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Curso de Direito O Valor da Prova no Inquérito Policial Nadya Rodrigues Tardoque RA: 458.628-1 Turma: 3209-A01 Tel.: (11) 8527-9938 e-mail: [email protected] São Paulo 2006

Curso de Direito - arquivo.fmu.brarquivo.fmu.br/prodisc/direito/nrt.pdf · Curso de Direito O Valor da Prova no ... 2 ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes, Princípios Fundamentais do Processo

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Curso de Direito

O Valor da Prova no Inquérito Policial

Nadya Rodrigues Tardoque

RA: 458.628-1

Turma: 3209-A01

Tel.: (11) 8527-9938

e-mail: [email protected]

São Paulo

2006

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Curso de Direito

O Valor da Prova no Inquérito Policial

Nadya Rodrigues Tardoque

RA: 458.628-1

Monografia apresentada à banca examinadora

do Centro Universitário das Faculdades

Metropolitanas Unidas, como exigência parcial

para obtenção do título de Bacharel em Direito,

sob a orientação do Professor Edson Luz

Knippel.

São Paulo

2006

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NADYA RODRIGUES TARDOQUE

Monografia apresentada à banca examinadora

do Centro Universitário das Faculdades

Metropolitanas Unidas, como exigência parcial

para obtenção do título de Bacharel em Direito,

sob a orientação do Professor Edson Luz

Knippel.

São Paulo

2006

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BANCA EXAMINHADORA:

______________________________________

Professor Edson Luz Knippel

______________________________________

Professor Argüidor

______________________________________

Professor Argüidor

______________________________________

______________________________________

______________________________________

(_____________________________________)

5

Dedico esta obra ao meu amado marido, em quem

procuro me espelhar sempre; pessoa que exerce tão

honrosa profissão, a de Delegado de Polícia, mostrando-

me sua luta constante, anonimamente, nos plantões, a

defesa dos interesses do Estado, das vítimas, mantendo

acesa a fé e a esperança na justiça; Linda profissão, a

qual almejo estar atuando num breve futuro!

6

AGRADECIMENTOS

Meus Agradecimentos:

Aos meus queridos amigos, Marco Antônio

Moraes, Thereze Naim e especialmente a

Mariza, a “leãozinho”, rainha da organização,

que sem sua ajuda, os obstáculos teriam

sido muito maiores ao longo dos cinco anos

desta graduação, sempre preocupada e

muito amiga.

Agradeço também ao orientador Professor

Dr. Edson Luz Knippel, que demonstrou

grande paciência, conhecimento e presteza

com seus orientados.

E, por fim, agradeço a minha família.

7

SINOPSE

O presente trabalho tem como escopo o estudo das provas produzidas

durante a instrução preliminar, realizada e materializada em inquérito policial e sua

valorização na fase judicial analisando a importância e seus elementos

caracterizadores, por vezes, fundamental para elucidação da causa

crime.Considerando que praticamente a totalidade das condenações criminais são

baseadas em elementos probatórios originados em inquérito policial, percebe-se a

importância do estudo do tema, mormente, pela análise de seu conteúdo e forma que

revela profunda relevância jurídica e repercussão na esfera de liberdade e direitos

dos cidadãos envolvidos em processos criminais na jurisdição brasileira. O objetivo é

demonstrar a importância da prova produzida, extra processualmente, ou seja, na

fase preliminar de investigação criminal e suas implicações para o deslinde

condenatório ou absolutório da pretensão punitiva estatal.

8

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................99 Capítulo I ..............................................................................................................1111 Inquérito Policial: Noções Fundamentais .........................................................1111

1.1 Origem do Inquérito Policial.........................................................................1111 1.2 Definição e Conceito de Inquérito Policial....................................................1313 1.3 Da Instauração do Inquérito Policial ............................................................1414

1.3.1 Requisição, e não determinação à autoridade policial. .........................1515 1.4 Finalidade do Inquérito Policial ....................................................................1717 1.5 Características do Inquérito .........................................................................1818 1.6 Atos Formais do Inquérito............................................................................1919

Capítulo II .............................................................................................................2121 Das Provas...........................................................................................................2121

2.1 Noções Preliminares....................................................................................2121 2.2 Objeto da Prova...........................................................................................2121

2.2.1 Fatos que independem de prova...........................................................2121 2.2.2 Fatos que dependem de prova .............................................................2222 2.2.4 Provas inadmissíveis.............................................................................2323

2.3 Classificação das Provas.............................................................................2424 2.4 Meios de Prova............................................................................................2525 2.5 Ônus da Prova.............................................................................................2626

2.5.1 Procedimento Probatório.......................................................................2828 2.5.2 Prova Emprestada.................................................................................2828

2.6 Sistemas de Apreciação ..............................................................................2929 2.7 Princípios Gerais da Prova ..........................................................................3030 2.8 Principais meios de prova colhidos no inquérito Policial..............................3030

2.8.1 Exames de corpo de delito e perícias em geral ....................................3030 2.8.2 O interrogatório do acusado..................................................................3131 2.8.3 Da Busca e Apreensão .........................................................................3333 2.8.4 Da Prova Testemunhal..........................................................................3434 2.8.5 Do reconhecimento de pessoas e coisas.............................................3535 2.8.6 Da acareação........................................................................................3535 2.8.7 Dos Documentos...................................................................................3535 2.8.8 Dos Indícios e Identificação Criminal ....................................................3636 2.8.9 Indiciamento..........................................................................................3737

Capítulo III ............................................................................................................3838 O valor da Prova no Inquérito Policial...............................................................3838

3.1 Do Valor Probatório Do Inquérito Policial.....................................................3838 3.2 Decisão condenatória apoiada exclusivamente em inquérito policial ..........4242

CONCLUSÃO .......................................................................................................4646 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................4848

Excluído: 2

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Excluído: 40

Excluído: 42

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de reflexão da autora sobre a importância das

provas produzidas na fase de investigação criminal e seu reflexo e apreciação na

fase judicial, inclusive no momento de prolação da sentença definitiva pelo

magistrado.

Inicialmente aborda-se o tema Inquérito Policial bem como origem,

conceituação e sua definição, modos de instauração, finalidade, descrição e

definição de alguns atos formais nele produzidos, bem como, sucinta análise da

requisição dirigida à autoridade policial e sua apreciação frente o ordenamento

jurídico.

Ainda no tema, passa-se a concisa conceituação da prova no processo

penal, seu objeto e classificações, destacando-se afinal alguns meios de prova em

espécie, não olvidando seus sistemas de apreciação, reconhecendo-se por fim o

sistema brasileiro como o mais adequado à obtenção da verdade material como

finalidade precípua da persecução penal.

No derradeiro capítulo, analisa-se de maneira “inovadora” o tema central

do presente trabalho, abordando inicialmente o valor da prova em sede de inquérito

policial, a decisão condenatória apoiada nela “exclusivamente”, comentando-se as

decisões jurisprudenciais dos tribunais e, em seguida, como conclusão, aponta-se a

perfeita constitucionalidade dos processos judiciais nele embasados para prestação

jurisdicional definitiva.

Em arremate é de se observar que o estudo e o aprofundamento do tema

em análise, a prova penal colhida na fase extraprocessual, demonstra importância

fundamental para o resguardo da verdade real como objetivo de justiça a ser

alcançado, principalmente por ser nesta fase em que quase absolutamente estão

presentes os vestígios deixados pela infração penal, materialidade e autoria delitiva.

Apesar de grandes avanços tecnológicos, algumas provas não são passíveis de

repetição em juízo, como exemplo, perícias colhidas no local do crime, testemunha

que depois não é mais localizada, ou veio a falecer, e até mesmo no inquérito a

10

confissão minuciosa dos atos ilícitos praticados, e esta retratação da confissão em

juízo, são elementos probatórios aptos para a decisão do magistrado.

11

Capítulo I Inquérito Policial: Noções Fundamentais

1.1 Origem do Inquérito Policial

Desde a remota antigüidade, existia o processo investigatório para

apuração de delitos, suas causas, motivos e autores.

Consoantes notícias de Fustel de Coulanges, entre os antigos atenienses

já se esboçava uma espécie de inquérito para apurar a probidade individual e

familiar daqueles que eram eleitos a magistrados, dez dos quais – chamados de

estínomos – eram encarregados do serviço policial (A Cidade antiga, 7. ed.,

Clássica ED., v. 2, p.151). Seria mais uma espécie de sindicância, de cunho

investigatório, sem qualquer esboço de contraditório. 1

Porém, no Direito Romano começava a ganhar contornos mais definidos,

os trabalhos investigatórios em que se apuravam as circunstâncias do crime, bem

como a localização do criminoso. O magistrado delegava poderes à própria vítima e

seus familiares, que tinham o direito de se dirigir aos lugares, colher indícios, visitar

e ouvir testemunhas, notificá-las para o comparecimento no dia do julgamento,

proceder arresto de documentos e coisas necessárias a prova, tirar cópias e

requerer autenticações e, mesmo proceder buscar e apreensões, penetrando na

casa do acusado e seus amigos. Esta inquisito era contraditória, pois o acusado

podia, proceder a semelhantes diligências, em busca de elementos inocentadores,

estas deveriam ser cumpridas num prazo determinado pelo magistrado.

Na falta de acusador competia o juiz, ex officio, realizar a inquirição e a

acusação nos crimes. Ao tempo dos imperadores, tal inquisito, passou a ser feita

exclusivamente por agentes públicos, formalmente revestidos de poderes legais.

