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Direito dos povos e das comunidades tradicionais no Brasil

Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

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Direito dos povos e das

comunidades tradicionais

no Brasil

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Direito dos Povos e dasComunidades Tradicionais

no Brasil: Declarações, Convenções

Internacionais e Dispositivos Jurídicos

definidores de uma Política Nacional

Joaquim Shiraishi Neto, org.

coleção documentos de bolso, n.º 1

ppgsca-ufam / Fundação Ford

Page 4: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

Copyright © Joaquim Shiraishi Neto (org.), 2007

coordenação editorial e direção da coleção

Alfredo Wagner Berno de Almeida

capa e projeto gráfico

Rômulo do Nascimento Pereira

revisão

Luciane Silva da Costa

projeto nova cartografia social da amazônia

(ppgsca-ufam / Fundação Ford / ppgda-uea )

Rua José Paranaguá, 200

Centro. Manaus – AMCEP 69005-130

[email protected]

S558d Shiraishi Neto, Joaquim

Direito dos povos e das comunidades tradicionais

no Brasil: declarações, convenções internacionais e

dispositivos jurídicos definidores de uma política nacional.

Joaquim Shiraishi Neto, org. Manaus: uea, 2007.

224 p. (Documentos de bolso; n.º 1)

isbn 978-85- 89453-61-5

i. Identidade etnica 2. Direitos – povos e comunidades

tradicionais I. Título.

cdd 305cdu 342.57

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Sumário

9 apresentação

19 prefácio

25 a particularização do universal: povos e

comunidades tradicionais em face das Declarações

e Convenções Internacionais

textos das leis

53 Decreto n.º 80.978, de 12 de dezembro de 1977

Promulga a Convenção Relativa à Proteção do

Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972

77 Decreto n.º 2.519, de 16 de março de 1998

Promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica,

assinada no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1992

121 Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (2001)

133 Decreto n.º 5.051, de 19 de abril de 2004

Promulga a Convenção n.º 169 da Organização

Internacional do Trabalho – OIT sobre Povos

Indígenas e Tribais

157 Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005)

189 Decreto de 27 de dezembro de 2004

Cria a Comissão Nacional de Desenvolvimento

Sustentável das Comunidades Tradicionais

e dá outras providências

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193 Decreto de 13 de julho de 2006

Altera a denominação, competência e composição

da Comissão Nacional de Desenvolvimento

Sustentável das Comunidades Tradicionais

e dá outras providências

201 Decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007

Institui a Política Nacional de Desenvolvimento

Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais

211 Declaración de las Naciones Unidas sobre losDerechos Humanos de los Pueblos Indígenas

lista de siglas e abreviaturas

Art – Artigocf – Constituição Federal

cdb – Conveção sobre Diversidade Biológicaoit – Organização Internacional do Trabalho

onu – Organização das Nações Unidaspnpct – Política Nacional de Desenvolvimento dos Povos

e Comunidades Tradicionaissnuc – Sistema Nacional de Unidades de Conservação

da Natureza§ – Parágrafo

Unesco – Organização das Nações Unidas para Educação,a Ciência e a Cultura

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c o l e ç ã o

D O C U M E N T O S D E B O L S O

Uma das atividades que tem exigido considerável esforço in-telectual nos trabalhos de pesquisa concernentes ao ProjetoNova Cartografia Social da Amazônia e aos dois outros pro-jetos1 que lhe são coextensivos, diz respeito às iniciativaspedagógicas que visam discutir dispositivos jurídicos rela-tivos aos direitos de povos e comunidades tradicionais. Elasabrangem diferentes cursos, ministrados em até doze horas-aula, para integrantes de associações, movimentos, sindica-tos e demais entidades de representação referidas a uma açãocoletiva, mais ou menos formalizada e institucionalizada,empreendida por agentes sociais que visam alcançar umobjetivo compartilhado em torno do uso comum de recursosnaturais imprescindíveis à sua reprodução física e social e emtorno de uma identidade coletiva construída consoante umapauta de reivindicações face ao Estado. Destaca-se nestapauta o reconhecimento de seus direitos territoriais.

O pncsa, a partir da discussão destas práticas de preten-são didática, inicia a coleção denominada Documentos deBolso, que consiste numa atividade auxiliar aos mencionadoscursos de formação, visando suprir lacunas bibliográficas epropiciar a um público amplo e difuso um acesso mais dire-to a documentos jurídicos que reforçam os direitos de povos

7

1 Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais

do Brasil (ufam/f. ford/mma) e Projeto Processos de Territorialização,

Conflitos e Movimentos Sociais na Amazônia (fapeam-cnpq).

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indígenas, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de cocobabaçu, seringueiros, faxinalenses, comunidades de fundosde pasto, pomeranos, ciganos, geraizeiros, vazanteiros, pia-çabeiros, pescadores artesanais, pantaneiros, afro-religiosose demais sujeitos sociais emergentes, cujas identidades cole-tivas se fundamentam em direitos territoriais e numa auto-consciência cultural.

O trabalho de direção da coleção ficou a cargo do Coorde-nador do pncsa, o antropólogo Alfredo Wagner Berno deAlmeida. Em discussão com advogado, procuradora e antro-póloga, organizadores de cada volume, foram fixados os cri-térios de seleção e agrupamento dos documentos. A respon-sabilidade principal da seleção, entrementes, ficou sob aresponsabilidade daqueles especialistas mencionados dire-tamente referidos aos temas em questão, concernentes res-pectivamente a direitos étnicos, culturais e territoriais. Osgêneros dos documentos em jogo foram criteriosamenteconsiderados. No primeiro e no terceiro volume foram clas-sificadas: convenções internacionais (oit, unesco, onu) eprotocolos adicionais, declarações aprovadas em assembléiageral (onu, unesco) e respectivas portarias e decretos ratifi-cadores ou que orientam a sua implementação. No segundovolume foram agrupados sobretudo pareceres jurídicos decirculação restrita (mpf, agu, incra).

Apresentamos a seguir os dados básicos referentes aos trêsprimeiros volumes:

1. Direito dos Povos e das Comunidades Tradicionais no Brasil – Joaquim Shiraishi Neto (org.)

2. Pareceres Jurídicos – Deborah Duprat (org.)

3. Direito dos trabalhadores migrantes – Marcia Anita Sprandel (org.)

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Apresentação

O reconhecimento jurídico-formal dos povos e comuni-dades tradicionais, reivindicado por diferentes movi-mentos sociais e afirmado no texto constitucional deoutubro de 1988, conheceu um incremento neste iníciodo século xxi. As ações de mobilização perpetradas pelosmovimentos foram fortalecidas por medidas implemen-tadoras dos dispositivos constitucionais. Acrescente-seaos efeitos destes dispositivos o reforço de instrumentoselaborados por agencias multilaterais, tais como: onu,unesco e oit.

O objetivo deste primeiro volume da Coleção Docu-mentos de Bolso é justamente dispor a um público amplotais dispositivos, assim como decretos e portarias quelhes são direta ou indiretamente referidos.

Numa breve retrospectiva pode-se sublinhar que, emjunho de 2002, evidenciando a força das reivindicaçõesdos movimentos sociais e ressaltando o caráter aplicadodo conceito de “terras tradicionalmente ocupadas”, ogoverno brasileiro ratificou, por meio do Decreto Legis-lativo n.º 143, assinado pelo presidente do Senado Fede-ral, a Convenção 169 da Organização Internacional doTrabalho (oit). Esta Convenção, que é de junho de 1989,isto é, de 13 anos passados, reconhece como critério fun-damental os elementos de auto-identificação, e reforça,

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em certa medida, a lógica de atuação dos movimentossociais orientados principalmente por fatores étnicos epelo advento de novas identidades coletivas.

Nos termos do Art. 2.º da referida Convenção, tem-seexplicitado o procedimento de reconhecimento de“povos” e/ou “comunidades”, sob um significado latosenso para além do sentido estrito de “tribo”, assimenunciado: “a consciência de sua identidade indígena outribal deverá ser tida como critério fundamental paradeterminar os grupos aos quais se aplicam as disposiçõesdesta Convenção”. Além disto, o Art. 14 assevera o segui-nte em termos de dominialidade e direitos territoriais:“dever-se-á reconhecer aos povos interessados os direi-tos de propriedade e de posse sobre as terras que tradi-cionalmente ocupam”.

A ratificação da Convenção 169 não apenas reforçainstrumentos de redefinição da política agrária, mas tam-bém favorece a aplicação da política ambiental e de polí-ticas étnicas, reforçando os termos da implementação deum outro dispositivo transnacional, qual seja, a Conven-ção sobre Diversidade Biológica – cdb, cujo texto foi fir-mado durante a Conferencia das Nações Unidas sobreMeio Ambiente e Desenvolvimento (cidade do Rio deJaneiro, de 5 a 14 de junho de 1992), e aprovado peloSenado Federal através do Decreto legislativo n.º 2, de1994. Consoante a alínea j do Art. 8 desta referida Con-venção, cada parte contratante deve:

j) Em conformidade com sua legislação nacional, respei-tar, preservar e manter o conhecimento, inovações e prá-ticas das comunidades locais e populações indígenascom estilo de vida tradicionais relevantes à conservaçãoe à utilização sustentável da diversidade biológica e

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incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovaçãoe a participação dos detentores desse conhecimento, ino-vações e práticas; e encorajar a repartição eqüitativados benefícios oriundos da utilização desse conhecimen-to, inovações e práticas;

Da articulação entre as duas Convenções acima menciona-das, constata-se que a noção de “comunidades locais”, queantes denotava principalmente um tributo ao lugar geo-gráfico e a um suposto “isolamento cultural”, tornou-serelacional2 e adstrita ao sentido de “tradicional”, enquan-to reivindicação atual de grupos sociais e povos face aopoder do Estado e enquanto direito manifesto através deuma diversidade de formas de autodefinição coletiva.

A mobilização dos “povos e comunidades tradicio-nais”, sob este prisma, aparece hoje envolvida num pro-cesso de construção do próprio “tradicional”, notada-mente a partir de situações críticas de tensão social e con-flitos. Assiste-se, em decorrência, a uma redefinição dossignificados de categorias antes referidas às “comunida-des locais”, tais como “primitivo” e “natureza”. O termo“primitivo” e suas inúmeras derivações, que designavamprincipalmente sujeitos biologizados, tem sido desloca-dos pelo advento de sujeitos coletivos, organizados emmovimentos sociais. O termo “natureza” tornou-se par-te tanto do discurso, quanto dos atos desses sujeitossociais, designados concretamente como quilombolas,

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2 Para um aprofundamento da distinção entre o uso da noção de

comunidade num sentido de “continuidade geográfica” e o seu uso

como uma característica de relações sociais de determinado grupo leia-

se Gusfield, Joseph R. Community-a critical response. N. York. Harper

& Row Publishers, 1975.

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seringueiros, ribeirinhos, pescadores artesanais, que-bradeiras de coco babaçu, castanheiros, faxinalenses,geraizeiros e piaçabeiros dentre outros.

