17
Casa da Virada Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense Agenda 21 Local Experiências do Instituto Peabiru Hermógenes Sá | João Meirelles Filho

Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local (2009)

Citation preview

Page 1: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

Casa da Virada Uma experiência de intervenção socioambiental no Salgado Paraense

Agenda 21 Local Experiências do Instituto Peabiru

Hermógenes Sá | João Meirelles Filho

Page 2: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

3

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

Créditos

Realização Instituto Peabiru Museu Paraense Emílio Goeldi

Autoria Hermógenes Sá João Meirelles Filho

Fotos e ilustrações Equipe do Instituto Peabiru

Design Forminform

Este trabalho pretende sistematizar a expe-riência do Instituto Peabiru com projetos

de Agendas 21 Local. São duas experiências concluídas (Petrobras De Olho no Ambiente e Casa da Virada – Agenda 21 das comunidades de Curuçá) e uma em andamento (Agenda 21 da Vila dos Palmares, como parte do Programa Dendê Sustentável).

O projeto Petrobras De Olho no Ambiente ocorreu em 2006. Faz parte de um programa corporativo da Petrobras, com metodologia própria, que visa criar fóruns da Agenda 21 em comunidades de baixa inclusão social do entor-no de unidades da empresa. A primeira etapa do programa Petrobras De Olho no Ambiente ocorreu em 17 Estados brasileiros, sempre em parceria com ONGs locais.

No Pará, o Instituto Peabiru foi convidado pela Petrobras para trabalhar em cinco comunida-des urbanas de Belém: Barreiro, Paraíso dos Pássaros, Park Verde, Promorar e Providência. A partir desse primeiro trabalho, o Peabiru incorporou a metodologia da Agenda 21 Local como ferramenta de intervenção social em comunidades. A cada novo desafio esta meto-dologia é aprimorada e discutida.

A Agenda 21 das comunidades de Curuçá é um dos projetos do Programa Casa da Virada. Quando o projeto foi concebido para concorrer ao edital público Programa Petrobras Ambien-tal 2006, como veremos adiante, o plano inicial era distinto daquele realizado. No entanto, as mudanças representaram ganhos qualitativos para o projeto, na medida que resultou na melhor análise da realidade e das demandas locais, e no aprendizado a partir da experiência com o projeto Petrobras De Olho no Ambiente.

Essas duas experiências com Agendas 21 Local basearam a metodologia própria do Instituto Peabiru, em execução na Vila dos Palmares, no município de Tailândia-Pa. Esta metodologia certamente será aprimorada em trabalhos vin-douros. Afinal, a cada nova comunidade novos desafios se impõem nos processos de mobili-zação social e fortalecimento do tecido social. Desta forma, essa metodologia de Agenda 21 Local é parte do trabalho de intervenção social do Peabiru nas comunidades do entorno da empresa Agropalma na região de Tailândia.

Page 3: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

4

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

5

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

A Casa da Virada foi concebida para atuar próxima às comunidades tradicionais

caboclas do Nordeste Paraense, na busca do aumento da auto-estima, da valorização da biosociodiversidade, da promoção de negó-cios sustentáveis e do fortalecimento das unidades de conservação.

O conjunto de ações educacionais, científicas e de difusão tecnológica visa contribuir para transformar a realidade de 32 mil pessoas, que vivem em mais de meia centena de comunida-des de Curuçá, município da região do Salga-do, no Nordeste Paraense, a 130 km de Belém.

O programa Casa da Virada constitui-se de uma série de sete projetos, são eles:

Educação Ambiental Formação de 60 agentes ambientais em dois cursos semestrais de 200 horas e mais de trinta mini-cursos e oficinas comunitárias, oferecidos a grupos sociais sobre artesanato, ecoturismo, segurança alimentar, água, manejo sustentável, valor da floresta etc.

Agenda 21 Construção participativa e demo-crática de uma agenda comum de sonhos e ações de 52 comunidades de Curuçá.

Museu do Mangue (Ecomuseu) O objetivo é elaborar o projeto de um museu comunitário, a partir do levantamento de narrativas orais dos moradores da RESEX e formação de coleção pre-

liminar do patrimônio material e imaterial, visan-do a instalação futura de espaço museológico.

Biosocio Indicadores Criação e monitoramen-te de indicadores, objetivando orientar as polí-ticas públicas, o manejo dos recursos hídricos, florísticos e faunísticos e sociais.

Clínica de ONGs Assistência técnica em planejamento e mobilização de recursos para o fortalecimento de oito organizações da socie-dade civil locais.

Ecoturismo de base comunitária Desenvol-vimento de uma unidade de negócio formada e administrada por jovens, capacitados como monitores de ecoturismo.

Abelhas nativas implantação em cinco co-munidades da tecnologia de Meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão nativas da Ama-zônia). O público preferencial deste projeto são

mulheres e jovens.

Entre os resultados cabe destacar o trabalho com os jovens, que alcançou seu principal objetivo: a melhora da auto-estima a partir

de iniciativas de conscientização ambiental.

É notória a afirmação da cidadania nos jovens que participaram do curso de agentes ambien-tais, ecoturismo e/ou no projeto de Abelhas Nativas. Ao todo, mais de 120 jovens partici-param de alguma atividade do projeto. Ainda como parte do projeto de Educação Ambiental,

as capacitações comunitárias em legislação ambiental colaboraram para a formação de uma consciência coletiva a respeito da Reserva Extrativista (Resex) e sua função social.

O trabalho dos pesquisadores do Museu Para-ense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará constitui-se em acervo valioso sobre a região, principalmente no que se refere à elaboração de políticas públicas sobre a gestão das unidades de conservação.

O projeto do Museu do Mangue segue os preceitos de um Ecomuseu. Sua concepção foi realizada a partir de narrativas orais de mora-dores de Curuçá.

O Fórum da Agenda 21 Local das comunidades de Curuçá foi implantado. É uma iniciativa que merece ser acompanhada por seu caráter inovador e desafiador.

A Clínica de ONGs, apesar de suas metas terem sido alcançadas, apresenta-se como um dos maiores desafios do programa. Os resultados permitem conjecturar que é necessária outra abordagem, mais participativa, e que outras ferramentas devem ser trabalhadas. Ao Peabiru permitiu rever seu programa de capacitação de ONGs, realizado em diversos locais do Pará.

O Ecoturismo é um resultado extra do progra-ma, uma vez que não constava em seu plane-jamento inicial. Os ajustes posteriores, a partir de demandas locais resultaram no projeto que,

provavelmente, alcançou mais rápidos resulta-dos, mesmo com limitados recursos. Um dos indicadores deste trabalho de formação de mo-nitores em ecoturismo é a criação pelos jovens capacitados de uma ONG, o Instituto Tapiaim.

O trabalho com as abelhas nativas também não era previsto inicialmente e se constituiu em ou-tro bom resultado da Casa da Virada. O público de mulheres e jovens das cinco comunidades está motivado e o projeto contribui para a mobilização social nas comunidades, melhora da auto-estima e conscientização ambiental dos participantes, e futura geração de renda complementar para as famílias envolvidas.

A proposta metodológicaAo longo de seus onze anos, o Instituto Peabiru aprimorou uma abordagem para a ação social visando o desenvolvimento local que compre-ende a economia local, a cidadania, a cultura e o fortalecimento institucional das organizações da sociedade civil. A intenção é desenvolver as áreas do conhecimento de maneira integrada em um Centro de Cultura da Floresta Tropical. Entende-se cultura da floresta tropical como o conjunto de conhecimentos acumulados pelas civilizações que ocuparam a região em seus diversos momentos.

Esta abordagem, recém batizada de “Casa da Virada”, significa implementar, simultaneamen-

A Amazônia, o Peabiru e a Casa da Virada

Page 4: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

6

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

7

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

privada e da opinião pública prefere tratar dos efeitos – a malária, a dengue, a desnutrição, a violência, a prostituição, o desemprego, os baixos salários, a queimada e o desmatamen-to – e não das verdadeiras causas – a falta de conhecimento e acesso aos direitos básicos, a má distribuição de renda, o acesso injusto à educação e aos serviços públicos, além da sub-serviência aos ditames dos interesses globais por carne barata, carvão vegetal para as side-rurgias, energia subsidiada e água exportada

na forma de grãos e carnes.