Na época imperial de Roma, a inquisitio, era realizada antes da acusatio,

assegurando a repressão de crimes, e só acontecia na falta de acusador ou de

ofendidos, depois foi conferida ao procônsul ou chefe das províncias o poder de

1 MEHMERI, Adilson. Inquérito Policial (Dinâmica). São Paulo: Saraiva, 1992. Pág. 03.

12

proceder ex officio, mesmo sem accusatio, apenas para os atos de instrução, levado

o processo a audiência era imprescindível a nomeação de um acusador.

Podemos distinguir, assim, as duas fases – inquisitiva e acusatória - a

primeira seria o inquérito policial, em que são levantados os elementos de prova e

materialidade, a segunda, quando se encontra o processo criminal, do qual existe o

contraditório e o juiz sentencia.

No Brasil aplicava a ordem jurídica de Portugal, já que era uma colônia

portuguesa, por esse motivo vigoravam em solo brasileiro as ordenações Afonsinas,

Manoelinas e as Filipinas.

A polícia passou a ganhar os primeiros contornos com o Alvará de

10.5.1808, assinado pelo príncipe regente, este era o cargo de intendente-geral da

polícia, pois até aqueles momentos anteriores a segurança pública era direta dos

donatários que organizavam de maneira que achavam mais conveniente a

segurança de suas capitanias hereditárias.

O primeiro documento legislativo importante pós-independência foi a lei de

13/10/1827 foi criado a figura do Juiz de Paz, que era responsável pela

administração Policial tanto pelas atividades preventivas como repressivas. Foram

tais agentes públicos incumbidos de “formar corpo de delito, e de, indiciado o

delinqüente, conduzi-lo a sua presença, para interrogá-lo à vista dos fatos existentes

e das testemunhas, caso comprovada ilicitude, faze-lo prender de acordo com a lei,

remetendo-o imediatamente ao juiz criminal respectivo” 2.

Com o advento da lei 2033, de setembro de 1871, ficou clara a divisão da

atuação dos juizes, delegados e subdelegados, pois anteriormente a coleta de

provas e indícios, para a formação de culpa, eram concorrentes entre os juizes,

delegados e subdelegados, surgiu então o inquérito policial, em linhas gerais, como

existente até hoje.

2 ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes, Princípios Fundamentais do Processo Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1973.

13

Sem dúvida, da estrutura com que surgiu na reforma legislativa de 1871,

muito pouco se modificou na caracterização do inquérito policial3.

O atual inquérito policial Pátrio tem suas raízes no processo inquisitorial

continuando com esta característica, sendo regido pelo código de processo Penal.

1.2 Definição e Conceito de Inquérito Policial

O conceito de Inquérito buscado no presente trabalho nos remete

inicialmente ao significado da palavra inquirir – procurar informações, indagar,

investigar. Daí a forma substantiva inquérito.

No sentido amplo da expressão, inquérito policial é o conjunto das

pesquisas e indagações que a autoridade e seus auxiliares empreendem, a partir da

primeira hora, para provar a existência de infração da lei penal (corpo de delito),

apurar autoria desta infração e desvendar circunstancias do evento4.

Augusto Mondin5 define inquérito policial como sendo o registro legal,

formal e cronologicamente escrito, elaborado por autoridade legitimamente

constituída, mediante o qual se autentica as investigações e diligências na apuração

das infrações penais, das suas circunstâncias e dos seus autores. Já para Tourinho

Filho “o inquérito policial é o conjunto de diligencias realizadas pela polícia judiciária

para apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação

penal possa ingressar em juízo6”. O inquérito policial pode ser definido como um

procedimento administrativo, elaborado pela polícia judiciária, inquisitório, escrito e

sigiloso.

3 QUEIROZ FILHO, Dilermando. Inquérito Policial. Rio de Janeiro: Esplanada, 2000 Pág. 45. 4 MORAES, Bismael B. Direito e Polícia – Uma introdução à Polícia Judiciária, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986, Pág. 120. 5 MONDIN, Augusto. Manual do inquérito Policial. 2º ed. São Paulo, 1957 Pág. 45. 6 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 21 Ed. São Paulo: Saraiva, 1999 Pág. 63.

14

1.3 Da Instauração do Inquérito Policial

A competência para elaboração do inquérito Policial pertence à polícia

Judiciária, comumente chamada de Polícia Civil, não sendo possível a instauração

por qualquer outro órgão, nem pelo Ministério Público que não tem atribuição para

tanto, sua atribuição cabe ao monopólio da ação penal publica, e somente poderão

requisitar diligências investigatórias e instauração de inquéritos policiais. Portanto,

concluí-se que a atribuição para instauração, elaboração, colheita de provas em

inquérito policial é exclusiva da polícia judiciária, não podendo ser suprida por

qualquer outro órgão da administração pública, sob pena de o fato ser considerado

como coação pessoal inadmissível, que poderá ser utilizado um remédio

constitucional contra o fato denominado Habeas Corpus.

Não obstante, o inquérito policial é um procedimento inquisitório, escrito e

sigiloso, por ser inquisitório não há defesa. A instauração do inquérito consta no

artigo 5º do código de processo penal pátrio. Nos crimes de ação pública a

autoridade deve agir de oficio, sempre que houver algum fato ilegal, poderá ser

requerida a autoridade a instauração do mesmo, lembrando que se a autoridade

preside o inquérito, o ilustríssimo delegado de polícia, em sua convicção investida

em sua função pública, mesmo a requerimento do Ministério publico poderá não

fazê-lo, se convencer não ser o caso de instauração.

O requerimento do ofendido deverá conter os requisitos listados no artigo

5º § 1º do Código Processo Penal, podendo ser indeferido pela autoridade policial.

Nos crimes de ação penal condicionada, a autoridade policial somente poderá

instaurar inquérito se autorizada pelo ofendido ou seu representante legal,

denominando-se representação.

Nos crimes de ação privada o inquérito somente poderá ser instaurado a

requerimento do ofendido ou seu representante legal.

Com a lei 9099/95, cerca de 40% do total de infrações penais deixam de

ser objeto de inquérito passando a ser objeto de Termo Circunstanciado, este é

utilizado para crimes de menor potencial ofensivo.

15

Inquérito deverá ser concluso em 10 dias se o indiciado estiver preso e 30

dias se o indiciado estiver solto, se necessário a autoridade policial poderá solicitar

ao juiz prolação do prazo para conclusão. Em hipótese alguma poderá a autoridade

arquivar o inquérito, esse só poderá ser arquivado pelo juiz, a requerimento da

acusação, antes desta se iniciar.

1.3.1 Requisição, e não determinação à autoridade policial.

Requisitar corresponde a exigir legalmente alguma providência, ou “exigir

para o serviço público, com autorização legal; pedir para satisfazer uma

necessidade7”.

Determinar tem sentido de prescrever, ordenar, decretar8. Estando assim,

inclinado à esfera da subordinação administrativa ou funcional.

No Direito Processual Penal Brasileiro, não existe subordinação das

autoridades policiais às autoridades judiciárias ou ao Ministério Público, nem de

ordem administrativa, muito menos funcionalmente.

Perante a lei, podem os Juízes e os membros do Parquet, apenas

requisitar a instauração do inquérito (artigo, 5º II, do Código Processo Penal) .Não

podem dirigir os atos, nem determinar o que deve ou não ser feito no inquérito, pois

poderia incidir, em tese, no eventual exercício ilegal de função pública. Da mesma

forma que a autoridade policial não pode determinar, nem sugerir, ao promotor de

justiça como deve elaborar a denúncia ou manifestar-se dentro de um processo.

No entanto há alguns doutrinadores, que também são membros do

Parquet, e não entendem assim:

“... não há possibilidade de indeferimento, ou de recusa, quando se trata

de requisição, seja do juiz, seja do promotor. A tanto não chegou

7 Cf. NASCENTES, Antenor, Dicionário de Língua Portuguesa, t. 4º/78, elaborado sob o crivo da Academia Brasileira de Letras e editado pelo Departamento da Imprensa Nacional. 8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3º Ed., 3º/667.

16

o legislado, e assim procedeu por questão hierarquia se o responsável pela ação

penal é o Ministério Público, a quem exclusivamente se concede o dever de presidir

à acusação, se o ato decisório de justiça compete ao juiz, não pode nem deve a

autoridade policial intervir em qualquer dessas esferas para decidir se deve, ou não,

cumprir requisição.” (apud Adilson Mehmeri, Inquérito Policial (Dinâmica), cit. Pag

26). 9

Tal entendimento afronta totalmente o que já demonstramos acima, a

autoridade policial apenas é subordinada à lei, inexiste hierarquia funcional e

administrativa, seja com o Ministério Público, seja com o Juiz de Direito. O Ministério

Público é o responsável pela ação penal pública, é o fiscal da lei e o acusador,

porém ele é responsável por esta, a quem é atribuído por lei (vide artigo 5º, II Código

de Processo Penal), a presidir inquérito policial é autoridade policial, também

chamado de delegado de polícia.

A Autoridade Policial procederá com zelo e presteza às diligências que lhe

foram requeridas, nas esferas de suas atribuições, “porém não é menos certo que

pode recusar-se a fazê-lo quando tais requerimentos ou determinações contrariem a

sua consciência, não tenham fundamento ou estejam aos arrepios da lei” 10.

