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Jornalistas, colaboradores e pessoas que viveram a história do Diário da Manhã foram convidados para relatar, em textos, suas experiências sobre os 33 anos de circulação do jornal. Muitos fizeram questão de ressaltar que o DM é fruto da saga do semanário Cinco de Março, que durante 25 anos lutou contra a corrupção, o jaguncismo e a ditadura militar em Goiás. Cinco de Março e Diário da Manhã somam 58 anos de idealismo dos jornalistas Consuelo Nasser e Batista Custódio em defesa da liberdade de imprensa. O editor-geral preferiu não participar da edição do conteúdo para que jornalistas e colaboradores manifestassem livremente sua visão e opinião. Domingo, 17 de março de 2013 Arthur da Paz, Lorimá Dionísio - Mazinho e Welliton Carlos – Editores do Especial de 33 anos

Caderno especial DM 33 Anos

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Jornalistas e colaboradores escrevem 40 páginas recheadas da história que mudou os rumos da imprensa goiana

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Page 1: Caderno especial DM 33 Anos

Jornalistas, colaboradores e pessoas que viveram a história doDiário da Manhã foram convidados para relatar, em textos, suas experiênciassobre os 33 anos de circulação do jornal. Muitos fizeram questão de ressaltarque o DM é fruto da saga do semanário Cinco de Março, que durante 25 anoslutou contra a corrupção, o jaguncismo e a ditadura militar em Goiás.

Cinco de Março e Diário da Manhã somam 58 anos de idealismo dosjornalistas Consuelo Nasser e Batista Custódio em defesa da liberdade deimprensa. O editor-geral preferiu não participar da edição do conteúdo paraque jornalistas e colaboradores manifestassem livremente sua visão e opinião.

Domingo, 17 de março de 2013

Arthur da Paz, Lorimá Dionísio - Mazinho e Welliton Carlos – Editores do Especial de 33 anos

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2 GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

N o começo dos anos80 do século passado,a ditadura militar de64 agonizava e, cá fo-

ra, a manhã de Thiago de Melocomeçava a rajar o horizonte delistrões vermelhos, da cor da li-berdade; e o povo de Chico Buar-que não andava mais falando delado e olhando pro chão; as por-tas do exílio foram destrancadas eo comandante Luiz Carlos Pres-tes desceu no Galeão livre, leve esolto, seguido de Brizola e Arrais;as cadeias políticas foram que-bradas. O voto voltou a valer.

Foi nesse lusco fusco de liber-dade que nasceu o jornal Diárioda Manhã, uma clarinada de es-perança na madrugada nova doCentro-Oeste, um raio fulguranteem manhã de céu azul. O jornalnasceu no governo de Ary Vala-dão, que não se incomodou nemum pouquinho com o surgimen-to do novo diário, que tinha oDNA da liberdade, do combate eda contestação, pois vinha dosjornalistas Batista Custódio eConsuelo Nasser, forjados e tem-perados nas oficinas do semaná-rio Cinco de Março.

E o Cinco de Março não foiapenas um jornal, era a voz dosque não tinham voz, foi um mu-ro aonde o povo vinha escreversuas necessidades, o breviárioonde os desconsolados vinhamrezar sua oração, uma tocha ace-sa iluminando os caminhos dosque não tinham estradas, o do-brar dos sinos para os que aindaqueriam crer. O jornal acordavaGoiás todas as segundas-feirasapontando desmandos, corrup-ção e tirania nos governos e nospoderosos, nos momentos maisarreganhados da ditadura. A ca-da vez que empastelavam o se-manário, ele vinha mais letal, eàs segundas-feiras o povo se le-vantava mais cedo para disputaro jornal nas bancas, e os corrup-tos também, porque tinham osono interrompido. Durantemais de 20 anos, Batista Custó-dio viveu e sobreviveu desafian-do governos e desgovernos nu-ma terra bárbara em que chaci-navam-se jornalistas à luz do dia,em praça pública, e o mandanteainda se homiziava no Paláciodas Esmeraldas. Batista nãomorreu e nem sequer foi espan-cado, como era moda naquele

tempo – um milagre. Foi preso,mas também queria o quê?

Um dia, eu acompanhei o se-nador Benedito Vicente Ferreiraao cárcere do DI, onde Batistacumpria pena de oito meses porcrime de opinião. O senador goi-ano estava acompanhado dotambém senador Eurico Rezen-de, líder do governo no Senado.Benedito me disse que o seu co-lega iria tirar Batista da cadeia. Láchegamos e eu fiquei esperando,enquanto os dois senadores en-traram para falar com o preso.Depois de quase uma hora de lásaíram e eu entrei. Batista me dis-se que acabara de se recusar a as-sinar um documento que o líderdo governo federal lhe trouxeraem troca de sua liberdade imedi-ata. “Eu prefiro cumprir a penaaté o fim, a ter que assinar um do-cumento que desonra a minhabiografia”– me disse Batista.

Antes, durante e depois da suaprisão, Batista escrevia em rodapé da primeira página do Cincode Março artigos que eram recor-tados e pregados nos murais dasescolas, dos clubes e até das re-partições públicas. Eram textoslancinantes na qualidade e naquantidade. Atingia todos os de-graus do lirismo, da temeridade,do picaresco e da ironia. Nuncamais ninguém escreveu igual.

Nem ele mesmo. O Cinco deMarço era um jornal feito a mão ecom o coração. Além de Batista eConsuelo, lá estavam Jávier Godi-nho, o jornalista que mais escre-veu em Goiás nos últimos 50anos; Antônio José de Moura,Waldomiro Santos, Aroldo de Bri-to, Anatole Ramos, Jesus Freire,Sebastião Povoa, Geraldo Vale,Carmo Bernardes, Oscar Dias,Djalba Lima, Neiron Cruvinel,Paulo Gonçalves, José Morais eoutros jornalistas brilhantes daimprensa goiana. Lá na retaguar-da estavam Paulo Roberto Nevesde Souza, Lourival Nunes, JoséMorais, Manoel Pescador, CezarBorges, Luiz Antônio de Souza eLázaro Custódio dos Santos, umhomem inteiro, campeão daponderação e da honestidade.

O DEMOCRATAO Diário da Manhã surgiu en-

tão sob as barbas do governo AryValadão, o último delegado da di-tadura em Goiás, mas que, naprática, foi o governo mais demo-crata em toda a nossa história.Ary entendeu logo o salto de qua-lidade que Goiás dava em comu-nicação e foi coerente com a suahistória de udenista progressista.Como deputado, muitas vezesbateu de frente com o regime mi-litar: votou contra a cassação do

deputado Márcio Moreira Alves,a favor do divórcio do senadorNelson Carneiro, protestou no fe-chamento do Congresso e aju-dou tirar da cadeia muito presopolítico (eu mesmo fui um deles).

Em momento algum Ary fezembargo financeiro ao Diário daManhã, negando-lhe anúncios.Ao contrário: tratou o novo diárioem pé de igualdade com O Popu-lar, embora o jornal tenha patro-cinado a campanha do candidatoda oposição ao governo de Goiás,Iris Rezende Machado, que veio aser eleito com mais de 60 porcen-to dos votos. Na época, BatistaCustódio e toda a equipe do jor-nal acreditavam que Iris era o sal-vador do Estado. E quem nãoacreditava?

O Diário da Manhã surgiu dotamanho das grandes publica-ções nacionais, um jornal à altu-ra do eixo Rio-São Paulo e quechegou a receber da AcademiaBrasileira de Letras o prêmio de“o terceiro melhor jornal do Bra-sil”. O Diário da Manhã era feitopelos chamados “monstros sa-grados do jornalismo brasileiro”:Milton Coelho da Graça, MinoCarta, Aluísio Biondi, CláudioAbramo e foi editado durantemuito tempo por esse Quixote,alucinado pela sustentabilidade,Washington Novaes, que teima

em pedir ao capitalismo respeitoao meio ambiente. O capital sórespeita o lucro. O capitalistatem o coração no estômago e ointestino no coração.

Aquele foi o grande momentode Goiás, O Diário da Manhã foium magnífico vendaval “nessadesgraçada e desoladora paisa-gem política de Goiás”, como de-finia Nasser. Nos anos 80, o jornalvirou cartilha nas universidades,mural dos exilados políticos queretornavam à Pátria e a voz dosque foram silenciados durante to-da a ditadura. No miolo da pátria,afinal um jornal cheirando as coi-sas novas, e que era mais lido nosgabinetes de Brasília do que osoutros. Rara era a semana em queum deputado ou senador não su-bia à tribuna, escorando-se no Di-ário da Manhã, ora para ler maté-ria de alto interesse público, orapara ajudá-lo em sua oração.

Por sorte ou por azar, eu aca-bei secretário de Comunicaçãodo primeiro governo de Iris Re-zende. Quem diria?

Em pouco mais de um ano, ogoverno que o Diário da Manhãajudara a eleger passou a olharcom desconfiança e restrição ocomportamento do jornal. Eu saída secretaria, e o governo retiroutodos os anúncios do jornal, atéeditais. Chegou ao ponto de a

Celg interromper o fornecimentode energia às instalações do jor-nal, que só foi restabelecida porordem do ministro do Interior dogoverno federal. O embargo fi-nanceiro do governo estadual foitão brutal que um juiz governistae apressado, por motivo irrele-vante decretou a falência do jor-nal e mandou fechá-lo, interrom-pendo o mais fascinante capítuloda história da imprensa goiana.

Fechar jornal é delito maisgrave do que fechar escolas. Ale-xandre, o bárbaro macedônio,às vésperas de dominar o mun-do, às portas de Alexandria, or-denou aos seus exércitos: “des-truam tudo, menos a casa dePíndaro, o poeta.” A casa de Pín-daro era a biblioteca dos gregose guardava todas as publicaçõesda cultura helênica.

Todos os grandes jornalistasda imprensa goiana ajudaram afundar o Diário da Manhã, e elesapareceram neste painel expostonos principais pontos da cidade eque hoje decora em tamanhomenor, a redação do DM. A mini-atura foi cedida pelo jornalistaIvan Mendonça, que também fazparte desta história, a históriamais forte da imprensa goianados últimos 50 anos, só compará-vel à história do Cinco de Marçoque nasceu no chão da greve.

Um raio em manhã de céu limpoFOTOS: ARQUIVO DM

MEMÓRIA

CarlosAlbertoSanta CruzEspecial paraDiário da Manhã

Ary Valadão foi o governador que apoiou o lançamento do Diário da Manhã Editor Batista Custódio defendeu a candidatura de Iris Rezende

Cartaz de lançamento do jornalDiário da Manhã em 1980

Nascido durante a ditadura, o Diário da Manhã clareou a liberdade etrouxe à tona o espírito democrático do então governador Ary Valadão

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No grito do pequeno jornaleiro o povo se acostumoua ouvir as manchetes do novo jornal goiano

Parabéns ao Jornaldo Leitor Inteligente

A história escritapor quem faz jornal

C umprimento o Diárioda Manhã, este jornalousado e vigoroso notrato da notícia e da

opinião, características que oacompanham desde a funda-ção. Sob o comando do editorgeral Batista Custódio, sempreatento e antenado com seutempo, o DM rompeu barreiraspara mostrar que a luta por umjornalismo comprometido comos anseios do seu público leitoré fundamental para seu fortale-cimento como um meio de co-municação responsável.

Admiro Batista Custódio por

sua capacidade de romperfronteiras e liderar mudanças.Com dedicação, o Diário daManhã empresta uma valiosaajuda ao aperfeiçoamento dojornalismo, em forma e conteú-do, tornando concretos dessamaneira avanços qualitativosmuito importantes para a co-municação em Goiás. Que dessebojo emerjam novas conquistas.

Cumprimento toda a equi-pe do Diário da Manhã, quedemonstrou garra e compe-tência na produção de um dosmais importantes veículos decomunicação do País e quenestes 33 anos se doou e se de-dicou na concretização de umtrabalho meritório.

Tenho absoluta consciênciada posição estratégica do DM naluta pela consolidação de um Es-tado forte, estruturado, social-

mente justo, acolhedor e sintoni-zado com as grandes mudanças.

Nosso governo em nenhummomento se apartará da suamais genuína essência demo-crática. A democracia jamaispoderá prescindir de uma im-prensa livre, vigorosa e atenta àsações de todos os agentes quecompõem a sociedade.

Manteremos os propósitosfirmes, a confiança em alta e, so-bretudo, a transparência, a fé e o

trabalho como alicerces para se-guir adiante e vencer obstáculos.

O Diário da Manhã é umainstituição que zela por essesprincípios. Recebam, portanto,o Diário da Manhã e toda suaequipe, os nossos cumprimen-tos. E continuem firmes nestajornada de grandes êxitos.

(Marconi Perillo égovernador do

Estado de Goiás)

MENSAGEM

MarconiPerilloEspecial paraDiário da Manhã

Tenho absoluta consciência daposição estratégica do DM na luta

pela consolidação de um Estado forte,estruturado, socialmente justo, acolhedore sintonizado com as grandes mudanças”

VIAGEM NO TEMPO

E ste caderno especial sobre os 33 anos defundação do Diário da Manhã foi idealizadopara reunir comentários, relatos, opiniões ehistórias de pessoas que sempre estiveram

ligadas ao jornal, sejam como leitor, colaborador ouprofissional de imprensa. No dia 12 de março de 1980o DM deu continuidade ao projeto de o Cinco deMarço, também editado pelos jornalistas BatistaCustódio e Consuelo Nasser, um semanário queressaltava o jornalismo investigativo em defesa dosinteresses do povo goiano.

O Diário da Manhã passou por várias fases – desdeo festivo lançamento,reconhecimento nacional pela suaqualidade,crises financeiras até ao fechamento porfalência em 3 de outubro de 1984 e reabertura dois anosdepois.Nessa trajetória o jornal foi feito por centenas dejornalistas,colaboradores e estagiários que buscaram aboa prática na escola de textos e reportagens da redação.Os abalos políticos e financeiros foram constantes por

causa da ousadia do jornal e todos eles superados peloideal e espírito de luta de Batista Custódio.

Todavia,e apesar dos contratempos,o DM imperacomo mídia moderna e reflexiva.Foi a mais inovadorana Internet,a mais incisiva na participação democráticado leitor (criou conselhos editoriais populares) e a maiscompleta em termos de formação dos melhoresprofissionais do mercado.Pelo DM, e seu DNA Cinco deMarço,passaram os melhores jornalistas do Brasil,ganhadores de prêmio Esso e regionais.

Em todos os momentos,o DM foi uma central denotícias e ao mesmo tempo esfera pública de defesa docidadão.Pelas páginas do jornal,e pelo sitewww.dm.com.br,passou a recente história de Goiás.Grandes tragédias,momentos de alegria, informaçõesbombásticas,breaking news,entrevistas históricas, todosdados que interessam Goiás e o Brasil,chegaram aosleitores através da dedicação do DM.

Primeira edição do Diário da Manhã, veiculadadia 10 de março de 1980, antecipando o

lançamento oficial, ocorrido dois dias depois

(Os editores, Lorimá Dionísio - Mazinho e Welliton Carlos)

FOTOS: ARQUIVO DM

3Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

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F oi difícil? Foi. Enfrentamossalários atrasados, instabili-dade administrativa e tra-

balho além do volume razoável.Fortes batalhas. Mas, de 1980 a1984, da fundação ao auge da cri-se do recém-nascido Diário daManhã, período que vivi profun-damente, preponderava entrenós, os jornalistas daqui, o pres-sentimento de que de Goiás sairiauma revolução no jornalismobrasileiro. Mais adiante depararí-amos com o avassalador proble-ma da sustentabilidade financei-ra do projeto. Mas, até então, tra-balhamos e curtimos muito.

Em 1985 retornei ao O Popu-lar, de onde saíra em 1979, paramais 20 anos de desafios, proje-tos e conquistas junto a novos eantigos amigos. Mas o aniversa-riante de hoje é o Diário e, co-mo em todos os anos, este jor-nal comemora justificadamentea data publicando depoimentossobre sua história. Tudo de sé-rio e profundo, parece-me, jáfoi contado. Então, ao atenderao convite gentil deste grandepersonagem da história que éBatista Custódio, conto aqui al-guns casos interessantes vividosnaquela Redação vibrante.

O RAMAL 51Cada uma das editorias no

Diário da Manhã, prédio grandena Avenida 24 de Outubro, quaseem frente ao campo do Atlético evizinho de um posto de gasolinado José Carlos Bretas, tinha seutelefone, um ramal de dois dígi-tos. Assim: editoria de Política, ra-mal 32; editoria do DM Revista,ramal 26: editoria de Esportes, ra-mal 18, e por aí vai.

Como o trabalho nos ocupavao dia inteiro, o almoço e o jantartinham de ser por ali mesmo.Quase sempre valíamo-nos deum boteco. Nos fundos, passadoo corredor da garagem, o barzi-nho servia caldo de mocotó, al-gum tipo de carne, arroz e feijão.Às vezes tinha espetinhos; o quenão podia faltar era cerveja bemgelada.

Um lugar bom assim, refúgioverdadeiro, tinha de permanecerdisfarçado dos clientes que tei-mavam em nos chamar no augedas horas sagradas das refeiçõesou de eventuais e benditos mo-mentos de lazer: a esses a secretá-ria e tutelar Carmem Lúcia res-

pondia que estávamos ocupadosnuma entrevista no “ramal 51”.

SIRON NA COPAOs jogos da Seleção Brasileira

cobravam criatividade, matériaprima abundante. E convocado,nosso artista maior Siron Franconão negava fogo. Na Redação,em plena torcida que trabalhavae ao mesmo tempo gritava a cadalance de perigo no jogo, Siron da-va suas pinceladas numa cartoli-na e propunha uma ideia para acapa do caderno especial contan-do tudo sobre a partida.

A sugestão era aprovada alimesmo, na Editoria de Arte, nahora, em meio à alegria coletivaque nos embriagava.

CADERNO DO PAPAJoão Paulo II veio ao Brasil, e

o Diário da Manhã, claro, tinhade fazer bonito. Convocamosnossa sucursal de Brasília que,inteira, devotou-se à tarefa decorpo e alma. E não era uma su-cursal qualquer. Para dar umaideia: seu diretor era ninguémmenos que Pompeu de Souza, oinventor do lead, um dos criado-res da revista Veja, sacrossanto evenerável guia espiritual de to-dos quantos jornalistas fossem, eseu secretário-geral, Jayme Saut-chuk, que reencontro agora emmarço, para minha alegria, en-volvido com questões relaciona-das à transparência do céu deCristalina e outras do mais alto

valor transcendental e científico. E o caderno especial que pro-

duzimos da passagem do Papa noDistrito Federal foi uma verdadei-ra bênção, um trabalho muitospontos acima, de forma e conteú-do, do que fizeram Folha de S.Paulo, O Globo e outras publica-ções naquele momento, para nós,tão importantes quanto o DM.

Na pauta, pais de planos NaEditoria de Economia, formata-da inicialmente pelos craquíssi-mos professores da UFG con-vertidos em editores Sergio Pau-lo Moreyra e Servito Menezes,em seguida comandada porMarco Antônio Tavares Coelho

e depois por este escriba, só ha-via cobras motivadíssimos pelacriatividade contagiante: LauroVeiga Jardim Filho, Aymés Bea-triz, Abadia Lima, Eliana Pru-dente e outros jornalistas tam-bém altamente cotados.

Fazíamos belas reportagenslocais e, aos correspondentes doRio e São Paulo, encomendáva-mos entrevistas vibrantes inclusi-ve com jovens scholars recém-vindos de doutorados no exterior,a exemplo de Edmar Bacha, queum pouco mais adiante se nota-bilizariam transubstanciados queforam, muitos deles, em pais deplanos econômicos como o Real.

GUGUCOMANDAA FESTA

A Redação era uma sala gran-de, sem divisórias, povoada estri-dentemente por algo em torno deuma centena de jornalistas e visi-tantes, todo mundo falando alto,batendo à máquina, telefones to-cando, cigarros acesos, velhosventiladores tentando em vãovencer o calor e Luiz Gugu Augus-to da Paz saudando aos gritosqualquer um que entrasse pelaporta da frente: “Ahú, potênciasexual!”, para ouvir aplausos gera-is de resposta a este bem-humo-rado cumprimento. Uma farra!

CRUSHNAS PAREDES

Toda Redação, sabe-se bem,tem de ser um local propício àcriatividade. Pois para decorá-lao escolhido por Batista Custódiofoi um arquiteto que na época(não sei se suas convicções per-sistem) adotava o pensamento eos trajes cor de jerimum domestre indiano Bagwan ShreeRajneesh.

O arquiteto mandou pintar deduas cores nossas paredes: laran-ja a metade inferior e verde a decima. Parecia propaganda deCrush. Doía a cabeça só de olhar.O talento do arquiteto evidenci-ou-se quando nos entregou o ba-nheiro masculino recém-refor-mado. Tinha dois vasos sanitá-rios que, sem uma imprescindí-vel divisória, esperavam que ocu-pantes lado a lado desfrutassemdeles simultaneamente...

A CEDILHAASSASSINA

Num de meus primeiros tra-balhos ali, pretendi ensinar aoleitor, em tempos watergatea-nos, como fazer um transmis-sor FM sem fio do tamanho deuma caixa de fósforos, comtransistores, resistores etc. bembaratinhos encontráveis facil-mente naquela loja especializa-da da Rua 3, no Centro.

Com um passo a passo muitobem desenhado por MariosanGonçalves e o texto apropriado,batizei minha reportagem espe-cial de A espionagem ao alcancede todos. Pois alguém da revisãocuidou de “consertar o erro”. Esaiu lá, bem grande, ao lado deminha assinatura, o inesquecíveltítulo A espionagem ao alcançede todos. Com cedilha e tudo.

Uma redação do barulhoO ambiente era alegre e muito responsável. A qualidade da edição era questão dehonra para todos. O peso do trabalho era dividido e depois debatido no “ramal 51”,

uma lanchonete nos fundos do prédio do DM, onde não faltava cerveja

HISTÓRIA

IsanulfoCordeiroEspecial paraDiário da Manhã

Nosso mítico colega paulistaCláudio Abramo (aquele da definição“jornalismo é o exercício diário dainteligência e a prática cotidiana docaráter”) apareceu um dia para con-hecer a experiência, comandada naépoca por Washington Novaes. Erasábado e, no rápido intervalo de quedispúnhamos para almoçar, nós o leva-mos ao Don Salerno, restaurante espe-cializado mais em atender os trânsfugasda noite nos buracos das madrugadas.

E não é que o refinado e genialCláudio elogiou muito a meia car-caça de frango assado e arroz que lheserviram numa daquelas mesas malajambradas debaixo das arquiban-cadas do campo do Atlético?

PALHEIROPARA MALUF

O inafastável (mesmo emGoiânia) Paulo Maluf entra naRedação para uma entrevista e delonge sente o cheiro do cigarro de

palha que Jayro Rodrigues acabavade acender em sua mesa. Aproxima-se e diz, com a pronúncia que todossabem imitar:

– O prezado jornalista faz-melembrar os palheiros do senhor meupai... Me dá um?

E Jayro, com uma ponta de orgulho,puxa uma palha de milho, pica pacien-temente um pedaço de fumo de rolomade in Mossâmedes e, sem qualquerpreconceito ideológico, serve sorrindoum pito ao então candidato dos mil-itares à Presidência da República.

MORTE EM PAZDO ASSASSINO

José Renato de Assis, jovemrepórter de muito valor, realiza umapauta que lhe passei no DM Revista,que sempre trazia belas reportagens.

A daquela vez, ilustrada por umcano de espingarda apontando para orosto do leitor, exibia uma entrevistacom o feroz assassino Ramiro, chama-do pela imprensa na época de Bandidoda Cartucheira. O título: Cara a caracom Ramiro. Um trabalho impactante,revelador, exclusivo, ousado.

Claro que merecia repercussão.José Renato de Assis, incansável, voltaà cadeia para nova reportagem com ofacínora. E retorna à Redação desta veztriste, de mãos vazias. Contrariandotoda a lógica da violência que cultivaramatando gente a torto e a direito comdisparos de cartucheira nas fazendaspor onde errava em sua trajetóriacriminosa, Ramiro havia morrido só epacificamente, como um passarinho,

enquanto dormia num catre da Casade Prisão Provisória.

DIETADE BABA

E estas histórias do DM não podemacabar sem o toque do repórterRosalvo Leomeu Gonçalves, redimidodo sertão de Arraias para alcançar osétimo círculo do paraíso – os ensina-mentos de outro guru indiano damoda à época, o até mais tarde imortalSai Baba (que Shiva o tenha!).

Nós, os incréus, num lance de ousa-dia pagã, ousamos oferecer-lhe numsábado de chuva uma vigorosa feijoadano Ramal 51.

Rosalvo Leomeu imediatamenterecusa o convite:

– Amigos, desconhecem vocês queeu sou ovo-lácteo-vegetariano?

(Isanulfo Cordeiro – é jornalistae Assessor de Imprensa

do governo Marconi Perillo)

Salmo no Salerno sob a arquibancada do Atlético Clube Goianiense

Jornalista Cláudio Abramo À época, o presidenciável Paulo Maluf

Marcos Antônio Coelho, ex-editor de Economia do DMSiron Franco ilustrou o jornal durante a Copa de 1982

Registro fotográfico da redação doDiário da Manhã, na década de 1980

ARQUIVO DM

4 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

Page 5: Caderno especial DM 33 Anos

O s 33 anos de fundação, que o Diário daManhã está comemorando hoje, consti-tuem o mesmo tempo de sua contribui-

ção à História de Goiás. Em 12 de março de 1980,ele começou a ajudar a escrevê-la, esbanjandopioneirismo. Foi o primeiro diário em Goiás re-almente diário, circulando nos sete dias da se-mana; o primeiro a funcionar com conselho deredação, o primeiro em cores, o primeiro com si-te na internet, o primeiro a informatizar total-mente a redação e o setor gráfico, o primeirocom todas suas páginas em cores.

Depois dele, nunca mais a imprensa goiana foia mesma. Todos os jornais tiveram que se moder-nizar e, os que não conseguiram, desapareceram.Além disso, a contratação pelo DM de grandes no-mes do jornalismo paulista, carioca e brasilienseprovocou uma revolução de qualidade entre nós.

Em dezembro de 1979, este humilde escriba re-cebeu em casa a visita de Batista Custódio e Consu-elo Nasser. Trabalháramos no Cinco de Março, de1964 a 1970, nos árduos tempos da ditadura, sitia-dos entre a censura política e a repressão. O casalnos falou do novo projeto, ainda segredo comer-cial, e seus olhos faiscavam de entusiasmo. Batistajá havia acertado com valores da grande imprensado País e, em Goiás, selecionara profissionais parasua equipe. “O jornal terá expressão nacional e, embreve tempo, também internacional” – garantiaele, pensando enorme. Os dois nos deixaram lison-jeado com o convite para integrar sua equipe.

A notícia do lançamento do Diário da Manhãlogo ganhou as ruas e nos habituamos a ouvir co-legas e empresários diagnosticando a ousadia:

– Não passa de uma aventura...Em março de 1984, acertávamos nosso in-

gresso no DM, para suceder, com muita honra,nada menos do que a Washington Novaes, real-mente uma das expressões do jornalismo brasi-leiro, extremamente ético e campeão de ecolo-gia. Infelizmente, sete meses depois, o jornalera asfixiado financeiramente, até à falência,pelo governo do Estado, rugindo de ódios.