No meio rural, provavelmente o maior desafio seja oferecer respostas adequadas ao rápido avanço da pecuária bovina extensiva. Em 50 anos o Brasil transferiu para a região mais de 1/3 de seu rebanho bovino (75 milhões de cabeças). Entre as consequências imediatas estão: Brasil campeão mundial de desmata-mento e de queimadas, e o Brasil como 5o maior emissor de gases que contribuem para

o aquecimento global.

As perspectivas são sombrias: de um lado, a pecuária e a soja avançam sem que minima-mente sejam respeitadas a moderna legislação trabalhista e ambiental, e de outro, ensaia-se um novo ciclo de infra-estrutura, mineração e metalurgia sem precedentes, com a perspecti-va de investimentos, em cinco anos, de mais de US$ 100 bilhões, volumes superiores aos dos

últimos 500 anos.

É possível aliar sustentabilidade, mineração e negócios rurais? Como substituir as atividades não sustentáveis antes que estas nos destru-am e à Amazônia? De que maneira garantir os direitos básicos aos cidadãos da Amazônia, especialmente educação, emprego e renda, e, em particular garantir os direitos de acesso aos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade?

A decisão do Peabiru é contribuir primeira-mente para restaurar a auto-estima, contribuir para a geração de renda de forma sustentável e para a recuperação das paisagens naturais da Amazônia mais devassada. É neste sentido que o Peabiru prioriza o Nordeste Paraense e, parti-cularmente seu litoral. É na região do Salgado, entre outros municípios, Curuçá, onde a ação do Instituto se desenvolve.

te, iniciativas para a elevação da auto-estima, a conservação da cultura e da biodiversidade, o resgate da cidadania, a geração de emprego e renda, bem como o fortalecimento do tecido social a partir das associações comunitárias. O termo “Virada” é invenção dos pescadores de Curuçá. Quando vão em busca de seu sustento do mangue ou da maré dizem que vão para a “virada”. Ao mesmo tempo, Virada significa mudar de vida, “o ano da virada”, “o gol da virada”, dia 31 de dezembro, dia de se preparar para novos desafios, renovar esperanças.

A AmazôniaNa Amazônia brasileira mais de 10% da popula-ção é considerada como população tradicional – índios, quilombolas e caboclos. São dois mi-lhões de ribeirinhos, seringueiros, pescadores artesanais, quebradeiras de coco, pequenos agricultores etc., que vivem em cerca de 30 mil comunidades, além de mais de 220 mil índios de mais de 180 Nações.

Compartilhada por oito países, a Amazônia é uma das últimas regiões naturais do planeta. Em 5% da superfície terrestre provavelmen-te detenha mais de 1/3 da biodiversidade global. É reconhecida como fundamental para o equilíbrio climático da Terra, além de ser o maior reservatório natural de água doce superficial. Historicamente, o Brasil relegou a

região ao segundo plano, concebendo-a como fonte inesgotável de terras e matérias primas, desrespeitando suas populações, praticando sistematicamente a pilhagem e a ocupação de forma desordenada e violenta. A partir de 1964 a Amazônia é interligada por estradas ao nordeste e centro-sul do país, a migração é fortemente estimulada, atraindo mais de um milhão de famílias, e os incentivos fiscais atraem indústrias a Manaus, incentivam a pecuária bovina extensiva e a constituição de alguns dos maiores pólos minero-metalúrgicos do planeta.

Graças a diversos fatores, entre os quais estão a impunidade, a ausência de Estado, a cor-rupção, ao coronelismo vigentes, bem como a incompreensão do que verdadeiramente repre-senta a sociedade e a natureza da Amazônia, a região pouco avança em termos sociais.

Em termos ambientais o resultado é catas-trófico, tornando o Brasil o vilão ambiental do momento. Em menos de meio século a Amazônia perde algo próximo a 17% de sua cobertura vegetal – área superior a 70 milhões de hectares. O que aparenta ser de pequenas dimensões, corresponde a uma superfície igual à soma das áreas dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Em vez de atacar o problema de frente, a maior parte do poder público, da iniciativa

Page 5: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

8

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

9

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

deste do Pará, tanto no Salgado Paraense como na Zona Bragantina.

O mangue é a fonte de alimentação e de renda para mais de 30 mil famílias de pescadores do Salgado, distribuídos em centenas de comuni-dades tradicionais. Mesmo sabendo-se que os manguezais representem apenas 1,87% do bio-ma amazônico, o IBAMA/ICMBIO os considera entre as áreas mais frágeis e ameaçadas, por se tratar de ambientes de menor resiliência e sus-cetíveis à ação do homem. É possível que mais de dois terços das espécies marinhas depen-dam, de alguma forma, desses ecossistemas.

Os manguezais de Curuçá estão entre os mais preservados da região, apresentam dezenas de espécies de peixes e estão na rota de aves migratórias. A captura de mariscos, camarões, caranguejos e peixes na região aumenta rapi-damente em consequência da exaustão desses recursos em outras partes do país. Para evitar o colapso destes ecossistemas é preciso estabe-lecer sistemas sustentáveis de manejo.

A partir da demanda das mais de 50 comuni-dades do município, alijadas do processo de desenvolvimento, foi criada em 2002 a Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá. Com 37.062 hectares, a Resex protege igarapés, restingas, manguezais e baías, principal fonte de sobrevi-vência e renda de cerca de seis mil famílias de pescadores e pequenos agricultores.

O Instituto Peabiru

O Peabiru é uma Organização da Socieda-de Civil de Interesse Público – OSCIP, com a missão de gerar valores para a conservação da biosociodiversidade da Amazônia.

Desde sua criação em 1998, praticamente me-tade de sua história está relacionada a ações no centro-sul do Brasil e, nos últimos cinco anos, desde que sua sede foi transferida para Belém, Pará, a atenção é para a Amazônia.

Em termos de impacto são mais de 110 projetos realizados, 11 projetos em andamento e ações diretas em mais de 15 municípios nos Estados do Amapá, Amazonas, Pará e São Paulo.

O Peabiru conta com uma assembléia geral de 28 sócios pessoas físicas brasileiras, um con-selho diretor de nove membros e um conselho fiscal de três membros titulares. As ações são conduzidas por uma equipe com cerca de 23 pessoas, distribuídas em seus 6 escritórios (Belém – sede, Curuçá, Juruti, Macapá, São Paulo e Tailândia).

O público preferencial são tanto as associações de moradores e produtores de comunidades tradicionais da Amazônia, como as empresas interessadas em sustentabilidade e responsa-bilidade social empresarial (RSE).

Mapa das comunidades de Curuçá.

Curuçá e a região do SalgadoO Peabiru atua estrategicamente na região do Salgado no Pará, e, em particular, em Curuçá, motivado pela forte pressão sobre os recur-sos naturais; pela necessidade de atender os pescadores locais na busca de realizar o manejo racional desses recursos; pela situação crítica dos recursos hídricos; e pelo grau de relevância que as áreas úmidas (especialmente os manguezais) representam para o futuro da região, para o equi-líbrio ambiental do planeta e para a sobrevivência das comunidades tradicionais. Igualmente impor-tante é a ameaça que paira sob a região com a construção de mega-empreendimentos, como um porto flutuante proposto pela Anglo american e o porto off-shore do Espadarte.

Segundo o IBGE (2007 e 2000), Curuçá tem 33.768 habitantes. Desses, 20.741 vivem em áreas rurais. Apenas 25,5% das casas têm fossa séptica ou são ligadas à rede geral de esgoto. 22,2% têm acesso ao serviço de coleta de lixo e 12,2% da população é analfabeta. Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, o IDH de Curuçá é de 0,709; o IDH-Renda é de 0,561 com 74,1% da população, considerada pobre.