Verificamos o testemunho do conceituado jurista Ary Azevedo Franco:

“Magistrados que somos há mais de quatro lustros, e por muito tempo magistrado

criminal, manda a mais elementar justiça que aqui consignemos a prestimosa

cooperação que as autoridades policiais, em geral, prestam a toda a solicitação que

lhes é feita pelas autoridades judiciárias e pelo Ministério Público,” 11 Há de verificar

que é raro o processo que tal cooperação não seja solicitada.

9 Ibidem, Pág. 26 10 JUNQUEIRA, Roberto Rezende de, “Da liberdade de decisão do delegado de polícia” in O Estado de São Paulo, ed. 30.10.83, Pág. 52. São Paulo. 11 FRANCO, Ary Azevedo. Código de Processo Penal – Comentários, 4º Ed., Rio, A noite, 1950, Pág. 60

17

1.4 Finalidade do Inquérito Policial

A finalidade precípua do inquérito é instruir a ação penal em todo o

processo, com as provas materiais, colhidas por ele, em que servirá de base para

ação penal promovida pelo Ministério Público ou pelo particular, indícios de autoria e

de materialidade delitiva.

Outra finalidade é fornecer elementos probatórios ao juiz, de maneira a

permitir a decretação de prisão preventiva, recebimento da denúncia ou queixa etc.

Bismael Moraes exalta a importante participação do inquérito policial

como instrumento útil do dinamismo judiciário:

“Na sistemática do Direito Brasileiro, sem a Polícia Judiciária realizando

os inquéritos, raríssimas seriam as ocasiões em que os infratores prestariam

constas à Justiça Criminal ”. ( Direito e Polícia, cit., p. 243).12

Porém, o entendimento de Galdino Siqueira13 condenava-o:

“Efetivamente, o que se tem observado é a existência de um processo

duplicado, o do inquérito e o da formação da culpa, dando em regra prejuízos à

causa da justiça, quer pelo tempo, quer pela ação da chincana e do suborno,

freqüentemente vendo-se retratações de confissão ou de declaração de

testemunhas, colhidas no inquérito”.

Parece-nos muito radical tal pensamento, a exigência constitucional de

contrariedade na instrução criminal não implica no total desvalor do inquérito. Do

contrario, não passaria de uma extravagância legal, por sua inutilidade.

O direito moderno demonstra indeclinável tendência das legislações para

emprestarem maior credibilidade ao inquérito policial.

12 Ibidem, Pág. 243 13 SIQUEIRA, Galdino. Curso de Processo Criminal, 2º ed, São Paulo: Livraria Magalhães, 1917 Apud MEHMERI, Adilson. Inquérito Policial (Dinâmica). São Paulo: Saraiva, 1992. Pág. 08.

18

Nos crimes de ação pública o promotor, se não satisfeito, poderá

requisitar novas diligências à autoridade policial. Mesmo se estiver arquivado o

inquérito, a autoridade poderá realizar novas diligências, se houver novas provas

sobre o fato, consoante dispõe o artigo 18, do Código Processo Penal. O destino do

inquérito é servir de base para ação penal.

1.5 Características do Inquérito

O inquérito Policial é um Procedimento Escrito, pois é destinado a

fornecer elementos probatórios ao titular da ação penal, não seria concebível a

existência de investigação verbal, conforme dispõe o artigo 9º do Código Processo

Penal; todas as peças do inquérito serão, num só processado, reduzidas a escrito e

datilografada, e neste caso rubricada pela autoridade. É Sigiloso, qualidade

necessária a que possa a autoridade policial providenciar as diligências necessárias

para a completa elucidação do fato sem que lhe oponham, no caminho, empecilhos

para impedir ou dificultar a colheita de informações com ocultação ou destruição de

provas, influência sobre testemunhas, etc. A autoridade assegurará no inquérito o

sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade

(Código Processo Penal artigo 20). O sigilo não se estende ao Ministério Público

nem ao Judiciário, o advogado poderá consultar o inquérito apenas quando possuir

legitimatio ad procedimentum, caso seja decretado segredo de justiça, não poderá

acompanhar a realização de atos procedimentais, mas poderá manusear e consultar

os autos, findos ou em andamento (Lei n. 8906/04, artigo 7º, XIII a XV, e § 1º -

Estatuto da OAB). Também temos a oficialidade o inquérito policial é um

procedimento investigatório que deverá ser realizado por autoridade policial, não

podendo ser realizada pelo particular, mesmo que a titularidade da ação penal seja

do particular ofendido. Em razão da oficiosidade, o ato de policia é auto executável,

pois independe de prévia autorização do judiciário, sendo obrigatória a instauração

mediante infração penal (artigo 5º I Código Processo Penal), exceto casos de ação

penal pública condicionada e ação penal privada (artigo 5º, §4º e §5º do Código

Processo Penal). Autoritariedade o inquérito deverá ser presidido por autoridade

policial, no caso, o delegado de polícia (CF, artigo 144, § 4º). Também temos a

indisponibilidade uma vez quando instaurado o inquérito, em qualquer hipótese, não

poderá ser arquivado pela autoridade policial (artigo 17 Código Processo Penal). É

19

inquisitivo devido às atividades investigatórias se concentrarem em única autoridade,

que deverá agir de oficio mediante infração penal, em que suas atribuições são de

carater discricionário nas atividades necessárias para o esclarecimento do crime e

autoria, por ser secreto e sigiloso, não se aplica os princípios do contraditório e

ampla defesa. Demonstra ainda mais a natureza inquisitiva os artigos 107 e 14 do

Código de Processo Penal, o primeiro proíbe argüição e suspeição da autoridade

policial, o segundo permite a autoridade policial indeferir qualquer diligência

requerida pelo ofendido ou pelo indiciado (exceto exame corpo de delito, à vista do

disposto artigo. 184).

1.6 Atos Formais do Inquérito

Existem algumas normas estabelecidas para a realização do inquérito,

seguindo regras com a forma e redação preestabelecidas e consagradas por lei,

praxe e tradição forense, garantindo a solenidade e a autenticidade dos atos.

As diversas peças escritas ou datilografadas que constituem o inquérito, são

chamadas “autos de inquérito”, nestas se registram e autenticam depoimentos das

testemunhas, as declarações do ofendido e do indiciado, exames periciais, etc., São

atos formais presididos pelo delegado de polícia, em que será revestido pelas

formalidades determinadas pelo Código Processo Penal nos artigos 301 e ss., existe

também uma seqüência pré-determinada.

As peças do inquérito têm padrão formalístico, variando apenas alguns

detalhes de maneira personalizada, dependendo do delegado ou escrivão.

As principais peças são as portarias, autos, termos e mandados.

Portaria é a peça escrita da autoridade policial, para instauração do

inquérito, após tomar conhecimento de infração penal, a autoridade descreverá sua

ciência da noticia crime determinando as providências iniciadoras da investigação

sobre o fato aparentemente típico e antijurídico.

Autos são peças destinadas à reprodução de atos determinados,

praticados e ou assistidos pela autoridade policial, são redigidos pelo escrivão de

20

polícia, e assinados pelas pessoas que participaram, tais como testemunhas,

vítimas, peritos, escrivão e pelo delegado de polícia.

Termos são os elementos consignados pelo escrivão de tudo que

disseram, vítimas, testemunhas e indiciados (declarações, depoimentos, acareações

etc.), em que irá confirmar as medidas tomadas, dando fé pública.

Mandados consistem na ordem emanada pela autoridade para que seja

realizada determinada diligência, imprescindível à apuração da infração penal.

Podemos citar alguns tipos de mandado, mandado de busca e apreensão, mandado

de condução coercitiva e outros.

21

Capítulo II Das Provas

2.1 Noções Preliminares

Provar é, antes de mais nada, determinar a existência da verdade; e as

provas são meios pelos quais se procura estabelecê-la. Para que seja declarada a

existência de ilícito penal e imposição de pena a determinada pessoa, é necessário

que o juiz tenha certeza que foi cometida uma infração penal e sua autoria. Conclui-

se que é o meio de percepção empregado com a finalidade da procura pela verdade

e comprovação dos fatos alegados.

2.2 Objeto da Prova

O objeto da prova é toda circunstância, fatos principais ou secundários,

alegações sobre o litígio sobre os quais pesam a incerteza, necessitando de

comprovação apenas os fatos relevantes para a resolução da lide, em que se

verificará a responsabilidade penal, aplicação de pena e medida de segurança.

2.2.1 Fatos que independem de prova a) Fatos axiomáticos ou intuitivos: são evidentes por si mesmos, a convicção já

estará formada, como por exemplo, se for provado que o acusado estava em

determinado lugar e momento não precisa comprovar que não estava no local do

crime, ou se é encontrado cadáver em estado de putrefação é desnecessário

provar que a pessoa estava morta.

b) Fatos Notórios e evidentes: não é necessário provar os fatos notórios,

irrelevantes e evidentes, daí a máxima notoria vel manisfesta non egent

probatione (o notório e o evidente não precisam de provas). Notório é o fato de

conhecimento do homem médio ou de determinada sociedade, é a verdade

sabida, não é necessário provar que dia 25 de dezembro é Natal. Já o evidente

é certo, indiscutível, induvidoso.

22

c) Fatos Presumidos: presumir é tomar como verdadeiro um fato,

independentemente de prova, podem ser conclusões decorrentes da própria lei.

