandes, porque os padrões não concordam. Se contamos as casas para cima apenas espelhando horizontalmente o padrão atual, sacrificamos o padrão astronômico ou o espelhismo vertical (que na verdade seria um avança que arco). Estaríamos condenados ao sacrifício da lógica? Halbron parece resignar-se à diferença:

“Em conclusão, nos perguntamos se a Astrologia não tem gerado, sobretudo, dois sistemas de significação e de classificação, as casas e os signos, e não se poderia identificar um com o outro, posto que as casas estão definidas por sua relação com o horizonte numa dialética visível/invisível, e posto que o zodíaco está ligado ao simbolismo planetário.” (Jacques Halbron, Fundamentos do Simbolismo Astrológico, Revista Mercúrio 3, n° Primavera de 1994)*

Outrossim, às Casas também é atribuída uma significação análoga à dos Signos, apenas que seus temas teriam como referência uma esfera diferente da zodiacal, pois enquanto esta depende de um ciclo solar e de uma situação coletiva, a anterior deriva de um ciclo planetário e de uma circunstância particular. Por outro lado, ambos os esquemas podem ser vistos como estruturas autócnes associadas às mencionadas esferas –ou seja, solar-grupal e planetário-individual– e um nível formativo.

“Apesar do fato de que devemos ocupar-nos com duas séries de doze fatores, é necessário respeitar a especificidade de cada um, não fosse dever-se isto a realidade de que cada um progride em sentido inverso e que se tem pretendido fazer-lhes avançar no mesmo sentido, como testemunha a ordem das casas habitualmente praticada; fazendo com que se percam as pistas.” (Halbron, Op. cit.)

Ou seja, a contagem temporal das casas obedece um sentido inverso à sua disposição no horóscopo. Assim, se a sequência ordinal das casas segue o sentido anti-horário no mostrador do relógio, sabemos que os horários que as predispõe evoluem por sua vez em sentido propriamente horário no relógio.

No final, a quem se poderá aplicar a seguinte constatação:

“Existem muitas teorias; a maioria delas são construções intelectuais que tentam explicar todo o assunto com base numa sistemática qualquer. Mas, muitas vezes, elas permanecem na teoria e não são comprovadas.” (Huber, Op. cit., pg. 35)

Uma polêmica paralela: As Casas cósmicas

Ainda que este assunto não diga respeito à questão das latitudes e dos hemisférios, antes à questão das Casas cósmicas, serve para ilustrar o grau e a natureza das polêmicas que podem chegar a surgir dentro da astrologia, além de trazer informações úteis sobre a natureza do horóscopo mundial, numa visão sintética e integradora.

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Assim, outra questão importante diz respeito às distintas visões interculturais da astrologia, que podem às vezes se complementar. Alguns sistemas astrológicos, como na astrologia hindu, fazem adaptações do calendário solar, estendendo a este ciclo as prerrogativas do zodíaco sideral, ou seja, as “transformações” trazidas pelo movimento de precessão dos equinócios – embora não o sentido precessional deste ciclo maior, que não deve ser confundido com um verdadeiro zodíaco reversivo, nos moldes tratados por Alice A. Bailey em Astrologia Esotérica, onde o sentido dos signos é invertido (oferecendo uma possível solução para o problema das casas).

Deste modo, para os orientais, a maioria das pessoas (ou nascidas até o grau 23) deveriam adotar como seu o signo anterior, por se encontrar o ponto vernal na atualidade próximo a Aquário, e não mais no começo do Zodíaco sideral.

Isto costuma ser contestado pelos astrólogos ocidentais, que além de afirmar que o ciclo sideral atua somente em nível planetário (evolução mundial), também buscam discernir entre o zodíaco matemático e o zodíaco trópico (observar esta palavra). De qualquer forma, o ciclo sideral não possuiria relação direta com o calendário solar (o assunto é aprofundado em nosso livro “O Calendário Astrológico”, Apêndice “Luz sobre a Astrologia: os Caminhos da Boa Ciência”).

Eis um verdadeiro emaranhado de concepções. Nisto, Emma de Mascheville teria projetado luzes definitivas ao tema, ao demonstrar que o ponto vernal define no ciclo sideral na verdade um grande sistema de Casas, levantando a partir disto um inédito m horoscopus mundi. O astrólogo uruguaio Boris Cristoff, aprofundando o tema, analisou os 12 segmentos das Eras –que neste caso seriam fixos e regulares–, durando cerca de 180 anos, segundo os fatos históricos.

Assim, o corte do ponto vernal determinaria não um recomeço para o mesmo zodíaco, mas sim um sub-ciclo interno e de outra natureza. O início do grande ciclo sideral está determinado não exatamente pelo ponto vernal, mas por algo mais misterioso. É verdade que o antigo vínculo com Áries e as Plêiades correspondem aproximadamente a realidades históricas, ou seja, às origens de nossa cultura, agravando o equívoco dos “sideralistas”. Mas isto não significa que Áries não seja o início “oficial” do zodíaco e que os astrólogos apenas o considerassem como tal em função da presença ali do ponto vernal, quando dos últimos milênios antes de Cristo. Isto apenas poderia se passar pela cabeça de astrônomos materialistas

Tudo isto já diz respeito, pois, à chamada “astrologia mundial”, que representa a vertente histórica da astrologia, tendo em Andre Barbault um de seus grandes expoentes contemporâneos no que se refere aos trânsitos planetários. Esta esfera recebe ainda uma terceira abordagem própria no Oriente, através da doutrina das Idades do Mundo (Manvantara), mais focalizada no zodíaco. E com isto é possível reunir os três elementos do horóscopo: casas, planetas e signos, agora ao nível planetário.

A versão mais recente foi a revelada por Mascheville, que deste modo completou o quadro. Ou seja, a de que as relações de horizonte (ou Oriente) no horóscopo são análogas às definidas no espaço cósmico pelo ponto vernal na Primavera; apresentando na verdade uma correlação entre zodíacos, ou um ciclo dentro do outro. Por isto, não se haveria de confundir o ciclo solar com o sideral.

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Para que o leitor possa avaliar melhor o horóscopo nacional segundo a aplicação das Casas Astrológicas aos assuntos de Estado, descrevemos a seguir um resumo do tema na Astrologia Mundial, segundo Emma de Mascheville:

Significado das Casas na Astrologia Mundial

Casa I: Vitalidade, Atmosfera geral.

Casa II: Recursos, Economia e Finanças.

Casa III: Ensino e Comunicações.

Casa IV: Política e Agricultura.

Casa V: Artes, Diversões e Esportes.

Casa VI: Saúde, Bolsa e Trabalho.

Casa VII: Relações Exteriores e Defesa.

Casa VIII: Reformas e Acordos Internac.

Casa IX: Justiça, Universidade e Consulados.

Casa X: Governo e Destino Nacional.

Casa XI: Parlamento, Legislação e Projetos.

Casa XII: Obras Sociais e Oposição Interna.

Conclusões

Em termos estritamente astronômicos, é evidente que as Estações sofrem distorções no Equador e nos pólos, e neste também os dias. Estes ciclos correspondem a zodíacos, mas apenas o último (diário ou domal) tende a ser observado em termos estritamente astronômicos, sujeito assim às distorções espaciais características. Mas se o zodíaco solar está relacionado às estações do ano, então sua integridade também estaria comprometida nestas regiões (talvez houvesse alguma distorção mesmo ao nível sideral, em função da forma de elipse das órbitas dos planetas; ela seria, porém, quase imperceptível, por se tratar de ciclos de longo prazo).

Os astrólogos aceitam as distorções do sistema de Casas convencional, ao menos até certo ponto, pois junto aos pólos, onde as distorções se agravam, ou abandonam o sistema ou adotam um matemático regular e mais abstrato. Não obstante, nenhum deles jamais pensou que o zodíaco solar também pudesse acompanhar ou sofrer estas distorções no decurso das Estações do ano e nas regiões extremas do planeta, ou seja, no Equador e dos Pólos, por mais conhecidas que sejam tais distorções climáticas de extremo calor ou frio.

Não obstante, seguindo o empirismo, aquilo que uma interpretação astrológica apontaria (e a “estatística” é um dos grandes recursos astrológicos), parece ser verificável na prática. Ou seja: existe sim uma inclinação de caráter segundo o clima, de modo que o clima quente favorece um temperamento mais aberto e alegre, e o clima frio induz a um caráter mais fechado e melancólico.

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E tal coisa teria implicações solares-zodiacais, para além do sistema de Casas diário, o que, de forma independente de conotações morais, nos induziria inclusive a diferentes espécies de estrutura de consciência, que poderiam ser particularmente especializadas e funcionais dentro de certas áreas ou níveis atividades.

No Apêndice apresentaremos uma análise criteriosa das regiões do planeta segundo as suas realidades zodiacais e níveis de consciência fundamentais, nos termos acima dados.

O contexto em questão

Esta visão confere o aspecto tópico implícito na Astrologia e presente na palavra horóscopo (“hora + lugar”), onde apenas o sistema de Casas valoriza a questão geográfica, vinculada à natureza material e físico desta esfera da astrologia.

Não obstante, a evolução coletiva também emprega uma fisicalidade. Nossos trabalhos focalizam quase invariavelmente a Astrologia Mundial e Esotérica (vide Revista Órion de Ciência Astrológica, única no mundo no seu gênero). Até por esta razão, o presente trabalho insere o tema da Astrologia dentro do Calendário, e não o contrário, ainda que, nas sociedades tradicionais, inexista maior rigorosa diferença entre ambas as coisas, mas que, por convenção, o último abrange mais facilmente uma dimensão coletiva.

E desde o ponto de um horoscopus mundi certamente seria também necessário dispôr de uma base material. A conexão física desse nível é o zodíaco solar das Estações, no sentido de que aquilo que é o mais elevado numa dada esfera, pode ser o mais básico numa esfera superior.

Isto confere um duplo enfoque e perspectiva a cada ciclo/zodíaco, relacionados àquilo que se entende por calendário e por astrologia. A ótica mais concreta e material se caracteriza por sua natureza temporal, sujeita a distorções (astrologia), ao passo que a esfera mais abstrata e espiritual emprega referências mais propriamente espaciais, de contornos estáveis (calendário). Nisto, não concordamos com a tese de que a astrologia “vira” astronomia apenas por ser fiel aos fatos científicos. Como já foi dito, a astrologia está para a astronomia, tal como a psicologia está para a anatomia.

Trata-se da diferença existente entre processo e estado, bases da Evolução e do Arquétipo respectivamente. No primeiro caso, a síntese é alcançada ao final de um processo dialético (do tipo “iniciação”), e no segundo caso, a síntese é vislumbrada como algo central (do tipo “consciência”), tal qual se vê no zodíaco, nas mandalas e nas Trindades.

E nisto entra a abordagem paralela das Estações que valoriza os “pontos médios”. A astrologia comum enfatiza o ritmo Cardinal ou temporal, enquanto que a visão esotérica prioriza o aspecto Fixo ou atemporal.

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* Artigo reproduzido na Revista Órion de Ciência Astrológica, n° 4, Primavera de 1994).

Capítulo 15

CONVENÇÕES & MUDANÇAS

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Vimos mais acima que existiria talvez um argumento que, mesmo tendo base colonialista, poderia ser decisivo para universalizar um sistema calendárico-astrológico: o argumento espiritual, ainda que tal coisa custasse muito ao outro hemisfério. Na falta de uma cultura superior local, talvez até se permanecesse cultuando indefinidamente santos importados em seus altares. Mas, felizmente a dinâmica do mundo prevê mudanças e alternâncias espirituais.

Assim, naqueles vetores de sabedoria que calculam a longo prazo (como nos horoscopo mundi da astrologia sideral já mencionada), são os próprios calendários hoje que denunciam o “esgotamento dos tempos”, e junto com eles aparecem os sinais de renovação, no tempo e no espaço, a “nova terra e o novo céu” que demarcariam os limites de validade das antigas leis.

Então, é chegada a hora de repensar seriamente o valor da adoção destes padrões exóticos ao Hemisfério Sul, e a inaptidão de valores coloniais na constituição de uma unidade cultural local.

No mais, seria realmente difícil encontrar uma convenção que confira uma primazia absoluta ao Norte setentrional. Pois, de um lado existe cosmicamente um pólo sideral no Hemisfério celeste Norte, na estrela Vega, de há muito conhecido pela humanidade e atualmente já percebido pelos cientistas modernos. Esta cosmicidade influenciaria, no entanto, sobretudo os grandes ciclos planetários, assim como as consciências superiores, e todos eles se acham acima da humanidade média.

Mas, de outro lado, também é verdade que, teluricamente, existe um pólo magnético situado na base do Hemisfério Sul (ainda que muitos pensem erroneamente que o verdadeiro pólo magnético esteja ao Norte da Terra), e para o qual apontam a bússolas, razão pela qual os chineses (os inventores da bússola) chegaram até a identificar o “Norte” com esta região -assim como os egípcios e os restantes povos “atlantes”. Mas ele tampouco se situa exatamente no pólo geográfico, e sim junto ao Círculo Polar Antártico.

É para onde apontam, aliás, os próprios continentes, cujas bases são quase invariavelmente em forma de cunha, mesmo no Hemisfério Norte: México e Índia, talvez também Groenlândia e Indonésia.

Qual a explicação disto? Seriam assim modelados pelos oceanos e pelos ventos, ao longo das eras geológicas? Nota-se que Madagascar e Índia se descolaram da África e subiram. E a curva da África, onde o Brasil foi “quebrado”, situa-se junto ao Equador. Positivamente, parece existir alguma força lapidando estas pontas continentais.

