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Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) www.monergismo.com 1 Como o Homem Conhece a Deus? por Gordon Haddon Clark O assunto da palestra desta tarde é “Como Conhecemos” ou talvez, “Como Conhecemos a Deus”. A pergunta básica na filosofia da religião é: Como podemos conhecer a Deus? Charles Hodge e Louis Berkhof dedicaram algumas partes de seus volumes para essa questão. E, por essa razão, ela vem desde a aurora da teologia Cristã. O judeu filósofo, Filo, o qual tinha várias coisas a dizer sobre o Logos, estava lutando com suas dificuldades nos mesmos anos em que Jesus estava andando ao redor da Palestina. Recentemente, a questão tem sido reformulada. Ao invés de perguntar se podemos conhecer a Deus e como podemos conhecer a Deus, a filosofia da análise lingüística tem perguntado: Como podemos falar sobre Deus? A linguagem é suposta ser um desenvolvimento evolucionário retirado da necessidade prática de sobrevivência e é, portanto, inadequada e inaplicável para questões teológicas. Na verdade, o corpo principal, não todo, mas o corpo principal da linguagem dos filósofos, especialmente nas suas obras mais antigas, afirma que a linguagem sobre Deus é sem sentido. Não apenas o empirismo secular faz tal declaração, Wittgenstein, A J. Ayer, e os positivistas lógicos, mas também os teólogos liberais da escola neo-ortodoxa – numa terminologia mais polida, sem dúvida alguma – mas ainda assim eles aceitam essencialmente o mesmo ponto de vista. Conquanto a questão de como podemos conhecer a Deus é uma pergunta fundamental na filosofia da religião, por detrás dela descansa, na filosofia geral, a questão última: Como podemos conhecer alguma coisa? Se não podemos falar inteligivelmente sobre Deus, podemos falar inteligivelmente sobre moralidade, sobre nossas próprias idéias, sobre arte, política - poderíamos sequer falar sobre ciência? Como podemos saber alguma coisa? A resposta para essa pergunta, tecnicamente chamada de teoria da epistemologia, controla todas as questões subjetivas que reivindicam ser inteligíveis ou cognitivas. Empirismo O presente estudo discutirá três teorias e enfatizará suas implicações para religião, para o Cristianismo, e Deus. A primeira das três é o empirismo. A teoria do conhecimento que presumivelmente concorda melhor com o senso comum é a teoria de que aprendemos pela experiência. Aprendemos que abelhas ferroam e cascavéis matam por meio das nossas percepções de dor. Aprendemos que rosas são vermelhas e violetas são azuis pelos sentidos

Como Homem Conhece Deus Gordon Clark

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    Como o Homem Conhece a Deus?

    por Gordon Haddon Clark O assunto da palestra desta tarde Como Conhecemos ou talvez, Como Conhecemos a Deus. A pergunta bsica na filosofia da religio : Como podemos conhecer a Deus? Charles Hodge e Louis Berkhof dedicaram algumas partes de seus volumes para essa questo. E, por essa razo, ela vem desde a aurora da teologia Crist. O judeu filsofo, Filo, o qual tinha vrias coisas a dizer sobre o Logos, estava lutando com suas dificuldades nos mesmos anos em que Jesus estava andando ao redor da Palestina. Recentemente, a questo tem sido reformulada. Ao invs de perguntar se podemos conhecer a Deus e como podemos conhecer a Deus, a filosofia da anlise lingstica tem perguntado: Como podemos falar sobre Deus? A linguagem suposta ser um desenvolvimento evolucionrio retirado da necessidade prtica de sobrevivncia e , portanto, inadequada e inaplicvel para questes teolgicas. Na verdade, o corpo principal, no todo, mas o corpo principal da linguagem dos filsofos, especialmente nas suas obras mais antigas, afirma que a linguagem sobre Deus sem sentido. No apenas o empirismo secular faz tal declarao, Wittgenstein, A J. Ayer, e os positivistas lgicos, mas tambm os telogos liberais da escola neo-ortodoxa numa terminologia mais polida, sem dvida alguma mas ainda assim eles aceitam essencialmente o mesmo ponto de vista. Conquanto a questo de como podemos conhecer a Deus uma pergunta fundamental na filosofia da religio, por detrs dela descansa, na filosofia geral, a questo ltima: Como podemos conhecer alguma coisa? Se no podemos falar inteligivelmente sobre Deus, podemos falar inteligivelmente sobre moralidade, sobre nossas prprias idias, sobre arte, poltica - poderamos sequer falar sobre cincia? Como podemos saber alguma coisa? A resposta para essa pergunta, tecnicamente chamada de teoria da epistemologia, controla todas as questes subjetivas que reivindicam ser inteligveis ou cognitivas. Empirismo O presente estudo discutir trs teorias e enfatizar suas implicaes para religio, para o Cristianismo, e Deus. A primeira das trs o empirismo. A teoria do conhecimento que presumivelmente concorda melhor com o senso comum a teoria de que aprendemos pela experincia. Aprendemos que abelhas ferroam e cascavis matam por meio das nossas percepes de dor. Aprendemos que rosas so vermelhas e violetas so azuis pelos sentidos

