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DA TRAMA DAS PALAVRAS À MAGIA DO CONTO
Autor: Gilma Heitor Mexia Zambolim1
Orientador: Edson José Gomes2
Resumo
Este artigo foi elaborado a partir do plano de trabalho PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional / PR em 2011. O foco da proposta pautou-se no desenvolvimento de estratégias de leitura que estimulassem os alunos a realizarem leituras significativas, tendo como suporte o gênero conto, acreditando que ele viesse a ser uma excelente porta de entrada para o universo literário justamente pela razão de ser um texto breve, podendo, assim, ser lido em sala de aula com o acompanhamento do professor. Para o seu desenvolvimento ancorou-se no Método Recepcional, proposto pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar na obra “A Formação do Leitor” - Alternativas Metodológicas (1993). As atividades foram desenvolvidas com alunos do 9ᵒ ano, do Ensino Fundamental, período vespertino, no Colégio Estadual de Iporã – EFMP, Município de Iporã, Paraná. Este conhecimento permitiu aos alunos reconhecer aspectos importantes da construção do conto, possibilitando–lhes apreciar melhor estas histórias ficcionais. Obteve-se excelentes resultados na implementação didático-pedagógica, uma vez que se pôde contar com a participação ativa dos alunos em cada atividade sugerida. Isso possibilitou concluir que toda a prática pedagógica intencional, diferenciada com a leitura em sala de aula proporciona bons resultados e contribui, decisivamente, para desenvolver a proficiência e o gosto pela leitura.
Palavras-chave: Leitura significativa; Conto; Método Recepcional
Abstract
1 Graduada em Letras pela FAFIU (Faculdade de Ciências e Letras de Umuarama) Professora PDE
2010. Pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior e linguagens códigos e suas Metodologias. Professora do Colégio Estadual de Iporã. 2 Graduado em Letras Português Francês pela UEM - Universidade Estadual de Maringá Mestre em estudos da Linguagem pela UEL Universidade Estadual de Londrina. Doutor em Língua e Literatura Francesa pela USP Universidade estadual de SÃO Paulo Professor de língua Francesa na Universidade Estadual de Maringá UEM
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This study was elaborated from the work plan PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional / PR in 2011. The focus of draft was based on development of reading strategies to encourage students to perform meaningful perusal, supported by the genre tale, believing that it would be an excellent access for literary universe. By be brief, tale can read in the classroom with the teacher monitoring. Order to develop this work; we anchored in Recepcional method that was proposed by teachers Maria da Gloria Teixeira Aguiar Bordini and Vera on the book “A Formação do Leitor” - Alternativas Metodológicas (1993). The activities were developed with students from ninth serie of elementary school, the afternoon period at State College Iporã - EFMP, Iporã, Paraná. Such knowledge enabled students to acknowledge important aspects of the construction of the tale, enabling them appreciate better these fictional stories. We obtained excellent results in implementing didatic-pedagogical, once had the active participation of students in each suggested activity. So allowed us to conclude that all pedagogical practice intentional, distinguished by reading in classroom brings good results and contributes significantly to develop proficiency in reading and the taste.
1 Introdução
A prática de leitura é uma tarefa essencial para a construção do conhecimento e
um deflagrador do sentimento e opinião crítica do indivíduo. É uma condição
imprescindível quando se pretende formar um cidadão instrumentalizado para exercer
com consciência e liberdade a cidadania; cidadão este, preparado para inferir com
autonomia, intencionalidade e decisão na transformação da sociedade em que vive.
No entanto, constata-se que grande parte dos alunos em formação não se sente
estimulada e não demonstra interesse pela leitura e, por consequência, não se torna
leitor proficiente. Nesse sentido, a falta dessa proficiência leitora constitui-se numa das
principais causas de dificuldades dos alunos frente aos problemas de aprendizagem.
A escola, então, torna-se um importante veículo de integração desses alunos. A
esse respeito Zillberman (2003, p.16) afirma que a sala de aula é um espaço
privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo
importante para o intercâmbio da cultura literária. Assim sendo, o espaço escolar torna-
se um fator fundamental, cabendo à escola oferecer leituras de qualidade, diversidade
de textos com práticas eficazes e consequentemente formar leitores, ampliando os
horizontes em relação ao mundo e as questões inerentes ao seu bem-estar social. Por
esse motivo, deve-se recorrer a estímulos para induzir o hábito prazeroso de leitura no
aluno.
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Uma das maneiras de tornar a leitura prazerosa e significativa ao mesmo tempo
é a literatura, pois ela nos leva de volta para dentro de nós mesmos, nos inquieta com
perguntas provocantes. Por isso, quando lemos literatura, lemos a vida. Quando
discutimos um texto, discutimos a vida, as reações humanas e os problemas da
existência.
A literatura não traz respostas, ela é na verdade uma pergunta que desafia o
leitor, que nos faz refletir, que mexe com as nossas convicções e alargam nossos
horizontes. Essa é a grande força da literatura e por isso ela deve ser introduzida na
sala de aula uma vez que tem uma função educativa e não meramente escolar.
Se soubermos recriar essa vida na sala de aula, ajudaremos os alunos a
perceber que os textos convidam a um diálogo, a uma troca de ideias e que toda
literatura, no fundo, é um reencontro do leitor consigo mesmo, em busca de respostas
para suas inquietações mais profundas.