E porque existe maior massa de terra ao Norte (isto é, descontadas as calotas polares), com continentes largos, latitudinais e mais quadrados? Seriam atraídos por alguma força gravitacional externa? Aliás, qual a força que impulsiona a cíclica expansão/contração das placas tectônicas? São perguntas sem respostas estas. E que interessante compensação oferecem as regiões polares para a irregular distribuição das terras habitáveis: ao norte um quase absoluto vazio, e ao sul um vasto continente gelado –mais um fator “polar” meridional, portanto, assim como as pontas continentais que para ele se voltam.

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Assim, em termos telúrico-raciais, o Hemisfério Sul certamente leva a palma. É possível, no entanto, não ser esta a única razão pela qual na China antiga o Norte era no nosso Sul. Pensamos se tratar também de uma reminiscência da época atlante, cultura da qual os chineses, juntamente com os egípcios e os pré-colombianos, são considerados herdeiros diretos, quando o pólo cultural do planeta situava-se no Hemisfério Sul. O pólo cultural (Shambala, Agartha, etc.), sim, oscila através das épocas, em termos de Hemisférios, entre Norte-Sul e Leste-Oeste, visando determinar um equilíbrio global.

Certamente as convenções funcionam, mas isto não supera a separação dimensional que sofre aqueles que se acham nos pólos culturais opostos. E a realidade é que o imaginário simbólico e a experiência sensível se complementam num Todo, servindo um para catalisar o outro, desenvolvendo assim um terceiro nível de conhecimento na forma do sensitivo universal que é o Zodíaco.

Isto não pode ocorrer, no entanto, quando existe uma dicotomia entre o conceitual e o sensível. Como viver, afinal, uma contrição espiritual profunda, sem o recolhimento hibernal, mas em plena expansão estival? E como experienciar o idílio do amor, sem contemplar a beleza vernal, mas sob a sisudez autunal?

É impossível, pois, aprofundar tais experiências simbólicas sem o respaldo do meio-ambiente. Assim como não observamos uma meteorologia local a partir dos elementos setentrionais, tampouco deveríamos adotar outros critérios cíclicos alienígenas. Qual o sentido, afinal, de priorizar signos sobre as estações, ou a astrologia acima dos calendários? Parece prudente acatar a suposta funcionalidade desta abstração chamado “zodíaco”, acima do ciclo sensível das Estações -especialmente quando está em jogo a conformação de toda uma Tradição local, quer dizer, a organização de uma cultura integrada e “universal”?

As peculiaridades das teorias astrológicas estão relacionadas ao individualismo, ao passo que os calendários são realidades coletivas palpáveis com força e tradição histórica.

Estruturar a cultura local significa emancipação, libertação e autonomia –não apenas nominal, mas real. Implica numa integração e na manifestação de uma unidade cultural, expressão da coerência, numa palavra, de um universalismo que, paradoxalmente é capaz de ser exportado, na medida em que venha a incorporar uma dimensão maior, mais ou menos como afirmam os autores que defendem a adoção do padrão setentrional baseado na antiguidade, na convenção e na aculturação, cabendo mencionar também o sentido espiritual. Afinal, tudo isto também teve início em algum momento e representou então uma mudança, no caso, inversa à que se pretende hoje, posto que a cultura anterior (a Atlante) era também meridional.

Hoje, bem mais de um profeta tem anunciado que a Nova Era estará sediada no Hemisfério Sul. É certo, porém, que o poder cultural e populacional do Norte permanecerá, de certa forma até como dominante –a não ser que uma improvável tragédia (possivelmente de ordem bélico-nuclear) torne aquelas vastas regiões do globo inabitáveis. Existe também a hipótese glacial. Os cientistas afirmam que houve uma intensa glaciação no Hemisfério Norte, e atualmente há sinais de que está voltando a ocorrer. No passado, isto causou uma migração da vida para o Sul, onde o gelo permaneceu mais sobre os oceanos, talvez por existir muito mais água nesta parte do

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globo. De resto, o Hemisfério Sul possui amplos territórios tropicais, servindo de refúgio natural em épocas mais frias.

Seja como for, a alteridade será respeitada, e isto tornará inevitável a convivência de dois sistemas por muito tempo. Então, nisto, talvez se volte a usar e a difundir termos como “setentrião”, “hiperbóreos” e “antípodas”, para definir as culturas distintas. Na Antiguidade, sabia-se que no Sul muitas coisas eram invertidas, surgindo daí alegorias e caricaturas absurdas, como as de abaixo.

O bonito nisto, é pensar que uma cultura pode se afirmar e impor apenas pela sua espiritualidade e valores intrínsecos, assim como pela organização local. Uma cultura de tal valor capaz de irradiar um brilho inconteste e único, incapaz de ser imitado, até porque no “outro mundo” se cultivam valores algo opostos. A idéia de uma sociedade se impor e angariar o respeito e a admiração do mundo pelos seus valores sociais e espirituais, de alcance universal, pode soar a uma utopia e, no entanto, não é outra a forma como a Lei da evolução dispõe as coisas na economia dos ciclos da cultura..! Esta é a razão dos mitos sobre a Idade de Ouro, porém vale lembrar que tal coisa não se impõe apenas pelo poder da luz, mas também pela contrição histórica gerada pela crise. É esta que, afrouxando a pressão materialista, passa a tacitamente incentivar as iniciativas do espírito.

O desafio é ainda assim incomensurável e seria, na melhor das hipóteses, como a luta de Davi contra Golias. Os territórios meridionais ocupam apenas 25% do total da Terra (excluindo a Antártida), correspondendo isto à maior parte da América do Sul, à cerca de metade da África, à maior parte da Indonésia e à Austrália –sendo portanto este remoto e “diminuto” continente o único inteiramente meridional, daí merecer o seu justo nome. Portanto, em alguns destes continentes, existe ainda o problema de se estenderem para o Hemisfério Norte, de uma forma ampla no caso da África, e de forma reduzida no subcontinente americano. Será preciso, pois, ainda verificar a aceitação que esta mudança terá dentro dos próprios continentes meridionais, com países de fortes raízes coloniais e às vezes até com partes importantes nos Hemisfério Norte. No Hemisfério Sul, a faixa tropical também ocupa regiões relativamente reduzidas dos três continentes.

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Suas populações ainda têm proporções desiguais, representando cerca de somente 10% do total da população do mundo. A realidade, porém, é que tais regiões têm baixa densidade populacional e muito potencial de ocupação, sobretudo a América do Sul (África e Austrália ostentam amplas regiões áridas ou semi-áridas, embora a África sub-equatorial seja mais fértil). A Índia, por exemplo, que corresponde a cerca de 1/3 do território do Brasil, tem quase dez vezes mais habitantes do que este.

Uma das soluções será recuperar os desertos. E isto pode se revelar menos difícil do que parece. Em Os Sertões, Euclides da Cunha comenta a forma como os antigos romanos recuperaram os desertos da Tunísia, transformando-a num país bastante aproveitável para a agricultura, até os nossos dias, quando tem servido de modelo para os franceses. Isto foi realizado pelo simples expediente de fazer açudes e comportas que retenham as águas das chuvas. E ali onde não existe chuva, é preciso canalizar córregos, desviar rios e fazer represas. De qualquer forma, a vitória sobre o deserto é um trabalho progressivo, que vai da periferia para o centro –ou seja, no sentido inverso do qual o deserto foi criado. O deserto representa sempre um colapso ambiental que se vai alastrando, à imagem de um câncer. Seja como for, os métodos modernos de irrigação podem fazer muito, e Israel tem feito importantes experimentos de agricultura em áreas desertificadas. Estas áreas desafiadoras deveriam ser um objeto atenção especial dos Estados, e deixar o mais fácil para a ocupação do homem corrente.

Nos achamos porém diante de um novo Genesis no Hemisfério Sul, e novamente será dada a ordem “Crescei e multiplicai-vos”. É preciso povoar este Continente –e falamos especialmente da América do Sul. Seria importante, pois, encontrar fórmulas para incentivar a expansão populacional nestas regiões sulistas, e uma delas seria favorecer a imigração. E é claro que a principal fórmula será saber viver com simplicidade e sob valores elevados.

Para que isto seja possível, seria necessário um grande planejamento social e um plano cultural bem definido, enfim, uma programa específico e auto-direcionado. É um absurdo que um país plano como o Brasil tenha apenas 20% de população rural; esta equação sofreu uma inversão no decurso do último século, em função de políticas centralizadoras de base industrial.

O Estado deveria amparar as gestantes, especialmente no caso das mães solteiras, e até criar os enjeitados, como alguns hospitais católicos faziam nos séculos passados. Deveria desestimular o uso de anticonceptivos, tendo em vista tanto o aspecto moral como a pertinência da multiplicação humana neste Hemisfério. Deve dar condições para que estas crianças venham ao mundo e cresçam com saúde, ficando sob sua custódia ou dando-as para adoção.

A extensa expansão populacional existente hoje no Hemisfério Norte, também foi muitas vezes fruto de programas nacionais e planejamentos estaduais, realizados ao longo dos milênios por sociedades que souberam se organizar para tais fins.

As antigas sociedades nunca deixaram de valorizar as questões materiais da vida: produção alimentícia, procriação e ciência concreta (política e tecnologia em geral). Não obstante, a partir da raça atlante, o conceito de criatividade passou a ser visto de uma forma superior, vindo-se desde então a valorizar a capacidade artística e a vocação religiosa. Na raça seguinte, a árya, estes dons passaram para o domínio popular, e a

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cultura de ponta passou a ser o conhecimento superior e abstrato, nos moldes da sabedoria de Pitágoras e de Platão, e a questão do Estado assomou-se ao primeiro plano. Esta é a situação atual. No futuro, estas conquistas serão mais uma vez socializadas, e a cultura vista como avançada estará voltada para o cósmico e o angelical, ou o manejo da energia pura e da consciência, assim como para a atividade profética.

Os passos da transformação

Sem dúvida este quadro complica enormemente os esforços de inverter os padrões atuais. Mas nada disto impedirá que o predestinado se cumpra. A prova desta mudança pode ser conhecida tanto em termos matemáticos, históricos, culturais ou espirituais (este conjunto de dados fornece verdadeiros horóscopos do mundo). Matematicamente, são conhecidas algumas datas mundiais importantes, sabendo-se que a sua cronologia se acha esgotada há mais de um século.

Também se tem provas históricas dos fatos: quase toda a raça anterior se desenvolveu no Hemisfério Norte –que de resto contempla muito mais território que o Hemisfério Sul. As grandes zonas civilizatórias originais percorrem o paralelo 30 central, que é a chamada “faixa tropical das Estações” ou a pirâmide climática, representando ali uma linha contínua que percorre desde os extremo leste da Ásia até o extremo oeste da África, numa verdadeira rota de unificação dos continentes, portanto (esta faixa é retomada ainda na América do Norte). É por esta razão que tais territórios encontram-se hoje bastante desertificados, em função de milênios de contínua e intensa ocupação humana. Mas foi ali onde se codificou esta correlação original entre o ano solar e os mitos sagrados registrados no Zodíaco, que deram as bases do calendário, como fica demonstrado por suas cidades sagradas e mitológicas (Ur de Abrahão, a Jerusalém de Jesus, a Heliópolis de Hórus, a Lumbini do Buda, etc.). A civilização localizava-se via de regra nesta faixa super-tropical, enquanto nas áreas circundantes ficava a barbárie ou o mundo não-civilizado, sejam povos primitivos ou tribos proscritas e exiladas do convívio central.

Finalmente, sabe-se do domínio espiritual pela presença das grandes religiões, desde as egípcias antigas (como o Horismo) até as européias mais recentes (Cristianismo). Segundo Rudhyar, a “ênfase deve ser, mais uma vez, dada às experiências humanas, e de modo algum às categorias transcendentes e às entidades mitológicas que pertencem a uma ideologia que hoje está em sua maior parte obsoleta.” (op. cit., pg. 16) Isto favorece claramente o “esquema” sazonal, mas não à realidade espiritual como princípio, e menos ainda ao psicologismo. Embora concordemos que muito da velha cultura se ache defasado, particularmente somos refratários à exclusão cirúrgica de qualquer categoria em si, sob o risco de novamente confundir reformas com extirpações e expurgos. Seria impedir o fluxo do universal, e alguém certamente sairia prejudicado. Afinal, as categorias transcendentes e as entidades mitológicas podem configurar um tipo de necessidade para alguém –nem que seja para as crianças, em princípio, ou para o artistas. Afinal, não estamos preocupados apenas com a “astrologia”, mas com o calendário como um todo e tudo o que ele significa em termos ontológicos.

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Nossas preocupações reúnem, pois, o religioso, o místico e o científico. E para isto, consideramos se dever restaurar as correlações simbólicas das idéias e das percepções sensíveis como cabeças de ponte para a travessia zodiacal –a ponte do arco-íris da Alma!

Naturalmente, por se tratar do ciclo completo da vida, tudo isto pode ser mais que tudo vivenciado ali onde as quatro estações se acham realmente presentes, que são as faixas centrais dos hemisférios ou as chamadas zonas tropicais (ou sub-tropicais). Também por isto, estes ambientes surgem propícios para a restauração destes padrões culturais de unidade, capaz de reunir o sensível e o conceitual, ou o símbolo e o fato, visando uma experiência produtiva de vida.

Vivemos num lugar privilegiado e numa época especial, embora careçamos de auto-consciência, de referências e de organização. Achamo-nos ainda sob os códigos da cultura colonial, que além de serem não raro muito antigos e defasados em si mesmos, para nós são ainda muitas vezes trocados ou invertidos –as Estações por exemplo, que no Hemisfério Sul são invertidas, e toda a rica rede de informações e símbolos a elas conectados através do calendário civil e religioso, sujeitando-nos a uma séria dicotomia entre o conceitual e o sensível, entre a mente e o sentimento, que impossibilita a experiência viva da cultura e a permeabilidade iluminadora entre as dimensões, capaz de ser vivida numa cultura tradicional, multinível ou universal.