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    da viso. Todo nosso conhecimento vem pelos sentidos. Esse tipo de epistemologia no meramente a teoria mais em harmonia com a opinio comum, tambm o ponto de vista de filsofos singulares, entre os quais esto pensadores famosos tais como Aristteles, Aquino e John Locke. Esses trs homens, entre outros, tentaram explicar como notamos uma cadeira, como uma lei de fsica pode ser descoberta, e finalmente como, por argumentos complicados, podemos provar a existncia de Deus. Entretanto, por mais plausvel que essa teoria possa ser, ela levanta algumas questes excessivamente difceis. Por enquanto, vamos deixar de lado as complexidades em se chegar ao conhecimento do Deus eterno e incorpreo a partir de sentimentos transitrios. Antes, vamos primeiro dar ateno s partes mais simples do empirismo. Comecemos com o vermelho da rosa e o azul de uma violeta. Primeiro, uma descrio da sensao mostrar que ela no fornece um conhecimento to prontamente como o senso comum imagina. Nem todo mundo v rosas como vermelhas e violetas como azuis. H algumas pessoas que dizemos que so daltnicas, e h graus de daltonismo. difcil falar o que daltonismo e o que so iluses de cor. As cores verdadeiras so bem difceis de se determinar. A condio do rgo, o olho, uma doena, enfermidade temporria, uma dor de cabea ou extrema sensibilidade muda nossas sensaes sobre a cor. Deixe-me dar-lhe um pequeno exemplo. Se voc fizesse um curso de arte, pintura a leo, voc poderia pegar um quadro de tela de pintura e colocar certa cor na primeira metade do topo da tela e outra cor na outra metade. Poderia ser vermelho ou azul, ou quaisquer outras duas cores que voc desejasse, conquanto que elas fossem diferentes. E ento, depois de terem secado, voc pegaria um pincel cheia de tinta cinza e passaria verticalmente nas duas partes do quadro e voc veria que uma pincelada teria colocado duas diferentes cores na tela, a cor cinza no topo no o cinza na metade de baixo da tela. Assim, a cor que voc v depende do pano de fundo contra o qual voc a observa. E visto que sempre haver um pano de fundo, voc nunca ver qualquer coisa como ela por si mesma. Eu poderia mencionar algumas iluses pticas: o fazendeiro do Texas que tinha certeza que estava vendo uma miragem e dirigiu sua camionete para dentro de um lago. Alguns de meus gentis oponentes tentam contrastar meus argumentos contra o empirismo declarando que eu meramente repito os antigos cticos. Estou receoso de duas coisas: os antigos cticos no sabiam nada sobre o Texas, e, em segundo lugar, se estou repetindo os antigos cticos, isso no uma resposta suficiente para os argumentos deles. Pegue uma coisa que certamente os antigos no conheciam. Tome um bom pedao de carto de tbua de cerda e pinte uma metade de preto de tinta indiana. Deixe a outra metade em branco e ento coloque uma pequena gota de preto na metade em preto. Depois pegue algo que girar cerca de 500

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    voltas por minuto. Qual cor voc ver? Ver preto? Ver cinza? Bem, se voc no fez esse experimento, estou bem certo que voc no saber qual cor ver. Mas eu te conto: voc ver violeta, ver vermelho, ver verde, ver certo tipo de marrom. Voc ver todas essas cores apenas com uma mistura de preto e branco, e isso lhe d uma dificuldade considervel ao tentar dizer que voc v a cor de algo, ou, para parafrasear um pouquinho de Agostinho: no h nada fornecido (das Gegebenes, se voc sabe o termo tcnico em alemo), no h nada fornecido na sensao sem a interpretao intelectual. E s pra proteger-me dessas pessoas que pensam que eu sou to velho quanto cticos gregos Estou ficando velho, mas no tenho 2000 anos de idade, creio eu ter cerca de 95 anos ou algo prximo mas certa vez eu estava viajando na estrada de St. Louis at Indianpolis. Isso foi antes das estradas interestaduais, e medida que olhava a frente, eu vi uma camionete parada prxima a um celeiro. Estava h aproximadamente 1500 ou 2000 ps na minha frente. E no era um carro de passageiro, era uma camionete, pois a dianteira e a traseira eram ambas