Catalogo_Literatura

  • Upload
    apaulap

  • View
    208

  • Download
    1

Embed Size (px)

Citation preview

GlobalE d i T o R a

Literatura Brasileirae Portuguesa

CaTLoGo dE

Prezado(a) Professor(a):

Nesses mais de 36 anos de existncia, a Global Editora vem desenvolvendo um intenso trabalho na rea educacional. Nossos objetivos principais sempre foram e sero a divulgao de autores nacionais e a formao cultural de estudantes. Por isso, tanto a seleo cuidadosa dos textos como a qualidade grfica na apresentao dos livros so nossas maiores preocupaes.Com este

Melhores Contos

Melhores Contos

catlogo, apresentamos consagrados autores da literatura brasileira e da literatura portuguesa. Os contos, os poemas, as crnicas e as peas tea trais que compem cada obra das colees Me lhores Contos, Melhores Poemas, Melhores Crnicas e Melhor Teatro so criteriosamente se lecionados por renomados estudiosos, poetas e escritores que, alm disso, acrescentam s obras uma bibliografia, uma biografia e um estudo in trodutrio sobre a trajetria histricoliterria de cada autor. Completando este catlogo, apresen tamos obras de Afrnio Coutinho, Cora Coralina, Edla van Steen, Florestan Fernandes, Gilberto Freyre, Igncio de Loyola Brando, Lus da C mara Cascudo, Marcos Rey, Marina Colasanti e Sbato Magaldi, entre outros autores imprescin dveis para um maior aprofundamento no uni verso da literatura brasileira. Desde o incio, a sua colaborao tem sido decisiva para o nosso trabalho. Portanto, visite nosso site www.globaleditora.com.br e deixe seu coment rio: ele sempre ser muito bemvindo! RichaRd a. alvesDiretor de Marketing

SUMRIO

Melhores Contos...........................4 Melhores PoeMas..........................24 Melhores CrniCas.........................57 Melhor teatro............................70 roteiro da Poesia Brasileira...................74 Fortuna CrtiCa............................81 literatura PeriFriCa .........................84 aFrnio Coutinho..........................88 Cora Coralina............................93 edla van steen............................99 Florestan Fernandes.......................103 GilBerto Freyre...........................107 iGnCio de loyola Brando..................117 lus da CMara CasCudo...................128 MarCos rey.............................142 Marina Colasanti.........................148 sBato MaGaldi..........................150 outros autores..........................153 ndiCe.................................159

Coleo

Melhores ContosDIREOEDLA VAN STEEN

Os expoentes da literatura brasileira e portuguesa,representantes das diversas escolas literrias, esto entre os clssicos reunidos pela Global Editora na coleo Melhores Contos. So mais de 36 colet neas, dirigidas pela escritora Edla van Steen, com o objetivo de levar ao pblico algumas das melhores produes literrias de nossa lngua. A rigorosa sele o dos textos garante a qualidade das obras e jus tifica o grande sucesso alcanado pela coleo em mais de 25 anos de existncia. Os estudantes encon tram na coleo Melhores Contos um material privi legiado de estudo e lazer. Cada volume apresenta uma bibliografia, uma biografia e um estudo intro dutrio sobre cada contista. A qualidade das edies uma prioridade da Global Editora que, com a cole o Melhores Contos, tem a certeza de estar resga tando para o leitor todo o fascnio da prosa lusobrasileira.

4

ALUSIO AZEVEDOSeleo e prefcio de

ANBAL MACHADOSeleo e prefcio de

Ubiratan MachadoAlusio Azevedo (18571913) Natural de So Lus, MA1a edio 200 pginas ISBN 9788526012783

Antonio DimasAnbal Machado (18941964) Natural de Sabar, MG7a edio 224 pginas ISBN 8526000594

Considerado a figura mxima do romance naturalista, no Brasil, Alusio Azevedo deixou tambm uma srie de contos, de excelente qualidade literria, envolventes e for tes, que transmitem ao leitor a mesma sensao de vida que palpita em seus romances. Sem a estrita preocupao de fidelidade ao cnon na turalista, que caracterizava o romancista, as histrias curtas de Alusio revelam um escritor de humor irreverente, por vezes lrico, com uma vaga nostalgia da juventude, preocu pado com a passagem do tempo e a fugacidade da vida, menos pessimista do que em seus romances, mas sem se afastar da atitude crtica e de combate que sempre man teve em relao sua terra, em particular, e sociedade, em geral. Crtico e combativo, duro e cruel algumas vezes, ou tras prestes a se comover, sentimento logo afastado com um piparote ou uma ironia, nunca ingnuo, o contista aborda temas e motivos variados: vai do fantstico a situa es tpicas do naturalismo, incluindo pginas de reminis cncias em forma de fico. Os crticos se dividem na escolha do melhor trabalho: O madeireiro, em que o autor se delicia com as manhas e as astcias femininas; o contundente Heranas, retrato de um conflito de geraes; o angustiante A serpente; a avassaladora paixo pelo jogo abordada em ltimo lance; Fora de horas, uma reivindicao do simples e humano direito de amar, e quinze outros trabalhos, nos quais se resumiu a obra de contista de Alusio. Todos esses vinte contos, reunidos em dois volumes, intitulados Demnios e Pgadas, foram includos no vo lume de Melhores contos Alusio Azevedo, que, dessa forma, no apresenta apenas os melhores trabalhos do es critor, mas sua obra completa no gnero.

Durante muitos anos Anbal Machado foi o escritor indito mais conceituado do Brasil. Publicava na imprensa alguns ensaios, trechos do famosssimo Joo Ternura e con tos dispersos que, sem a unidade em volume, impediam uma avaliao global do escritor. Apesar do ineditismo, exercia imensa influncia nos meios literrios cariocas, um papel semelhante ao desempenhado por Mrio de Andrade em So Paulo. Sua casa de Ipanema era ponto de reunio de escritores, jornalistas, sambistas. Mas o livro sempre aguardado ia ficando para as calendas gregas. Com a pu blicao, afinal, de Vila feliz, em 1944, o pblico leitor des cobriu que estava diante de um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos. O volume reunia apenas cinco contos (classificados como novelas) de excepcional qualidade, elaborados e reelaborados ao longo de muitos anos, numa nsia permanente de perfeio. Em verdade, o livro j nascia clssico, com pelo menos duas obrasprimas, Tati, a garota e A morte da portaestandarte. Quinze anos depois, nas Histrias reunidas, Anbal acrescentava lista de suas obrasprimas mais dois trabalhos, O Iniciado do vento e Viagem aos seios de Dulia. Os demais, se no chegam a tanto, so, porm, inesquecveis. Quem se es quecer da pequena epopeia domstica contada em O piano ou de O defunto inaugural, cujo enterro quase uma festa? Dessa forma, sua obra completa de contista, trabalhada ao longo de mais de 30 anos, resumese a doze trabalhos, soldados entre si por uma atmosfera muito peculiar, entre concreto e imaginrio, realidade e sonho, meio surrealista, meio fantstico, mas sem jamais perder a coerncia psicolgica. A anlise psicolgica dos persona gens, alis, penetrante, mas sem crueldade, antes com simpatia, ternura, piedade por suas fragilidades, tudo ame nizado por uma intensa carga de poesia.

Melhores Contos

Melhores Contos5

ARTUR AZEVEDOSeleo e prefcio de

AURLIO BUARQUE DE HOLANDASeleo e prefcio de

Antonio Martins de AraujoArtur Azevedo (18551908) Natural de So Lus, MA1a edio 288 pginas ISBN 852600607X

Luciano RosaAurlio Buarque de Holanda (19101989) Natural de Passo de Camaragibe, AL1a edio 216 pginas ISBN 9788526012509

Artur Azevedo morreu em 1908. Agonizava, quando uma pequena multido de curiosos formouse diante de sua casa, querendo saber o estado de sade do escritor. Logo a morte sobreveio, comovendo os presentes, a cidade, o pas. Nesse momento, podiase aplicar a ele os versos que alguns anos antes, nas mesmas circunstncias, dedicara a Paula Ney: pela primeira vez o esprito perdeste,/ e fizeste chorar pela primeira vez. Durante mais de 35 anos, o escritor jovial e bulioso, malicioso, mas sem ressentimentos ou maldade, distribura alegria e bom humor, fazendo o brasileiro rir de suas prprias fragilidades e ridculos. Homem de teatro, foi no palco que Artur obteve os maiores triunfos. Suas peas, disputadas por atores e empresrios, eram certeza de su cesso e bons lucros. Sua vocao teatral era to forte que se impunha a tudo que escrevia. Quando repensava o mundo, j o fazia de maneira dramtica, observa Antonio Martins de Araujo, no pref cio aos Melhores contos Artur Azevedo. Suas crnicas e seus contos trazem a marca do homem de teatro, pela fi xao da cena, apresentao dos personagens, dilogos. Como contista, Artur foi o mais popular de sua poca, fi xando, sem preocupaes de psicologia, os aspectos gro tescos ou apenas cmicos da pequena burguesia carioca, em um Rio de Janeiro amvel, sem violncia, onde todas as novidades eram filtradas pela maledicncia da rua do Ou vidor. Um Rio de Janeiro em que as reparties encerravam o expediente s trs horas da tarde, deixando os escritores, muitos deles funcionrios pblicos (como Machado de Assis e o prprio Artur), disponveis para o batepapo des contrado na livraria ou na confeitaria. Hoje, cem anos aps a morte do escritor, seus contos mantm a mesma vivaci dade e a mesma graa marota que fez as delcias de seus contemporneos. ler, comprovar e se regalar.

No Brasil, Aurlio virou sinnimo de dicionrio. Voc j consultou o Aurlio?, procure no Aurlio so frases que j entraram para o cotidiano do brasileiro. O Aurlio, alis pro fessor Aurlio Buarque de Holanda, um dos maiores fillogos e dicionaristas da lngua, no gostava apenas de isolar, classi ficar e definir palavras, mas tambm de reunilas em forma de contos, lricos, pungentes, repletos de humanidade e poesia. Fillogo e poeta, no de se estranhar que os traba lhos reunidos em Dois mundos (seu nico livro de contos) conciliassem, com maestria e rigor, a emoo contagiante e a linguagem depurada, o que no significa um texto duro, correto e seco, empregado pela maioria dos gram ticos. Nada disso, nenhuma dureza de forma (ou de fundo), nenhum preciosismo, mas um portugus exemplar, con temporneo, muito pessoal, preservando o delicioso sabor clssico. Ou seja, escritos em lngua de gente e no no quimbundo aportuguesado de muitos autores Nascido em Alagoas, Aurlio Buarque mudouse para o Rio de Janeiro j homem feito, sem que o Nordeste se tornasse para ele apenas uma fotografia na parede. Pelo contrrio, continuou uma realidade viva e palpitante dentro de si. Mais vivo, ainda, no momento em que o fillogo cedia a vez ao contista e ao poeta. O Nordeste palpita em cada um de seus contos, reple tos de episdios vividos pelo autor em sua infncia e juven tude. So contos no velho sentido, modernos, mas com um p na tradio, com enredo, podendo ser contados a uma terceira pessoa. Entre eles, figuram pelo menos trs traba lhos admirveis, a um milmetro da obraprima, O chapu de meu pai, que anda por a, em vrias antologias, Z Bala e o trabalho que d ttulo ao livro, todos selecionados entre os Melhores contos Aurlio Buarque de Holanda, para regalo do leitor.