Como nada é impossível àquele que tem fé, em1986, Batista elidiu a falência e recriou o jornal, apartir do nada, transformando dezenas de estu-dantes de comunicação social em jornalistas deverdade, coisa que ele sempre soube fazer, compaixão e competência. Nas redações do País intei-ro e mesmo no exterior, trabalham jornalistas queaprenderam o básico na sua modesta mas compe-tentíssima escolinha, com sala de aulas no Cincode Março, no Edição Extra e no Diário da Manhã.

Em agosto de 1991, retornamos ao Diário daManhã, reencontrando em Batista a fé de sempre.Ele respirava, comia e bebia redação e adminis-tração de jornal e sonhava sonhos onde o perso-nagem principal era o filho Fábio. Em Fábio, co-mo continuador de sua obra, Batista apostava to-das as fichas, por isto sofreu tanto com sua morteprematura, em janeiro de 1999. Nem assim dei-xou de lutar ou perdeu a fé, apoiado por outros fi-lhos, tendo à frente Julio Nasser. Hoje, seu futurodepende do amadurecimento profissional e dapena de Sabrina Ritiely e de Arthur da Paz.

Fábio foi um capitulo à parte nessa históriaensopada de lágrimas, mas também plena de fée de esperança. No Cinco de Março, Batista, Con-suelo, nós e outros jovens companheiros fomosterríveis panfletários, querendo consertar omundo. Batendo, apanhando, sofrendo, errandoe aprendendo, evoluímos lentamente.

Tempos depois, no Diário da Manhã, no ver-dor dos anos talentosos e no ardor da juventudebrigona, Fábio ironizava:

– Hoje, eu sou Batista Custódio, o criador de ca-sos de antigamente. Meu pai é meu tio AlfredoNasser, querendo botar pano quente em tudo...

Para o gentil leitor entender melhor, é precisosaber que outro grande e saudoso jornalista, Leo-nan Curado, escreveu no Jornal de Notícias que osanos fizeram de Alfredo Nasser guerreiro e mongeao mesmo tempo. Com sua pena incandescente,sua oratória e sua honradez, Nasser mantiveraacesa a chama das oposições goianas contra osdesmandos do ludoviquismo durante três déca-das, quando tantos companheiros foram abatidosou desertaram. Mesmo preservando intacto o ide-al, Nasser – deputado estadual e federal, senador,ministro da Justiça e até, eventualmente, no parla-mentarismo, primeiro ministro dói Brasil,. se do-brou aos anos, que transformaram o modesto bar-racão onde morava, na Rua 74, no Bairro Popular,em muro de lamentações e, ele, num sábio conci-liador de amigos, conhecidos e desconhecidos.

A dor amansou Batista e o transformou numlongevo sobrevivente de reveses. Ele mudou

muito e para melhor. Perdeu a braveza, masnão a super fé, que o faz atualmente, na ante-véspera dos 80 anos de idade, produzir cadaedição do Diário da Manhã com o auxílio deapenas dois ou três colaboradores. É assim queele levanta poeira e dá a volta por cima.

Friedrich Nietzsche, que Fábio lia e comenta-va, errou quando escreveu que todos os grandesintelectuais são céticos. Batista é intelectual e,acima de tudo, acredita em Deus e em si mesmo.

Com a internet e as redes sociais, o mundometamorfoseado em aldeia global, acabou o mo-nopólio da informação, mas a grande imprensanão desapareceu porque está sabendo se adaptare conviver com as imposições dessa revolução,que varre e sacode os cinco continentes.

No Cinco de Março, na Avenida Goiás com a Rua61, então Bairro Popular, não havia porteiro, nemguarda, nem segurança. Entrava quem quisesse.Bastava subir a pequena escada à direita e ficava ca-ra a cara com os jornalistas na redação, instalada so-bre um jirau de madeira, com cinco ou seis mesi-nhas encimadas por velhas máquinas de escrever, enão mais do que meia dúzia de cadeiras de pernasbambas. Tudo era pobre, feio, improvisado e, mila-grosamente, funcionava bem. Lá, os reclamantes,os filhos do povo, tinham sempre razão.

Os espaços do semanário estiveram perma-nentemente abertos a jornalistas, escritores, poe-tas, artistas, professores, estudantes e profissionaisde todas as tendências, que neles escreviam o quebem entendiam. Seus maiores repórteres eram osanônimos homens das ruas. Eles lhe levavam in-cessantemente denúncias, queixas, amarguras,protestos, aplausos, frustrações e esperanças. Sen-tindo-se ameaçados em qualquer circunstância,recorriam ao caminho que jamais lhes foi fechado:

– Vou ao Cinco de Março.É óbvio que um veículo de comunicação so-

cial assim errou muitas vezes e fez muitos inimi-gos, que o perseguiram de todas as maneiraspossíveis, e uns poucos não o perdoaram atéhoje. Não aceitavam que, atuando como um fe-roz cão de guarda, ao lado de oprimidos indefe-sos, ele ajudasse muita gente, aliviasse muitasdores, evitasse muitos males, abortasse muitastragédias e secasse muitas lágrimas.

Até hoje acontece que alguém mais vivido nospare na rua ou em outro lugar, iniciando o diálogo:

– Li uma vez no Cinco de Março...E, incrível porém verdadeiro, discorre sobre

uma reportagem ou artigo ali publicado há quasemeio século.

Foi com certeza recordando essa inusitada re-alidade que a inspiração providencial relampe-jou na cabeça de Batista Custódio e ele criou, noDiário da Manhã, o caderno “Opinião Pública”,que estampa todo tipo de manifestação dos lei-tores. “Envie seu artigo (com foto) para opinia-odmgmail.com” – eis o convite na capa do jor-nal, aproximando-o do homem da rua.

Assim, se nos perguntassem o que considera-mos mais importante no Diário da Manhã atu-al, que Batista Custódio edita praticamente so-zinho, responderíamos, testemunha que somosdesse passado heróicos e lendário:

– O caderno “Opinião Pública”. É este o maiorsucesso do DM no seu 33º aniversário.

(Jávier Godinho é jornalista)

HISTÓRIA

JávierGodinhoEspecial paraDiário da Manhã

DM era um sonho de Fábio Nasser

Sobre os ombros de Júlio Nasser, Batista depositou o peso da presidência do DM

O maior sucesso noaniversário do DM

Futuro do jornal depende do amadurecimento profissionale da pena dos editores Sabrina Ritiely e de Arthur da Paz Alfredo Nasser, líder inesquecível

5Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 6: Caderno especial DM 33 Anos

ODiário da Manhã chegaaos 33 anos com corpi-nho de 70, envelhecido

precocemente por uma trajetóriade glórias, quedas, lutas e vitó-rias, tudo assim, junto e mistura-do. Mas qual é a boa história quenão reúne esses ingredientes? Oroteiro começa em 1980, quandoo jornal nasceu da costela do se-manário Cinco de Março, queBatista Custódio resolveu trans-formar em jornal diário com umprojeto ousado sobre uma mega-estrutura desenhados por seuidealismo. Muitos acharam queseria um sonho a mais de Batistae Consuelo Nasser. Não foi. Ojornal nasceu sob o signo do su-cesso e fez história no jornalismogoiano e ganhou o Brasil, che-gando a ser considerado o quar-to do País pela respeitada Acade-mia Brasileira de Letras, onde re-cebeu o prêmio alusivo.

Batista e Consuelo fizeramuma revolução na imprensa. Se-lecionaram os melhores jornalis-tas do Estado, como Carlos Al-berto Sáfadi, Isanulfo Cordeiro,Jayro Rodrigues, Fleurymar deSouza, Carlos Alberto SantaCruz, Marco Antônio da Silva Le-mos, Lorimá Dionísio, Wilson Si-veira , Sônia Penteado, Hélio Ro-cha, Jávier Godinho, entre ou-tros. Não satisfeito, buscarammais nomes consagrados nosjornalões do Rio, São Paulo e Mi-nas. Assim se juntaram ao timegoiano, profissionais da qualida-de de Washington Novaes,Aloysio Biondi, Reinaldo Jardim,Eloí Callage, que ganharam dosenciumados (no bom sentido)colegas o bem-humorado apeli-do de “legião estrangeira”. Bri-ancadeira à parte, os dois timesconviviam harmoniosa e respei-tosamente, tanto que o coleguis-mo virou amizade e eles mesmoriam muito da recepção, emprincípio não muito cordial.

O DM deu tão certo, que esta-va bom demais para continuar.Jornal forte nem sempre agrada aempresários e políticos, principal-mente. Dizer que exite imprensaidependente de grupos econômi-cos e políticos, pelo menos pelasbandas aqui da América Latina, éutopia, infelizmente. Foi nessaságuas revoltas que o DM embar-cou e afundou. Salários altos pa-gos em dia, tiragem que alcança-va todo o Estado, Distrito Federale outras capitais brasileiras geravacusto operacional que aos poucosfoi tornando-se inviável. Goiás, àépoca não contava ainda comempresas e indústrias de grandeporte para anunciar seus produ-tos. O maior anunciante era o go-verno mesmo e ponto.

Quando Iris Rezende assumiuo governo sucedendo a Ary Vala-dão, o DM tinha milhões para re-ceber em notas empenhadas enão recebidas. Iris pagou algumase foi rolando a dívida até Batista eConsuelo não conseguiram maisesperar. Eles tinham pressa, Irisnão. Daí nasceu o desentendi-mento entre compadres e amigosaté que virou briga feia, prejudi-cando centenas de funcionários,fornecedores, os donos do jornale o próprio governo. Nesse cená-

rio não faltaram as traições, intri-gas e mentiras. Poderia relembrarvárias, mas vou citar uma das pio-res que presenciei: a história in-ventada por bajuladores do go-vernador , que corromperam jor-nalistas de caráter frágil para sealiar a eles, com oferta de empre-go no governo.

Assim, fizeram malabarismosabe-se lá de que jeito, mas tive-ram acesso a um artigo que o Ba-tista havia escrito (ainda não pu-blicado) com críticas pesadas aIris Rezende, mas ao seu governo,sem resvalar para o plano pessoal.Mas para ofender o homem pravaler tinha de haver ataques à fa-mília do governador. Se era issoque faltava, estava resolvido. Ogrupeto maldoso, de posse às lau-das do artigo, “enxertou” um pa-rágrafo escrito por eles,que atin-gia em cheio a honra de Iris Re-zende no que há de mais sagradopara um pai, a honra de um filho.E lá foram eles, excitados entregaro artigo ao Iris, jurando ser o textooriginal. Iris perdeu o chão, claro.

Só que no meio dos cizaneiroshavia um jornalista que resolveutelefonar para o Lázaro Custódio,irmão de Batista, e comentou ofato, em tom até ameaçador. Apa-vorado, Lázaro chegou à redação

do DM pouco antes da meia-noi-te e aos berros pedia explicaçõesao irmão para tanta mesquinha-ria, citando o tal trecho fabricadopela turma oportunista. Batista,sem entender nada, me chamoue pediu que eu pegasse na minhagaveta os originais do tal artigo(havia deixado comigo porque naépoca eu era secretária de reda-ção e responsável por decidir emque página e dia o artigo deveriaser publicado). O próprio Batistapediu para que segurasse a publi-cação até a próxima semana, naesperança de resolver a situaçãocom o governo.

Entreguei as quase dez laudasao Lázaro, ele leu uma a uma, re-leu e não achou sequer uma li-nha que se referisse à família deIris.” Tem alguma coisa errada”,disse Lázaro, completando: “Ofulano de tal leu para mim unscomentários deploráveis sobre afamília de Iris que estariam nesseartigo e não vejo nada disso. On-de está o erro, Batista?”, indagoutodo desconcertado com a ma-neira agressiva que havia cha-mado atenção do Batista. “O er-ro, Lázaro, está nas mãos infec-tas de gente que até pouco tem-po levava uma vida nababescabancada com o gordo salário

que recebia do DM e me en-cheia de elogios e afagos tão fal-sos e interesseiros como osquehoje depositam aos pés do Iris”.

Resultado da ópera bufa: o ar-tigo verdadeiro não foi publicado,outros foram mas este não, soutestemunha do seu conteúdo(guardo comigo uma cópia dooriginal até hoje). Porém, Iris, in-flamadíssimo pelos puxa-sacosoportunistas (toda gente dessenaipe é), prefeiriu acreditar que otal artigo existiu e iniciou umaperseguição ao DM até que con-seguiu fechá-lo.

Batista viveu dias infernais. Os“amigos” desapareceram, a famí-lia se desintegrou, os políticos queviviam à cata de espaço no jornalnão atendiam aos seus telefone-mas, vendeu os poucos bens quelhe restaram e passou um anocom despensa vazia numa cháca-ra emprestada por Mané de Oli-veira. Sabe que ia lá visitá-lo? Val-terli Guedes, Gabriel Nascente,Potenciano Monteiro (já falecido),Samyr Helou (também falecido) oLuis Carlos e eu. Sem contar o fi-ho Fábio Nasser que foi morarcom o pai e o fiel Orlando Conde,um “faz-tudo”, que só abando-nou Batista quando a morte lhebuscou. Não se pode omitir nun-

ca o nome de Ronaldo Caiadonessa história. Deputado federal epresidente da poderosa UDR,procurou Batista e garantiu: “Vouajudar você a reabrir o DM”. A es-sas alturas, até o Batista duvidou.Pois Caiado, com sua lealdade ebraveza que trouxe do berço, fezuma série de reuniões com os ru-ralistas, políticos, amigos e quaseque como uma ordem convocoutodos: “Cada um como puder,tem de ajudar o Batista a reabrir ojornal”. Entre eles, havia algunsque se afastaram do Batista, masnão tiveram coragem de contrari-ar Caiado. Aí começou o longo ca-minho de volta do Diário da Ma-nhã, que competa 33 anos . Nes-sas três décadas, outras crises viri-am. Mas isso é assunto para outrahistória pautada no idealismo,força, coragem e persistência paraservir de exemplo para os jovensque estão chegando agora ao jor-nalismo, com a cabecinha cheiade ilusão. Há flores nessa seara?Sim, mas os espinhos não sãopoucos. Como em qualquer pro-fissão, há alegrias, conquistas, de-cepções e glamour. Mas nada quea persistência carregada com ospés ficados no chão não vença.

(Suely Arantes é jornalista)

HISTÓRIA

SuelyArantesEspecial paraDiário da Manhã

Três décadas de lutas,quedas e vitórias

Lázaro Custódio, mais do que irmão na hora da crise. Samyr Helou, médico e companheiro Orlando Conde, fiel amigo em todas as horas

Batista viveu dias infernais: os “amigos” desapareceram, a família se desintegrou,os políticos que viviam à cata de espaço no jornal não atendiam aos seus telefonemas

6 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

ARQUIVO DM

Page 7: Caderno especial DM 33 Anos

A o entrar na sala do Ba-tista, que havia me con-vocado para ajudar na

edição especial sobre o aniver-sário de 33 anos do Diário daManhã, senti falta do barulhode máquinas de escrever, das ri-sadas e dos gritos de uma turmagrande, alguns perguntando setinha café nas garrafas térmicas,outros querendo saber o anda-mento de uma reportagem pu-blicada na edição do dia e queestava sendo repercutida para opróximo número.

A redação continua grande –uns 400 metros quadrados deárea – mas poucos profissionaistrabalhando, debruçados emseus computadores silenciosos.Foi-me indicada uma sala deserviço e nela encontrei um pôs-ter com as fotos de 41 colabora-dores e fundadores do DM. Euestou entre eles e, rapidamente,contei nove mortos no quadro.Bateu-me um cansaço naturaldos que se aposentam da agita-ção do jornalismo. Mesmo as-sim me recordei de outros com-

panheiros que não estavam en-tre os 41, mas que fizeram parteda redação e que alguns delestambém já partiram para umplano que, pela minha forma-ção cristã, espero ser melhor doque esse em que vivemos hoje.

Nas lembranças me veio aimagem enorme do AméricoCustódio, irmão do Batista e queera responsável pela parte gráfi-ca do DM. O cara era forte e ti-nha um coração maior do queseu próprio peito. Falava macioe era querido por todos. Certamadrugada ele me ligou em ca-sa, depois de tentar achar o Hé-lio Rocha – por volta das três damanhã – me pedindo para me-xer na primeira página onde, se-gundo ele, Batista tinha inseri-do, depois que todo mundo ti-nha saído da redação, um pe-queno editorial agressivo e quepoderia azedar ainda mais a cri-se política e financeira que asso-lava o jornal. Fui e troquei o tex-to por uma notícia de agência.Recebi um puxão de orelhas doBatista quando cheguei paratrabalhar à tarde, mas já saben-do que Américo tinha batido nopeito e se responsabilizado pelamodificação da primeira pági-na. As discussões entre os ir-mãos sempre existiam, mas elessempre foram solidários, se res-

peitavam e se amavam.Escrever sobre o Diário da

Manhã exige da gente recorda-ções de tempos bons e tambémde momentos difíceis. Prefiro melembrar das alegrias, dos paposmaravilhosos na redação e de-pois a turma reunida em mesasde botecos após o dever cumpri-do. Ao brinde dos copos de cerve-

ja seguiam-se os assuntos varia-dos do jornal que circularia assimque o dia amanhecesse. A genteera feliz, muito feliz e não sabia.

A minha profissão de jornalis-ta foi forjada na Rádio Riviera, emO Popular, na TV Anhanguera, naassessoria de imprensa da extintaGoiastur, em vários jornais sema-nários, revistas, telejornalismos

da antiga TV Goyá, TV Serra Dou-rada, TV Goiânia, TV Brasil Cen-tral e radiojornalismo de algumasemissoras goianas. Do Diário daManhã o convite foi feito peloeditor Carlos Alberto Sáfadi, comquem eu havia trabalhado em OPopular. Eu fui sabendo que esta-ria entre amigos e em um ambi-ente que seria construtivo para

minha profissão. E foi. Assimileimuita coisa que emanava da des-tacada inteligência de meus com-panheiros de jornal e, melhor, ti-ve a honra de trabalhar ao ladodeles – todos eles. Sendo coringana redação, tive oportunidade deeditar artigos de colaboradoresdo DM. Quando o professor Car-los Drummond de Andrade es-crevia com excesso eu falava comele pelo telefone e ele ditava oque poderia ser cortado no texto.No final ele perguntava se tinha“espaço para o desenho do JorgeBraga”, que o grande poeta faziaquestão de ver ilustrando os seuscontos. Essa convivência era gos-tosa e se tornou inesquecível.

O Diário da Manhã está aí,cheio da mesma coragem e ou-sadia como foi idealizado porBatista Custódio e ConsueloNasser, e cumprindo sua missãode moldar talentos. Faltam ape-nas os gritos e as farras dos bonstempos de redação cheia. O jor-nal continua vivo e forte, para aadmiração de milhares de leito-res e preocupação de algumasfiguras que, ainda hoje, teimamem escrever páginas no capítuloda triste memória de nossa his-tória contemporânea.

(Lorimá Dionísio – Mazinho– é jornalista aposentado)

HISTÓRIA

Batista e Américo sempre discutiama edição do DM que seria impressa

LorimáDionísio -MazinhoEspecial paraDiário da Manhã

A redação do Diário da Manhã continua grande, porém o número de profissionais diminuiu bastante

ARQUIVO DM

Tem café quente?ARQUIVO DM

7Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 8: Caderno especial DM 33 Anos

A ideia aparentementesimples, tornou-se umexemplo a ser seguido

no mercado de Comunicaçãoonline. O DMTV, televisão de in-ternet do jornal Diário da Ma-nhã, surgiu com o start do en-genheiro Marcus Fleury, umapaixonado pela área de comu-nicação, radioamador, enge-nheiro de profissão e criador dealguns projetos que mais nafrente deram origem a algumasrádios comunitárias em Goiás,como a de Nova Fátima.

Com o afilhado Júlio Nasser,Marcus Fleury, pensando noconceito multimídia do Diário daManhã, sugeriu, com o seuacompanhamento, a criação doDMTV. Depois de implantada,superados todos os impasses ele-trônicos e de infraestrutura, oDMTV se tornou a única emisso-ra de internet no Centro-Oeste e,também, uma pioneira em ope-ração no Brasil. Criada, já no ar,com alguns exemplos de sucesso.

PÚBLICO JOVEMDe acordo com o presidente

do Diário da Manhã, Júlio Nas-ser, a presença, ideia e experiên-cia de Marcus Fleury, aliado aoseu conhecimento em TI, foramimportantes para a manutençãodo DMTV no ar e,também, o seusucesso junto ao público.

Para Júlio, o DMTV rompeucom a estrutura da tevê comum efez presença positiva na interneta partir do momento em queusou a plataforma como meio dedivulgação de suas mensagens esua programação: tudo direcio-nado para um público jovem,com necessidade de leitura rápi-da, já que o tempo é curto, devidoas suas atribulações e agendas.

Júlio lembra que o DMTVcontou com a presença de bonsprofissionais que alimentaramtodo o conceito da televisão deinternet do Diário da Manhã.Criando, assim, uma cultura detelevisão online com a presençainterativa de sua audiência, ouseja, dos internautas.

SÓ ESPORTESO DMTV foi ao ar pela pri-

meira vez no ano de 2006. Noinício, a programação era volta-da apenas para a cobertura es-portiva, tanto que a primeira

transmissão foi a do Campeo-nato Goiano e posteriormentepara a música. Com o tempo,multiplicou os seus focos, es-tendendo aos internautas umavariedade de programas volta-dos para todos os segmentos:do esporte à música; da culiná-ria à política; da cultura à moda.

Com uma programação maisplural, mais dinâmica, a ten-dência foi a de conquistar maisaudiência e ao mesmo tempofazer uma verdadeira televisão,mesmo com uma linguagemprópria da web, na internet.

NOVOS PROGRAMASEx-diretor do DMTV, Ulisses

Aesse afirma que ‘a programa-ção, na época, precisava de umgrade. Para isso, foi necessáriouma ampla reunião com o staffda emissora e uma definição deuma programação que atendessea todos os setores da sociedade.

Definida, o DMTV colocouuma programação com atra-ções como ‘Reator’, um progra-ma de rock, apresentado por

Pedro Fernandes, que chegou adisputar o prêmio da revistaDynamite, uma das principaisdo País; além de outros como ‘Éo Bicho’, um programa apresen-tado pela jornalista Ítala Carva-lho, sobre o mercado pet no

Brasil e em Goiás e o ‘Autorota-ção’, apresentado pelo jornalis-ta Fernando Prado, sobre as no-vidades do setor automotivo.

Várias outras atrações diver-sificaram a programação doDMTV, entre eles, o ‘DMTV No-

tícias’, um boletim apresenta-do de hora em hora, possibili-tando o internauta a estar sin-tonizado com as últimas infor-mações e acontecimentos e o‘Na Balada’, com informaçõessobre os acontecimentos nanoite goiana, programa volta-do para o público teen.

POLITIZANDOO debate político na internet é

uma realidade, sem possibilidadede retrocesso, dizem especialistase políticos ouvidos pelo Diário daManhã. O DMTV, na verdade, foio primeiro veículo de comunica-ção do Centro-Oeste a transmitir,ao vivo, por meio da web, as pro-postas de alguns candidatos emGoiás. Um dos exemplos foi o de-bate dos candidatos à Prefeiturade Aparecida de Goiânia, segun-da maior cidade de Goiás.

Além de louvar o ineditismodo jornalista Batista Custódio naépoca, os professores ouvidospelo DM, chegaram a dizer que omodelo deve ser copiado por ou-tros veículos. “O DMTV e o DMmais uma vez são pioneiros nes-ta atitude que fortalece a demo-cracia brasileira”, disse o doutorem Marketing Político e profes-sor da UFG, Luiz Signates.

“Uma cidade como Apareci-da, que não tem divulgação emmídia televisiva, só tem a ganharcom o debate promovido peloDMTV”, completou o antropólo-go e cientista político Wilson Fer-reira da Cunha. Já o professor deCiências Políticas Itami Campos,na véspera de realização do de-bate, ressaltou a tendência pelaqual a internet atinge o eleitora-do. “O próprio DM é lido em to-do o mundo por meio da web. Omodelo veio para ficar, que todosos candidatos o incorporarão.”

ELEIÇÕESNA WEB

O DMTV também teve im-portante papel na cobertura daseleições em Goiás desde a suacriação. Com informações ágeise comentários precisos, emtempo real, levou aos internau-tas informações sobre o desen-rolar das votações. Com a coor-denação de Alex Pereira,o atualdiretor do DMTV, a emissoraconseguiu aumentar a audiên-cia durante os dias de coberturae mostrou a face política, tam-bém, do DMTV, algo similar quejá faz o Diário da Manhã, jornal,há bastante tempo.

Com uma programação ati-va, o DMTV mostrou e mostraque é possível realizar uma tele-visão presente e interativa juntoao seu público. Essa tendência,de oportunizar, debates e infor-mações, em tempo real, fez e fazcom que a emissora seja hojeuma das principais do País, em-bora enfrente hoje dificuldadesfinanceiras para manter a suaboa programão no ar. O tempodirá que o DMTV sempre fez efaz o certo, de olho no futuro.

Pioneira em Goiás, a tevê do Diário da Manhã, na internet, fez e faz escola.Com uma linguagem ágil, rápida e de fácil compreensão, seus programas chegaram,

inclusive, a partilhar espaços em tevês fechadas, como o É o Bicho e Reator

DMTV

O comentarista e consagrado narra-dor de futebol Januário de Oliveira che-gou a bater um bolão num domingo dopassado com o apresentador MiltonNeves, durante um bate-papo. Neveselogiou o trabalho de Januário de Oli-veira, que criou os bordões “tá lá umcorpo estendido no chão”, “sinistro,muito sinistro”, “tá lá o que todo mun-do queria”, “cruel, muito cruel”, alémde tantos outros. Januário tem um cur-rículo invejável: já atuou na TV Educati-va, Rádio Globo (durante 20 anos) ejunto com Luciano do Valle, na TV Ban-deirantes. Januário foi um dos queprestigiaram a web tevê do Diário daManhã, DMTV, onde fez comentáriosprecisos, durante alguns programas emostrou mais uma vez porque temgrande prestígio em todo o País. Mestreé mestre em qualquer lugar. Goiás, SãoPaulo ou em qualquer parte do mundo.

O DMTV teve, também, as participa-ções do cronista esportivo Valério Luize, também, Paulinho Azeitona. Os dois,

num determinado momento da histó-ria da emissora, foram seus diretores,alicerçando o conceito de um canal on-line que respeitava e respeita a vocaçãomusical e esportiva do internauta. Valé-

rio Luiz implantou o conceito de cober-tura esportiva na emissora do DM. Já,Paulinho Azeitona, apresentador doprograma Gynteen, na TBC, deu vez evoz à música, tornando a emissora mo-

derna e com uma qualidade musical,que conseguiu dobrar a audiência doDMTV. Na gestão de Valério Luiz, omaior incentivo à produção esportiva,revelou talentos. Hoje, na Televisão

Anhanguera, como narrador oficial dosjogos da emissora, o repórter, até entãoneófiio e iniciante, Vitor Roriz, disputa-va com o competente Fernando Pradoos microfones da emissora. Contandosempre com o trabalho técnico do ex-periente Alex Clímaco, responsável pormanter a emissora no ar no setor de Su-porte. O trabalho era constantementesupervisionado pelo presidente do DM,Júlio Nasser, e, também, pelo criador daemissora, seo Marcus Fleury.