Temos a presunção absoluta e a presunção relativa. A presunção absoluta (juris

et de jure), não admite prova em contrário, como exemplos presunção da

imputabilidade do agente embriagado voluntária ou culposamente (artigo 28, II do

CP) e ininputabilidade de menor de 18 anos (artigo 27); A presunção relativa

(juris tantum) pode ser afastada se houver prova que o contradiz, podemos citar

como exemplo presunção de violência em certos crimes contra os costumes

(artigo. 224).

d) Fatos inúteis: são os fatos que não apresentam qualquer relação com o que esta

sendo discutido, verdadeiros ou não, nenhuma influência podem ter na solução

de uma causa, como exemplos podemos citar: se o crime foi cometido próximo

ao jantar, e o juiz quer saber quais pratos foram servidos, quais roupas vestidas

pelo autor, a religião, etc.

2.2.2 Fatos que dependem de prova

No processo Civil vige o principio da verdade formal, o contrário ocorre no

processo Penal, em que se busca a verdade material, o juiz deverá chegar a

verdade dos fatos como ocorreram, em determinada seqüência e não como as

partes o queiram, portanto, não está excluída de prova os fatos incontroversos.

Para a realização de provas é necessário que sejam admissíveis (toda

prova admitida pelo direito), pertinente (que se relacione com o processo),

concludente, possível de realizar.

2.2.3 Prova do Direito

O magistrado é obrigado a conhecer o Direito, e este não precisa ser

provado (iure novit curia), salvo, se for legislação estadual, municipal, alienígena e

consuetudinário, caberá a parte alegante provar. A previsão legal das provas

previstas nos artigos 158 a 250 do Código Processo Penal, não é exaustiva, mas

exemplificativa, as demais são chamadas de provas inominadas.

23

2.2.4 Provas inadmissíveis

Fala-se na doutrina de “prova ilícita”, “prova ilegitimamente admitida”,

“prova ilegítima”, “prova obtida ilegalmente”, etc. Em resumo toda prova é proibida

toda vez que caracterizar violação de normas legais ou de princípios do

ordenamento de natureza processual ou material14.

De acordo com a supra conceituação, temos as provas ilícitas e provas

ilegítimas, as primeiras violam as normas de Direito Material, costumes, moral e

princípios gerais do Direito, no meio ou modo de obtenção, na segunda a violação

condiz ao direito processual, na produção ou introdução no processo, quando a lei

impede sua produção em juízo.

A Constituição Federal de 1988 no artigo 5º LVI, dispõe que: são

inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Podemos citar como

exemplos de provas ilícitas, a violação de correspondência, violação de domicilio,

escuta telefônica dentre outras.

Toda a prova que colidir com a lei, aos bons costumes e aos princípios

gerais de direito, são chamadas de provas proibidas, cuja presença nos autos do

processo é vedada, deverá ser expurgada, não terá qualquer valor probatório, o juiz

não poderá fundar sua convicção nestas provas.

Vem crescendo em nossos tribunais (STF e STJ) a chamada teoria da

proporcionalidade que consiste em fixar um equilíbrio entre o interesse do Estado e

o social em punir o criminoso estando assegurados os Direitos fundamentais do

indivíduo.

14 GRINOVER, Ada Pelegrini. Liberdades públicas e processo penal: as interceptações telefônicas. São Paulo: Saraiva, 1999, Pág.128.

24

Quando conflitar dois interesses antagônicos, a solução será o exame e

conclusão do interesse que for mais preponderante, há divergentes entendimentos

porém a grande maioria da doutrina e jurisprudência entendem que deverá usar a

teoria da proporcionalidade apenas para beneficiar a defesa, pois é melhor ver um

direito constitucional violado do que privar a liberdade de um inocente. Conforme

decisão que versava sobre processo criminal por lesões corporais graves, onde se

admitiu uma fita contendo gravação de conversa telefônica ocorrida entre a ré e a

vitima do processo, realizada pela própria acusada, entendeu que ”o direito a

intimidade, como o resto de todas as demais liberdades públicas, não tem caráter

absoluto e pode ceder quando em confronto com outros direitos fundamentais,

como, por exemplo, o de ampla defesa. É o chamado “critério da proporcionalidade”

consagrado pelos tribunais alemães”. (RJ TJesp 16.09.92).

Além das provas ilícitas ou ilegítimas, também são consideradas provas

inadmissíveis ou proibidas a invocação do sobrenatural.

Quando o indivíduo abre mão de seus direitos constitucionais ou por

direito regido por norma ordinária, desde que estes direitos sejam disponíveis, a

prova se torna licita.

2.3 Classificação das Provas

Quanto ao objeto às provam podem ser diretas ou indiretas, diretas

quando demonstra por si só o fato, refere-se diretamente ao thema probandum. Já

indireta ocorre quando levam em consideração os fatos de natureza secundária,

relacionados com o principal.

Quanto ao seu efeito ou valor, a prova será plena ou não plena. È plena

quando se trata de prova convincente para formação de um juízo de certeza do

julgador, em que o fato estará provado definitivamente, vige o princípio in dubio pro

reo. Já na prova não plena existe mera probabilidade, vigora em fases processuais

em que não há juízo de certeza, como na sentença de pronúncia, nesta vige o

princípio in dubio pro societate.

25

Em relação ao sujeito a prova será real ou pessoal. Pessoal quando

provém de afirmação de pessoa humana, como testemunho, interrogatório,

declaração. Já reais são as provas distintas da pessoa consiste na materialidade

que sirva de prova ao fato probando, v.g. o lugar, exames periciais etc.

Quanto à forma ou aparência, a prova é testemunhal, documental ou

material. Testemunhal quando provém de declaração de pessoa estranha ao

processo, documental realizada por meio de documentos, e por fim, material aquele

obtido por meio químico, físico ou biológico.

2.4 Meios de Prova

Meios de prova são as fontes probantes, os instrumentos pelos quais o

juiz recebe os elementos ou motivos de prova. Através do meio de prova as partes

procuram demonstrar os fatos alegados para convencimento do juiz da causa.

Nos artigos 158 a 250 do Código de Processo Penal, são elencados os

meios de provas de maneira exemplificativa, não taxativas, assim as partes não

estão vinculadas aos meios de provas ali expostos, podendo lançar mão de provas

inominadas. Porém sofre restrições. Como ensina Fernando Capez:

“No Código de Processo Penal, vislumbram-se, dentre outras, as

seguintes limitações ao principio da liberdade dos meios de prova: artigo 155, que

manda observar as mesmas exigências e formalidades da lei civil para a prova

quanto ao estado das pessoas (casamento, morte, parentesco são situações que

somente se provam mediante as respectivas certidões); artigo 158, que exige o

exame de corpo de delito para as infrações que deixarem vestígios (não

transeuntes), não admitindo seja suprimido nem pela confissão do acusado; artigo

406, § 2º, que proíbe a produção de prova documental na fase de oferecimento das

alegações escritas, no procedimento do Júri; artigo 475, vedando, durante os

debates em plenário, a produção ou leitura de qualquer documento, ainda que

essencial, se não tiver cientificado à parte contrária com, no mínimo, três dias de

26

antecedência; e a inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (CF, artigo.

5º, LVI) 15”.

2.5 Ônus da Prova

Constituir prova não é uma obrigação processual e sim um ônus, na

obrigação a parte tem o dever de praticar o ato, sob pena de violação de lei, o ônus

reside na faculdade da pratica do ato, porém a parte arcará com o prejuízo

decorrente de sua inércia.

O ônus da prova é definido pelo legislador conforme dispõe o artigo 156

do Código Processo Penal; A prova da alegação incumbirá a quem a fizer; mas o

juiz poderá, no curso da instrução, ou antes, de proferir sentença, determinar de

oficio, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

Como demonstra Fernando Capez:

Questão interessante refere-se ao fato de a lei penal obrigar o acusado a

se defender. Contudo, em que pese esta exigência, não tem o condão de desfigurar

o ônus probatório, uma vez que os atos defensórios necessários, como a presença

às audiências, alegações finais etc., não se confundem com a faculdade de produzir

provas, até porque é perfeitamente possível que a inércia seja a melhor estratégia

de defesa” 16.

Dessa forma, cabe provar a parte alegante os fatos relatados, como ocorrem no

Processo Civil, porém em face do principio da verdade material ou real, o juiz pode

determinar a produção de provas, verificamos assim que a regra de “o ônus da prova

incumbirá a quem alega” não é absoluta, uma vez que, conforme o artigo 156,

segunda parte “o juiz poderá, no curso da instrução ou antes de proferir sentença,

determinar de oficio, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante” ou

15 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 3º Ed. São Paulo: Saraiva, 1999 Pág. 244. 16 Ibid Pág. 245.

27

“ordenar diligências para sanar qualquer nulidade ou suprir falta que prejudique o

esclarecimento da verdade (Código Processo Penal, artigo 502, caput)”.

Conforme entendimento de Otacilio O Andrade:

“Os poderes inquisitórios do juiz, no terreno probatório, não podem ser

abolidos no processo penal, apesar das tentativas que incitam os doutrinadores que

vêem no processo penal um procedimento acusatório puro” 17.

O bem protegido pelo Estado é a liberdade e sua integridade social, por

esses motivos que no processo penal vige o principio da verdade material ou real e

da inquisitoriedade do juiz penal.

