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Castaneda “O jaguar e eu olhamos um para o outro por um momento até que dom Juan quebrou o impasse atirando seu chapéu como um disco à cabeça do jaguar. O animal saltou para trás para não ser atingido, e don Juan soltou um assobio alto, prolongado e perfurante. Ele então berrou com o máximo de sua voz e bateu as mãos duas ou três vezes. Aquilo soou como tiros abafados. Don Juan me fez sinal para descer da pedra e juntar-me a ele. Então berramos e batemos as mãos até nos certificarmos de que o jaguar fugira. (...) Afastamo-nos das rochas, ziguezagueando num passo rápido através dos arbustos. – Por que estamos caminhando assim? – perguntei. – Não seria melhor pegar uma linha reta para fora daqui, e rápido? – Não! – respondeu ele, enfaticamente. – Não seria nada bom. Aquele é um jaguar macho. Está faminto e virá atrás de nós. – Essa é mais uma razão para sairmos daqui depressa – insisti. – Não é tão fácil assim. Aquele jaguar não está obstruído pela razão. Sabe exatamente o que fazer para nos apanhar. E, tão certo como estou falando com você, ele irá ler nossos pensamentos. – O que quer dizer com o jaguar ler nossos pensamentos? – Isso não é uma afirmação metafórica. Falo sério. Animais grandes como aquele podem ler pensamentos. E não quero dizer adivinhar. Mas eles sabem tudo diretamente. A razão nos faz escolher o que parece sensato à mente. Por exemplo, sua razão já lhe disse para correr tão rápido quanto pode em uma linha reta. (...) E o jaguar irá correr mais do que nós. Passará a nossa frente e estará esperando no ponto mais apropriado para saltar sobre nós. (...) Uma escolha menos racional é ziguezaguear.” (Castaneda, O Poder do Silêncio)

Castaneda

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“O jaguar e eu olhamos um para o outro por um momento até que dom Juan quebrou o impasse atirando seu chapéu como um disco à cabeça do jaguar. O animal saltou para trás para não ser atingido, e don Juan soltou um assobio alto, prolongado e perfurante. Ele então berrou com o máximo de sua voz e bateu as mãos duas ou três vezes. Aquilo soou como tiros abafados.Don Juan me fez sinal para descer da pedra e juntar-me a ele. Então berramos e batemos as mãos até nos certificarmos de que o jaguar fugira. (...) Afastamo-nos das rochas, ziguezagueando num passo rápido através dos arbustos. – Por que estamos caminhando assim? – perguntei. – Não seria melhor pegar uma linha reta para fora daqui, e rápido?– Não! – respondeu ele, enfaticamente. – Não seria nada bom. Aquele é um jaguar macho. Está faminto e virá atrás de nós.– Essa é mais uma razão para sairmos daqui depressa – insisti.– Não é tão fácil assim. Aquele jaguar não está obstruído pela razão. Sabe exatamente o que fazer para nos apanhar. E, tão certo como estou falando com você, ele irá ler nossos pensamentos.– O que quer dizer com o jaguar ler nossos pensamentos?– Isso não é uma afirmação metafórica. Falo sério. Animais grandes como aquele podem ler pensamentos. E não quero dizer adivinhar. Mas eles sabem tudo diretamente.A razão nos faz escolher o que parece sensato à mente. Por exemplo, sua razão já lhe disse para correr tão rápido quanto pode em uma linha reta. (...) E o jaguar irá correr mais do que nós. Passará a nossa frente e estará esperando no ponto mais apropriado para saltar sobre nós. (...) Uma escolha menos racional é ziguezaguear.”

(Castaneda, O Poder do Silêncio)