A noção de “natureza” passou a ser recolocada por meiode um intenso processo de mobilização, compreendendodiversas práticas de preservação dos recursos naturaisapoiadas em uma consciência ambiental aguda, e pela opo-sição manifesta dos movimentos sociais a interesses deempreendimentos econômicos predatórios. Tais práticasexpressam antagonismos característicos da noção de“ambientalização” desenvolvida por Leite Lopes3. Essasnovas percepções de fenômenos recentes, próprias da“ambientalização” de conflitos sociais, é que nos permitemapresentar de modo mais acurado como os novos signifi-cados de “natureza” têm se tornado expressões indissociá-veis do discurso e das práticas dos movimentos sociais emsua relação com os aparatos de Estado. Expressões como“desenvolvimento local sustentável” e “participação co-munitária” são recorrentes e passam a funcionar comoformas adjetivadas seja no discurso das entidades multila-

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3 “O termo ‘ambientalização’ é um neologismo semelhante a alguns

outros usados nas ciências sociais para designar novos fenômenos ou

novas percepções dos fenômenos. (...) indicaria um processo histórico de

construção de novos fenômenos, associado a um processo de interioriza-

ção pelas pessoas e pelos grupos sociais – e, no caso da ‘ambientalização’,

dar-se-ia uma interiorização das diferentes facetas da questão publica do

‘meio ambiente’. Essa incorporação e essa naturalização de uma nova

questão publica poderiam ser notadas pela transformação na forma e na

linguagem de conflitos sociais e na sua institucionalização parcial”. (Lei-

te Lopes et alii, 2004, p. 17).

Cf. Leite Lopes, José Sérgio et al – A ambientalização dos conflitos sociais:

participação e controle público da poluição industrial. Rio de Janeiro: nuap

– Ed. Relume & Dumará, 2004 pp. 17-38.

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terais, seja naquele dos aparatos governamentais. Em con-trapartida a expressão “conflitos sócio-ambientais” ganhacorpo nas agendas oficiais4, que paulatinamente vão incor-porando uma nova linguagem característica das formasrenovadas de reivindicação dos movimentos sociais.

Em 13 de julho de 2006, foi instituída por decreto aComissão de Desenvolvimento Sustentável das Comuni-dades Tradicionais, com vistas a implementar uma polí-tica nacional especialmente dirigida para tais comunida-des. Tal Comissão é constituída por representantes de 30povos e comunidades tradicionais, sendo 15 titulares e15 suplentes, dentre eles indígenas, quilombolas, serin-gueiros, pescadores artesanais, comunidades de fundode pasto, quebradeiras de coco babaçu e afro-religiososentre outros. Também é constituída por 15 representan-tes de órgãos e entidades da administração pública fede-ral, cabendo ao Ministério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome a presidência da Comissão, e ao Minis-tério do Meio Ambiente a Secretaria Executiva.

Com a intensificação das discussões, mobilizandoassociações, entidades e movimentos, os órgãos governa-mentais acataram as reivindicações e logo após foi insti-tuída, através do Decreto n.º 6.040 de 7 de fevereiro de2007, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentá-vel dos Povos e Comunidades Tradicionais. A pnpct tempor objetivo específico promover o citado “desenvolvi-mento sustentável” com ênfase no reconhecimento, for-talecimento e garantia dos seus direitos territoriais,sociais, ambientais, econômicos e culturais. Preconiza

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4 Para um aprofundamento consulte-se: Acselrad, Henri ; Mello, Cecília

C.do Amaral e Bezerra, Gustavo das Neves-Cidade, Ambiente e Política-

Problematizando a Agenda 21 local. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

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também o respeito e valorização da identidade de povose comunidades tradicionais, bem como de suas formas deorganização e de suas diferentes instituições.

A referida Política está estruturada a partir de quatroeixos estratégicos: 1) Acesso aos Territórios Tradicionaise aos Recursos Naturais 2) Infra-estrutura 3) InclusãoSocial e 4) Fomento e Produção Sustentável. Em seu tex-to encontra-se a seguinte definição para o conceitocomunidades tradicionais:

Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecemcomo tais, possuidores de formas próprias de organiza-ção social, ocupantes e usuários de territórios e recursosnaturais como condição à sua reprodução cultural,social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando co-nhecimentos, inovações e práticas gerados e transmiti-dos pela tradição.

Pode-se asseverar que o termo “comunidade”, em sinto-nia com a idéia de “povos tradicionais”, deslocou o termo“populações” – reproduzindo uma discussão que ocor-reu no âmbito da oit em 1988-89, e que encontrou eco naAmazônia através da mobilização dos chamados “povosda floresta”, no mesmo período. O “tradicional” comooperativo e como reivindicação do presente ganhou for-ça no discurso oficial, enquanto o termo “populações”,denotando certo agastamento, tem sido substituído por“comunidades”, as quais aparecem revestidas de umadinâmica de mobilização, aproximando-se por este viésda categoria “povos”.

Verifica-se, deste modo, uma ruptura não apenas ter-minológica com os princípios elementares da ação doslegisladores dos anos 90 – que adotaram a expressão

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“populações tradicionais” na legislação competente5 – edo governo federal que a adotou na definição das funçõesdos aparatos burocrático-administrativos, tendo inclusi-ve criado, em 1992, o Conselho Nacional de PopulaçõesTradicionais (cnpt), no âmbito do ibama6. Tais atos nãosignificaram acatamento absoluto das reivindicaçõesencaminhadas pelos movimentos sociais, não significan-do, portanto, uma resolução dos conflitos e tensões emtorno daquelas formas específicas de apropriação e de usocomum dos recursos naturais, designadas como “tradicio-nais” e que abrangem extensas áreas, principalmente naregião amazônica, no semi-árido nordestino, na região dopantanal mato-grossense e no planalto meridional do País.

O i Encontro Nacional de Comunidades Tradicionais,realizado entre 17 e 19 de agosto de 2005 em Luziania (go),permitiu estimar a diversidade social de tais comunidades,seu potencial político-organizativo e sua distribuição pelopaís. Permitiu, ademais, constatar que são heterogêneos7

também os critérios que agrupam e mobilizam povos indí-genas, quilombolas, ciganos, pomeranos, afro-religiosos,

15

5 A Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000, que regulamenta o Art. 225 da

Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Con-

servação da Natureza, menciona explicitamente as denominadas “popu-

lações tradicionais” (Art. 17) ou “populações extrativistas tradicionais”

(Art. 18) e focaliza a relação entre elas e as unidades de conservação (área

de proteção ambiental, floresta nacional, reserva extrativista, reserva de

desenvolvimento sustentável).

6 Cf. Portaria/ibama.n.22-n, de 10 de fevereiro de 1992 que cria o Cen-

tro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicio-

nais – cnpt, bem como aprova seu Regimento Interno.

7 Cf. Almeida, Alfredo Wagner B. de. Terras de Quilombo, terras indíge-

nas, ‘Babaçuais livres’, ‘Castanhais do Povo’, Faxinais e Fundos de pasto:

Terras Tradicionalmente Ocupadas. Manaus: ppgsa-ufam , 2006.

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ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, seringueiros,pescadores artesanais, caiçaras, castanheiros e povos dosfaxinais, dos gerais e dos fundos de pasto, dentre outros.

No plano internacional, tem-se um reconhecimentojurídico-formal desta diversidade. A Conferencia Geralda Organização das Nações Unidades para Educação,Ciência e Cultura, em sua 33.ª reunião, celebrada emParis, de 3 a 21 de outubro de 2005, aprovou a Conven-ção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade dasExpressões Culturais. De certa maneira trata-se de ummecanismo de reconhecimento legal dos diferentes povose comunidades. Tal documento reconhece explicitamen-te a diversidade lingüística, a diversidade dos conheci-mentos e práticas tradicionais e das demais expressõesculturais dos povos, chamando a atenção para a impor-tância dos direitos de propriedade intelectual, para“melhoras” na condição da mulher e para tolerância, jus-tiça social e respeito mutuo entre povos e culturas.

A heterogeneidade aponta para diferenciações sociais,econômicas e religiosas entre esses povos, embora elesestejam em alguma medida unidos por critérios político-organizativos e por modalidades diferenciadas de usocomum dos recursos naturais. O consenso que envolve otermo “tradicional” está sendo, portanto, construído apartir destes dissensos sucessivos, que aparentementenão cessam de existir8. É justamente nesta dinâmica dediscussão e lutas faccionais, que se insere o trabalho demapeamento ora desenvolvido pelo pncsa com a reali-zação dos cursos de formação que lhes são referidos e queproduziram a demanda de representantes das comunida-

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8 Cf. acevedo marin, Rosa e.; almeida, a. w. b. de. Populações tradi-

cionais: questões de terra na Panamazonia. Belém: unamaz, 2006.

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des tradicionais pelos documentos jurídicos pertinentes àsua condição. A atualidade dos documentos jurídicos sele-cionados e das práticas de autodefinição correspondentesmostra-se correlata a um sem número de projetos de pes-quisa, cujas atividades distribuem-se hoje por diferentesregiões e ecossistemas. Tais atividades de pesquisa nãosão redutíveis a práticas militantes ou aos saberes que lhessão inerentes9 , uma vez que elas lidam com as interpreta-ções da própria militância acerca destes dispositivos jurí-dicos, tomando-as como objeto de reflexão, a exemplo deoutros trabalhos de pesquisa científica ora realizados10.

Este esclarecimento prévio contribui para abrir aos inte-ressados a coleção Documentos de Bolso e para responderà indagação de porque um projeto de pesquisa cientificase dispõe a divulgar de maneira ampla e difusa dispositi-vos jurídicos, que tratam do reconhecimento de direitosconsiderados a uma só vez étnicos, culturais e territoriais.

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9 Consulte-se “Le capital militant (1) – engagements improbables, appren-

tissages et techniques de lutte”.Actes de la recherche em sciences sociales,

n.º 155. Décembre 2004. Paris: Ed. Seuil, 2004, 108 pp. b)”Le capital mili-

tant (2) – Crises politiques et reconversions:mai 68” Actes de la recherché

en sciences sociales,n.º 158 juin 2005. Paris: Ed.Seuil, 2005, 119 pp.

10 Para outras interpretações consulte-se: a) cefai, Daniel – Pourquoi se

mobilise-t-on? Les théories de l’action collective. Paris: Éditions La Décou-

verte, 2007 e b) “L’engagement em question. Regards sur les pratiques

militants. Contretemps n.dix-neuf. Paris: Les éditions Textuel, mai 2007.

Alfredo Wagner Berno de Almeida

Antropólogo. Professor-visitante do ppgsca-ufam e pesquisadordo cnpqq-fapeam. Coordenador do Projeto Nova Cartografia

Social da Amazônia e do Projeto “Processos de Territoria-lização, conflitos e movimentos sociais na Amazônia”.

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Prefácio

A presente obra oferece um conjunto de documentos jurí-dicos que exprimem uma característica central: o princí-pio da dignidade da pessoa humana inclui a proteção àsua liberdade expressiva, em especial a de dizer, autarqui-camente, quem é e quais são as suas convicções de vida.

Não é demais lembrar que, em época não tão distante,para alguns, definir a sua condição existencial atraía, deimediato, a condenação. E não propriamente pelo que anoção jurídica de igualdade formal pudesse sugerir. Massim pela idéia da alteridade radical, informada pela não-existência e pelo não-valor do diferente, do “bárbaro”.