Melhores Contos

Melhores Contos

6

AUTRAN DOURADOSeleo e prefcio de

BERNARDO LISSeleo e prefcio de

Joo Luiz LafetAutran Dourado (1926) Natural de Patos, MG2a edio 264 pginas ISBN 8526005294

Gilberto Mendona TelesBernardo lis (19151997) Natural de Corumb, GO3a edio 176 pginas ISBN 8526005243

Mrio de Andrade sonhava contar todas as histrias de Minas aos brasileiros do Brasil. No contou. Autran Dourado, mineiro de Patos, contou algumas dessas hist rias, com lirismo, acidez, ironia, compondo um universo muito peculiar, tpico das Gerais, filtrado e depurado pela sensibilidade de um escritor extremamente exigente com o seu texto. A maior parte da obra de Dourado est ambien tada em Duas Pontes, cidade mtica, uma espcie de sn tese de todas as cidades mineiras, com os seus cochichos, os seus dramas de conscincia (como em Mr. Moore, histria de um pastor que acolhe um bandido em sua igreja), os seus momentos de cio (Os mnimos carapinas do nada, uma metfora do ato criativo), os seus segredos, as revelaes sbitas de velhos dramas e tragdias, cortan tes como uma faca s lmina, as suas velhas terrveis e mandonas, de spero corao, abrandado pela ternura de uma velha criada (Aquela destelhada), o conhecimento da morte na infncia (Manuela em dia de chuva), os ve lhos jogos humanos de poder, seduo, amor e dio, quase todos transfigurados de experincias pessoais do autor, fatos presenciados ou descobertos na infncia e na adoles cncia, revitalizados por um estilo exato, sem rebarbas. Apenas o essencial, modulado pela nota potica ou humo rstica. Autor de mais de trinta livros, entre romances, no velas, ensaios, Autran Dourado se dedica ao conto desde o incio de sua carreira, nos dias de aprendizado, ainda na adolescncia. Naquela poca se conscientizou de alguns dados essenciais ao gnero, que segue at hoje, e aconse lha aos principiantes: O que se deve buscar num conto o efeito nico, ao contrrio de um romance, em que os efeitos so mltiplos, e mais, a linguagem deve ser tensa no conto, no romance deve ser distendida. A melhor lio prtica a leitura de seus contos.

Quando Bernardo lis estreou, em 1944, com o vo lume de contos intitulado Ermos e gerais, foi acolhido por Monteiro Lobato com um estranho elogio. O livro est prejudicado pelo excesso de talento do autor, escrevia o inventor do Jeca Tatu. E logo esclarecia que o escritor, do minado pelo impulso criador, se esparramava demais, sem conseguir amansar o cavalo bravo de seu talento. O con selho surtiu efeito. Nas obras seguintes, lis procurou no apenas aprimorar o estilo, despojlo de penduricalhos in teis, mas tambm se conter como narrador, sugerir ao m ximo, transmitir apenas o essencial, ou seja, amansar o cavalo bravo. Natural de Corumb de Gois, Bernardo lis passou quase toda a vida em seu estado natal, mas sobre tudo impregnouse da vida goiana, de seus hbitos e cos tumes, do linguajar, atento aos pequenos dramas e s grandes tragdias desenroladas em casas de pauapique da roa, entre gente humilde, mas pungente, dolorosa, espera do gancho de um escritor autntico. Identificado com a terra, lis se revelou desde a estreia (e continuou nos livros seguintes) regionalista, mas utilizando tcnicas mo dernas de fico, com uma linguagem coloquial saborosa, repleta de termos e construes verbais tpicas goianas, entremeadas de imagens surrealistas, atiradas com percia, sem interromper o fluxo do texto, ou desviar a ateno do leitor. Como flores na paisagem, que prendem o olhar do via jante, sem desvilo do caminho. Os contos, apontando a prepotncia dos poderosos, o regime feudal, a ignorncia, eram violentos, rudes, com alguns aspectos repulsivos, tal e qual os pobres habitantes dos ermos e gerais que retrata, asquerosos, loucos, sem defesa contra a opresso dos pa tres e da polcia. Um mundo terrvel, no qual seria difcil discernir qualquer esperana.

Melhores Contos

Melhores Contos7

BRENO ACCIOLYSeleo e prefcio de

CAIO FERNANDO ABREUSeleo e prefcio de

Ricardo RamosBreno Accioly (19211966) Natural de Santana do Ipanema, AL2 edio 144 pginas ISBN 852600297Xa

Marcelo Secron BessaCaio Fernando Abreu (19481996) Natural de Santiago do Boqueiro, RS1a edio 240 pginas ISBN 8526010182

Quando Breno Accioly publicou seu primeiro livro houve um certo rebolio nos arraiais literrios. Os contos de Joo Urso mrbidos, violentos, atormentados traziam alguma coisa nova literatura brasileira, em escrita e es trutura, como que uma coerente desordem, como ob serva Ricardo Ramos no prefcio aos Melhores contos Breno Accioly. Pareciam obra de um russo perdido nos tr picos. Os volumes seguintes Cogumelos, Maria Pudim, Os cataventos acentuaram as tendncias do jovem contista, o clima de revolta contra tudo, o mundo e seus valores, as estruturas sociais, o comportamento do homem, a prpria misria da condio humana. A expresso se tornou mais sombria e pungente, a angstia, ainda mais incmoda, como um espinho que se entranha na carne, resgatada, porm, por uma intensa e atormentada fora potica. A crtica ficou perplexa. Tristo de Athayde distinguiu no uni verso do escritor um terrvel campo de transio entre a luz da conscincia e a outra luz da insanidade. Graciliano Ramos, alagoano como Accioly, observou que a arte do conterrneo lhe fazia pensar em coisas e figuras da terra espinhosa onde nasceram, inadaptadas a medidas, com a brbara firmeza do cangaceiro e a resistncia agreste do mandacaru. Para Vinicius de Moraes, Accioly veio abrir sobre as guas claras do conto brasileiro as comportas de sua alma tumultuosa, que habita nas trevas mais fundas e srdidas do ser. Tumultuosos eram tambm os persona gens do escritor, pinados na pequena comdia humana da provncia: usineiros, agregados, prostitutas, humildes fun cionrios, duros, speros, mais instintos do que sentimen tos, perplexos, sua maneira, diante do grande mistrio da vida. Mistrio do qual o escritor parecia desdenhar, com o soberbo desprezo dos desesperados.

Caio Fernando Abreu passou como um meteoro pelas letras brasileiras. A trajetria fulminante, a sua luminosidade, a ousadia em tratar temas ditos malditos, numa literatura to bem comportada como a nossa, criaram uma certa resis tncia sua obra. Chegaram a acuslo de escritor pesado e baixoastral, sobretudo por suas abordagens do sexo no mundo gay. Sentiase magoado, mas admitia o gosto pelo chulo, o no literrio, talvez at o antiliterrio, e replicava que o pesado no era ele, mas a realidade. A realidade, que muitos se recusavam a ver, englobava ainda outros aspectos cruis ou apenas renovadores, mas condenados em bloco pelos bem pensantes, dos quais Caio foi o primeiro (ou um dos primeiros) a tratar na literatura brasileira: drogas, rock, cultura pop. Romancista, tradutor, teatrlogo, autor de lite ratura infantojuvenil, foi no conto que Caio encontrou sua melhor forma de expresso literria. Estreando aos 22 anos, exatamente com um volume de contos, deixou oito volumes no gnero. Como contista, retratou com impiedade, deli cadeza e paixo, sombra e luminosidade, o necessrio gro de loucura que jamais lhe permitiria ser medocre (Lya Luft), uma sociedade decadente, insatisfeita, insegura, formada por seres cada vez mais angustiados e vazios, recorrendo com frequncia aos parasos artificiais para tornar a reali dade, se no atraente, pelo menos suportvel, mas com a busca permanente ao amor. Amor que nem sempre se en quadra nas idealizaes habituais, mas que nem por isso deixa de ser amor. No prefcio aos Melhores contos Caio Fernando Abreu, Marcelo Secron Bessa sugere que toda a obra de Caio pode ser pensada como um grande romance desmontvel, cujo tema maior o amor. Maior do que o amor apenas a paixo pela vida, o prazer de viver, talvez at mesmo sem amor.

Melhores Contos

Melhores Contos

8

DOMINGOS PELLEGRINISeleo e prefcio de

EA DE QUEIRSSeleo e prefcio de

Herberto SalesEa de Queirs (18451900) Natural de PvoadeVarzim, Portugal5a edio 128 pginas ISBN 852600185X

Miguel Sanches NetoDomingos Pellegrini (1949) Natural de Londrina, PR1a edio 288 pginas ISBN 8526009915

Com Domingos Pellegrini, o norte do Paran ganhou um lugar de relevo na geografia literria brasileira. Em sua obra, sempre identificada s questes da terra, a regio vista em trs momentos, correspondentes a trs etapas da vida do autor. Seu primeiro livro, O homem vermelho (1977), de fundo poltico, transcorre em poca de acele rada transformao social, com o desbravamento do inte rior paranaense. Os personagens so violeiros, pees, operrios, caminhoneiros, vivendo experincias primitivas ligadas terra. Conto emblemtico dessa fase O enca lhe dos 300, em que a terraroxa aparece como metfora e a chuva, deixando as estradas intransitveis, obriga os caminhoneiros a uma parada no programada, que se ar rasta por sete dias. O segundo momento da obra de Pelle grini identificase com a evocao mgica da infncia e a quebra dessa magia pela necessidade de ingressar no s pero mundo dos adultos, atmosfera que assinala seu livro de contos mais bem realizado, Os meninos crescem (1986). O ciclo se prolonga em obras posteriores, de forma obses siva. A nostalgia de um tempo perdido caracteriza a ter ceira fase da obra de Pellegrini. O tema foi desenvolvido de maneira magistral em A mulher dos sonhos, no qual um viajante sai Brasil afora, em busca da amante que o aban donou. Ao encontrla como se redescobrisse as coisas simples e essenciais da vida. A atrao pelas coisas naturais, a identificao com a terra e os seres simples, de certa forma, se transfigura na linguagem de Pellegrini, extrada da fala do povo, marcando a sua escrita com um certo barbarismo e uma musicalidade selvagem e intensa. A ferro e fogo, ele marca seu lugar nas letras brasileiras, com uma obra que, como observa Miguel Sanches Neto, revela o fascnio e a violncia do processo civilizatrio.

Durante quatro ou cinco geraes, a prosa brbara de Ea de Queirs embriagou, literalmente, os leitores bra sileiros. Ler Ea era como tomar um narctico. O leitor pu lava da dimenso normal da vida para um plano requintado, onde a ironia fustigava como um chicote e o Portugal meio bronco e preconceituoso do sculo XIX se transformava em territrio mgico, to apaixonante quanto os requintes de estilo do escritor, os seus galicismos ousados, as suas com paraes deliciosas como aquele sorriso duma doura de tentar abelhas. Seu primeiro romance, O crime do padre Amaro, despertou um semnmero de apaixonados no Bra sil. O prprio Machado de Assis, que fez srias restries obra, reconheceu a grandeza do colega de almmar. As geraes seguintes continuaram amando e debatendo a obra de Ea. Essa febre se prolonga at as dcadas de 1920 e 1930. Os rapazes que fizeram a revoluo modernista eram leitores fanticos de Ea. Conheciam cada detalhe de sua obra, os tiques dos personagens, sabiam de cor trechos imensos, em particular dos romances. A preferncia pelos romances deixou os contos em segundo plano. Parece que o prprio Ea no os valorizava tanto, no se preocupando sequer em reunilos em volume. A edio dos Contos pstuma, reunindo doze trabalhos, publicados ao longo do tempo. Neles se encontram algumas das melhores pginas escritas por Ea, como o magistral Jos Matias, uma das obrasprimas do gnero na literatura universal, Perfei o, O defunto, Suave milagre, Civilizao, matriz de um dos romances mais famosos de Ea, A cidade e as serras. A crtica moderna no faz por menos: distingue nes ses contos o ponto mais alto da obra de Ea e a perfeio mxima de sua prosa, com alguma coisa de cristalino, de aveludado, de ondeante, de marmreo, como queria o prprio escritor.