Temos, pois, muito a aprender a respeito de nós mesmos no sentido de recuperar o sentido original das coisas, dentro do rito religioso da vida, nós que vivemos num final de tempos com todo o seu desgaste institucional, e em outros hemisférios onde as correlações são às vezes até invertidas. Estamos muito distantes no tempo e no espaço das bases culturais que ainda hoje nos regem de forma já bastante artificial.

Especialmente no Hemisfério Sul, cabe fazer uma revisão atenta dos procedimentos culturais, posto estar imbuído de códigos culturais desconectados da realidade imediata, como são os padrões coloniais, de resto ainda desgastadas em sua própria esfera.

Conclusões

As condições climáticas apresentam inegável influência sobre o caráter humano. E mesmo que se queira abstrair a consciência humana (buscando nivelá-la artificialmente e para mais prejuízo do que vantagens, se com isto se falseiam as condições), segue indiscutível a diferença do caráter dos povos e sua direta associação ao clima.

Nisto, podemos aventar que cada região tenha vantagens e desvantagens, mas de uma forma gritante as melhores condições se encontram na faixa tropical e adjacências, onde o clima é mediano e, sobretudo, diversificado, favorecendo assim o enriquecimento do caráter e a construção de todos os nuances de temperamento e de interesses que permitem a experiência cabal de vida.

Não terá sido justamente a compreensão desta harmonia que levou a humanidade a fundar a civilização nestas regiões, há cinco mil anos, civilização esta que desde o início tem entre suas bases a astrologia (certamente nos moldes aqui formulados)?

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No Apêndice 2, adiante, reproduzimos alguns textos científicos sobre o processo da ocupação do globo.

Capítulo 16

AS DOUTRINAS AXIAIS

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É um grande desafio enfrentar tal restauração, mas ele certamente vale a pena, pois se trata de nossas próprias vidas, às quais devemos tratar de fundamentá-las ou de dar sentido.

Esta tarefa apenas poderá ser realizada progressivamente, e nisto teremos etapas “alternativas” e sintéticas de grande valor espiritual. A dificuldade de simplesmente inverter os signos é quase intransponível. Por outro lado, trata-se de uma necessidade real, por qualquer ângulo que se queira ver. A astrologia terá que buscar nesse dia novos caminhos –e estes já estão sendo apontados desde o final da última Era solar, há cerca de cem anos.

Por isto, na medida em que a consciência deste quadro se acirre, é possível entrever a crescente desvalorização destas realidades sujeitas a dicotomias –sobretudo no Hemisfério Sul. Serão substituídas nestas regiões por fórmulas mais sintéticas e universais.

A Transição: A alternativa do equilíbrio

Para efeitos de implantação, a Astrologia Telúrica também emprega doutrinas preparatórias que valorizam os eixos de signos opostos, como a enfoque axial de Alice A. Bailey ou a astrologia de “luz-e-sombra” de Emma de Mascheville, assim como a doutrina dos Sete Raios que enfatiza (ou restaura, em nosso caso) a clássica estrutura setenária vinculada à esfera anímica ou consciencial.

O agrupamento em polaridades representa uma visão inicial da interdependência zodical ou uma etapa iniciática: “(...) o ciclo astrológico deve ser dividido em seis pares, em vez de doze signos mais ou menos independentes uns dos outros.” (Rudhyar, Uma Mandala Astrológica, pg. 211). E esta divisão seria o cânone consciencial: “(...) o número 6 representa um papel básico, ao nível em que a consciência adquire objetividade.” (idem)

Naturalmente, ambas as coisas se vinculam, na medida em que a dupla regência clássica dos planetas, identificada à natureza dual dos Sete Raios (ver Revista Órion n° 9, pg. 51), corresponde às oposições axiais dos signos.

De certo modo as pessoas do hemisfério meridional têm dois signos solares opostos: um signo de convenção e outro signo climático. O grande dilema é, pois, equacionar estes dois signos em uma unidade funcional e ambivalente. Na aparência, a situação, deste ser humano confere certa esquizofrenia entre a mente e o sentimento. Porém, nos melhores casos, e seguindo a doutrina de luz-e-sombra, este quadro também ajudaria a obter um equilíbrio, abrindo as portas para a transcendência sobre as dualidades. Trata-se de realizar uma conscientização criteriosa dos opostos, e buscar os resultados desta harmonia ao nível de Alma.

Estas doutrinas incluem, pois, valorizar os planetas e os Sete Raios, assim como a visão zodiacal em termos de eixos de signos, tal como formulou preliminarmente Emma C. de Mascheville (a partir do próprio paralelo 30 Sul, onde se fixou). Tal doutrina

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ensina as pessoas a se identificarem não tanto com o seu signo, mas com o eixo no qual ele se situa.

Ao contrário do enfoque circular-periférico que contempla os signos isolados e conferem energias da personalidade, todas estas abordagens centrais ou sintéticas possuem uma direta correspondência com o nível da Alma, possibilitando um sólido avanço espiritual.

Mais ou menos nos moldes da doutrina taoísta de Ying e Yang, Mascheville e Rudhyar dão ampla ênfase à questão da luz e da sombra. Não obstante, enquanto Rudhyar trata do processo em termos de mutações (ou de tempo), Mascheville vê o tema diretamente em termos de complementaridade (ou de espaço), sendo isto particularmente útil naquilo que diz respeito à neutralização dos efeitos dos signos. Quando um signo está na luz, o outro está na sombra, diz ela. Assim, aquilo que carece num pólo pode ser sempre buscado no pólo oposto. Mascheville apreciava usar a Santa Ceia de Leonardo da Vinci para exemplificar estas correlações. Mencionemos pois, para exemplificar, pois o tema é de real interesse:

O ímpeto de Áries (que é luta) encontra objetivo e abrangência em Libra (que é paz), ao passo que a indecisão de Libra encontra determinação em Áries.

O materialismo de Touro encontra profundidade em Escorpião, seu oposto, ao passo que a paixão deste se civiliza na sociabilidade taurina e se expressa na sua estética.

A curiosidade inconseqüente de Gêmeos encontra em Sagitário objetivos e metas, ao passo que a aspiração sagitariana recebe conteúdos e informações preciosas na erudição não-dogmática de Gêmeos.

A sensibilidade de Câncer encontra solidez na praticidade de Capricórnio, enquanto que a sisudez deste descobre a poesia libertadora no espírito daquele.

A expansão personalista de Leão se harmoniza com a expansão social de Aquário, e a abertura ao infinito deste encontra praticidade na paixão vital e terrena daquele.

O sentido analítico e imediato de Virgem vê em Peixes um foco de transcendência e abrangência, ao passo que este encontra em Virgem um canal pragmático de serviço.

Sem dúvida, o primeiro grupo está marcado pelo particular e o segundo pelo coletivo, em suas diferentes acepções: superior e inferior, espiritual e material, etc. É como dizer que Deus é, enfim, como o amor: não está em mim, em ti ou nele, está em nós, em vós e neles. Ele é plural (“sem radicalismos”). Da mesma forma, para usar um trocadilho, se você der algo para alguém, deu. Mas se der algo para muitos, Deus (nisto, a saudação namastê -significa “o Deus em mim saúda o Deus em ti”-, refletindo o segregacionismo hindu, parece ficar algo comprometida).

Aliás, é possível que a questão dos eixos (complementaridade dos signos opostos ou doutrina de luz-e-sombra) nos traga uma chave em relação à validade dos signos num hemisfério oposto, uma vez que ali transpareceriam ao menos as suas sombras, por

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assim dizer, assim como a sua luz refletida. O assunto merece, no entanto, uma análise crítica mais profunda.

Escreveu D. Chopra acerca da “coexistência dos opostos”:

“Quando você compreende a requintada coexistência dos opostos, entra em alinhamento com o mundo da energia, o caldo quântico, a substância imaterial, que é a fonte do mundo material. O mundo da energia é fluente, dinâmico, elástico, mutável, eterno movimento. Ao mesmo tempo é imutável, quieto, tranqüilo, silencioso, eterno repouso.” (As Sete Leis Espirituais, pg. 23)

E como síntese de tudo, Alice Bailey apresenta na sua obra Astrologia Esoterica, uma ambivalência axial e a transformação progressiva de cada signo nos seus opostos, trazendo assim também outra formulação axial, além de desenvolver amplamente a questão dos Sete Raios como base de uma “Nova Psicologia”.

Assim, ao analisar os eixos, Bailey atribui a cada par de signos ambivalentes os seguintes significados (certamente se poderiam fazer outras leituras dos temas), resumidamente, considerando que o primeiro diz respeito ao Zodíaco direto e ao ser humano comum, e o segundo ao Zodíaco invertido e ao Iniciado (cf. Astrologia Esotérica):

Áries – Libra = impulso interno em busca de equilíbrio na forma.

Libra – Áries = desejo harmonizado expresso na aspiração por Ser.

Touro – Escorpião = desejo inferior conducente à morte.

Escorpião – Touro = vitória final da alma sobre a forma.

Gêmeos – Sagitário = intelecto determina o foco da personalidade.

Sagitário – Gêmeos = atividade espiritualmente dirigida.

Câncer – Capricórnio = encarnação enquanto imersão na forma.

Capricórnio – Câncer = forma como instrumento para o serviço consciente.

Leão – Aquário = a individualidade controlando o ambiente e o grupo.

Aquário – Leão = o servidor mundial empregando a individualidade.

Virgem – Peixes = a matéria pura dominando o espírito.

Peixes – Virgem = o espírito expressando-se através da matéria.

Nota-se assim, mais uma vez, de que forma temos nas primeiras etapas a ênfase sobre o particular e o inferior, e nas segundas etapas a ênfase sobre o grupal e o superior. Rudhyar também resume a “dança do Zodíaco” em termos de individualidade e coletividade, assim como de materialidade e espiritualidade:

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“A Força-do-Dia é uma energia personalizante. Ela transforma idéias, entidades espirituais e abstrações em realidades exatas e concretas. A Força-da-Noite é uma energia unificadora. Ela reúne as personalidades. (...) Personalidade e sociedade – estas são, de fato, as duas polaridades da experiência dos seres humanos.” (Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, pg. 28)

Tudo isto forma questões relativas. Abranger os opostos significa também aproximá-los. É o que se chama de elevar a terra ao céu e trazer o céu à terra, assim como adquirir uma alma e povoar o paraíso.

Na verdade, a ambivalência parece presente na própria constituição zodiacal-planetária, como sugere a disposição dos pares axiais, abaixo vistos em duplas, juntamente com seus regentes “ambivalentes”:

1. Áries – Libra = Marte – Vênus

2. Touro – Escorpião = Vênus – Marte

3. Gêmeos – Sagitário = Mercúrio – Júpiter

6. Virgem – Peixes = Mercúrio – Júpiter

4. Câncer – Capricórnio = Lua – Saturno

5. Leão – Aquário = Sol – Saturno

Como as regências clássicas se repetem, podemos dizer que se tratam da exposição de situações ambivalentes, algo semelhante à visão de Bailey, embora mais resumido. É verdade que apenas o primeiro grupo apresenta uma ambivalência objetiva (ou posições “cruzadas”); o segundo grupo teve até que ser reunido artificialmente, uma vez que Virgem-Peixes ficaria no final (ver numeração). Quanto à Sol e Lua, devem ser equiparados em suas particularidades enquanto luminares e, ainda, opostos, o que em si também confirma uma ambivalência, e neste caso, até paradigmática, uma vez que podem ser postos como regentes de todo o Zodíaco.

Mercúrio não é o mesmo em Gêmeos e em Virgem; o Vênus de Touro não é o mesmo Vênus de Libra, o Marte de Áries não é o mesmo de Escorpião, o Júpiter de Sagitário não é semelhante ao de Peixes, e nem o Saturno de Capricórnio é idêntico ao de Aquário. Tais repetições revelam facetas paralelas destes planetas, tal como o caráter bélico e sacerdotal de Marte, o caráter racional e criativo de Saturno, os aspectos sociais e artísticos de Vênus, as faces joviais e filosóficas de Júpiter, ou as tendências científicas e transformadoras de Mercúrio.

Os ritmos, as polaridades e as Estações (o clima e as condições de luz-e-sombra) são chaves para interpretar estas diferenças. Uma das distinções das duplas regências planetárias, é que elas sempre se situam em signos de polaridades opostas (assim, Vênus é positivo em Libra e negativo em Touro). Nisto, os planetas são os pontos de encontro de signos opostos. Os planetas podem ser assim comparados aos Raios, que sempre possui duplo significado. Exemplo: o 1° Raio é Poder num sentido material e Vontade num sentido espiritual. Emma de Mascheville usou as seis cores do arco-íris

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para expressar os seis pares de signos opostos. Assim, deve haver virtudes que unifiquem os signos.

E também podemos comparar os planetas aos Arcanos: todos os números têm um significado inferior e outro superior. Como se diz, “tudo tem dois lados” –e talvez mais lados ainda: 4, 6, 8, 10, 12... talvez o zodíaco seja um inventário das facetas de cada coisa, como diria Emma de Mascheville. Cada coisa teria um lugar no céu e na terra, no passado e no futuro, no objetivo e no subjetivo, no masculino e no feminino, etc.

Daí a importância de emblemas enlaçando símbolos iguais, porém contrários, denotando equilíbrio, como a Cruz Potenteia e o Selo de Salomão. Cabe ver então o que significam estes valores em termos materiais e espirituais e estendê-los aos planetas.