Entre Belém, no Pará, e São Luís, no Maranhão, estão os mais extensos, complexos e biodiversos manguezais do planeta. Na Costa Norte brasileira (MA, PA e AP) concentra-se 85% dos manguezais do país, dos quais 270.000 hectares no litoral nor-

Page 6: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

10

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

11

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

Local é um excelente meio da sociedade/comu-nidade exigir a execução de políticas públicas capazes de garantir melhorias na qualidade de vida e no fortalecimento da cidadania.

Agenda 21 – MetodologiaO processo de construção de uma Agenda 21 Local pode ser realizado de distintas maneiras. Contudo, três são os pilares fundamentais: sensibilização, mobilização e articulação dos diversos atores sociais interessados. A integra-ção das dimensões social, cultural, econômica, ambiental e político-institucional também é fundamental.

A iniciativa pode surgir tanto do poder público, quanto da sociedade, apesar de, frequente-mente, o grupo que lidera o processo encon-trar-se associado ao grupo político que ocupa o cargo público correspondente (municipalidade, estado). Este é um ponto crítico do sucesso ou não de muitos processos.

O primeiro passo é criar um pequeno grupo co-ordenador pioneiro, com a missão de planejar e executar os primeiros passos do processo. Este grupo inicia negociações com parceiros estratégicos, divulga o projeto e começa a sistematizar informações sobre algumas das questões básicas a serem tratadas. Idealmen-te, o grupo deve ser composto paritariamente por membros do poder público e da sociedade

civil. O Ministério do Meio Ambiente (MMA), em seu manual Passo a Passo da Agenda 21 Local, sugere seis passos que o grupo deve seguir para a construção da Agenda 21 Local, são eles:

1º Mobilizar para sensibilizar Governo e Sociedade

Para tornar-se um instrumento de transforma-ção social, a Agenda 21 necessita, desde o iní-cio, que seus conceitos e pressupostos sejam difundidos junto à comunidade; é necessário que os diversos atores locais sejam sensibi-lizados sobre a relevância do processo. Só o empoderamento da associação de moradores, movimentos sociais, sindicatos, comunidades escolares, associações patronais, entidades dos setores produtivos urbanos e rurais, ins-tituições públicas etc. garante a perpetuação do processo.

2º Criar o Fórum da Agenda 21 Local

O Fórum será o espaço de debates e propo-sições. Suas atribuições vão desde definir os princípios e as premissas a serem seguidos na construção da Agenda Local, selecionar os temas prioritários a serem trabalhados, a coor-denar a elaboração de projetos para o cenário futuro desejado. Normalmente, o Fórum é com-posto por diversos grupos de trabalho, criados

A Agenda 21 Global originou-se na Eco 92 (Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, ocorrida no Rio de Janeiro em 1992). É pro-vavelmente o resultado mais importante da Conferência: uma tentativa de reconciliar o desenvolvimento econômico com as preocupa-ções ambientais.

Este documento, assinado por 179 países, inclu-sive o Brasil, pretende guiar as ações na direção do desenvolvimento sustentável global. É um plano estratégico que serve como parâmetro para a formulação de políticas e práticas para a sustentabilidade. Nesse sentido, faz-se necessá-rio ratificar que a Agenda 21 é uma agenda para o desenvolvimento sustentável, ou seja, não se restringe somente a questões ambientais. A erradicação da pobreza é um de seus principais temas, por exemplo.

A Agenda 21 Global se apresenta em 4 seções, divididas em 40 capítulos. As seções são: (1) Di-mensões sociais e econômicas; (2) Conservação e gerenciamento dos recursos para o desenvol-vimento; (3) Fortalecendo o papel dos principais grupos sociais; (4) Meios de implementação.

A Agenda 21 BrasileiraEntre 1997 e 2002, debates públicos com pelo menos 40 mil pessoas em 26 estados e no Dis-

trito Federal fundamentaram a elaboração da Agenda 21 Brasileira. O documento apresenta 21 eixos prioritários que refletem as diretrizes gerais, princípios e propostas de políticas públicas.

A Agenda também especifica as ações e me-didas necessárias para posicionar o Brasil no rumo do desenvolvimento sustentável. Engloba as vertentes: ecológica, ambiental, social, polí-tica, econômica, demográfica, cultural, institu-cional, espacial, nova ética e capital social.

A Agenda 21 LocalNo seu capítulo 28, a Agenda 21 Global apre-senta a importância das autoridades desen-volverem Agendas 21 Local. A coordenação da Agenda 21 Brasileira elegeu essa ação como prioritária; dentre outros motivos, pelas dimen-sões continentais do Brasil.

A Agenda 21 Local é um processo contínuo de planejamento participativo para o desen-volvimento sustentável. Esse plano deve ser resultado de vasta consulta à população. Este processo é obtido por meio de reuniões públicas de consenso e compromisso, com todos os atores e grupos sociais opinando e cooperando.

Por ser construída de forma participativa e las-treada por processo democrático, a Agenda 21

A Agenda 21

Page 7: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

12

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

13

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

De Olho no AmbienteComo dito acima, o projeto De Olho no Ambien-te buscou criar em comunidades do entorno de unidades de negócios da Petrobras em 17 Estados brasileiros fóruns de Agenda 21 Local. No Pará, o Peabiru foi convidado a trabalhar em cinco comunidades da periferia de Belém: Barreiro, Paraíso dos Pássaros, Park Verde, Promorar e Providência. No entanto, a implan-tação do Fórum da Agenda 21 nessas comuni-dades era a última etapa do projeto.

Em sua metodologia própria, o De Olho no Ambiente buscava primeiro fortalecer o tecido social da comunidade para, somente assim, implantar o Fórum com a participação dos demais atores sociais (Poder Público, empresa-riado etc.). A metodologia, desenvolvida pela Fundação José Pelúcio, do Rio de Janeiro, para o projeto, sugere cinco etapas:

O Peabiru abraçou a proposta de imediato, principalmente por seu caráter comunitário. Ao comparar as etapas do De Olho no Ambien-

te com os passos sugeridos pelo MMA, perce-be-se que a instalação do fórum, no primeiro, ocorre após um processo de autoconhecimento e planejamento prévio da comunidade. Vale esclarecer que não há juízo de valor nessa comparação, mesmo porque são metodologias de naturezas distintas. Pode-se dizer que são até mesmo complementares.

O Passo a Passo do MMA pressupõe uma construção conjunta de sociedade civil e poder público; no entanto, se a sociedade civil não se apoderar do processo, o mesmo torna-se frágil. É nesse sentido que a metodologia do De Olho no Ambiente o completa: preparando o terreno para a instalação do Fórum. Contudo essa metodologia não deve ser considerada uma fase anterior de um processo de construção de Agenda 21 Local.

Etapa 1 Processo de Sensibilização Comunitária

A etapa de sensibilização foi realizada basica-mente em dois eventos principais. Um para as lideranças e outro para a comunidade.

Na reunião com as lideranças, é importante convidar as lideranças comunitárias formais e naturais (inclusive jovens, mulheres, religiosos, professores etc.). É igualmente importante ter como parceiros os meios de comunicação

para envolver os mais variados segmentos interessados nos temas escolhidos. O principal objetivo do Fórum é elaborar, implementar, monitorar e avaliar o Plano Local de Desenvol-vimento Sustentável.

3º Elaborar o Diagnóstico Participativo

Um diagnóstico bem feito é essencial para qualquer processo de planejamento. O diagnóstico deve ser participativo desde a escolha da metodologia de pesquisa. Discutir e levantar a percepção dos grupos locais sobre as políticas públicas, projetos em andamento e principais problemas e potencialidades é essencial. Além de realizar o levantamento detalhado de dados e informações é importan-te sistematizar as análises já realizadas sobre o local.

4º Elaborar Plano Local de Desenvolvimen-to Sustentável (PLDS)

Com o diagnóstico em mãos, os membros do Fórum, a partir das prioridades percebidas, elaboram o PLDS. O documento é uma estraté-gia clara e concisa que identifica as principais questões e metas para a área; especifica os objetivos temáticos; e determina os papéis, funções e responsabilidades de todos os agen-tes e organizações envolvidos, determinando

prazos e formas de medir o desempenho e o progresso das ações.

