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As receitas medievais portuguesas como ferramenta para ensino de história
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I Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso da Regional Catalo, Universidade Federal de Gois.
AS RECEITAS MEDIEVAIS PORTUGUESAS COMO FERRAMENTA
PARA O ENSINO DE HISTRIA Oliveira, Digo Soares de, [email protected]
Duarte, Teresinha.2
1Aluno de ps-graduao do Mestrado em Histria da Universidade Federal de Gois Regional Catalo
2Professora do Curso de Historia da Unidade Acadmica Especial de Histria e Cincias
Sociais da Universidade Federal de Gois Regional Catalo
Resumo: Este artigo abordar algumas pretenses de como trabalhar receitas medievais portuguesas no ensino
de histria, a fim de possibilitar ao aluno, o despertar de sua conscincia histrica e de sua condio de sujeito
histrico, herdeiro desse mundo medieval to marcante em nossa atualidade.
Palavras-chave: ensino de histria, cultura, receitas medievais portuguesas, representaes.
___________________________________________________________________________
1. INTRODUO
O presente artigo contempla discusses em
ensino de histria que possam contribuir para
formao da conscincia histrica nos alunos.
Tomando as receitas medievais portuguesas como
ferramenta para esse ensino, na qual, possa afirmar
aos alunos do Ensino Fundamental II, sua condio
de sujeitos histricos, herdeiros de uma cultura to
longnqua, que a Idade Mdia, mas que certos traos culturais daquela poca resistem ao tempo e
permanecem acesos, vivos e marcantes.
Abordaremos, enfim, como certos autores
pensam sobre o uso de fontes e como a arte de
desenhar em sala de aula pode promover
conscincia histrica nos alunos. Assim, ao levar
estas receitas aos alunos, como ferramentas de
ensino, j estaremos apresentando algumas
perspectivas de como somos reflexos de um
passado no acabado, mas que vivo, e carregado
de gostos, e na tentativa de sabore-lo por meio de
leituras, representaes em desenhos e das
imaginaes da cozinha medieval, identificar os
alunos como sendo seres socioculturais.
2. A COZINHA MEDIEVAL PORTUGUESA COMO FORMADORA DOS SUJEITOS
HISTRICOS
Partindo-se da concepo de Clifford Geertz
(1999, p. 15) que entende o termo cultura num
sentido semitico, ou seja, estuda os signos e
significados dos objetos, tudo o que o homem pe
um sentido e lhe d um significado considerado
cultura. Assim sendo, as receitas medievais
portuguesas, pertencentes Infanta Dona Maria,
podem ser estudadas pelo vis cultural, pois suas
receitas carregam sentidos e significados de
construo humana.
Sendo o objeto de estudo, os desenhos e/ou
textos feitos pelos alunos a partir de suas leituras
das receitas medievais e da leitura de sua realidade
sociocultural, necessrio ainda trazer para
discusso o conceito de representao e imaginrio.
Segundo Chartier (2002) a representao a exibio de uma presena, a apresentao pblica
de uma coisa ou de uma pessoa. As representaes so uma forma de percepo do real,
variando de acordo com grupos ou classes sociais.
A representao no pode ser o real, mas uma
maneira de apresentar algo de novo. Quanto a
cozinha medieval, ela ressurgir, numa
representao de algo novo, na forma de desenhos.
Nas perspectivas de Jacques Le Goff (1980), o
imaginrio inserido ao campo da representao,
mas no com o mesmo sentido de representao esta uma traduo mental de uma realidade
exterior percebida . Ocupa nele a parte da traduo no reprodutora, no simplesmente
transposta em imagem do esprito, mas criadora,
potica no sentido etimolgico da palavra (p. 12). Deste modo, o imaginrio no pode ser
examinado como algo esttico. Pois ele diz respeito
arte de criar, inventar. Ao pensar o alunado,
percebe-se que a forma como vo desenhar a
cozinha medieval, no ser algo hegemnico a
todos, pois cada um, carrega em si, experincias
vividas, que so nicas, carregadas de significncia.
Ento, se considerar o desenho como uma das
manifestaes semiticas, ou seja, da construo de
significados e smbolos, assim como compreende
Piaget, pode-se concluir que o simblico surge no
pensamento, no imaginrio. Contudo, a partir de
observaes e percepes da realidade que se d
essas construes do imaginrio, ou mesmo de suas
I Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso da Regional Catalo, Universidade Federal de Gois.
representaes. Na prtica, uma palavra pode estar
carregada de significados e que podem ser
ilustradas, representadas em desenhos, mas sempre
baseadas nas percepes e orientaes do
imaginrio com a realidade.