O Vênus de Touro (Negativo, Primavera) é a Arte e a Natureza, e o Vênus de Libra (Positivo, Outono) é o Amor –ambos têm em comum a beleza. Isto significa que, a rigor, o planeta em si não responde por uma ou por outra polaridade, ou seja, não está afeito à questões maniqueístas, sendo antes neutro e universal. Suas facetas são determinadas pelas estações que são os signos zodiacais onde se encontram. A mitologia buscava representar didaticamente os diferentes aspectos dos deuses, através de variadas estórias. Desta forma eram ensinadas as variantes da psicologia humana, codificadas simbolicamente na Astrologia. Entre os mitos mais ricos, completos e didáticos, encontra-se o de Hércules que, com seus Doze Trabalhos percorre um verdadeiro périplo zodiacal. Não muito diferente são as narrativas dos Argonautas ou, num nível talvez mais próximo da humanidade, as façanhas de Ulisses e outros heróis divinos do Oriente, como Rama.

Este quadro planetário interativo, reflete o fato de que a idéia da reversão astrológica também está presente no esquema clássico, não tanto mediante o Zodíaco como enfatizado por Bailey, mas através da ordem planetária, assemelhando-se nisto às duas sequências dos elementos na Astrologia do I Ching, a criativa e a de dominação.

Mascheville se aproxima desta síntese, sendo possível que tenha se inspirado em Bailey, cuja obra costumava estudar com afinco. No entanto, foi ela que tratou inicialmente de definir termos simples para os eixos, superando a natureza dupla dos Sete Raios ou às polaridades planetárias clássicas enquanto regências duplas. Com algum esforço, se poderia tentar harmonizar ou aproximar os três sistemas. À primeira vista, no entanto, a ordem planetária e mesmo a dos Raios tratam de planos hierarquizados, enquanto visão radial seria algo atemporal.

Embora original, a visão de Mascheville nada contém de heterodoxa, pois é perfeitamente possível ver o Zodíaco como uma reunião de eixos de dualidades: temporal, espacial, etc. Ou seja: algo semelhante ao que existe no Taoísmo através do Ba-Guá, com seus quatro pares de trigramas complementares (fórmula 23) e que inclusive formam duas famílias, formando graus de relações entre os “progenitores” Ying e Yang. Os trigramas tem vários atributos, mas o mais comum são qualidades como felicidade, prosperidade, amor, etc. Suas combinações no entanto, que dão origem aos 64 exagramas do I Ching, onde as designações taoístas são insuperáveis, desde o ponto de vista do telurismo, porque são naturalistas com seus belos nomes poéticos: lago, trovão, montanha, etc.

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Não por acaso se coloca no centro do Ba-Guá um espelho, sugerindo a natura reflexiva destes pares de opostos. O tema todo também se aproxima de outras doutrinas relativísticas (e que não devem se confundidas com “maniqueísmo” ou dualismo) como a das “direções do espaço” das filosofias do Oriente e, finalmente, dos Espelhos de Sabedoria do “dharma do arco-íris” de Maitreya-Buda, como apresenta a obra Tushita – O Reino da Felicidade (Ed. Ibrasa, SP), enquanto inventário dimensional de opostos a ser experienciado por cada ser humano na busca da Totalidade.

Alguém disse que “o homem é a medida de todas as coisas”. Cabe ocupar o seu lugar, pois, neste universo antropocêntrico, desde onde contempla variadas dimensões e situações opostas, e não apenas numa dimensão ou direção, mas em todas que lhe corresponde: interior/exterior, superior/inferior, masculino/feminino, passado/futuro, etc. Somente assim, sob esta antropologia universalista, é que habitará digna e acertadamente o sistema antropocêntrico que pretende construir.

Podemos ver então o Zodíaco como um programa de “interação de energias”, ambivalentes ou correspondentes. É como diz Rudhyar:

“A Vida é uma interação cíclica de energias de polaridades opostas. Todos os fatores da experiência estão sempre presentes, mas se manifestam num grau de intensidade sempre variado. O minguar da energia de um pólo dentro da totalidade da experiência está sempre associado ao crescimento da força do outro pólo. (...) Esta visão filosófica do problema da experiência dá à astrologia um significado e um valor que poucos pensadores contemporâneos suspeitam que ela contenha. A astrologia pode ser vista, à luz desta filosofia, como um instrumento notável para a compreensão da experiência humana, considerada como o campo para uma interação cíclica de energias ou comportamentos de polaridades opostas. A astrologia é um meio de ver as experiências humanas como um todo orgânico, é uma técnica de interpretação, uma ‘álgebra da vida’.” (Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, pg. 20)

É por esta razão que temos tratado de formular currículos escolares e calendários-de-atividades tendo por base o Zodíaco. Há muito sustentamos que o esoterismo tradicional oculta uma linguagem contendo as chaves dos planos de consciência humanos, buscados inclusive pela ciência moderna. Resta, pois, interpretar os seus códigos sob os mais diversos ângulos possíveis. Prossegue o exegeta:

“Hoje em dia, o extraordinário interesse do público pela psicologia moderna oferece aos astrólogos uma oportunidade de reformular completamente a astrologia e seus símbolos. A astrologia pode ser transformada numa linguagem, não do ego individual, mas sim de toda a personalidade humana. E, num mundo dividido por conflitos e que perdeu o sentido devido à paixão por análises e diferenciações a todo custo, a astrologia pode mais uma vez surgir como uma técnica que possibilita ao ser humano compreender o significado de sua experiência como um todo: a experiência fisiológica e a psicológica, o corpo e a mente, o coletivo e o individual.” (Rudhyar, op. cit., pg. 25)

Acima de tudo, esta mudança, de acordo com os ventos naturalistas, permite revivescer dos grandes signos do telurismo. Na verdade, restituída em seu foco telúrico,

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a astrologia se apresenta até mesmo mediante uma linguagem ecológica, expressando os vínculos originais do homem com a Natureza –entre outras relações não menos vitais!

“Livre do medo das perseguições –espera-se!– a astrologia moderna pode utilizar então todos os velhos símbolos vitalistas da astrologia antiga, as imagens derivadas das mudanças periódicas da vegetação durante o ano e das experiências do ser humano com os poderes latentes da sua natureza física e genérica.

“Essas imagens estão repletas de significados de sentimentos e sensações comuns a todos os seres humanos desde o despertar da civilização na Terra. Estão impregnadas de sabedoria coletiva e instinto orgânico. Fazem parte da natureza fundamental do ser humano. (...) Sem o poder de sustentação dessa base-Raiz, o ser humano estará sempre por se desmoronar e desintegrar.” (Rudhyar, Op. cit., pg. 25)

A última frase é conclusiva sobre a importância de preservar as raízes naturais do homem e da cultura, como meio vital de integridade interna e de integração exterior.

Também podemos encontrar uma análise dos eixos (ou “polaridades zodiacais”) na obra de Dane Rudhyar, As Casas Astrológicas – O Espectro da Experiência Individual, especialmente na sua relação com os “quatro ângulos” do horóscopo. E em Ritmo do Zodíaco – O Pulsar da Vida, Rudhyar vincula à questão do equilíbrio o início equinocial do Zodíaco:

“(...) numa filosofia que não dá valor fundamental maior a uma fase da experiência, em detrimento da fase oposta e complementar, é também óbvio que o momento mais adequado para iniciar o ciclo seja quando as duas forças, que alternadamente crescem e minguam, estejam com intensidade iguais, portanto, num dos equinócios. O equinócio da primavera foi selecionado como o início do Zodíaco, porque naturalmente identificamos nossa experiência primeiro com o reino das coisas que crescem à do Sol.” (op. cit., pg. 27).

Passemos agora a investigar os eixos zodiacais seguindo as indicações sumárias e sintéticas oferecidas tanto nos trabalhos de Emma de Mascheville, como nos Espelhos de Sabedoria do Dharma de Maitreya.

Os Primeiro Grupo de três eixos reúne os eixos equinociais ou horizontais, envolvendo relações materiais e de criação física.

Áries – Libra: Eixo de Gênero

A dualidade masculino-feminino se acha explícita na regência destes signos, que são Marte e Vênus, formando assim o Eixo de Gênero e suas relações horizontais (o número um pode ser visto como um número físico). Para Mascheville, que lhe atribui cor vermelha, trata da “força criadora”, da correlação entre o Eu (Áries) e o Tu (Libra), assim como ou da “comunicação universal” entre o indivíduo e a sociedade. A mensagem deste eixo está na unidade entre o individual e o coletivo, e na necessidade de desejar ao próximo aquilo que deseja para sí próprio, requerendo um trabalho de compatibilidade de opostos a partir do refinamento da própria alma.

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Touro – Escorpião: Eixo de Espaço

O segundo eixo contém os mesmos regentes e diretrizes do anterior e por isto o significado não pode ser de todo distinto. A dualidade Touro-Escorpião pode ser vista como o par físico-psíquico (o dois pode ser considerado um número psíquico), ou o objeto e sua transmutação, mas também do espaço interior e exterior. Mascheville lhe confere a cor laranja como “eixo da Força e do Poder” ou “eixo da matéria criada” A mensagem deste eixo está na necessidade de contar com “matéria-prima” para a evolução, tal como no caminho-do-meio do Buda (que era do signo de Touro), e de entender que “assim como é no interior será no exterior e vice-versa”, requerendo um trabalho de psico-ecologia consciente.

Gêmeos – Sagitário: Eixo da Razão

Neste terceiro eixo temos a expressão da mente concreta e da mente abstrata (o três é um número mental), do imediato e do distante. Para Mascheville se trata do eixo referente à “lei da evolução” ou “dos interesses (material e espiritual)”, conferindo-lhe a cor amarela da mente. A mensagem deste eixo está na necessidade de harmonizar o entendimento concreto à aspiração abstrata, tal como no adágio ambientalista “agir localmente, pensar globalmente”.

O Segundo Grupo de três eixos apresenta maior complexidade, e nele estão incluídos os luminares e a energias mais radicais, celestes e terrestres.

Câncer – Capricórnio: Eixo do Tempo

O quarto eixo tem como polaridades planetárias a Lua e Saturno, regentes de Câncer e Capricórnio, signos voltados para o psiquismo e o imaginário, no material ou no emocional (o quatro é novamente um valor psíquico, possuindo ainda força física), como um eixo de tendências verticais ligado ao solstício de Verão, está voltado para a evolução terrena e a espiritual, sendo também um eixo social ou doméstico-social. Temos aqui a exaltação do tempo como passado e futuro, na índole destes dois planetas, um atávico e saudosista (Saturno) e outro projetista e sonhador (Lua). Mascheville o chama por isto o eixo da “eternidade” e também “eixo da Posição” (temporal), dando-lhe a cor verde da natureza. A mensagem deste eixo está em que “assim como foi no passado será no futuro”, e que aquilo que fazemos retorna para nós, seguindo a lei inflexível de causa-e-efeito, trazendo a mensagem da liberdade-na-responsabilidade e da iniciação.

Leão – Aquário: Eixo Social

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No quinto eixo temos os “planetas” Sol e Saturno, regentes de Leão e Aquário. Estes planetas determinam uma relação vertical de energias da ordem dos solstícios, similar ao anterior, portanto, à diferença de que agora enfatiza mais o social, seja o pessoal (Leão), seja o impessoal (Aquário), além de apresentar tendências intelectuais ou conceituais (o cinco é um valor mental, mas também psíquico). Mascheville atribui a cor azul a este que denomina “eixo do amor (pessoal e impessoal)” ou “eixo criador”. A mensagem deste eixo representa o entendimento de que tudo é relativo neste universo, e que somos sempre alunos e professores a um só tempo, assim como na importância da atuação social para a evolução do espírito.

Virgem – Peixes: Eixo de Hierarquia

Este eixo reúne o inferior e o superior como “terra” e “céu”, através dos signos de Virgem e Peixes, dedicados à saúde pessoal e impessoal. Ao aproximar Mercúrio e Júpiter, reúne a habilidade analítica de Virgem à intuição de Peixes (o seis é um valor psíquico-mental). Em função disto Mascheville o chama de eixo da “sabedoria universal”, e ao prestar-se ao serviço material e espiritual, denomina-o ainda “eixo da renúncia”, atribuindo-lhe a cor violeta da síntese. A mensagem deste eixo está em que “assim como é em cima é em baixo”, em saber associar o terreno ao celestial, e acatar a idéia de que “nem tanto ao céu nem tanto à terra”.

Os signos fixos, em especial, têm a ver com os planetas, expressando nisto dois eixos ou uma cruz: Marte-Vênus formando o eixo horizontal de gênero, e Sol-Saturno expressando o eixo vertical de hierarquia –o Sol aqui substituindo Júpiter, que forma par com Saturno e que possui amplas analogias com o Sol. Estes signos também representam elementos:

Saturno = Terra,

Júpiter = Água,

Marte = Fogo,

Vênus = Ar.

As Escalas Zodiacais

Considerando que cada eixo representa um par de opostos, fica implícita a existência de uma escala conducente de um pólo a outro, capaz de configurar por si só uma fórmula zodiacal própria. O valor doze está presente em várias fórmulas matemáticas, como são o dodecaedro e o tetraedro.

Podemos ver assim a vida como uma seqüência de ciclos, uma sucessão de zodíacos pessoais, formando conexões e etapas de crescimento e experiências dentro de um dado período de vida.

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As escalas representadas pelos eixos poderiam ser vistas em termos de hierarquia entre si, no entanto a idéia da escala favorece a imagem do entrelaçamento.

Na verdade, sempre houve mais de uma via de evolução neste tipo de esquema. Há uma via exterior, periférica e circular, que é a da Personalidade; e outra via interior, central e retilínea, que é a do Espírito. E ainda a via mista que emprega o símbolo da espiral, que é da Alma.