Em estreita relação com esse ponto nuclear e, em largamedida, dele complementar, o abandono da visão atomis-ta do indivíduo e a recuperação do espaço comum ondesão vividas as suas relações definitórias mais importantes.

A compilação de documentos e atos normativos queevidenciam tão significativa mudança de paradigmajurídico já é, em si, de grande importância.

Mais do que proporcionar aos operadores tradicionaisdo direito fonte de fácil consulta, é instrumento na lutadaqueles que seguem reivindicando os direitos que lhessão, de fato, recusados.

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Mas a reunião dos textos vai além e intencionalmen-te interpela aqueles que, entre o sobressalto e o desco-nhecimento, vêem na letra da Constituição de 1988 mui-to menos do que ela diz.

Não há como recusar que o nosso direito interno nãoestá isolado no contexto global. Um rápido exercíciocomparativo permite visualizar como a Constituição bra-sileira reflete o desenvolvimento do direito internacio-nal no reconhecimento e respeito às diferenças étnicas eculturais das sociedades nacionais. Vejamos.

A Declaração Universal sobre a Diversidade Culturalproclama, em seu artigo 4, que a defesa da diversidadecultural é um imperativo ético, inseparável do respeito àdignidade da pessoa humana. E, na Convenção sobre aProteção e a Promoção da Diversidade das ExpressõesCulturais11, em seu artigo 5, as partes se comprometem aadotar medidas para a proteção e a promoção da diversi-dade das expressões culturais.

No artigo 215, a Constituição determina que o Estadogarantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais. Ecomo sinais distintivos da identidade dos diversos gru-pos formadores da sociedade brasileira, inclui, dentreoutros, suas formas de expressão e seus modos de criar,fazer e viver (art. 216, i e ii).

Nos preâmbulos da Declaração Universal sobre a Diver-sidade Cultural, consta que a cultura deve ser consideradacomo o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais,intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou umgrupo social e que abrange, além das artes e das letras, osmodos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas devalores, as tradições e as crenças; a cultura se encontra no cen-

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11 Ratificada por meio do Decreto Legislativo 485/2006

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tro dos debates contemporâneos sobre a identidade, a coesãosocial e o desenvolvimento de uma cultura fundada no saber.

Assim, tanto a Constituição como a Declaração incor-poram um conceito de cultura que tem em conta não asua expressão folclórica, monumental, arquitetônicae/ou arqueológica, e sim o conjunto de valores, represen-tações e regulações de vida que orientam os diversos gru-pos sociais. Há um deslocamento, portanto, do passadopara o presente, e interlocução e ação passam a ser os ele-mentos centrais do conceito.

No mesmo passo, a Convenção 169, da oit12, reconhe-ce, ao lado dos povos indígenas, outros tantos gruposcujas condições sociais, econômicas e culturais os distin-gu[em] de outros setores da coletividade nacional, arrolan-do, para todos eles, um rol de direitos específicos.

A Constituição brasileira o fez expressamente em rela-ção aos índios e aos quilombolas (arts. 231, 232 e 68 doadct). E, sem nomeá-los, também teve como destinatá-rios de direitos específicos os demais grupos que tives-sem formas próprias de expressão, e de viver, criar efazer. É o que decorre da literalidade das regras antes refe-ridas, inscritas nos artigos 215 e 216. Inspirado nessa com-preensão, vem o Decreto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007,a instituir a política nacional de desenvolvimento susten-tável dos povos e comunidades tradicionais, sustentadano tripé cultura/identidade/territorialidade. É emblemá-tica a composição da Comissão Nacional de Desenvolvi-mento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicio-nais: seringueiros, fundos de pasto, quilombolas, faxi-nais, pescadores, ciganos, quebradeiras de babaçu,pomeranos, índios e caiçaras, dentre outros.

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12 Promulgada pelo Decreto 5.051/2004

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Há vários outros pontos que poderiam ser declinadoscomo evidência da sintonia entre os sistemas jurídicosinternacional e pátrio. Este, todavia, não é o espaço paratanto. Fica como desafio ao leitor.

Mas há um último aspecto que a obra suscita, deimportância similar ou superior aos demais. Diz com aaplicação do direito produzido pelo Estado.

Se prevalece a compreensão do direito estatal comocorpo de normas objetivo, neutro e determinado – visãopor muito tempo naturalizada – desfaz-se o compromis-so com a pluralidade. Um significado aparentemente cla-ro da norma atesta apenas a hegemonia de uma interpre-tação específica.

Fala-se, hoje e cada vez mais, que a interpretação deuma norma jurídica não é monopólio dos juristas. Naexpressão de Peter Häberle, quem vive a norma acaba porinterpretá-la ou, ao menos, por co-interpretá-la. Dworkintambém admite que teóricos e práticos estão engajadosnum mesmo tipo de raciocínio, ou seja, numa tentativa deimpor a melhor interpretação à prática que encontram.

A idéia de interpretação, todavia, é fortemente infor-mada pela de reflexividade, no sentido de onipotênciado pensamento que retorna sobre si, e pela de correspon-dência. É a primeira pessoa que faz a leitura daquilo quedescritivamente lhe é apresentado, ainda que o seja umaprática social, e estabelece a respectiva correspondênciacom a norma, também por ela pré-compreendida.

De outro giro, é certo que, na linha de Wittgenstein, asnormas, vistas separadamente das atividades práticas dosseres humanos, são meros itens mentais ou lingüísticos.

Daí a outra interpelação que os textos nos fazem: bus-car a relação entre norma e prática em locus diverso dainterpretação.

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É preciso que o aplicador do direito compreenda oambiente no qual se faz uso da norma e a atenção que ogrupo ou as pessoas lhe conferem. Compreender, ao invésde interpretar, é sair do cogito em direção à prática que seapresenta, e fazê-la falar. É dar efetividade à liberdadeexpressiva, de que se falou de início, como elemento cen-tral na relação desses grupos e pessoas com o Estadonacional, em seus diversos campos.

Coerentemente, a Declaração das Nações Unidas sobreos Direitos dos Povos Indígenas proclama, em seu artigo13, que seja assegurado aos povos indígenas que possamentender e fazer-se entender nas atuações políticas, jurídi-cas e administrativas.

Para encerrar a apresentação desse livro, a lembrançanecessária do grande leque de pessoas, grupos e movimen-tos sociais que convergiram e reforçaram-se mutuamen-te para que esses textos legais viessem a ser produzidos.

DECÁLOGO DOS DIREITOS INSCRITOS NOS

DOCUMENTOS QUE CONSTITUEM A OBRA

1) O Brasil é uma sociedade plural, onde se respeitamtodos os grupos étnico-culturais;

2) Cada grupo étnico-cultural constitui uma coletivida-de com modos próprios de fazer, criar e viver;

3) Esses grupos têm, em comum, uma relação especialcom o território, relação esta que tem que ser protegida,porque indissociável da identidade;

4) O direito a manter essa relação com o território, por-que de natureza fundamental, é de aplicação imediata;

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5) Não é possível o deslocamento desses grupos de seusterritórios tradicionais, salvo situação de absoluta excep-cionalidade, garantido o seu retorno tão logo cesse a cau-sa que o determinou;

6) Qualquer atividade a ser desenvolvida por terceiros,no âmbito desses territórios tradicionais, depende doconsentimento informado do grupo;

7) A identidade do grupo apenas por este é definida (cri-tério da auto-atribuição).

8) Não pode haver, num Estado plural, disputa por direi-tos identitários. Eventual controvérsia está limitada aalguns direitos conferidos em função da identidade;

9) A cultura, porque definida enquanto modo de viver,criar e fazer de um grupo, é um processo dinâmico, quese renova dia-a-dia. Acabam as categorias acultura-do/selvagem, e nenhum grupo é obrigado a ficar imobi-lizado no tempo para ter direitos decorrentes de suaidentidade/cultura;

10) O direito nacional, em face desses grupos, há de seraplicado tendo em vista as suas especificidades, sendoassegurado aos seus membros que possam entender efazer-se entender nas suas atuações políticas, jurídicas eadministrativas.

24

Deborah Duprat

Coordenadora da Sexta Câmara da Procuradoria Geral da República

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A Particularização doUniversal: povos e

comunidades tradicionais

face às Declarações e

Convenções Internacionais

introdução: delineamento de um campo jurídico

Uma leitura dos diversos dispositivos jurídicos interna-cionais que foram “acordados”, “assinados” e “ratifica-dos” pelo Brasil, os quais fazem referência aos grupossociais portadores de identidade étnica e coletiva talcomo são designados os diversos povos e comunidadestradicionais no país13, dá a exata medida do processo de

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13 Ver o Decreto Federal de 27 de dezembro de 2004, que “Cria a Comis-

são Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradi-

cionais e dá outras providências”, o Decreto Federal, de 13 de julho de

2006, que “Altera a denominação, competência e composição da Comis-

são Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradi-

cionais e dá outras providências”, e o Decreto n.º 6.040, de 7 de feverei-

ro de 2007, que “instituí a Política Nacional de Desenvolvimento Susten-

tável dos Povos e das Comunidades Tradicionais”.

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luta pelo reconhecimento desses grupos. No Brasil, severifica uma intensa mobilização pelo reconhecimentode direitos protagonizada pelos povos indígenas, povosquilombolas, seringueiros, castanheiros, quebradeirasde coco babaçu, ribeirinhos, faxinalenses e comunidadesde fundo de pasto dentre outros14.

No contexto global, chama atenção a forma como osdiversos países vêm tratando essas questões, que tem osci-lado entre o reconhecimento e a negação de direitos. Orase ocupam em reconhecer e ampliar os direitos aos gru-pos sociais portadores de identidade étnica e coletiva, oraadotam medidas de caráter nitidamente discriminatório,afastando qualquer possibilidade de reconhecimento.

Observa-se que em vários países tem-se ampliado aadoção de medidas legais de caráter discriminatório emrelação aos diversos grupos sociais, a exemplo da políti-ca de imigração Norte Americana e da Comunidade Euro-péia, que tem imposto severas restrições ao reconheci-mento de direitos dos imigrantes já residentes, bem comomedidas de contenção da entrada de novos imigrantes15.

O exemplo americano vem sendo seguido por outrospaíses, que também tem legislado favoravelmente à cria-ção de barreiras que se assemelham à política Norte Ame-ricana, como é o caso da França. Este país tem impostoserias restrições à imigração, utilizando para isso critériosseletivos, onde a maior escolaridade e o padrão econômi-co são determinantes para obtenção de visto no país16.

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14 Desde a década de 1980, Almeida vem tentando sistematizar as diver-

sas situações sociais que são vivenciadas por esses povos e comunidades

tradicionais. A propósito, conferir Almeida (2006).

15 Folha de São Paulo, 2 de maio de 2006. p. a9.

16 Folha de São Paulo, 18 de junho de 2006. p. a15.

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No Japão, houve uma intensificação do debate em tor-no da necessidade de uma nova política migratória. A polí-tica de imigração japonesa se inclina em terminar com oprocesso de concessão de visto especial para os descenden-tes de japoneses e de exigir o conhecimento da língua locala todos que solicitarem visto para trabalharem no país17.Essas medidas afetarão de forma direta os brasileiros, oschamados “dekasseguis”, que desejam trabalhar no Japão.