verticais. Havia uma camionete prxima a um celeiro. medida que dirigamos indo 75 m.p.h., percorremos uns poucos metros rapidamente essa camionete de repente tornou-se uma caixa de correios num poste. Era uma camionete ou uma caixa de correios? Bem, depende a que distncia voc est. O tempo probe a multiplicao de tais exemplos. Basta dizer que rapidamente haver muitos exemplos. Voc tem problemas com o sentido. Voc nunca chegar a uma percepo, e, por favor, a teoria emprica terrvel demais. Em segundo lugar, essa teoria emprica, depois de ter um comeo pobre com a sensao, exige uma teoria de imagens para dar satisfao reteno de conhecimento depois que a sensao pare de operar. Quando voc fala sobre sensao, quando ela exercida, e voc tem uma imagem que retida, existem outras dificuldades. Se percepo uma inferncia da sensao, e a imagem segue a percepo, como pode se determinar quando a inferncia vlida? Certa vez, eu inferi que tinha visto uma camionete. Outra vez, poucos minutos depois, eu inferi que tinha visto uma caixa de correios. Mas como voc sabe qual das duas inferncias vlida? E em segundo lugar, algumas pessoas, especialmente cientistas, no artistas, mas especialmente cientistas, no tm qualquer imagem. E esta uma dificuldade que eu no vejo como a filosofia emprica pode jamais superar. Eles parecem nunca ter pensado sobre a existncia de tais pessoas. Toms de Aquino e David Hume, os mais conhecidos pelas suas teorias de imagens, s parecem acreditar que todas as pessoas tm imagens. Mas no assim. H algumas pessoas, e eu conheo uma muito bem, que no tm nenhuma imagem de forma alguma. Terceiro, mesmo para as pessoas que tm imagens visuais e auditivas, a formao de conceitos por meio da abstrao, como Aristteles e Locke exigem, impossvel por razes que no adentrarei aqui. E se o bispo Berkley no fizesse mais nada, pelos menos ele claramente mostrou que o empirismo no pode permitir ou justificar conceitos abstratos.

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    Minha quarta objeo ao empirismo, e se voc vem contando as objees, pode ser que seja a quadragsima. O empirismo no pode produzir normas de nenhum tipo. No pode produzir normas morais e religiosas, porque na melhor das hipteses, o empirismo pode apenas falar o que . No penso que possa falar nem mesmo desse pouco, mas isso tudo o que o empirismo pode legitimamente reivindicar fazer. Eles no podem falar o que se deve ser, porque voc no pode obter um deve de um . E isso se aplica no apenas a normas morais ou religiosas, mas tambm para as normas bsicas da lgica, sem as quais a conversa e o entendimento seriam impossveis. As normas da lgica so verdades universais. John Dewey diz que a lgica tem mudado e mudar em todas as suas partes, incluindo a lei da contradio. Mas se a teoria da evoluo implica na rejeio da lgica, ento a teoria da evoluo no foi estabelecida pela lgica e toda declarao tanto verdadeira quanto falsa, e, portanto, absurdo. Irracionalismo Bem, isso nos leva ao segundo tipo de epistemologia, a qual chamaremos de irracionalismo. muito surpreendente que alguns filsofos seculares como Friedrich Nietzsche, John Dewey e os psiclogos Freudianos rejeitem a lei da contradio, porm o que mais surpreendente que alguns cristos professos, cristos professos, sustentam opinies similares. O movimento anti-lgica dentro da igreja crist visvel parece ter se originado no com o antigo Tertuliano cujas, frases tem sido citadas erroneamente e mal interpretadas, mas tem se originado com o telogo do sculo XIX, Soren Kierkegaard, o pai da neo-ortodoxia, ou, como s vezes chamada, da teologia dialtica. Soren Kierkegaard insistia que a fim de ser um cristo, necessrio acreditar em contradies. Seu exemplo principal a doutrina da encarnao. Na encarnao, o Deus eterno entrou na histria e tornou-se um ser humano temporal. O que temporal teve um comeo, antes do qual ele no existia. O que eterno no teve comeo. Obviamente, portanto, um ser que no teve comeo no pode ter tido um comeo. O que sempre existiu no pode agora vir existncia. Mas para sermos cristos, devemos acreditar que essa impossibilidade lgica ocorreu. Reconhecemos e entendemos o absurdo, mas devemos acreditar no que absurdo, porque o prprio cristianismo irracional e absurdo. A essa altura, natural pensar como nossa salvao e beno eterna pode ser garantida pelo absurdo. Pode a contradio fazer o que a informao histrica no pode fazer? Soren Kierkegaard insistiu que nossa salvao no depende de qualquer informao histrica. Como pode depender de absurdos? Para essa questo, Kierkegaard tem uma resposta.