Melhores Contos

Melhores Contos9

EDLA VAN STEENSeleo e prefcio de

FAUSTO WOLFFSeleo e prefcio de

Antonio Carlos SecchinEdla van Steen (1936) Natural de Santa Catarina, SC1a edio 296 pginas ISBN 8526011634

Andr SeffrinFausto Wolff (19402008) Natural de Santo ngelo, RS1a edio 184 pginas ISBN 9788526011855

Edla van Steen ocupa um lugar singular no panorama do conto brasileiro contemporneo. Ao contrrio de muitos escritores que se esgotam no primeiro livro, a escritora ca tarinense se caracteriza por um constante sentido de reno vao e amadurecimento, no apenas da tcnica literria, mas tambm da viso de mundo, como atestam os seis volumes de contos publicados. Cio, lanado em 1965, muito elogiado pela crtica, ainda no revelava a fora que iria brotar em Antes do amanhecer (1977), livro de impreg nao obsessiva de temas ligados ao sexo e morte. Oito anos depois, sai At sempre (1985), povoado por persona gens enigmticos, vivendo situaes inslitas, naquela zona fronteiria entre razo e delrio. Aps um silncio de onze anos, Edla volta ao gnero com Cheiro de amor (1996), no qual se mantm fiel ao seu universo, mas evolui para nar rativas mais longas, com maior nmero de personagens. No silncio das nuvens (2001) e A ira das guas (2004) re velam o pleno amadurecimento literrio, mas tambm acentuam o desencanto com o mundo, a decepo com a sociedade e as limitaes impostas mulher. Alis, se a au tora est sempre atenta aos personagens masculinos, seu interesse maior se dirige ao corao feminino, espcie de terra mgica e de pesadelos, pela qual passeia com curio sidade e inquietao. Os Melhores contos Edla van Steen renem 23 trabalhos, dos melhores da literatura brasileira contempornea, que lanam o leitor num universo insti gante e intrigante de uma autora que, como observa An tonio Carlos Secchin, procura o nervo da vida, pois, como afirma certo personagem, movelhe o desejo no de pintar a paisagem, mas de estar dentro dela no mesmo passo arrastandonos a ns todos, seus leitores.

A literatura de Fausto Wolff dura, contundente e detesta as boas maneiras. Est repleta de palavras de re volta, de pragas, de palavres. E de situaes equvocas. O escritor fala, sem volteios ou metforas, de suas preocupa es pessoais e sociais que, numa escala ascendente (ou descendente, quem sabe!), vo da nsia pela bebida sem vergonhice que domina a poltica do pas. A maneira direta de afirmar, sem papas na lngua, como se dizia nos velhos tempos, fez de Fausto Wolff uma espcie de escritor maldito, olhado meio de lado pelos bem pensantes, talvez aqueles que as suas farpas podiam atin gir. A repulsa de tal gente quase uma consagrao. Por outro lado, os que podem olhar a vida e os fatos de frente, sem temores, gostam dessa maneira rude, agressiva, sob a qual flui, quase imperceptvel, uma intensa piedade pelas fragilidades e podrides do ser humano. Essa caracterstica marca toda a sua obra de ficcionista espontneo, v l o termo, que escreve as suas histrias desordenadamente, como elas se apresentam no sonho, sem futuro e sem passado, apenas no presente, para usar as suas prprias palavras. Um presente representado com um certo esprito picaresco, bem em sintonia com a huma nidade com a qual mais se identifica: os excludos, os hu milhados e ofendidos, os que no aceitam a hipocrisia e a mentira, os que se revoltam, como observa Andr Seffrin no prefcio aos Melhores contos Fausto Wolff. Reunindo nove histrias curtas, o livro constitui uma excelente introduo (para os no iniciados) ao universo de Fausto Wolff. Vale a pena conheclo, para se encantar ou se chocar, amlo ou detestlo. Em suma, tomar uma ati tude radical, como de gosto do autor. O importante que ningum sai de suas pginas como entrou.

Melhores Contos

Melhores Contos

10

HERBERTO SALESSeleo e prefcio de

HERMILO BORBA FILHOSeleo e prefcio de

Judith GrossmannHerberto Sales (19171999) Natural de Andara, BA3a edio 160 pginas ISBN 8526003968

Silvio Roberto de OliveiraHermilo Borba Filho (19171976) Natural de Palmares, PE1a edio 142 pginas ISBN 852600395X

Capa Nova

Herberto Sales estreou em 1944, com Cascalho, um romance imenso e violento, ambientado na decadente re gio das lavras diamantferas baianas. O sucesso do livro decidiu o autor a deixar o emprego na pequena cidade de Andara e tentar a vida no Rio de Janeiro. Curiosa a histria do romance, enviado a um concurso no Rio de Janeiro, sem ser premiado. Desalentado, Herberto rasgou os originais em sua posse, julgando ter destrudo a obra. Um dos jura dos do concurso, porm, Aurlio Buarque de Holanda, havia guardado uma das cpias, interessado no abundante nmero de regionalismos, que serviu de base edio do romance. Depois de um longo hiato, no qual publicou dois livros de ensaio, Herberto voltou fico, sua vocao au tntica, com o romance Alm dos marimbus (1961). A par tir da, no parou mais. O conto foi aventura da maturidade, quando o escritor (nascido em 1917) se achava em plena posse de seus recursos de expresso. As Histrias ordin rias, lanadas em 1966, revelavam um excelente contador de histrias, desses que no fazem cerimnia para prender o leitor, envolvlo na atmosfera de seus contos, tornlo cmplice e/ou testemunha da ao. Os temas variavam: um delicado mergulho na psicologia feminina, com alguma coisa de machadiano (Os vigilantes), uma espcie de s tira s ambies do homem moderno (O automvel), a anlise de um momento de crise (A carta). Em 1970, Herberto Sales publicou dois volumes de contos, O lobiso mem, saborosas histrias fisgadas no folclore brasileiro, e Uma telha de menos, ttulo significativo, sntese do esprito geral da obra, na qual todos os personagens so mais ou menos manacos, presos a uma ideia fixa. Seu ltimo vo lume de contos, Armado cavaleiro o audaz motoqueiro (1980) apresenta a estranha fauna da sociedade moderna, quase sempre tambm com uma telha a menos.

Homem de teatro acima de tudo, ensasta, autor de lite ratura infantil, pernambucano de quatro costados, impreg nado dos valores, das rebeldias e das irreverncias do Nordeste, Hermilo Borba Filho escreveu tambm uma fieira de contos saborosos, atrevidos, bocageanos, reunidos em trs volumes. Histrias narradas numa linguagem de tirar o flego, em frases espichadas, uma cachoeira verbal ritmada pelas vrgulas, repleta de expresses do cotidiano, provrbios, ver sos, interjeies, trechos de cantigas, uma mistura harmo niosa em que ao popular se junta o clssico, numa espcie de contraponto, de fio de colar disciplinando e harmoni zando o fluxo verbal. Mordazes e debochadas, apesar de baseadas em fatos reais, colhidos na tradio familiar ou entre amigos, as histrias curtas de Hermilo descambam com frequncia para o fantstico, o absurdo, os exageros to tpicos do cordel, mas sem descartar a permanente nota de bom humor. O bom humor persiste at nos momentos de tragdia, como um toque de irreverncia, criando um clima de pattico, tal como ocorre nos contos O palhao e O general est pintando. Ou se introduzindo em mo mentos quase surreais, como em Lindalva e A roupa. Em O perfumista, o humor corre em paralelo ao clima de real e fantstico, ao passo que em O almirante, ele se mistura crtica de costumes, em uma obraprima de nar rativa em curtametragem, como observa Silvio Roberto de Oliveira no prefcio aos Melhores contos Hermilo Borba Filho. O humor, de certa forma, serve tambm para tornar menos dolorosos (talvez at mais pungentes, depende do ponto de vista) alguns aspectos de uma realidade spera, dura, retratada por Hermilo, sempre preocupado em denun ciar os excessos dos donos do mundo e os fardos do povo oprimido. Literatura de denncia, por certo, mas redimida por um riso largo, amplo, rabelaisiano.

Melhores Contos

Melhores Contos11

IGNCIO DE LOYOLA BRANDOSeleo e prefcio de

J. J. VEIGASeleo e prefcio de

J. Aderaldo CastelloJ. J. Veiga (19151999) Natural de Corumb, GO4a edio 176 pginas ISBN 8526002287

Deonsio da SilvaIgncio de Loyola Brando (1936) Natural de Araraquara, SP9a edio 192 pginas ISBN 8526002864

Romancista de sucesso internacional, Igncio de Loyola Brando tambm um cultor exmio do conto. Essas histrias curtas escritas em linguagem coloquial, sem complicaes de estilo ou termos raros, de comunicao imediata com o leitor complementam sua viso da socie dade contempornea, expressa pelos romances. Mudam os gneros, permanece a mesma inquietao do autor, a insa tisfao com certos aspectos da realidade, a rebeldia diante dos poderosos, o incmodo com a situao catica da ci dade (no caso, So Paulo), mas tambm a simpatia (por vezes com um fundo de crueldade, um jogo sadomaso quista com o personagem) pelos sonhadores frustrados, quase sempre inofensivos, como no sarcstico 45 encon tros com a estrela Vera Fischer. Simpatia e sarcasmo se aguam ainda mais quando trata do sonhador ertico que s mulheres de carne e osso prefere as mulheres irresistveis das revistas pornogrficas (Anncios erticos). A fantasia mais forte do que a reali dade. A fantasia superando a realidade pode ser uma sim ples opo ertica, mas, em dimenses artsticas, significa o ingresso no fantstico, to da preferncia do escritor. Vejamse os contos O homem que viu o lagarto comer seu filho e O homem cuja orelha cresceu. Aplogos sem vu de alegoria de uma civilizao em agonia? Ou de um pas em crise? Talvez. Mas o autor sabe que a realidade, muitas vezes, pode ser mais fantstica, ou pelo menos mais contundente do que a imaginao. E muito mais cruel, como no Retrato do jovem brigador. Seja como for, a fico de Igncio de Loyola traduz a realidade do homem brasileiro e a situao conflituosa da sociedade atual, a carncia de valores, a im posio da violncia, o desmoronamento das crenas, o vazio existencial, mas tambm a persistncia dos sonhos com o futuro. Ainda restam algumas esperanas.

Jos J. Veiga foi um cidado do mundo da fantasia plena, aquela regio misteriosa onde os sonhos se introme tem na realidade e fenmenos estranhos sacodem os ali cerces da razo e zombam da lgica. A sua obra de ficcionista est povoada por fantasmas bonaches, nada fantasmagricos (no sentido usual do termo), mais capazes de encantar do que assustar, objetos que se humanizam, mas tambm de casos de horror, mis trio, sobrenatural, estranhos, por vezes terrveis, quase sempre com um sentido de alegoria. Ou de parbola ka fkiana, como no conto A mquina extraviada, uma as sustadora reflexo sobre a falta de sentido da vida humana. Parbola, aplogo ou alegoria, surrealismo ou realismo m gico, a fico de Jos J. Veiga mais libertao do que evaso, libertao dos estreitos limites da realidade fsica, das impossibilidades materiais, abertura ao onrico, janela para o caos, aos apelos do desconhecido, mas sempre con tida pelo senso crtico, a preocupao de no resvalar no extravagante pelo extravagante. Sob a nudez forte da fan tasia, o escritor estende o manto difano da inquietao com os destinos e limites do ser humano e do simbolismo social. A hora dos ruminantes foi at interpretada como aplogo poltico, inspirado no movimento militar de 1964, o que o transformaria em autor engajado. Veiga negou com veemncia, afirmando ter escrito a obra antes do fato. O que no a impediu de se ajustar situao como uma luva. Mas nem tudo so smbolos ou aplogos. H tambm contos extrados da banal realidade do cotidiano, nos quais Veiga demonstra grande delicadeza em identificar proble mas sociais (como em Cachimbo) ou recriar, com uma leveza e poesia que lembra Katherine Mansfield, um sim ples dilogo de crianas (Dilogo da relativa grandeza). O escritor sabia se movimentar em muitos terrenos.