É oportuno salientar que a expansão dessas políticasentre os diversos países de “democracia liberal” se dá deforma diferenciada. O debate em países como Canadá,Bélgica e Espanha ocorre em torno da reformulação dosseus dispositivos jurídicos e do próprio Estado, no senti-do de propor a “acomodação” dos diversos grupos sociaisportadores de identidade étnica e coletiva. A agenda polí-tica tem se orientado para a reorganização do Estado pormeio de um processo que tem sido designado de “assime-tria federal” (fossas; requejo, 1999), já que grupossociais específicos constituíam unidades políticas ter-ritoriais, que coexistem no interior do Estado nacional.

Contrariando as medidas legais discriminatórias emrelação aos diversos grupos sociais portadores de identi-dade étnica e coletiva, vários países da América Latinatêm alterado seus dispositivos jurídicos constitucionaise infra-constitucionais no sentido de reconhecer o cará-ter “pluricultural” e “multiétnico” de suas sociedades(tomei; sewpston, 1999) , inclusive o Brasil tem orien-tado sua política , em acordo com os diversos dispositi-vos jurídicos internacionais que objetivam reconhecer epromover as diferenças culturais existentes nos países.

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17 Jornal Nippo Brasil. São Paulo, 21 a 27 de junho de 2006; p. 4 Brasil

no Japão.

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Trata-se de medidas que objetivam melhorar o aten-dimento às demandas oriundas dos grupos sociais, quese encontram no interior dos Estados, as quais são múl-tiplas e complexas. A compreensão de que o Brasil é umasociedade plural, já foi objeto de discussão jurídica nopassado e a despeito de polemizar com outras questõesque se apresentavam a época, partia dos mesmos pressu-postos que norteiam o debate atual, isto é, a necessida-de de preservar a pluralidade percebida como valor fun-damental para a democracia (reale, 1963).

O processo de reconhecimento do caráter plural emultiétnico das sociedades têm favorecido a constituiçãode um campo jurídico do “direito étnico” e, portanto, deuma forma própria de refletir o direito. Isto implica noafastamento de uma postura cristalizada, expressa atra-vés de nossas “práticas jurídicas”, e também, na abertu-ra de outras possibilidades de interpretação jurídica quese encontram para além desses esquemas jurídicos. Asquestões são por demais complexas para serem com-preendidas a partir de uma única disciplina do direito.

Além disso, vale ressaltar que a fragmentação das dis-ciplinas jurídicas ensejam um tipo de especialidade, porisso está sujeita aos padrões determinados pela própriadisciplina. Assim, restringi as possibilidades de inter-pretação e análise: “Para ser um especialista, você tem deser credenciado pelas autoridades competentes; elas ensi-nam a falar a linguagem correta, a citar as autoridadescorretas, a sujeitar ao território correto” (said, 2005, 81⁾.

A inversão da ordem de se pensar o direito a partir dasituação vivenciada pelos povos e comunidades tradicio-nais, leva a uma ruptura com os esquemas jurídicos pré-concebidos. Essa dinâmica que serve para iluminar o

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direito tem provocado três movimentos, os quais podemser assim delineados:

a) o deslocamento de disciplinas tidas como “tradicio-nais”, a saber: o direito civil, o direito agrário e o própriodireito ambiental;

b) a relativização e reorganização hierárquica de deter-minadas normas e regras consagradas pelos intérpretes; e

c) a reafirmação e ampliação de dispositivos jurídicosinternacionais de proteção de direitos humanos.

Tal movimento que se verifica no interior do direito,decorre de profundas transformações na órbita nacional einternacional. Decorre também, do fato do direito não terconseguido responder de forma plena e satisfatória àsdemandas e reivindicações oriundas dos grupos sociaisportadores de identidade étnica e coletiva organizados emmovimentos sociais. Em outras palavras, o “desrespeito”às diferenças existentes entre os distintos sujeitos e gru-pos sociais, materializado numa política de universaliza-ção vem provocando um aprofundamento dos problemas.

Por isso, tem-se observado enormes dificuldades jurí-dicas operacionais em se “enquadrar” as situações viven-ciadas aos modelos jurídicos preexistentes, os quais têmnorteado e estruturado todo ordenamento jurídico, mes-mo os modelos que possam estar relacionados às situaçõessociais, como é o caso do direito ambiental. Este vem sen-do apresentado e difundido como se fosse um direito detodos: “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado, bem de uso comum do povo essencialà sadia qualidade de vida...” (do artigo 225 da cf de 1988).

Os resultados mais visíveis dos problemas decorren-tes da aplicação dos dispositivos ambientais podem serobservados quando da criação de unidades de conserva-

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ção de uso sustentável, que, inicialmente, foram incor-poradas como instrumentos de defesa de direitos pelosmovimentos sociais.

Atualmente, a criação dessas unidades tem sido vistacom certa cautela pelos próprios movimentos, principal-mente pelos problemas que tem gerado em torno de suaimplantação, constituindo muitas vezes um empecilho àreprodução física e cultural dos povos e comunidadestradicionais.

O modelo de reserva extrativista que se desenvolveu apartir da experiência dos seringueiros do Acre, é um bomexemplo do problema. As reservas extrativistas de baba-çu criadas no auge da discussão, década de 1990, têm apre-sentado desde a sua criação, em 1992, sérias dificuldadesna sua implementação. Uma das dificuldades observadasé que o mesmo modelo de unidade de conservação éimposto para todas as situações que envolvem comunida-des tradicionais que se dedicam a atividade extrativista,abstraindo suas particularidades. O modelo implantadopara as reservas de babaçu tem como ponto de partida aspráticas extrativas dos seringueiros, que muito diferemdas práticas das chamadas quebradeiras de coco babaçu(shiraishi neto, 2001, 57-64). Enquanto para os serin-gueiros o uso do recurso é privado, por unidade familiar,para as quebradeiras de coco, o uso é comum, ficandocondicionado à capacidade de cada unidade familiar.

Partindo do pressuposto de que os direitos devem serplenos, é imprescindível garantir aos povos e comunida-des tradicionais a sua reprodução física e social, con-substanciada numa “prática social”, que se relaciona aum modo de “criar”, de “fazer” e de “viver”. O direitode viver a vida de acordo com suas especificidades seencontra disposto no inciso ii do art. 216 da Constitui-

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ção Federal de 1988, bem como do que pode ser extraí-do da Convenção de n.º 169 da oit, que trata dos “povosindígenas e tribais”18.

Ademais, importa salientar que essa “prática social”não pode ser confundida com o direito consuetudinário,pelo menos na forma como se apresenta na doutrinapátria, já que o costume vem sendo interpretado equivo-cadamente como regra, o que tem implicado num enges-samento dessa noção.

Observa-se que em determinados momentos, o direi-to tal como tradicionalmente formulado, tem servidocomo “obstáculo” às pretensões dos povos e comunida-des tradicionais, evidenciando assim o grau de disputasinternas no campo jurídico, em que se coloca em ques-tão a própria forma de dizer o direito.

Convém enfatizar que para além das reivindicaçõesdos povos e comunidades tradicionais se está diante deuma luta interna no campo jurídico, onde há um enfren-tamento dos “operadores do direito” em torno do direi-to de dizer o direito (bourdieu, 1989, 209-254). A refe-rida disputa identificada inicialmente no plano dos ope-radores, não pode desgastar as intervenções ou mesmoparalisar os atos oficiais ou inibir as discussões queenvolvem os procedimentos operacionais. Sublinhe-seque os direitos aos quais se está referindo se encontramno bojo dos direitos fundamentais e, portanto, de apli-cação imediata, conforme determina o texto constitucio-nal brasileiro19.

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18 Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 5.051, de 19 de abril

de 2004.

19 § 1.º, do art. 5.º “As normas definidoras dos direitos e garantias fun-

damentais têm aplicação imediata.”

Page 32: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

Já não se trata, com efeito, de simplesmente utilizaros mecanismos jurídicos “cirúrgicos” para determinar avalidade ou não dos dispositivos legais, decepandoaquelas normas tidas como inconstitucionais, mas deadmitir a coexistência dos diversos instrumentos dispo-níveis para a efetivação dos direitos. Trata-se, pois, dereafirmar as suas respectivas fontes, que além de seremmúltiplas e complexas, estão profundamente enraizadasem situações localizadas, ampliando as possibilidades deinterpretação e de efetivação de direitos.

A dinâmica vivenciada pelos povos e comunidades tra-dicionais na busca pelo direito de viver a diferença, jogaluz no direito, na medida em que o obriga ao reconheci-mento de outras “práticas jurídicas”, as quais se en-contram coadunadas a outras formas de saber, mais loca-lizadas, situadas nas experiências de cada grupo social.

Por isso, trata-se de refletir sobre os esquemas de pen-samento jurídico dominantes, cuja implicação primeiraé rever determinadas noções e princípios profundamen-te cristalizados e que se encontram “inculcados” nos“operadores do direito”. Esse processo permite reorga-nizar esquematicamente o nosso pensamento e, no inte-rior do sistema jurídico, restabelecer uma hierarquia. Aproposta é de submeter as “práticas jurídicas” a um exer-cício de reflexão crítica, no sentido da sociologia reflexivade Pierre Bourdieu, colocando em “suspenso” as noçõese os princípios que são tomados indistintamente como“naturais”, a fim de “afastarmos” qualquer possibilida-de de ação que possa servir como restrição de direitos.

No caso das situações sociais que envolvem os povose comunidades tradicionais , entendo que se trata de atri-buir ao “princípio da pluralidade” o mesmo valor que éatribuído ao “princípio da dignidade humana”, que de

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forma criteriosa tem orientado a elaboração de toda dog-mática crítica do direito.

O deslocamento do “princípio da dignidade humana”no interior do sistema jurídico, favorecendo o princípioda pluralidade, que o equipara hierarquicamente naestrutura jurídica, provoca uma necessidade inicial dereleitura da dogmática crítica, que, com razão, tem rea-firmado insistentemente esse princípio como supremo(rocha, 1999) 20. Nesse sentido, Silva chama atençãopara o fato de que “A Constituição opta pela sociedadepluralista que respeita a pessoa humana e sua liberdade,em lugar de uma sociedade monista que mutila os serese engendra ortodoxias opressivas. O pluralismo é umarealidade , pois a sociedade se compõe de uma pluralida-de de categorias sociais.” (silva, 2007, 143).

É por isso que o esquema esboçado por Kelsen de queo direito poderia ser apresentado como se fosse uma pirâ-mide e que tanto tem influenciado os esquemas de pen-samento jurídico ocidental, inclusive, a organização dosistema hierárquico de valores, deve ser afastado. Osvalores que sinalizam a produção e interpretação dasnormas acabam cedendo lugar a outras estruturas, talvezmenos geométricas e, portanto mais livres desses esque-mas dominantes, que aprisionam o pensamento jurídico.