Partindo desse princípio, acredita-se que a escolha do gênero conto venha ser
um instrumento nas aulas de língua portuguesa em que o professor possa desenvolver
estratégias que estimulem a imaginação e amplie o horizonte de expectativas dos
jovens leitores. Nessa perspectiva, Silva (2005, p.93) explica que a leitura de contos
pode estimular o aluno leitor a encontrar na leitura literária, uma forma lúdica de
entender melhor sua própria realidade. Ao ler narrativas curtas, que exijam uma
resposta mais rápida e dinâmica do receptor, o aluno pode se sentir mais atraído pelo
texto.
Alguns contos selecionados podem apresentar histórias do nosso tempo,
focalizam relações familiares, desnudam conflitos sociais e psicológicos, mergulham no
interior do ser humano, revelam o absurdo da vida, introduzem a magia no cotidiano.O
gênero conto pode ser uma excelente porta de entrada para o universo literário. Por ser
breve, pode ser lido em sala de aula com acompanhamento do professor, que por meio
de comentários e sugestões importantes do estilo do autor e de sua visão de mundo,
pode criar oportunidades para debates e atividades de expressão oral e escrita,
estimulando, assim, o hábito prazeroso da leitura no aluno.
Entendendo que a leitura satisfaz as amplas necessidades do ser humano
(estética, afetivas, culturais e intelectuais) e um dos caminhos de inserção dos
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indivíduos no mundo, o professor pode agir como um mediador entre alunos leitores e
textos a fim de despertar o gosto pela leitura.
2 Fundamentação Teórica
O ato de ler é um processo de entender o mundo a partir de uma característica
particular ao homem, ou seja, é a sua capacidade de interação com o outro por
intermédio das palavras que, por sua vez, estão submetidas a um contexto.
Observando em Freire, (2003, p.20) este olhar sobre a leitura quando diz “a leitura do
mundo precede a leitura da palavra”, pode-se depreender que a compreensão do texto
se dá a partir de uma leitura crítica, percebendo a relação entre o texto e o contexto.
Dessa forma, ler não pode ser compreendido apenas como decodificar sinais,
mas compreender, desvelar sentidos, interagir, construir significados, aprimorar a
capacidade de reflexão e ser capaz de entender as entrelinhas.
Segundo Martins, (1982, p.31) existem muitas concepções de leitura e estas
podem restringir-se a duas caracterizações, são elas:
(...) 1) Como uma decodificação mecânica de signos linguísticos por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo- resposta. (perspectiva behavorista - skinneriana); 2) Como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos. (perspectiva cognitivo-sociológica).
Ambas evidenciam a curiosidade se transformando em necessidade e esforço
para alimentar o imaginário, desvendar os segredos do mundo e dar a conhecer o leitor
a si mesmo por meio do que lê e como lê.
Quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a partir das
situações que a realidade impõe e da nossa atuação nela; quando começamos a
estabelecer relações entre as experiências e a tentar resolver os problemas que se nos
apresentam, aí então estamos procedendo a leituras, as quais nos habilitam
basicamente a ler tudo e qualquer coisa. Esse seria o lado otimista e prazeroso do
aprendizado da leitura. Dá-nos a impressão de o mundo estar ao nosso alcance; não só
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podemos compreendê-lo, conviver com ele, mas até modificá-lo à medida que
incorporamos experiências de leitura.
Martins, (1982, p.19) ressalta que “a psicanálise enfatiza que tudo que
impressiona a nossa mente jamais é esquecido”. Essa constatação evidencia a
importância da memória, tanto para a vida quanto para a leitura, principalmente a da
palavra escrita para a leitura. Daí a valorização do saber ler e escrever, já que não se
trata de um signo arbitrário, não disponível na natureza, criado como um instrumento de
comunicação, registro das relações humanas, das ações e aspirações dos homens,
transformando com freqüência em instrumento de poder pelos dominadores, mas que
pode também vir a ser a libertação dos dominados.
Assim como a aprendizagem em geral e da leitura em particular significa para o
aluno uma conquista de autonomia, permite a ampliação dos horizontes. Esse horizonte
é o mundo de sua vida, com tudo que o povoa: vivências pessoais, sócio-históricas,
normas filosóficas, religiosas, ideológicas. Em face disso, aprender a ler significa
também aprender a ler o mundo, a dar sentido a ele e a nós próprios, o que mal ou bem
fazemos, mesmo sem sermos ensinados.
A função do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas de criar
condições para o educando realizar sua própria aprendizagem, conforme seus próprios
interesses, necessidades, fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a realidade
apresenta.
A leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido, seja escrito,
sonoro seja um gesto, uma imagem ou um acontecimento. É uma prática insubstituível
para uma educação que se queira diferenciada eficiente e transformadora. Uma
condição imprescindível quando se pretende formar um cidadão preparado para
exercer com consciência e liberdade a cidadania.
Considera-se que o gosto pela leitura se constrói por meio de um longo processo
e para o desenvolvimento de potencialidades, há a necessidade de se propor atividades
diversas para a formação de um leitor crítico. A esse respeito Solé (1998, p.23)
descreve que:
A leitura é o processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita. Nesta compreensão intervêm tanto o texto, sua forma e
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conteúdo, como o leitor, suas expectativas e conhecimentos prévios. Para ler necessitamos, simultaneamente, manejar com destreza habilidades de decodificação e aportar ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias; precisamos nos envolver em um processo de previsão e inferência contínua, que se apóia na informação proporcionada pelo texto.