Vale lembrar que Lincoln, o Leão daSerra, ex-craque do Goiás, também,ajudou nos comentários de vários jogostransmitidos pela emissora, um filãoque o DMTV conseguiu criar escolas ebons profissionais, tanto que a progra-mação era assistida por um público ávi-do por informações de Goiás e que seencontrava espalhado por quase du-zentos países do mundo. Uma legiãode internautas que ajudou no sucessodo DMTV e ainda hoje faz a emissoraestar na história das tevês na web.

Conceito criado com a participação de grandes e bons profissionais

Engenheiro Marcus Fleury: o idelizador Paulinho Azeitona: música e qualidade Valério Luiz: esporte também na rede

Ulisses Aesse: uma programação com a linguagem da internet

Alex Pereira: política na web

Júlio Nasser: televisão para um público jovem e sem tempo

Vista da redação do DMTV:moderna, prática e interativa

Uma televisão na internet

UlissesAesseEspecial paraDiário da Manhã

8 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

Page 9: Caderno especial DM 33 Anos

A h, o velho e sempre pro-fético Orwell... Em 1984,ele nos oferece a face

mais cruel, fria e insensível do to-talitarismo, em que aqueles quedetêm o poder absoluto – ou, seainda não o têm, de tudo fazempara rapidamente alcançá-lo econsolidá-lo – empenham-se emmanipular, ocultar, controlar,“ajustar”. No totalitarismo, nãoexiste História nem há memória.Todo registro é de tal modo adul-terado e maquiado que passa anão haver qualquer diferençaentre passado, presente e futuro.O passado é permanentementereciclado e ajustado às conve-niências da atualidade, e, em ter-mos efetivos, jamais houve mu-dança, porque “sempre foi as-sim”. Pelo instantâneo do mo-mento atual, antigos inimigos vi-ram aliados e velhos aliados sãoconvertidos em inimigos. Melhorainda, nada disso; se alguém ain-da tiver dúvidas, bastará conferiros registros oficiais (os únicosdisponíveis): descobrirá que osaliados e os inimigos de hoje osão desde sempre. O método dedominação consiste em suprimirou demonizar qualquer heresia

ou dissidência, apagar ou modi-ficar documentos, manipular econtrolar os meios de informa-ção. É de Antonio Gramsci e seu“intelectual orgânico” babaremde satisfação na gravata; nem sea coisa tivesse sido encomenda-da não seria tão perfeita.

Desde o aparecimento de1984, que se deu em 1948, a pro-posta de Orwell sempre foi toma-da como mero exercício político-alegórico. Como seria possívelaquele mundo do Big Brother pu-desse vir a existir, ainda mais noBrasil? Entretanto, especialmentea partir de 2003, ele vem se tor-nando assustadoramente maispróximo e factível. Já temos a no-vilíngua do politicamente corre-to. Ainda não chegamos ao Mi-nistério da Verdade preconizadopor Orwell, mas já temos, a plenovapor, a “Comissão da Verdade”,cujos trabalhos não andam e in-vestiga não se sabe bem o quê,mas já tem as conclusões pron-tas: a culpa, seja lá do que for, jásabemos, é da direita, dos milita-res, do imperialismo e das “daze-lite”. PT, MST, UNE, sindicatos,minorias mobilizadas e ONGs jápraticam o programa de “Doisminutos de ódio”, parte do diaem que os seguidores de Lula eDilma, como em 1984, se reúnempara assistir a propagandas enal-tecendo as conquistas do decê-nio petista e principalmente paraexercitar e direcionar o ódio que

mal contêm contra os inimigos.Não existem “adversários”; ape-nas inimigos – e são assim consi-derados qualquer um que seus lí-deres assim considerarem, ouque não apóie com frenesi tudoque provier do governo.

O Diário da Manhã completa33 anos. Nasceu sob a égide da li-berdade, do inconformismo dademocracia e da pluralidade.Veio à luz guiado pela idéia vol-tairiana de, a despeito de even-tualmente não concordar com asidéias de alguém, defender e as-segurar-lhe sempre em suas pá-ginas o direito desse alguém dedizê-las. Fico feliz em constatarque ainda agora, mais de três de-cênios após sua fundação, elecontinua fiel aos princípios sobreos quais foi erigido. Por sinal, nes-se aspecto aproveito para fazerum registro pessoal. Se existe al-guém, no cenário público brasi-leiro, que sempre me despertou amais viva idiossincrasia, este al-guém foi o ex-ministro José Dir-ceu, condenado pelo STF à prisãopor haver orquestrado e coman-dado o mensalão, trama urdidapela cúpula do PT para que opartido lograsse controlar a seubel-prazer o Congresso e levassea efeito o mais completo apare-lhamento da estrutura estatal jávista desde o nacional-socialismode Hitler e o comunismo de Stá-lin, numa invulgar experiênciatotalitária, com supressão de

qualquer oposição ou discordân-cia. Os modelos mais próximosde regime desse tipo de aparelha-mento são os atuais regimes cu-bano, vietnamita e o da Venezue-la chavista. Ou ainda, em versãoum pouco mitigada, o kirschne-rismo na Argentina.

Sempre tive José Dirceu co-mo o exemplo mais acabado depersonalidade política nefasta.Suas inquestionáveis inteligên-cia e tenacidade o transforma-ram em uma espécie de gênio aserviço do mal. Eu não preciseide que o Supremo confirmasse omensalão. Os elementos coleta-dos pela mídia e os debates naCâmaras que culminaram com acassação do ex-ministro da CasaCivil sempre me foram mais quesuficientes para me convencer,em termos políticos e fáticos, darealidade dessa compra de votos

e do aparelhamento da máquinaestatal, bem como da responsa-bilidade de José Dirceu e da cú-pula do PT no episódio.

Portanto, quando me depareicom a condição de José Dirceucomo colaborador do blog doNoblat e colunista regular doDiário da Manhã, quase surtei.Como era possível, eu me inda-gava, conceder-se espaço eprestígio a tal figura? Como, namais absoluta contra-mão dosfatos e da Opinião Pública, defe-ria-se a Dirceu o direito de ocu-par espaço na imprensa e nablogosfera, em desafio a realida-des incontestáveis e sob o cinis-mo do raciocínio revelador deque estava “cada vez mais con-vencido de sua inocência”?

Foi aí que me lembrei das li-ções e do exemplo de BatistaCustódio, de jamais negar espa-ço a quem quer que seja, e ga-rantindo esse auxílio tão maisefetivamente quanto mais emdesgraça ou em estado de de-samparo a pessoa estivesse. Foientão que me recordei do espíri-to que marcou a criação e a evo-lução do Diário da Manhã, o ofe-recimento de uma tribuna ondequem quer que se julgasse injus-tiçado pudesse ocupar, de formalivre e desimpedido. Foi aí queme dei conta do espírito que, emLondres, preside a existência doSpeech Corner, no Hyde Park,uma área em que é lícito a qual-

quer ocupar e manifestar seupensamento de forma livre, sema mais remota possibilidade deque o poder público vir a tolhê-loou interferir nessa liberdade. Emsuma: até José Dirceu, a despeitode ser o que efetivamente é, temdireito a se defender e a expor su-as opiniões, por mais cínicas,mentirosas, falaciosas e malicio-sas que possam ser. Concordeicom Batista Custódio, emboracom relutância. E também comRui Barbosa: “as leis que nãoprotegem meus adversários nãopodem me proteger”. É da de-mocracia legítima, em nossopróprio interesse, permitir e atéfacilitar que rebotalhos éticos co-mo o ex-ministro e ex-presidentedo PT possam se manifestar li-vremente – ao contrário do quesucede com Yoani Sánchez emCuba e a quaisquer oposicionis-tas em plagas bolivarianas ou em“democracias populares”, queDirceu tão ardorosamente de-fende. E que seriam os primeirosa silenciá-lo caso optasse por dis-sidir ou aderir a qualquer posi-ção contrária à ortodoxia totalitá-ria que tanto ama e defende.

Assim, meus parabéns a Batis-ta, na certeza de que o espírito doDiário da Manhã não se extin-guiu, trinta anos após.

(Marco Antonio Lemosé jornalista, juiz de direito

do Distrito Federal e fundadordo Diário da Manhã)

ARTIGO

MarcoAntônioLemos

Especial paraDiário da Manhã

A velha chama não se extinguiu“Onde quer que exista alguém empenhado em esconder alguma

coisa, isso será notícia. Todo o resto é propaganda” (George Orwell)

Foi aí queme lembrei

das lições e doexemplo deBatista Custódio,de jamais negarespaço a quemquer que seja”

9Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 10: Caderno especial DM 33 Anos

“O ser integral conhece sem ir,vê sem olhar e realiza sem fazer”

Lao Tzu

O uvi de um amigo, noaniversário de outro, oseguinte: Vim porque é

aniversário de oitenta anos. Sefosse de setenta e nove não viria.

Vi nesta afirmação o enormerespeito de quem a fez pela ida-de provecta de oitenta anos, seusignificado e sua simbologia.

O Diário da Manhã já fezoutros aniversários: de trinta,de trinta e um, de trinta e doisanos de vida...

Mas o jornal completou trin-ta e três anos!

Não compareci aos outrosaniversários, mas este não po-deria deixar de estar presente,de dizer minha pequena masverdadeira e sincera palavrade congratulação.

Trinta e três é um númeroemblemático, altamente simbo-lógico, profundamente humanoe divino. O divino Mestre com-

pletou sua tarefa aos trinta e trêsanos, mas para chegar a elespassou por duras provas: totalesquecimento dos doze aos trin-ta anos, tentação no deserto,humilhação de um julgamentoinjusto, preterição do povaréuem favor de Barrabás, criminosoconhecido, até alcançar a mortedolorosa e humilhante reserva-da aos piores criminosos: a cruz.Mas pode exclamar: Tudo estáconsumado. E, afinal, ressurgiu.

O Diário da Manhã, sob ocomando deste inexplicávelBatista Custódio, combativo ecombatido, quieto e alvoroça-do, cego e profundamente vi-dente, silencioso e loquaz, é otípico ser que vê sem olhar erealiza sem fazer.

Empunhando uma bandeirademocrática de informar a ver-dade e de formar opinião abali-zada, o Diário da Manhã vematravessando lagos calmos e ma-res tempestuosos, mas semprenavegando, sempre indo na di-reção do alvo pretendido, sem-pre caminhando para a frentena busca daquilo que entendeverdadeiro, justo e aceitável.

Produzir imprensa por trin-ta e três anos não é tarefa paraanões, nem para mesquinhos,nem para deslumbrados. É

trabalho penoso, para deno-dados e gente que desespera-damente agarra a esperança enão a deixa fugir nunca.

Atravessou o Diário da Manhãe registrou momentos históricosimportantíssimos, da cidade, doestado, do país e do mundo.

Chegou até a era digital eadotou-a, de modo que o quese escreve no DM está na bocado mundo, ante a revoluçãoda informática.

Liberal, abre suas páginas atodos, abriga todas as tendên-cias, dá-se ao luxo de ser umportal ao qual se pode teracesso, atravessando-o paraos confins do mundo.

Mas algo que, pessoalmen-

te, me toca profundamente éa sensibilidade desse jornalis-ta para com o belo, a arte, acultura em geral e, especial-mente, a literatura.

Há anos e anos vem o Diárioda Manhã cedendo espaço aosescritores (articulistas, cronistas,ensaístas,) em cadernos comoOpinião Pública e DM Revista,ou página inteira para a OficinaPoética, aos domingos.

Especialmente à AcademiaGoiana de Letras tem o Diárioda Manhã cedido espaço, sejanas notícias dos eventos, nasentrevistas com seus dirigen-

tes, seja na publicação de Su-plementos Literários como ohoje tabloide Academia, Su-plemento Literário da Acade-mia Goiana de Letras.

São fatos como este quetornam especialíssima estadata em que este importantís-simo veículo da imprensa goi-ana e brasileira completa trin-ta e três anos de atividade.

E é por isto que, seja pesso-almente, seja em nome daAcademia Goiana de Letras,seria impossível deixar decomparecer e de proclamar:Salve o trigésimo terceiro ani-

versário do Diário da Manhã.Goiás, orgulhoso, saúda o

jornal e aplaude seu dirigentemaior, jornalista Batista Custó-dio e todos aqueles que formama denodada e competente equi-pe que lhe empresta apoio esustentação.

Valha-nos a graça divina.Parabéns Batista, parabéns

Diário da Manhã!!!

(Getulio Targino Lima é advo-gado, professor, jornalista, escri-

tor, membro e atual presidente daAcademia Goiana de Letras.

Email: [email protected])

Trinta e três idades“Produzir imprensa por trinta e três anos não é tarefa para anões,

nem para mesquinhos, nem para deslumbrados.”

HOMENAGEM

Washington Novaes saiu da TV Globo para ser editor-geral do DM

GetulioTarginoEspecial paraDiário da Manhã

ARQUIVO DM

Trinta e trêsé um númeroemblemático,altamentesimbológico,profundamentehumano e divino.”

10 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

Page 11: Caderno especial DM 33 Anos

ODiário da Manhã pres-ta enorme serviço pú-blico quando defende

causas de interesse coletivo. Emplena era de denuncismos semfundamento, o jornal no inícioda década de 2000, apresentoupara a sociedade o editorial"Defesa da ética e da honra",em que o jornal comunicavaseu interesse em não publicardenúncias infundadas ou docu-mentadas. O impresso aplicava,de fato, pela primeira vez no pa-ís a regra que 'todos são inocen-tes até o trânsito em julgado desentença penal condenatória'.

Apesar de democrata na di-vulgação das opiniões, o prin-cípio da ‘Defesa da ética e dahonra’ vedava o uso das pági-nas do jornal para a prática decalúnias e difamações. A práti-ca sistemática desde o princí-pio legou maior responsabili-dade, diminuindo o número deações na justiça e de reparaçãode danos morais. Por sua vez, ojornal passou a publicar fatosconsolidados, que receberamsentença condenatória. Os sus-peitos receberam o direito decontar sua versão. A regra valia

tanto para crimes comunsquanto para a política.

DRAGASOutra campanha de peso do

jornal tratou da defesa do RioAraguaia. O Diário da Manhãtravou duas lutas: contra a pre-sença de usinas de dragas. No

caso das usinas, que destruí-ram o manancial, a sociedadecivil saiu vitoriosa. Em 2009,após acirrado debate político, ogoverno federal anunciou suapostura em avaliar as licençaspara a construção de usinas hi-drelétricas. Mas existiam outrasbatalhas. O DM e uma rede de

sete ONGS começara, então,uma luta árdua pela retirada dedragas que contaminavam edestruíram cerca de 81 quilô-metros de manancial. A cam-panha ganhou as ruas, a im-prensa e os políticos.

Os atuais senadores em exer-cício, Demóstenes Torres e

Marconi Perillo, além dos depu-tados federais e estaduais, bemcomo vereadores e prefeitos,começaram um debate públicoa respeito do problema. Cercade 52 dragas que buscavam dia-mantes foram retirados do rio.Associação Goiana dos Municí-pios (AGM), a Ordem dos Advo-

gados do Brasil (OAB), Ministé-rio do Trabalho, polícias Militare Civil, sindicatos e inúmerasONGs ambientais apoiaram acausa defendida pelo impresso.

O ministro do Meio Ambienteem exercício, Carlos Minc, se de-clarou contrário a presença dedragas no rio, mas foi incapaz derever a postura dos órgãos fede-rais em relação à concessão depermissões que possibilitam aexploração no Araguaia. O temafoi veiculado em reportagensnacionais pelas emissoras de te-levisão e tomou corpo em deba-tes do senado, que aprovou umprojeto de Rio-Parque para regi-ão – fato que diminuiu a agres-são de mineradoras no rio.

A realidade das dragas no RioAraguaia foi constatada por di-versas expedições. O DM mos-trou que as 52 dragas legalizadaspor órgãos ambientais estavammatando os peixes do rio. A áreade proteção ambiental do en-cantado (APA do Encantado) eraa principal era a principal vítimadas agressões. Frente à falta deações da Secretaria do Meio Am-biente de Goiás, (Semarh), o Iba-ma do Mato Grosso do Sul, res-ponsável pelas licenças ambien-tais, o Ibama de Goiás, InstitutoOnça Pintada e outras organiza-ções começaram uma campa-nha de preservação do rio. ODM apoiou a visita de ambienta-listas, fiscais biólogos e geógrafosque monitoraram o problema.

WellitonCarlos

Especial paraDiário da Manhã

Em respeito às lutas sociaisMEIO AMBIENTE

DM garante direito de resposta, faz jornalismo democrático e valoriza as causas ambientais

Jornal travou luta contra a poluição do Rio Araguaia

ARQUIVO DM

11Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 12: Caderno especial DM 33 Anos

Q uando foi fundado háexatos 33 anos, o Diárioda Manhã de imediatopassou a cumprir rele-

vante papel na Imprensa brasi-leira. Moderníssimo, bem elabo-rado, independente, de prontofoi reconhecido como uma refe-rência entre os jornais do País.Era tão bom trabalhar no DMque nós, os da editoria de políti-ca, ao encerrarmos nosso traba-lho, aí pelas dez da noite, íamospara algum restaurante numaespécie de comemoração diária.E o assunto principal era justa-mente o trabalho daquele dia eo que faríamos no dia seguinte.Certa vez fui nas férias de 30 di-as, para Fortaleza e, lá chegan-do, supus que ali aguentaria fi-car o resto da vida. Boas praias,passeios de jangada, leitura des-preocupada. Mas, aí pelo déci-mo quinto dia não mais suporteia saudade da redação do DM eantecipei o retornou. Quem fi-cou na vantagem foi o BatistaCustódio. Aliás, merecidamente.

Depois, aconteceram as difi-culdades financeiras, persegui-ções, com reflexos até os diasatuais. Elas foram enfrentadas

bravamente pelo Batista. Nasua obstinada luta pela recupe-ração, vi-o trabalhar de pé, comum telefone em cada ouvido.Foi nessa época que ouvi doBatista a seguinte confissão:“Quando a gente fica sem nadae quer fumar, o dinheiro deuma carteira de cigarros é mui-to dinheiro.” Alguns daquelesamigos a quem pedia ajuda,dos quais ouvia antes rasgadoselogios, nessa hora aproveita-ram para, antes da ajuda, tirarum sarro: “Primeiro quero lhe

dizer que você nunca foi em-presário.” Para o Batista issonão era nenhuma ofensa, por-que se existe uma profissão quenunca exerceu fascínio sobreele, é a de empresário. Vendo-onaquela labuta, um dia lhe con-fessei e agora reafirmo: eu nãosuportaria sequer dez por centodo que ele suportou.

Suportou e continua supor-tando. Já lhe disse: “Do carma,ninguém consegue fugir.”

Batista Custódio prosseguiue prosseguirá por muito tempo

ainda. Assim espero. Porque as-sim acho necessário a Goiás eao Brasil. Sem os dois jornaisque criou, inicialmente o Cincode Março, que coincidentemen-te, neste dia em que boto estasmal traçadas no papel tambémfaz aniversário, depois o DM,que chega à idade de Cristosustentando a Bandeira das Li-berdades, Goiás não teria,quanto à sua evolução, chega-do onde chegou.

Parabéns, Diário da Ma-nhã; parabéns, Goiás; e, na

pessoa de Batista Custódio,parabéns e uma calorosa sal-va de palmas a toda a equipedeste grande Jornal.

(Valterli Guedes é advogado,jornalista, sócio-diretor do es-critório “Castro, Guedes e Wil-

lar – advogados e Consultores”;editor da revista “Hoje”, presi-

dente da AGI – Associação Goi-ana de Imprensa” e articulistado “Diário da Manhã”. Foi se-

cretário de Estado em Goiás(Governo Henrique Santillo))

ValterliGuedes

Especial paraDiário da Manhã

MEMÓRIA

Outdoors anunciavam mudança na imprensa goiana

ARQUIVO DM

Um marco naHistória da Imprensa

O jornal Diárioda Manhã tem

papelfundamental na

história dojornalismogoiano e do

desenvolvimentodo Estado. Nestes

33 anos, foicrucial para a

disseminação dainformação,contribuindo

com odesenvolvimento

regional.

A data é ummarco para o

jornal e tambémpara Goiás.

Parabéns aosprofissionais que

passaram pelojornal, aos queestão hoje e ao

jornalistaBatista Custódio

pela buscaconstante por

uma imprensalivre cujo maiorinteresse é servir

de alicerce àpopulação

goiana.

Alicerce daLiberdade

Helenir QueirozEmpresária e

presidente da Acieg

12 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

Page 13: Caderno especial DM 33 Anos

S alve os 33 anos de vidado Diário da Manhã esua audaciosa luta pelaliberdade de expressão

sustentadora do Estado demo-crático de direito. Falar de im-prensa livre em Goiás sem trazera lume o pensamento refletidona luminosa tela mental do ini-gualável jornalista, poeta e escri-tor Batista Custódio é tentar es-camotear a verdade. É totalmen-te impossível tentar descrevermesmo que resumida e palida-mente, sua brilhante e vitoriosasaga de jornalista e de cidadão,sem nos ancorarmos nos princí-pios de religiosidade que ele es-posa como normas norteadorasde sua irreparável conduta.

Extraordinária é a força da in-descritível intuição e da aguçadasensibilidade que conduzem osseus passos fazendo dele um serhumano diferenciado, ao mes-mo tempo bravo, destemido,verdadeiro, sincero, leal e extre-mamente generoso. Hoje experi-ente e traquejado na arte de es-crever bem e com acerto, sem apreocupação de querer agradar atodos, sobretudo aos poderosos,este líder de escol que já nasceucom a alma jornalista incrustadaem sua indumentária física, maisdo que um culto e talentoso es-criba e empresário bem sucedi-do, é um conselheiro, um amigo,

um analista político de primeiralinha e com ampla visão domundo. A sua é uma história quese confunde com a história daverdadeira imprensa de Goiás.

O sertanejo oriundo das bar-rancas do rio Bonito, é hoje umadepto fervoroso e cultor per-manente da sábia e generosa leiuniversal da Evolução. Advindodo abençoado berço da respei-tabilíssima e veneranda IgrejaCatólica Apostólica Romana,Batista Custódio revela-se con-sciente de que traz grafada emsua memória de épocas bastan-te recuadas, a marca indelévelde muitas andanças pelos tem-pestuosos caminhos da vida im-perecível.

Poder-se-ia dizer sem medode errar, com extrema humilda-de, serena coragem e com amais absoluta convicção, que napresente existência física ele nas-ceu para desenvolver a sublimearte de escrever com proveito ecomo missionário da vida ajudara redirecionar o caminho da hu-manidade. E escrevendo destaforma e sem a preocupação dequerer agradar quem quer queseja, forjou na incansável luta dodia a dia, sua brilhante e irrepa-rável trajetória profissional co-mo autêntico e intrépido defen-sor dos oprimidos, dos pobres,dos excluídos, dos humildes, dosmiseráveis e de todos aquelesque, segregados pela sorte jorna-deiam pelos caminhos da vidanum estado vegetativo de com-pleto desvalimento moral.

Da saga vitoriosa de sua lúcidainteligência, da sua invejável ins-

piração jornalística e dos encan-tos sublimados de sua alma livree democrática, nasceram o bravoe destemido líder estudantil, o in-transigente e obstinado defensorda democracia, o timoneiro daesperança e da fé, o algoz da dita-dura militar e o arauto de liberda-de. Foi mourejando neste uni-verso denso, tempestuoso e de-sacreditado da notícia, da críticaimpiedosa e da informação trazi-das a lume pela grande mídiaconservadora, que o Batista, jor-nalista arrojado, destemido e au-dacioso, conseguiu construirneste país e neste orbe de para-doxos e contradições, uma im-prensa séria e responsável, que jáse revelou capaz de contribuircom a construção da cidadania ede uma cultura de paz. Culto einteligente este fervoroso defen-sor da liberdade de expressão edo Estado democrático de direi-to, lúcido escriba, vate e cantadorda alma do povo, é um vivo or-gulho do jornalismo goiano quenunca se sentiu aprisionado.

Quando açoitado pelo bramirestridente das baionetas impie-dosas do autoritarismo, algema-do e trancafiado nos porões daditadura militar, o inigualável jor-nalista goiano, reviveu simbolica-mente na própria pele o dramade Sócrates que, embora atrásdas grades e na iminência de in-gerir o veneno fatal que o levariaà morte física quedando-se iner-te, declarou-se inteiramente livre,consciente de que sua essênciajamais seria o corpo perecível.

Batista hoje reconhecidamen-te um espiritualista de escol, traz

consigo a plena consciência deque o ser humano é constituídode uma parceira dualidade, a ar-gamassa celular e nela incrustadaa alma, a essência da vida impe-recível e plenamente livre, “livrecomo o vento, livre como os pás-saros, livre como a garça voandono arrebol.” Quem assim pensa eage como o fizeram Sócrates eBatista, nunca se sentirá aprisio-nado mesmo com o cerceamen-to ou perca da liberdade de seucorpo físico. E foi com este espíri-to de liberdade plena que a lúcidainteligência deste notável jorna-lista, com mais de meio século debons serviços à sociedade, vemorgulhando os goianos, encan-tando Goiás e enobrecendo o jor-nalismo brasileiro.

Através de sua pena destemi-da e generosa ultrapassou os es-treitos limites das nossas fron-teiras, varreu todos os rincõesda pátria, universalizando o ver-bo da verdade e levando a men-sagem cristalina da verdadeiraimprensa livre e democrática,

ajudando a construir a cidada-nia, desejoso de implantar defi-nitivamente na face escura doplaneta, o reinado permanentedos nobres e valorosos princí-pios da liberdade, da igualdadee da fraternidade.

Escudados nesta corajosa li-nha de pensamento de seu Edi-tor Chefe foi que o jornal Cincode Março e seu sucedâneo Diárioda Manhã, transformaram-seem vanguardeiros da esperançae da fé, timoneiros da liberdade earautos da democracia brasileira.O Diário da Manhã, fonte gera-dora e fomentadora desta lutasem tréguas e permanente emfavor da cidadania, transformou-se em uma indispensável ferra-menta de gestão destinada aquebrar paradigmas. Ao fomen-tar a construção da cidadaniaplena, sugere que cada cidadãobrasileiro ou não, ao sentir o des-pertar de sua própria consciên-cia assuma livremente o coman-do de sua individualidade, resga-te seus valores pessoais inaliená-veis, assenhoreia-se de seus di-reitos e deveres, sem violentar aconsciência de outrem.

Esta é a ousada, vanguardeira,arrojada e sublime tarefa que oCinco de Março e agora o Diárioda Manhã, sob o pálio generosoe a batuta do intrépido, audacio-so e destemido Batista Custódio,vem sustentando e compartindocom todos os segmentos da soci-edade goiana. Prova incontestá-vel desta irrefutável realidade foia criação e implantação da colu-na Opinião Pública, comandadapela jovem e competente jorna-

lista Sabrina Rittiely. Ali o Diárioda Manhã em espaço livre laico edemocrático, oferece a quem odesejar, oportunidade de exporabertamente seus pensamentosseus pensamentos e seus ideais.A Opinião Pública, transformou-se no maior foro de debates dojornalismo goiano, freqüentadonão raramente por brilhantes ar-ticulistas, poetas, prosadores,profissionais liberais, políticos,educadores, estudantes, reno-mados jornalistas, ilustres escri-tores e pela gente do povo, ondetodos os assuntos de interessepúblico são comentados e exaus-tivamente debatidos.