Notáveis doutrinadores se insubordinam e revoltam-se com o excesso de

atividade probatória do juiz, tais como Frederico Marques que afirma:

“O magistrado tem de manter-se sereno, imparcial, comedido, equilibrado

e superposto ao litígio, para decidi-lo com a estrita exação de tudo quanto deva

imperar na excelsa função de dizer o direito e dar cada um o que é seu. Pensar que

o juiz precise de ser à arena das investigações, como se fosse um policial a procura

de pistas e vestígios, seria tentar a ressurreição das devassas, do procedimento

inquisitório e criar risco e perigo de decisões parciais e apaixonadas com grande

prejuízo, sobretudo, para o direito de defesa.”18

Adverte Mirabete:

“A autorização legal para iniciativa do juiz na produção de prova

evidentemente que não permite que determine investigação por mero capricho, que

exponha terceiro a vexames ou humilhações ou que, vencendo quer vínculo com os

fatos e as demais provas dos autos. A determinação de uma diligência desse naipe

17 ANDRADE, Otacilio de Oliveira. Lições de Direito Processual Penal. São Paulo: Cultural Paulista, 2002. Pág. 129. 18 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. Campinas: Milenium 2000 Pág. 343.

28

não corresponde a error in procedendo, sujeito a correição parcial, mas error in

judicando, que só pode ser atacado em grau de apelação” 19.

2.5.1 Procedimento Probatório

A atividade probatória leva ao juiz fatos e acontecimentos, dados diretos

ou circunstâncias sobre o qual recai, no momento culminante do judicium, a

valoração do magistrado, ocorrem em quatro momentos distintos, na proposição,

admissão, produção e valoração.

Proposição é o momento do processo no qual esta previsto a produção de

provas, em regra geral as provas devem ser propostas na denúncia, na defesa

prévia ou com o libelo e a contrariedade do libelo, porém a prova de incidente de

insanidade mental do acusado poderá ser requerida a qualquer momento do

processo ou de oficio pelo juiz. Em razão da admissão, o juiz irá deferir ou não a

produção de determinada prova, este é um ato processual personalíssimo do juiz.

Ocorre na produção de provas, um conjunto de atos processuais oferecidos pelas

partes, que trazem ao juízo diversos elementos de convicção do juiz. Valoração é o

momento que o juiz irá dar a importância devida, de acordo com sua convicção, e irá

ocorrer o desfecho do processo.

2.5.2 Prova Emprestada

É aquela prova produzida num processo e trasladada para outro, é

requisito para a prova emprestada as mesmas partes e já ter sido submetida sob o

crivo do contraditório e ampla defesa.

Como afirma Germano Marques da Silva nos ensina essencial para a

valoração da prova, em termos tais que a prova que não lhe for submetida não vale

para formar a convicção. O fato só pode ser julgado provado ou não provado após

submissão dos meios de prova ao contraditório em audiência. 20

19 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 7º ed. São Paulo: Atlas, 1997 Pág. 265. 20 GERMANO, Loures Marques da Silva. Curso de Processo Penal. Ed. Verbo, 1993 vl.2, Pág. 84.

29

A prova emprestada, mesmo que testemunhal, quando for transportada

para o outro processo, será considerada prova documental.

2.6 Sistemas de Apreciação

Sistema da íntima convicção, da certeza moral ou da prova livre é o

sistema em que a lei concede ao juiz a liberdade para decidir, não existe nenhum

critério para valorar as provas, ele decide de acordo com sua convicção íntima, o

julgador não esta obrigado a exteriorizar as razões pelo qual proferiu a decisão,

pode, inclusive buscar elementos que tomou conhecimento fora do processo, em

que não há prova nos autos do processo. Esse sistema vigora entre nós, como

exceção, das decisões proferidas pelo júri popular em que os jurados não precisam

fundamentar seus votos.

Existe o sistema da prova legal, da certeza moral do legislador, da

verdade legal, da verdade formal ou tarifado em que já existe o valor determinado de

cada prova, são regras preestabelecidas, o juiz não tem discricionariedade para dar

maior ou menor importância às provas apresentadas, apenas tem que seguir o peso

que a lei determina, nesse sistema se origina o brocardo testis unus, testis nullus,

pelo qual, o depoimento de uma só testemunha não tem valia alguma, mesmo que

seja detalhado . Este sistema existiu no sistema inquisitório, e de certa forma, é o

sistema do direito norte-americano.

Sistema da livre convicção, da verdade real, do livre convencimento ou da

persuasão racional, este sistema esta entre os dois sistemas já mencionados acima,

e consiste na plena liberdade que o juiz tem de convicção e não estará preso a

qualquer tipo de valoração ordenada pela lei. Mas tal liberdade não é absoluta, pois

é obrigatória a fundamentação. É adotado pelo Código de Processo Penal Pátrio,

conforme reza o artigo 157: o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da

prova. Atendendo então a exigência da busca pela verdade real, não poderá buscar

elementos fora dos autos.

30

2.7 Princípios Gerais da Prova Existem alguns princípios gerais norteadores das provas, no qual iremos

citar a seguir:

Princípio da auto-responsabilidade das partes: conforme este princípio as

partes assumem as conseqüências de sua inatividade, erro ou atos intencionais.

Princípio da audiência contraditória: toda a prova apresentada passará

pelo crivo do contraditório, admitindo assim prova contrária, não sendo admissível a

produção de provas sem o conhecimento da outra parte.

Principio da aquisição ou comunhão de provas no direito penal as provas

produzidas pertencem ao processo, não a uma ou a outra parte, servem assim, para

ambos litigantes devido ao interesse da justiça.

Princípio da Oralidade deverá haver predominância da fala, como os

depoimentos, debates, alegações, não poderá haver substituição por outros meios

com as declarações particulares, decorre deste princípio outros subprincípios, como

da imediatidade do juiz com as partes e com as provas e o da concentração, este

busca concentrar toda produção de prova em audiência.

Princípio da Publicidade todos os atos judiciais são públicos, salvo nos

casos de segredo de justiça.

Princípio do livre convencimento motivado, o juiz tem discricionariedade

na valoração das provas, pois tem a livre apreciação, e deve motivar sua convicção.

2.8 Principais meios de prova colhidos no inquérito Policial

2.8.1 Exames de corpo de delito e perícias em geral

A autoridade policial é quem quase sempre se depara com os vestígios do

crime, se convencendo da necessidade de perícia, o delegado ou o juiz, é que irá

requisitar, em regra, os peritos (criminais ou médicos), estes serão requerido ao

31

Instituto de Criminalística ou instituto Médico legal, os peritos procedem aos exames

e em seguida respondem aos quesitos formulados.

Na fase investigatória quando for nomeado peritos não oficiais, esta será

documentada no auto de exame pericial que deverá ser assinada pelo perito,

escrivão e pelo delegado. São muitas espécies de perícia, porém a mais importante

é o corpo de delito.

O exame de corpo de delito é uma espécie de perícia que visa

documentar, provando nos autos do processo, a existência de crime e sua autoria,

essa perícia é feita sobre qualquer marca e vestígio do delito, como manchas de

sangue, capsula deflagrada, um revólver, cheque etc. 21.

O legislador se preocupou em enfatizar a importância dos vestígios

deixados pelo crime, no qual diz “quando a infração deixar vestígios, será

indispensável, o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a

confissão do acusado” (artigo 158 Código Processo Penal) e ainda, “Salvo o caso de

exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida

pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade” (artigo 184

Código Processo Penal). O exame de corpo de delito constitui a mais segura visão

do fato criminoso por aquele que vai apreciar a luz do direito existente.

2.8.2 O interrogatório do acusado

É uma das peças mais importantes do inquérito, conforme o artigo 186 do

código de processo penal pátrio, o indiciado ou acusado (em juízo), não é obrigado

a responder às perguntas formuladas, de acordo com a lei 10792/03.

Na prática, a autoridade policial deverá perguntar ao indiciado, seu nome,

naturalidade, estado civil, idade, filiação, meios de vida, profissão e lugar onde

exerce suas atividades, se sabe ler e escrever e depois de cientificados os fatos que

21 ANDRADE, Octacilio de Oliveira. Lições de Direito Processual Penal. São Paulo: Cultural Paulista, 2002 Pág. 135.

32

pesam sobre ele, será inquirido. Será perguntado onde se encontrava no momento

do crime, será lhe demonstrado as provas colhidas em prejuízo dele, se conhece a

vítima, testemunhas e se tem algo a alegar, se é verdadeira a imputação feita a ele,

será inquirido em relação a sua vida pregressa, dentre outras.

O interrogatório será assinado por duas testemunhas e terá valor no

conjunto de elemento destinado à apuração da verdade. Dessa forma, pode

apresentar elemento de defesa da pessoa implicada. “O valor do interrogatório no

inquérito policial pode se destacar ainda quando se trata de confissão feita pelo

indiciado. Segundo entendimento jurisprudencial, a confissão feita na fase de

inquérito constitui elemento probatório de valor. Tanto assim que vários julgados

consagram que a confissão policial, ainda que obtida com maus-tratos, se harmônica

com as demais provas, deve ser aceita” 22.

Vejamos alguns julgados:

Prova – Confissão extrajudicial obtida mediante alegados

maus-tratos – Declarações confrontadas por outros

elementos de convicção – Valor probatório reconhecido.