Os ciclos de doze anos têm base astronômica através do planeta Júpiter, responsável pela espiritualidade e pela fortuna, sendo a base do calendário chinês.

Não é fácil cronologizar as estações da vida, uma vez que a média de vida humana varia conforme as épocas e as civilizações. Como os chineses eram cultores da longevidade, usaram um padrão vital longo que se adeqüa bem aos critérios atuais, quando aposentadoria varia em torno dos 60 anos.

No caso, se emprega os cinco elementos obtendo o valor 60, e depois o dois para duplicar em 120. Os dois ciclos representam ciclos possíveis de vida, relacionados ao homem comum e ao sábio, respectivamente. Os chineses davam grande valor à longevidade e a procuravam por todos os meios. O ciclo de 50 anos, era o do jubileu dos hebreus, podendo-se encontrar variantes de 52 e 54 anos entre os mexicanos e os egípcios, entre outras.

O antigo uso da base cinco se explica, entre outras coisas, pelo fato de ter sido aquela a quinta raça-raiz.

A raça hoje emergente nas Américas é a sexta, concedendo isto uma nova base operativa, permitindo-nos considerar com ainda mais propriedade os seis eixos zodiacais, e obter 6x12=72 subdivisões, valor que corresponde a uma unidade de tempo (ou um “grau”) no Zodíaco sideral, e que se presta naturalmente para medir da mesma forma o período-padrão de vida humana -inclusive nos termos antevistos como 12+60.

Deste modo, podemos estabelecer na vida um cronograma de 72 passos anuais (subdivididos mensalmente pela Lua, se se quer). É possível, no entanto, ultrapassar este limite de tempo, pois para a ciência moderna o homem seria capaz de alcançar 200 anos de vida. A Bíblia concede 120 anos para o homem “decaído” (acima o atribuímos ao “sábio”). Por isto, buscando um “meio-termo”, existe uma fórmula perfeita e “universal” em nosso quadro que é a quadrada, ou o 12x12=144, onde “tudo se relaciona com tudo”, conforme a definição ideal de ciclo. De fato, podemos entrever tal esquema em muitas profecias: cristã, budista, hindu. A subdivisão mensal totaliza (12x12x12=) 1.728 meses, fórmula e cifra também conhecida nas profecias ou nos calendários sagrados.

Nestas escalas combinadas, valoriza-se o 13° elemento como continuação do 1° (o 13 era muito usado na astrologia pré-colombiana e entre os hebreus). Passemos a delinear a sua estrutura então, em dois ciclos, como se vê a seguir.

A CRONOLOGIA HUMANA: 12X6X2 = 144

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24114

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25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48

49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60

61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72

73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84

85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96

97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108

109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120

121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132

133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144

As extremidades da grade apresentam algumas das datas-chaves mais conhecidas das biografias sagradas e da métrica sagrada dos povos, como o 24 dos Anciãos do Apocalipse, os 36 anos da renúncia do Buda, o 48 que encerra a fórmula das energias terrenas em várias tradições, e o valor 108 (9x12) tão cultuado no Oriente; entre outros já comentados.

Eis, pois, o “programa” ou cronograma vital extenso de 144 anos, base do plano-de-existência da nova humanidade. As colunas verticais formam eixos definidos de experiências, e as horizontais os seus sub-ciclos. Na realidade, tudo se acha plenamente entrelaçado. O esquema demonstra que todas as coisas estão interligadas de uma forma indissolúvel.

O signo só tem sentido na medida em que atua em termos de conjunto ou de forma orgânica, formando um zodíaco. Na sua origem, um signo pessoal é uma fase do ciclo maior que foi destacada através do surgimento de uma individualidade que, por sua vez, passa a ser um representante desta etapa da evolução maior.

O entrelaçamento energético está realmente presente no Zodíaco ocidental, pela seqüência dada dos signos segundo a ordem dos elementos, que é Fogo-Terra-Ár-Água (repetida três vezes). Tal seqüência não apresenta uma lógica de cosmologia, especialmente o grupo central Terra-Ar, que invertido ainda conferiria uma ordem natural de criação. Mesmo assim seria uma combinação de elementos num grupo menor, ou seja, o entrelaçamento permaneceria em níveis gerais já que o grupo se repete alternadamente. Tal ordem apenas se explica mediante uma complexa combinação de opostos, onde os elementos estão misturados numa espécie de caos, formando a imagem do samsara hindu e o caráter periférico do zodíaco.

Dane Rudhyar parece registrar ainda esta cosmologia interativa, na esteira dos ensinamentos orientais. Com relação aos signos vinculados ao elemento ígneo original, diz:

“Esses signos lidam com os três aspectos do poder básico liberado no início de todos os processos ciclocósmicos –isto é, o poder de induzir uma série estruturada de transformações. A tradição oculta da Índia fala de três fogos: o fogo elétrico, o fogo solar e o fogo produzido pela fricção. Esses tipos de fogo correspondem,

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respectivamente, a Áries, Leão e Sagitário.” (Uma Mandala Astrológica, pg. 230, Ed. Pensamento, SP).

Isto não agruparia ainda um Elemento, apenas demonstra a sua evolução. A reorganização deste quadro é o que confere, todavia, as energias da evolução espiritual.

Seguindo uma lógica simples, teríamos algo como o Zodíaco chinês, onde os signos estão reunidos pela natureza dos elementos iguais numa natureza construtiva, portanto –que evoca antes a ordem dos planetas da astrologia ocidental–, ou seja: três signos de Água (Javali, Rato e Boi) seguidos por três signos de Madeira (Tigre, Coelho e Dragão), seguidos por três signos de Fogo (Serpente, Cavalo e Ovelha), concluindo com três signos de Metal (Macaco, Galo e Cão).

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Apêndices

Apêndice 1

AS REGIÕES ZODIACAIS

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Pudemos observar que alguns zodíacos sofrem distorções gritantes em certas zonas do planeta. É claro que a visão rudhyariana da astrologia como algo temporal e não espacial, ou como um processo interno e não como um fato exterior, favorece a abstração deste tipo de realidade. Não obstante, a fisiologia existe, e sempre teremos limites se não enfrentarmos as coisas; em algum momento elas retornarão. No mais, se astrologia também é praxis, os fatos são sugestivos de que a teoria da distorção zodiacal esteja fundamentada na realidade. E os próprios astrólogos aceitam as distorções zodiacais para certas esferas –embora nem sempre. Como sempre, são aqueles que sofrem com isto que mais protestam.

Ainda assim, veremos que cada uma das três grandes faixas climáticas pode apresentar vantagens e desvantagens, com exceção da faixa central (tropical) que, sendo central, tende a manifestar maior equilíbrio ao agregar a virtudes das zonas adjacentes e nunca chega a acumular grandes prejuízos. Ainda assim, podemos dizer que cada faixa se destaca por algum nível de perfeição, refletido num zodíaco regular, sendo neste caso a zona tropical a de equilíbrio ou da alma (com tudo o que representa de síntese). A idéia é que o programa astrológico previsto no zodíaco regular, nos moldes de programas, currículos ou calendários de atividades divulgados nesta ou em outras obras, seja aplicável particularmente nestas regiões, mas também como uma forma especial de beneficiar as restantes zonas do planeta.

No entanto, o clima sofre muitas variantes, inclusive da geologia e da ação humana, de modo que nada disto poderia ser muito generalizado. É verdade que os chamados micro-climas ou climas regionalizados, nunca podem emular de todo uma distinção. Assim, as altitudes do altiplano boliviano ou o platô tibetano, relativamente centrais, mesmo tendo uma temperatura semelhante às das estepes da Mongólia ou dos campos da Patagônia, de latitudes mais altas, ainda mantém a equação de luz-e-sombra diária/anual equilibradas, próprias dos trópicos ou adjacências. Estas combinações muitas vezes conferem à tais regiões um caráter de transição, explicado por exemplo à antiga elevada civilização andina e mesmo a mexicana.*

Além disto, veremos mais adiante que também existem amplas faixas de transição entre as três zonas zodiacais mais características.

O homem deve aprender com a Natureza o que ela tem a lhe ensinar. E cada região tem o seu ensinamento particular e especial.

Observa-se, pois, que existem, com relação ao clima, três zonas regulares e bem definidas em termos zodiacais:

a. Zona Dualista (de base binária) ou o Equador.

b. Zona Sintética (de base ternária) ou os Trópicos.

c. Zona Unicista (de base unitária) ou os Pólos.

Nos Trópicos, a Natureza ensina o fluir da vida da Alma, a alternância dos sentimentos e das experiências anímicas, que se resume em dar e receber, sob o espectro das forças do amor.

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No Equador, a vida ensina os valores da vida simples do indivíduo, no reino da quantidade e da diversidade, e na realização dos desejos mais elementares, que se resume a compreender, no entorno das energias do conhecimento.

E nos Pólos a vida ensina os valores mais elevados e singulares, a conquista das aspirações mais nobres, luminosas e universais, que se resume a criar, entretecidas pelas energias do poder e na expressão do Espírito.

Poderíamos dizer talvez, e se isto não soasse excessivamente hermético, que o Zodíaco serve para demarcar o espaço simbólico, e não propriamente o tempo. Decorre do espaço-tempo que é deformado em algumas latitudes, como na forma de uma elipse.

Tratemos de analisar mais detidamente a natureza destas regiões.

a. Zona Dualista (de base binária) ou o Equador.

Zodíacos: Domal e Sideral

No Equador temos dois ciclos zodiacais perfeitos ou quase, o biológico de casas e o espiritual-planetário, que são os extremos. Haveria assim espiritualidade formal de um lado e individualismo do outro, faltando a ponte solar-anímica entre o material e o espiritual, conferindo certa ambigüidade interior e carência se sentido coletivo, o que explicaria as dificuldades de constituir civilizações na faixa do Equador. Não é pois apenas o clima, mas toda uma estrutura de consciência estaria ausente ou prejudicada. Devido a isto, a espiritualidade se manifesta seja de forma fundamentalista ou popular, ou mesmo de ordem xamânica (povos das florestas), como predomina próximo aos pólos. Ainda que a dimensão biológica fique na realidade aqui especialmente favorecida, uma vez que o esquema de Casas alcança a sua perfeição no Equador, denotando assim que o plano da individualidade se manifeste da forma mais plena e equilibrada nesta faixa.

b. Zona Sintética (de base ternária) ou os Trópicos.

Zodíacos: Domal, Tropical e Sideral

Nos trópicos ou nas zonas temperadas, temos todos os três ciclos, o biológico, o anímico e o espiritual. Mas esta é a faixa onde o zodíaco coletivo (solar) apresenta a sua perfeição, enquanto os outros dois zodíacos apresentam ali pequenas distorções, ao contrário das faixas extremas (Equador & Pólos) onde as distorções chegam a ser muito pronunciadas. Assim, na média, esta região é a mais favorecida, que é a vantagem de toda a posição central. Os trópicos ficam eleitos como a região predestinada à vida total. E a rigor, a analogia zodiacal solar apenas teria validade na faixa tropical, que deve-se considerar desde os trópicos (paralelo 24) até os anti-trópicos (paralelo 36), tendo no meio o paralelo 30, centro solar do hemisfério, e ocupando 12 graus portanto. Acaso seria acidental este valor “zodiacal”, astronomicamente disposto nesta faixa? Sendo válido, caberia definir onde começa o “ciclo” (Áries), agora transposto diretamente para o quadro geográfico. Uma tradição antiga (divulgada por Rudhyar em A Astrologia da Personalidade) afirma que a cabeça corresponde à região fria do corpo

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e os pés (na verdade a base da coluna ou o plexo solar) à região quente, de modo que a cabeça estaria mais ao sul ou voltada para os pólos, e os pés nos trópicos ou voltados para o Equador. (Aliás, isto oferece uma interessante analogia com as condições zodiacais das regiões do planeta. Ou seja: a cabeça única nos pólos de um só zodíaco; o tronco “tríplice” (com os braços) no centro-hemisférico de três zodíacos, e os pés “duplos” no Equador de dois zodíacos.) Mas não se descartam outras visões e nem a ambivalência. O fato é que Libra estaria no paralelo 30, ponto de equilíbrio da balança climática, e uma região associada à Shambala. Será por isto que o grande Ibn Arabi afirmava que o mundo “começou” em Libra?

c. Zona Unicista (de base unitária) ou os Pólos.

Zodíaco: Sideral

Dos três zodíacos, restaria nos pólos incólume apenas o ciclo planetário maior ou espiritual. Talvez por isto a Tradição antiga vincule aos pólos (“hiperbórea”) as altas realidades espirituais do mundo, como um centro exclusivo de consciência cósmica; ainda que o termo “pólo” se preste a muitas leituras. A fusão dos conceitos de dia e ano nas regiões polares, nos remete na verdade a certas realidades a respeito do ano cósmico, como é a dualidade Manvantara & Pralaya, Manifestação & Absorção do universo (ou Dia e Noite de Brahma). Assim, ainda que simbolicamente, o círculo polar está conectado ao Grande Ano de Platão ou ao zodíaco sideral. Por outro lado, esta é uma espiritualidade de poucas bases sociais e de grande austeridade material, pode resultar em termos primitivos ou xamânicos (ver José Arguelles, em Ascensão da Terra), como ocorre entre os esquimós, na Sibéria, no Canadá e na Patagônia. De qualquer modo, conferia a simplicidade e o desprendimento das pessoas daquela região, cujo selo não seria nem a vida pessoal e nem a vida coletiva, mas a vida espiritual.

Ainda assim, seria este o ambiente mais “selvagem” ou inóspito. Diante disto, os trópicos seriam ainda o império da ordem, considerando-se o que afirma uma tradição voltada para a questão climática: “abaixo dos furiosos 40 não existe lei alguma, e abaixo dos 50 não existe deus algum.”