Melhores Contos

Melhores Contos

12

JOO ALPHONSUSSeleo e prefcio de

JOO ANTNIOSeleo e prefcio de

Afonso Henriques NetoJoo Alphonsus (19011944) Natural de Conceio do Mato Dentro, MG1a edio 240 pginas ISBN 8526006940

Antnio HohlfeldtJoo Antnio (19371996) Natural de So Paulo, SP3a edio 216 pginas ISBN 8526003356

Joo Alphonsus foi o contista mais original do moder nismo brasileiro. Dono de um estilo leve e envolvente, como uma boa prosa de mineiro, e de um humor suave, de corroso mnima, escreveu dois romances (Totnio Pacheco e RolaMoa), poesias (apenas na mocidade) e alguns en saios, mas as suas preferncias iam para a histria curta. Em um depoimento de 1942, reproduzido por Afonso Henriques Neto no prefcio aos Melhores contos Joo Al phonsus, o autor admite que seus momentos mais plenos de realizao literria esto nos meus contos, gnero que me atrai e satisfaz quase que exclusivamente, tentador e difcil, mas to compensador quando se consegue alguma coisa que nos parea verdadeiramente realizada.Terceiro dos quinze filhos do poeta simbolista Alphonsus de Guima raens, Joo provou desde cedo o suave veneno da litera tura. Comeando a escrever na adolescncia, aos vinte anos j tinha um excelente domnio da arte de escrever. dessa poca (1922), o seu primeiro conto digno desse nome, Pesca da baleia, que serviu de ttulo a seu se gundo livro no gnero, publicado em 1941. O primeiro, Galinha cega, havia sado dez anos antes. A obra do con tista doloroso como os russos e conciso como os fran ceses, segundo Jos Lins do Rego , foi completada com Eis a noite! (1943). No ano seguinte o escritor morreu, em Belo Horizonte, aos 43 anos. O que de imediato desperta a ateno do leitor dos contos de Joo Alphonsus a simpli cidade, a sua cruel desmontagem do ridculo e da insatis fao pequenoburguesa (Carlos Drummond de Andrade), a recusa a qualquer efeito dramtico proposital, daqueles que o escritor tira da manga para comover o leitor, e sua mal disfarada piedade por todos os seres vivos. Foi um grande amigo dos animais, e suas histrias de bichos per manecem insuperveis em nossa literatura.

Malandros, bomios, jogadores de sinuca, marginaliza dos pelo sistema, gigols, prostitutas, punguistas, vigaristas, dedosduros, lees de chcara, trombadinhas, desemprega dos, artistas decadentes, proletrios so os grandes persona gens de Joo Antnio. Heris sujos, desesperanados, amargos, vivendo o dia a dia da cidade com a astcia, o faro, o apetite pela sobrevivncia das feras na selva. Mais que a lei da selva, a lei do co que rege esse mundo implacvel, sem grandeza, duro, visto com curiosi dade por um escritor que registra a realidade como ela , sem atenuantes, sem frases de efeito, sem falsos momen tos de ternura, no mau sentido da palavra, mas com uma viva e mal disfarada simpatia. Simpatia, identidade, empa tia, pois, ao contrrio de certos escritores de gabinete, Joo Antnio viveu o mundo de seus personagens, conviveu com mestres da sinuca e otrios, sentiu a angstia do tra balhador sem dinheiro para o po, presenciou a crueldade e a violncia das ruas, as perseguies policiais, a passivi dade dos que aceitam a sua condio de lixo humano e a rebeldia dos revoltados. Da vem a fora de sua narrativa, expressa numa arte refinada, com um longnquo sabor clssico, de um clssico velhaco (como o chamou Jorge Amado), senhor de todos os segredos do conto, expres sandose em uma linguagem inventiva, enriquecida pelo coloquial do submundo, habilmente incorporada ao fluxo da frase artstica. Linguagem brasileira, inconfundvel, de um escritor identificado com a sua terra, com o Brasil real, cruel e discriminador para tantos de seus filhos (sou to brasileiro, gosto daqui e no me ajeito a viver nas estran jas), mas tambm cheio de vida, de picardias, de energia e vitalidade, que o escritor colhia como se colhe uma purs sima flor do lodo. Como disse o prprio Joo Antnio, a vida no pode ser uma lata velha, enferrujada e triste.

Melhores Contos

Melhores Contos13

JOO DO RIOSeleo e prefcio de

JOEL SILVEIRASeleo e prefcio de

Helena Parente CunhaJoo do Rio (18811921) Natural do Rio de Janeiro, RJ2a edio 160 pginas ISBN 8526002481

Ldo IvoJoel Silveira (19182007) Natural de Aracaju, SE1a edio 240 pginas ISBN 8526005928

Capa Nova

Cnicos, decadentes, provocadores, os contos de Joo do Rio refletem o momento de transformao do Rio de Janeiro, ao influxo das reformas de Pereira Passos, nas duas primeiras dcadas do sculo XX. Sob as mos firmes do grande prefeito, a velha cidade de traado colonial, imunda, ia se transfor mando numa metrpole moderna, de ruas largas e limpas, cujo smbolo a abertura da avenida Central. O Rio civi lizase era a frase mais dita durante a belle poque. Na cidade iluminada a eletricidade, onde os primeiros automveis desfilavam na assustadora velocidade de 30 km/h, melindrosas e almofadinhas se exibiam porta das confeitarias e pela rua do Ouvidor. Surgiam os chamados vcios elegantes, como a cocana, multiplicavamse os bor dis e as casas para encontros amorosos clandestinos. A febre de mundanismo, a vida vertiginosa dominava a ci dade. Joo do Rio foi o cronista admirvel desse universo, retratado tambm em reportagens escritas em estilo gil e vibrante, que renovaram o jornalismo brasileiro, dando ao jovem escritor um extraordinrio prestgio. Estreando na imprensa aos dezeseis anos, fez uma carreira brilhante, que despertou invejas e o levou Academia Brasileira de Letras, aos 29 anos. Nesta poca, publicou seu primeiro livro de contos, Dentro da noite, uma espcie de sntese da obra do contista, interessado sobretudo nos aspectos patolgicos da natureza humana, nas perverses, nos vcios, confess veis ou inconfessveis, e nas situaes equvocas ou cho cantes, como vemos em trabalhos como O beb de tarlatana rosa e D. Joaquina. Como alguns dos maiores escritores da poca, Joo do Rio abusava do estilo precioso, das frases de efeito, do brilho fcil, dos paradoxos a Oscar Wilde, que agradavam o pblico da poca. Ao leitor de hoje podem parecer recursos artificiais, mas sem compro meter o prazer da leitura.

Um dos grandes jornalistas da histria da imprensa bra sileira, considerado o maior reprter de sua gerao, Joel Sil veira recebeu de Manuel Bandeira uma bela louvao: Como reprter, no tem quem lhe leve vantagem: possui uma ma neira muito pessoal, pachorrenta, meio songamonga, volun tariamente sem brilho literrio o antiJoo do Rio e, apesar disso, ou antes por isso mesmo, maciamente perfu rante como uma punhalada que di quando a ferida esfria. Vrias dessas qualidades de reprter esto presentes nos contos de Joel Silveira, desde a sua rumorosa estreia com Onda raivosa (1939), quando o jovem jornalista de 21 anos, recmchegado de Sergipe, assaltava as atalaias li terrias e jornalsticas da metrpole com o seu talento, ousadia e graa, e uma esplndida e matinal belicosidade, como informa Ldo Ivo no prefcio aos Melhores contos Joel Silveira. A fidelidade ao jornalismo e literatura se manteve a vida toda. O que servia de fonte a uma, servia tambm de inspirao a outra, como ocorre nas Histrias de pracinhas (1945), ocorridas com os soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial (que o autor co briu como reprter) e nos vrios volumes posteriores de contos. A crtica identificou na maneira de narrar do con tista, na preferncia pelo episdio instantneo ou pelo as pecto fugaz da vida cotidiana, semelhana com Katherine Mansfield. Os contos dessa poca eram registros de instan tes em que nada acontece, mas atravessados por sugestes e pressentimentos, seu verdadeiro suporte. A evoluo pos terior levou Joel Silveira a novos caminhos, mas preser vando a ironia e a graa do estilo. Em alguns momentos de plena realizao artstica chega no que de melhor produziu o conto brasileiro, como em O dia em que o leo morreu, pungente obraprima que s costuma sair da pena avi sada dos clssicos! (Ldo Ivo).

Melhores Contos

Melhores Contos

14

LDO IVOSeleo e prefcio de

LIMA BARRETOSeleo e prefcio de

Afrnio CoutinhoLdo Ivo (1924) Natural de Macei, AL2a edio 144 pginas ISBN 8526003941

Francisco de Assis BarbosaLima Barreto (18811922) Natural do Rio de Janeiro, RJ8a edio 174 pginas ISBN 8526000810

Poeta exuberante, ensasta inquietador, tradutor de alguns poetas intraduzveis, como Rimbaud, seduzido eter namente pelas mltiplas aventuras do esprito, Ldo Ivo acumula uma rica obra de fico, na qual o conto ocupa um lugar parte, seja pelo volume, modesto em relao ao nmero de romances, como pela qualidade dos trabalhos, a novidade, o domnio da tcnica, a maestria da lingua gem. O contista no desmerece o poeta. Ldo Ivo estreou no conto em 1957, com A cidade e os dias, volume que traz a indicao de reunir crnicas e hist rias. Na realidade, so contos autnticos, no sentido rigoroso do termo, e no segundo a classificao elstica de Mrio de Andrade, de que conto tudo aquilo que o autor chama de conto. Em 1961, publicou o segundo e ltimo volume do gnero, intitulado Use a passagem subterrnea (1961). Con tista do cotidiano, as suas histrias curtas retratam a com dia humana carioca, pequenos dramas insuspeitos (O flautim), casos de adultrio sem remorso (A viva e o es tudante), o despertar da sexualidade (Quando a fruta est madura), com um certo desencanto dos homens e da vida, mas com uma confiana decidida no poder purificador da poesia. O desalento com a humanidade alcana uma espcie de auge no belo Natal carioca, um breve aplogo de sabor agridoce. Os personagens so empregadas domsticas em namoro com guardas municipais (O amor em Graja), aposentados, algumas crianas (a infncia ocupa um lugar importante no mundo do ficcionista). A cidade do Rio de Janeiro, onde a maioria dos contos se desenrola, uma grande presena e, como Machado de Assis, Ldo Ivo regis tra com fidelidade os locais frequentados pelos personagens, a confeitaria do largo da Carioca, o teatro Carlos Gomes, e os meios de transporte, o bondinho sacolejante de Santa Teresa, os trens da Central, os nibus congestionados.