5º Implementar o Plano Local de Desenvol-vimento Sustentável

Como dito acima, o processo de construção da Agenda 21 Local é contínuo, representa um círculo virtuoso de empoderamento do tecido social. Os instrumentos previstos no plano devem ser constantemente ativados e revistos.

6º Monitorar e Avaliar o Plano Local de Desenvolvimento Sustentável

Avaliar implica em trabalhar as seguintes eta-pas: medir continuadamente os indicadores; comparar os resultados reais e os resultados esperados; tomar decisão sobre medidas corretivas que reduzam falhas e aumentem a eficiência, ou seja, um procedimento contínuo e integrado.

Etapa 1 Processo de Sensibilização Comunitária

Etapa 2 Pesquisa de campo

Etapa 3 Diagnóstico Sócio-Ambiental

Etapa 4 Reuniões Temáticas

Etapa 5 Fórum da Agenda 21 Local

Page 8: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

14

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

15

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

dia 1o de setembro de 2006, na Festividade de São Benedito.

Aproveitou-se a concentração popular para se informar sobre o projeto ao longo da festivi-dade. No salão da Igreja ocorreu uma apre-sentação mais completa sobre o projeto, sua importância, seus objetivos; falou-se da indis-pensável parceria com a comunidade e que sem esta o projeto não seria viável. A comunidade mostrou-se entusiasmada com o projeto e com-prometeu-se a se mobilizar e a ajudar no que fosse necessário, inclusive informando para os outros moradores que haveria agentes comuni-tários aplicando uma pesquisa na comunidade e a importância de atendê-los e responder a seus questionamentos corretamente.

Por sua vez, no Promorar, o evento foi uma ses-são de cinema. A apresentação aconteceu na Associação dos Moradores do Conjunto Promo-rar em 4 de setembro de 2006, às 19h30min. O filme escolhido foi “Vida de Inseto” que conta a história de união, mobilização e esperança de uma comunidade de formigas que sonham com um futuro melhor. Mais de 60 pessoas partici-param do evento.

Etapa 2 Pesquisa de campo Nessa etapa, o primeiro trabalho da equipe do Peabiru foi o mapeamento das ruas, ou arru-amento. A própria comunidade realizou esse levantamento da quantidade de residências. O arruamento então foi enviado para a Fundação José Pelúcio, que estatisticamente determinava em quais casas a pesquisa deveria ser realizada.

Um questionário padrão foi desenvolvido pela Fundação José Pelúcio para o projeto, sob orientação da Petrobras. O questionário foi aplicado em 350 casas por comunidade, ou seja, em comunidades maiores, a pesquisa era amostral, em comunidades bem pequenas, tornava-se um censo. No Pará, todas as comu-nidades tinham mais que 350 residências.

O questionário era composto por 51 questões que se agrupavam em Dados pessoais; Dados da família; Moradia; Infraestrutura e serviços; Qualidade de vida e Capital social. Por ser pa-drão, algumas questões e nomenclaturas não se aplicavam a realidade das comunidades do Pará; no entanto, para uma análise compara-tiva de amplitude nacional sobre seu entorno, entende-se a escolha da Petrobras.

Para a aplicação dos questionários, 18 jovens de cada comunidade foram escolhidos, a partir de critérios pré-determinados pelo Peabiru,

locais, especialmente as rádios comunitárias. No Paraíso dos Pássaros, por exemplo, o traba-lho iniciou com o mapeamento das lideranças comunitárias, inclusive jovens, grupos de mu-lheres (cooperativa de costureiras) e artesãos. Para o mapeamento e a posterior mobilização dessas lideranças foi fundamental o trabalho do grupo Movimento Missão Jovem, sob a liderança do jovem Alex.

Em todos os encontros, temas como meio ambiente, cidadania, responsabilidade social foram debatidos. Problemas relacionados à segurança pública, emprego e renda eram imediatamente levantados como prioritários pelas lideranças, demonstrando certa seme-lhança entre os problemas das comunidades. Nas reuniões, procuraram-se sugestões de como engajar a comunidade no processo da Agenda 21.

No fim, formava-se uma comissão de lideran-ças disposta a atuar no projeto, como ponto focal do Peabiru na comunidade. Estas equipes se comprometeram a levantar o histórico da co-munidade, suas origens e fases, fatos marcan-tes da sua história etc.; e a mobilizar os demais moradores para as atividades do projeto. Essas reuniões aconteceram em centros comunitá-rios, associações de moradores e igrejas.

O objetivo do encontro com as lideranças era sensibilizar sobre a relevância do processo. Após a explanação da equipe do Peabiru,

perguntava-se aos presentes se eles deseja-vam o projeto na comunidade. Em todas as comunidades a resposta foi positiva. A seguir, deixava-se claro que aquele processo deveria ser construído pela comunidade e que o papel do Peabiru era o de ser um facilitador. Os ques-tionamentos mais frequentes relacionavam-se aos benefícios imediatos que a Agenda 21 traria. Explicava-se, então, que a Agenda 21 é um instrumento como outro qualquer (martelo, serrote ou enxada); se guardado, não constrói nada, mas se for usado, pode produzir muitos bens. Outra resposta utilizada valorizava a união da comunidade para cobrar política pú-blica; união incentivada pela Agenda 21.

O momento seguinte consistia em apresentar o projeto para a comunidade. No entanto, entre esses dois momentos “maiores”, houve uma série de momentos “menores” de sen-sibilização. Esses pequenos momentos são muito importantes para o desenvolvimento do processo. Quinze minutos em uma missa, um culto ou em uma reunião de moradores têm um potencial de multiplicação inimaginável, em muitas vezes superior ao de momentos maiores.

Para o evento de apresentação para a comu-nidade, há inúmeras possibilidades como atividades culturais e esportivas. No Barreiro, por exemplo, a apresentação para a comuni-dade aconteceu na Igreja de São Benedito no

Page 9: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

16

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

17

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

É indispensável que a equipe do projeto comunique claramente para a comunidade que a pesquisa serve para embasar e lastrear suas reclamações, desejos e demandas. É igualmen-te importante que a comunidade se veja nos resultados da pesquisa.

Etapa 4 Reuniões Temáticas Essa etapa começou com um novo trabalho de mobilização social para a participação nas reuniões temáticas.

As reuniões aconteceram basicamente nas escolas (no Park Verde, no centro comunitário). Após breve apresentação do projeto e suas fases, a equipe do Peabiru explicava o objetivo do evento e sua metodologia.

A dinâmica do Muro das Lamentações foi utili-zada. Pedaços de papel são distribuídos para os participantes lamentarem os problemas de suas comunidades. Nas Reuniões Técnicas, foi sugerido que se escrevessem três problemas ligados aos respectivos temas. Terminado o tempo estipulado para as lamentações, grupos foram formados.

Cada grupo deveria escolher um relator, o que, na maioria das vezes, ficava a cargo de um membro da equipe de coordenação do projeto. Uma matriz lógica simples foi apresentada aos grupos. As reuniões transcorreram de forma bastante participativa e democrática, duraram em média quatro horas. No fim de cada evento, todos os grupos apresentavam suas matrizes para serem validadas por todos.

O Peabiru sistematizou todas as informações do projeto para a formatação do documento

comissão e representantes das escolas. Os jovens, denominados agentes comunitários, receberam treinamento específico para a pesquisa. No treinamento, eles também viram conceitos relacionados à cidadania e ao meio ambiente; a importância do projeto para a comunidade foi destacada.

O questionário padrão foi lido e explicado em detalhes. Em seguida, os jovens aplicaram os questionários uns nos outros. Concluído o treinamento, foram distribuídas as casas que seriam entrevistadas. Foi acordado o prazo de 25 dias para a entrega dos questionários. A responsabilidade pela supervisão dos trabalhos ficou a cargo da comissão de cada comunidade. O treinamento terminou com um lanche.