Portanto, a atividade de leitura, ao contrário de uma mera recepção passiva,
caracteriza-se pela atitude ativa do leitor, que utiliza seu conhecimento lingüístico, seu
conhecimento textual e seu conhecimento de mundo no processo de compreensão.
Dessa forma, a leitura resgata o ser humano da alienação, instrumentalizando-o para a
vida. Sua aprendizagem deve relacionar-se a formação integral do educando. É uma
prática insubstituível para uma educação que se queira diferenciada, eficiente e
transformadora.
Nessa perspectiva, o educador, preocupado com a formação do gosto, deve
adotar uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral do aluno, propondo
atividades novas sem o compromisso de impor leituras e avaliar o educando. Trata-se
de fazer com que se realizem espaços na escola onde a leitura por fruição possa ser
vivenciada pelos alunos como instrumento de aprendizagem, informação e deleite.
A literatura tem sua importância no âmbito escolar em virtude do fornecimento de
condições próprias para o aluno em formação. Ela é um fenômeno de criatividade,
aprendizagem e prazer, que representa o mundo e a vida por intermédio das palavras:
... A obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor. Assim, não é mero reflexo na mente, que se traduz em palavras, mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e
criadora. (BORDINI, AGUIAR), 1993, p.14)
O texto literário representa e apresenta a existência humana com todas as suas
dimensões: a alegria, o sofrimento, a angústia, o medo, a morte, a existência humana
está presente nessas obras. Essa característica da literatura pode tornar o mundo mais
compreensível ao leitor, permitindo-lhe vivenciar outros contextos e tempos. Bordini
(1993, p.15) afirma este olhar sobre a literatura quando nos diz “que ela, desse modo,
se torna uma reserva de vida paralela, onde o leitor encontra o que não pode ou não
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sabe experimentar na realidade.” A literatura estabelece com o leitor uma possibilidade
de mostrar sua subjetividade no texto porque atende o leitor e suas vivências, o que é
bastante restrito em textos não literários. A linguagem polissêmica permite ao leitor
inserir-se na obra, tornando-o um aliado:
...A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre em outros textos. Daí provém o próprio prazer da leitura, uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor, sem obrigá-lo a manter-se nas amarras do
cotidiano. (BORDINI, AGUIAR,1993, p.15)
Esse trabalho com a linguagem transforma a obra em um universo com
autonomia de significação em relação ao contexto, caracterizando verossimilhança.
Dessa forma, a coerência entre seus componentes e suas funções é muito importante
ao texto. A obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo mais carregado de
informações porque se transforma em uma vivência ímpar, pois possibilita ao cidadão
uma compreensão mais abrangente do seu mundo, oportunizando descobertas e
possíveis soluções para suas dúvidas em relação ao seu contexto social, levando-o a
reexaminar a sua própria visão da realidade concreta.
Bordini, (1993, p.26), aborda ainda “que quando o ato de ler se configura,
preferencialmente, como atendimento aos interesses do leitor, desencadeia o processo
de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada, motivando o
prazer da leitura”, fornecendo a possibilidade de o aluno se encontrar no texto, pois na
experiência com o desconhecido surge a descoberta de modos alternativos de ser e de
viver. Desse modo, é necessário que no espaço escolar, o professor faça a mediação
entre o trabalho e o aluno para que assim sejam criadas situações onde o aluno seja
capaz de realizar sua própria leitura, concordando ou discordando e ainda fazendo uma
leitura crítica do que lhe foi apresentado. Daí a importância em se propiciar a leitura e a
literatura de modo a permitir ao aluno criar e recriar o universo de possibilidades que o
texto literário oferece.
Sendo assim, o conto, que se constitui numa narrativa curta, um texto em prosa
que dá o seu recado em um reduzido número de páginas ou linhas, apresenta como
sua maior qualidade os fatores da concisão e brevidade, devendo produzir em quem lê
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um efeito de impacto. Possibilita-nos trabalhar de forma mais ampla esse gênero
textual, contribuindo para que o aluno, com nossa mediação, possa realizar uma leitura
crítica e fazer inferências. Nesse sentido, Silva (2005, p.93) explica que:
...A leitura de contos pode estimular o aluno leitor a encontrar na leitura literária, uma forma lúdica de entender melhor sua própria realidade. Ao ler narrativas curtas que exijam uma resposta mais rápida e dinâmica do receptor, o aluno pode se sentir mais atraído pelo texto.
Diante da crise da leitura, faz-se necessário rever e questionar as nossas
práticas, com o propósito de encontrar espaços para o sonho e a imaginação. Luzia de
Maria (1992, p.23-24) destaca que a trama do conto é objetiva e que a ação caminha
claramente à frente como na vida real que pretende espelhar. De um momento para o
outro deflagra o estopim e o drama explode imprevistamente e que a grande força do
conto consiste no jogo narrativo para prender o interesse do leitor até o desenlace,
devendo surpreender o leitor, deixando-lhe uma semente de meditação ou de pasmo
perante a nova situação conhecida.