Este quadro também diz respeito à perspectiva temporal dos interesses, ou objetivos de curto, médio e longo prazo. A consciência se mede também pela largura de suas perspectivas. Os Pólos favorecem perspectivas de longo prazo ou semestrais –o retorno da luz ao termo de seis meses. Os Trópicos favorecem perspectivas de médio prazo ou sazonais. E o Equador favorece perspectivas de curto prazo ou diárias.

Falando em prazos, cabe lembrar que os grandes ciclos siderais apenas são por nós usados, em relação à esfera humana individual, de forma simbólica e “convencional”, ou em função da atual situação da astrologia no Ocidente. Nossa proposta é a da imediata adoção de um zodíaco-maior anexo ao horóscopo pessoal (mais uma faixa zodiacal, a terceira), relacionado, portanto, a Júpiter, mais ou menos como se faz no Oriente. E neste caso, o vínculo polar se dirigiria de algum modo diretamente a esta esfera, como certamente tem sido adotado em outras partes e épocas do mundo.

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O que tudo isto possa significar pode ser variado, mas, possivelmente, todas estas condições seriam importantes para gerar a diversidade humana, seja da humanidade em geral, seja dos ciclos individuais. Talvez a civilização requeira esta variedade de caráter na sua organização, e até mesmo um indivíduo sinta necessidade de viajar a todas as regiões em diferentes épocas de sua vida. A Índia, que tem sido um paradigma de universalidade, abrange latitudes que vão quase desde o Equador até o paralelo 37 (na atualidade), sendo esta uma das grandes das causas de sua riqueza humana. A situação geográfica do Brasil é semelhante, formando com a anterior talvez exemplos únicos no mundo. Nisto, seria possível mencionar, paralelamente e de passagem, uma abordagem conhecida em geografia sagrada que inclui as três faixas de decênios de graus, nos seguintes termos:

0°-10° = energia biológica;

11°-20° = energia psíquica;

21°-30° = energia mental.

Este é o grande quadro da florescência cultural dos últimos milênios, com destaque para a última fase, o mental-subp-tropical, associado ao ciclo cultural áryo (raça branca), enquanto a central é de natureza atlante (raça amarela) e a inicial é lemuriana (cultura negra) -com todo os relativismos cabíveis neste quadro de generalizações.

E pode-se ainda procurar refletir o grupo nos 30 graus seguintes:

31°-40 = energia mental;

41°-50 = energia psíquica;

51°-50 = energia física.

Etes zonas climáticas acham-se quiçá já mais vinculado a culturas primitivas, muito embora nos últimos séculos este quadro tenha se transformado radicalmente, especialmente na Europa e nos América do Norte, tornando-se importantes focos da civilização materialista.

Como se vê, o tema não está longe das presentes considerações. A teoria do “determinismo climático”, tão em voga na Europa no século XX, e pela qual seria praticamente impossível surgir uma civilização nos trópicos, possui certamente os seus fundamentos, e os fatos estão aí para demonstrar. A teoria não é, todavia, absoluta, pois Meso-América, Andes, Etiópia e Indonésia, são testemunhos suficientes de que importantes civilizações podem ser suscitadas nestas regiões. Ainda assim as dificuldades seriam grandes, e pode-se mesmo argüir que alguns destes locais contaram com condições excepcionais de isolamento ou compensações climáticas.

De qualquer forma, não seriam os lugares ideais. E nisto, propugnamos que uma forma de possibilitar civilizações nestas áreas, seria centralizá-las em regiões de clima temperado. É certo, porém, que envolver desta maneira amplos territórios, exige uma estrutura de estado muito eficiente. O Brasil a Índia têm esta possibilidade geográfica, ainda que o primeiro tenha sua capital atual em latitudes mais altas, de clima porém

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compensado pelas alturas do Planalto Central. Serve, de qualquer modo, para organizar grandes blocos no subcontinente, o padrão acima proposto.

Cabe ver ainda, no entanto, que existem amplas zonas de transição entre estas três faixas, as quais compartilham das estruturas zodiacais adjacentes. De modo que podemos dividir os planetas em cinco zonas climáticas principais, subdivididas entre nove zonas (“Ba-Guá geográfico”, com faixas de doze graus), quatro ao norte e quatro ao sul, com uma central (“dupla”). De forma mais exata, podemos determinar até doze zonas climáticas, se incluirmos os pólos propriamente ditos, coisa que nos confere outra fórmula para um zodíaco geo-climático vertical, não muito diferente estruturalmente ao sistema de eixos de Emma de Mascheville: o eixo Capricórnio-Câncer nos polos e o eixo Áries-Libra no Equador. Os signos fixos localizam-se, é claro, nas Zonas Sintéticas medianas.

Passamos a designar as cinco zonas por suas relações zodiacais, e também climáticas e geográficas –ainda que uma série de fatores localizados tendam a alterar o clima mesmo em vastas regiões:

1. Zona Dualista (ZD): corresponde à faixa do Equador e circunvizinhanças, incluindo toda a extensão de clima equatorial e sub-equatorial. É chamada “dualista” por contar com dois zodíacos: o domal o sideral. Abrange 24 graus, 12 ao norte 12 ao sul do Equador, sendo a zona mais ampla, porque se divide nos dois hemisférios. Tange aos paises amazônicos e andinos adjacentes, à África Central e à Indonésia.

2. Zona Intermediária Baixa (ZIB): corresponde à faixa de transição existente entre a Zona Dualista e a Zona Sintética, ou entre a região tropical e a zona polar, com clima tropical predominante, e onde o clima vai gradualmente se deformando em direção ao calor tropical, distorcendo o zodíaco solar. Abrange 12 graus, do 12° ao ao 23° (Trópicos), atingindo ao norte a América Central e a África Norte-Central, e ao Sul o centro da América do Sul, o norte da Austrália e a África Centro-Sul.

3. Zona Sintética (ZS): é a faixa centro-hemisférica que vai dos 24° ao 36°, totalizando 12 graus e tendo por núcleo o paralelo 30. De clima sub-tropical predominante, é chamada “sintética” por incluir os três níveis zodiacais. No hemisfério norte passa por uma ampla extensão de terras, incluindo quase todos os continentes, ficando de fora apenas a Europa e o Ártico. E no Sul atinge todos os continentes existentes, à exceção da Antártida.

4. Zona Intermediária Alta (ZIA): corresponde à faixa de transição existente entre a Zona Sintética e a Zona Unicista, ou entre a região tropical e a zona polar, sendo também chamada zona temperada, onde o clima vai gradualmente se deformando em direção ao frio polar, distorcendo o zodíaco solar e o sistema de

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Casas. Abrange 16 graus dos 37 aos 53 (anti-círculo polar), com quase toda a Europa fica nesta faixa de transição, ao norte, e no sul

5. Zona Unicista (ZU): corresponde à faixa que inicia no anti-círculo polar (54°) e vai até os pólos, passando sobre o círculo polar (67°) propriamente dito –uma vez que não vemos necessidade de definir mais duas faixas efetivamente polares– totalizando assim 35° (12+23). Aqui as estações desaparecem até restarem apenas duas e os dias virtualmente sumirem, restando um único zodíaco, o sideral, daí seu nome de “unicista”. Ao norte pega o Alasca, o Canadá, a Groenlândia, o Ártico, os países altos da Europa e a Sibéria; ao sul pega a ponta da América meridional (“Terra do Fogo”) e a Antártida. Existe pouca coisa nas zonas realmente polares, ou seja, além do 67°, em termos de populações.

É natural que Mascheville, nascida na “velha Europa”, tivesse resistência em encarar um problema tão complexo, e ainda apoiado na “funcionalidade” prática atávica observada, mesmo que ela se colocasse (juntamente com outros europeus que vieram para a América do Sul) como uma precursora da sabedoria da nova Raça-raiz, de base meridional. E nisto, sua tarefa não pode ser questionada na prática, ao conceder saberes tão preciosos e intuitivos. Algumas de suas teorias, ainda que pouco desenvolvidas, são extremamente úteis para delinear os caminhos da síntese astrológica necessária à esta nova humanidade, neste seu novo período de transição. **

* Nisto, quando afirmamos ser o Rio Grande uma área de clima diversificado, não estamos levando muito em consideração certos detalhes geográficos que formam a complexidade habitual da realidade climática e que terminam comumente por alterar em maior ou menor grau o clima. Neste estado, dois fenômenos ajudam a esfriar o clima: os ventos (especialmente o sulista ou Minuano) e a altitude (especialmente no caso das serras e do planalto rio-grandense situado ao norte). Ver também a nossa obra intitulada O País dos Ventos.

** Ver mãos sobre o tema da geografia espacial hemisférica, no Apêndice seguinte desta obra.

Apêndice 2

O PAPEL DO CLIMA E DA GEOGRAFIA NA HISTÓRIA

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Em obras sobre geografia sagrada (ou geosofia), como “Nova Albion” e “Decretos de Agarthi”, tivemos a oportunidade de levantar a importância das latitudes na configuração da condição cultural dos povos, sobretudo a partir do ângulo climático, onde testemunhamos que o próprio equilíbrio entre as estações - quer dizer, a sua completa e caracterizada presença, e não sua hegemonia ou simplificação-, contribuiriam para a formação de um quadro humano mais complexo e rico (ver também na presente obra).

A alternância climática de nosso globo se encontra determinada a partir de diferentes condicionantes, definindo ciclos de diversas grandezas que emprestam ao mundo as suas estações maiores e menores, as Eras glaciais cíclicas e inversos menores, e assim por diante.

Os estudos em torno deste tema se encontram em andamento ainda, mas gostaríamos de sugerir uma relação possível entre os ciclos glaciais hemisféricos (ou seja: ao Norte e ao Sul do globo), sobretudo, e os períodos de 13 mil anos que dividem em dois ao Grande Ano de Platão, onde o eixo da Terra faz um completo processo de translação, podendo ser dividido neste caso da mesma forma que as estações do Ano Solar através dos períodos acima registrados. Tratar-se-ia, é claro, de ciclos menores do tema, das glaciações. Pois, pese a aparente sutileza deste ciclo-maior de 26 mil anos, o clima da Terra se encontra definido mesmo a partir de elementos muitos sutis, e a alteração de 1 ou 2 graus de temperatura já é suficiente para dar origem e grandes e profundas transformações, sendo neste sentido uma imensa aventura esta na qual o homem pode estar se projetando na atualidade através da deliberada alteração do clima planetário através de sua própria interferência, com os possíveis efeitos residuais que também ocorrem dentro do ecossistema com sua complexa e custosa capacidade de auto-acomodação.

Em concordância com nossa tese, verificar-se-ia que a última glaciação teve lugar na Europa extinguindo-se há cerca de 6 mil anos atrás. Nesta época, o Sahara contava com grande cobertura florestal após ter sido já elevado desde sua posição original como Oceano. Todavia, já há 12 mil anos, esta seria mais ou menos ainda a sua condição, quer dizer: oceânica e aproximada da grande glaciação que dominava a Europa de então.

Nesta época, o hemisfério Sul do globo não detinha tanto gelo e tampouco os Oceanos tanta água, existindo outros Continentes, e a vida humana se achava mais disseminada no Sul - na medida em que se assim pode classificar as posições cardeais do globo -, apesar da menor quantidade de terra ali existente no geral. Todavia, a Civilização se achava então ali concentrada e os grandes pólos de cultura universal tinham no Hemisfério Sul do globo o seu pleno desenvolvimento. Na verdade, este clímax teria ocorrido há cerca de 10 ou 9 mil anos, nos termos de então, quando a Humanidade era certamente muito mais primitiva sob certos aspectos, mas abrigando com certeza a presença dos sábios divinos que geraram Tiahuanaco - sendo que seria muito possível existirem já desde muito antes, se forem confirmadas as estimativas do cientista Stephen W. Hawking que fez corresponder as linhas de Nazca a um mapa celeste que reproduziria o cosmos há 15 mil anos...

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O quadro hoje se encontra sabidamente invertido, com a maior massa de gelo ao Sul e as grandes concentrações populacionais ao Norte, muito embora o processo se ache em plena inversão uma vez mais, de modo a focalizar o hemisfério austral como o futuro foco do desenvolvimento humano - o que por si só já deverá conduzir o mundo a uma substancial redução em sua taxa populacional.

O texto que segue dispõe algumas das principais teorias existentes em torno deste tema, e dentre elas não ponteiam ainda a nossa de natureza cicloidal-hemisférica, embora de modo geral se possa entrever elementos que a confirmem ou ao menos sugiram a sua possibilidade, mesmo porque não é rara a associação direta entre as glaciações e os diferentes movimentos do eixo da Terra, como veremos. O texto é extraído da enciclopédia “Biblioteca da Natureza Life”, volume intitulado “A Terra”, por Arthur Beiser e Redatores, editado por José Olympio Ed., RJ.

“O ciclo de temperaturas descoberto pela equipe de Urey tende a confirmar uma velha teoria, sobre as idades glaciais, proposta pelo físico servo Milutin Milankovitch, na década de 1920. Milankovitch calculou o efeito que os múltiplos desvios e oscilações da órbita da Terra poderiam exercer sobre a sucessão das estações. Verificou que, em cada período de 40.000 anos, circunstâncias se combinam para proporcionar às mais elevadas latitudes da Terra verões frescos e invernos amenos - verões nos quais os glaciares não se fundiriam de maneira acentuada, e invernos de nevadas copiosas nas regiões árticas e altas montanhas onde se formam esses glaciares.