Em todas as comunidades, a aplicação dos questionários durou o tempo estipulado. Pelo relato dos agentes não houve grandes dificul-dades. A tabulação foi formatada pela equipe do Peabiru em uma planilha eletrônica do Microsoft Excel para facilitar a posterior análise e diagnóstico. O trabalho, em média, durou 20 dias. Os agentes comunitários receberam certificado de participação.

Etapa 3 Diagnóstico Sócio-Ambiental As grandes insatisfações relatadas pela comu-nidade até aquele momento foram confirmadas na pesquisa. Para a elaboração do diagnóstico, gráficos com os resultados da tabulação foram montados. Juntamente com a comissão comu-nitária, os temas prioritários foram escolhidos para serem debatidos na etapa seguinte. Segurança pública, saúde, geração de renda, abastecimento de água e pavimentação das ruas foram selecionados como prioritários na maioria das comunidades.

No Barreiro, por exemplo, a pesquisa consul-tou a satisfação dos entrevistados sobre os aspectos Atendimento de saúde, Atendimento ao portador de deficiência, Assistência social, Creche, Qualidade de ensino e Cursos de qua-lificação profissional. Depois estes aspectos foram classificados em grau de importância. Segundo a pesquisa: 73,7% dos entrevista-dos consideraram o acesso ao atendimento de saúde como o mais importante para a comunidade, no entanto a avaliação Regular/Ruim sobre este aspecto ultrapassa os 78% dos questionários. Esse aspecto deveria ser observado atentamente já que mais de 90% dos entrevistados dependia do serviço público de saúde, como mostram os gráficos:

Qual destes aspectos você considera o mais importante?

Atendimento de saúdeAtendimento ao portador de deficiênciaAssistência social (ou ações sociais)CrecheQualidade de ensinoCursos de qualificação profissional

Com relação ao local onde você vive, avalie os seguintes aspectos:Atendimento da Saúde

BomRegular

RuimNão existeNão sabe

Em caso de doença a que serviço de saúde recorre?

Posto de saúdeMédico do plano de saúdeHospital públicoHospital privadoFarmáciaNenhumOutros

Page 10: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

18

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

19

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

Casa da Virada – Agenda 21 das comunidades de CuruçáO projeto Agenda 21 das comunidades de Curuçá foi concebido quase que simultane-amente ao início dos trabalhos do Petrobras De Olho no Ambiente. No entanto, seu início ocorreu somente um ano depois. Esse contexto é importante para explicar a significativa mu-dança ocorrida entre o planejamento inicial e a execução do projeto. Inicialmente, o plano era bastante simples. Suas metas eram:

> Realizar 12 seminários temáticos de discus-são da Agenda 21 das comunidades de Curuçá;

> Produzir relatório das demandas comunitá-rias para ser incorporado ao Fórum da Agenda 21 municipal e regional;

> Produzir grande evento para apresentar relatório da Agenda 21 das comunidades para as autoridades.

Originalmente previa-se, em parceria com a AUREMAG - Associação dos Usuários da RESEX Mãe Grande de Curuçá - , associada à rede de rádios comunitárias locais, mobilizar os repre-sentantes das 52 comunidades (mapeadas na implantação da RESEX Mãe Grande de Curu-çá) para, em 12 eventos temáticos, produzir relatórios sobre as questões mais importantes de Curuçá. Os relatórios reunidos seriam en-

tregues na forma de livreto às autoridades em evento de implantação do Fórum da Agenda 21 de Curuçá.

Logo no inicio da Casa da Virada, em março de 2007, percebeu-se que a estratégia deveria ser modificada, por dois aspectos:

> O plano não representaria a construção participativa da Agenda 21, com as demandas e sonhos comunitários especificados por um processo lastreado na participação e vontade da maioria.

> O plano também não valorizava a metodolo-gia Petrobras De Olho no Ambiente e a experi-ência adquirida pelo Peabiru na execução dessa metodologia nas comunidades de Belém.

Decidiu-se então pelo aproveitamento da experiência adquirida no projeto Petrobras De Olho no Ambiente, adaptando-se algumas etapas para melhor atender ao universo de 52 comunidades rurais. O novo plano foi construí-do segundo as seguintes fases:

denominado Agenda 21 Local de cada co-munidade. As matrizes sistematizadas, por exemplo, foram a base do plano de ação apresentado no documento. A versão prelimi-nar era discutida, revisada e aprimorada com a comissão comunitária. O documento final foi dividido nos seguintes capítulos:

Agenda 21 Global

Agenda 21 Local

Princípios da Agenda 21

Resgate da Memória Local

Descrição do processo de todas as etapas

Diagnóstico Sócio-Ambiental

Definição dos Temas

Parceiros e Participantes

Plano de Ação

Etapa 5 Fórum da Agenda 21 Local O ponto crítico desta etapa era a mobilização dos representantes do Poder Público. Uma lista de autoridades foi formada pelo Peabiru com apoio da comunidade. A unidade da Petro-bras (Transpetro), responsável pelo projeto localmente, foi acionada e sua colaboração foi

fundamental nesta mobilização. Além dos con-vites institucionais enviados pela Transpetro, o Peabiru focou e reforçou o convite a repre-sentantes indispensáveis ao desenvolvimento efetivo do Fórum. A mobilização da comunida-de ficou a cargo da comissão que se dedicou com afinco na mobilização.

Apesar de todos os esforços, em nenhuma das cinco comunidades houve presença significa-tiva do poder público. Os representantes que compareceram não tinham poder deliberativo em suas secretarias e órgãos. No entanto, estes se mostravam bastante dispostos a “ouvir a comunidade” e levar as demandas aos seus superiores. Nesse sentido, o evento ficou simbolizado como um primeiro passo de articu-lações e negociações com o poder público.

Nos eventos, uma comissão de 5 pessoas era formada para representar o Fórum nesse primeiro momento e acompanhar o trabalho do Peabiru de finalização do documento Agenda 21 Local que seria entregue em momento posterior.

Essa primeira fase do projeto De Olho no Ambiente se encerrou com um evento de entrega das Agendas para as comissões das comunidades.

Fase 1 Sensibilização e Pesquisa com Lideranças

Fase 2 Pesquisa de campo

Fase 3 Reuniões Temáticas

Fase 4 Fórum da Agenda

Page 11: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

20

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

21

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

Fase 2 Pesquisa de campo

Da mesma maneira que praticado no Projeto Petrobras De Olho no Ambiente, o trabalho ini-ciou-se com o reconhecimento da quantidade de casas e ruas das 52 comunidades pesqui-sadas. Um trabalho de difícil execução, porém, pioneiro em Curuçá, que identificou a seguinte quantidade de casas por comunidade:

Comunidade Nº de Casas

Acampa 50

Acaputeua Grande 65

Acaputeuazinho 59

Água Boa 16

Algodoal 40

Ananim 143

Andirá 37

Arapiranga 94

Arapiranga de fora 12

Araquaim 288

Arupí 57

Beira-Mar 88

Boa Vista do Iririteua 200

Boa Vista do Muriá 16

Bom Jesus (Taperinha) 54

Cabeceira 54

Caju 116

Candeua 104

Comunidade Nº de Casas

Caratateua 250

Coqueiro 74

Cumeré 21

Curuperé 209

Iririteua 142

Itajuba 74

KM 42 344

KM 50 195

KM 58/Membeca 145

Lauro Sodré 91

Livramento 122

Marauá 135

Marauazinho 70

Murajá 269

Muriazinho 61

Mutucal 236

Nazaré do Mocajuba 93

Nazaré do Tijoca 138

Comunidade Nº de Casas

Nova Canaã 45

Pacamorema 70

Pauxis 9

Pedras Grandes 80

Pindorama 35

Pingo D’água 39

Pinheiro 23

Piquiateua 52

Ponta da Rua 66

Recreio 35

Santo Antônio do Tijoca 155

São João do Ramos 78

São Pedro 259

Simoa 67

Tucumateua 25

Valentim 110

Total 5.310

Assistentes da Agenda 21 entrevistam

lideranças comunitárias.