Portanto, com o objetivo de desenvolver o gosto pela leitura e acreditando que o
gênero conto venha a ser um instrumento nas aulas de leitura, por serem textos
possíveis de se ler em sala de aula e pelo trabalho estético que realiza com a
linguagem, abordando temas e dramas humanos, possibilitando aos alunos construir
significados, desenvolver a capacidade de reflexão e ser capaz de perceber o que está
presente nas entrelinhas, o que lhe permitirá observar a visão de mundo, refletindo
sobre ela e estabelecendo uma relação de diálogo, de conversa entre a sua leitura de
mundo na posição de leitor, e a do texto, tendo em vista ampliar e transformar as suas
experiências e conhecimentos.
3 Metodologia
O campo para o presente trabalho foi o Colégio Estadual de Iporã – EFMP, no
município de Iporã/PR. O colégio localiza-se no centro da cidade, mas recebe também
alunos oriundos de bairros afastados e alunos da zona rural.
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O trabalho foi realizado com a 8ᵃ série E, ou seja, 9ᵒ ano do período vespertino
com um total de 32 horas/aula para a realização das atividades de estímulo à leitura.
Como encaminhamento metodológico desse trabalho com o gênero textual
conto, procurou-se atender as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua
Portuguesa do Paraná (DCEs) que sugerem o Método Recepcional das professoras
Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, como metodologia para as práticas
pedagógicas com o texto em sala de aula.
Optou-se por esse encaminhamento devido o papel que se atribui ao leitor, uma
vez que este é visto como um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu
contexto. Além disso, esse método proporciona momentos de debates, reflexões sobre
a obra lida, possibilitando ao aluno a ampliação de seus horizontes de expectativas.
Essa proposta de trabalho tem como objetivos: efetuar leituras compreensivas e
críticas; ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem; questionar as leituras
efetuadas em relação ao seu próprio horizonte cultural; transformar os próprios
horizontes de expectativas. (DCEs/SEED. Língua Portuguesa, 2008, p.74)
O Método Recepcional de Jauss (apud AGUIAR, 1993, p.81)) está alicerçado na
Estética da Recepção, que valoriza o papel do leitor como parte do processo de
produção da obra, isto é, o leitor passa a ser visto como coautor, uma vez que vem dele
a possibilidade real de interpretação e de constituição do significado dos mais diversos
textos. Seu êxito foi revalorizar a experiência humana no mundo e a comunicação
como condição da compreensão do sentido. Jauss também critica o marxismo por
submeter à arte à infra-estrutura econômica não perceber o caráter inovador e formador
da literatura. Segundo ele, seria o caráter emancipatório da arte (literatura): o
espectador pode ser afetado pelo que se representa identificar-se com as pessoas em
ação, dar assim livre curso às próprias paixões despertadas e sentir-se aliviado por sua
descarga prazerosa.
O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que
ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto é carregado
de pistas, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além
disso, o texto traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de
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mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores que o leitor
carrega consigo.
Esta proposta de trabalho, de acordo com Bordini e Aguiar (1993) tem o leitor
como elemento atuante no processo de leitura e firma-se na atitude participativa do
aluno em contato com os mais diferentes textos. Partindo do horizonte de expectativa
do grupo, em termos de interesses literários, o professor oferece, num segundo
momento, leituras que propiciem o questionamento desse horizonte, incitando-o, assim,
a refletir e instaurando a mudança por meio de um processo contínuo. Nesse sentido, o
método recepcional de ensino da literatura enfatiza a comparação entre o familiar e o
novo entre o próximo e o distante no tempo e no espaço.
O desenvolvimento do método recepcional se constitui em cinco etapas. A
primeira é o momento de determinação do horizonte de expectativa do aluno, tomando
conhecimento da realidade sócio cultural dos educandos.
Na segunda etapa, ocorre o atendimento ao horizonte de expectativas,
apresentando textos que sejam próximos ao conhecimento de mundo e as experiências
de leitura dos alunos.
A terceira é quando acontece a ruptura do horizonte de expectativas. É o
momento de mostrar ao leitor que nem sempre determinada leitura é o que se espera e
suas certezas podem ser abaladas, fazendo com que eles se distanciem do senso
comum em que se encontravam e tenham seu horizonte de expectativa ampliado.
Após essa ruptura que acontece a quarta etapa em que o sujeito é direcionado a
um questionamento e a uma autoavaliação a partir dos textos oferecidos. O aluno
deverá perceber que os textos oferecidos na etapa anterior (ruptura) trouxeram-lhe mais
dificuldades de leitura, porém, garantiu-lhe mais conhecimento, o que ajudou a ampliar
seus horizontes.
A quinta e última etapa do método recepcional é a ampliação do horizonte de
expectativa. As leituras oferecidas ao aluno e o trabalho efetuado a partir delas
possibilitam uma reflexão e uma tomada de consciência, levando-o a uma ampliação de
seus conhecimentos.
O objetivo é, portanto, fazer o aluno perceber o que está presente nas
entrelinhas, o que lhe permitirá observar a visão de mundo do autor, refletindo sobre ela
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e estabelecendo uma relação de diálogo entre a sua leitura de mundo na posição de
leitor, e a do autor do texto, tendo em vista ampliar e transformar as suas experiências e
conhecimentos.
Inicialmente foram feitas atividades que favorecessem a ativação dos
conhecimentos prévios necessários à compreensão e interpretação do texto, tais como:
abordagem dos aspectos discursivos e estrutura composicional do gênero textual
“conto”. Os alunos tiveram oportunidade de ouvir, ler, apreciar e comentar acerca do
gênero.