O significado mais visível de uma leitura como a pro-posta, é que o direito possa ir “recuperando” e “atuali-zando” seus significados no interior da “sociedade plu-ral”, que se encontra em processo de profunda transfor-mação. Percebe-se, também, que há necessidade de se

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20 Neste contexto das discussões em torno dos direitos fundamentais,

Fachin afirma a necessidade de que seja garantido a cada um, um “esta-

tuto jurídico patrimonial mínimo ” (fachin, 2001).

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afastar das disputas jurídicas, sobretudo do que se temidentificado como “crise do direito”, porque esse esque-ma interpretativo tem se apresentado como permanente,estável e duradouro, reforçando a idéia que tem servidopara alimentar o discurso jurídico dominante.

as declarações e convenções no ordenamento jurídico

Até bem pouco tempo sequer poderíamos imaginar, emfunção do grau de “universalização” e “abstração” dodireito, que as Declarações e Convenções pudessem estarreferidas às situações cotidianas diretamente relaciona-das aos povos e comunidades tradicionais. Em outraspalavras, que as situações cotidianas relativas a essesgrupos sociais, circunscritas à determinada unidade deespaço e de tempo, fossem contempladas por esses ins-trumentos jurídicos.

Convém lembrar que o direito sempre se apresentoucomo “universal”, “abstrato” e, portanto, ahistórico.Para além dessas noções, que se encontram profunda-mente enraizadas no direito estatal, o direito tem reivin-dicado uma “homogeneidade universal”, compromissa-da com um “projeto global de sociedade” (bourdieu,2001, 107). Em muitos países, o fato do direito vir se apre-sentando como se fosse único (ranciere, 1996, 110), temservido para justificar a sua total indiferença e o seu des-prezo às noções de “local”, “realidade” e “pluralidade”.

Uma das conseqüências desses esquemas universais eabstratos no âmbito do direito, foi à criação de “ficçõesjurídicas”, como a do “sujeito de direito”, que se encontradestituído de suas raízes profundas. A primazia da formaem detrimento do conteúdo tem levado os “sujeitos de

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direito” a uma espécie de “invisibilidade”, destituindo-osde quaisquer elementos que possam qualificá-los, o queleva à perda de suas especificidades enquanto tal, comoparte de determinado povo e comunidade tradicional.

Ao incorporar as “novas” dimensões e conteúdos ex-plicitados nas Declarações e Convenções Internacionais,mesmo sabendo que estas representam formas de domina-ção, aqui tomando a noção de Michel Focault sobre o sig-nificado de dispositivo, é possível vislumbrar uma dimen-são do direito, que extrapola as noções pré-determinadas.Deste modo, nos obriga a um mergulho em um “novo”modus operandi, cuja força motriz conduz a uma reflexãoacerca das estruturas do direito e do seu funcionamento.

Os dispositivos internacionais dos direitos humanossão igualmente universais e, por isso, passíveis das críti-cas ora formuladas. Contudo, a existência dos instrumen-tos de proteção dos indivíduos revela, inicialmente, umdado importante destacado pela maioria dos intérpretesdo direito internacional, de que os indivíduos, não sãomeros objetos, mas sim, “sujeitos de direito”. Referidaleitura relativiza a soberania dos Estados.

Os recentes dispositivos internacionais deram ênfasea outros elementos constitutivos da noção de sujeito dedireito, permitindo um alargamento e uma melhor quali-ficação do sujeito. Além da dimensão individual, inscritaem vários desses dispositivos internacionais de proteçãodos direitos humanos, incorpora uma outra dimensão desentido coletivo e que se refere à noção de povos e comu-nidades tradicionais. Contudo, importa assinalar queoutros dispositivos internacionais já se referiam a umanoção de coletivo, como a Convenção do Genocídio, apro-vada pelo Brasil, por meio da Lei n.º 2.889, de 1 de outu-bro de 1956, que "define e pune o crime de genocídio".

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o lugar jurídico das declarações e convenções

O primeiro passo para a reflexão é explicitar a força daforma jurídica, situando as Declarações e ConvençõesInternacionais no interior do sistema jurídico brasileiro.Trata-se de guardar o papel das Declarações e das Con-venções. Enquanto as Declarações servem como “princí-pios jurídicos” que orientam instrumentos e ações, asConvenções, por serem Tratados, geram obrigações, vin-culando os países na ordem internacional e impondo san-ções em caso de descumprimento das normas acordadas.

A incorporação de Tratados Internacionais ao siste-ma jurídico nacional é matéria reservada aos Estados,por isso, as exigências podem variar de Estado paraEstado. Em geral, o processo de formação dos Tratadostem início com os atos de negociação. A simples assina-tura de um Tratado, não irradia efeitos jurídicos imedia-tos para o país.

No Brasil, a aplicação dos Tratados está sujeita a umasérie de procedimentos no âmbito do Poder Legislativoe Executivo. Após a negociação e assinatura que é decompetência do Poder Executivo (inc. viii, art. 84 da cf),o Tratado é encaminhado ao Poder Legislativo para rati-ficação por meio de Decreto Legislativo (inc. i , art. 49da cf). Na seqüência desse processo há o ato de promul-gação, que é realizado pelo Poder Executivo por meio deum Decreto. O Tratado passa a ter valor e produzir efei-tos jurídicos somente após a sua promulgação.

Para esta análise, será tomada preferencialmente a“Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural”, de2001. Além desta Declaração, as Convenções já ratificadas:a “Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial,

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Cultural e Natural”, de 197221, a “Convenção sobre a Diver-sidade Biológica”, de 199222 e a Convenção n.º 169 da oit.

Neste contexto, deve-se assinalar que a “ConvençãoRelativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural eNatural” representou um “marco jurídico” desse proces-so, pois além de permitir a realização da distinção entreo patrimônio cultural e o natural, enfatizou a importân-cia desses bens para o desenvolvimento da humanidade.

A despeito de ainda não ter sido ratificada e de seencontrar tramitando no Congresso Nacional desde 200523,a “Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversi-dade de Expressões Culturais”, de 2005, faz parte desserepertório24 de instrumentos jurídicos internacionais quese ocupam em reconhecer e promover a diversidade cul-tural. De certa maneira, essa preocupação em reconhecera existência social dos mais diversos grupos está direta-mente relacionada ao intenso processo de mobilização ede organização dos mais diferentes grupos sociais.

o reconhecimento das diferenças nas declarações e convenções

A Convenção n.º 169 foi adotada pelo OrganizaçãoInternacional do Trabalho (oit), em 1989. Entrou em

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21 Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 80.978, de 12 de

dezembro de 1977.

22 Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 2.519, de 16 de março

de 1998.

23 Mensagem do Poder Executivo n. 934/ 2005 , transformada em Pro-

jeto de Decreto Legislativo n. 2.216/ 2006.

24 Ver também a “Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural

Imaterial”, que foi promulgada pelo Decreto n. 5.753, de 12 de abril de 2006.

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vigor em 1991 após ter sido ratificada por dois Estados-membros, revogando a Convenção n.º 107, de caráter“integracionista” ou “assimilacionista”. A Convençãon.º 107 ancorava-se em modelos explicativos que pressu-punham a irreversibilidade do processo de “integração”ou de “assimilação” dos povos indígenas. Essa posiçãofoi revista pela Convenção n.º 169, que incluiu a noçãode permanência da vida dos “povos indígenas e tribais”.

Com base na Convenção n.º 169, houve uma reformu-lação das Constituições dos diversos Estados Nacionais,no sentido do reconhecimento da diversidade cultural,a exemplo do próprio Brasil, que em 1988, outorgouuma Carta reconhecendo a diversidade social e culturaldo país, como consta do preâmbulo, que se não tem for-ça normativa, serve para orientar os intérpretes daConstituição :

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos emAssembléia Nacional Constituinte para instituir umEstado democrático, destinado a assegurar o exercíciodos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segu-rança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e ajustiça como valores supremos de uma sociedade frater-na, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmoniasocial e comprometida, na ordem interna e internacio-nal, com a solução pacífica das controvérsias, promul-gamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituiçãoda República Federativa do Brasil. (Preâmbulo da Cons-tituição Federal de 1988).

Este posicionamento foi co-extensivo aos Estadosmembros que, ao elaborarem as suas Constituições Esta-duais a partir de 1989, reconheceram de forma explícita

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as diversas situações envolvendo povos e comunidadestradicionais existentes em seus territórios.

As Constituições federal e estaduais deram tratamen-to específico às questões culturais, compreendidas comodireito fundamental (“Declaração Universal de DireitosHumanos” e “Declaração Americana dos Direitos e Deve-res do Homem”). Para essas Declarações, a cultura é mui-to mais do que apenas o processo de criação e de produ-ção artística e intelectual. A cultura diz respeito a umaforma própria de viver, relacionada à realização existen-cial das pessoas enquanto seres sociais.

Nesse sentido, os textos das Constituições Estaduaisforam ao encontro do disposto na Constituição Federalde 1988, que entende a cultura como uma forma de“criar”, “fazer” e “viver” dos povos e comunidades tra-dicionais (inciso ii do art. 216). Essa mesma idéia de cul-tura está contida nas considerações iniciais da “Declara-ção Universal sobre a Diversidade Cultural”:

Reafirmando que a cultura deve ser considerada comoconjunto dos traços distintivos espirituais e materiais,intelectuais e afetivos, que caracterizam uma sociedadeou um grupo social e que abrange, além das artes e dasletras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos,os sistemas de valores, as tradições e as crenças.

Explicitamente essa “Declaração Universal sobre aDiversidade Cultural” afirma que:

A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético,inseparável do respeito à dignidade humana. Ela impli-ca o compromisso de respeitar os direitos humanos e asliberdades fundamentais, em particular os direitos das

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pessoas que pertencem às minorias e os dos povos autóc-tones. Ninguém pode invocar a diversidade culturalpara violar os direitos humanos garantidos pelo direitointernacional, nem para limitar seu alcance. (Art. 4.º).

Além disso, a diversidade cultural seria também umadas fontes do desenvolvimento entendido num sentidoamplo (art.3.º). Para a “Convenção sobre a Proteção e aPromoção da Diversidade das Expressões Culturais”, adiversidade cultural é tratada explicitamente como prin-cípio para o desenvolvimento sustentável:

A diversidade cultural é uma grande riqueza para as pes-soas e as sociedades. A proteção, a promoção e a manu-tenção da diversidade cultural é uma condição essencialpara o desenvolvimento sustentável em benefícios dasgerações atuais e futuras. (Item 6 do Art. 2 da Convenção).

Observa-se uma tendência em aliar a defesa da diver-sidade cultural e da cultura ao desenvolvimento huma-no. Tal movimento muito se assemelha ao da preservaçãoe da conservação da natureza, cuja intensidade se veri-ficou, sobretudo, na década de 1990, influenciandodiversos instrumentos normativos, tendo como desdo-bramentos um conjunto de políticas públicas e de ações,como a própria Constituição Federal de 1988, que temum Capítulo sobre o Meio Ambiente (art. 225).

a convenção n.º 169 da oit: a consciência de si

Sobre a Convenção n.º 169 da oit é importante afirmarque além de ser um Tratado, contêm uma especificidade

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por se tratar de matéria relacionada aos direitos dos“povos indígenas ou tribais”, tidos como fundamentais.