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    Visto que devemos acreditar no absurdo, diz Soren Kierkegaard, e no depender da informao histrica inteligvel, no faz qualquer diferena em que acreditemos. O o que no importante. Tudo o que vale o como. Esse ponto de vista manifesto em sua ilustrao famosa do luterano ortodoxo e o pago hindu. Muitos de vocs a conhecem, mas repetirei. O ortodoxo luterano tinha um entendimento correto de Deus. Ele era correto em sua teologia, mas orou com um esprito errado e, portanto, no estava orando a Deus. Mas o hindu, que nunca havia lido Joo Calvino ou Martinho Lutero, tinha uma idia incorreta de Deus. Porm, visto que ele orou com uma paixo infinita, ele estava orando a Deus, e o luterano no. Essa ilustrao poderia ter sido um exemplo bom, tivesse Kierkegaard intencionado recomendar a sinceridade e condenar hipocrisia. Cristo teria condenado um luterano hipcrita tanto quanto ele condenou os filhos hipcritas de Abrao, os quais ele conheceu durante sua vida. Mas a hipocrisia no o ponto da ilustrao do hindu. Kierkegaard tentou nos convencer que no h diferena no que o homem acredita. Apenas o como, a paixo, de valor. Nessa histria, Cristo, ao condenar qualquer tipoe de hipocrisia, recomendaria a idolatria do hindu. A ilustrao de Kierkegaard quer dizer que um dolo hindu um substituto completo para Jeov. E o que poderia ter impressionado Soren Kierkegaard mais fortemente, segue-se tambm que a filosofia lgica e racional, a qual ele odiava, to boa quanto seu prprio irracionalismo. Se no faz diferena no que voc acredita, voc pode muito bem ser um racionalista. Embora os principais discpulos de Kierkegaard, Karl Barth e Emil Brunner, e Rudolph Bultmann, tambm, em certo sentido, embora seus principais discpulos retiveram a f no paradoxo e no absurdo, eles parecem fazer algum esforo para mascarar a futilidade por acreditar em contradies. A paixo infinita de Kierkegaard torna-se, na teoria deles, um Encontro, o encontro que Barth e Brunner proclamam. Homens tornam-se cristos por ter um encontro com Deus. Claro, esse encontro nem contm nem produzido por qualquer informao histrica. A ressurreio no foi um evento datado que ocorreu trs dias depois da crucificao. uma experincia existencial no dia dos homens. Com respeito a isso, os Evangelhos escritos contm pouco ou nenhuma preciso histrica. So todos fbulas como as de Esopo. As fbulas de Esopo no so histricas, so literalmente falsas, mas existencialmente verdadeiras. Elas so boas descries de peculiaridades humanas popularizadas, e para a neo-ortodoxia, assim tambm so os Evangelhos. Mas o encontro pode fazer o que a histria no pode. No h necessidade de superar dois mil anos de histria e encontrar eventos que aconteceram h muito tempo atrs. A Pscoa comea agora e o encontro cancela o tempo de durao e nos faz contemporneos de Cristo. Se soa absurdo dizer que podemos abolir dois mil anos desse jeito e retornar ao primeiro sculo ou trazer a Pscoa para o sculo XX, se soa absurdo dizer que hoje podemos ser contemporneos de Cristo, que seja

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    assim. O cristianismo consiste em se contradizer. Nada inteligvel pode ser dito de Deus. Brunner muito explicitamente diz, e isto uma citao literal, Deus e o meio de conceitualidade so mutuamente exclusivos. Fornecendo outra citao literal, Todas as palavras tem apenas um valor instrumental. Nem as palavras faladas nem o contedo conceitual deles so a prpria Palavra, mas apenas sua estrutura. Voc encontrar isso na traduo inglesa na pgina 110 do Wahrheit als Begegnung. A verdade no importante, pois Brunner diz, e isso outra citao literal, na edio inglesa, pgina 117, e na edio alem, pgina 88, Deus pode falar sua palavra ao homem mesmo atravs da falsa doutrina. No faz qualquer diferena no que voc cr. Voc deve crer apaixonadamente. Esse o resultado natural em trocar lgica por paradoxos. Quando a lei da contradio deliberadamente repudiada, a distino