Lima Barreto morreu em novembro de 1922, em sua casa suburbana de Todos os Santos, no Rio de Janeiro, lendo a Revue des Deux Mondes. Tinha 41 anos e deixava a obra de fico mais importante da literatura brasileira, depois de Machado de Assis. Sua morte, alguns meses de pois da Semana de Arte Moderna, tem alguma coisa de simblica. como uma espcie de retirada de cena de um Brasil arcaico, preso a valores em acelerado processo de eroso, diante do fulgor de um novo mundo que ansiava por se manifestar, por bem ou fora. Alguma coisa desse mundo em gestao j estava presente na obra de Lima Barreto: a simpatia pelos marginalizados, a revolta contra os preconceitos, a nsia de demolio social que fez dele um precursor da prpria Semana. No prefcio aos Melhores contos Lima Barreto, Francisco de Assis Barbosa lembra a analogia estabelecida por Otto Maria Carpeaux entre Lima e os escritores norteamericanos da dcada de 1910, inicia dores de uma literatura de protesto chamada poca de remoo do lixo. Afinidades parte, o ensasta observa que nenhum dos escritores norteamericanos citados Upton Sinclair e Jack London tinham o humor corrosivo do brasileiro e nem criaram uma obra to humana como o Triste fim de Policarpo Quaresma. Sensibilidade humana, humor corrosivo, e uma mal disfarada ternura pelos hu mildes, os vencidos da vida, atirados nos subrbios (o su brbio o refgio dos infelizes, escreveu) assinalam tambm os contos de Lima. neles que se reala ainda mais o esp rito de revolta do escritor, assim como sua permanente in veja dos ricos, sentimentos que se acham presentes em muitas de suas melhores histrias curtas (O homem que sabia javans, A biblioteca, Cl, A nova Califrnia, Clara dos Anjos), obrasprimas da literatura brasileira e universal.

Melhores Contos

Melhores Contos15

LUIZ VILELASeleo e prefcio de

LYGIA FAGUNDES TELLESSeleo e prefcio de

Wilson MartinsLuiz Vilela (1942) Natural de Ituiutaba, MG3 edio 248 pginas ISBN 8526002031a

Eduardo PortellaLygia Fagundes Telles (1923) Natural de So Paulo, SP11a edio 176 pginas ISBN 8526003364

Tremor de terra (1967), o primeiro livro de Luiz Vilela, provocou um pequeno abalo ssmico entre os cultores do conto e os crticos brasileiros. O autor, ento com 24 anos, depois de recusado por vrios editores, publicou o livro por conta prpria. Inscrito no Prmio Nacional de Braslia, ob teve o primeiro lugar, superando 250 concorrentes, entre os quais vrios escritores de prestgio nacional. Desde logo, Vilela foi apontado como a maior revela o do conto no Brasil, depois dos j consagrados Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Nos volumes seguintes, uma longa trajetria composta por mais de vinte volumes, a maioria de contos, impsse em definitivo como um dos mestres do gnero. Partindo quase sempre de uma situa o banal uma conversa de bar, uma visita , os contos de Vilela apresentam uma humanidade angustiada, solit ria, amarga, frustrada, em busca desesperada de um sen tido para a vida, mas incapazes de se comunicar com seus semelhantes. Os fatos se desenrolam com naturalidade, sem truques, em um clima de pessimismo, sordidez, gro tesco e ridculo. Como definiu Wilson Martins, no prefcio aos Melhores contos Luiz Vilela, as pginas de Vilela tm a palpitao interna do conto, no poderiam ser outra coisa seno contos; a arte das linhas simples e profundas, e das dificuldades de execuo; bem a msica de c mara e no a sinfonia arranjada para instrumentos menos numerosos. O volume de Melhores contos Luiz Vilela est composto por trinta trabalhos. Alguns deles considerados obrasprimas da literatura brasileira: Os sobreviventes, Brbaro, Aprendizado, Franoise, Luz sobre a porta, Ousadia, Um peixe, Preocupaes de uma velhinha, que devem permanecer ao lado do melhor produzido por seus contemporneos, um Dalton Trevisan, um Rubem Fon seca. Que o leitor julgue por si mesmo.

Um dos nomes mais importantes da literatura brasi leira, mestre do romance, no conto que Lygia Fagundes Telles encontra seu mais autntico meio de expresso e de renovao. Cada um de seus livros revela uma nova Lygia, aberta totalidade da vida, sempre interessada em novos mistrios, na busca permanente do mais intrigante de todos eles, o mistrio humano. Comeando a escrever ainda adolescente (seu primeiro livro, repudiado pela autora, foi publicado quando ela tinha quinze anos), alcanou a maturidade intelectual com o ro mance Ciranda de pedra (1954) e, no conto, com as Histrias do desencontro (1958), em que predomina uma atmos fera de angstia e frustrao, que se repete com frequncia em sua obra. A partir da, publicou vrios volumes de contos, nos quais se pode fisgar pelo menos uma meia dzia de obrasprimas. Consagrada pela crtica nacional e internacio nal, comparada a monstros sagrados da literatura universal, uma Katherine Mansfield, uma Virginia Woolf, Lygia uma perfeccionista incansvel, escrevendo e reescrevendo inme ras vezes seus trabalhos, em busca do completo despoja mento, da nota exata que revele o ntimo de suas criaturas, os seus dilaceramentos, as suas inquietaes, os seus impas ses diante da vida, aquela nota trgica to caracterstica de sua arte. Escrever cortar, dizia Marques Rebelo. Com o domnio da forma, disposta sempre a cortar, nunca a acres cer, Lygia chegou a criar uma sintaxe prpria, eliminando os complementos bvios da frase. Exemplo: Fil, a gatinha correndo e berrando com aquele rabo aceso, uma antena. Descartouse de muito mais, de tudo que seja acessrio, atrada pelo essencial, o texto perfeito do qual nada se pode acrescentar ou suprimir, at alcanar aquela clssica sereni dade das formas de arte definitivas, que o crtico Paulo Rnai identificou em seus contos.

Melhores Contos

Melhores Contos

16

MACHADO DE ASSISSeleo e prefcio de

MARCOS REYSeleo e prefcio de

Domcio Proena FilhoMachado de Assis (18391908) Natural do Rio de Janeiro, RJ15a edio 304 pginas ISBN 8526003372

Fbio LucasMarcos Rey (19251999) Natural de So Paulo, SP2a edio 240 pginas ISBN 8526005936

Uma seleo dos melhores contos de Machado de Assis corresponde ao que de melhor se escreveu no gnero, em lngua portuguesa. Maior escritor brasileiro, romancista cheio de artes e artimanhas, mestre da dubiedade, dando a enten der, muitas vezes, o contrrio do que quis dizer, conhecedor profundo da alma humana, o bruxo do Cosme Velho encon trou no conto um esplndido terreno para suas bruxarias. Em quase meio sculo de atividade no gnero, Ma chado deixou 205 contos, entre os quais dezenas de obras primas, das melhores escritas em qualquer poca e pas, que o colocam como uma espcie de pico solitrio da litera tura universal, ao lado de outros mestres do gnero, Tchecov, Maupassant, Katherine Mansfield, Jens Peter Jacobsen. No incio de sua carreira, o escritor no deu muita importncia ao gnero. O primeiro conto, publicado aos dezenove anos, chamavase Trs tesouros perdidos, e o segundo, O pas das quimeras s saiu trs anos depois (em 1862). O exerc cio constante e persistente do gnero s se realiza aps 1864. Convidado a colaborar no Jornal das Famlias, as suas histrias agradam tanto as leitoras que cada nmero publica dois ou trs trabalhos seus, obrigandoo a utilizar diversos pseudnimos. O pleno domnio do gnero coincide com a grande crise de sua vida, no fim da dcada de 1870, levandoo descrena, ao pessimismo e ao temor da loucura. a poca das Memrias pstumas de Brs Cubas e dos contos de Pa pis avulsos (1882), marcados pela inquietao diante da condio humana, amargos, irnicos, sarcsticos, crticos impiedosos do bichohomem, cheios de situaes ambguas, quando nada acontece, mas palpita uma riqussima carga de humanidade. Obrasprimas do quilate de Missa do galo, Uns braos, Dona Benedita, e outros, onde a dificul dade escolher o melhor do que, por sua condio, j figura entre o melhor dos melhores.

Marcos Rey daqueles escritores que prendem o leitor desde a primeira frase e s o libertam aps o pontofinal. Herdeiro dos grandes autores de romances de aventura, com um gosto mal disfarado, mas contido, pelo folhetinesco, sabe como dosar o suspense para manter o leitor sempre de flego curto, ansioso para desvendar o mistrio proposto. Mistrio, no caso, nem sempre significa a resoluo de um enigma complicado, indispensvel salvao da vida do personagem. O mistrio pode ser tambm psicolgico, um daqueles grilos que levam as pessoas aos atos e s atitudes mais estranhos. Uma inclinao indefinvel, como ocorre no excelente conto O locutor da madrugada, que Fbio Lucas, no prefcio aos Melhores contos Marcos Rey, classifica, com razo, como machadiano: Machadiano com maior liberdade quanto miseenscne. Romancista, autor de mais de qua renta ttulos, que alcanaram uma vendagem superior a 5 milhes de exemplares, Edmundo Donato (este seu nome ver dadeiro, o outro pseudnimo) escreveu de tudo um pouco. Foi redator de rdio, publicitrio, redigiu roteiros para o ci nema e para a televiso. O conto foi paixo prematura. Antes mesmo de aprender a ler, j vivia envolvido pela magia das histrias que seu pai lhe contava, noite, entre goles de vinho branco. Deve ter sido a que aprendeu algumas das virtudes capitais que distinguem os seus contos: o relato direto, obje tivo, sem preciosismos de estilo, num ritmo envolvente, tal e qual uma boa narrativa oral. Aos dezessete anos publicou o primeiro conto, em um jornal paulistano. No parou mais, senhor de seu ofcio e da arte de prender o leitor. Arte que comea pelas sugestes lanadas no ttulo de seus livros e contos, de gosto popular e moderno. Confirase: O enterro da cafetina, Soy loco por ti, Amrica!, O pndulo da noite, O co da meianoite, Eu e meu Fusca, Mustang cor de sangue. O resto fica por conta do talento.

Melhores Contos

Melhores Contos17

MRIO DE ANDRADESeleo e prefcio de

MARQUES REBELOSeleo e prefcio de

Tel Ancona LopezMrio de Andrade (18931945) Natural de So Paulo, SP8a edio 174 pginas ISBN 8526001892

Ary QuintellaMarques Rebelo (19071973) Natural do Rio de Janeiro, RJ4a edio 216 pginas ISBN 8526002961

Homem dos mil instrumentos, agitador cultural, musi cista, poeta, crtico, professor, romancista, divulgador de ideias novas, demolidor de tabus e preconceitos, epistol grafo sem paralelo na lngua portuguesa, Mrio de Andrade foi a personalidade mais fulgurante do movimento moder nista e uma das figuras capitais da literatura brasileira. Como em tudo que fez romance, crtica, ensaio, po esia ou uma simples carta , Mrio deixou a sua marca pessoal, alis personalssima, no conto brasileiro. Depois de um comeo imaturo (segundo classificao do prprio es critor) com Primeiro andar, firmase no volume seguinte, Belazarte (nome do rabugento narrador dos contos), como um dos mestres do gnero na literatura brasileira, em todos os tempos. Contos novos, de publicao pstuma, mantm o nvel e sugere novos caminhos que a morte impediu de trilhar. No conto, como em tudo o mais, o escritor buscou renovar o gnero, com sua viso jovial e zombeteira da vida, mas sobretudo por meio de uma linguagem brasilei rssima, onde o adjetivo ocupa o lugar do advrbio, o pro nome surge deslocado em meio aos italianismos, to tpicos da fala paulistana, o ponto e vrgula substitudo pela vr gula, dando ao texto aquele ritmo todo especial. Mas o que determina a permanncia dessa obra, como assinala Tel Ancona Lopez no prefcio aos Melhores contos Mrio de Andrade, a forte pulsao de humanidade que deles se destaca, ultrapassando diretivas estticas, datas e progra mas. o sentido de humanidade que torna inesquecvel a histria maliciosa de Rosa, despertada para o sexo graas s artes de um besouro (O besouro e a Rosa), a persistente presena paterna em O peru de Natal e Tempo da cami solinha, ou a descoberta da homossexualidade em Frede rico Pacincia. A tcnica efmera, o humano eterno.