Mas, por ora, deixando de lado essas
compreenses, e trazendo novos conceitos, Nilton
Pereira e Fernando Seffner (2008, p. 119)
compreendem o ensinar histria na escola como
uma prtica em que o professor permita o aluno
abordar a historicidade das suas determinaes socioculturais, fundamento de uma compreenso de
si mesmos como agentes histricos e das suas
identidades como construes do tempo histrico. Aqui o conceito de Ensino de Histria se contrape
ao que se pensava at meados do sculo XX, de que
ensinar histria implicaria na repetio de datas e
fatos de grandes acontecimentos.
Segundo Selva Fonseca (2012), o ensino em
Histria, a partir do ano de 1988, comeou a
questionar sobre o uso de dataes. Naquele
perodo, as preocupaes estavam mais engrenadas
em questes sociais, das lutas sociais do que datas.
Nos anos 2000, a Histria Cultural ganhou maior
respaldo nos currculos escolares. O Ensino de
Histria passou a ser trabalhado no aprendizado.
Agora, em pleno sculo XXI, as mudanas
tecnolgicas favorecem ao desenvolvimento de
novas tecnologias no campo da educao. Tambm
tem se elaborado uma vasta produo sobre a
educao bsica. Portanto, o ensino em Histria
uma prtica de transferncia de saberes, tanto pelo
professor quanto pelo aluno.
2.1. FERRAMENTAS NO ENSINO DE
HISTRIA
Trazer fontes histricas para sala de aula, uma
das maneiras de assumir que, o livro didtico no
o nico meio veiculador da aprendizagem.
Entendemos que as fontes histricas podem instigar
a aprendizagem, enquanto relatos do passado e
podem despertar nos alunos que as suas
experincias vividas esto interligadas s
experincias vividas de outros homens no passado,
possibilitando-lhes interpretar o seu mundo.
Sobre o uso de fontes histricas como
ferramentas para o ensino, trouxemos alguns
autores para a discusso. Schimdt & Cainelli
(2004), as quais afirmam que o contato do aluno
com as fontes uma forma de representar as
realidades do passado e do presente, o que fortalece
sua capacidade de raciocinar. Logo, os desenhos
que os alunos faro em sala de aula, a partir de suas
leituras e compreenses das receitas medievais
portuguesas aprimoraro suas capacidades de
representar, raciocinar, aflorar suas perspectivas de
conscincia de sujeito histrico.
Segundo Bittencourt, utilizar fontes em aula de
Histria pode favorecer a introduo do
desenvolvimento ao pensamento histrico. De dizer
que o vestgio do passado se encontra em vrios
lugares, integrando a preservao do patrimnio
cultural.
Os alunos, muitas vezes, tm dificuldades
de entenderem-se como sujeitos histricos, pois
compreendem a Histria como Grandes Acontecimentos. Assim, no se veem como um sujeito que responsvel por seus atos perante
sociedade e que pode interferir nesses Grandes
Acontecimentos. Isto porque, as prticas de ensino
de reproduo do livro didtico limitam
exaustivamente o que se pode ensinar e aprender,
uma vez que, os alunos ficam refns exclusivos
desse tipo de material. Mas quando eles se dedicam
a anlise de documentos, comeam a perceber que
se incluem na Histria e que so um dos sujeitos
que constri a histria. No importa se o passado
distante ou mesmo mais prximo do tempo real, o
que vale a sua capacidade de integrar-se o aluno
como sujeito histrico.
Por assim dizer, esta pesquisa permitir
com que esses alunos possam transformar-se no
numa espcie de historiadores, mas se tornarem criteriosos ao buscar entender a realidade em que
vivem, como um historiador ao analisar os
documentos. Isto lhe d maior autonomia
intelectual, capacitando-o a atribuir anlises crticas da sociedade em uma perspectiva temporal (BITTENCOURT, 2004, p. 328).
2.2. AS RECEITAS MEDIEVAIS PORTUGUESAS
Como afirma Maria Jos Azevedo Santos
(1997, p. 37), o tal livro acabou conhecido por seu
nome vulgar: Livro de Cozinha da Infanta D. Maria
de Portugal. D. Maria de Portugal foi filha do
Infante D. Duarte duque de Guimares seu pai viveu de 1515 a 1540 , sobrinha de D. Joo III e neta do Rei Venturoso. Filha da alta nobreza
portuguesa, a infanta Dona Maria era letrada e
culta, lida em grego e latim, casou-se em 1565 com
o 3 duque de Parma, Piacenza e Guastalla:
Alexandre Farnsio, tendo levado no seu principesco enxoval um pequeno livro de receitas
de cozinha (SANTOS, M., 1997, p. 37). Azevedo Santos acredita que a Infanta o
tenha levado para a Itlia, e, depois de sua morte, o
livro foi enviado para a Biblioteca Nacional de
Npoles onde reconhecido como o manuscrito I-E-33 ; assim, foi equivocadamente intitulado como receitas espanholas Trattato di cucina Spagnola.
I Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso da Regional Catalo, Universidade Federal de Gois.
Por consenso, pesquisadores e fillogos que se embasaram em mtodos estritamente
lingusticos afirmam que este livro de receitas surgiu entre os sculos XIV e XV, pois no havia
outras receitas escritas que permitissem uma
comparao.
As receitas tm dataes diferentes, algumas
so anteriores ao sculo XV e XVI. As receitas de
conservas parecem mais tardias, devem ter sido
escritas no final do sculo XV e comeo do XVI,
quando, j se havia algumas outras receitas escritas.
A Europa pode dispor de acar a partir das
invases rabes e principalmente a partir do sculo
XIV quando o acar passou a ser comercializado
em gros e registrado em testamento de reis e
nobres. J em Portugal, o acar tornou-se um
hbito nobre a partir do sculo XV e XVI, como
afirmou Azevedo Santos (1997, p. 48)
Outro fator que leva datao da escrita
deste livro, no final da Idade Mdia, a presena de
invenes e modernizaes que afetaram tambm a
culinria portuguesa, como o caso do grande
nmero de utenslios usados. Como afirma Abbade:
instrumentos de trabalho, para colocar alimentos, para lquidos, que vo ao fogo, tapadores, para
cortar, para perfurar (s/d, p. 14). Os utenslios mais usados eram: colher, tacho, escudela, tigela,
pcaro, dedo (ABBADE, s/d, p. 4) alguns dos quais
poderiam ser usados como medidores de
ingredientes.
Essas receitas foram os primeiros vestgios
deixados pelos portugueses sobre a cozinha
medieval. Numa poca, em que, a maioria das
receitas eram transmitidas a partir da oralidade, pela
tradio no se tinha livro de receitas. Esta talvez seja a mais pertinente inteno de escolha para se
trabalhar a anlise dessas receitas em sala de aula.
Por tomar Um Tratado da Cozinha
Portuguesa do sculo XV tambm conhecido como Livro de receitas da Infanta Dona Maria, por
pertencer quela infanta como primeiro patrimnio cultural da cozinha medieval
portuguesa, pode-se afirmar que, ao levar essas
receitas at os alunos, tambm, uma maneira de
preservar a nossa cultura que tem carter luso-
brasileira, bem como de ajudar os alunos a se
perceberem como herdeiros destes saberes e gostos.
3. RESULTADOS E CONCLUSES
Como resultados preliminares, trouxemos
algumas discusses de autores sobre a importncia
da fonte em sala de aula, do tipo de documento que
ser analisado pelos alunos e os conceitos de
representao e cultura.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos Capes.
REFERNCIAS
ABBADE, Celina Mrcia de Souza. Os textos da
culinria portuguesa revelando os costumes
medievais. Textos: Produo e Edio. Cadernos do
CNLF, 84 VOL. XII, N 08. s/d. Disponvel em:
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Trabalho Pedaggico)
PEREIRA, Nilton Mullet. SEFFNER, Fernando. O
que pode o ensino de histria? Sobre o uso de
fontes na sala de aula. Disponvel em:
Acesso em: 01 set 2014
PIAGET, J. A formao dos smbolos na criana.
PUF, 1948.
RSEN, Jrn. Histria viva: teoria da histria -
formas e funes do conhecimento histrico. Trad.
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Universidade de Braslia, 2007.
SCHIMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI,
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RESPONSABILIDADE AUTORAL
Os autores so os nicos responsveis pelo contedo deste trabalho
I Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso da Regional Catalo, Universidade Federal de Gois.
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THE MEDIEVAL PORTUGUESE RECIPES AS A TOOL FOR THE
TEACHING HISTORY Oliveira, Digo Soares de, [email protected]
Duarte, Teresinha2 1 Student of Masters graduate in History from the Federal University of Gois Catalan Regional
2 Teacher of the History Course of Special Academic Unit of History and Social Sciences at the Federal
University of Gois Catalan Regional
Abstract. This article will address some pretensions of working Portuguese medieval recipes in the history teaching in order to enable the student , the awakening of their historical consciousness and their status as
historical subject , heir of this medieval world so striking in our present.
Keywords: teaching of history, culture, medieval Portuguese recipes, representations.