Fase 1 Sensibilização e Pesquisa com Lideranças Inicialmente realizou-se o mapeamento das 52 comunidades. Nas visitas às comunidades, as lideranças foram identificadas e o conceito da Agenda 21 lhes foi apresentado. A Ficha de Levantamento de Temáticas foi aplicada para cada líder comunitário. A ficha procurava detalhar a infra-estrutura da comunidade, as principais organizações e lideranças atuantes, bem como realizar o levantamento preliminar das principais necessidades da comunidade, na visão da liderança local.

Esse levantamento inicial apresentou a seguinte situação:

EDuCAçãO 88,46% das comunidades possuem escola de ensino infantil e fundamental até 4ª série; e 15,38% possuem escola de ensino fundamen-tal até 8ª série; A única escola de ensino médio está localizada no núcleo urbano de Curuçá. SAúDE

53,84% das comunidades possuem posto de saúde; No entanto, em 25% delas o serviço do posto é precário (falta pessoal, infra-estrutura e remédios).

LIxO

98,07% das comunidades queimam ou enter-ram seu lixo, pois não há coleta;

ACESSO

Em 17,3% das comunidades o acesso é pavimentado;

Em 69,23% das comunidades o acesso é de terra;

Em 13,47% das comunidades o acesso é fluvial. ENErGIA ELétrICA

92,3% das comunidades possuem Rede de Energia Elétrica.

Page 12: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

22

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

23

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

As prioridades levantadas nas reuniões foram agrupadas por temas e tabuladas. No fim, os 12 temas mais presentes foram:

A aplicação do questionário padrão do Petro-bras De Olho no Ambiente foi substituída por um diagnóstico rápido participativo, comple-mentado com a dinâmica de grupo de mapea-mento social. A pesquisa para diagnosticar a realidade das comunidades foi feita em reuni-ões comunitárias. Aqui vale destacar o árduo trabalho de mobilização em todas as comuni-dades. Afinal o objetivo era organizar reuniões representativas em todas as 52 comunidades mapeadas.

As reuniões ocorreram, em sua maioria, nos centros comunitários. A dinâmica consiste em os moradores, divididos em grupos, desenha-rem sua comunidade, apresentando principal-mente os recursos naturais e a infra-estrutura. Neste processo, os grupos identificavam no

desenho os principais pontos positivos e negativos de suas comunidades. Terminado o exercício, cada grupo apresenta seu desenho e os pontos são colocados em mural. Depois da apresentação de todos, os pontos são votados e escolhidas as prioridades da comunida-de. Para encerrar, é formada uma comissão comunitária (em média com a participação de 5 membros da comunidade) para participar das reuniões temáticas da fase seguinte.

Nesta fase, a equipe de mobilização visitou 39 comunidades. Destas, em 30 ocorreram as reuniões de construção de diagnóstico; em 18, o diagnóstico veio acompanhado do mapa. Foram aproximadamente 60 reuniões com 379 participantes. As comunidades que desenvolve-ram o diagnóstico são as seguintes:

Comunidade

1 Acaputeua Grande

2 Acaputeuazinho

3 Água Boa

4 Algodoal

5 Ananim

6 Arapiranga de Fora (com Mapa)

7 Araquaim (com Mapa)

8 Arupí (com Mapa)

Comunidade

9 Beira Mar (com Mapa)

10 Bom Jesus

11 Cabeceira

12 Cajú (com Mapa)

13 Candeua

14 Caratateua (com Mapa)

15 Coqueiro (com Mapa)

16 Cristo Alves - KM 50 (com Mapa)

Comunidade

17 Cumeré (com Mapa)

18 Curuperé

19 Itajuba (com Mapa)

20 Lauro Sodré (com Mapa)

21 Livramento (com Mapa)

22 Marauzinho

23 Muriazinho

24 Nova Canaã (com Mapa)

Comunidade

25 Pauxis (com Mapa)

26 Pindorama

27São João da Ponta de Ramos (com Mapa)

28 São Pedro (com Mapa)

29 Simõa (com Mapa)

30 Valentim (com Mapa)

Tema Escolhido por %

Trabalho e Geração de renda 23 Comunidades 25,6

Saúde 21 Comunidades 23,3

Educação 18 Comunidades 20,0

Transporte 14 Comunidades 15,6

Situação fundiária 3 Comunidades 3,3

Iluminação e energia 3 Comunidades 3,3

Abastecimento de água 3 Comunidades 3,3

Socialização comunitária 1 Comunidade 1,1

Segurança pública 1 Comunidade 1,1

Lazer e entretenimento 1 Comunidade 1,1

Saneamento básico 1 Comunidade 1,1

Comunicação 1 Comunidade 1,1

Reunião comunitária.

Exemplo de mapa realizado pelas Comunidades.

Page 13: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

24

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

25

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

A comissão foi composta por:

Essa comissão se reuniu, no escritório do Peabiru em Curuçá, nos dias 19 e 26 de junho de 2009, e preparou a proposta de regimento interno do Fórum, votada no dia 4 de julho de 2009 na 1ª. Assembléia do Fórum da Agenda 21 das comunidades de Curuçá.

No dia 4 de julho de 2009, na 1ª. Assembléia do Fórum da Agenda 21 das comunidades de Curuçá, aproximadamente 50 pessoas de diver-sas comunidades aprovaram, com pequenas alterações, o regimento proposto (em anexo). Na ocasião, a primeira coordenação executiva foi eleita com a seguinte composição:

Essa fase do programa Casa da Virada, pro-jeto Agenda 21 das comunidades de Curuçá, termina com a implantação do Fórum. No entanto, esse não significa o encerramento dos trabalhos, pelo contrário, trata-se do marco inicial de mobilização de cima para baixo das comunidades. Como o Peabiru continua suas atividades em Curuçá, como organização de assistência técnica poderá acompanhar por mais um período o processo de construção da Agenda 21 das comunidades de Curuçá.

Um fator altamente positivo do processo é que a coordenação executiva está motivada, principalmente o coordenador geral que já ar-ticula parcerias com o poder público municipal e com outras organizações locais. Contudo, os desafios são grandes.

De imediato, o Fórum tem como desafios:

1 – Articular a participação no Fórum de outros atores locais dos diversos setores de Curuçá, visando aumentar sua representatividade;

2 – Elaborar o plano local de desenvolvimento das comunidades de Curuçá, para ser enca-minhado às diversas autoridades e grupos de interesse.

Fase 3 Reuniões Temáticas Com os temas escolhidos, as reuniões temá-ticas foram agendadas para os dias 21 e 28 de março de 2009, na Escola Estadual Olinda Veras Alves, no centro urbano de Curuçá.

Compareceram às reuniões representantes de 34 comunidades. Cada dia contou com uma média de 70 pessoas. Os trabalhos iniciavam-se às 9h da manhã e terminavam por volta das 17 h. Ao meio dia era servido almoço aos presentes.

As reuniões pretendiam: 1) validar os temas pe-las lideranças reunidas; e 2) elaborar planos de ações para cada tema. Foram formados grupos de 5 a 10 pessoas que discutiam os temas, sempre auxiliados por técnicos do Peabiru. As reuniões também serviram como um espaço de conhecimento e troca de experiências entre as diversas lideranças comunitárias. Ficou agen-dado o dia 16 de maio de 2009 para a apresen-tação do resultado das reuniões temáticas e implantação do Fórum da Agenda 21 Local das comunidades de Curuçá.

Fase 4 Implantação do Fórum da Agenda 21 Local das comunidades de Curuçá No dia 16 de maio de 2009, na escola Olinda Veras Alves, em Curuçá, teve início a implanta-ção do Fórum da Agenda 21 Local das Comu-nidades de Curuçá. Nesse dia, representantes de mais de 30 comunidades compareceram ao evento, afirmaram concordar com o processo de implantação do Fórum e legitimaram os temas levantados como prioritários.

A equipe do Peabiru contribuiu com a assesso-ria técnica, relembrando o grupo da metodolo-gia proposta para a Agenda 21 Local, relatando sobre o projeto Casa da Virada e como ocorreu o processo de construção da Agenda até aque-le momento em Curuçá.