Eventuais maus-tratos impostos ao réu não infirmam valor

probante de confissão que os demais elementos

demonstram ter sido veraz. (JTAcrim, 23:155).

Prova – Confissões Policiais- Retratação em juízo –

Harmonia com os demais elementos consoantes dos

autos, sobretudo os depoimentos das vitimas –

Condenação mantida. A despeito de retratadas em juízo,

as confissões minuciosas e coerentes entre si feitas pelos

co-réus na polícia, roboradas pela palavra das vítimas e

esteiadas no conjunto probatório, conduzem a convicção

capaz de levar ao decreto condenatório. (JTACrim,

15:275).

22 SALLES JUNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito Policial e a ação penal, São Paulo: Saraiva 1983 Pág. 64.

33

Prova - Matéria Criminal – Confissão policial -

Consonância com os demais elementos dos autos –

Validade- Presunção de sua autenticidade – Condenação

mantida...As confissões extrajudiciais, reunindo os

requisitos de verossimilhança, credibilidade, precisão, e

estando em perfeita consonância com as demais provas

coligidas, são válidas para a condenação. A presunção é

sempre em favor da autoridade policial, na condição de

imparcial, correta e leal, e o reverso é exceção, por isso

mesmo exige prova cabal de arbitrariedade. ( RT 464:410)

2.8.3 Da Busca e Apreensão

A busca e apreensão foram consideradas pelo legislador como meio de

prova, está inserida no último capítulo do título destinado a disciplina da prova

dentre os artigos 240 a 250 do Código Processo Penal. Alguns autores, entretanto,

discordam da posição do legislador. Magalhães Noronha começa afirmando que

com este tema que inicia as provas em espécie, “pois é ela providência que se

destina a evitar o desaparecimento daquelas, e, pois medida liminar” 23.A Busca e

apreensão é normalmente utilizada com o objetivo de produzir prova, porém pode

visar simplesmente uma medida cautelar não probatória.

Busca e apreensão nos dá uma idéia de procura e consequentemente

retenção do que é procurado. É uma medida acautelatória, poderá ser realizada

antes da instauração do inquérito, visa o interesse social no esclarecimento dos

delitos penais, podendo realizar–se para prender criminosos, apreender armas ou

instrumentos, bem como apreensão de pessoas ou objetos de que dependam as

provas de tais infrações.

Conforme rezam os artigos 241 e 242 do Código Processo Penal, a busca

e apreensão deverão ser determinadas apenas através de mandado expedido por

autoridade policial ou judiciária, podendo ser ex officio ou a requerimento das partes.

23 NORONHA, Edgard Magalhães. Curso de Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 1999 Pág. 93.

34

Poderá ser realizada antes ou após a persecução penal. Porém, agora,

apenas o juiz pode expedir mandados de busca domiciliar, conforme dispõe

Constituição Federal seu artigo. 5º, XI casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém

nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante

delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação

judicial.

2.8.4 Da Prova Testemunhal

Já a Testemunha, é a pessoa capaz e estranha ao feito, chamada a juízo,

para depor o que sabe sobre o fato litigioso.

Certo é que, entre nós, em face do sistema processual que adotamos,

todas as provas são relativas e apreciadas pelo juiz em conjunto. E, pois, o

testemunho, como qualquer outra, terá sua credibilidade medida em função do

conjunto das provas.

O valor probatório da prova testemunhal, como outros elementos de

prova, é relativo, pois deve ser levado em conta o conjunto obtido no decorrer da

instrução. Conforme demonstrado a seguir:

Prova – Matéria Criminal- Depoimento

prestado por policial –Validade, desde que compatível e

coerente. No sistema da livre persuasão racional, já não

tem mais sentido vetusto brocardo latino ‘testis unus,

testis nullus’. O testemunho único desde que compatível

e é coerente, sendo eficaz na formação do

convencimento, pode servir a um decreto condenatório...

Não será a simples condição de policial que valerá para

demonstrar o interesse ou a suspeição da testemunha. A

jurisprudência tem profligado tal entendimento, que não

decorre da lei e não assenta em qualquer fundamento

razoável. (RT, 397:89).

35

2.8.5 Do reconhecimento de pessoas e coisas

Hélio Tornaghi conceitua da seguinte forma: “Reconhecimento é ato pelo

qual alguém verifica e confirma a identidade da pessoa ou coisa que lhe é mostrada,

como pessoa ou coisa que já viu”24. Há de se levar em conta não apenas a visão,

mas a percepção através dos sentidos.

O reconhecimento deverá ser feito diante da autoridade policial ou

judiciária, devendo seguir ritual previsto em lei, conforme dispõe o artigo 226 do

Código Processo Penal; tal atividade é documentada, através da lavratura do auto

de reconhecimento. O reconhecimento de coisas esta prevista no artigo 227 do

referido código e deverá ser realizado com as mesmas cautelas do reconhecimento

de pessoas.

2.8.6 Da acareação A acareação é tratada nos artigos 229 e 230 do Código Processo Penal.

Tourinho Filho nos ensina que; acareação, ou confrontação, consiste em colocar

duas ou mais pessoas (réus, vítimas, testemunhas), cujos depoimentos sejam

conflitantes, em presença uma da outra – cara a cara – para que expliquem as

divergências.25

Quando as divergências entre os depoimentos forem relevantes e os

depoentes forem honestos, a acareação pode produzir excelentes resultados

probatórios. Acareação é feita perante a autoridade policial e judiciária, deverá ser

documentada em termo lavrado onde ficará retratada a divergência e o resultado da

confrontação, através das explicações dos acareados.

2.8.7 Dos Documentos

As provas documentais estão previstas nos artigos 231 a 238 do código

penal pátrio.

24 TORNAGHI, Hélio.Curso de Processo Penal. 10º ed. São Paulo: Saraiva, 1997 Pág. 437. 25 Ibidem. Pág. 332/333.

36

A palavra documento, pode ser tomada em dois sentidos amplos e

restritos. Em sentido amplo documento é qualquer objeto que contém a expressão

de um fato, já em sentido restrito, será todo objeto que contenha um escrito, uma

expressão gráfica e forma probatória.

Como lembra Tornaghi, o sedutor que escreve uma carta à namorada não

pretende prova de seu crime, porém este papel poderá ser usado como prova no

processo eventualmente instaurado para apurar delito de sedução. Já as escrituras

públicas de compra e venda de um imóvel ou assento de um casamento são

documentos especialmente feitos com o objetivo de servirem de prova.26

Os documentos podem ser classificados quanto ao autor como públicos

ou privados, a diferenciação resulta da procedência, o público é escrito por órgão do

Estado, desde que produzido por funcionário em razão do oficio. Já o particular é

produzido por pessoa privada. Documentos podem ser classificados ainda das

seguintes formas: quanto ao meio indireto ou direto, quanto ao conteúdo: narrativo e

constitutivos, quanto à finalidade: em preconstituidos e causais, finalmente quanto a

forma em originais e cópias.

Os artigos 231 e 400 dispõem que as partes podem apresentar os

documentos em qualquer momento do processo, salvo os casos expressos em lei. O

artigo 406 em seu §2º dispõe que durante a fase das alegações da instrução

provisória dos processos de competencia do juri, não pode juntar documentos, o

artigo 475 também faz algumas restrições.

Os documentos obtidos criminosamente não serão admitidos. Os

documentos podem ser produzidos pelas partes e/ou de oficio pelo juiz.

2.8.8 Dos Indícios e Identificação Criminal

37

Identificação Criminal é medida para resguardar direito de terceiros, para

que não lhe seja imputado, equivocadamente, fato delituoso praticado por outrem,

além de servir para fins de individualização do autor27. Poderá ser realizada com ou

sem a identificação datiloscopia, que é aquela que se procede com base científica,

afastando dúvidas, é denominada de legitimação. A legitimação é abolida para o

cidadão identificado civilmente.

Indício é a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o

fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias

(artigo. 239 Código Processo Penal). O indicio exige uma operação lógica do

pensamento. Temos pois um silogismo, composto de premissa maior, premissa

menor e conclusão. Assim quando encontramos alguém segurando uma faca

ensangüentada próximo ao cadáver de seu desafeto, presume-se que seja ele o

autor da morte (premissa maior). Ora, João foi encontrado na situação acima

descrita (premissa menor). Logo, João é, provavelmente, o autor do crime

(conclusão)28. Assim verificamos que o indicio prova as circunstâncias que cercam o

crime não o crime propriamente.

2.8.9 Indiciamento

Indiciamento é a indicação de um autor de ilícito penal, ato utilizado pela

Polícia Judiciária para “estabelecer distinção entre o mero suspeito e aquele a quem

é atribuída à ação delituosa”.29

A decisão de sua formalização é atribuição do Delegado de Polícia, que

dará ciência ao indiciado e seu defensor, com razões de seu convencimento e a

definição do tipo penal, em tese, incurso.

26 Ibidem Pág. 449. 27 TONINI, Wagner Adilson. O inquérito Policial no Estado democrático de Direito. Revista ADPESP, ano 24 – nº 34 dezembro 2004, Pág.120. 28 ANDRADE, Octacilio de Oliveira. Lições de Direito Processual Penal. São Paulo: Cultural Paulista, 2002 Pág. 162. 29 MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto: Coordenador. Manual de Policia Judiciaria. São Paulo: Delegacia de Geral Polícia, 2003, Pág. 373.