Ao ensejo do transcurso doaniversário dos 33 anos deste re-nomado jornal, criador e susten-tador da imprensa livre em Goi-ás, com júbilo e alegria, ousamosem nome do generoso povo deAparecida de Goiânia, a quemtemos a honra de representar,render nossas sinceras homena-gens. Ao fazê-lo, manifestandoaqui o preito da nossa gratidão edo nosso reconhecimento aolaureado jornalista e amigo Ba-tista Custódio, ao ilustre aniver-sariante Diário da Manhã, filhodileto e amado do seu coração ea todos os profissionais que abri-lhantam com suas presençasaquela trincheira de luta, pelosrelevantes e inestimáveis servi-ços prestados a Goiás e ao Brasil.Parabéns a todos. Felicidadesempre. Gratidão e paz.

(Maguito Vilela é ex-gover-nador do Estado e prefeito de

Aparecida de Goiânia)

MaguitoVilela

Especial paraDiário da Manhã

Sem imprensa livre não há democraciaOPINIÃO

Escrevendosem a preocupaçãode querer agradarquem quer seja,Batista forja suabrilhante trajetóriaprofissional”

13Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 14: Caderno especial DM 33 Anos

O ano é 1981. Dia e mês,não me lembro. O local,a antiga sede do Diário

da Manhã, na Av. 24 de Outubronº 1240, Campinas. O horário,por volta de 9h30. Na imensa salade redação do jornal, aquela horaainda sem muita gente, o entãosenador Lázaro Barboza, doPMDB, tagarela amistosamentecom alguns jornalistas (IvanMendonça, Luiz Augusto da Paze Valterli Guedes, além deste es-criba, Chefe de Redação).

A alguns metros, apenas ob-servando, Batista Cardoso, repór-ter esportivo, que, a caminho doEstádio Antônio Accioly, fizerauma pausa para tomar água, poisainda curtia uma ressaca da noiteanterior, num périplo que come-çara no Ramal 51 , um misto deboteco e restaurante, que ficavapraticamente nos fundos do pré-dio do DM, e terminara não seionde, na companhia de IsanulfoCordeiro, Hélio Rocha e o saudo-so Raimundo Filho.

O fotógrafo Lailson Duarte, oJacaré, procura poses do visitantepara a ilustração da entrevista.Súbito, adentra o recinto o entãoeditor de Política, Marco AntonioLemos, de jeans, camisa aberta aopeito, exibindo um enorme cor-dão e crucifixo de prata. Junta-seao grupo, cumprimenta o sena-

dor. Lázaro Barboza, de forma ab-solutamente inesperada, numgesto rápido, toma do crucifixo,beija-o e o larga incontinenti. To-dos reagem aturdidos, momenta-neamente paralisados pelo im-previsto. Com enorme e malicio-so sorriso, Lázaro vira-se para ofotógrafo, ainda sem ação, e co-menta: “ Mas que foto que vocêperdeu, hein, meu filho?...” Estou-rou uma gargalhada geral, e a en-trevista prosseguiu.

Narro esta história para que asnovas gerações de jornalistas ecomunicadores possam ter umaidéia do clima jocoso e participa-tivo, da experiência diferente, tre-pidante, entusiástica que era fazerjornalismo no Diário da Manhã.Um jornal que, pelo lema adota-

do por Batista Custódio, só deve-ria ter “a ideologia do fato”.

Aliás, muito embora a redaçãocontasse com esquerdistas emsua maioria (coisa absolutamentenormal, até porque, segundo afrase primorosa de Assis Chateau-briand, em conselho a RobertoMarinho, “não há como se fazerjornalismo sem comunista nembalé sem viado”), esse preceitoera seguido à risca e se tocava ojornal num ritmo em clima deunidade em torno do objetivo deelaborar e entregar ao público omelhor possível. Havia uma uni-dade de ação no propósito de ex-celência jornalística, um clima detolerância e de reciprocidade,apesar de eventuais desencontrospolíticos, ideológicos e filosóficos,

diferenças políticas.Repórteres e redatores con-

centravam-se na informação, tãoampla e imparcial quanto possí-vel; as opiniões, livres e sem qual-quer tipo de censura, ficavam pa-ra a parte editorial e para as inú-meras colunas pessoais que sem-pre foram uma marca registradado DM. Por sinal, já passadosmais de trinta anos, posso assegu-rar que nunca folheei uma publi-cação que apresentasse tamanhamultiplicidade de opiniões, emtodas as áreas: quem quer que ti-vesse algo a dizer, e assinasse, ob-tinha espaço no jornal.

Convivíamos excelentementebem, “reacionários” e “progres-sistas”, neoliberais, homo e hete-rossexuais, Opus Dei e Teologia

da Libertação, periquitos, vilano-venses e atleticanos, PDS, PMDB,trotskystas, “Partidão”, PC do B eaté o PT, recém-criado, a gozarainda de uma aura quase religiosae messiânica de probidade ética epolítica, bem pré-mensalão. Bas-ta assinalar, para registro da épo-ca, que caso a blogueira cubanaYoani Sánchez por lá aparecesse,naquela época, não despertariaquaisquer fúrias de militâncias ouhostilidades de grupos. Seria tra-tada como aquilo que efetiva-mente era, ou seja, como notícia.À direita e à esquerda, seria disse-cada sob todos os ângulos e face-tas que pudesse apresentar, dapolítica à economia e do cabelãoao vestido, sem restrição, boicoteou oba-oba. Qualquer julgamen-to competiria ao leitor fazer.

Recordo com muita saudade enostalgia o período em que passeino Diário da Manhã, tanto peloque pude (pudemos, todos) con-cretizar e pelo que aprendi, pro-fissional e vivencialmente. Hoje,infelizmente, é um tempo em quese fala em “regulação da mídia”,com inequívocos propósitos decensura e amordaçamento.Aquela época, aquele projeto e osque o executaram compõem umfarol de referência, na persistênciada luta em favor da democracia eda liberdade de expressão, quenunca cessou e sempre se renova.

Em 1980, na criação do Diárioda Manhã, ainda vivíamos sob oregime militar, sob a opressão dacensura e ainda nos recuperáva-mos dos traumas da sombra edos ecos do AI-5, cuja revogação

era recente. Assim como é hoje,nosso desafio de então era man-ter acesa a chama dos ideais de li-berdade e de informação.

Nossa principal contribuição atais causas foi o estímulo à liber-dade de expressão, focados naidéia de que a liberdade é a essên-cia da cultura ocidental, o princí-pio de seus triunfos; constituimesmo o centro de sua irradia-ção. O valor da liberdade, nelacontido o direito à informação e àlivre expressão, assim como o dacivilização ou da educação, con-siste no fato de que, sem ela, apersonalidade individual não po-de concretizar todas as suas po-tencialidades, não pode viver,agir, fruir, criar conforme as inú-meras maneiras que permite ca-da momento da História.

Participamos, no Diário daManhã, de um processo que, aoinovar o exercício da imprensaem Goiás, pregou e ajudou a con-solidar a liberdade e a cidadania edisseminou o inconformismo.Recordemos que nossa sociedadeé humana, portanto falível e sujei-ta a erros e equívocos. Estes dei-xam de ser perigosos quando épermitido contradizê-los e de-nunciá-los livremente.

(Jayro Rodrigues, próximodos 73 anos, foi, ao lado de Car-

los Alberto Sáfadi, um dos pri-meiros contratados por Batista

Custódio para o lançamento deum jornal que viria a ser o Diá-rio da Manhã. Hoje, é Superin-

tendente de Comunicação daCasa Civil do Governo de Goiás)

Redação do DM, onde aparecem Jayro Rodrigues (à máquina) e Carlos Alberto Sáfadi (costas)

JayroRodriguesEspecial paraDiário da Manhã

Trinta e três anos este mêsARQUIVO DM

ARTIGO

14 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

Page 15: Caderno especial DM 33 Anos

N este momento tão con-turbado para os desti-nos do Brasil, com os

governos em absoluto divórciocom os interesses e objetivos doPaís, com a corrupção predomi-nando em todos os setores davida publica nacional, um poderse levanta contra e em defesadas tradições de honradez e dig-

nidade do povo brasileiro, a IM-PRENSA. Ela é uma arma dosfracos contra os desmandos dosfortes, e um bálsamo que aliviaas dores dos humildes contra osdesmandos das inconsequênciagovernamental.

Tão grandiosa e tão comple-xa é a missão social da imprensaque é preciso acompanhar a hu-manidade em todas as suas ma-ravilhosas ocasiões de vida, parase poder definí-la .

A ciência, as artes, a literatu-ra, a política vivem em absolutadependência da imprensa – veí-culo admirado que se apodera

de todas as idéias, de todo umsentir de uma época que os con-duz pelas mais longínquas para-gens do mundo, doutrinado atodos .

O jornal é tormento dosmaus governos, o sonho maudos déspotas e, muitas vezes, ofuracão que levanta colunas dehomens contra o regime das vi-olências, dos atentados, esma-gando e construindo em seu lu-gar o reinado da Liberdade, doDireito e da Democracia.

Quem pode medir o prestígiode um jornal quando é bem ori-entado, bem escrito e, sincera-

mente, inspirado em verdadei-ros sentimentos de patriotismo?

O jornal espelha por todaparte as grandezas de um País,seu florescimento, suas rique-zas, sua civilização, mostrandocomo o administram, como ogovernam para atingir o grau deprogresso e de cultura que ma-ravilha a todos os outros; e nodia seguinte nos aponta as vicis-situdes, as misérias que assolamum outro, que vê diminuída asua população, desbravadas assuas riquezas, pela má direçãode seu governo .

O jornal registra dia a dia os

acontecimentos significativos,comenta as novas idéias, discu-te sua propriedade de adapta-ção ao meio, vergasta os erros,corrige e abranda os costumes.

Goiás sempre foi berço daimprensa livre e corajosa, sendorespeitável sua tradição. E den-tro da operosidade jornalísticasurgiu a figura de Batista Custó-dio, inegavelmente uma penacapacitada e de muita coragem,que enfrentou e tem enfrentadoépocas tormentosas e governodespóticos, pagando caro pelasua bravura e idealismo. Foisempre um tormento para a in-

sensatez e para o despotismo.Essa sua condição de jornalistabravo e corajoso vem desde asua mocidade a frente do Cincode Março e sua e sua voz conti-nua sendo o eco de AlfredoNasser em nossos dias. E hoje,quando se comemora o aniver-sário do operoso e bravo Diárioda Manhã é necessário que Go-iás reconheça a significaçãodesse órgão de imprensa na vi-da do Estado, vergastando oserros e mostrando os acertos.

(Olímpio Jayme éex-deputado e advogado)

ARTIGO

Goiás tem uma história de imprensa livre

OlímpioJaymeEspecial paraDiário da Manhã

Missão daimprensaO Diário da Manhã registrao dia a dia dos acontecimentossignificativos, comenta novas ideias,discute sua propriedade deadaptação ao meio, vergastaos erros, corrige e abrandaos costumes. Goiás sempre foiberço da imprensa livre e corajosa

ARQUIVO DM

15Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 16: Caderno especial DM 33 Anos

M arcando os 33 anos deexistência do Diárioda Manhã, justo é co-

memorar o feito extraordináriodo jornalista Batista Custódio nasua luta intensa para a preserva-ção do jornal que ele, Batista,idealizou e fez nascer para serum marco na divulgação de Go-iás para o Brasil, pena que nun-ca, nunca mesmo, esse clarãode idealismo tivesse iluminadoos poderosos que governaramnosso Estado, pois, em sentidocontràrio, mesmo após a aber-tura gradual para a redemocra-tização iniciada em 1.983, oDiário da Manhã foi brutalmen-te massacrado, asfixiado pelopoder econômico fantasiado defalência para garrotear a liber-dade de pensamento que renas-cia em meio a tantas esperançasque se perderam no desencantoda tirania dos que juravam, empraça pública, amor pela liber-dade de imprensa.

Venho de longe, caminhando

sem cansaço, cultivando as lem-branças de um apaixonado pelojornalismo e vêm-me à memó-ria, lances da história não tão re-cente, recordando o Jornal deNotícias desde os anos 1.950,doséculo passado, rememorandoas agruras do Alfredo Nasser parafazer circular seu jornal, voz so-nora e firma das Oposições Goia-nas de então, tendo a seu ladoDesclieux Crispim, Sebastião deAbreu, José Luiz Bitencourt (pai),José Morais e tantos outros agorasão apenas histórias.

Veio depois o antigo Estadode Goiás que expressava as opi-niões e o pensamento do PartidoComunista, mantido por AlbertoXavier, Abrão Isaac Neto, MoacirBerchó e outros, cujas oficinasforam violentamente transfor-madas em montes de caracteresesparramados pelo chão e seuhumildes funcionários levadospela polícia política em uma bra-vata de extrema covardia. Maisadiante, surgiu pelas mãos deClotário Mena Barreto o jornalNova Capital, instalado na Rua20, com o objetivo de divulgar oideal da mudança da capital fe-deral para o Planalto Central,com uma equipe liderada porGeraldo do Vale, Pimenta Neto e

José Leão, com duração de pou-cos anos; mais adiante, no tem-po de novas eleições, aquele queera O Social, voltou a circular co-mo Diário da Tarde, tendo alcan-çado grande tiragem quando te-ve como diretor Luiz Gonzaga deBarros Mascarenhas. Ainda comas idéias de novos tempos, veio àlume o Diário do Oeste, de Wal-demar Gomes de Melo, comacentuadas inovações, mas nãoteve vida longa, mesmo sendomuito bem feito tanto na formacomo no conteúdo, nele pontifi-cando Javier Godinho entre ou-tros tantos bons jornalistas.

Mas o épico acontecimentoque viria a ocorrer na noite de 5de março de 1.959, na Praça doBandeirante, deu nome a um se-manário que fez história em Goi-ás – o Cinco de Março, nascidocom a coragem emanada dosmoços que enfretaram as polí-cias civil e militar, lutando os es-tudantes pela melhoria do ensi-no público em Goiânia. Homensde coragem e decisão, aliados abravura de uma mulher, Consu-elo Nasser, Batista Custódio,Waldemar Peres de Faria, Telmode Faria e outros colaboradores,fizeram do semanário que às se-gundas-feiras tirava o sono dos

corruptos de Goiás..Nasceu dos ideias do Cinco de

Março o nosso Diário da Manhãque, merce de Deus, tem sobre-vivido graças a tenacidade do Ba-tista Custódio que teima em nãodeixar cair o estandarte do jornalque caminha vencendo todas asdificuldades para consolidar-secomo a mais autêntica tribunademocrática do pensamentoplural dos goianos e dos brasilei-ros que se expressam livrementeem suas páginas.

Costuma-se associar-se o nú-mero 33 à idade em que Jesus

foi levado à cruz, padecendo oseu calvário de incompreen-sões, mas o fez para salvação detodos, bons e maus, mas é naressurreição que a glória maiorse projeta no tempo, em meio assaudades do Fábio Nasser, gran-de espirito com força criativaque fundou o Diário da Manhãacreditando no futuro que esta-mos vivendo, porque FabioNasser teve a visão do amanhã,mesmo na noite escura das tre-vas que silenciaram por doloro-so tempo a voz do Diário daManhã e lá, habitando entre os

Espíritos Iluminados, suas pre-ces falam de amor, de paz, desaudade, cheias de carinho pelopai Batista Custódio, que hojepode comemorar os 33 anos doDiário da Manhã como o vitori-oso, porque na cruz em que qui-seram colocá-lo em tantas opor-tunidades, nasceram flores e atécravos, estes perfumados!

Se olhar para traz, Batista, vo-cê verá que na verdade, você´e oDiário da Manhã, venceram.

(João Neder é jornalista, escritor epromotor de Justiça aposentado)

Viagem no tempoHomens de coragem e bravura, aliados à jornalista e advogada Consuelo Nasser,

fizeram do semanário tribuna democrática que tirava o sono dos corruptos àssegundas-feiras, o espírito que idealizou o Diário dda MManhã

TRAJETÓRIA

Consuelo Nasser, bravura nas páginas do Cinco de Março e DM

JoãoNederEspecial paraDiário da Manhã

ARQUIVO DM

16 ESPECIALGOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 Diário da Manhã

Page 17: Caderno especial DM 33 Anos

A fundação de um jornalnão pode ser vista apenascomo a criação de uma

fazenda, a constituição de umaestrada ou levantamento de umedifício. Em um órgão de comu-nicação existem mais que a am-pliação de fortunas, o aumentode recursos materiais. No objetojornalístico, se junta o ideal do so-nho e da esperança. O diretor deum jornal é também um pensa-dor que deseja não a riqueza ma-terial, buscando sempre as coisasdo pensamento, ampliando fati-as de visão superior e sempreolhando o futuro maior.

A comemoração hoje de 33ºaniversário do Diário da Manhã émais um passo à frente de quemestá ampliando os caminhos doideal buscado com sacrifícios edificuldades em anos de tremen-dos esforços. Após o sucesso docorajoso semanário Cinco deMarço, Batista Custódio consoli-da um moderno diário, um dosmelhores veículos de comunica-ção do Centro Oeste. Não se digaque ele avançou com facilidade,

ao contrário, para obter essesavanços ele precisou dominar ospassos de inimigos terríveis dequem via nos sonhos da comu-nicação como adversários a se-rem derrotados. Não foram pou-cos os golpes criados pelos líde-res dos negócios escussos, quetemiam os amigos de verdade.

Para criar dificuldades aobravo empresário de palavras

abertas, não deixava o autor delaços de passarinheiro, queren-do destruir os sonhos do planta-dor de esperanças. Mas a seu la-do vieram outros, bloqueandoos passos do lutador urbano queveio da zona rural, oferecendo-lhe meses de prisão, como se arestrição da liberdade destruísseos que plantaram fibras. E tom-baram a esposa, o filho, os ir-mãos e os parentes, mas nãocaiu o desejo inaudito de cons-truir algo para o futuro, transfor-mando as dores em rumos daverdade. Nessas batalhas, comonas guerras, há dores e lagrimas.

No Dia Internacional da Mu-lher que acabamos de comemo-rar, Goiás homenageou Consue-lo Nasser, a grande aliada de Ba-tista, um nome brasileiro, de-fensora da liberdade dos sereshumanos, professora de jorna-lismo e de lutas, exemplo de co-ragem permanente.

O Diário da Manhã está aí,forte e independente. É umexemplo de Goiás para o Bra-sil. O produtor rural voou parao sonho do asfalto, mostrandoque de velhas estradas sempresurgem novos caminhos.

(Eliezer Penna é jornalista,ex-deputado, e fundador

do Diário da Manhã)

NA IMPRENSA GOIANA

EliezerPennaEspecial paraDiário da Manhã

O homem que abriu os novos caminhosApós o sucesso do corajoso semanário Cinco de Março,Batista Custódio consolida um moderno diário, um dos

melhores veículos de comunicação do Centro-Oeste

O diretorde um jornal étambém umpensador quedeseja não ariquezamaterial,buscandosempre as coisasdo pensamento,ampliandofatias de visãosuperior esempre olhandoo futuro maior”

Para Batista Custódio, jornalismo é sacerdócio

HUMBERTO SILVA / ARQUIVO DM

17Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 18: Caderno especial DM 33 Anos

18

Ei! Psiu?

V ocê acha que o papel damídia na atualidade éimportante para a con-

solidação da democracia noBrasil? A televisão, as redes soci-ais, o rádio e a mídia impressatem liberdade para noticiarem,denunciarem, criticarem e co-brarem posições dos governan-tes, empresários e da sociedadecomo um todo?

Pois é.Estamos vivendo um mo-

mento único. Todos podem seexpressar livremente.

Mas nem sempre foi assim.Antes da década de 90 a TV, e

o Rádio eram vigiados, censura-dos e não existia a internet.

Cabia aos jornais mais ousa-dos, sem atrelamento político eeconômico, o papel de noticiar,denunciar as falcatruas e des-mandos políticos e econômicos.E mais: discutir e propor avançosna frágil democracia brasileira.

E foi com esse propósito quenasceu no inicio da década de80, o Diário da Manhã, idealiza-do por Batista Custódio, Elemontou em Goiás uma redaçãocomposta pelos principais jor-nalistas do Brasil e, especial-mente, de Goiás. Fez uma revo-lução na comunicação no Cen-tro-Oeste. Denunciou desman-dos, cobrou posicionamentos,propôs avanços e mobilizou asociedade goiana para desafiar ostatus quo até então estabeleci-do a fim de construir uma novarealidade política e econômica,no Estado.

E foram muitas as conquis-tas.

Incompreensões também.Forças reacionárias promo-

veram boicotes políticos e eco-nômicos. Para asfixiarem o Jor-nal e forçarem um retrocessoem sua linha editorial.

Batista Custódio resistiu.As consequências foram gra-

ves.Grande parte dos Jornalis-

tas foram trabalhar nos maio-res jornais brasileiros, tais co-mo O Globo, Folha de SãoPaulo, O Estadão, Correio Bra-ziliense, etc.

A semente plantada por Ba-tista, porém resistiu e continuoua prosperar.

A nossa econômia cresceucomo nunca. Os políticos, ape-sar dos altos e baixos, estão evo-luindo. A sociedade, bem, a so-ciedade pelo menos pode falar oque quiser. O Diário da Manhã,apesar das incompreensões per-sistirem, continua com suas pá-ginas abertas.

E viva a liberdade!

(João Soh é jornalistae fundador do

Diário da Manhã)

Viva a liberdadeDiário da Manhã

continua com suaspáginas abertas

ARTIGO

JoãoSoh

Especial paraDiário da Manhã

A Associação Goiana de Imprensa(AGI), entidade mater dosComunicadores em Goiás,

interpretando o sentimento de seusintegrantes, associa-se às manifestações

de alegria pela passagem do 33ºaniversário do Diário da Manhã.

Desde sua 1ª Edição, em12/03/1.980, o DM tem sido fiel

intérprete dos acontecimentos deGoiás, do Brasil e do mundo, bemcomo um baluarte na defesa dos

interesses coletivos. Desde então sob aliderança do grande jornalista Batista

Custódio, suas páginas estiveramabertas ao contraditório, ao

entrechoque das idéias, fundamentosda vida democrática. É o Jornal mais

plural do Brasil. É praça públicana forma de Jornal.

Cabe-nos, por tudo isso,manifestar à valorosa Equipe que

elabora e entrega ao público, a cadadia, mais uma Edição do DM, nosso

apoio, respeito e admiração, ao tempoem que formulamos sinceros votos de

que prossiga nesta grande jornada,empunhando a bandeira da

Liberdade.

Goiânia, 12 de março de 2013

Valterli Guedes Olinto MeirellesPresidente Pres. do Cons. Deliberativo

Olímpio Jayme Hélio de BritoSecretário Geral Diretor Financeiro

PARABÉNS, DIÁRIO DA MANHÃ!

João Soh discute o design gráfico com editores e publicitários

GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

Page 19: Caderno especial DM 33 Anos

O Diário da Manhã foifundado no dia 12 demarço de 1980 e nunca

saiu das trincheiras da imprensalivre. É um veículo de comunica-ção sem amarras comerciaisnem políticas, que honra as me-lhores definições esperadas parauma tribuna. Seu editor-geral,Batista Custódio dos Santos, éum repórter por vocação, umescritor com talento dos clássi-cos, um partidário das liberda-des, sobretudo a de expressão ea de opinião. Neste aniversáriodo jornal, ele merece os aplau-sos de 12 milhões de mãos, asmãos de todos os goianos, pois apopulação inteira é beneficiáriadas revoluções empreendidaspor Batista Custódio.

Todos os governos, em algummomento, tripudiaram sobre oDiário da Manhã. Não que Batis-ta Custódio e sua equipe com-partilhem da perseguição a al-guém, mas pela dificuldade daclasse política em compreenderquem é livre. Conforme já escre-veu Batista Custódio em um deseus muitos artigos memoráveis,a tradição dos governantes goia-nos é não somente a de exigir elo-

gios. Eles querem escolher os ad-jetivos usados pelos sabujos. E aisso Batista Custódio não se sub-mete. Batista escolhe a que julgaser a melhor opção em determi-nados pleitos, mas não coloca ojornal a serviço de seu preferido.

O vigor intelectual de Batis-ta Custódio apenas se aprimo-rou e cresceu nos últimos 60anos. No inesquecível sema-nário Cinco de Março, no auge

da ditadura, Batista desafiouos generais e acabou preso.Seu semanário teve a gráficaempastelada por militares. De-pois, já na democracia, o entãogovernador se voltou contra oDiário da Manhã até falsificara falência da empresa. BatistaCustódio tinha dois jornais di-ários, três rádios, duas emisso-ras de televisão e o maior par-que gráfico do Centro-Norte

brasileiro. De uma hora paraoutra, virou sem-teto. Mas nãolhe doía a falta de lugar pararesidir. A dor era a falta de umlugar para publicar seus textos.O fechamento de suas empre-sas foi tão arbitrário que, déca-das depois, a Justiça reconhe-ceu que a falência havia sidofraudada pelos carrascos. Eratarde demais. Batista já haviasofrido os tropeços financeiros

advindos do fechamento. Foitão traumático que custou avida de seu filho Fábio Nasser.

Uma coisa seu algozes ja-mais conseguiram: calar BatistaCustódio. Ele se reergueu, rea-briu o Diário da Manhã e conti-nua forte. Seu poder não vemdos palácios, mas da popula-ção. Batista entrega seus jornaisàs ruas. O povo participa dasedições, daí o pioneirismo:

O Diário da Manhãfoi o primei-ro jornal a ter conselho de leitores.

Foi o primeiro jornal realmen-te diário em Goiás, os demais saí-am apenas cinco ou seis dias porsemana.

O Diário da Manhã foi o pio-neiro em informática.

Foi o primeiro jornal em cores.Foi o primeiro de circulação

nacional.Foi o primeiro a contratar os

maiores nomes do jornalismoem todo o Brasil.

A Rádio 730 e o portal730-.com.br parabenizam o Diárioda Manhã, o editor Batista Cus-tódio e toda a sua equipe. E pedeao velho guerreiro do jornalismo:

Resista!Goiás precisa de sua sabedo-

ria, de sua experiência, da forçaquase inexplicável que o faz su-perar tantas adversidades.

Resista!Resista, pois o atual é só mais

um governo. Você é o BatistaCustódio. Ninguém se lembraquem era governador quandovocê, Batista, estreou no jornalis-mo, há 60 anos. Daqui a 60 anosninguém mais se lembrará quemfoi governador nesses tempos. Etodos se lembrarão desse grandeherói da resistência. Parabéns pe-lo aniversário do Diário da Ma-nhã. E muito obrigado por serum apóstolo da imprensa livre.