Em seguida, a partir das leituras, foram acionados os conhecimentos por meio de
questionamentos, indicando, quando fosse o caso, a pesquisa de assuntos
relacionados ao seu conteúdo, bem como a reflexão a respeito dos temas, observando,
também a compreensão global do texto a partir da reprodução oral ou escrita do que foi
lido e de respostas a questões formuladas pelo professor, a apreciação de recursos
expressivos empregados na obra, identificação dos pontos de vista sustentados pelo
autor, discussão de diferentes pontos de vista e opiniões diante de questões polêmicas,
indicações de filmes e músicas que tivessem alguma articulação com a obra analisada.
Os critérios de avaliação que foram empregados abrangeram a dinâmica do
processo e cada leitura do aluno, que deveria evidenciar a capacidade de comparar e
contrastar todas as atividades realizadas, questionando a atuação do professor e a do
grupo. A resposta final deveria ser uma leitura mais exigente que a inicial, em termos
estéticos e ideológicos.
4 Resultados Esperados
Foi interessante ter iniciado este trabalho fazendo uma reflexão sobre leitura,
diferenciando texto literário de não literário, utilizando a música “Metáfora” de Gilberto
Gil3 para que os alunos analisassem o emprego das figuras de linguagem em diferentes
tipos de textos poéticos, com o objetivo de levar o aluno a perceber com clareza a
distinção entre dois modos básicos de construção de sentido, pois a metáfora faz parte
3 <http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/487564/>acesso em 16/06/2011
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não só da comunicação cotidiana das pessoas, mas está presente também na
literatura, na música, na publicidade, entre outros.
Com a apresentação de um vídeo da música citada acima, os alunos puderam
cantar juntos com o autor e, em seguida, foi proposto que resolvessem em dupla
algumas questões como o estudo do vocabulário da letra da canção “Metáfora”.
Exploraram o jogo com as palavras “meta” e “lata” e interpretaram o sentido de
Metáfora na letra de Gilberto Gil. Ao final da atividade, toda a classe se reuniu para
discutir as conclusões.
O objetivo foi alcançado, pois estimulou os alunos a elaborar sentidos para além
da linguagem literal e a valorizar a leitura de textos construídos por meio de uma
linguagem plurissignificativa. Na sequência, foi realizada uma sondagem para mapear o
que eles já sabiam sobre os contos a fim de determinar os horizontes de expectativa
que tinham quanto ao gênero e também fortalecer a conversa sobre os recursos
narrativos, proposta por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar.
De acordo com estas professoras o método deve ser conduzido da seguinte
forma: o primeiro passo do professor é efetuar a determinação do horizonte de
expectativas da classe, com o propósito de prever estratégias de ruptura e
transformação do mesmo. Esse horizonte de expectativa deveria conter os valores
prezados pelos alunos, em termos de crenças modismos estilos de vida. (BORDINI,
AGUIAR, 1993, p. 88)
Após a investigação, os alunos disseram que a leitura não era muito
interessante, e que, no mundo de hoje, existiam coisas que atraiam muito mais como:
os programas de TV, filmes, Internet . A maioria afirmou que não gostava de ler, não
tinha paciência, não conseguia se concentrar durante a leitura, alegando ser chata e
eles desanimavam. Alguns gostavam de ler outros gêneros, como, por exemplo,
revistas, gibis, piadas, letras de música, mas nunca literatura. Ao serem questionados
sobre o gênero conto, responderam que achavam que os contos eram histórias
pequenas sem muita graça. Além disso, foi perguntado se eles se lembravam de algum
conto e os únicos citados foram “O Chapeuzinho Vermelho” “Os Três Porquinhos” e “A
Branca de Neve”.
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Com essa atividade de sondagem, para verificar o conhecimento e o interesse
dos alunos com o gênero , eles foram estimulados a pensar, a expressar suas opiniões,
a refletir sobre o que significa a leitura para eles e ainda refletir como estavam
realizando as suas leituras a fim de conhecerem-se como leitores.
Após determinar os horizontes de expectativa dos alunos em relação à leitura
literária, conforme orientação do método recepcional e para o atendimento do horizonte
de expectativas, ou seja, propondo à classe experiências com textos que satisfaçam as
suas necessidades com elementos temáticos ou estruturais que atraiam a atenção e o
prazer dos alunos. Para isso, foram propostos os contos “A Moça Tecelã” (1938) de
Marina Colassanti e “Venha Ver o Pôr do Sol” (1987) de Lygia Fagundes Telles.
Com esta atividade desenvolveu-se outro passo do método recepcional
desenvolvido pelas professoras já citadas anteriormente que é Atendimento do
horizonte de expectativas.
Para o desenvolvimento desta aula prossegui-se da seguinte forma:. O grupo foi
preparado para a leitura do conto com alguns esclarecimentos sobre a autora, a época
e as informações que contextualizavam a obra. Em seguida, foram feitos alguns
questionamentos, como: o que sugeria esse título. E que se fosse possível com base
no título e no autor, os alunos pudessem imaginar o cenário, as personagens, a trama
do conto. Foi pedido também que registrassem suas hipóteses para que pudessem
compartilhá-las e conferi-las no decorrer da leitura do texto.
Após a distribuição dos textos, foi realizada uma leitura silenciosa e, a seguir, a
leitura oral de forma expressiva, provocando a participação dos alunos por intermédio
de esclarecimentos enquanto se fazia a leitura.