Herdeiro da tradio carioca de Manuel Antnio de Almeida, Machado de Assis e Lima Barreto, Marques Re belo recriou por meio da fico, com muita mordacidade e algum lirismo, a vida da cidade nas dcadas de 1930 e 1940. Depois dessa fase, dedicouse de preferncia ao romance, escrevendo apenas trs contos. Foi uma poca rica em acontecimentos, assinalada por ditaduras, revoltas armadas, conflitos, perseguies polticas. A vida material se tornou mais complexa, multiplicaramse os automveis, a cidade cresceu, mas a vida humana continuou com as mesmas angstias e esperanas. A pequena burgue sia carioca, residente na Zona Norte e nos subrbios, de onde o escritor extraa a maior parte dos personagens de seus con tos, penava com a dureza do cotidiano e do emprego mo desto, acompanhava os programas de rdio (so inmeros os contos em que os personagens ouvem rdio), esbaldavase no Carnaval, frequentava cinemas nos fins de semana, torcia e sofria pelo seu time de futebol. Muitos viviam em casas de penso, abundantes na cidade. Os mais privilegiados dispu nham de vitrola ortofnica, onde ouviam os discos de Fran cisco Alves. As aspiraes individuais eram modestas. Todos queriam mais ou menos a mesma coisa: mudar de vida, enri quecer, arranjar um(a) amante. Nessas vidas modestas e inco lores, o escritor encontra material para os seus admirveis contos, escritos com arte refinada, em linguagem coloquial e dilogos vivos, reveladores da psicologia dos personagens. Escritos com implacvel ironia, os contos de Rebelo so mar cados tambm por um permanente desencanto, como se o escritor indagasse: vale a pena viver? Em raros momentos, a piedade pelos destinos frustrados estabelece uma inusitada atmosfera de simpatia humana. O lirismo s predomina quando a nostalgia domina o escritor, na evocao de epis dios da infncia e da mocidade.

Melhores Contos

Melhores Contos

18

MOACYR SCLIARSeleo e prefcio de

ORGENES LESSASeleo e prefcio de

Regina ZilbermannMoacyr Scliar (1937) Natural de Porto Alegre, RS6a edio 272 pginas ISBN 8526000284

Glria PondOrgenes Lessa (19031986) Natural de Lenis Paulista, SP1a edio 288 pginas ISBN 8526008552

Quando o fantstico se junta ao humor o resultado no mnimo inslito, surpreendente, inesperado, sobretudo se for o humor judaico levado ao extremo, autopunitivo, a meio caminho entre o desespero e a ironia. Juntese a isso, doses bem controladas de erotismo, de sagrado (e de uma permanente tentao de dessacralizao), uma certa joco sidade, e temos os principais ingredientes que compem a arte do contista Moacyr Scliar. Essa simples mistura, eviden temente, no basta para fazer um bom conto ou agradar o leitor. Isso depende exclusivamente do talento do autor, da percia com que controla a tcnica do conto, de sua viso maliciosa do mundo, da eleio dos temas, de uma certa impiedade com que trata os personagens, em con traste com sua piedade pela condio humana. A contradio a primeira marca do humano. E o universo de Moacyr Scliar povoado por seres humanos, ou atormentados por sentimentos humanos, sejam eles simples mortais, um ano que vive no interior de um apa relho de televiso ou um cadver, deitado na mesa de um necrotrio, que avalia e julga os alunos de Medicina que lhe retalham o corpo. Situao inslita mais realismo da descri o e o resultado a mudana de perspectivas do conto, a sua sedimentao como aplogo ou parbola do mundo moderno. Claro, quando se fala dos dias atuais, a violncia, a crueldade do homem para o semelhante, a exacerbao do sexo, utilizado como elemento de dominao, tm de estar presente. Outra grande vertente da fico de Scliar a vida dos imigrantes judeus, as dificuldades de adaptao, a persistncia em manter hbitos trazidos de sociedades muito diversas que, como observa Regina Zilbermann no prefcio, enfocadas com uma mal disfarada ternura, cons tituem a forma mais aguda da arte de Scliar assumir sua prpria individualidade e significao.

Orgenes Lessa escreveu romances, reportagens, um curioso livro sobre tcnica de vendas, uma abundante lite ratura infantojuvenil, to importante para o povinho mido de nossa poca quanto a obra de Monteiro Lobato, e al guns dos contos mais saborosos jamais imaginados e publi cados no Brasil. Quem o l pela primeira vez tem a impresso de que fcil escrever histrias como as dele. To simples, to huma nas, narradas em tom malicioso, levemente irnico, por vezes cruel. Impresso. A realidade muito diferente. A cla reza, a espontaneidade, o estilo enxuto e objetivo, o domnio tcnico, to preciso que d ideia de que nem existe tcnica, nada tm a ver com aquela simplicidade sinnimo de po breza, e sim com a simplicidade das coisas naturais, resul tado de processos complexos, como a goiaba ou a manga madura pendurada no galho. Filho de um pastor protes tante, Orgenes j nasceu com tinta de escrever no sangue. O pai era um erudito, professor de Teologia, e autor de vrios livros sobre temas histricos. Em sua misso de religioso, Vicente Themudo Lessa no esquentava lugar. Morou em Lenis Paulista (onde o futuro escritor nasceu), em So Paulo, em So Lus do Maranho, onde Orgenes comeou a desenvolver seu talento de escritor. O primeiro trabalho foi escrito em caracteres gregos, copiados dos livros do pai. A estreia em livro se deu aos 26 anos, um volume de contos intitulado O escritor proibido (1929). A partir da, no parou mais. Publicou dezenas de livros. Dez volumes de contos, nos quais explorou as mais extremas situaes, do mais simples caso fisgado do cotidiano ao fantstico, sempre com um sentido de crtica, mas tambm de solidariedade e simpatia humana. O que levou a prefaciadora dos Melhores contos Orgenes Lessa, Glria Pond, a afirmar que a literatura de Orgenes Lessa , toda ela, de comunho.

Melhores Contos

Melhores Contos19

OSMAN LINSSeleo e prefcio de

RIBEIRO COUTOSeleo e prefcio de

Sandra NitriniOsman Lins (19241978) Natural de Pernambuco, PE1a edio 224 pginas ISBN 8526008145

Alberto Venancio FilhoRibeiro Couto (18981963) Natural de Santos, SP1a edio 248 pginas ISBN 8526007688

Quando lanou seu primeiro volume de contos, Osman Lins j era um romancista premiado. A precedncia, no caso, explica a preferncia. Ao longo de sua atividade lite rria, o escritor publicou apenas dois livros de contos e cinco romances, identificados pela mesma qualidade liter ria, pela busca obstinada pela perfeio formal, segundo a lio de Flaubert. Os gestos (1957) exigiu mais de dez anos de trabalho, o mesmo tempo consumido com Nove, no vena (1966). Escritor de formao clssica, Osman Lins se guiu em seu primeiro livro os modelos da narrativa tradicional, na linhagem machadiana. Em frases curtas e estilo traba lhado, recheado de imagens, retrata uma humanidade mida, vivendo pequenos dramas no recinto domstico, angustiada, dominada pelo sentimento da solido e de abandono, quase margem da sociedade. Nove, novena assinala a transformao das narrativas de Osman Lins, uma novidade na literatura brasileira. Os contos se desen volvem em vrios planos de narrao, em fragmentos, como se fossem mdulos, nos quais se movem os persona gens, identificados por sinais grficos. Termos e constru es barrocas se juntam a ornamentos de linguagem de outras artes, como teatro, pintura, cinema. A esses recur sos fundese o estilo preciso, belo, adequado para cada caso, numa tessitura prpria de poesia, mas distanciado do fcil consumo, exigindo uma leitura empenhada, observa Sandra Nitrini no prefcio aos Melhores contos Osman Lins. Alguns desses contos, classificados pelos crti cos como microrromances, alcanam grande intensidade de expresso, como o Retbulo de Santa Joana Carolina, que, segundo Jos Paulo Paes, enquadra o destino hu mano numa perspectiva cosmognica, maneira dos mis trios medievais, em que se inspirou o escrito. A crtica considerao a obraprima do autor.

A maior parte dos contos de Ribeiro Couto foi escrita na mocidade, antes dos trinta anos, com ttulos deliciosos e instigantes, que j do uma ideia do universo do escritor: A casa do gato cinzento, O crime do estudante Ba tista, Baianinha e outras mulheres. Depois de dobrar o cabo dos quarenta, publicou apenas um volume no gnero, Largo da matriz Clube das esposas enganadas (1933) foi classificado pelo autor como novelas. A maturidade, porm, no alterou as caractersticas do escritor e nem tostou o frescor e a singeleza de suas histrias. Homem atento riqueza do cotidiano, Ribeiro Couto dele extraiu o material de suas histrias, nas quais o rea lismo atenuado pelo lirismo e pela nota potica. Em al guns de seus melhores contos h um mal disfarado sentimentalismo, sem que essa tendncia comprometa a alta qualidade dos trabalhos. Na velhice, ao prefaciar a an tologia Histrias da cidade grande, Ribeiro Couto dividiu seus contos em trs grupos, de acordo com os assuntos e os ambientes. As histrias da cidade grande passamse no Rio de Janeiro, quase sempre, abordam vidas em crise (O crime do estudante Batista, O primeiro amor de An tnio Maria) ou momentos de transgresso ao cdigo de bom comportamento burgus (Uma noite de chuva ou Simo, Diletante de ambientes), estes vistos pelo escri tor com um certo sarcasmo. Bem diversos so os tipos e episdios do ciclo de histrias da cidade pequena (Baiano, Largo da Matriz). Por ltimo, as histrias de meninos (Bilu, Carolina e eu), as mais caras ao escritor, nas quais h provavelmente uma origem autobiogrfica. Situados em tempos e locais diversos, estes contos esto unidos pelo esprito e a tcnica, a ternura, a ironia, a com preenso das fragilidades humanas e um certo fundo dis creto, muito discreto, de desencanto.

Melhores Contos

Melhores Contos

20

RICARDO RAMOSSeleo e prefcio de

RUBEM BRAGASeleo e prefcio de

Bella JozefRicardo Ramos (19291992) Natural de Palmeira dos ndios, AL2a edio 224 pginas ISBN 8526005669

Davi Arrigucci Jr.Rubem Braga (19131990) Natural de Cachoeiro do Itapemirim, ES11a edio 168 pginas ISBN 8526000268

Em geral, os filhos de grandes escritores, quando re solvem escrever, se revelam medocres. Ricardo Ramos, filho de Graciliano Ramos, uma exceo. Desde sua es treia, em 1954, com os contos de Tempo de espera, mos trou um talento digno do pai. A escolha do gnero tambm no foi por acaso. Ao longo de quase quarenta anos de atividade literria, o escritor sempre deu preferncia ao conto, como veculo ideal de ex presso literria. Publicou romances, novelas, memrias, mas foi como contista que firmou seu nome, sem viver sombra da glria paterna. Definindo a sua maneira de escrever con tos, Ricardo Ramos identifica como elemento essencial bus car um momento de emoo intensa e breve, mas despojado de qualquer elemento melodramtico ou grandiloquente, pelos quais, alis, revela repulsa. O ideal captar aquele ins tante nico com a preciso de um cirurgio, recrilo com a habilidade de um arteso e concluir com um desenlace ines perado, daqueles que sacodem o leitor, sem permitir qual quer disparidade entre forma e fundo. Claro que, diante dessa exigncia, linguagem e estilo so fundamentais. Alguns crti cos chegam a apontlo como um dos raros inovadores do estilo, na literatura moderna brasileira. Enxuto, preciso, por vezes ousado, como ao se utilizar dos clichs da linguagem publicitria para mostrar sua interferncia no cotidiano do homem moderno (Circuito fechado). O homem moderno o grande personagem do escritor, com suas frustraes (A mancha na sala de jantar), a violncia extrema, em Matar um homem, e no irnico O policial do ano, apresentado em forma de roteiro para televiso. Dessa forma, a obra de Ricardo Ramos, como observou Bella Jozef, no prefcio aos Melhores contos Ricardo Ramos, embora sem inteno do cumentria, forma em seu conjunto um rico testemunho da realidade brasileira.