38

Capítulo III O valor da Prova no Inquérito Policial

3.1 Do Valor Probatório Do Inquérito Policial

Inicialmente cumpre indagar se a natureza do Inquérito policial, como

entende alguns autores, é “mero procedimento administrativo”, ou “mera informação

preparatória”, ou “simples elemento de instrução”, ou o inquérito “apenas informa”,

ou se o inquérito “não faz prova alguma”. Verificamos os seguintes entendimentos:

“Que o inquérito policial não é processo penal, no sentido formal, todos o

sabem. Tornar-se até enfadonho repeti-lo. É de rudimentar conhecimento jurídico

que, naquele, não há o princípio do contraditório, existente apenas no segundo.

Mas, daí dizer-se que o inquérito policial, na sistemática do Direito Processual Penal

Brasileiro, nada representa é não somente uma contradição à razão lógica dos fatos

e da lei como, também, é confundir preconceito com Ciência Jurídica.”30

Ainda segundo o festejado professor Bismael B. de Moraes31:

“É interessante notar que o inquérito policial, desde a sua criação com

esse nomen juris e durante longo espaço de tempo – mais de meio século – sempre

foi analisado por grandes juristas brasileiros na medida de sua real importância para

a realização da prova do processo penal; todavia, verificou-se, a seguir, um período

em que se procurou minimizar-lhe o valor, a tal ponto de ser, de algum modo,

esquecido por alguns professores em suas aulas, pois falar de Polícia fazendo

sobressair as suas falhas rendia mais popularidade; falar de suas verdadeira

finalidades, especialmente no tange ao inquérito – embrião fático do processo crime

– talvez não rendesse dividendos intelectuais. De cerca de 20 anos para cá, com

grande satisfação, descobrimos que novamente se procura mostrar esta peça –

inquérito policial – dentro do que ela, de fato, representa no Direito brasileiro.”

30 MORAES, Bismae B. Direito e Polícia – Uma introdução à Polícia Judiciária, São Paulo Revista dos Tribunais, 1986, Pág. 232. 31 Ibidem. Pág. 234

39

Corroborando a afirmação do ilustre professor, assim é que esclarece

Pedro Pimentel – o inquérito não é uma simples peça informativa, como sustentam

alguns. Mais do que isso, é um procedimento preparatório, em que existe formação

de prova, dispondo a autoridade policial de poderes para investigação. Não se trata,

portanto, de um procedimento estático, em que o delegado de polícia se limita a

recolher os dados que, eventualmente, cheguem ao seu conhecimento.32

Peça de atribuição da Polícia Judiciária, tem o inquérito policial elementos

de inegável efeito judiciário, destacando-se – como bem o demonstrava Cândido

Mendes – os autos de prisão em flagrante delito, os exames de corpo de delito, as

prestações de fiança etc.

Mittermaier,33 mostrando que a sentença sobre a verdade dos fatos da

acusação tem por base a Prova, conclui que é sobre esta que versam as prescrições

legais mais importantes em matéria de processo criminal. E perguntamos: entre nós,

onde são colhidas as provas materiais, em geral, perenes e imutáveis, senão no

inquérito policial?

“Se o inquérito é peça informativa do processo, faz parte de sua

estruturação, por isso que o informa, dá-lhe conteúdo nuclear, estabelecendo-lhe o

embasamento. Se a base é fraca, transforma-se em simples presunção, que

necessita ser comprovada. Se é(sic) firme, basta, por si só, como fundamento da

condenação, se no sumário de culpa não for aluída por elementos contrários”

(citação de Augusto Mondin, sobre sentença do então magistrado Darcy Arruda

Miranda in Folha da Manhã, ed. 14.3.54,p.12).

Assim, preferível reconhecer, com singeleza – como argumenta Sérgio

Pitombo – que, “no inquérito policial, há atos processuais praticados por delegação e

nele existe contingente instrução criminal definitiva”. O Mestre em tela cita trecho da

Exposição de Motivos do Anteprojeto do Código de Processo Penal firmada pelos

32 PIMENTEL Pedro. Advocacia Criminal- teoria e prática. São Paulo: Revista dos tribunais: 1975 Pág. 03. apud MORAES, Bismael B.. Direito e Polícia – Uma introdução à Polícia Judiciária, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1986 Pág. 235 33 MITTERMAIER, C. J. A.,Tratado de prova em matéria Criminal,Rio:1879 Apud Ibidem. Mesma página

40

Profs. José Carlos Moreira Alves, José Frederico Marques, José Salgado Martins e

Benjamin de Moraes Filho (DOU 29.5.70, item 27, p. 9): “A perícia é uma prova que

se processa, quase sempre, na fase preliminar do inquérito policial, mas com

caracteres de ato instrutório definitivo, e não como ato investigatório ou de instrução

provisória”.

Ainda, esclarece Pitombo34 que a Polícia investiga quando só rasteja a

infração penal. O investigar levará ou não à instrução. Ela, porém, sempre instrui se,

mediante elementos de convicção de natureza provisória ou definitiva, viabiliza ou

obsta ao aforamento da demanda.

Embora seja o inquérito uma peça destinada, precipuamente, a instruir a

denúncia ou a queixa, o juiz não o despreza, na apreciação da prova, ao proferir a

sentença. Nem seria, evidentemente, possível fazê-lo, pois há certos elementos de

prova que se encontram exclusivamente no inquérito: exames periciais, avaliações,

buscas e apreensões, reconhecimentos etc. Estes são esclarecimentos do mestre

Espínola Filho,35 que cita , a propósito, trecho de acórdão de que foi relator o Min.

Germiniano da França, em 28.4.26, no qual se considera que “a prova colhida em

inquérito policial tem bom valor probante quando não infirmada pelo sumário”,

destacando-se que “o nosso sistema processual empresta-lhe inquestionável valor

jurídico, tanto assim que lhe dá força para a prova da materialidade do crime e para

a concessão da prisão preventiva”.

Interessante observar que embora o artigo 39, parágrafo 5º, do Código

Processo Penal permita ao Ministério Público dispensar o inquérito quando na

representação houver elementos para que promova a ação penal, e também lhe

permita a Lei 4.729/65 (no artigo. 7, par. 1 e 2º), a mesma providência caso

cheguem às suas mãos procedimentos administrativos (apurações sumárias,

sindicâncias, processos administrativos etc.) com elementos de prova suficientes

34 PITOMBO, Sergio. “Arquivamento do Inquérito Policial. Sua força e efeito”, in Revista do Advogado nº 11, dezembro, 82, São Paulo apud Bismael B. Direito e Polícia- uma introdução Polícia Judiciaria. Pág 235. 35 ESPINOLA FILHO, Eduardo.Código de Processo Penal Brasileiro Anotado, vol. I/253 e 254, Rio ed. Rio, 1990. apud MORAES, Bismael B. Direito e Polícia- uma introdução Polícia Judiciaria. Pág. 236.

41

para a denúncia, nem sempre isso é possível, por não representar requisito formal

do procedimento judicial ou do inquérito policial, como se vê no julgado: “A

sindicância administrativa não é pressuposto necessário do processo criminal contra

funcionário público, pois embora constitua, na sua prática, um meio eficiente de

colheita de provas, não representa requisito formal do procedimento judicial ou do

inquérito policial” (ac. Por m. v. das C. Crims. Conjs. Do TASP no REO 50.282, j.

22.4.65), aliás, seria estranho e, talvez, até mesmo um certo privilégio para o

eventual acusado pela denúncia de peças não saídas do inquérito policial, pois

poderá ser condenado sem ter sido indiciado formalmente.

Desse arrazoado, logo se percebe que o inquérito policial não é mera ou

simples peça informativa, ou apenas um registro administrativo, e não em o valor de

simples indício. É muito mais do que isso. E tanto é verdade que o próprio Código de

Processo Penal, diploma incomensuravelmente de maior valor do que alguns

cacoetes e falsos dogmas, no artigo 16, proíbe a devolução do inquérito à

autoridade policial, exceto se houver necessidade de novas diligências,

imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

Daí, por dedução lógica, verifica-se que, se o inquérito contiver os

elementos de prova do fato punível penalmente e de sua autoria, não restará outra

alternativa ao promotor de justiça a não ser a promoção da ação penal, com a

respectiva denúncia, desencadeando o processo, isso por dever legal.

Disso decorre que o inquérito policial não é “simples informação”, “mera

peça informativa”; na sistemática processual penal brasileira, ele é, de fato e de

direito, a base (artigo 12 do Código Processo Penal.), o sustentáculo, da denúncia, e

esta, uma vez recebida pelo juiz, procedidas as formalidades processuais, levará à

sentença;

São os elementos probatórios do inquérito policial que, uma vez

submetidos ao contraditório processual, sustentam a denúncia e,

consequentemente, a sentença penal.

42

3.2 Decisão condenatória apoiada exclusivamente em inquérito policial

Resta-nos analisar a possibilidade de se prolatar sentença condenatória

apoiada “exclusivamente” em inquérito policial, sem não antes observarmos os

seguintes acórdãos:

INQUÉRITO. VALOR PROBATÓRIO (STF): “Não se

justifica decisão condenatória apoiada exclusivamente em

inquérito policial pois se viola o principio constitucional do

contraditório” (RTJ, 59/786).