Depois da leitura do conto, comentou-se sobre a trama e as personagens
centrais, levando os alunos a situações que propiciassem questionamentos e debates.
Foi muito bom observar que a maioria dos alunos conseguiu contextualizar a obra,
focalizando a situação da mulher antigamente e a sua autonomia atual. E, também, de
poder observar que, no conto, o sonho de construir uma família, ter filhos, foi logo
anulado pelo marido, pois sua intenção era somente a de acumular bens. Sendo assim,
sua atitude concernente à moça não era de afeição e sim de exploração. Além disso, os
alunos puderam notar uma relação entre a ficção e a realidade, pois, como ressaltamos
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anteriormente, quando discutimos um texto, discutimos a vida, as reações humanas e
os problemas da existência.
Na sequência, fez-se a ativação dos conhecimentos prévios sobre o gênero
conto e as categorias da narrativa para posteriormente analisarem o texto baseado
também nesses elementos.
A leitura do conto “Venha Ver o Pôr do Sol” de Lygia Fagundes Telles excedeu
às expectativas porque os alunos se sentiram atraídos pelo conto, pois é uma narrativa
realizada sob o impacto de forte tensão entre o amor, morte, suspense e anseio de
vingança, sendo um texto fácil de entender como esse conto, que começa tranquilo e
vai aguçando a curiosidade do aluno até chegar ao clímax, é o que acontece em
“Venha ver o pôr-do-sol”, e também é uma narrativa próxima a realidade deles, fazendo
parte de seu contexto, como o relacionamento emocional. Após todos os procedimentos
da leitura, os alunos assistiram a um vídeo4, havendo cem por cento de participação.
Apresentaram uma visão crítica dos aspectos psicológicos que envolviam este
tipo de situação, pois buscavam compreender como a personagem “Ricardo” do conto,
que parecia tanto amar sua companheira, acaba matando ou machucando-a. Pode-se
constatar que essa atividade propiciou o envolvimento dos alunos na história e,
consequentemente, admiração pela autora.
A próxima etapa segundo Bordini (1993, p.93) é a ruptura do horizonte de
expectativas pela introdução de textos e atividades de leituras que abalem as certezas
e os costumes dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivência cultural. Essa
introdução deve dar continuidade à etapa anterior através do oferecimento de textos
que se assemelhem aos anteriores em um aspecto apenas: o tema, o tratamento, a
estrutura ou a linguagem. Entretanto, os demais recursos compositivos devem ser
radicalmente diferentes. De forma que o aluno perceba estar ingressando num campo
desconhecido, mas também não se sinta inseguro demais e rejeite a experiência.
Nessa etapa, os participantes foram preparados, assistindo a um vídeo, em que
um professor falava sobre a obra de Machado de Assis, seus personagens, que
criavam uma expectativa, mas que sempre estavam com o pé na realidade. Falou
também em seu interesse na sondagem psicológica, nos mecanismos que comandam
4 <http://youtu.be/HSCDgTtEKww>acesso em 19/06/2011
15
as ações humanas, fossem elas de natureza espiritual ou decorrente da ação que o
meio social exercia sobre cada indivíduo. Que com profunda reflexão, o escritor
buscava inspiração nas ações rotineiras do homem. E que visão de mundo de Machado
de Assis tinha no humor a função que ora visava criticar o ser humano e suas fraquezas
através da ironia, ora demonstravam compaixão pelo homem, fazendo o leitor refletir
sobre a condição humana, propondo a aceitação do prazer relativo que a vida pode
oferecer.
Para desenvolver as atividades sugeridas a partir do conto “Noite de Almirante”
(1884) de Machado de Assis, foi importante acionar os conhecimentos prévios por meio
de questionamentos e esclarecendo o contexto, o vocabulário para que fizessem uma
leitura compreensiva.
Essa foi a etapa que encontraram mais dificuldades, mesmo sendo um conto que
trata do mesmo tema: relações humanas, ou especificamente amorosas, mas o
contexto histórico, o vocabulário da época, a ironia, a reflexão crítica são alguns pontos
abordados na obra de Machado de Assis.
Após a leitura do texto, o professor pôde trabalhar as expressões desconhecidas.
Acharam que o desfecho do conto de Machado de Assis foi sim inesperado.
Conseguiram entender sobre uma das características das personagens de Machado de
Assis explicada pelo professor do vídeo, que as emoções da personagem eram
contidas, criavam uma expectativa, mas que sempre estavam com o pé na realidade,
pois se fosse com um outro conto, o personagem Deolindo teria matado a personagem
Genoveva.
Solicitou-se aos alunos que produzissem um final diferente para o conto lido. Os
diferentes desfechos produzidos surpreenderam pela criatividade, imaginação, os quais
foram socializados em sala de aula. Foi feito também alguns questionamentos para
melhor compreensão do texto, pedindo aos alunos que refletissem sobre o
comportamento da personagem Genoveva e do personagem Deolindo para explicar a
ideia de amor expressa por Machado de Assis nesse conto.