O entendimento de que o direito dos povos indígenase tribais é direito fundamental tem conseqüências im-portantes, entre as quais a sua aplicação imediata (§ 1.º doArt. 5.º), não sendo necessários nenhum dispositivo queo regulamente. É o § 2., do art. 5.º, da Constituição Fede-ral de 1988, que garante a possibilidade de recepção dosdireitos enunciados nesses dispositivos, conferindo aosTratados que versam sobre questões relacionadas aosdireitos fundamentais, em particular, natureza hierár-quica de norma constitucional e de aplicação imediata25.

Contudo, determinados autores têm enfatizado duasomissões importantes da Convenção n.º 169: a primeiraomissão, diz respeito ao fato de não ter se empenhado notratamento da propriedade intelectual; e a segunda, é anão previsão de formas de controle social. Em relação aessa primeira omissão, trata-se de ler a Convenção n.º 169conjugada à “Convenção sobre Diversidade Biológica”,no sentido de qualificar os sujeitos portadores dosconhecimentos tradicionais.

A leitura conjunta dessas Convenções tem conseqüên-cias no plano jurídico, principalmente ao atribuir con-teúdo material as relações, que são rigorosamente for-mais e fechadas às realidades sociais. Não se pode esque-cer que o direito sempre se ocupou em aperfeiçoar asrelações mercantis entre sujeitos, tidos como iguais. Nes-se sentido, esse procedimento tem como pressuposto rea-firmar que o conhecimento tradicional pertence aos

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25 A propósito dessa temática da hierarquia dos tratados internacionais

de direitos humanos, ler: piovesan, Flávia. Direitos Humanos e o Direito

Constitucional Internacional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. pp. 51-103.

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povos e comunidades tradicionais e que esses têm o direi-to de dispor à sua maneira e na medida de seus interes-ses, cabendo o Estado reconhecer e proteger essa relação,que se encontra de forma desequilibrada.

Deixar de fazer essa leitura conjugada implica em tra-tar indistintamente todo conhecimento como passível deser apropriado ou mesmo, pensá-lo unicamente por suautilidade e necessidade, tal como vem se estruturando opensamento jurídico dominante.

Atente-se para o fato de que a “Convenção sobre aDiversidade Biológica” designa “comunidades locais” e“populações indígenas” ao invés de “povos indígenas etribais” como faz a Convenção n.º 169. Seriam expressõestransitivas juridicamente, representando uma primeiratentativa de se aproximar das situações que se apresen-tam de forma múltipla e complexa.

Aliás, importa ressaltar que os dispositivos jurídicosinternacionais e nacionais vêm utilizando diferentes ter-mos e expressões com significados praticamente os mes-mos para designar as situações que dizem respeito aosgrupos sociais portadores de identidade étnica e coletiva.

quadro dos termos utilizados pelos dispositivos jurídicos para designar os grupos sociais portadores de identidade étnica e coletiva

N.º de Termo ou expres- Dispositivo ArtigoOrdem são utilizados Jurídico

1 Populações Convenção sobre Preâmbulo;indígenas Diversidade letra j, art. 8°

Biológica – cdb;

2 Populações locais cdb; letra d, art. 10

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Lei n. 9.985, inciso iii, art. 5°;de 18 de julho inciso v, art. 5°; de 2000 – snuc inciso ix, art. 5°

3 Populações snuc art. 18; § 1°,extrativistas art. 18

4 Populações snuc art. 4°; inciso x,tradicionais art. 5°; § 2°,

art. 17; § 5°, art. 17; § 2°, art. 18; art. 20; § 1°, art. 20; § 3°, art. 20; § 4°, art. 20; art. 23; parágrafo único,art. 28; art. 29; art. 32; art. 42; §1.°, art. 42; § 2.°, art. 42

5 Comunidades Medida Provi- art. 4°; art. 8°;indígenas sória n.° 2.186-16 §1°, art. 8°

de 23 de agosto de 2001

6 Comunidades cdb; Preâmbulo; locais letra j, art. 8°

oit, item 3 art. 25

Medida Provi- art. 4°; § 1°, sória n.° 2.186-16 art. 8°de 2001

7 Comunidades Decreto de 27tradicionais de dezembro

de 2004;

Decreto 13de julho de 2006;

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Decreto n.° 6.040, de 7 de fevereiro de 2007

8 Povos indígenas Convenção n.° 169 Preâmbulo;da oit art. 1°; item 1,

art. 3°; art. 32

Convenção sobre a Preâmbulo;Proteção e Promo- item 3, art.2°;ção da Diversidade letra a, item 1, das Expressões art. 7°Culturais;

Decreto n.° 6.040, Inciso II, art. 3°de 2007

9 Povos tribais Convenção n. 169 Preâmbulo; da oit letra a, item 1,

art. 1°; item 1, art. 3°; art. 32; art. 36

10 Povos autóctones Declaração art. 4°Universal sobre Diversidade Cultural;

11 Minorias Declaração art. 4°Universal sobre Diversidade Cultural;

Convenção sobre Preâmbulo;a Proteção e item 3, art. 2°,Promoção da letra a, item 1,Diversidade das art. 7°Expressões Culturais

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A Convenção n.º 169 atribui o mesmo peso aos “povosindígenas” e “tribais’, na medida em que não faz nenhu-ma distinção de tratamento para esses grupos sociais. Man-tendo-os em separado, todavia, alarga as possibilidades demaior abrangência e inclusão de outros grupos sociais.

As situações vivenciadas por esses grupos sociais nãose vinculam necessariamente a um período temporal oua um determinado lugar. O que deve ser considerado noprocesso de identificação é a forma de “criar”, “fazer” e“viver”, independentemente do tempo e do local, im-portando assinalar que referido critério distintivo danoção de “povo” não é o mesmo do direito internacional(item 3 do art. 1.º da Convenção n.º 169).

A consciência de sua identidade indígena ou tribal deve-rá ser considerada como critério fundamental paradeterminar os grupos aos que se aplicam as disposiçõesda presente Convenção (item 2 do art. 1.º)

Para a Convenção, o critério de distinção dos sujeitos é oda consciência, ou seja, da auto-definição. Em outraspalavras, é o que o sujeito diz de si mesmo, em relação aogrupo ao qual pertence. A maneira como se auto-repre-sentam reflete a representação sobre eles por aquelescom que interagem com eles. Nesse sentido, tem provo-cado e promovido de forma deliberada uma verdadeiraruptura no mundo jurídico, que sempre esteve vincula-do aos intérpretes autorizados da Lei.

No Brasil, não há “povos tribais” no sentido estritoem que há em outros países, mas existem grupos sociaisdistintos que vivem na sociedade e essa distintividade éque aproxima da noção de “povos tribais”. O significadode “tribal” aqui deve ser considerado “lato sensu”,

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envolvendo todos os grupos sociais de forma indistinta:seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco, ribei-rinhos, faxinalenses, comunidades de fundos de pastodentre outros grupos.

Desde que os grupos sociais autodesignados comopovos e comunidades tradicionais se definam enquanto taldevem ser “amparados” pela Convenção. A Convenção nãodefine a priori quem são esses “povos indígenas e tribais”,apenas oferece instrumentos para que o próprio sujeito seauto-defina, como o da “consciência de sua identidade”.Neste caso, a Convenção n.º 169 faz acertadamente, poisse definisse de antemão, excluiria uma infinidade depovos e comunidades tradicionais desse dispositivo.

No caso, compete a cada país a decisão sobre quaisgrupos sociais recai a aplicação dessa Convenção.

O Decreto que instituiu a Política Nacional de Desen-volvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradi-cionais, deu o mesmo tratamento a essa discussão, nãodefinindo a priori os povos e comunidades tradicionaisno Brasil, o que possibilita uma maior inclusão dos gru-pos sociais. Para o Decreto:

Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmen-te diferenciados e que se reconhecem como tais, que pos-suem formas próprias de organização social, que ocupame usam territórios e recursos naturais como condiçãopara sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestrale econômica, utilizando conhecimentos, inovações e prá-ticas gerados e transmitidos pela tradição (Inciso I, do art.3.º, do Decreto n. 6.040, 7 de fevereiro de 2007).

Entendo que a Constituição Federal de 1988 dá um tra-tamento especial a essas situações que envolvem os povos

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e as comunidades tradicionais, na medida que reafirmaem diversas passagens os critérios de identidade. A noçãode identidade pode ser extraída de uma leitura criteriosado art. 3, pois o mesmo afirma que a resolução dos pro-blemas regionais (inc. iii do art.) passa pela construçãode uma “sociedade livre”, “justa” e “solidária” (inc. i doart.), sem qualquer tipo de discriminação (inc. iv).

A ocupação e o uso das terras e do território é umoutro aspecto que se relaciona diretamente ao da identi-dade. De acordo com o item 1 do art. 14 da Convenção:“Dever-se-á ser reconhecidos aos povos interessados osdireitos de propriedade e de posse sobre as terras quetradicionalmente ocupam...”

Essa noção de terra, que compreende o conceito deterritório, incluiu uma totalidade que diz respeito: asformas de ocupação e uso da terra e dos recursos natu-rais (item 2 do art. 13); às culturas e valores vinculadosa essa terra ou territórios (item 1 do art. 13); ao direitosobre os recursos naturais existentes. Essa noção abran-ge também o direito desses grupos sociais de “...partici-parem do uso, administração e conservação dos recursosmencionados.” (item 1 do art. 15).

Os povos e as comunidades tradicionais deverão serconsultados através de procedimentos apropriados, mes-mo quando os recursos pertencerem ao Estado, poisdeve-se prever a participação nos benefícios e receberindenização eqüitativa (item 2 do art. 15).

Além disso, o item 1 do art. 14, resguarda a possibili-dade dos povos e comunidades tradicionais a utilizaçãodas terras não ocupadas, que venham sendo utilizadasde forma tradicional. Tal dispositivo muito se aproximado instituto da servidão, que foi utilizado para assegu-rar aos castanheiros, o livre acesso e uso dos castanhais,

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no Estado do Pará. Por meio de um Decreto, o Estadoassegurava aos castanheiros, o uso dos castanhais, queera denominado como “castanhais do povo”.

As hipóteses de remoção das terras tradicionalmenteocupadas, previstas no art. 16 da Convenção se apresen-tam como exceção, sendo que o item 3, do referido arti-go dispõe sobre o direito de voltar as terras tradicional-mente ocupadas , quando deixarem de existir as causasque motivaram os processos de remoção.

Em relação à Convenção n.º 169, dois aspectos aindasão merecedores de nota, já que estão diretamente asso-ciados ao critério da auto-definição. Trata-se do proces-so de participação e de consulta envolvendo os povos ecomunidades tradicionais. Segundo o art. 6º, os gover-nos devem estabelecer os meios para que os povos ecomunidades tradicionais interessados possam partici-par das decisões em todos os níveis no âmbito legislati-vo e administrativo (letra a e b do item 1 do art. 6º). Osmeios, segundo a letra c, implicam em criar condiçõesespecíficas para que esses grupos sociais possam partici-par efetivamente das decisões (inclusive alocando recur-sos, investindo na formação e capacitação e no fortaleci-mento institucional dos grupos...).