O inquérito policial é mera peça informativa destinada à

formação da opinio delicti do Parquet, simples

investigação criminal, de natureza inquisitiva, sem

natureza de processo judicial, mesmo que existisse

irregularidade nos inquéritos policiais, tais falhas não

contaminariam a ação penal. Tal entendimento é pacífico

e tão evidente que se torna até mesmo difícil discuti-lo

(STJ, 6ª T. rel. Min. Pedro Acioli, DJU,18 abr. 1994, p.

8525).

INQUÉRITO . VALOR PROBATÓRIO (TACRIMSP): “O

inquérito é peça meramente informativa, destinada tão-

somente a autorizar o exercício da ação penal. Não pode,

por si só, servir de lastro à sentença condenatória, sob

pena de se infringir o princípio do contraditório, garantia

constitucional” (JTACrimSP, 70/319).

Tirante a observância do “meramente” exaustivamente repetida, também,

nos tribunais, devidamente rechaçada pelos argumentos trazidos alhures,

interessante analisarmos o “exclusivamente” e o principio “inquisitivo” do inquérito

que supostamente impediria sentença nele exclusivamente calcada.

43

É que dizer, para desconsiderá-lo, que a decisão apoiada no inquérito

policial contraria o principio constitucional do contraditório (RTJ, 67/74), não significa

que os seus elementos tenham valor simplesmente passageiro, deixando de existir

se não renovados no decorrer da instrução criminal. Adotar tal orientação seria

admitir que certos atos próprios do inquérito desapareceriam pura e simplesmente

dada a impossibilidade de renovação em juízo. Por exemplo: nos delitos que deixam

vestígios, a legislação processual penal impõe a necessidade de exame pericial.

Esse exame (corpo de delito para lesões corporais, conjunção carnal etc.) tem por

finalidade perpetuar uma situação existente após o delito e que pode sofrer

alterações com o tempo. Podendo até mesmo desaparecer. Autos de apreensão e

de avaliação continuam a ter valor independentemente de qualquer renovação em

juízo. Podem ser impugnados, mas podem subsistir inteiramente válidos como

elementos de prova.

Valer ressaltar que, proposta a ação penal contra aquele que se viu objeto

de investigação no inquérito, a lei garante ao acusado a oportunidade de se

defender de modo amplo. Mas, aí, a ação penal apresenta características

completamente diversas do inquérito. Não só o Juiz de Direito, que preside o

procedimento, pode inquirir acusado e testemunhas como estas podem ser alvo de

reperguntas por parte do autor da ação (Ministério Público ou ofendido, conforme

seja a ação penal pública ou privada) e da defesa. A análise dos elementos colhidos

na fase de inquérito é feita por outro prisma, juntando-se as provas eventualmente

obtidas no curso da instrução criminal. Esse conjunto passa a ser alvo de

considerações por parte da acusação e da defesa, importando não apenas uma

apreciação dos fatos, mas também de temas de direito repressivo versando sobre a

caracterização do delito, determinação da autoria, eventuais excludentes ou

justificativas etc.

Em resumo, as provas obtidas no curso da instrução criminal é que irão

fornecer subsídios para a prolação da sentença. Quase sempre são as mesmas

provas do inquérito policial, renovadas e esmiuçadas em juízo, em face da

oportunidade que a lei concede às partes de apresentar reperguntas e

requerimentos diversos.

44

Do exposto, poder-se-á afirmar, respeitados os entendimentos em

contrário, que, na bem da verdade, não há sentença condenatória apoiada

exclusivamente em inquérito policial, porquanto, como cediço, não obstante ser o

inquérito um procedimento investigatório de cunho inquisitivo, o processo criminal

que lhe segue, necessariamente, e até por previsão constitucional, é essencialmente

contraditório, o que leva a conclusão inexorável de que mesmo não sendo produzida

ou “repetida” mais nenhuma prova no curso do processo, poderá sim, o magistrado,

apoiar-se em elementos contidos no bojo do inquérito para prolatar sentença

condenatória, até porque, no momento em que é proferida (a sentença), já se

esgotou todas oportunidades de alegações e contrariedades das partes, acusação e

defesa, sobre os elementos nele carreados, basta consignar-se que a denúncia ou

queixa será sempre acompanhada pelos autos de inquérito policial que lhe dão base

para propositura (artigo. 12 do Código de Processo Penal), sob pena de eivar-se

nulo, o processo judicial sem contraditório (artigo. 564, inc. III, alínea “c” do Código

de Processo Penal)36.

Para que fique mais claro, basta dizer que no Capitulo III do Estatuto

Processual Penal pátrio em seu artigo 261, assim se estabeleceu: “Nenhum

acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor”.

A referida norma estabeleceu a necessidade de processo penal contraditório o que

leva a sentença necessariamente, mesmo que apoiada exclusivamente em

elementos do Inquérito, a possuir imanente constitucionalidade, desde que

devidamente fundamentada, o que leva a conclusão que o pretório excelso STF,

equivocou-se na edição daquele r. acórdão, máxime pela sua livre convicção na

apreciação da prova (artigo. 157 do Código de Processo Penal).

A propósito convém que se faça alguma menção, v.g.: um processo em

que as provas materiais tenham sido colhidas na fase inquisitiva (como é a absoluta

maioria) e que, pela sua natureza, não possam ser repetidas em juízo, como por ex.

exames periciais, autos (apreensão, avaliação, constatação etc.) e tenham sido

36 Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: III – por falta das fórmulas ou termos seguintes: c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos.

45

tomadas oitivas e termos (estes sim repetíveis), mas que por fortuita impossibilidade

(v.g.: morte, ausência, incapacidade, de vítimas, testemunhas etc.) não possam ser

reperguntadas (refeitas), ainda assim, não impede uma prolatação de sentença

condenatória, já que se dará antes às partes oportunidade para manifestar/contestar

laudos, exames, termos etc., o que torna aquelas peças (a do inquérito) contrariadas

(ainda que em contraditório difuso), e perfeitamente legitimas a ensejar um preceito

sancionatório, mesmo que não se tenha (re)produzido sequer um elemento de prova

dentro do processo judicial, até porque, o inquérito faz parte da petição inicial e

consequentemente do processo judicial (artigo12 do Código Processo Penal.).

Tal realidade foi muito bem percebida pelo preclaro Prof. Marco Antonio

de Barros nesta passagem: “Todas as provas que a polícia amealhar com o intuito

de assegurar a preservação da verdade devem ser submetidas ao crivo do

contraditório, no transcurso da segunda fase da persecução penal”37.

37 BARROS, Marco Antonio A Busca da Verdade no Processo Penal, São Paulo: Revista dos Tribunais. 2002 Pag. 211.

46

CONCLUSÃO

O inquérito policial possui grande importância para o processo penal, em

sua fase pré-processual. Ali é primeiro momento no qual o Estado irá verificar os

fatos ilícitos, no calor de seus acontecimentos. O inquérito, como alguns

doutrinadores entendem, não é ato meramente administrativo. Concluímos que o

inquérito policial é ato de suma importância para elucidação dos fatos, apurando as

infrações, circunstâncias, bem como a autoria e materialidade, servindo como base

para ação penal.

Foram abordados os aspectos peculiares das provas. Provar é a busca da

verdade plena, para a declaração da existência do crime e sua tipificação. O objeto

da prova é todo fato ou circunstância que tenha ligação com a infração Penal. O

legislador não permite a produção e/ou modo de obtenção de provas ilícitas ou

ilegítimas. Através dos meios de prova as partes procuram demonstrar os fatos

alegados para o convencimento do juiz. O ônus é a faculdade que as partes têm em

produzir as provas, a inércia poderá acarretar prejuízo. Verificamos que o sistema de

apreciação adotado em nossa legislação é o sistema do livre convencimento.

No que condiz com o tema central do trabalho, há de verificar que as

provas colhidas no Inquérito Policial são constitucionalmente aptas e idôneas a

provocar (quando assim indicarem) o inicio da persecução penal em juízo (o

processo criminal), bem como são elementos suficientes para formar a convicção do

magistrado no exercício do poder jurisdicional que está investido, tanto para proferir

sentença absolutória quanto condenatória, desde que fundamentadamente, já que

no momento em é prolatada, a “prova” já passou pelo crivo do contraditório judicial

diferido.

O valor da prova colhida em inquérito policial, portanto, deve ser aferida

de acordo com seu conjunto de elementos, mesmo que considerado exclusivamente

no seio de inquérito, até porque pela sua natureza (materialidade e autoria) carrega

carga suficiente a incutir convicção ao julgador quanto à causa – crime, levando-se

em conta, por óbvio, as provas (re)produzidas no bojo da instrução processual (estas

realizadas no contraditório pleno e imediato), mas se as não efetivadas (as em

47

juízo), no caso de absoluta impossibilidade (como já comentado), mesmo aí,

estaremos diante de hipótese legitima de apreciação jurisdicional da causa,

mormente quando possibilitadora de embasar sentença penal condenatória.

Tem grande valia o tema ora abordado, pois as provas colhidas na fase pré

processual, muitas vezes, não podem ser repetíveis em juízo, assim sendo, se os

conjuntos de provas estiverem no mesmo sentido, o juiz terá os elementos

probatórios aptos para uma possível condenação ou absolvição, obviamente todas

as provas contidas na denúncia que teve como base o inquérito policial, em juízo

passaram pelo crivo do contraditório e ampla defesa, em respeito ao principio maior

do Estado Democrático de Direito e a proteção aos direitos fundamentais do

cidadão.

48

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