Os alunos observaram que no conto “Noite de Almirante”, o autor falava sobre as
relações humanas e amorosas e que o casal Deolindo Venta Grande e Genoveva que
eram os personagens principais juraram amor eterno um pelo outro, mas bastou uma
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separação temporária que tudo se complicou. Observando o comportamento do
personagem Deolindo, que mesmo diante de tantas possibilidades as quais Deolindo
estava exposto, as mulheres pelos lugares em que passou, mesmo assim mostrou ter
um sentimento verdadeiro, pois ele foi retratado como um homem bom e com
sentimentos sinceros. Por outro lado, mostrou a Personagem Genoveva, como uma
moça simples, aparentemente romântica e perdida de amor. E que, no entanto, esse
sentimento não durou por muito tempo ao surgir um novo homem em sua vida.
O grupo notou que esse tipo de relacionamento estava tão presente no cotidiano
que até parecia um caso real. E diante dessas posições, as quais o autor coloca as
personagens, percebeu-se as contradições humanas e também um olhar sobre nossas
fraquezas, quando observaram que Deolindo preferiu mentir, parecendo ter vergonha
de mostrar a sua realidade. Notaram que esse comportamento também pode fazer
parte da nossa vivência em sociedade.
A etapa Questionamento do horizonte de expectativas de acordo as professoras
Bordini e Aguiar (1993) é o momento da apreciação das obras lidas, bem como a
análise é sobre as leituras que vinham sendo realizadas. O professor orienta o
aluno/leitor a um questionamento e a uma autoavaliação a partir dos textos oferecidos.
O aluno deverá perceber que os textos oferecidos na etapa anterior (ruptura)
trouxeram-lhe mais dificuldades de leitura e que lhe garantiram mais conhecimento, o
que o ajudou a ampliar seus horizontes.
Nessa etapa do trabalho foi proposta uma atividade em grupo e solicitou-se que
debatessem algumas questões apresentadas e depois socializassem com a sala toda.
As questões propostas foram:
- se o que eles esperavam ao iniciar o trabalho com cada conto se concretizou;
- se aquilo que eles entendiam por conto realmente era;
- se perceberam as estratégias usadas pelos autores para criar e manter o
interesse do leitor no desvendamento dos conflitos internos das personagens.
Observaram-se as diferenças de características de um autor para outro;
- se as atividades desenvolvidas após as leituras dos contos proporcionaram
uma leitura compreensiva dos textos;
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- se eles acreditavam que, a partir dessas leituras, iriam conseguir localizar as
informações explícitas e implícitas no texto e conseguiriam estabelecer relações entre
os temas abordados nos textos com questões da realidade.
Todos os alunos responderam que achavam que os contos eram histórias
pequenas, sem muita graça e que agora perceberam que existem histórias
interessantes e que muitas coisas abordadas nesses contos aconteciam também no dia
a dia.
Dentre os contos que mais chamou à atenção foi “Venha Ver o Pôr do Sol” de
Lygia Fagundes Telles, por estar mais próximo à realidade deles, fazendo parte do
contexto no qual estão inseridos como o relacionamento emocional, o mistério.
Os desafios que os alunos encontraram para que realizassem uma leitura
compreensiva do texto foram as metáforas, as ironias, os neologismos, o vocabulário
desconhecido. Eles superaram esses desafios com pesquisa, com a explicação da
professora, ajuda dos colegas, apresentações em vídeo, lendo, prestando atenção e
tirando as dúvidas com a professora.
Os alunos tiveram boa participação, prestaram atenção, deram opiniões, fizeram
deduções, perguntas e até mesmo, alguns alunos quando viram que só havia mais um
conto a ser trabalhado, disseram que era uma pena que o projeto estava terminando.
Essas atividades foram importantes, pois lhes possibilitaram posicionar
criticamente diante do texto e, principalmente, fez com que percebessem a importância
da leitura do texto literário na vida deles, porque possibilitou a eles refletir sobre coisas
que poderiam acontecer com qualquer um de nós.
A Ampliação dos horizontes de expectativas é a última etapa em que os alunos,
conscientes de suas novas possibilidades de manejo com a literatura, partem para a
busca de novos textos que atendam as suas expectativas ampliadas no tocante a
temas e composições mais complexos.
Segundo Bordini e Aguiar (1993) essa última etapa do método é resultante das
reflexões realizadas a respeito das relações entre a leitura e a vida. O trabalho deve
propiciar a percepção que as leituras feitas dizem respeito não só a uma tarefa escolar,
mas ao modo como veem o mundo. O leitor toma consciência das alterações e
aquisições obtidas através da experiência com a literatura, relacionando seu horizonte
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inicial com os interesses atuais. A capacidade de aceitar e de interagir deve ser
aumentada. Nesse sentido, é necessária a apresentação ao aluno de novos textos.
Leituras que atendam as sua expectativas ampliadas. O aluno deve ser capaz de
participar do processo com a carga de informações e de experiência que lhe foram
propiciadas.
Nosso objetivo nessa etapa consistiu em levá-los a conhecer tais textos. Para
isso, foi planejado o conto “Peru de Natal” de Mário de Andrade. Inicialmente, foi
perguntado aos alunos se eles já tinham ouvido falar de Mário de Andrade, se
conheciam alguma obra publicada por ele. Foi contado a eles a sua biografia,
explicando que foi um grande escritor modernista e que uma de suas principais obras é
“Macunaíma”.
Alguns alunos disseram já terem ouvido falar, tentado ler, mas não entenderam
bem. Procurou-se fazer uma ativação dos conhecimentos prévios sobre o Modernismo,
suas características, o contexto histórico, porque o conto “O Peru de Natal” procura
expressar-se por meio de uma linguagem ligada ao movimento Modernista, o qual teve
sua culminância com a Semana de Arte Moderna, sendo que a ordem era mudar,
experimentar formas, transformar e que o autor do conto foi um dos maiores
participantes dessa semana.