(Nilson Gomes é jornalista)

Aniversário de jornal relembra que Batista Custódio já superoutantas adversidades e que vai resistir a outras pressões políticas

VISÃO

O pioneirismo do Diário da Manhã

NilsonGomes

Especial paraDiário da Manhã

Júlio Nasser abriu as portas parainformatização total do DM

Jornal em cores exigiu moderno parque gráfico

19Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 20: Caderno especial DM 33 Anos

GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Em 1974, no lançamento do livro ‘EspelhoFosco’, da jornalista Laila Navarrete, nosalão do Hotel Bandeirante, o olhar insis-

tente (não sabia), mas era analítico, de BatistaCustódio, me deixou até um pouco desconcer-tado. Porém, logo com seu jeitão descontraído,de quem vai direto ao ponto, aproximou-se eme perguntou: Você não quer escrever umacoluna no Cinco de Março?, semanário editadopor quem fazia tremer os que tinham motivospara não querer ser no-tícia. De pronto aceiteie iniciei assim no jorna-lismo, que me projetouna coluna social, segui-mento do jornalismocomo outro qualquer,apesar de alguns torce-rem o nariz (geralmen-te os que não são notí-cia nessa área e/ou osque temem as garrasimpiedosas do Leão doImposto de Renda).Mas nem tudo foramflores. No começo doGoverno Irapuan CostaJúnior, o jornal sofreureveses financeiros,perseguições políticas, não por parte de Irapu-an, mas de seus asseclas, como sempre. Semverba oficial e publicidade da iniciativa privadaminguando, o salário pingava de vez em quan-do em forma de vale. Não me deixei abater,corri atrás de patrocínios de empresários ami-gos, promovi festas e assim fui conquistandoclientes para inaugurações, organização de fes-tas de debutantes, casamentos etc. Hoje seria‘promoter’, mas naquela época não existia essadenominação sofisticada. Era fazedor de festamesmo. E assim consegui sobreviver, sem es-perar pelo contracheque no fim do mês.

Seis anos depois, no Governo Ary Valadão,as vacas começaram a engordar e Batista Cus-tódio, junto com Consuelo Nasser, fundou oDiário da Manhã, que já nasceu poderoso ecom uma linha editorial completamente dife-rente do Cinco de Março. Ousado, Batista nãosó escalou o melhor time de jornalistas goia-nos como convocou profissionais conhecidose respeitados nos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo. A união de talentos aliada ao farojornalístico de Batista e Consuelo colocou oDM entre os quatro principais veículos do Pa-ís. O que era para ser motivo de orgulho para oEstado, começou a incomodar. Tanto poder,para mentes medíocres, estaria enfraquecen-do os que já eram fracos por natureza.

Na mudança de governo, de Ary Valadão paraIris Rezende, o sonho de Batista começou a virarpesadelo e, no início, por volta de 1983 com res-tos a receber do governo anterior, surgiram asprimeiras dificuldades financeiras. Iris pediatempo para tomar pé da situação e quitar a dívi-da, bem volumosa, ressalte-se. O tempo passavae a solução ia junto. Atéque um dia Consuelo sedesesperou com saláriosatrasados, escassez depapel para rodar o jor-nal, funcionários des-crentes e dificuldades seamontoando, resolveu irao encontro de Iris Re-zende no Hangar do Es-tado, onde ele embarca-ria para uma viagem aoexterior, já que no gabi-nete do governador suaagenda estava sem horá-rios para assuntos desa-gradáveis como cobran-ça. Certamente Iris nãogostou dessa invasão emuito menos Consueloda cara de poucos ami-gos do governador. Insuflado por assessores ba-juladores (sempre eles!), Iris iniciou um bate-bo-ca com Consuelo, cujo temperamento forte nãopermitia engolir desaforos. Foi o começo do fim.

De volta à redação do DM, Consuelo relatou oocorrido ao Batista. E lá se foi a última gota depaciência do editor-geral. Sacou-se de sua armanaquele momento, uma velha Olivetti (que usaaté hoje) e descarregou duas páginas contra ogoverno e alguns de seus auxiliares que, sem sa-ber, forneciam munições para revelações decondutas nada ortodoxas. Não gostaram, logica-mente. E veio o troco, em forma de perseguiçõesde toda a sorte. O governo que já não pagava oque devia, fechou todas as portas da iniciativa

privada ao DM e até dos bancos em que Consu-elo e Batista tentavam obter empréstimos. Em-presários e gerentes de bancos eram ameaçadoscom devassa fiscal em seus empreendimentos. Equem peitaria o dono da caneta?

Batista carregou o fardo até o começo de 1985.Viu a redação minguar, vários jornalistas pula-ram fora do barco, uns no primeiro momento;outros mais corajosos e leais permaneceram mo-vidos pelo idealismo e a esperança de ver o jornalvencer um duelo de Davi e Golias. Outro grupo,em lua-de-mel com a volta da democracia queraiava no horizonte, resolveu tirar o atraso e vin-gar os anos de chumbo que os amordaçavam. Oalvo foi o DM, primeiro que encontraram pelafrente para despejar sua revolta em panelaçosdiários na porta do jornal. O barulho ensurdece-

dor do protesto impediaos que ainda queriamtrabalhar e sonhar, ten-tando produzir o jornalpara o dia seguinte, nemque fosse com seis pági-nas.

Com mais de anosem receber salários, fi-lhos para criarem e dívi-das acumuladas a turmado protesto estava semrazão? Não. Mas Batistae Consuelo também vi-venciavam a mesma si-tuação. Pagar com quê?Tirar dinheiro de onde?Meses antes, quando to-das as portas se fecha-

vam, uma a uma, Batista dispôs de seus benspessoais. Vendeu o que tinha – lotes, chácaras,fazenda, prédios, máquinas da gráfica e até aprópria casa. Passou morar de favor numa chá-cara, à época, no longínquo Parque Amazonas,cedida por um dos poucos amigos que lhe resta-ra, o então deputado e comentarista esportivoMané de Oliveira, esse mesmo que hoje enfrentaos piores dias de sua vida. E aí vem uma dúvidaque tento driblá-la a qualquer custo, com ajudada minha convicção religiosa: vale a pena serbom nesta vida em que a lei do mais forte favo-rece os maus? A ganância sangra o idealismo?Mas vou continuar acreditando que sim. E vale apena, sim. Tanto é que o DM foi fechado, sim.Mas semanas depois, a teimosia de Batista regis-trou uma nova firma em nome de terceiros, quelhe emprestaram o nome e com ela colocou emcirculação o Edição Extra. Desaforo. Os mesmosalgozes que cerraram as portas do DM descobri-ram que havia outro recurso para calar a voz deBatista. Requereram a falência da Unigraf, ondeera impresso o Edição Extra, que assim teve suacirculação inviabilizada.

Batista, Diário da Manhã e Edição Extra saí-ram de cena, como queriam. Porém, mais umavez a persistência venceu. O DM voltou umano depois, em 1986 e começou do zero. Atéporque ninguém acreditava que duraria maisque um mês. E não foi fácil a travessia nas cin-zas. Para convencer os incrédulos, o Batistacriou uma “agência” de marketing. Sabe comofuncionava? Varávamos a noite – o Batista, aSuely Arantes, o Fábio Nasser e eu colando car-tazes em preto e branco nos postes de Goiâniae nos muros em que os donos permitiam

anunciando a volta doDM. O cheiro forte dacola não nos incomo-dava tanto como des-prezo de alguns queolhavam os cartazes ebalançavam a cabeçanegativamente, comsorrisos irônicos, comose dissessem: “Coita-dos, quanta ilusão!”.Não era. O DM voltoucaminhando a passoslentos, quase parando,mas não parou e aí estáaté hoje, atravessandobons e maus momen-tos, mas sem se desviaruma linha sequer dojornalismo nascido noventre do idealismo.

Anos depois, em 2006, quando o jornal voltouao ápice, na credibilidade, qualidade editorial epagamento rigorosamente em dia, deixei o jor-nal na esteira de intrigas de colegas (?) que che-garam após as dificuldades para desfrutarem dopasto vasto e criarem suas vaquinhas gordas ereprodutoras. Três anos, em 2009, época em queo DM ensaiava nova crise, retornei a convite doBatista. E foi o próprio que me demitiu em 2010.Só queria dar o troco ao meu pedido de demis-são, um ano antes. Portanto, hoje estamos quitese sem mágoas recíprocas, mas com admiração erespeito, de lá e de cá.

(Luiz Carlos Rodriguesé colunista social)

Luís CarlosRodrigues

Especial paraDiário da Manhã

Cinco de Março: combativo, reservava espaço para o colunismo social, início da trajetória de Luís Carlos

SOCIEDADE

Jornalista recorda quando foi convidado para fazer colunismo social: BatistaCustódio observou atentamente o jovem e o intimou a escrever

Requereram afalência da Unigraf, ondeera impresso oEdição Extra, que assimteve sua circulaçãoinviabilizada. Batista,Diário dda MManhã e EdiçãoExtra saíram de cena,como queriam. Porém,a persistência venceu”

““

Hoje seria“promoter”, mas naquelaépoca não existia essadenominação sofisticada.Era fazedor de festamesmo. E assim conseguisobreviver, sem esperarpelo contrachequeno fim do mês”

““

História com começo, meio e sem fim

20 ESPECIAL Diário da Manhã

Page 21: Caderno especial DM 33 Anos

21

Omonumental AndréMaulraux, intelectualbrilhante, ícone da re-

sistência ao nazismo e ministroda Cultura no governo de DeGaulle, dizia que “o outro nomeda França é liberdade”. Em Goi-ás o outro nome da liberdade éBatista Custódio. O foi quandoo Cinco de Março era um fachode luz iluminando a escuridãonos anos sofridos da ditaduramilitar. E é, mais do que nunca,na luta renhida do Diário daManhã, plural e democrático,nos dias de hoje.

Não fosse o jornalista comba-tivo, o ser humano invulgar, oguerreiro incansável, o intelec-tual erudito, a figura arrebatado-ra, com todas as suas circun-stâncias e prenhe de contradi-ções, alguns erros e um punha-do de acertos, Batista Custódiojá valeria muito pelo credo liber-tário que professa à exaustão,como uma bandeira de vidadesfraldada aos ventos da histó-ria goiana em mais de meio sé-culo de militância e trabalho.

Faço questão de avisar logo:esse não é um artigo imparcial.Nem poderia ser, já que sou ad-mirador confesso de BatistaCustódio. Comemoro mais umaniversário da fundação do DMcomo quem faz uma oração ou

reafirma um afeto. Como se es-quecer da santa loucura de umobstinado que funda no cora-ção do Brasil, no árido cerrado eainda na vigência de uma dita-dura implacável, um jornal comalta qualidade e nível nacional?Como não se lembrar do jorna-lista que combina seu caráterpassional com inteligência cla-rividente? Como desconhecerum homem marcado tanto porvitórias quanto fatalidades, queteima em resistir e faz de sua vi-da um auto de fé na liberdadede opinião, num hino de louvorà pluralidade de pensamento?Como não gostar de um ho-mem que provoca tanto admi-rações absolutas quanto incon-fessáveis invejas?

Lá pelos anos de chumbo doregime militar pós-64, quandoa noite era mais noite, BatistaCustódio, bem informado co-mo sempre, é avisado de que oviolento governador da épocadeliberara a eliminação físicade alguns “inimigos” políticos,adversários ideológicos, líderessindicais e “perigosos esquer-distas”. Dentre os quais minhasingularíssima pessoa de jo-vem líder sindical dos profes-sores. Antes mesmo de nos avi-sar do risco brutal que corría-mos, irrompeu sua figura vul-cânica no Palácio das Esmeral-das. Esbravejou, ameaçou eapequenou ainda mais a figurade um tiranete provincianoatônito diante da ira de um en-furecido e transtornadoBatistaCustódio. É que o velho leão

das rotativas goianas, o guer-reiro das redações, colocou-secomo Homem, como pai, co-mo amigo, como democrata.Com sua audácia e destemorsalvou-nos, com certeza, a vi-da. Esse é o Batista Custódio,esse é o homem, o tipo huma-no generoso que oscila do gritoao soluço, do riso à lágrima emsegundos, ao ritmo de um co-ração cansado, mas enorme.

Não importa o que pense dapolítica goiana ou quem ele,eventual ou sistematicamen-

te,vá apoiar. Não tem a menorrelevância se nossos caminhosnem sempre se cruzem na horaem que as preferências políti-cas ou compromissos partidá-rios nos afastem. A grandeza deBatista é ser um homem cheiode defeitos, mas nenhum delesmaior do que seu amor à de-mocracia e seu compromissocom a imprensa livre.

Conseguiu fazer um jornalúnico, personalíssimo, espelhode sua cabeça aberta e revoluci-onária. De extremistas ideológi-

cos à direita e à esquerda, dequem nada tem a ver com eleou com o que ele pensa, o Diá-rio da Manhã abre espaço parao pensamento dissonante, asidéias que borbulham e polemi-zam, as opiniões mais conflitan-tes, as teses mais diversas. Umatrincheira segura e profunda daimprensa sem mordaças.

Batista Custódio é a mais im-portante figura da imprensa go-iana de seu tempo. Seu jornalnão se fecha em preconceitosideológicos ou dogmas estéreis.

Sua vida é feita de tinta, papel,notícias, horizontes e sonhos.

Ao comemorar o aniversá-rio do Diário da Manhã e ho-menagear a figura ímpar do-grande jornalista, o faço comadmiração, gratidão e carinhoa todos os que o fazem e, tam-bém, aos que por sua redaçãopassaram ao longo dessas dé-cadas. Recordo, particular-mente, as figuras de ConsueloNasser, Fábio Nasser e de Aloi-sio Biondi, com saudade, mastambém com alegria por tê-losconhecido, privilégio imensoque carrego comigo.

O Diário da Manhã sobrevi-veu a todos os golpes recebi-dos, às tentativas de intimida-ção e censura, aos boicoteseconômicos, às concorrênciasdesleais, às pressões políticas eaos sofrimentos e tragédiaspessoais. E sobreviverá a Batis-ta e a nós todos. Sua trajetóriafecunda se confunde com a vi-da extraordinária de seu cria-dor, misto de missão e de pir-raça, mistura rara de corageme obstinação, firme como umjequitibá frondoso, duro e indi-ferente à aridez da paisagemou a mudança dos ventos.

Salve Batista Custódio e seutalento. Longa vida ao Diário daManhã.

(Delúbio Soares é professor.http://delubio.com.br,

Twitter: @delubiosoares,Facebook: http://fb.com/delu-biosoares. E-mail: companhei-

[email protected])

HOMENAGEM

DelúbioSoares

Especial paraDiário da Manhã

O outro nome de Batista CustódioILUSTRAÇÃO: ARTHUR DA PAZ

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

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E m tempos de internet e re-des sociais o factual estácada vez mais marcado

nas mídias eletrônicas e ao jornalimpresso vale os caminhos da re-flexão, opinião, crítica e análise domundo. Ler o mundo e interpre-tá-lo nunca foi tão importante,pois o efêmero e a quantidade deinformações existentes hoje colo-cam o leitor em condição de nãoassimilação de tanta informação.

Em agosto de 2012 em umevento na ESPM – Escola Supe-rior de Propaganda e Marketingde São Paulo, sobre Ficção,identidade e memória, os Pro-fessores Milly Buonanno daUniversitá di Roma e GiovanniBechelloni da Universitá di Fi-renze afirmavam que o fenôme-no de mudanças na comunica-ção não é um privilégio somentedo Brasil, mas algo que afeta asestruturas da mídia impressa eeletrônica do mundo inteiro.

O jornalismo é uma ciência li-gada à vida, porque aquilo que énotícia só é notícia porque temalgum potencial de transformar arealidade. Então o jornalismo nãolida com o efêmero, o jornalismolida com a transformação.

Vivemos uma era de transfor-mação, onde a própria função dojornalismo é questionada. Não setrata aqui de mero senso comumem acreditar que, por exemplo,os jornais on line substituirão osjornais impressos... Isso me pare-ce muito com os discursos sobreo desaparecimento do rádio apartir do advento da televisão.

O rádio está conosco até hoje,sempre firme, porque soube sereadequar às novas realidades so-ciais que surgiram com a chega-da da TV.

O jornal impresso possui seupúblico, sua função e sobre issonão há questionamentos, mas éclaro que a cada nova mídia e acada novo comportamento so-cial as mídias precisam reade-quar as suas funções e os seuspapéis, pois cada mídia tem oseu formato, a sua dinâmica enenhuma mídia existe sozinha.Cada nova mídia modifica a an-teriormente existente a ela.

O interesse pela notícia sem-pre foi algo inerente ao ser huma-no. Antes que o jornal impressoexistisse, o interesse pela notíciajá era tão antigo quanto a lingua-gem escrita. Na antiga Roma, ogoverno do imperador César fun-dara o Acta Diurna, uma maneiraoficial de noticiar os resultadosdas guerras, dos jogos, da igreja edas atividades políticas.

Tempos depois na era feudal,os trovadores, que eram os poe-

tas do mundo europeu, entre osséculos IX e XII aproximadamen-te, também exerciam o papel denoticiadores de tudo o que acon-tecia. A partir do Renascimentocomercial e do surgimento depráticas econômicas mercantilis-tas, há uma expansão na forma-ção de Nações Estados na Europae de um intercâmbio econômicosedento por informação.

Ao longo dos séculos, porém,ter acesso a informações alheiastornou-se ainda mais importan-te. Conhecer tornou-se mais sig-nificante, ter ciência de fatos eacontecimentos passou a relaci-onar-se a vantagens e o tratodos meios comunicacionaisenalteceu-se de maneira a des-tacarmos a mídia como um dosmais importantes organismosda sociedade moderna.

Em virtude de toda essa mag-nitude e alcance, torna-se clarovislumbrar que a globalizaçãosustenta-se sobre os pilares docapital e da informação, elemen-tos que se inter-relacionam e cri-am entre si, muitas vezes, relaçãode dependência.

É possível que a sensação dese saber de um fato absoluta-mente novo já não passe maispela esfera poética do jornaleiroque gritava euforicamente “extra,extra!” pelas ruas, enquanto osleitores se deliciavam com os fa-tos quentinhos, saindo das pane-las onde se cozinhavam os tipos

móveis metálicos. Hoje o factualestá na TV, no rádio e na Internete quem grita “extra, extra!” são asmídias eletrônicas.

Mas porque então o jornal im-presso continua a existir com tan-ta força? Essa pergunta inquietan-te nos leva a uma especulação so-bre uma nova função do jornalis-mo impresso. Os produtores denotícia continuam a ter a sua tare-fa de explicar aos leitores como sedesenvolve o mundo, mas o queestá por trás da notícia? O que asentrelinhas escondem?

Falar da função do jornalistatambém remete a uma ligaçãodireta com o Funcionalismo e aresponsabilidade social do jor-nalismo.

A notícia nós sabemos, mas aleitura de uma análise jornalísticaé algo que escolhemos a partir deuma seleção criteriosa entre osjornalistas. Em quem confiare-mos para nos ajudar a interpretara sociedade em que vivemos.Não só uma sociedade local, masregional, nacional, mundial.

O jornalista continua a ser esempre será um formador deopinião, peça chave no mundoda mídia para interceder pelosleitores com relação aos fatos. Acrítica e a análise transformama notícia e recriam a verdade.Ajudam a fazer uma seleção deinformações.

Um dos grandes problemasda sociedade moderna é a

quantidade de informações.Nunca tivemos tanto acesso,nem por isso somos mais beminformados. Temos os dados,mas, muitas vezes não sabemosinterpretar. Ler o mundo.

É inegável o papel relevanteda mídia na formação da opini-ão pública, pelo menos, paragrande parte da população. Des-de o surgimento da mídia demassa, analistas, estudiosos,pesquisadores se encarregam deestudar os fenômenos midiáti-cos de recepção e impacto que aTV, o Jornal Impresso, o rádio e,mais recentemente, a Internetdesencadeiam na sociedade.

Como não existe formaçãode opinião sem informação, adiscussão sobre o papel da mí-dia é relevante para as reflexõesda opinião pública e da cidada-nia. Para isso, inegável o olharsobre o comportamento da mí-dia impressa, forma clássica dedifusão de informação que, emtempos de internet e redes soci-ais coloca em questionamento oseu papel informativo. Não emum sentido pessimista de dimi-nuição de sua importância, masem um sentido de transforma-ção de uma sociedade que nãocarece mais de informação, pelocontrário, nunca a informaçãofoi tão exacerbada na sociedade,mas uma outra necessidadeaflora, a da interpretação.

Numa pesquisa realizada com

o Jornal Diário da Manhã, de Go-iânia em 2012, sobre a ênfase doJornal impresso a partir das no-vas mídias e das Redes Sociais, oDiretor, Jornalista Batista Custó-dio afirmou que: “O jornalismoinformativo na mídia impressa éalgo secundário hoje. Preciso naRedação de pessoas críticas, re-flexivas e analíticas, que interpre-tem as notícias e saibam comotransformá-las em textos opinati-vos, sem descaracterizá-las, mas,sobretudo, respeitando o leitor eacreditando na grandiosidade dainterpretação como mais um da-do informativo (Entrevista conce-dida à autora em 23/11/2012).”

Para reafirmar o posiciona-mento do Jornal favorável ao gê-nero opinativo, foi criado o ca-derno Opinião Pública em janei-ro de 2012, com artigos produzi-dos pela sociedade. Na época dolançamento do caderno, o JornalDiário da Manhã divulgou o ob-jetivo de abertura do jornal paraque a sociedade pudesse expres-sar as suas ideias e opiniões so-bre assuntos diversos, amplian-do o espaço opinativo do Jornal,tendo em vista que o factual emtempos de mídia eletrônica pas-sou a ser algo questionável namídia impressa, dando espaçopara um jornalismo analítico, in-terpretativo e opinativo, numprocesso, inclusive, de comple-mentação dos assuntos pauta-dos pelas mídias eletrônicas.

Em tempos de internet e redes sociais,o impresso migra para o opinativo

ANÁLISE

SimoneTuzzoEspecial paraDiário da Manhã

A ideia é de que a produçãode um jornal não termina quan-do ele é entregue nas bancas dejornais ou quando é enviado aoendereço de cada assinante. Amensagem não se finda na pro-dução, ou seja, no emissor, massim no receptor. O formato ésempre de uma mídia que codi-fica a mensagem, no caso doJornal Impresso, esta fonte é aescrita. A leitura é decodificado-ra da mensagem e tanto para acodificação quanto para a deco-dificação o pensamento ou raci-ocínio são fundamentais. Quan-do um jornal publica uma men-sagem ele precisa ter certeza deque o leitor irá decodificá-lacom facilidade, mantendo osentido proposto pelo emissor.

Ao criar um caderno onde osleitores podem se expressar, es-se processo de “ouvir o leitor”se torna algo ampliado, ondeele não só pode questionar oque foi publicado, mas tambémcriar o seu próprio olhar, recor-te e construção da realidade apartir dos fatos cotidianos. Nocaso do DM, como os artigosopinativos são produções dasociedade e não dos jornalistas,a opinião passa a ser uma pro-dução pelo olhar do receptor,nos mesmos moldes de intera-ção cada vez mais difundidospelas mídias digitais.

Importante destacar que nes-se processo de construção da re-alidade permeado pela mídia, afunção do jornal impresso nãose limita aos leitores de jornal,mas balizam outros veículos esão consumidos por protagonis-tas sociais que se inter relacio-nam com públicos diversos, atu-ando em uma esfera de constru-ção de opinião pública. Na novaGaláxia de Bill Gates em que ho-je vivemos o jornal impressotambém se apresenta comouma mídia interligada com asmídias eletrônicas, seja pela co-locação de seu conteúdo na in-ternet, seja pelo que apresentana construção dos discursos re-criados nessa plataforma.

Comumente a imprensa es-crita assume a função de su-porte para orientar o uso dasoutras mídias. Embora pare-çam isolados uns dos outros, osmeios de comunicação for-

mam uma complexa teia queos conecta, o que contribui re-levantemente para a força e re-presentatividade de seus pro-dutos diante da sociedade re-ceptora. A articulação entre osmeios permite a legitimação dainformação que divulgam.

Poderíamos questionar se nasociedade moderna, com o ad-vento de várias outras mídiaseletrônicas e sociais, o Jornal Im-presso ainda seria um veículoforte, de penetração e de sentidopara as referências cotidianas. Anossa resposta seria: sim!

Justamente pela sua naturezanão efêmera, o impresso oferecedados e julgamentos que aju-dam o consumidor da culturade massa a tomar decisões coti-dianas. Isso significa selecionarinformações ou formar opiniãosobre os protagonistas dos espe-táculos sociais. Apesar de serrestrito ao público leitor de jor-nais, devemos lembrar que es-ses meios funcionam como me-diadores entre as elites e a socie-dade, principalmente atravésdos líderes de opinião, que influ-enciam os grupos minoritáriosonde estão integrados. Além dis-so, a imprensa constitui fonte deinformação decisiva para ali-mentar os programas de rádio,permitindo assim que notíciassobre a Indústria Cultural sejamampliadas para as camadas quenão sabem ler ou que não culti-vam a prática da leitura.

Na sociedade moderna tudoaquilo que não está na mídianão existe. Nesse sentido os for-madores de opinião, que po-dem ser, a princípio, qualquerpessoa que pertença à socieda-de e que tenha uma liderançajunto a um determinado gruposocial, se caracterizam como de-terminantes no processo detransmissão de informação, poiseles serão capazes de adjetivaruma informação, modificando oseu caráter do informativo parao opinativo, muitas vezes, semque os receptores percebam.

Os formadores de opinião, ouseja, pessoas que têm a oportu-nidade de expressar publica-mente o seu ponto de vista so-bre algo ou membros da famíliacomo os pais se constituem líde-res de opinião, além de artistas,

professores, líderes religiosos,atletas, socialites ou líderes declasse, como empresários, advo-gados, médicos, ou líderes sindi-cais podem exercer influênciasobre aquilo que uma pessoa ouum determinado grupo de pes-soas pensa ou deva pensar.

A opinião pública não é a ex-pressão da massa, mas, a visãodaqueles que podem ter expres-são na massa. A partir das expo-sições da mídia, por exemplo,são extraídas da massa as ideiasque ela conseguir articular, e re-colocadas na mídia como reafir-mação daquilo que grupos mi-noritários e articulados, inclusi-ve no tocante à política, desejamque se acredite ser a opinião detoda a sociedade.

Os gritantes silêncios da im-prensa podem ser mais podero-sos do que os gritos isolados depessoas que não tem canais depropagação de suas ideias.

Assim, ao longo da existên-cia dos meios de comunicaçãode massa, o que vemos é sem-pre um conjunto de pessoasque se caracterizam como difu-sores de informação, criar con-teúdos para consumo de umasociedade e não o oposto. Osmeios de comunicação de mas-sa produzem informação, en-tretenimento, programaçãomidiatizada e os diversos públi-cos e a massa os consomem.

Na sociedade moderna, coma massificação dos meios eletrô-nicos, o questionamento é afunção do jornal impresso, quena sua essência parte do gêneroinformativo, mas que se vê nu-ma posição de repensar a suafunção a partir desse gênero es-tar sendo cada vez mais apro-priado às mídias eletrônicas ehoje migra, com força e proprie-dade para a análise, a reflexão,interpretação e opinião.

O jornalista crítico, opinativo,reflexivo e analítico lê o mundoe refaz a História da Vida, e é es-se o seu principal papel, hoje esempre!

(Simone Antoniaci Tuzzo éDoutora em Comunicação pelaUFRJ. Professora Efetiva do Pro-

grama de Pós-Graduação emComunicação – PPGCOM da Fa-culdade de Comunicação e Bibli-oteconomia da Universidade Fe-

deral de Goiás. [email protected])

A mídia codificada

GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

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A história da imprensaem Goiás registra mo-mentos de grandeza,

marcada pela combatividade aoarbítrio, aos desmandos dos do-nos do poder. Nesse cenárioonde despontam apenas al-guns, os destemidos, está o jor-nal Cinco de Março, semanárioque assinalou com tintas fortessua trajetória no setor político esocioeconômico do Estado.