Rubem Braga, o sabi da crnica, o poeta to poeta que no precisa escrever versos (Srgio Milliet), o pri meiro a elevar a crnica ao nvel da mais alta categoria lite rria (Antonio Candido e Jos Aderaldo Castello), o lrico envolvente cuja melhor performance ocorre sempre por escassez de assunto (Manuel Bandeira), o mestre no des cobrir o lado significativo dos acontecimentos mais triviais (Jos Paulo Paes), gostava tambm de surpreender seus leitores com pequenos contos, poticos, de alta categoria literria, lricos, quase sem assunto ou narrando aconteci mentos triviais. Nascido em Cachoeiro do Itapemirim, Esprito Santo, em 1913, Rubem Braga iniciou suas atividades de cronista em 1932, no Dirio da Tarde, do Rio de Janeiro. No jornalismo trabalhou em vrios jornais, de Recife, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de outras cidades, ora redator, ora cronista, ou exercendo as duas funes. Durante o Estado Novo foi preso vrias vezes. Em 1939, trabalhava em Porto Alegre quando foi encarcerado num navio. Cinco anos depois, de sembarcava na Itlia, como correspondente do Dirio Ca rioca, para cobrir a Segunda Guerra Mundial. Solicitado por jornais e revistas, viajou por boa parte do mundo, em parti cular a Europa e as Amricas. Casouse diversas vezes. Gos tava de passarinhos e de olhar o mar de sua cobertura em Ipanema, onde viveu os ltimos anos de vida. Muitas dessas experincias foram aproveitadas em crnicas e, eventual mente, serviram de motivos ou inspirao a contos como Dirio de um subversivo, Navegao da casa, Tuim criado no dedo e vrias outras nas quais a velha arte de contar histrias, como observa Davi Arrigucci Jr. no prefcio, guarda algo de um outrora ainda mais distante, alguma coisa da atmosfera primitiva e mgica de um passado ances tral e da sabedoria oracular.

Melhores Contos

Melhores Contos21

SALIM MIGUELSeleo e prefcio de

SIMES LOPES NETOSeleo e prefcio de

Regina DalcastagnSalim Miguel (1924) Natural de Kfarsouroum, Lbano1a edio 224 pginas ISBN 9788526013780

Dionsio ToledoSimes L. Neto (18651916) Natural de Pelotas, RS1a edio 144 pginas ISBN 8526005715

Capa Nova

Em sessenta anos de exerccio da literatura, Salim Mi guel construiu uma obra slida, das mais significativas da fico brasileira moderna, formada por romances, ensaios, volumes de contos. Como contista, suas primeiras experincias foram publi cadas em Sul, revista que congregou os intelectuais catarinen ses, no incio da dcada de 1950. Por essa poca, ocorreu a estreia em livro, com Velhice e outros contos (1951), a que se seguiu, com breve intervalo, Alguma gente (1953). Salim Mi guel s voltaria ao gnero vinte anos mais tarde, com mo experiente, j liberto de experimentalismos, senhor de todos os segredos do gnero, com O primeiro gosto (1973). Cada vez mais exigente com seu texto, trabalhandoo com a persistncia de um Balzac (chega a reescrevlo at dez vezes), levaria mais quinze anos at publicar um novo volume de histrias curtas, As areias do tempo (1988), a que se seguiram As desquitadas de Florianpolis (1995) e Onze de Biguau mais um (1997). Melhores contos Salim Miguel rene quinze histrias curtas, representativas das vrias fases do autor e de sua viso de mundo, interligadas pela permanente inquietao de quem anseia pela verdade, parece que sem grande es perana de encontrla. um universo muito peculiar, formado por textos densos, dolorosos, nos quais a aventura humana fixada com angstia e inquietao, e ao qual se tem acesso, em geral, atravs dos meandros da memria, na busca deses perada de um porto firme, que talvez seja o autoconheci mento, o esclarecimento do mistrio de si mesmo. Como observa Antonio Hohlfedt, a arte do conto em Salim Mi guel feita desta inteligncia da meia palavra, do jogo da aparncia, tudo destinado a chegar at a essncia, ao miolo, ao que somos efetivamente: a terceira margem.

Simes Lopes Neto passou a vida em Pelotas, sua ci dade natal. Era um escritor de estilo admirvel, sabendo explorar e valorizar as nuanas da linguagem regional, sem comprometer a espontaneidade dos contadores de causos, aqueles pees que se renem nas estncias gachas para contar casos mirabolantes e histrias reais exageradas at as raias do absurdo. s qualidades de estilo e aos dons privilegiados de nar rador, juntava o escritor uma tcnica apurada e um conheci mento profundo da psicologia do habitante dos pampas, os vaqueanos, as chinocas, o cantador, o tropeiro, o contraban dista. Escolhendo o conto como elemento de expresso lite rria, Simes publicou dois volumes no gnero, os Contos gauchescos e as Lendas do Sul, respectivamente, em 1912 e 1913, quando o movimento regionalista achavase no auge, em todo o pas. Os contos so narrados por um tpico cam peiro, Blau Nunes, que s tinha de seu um cavalo gordo, o faco afiado e as estradas reais. Os dois livros, publicados numa editora da provncia, no tiveram o reconhecimento devido no pas. No ultrapassaram as fronteiras do Rio Grande do Sul, apesar de serem superiores, em vrios aspec tos, produo de Afonso Arinos e de Valdomiro Silveira, os outros dois grandes representantes do conto regional. A in justia s comeou a ser reparada com a edio crtica das duas obras, com prefcio de Augusto Meyer, no incio dos anos 1950, e a incluso do autor na Prosa de fico (de 1870 a 1920), de Lcia Miguel Pereira. A historiadora tornouse grande admiradora da arte de Simes, apontandoo como o escritor que, como ningum no Brasil, encontrou o segredo da arte popular. Esse segredo est expresso em alguns con tos magistrais, como O Negrinho do Pastoreio, sua obra prima, No manantial, A Salamanca do Jarau, dos mais perfeitos que j se escreveram no Brasil.

Melhores Contos

Melhores Contos

22

Melhores Contos Prelo

ARY QUINTELLASeleo e prefcio de Monica Rector Ary Quintella (19331999) Natural do Rio de Janeiro, RJ

HLIO PLVORASeleo e prefcio de Andr Seffrin Hlio Plvora (1928) Natural de Itabuna, BA

HUMBERTO DE CAMPOS WALMIR AYALA

Humberto de Campos (18861934) Natural de Miritiba, MA

Seleo e prefcio de Maria da Glria Bordini Walmir Ayala (19331991) Natural de Porto Alegre, RS

23

Coleo

Melhores PoeMasDIREOEDLA VAN STEEN

A Global Editora reuniu nesta coleo mais de 61clssicos da poesia brasileira e portuguesa: dos poe tas quinhentistas e seiscentistas, como Lus de Ca mes e Gregrio de Matos, a expoentes da literatura atual. Nomes consagrados em diferentes escolas li terrias foram selecionados e chegam ao pblico em coletneas inditas. Seguindo a linha da coleo Melhores Contos, carac terizam a coleo Melhores Poemas a cuidadosa se leo dos textos e o zelo pela fidelidade produo original do autor. Biografia, bibliografia e estudos introdutrios sobre os poetas esto presentes em cada volume. Esta co leo, tambm dirigida pela escritora Edla van Steen, uma iniciativa editorial que tem levado aos leitores, nesses mais de 25 anos de existncia, os melhores poemas dos grandes poetas que marcaram a histria da nossa literatura.

24

AFFONSO ROMANO DE SANTANNASeleo e prefcio de

ALBERTO DA COSTA E SILVASeleo e prefcio de

Miguel Sanches NetoAffonso Romano de SantAnna (1937) Natural de Belo Horizonte, MGPrelo

Prelo

Andr SeffrinAlberto da Costa e Silva (1931) Natural de So Paulo, SP1a edio 224 pginas ISBN 9788526011861

Desde seu primeiro livro de poemas, lanado em 1965, Affonso Romano de SantAnna se imps como uma voz sin gular na poesia brasileira. Canto e palavra revelava um poeta de lirismo duro, ptreo, de olhos abertos para a vida, atento s sugestes e s inquietaes do cotidiano, personalssimo, com maturidade para buscar seu prprio caminho. Desde logo ficou claro que o caminho do poeta come ava, passava e terminava na busca do humano e na iden tidade com o seu tempo de angstias e perplexidades, sem excluir o lirismo amoroso nem se esquivar s preocupaes com os mil e um transes e pesadelos dirios vividos pelo pas, ento no auge do regime militar. A essa busca hu mana aliavase a procura de sua identidade potica e de novas perspectivas tcnicas para seu ofcio, expressa nos poemas reflexivos de Poesia sobre poesia, e que, de certa forma, se prolonga em A grande fala do ndio guarani. Aqui, comea a se impor a preocupao com o destino do Brasil, a necessidade intrigante de entendlo e amlo, que culmina em Que pas este?, livro provocado pelo espanto de coisas corriqueiras (Donaldo Schler). Com ele, Affonso ingressa no seleto grupo de grandes poetas brasileiros. A crtica chegou a apontlo como o grande poeta brasileiro que obscuramente espervamos para a su cesso de Carlos Drummond de Andrade (Wilson Mar tins). Depois de fixar os olhos em seu pas, o poeta se volta para o mundo e o mistrio do cosmos, que palpitam em A catedral de Colnia (1985), uma espcie de smbolo intem poral de beleza e perenidade, uma metfora da histria, em contraste com a brevidade da vida humana. Em seus ltimos livros, o poeta revela crescente preocupao com a grande incgnita da vida e da morte, pressentindo o amargo momento da partida: uma quase tristeza/ de quem amando tudo isto/ teve que se retirar.

Quem imagina que a grande poesia morreu, precisa ler com urgncia Alberto da Costa e Silva: Uma ausncia de mim por mim se afirma./ E partindo de mim, na sombra sobre/ o cho que no foi meu, na relva simples/ o outro ser que sonhei se deita e cisma. Pertencendo cronologicamente chamada Gerao de 45, o poeta se integra, na realidade, quela sociedade de poetas autnticos que se colocam por vontade prpria margem (e acima) das modas efmeras, identificados com a velha tradio da poesia ocidental, que se alonga de Homero a Rilke, de Goethe a Drummond, de Cames a Fernando Pessoa. Isso significa uma ampla abertura espiri tual, mas tambm uma srie de exigncias que o poeta Costa e Silva, pondo de lado a pressa e a nsia de glria, cultiva com zelo e pacincia, para atingir a forma depurada que lhe caracteriza a poesia, essencialmente lrica, na qual o velho e eterno soneto ocupa um lugar de destaque. A sua obra uma vitria permanente da cultura sobre a natureza, ou da exigncia sobre a facilidade, con forme acentuou Antonio Carlos Villaa. Mas tambm, como toda poesia autntica, inquieta e perplexa perante o mistrio da vida. O poeta se angustia e reage com uma preocupao quase obsessiva diante da morte e do tempo (o eterno agora e em si mesmo morre), uma forte nos talgia da infncia (Vou pedir a meu pai/ que me esquea menino), mas tambm uma permanente seduo e reve rncia pelo amor, sem cerrar os olhos beleza do mundo, ao jogo da luz numa caixa de laranjas/ ou a chuva sobre a mesa de verduras no mercado. que o poeta sabe que verdade no h, mas mltiplas verdades e que a poesia esquiva. preciso fisgla no momento de sua ecloso: a vida canta baixinho/ e, quando grita,/ desatamse de ns o sonho e o xtase.