Há uma mudança radical no sentido de eliminar qual-quer forma de tutela, sempre presente nos dispositivosjurídicos, que notadamente tem visto esses povos ecomunidades tradicionais como sujeitos inferiorizados,incapazes de discernirem os significados de seus pró-prios atos. Nesta perspectiva, o “princípio da igualdade”passa a ser o pressuposto e não o objetivo a ser alcança-do, uma vez que a emancipação decorre do reconheci-mento da existência da diversidade e das diferenças decultura, que envolvem distintos sujeitos.

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Mais do que isto, entendo que o Estado deverá con-dicionar suas políticas e programas às ações dos grupossociais; deverá, ainda, se estruturar de forma diferencia-da para o atendimento das demandas que são múltiplase complexas, determinando “novas” maneiras de pensá-las. Isso implica que o Estado realize uma mudança naforma de organizar e operacionalizar suas ações, que nãopode ficar restrita as competências administrativas fir-madas previamente.

A importância da Convenção n.º 169, assim como dosinstrumentos acima referidos se verifica na possibilida-de de refletir uma série de políticas, programas e ações.A aplicação efetiva desses dispositivos jurídicos interna-cionais pode e deve significar uma mudança nas estru-turas do Estado, que sempre foram esboçadas e opera-cionalizadas de forma universal, sem deixar margempara o tratamento das diferenças sempre existentes.

Convém destacar um outro artigo que também seencontra diretamente relacionado à afirmação das identi-dades e ao direito de participação dos povos e comunida-des tradicionais, é a previsão contida no item 1 do art. 7.º:

Os povos indígenas e tribais deverão ter o direito de deci-dir sobre suas prioridades no que se refere ao processo dedesenvolvimento na medida em que afete suas vidas,crenças e bem estar espiritual, e às terras que ocupam ouutilizam de alguma forma, e de controlar, na medida dopossível, seu próprio desenvolvimento econômico, sociale cultural. Além disso, deverão participar da formula-ção, implementação e avaliação dos planos e programasde desenvolvimento nacional e regional suscetíveis de osafetar diretamente.

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No caso, identifica-se pelo menos dois pontos impor-tantes: primeiro, o direito do grupo definir o que quer,o que quer para si, ou seja, de definir suas prioridadesquaisquer que sejam; e, segundo, o direito de partici-par de todas discussões que lhes possam afetar direta ouindiretamente.

considerações finais

Como visto, os dispositivos jurídicos internacionais apre-sentam uma atualidade em face das situações vivenciadaspelos povos e comunidades tradicionais no Brasil. O fatode garantir que os sujeitos se definam a partir de sua pró-pria consciência, rompe com uma maneira de pensar odireito, alargando a compreensão das “práticas jurídi-cas”, que se encontram referidas ao campo jurídico.

Ademais, uma leitura das Declarações e das Conven-ções Internacionais possibilita o deslocamento do poderdo direito de dizer o direito, na medida em que “inverteos papéis”, atribuindo aos “operadores do direito” umpapel menos “ativo” e mais “passivo” nesse processo,sobretudo porque cabe ao “operador” reconhecer o quefoi expressamente definido pelos sujeitos. Além disso,esse procedimento que garante o reconhecimento dasdiferenças faz com que ocorra um revigoramento dospovos e comunidades tradicionais, que se mobilizam nosentido de assegurar o reconhecimento de suas especifi-cidades, tidas como imprescindíveis para o desenvolvi-mento da sociedade.

Vale ressaltar que a despeito do processo desenhadono campo jurídico, tem-se a necessidade, a exemplo doque ocorre em outros países, da construção de uma polí-tica jurídica de caráter étnico, que possa contemplar a

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pluralidade de povos e comunidades tradicionais quevivem no Brasil. Aliás, essa postura que implica numa“nova maneira” de pensar as relações e as estruturas doEstado brasileiro, vem sendo desenhada com a edição doDecreto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que institui aPolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável dosPovos e Comunidades Tradicionais.

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Joaquim Shiraishi Neto

Advogado. Professor do ppgdr–uea, pesquisador fapeam e do projeto Nova Cartografia

Social da Amazônia

Page 53: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

Decreto n.º 80.978

de 12 de dezembro de 197726

Promulga a Convenção Relativa à Proteção do Patrimô-nio Mundial, Cultural e Natural, de 1972

O Presidente da República.

Havendo a Convenção Relativa à Proteção do Patrimô-nio Mundial, Cultural e Natural sido adotada em Paris a23 de novembro de 1972, durante a XVII Sessão da Con-ferência Geral da Organização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura;

Havendo o Congresso Nacional aprovado a referidaConvenção, com reserva ao parágrafo 1 do Artigo 16,pelo Decreto Legislativo n.º 74, de 30 de junho de 1977;

Havendo o instrumento brasileiro de aceitação, comreserva indicada, sido depositado junto à Diretoria-Geralda Organização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura em 2 de setembro de 1977;

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26 Retirado do site http://www.cultura.gov.br/legislacao/decretos/index.

php?p=54&more=1&c=1&tb=1&pb=1, em 19 de março de 2007.

Page 54: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

E Havendo a referida Convenção entrado em vigor,para o Brasil, em 2 de dezembro de 1977, decreta:

Que a referida Convenção, apensa por cópia ao pre-sente Decreto, seja, com a mesma reserva, executada ecumprida tão inteiramente como nela se contém.

ERNESTO GEISELAntônio Francisco Azeredo da Silveira

CONVENÇÃO RELATIVA À PROTEÇÃO

DO PATRIMÔNIO MUNDIAL, CULTURAL

E NATURAL

A Conferência Geral da Organização das Nações Unidaspara a Educação, a Ciência e a Cultura, reunida em Parisde 17 de outubro a 21 de novembro de 1972, em suadé-cima sétima sessão,

Verificando que o patrimônio cultural e o patrimônionatural são cada vez mais ameaçados de destruição, nãosomente pelas causas tradicionais de degradação, mastambém pela evolução da vida social e econômica, quese agrava com fenômenos de alteração ou de destruiçãoainda mais temíveis;

Considerando que a degradação ou o desaparecimen-to de um bem do patrimônio cultural e natural constituium empobrecimento nefasto do patrimônio de todos ospovos do mundo;

Considerando que a proteção desse patrimônio em es-cala nacional é freqüentemente incompleta, devido àmagnitude dos meios de que necessita e à insuficiência

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dos recursos econômicos, científicos e técnicos do paísem cujo território se acha o bem a ser protegido;

Tendo em mente que a Constituição da Organizaçãodispõe que esta última ajudará a conservação, o progres-so e a difusão do saber, velando pela preservação e pro-teção do patrimônio universal e recomendando aos povosinteressados convenções internacionais para esse fim;

Considerando que as convenções, recomendações e re-soluções internacionais existentes relativas aos bens cul-turais e naturais demonstram a importância que repre-senta, para todos os povos do mundo, a salvaguarda des-ses bens incomparáveis e insubstituíveis, qualquer queseja o povo a que pertençam;

Considerando que bens do patrimônio cultural e na-tural apresentam um interesse excepcional e, portanto,devem ser preservados como elementos do patrimôniomundial da humanidade inteira;

Considerando que, ante a amplitude e a gravidade dosperigos novos que os ameaçam, cabe a toda a coletivida-de internacional tomar parte na proteção do patrimôniocultural e natural de valor universal excepcional, me-diante a prestação de uma assistência coletiva que, semsubstituir a ação do Estado interessado, a complete efi-cazmente;

Considerando que é indispensável, para esse fim, ado-tar novas disposições convencionais que estabeleçam umsistema eficaz de proteção coletiva do patrimônio cultu-ral e natural de valor universal excepcional, organizadode modo permanente e segundo métodos científicos emodernos, e

Após haver decidido, quando de sua décima sexta ses-são, que esta questão seria objeto de uma convenção in-ternacional,

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Adota neste dia dezesseis de novembro de mil nove-centos e setenta e dois a presente Convenção.

IDefinições do Patrimônio Cultural e Natural

ARTIGO 1Para fins da presente Convenção serão consideradoscomo patrimônio cultural:

– os monumentos: obras arquitetônicas, de esculturaou de pintura monumentais, elementos ou estruturas denatureza arqueológica, inscrições, cavernas e grupos deelementos, que tenham um valor universal excepcionaldo ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

– os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reu-nidas que, em virtude de sua arquitetura, unidade ou in-tegração na paisagem, tenham um valor universal excep-cional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;

– os lugares notáveis: obras do homem ou obras con-jugadas do homem e da natureza, bem como as zonas, in-clusive lugares arqueológicos, que tenham valor univer-sal excepcional do ponto de vista histórico, estético,etnológico ou antropológico.

ARTIGO 2Para os fins da presente Convenção serão consideradoscomo patrimônio natural:

– os monumentos naturais constituídos por formaçõesfísicas e biológicas ou por grupos de tais formações, quetenham valor universal excepcional do ponto de vistaestético ou científico;

– as formações geológicas e fisiográficas e as áreas niti-damente delimitadas que constituam o de espécies animais

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e vegetais ameaçadas e que tenham valor universal excep-cional do ponto de vista da ciência ou da conservação;

– os lugares notáveis naturais ou as zonas naturaisnitidamente delimitadas, que tenham valor universal ex-cepcional do ponto de vista da ciência, da conservaçãoou da beleza natural.

ARTIGO 3Caberá a cada Estado Parte na presente Convenção iden-tificar e delimitar os diferentes bens mencionados nosArtigos 1 e 2 situados em seu território.

IIProteção Nacional e Proteção Internacional

do Patrimônio Cultural e Natural

ARTIGO 4Cada um dos Estados Partes na presente Convenção reco-nhece a obrigação de identificar, proteger, conservar,valorizar e transmitir às futuras gerações o patrimôniocultural e natural mencionado nos Artigos 1 e 2, situadoem seu território, lhe incumbe primordialmente. Procu-rará tudo fazer para esse fim, utilizando ao máximo seusrecursos disponíveis, e, quando for o caso, medianteassistência e cooperação internacional de que possabeneficiar-se, notadamente nos planos financeiro, artís-tico, científico e técnico.

ARTIGO 5A fim de garantir a adoção de medidas eficazes paraa proteção, conservação e valorização do patrimôniocultural e natural situado em seu território, os Estados

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Partes na presente Convenção procurarão na medida dopossível, e nas condições apropriadas a cada país:

a) adotar uma política geral que vise a dar ao patrimô-nio cultural e natural uma função na vida da coletivida-de e a integrar a proteção desse patrimônio nos progra-mas de planificação geral;

b) instituir em seu território, na medida em que nãoexistam, um ou mais serviços de proteção, conservaçãoe valorização do patrimônio cultural e natural, dotadosde pessoal e meios apropriados que lhes permitam reali-zar as tarefas a eles confiadas;

c) desenvolver os estudos e as pesquisas científicas etécnicas e aperfeiçoar os métodos de intervenção quepermitam a um Estado fazer face aos perigos que amea-cem seu patrimônio cultural e natural;

d) tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas,administrativas e financeiras adequadas para a identifi-cação, proteção, conservação, revalorização e reabilita-ção desse patrimônio; e

e) facilitar a criação ou o desenvolvimento de centrosnacionais ou regionais de formação no campo da prote-ção, conservação e revalorização do patrimônio culturale natural e estimular a pesquisa científica nesse campo.