entre verdade e erro vai embora. A palavras Deus e Satans significam a mesma coisa. Um ministro pode pregar que Cristo fez expiao pelo pecado e no mesmo sermo tambm sustentar que Cristo no fez expiao pelo pecado. Isso no apenas torna toda pregao ftil, mas tambm no podemos nem convidar uma pessoa pra almoar, pois quando digo, almoce comigo, eu tambm estou dizendo: no almoce comigo. Almoo e nenhum almoo so as mesmas coisas, ao menos que sejam logicamente diferentes. Dogmatismo Agora chegamos ao terceiro tipo de epistemologia, ao qual darei o nome desagradvel de dogmatismo. A fim de evitar a ignorncia completa do ceticismo e escapar da insanidade irracional, deve-se buscar um refgio seguro numa terceira possibilidade. Poderia ser chamado de racionalismo se a palavra no fosse confundida com o Hegelianismo por um lado e o desmo pelo outro. Poderia igualmente ser chamado de dogmatismo, exceto que o oprbrio popular suscitado atravs desse muito para se suportar. Um termo mais recente pressuposicionalismo. Faa sua escolha. O nome relativamente sem importncia, diferentemente de como os nomes hebraicos costumam ser. O nome relativamente sem importncia se os detalhes so entendidos. O argumento que toda filosofia deve ter um primeiro princpio, um princpio estabelecido dogmaticamente. O prprio empirismo requer um princpio no emprico. Isso particularmente bvio em que a forma mais extrema de empirismo chamada de positivismo lgico. Dizer que declaraes no tm sentido, a menos que sejam verificadas pela sensao, por si prpria uma afirmao que no pode ser verificada pela sensao. A observao nunca pode provar a confiabilidade da observao. Visto que, portanto, toda filosofia deve ter seu primeiro axioma indemonstrvel, os secularistas no podem negar o direito do Cristianismo de escolher seu prprio axioma.

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    Sendo assim, deixemos o axioma cristo ser a verdade das Escrituras. Isso o princpio reformado do Sola Scriptura. Historicamente o evangelicalismo significou duas coisas: justificao pela f somente, claro, mas tambm significou somente a Escritura Sola Scriptura e Sola Fide. Somente a f, somente a Escritura. Esses foram o material e os princpios formais da Reforma Protestante e qualquer um que negue qualquer um dos dois no tem relao histrica para se chamar um evanglico. O princpio Sola Scriptura. Essa um repdio da noo de que a teologia tem muitas fontes tais como a Bblia, tradio, filosofia, cincia, religio ou psicologia. H apenas uma fonte, as Escrituras. onde a verdade deve ser encontrada. Sob a palavra verdade h a incluso, em oposio ao irracionalismo, da lgica e da lei da contradio. Qualquer coisa que se contradiga no verdade. A verdade deve ser consistente, e claro que a Escritura no afirma e nega uma expiao ao mesmo tempo. Deus a verdade. Cristo a sabedoria e o Logos de Deus. E as palavras que ele nos tem falado so esprito e vida. O axioma da Escritura no apenas implica uma posio particular da natureza de Deus, mas tambm implica uma teoria definitiva do homem. Auxiliada pelo conceito bblico de Deus, a deciso entre o irracionalismo da neo-ortodoxia por um lado, e, por outro lado, a inteligibilidade, a lgica, a lei da contradio de Calvino e Hodge depende do ponto de vista de algum da natureza do homem. O Cristianismo continua afirmando que h uma natureza humana comum. Oswald Spengler nega, dizendo: Existem homens, no existe homem. Os existencialistas franceses negam dizendo que a existncia precede a essncia. Os freudianos, me atrevo a dizer, so mais cristos. Pelo menos Freud faz um julgamento com respeito a todos os homens universalmente. Vida e mente para Freud so produtos evolucionistas emergentes de estruturas psicoqumicas. A fora dominante no homem no sua inteligncia, compartilhada que ele carinhosamente supe com Deus, mas um bando de viagens subconscientes e anseios sexuais. No consenso geral, consideramos isso um julgamento falso, mas pelo menos reconhece uma