O espírito combativo dojornal estava no germe de suaorigem: surgiu no calor demotim estudantil, em 1959,como periódico de militantespolíticos. Depois imprimiuforça, ampliou seu raio deabrangência e tornou-se umjornal cujo fim era combater acorrupção de governantes eseus agentes públicos; mirarcom seu fogo mordaz os abu-sos de poder das autoridades,o mau uso do dinheiro docontribuinte, os descaminhos

da política, enfim, focar as li-nhas tortas da sociedade.

A época de maior eferves-cência do Cinco de Março fo-ram os anos 1960. O poder defogo do jornal queimava a con-sciência dos corruptos, tirava osono dos maus políticos que ti-nham a ansiedade elevada aoinfinito. A preocupação era: “oque o Cinco de Março vai publi-car nessa segunda-feira?” A in-quietação tornava-se para essagente um inferno de Dante.

José Rodrigues de Queiroz (oZé Gordo), que se tornaria prefei-to de Cristalina anos mais tarde(1976), sempre que vinha a Goiâ-nia não deixava de visitar o ami-go João Felipe, na redação doCinco de Março. Felipe dizia aQueiroz: “Zé, de hoje para ama-nhã político não dorme em Goi-ás.” Ninguém sabia – mas pode-ria imaginar – o que sairia naspáginas do inquietante jornal.

Sensacionalista, exemplar dachamada ‘imprensa marrom’,com linguagem popularesca, àsvezes até chula, representantede um jornalismo sepultado noBrasil com Carlos Lacerda e seuspossíveis discípulos. Assim cer-tamente se referiam ao jornal

ocasionais inimigos, gente quetinha algo a esconder, cuja con-sciência ardia como fornalha.

Que não se levem em conta orótulo, as cores superficiais daembalagem, mas a sua essência.O Cinco de Março cumpriu ple-namente o seu objetivo e, porisso, entroupara a históriacom as coresdo destemor, otraço inco-mum que dis-tingue os bra-vos dos covar-des.

O Cinco deMarço cres-ceu no con-ceito, esten-deu tentácu-los cuja am-plitude nãocabia mais emum periódicoque sairia uma vez por semana.Assim surgiu o Diário daManhã, com a mesma verve, omesmo espírito guerreiro.

O Cinco de Março, como oDiário da Manhã, tornou-se ovistoso laboratório de jornalis-mo do Centro-Oeste. Formaram

gerações de jornalistas das maisdiversas colorações e natureza.

O Cinco de Março e o Diárioda Manhã também estão perso-nificados em Batista Custódiodos Santos. Eles são em essênciae história uma única coisa, umnotável símbolo de resistência da

imprensa combase no Cerra-do brasileiro.

Batista eseus jornais,mesmo tendovisto a sombrada morte, pre-feriram empu-nhar a espadaa exibir a cruz.Desafiaram aditadura, oscoronéis dopoder e seusjagunços deprimeira hora.Padeceu pri-

são de oito meses durante o go-verno de Otávio Lage, período dereflexão e grande fertilidade deescrita para o editor geral doCinco de Março. Amargaram aasfixia financeira e fecharam asportas sob pressão do governoIris Rezende. Mas nem as grades

nem a absoluta falta de dinheirocalaram as vozes do Cinco deMarço e do Diário da Manhã,apesar das inevitáveis sequelasque atingiram também a famíliae amigos mais próximos. No jor-nalismo, assim como no feminis-mo – uma das piores desgraçasdo século XXI, somente compa-rável ao crack – é comum con-fundir-se independência com li-berdade. Independência tem aver com a posse de autonomia,de quem rejeita qualquer tipo desujeição, daquele que recusacompromisso afetivo, social. Jáliberdade, é um conceito maisamplo que exprime a condiçãodo sujeito não apenas consigomesmo (no círculo íntimo, psi-cofísico), mas que encontra infi-nitas ramificações na esfera e nascondições exteriores. É mais quea ausência total de toda opres-são, fala direto da autodetermi-nação, da capacidade do indiví-duo agir, sem quaisquer limites.

No jornalismo, a dependên-cia do poder público acaba porcriar freios ao direito da livre ex-pressão. A história da comuni-cação no Brasil está repleta deexemplos de morte de veículosda mídia impressa ou eletrônica

pelo sufocamento de governostacanhos, ditadores de diferen-tes estaturas e expressões.

Impedir um jornalista de ex-pressar-se é determinar a mortedo peixe que se retira da água, écortar o oxigênio pelo veneno dacensura ou pela força bruta dasarmas. No terreno da comunica-ção pública, o pior tipo de mor-te, porém, é pela asfixia financei-ra porque torna-se asséptica eindolor para quem ordena, àsvezes até com sorriso lúgubre ecínico. Como não permite a au-todefesa, equivale ao mais co-varde dos assassinatos de umainstituição sob um regime su-postamente democrático.

Batista e seu DM, mesmotendo assistido a uma legião deseguidores em sua redação, sãouma espécie de exército de umhomem só. A figura do homemconfunde-se com a do jornal aoencarnar um espírito combati-vo, teimoso, marcado pelo de-sassombro. Sem pensar que vi-ver é um risco, contrariando ovelho Guimarães Rosa.

(Antônio Lisboa é jornalista for-mado na UFG, pós-graduado emComunicação Pública na ESPM )

Um símbolo de resistênciaCinco de Março e Diário da Manhã estão personificados em Batista Custódio.

Os dois veículos de comunicação são em essência e história uma coisa só:sinônimo de resistência da imprensa com base no Cerrado brasileiro

ARTIGO

AntônioLisboaEspecial paraDiário da Manhã

“O espíritocombativo dojornal estava nogerme de suaorigem: surgiuno calor do motimestudantil,em 1959”

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

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N ascido com o nomede Cinco de Março,este veículo de co-municação tem

uma bela e longa história emdefesa do regime democrático edo direito à liberdade de expres-são. Sofreu muitas perseguiçõese censura no período da ditadu-ra, inclusive com prisões arbi-trárias do seu editor chefe e fun-dador, jornalista Batista Custó-dio, mas resistiu e triunfou naluta pelo retorno do país ao Es-tado Democrático de Direito.

Passados 33 anos de história,o Diário da Manhã consolidou-se como um dos maiores e maisvaliosos patrimônios da socie-dade goiana, sendo a grande tri-buna diária de expressão de vo-zes, idéias e opiniões, de todosos segmentos da sociedade, in-clusive muitas delas contrárias asua própria linha editorial.

Se, como dizem os teóricos,o princípio democrático temum elemento indissociávelque é a liberdade de expressão,o Diário da Manhã é uma fer-ramenta fundamental que oxi-gena a sociedade, abrindo to-das as suas páginas para asmanifestações legítimas dos ci-dadãos. Com essa tão amplaexpressão de opiniões, nós, lei-tores, do jornal físico ou digital,temos o privilégio de vivenciara verdadeira democracia emnosso Estado, com repercus-são em todo o País e o mundo,por meio do site do DM.

A democracia depende deuma sociedade civil educada ebem informada, cujo acesso à

informação lhe permite partici-par tão plenamente quantopossível na vida pública da suasociedade. Ao exercer diaria-mente o seu jornalismo livre emoderno, o Diário da Manhãproporciona a oxigenação dosdebates e revitalização dos mo-vimentos em favor da liberdade.São 33 anos de trajetória na tri-lha da modernidade. Ao longodesse período, o DM estevesempre na âncora das inova-ções gráficas, editoriais e tecno-lógicas. Foi o primeiro jornal doCentro-Oeste brasileiro a fun-cionar com Conselho de Reda-ção. O pioneiro com todas aspáginas coloridas. O primeirocom site na internet. Pioneirona imprensa regional a infor-matizar totalmente a sua reda-ção, setor gráfico e também acriar um canal de TV, o DMTV.Teve a coragem e a ousadia de

se transformar na maior tribunade Goiás, trazendo diariamenteartigos de opinião de vozes dosmais diversos setores da socie-dade. Um jornal extremamentedemocrático, moderno e plural,que acolhe todas as análises epromove a cada edição a festada democracia, expondo opini-ões sobre os mais diversos as-suntos de interesse público.

Goiás precisa muito do DMe do talento de todos os seusdiretores, editores, repórteres efotógrafos. Ao completar 33anos, este jornal merece serparabenizado e festejado todosos dias porque é um extraordi-nário pólo irradiador da liber-dade e do desenvolvimentoem nosso Estado.

(Antônio Almeida é vice-presidente da Fieg e

diretor-presidente daEditora Kelps.)

O s jornais são símbo-los de liberdade deexpressão desdeque os revolucioná-

rios franceses Camilles Des-moulins em “Le vieux cordeli-ers” e Jean Paul Marat noL’Ami du peuple” (O Amigo doPovo), incendiaram as massasde Paris contra os desmandosda corte do rei Luís XVI.

Em 12 de março de 1980,quando fundaram o Diário daManhã, Batista Custódio e suacompanheira, Consuelo Nasser,mantiveram-se fieis ao ideário daliberdade. Em pleno regime dita-torial o DM era porto seguro parajornalistas das mais variadas ma-tizes ideológicas como o ex-pre-so político Antônio Carlos Fon.Em 1980 ele publicou no DM re-portagem em que relatava o su-plício do casal de guerrilheirosMárcio Beck e Maria AugustaThomaz, assassinados numa fa-zenda em Rio Verde. Fon encon-trou as ossadas e chegou à con-clusão de que o casal foi mortonuma operação comandada em1973 pelo capitão Marcus Fleury.A matéria rendeu ao repórter eao DM o Prêmio Esso de 1980. A

façanha foi rememorada no livroAs quatro mortes de Maria Au-gusta Thomaz do jornalista Re-nato Dias, ele também ex-repór-ter e editor do DM.

Nos dias de hoje, a liberdadede expressão ganha novos con-tornos quando as pessoas, atra-vés dos microblogs (twitter, fa-cebook), tem a sensação de se-rem também jornalistas ou defazerem notícia fiscalizando ospoderes constituídos.

Deste novo tempo o Diário daManhã também é contemporâ-neo. É dos poucos jornais diáriosno país que compartilha todo oseu conteúdo na internet. É tal-vez o único a editar um cadernode artigos, o Opinião Pública,onde todos os segmentos sociaispodem manifestar seus pontosde vista livremente.

Nestes 33 anos de existência,dos quais participei de 13, inici-ando como copidesque, repór-ter e depois editor, partilhei daconvivência com homens e mu-lheres de talento como BatistaCustodio, Aloysio Biondi, LauroVeiga, Lorimá Dionisio (Mazi-nho), Valterli Guedes, Euler Be-lém, Joaquim Ferreira Júnior,Ton Alves, Carlos Brandão, LuisAugusto Pampinha, Gabiel Nas-cente, Almir, Consuelo Nasser,Daura Sabino, Sueli Arantes, Li-sa França, Luciana Brites, Fabri-cia Hamu, Leticia Borges, Vivia-ne Maia, Antonia de Castro,

Adevânia Silveira, Thais Lacer-da, Tatiane Pimentel, Luiza Di-as, Renata Melo, Larissa Mun-din, Rosana Melo, Carla Borges,Ruthe Guedes, Amália, Cira Ai-res, Rose, Versanna Carvalho,Adriana Callaça, Daniel Cristi-no, Fábio Nasser, Realle Palaz-zo, Eduardo Robespierre, Ro-drigo Hirose, Welliton Carlos,Ulisses Aesse, Adalberto Mon-teiro, Ivair Lima, Apolinário Re-belo, Luis Sinzenando Jayme,Divino Olávio, Almiro Marcos,Luciano Martins, Jarbas Rodri-gues, Robson Macedo, CarlosSena, Luis Fumanchu, Curu-min, Darci, Juarez Lopes, EdsonCosta, Carlos Costa, Atagiba“Nakagima”, Walmir Tereza, Al-berto Maia, Humbero Silva, J.Euripedes, Eduardo Jacob, Mar-co Monteiro, Renato Dias, Wen-ceslau Pimentel, João Carvalho.

Ressalto ainda entre aquelesque estagiaram no DM comoCleisla Garcia, Oloares Ferreira,Henrique Morgantini, PabloKossa, Luís Augusto Araújo e quehoje brilham na TV, no rádio eem assessorias de comunicação.

O DM não é um jornal fácil defazer. Tem problemas de ordemfinanceira, sofre pressões exter-nas. Já foi fechado num governo,sofreu, e sofre, perseguições deoutros, mas mantém-se de pé.Pródigo em revelar talentos, oDM também não teme abraçarnovas tecnologias: foi o primeiro

em Goiás em ter diagramaçãoeletrônica e página na internet.

Os 33 anos de fundação doDM devem ser comemoradospor todos que participaram desua história. Seus altos e baixos,suas dificuldades e vitorias sãopróprias de um veiculo que tei-ma contra a maré do mercadomidiatico atual, pois é “só” jor-nal, ou seja, não tem por trásum complexo de comunicaçãocomposto de rádios, canais detelevisão, revistas e outros pro-

dutos como os que sustentam ooligopólio midiático de gruposcomo Globo, Folha, RBS, Diá-rios Associados.

O Brasil que caminha cadavez mais para a democracia de-ve discutir o papel dos meios decomunicação. A Lei dos Meios,demonizada pelos grandes gru-pos de mídia como a volta dacensura, é nada mais, nada me-nos, que a oportunidade paraoxigenar os espaços de opinião,garantindo que outros atores,

como, por exemplo, o DM e ou-tros veículos, tenham espaço nomercado midiático. Parabénsao DM e sua luta. Parabéns a to-dos (as) que fizeram e fazemparte de suas páginas. Sua exis-tência, seus erros e acertos sãoparte indelével da história dojornalismo em Goiás.

(Marcus Vinicius é jornalistae editor-geral do jornal

Onze de Maio, que circulana Grande Goiânia)

MarcusViniciusEspecial paraDiário da Manhã

Por que os jornais existem? MEMÓRIA

Ao longo da história, os jornais tornaram-se símbolo de liberdade:incendiaram as massas e informaram a população. Mas qual o papel do DM?

Diário da Manhã:patrimônio de todos

AntônioAlmeida

Especial paraDiário da Manhã

Jornal tem histórias em defesa da democracia:tornou-se ferramenta para oxigenar a sociedade

Marcus Vinicius, quando trabalhava na redação do DM

Redação lotada nos temposda máquina de escrever

ARQUIVO DM

GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

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25Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

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E m dezembro de 1.979voltei do exílio na Fran-ça com firme decisãode continuar engajado

na luta contra a ditadura mili-tar. Tive uma emocionante re-cepção em Goiânia, no aero-porto, centenas de amigos, fa-miliares, políticos me aguarda-vam. Fui saudado pelo entãosenador Henrique Santillo, omais importante líder na lutacontra a ditadura em Goiás. OEstado passava por uma ricafase, os movimentos políticos,sociais estavam promovendograndes mudanças na socieda-de goiana, que culminariamcom o fim da ditadura, as elei-ções diretas, primeiro para go-vernadores e posteriormentepara Presidente da República.

Iniciei a militância no com-bativo MDB,em seguidaPMDB. Poucos meses depoisera fundado por Batista Custó-dio, o jornal Diário da Manhã,expressivo órgão da imprensa,que mudaria substancialmentea história jornalística de Goiás.O Diário da Manhã se caracte-rizou de imediato pela qualida-

de, surgiu com uma equipe degrandes jornalistas goianos enacionais. Abriu seus espaçosdemocraticamente para osprofissionais, políticos e arti-culistas que não tinham espa-ço na imprensa local. Todas astendências encontravam gua-rita e plenas condições de ex-porem suas idéias. BatistaCustódio me deu oportunida-de logo no início de me trans-formar em articulista do Diá-rio da Manhã. Como tal, rece-bia uma remuneração que pa-ra o reinicio da vida no Brasilfoi muito importante. Gostode relembrar com prazer asdificuldades que enfrentei pa-ra a readaptação e o sustentoda minha família, dentre asquais sempre cito a chance decolaborar com o Diário daManhã, o convite, de imediatoaceito do professor EduardoMaticus, para lecionar históriano colégio Professor Pardalnas unidades de Campinas eVila Nova. De ônibus, corriaalegre de um para o outro. Ou-tro grande acontecimento foiquando o meu amigo Sebasti-ão Tavares de Morais, o Pinó-chio, passou uma lista entre osamigos e, com o dinheiro arre-cadado, comprou uma brasili-nha usada para facilitar otransporte entre uma e outrareunião política. Aí virou festa!

Tarzande CastroEspecial paraDiário da Manhã

O Diário da Manhã eminha volta do exílio

HISTÓRIA

Com os artigos políticos pu-blicados no Diário da Manhã,criticando a ditadura, propon-do a redemocratização do Paíse o desenvolvimento econômi-co em benefício da maioria,podia expor minhas idéias e di-vulgar meu nome, pois queriacandidatar-me para um cargoeletivo. Em 1.983 fui eleito de-putado estadual pelo PMDB.Numa histórica eleição oPMDB elegeu 22 governadores,a maioria de senadores e depu-tados federais. Aquela eleiçãofoi a maior derrota do regimemilitar. Iris Rezende eleito go-vernador de Goiás.

Setores retrógrados do go-verno eleito, sem visão demo-crática, moveram uma campa-nha contra Batista Custódio, naverdade contra o Diário da Ma-nhã. Não eram capazes de con-viver com um órgão de im-prensa que dava oportunidadee expressão para todas as cor-rentes de opinião existentes nasociedade. A perseguição foidura para fechar o jornal. Lem-bro-me: um dia o telefone to-cou, atendi, era o Batista Cus-tódio, que falou: “Tarzan, cor-taram até a luz elétrica da mi-nha casa, estou no escuro, à luzde velas com minha família. O

corte do jornal eu já sabia.” En-tão disse para o Batista: “Vouimediatamente para a CELGtomar providências.” Lá che-gando fui direto para o gabine-te do presidente, era o MarcoAntônio Machado, me fizanunciar e fui logo dizendo pa-ra a secretária que não aceitavao que estava fazendo com oBatista, exigia a religação ime-diata da energia elétrica de suaresidência. Cansei de esperarpara ser atendido pelo presi-dente, forcei a barra, recebi ex-plicação que o corte foi feitopor ordem superior que infeliz-mente o meu pedido não po-deria ser atendido. Exaltado,mandei comunicar ao presi-dente que falasse com quem dedireito, seja quem fosse quedeu a ordem de corte, e mais,que eu não sairia do seu gabi-nete enquanto a energia da ca-sa do Batista não fosse religada.Passaram longos minutos detensão e silêncio até que mecomunicaram que a luz fora re-ligada. Estou contando estahistória para ilustrar quantapequenez e mesquinharia épossível acontecer na nossaprovíncia dos goiazes.

Batista e Diário da Manhãse confundem com a luta

contemporânea pela liberda-de e Democracia nas terrasgoianas; são símbolos imor-tais desta resistência. Manterjornal de qualidade por tantotempo nesta realidade, infe-lizmente ainda com muitostraços de atraso e arbítrio,não é fácil não.

Parabéns Batista Custódio,Parabéns ao Diário da Manhãe toda sua equipe pelos 33 anosde vida.

(Tarzan de Castro é ex-depu-tado estadual e federal, empresá-rio, diretor da revista Hoje e arti-

culista do Diário da Manhã)

Tarzan observa sua imagem nos seustempos de luta contra a ditadura

Espaço para criticar a ditaduraAbriu

seus espaçosdemocraticamentepara osprofissionais,políticos earticulistasque não tinhamespaço naimprensa local”

ARQUIVO PESSOAL

GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

Page 27: Caderno especial DM 33 Anos

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T udo começou com ocombativo Cinco deMarço, na década de60, um jornal semaná-

rio que caiu nas graças do po-vo, notadamente de Goiás e deGoiânia. Criado por BatistaCustódio, então um estudanteuniversitário, o Cinco de Marçoenfrentou a ditadura de cabeçaerguida, tanto que Batista che-gou a escrever artigos editoriaisde dentro da cadeia. O semaná-rio ocupou um espaço tão sig-nificativo na imprensa, quechegou a ter correspondenteem Nova Yorque, o então sena-dor Lázaro Barbosa.

E, diante da demanda da so-ciedade goiana por mais um jor-nal diário, Batista Custódio deuadeus em lágrimas ao Cinco deMarço para criar o Diário daManhã , mas valeu a pena, por-que o DM inaugurou um novotempo na imprensa goiana,rompendo fronteiras, inclusiveservindo de exemplo para jor-nais já conceituados em nívelnacional. Por um bom tempo,superou a extinta Folha de Goi-az e o até então imbatível O Po-

pular. Mas também passou pormomentos difíceis, chegando afechar suas portas por algumtempo, ressurgindo em seguidacomo Fênix.

O certo é que voltou commais força, inovando ainda mais

na sua linha editorial, adequan-do-se aos tempos modernos dacomunicação, inclusive passan-do a editar o Caderno Opinião,que se transformou numa ver-dadeira tribuna popular, onde ocidadão, seja goiano ou não,

tem seu espaço garantido paraabordar o tema que desejar.Basta tão somente que os arti-gos tenha um mínimo de éticapossível, ou seja, contribua deum modo ou outro para fortale-cer os relacionamentos propos-

tos por Deus, seja através deavaliações positivas ou até mes-mo de críticas construtivas.

E, nesse diapasão, o DMcomemorou 33 anos de funda-ção na última quarta-feira, 12,oportunidade em que, com cer-

teza, receberá homenagens asmais significativas possíveis.Particularmente, antecipo-meàs comemorações, nas quaistambém estarei presente de cor-po, alma e espírito, para cum-primentar Batista Custódio não

PatrickBarcellos

Especial paraDiário da Manhã

Do Cinco de Março ao Diário da ManhãOPINIÃO

“DM tem contribuído, efetivamente, para uma imprensa livree melhor qualidade de cidadania no Estado de Goiás”

apenas por esse projeto ousa-do, que é o Diário da Manhã,mas, sobretudo, pelo que feze segue fazendo pelo engran-decimento da imprensa goia-na. Formou grandes jornalis-tas, inclusive boa parte delessão editores, hoje, no seuprincipal concorrente, O Po-pular, que faz questão dechamar de coirmão.

Batista Custódio é um ho-mem que experimentou asprincipais experiências divinasnesse Planeta Terra, inclusive aexperiência bíblica de Jó, ou se-ja, num momento estava noápice do poder empresarial ejornalístico, e, de repente, esta-va sem praticamente nada,porque na verdade tinha tudo,que era fé e gente que confiavanele para se reerguer. Tantoque não demorou muito paravoltar a fazer o melhor jornalde Goiás. Também sofreu mui-to com a perda do amado filhoFábio Nasser, que herdou delee do avô materno – AlfredoNasser, que dá nome ao Palá-cio do Legislativo goiano – aveia jornalística, mas espiritua-lista genuíno que é, entendeulogo os desígnios de Deus.

De outra parte, orgulha-sede todos os filhos: Júlio Nasser,o herdeiro da veia empresarialda família; Imara Custódio,mulher sábia e de notória ener-gia, por isso intrépida, daquelaspessoas que não rejeitam desa-fios, ainda que tenha umagrande batalha pela frente; ospequenos João do Sonho e Ma-ria, que estão para Batista as-sim como José e Benjamin es-tavam para Jacó, ou seja, umamor ágape, o mais puro queDeus deixou para nós. Enfim,

Batista sempre foi um pai defamília exemplar, seja com osfilhos de sangue, seja com os fi-lhos do jornalismo. E, entre es-tes, os destaques hoje ficampara Ulisses Aesse e SabrinaRityeli, mas também ama a to-dos, ao exemplo de Carlos Frei-tas, editor de Política.

A verdade é que, em umtempo recorde, aprendi a ad-mirar e respeitar Batista Custó-dio não apenas pelo profissio-nal exemplar que é, mas tam-bém pelo ser humano de rarasabedoria que é. Inclusive, já ti-ve o privilégio de conversarcom ele por algumas vezes e,assim, usufruir, ser agraciadocom suas palavras sábias deum homem que lê de tudo esabe reter o que é bom. Sinto-me orgulhoso em estar ingres-sando nessa família DM, quetem contribuído efetivamentenão somente para uma im-prensa realmente livre, mas,sobretudo, pela cidadania, umEstado de Goiás cada vez me-lhor e uma Nação verdadeira-mente soberana.

Confesso que a trajetória deBatista Custódio, lenda viva dojornalismo, me inspira a cadavez mais pavimentar um cami-nho com vistas a conquistarum projeto eletivo, em 2014, eingressar de vez na políticacom o único propósito de con-tribuir para o resgate da cida-dania da nossa gente sofrida,que sequer tem um pedaço depão para comer e, muito me-nos, um travesseiro para recos-tar a cabeça. Sou um dos pou-cos agraciados de Deus, nesseplaneta, ao exemplo de Batista,porque recebi educação dequalidade, especialmente de

meus amados pais, inclusiveconquistando o diploma de ba-charel em Direito. E, agora, co-mo assessor especial do gover-nador Marconi Perillo, tenhobuscado ser um colaborador fi-el naquilo que ele mais almeja,ou seja, fazer o melhor governoda vida dos goianos.

Considero-me um jovemcheio de energia, sobretudopara aprender boas lições, co-mo as que venho aprendendocom grandes homens, comoBatista Custódio e Marconi Pe-rillo. Comparo o fogo que te-nho dentro de mim ao Aragu-aia, onde você olha por cimado Rio e ele está calmo, masdebaixo daquela calmaria, láembaixo, é uma turbulência,uma efervescência do rebojodas águas. E esta é a vontadeque tenho, cada dia mais, debuscar me credenciar para adisputa de um mandato eletivocom o firme propósito de fazera verdadeira política e, assim,contribuir mais pelo desenvol-vimento sustentável do Estadode Goiás e do Brasil, para quesirvam de exemplos cada vezmais para o Mundo. E, nessesentido, tenho recebido apoiosque jamais imaginaria receber,por isso sou muito grato aDeus. E creio firmemente queo Supremo Arquiteto do Uni-verso está no controle de mi-nha vida, porque desde já meconsidero um cidadão da Terramais que vencedor. Some-se amim, numa verdadeira simbio-se, e venha você também serum vencedor.

(Patrick Barcellos éassessor especial do

governador Marconi Perilloe articulista do DM)

Pai e filhos na direção do DDMM: Fábio Nasser, articulista; Júlio Nasser, presidente; Batista Custódio, editor-geral; Imara Custódio, diretora comercial

ARQUIVO DM

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 28: Caderno especial DM 33 Anos

A história política brasi-leira tem me causadoespecial fascínio. Gos-to especialmente do

capítulo que abrange desde a eraVargas à atuação de JuscelinoKubitschek. Neste estimulanteconjunto de acontecimentos quecompõem boa parte da Repúbli-ca, aprecio ainda os relatos bio-gráficos. Fascina-me ler a vida dehomens como Getúlio Vargas,Juscelino Kubitschek, Jânio Qua-dros, João Goulart e de outras fi-guras que estiveram à generosasombra do poder, como o jorna-lista Assis Chateaubriand.