Melhores PoeMas

Melhores PoeMas25

ALBERTO DE OLIVEIRASeleo e prefcio de

ALPHONSUS DE GUIMARAENSSeleo e prefcio de

Snzio de AzevedoAlberto de Oliveira (18571937) Natural de Palmital de Saquarema, RJ1 edio 240 pginas ISBN 9788526012325 Coedio ABLa

Alphonsus de Guimaraens FilhoAlphonsus de Guimaraens (18701921) Natural de Ouro Preto, MG4a edio 176 pginas ISBN 8526003380

H muito tempo, Alberto de Oliveira merecia uma edi o como essa dos Melhores poemas Alberto de Oliveira. Em vida, o poeta foi coberto de glrias, reverenciado, colo cado no panteo dos deuses da poesia brasileira, formando, ao lado de Olavo Bilac e Raimundo Correa, a famosa trin dade parnasiana. Mais tarde, com a ecloso do Modernismo, a viso de sua obra foi distorcida, vtima do preconceito e da pressa dos jovens modernistas em se afirmarem, muitas vezes, custa de prestgio de seus antecessores. Condenar ao limbo o que antes fora admirado rendia ento prestgio e uma aura de gnio. Dessa forma, todo o movimento parnasiano foi arre messado ao inferno, como exemplo a no ser imitado, es tigmatizado por no ser o que ele no se props a ser, conforme a observao de Antonio Carlos Secchin. Apontado como o seguidor mais fiel do cnon parna siano, o parnasiano em regra, extremado, completo, radi cal, segundo Silvio Romero, Alberto de Oliveira comeou, ainda em vida, a ser vtima de equvocos da crtica, apon tado como um poeta que teria sacrificado a expresso de seus sentimentos, impassvel e frio como aquele Vaso Grego de um de seus mais conhecidos poemas. Meros equvocos, como alerta Snzio de Azevedo no prefcio. Poeta abundante, grande sonetista (grande na quanti dade e na qualidade), Alberto de Oliveira foi um parnasiano consciente e aplicado, mas tambm um lrico transbordante, de sensibilidade romntica represada e disciplinada, e de um erotismo contundente, durante muito tempo ignorado pela crtica, que legou literatura brasileira um feixe de belos poemas (A cigarra da chcara, Mar de equincio e Num trem de subrbio, entre outros), que merecem ser lembrados enquanto houver amantes da poesia.

Alphonsus de Guimaraens com a sua poesia mstica, seu companheirismo com Deus (Ningum anda com Deus mais do que eu ando), sua intimidade com a morte (Sempre vivi com a morte dentro da alma,/ sempre tacteei nas trevas de um jazigo), seus amores meio irreais e mrbidos, sua devoo a Nossa Senhora e sua humildade foi uma espcie de aprendiz de santo perdido nas montanhas das Gerais. Habitando velhas cidades mineiras Ouro Preto, Con ceio do Serro, Mariana , vivia de fato em outra dimen so, um mundo pessoal com incertas conexes com a realidade terrena, expresso com extrema delicadeza em sua poesia crepuscular, de contornos vagos, com uma suave msica em surdina, pattica como um cantocho, ilumi nada pela suave luz do luar, uma das obsesses do poeta, o luar, que s para quem sofre existe. Que ningum du vide da sinceridade dessa poesia. Se o Simbolismo no exis tisse, o poeta por certo encontraria uma expresso semelhante. A fonte estava em sua prpria vida cotidiana. Vivendo sempre em pequenas cidades, sem contatos inte lectuais, to estimulantes para o escritor, Alphonsus fez da poesia elemento de comunho e evaso. As duas corriam em paralelo. A evaso do mundo (que comeava em seu nome literrio arcaizado e latinizado), o enclausuramento em seu mosteiro ideal, a exemplo de tantos msticos, foi o caminho mais curto ou talvez o nico possvel para a comunho com Deus pela f catlica, to poderosa em sua obra. Afonso Henriques da Costa Guimares nasceu em Ouro Preto, em 1871, cursou a Faculdade de Direito de So Paulo, exerceu cargos na magistratura mineira, mas foi acima de tudo poeta. At a morte, em 1921, quando li berto do peso da matria, a sua alma, como ele expressou, to lindamente, tornouse trigo de Deus no cu aberto.

Melhores PoeMas

Melhores PoeMas

26

ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHOSeleo e prefcio de

ALVARENGA PEIxOTOSeleo e prefcio de

Antonio Arnoni PradoAlvarenga Peixoto (17431791) Natural do Rio de Janeiro, RJ1a edio 128 pginas ISBN 8526007807

Afonso Henriques NetoAlphonsus de Guimaraens Filho (19182008) Natural de Mariana, MG1a edio 176 pginas ISBN 9788526003380

Alphonsus de Guimaraens Filho traz a literatura no sangue, herdeiro de uma tradio literria que remonta a Bernardo Guimares (seu av), o autor de A escrava Isaura, e a Alphonsus de Guimaraens (seu pai). Poeta acima de tudo, buscando de forma incansvel a beleza pura, a poe sia sem mcula, o que, de certa maneira, o ttulo de seu primeiro livro indica e define: Lume de estrelas. A partir da, dcada de 1940, Alphonsus construiu uma longa e elaborada obra potica, das mais importantes do lirismo brasileiro, na qual o temperamento romntico e as sugestes simbolistas, associadas a um certo gosto pela metafsica, foram se depurando numa dico cada vez mais pessoal e pura. Como todo escritor autntico, o poeta foi localizando seu mundo peculiar, dentro do imenso universo potico, medida que via e analisava a sua prpria imagem naquilo que escrevia. Poesia como exerccio de autoanlise, mas tambm de infinitas sugestes e aberturas para o mundo externo, pois, como adverte o poeta, nenhuma poesia se faz de matria abstrata. Descobertas e rupturas se sucederam em mais de ses senta anos de exerccio potico. De carter permanente foi a adoo do soneto como uma de suas formas preferidas de expresso. No , pois, sem razo, que considerado um dos maiores sonetistas da lngua. No mais, a busca per manente pela renovao, em fases sucessivas, a de expres so catlica, sob influncia ou sugesto de Jorge de Lima e Murilo Mendes, como a descoberta da grande poesia espa nhola, soldadas pela mesma obsesso: a procura de sua prpria e implacvel imagem, que tambm uma das bus cas permanentes da poesia.

As opinies sobre a escassa obra potica de Alvarenga Peixoto so divergentes. Menos contraditrias so as infor maes sobre sua vida. Natural do Rio de Janeiro, Incio Jos de Alvarenga Peixoto formouse em leis pela Universi dade de Coimbra. Em Portugal, ocupou importantes cargos na magistratura. Ao voltar cidade natal foi festivamente recebido pelo vicerei, marqus de Lavradio, mas preferiu partir para Minas Gerais, fixandose em So Joo delRei. Ali trocou a advocacia pelos trabalhos de minerao, casouse com Brbara Heliodora, tambm poeta (autora do belo poema Conselhos a meus filhos) e fez imensa for tuna. Era o mais rico dos inconfidentes, mas, segundo al guns historiadores, um homem de carter leviano, que teria se engajado na Inconfidncia Mineira apenas como uma forma de se livrar de suas imensas dvidas. Preso, durante os interrogatrios denunciou os companheiros. H certo exagero nessas acusaes, pois muitos inconfidentes ti nham dvidas com o fisco. Peixoto no foi exceo. Da mesma forma, diante do aparato repressor, com exceo de Tira dentes, todos fraquejaram e denunciaram os amigos. Como poeta, Peixoto foi acusado, com a mesma intolern cia, de ser um versejador correto e frio e uma espcie de profissional da lisonja. De fato, quase toda a sua obra co nhecida at certa poca dirigida aos poderosos do dia. Da mediocridade geral, os historiadores salvavam apenas o Canto genetlaco, em razo de suas ideias nativistas. Em 1956, Domingos Carvalho da Silva reavaliou a obra de Pei xoto, encontrando nela o lirismo e a espontaneidade dos verdadeiros poetas. Trs anos depois, a descoberta de cinco sonetos, mostrou um poeta altura do que de me lhor haviam produzido os contemporneos, segundo opi nio da crtica. De certa forma, foi o renascimento do poeta. O debate continua aberto.

Melhores PoeMas

Melhores PoeMas27

LVARES DE AZEVEDOSeleo e prefcio de

LVARO ALVES DE FARIASeleo e prefcio de

Antonio Candidolvares de Azevedo (18311852) Natural de So Paulo, SP6 edio 208 pginas ISBN 8526000225a

Carlos Felipe Moisslvaro Alves de Faria (1942) Natural de So Paulo, SP1a edio 272 pginas ISBN 9788526013124

lvares de Azevedo deixou entre os seus contempor neos a ideia de um gnio, cuja morte prematura, aos vinte anos de idade, impediu a plena realizao de suas possibi lidades. Quase um sculo depois, Mrio de Andrade voltava a exaltar a genialidade do poeta, no do gnio atingvel atravs das pacincias compridas, mas do gnio indepen dente, por assim dizer espontneo, capaz de criar uma obra formidvel. A espontaneidade foi, sem dvida, um dos traos mar cantes do poeta paulista, que mesmo sem atingir a geniali dade, deixou uma obra formidvel, espcie de smula das inquietaes e desejos dos jovens romnticos de 1850. Quais eram essas inquietaes? Em primeiro lugar o amor, a aproxi mao entre os sexos, dificultada e at obstruda pela rgida moral patriarcal. Assim, o simples e humano ato de amar as sumia, por vezes, um sentido de transgresso, muito presente na obra do nosso poeta, seja no plano social, seja no psicol gico. Em vrios de seus poemas, Azevedo idealiza a posse sexual em sonho como a realizao suprema do amor. O amor estava sempre ligado ao mais desbragado sentimentalismo. Era uma das atitudes bonitas da poca, frequentemente cor roda por momentos de cinismo e amargura, quase sempre de inspirao livresca. Sentimental e um tanto ingnuo, lvares de Azevedo intoxicou sua literatura com os venenos sutis des tilados das obras do amargo Byron, do melanclico Musset, do pessimista Leopardi. Ainda bem que tinha em si mesmo um contraveneno poderoso, o seu admirvel senso de humor, que o levava a zombar at da morte, como no poema O poeta moribundo, desenvolvido na craveira da mais franca piada, como observa Antonio Candido no prefcio aos Me lhores poemas lvares de Azevedo. lvares de Azevedo, 150 anos depois de sua morte, continua capaz de comover e en cantar o leitor. O que mais pedir a um poeta?

Natural da cidade de So Paulo, filho de portugueses, lvaro Alves de Faria jornalista, teatrlogo, romancista, ensasta, cronista, crtico literrio, mas sobretudo poeta. Predestinado e prematuro. O primeiro poema foi escrito aos onze anos e aos dezesseis concluiu seu primeiro livro, Noturno maior, publicado alguns anos depois. Outros vieram, cada vez mais refinados e pessoais, demonstrando sua vocao autntica, ao contrrio de tan tos jovens que publicam livro de poemas na adolescncia, para logo se afastarem, e para sempre, da poesia. O reconhecimento da crtica vem sendo expresso em artigos e prmios diversos. Seu quarto livro, 4 cantos de pavor e alguns poemas desesperados (1973) recebeu trs dos maiores prmios literrios do pas, o Governador do Estado de So Paulo, o Prefeitura Municipal de So Paulo e o Pen Clube Internacional de So Paulo. Trajetria potica, que rene sua poesia at 2003, recebeu o prmio de me lhor livro de poemas do ano, concedido pela Associao Paulista dos Crticos de Arte. Nos ltimos anos, aps a publicao de 20 poemas quase lricos e algumas canes para Coimbra (1999), sua obra vem encontrando especial receptividade em Portugal, onde lvaro costuma participar com frequncia de recitais e congressos. A voz do poeta chegou ainda mais longe. Seus poemas esto traduzidos para o ingls, o francs, o italiano, o espanhol, o alemo, o servocroata e o japons. No prefcio aos Melhores poem