natureza comum. E se tomarmos como uma descrio do homem no seu estado cado, contm alguma verdade, porm uma verdade distorcida. Mas em oposio a Freud, a Sartre, a Wittgenstein e outros, a posio crist que o homem foi criado imagem de Deus. O homem, no os animais. E essa imagem deve ser determinada no por observao emprica, mas por uma exegese de passagens bblicas. Houve uma conferncia que aconteceu em Augusta, Gergia, na semana passada. Ela foi supostamente realizada por cientistas cristos, e um dos jornais foi chamado de A Search for Personhod (Uma Busca pela Personalidade). Eu pesquisei no dicionrio Merrian-Webster, mas no pude encontrar a palavra. De qualquer forma, o jornal no tinha qualquer referncia a Bblia; era totalmente emprico. No havia nada de cristo nele.

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    Insistimos que se queremos descobrir o que o homem, devemos estudar a Escritura. A Imagem de Deus. A primeira passagem para exegese a primeira passagem na Bblia. Deus criou o homem sua imagem e semelhana. Essa imagem no pode ser o corpo do homem por duas razes: primeiro, Deus esprito e no tem corpo; segundo, animais tm corpos, mas eles no foram criados imagem de Deus. Portanto, o corpo no pode ser a imagem de Deus. A imagem divina, ento, deve ser o esprito do homem, pois os dois elementos que compem o homem so corpo e esprito. Gnesis diz que Deus formou o homem do p da terra e soprou nas suas narinas o flego da vida, e destes dois elementos o homem tornou-se uma alma vivente. Se o p ou o barro no a imagem de Deus, o flego ou esprito deve ser. No h outra possibilidade. A Escritura vai alm. Falar sobre a imagem de Deus no homem ligeiramente incorreto. A imagem no algo que o homem possui. No algo nele. O prprio homem a imagem ou a imagem o prprio homem, pois 1Corntios 11:7 afirma que o homem ele mesmo a imagem e a glria de Deus. Sem dvida tambm tm ou so espritos. A Bblia fala isso em vrios lugares. Logo, a imagem divina deve ser aquelas caractersticas do esprito humano que no so compartilhadas pela criao mais inferior. Essas so as caractersticas da racionalidade. Os animais no podem realizar uma aritmtica ou geometria. Os Orioles Baltimore, quero dizer a respeito dos pssaros, no o time de baseball, os Oriole Baltimore constroem um ninho magnfico, mas um oriole no difere um do outro no estilo de sua arquitetura. No h nenhuma inveno. Eles no pensam em outras formam. E ento tambm, os animais no podem entender os mandamentos de moralidade. No isso o que o Salmo 32:9 significa quando diz: No sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento? Os animais so incapazes de pecar porque eles no so racionais. Ento, o prprio fato da pecaminosidade humana mostra que o homem racional, como oposto aos animais. Ento finalmente, at num nvel mais elementar do que moralidade, os animais no tm conhecimento da histria. Eles no podem possivelmente saber que Cristo morreu e ressuscitou. Visto, portanto, que a razo distingue o esprito do homem em relao ao esprito dos animais, a racionalidade a imagem de Deus. Essa identificao da imagem divina, argumentada at esse ponto majoritariamente partir da criao registrada em Gnesis, parece tambm ser exigida pelo o que Paulo diz em Efsios e Colossenses. Essas epstolas falam de regenerao como uma renovao da imagem original. E os pontos em que a renovao acontece so o conhecimento e a justia. Paulo, portanto, pressupe que a imagem de Deus a racionalidade. Esse no o local para um estudo abrangente do que toda a Bblia diz sobre o assunto, mas a meno de alguns versos ajudar na difuso do suporte para esse ponto de vista. Essas passagens sugestivas tm a ver com