“A teoria de Milankovitch explica a flutuação das temperaturas durante as idades glaciais, mas não esclarece por que se iniciaram essas idades. Durante a maior parte da história geológica, as regiões temperadas desfrutaram de climas benignos e subtropicais, que permitiram às palmeiras florescem e deixarem restos fósseis a 1.600 km do pólo Norte. Nos últimos 30 milhões de anos, segundo o grupo de Urey, as temperaturas das águas do fundo dos oceanos diminuíram constantemente, caindo de 21° C, no fim da era dos dinossauros, a apenas 2°C, no inicio das idades glaciais, há um milhão de anos.

“Há duas hipóteses que explicam o lento esfriar que levou as zonas temperadas da Terra à beira de congelar-se. A opinião da minoria assevera que o Sol tem fornecido menos calor durante os últimos 30 milhões de anos. Os astrônomos, porém, negam essa possibilidade. Alguns geofísicos acreditam que esse grande esfriamento deve estar vinculado a um segundo fenômeno, igualmente espetacular, do qual descobriram provas convincentes na própria Terra: o movimento do nosso planeta e sua topografia em relação aos quase contíguos pólos magnético e geográfico. As ‘bússolas’ constituídas da matéria cristalina imantada que se encontra nos fósseis da superfície da Terra indicam que há 500 milhões de anos o pólo Norte situava-se nas vizinhanças das ilhas Havaí; há 350 milhões de anos, nas proximidades do Japão; e depois, em vários lugares do Pacífico Norte, até que se localizou no oceano que denominamos Ártico. Ao mesmo tempo, o pólo Sul se deslocou do Atlântico para a Antártida, transformando-a de um continente subtropical, dotado de vegetação luxuriante e depósitos carboníferos, num deserto de gelo.”

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Teríamos aqui uma afirmação no sentido de haver sido o imenso Continente Antártico atual, palco perfeito para a existência humana algum dia, o que concordaria com as teorias de certos místicos sobre o palco das primeiras raças. Sigamos:

“Esse chamado deslocamento ou deriva polar - no qual o eixo da Terra permanece de fato fixo em sua direção no espaço enquanto a matéria terrestre se move ao seu redor - é explicado por um grupo de teóricos como um reajustamento necessário da Terra sempre que algum sublevantamento soergue novas cadeias de montanhas ao norte ou ao sul do equador. Estes soerguimentos provocam um desequilíbrio que só se estabiliza quando a Terra se reorienta de tal modo que as novas montanhas ficam em melhor equilíbrio em fase da distribuição das massas do hemisfério oposto.

“A maneira pela qual o deslocamento dos pólos poderá haver ocasionado as idades glaciais terá sido a redução da quantidade de energia recebida pela Terra, transformando as áreas escuras, que absorvem calor, em áreas cobertas de neve, que o refletem. Enquanto os pólos se situaram no Atlântico e no Pacífico, suas massas de gelo devem ter sido contidas pelo calor moderador e as correntes dispersantes dos oceanos. Todavia, quando a Antártida, o Canadá, a Sibéria e a Groenlândia se cobriram de neve, a Terra deve ter absorvido menos calor do Sol, ano após ano. E, pouco a pouco, a Terra inteira, incluindo o reservatório de calor dos oceanos, deve ter se tornado mais fria. Quando os oceanos já não puderam proporcionar calor suficiente para neutralizar a tendência da Terra para o esfriamento, os glaciares ficaram presumivelmente livres para avançar e retroceder, conforme o ciclo de Milankovitch.

“Ss a teoria que explica as idades glaciais pelo deslocamento dos pólos é válida, parece pouco provável que as idades se encerram e que a Terra retorne ao seu clima uniforme e normal até que as novas cordilheiras de montanhas, no extremo norte e nos confins do sul, tenham obrigado os pólos a volver ao mar. Os dados mais fidedignos dos termômetros constituídos de conchas que contém isótopos de oxigênio indicam que o clima interglacial alcançou sua temperatura máxima por volta do ano 8000 a.C., e que, desde então, vem esfriando intermitentemente. Suas flutuações parece haverem coincidido com vários grandes acontecimentos históricos. A época do clima cálido que prevaleceu há 10.000 anos terá provavelmente secado o Saara e compelido as populações do norte da África e emigrar para o oásis do Nilo, onde lançaram as bases da civilização. Prolongados períodos de frio, durante as épocas pré-clássicas e, novamente , nos primeiros séculos da era cristã, poderão ter contribuído para impelir rumo ao sul as hordas bárbaras provenientes da Ásia Central, lançando-se contra as muralhas de Cnossos, Tróia, Roma e Bizâncio. Uma fase de clima ameno, ocorrida no ano 1000 de nossa era, provavelmente permitiu que os vikings descobrissem a Groenlândia e a América. A partir de 1720, aproximadamente, a temperatura dos oceanos vem se elevando ligeiramente, mas não há motivos para crer que não baixe outra vez dentro de pouco tempo. É possível que decline apenas uma fração de grau, ou vários graus, na primeira de uma série de quedas semelhantes às que caracterizaram o início gradativo das passadas glaciações.

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“Se os glaciares tornarem a avançar lentamente para o sul durante os próximos milênios, o homem terá de imigrar para os trópicos e as zonas desérticas da Terra - que já o serão - ou terá de empregar muita energia e grande engenho para desviar as correntes de gelo de suas cidades setentrionais. Se, por um lado, os pólos de deslocarem ou o Sol se tornar mais quente, as idades de gelo chegarão ao seu termo e o enorme volume de águas aprisionado nas calotas de gelo da Groenlândia e da Antártida será libertado, elevando o nível dos oceanos em cerca de 60 a 90 m. Nesse caso, também, o homem será obrigado a emigrar ou a consumir enorme energia e esforço intelectual. Terá de abandonar as atuais terras ao longo dos litorais e as grandes cidades portuárias, ou então, se houver continuado a aperfeiçoar sua capacidade tecnológica, terá de proteger toda a orla marítima da Europa e da América com o emprego de diques de milhares de quilômetros de extensão.”

Naturalmente este último é o cenário que hoje se configura, por razões inexistentes todavia, na aparência, à época da redação do texto, na década de 70.

Se este não chega a confirmar a totalidade de nossa teoria, e chega a propor um ciclo mais amplo - ou seja: aquele de 40.000 anos - para os chamados “verões polares”, ao menos confirma muitos pontos importantes para o desenvolvimento de novas linhas de investigação, inclusive pela ‘introdução’ dos sub-ciclos glaciais de natureza cicloidal-hemisférico como temos proposto, e que parece mesmo estar sugerido na hipótese acima aventada de virem os glaciares a “tornarem a avançar para o sul” -ainda que sabemos agora que estes simplesmente... desaparecerão, com todas as consequências que disto deriva em termos de agravamento do aquecimento global. O papel das calotas polares também é capital para o resfriamento da Terra.

Dentro de um quadro mais próximo e considerado regular na ótica tradicional da Ciência Sagrada, o tema adquire um contorno algo mais exato, de modo que, abaixo, transcrevemos uma análise da disposição dos continentes populacionais e dos principais focos da Civilização no decurso do atual período histórico, iniciado há cinco mil anos precisamente, e que de certa forma também culmina e reinicia na atualidade. Trata-se de um ciclo que, sabidamente e como já nos reportamos, se acha ou se encontrou (pois agora finda, todavia) centralizado no Hemisfério norte do globo, mas que agora se volta para o Sul.

O texto, que focaliza neste caso a questão também desde o ângulo propriamente geográfico, é retirado do “Atlas Histórico Escolar”, FENAME/MEC, 1960, e inicia confirmando a origem da civilização no Paralelo 30 e adjacências, no seu último surgimento setentrional:

“O PAPEL DAS LATITUDES NA HISTÓRIA”

“É no Hemisfério Norte que o globo apresenta as maiores massa continentais; no Hemisfério Sul, as terras são mais isoladas (América do Sul, África do Sul e Austrália). É, pois, ao norte do Equador que as influências geográficas de latitudes marcaram mais visivelmente os episódios da História Geral.

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“As origens políticas da Humanidade foral iniciadas nas zonas temperadas, e o centro de gravidade da História se deslocaram aos poucos para o Norte, à medida que as condições de civilização permitiram a adaptação dos povos a climas de mais altas latitudes.

“De fato, a História Antiga se localizou entre o 20° e o 45° de latitude norte; foi o caso do Egito do Nilo, da China do Yang-tsé, da Índia do Ganges e do Indo. O próprio Império Romano se manteve nas latitudes do Mediterrâneo, do 30° ao 45°, mais ou menos. Na Idade média, as capitais emigraram para o Norte (Londres, Paris, Berlim, Estocolmo, São Petersburgo, etc.), de 45° a 60° de latitude norte.

“Do século XVI em diante, a hegemonia nos anais da História passou à Europa, mas, depois das Guerras Mundiais, já tendem as principais questões políticas a se localizar em baixas latitudes (Dacar, Suez, Líbia, Bagdá, Cingapura, Laos, etc.), e a hegemonia está numa fase de bipolaridade (Estados Unidos e Rússia Soviética).”

A passagem do foco cultural às baixas latitudes é em si mesmo um sinal de final de ciclo, e a citada bi-polaridade está em amplo processo de transformações atualmente dentro do quadro geo-político mundial, com a extinção da U.R.S.S. e a decadência do sistema comunista de materialismo-histórico. Sigamos, daí.

“As latitudes, entretanto, pouco esclarecem os episódios da História, se não são lembradas as suas conseqüências climáticas. Os progressos da Civilização têm, evidentemente, facilitado a adaptação dos grupos a condições meteorológicas pouco favoráveis à vida coletiva normal. A História Antiga e Medieval relata, porém, circunstâncias que os climas contribuem para explicar. Não existem, infelizmente, registros de temperaturas, chuvas e outros fenômenos meteorológicos relativos ao passado remoto; mas ciclos ou pulsações climáticas registradas na Ásia Russa, por exemplo, permitem acreditar que uma diminuição considerável da coluna pluviométrica pode dar-se em anos consecutivos.

“O caráter continental do Heartland dos geopolíticos o predispõe aos extremos climáticos. Daí nasceu a teoria do americano Ellsworth Huntington (1876-1947) sobre ‘As Pulsações da Ásia’ e suas conseqüências históricas. Uma queda de 2 (normal) para 1 (fria) nas precipitações de um ano, reduz um rebanho de pastores nômades de 600 ovelhas a 10 ovelhas por milha quadrada de pastagem. Os movimentos migratórios são conseqüência direto de deslocamentos forçados de massas nômades, cuja mobilidade é grande.

“No Heartland (Eurásia Continental), surgiram, no passado, civilizações mongóis atestadas pelas ruínas de Karakorum e que se expandiram sob forma de invasões, tanto do lado da Europa como do lado da China, apesar de sua famosa muralha.

“As alterações climáticas, diz Ellsworth Huntington, tem sido um dos fatores que mais influíram no curso do progresso humano. As conseqüências de um ciclo climático de secos não somente influem sobre algumas gerações humanas, como também podem repercutir, durante séculos, sobre regiões afastadas.

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“É desse modo que o autor americano, muito empolgado pelo seu estudo (Mainsprings of Civilization - 1945), explica o papel que desempenhou o dessecação nas invasões bárbaras, no fim da Antiguidade, na expansão muçulmana iniciada nas orlas desérticas da Arábia, na descida dos mongóis para a índia, no deslocamento dos grandes centros da Babilônia e do Egito para o noroeste da Europa, que ele define ‘como uma marcha em busca das tormentas e do frio’.

“Além destes exemplos de dimensões humanas espetaculares, não resta dúvida que uma infinidade de fatos históricos secundários também se prendem à distribuição das temperaturas, das chuvas, das pressões, da umidade e às alterações de sazonamento, pois são estes elementos atmosféricos que regem a alimentação, o vestuário, a habitação e mesmo as atitudes psicológicas.

“As latitudes, em suma, explicam em parte o que significam os climas para o ótimo biológico e o desenvolvimento mental da Humanidade. O turismo já foi definido o ‘nomadismo dos civilizados’.

“Mais importante seria, talvez, estabelecer uma relação das influências que podem exercer os climas e suas oscilações sobre o desabrochar da cultura nas diferentes regiões do globo.

“Na História Contemporânea, a fase das grandes migrações já cedeu lugar às imigrações por infiltração e colonização. Os deslocamentos consideráveis de massas humanas que seguiram as últimas guerras nada têm com as condições climáticas dos países em que se processaram.”

Obviamente, não se poderia esperar de cientistas profanos ou “exotéricos”, uma fé em preceitos de Geografia Sagrada e no conteúdo arcano dos números, e muito se surpreenderiam estes ao observar a regularidade que manifesta este processo, através dos sucessivos ciclos históricos, mesmo porque a própria evolução climática decorre em ciclos paralelos.

Pois, quando algum ponto do planeta não se acha propício a este amplo processo histórico integrado à situação planetária global, outro certamente se encontrará em condições ideais para isto, permitindo a continuidade não apenas da vida, mas também do progresso humano através das idades.

Na verdade, a própria História tem sido testemunha fiel desta realidade; se não quisermos acreditar em princípio nas determinações matemáticas da evolução. Obviamente, muito terá de ser estudado ainda para comprovar em detalhes estas asserções de certa forma “apriorísticas” ou teóricas, porém baseadas nas Ciências Sagradas e em grande parte já na própria História, em relação ao quê a definição perfeita do último ciclo nestes padrões, deveria já sugerir acerca da possibilidade de tais coisas como regras universais e perpétuas.

De fato, a perfeita concordância entre preceitos matemáticos e dignidade humana, não poderia ser em nenhum momento relevado por um observador atento e imparcial do tema, em relação ao contexto da evolução das idades.