Para que os alunos compreendessem melhor a obra, assistiram a um vídeo5
sobre a “Semana de Arte Moderna”. Essa dinâmica desencadeou curiosidade e
estímulo pela leitura do conto.
A partir da leitura do texto, os alunos puderam notar que a personagem principal
do texto procura mostrar para a própria família o ambiente de hipocrisia em que viviam,
sendo sempre submissa às ordens do pai, e que este até mesmo depois de morto
continuava a ter o controle de tudo. O filho prova que as tradicionais reuniões de família
eram apenas fachadas, trazendo para dentro de casa um ambiente verdadeiro, a
ternura, o compartilhar e a comunhão para o meio de sua família, que era o oposto do
que já conheciam. Ele conseguiu mudar toda a trama, fazendo com que o leitor
percebesse a realidade da sociedade.
5 <http://youtu.be/_4g1j59AhEw>acesso em 03/07/2011
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Após analisarem o contexto da época, as características do modernismo etc.,
puderam perceber o que estava presente nas entrelinhas, o que lhes permitiram refletir
que o conto procurava mostrar que o modernismo, movimento nascido no Brasil, queria
que a literatura fosse brasileira, sem os padrões culturais da época, combatendo o
rebuscamento e o pedantismo de alguns literatos. Queria uma literatura que refletisse o
pensamento do povo, nossa beleza, nossa língua (emprego de uma linguagem mais
simples, coloquial). Os alunos puderam notar que o narrador personagem procurava
romper com a estrutura do passado, um exemplo de rebeldia, que era característica
marcante dos escritores modernistas. O ser que foge dos padrões estabelecidos e
propõe uma nova realidade.
As atividades propostas e desenvolvidas permitiram aos educandos fazerem
inferências, refletirem sobre o texto lido e estabelecerem relações entre o texto e o
contexto histórico do Brasil. (BORDINI,1993, p.91) afirma que com o aprimoramento da
leitura numa percepção estética e ideológica mais aguda e com a visão crítica sobre
sua atuação e a de seu grupo, o aluno torna-se agente de aprendizagem, determinando
ele mesmo a continuidade do processo, num constante enriquecimento cultural e social.
Com o desenvolvimento desse projeto é possível afirmar que esses alunos
passaram a ver a leitura da literatura como uma atividade prazerosa e significativa,
tornando-os mais participativos e críticos para garantir a ampliação de seus horizontes
e, com isso, conhecer e integrar o mundo de maneira ativa e construtiva.
5 Conclusão
Após analisar os resultados do nosso estudo sobre a leitura, o que podemos
afirmar é que precisamos redimensionar as nossas práticas pedagógicas e refletirmos
sobre a importância do desenvolvimento de um trabalho efetivo e sistemático com a
leitura dentro de nossas escolas, pois a sociedade exige a formação de cidadãos para
um mundo em permanente mudança.
A leitura é uma prática insubstituível para uma educação que se queira
diferenciada, eficiente e transformadora. É uma condição imprescindível quando se
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pretende formar um cidadão preparado para exercer com consciência e liberdade a
cidadania.
Ler não se pode compreender apenas como decodificar sinais, mas
compreender, descobrir sentidos, interagir, construir significados, desenvolver a
capacidade de reflexão sobre ideias implícitas e explícitas do texto, posicionar-se
argumentativamente, ter consciência, autonomia e visão crítica da realidade.
Com o objetivo de desenvolver o gosto pela leitura, a escolha do gênero conto
veio a ser um instrumento nas aulas de leitura, por serem textos possíveis de serem
lidos em sala de aula, pelo trabalho estético que se realiza com a linguagem,
abordando temas e dramas humanos que possibilitou que houvesse uma interação
entre autor/obra/leitor.
Deve-se atender para os Método Recepcional proposto pelas professoras Maria
da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar na obra “Literatura e Formação do leitor:
alternativas metodológicas” (1993), fundamentado na teoria da Estética da Recepção
que propõe a determinação, o atendimento, a ruptura, o questionamento e a ampliação
do horizonte de expectativas do leitor, que mediante leituras desafiadoras, o aluno
passe de uma leitura ingênua para uma leitura mais crítica. Isto se torna viável quando
se tem em mente a formação de um leitor para integrar–se no seu mundo de uma
maneira mais ativa e construtiva.
Ficou confirmado que os alunos podem descobrir o prazer de ler, não só as
obras clássicas que se gostaria, mas uma leitura mais rápida que combine com a
“pressa” desta geração que procura soluções rápidas e imediatas.
Por essa razão, verifica-se a importância dos professores buscarem alternativas
e inovar o ensino da literatura, transformando-o em algo significativo para seus alunos,
um conhecimento literário por meio dos contos ou quaisquer outros tipos de textos que
os façam leitores competentes e conscientes, percebendo o que está presente nas
entrelinhas, o que lhe permitirá observar a visão de mundo do autor, refletindo sobre ela
e estabelecendo uma relação de diálogo entre a sua leitura de mundo na sua posição
de leitor e a do autor do texto, tendo em vista ampliar e transformar as suas
experiências e conhecimentos.
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Referências
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