Uma comissão de lideranças comunitária foi escolhida para elaborar o regimento interno do Fórum e organizar o evento de eleição da primeira coordenação do Fórum. Membros da Coordenação executiva.

Cargo Nome Comunidade

Coordenador Geral Miguel Pena Monteiro Magalhães Barata

Tesoureiro Ezequiel dos Santos Nova Canãa

Secretária Paula Negrão Barbosa Água-Boa

Mobilizadores Sociais

Mª do Carmo SilvaFrancisco de Souza

AraquaimNova Cannã

Nome Comunidade

Maria do Carmo Silva Araquaim

Valdeci da Conceição Aleixo Araquaim

Miguel Pena Monteiro Magalhães Barata (KM 42)

Maria Odenize Costa Boa Vista

Page 14: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

26

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

27

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

A equipe do Peabiru aprendeu, e continua a aprender, que o processo de Agenda 21 é um

dos mais democráticos e participativos para o fortalecimento do tecido social das comunidades. Este aprendizado resultou de trabalhos de cam-po, de erros e acertos, e do enfrentamento de dificuldades, especialmente logísticas, e da baixa mobilização das comunidades. Assim, entre as questões relevantes estão:

1) Parceria com grupo local Contar com um grupo local para mobilização é fundamental ao sucesso do projeto. Isto pode parecer óbvio, no entanto, muitas vezes é um tema não considerado. Não se trata apenas de grupo local para a mobilização apenas, e sim para a própria construção da Agenda. E parce-ria é também construir junto o plano de ação, pensar formas de mobilização e sensibilização, respeitando as características e especificida-des de cada localidade.

2) Sentimento de pertencimento Há sempre questões relevantes, do tipo: como trabalhar em comunidades com baixo sen-timento de pertencimento? Como trabalhar processos de desenvolvimento local (que são de longo prazo) em comunidades em que as pessoas não desejam permanecer por longo tempo? O Peabiru acredita que as respostas podem estar relacionadas a um trabalho de incentivo e valorização do levantamento histó-rico local.

3) Compromisso de arregimentação É importante criar mecanismos reconhecidos pelas comunidades participantes para que o que for acordado em reuniões e eventos seja cumprido. Por exemplo: quando em reuniões combina-se que cada um dos presentes deve trazer pelo menos mais uma pessoa para a próxima reunião, isto deve ser entendido como um compromisso altamente relevante.

4) Preparação técnica A capacitação técnica dos comunitários sobre os temas selecionados para as reuni-ões temáticas é fundamental para garantir um debate mais profundo e capaz de gerar propostas concretas. Nas duas experiências do Peabiru este foi um ponto que poderia ter sido melhor trabalhado. Isto se resolveria, por exemplo, com a participação de especialistas ou de representantes de outras comunidades que encontraram alternativas para a questão debatida.

5) Participação do poder público Garantir a participação do poder público no momento da implantação do Fórum da Agenda 21 é relevante e é sempre um desafio, uma vez que, nem sempre, o poder público reconhece a importância da Agenda 21 como mecanismo de ouvir a voz de baixo para cima.

6) registro da experiência Outro grande desafio é registrar rotineiramen-

Agenda 21 da Vila dos PalmaresA Agenda 21 da Vila dos Palmares, iniciada em julho de 2009, é parte do trabalho de intervenção social do Peabiru – Programa Dendê Sustentá-vel - nas comunidades do entorno da empresa Agropalma, em Tailândia - PA. Essa Fase 1 terá duração de dez meses e será composta das seguintes fases:

Sensibilização da comunidade Apresentação de conceitos relacionados à sus-tentabilidade e da metodologia Agenda 21 Local; estruturação inicial de parcerias; mobilização social.

Pesquisa de campo Buscar informações que possam conduzir ao diagnóstico sócio-ambiental para subsidiar a Agenda 21 Local. Jovens da comunidade partici-parão na aplicação de questionários, tabulação dos dados, assim como da análise das informa-ções geradas.

Diagnóstico sócio-ambiental Com os dados tabulados, a comunidade elabo-rará diagnóstico sócio-ambiental. O documento indicará os temas mais relevantes a serem trabalhados nas reuniões temáticas. Às infor-mações coletadas na pesquisa de campo, serão acrescidas informações oriundas de dinâmicas de mapeamento social. Essas informações serão

editadas, juntamente com os registros audiovisu-ais e o produto será apresentado em cd-rom.

reuniões temáticas Toda comunidade será convocada para as Reu-niões Temáticas com o intuito de definir grupos de trabalho para debater os temas definidos no diagnóstico sócio-ambiental. Os Grupos Temá-ticos deverão escolher um Coordenador e um Relator que, junto com o grupo, irão aprofundar o conhecimento das questões apontadas nas Reuniões Temáticas e buscar soluções para os problemas prioritários.

Fórum da Agenda 21 A instalação do Fórum da Agenda 21 Local é o evento culminante, onde a comunidade, devi-damente instruída e preparada, discute sobre o seu desenvolvimento sustentável com os demais atores locais, como o poder público e o empre-sariado, além de outras organizações. Neste momento, ocorre a eleição da coordenação exe-cutiva, que é a responsável por guiar os trabalhos de elaboração, implementação e monitoramento do Plano Local de Desenvolvimento Sustentável da Vila dos Palmares.

Aprendizados

Page 15: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

28

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

29

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

Regimento Interno do Fórum da Agenda 21 das Comunidades de Curuçá Aprovado em assembléia realizada no dia 04 de julho de 2009 na Escola Estadual Olinda Veras Alves no Municí-pio de Curuçá.

Capítulo 1 - Constituição, sede e objetivos

Art. 1 – O Fórum da Agenda 21 das Comunidades de Curuçá, constituído por represen-tantes de 34 comunidades do Município, implantado em 16 de maio de 2009, funcionará por tempo indeterminado em conformidade com o disposto neste Regimento.

Parágrafo Único – O Fórum da Agenda 21 das Comunidades de Curuçá terá sua sede instalada na filial do Instituto Peabiru em Curuçá - PA.

Art. 2 – O Fórum da Agenda 21 das Comunidades de Curuçá tem como objetivos:

I. Fortalecimento e empodera-mento das comunidades do município;

II. De forma participativa, elaborar, executar e monitorar o Plano de Desenvolvimento Sustentável das comunidades do município;

III. Somar esforços para a efetivação de outras ações de Agendas 21 Locais na região.

Capítulo 2 – Princípios e atribuições

Art. 3 – O Fórum da Agenda 21 Local das comunidades de Curuçá reger-se-á pelos seguintes princípios:

I. Conscientização de valores éticos;

II. Autonomia;

III. Sustentabilidade;

IV. Transparência;

V. Intersetorialidade e interin-stitucionalidade;

VI. Participação;

VII. Parceria;

VIII. Multidimensionalidade e multidisciplinaridade;

Art. 4 – São atribuições do Fórum da Agenda 21 Local das Comunidades de Curuçá:

I. Incentivar a ações que busquem a melhoria da qualidade de vida nas comu-nidades;

II. Resgatar, integrar e sistematizar todas as decisões estratégicas para o desen-volvimento sustentável das comunidades de Curuçá;

III. Organizar os diagnósticos social, econômico, educacio-nal, cultural e ambiental do Município e, selecionar indi-cadores apropriados para os problemas identificados, que sirvam para supervisionar, de forma sistemática, a situação das comunidades;

IV. Elaborar o Plano de De-senvolvimento Sustentável Comunitário que contenha:

a) Contextualização;

b) Enfoque do desenvolvimen-to sustentável;

c) Caracterização do município;

d) Visão de futuro;

e) Estratégias, objetivos e metas;

f ) Definição de prioridades e projetos de intervenção;

g) Identificação de projetos em andamento;

h) Instrumentos e mecanis-mos de implementação;

i) Monitoramento e avaliação;

j) Compromissos institucio-nais e responsabilidades dos diferentes segmentos envolvidos.