E, mas ainda, àquele para quem não é suficiente os poderosos indícios do remoto passado, agregados à perfeita compleição arquetípica da História recente, convidamos

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que permaneça atento às novas descobertas e que verifique a eterna repetição do ciclo da vida que recomeça a ocorrer nesta mesma oportunidade na qual vivemos, apenas com a alteração de detalhes “internos” por assim dizer, responsáveis pelo aspecto progresso mais amplo que se vale destas estruturas fixas de evolução mundial para a sua emergência. Afinal, a História humana ainda é curta demais para definir certos padrões em vista.

Apêndice 3

O HORÓSCOPO DAS ÁRVORES

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O horóscopo das árvores é atribuído aos druídas - sacerdotes celtas que viveram nas regiões da Gália e da Irlanda durante a Idade Média, e colaboraram na criação das famosas lendas e os romances da cavalaria. O tema é aqui tratado em função de seu expresso caráter ecológico e naturalista, em especial porque as árvores-signos em vista estão relacionadas aos meses em que estas árvores acham-se de algum modo em destaque, havendo assim igualmente um vínculo sazonal.

Transcrevemos a seguir algumas abordagens interessantes e informativas do tema, pois inclui de resto alguns símbolos anexos à tais árvores sagradas.

Horóscopo Lunar Celta *

Um dos aspectos que faz a cultura celta tão mais próxima da natureza é a contagem dos dias através do nascer e do pôr do sol, levando-nos a contar as noites em vez dos dias. Isto aproxima-nos não só da natureza, mas também do equilíbrio gerado pelo Universo, criando uma ligação perfeita entre o céu e a terra, entre o Sol e a Lua.

Desta maneira, o dia começa quando o Sol se põe; ao contrário do que estamos acostumados. O dia começa com a Lua, ou seja, com a Deusa mostrando que é hora de trabalhar o mistério, o oculto, o morrer. Ao amanhecer podemos sentir a presença do Deus, com seu fogo ardente vem nutrir e fecundar a Deusa, para que mais um dia possa ser gerado.

Para alguns é muito difícil aceitar e entender esta prática sem fazer qualquer ligação com bruxaria e feitiçaria, em seu sentido pejorativo. Mas, para a classe sacerdotal do povo celta – os Druidas – estes ensinamentos são de tamanha grandeza e profundidade que eles resolveram dedicar suas vidas à conscientização das pessoas para que não houvesse desequilíbrio entre os deuses e os homens.

Os Druidas deram a cada um dos meses do ano o nome de uma das suas árvores sagradas; assim como fizeram com o alfabeto ogham. Cada letra deste alfabeto era representada por uma árvore, que, por sua vez, representava um período do ano. A este período demos o nome de mês; isto para fazermos um paralelo entre as duas culturas.

O horóscopo celta lunar não foi desenvolvido baseado nos movimentos da Lua (como alguns devem estar a imaginar), mas sim nos períodos do ano em que suas árvores sagradas tinham uma maior predominância de suas características e propriedades. Desta forma, veja através das linhas que se seguem, qual a árvore que rege o período do ano em que nasceu.

Dez 24 a Jan 20 - árvore: bétula; símbolo: águia ou veado

Jan 21 a Fev 17– árvore: sorveira brava; símbolo: dragão verde

Fev 18 a Mar 17 - árvore: freixo; símbolo: tridente

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Mar 18 a Abr 14 - árvore: amieiro; símbolo: pentáculo

Abr 15 a Mai 12 - árvore: salgueiro; símbolo: serpente

Mai 13 a Jun 09 - árvore: espinheiro; símbolo: cálice

Jun 10 a Jul 07 - árvore: Carvalho; símbolo: roda de ouro

Jul 08 a Ago 04 - árvore: azevim; símbolo: lança em chamas

Ago 05 a Set 29 - árvore: aveleira; símbolo: salmão

Set 30 a Out 27 - árvore: videira; símbolo: cisne

Out 28 a Nov 23 - árvore: hera; símbolo: borboleta

Nov 24 a Dec 22 - árvore: sabugueiro; símbolo: pedras

Dez 23 - árvore: visco; símbolo: corvo

Para aumentar os poderes de cada uma dessas árvores seria apropriado que tivesse alguma coisa feita da madeira da árvore correspondente ao seu signo. Como também, se preferir, ter o elemento que simboliza a sua árvore para que suas características e propriedades terapêuticas possam agir sobre si, além de trazer proteção e sorte.

Na sequência, temos a descrição da “psicologia” associada a tais árvores-signos, e que você pode consultar a partir da tabela dada acima, para conhecer a relação entre uma data e a Zodíaco das Árvores.*

ÁLAMO (a incerteza)

é uma pessoa com um alto sentido de estética, não é muito segura de si mesma, valente se for necessário, precisa estar em um ambiente agradável, é muito seletiva, às vezes solitária, muito alegre, de natureza artística, boa organizadora, tenta aprender através da filosofia, confiável em qualquer situação, assume as relações muito seriamente.

ÁRVORE DE ABEDUL (a inspiração)

uma pessoa vigorosa atrativa, elegante, amistosa, não é pretensiosa, é modesta, não gosta de excessos, aborrece-se com coisas vulgares, ama a vida na natureza e a calma, não é muito apaixonada, cheia de imaginação, um pouco ambiciosa, acredita numa atmosfera de calma e satisfação.

ÁRVORE DE ABETO (o mistério)

é um pessoa de extraordinário bom gosto, dignidade, sofisticada, ama a beleza, temperamental, teimosa, tende para o egoísmo mas preocupa-se com as pessoas que estão ao seu redor, é modesta, muito ambiciosa de muitos talentos, criativa, amante insatisfeita, de muitos amigos e inimigos, muito confiável.

ÁRVORE DE ARCE (a mente aberta)

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uma pessoa fora do comum, cheia de imaginação e originalidade, tímida e reservada, ambiciosa, orgulhosa, segura de si mesma, com sede de novas experiências, algumas vezes nervosas, tem muitas complexidades, possui boa memória, aprende rapidamente, com uma vida amorosa complicada, gosta de impressionar. deve buscar ter uma relação seria que encha sua vida, isso lhe fará feliz.

ÁRVORE DE AVELÃ (o extraordinário)

é uma pessoa encantadora, não pede nada, muito compreensiva, sabe como impressionar as pessoas, é uma pessoa segura, mente aberta, positivista, ativa na luta por causas sociais, popular, temperamental e amante caprichoso, sensual e excessivamente apaixonado, belo, sensível, honesto e companheiro tolerante, com um sentido de justiça muito preciso.

A OLIVEIRA (a sabedoria)

ama o sol, de sentimentos quentes e ternos, razoável é uma pessoa equilibrada, evita agressão e a violência, tolerante, alegre, calma, tem um sentido desenvolvido para a justiça, sensível, empática, não conhece os ciúmes, encanta-a a leitura e a companhia de pessoas sofisticadas.

A NOGUEIRA (a paixão)

implacável, é uma pessoa estranha e cheia de contrastes, um pouco egoísta, agressiva, nobre, de horizontes amplos, de reações inesperadas, espontânea, de ambição sem limites, nada flexível, é uma companhia difícil e pouco comum, nem sempre agrada mas é admirável, com um gênio estratégico, muito zelosa e apaixonada, não se compromete.

A FIGUEIRA (a sensibilidade)

muito forte, é uma pessoa pouco voluntariosa, independente, não permite as contradições ou discussões, ama a vida, sua família, as crianças e os animais, um pouco volátil socialmente, bom sentido do humor, tímida mas um pouco extrovertida. gosta da ociosidade e da preguiça, tem um talento prático e inteligente. pessoa muito sensual e atrativa ao sexo oposto. Gosta de elegância e porte.

ÁRVORE DE CASTANHAS (a honestidade)

de beleza incomum, não deseja impressionar, com um desenvolvido sentido de justiça, vigorosa é uma pessoa interessada, diplomática de nascimento, se irrita facilmente e é sensível com companhia, muitas vezes, por falta de segurança em si mesma, atua com sentido de superioridade, sente-se incompreendida, ama uma só vez, tem dificuldades em encontrar um parceiro.

ÁRVORE DE CINZAS (a ambição)

é uma pessoa excepcionalmente atrativa, vigorosa , impulsiva, exigente, não se importa com as criticas, ambiciosa, inteligente, cheia de talentos, gosta de jogar com o destino,

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pode ser egoísta, muito confiável e digna de confiança, amante fiel e prudente, algumas vezes o cérebro controla o coração, mas assume suas relações muito seriamente.

ÁRVORE DE FAIA (a criatividade)

tem bom gosto, preocupa-se com as aparências, materialista, organiza bem sua vida e sua carreira, é uma pessoa econômica, bom líder, não toma riscos desnecessários, é razoável, esplêndida companheira de vida, gosta de manter a linha (dieta, desporto).

ÁRVORE HORNBEAM (o bom gosto)

de uma beleza muito franca, se preocupa por sua aparência e sua condição econômica, de bom gosto, não é egoísta , vive de forma mais cômoda possível de maneira razoável e disciplinada, busca bondade e conhecimento em uma parceira emotiva, sonha com amantes incomum, aos poucos é feliz com seus sentimentos, desconfia da maioria das pessoas, nunca está segura de suas decisões, muito consciente.

ÁRVORE DE LIMAS (a dúvida)

aceita o que a vida lhe dá de uma maneira muito complexa, odeia brigar, o stress. E o trabalho, mas não gosta de preguiça e da ociosidade, é suave e sabe ceder, faz sacrifícios pelos amigos, tem muito talento, mas não é o suficiente tenaz para explorá-los, lamenta-se e queixa-se um pouco, é uma pessoa muito zelosa e leal.

ÁRVORE DE MAÇÃ (o amor)

de contexto leviana, muito carismática, é uma pessoa chamativa e atractiva, de uma aura agradável, aventureira, sensível , sempre apaixonada, quer amar e ser amada, companheira fiel e terna, muito generosa, de talentos específicos, vive o dia a dia, filosofa despreocupada com imaginação. Totalmente distraída.

ARVORE DE OLMO ( a mentalidade nobre)

figura agradável, bom gosto em vestir, de exigências modestas, tende a não esquecer os erros, alegre, gosta de mandar, porém não obedece, é uma companhia honesta e fiel, gosta de tomar decisões pelos outros, de mentalidade nobre, generosa, com bom humor, prática.

ÁRVORE ROWAN (a sensibilidade)

cheia de encantos, alegre, dá sem esperar receber, gosta de chamar a atenção, ama a vida, as emoções, não descansa, e inclusive gosta das complicações, é tanto dependente como independente, tem bom gosto, é uma pessoa artística, apaixonada, emocional, boa companhia, não esquece.

O CEDRO (a confiança)

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de uma beleza estranha, sabe adaptar-se, gosta do luxo, de boa saúde, não é uma pessoa tímida, não gosta de ver muitas pessoas, é segura de si, tem determinação, impaciente, gosta de impressionar os outros, tem muitos talentos, criativa, saudavelmente otimista, e vive na espera do único e verdadeiro amor, capaz de tomar decisões rapidamente.

O CIPRESTRE (a felicidade)

Forte, adaptável, toma o que a vida tem para dar, é uma pessoa satisfeita, optimista, aspira dinheiro e reconhecimento, odeia a solidão, é uma companhia apaixonada e sempre insatisfeita, fiel, altera-se facilmente, não é dócil, é desinteressada.

O PINHEIRO (o particular)

encanta a companhia agradável, é uma pessoa muito robusta, sabe fazer da sua vida algo confortável, muito ativa, natural, boa companhia mas nem sempre amistosa, apaixona-se facilmente mas sua paixão se apaga em pouco tempo, rende-se facilmente, decepciona-se de todo, até que encontra o seu ideal, é de confiança e de caráter prático.

O ROBLE (a valentia)

é uma pessoa robusta da natureza, valente, forte, implacável, independente, sensível, não gosta de mudanças, mantém seus pés no chão e gosta de ação.

O SALGUEIRO CHORÃO (a melancolia)

uma pessoa bela mas melancólica, atrativa, muito empática, ama as coisas belas e tem bom gosto, ama viajar, sonhadora sem descanso, caprichosa, honesta, pode ser influenciada mas é difícil para conviver, exigente, com boa intuição, sofre no amor mas às vezes encontra-se apoio na sua companhia. Algumas vezes gosta de mentir, é bastante amigável.

* Fonte: http://www.portaldascuriosidades.com/forum/index.php?topic=40730.0 (“Última modificação: 03/Jan/2006 - 22:57 por BadGirl”)

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LUÍS A. WEBER SALVI é um pensador brasileiro e escritor polígrafo, nascido em 1959. Especialista em geografia sagrada e astrologia profunda, dirige a conceituada “Revista Órion de Ciência Astrológica” e é autor de mais de 120 obras, várias delas publicadas.

Estudioso e praticante de diferentes ensinamentos, vinculou-se em especial à linhagem teosófica através dos trabalhos de Alice Ann Bailey, vindo a pontificar a Terceira Geração de Sabedoria Teosófica, pela prática do ecumenismo solar de restauração, reforma & renovação dos Augustos Mistérios, não apenas em favor das antigas tradições de Oriente e Ocidente, como também de muitas novas escolas de pensamento.

Iogue e arauto da Tradição de Sabedoria, residiu em ashramas e fundou entidades, como a Escola Agartha de Filosofia & Mistérios, e depois a Sociedade Universalista Nova Albion (SUNA). Atualmente coordena o Projeto-Exodus – Um Mundo para Todos, a partir da região Centro-Oeste, e também dirige o Editorial Agartha.

Mantém na internet os seguintes blogs:

http://cartografia-da-transformacao.blogspot.com/

http://agartha-edicoes.blogspot.com

http://o-vitriolo.blogspot.com/

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