Nessa rica e densa teia queforma palco para a política brasi-leira, há um aspecto igualmenteinstigante. É o conjunto de textoscom relatos e análise da políticade Goiás. Esse é um capítulo ain-da carente de obras mais com-pletas e interessantes. Nas últi-mas décadas, tenho me dedica-do ao estudo da trajetória de per-sonagem políticas de Goiás, co-mo Pedro Ludovico Teixeira, ofundador de Goiânia.

Entre as figuras mais expressi-vas da história sócio-política deGoiás está Alfredo Nasser. Minis-tro da Justiça e Negócios Interio-res do governo João Goulart euma das vozes goianas no parla-mento, Alfredo Nasser despon-

tou pela inteligência brilhante, alucidez das análises que fazia eainda pela eloqüência do discur-so. Essa aguda percepção de sá-bio o, permitia, às vezes, antevero futuro, com acerto notável.

Revirando velhas gavetas, re-centemente deparei-me comuma entrevista a mim concedidaem março de 1992 por DanteUngarelli, um dos pioneiros deGoiânia. Na fala, Dante Ungarelliobserva: “um dia eu estava na ca-sa do professor Alfredo Nassercom Camargo Júnior, WilmarGuimarães e Randal do EspíritoSanto, quando lá chegou o jo-vem Batista Custódio. Indiferen-te a tudo, sentou-se e ficou ob-servando a figura de Alfredo Nas-ser que lhe dedicava atenção, co-mo se estivesse diante de alguémmuito importante. Perguntei aoprofessor porque toda aquela de-ferência a um simples moço. Al-fredo Nasser respondeu:” “Ah,Dante, você não imagina! Essemoço é inteligentíssimo, é o futu-ro da imprensa Goiana.”

Olhei aquele rapaz, não acre-ditei. Para mim, Nasser estavacometendo um equivoco. Che-guei a discordar dele, mas, Nas-ser advertiu:

“Você verá, Dante.” Os tem-pos mostraram-me. Vi que aque-le moço era mesmo uma revela-ção que estava vindo pra ficar naempresa de Goiás e do Brasil,confidenciou-se Dante.

A vida de Alfredo Nasser con-tém capítulos interessantes quedenotam a vivacidade de umhomem culto, de grande ideais.

O velho político goiano sabiadistinguir o joio do trigo. À forçade um simples olhar, separava ohomem de valor de um canalha.Sua perspicácia permitia-lheapontar com antecedência oque viria a ser um jornalistacombativo, destemido, comoBatista Custódio, à frente de oCinco de Março e depois, do Diá-rio da Manhã. A admiração deAlfredo Nasser por Batista Cus-tódio está registrada no capítulo

“Conversa intima” do livro O Lí-der não Morreu pesquisa deConsuelo Nasser, transcrito de OCinco de Março, em 9 de novem-bro de 1963. Alfredo Nasser assi-nala: “Batista Custódio é o co-mandante da equipe deste jor-nal. Filho, neto, bisneto, tatara-neto de fazendeiros, traz ele nasveias o sangue de várias gera-ções de homens honrados. Porpoucas pessoas me responsabili-zo moralmente como por esse

rapaz que tem, numa vocaçãode apóstolo, a alma do panfletá-rio. Seu pai foi meu companhei-ro na escola primária e sua famí-lia é ligada a minha há mais decinqüenta anos. Quando ouçofalar em imprensa marrom,compreendo até onde pode che-gar a injustiça neste mundo.”

Nasser prossegue: “BatistaCustódio é um dos mais purosidealistas, um dos melhores es-pécimes humanos que já conhe-

ci. A sua bondade dói. O Cinco deMarço tira-lhe dinheiro e não lhedevolve um tostão. Nem ele pre-cisa disso. O seu erro é imaginarque este mundo tem conserto,que lutar contra a corrupção valealguma coisa. Nas longas con-versas que temos tido, procurotransmitir-lhe algo do que apren-di, um pouco do que me ficoudas coisas que me feriram, umpouco do quanto o caminho apercorrer é longo e duro. Ele meouve, silencioso, porque sabeque penso como ele. Bom, bra-vo, generoso, Batista Custódiotem me arrastado à sua luta, nu-ma solidariedade que não nega-ria a nenhum órgão de impren-sa, mas para ele é maior, por suabondade, sua bravura, sua gene-rosidade, seu puro idealismo, eseu caráter também. Seu verda-deiro, sólido, indobrável caráter.”

O cenário político nacionaltem figuras brilhantes como Ge-túlio Vargas, Juscelino Ku-bitschek e Assis Chateaubriand ocapítulo político de Goiás igual-mente possui nomes considerá-veis, como Pedro Ludovico Tei-xeira, Alfredo Nasser e BatistaCustódio. Cada um na sua searae em seu momento, eles compõ-em o ponto comum de uma his-tória política que continua viva.Atualíssima e pulsante.

(Luiz Alberto de Queiroz éadvogado e escritor. Autor de

vários livros, entre eles, O VelhoCacique, Marcas do Tempo e

Olímpio Jayme: política deviolência em tempos de chumbo)

LuizQueiroz

Especial paraDiário da Manhã

O profético olhar de NasserHISTÓRIA

Alfredo Nasser sabia distinguiro joio do trigo na política

ARQUIVO DM

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Page 29: Caderno especial DM 33 Anos

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Q uero ver a primeirapágina da primeiraedição – aquela comdata de 12 de marçode 1980. Ou, se for

possível, a de alguma das edi-ções piloto que confecciona-mos num período que antece-deu à chegada do Diário daManhã às bancas de Goiânia ede várias cidades do interior,além dos pontos especiais que,nos maiores centros do país,vendiam jornais.

Dirão alguns que estou nos-tálgico; que olho a vida pelo re-trovisor; que devia, sim, falar defuturo... Ora! Não sou Nostrada-mus, nem sequer Mãe Diná; ofuturo é um tempo tão sem me-didas quanto o passado, mas elesó existirá se continuarmosconstruindo no presente. E issosó é possível se buscarmos nopassado os feitos de nossasmentes, mãos e idéias.

Aqueles tempos de Goiâniaeram ricos – por isso, inesquecí-veis. A cidade e sua vizinhança,longe de vir a ser a metrópole

emergente de agora, tinha umavida socialmente ativa. Era otempo, ainda, dos clubes, das ra-ras casas noturnas e ainda pon-teavam, aqui e ali, as festas fami-liares em casas de adolescentes,reunindo brotos (risos) e sobre-nomes marcantes, gente que ho-je já marca sua entrada em novafase da vida – a do avonato.

Três jornais já eram históriana jovem cidade. Jovem, masforte o bastante para, naqueletempo, ser a caixa de ressonân-cia da vida de Goiás, aquele Goi-ás com mais de setecentos milquilômetros quadrados, incrus-tado num vão entre a Amazôniae o Nordeste, ladeando o Sudes-

te em seu poente, feito um eixode rotação do Planeta Brasil. EraGoiás promessa de fartura e fu-turo. Eram eles, pela ordem cro-nológica de surgimento, a Folhade Goiás (em cuja marca se gra-fava Goiaz), O Popular e o Cincode Março. Outro semanário, Jor-nal Opção, experimentava suafase de diário, com grandes ino-vações de visual e conteúdo.

Naquele clima humano, al-guns homens crentes nas possi-bilidades econômicas desta ter-ra sonharam maior: Batista Cus-tódio, idealizador e proprietáriodo Cinco de Marco, e Carlos Al-berto Sáfadi, então editor do Jor-nal Opção. Os sonhos deram-seas mãos, e desde o final de 1979desenhava-se a forma e a pro-posta do “diário do Batista”, co-mo se comentava à boca miúdanos meios jornalísticos, empre-sariais e políticos.

Migrei do Cinco de Marçopara o Diário no final de janei-ro; ou seja, a equipe estava, en-tão, quase toda fechada. Foi oeditor de política, Marco Antô-nio Silva Lemos, quem me cap-turou para o novo jornal. Deve-ria cobrir a Câmara Municipal –tinha, já, bom trânsito da Casade Leis da capital. Festejamosos 21 anos do Cinco de Março euma semana depois despontá-

vamos na cidade como o novojornal! Um nome bonito e am-plo, uma promessa de alto al-cance, uma equipe de altíssimonível profissional (dizem que,até hoje, nunca mais se consti-tuiu, por aqui, nenhuma equi-pe tão bem dotada).

E vieram outros, e alguns denós mudamos de casa, volta-mos depois ou simplesmentedeixamos saudades. Em 1984,veio o tempo do fechamento,os ranços dos tempos de exce-ção dando mostras de queainda existiam. Por um tempo,calou-se a voz da liberdade,mas vovó dizia que não há malque sempre dure. E o DM vol-tou, em 1987.

Em pouco, o jornal retomavaseu fôlego e sua vocação de veí-culo inovador. A primeira medi-da atrevida, nessa fase, foi circu-lar às segundas-feiras; a seguinte,adotar as cores (até então, jornalem cores era algo muito raro eem Goiás, nenhum noticiário in-vestira nesse benefício.

São lembranças, meras lem-branças. Fatos que saltam da me-mória ora como marcas fortes de

Várias edições de número zeroforam produzidas para se chegar

ao DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã ideal

Luiz deAquino

Especial paraDiário da Manhã

Diário de longa vidaHISTÓRIA

Goiânia já possuiu vários jornais diários e semanários. Poucos resistiram àspressões políticas e financeiras. O Diário da Manhã é símbolo de resistência

tempos dolorosos, ora comofeitos felizes de bons resultados.Minha alegria individual resideno fato de compartilharmos es-ses feitos com os de centenas decolegas, no espaço e no tempo,nesta mesma Goiânia de tantasalegrias e conquistas, desafios eresultados (uns bons, outrosnem tanto). Regozijo-me comos companheiros, sejam cole-gas ou amigos, concorrentes nacaptação da notícia mais exata ena qualidade do texto informa-tivo – nós fizemos um poucodesta história. Talvez seja estra-nho dizer “nós fizemos”, pois ahistória nunca se encerra. É co-mo uma corrida de revezamen-to: nós recebemos o bastão echegará o momento em que oentregaremos, mas correremos

para a torcida para acompa-nhar o andamento...

Estarei certo nesta análiseante o tempo e a história?Acho que sim. Afinal, orgulha-me muito esta marca de 33anos, em dedicação e apren-dizado, além de significaruma fase expressiva – cerca demetade da minha vida, eu quesomando o tempo de trabalhoem cada emprego, chego per-to dos 150 anos...

Em suma: informamos! Einformamos aprendendo, e in-formamos ensinando. E agora,feito um médico da antiga,olho o tempo e aconselho:

– Fala 33...

(Luiz de Aquino éjornalista e escritor)

“Por umtempo, calou-se avoz da liberdade,mas vovó diziaque não há malque sempre dure.E o DM voltouem 1987”

Estarei certonesta análiseante o tempo e ahistória? Achoque sim. Afinal,orgulha-memuito estamarca de 33anos, emdedicação eaprendizado.”

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 30: Caderno especial DM 33 Anos

P or um capricho da his-tória PT e Diário da Ma-nhã surgiram nummesmo contexto, com

saudáveis propósitos de lutar pe-la redemocratização do País.Trinta e três anos depois eles seencontram em campos diame-tralmente opostos.

O jornal faz da liberdade deexpressão seu maior patrimô-nio, reafirmando um princípiodo qual nunca se desviou. O PTse apresentou ao eleitoradocom a proposta de moralizar oscostumes políticos e ser o fiadorda transparência nos serviçospúblicos, ironicamente, advogahoje o controle da mídia paranão ver expostas suas contradi-ções Vejo-me em l980 tomadopor singular expectativa diantede dois iminentes fatos queguardariam, entre si, algumaidentificação pela proximidadede seus respectivos propósitosde lutar por uma sociedademais justa, pluralista e livre.

Nasceriam naquele ano oPartido dos Trabalhadores (PT),e o jornal Diário da Manhã. Am-bos prenunciando tempos no-

vos para a política e para o jorna-lismo. Seria o Diário da Manhã ovibrante veículo de comunica-ção à vocalizar o discurso reden-tor de um partido que surgia emreação aos vícios e deslizes dasdemais organizações partidárias.Ambos os projetos carregados

de simbolismo pelas emblemáti-cas figuras que estavam à frentedos empreendimentos, caros aointeresse do povo. Lula se apre-sentava como o farol a oferecertransparência à política e restau-rar a credibilidade de seus agen-tes, através dos bons exemplos

que vinha proclamando. A retó-rica letal do PT erradicaria a cor-rupção nas atividades públicaspara erguer o império da éticacomo marco regulatório da novaprática política. A pregação pe-tista vocalizava o sentimento na-tural da maioria esmagadora do

povo e galvanizava a esperançade milhões de desiludidos.

Batista Custódio trazia para odia a dia da informação a rica ex-periência do revolucionário Cin-co de Março, antípoda do jorna-lismo pasteurizado que sedi-mentara o conformismo vigente.

Ao Diário da Manhã caberia amissão de levar a liberdade deexpressão ao paroxismo, rom-pendo as amarras no desafio aum Estado opressor. Se o PT em-balava a esperança com novopadrão de comportamento polí-tico sob o signo da ética e da mo-ralização dos costumes, o Diárioda Manhã pontuaria a históriada comunicação em Goiás porsua ousada proposta de rupturacom um tempo cronometradopela censura, cujo corolário eraa submissão da imprensa às or-dens do dia emanadas dos quar-téis. A expectativa de otimismoreunião a multidão. Nem o am-biente político seria mais o mes-mo com a chegada do “assépti-co” PT, nem o Diário da Manhãse prestaria ao alinhamento àsregras de um jogo de cartasmarcadas, pois se insurgiriacontra o torniquete político re-gulador da comunicação.

Hoje PT e Diário da Manhãcomemoram 33 anos de existên-cia. Infelizmente tenho senti-mentos antagônicos em relaçãoaos dois fatos.

Ter participado da história doDiário da Manhã me dá orgulho.Ter a certeza de que qualquercidadão pode ver publicada emsuas páginas seu ponto de vis-ta, sem censura, é motivo de jú-bilo para toda sociedade que sequer livre e assim se expressar.

Fleurymarde Souza

Especial paraDiário da Manhã

Nasceram juntos, massó um honrou a promessa

PT E DM

Ter depositado tanta espe-rança no PT, devido ao seu dis-curso moralizador, me conde-na hoje a cultivar frustrações.Fui eleitor de Lula, agora mepenitencio pelo grave erro deavaliação. Se apostei no sonho,reajo determinado ao pesadeloque hoje incomoda milhõeseleitores que também acredi-taram nos propósitos preconi-zados pelo PT. O desvio deconduta da cúpula do partido– ela abandonou totalmente osprincípios para adotar todos osvícios que promovem o rebai-xamento da política – é de umaclareza meridiana.

O Diário da Manhã, ao con-trário, não só preservou sua fi-losofia original como ainda ofe-rece à sociedade novas ferra-mentas de participação em seuprojeto editorial. Abriu suas pá-ginas para que qualquer cida-dão ou cidadã, indiscriminada-mente, tenha espaço para sepronunciar, seja com protesto,com aplauso, ou sugestões.

É oportuno indagar: há outrojornal no Brasil que oferece aopúblico leitor oportunidadeigual?

Após 33 anos, vê-se que a co-erência preservou e reforçoueditorial e politicamente o proje-to nascido em 1980, como janelade oportunidades para uma so-ciedade carentes de canais deexpressão à alturados novos temposque se anunciavam.

No vácuo deum ambiente po-lítico pontuado deincongruências e devícios, os fundado-res do PT enxerga-ram a oportunida-de de sua afirmaçãopelo teor moralistado discurso, supos-tamente refratárioàs más intenções.Conquistada a chancede levar à prática o quesustentava a teoria, descobre-se que tudo não passava dedeslavado oportunismo.

Lula e sua trupe luta-ram pelo poder para delese servir da forma maisespúria e fisiológica pos-

sível. Há 10 anos institui-se nogoverno a lógica perversa, am-parada no maniqueísmo se-gundo o qual quem é contra osmétodos petistas de governar éum potencial inimigo do Brasil.As alianças celebradas pelo PT,tendo Lula à frente das articu-lações, falam por si e desmen-tem a narrativa purificadoracom que o partido se apresen-tou ao eleitorado.

O Diário da Manhã ampliouos espaços para a livre manifes-tação do povo, preservou suaindependência, cristalizando oidealismo de seu criador BatistaCustódio. O jornal nos ofereceum norte para que a sociedadese sinta livre e no pleno direitode se expressar em suas pági-nas, reafirmando sua liberdade.O PT nos oferece a viseira, aotentar convencer a sociedade deque o “controle social” da mídiaé garantia de mais democracia.No poder, o partido de Lulaidentifica em cada crítica à sualeniência com os velhos vícios oinimigo a ser abatido. A conclu-são é a de que, controlando aimprensa livre, que aponta assucessivas contradições, o PT li-vra o país de seu grande adver-sário, a oposição. Tenta impor aidéia de que é possível instituir ademocracia de um só partido.Nas redes sociais é fácil identifi-car a proliferação de “analistas”a serviço dessa visão stalinis-ta, que não suporta ocontraditó-

rio. Ao que tudo indica, o maiordesafio do PT será submeter oidealizador do DM, editor geralBatista Custódio, a seus propó-sitos de monopolizar a opinião.Nem a ditadura conseguiu.

Após 33 anos de existência,pôr o PT e o Diário da Manhãno foco de uma comparação so-bre seus respectivos papéis nasociedade é uma boa oportuni-dade para se extrair conclusõesóbvias, porém pedagógicas. En-quanto a coerência consagraum projeto editorial a trapaçapolítica desmistifica pretensossalvadores da pátria.

(Fleurymar de Souzaé jornalista)

Espaço democrático ampliado

“Após33 anos, vê-seque a coerênciapreservou ereforçoueditorial epoliticamente oprojeto nascidoem 1980”

ARQUIVO DM

Washington Novaes analisavaa linha editorial com a redação

30 GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

Page 31: Caderno especial DM 33 Anos

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O jornal Diário da Ma-nhã é uma verdadei-ra escola de jornalis-tas. Pela redação do

impresso circularam, além deprofissionais, inúmeros apren-dizes de diversas universidadese faculdades. Quase sempre osestudantes das faculdades mi-ram no DM a oportunidade deaprender a escrever, produzir eeditar um jornal.

Jornalistas, hoje de destaquenacional, como Lilian Teles (TVGlobo) começaram a fazer su-cesso primeiro nas páginas doimpresso. Hoje, existem jorna-listas que começaram no Diá-rio da Manhã em diversos ór-gãos de destaque, caso de OGlobo, Estadão, Correio Brazi-liense, dentre outros.

A principal característica dojornal, ao longo de 33 anos de his-tória, foi abrir suas páginas paraque os jovens pudessem se ex-pressar. A convivência de profis-sionais mais experientes com ajuventude sempre supriu a poucaprática das faculdades, que pro-curam oferecer na medida do

possível jornais laboratórios e es-túdios aos estudantes. Outra ca-racterística do DM é que boa par-te dos professores de jornalismonas principais faculdades de Goi-ás trabalharam ou publicaramseus textos no impresso.

Dentro do DM, estudantes

ainda inexperientes aprendem acumprir pautas e atuar em con-junto com as equipes de repor-tagem. Um desses estudantes,Jairo Menezes, por exemplo,que visitou o jornal certa vez pa-ra falar da política estudantil daescola em que estudava, o Liceu

de Goiânia, é hoje um dos prin-cipais editores do jornal. Aindamenor, Jairo chegou por meiodo convite de um colaborador,Antônio Carlos Volpone, espe-cialista em ufologia, e hoje ajudao jornal a chegar nas casas dosgoianos. Apesar da pouca idade,

exerce decisões que interferemdecisivamente na sociedade.

É Jairo, por exemplo, queaplica a teoria dos valores-notí-cia no cotidiano da empresa. Ca-be aos editores do DM selecio-nar os fatos relevantes da socie-dade e dizer o que é ou não notí-

cia. É ele que vai realizar a refle-xão quanto aos aspectos subjeti-vos, como quantidade de pesso-as envolvidas, sujeitos hierárqui-cos, proximidade, escolher o nú-mero adequado de ’bad news’ e‘good news’ e desenvolver umaestratégia de cobertura.

WellitonCarlos

Especial paraDiário da Manhã

Escola de jornalistasCOTIDIANO

Diário da Manhã forma novos jornalistas a cada ano. Rotatividade de estudantestorna o impresso veículo democrático para se aprender a fazer jornalismo

Academia de jornalistas premiados

Mesmo sem ter cursado fa-culdade de jornalismo, absolu-tamente tudo que aprendeu so-bre a profissão, Jairo aprendeuna Redação do Diário da Ma-nhã. Essa prática diária permiteao jornalista contribuir com aconstrução da realidade.

O jornalista é hoje especiali-zado na cobertura de polícia eaprendeu, dentro das rotinasprodutivas do DM, a encontrarfontes e retirar delas informa-ções de interesse público.

Outros como Jairo não estãomais no impresso. Mas come-çaram da mesma forma. É o ca-so de Rodrigo Craveiro, que co-bre o noticiário internacionaldo jornal Correio Braziliense.Formado pela Universidade Fe-deral de Goiás (UFG), ele saiudo DM e se destacou como umdos melhores repórteres de OPopular na década passada. Éhoje um jornalista de destaque,

com fluência em entrevistasque tratam de política interna-cional. Foi um dos primeiros atratar da gravidade da doençade Hugo Chávez.

ESCRITORUm desses jovens que pas-

sou pela Redação do DM é o es-critor Ivair Lima, hoje maisacostumado às coisas da roçado que ao jornalismo. Em 1975,Lima, o velho Ivair, chegou naredação do extinto Cinco deMarço levando um calhamaçode escritos. Queria publicar nacoluna do cronista Phaulo Gon-çalves, um dos jornalistas maispopulares na década de 1980.Humorista, Phaulo disse que ostextos de Lima estavam ótimos.Mas antes fez suspense: “Issoaqui...isso aqui...isso aqui es-tá...uma...uma...está ótimo!”.

Lima chegou na redaçãocomo Jairo e tantos outros jo-

vens. Trouxe diferenças pesso-ais, claro: jamais quis ser edi-tor ou ocupar cargo de chefia.Ivair Lima era um dínamo naredação. Ele atravessou déca-das escrevendo reportagens elogo se tornou um dos melho-res escritores de Goiás, comdiversos livros publicados.

Lima fez parte da escola dosgrandes repórteres. Certa vez,foi enviado pelo editor até ointerior de São Paulo, onde es-creveu o relato dos usuáriosde Santo Daime sob a pers-pectiva deles. Lima bebeu lite-ralmente Santo Daime paranarrar ao leitor as sensações.Hoje, Lima mantém contatocom o jornal apenas no interi-or de Goiás, onde tem umapropriedade e planta poesiase verduras. É lá também queescreve letras de blues e sam-bas para um outro amigo queconheceu na Redação do DM.

A escola fundada no Cinco de Março e posterior-mente Diário da Manhã rendeu muitos prêmios dejornalismo, tanto nacionais quanto regionais. OCinco de Março, por exemplo, foi o primeiro jornalgoiano a levar o Prêmio Esso. Na edição de 8 defevereiro de 1965, já na ditadura, o impresso abriusuas páginas para tratar da exploração de madeiranobre e toda uma série de agressões contra osíndios. Na época, o fato dava um prejuízo de R$ 200milhões de cruzeiros ao estado – mais ou menos omesmo valor convertido para o real. A reportagemajudou o órgão Serviço de Proteção aos Índios a se

tornar na Fundação nacional do Índio (Funai), aodar a dimensão de que a antiga instituição nãocumpria com seus objetivos.

Recentemente, para se ter ideia, o DM ganhoudois dos principais prêmios de jornalismo do esta-do de Goiás. Na área de jornalismo econômico, osjornalistas Welliton Carlos e Jackeline Osóriovenceram o Prêmio Fieg de Jornalismo de 2012com uma extensa reportagem sobre a mineraçãoem Goiás e a jornalista Wanda Célia Oliveiravenceu o Prêmio Agsep de Jornalismo ao tratar daeducação no sistema de execuções penais de Goiás.

Jairo Menezes (ao centro), conduz a reunião de pauta, orientadopor um dos fundadores do Diário da Manhã, Edson Costa

Batista (à direita) discute com os jornalistas e estagiários aedição do dia seguinte. Um registro do dia 24 de abril de 1997

ARQUIVO DM

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 32: Caderno especial DM 33 Anos

O escritor francês Vic-tor Hugo, em seu ro-mance Notre Damede Paris, descreve a

Paris do século XV pelos sonsdos sinos que, ao nascer do dia,soavam das suas numerosasigrejas, localizadas nos mais di-versos pontos da cidade.

A descrição é maravilhosa!Simbolizando diferenças sociaise questões políticas, Victor Hu-goas sugere ao relatar os sonslimpos dos sinos de prata, ossons roucos dos sinos de madei-ra, aqueles luminosos vindosdos carrilhões, os agudos dasabadias, também os sinistros emartirizados da prisão da Basti-lha. Este conjunto grandioso for-mado por tão diferentes sons é acidade de Paris que canta.

Em analogia ao significativotexto de Victor Hugo, destaca-mos a representatividade do jor-nal Diário da Manhã na vida danossa Goiânia. Seu instrumento:

a palavra. O elemento maior dasua composição: o ideal do jor-nalista Batista Custódio, homemempreendedor e sagaz.

Há trinta e três anos, ao nas-cer o dia, também o jornal Diá-rio da Manhã desperta a cidadede Goiânia, informando, divul-gando, comentando ou lamen-tando acontecimentos, por meiode notícias provenientes de di-

versos cenários: político, social,cultural, esportivo, em âmbitonacional e internacional.

Então, se o tocar dos sinos re-presentava a cidade de Paris acantar, aqui e agora, dizemos: ojornal Diário da Manhã é a cida-de de Goiânia que fala.

A Academia Feminina de Le-tras e Artes de Goiás – AFLAG –,em 2009, recebeu um convite

para criar e assinar uma página,no caderno DM Revista.

Lembro-me bem. Era um fi-nal da manhã de uma terça-feira, quando conversamoscom o jornalista Batista Custó-dio. Claro que aceitamos e, emrazão do convite ter sido feitoem uma terça-feira, nossa pá-gina sai sempre à última terça-feira de cada mês.

Batizada com o nome de Ar-te & Cultura, esta página tor-nou-se de grande importânciapara a AFLAG, pois, além deampliar sua visibilidade no ce-nário cultural de Goiânia, mo-tiva sua contribuição nos maisdiversos acontecimentos donosso País. Como exemplo: apágina sobre a RIO+20, cujostextos receberam elogios.

Discorrendo sobrevários as-suntos e com variado formato,que vai da crônica ao poema,da reflexão ao estudo, a páginaArte & Cultura da AFLAG prestahomenagens, registra opiniões,desenvolve reflexões, pranteiafatos e feitos.

Ainda mais. Por meio do jor-nal Diário da Manhã, a AFLAGpreserva a memória das Acadê-micas, estendendo-lhes o poderda fala e do encantamento.

Assim, nesta comemoraçãodos trinta e três anos de vidado jornal, com grande reco-nhecimento, a Academia Fe-minina de Letras e Artes agra-dece e registra o valor de por-ta-voz cultural e informativodo Diário da Manhã.

Sem a página Arte & Cultura,a AFLAG sentir-se-ia reduzidaem sua capacidade de falar e emsua condição de ser conhecida.