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    a natureza de Deus, assim como a natureza de homem. Pode-se comear com Deuteronmio 32:4, a qual se refere Deus como um Deus da verdade. O Esprito Santo o Esprito da verdade, que nos guiar a toda verdade. Cristo no apenas o caminho, a verdade e a vida, Ele o Logos, a mente e sabedoria de Deus. Ele falou para seus discpulos, Conhecereis a verdade e verdade vos libertar. Sem reproduzir todo o material do Evangelho de Joo sobre as palavras Escritura e verdade, vamos relembrar que o apstolo Pedro tambm diz em sua segunda epstola que: Todas as coisas pertencem a vida e a santidade, Deus nos d por meio do conhecimento. Deus racional. Sua verdade racional e ns devemos ser racionais para receb-la. O cavalo e o pssaro Baltimore Oriole no podem. Mas alm de versos individuais como esses, a Bblia em sua inteireza aplica essa lio. Toda Escritura til para o ensino e para a educao na justia. Se toda Escritura til, ento segue-se que os versos so teis para a instruo. Este aqui: Reuel, pai deles, deu a Moiss Zpora, sua filha. Outro versculo: Tendo Sambal ouvido que edificvamos o muro, ardeu em ira. E um ltimo versculo: Tendo passado por Anfpolis e Apolnia, chegaram a Tessalnica. Esses versculos foram deliberadamente escolhidos porque eles no parecem carregar nenhuma imagem de Deus ou qualquer outra doutrina teolgica profunda. Mas Paulo disse que todos os versculos na Bblia eram teis para a doutrina, e a doutrina que esses versculos ensinam a doutrina da imagem divina. Esses versculos foram escritos para que entendamos. Essa a histria que no para pssaros. para a nossa edificao e para ser edificado precisa-se de entendimento. Relembre que Paulo proibiu lnguas sem interpretao na igreja de Corinto. Ele as proibiu porque elas no edificavam. E elas no edificavam porque elas no podiam ser entendidas. Como podemos dizer amm para uma orao de outro se no a entendemos? A Bblia inteira, cada parte dela, revelao porque racional e porque somos racionais. Negue a lei da contradio, abandone a lgica, insista que precisamos acreditar no absurdo, e nada permanecer na Bblia. Coisa alguma. Porque esse assunto inteiro tem muitas facetas, e porque os detalhes so muito complexos, a concluso pode desenhar apenas uma objeo. A objeo esta: Se todo sistema de filosofia se deriva de sua prpria srie de axiomas nicos, torna-se impossvel para aqueles que aceitam um tipo de axioma estabelecer uma discusso significativa com aqueles que possuem outro tipo de axioma. As duas alas da disputa no tm nada em comum, e, portanto, nenhum tem qualquer base para convencer o outro. Essa uma antiga, no recente, objeo. No necessita ser um gnio para responder. Embora to comum, certamente porque muito comum, precisa-se de uma resposta clara. Uma referncia histrica servir como ponto de partida. Anselmo queria apelar aos judeus e mulumanos sobre o

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    prprio fundamento deles sem usar revelao. Razo deveria ser um fundamento comum. Mas a razo no foi claramente definida nem foi uma proposio comum realmente identificada. Mas o senso comum pressupe que todas as vezes que tentamos convencer pessoas de algo, apelamos para aquilo que eles j acreditam. Mas o senso comum est errado. Isso apenas funciona em questes secundrias e no em todas elas. Em questes bsicas ningum jamais apela a um fundamento comum entre dois sistemas de filosofia. Veja esse exemplo. Pode um empirista, por base da sensao, convencer-me do empirismo quando eu no aceito a sensao? Bem, como ento podemos apresentar o Evangelho a um descrente? Apresentamos o Evangelho to completamente quanto possvel. Explicamos a ele, com a maior quantidade de detalhes histricos que o nosso tempo permite, e com a maior quantidade de conexes lgicas que o nosso prospector escutar. Mas sermes, argumentos e explicaes no o convertero. O obreiro cristo no pode convenc-lo da verdade do Evangelho. No o seu dever. Depois de apresentar o Evangelho, ento oramos para que o Esprito Santo convena-o, que Deus mude sua mente, lhe conceda arrependimento, que Deus lhe d o dom divino da f, o faa acreditar nos axiomas da Escritura e o ressuscite da morte do pecado para uma nova vida em Cristo. Traduo: Tiago Canuto Reviso: Felipe Sabino de Arajo Neto