V. Produzir relatórios das atividades do Fórum, encaminhando-os para as instâncias competentes e dar publicidade junto à sociedade civil do Município;

VI. Mobilizar recursos para a realização dos projetos e al-cance dos objetivos do Fórum;

VII. Harmonizar as várias políticas públicas e as instân-cias democráticas do Municí-pio para convergirem para o

te as ações, sistematizando as experiências para posterior análise e reconhecimento dos avanços ao longo do tempo. Além disso, o próprio diagnóstico socioambiental poderia ser mais completo e belo com a maior utiliza-ção de ferramentas audiovisuais – uso de GPS, filmagens, fotografias e mapas.

Por fim, a Agenda 21 não se constitui em um fim, e sim em um processo, um mecanismo de empoderamento das comunidades, na medida em que podem, de maneira organizada, levar adiante seus pleitos, sonhos e necessidades. O Instituto Peabiru acredita que a Agenda 21 seja uma ferramenta de trabalho de grande valor e que poderá contribuir para a sustentabilidade da Amazônia e de outras regiões.

EquipeNas duas experiências com Agendas 21 Local participaram as seguintes pessoas:

Instituto Peabiru João Meirelles Filho Luiz Cruz Villares Hermógenes Sá Karla Oliveira Marcilene Santos Guilherme Romano Francisco Xavier Cardoso Francinaldo Costa Júnior Rogério Favacho Leandro Prates Maria Liliana Rodrigues

Colaboradores Gardênia Queiroz Jaciara Monteiro Cabral Renata Jeane Lima Cabral

Page 16: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

30

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

31

Cas

a da

Vir

ada

Um

a ex

peri

ênci

a de

inte

rven

ção

soci

oam

bien

tal n

o S

alga

do P

arae

nse

Age

nda

21 L

ocal

Ex

peri

ênci

as d

o In

stit

uto

Peab

iru

foco da Agenda 21 Local de Curuçá;

VIII. Fornecer subsídios à Câmara Municipal, ao Poder Executivo e aos demais entes governamentais atuantes no Município para a formulação de políticas públicas e estra-tégias de desenvolvimento sustentável;

IX. Prestar informações ao Ministério Público e ao Tribu-nal de Contas sobre irregulari-dades porventura verificadas;

X. Eleger uma coordenação executiva responsável pelo planejamento, coordenação, execução, monitoramento e prestação de contas das ativi-dades do Fórum.

Capítulo 3 – Composição do Fórum

ART. 5 – O Fórum da Agenda 21 Local das Comunidades de Curuçá será composto por representantes das comuni-dades, de organizações da sociedade civil, e do poder

público de todas as esferas.

§ 1° Poderão participar da composição do Fórum quaisquer representantes supracitados que manifestem interesse nos seus objetivos. Após sua composição, a inclusão de novos membros é condicionada à aprovação em assembléia geral.

§ 2° A participação no Fórum é de caráter honorífico, pelo qual não é atribuída remune-ração de qualquer natureza, sendo sua efetiva participação considerada serviço de inter-esse público relevante.

Capítulo 4 – coordenação executiva

Art. 6 – A Coordenação Execu-tiva do Fórum, eleita em As-sembléia Geral, será formada pelos seguintes cargos:

• Coordenador(a) Geral

• Tesoureiro(a)

• Secretário(a)

• Mobilizador(a) Social

§ 1° O mandato de cada participante da Coordenação Executiva será de 02 (dois) anos, com a possibilidade de reeleição por igual período.

§ 2° Em caso de vagância de um dos cargos, os mesmos serão preenchidos quando da realização da próxima Assem-bléia Geral.

§ 3° Só poderá exercer cargos da coordenação executiva rep-resentantes de comunidade.

§ 4° Membro do poder público de qualquer esfera não pode exercer cargo na coordenação executiva.

Art. 7 – Compete a(o) Coordenador(a) Geral do Fórum:

I. Convocar as Assemblé-ias Gerais ordinárias e extraordinárias do Fórum, estabelecendo suas pautas respectivas, a partir das sug-estões dos membros;

II. Dirigir os trabalhos das ses-sões plenárias do Fórum;

III. Dar encaminhamento as

decisões tomadas pelo Fórum, formalizando as responsabili-dades assumidas pelos mem-bros na Assembléia Geral;

IV. Participar, ativamente, como mediador, dos debates e decisões;

V. Representar o Fórum perante à sociedade em geral;

VI. Desempenhar as atribuições que lhe forem cometidas pela Assembléia Geral;

VII. Cumprir e fazer cumprir este Regimento.

Art. 8 – Compete a(o) Secretário(a) do Fórum:

I) Providenciar e adminis-trar as instalações físicas, equipamentos e material para a realização dos trabalhos e sessões do Fórum;

II) Fazer cumprir o calendário das reuniões do Fórum;

III) Redigir as pautas das Assembléias Gerais e divulgá-las entre os participantes do Fórum;

IV) Elaborar as convocações das Assembléias Gerais e encaminhá-las aos partici-pantes do Fórum, com prazo mínimo de antecedência de 10 (dez) dias correntes, para ordinárias e 5 (cinco) dias, para extraordinária;

V) Lavrar e manter em boa ordem as atas das reuniões do Fórum, e anotar o compareci-mento de seus participantes;

VI) Registrar os compromissos assumidos pelos membros em Assembléia Geral e adminis-trar a agenda de compromis-sos do Fórum;

VII) Responsabilizar-se pelo expediente do Fórum, exped-indo, recebendo e arquivando correspondências, guardando livros e demais documentos;

VIII) Representar o Coordena-dor Geral em atividades que este não possa estar presente.

Art. 9 – Compete a(o) Tesoureiro(a) do Fórum:

I) Providenciar e administrar os recursos financeiros do

Fórum, de acordo com a legis-lação vigente;

II) Intermediar e providenciar recursos necessários a todas as ações delegadas pelo Fórum;

III) Prestar contas, através de relatórios financeiros, aos membros do Fórum;

Art. 10 – Compete ao Mobilizador(a) Social do Fórum:

VIII. Buscar, pelos diversos meios de comunicação e mobilização de pessoas, a participação dos membros do Fórum e da sociedade civil nos diversos eventos do Fórum;

Capítulo 5 – Assembléias Gerais

Art. 10 – O Fórum da Agenda 21 Local das Comunidades de Curuçá reunir-se-á, ordi-nariamente, em localidade determinada no contexto da convocação.

Art. 11 – O Fórum deverá buscar sempre o consenso em

suas decisões. Havendo ne-cessidade de votação, as de-liberações, nas assembléias, serão tomadas por metade mais um dos presentes com direito a voto.

Art. 12 – As Assembléias Gerais extraordinárias serão convocadas pelo Coordenador(a) Geral, junta-mente com o(a) Secretário(a), em atenção à solicitação de, pelo menos, um terço dos membros do Fórum.

Art. 13 – A Assembléia Geral será realizada em Sessão Ordinária uma vez a cada dois meses, e as sessões extraordinárias, poderão ser realizadas a qualquer tempo;

Art. 14 – Todas as discussões e deliberações das Assem-bléias Gerais serão consigna-das em ata circunstanciada, lida, aprovada e assinada na reunião seguinte pelos membros da Assembléia que originou a ata.

Art. 15 – Os membros (co-munidades, organizações

ou entidades) do Fórum que não participarem de duas Assembléias Gerais consecu-tivas sem justificativa serão excluídos da entidade Fórum da Agenda 21 Local das Comu-nidades de Curuçá.

Capítulo 6 – Disposições gerais

Art. 16 – Este Regimento poderá ser modificado, a qualquer tempo, por delibera-ção de dois terços dos mem-bros do Fórum com direito a voto, em Assembléia Geral convocada para este fim.

Art. 17 – Os casos omissos a este Regimento serão resolvi-dos pela Assembléia Geral.

Art. 18 – Este Regimento entra em vigor na data de sua aprovação.

Curuçá, 4 de julho de 2009.

Page 17: Casa daVirada: Caderno Agenda 21 Local

RealizaçãoPatrocínio