Portanto, receba o nossoaplauso por mais um ano plenode atividade no universo da im-prensa escrita do Estado de Goiás.

(Heloisa Helena de CamposBorges é presidente da

Academia Feminina de Letrase Artes de Goiás – Aflag)

HeloisaHelena deCamposEspecial paraDiário da Manhã

A voz da Academia Femininade Letras e Artes de Goiás

DEPOIMENTO

A Aflag aceitou o convite do jornalista Batista Custódio para perpetuarnas páginas do DM as reflexões das mulheres imortais e talentosas de Goiás

ILUSTRAÇÃO: ELSON SOLTO

32 GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

Page 33: Caderno especial DM 33 Anos

Cinco de Março e DM, suportespara profissionais da imprensa

A nossa curta passagempela redação do hebdo-madário Cinco de Março

que marcou época no centro-oeste, no final da década de1969, foi suficiente para rece-bermos suporte para alçar vôoem novos horizontes. Já descre-vemos em artigos anteriores osfatos e reportagens que marca-ram a nossa presença na reda-ção no veículo, intitulados Bonstempos aqueles do Cinco deMarço e o histórico “O diaquem Íris Rezende foi cassado”,onde reportamos com exclusi-vidade informações até entãodesconhecidas da mídia goiana.Fato que vivenciamos em Goiâ-nia na época em que trabalha-mos no veículo e apuramos de-pois em Brasília.

A nossa carreira profissionalteve início da cidade mineira deIbiá, localizada na microrregiãodo Alto Paranaíba, vizinha à tu-rística Araxá, terra da históricadona Beja, na década de 60, on-de fomos radialista da Rádio Di-fusora de Ibiá, prefixo ZYV 55 e,publicávamos o jornal mensal OArauto. Totalmente tipográfico.

Mas a bem da verdade, nossoaprimoramento profissionalveio quando trabalhamos no se-manário Cinco de Março, vindosde Minas para Goiânia no histó-rico Mineirão, um linha de trensque ligava a capital goiana á Belohorizonte, nas locomotivas, po-pularmente conhecidas comoMaria Fumaça. I biá, na época ti-nha uma grande divisão da RedeMineira de Viação, mais tardeRFFSA, sucateada pela ditaduramilitar para favorecer o comple-xo industrial do petróleo.

Começamos o nosso traba-

lho no Cinco de Março, pela re-visão gráfica juntamente comStepan Nercessian, atualmentedeputado Federal pela bancadado Rio de Janeiro, e Thales deMileto Guimarães que tambémtrabalhava com tradução dalíngua inglesa. Jávier Godinhoera o redator-chefe que fazia ocopy-desk dos textos linotipa-dos e nós os revisávamos. De-pois alcançamos à redação on-de tivemos como colegas que jáse destacavam no jornalismogoiano, entre outros, vale citarBatista Custódio, Waldomiro

Santos, Geraldo Vale, AntônioJosé de Moura, Neiron Cruvi-nel, Haroldo de Brito, PhauloGonçalves, Carlos Alberto Sta.Cruz, Walter Menezes, AnatoleRamos e Carmo Bernardes.

Em Brasília já no início da dé-cada de 70, onde migramos edeixamos o jornalismo para tra-balhar no SERPRO-Serviço Fe-deral de Processamento dados,na primeira operação informati-zada do imposto de renda. De-pois voltávamos ao semanário,trabalhando na sucursal juntocom Walter Menezes para im-

plantar o Jornal de Brasília. Ma-logrado por causa de uma pri-são política de Batista Custódio,abrindo brecha para organiza-ção Jaime Câmara lançar essediário que até hoje permanececom o mesmo título, porém depropriedade um grupo político.

Vale dizer que Batista Cus-tódio é precursor do Jornal deBrasília.

Veio a seguir a cinematogra-fia jornalística nacional, com aparticipação da equipe do cine-jornal O Brasil em Notícias, edi-tado em Brasília para uma rede

aproximada de 2.000 cinemasem todo o país, gravado por CidMoreira no início.

Filmávamos na bitola 35mm(cinema) e fazíamos reduçãopara 16mm (TV). O vídeo nãoexistia ainda,Éramos credencia-dos na Presidência da Repúblicae Congresso Nacional, onde fi-camos até a posse do então pre-sidente Collor, de final de gover-no de triste memória.

(Vicente Vecci é editordo Jornal do Síndico,

jornaldosindicobsb.com.br)

VicenteVecci

Especial paraDiário da Manhã

HISTÓRIA

ARQUIVO DM

Lembranças de Vecci: escritores Carmo Bernardes e Anatole Ramos, além do ex-presidente da Associação Goiana de Imprensa, Walter Menezes

33Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Page 34: Caderno especial DM 33 Anos

O jornal Diário da Manhã,ao longo do tempo, tor-nou-se laboratório para

grandes idéias em mídia. Mas oque mais aproximou o impressoda população foi sua capacidadede perceber os anseios da socie-dade civil e torná-los campa-nhas. Ao longo de sua trajetória,o DM foi o veículo de comunica-ção de Goiás que mais realizoucampanhas cidadãs.

Estas campanhas consistiramao longo do tempo em tratar deassuntos pertinentes com maiorênfase, dando destaque editorialaos pleitos comunitários.

Uma das primeiras campa-nhas do Diário da Manhã ocor-reu ainda em meados de 1985,quando o impresso abraçou aideia da ferrovia Norte-Sul. Eraum sonho apenas traçado no pa-pel. Ninguém acreditava, mas oDM foi visionário. Apesar de qua-se 30 anos depois ainda não seruma realidade, a ferrovia andoumuito de lá para cá. Muitos go-vernos ignoraram sua importân-cia e outros tantos políticos, deGoiás até, se enriqueceram comos desvios de recursos públicos.Todavia, o Diário da Manhã se-guiu com sua premissa: uma fer-rovia que cortasse o Brasil pode-ria ser nova rota para o desenvol-vimento de Goiás.

Pensando nisso, o DM con-centrou todas as suas forças pa-ra a realização de um cadernoespecial e sequências de repor-tagens que explicassem comoseria a ferrovia Norte-Sul. Nocaderno, por exemplo, o jorna-lista Fábio Nasser realizou umaviagem pelas cidades que rece-beriam a ferrovia e comentoucomo a população esperava o‘trem’. Economistas, políticos egoianos ilustres analisavam asmudanças que ocorreriam coma Norte-Sul. O caderno contoucom textos de jornalistas desta-cados de Goiás e do Brasil, alémde obras de arte de artistas plás-ticos como Siron Franco.

Ainda hoje, quase trinta anosdepois, é o documento maisbem acabado da esfera civil so-bre a proposta da Norte-Sul.Tornou-se mais do que um ca-derno, sendo considerado umimenso relatório das potenciali-dades da época. Em que pese oufanismo do registro, que retratauma forma de jornalismo daépoca, a veia romântica da em-preitada fez do DM um jornalque sonha junto à população.

Várias outras campanhas se-guiram ao pleito da Norte-sul. ODM tornou-se ‘hit’ nas bancassempre que carregava suas pági-nas com campanhas e movimen-tos. Foi assim com a campanhadenominada Ética da Honra. Otermo se referia ao fato do jornalnegar a publicação de denúnciassem comprovação judicial (sen-tenças transitadas em julgado).

Em seu primeiro momento, a

campanha chamou atenção pa-ra a ética jornalística: imprensanão é poder Judiciário. Daí nãoter a obrigação de julgar as pes-soas. O cuidado em não atacar ahonra das pessoas é ainda hojeum dos calcanhares de Aquilesdo jornalismo: as empresas jor-nalísticas difamam, injuriam ecaluniam pessoas, pois os jorna-listas assumem o papel de acu-sadores – papel este que deve serdesempenhado por pessoasconcursadas e que ocupam car-go público nas promotorias.

A “Ética da Honra”, desenvol-vida em 2002, serviu para o DMisolar o jornalismo negativo dobom jornalismo. A campanhadiminuiu sensivelmente o nú-mero de processos judiciais queenvolviam o impresso. Tambémserviu para consolidar as noçõesde crimes contra a honra frenteaos leitores.

POLÍCIAOutras campanhas foram lan-

çadas pelo DM, caso do movi-mento contra a abordagem poli-cial violenta. A partir da experiên-cia do próprio editor do jornal,Batista Custódio, o DM passou acombater as ações violentas daPolícia Militar (PM), que em bus-ca de assassinos e traficantes aca-bavam por abordar pessoas debem e violentá-las, seja física sejaemocionalmente. Idosos semqualquer aparência de crimino-sos, caso do jornalista BatistaCustódio, foram cruelmenteagredidos. Ele preferiu expor empúblico o constrangimento.

A campanha da abordagempolicial publicava todos os diasinformações a respeito de comodeve se portar o cidadão numaabordagem policial. E a primei-ra regra era não se identificar. Jáque a Polícia Militar tem fortessuspeitas de que você é crimi-noso (pois se não tivesse, vocênão seria abordado) cabe a elajuntar as provas e assim atestaro que alega. Entretanto, o cida-dão, se for abordado com edu-cação e decência, pode, se qui-ser, fornecer documentos. Erauma forma de combater a for-ma desrespeitosa com que apolícia falava com o cidadão.

WellitonCarlos

Especial paraDiário da Manhã

BANDEIRAS

Um jornal de grandes campanhas

Em defesa doEncantado

Outra campanha importan-te do DM foi a defesa intransi-gente do Vale do Encantado,uma Área de Proteção Am-biental (APA) que começoucomo fazenda do jornalistaBatista Custódio e aos poucostornou-se um bem de todosque defendem a natureza. Aárea na região de Baliza (GO)apresenta trechos em que orio Araguaia segue um trajetopor meio de cânions.

Duas campanhas surgiramno local: a necessidade de tornaro vale como patrimônio da hu-manidade (ato que apenas asNações Unidas pode realizar) ea campanha contra a mineraçãode diamantes na região. Na oca-sião, meados da década de 2000,o jornal realizou intensas repor-tagens contra o Ibama, órgão fe-deral que inexplicavelmente

permitia a exploração mineral,que matava peixes e destruía aflora da região. Dezenas deONGs apoiaram a causa do jor-nal, que fez o assunto ser reper-cussão nacional com outros ór-gãos de imprensa.

Outra campanha, tambémencabeçada pelo jornalista Ba-tista Custódio, indignou-se como projeto da Prefeitura de Goiâ-nia cortar a ‘moreirinha’, umaárvore que serviu de repousopara Pedro Ludovico Teixeirapensar a construção de Goiânia.As narrativas orais da Capital in-formavam que a árvore da rua24, no Centro, foi, de fato, o pri-meiro palácio do Poder Executi-vo em Goiânia. Em 2010, a Justi-ça de Goiás determinou que aPrefeitura de Goiânia encontras-se uma solução para a árvore,proibiu os moradores de corta-rem a árvore e estipulou multadiária de R$ 1 mil para qualquerdescumprimento da decisão.

Tudo isso começou após aagressiva campanha do DM

contra a destruição do patri-mônio histórico.

Ao longo de sua história,simples telefonemas de leitorestornaram-se grandes históriasde vida e reportagens. Mais doque agentes públicos, os jorna-listas tornaram-se confidentesda população, fazendo da mí-dia um efetivo espaço de deba-te público. Inúmeras leis foramantes debatidas nas páginas doDiário da Manhã, que sempreabriu espaço para todos os la-dos e versões. Seguidor das tra-dições do jornalismo impresso,em que o jornalismo era instru-mento político, o DM deixousempre suas portas abertas pa-ra quem desejasse manifestarseu voto e opção política. Toda-via, os demais jornalistas e diri-gentes também exerciam tal di-reito, visto que não se proíbe talmanifestação no Direito Eleito-ral brasileiro. Daí o DM ser,sim, um instrumento de políti-ca e de exercício da cidadania,em busca dos direitos sociais.

Ferrovia Norte-Sul, integra Goiás ao sistema ferroviário brasileiro

MARCIO DI PIETRO / ARQUIVO DM

34 GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

Page 35: Caderno especial DM 33 Anos

35

O convite de BatistaCustódio, de quem euera vizinho, na Rua 3,

Setor Bueno, para me incor-porar à equipe que executariao projeto inicial do Diário daManhã, no começo da décadade 1990, despertou-me o desa-fio da novidade. Era, então,editor-geral de O Popular.

Quando cheguei, o projetoestava pré-montado, trabalhoque teve como condutor o jor-nalista Carlos Alberto Sáfadi. Pa-ra não me esquecer de algumdeles, nem sequer vou mencio-nar os demais nomes da equipe.

Vivia-se o começo da rea-bertura política no País, com oinício do processo de anistia eda volta de exilados políticos,entre os quais alguns goianos,como Aldo Arantes, Tarzan deCastro, Horieste Gomes, HugoAlexandre Alves Costa e JoãoBatista Zacariotti.

O DM encontrou neste climaos canais para fazer um jornalis-mo corajoso, pró-abertura, em-bora sem nunca ter assumidoposições radicais. O jornal recru-tou um grande número de notá-

veis jornalistas e escritores, boaparte com fama nacional, paraescrever artigos – o que fez bas-tante sucesso.

Certo dia, Batista Custódiome chamou para comentar queestava muito satisfeitos com to-

dos aqueles articulistas, massentia um certo desequilíbriopelo fato de ser a absoluta maio-ria deles de tendência esquerdis-ta. Pediu-me que sugerisse umnome de alguém também notá-vel, mas com ideário de direita,

para equilibrar um pouco o es-paço de opinião do jornal. Sugerio nome de um intelectual muitopolêmico, mas cuja cultura erarespeitada até pelos intelectuaisesquerdistas. Seu nome: JoséGuilherme Melquior. Foi ele

convidado e passou também aescrever para o DM.

Outra característica daquelaprimeira fase do Diário da Ma-nhã era a preocupação com aqualidade do texto. Tanto é as-sim que as principais reporta-

gens eram reescritas por umgrupo de ótimos redatores e ti-nham um padrão bem definido.

As matérias do DM tinhamtambém a marca da profundida-de. Não se admitia que fossemsuperficiais. Tinham tambémdetalhismo, a fim de que o leitorficasse completamente informa-do sobre o assunto. Assuntos degrande importância recebiam àsvezes o tratamento especial desuplementos ou cadernos. Umexemplo disso, e do qual partici-pei diretamente, foi o da cober-tura da beatificação de José deAnchieta, que tive a oportunida-de de fazer do Vaticano. Aindabem que com o fuso-horário ameu favor, pois o equipamentopara a transmissão era o velhotelex. Aproveitando esta estadaem Roma trouxe rico materialfotográfico, conseguido junto aoOsservatore Romano, usado emum caderno especial que saiu nodia da chegada de João Paulo IIao Brasil, na primeira visita queele fez ao País, em julho de 1980.

Realçava muito o jornal tam-bém o tratamento visual que re-cebeu, com um grupo compe-tente de programadores visuais,sendo os principais deles JoãoSó e Wilson Silvestre.

(Hélio Rocha é jornalista,escritor, ocupante da cadeira nº 7

da Academia Goiana de Letras)

HélioRocha

Especial paraDiário da Manhã

HISTÓRIA

Um jornal que nasceu profundo

Carlos Alberto Sáfadi foi o primeiro editor-geral do DM

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Jornal sempre buscou o equilíbrio editorial nos profissionais.Atendendo ao chamado da imparcialidade e profundidade de conteúdo

Page 36: Caderno especial DM 33 Anos

36 GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

MEMÓRIA FOTOGRÁFICA

Washington Novaes, chefia e

liderança na redação do DM

A primeira sede do Diário da Manhã, na

Avenida 24 de Outubro, Setor Campinas

O então governador Iris Rezende fala comBatista Custódio e seu afilhado Fábio Nasser

Paulo César Martins, editor do DM, mostra ao

empresário Orlando Carneiro e a Júlio Nasser

detalhes de matérias em antigo monitor da redação

Panorama da primeira redação do DM,

ainda na Av..24 de Outubro

Paulo Roberto gerenciava o setor

operacional do Diário da Manhã

Omar Souto posa ao lado de estátua que ele criou

para ornamentar a entrada do parque gráfico do DM

Page 37: Caderno especial DM 33 Anos

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MERCADO DE TRABALHO

Modernização exige menosprofissionais nas redações

Diário da Manhã ESPECIAL GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013

Q uando se fala nos bonstempos de redaçãocheia do Diário daManhã tem que se

lembrar que a produção dariade cada repórter era de duas atrês matérias, coisa de trêslaudas e que, nas mãos doseditores, eram enxugadas ouampliadas, respeitando as es-sências do material coletado.A editorial local, por exemplo,chegou a ter mais de 40 profis-sionais, isso sem contar os fo-tógrafos e motoristas. Dezenasde mesas e dezenas de máqui-nas de escrever. O barulho dasteclas, a fumaça dos cigarros eas conversas em voz alta re-presentavam o pulsar do cora-ção do jornal.

O Diário da Manhã, com ainformatização, começou aperder gente em sua redação.Primeiro foram os composito-res (que faziam a montagem

das páginas) e depois os dia-gramadores, que foram reduzi-dos com o tempo. A rapidez e aeficiência dos computadoresprovocaram cortes no númerode editores e também fez redu-zir os revisores, que são res-ponsáveis, ainda hoje, pela

qualidade do produto que che-ga às mãos dos leitores. Todosos jornais fizeram economia degente – leiam-se demissões – eo mercado de trabalho perdeuo que os administradores cha-mam de “gordura”. A situaçãoficou dramática para os profis-

sionais de imprensa, indepen-dentemente de seus talentos ecapacidade de produção.

Para se fazer um bom jornalhoje o número de jornalistasnecessários não assusta quemse apresenta disposto a inves-tir na área. Deve-se respeitar,

no entanto, o volume de infor-mação histórica de algunsmembros da equipe, além dotalento de todos. O espírito deredação forma o ideal e dá co-res à linha editorial da publi-cação. E essas duas qualidadesconquistam leitores, forçam o

aumento da tiragem e da cir-culação e, finalmente, mar-cam a participação do jornalno mercado editorial. O Diá-rio da Manhã de hoje é assim– redação pequena, coesa echeia de alma, apesar de todasas dificuldades.

LorimáDionísio -MazinhoEspecial paraDiário da Manhã

A crise entre os profissionais de imprensa começou com a informatização nas rádios,tevês e publicações. Compra-se uma máquina e vários jornalistas são dispensados

Antes da tecnologia a redação precisavade dezenas de profissionais na produçãode um jornal de qualidade, em dois turnos

ARQUIVO DM

Page 38: Caderno especial DM 33 Anos

Um jornal feito com amore raça. Assim é a atual re-dação do Diário da Ma-

nhã. Mais desnatada, pequena,enxuta, com poucos profissio-nais, a equipe coleta, comprimee formata as notícias que os leito-res, fiéis leitores, do DM, acom-panham e cobram todos os dias.

Após uma grave crise finan-ceira, e ainda com seus refle-xos, o DM é uma redação com-pacta, com profissionais, às ve-zes, tendo que se desdobrarmais do que deveriam com ocompromisso único e exclusi-vo de levar a informação atéseus leitores. E mais: com ocompromisso da transparênciae da liberdade de informação.

Editorias importantes como ade Cidades, hoje responsável pe-la cobertura dos principais fatosrotineiros que acontecem em to-do o Estado, trabalha diminuta-mente com um repórter pela

manhã e três à tarde. Mas sua co-bertura não perde nem um pou-co para o principal jornal, que,com certeza, deve ter o triplo deprofissionais, só na editoria simi-liar. A garra do DM ainda é a pe-dra de toque de sua cobertura.

Há anos o DM enfrenta essacrise, mas não esquece que emprimeiro lugar, está sempre, sem-

pre, o leitor. Por isso, seu com-promisso com a informação e orespeito online com a oferta danotícia ao seu internauta. Umaeditoria virtual dá a a eles todosos acontecimentos em primeiramão, full time, em tempo real. É opapel aliado à tela do computadoou dos smarthphones.

O DM, no topo dos principa-

is veículos de informação doPaís, em especial, de Goiás, temcomo seus aliados a própria so-ciedade, que faz do suplementeOpinião Pública, seu amplifica-dor de voz. Aqui, nele, as opini-ões se multiplicam para clarearo caminho a ser seguido na de-mocracia. E o SM dá a sua con-tribuição. Diariamente, deze-

nas de opiniões são expressasno caderno, além de mais ou-tras no corpo normal do jornal.É a sociedade fazendo parte doDM, as ruas passando pela re-dação do Diário da Manhã.

Mesmo com uma equipecompacta, o DM não tem perdi-do o seu foco. Pelo contrário, acada dia arregimenta novos leito-

res, preocupados com a liberda-de de expressão e de opinião e fazdo jornal o veículo mais demo-crático e acessível de Goiás. Sebrincar, pelo volume de artigospublicados, do Brasil. Não duvi-dem. Essa é a formula da vitória.

O DM funciona assim: comeditorias integradas, pautadasinternamente pelo editor-geral,Batista Custódio, e editores deáreas, com auxílio da chefia deReportagens, e sempre com su-gestões de seus leitores, que te-lefonam vivamente para a re-dação, com explosões de pau-tas e furos que abasteceram aspáginas do jornal.

Editorias como as de Cidade,Esportes, Política & Justiça, Mun-do, DMRevista, Opinião Pública,auxiliada pela editoria de Foto-grafia, fazem do Diário da Ma-nhã, nestes teus 33 anos de exis-tência, um jornal vivo, participati-vo e com o compromisso de aju-dar a escrever a história de Goiás,do Brasil e do mundo.

Não há pedra ou obstáculoque vai conseguir deter esta de-terminação. Na chuva, no Sol, oDiário da Manhã no coração.

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Editoria DM.com.br, responsável pela edição online está fortemente conectada com o mundo

Atual editor de economia, César Moraes e a repórter Loizia Paiva discutem pauta

ATUALIDADE

Redação compactacom notícias fartas

GOIÂNIA, DOMINGO, 17 DE MARÇO DE 2013 ESPECIAL Diário da Manhã

UlissesAesseEspecial paraDiário da Manhã

O DM atual funciona assim: com editorias integradas, pautadas pelo editor-geral Batista Custódio

FOTOS: ANSELMO JARBAS

Page 39: Caderno especial DM 33 Anos

N o dia em que o Diárioda Manhã foi fechado,com um oficial de jus-

tiça lacrando a redação, acom-panhado por vários PMs arma-dos, o tempo estava cinzentoem 3 de outubro de 1984, compoucos jornalistas entre asmuitas mesas vazias, apesar deque era começo de noite, ho-rário de fechamento da edição.A editoria política selecionavaos últimos assuntos e o edito-rial estava sendo redigido, como texto condenando um ato deviolência política praticada nointerior, onde um carro desom de campanha de um can-didato havia sido atingido portiros de espingarda.

Ninguém saiu do lugar, mastodos ficaram de boca abertacom a entrada ruidosa dos mi-litares e também de alguns jor-nalistas de outros órgãos deimprensa. O “que é isso?” foirespondido pelo oficial de jus-tiça, que exibia em mãos ummandado judicial: “O jornalestá sendo fechado por falên-cia e vocês vão desocupar asmesas, levando apenas objetospessoais, mais nada, nem opapel que está na máquina deescrever!”. E o mesmo servidorda justiça deu ordens para queduplas de militares ficassemem cada porta que havia na re-

dação. O jornalista BatistaCustódio estava em sua sala elá recebeu o documento. Emo-cionado, depois de dar algunstelefonemas ele chegou aomeio da redação e pediu paraque todos desocupassem ogrande salão, em obediênciaao oficial de justiça.

Os poucos profissionais queainda remavam para manter obarco do DM navegando emáguas turbulentas foram abor-dados por jornalistas de O Po-pular, das emissoras de rádio etevê para falar sobre o assunto.Ninguém disse nada por faltade informação sobre a falên-cia. Lorimá Dionísio, o Mazi-nho, estava redigindo o edito-rial e disse achava “estranha apresença dos soldados no am-biente de trabalho. A única vi-olência está no texto iniciadoali naquela máquina de escre-ver” – apontando para a mesadele. A parte do texto foi repro-duzida pelo O Popular, que fezcobertura do fato.

Mazinho mesmo conta quea única confusão aconteceuquando ele se dirigiu ao sani-tário da redação e foi barradopor dois PMs dizendo que “es-tava proibida a entrada naque-la sala”. “Mas não é sala, émictório, banheiro...” Depoisdo “um momento”, um dos

policiais entrou e viu uma situ-ação estranha lá dentro, errode quem reformou o ambienteda redação. Havia dois vasossanitários, um ao lado do ou-tro, sem nenhuma separação.Ninguém tinha explicação pa-ra aquilo, mas a vizinhançados dois vasos serviu para ilus-trar muitas piadinhas de reda-ção, tipo: “Companheiro, vocêtopa fazer necessidade fisioló-gica solidária em nosso mara-vilhoso reservado coletivo?”

O que se seguiu depois do fe-chamento do Diário da Manhãforam um volume grande desolidariedade e uma tristezacontagiante dos que viam a es-perança de trabalho escorrerpelo ralo do esgoto. Batista Cus-tódio e Consuelo Nasser lança-ram, na fumaça da queda doDM, o jornal Edição Extra, queteve vida curta com o fecha-mento da Unigraf, dona da má-quina impressora.

Quem se saiu bem na histó-ria foram os primeiros que seafastaram do Diário em crise:vários voltaram para O Popular,outros para semanários da Ca-pital e muitos foram para as re-dações dos jornais em Brasília –Correio Braziliense e Jornal deBrasília –, simplesmente apre-sentados como egressos do Di-ário da Manhã, origem que ser-

via como excelente cartão de vi-sita, reconhecidos pelos contra-tantes como “profissionais va-lorosos e competentes”.

O resto todo mundo sabe: oDiário fora de circulação porquase dois anos. Batista Custó-dio viu barreiras caindo em sualuta para reabrir o jornal e o DMvoltou. E não foi a Phoenix queretornou das cinzas ao convíviodos leitores. Foi o produto demais um dos muitos sopros daliberdade de imprensa, que tei-ma em contrariar os que patro-cinam, em Goiás, a escuridãodas idéias e dos ideais.

FALÊNCIA

Um oficial de Justiçae vários PMs armados

Na fumaça da queda do DM, surgiu o temporário Edição Extra

“Fechou.Fechou o que? – indaga o povo.Fechou o sonho não feito.a cafua dos miseráveis.ideal boliviano.Fechou.Fechou o que? – pergunta o espectro.Fechou a história de um tempo.o sol de um povo.a câmara dos lutadores.Mas não chorem...Fecharam a matéria,mas não conseguiram fechar o ideal.Os líderes morrem,e a liberdade fica como idéia,

sem balas nem gente,par aa luta com um único soldado,com uma única metralhadora.Levanta-se a bandeira da resistência.Se por acaso nos matarem,um pingo de sangue irá ficar na terrae brotará rosa.Através do seu pólemque se espalhará pela Terradará continuação à nossa quimera.Quando você acordar,olhe a sua rosa.Pois ela brotaráonde ninguém espera.”

AS IDÉIAS SONHAM - Fábio NasserPouco depoisdo fechamentodo Diário daManhã, no dia3 de outubrode 1984, FábioNasser, aos 18anos, serevoltou eescreveu umpoema sobre ofato, um libeloà liberdade, queele viu seragredida pordeterminaçãode quem temea força daverdade.

Fábio Nasser, ainda jovem, era a pura emoção

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