ARTIGO 61. Respeitando plenamente a soberania dos Estados emcujo território esteja situado o patrimônio cultural e na-tural mencionado nos Artigos 1 e 2, e sem prejuízo dosdireitos reais previstos pela legislação nacional sobre talpatrimônio, os Estados Partes na presente Convenção re-conhecem que esse constitui um patrimônio universalem cuja proteção a comunidade internacional inteira temo dever de cooperar.

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2. Os Estados Partes comprometem-se, conseqüentemen-te, e de conformidade com as disposições da presenteConvenção, a prestar o seu concurso para a identificação,proteção, conservação e revalorização do patrimôniocultural e natural mencionados nos parágrafos 2 e 4 doArtigo 11, caso solicite o Estado em cujo território o mes-mo esteja situado.3. Cada um dos Estados Partes na presente Convençãoobriga-se a não tomar deliberadamente qualquer medi-da suscetível de pôr em perigo, direta ou indiretamente,o patrimônio cultural e natural mencionado nos Artigos1 e 2 que esteja situado no território de outros EstadosPartes nesta Convenção.

ARTIGO 7Para os fins da presente Convenção, entender-se-á porproteção internacional do patrimônio mundial, culturale natural o estabelecimento de um sistema de cooperaçãoe assistência internacional destinado a secundar os Esta-dos Partes na Convenção nos esforços que desenvolvamno sentido de preservar e identificar esse patrimônio.

IIIComitê Intergovernamental da Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural

ARTIGO 81. Fica criado junto à Organização das Nações Unidaspara a Educação, a Ciência e a Cultura um Comitê Inter-governamental da Proteção do Patrimônio Cultural enatural de Valor Universal Excepcional, denominadoMundial. Compor-se-á de 15 (quinze) Estados Partes nes-ta Convenção, eleitos pelos Estados na Convenção reuni-

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dos em Assembléia-Geral durante as sessões ordináriasda Conferência Geral da Organização das Nações Unidaspara a Educação, a Ciência e a Cultura. O número dos Esta-dos-Membros do Comitê será aumentado para 21 (vintee um) a partir da sessão ordinária da Conferência Geralque se seguir à entrada em vigor, para 40 (quarenta) oumais Estados, da presente Convenção.2. A eleição dos membros do Comitê deverá garantir umarepresentação eqüitativa das diferentes regiões e cul-turas do mundo.3. Assistirão às reuniões do Comitê, com voto consulti-vo, um representante do Centro Internacional de Estu-dos para a Conservação e Restauração dos Bens Culturais(Centro de Roma), um representante do Conselho Inter-nacional de Monumentos e Lugares de Interesse Artís-tico e Histórico (icomos) e um representante da UniãoInternacional para a Conservação da Natureza e de seusRecursos (uicn), aos quais poderão juntar-se, a pedidodos Estados Partes reunidos em Assembléia-Geral du-rante as sessões ordinárias da Conferência Geral da Orga-nização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência ea Cultura, representantes de outras organizações inter-governamentais ou não governamentais que tenhamobjetivos semelhantes.

ARTIGO 91. Os Estados-Membros do Comitê do Patrimônio Mun-dial exercerão seu mandato a partir do término da sessãoordinária da Conferência Geral em que hajam sido elei-tos até o término da terceira sessão ordinária seguinte.2. No entanto, o mandato de um terço dos membros de-signados por ocasião da primeira eleição expirará ao tér-mino da primeira sessão ordinária da Conferência Geral

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que se seguir àquela em que tenham sido eleitos, e o man-dato de outro terço dos membros designados ao mesmotempo expirará ao término da segunda sessão ordináriada Conferência Geral que se seguir àquela em que hajamsido eleitos. Os nomes desses membros serão sorteadospelo Presidente da Conferência Geral após a primeiraeleição.3. Os Estados-Membros do Comitê escolherão para repre-sentá-los pessoas qualificadas no campo do patrimôniocultural ou do patrimônio natural.

ARTIGO 101. O Comitê do Patrimônio Mundial aprovará seu regi-mento interno.2. O Comitê poderá a qualquer tempo convidar para suasreuniões organizações públicas ou privadas, bem comopessoas físicas, para consultá-las sobre determinadasquestões.3. O Comitê poderá criar órgãos consultivos que julgarnecessários para a realização de suas tarefas.

ARTIGO 111. Cada um dos Estados Partes na presente Convençãoapresentará, na medida do possível, ao Comitê do Patri-mônio Mundial um inventário dos bens do patrimôniocultural e natural situados em seu território que possamser incluídos na lista mencionada no parágrafo 2 do pre-sente artigo. Esse inventário, que não será consideradocomo exaustivo, deverá conter documentação sobre olocal onde estão situados esses bens e sobre o interesseque apresentem.2. Com base no inventário apresentado pelos Estados, emconformidade com o parágrafo 1, o Comitê organizará,

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manterá em dia e publicará, sob o título de, uma lista dosbens do patrimônio cultural e natural, tais como defini-dos nos Artigos 1 e 2 da presente Convenção, que consi-dere como tendo valor universal excepcional segundo oscritérios que haja estabelecido. Uma lista atualizada serádistribuída pelo menos uma vez a cada dois anos.3. A inclusão de um bem na Lista do Patrimônio Mun-dial não poderá ser feita sem o consentimento do Estadointeressado. A inclusão de um bem situado num territó-rio que seja objeto de reivindicação de soberania oujurisdição por parte de vários Estados não prejudicaráem absoluto os direitos das partes em litígio.4. O Comitê organizará, manterá em dia e publicará, quan-do o exigirem as circunstâncias, sob o título , uma lista dosbens constantes da Lista do Patrimônio Mundial para cujasalvaguarda sejam necessários grandes trabalhos e para osquais haja sido pedida assistência, nos termos da presen-te Convenção. Nessa lista será indicado o custo aproxima-do das operações. Em tal lista somente poderão ser incluí-dos os bens do patrimônio cultural e natural que estejamameaçados de perigos sérios e concretos, tais como amea-ça de desaparecimento devido a degradação acelerada,projetos de grandes obras públicas ou privadas, rápidodesenvolvimento urbano e turístico, destruição devida amudança de utilização ou de propriedade de terra, altera-ções profundas devidas a uma causa desconhecida, aban-dono por quaisquer razões, conflito armado que hajairrompido ou ameaçe irromper, catástrofes e cataclismas,grandes incêndios, terremotos, deslizamentos de terreno,erupções vulcânicas, alteração do nível das águas, inun-dações e maremotos. Em caso de urgência, poderá o Comi-tê, a qualquer tempo, incluir novos bens na Lista do Patri-mônio Mundial e dar a tal inclusão uma difusão imediata.

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5. O Comitê definirá os critérios com base nos quais umbem do patrimônio cultural ou natural poderá ser incluí-do em uma ou outra das listas mencionadas nos parágra-fos 2 e 4 do presente Artigo.6. Antes de recusar um pedido de inclusão de um bemnuma das duas listas mencionadas nos parágrafos 2 e 4do presente artigo, o Comitê consultará o Estado Parteem cujo território se encontrar o bem do patrimônio cul-tural ou natural em causa.7. O Comitê, com a concordâncias dos Estados interessa-dos, coordenará e estimulará os estudos e pesquisas ne-cessários para a composição das listas mencionadas nosparágrafos 2 e 4 do presente Artigo.

ARTIGO 12O fato de que um bem do patrimônio cultural ou natu-ral não haja sido incluído numa ou outra das duas listasmencionadas nos parágrafos 2 e 4 do Artigo 11 não sig-nificará, em absoluto, que ele não tenha valor universalexcepcional para fins distintos dos que resultam dainclusão nessas listas.

ARTIGO 131. O Comitê do Patrimônio Mundial receberá e estudaráos pedidos de assistência internacional formulados pelosEstados Partes na presente Convenção no que diz respei-to aos bens do patrimônio cultural e natural situados emseus territórios, que figurem ou sejam suscetíveis de figu-rar nas listas mencionadas nos parágrafos 2 e 4 do Artigo11. Esses pedidos poderão ter por objeto a proteção, a con-servação, a revalorização ou a reabilitação desses bens.2. Os pedidos de assistência internacional em conformi-dade com o parágrafo 1 do presente artigo poderão tam-

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bém ter por objeto a identificação dos bens do patrimô-nio cultural e natural definidos nos Artigos 1 e 2 quando as pesquisas preliminares demonstrarem que mere-cem ser prosseguidas.3. O Comitê decidirá sobre tais pedidos, determinará,quando for o caso, a natureza e a amplitude de sua assis-tência e autorizará a conclusão, em seu nome, dos acor-dos necessários com o Governo interessado.4. O Comitê estabelecerá uma ordem de prioridade parasuas intervenções. Fá-lo-á tomando em consideração aimportância respectiva dos bens a serem salvaguardadospara o patrimônio cultural e natural, a necessidade de as-segurar a assistência internacional aos bens mais repre-sentativos da natureza ou do gênio e a história dos povosdo mundo, a urgência dos trabalhos que devem ser em-preendidos, a importância dos recursos dos Estados emcujo território se achem os bens ameaçados e, em parti-cular, a medida em que esses poderiam assegurar a sal-vaguarda desses bens por seus próprios meios.5. O Comitê organizará, manterá em dia e difundirá umalista dos bens para os quais uma assistência internacio-nal houver sido fornecida.6. O Comitê decidirá sobre a utilização dos recursos doFundo criado em virtude do disposto no Artigo 15 dapresente Convenção. Procurará os meios de aumentar-lheos recursos e tomará todas as medidas que para tanto sefizerem necessárias.7. O Comitê cooperará com as organizações internacio-nais e nacionais, governamentais e não governamentais,que tenham objetivos semelhantes aos da presente Con-venção. Para elaborar seus programas e executar seusprojetos, o Comitê poderá recorrer a essas organizaçõese, em particular, ao Centro Internacional de Estudos para

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a Conservação e Restauração dos Bens Culturais (Centrode Roma), ao Conselho Internacional dos Monumentose Lugares Históricos (icomos), e à União Internacionalpara a Conservação da Natureza e de seus Recursos(uicn), bem como a outras organizações públicas ou pri-vadas e a pessoas físicas.8. As decisões do Comitê serão tomadas por maioria dedois terços dos membros presentes e votantes. Constitui-rá a maioria dos membros do Comitê.

ARTIGO 141. O Comitê do Patrimônio Mundial será assistido por umsecretário nomeado pelo Diretor-Geral da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.2. O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidaspara a Educação, a Ciência e a Cultura, utilizando, o maispossível, os serviços do Centro Internacional de Estudospara a Conservação e a Restauração dos Bens Culturais(Centro de Roma), do Conselho Internacional dos Monu-mentos e Lugares Históricos (icomos) e da União Inter-nacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos(uicn), dentro de suas competências e possibilidades res-pectivas, preparará a documentação do Comitê, a agendade suas reuniões e assegurará a execução de suas decisões.

IVFundo para a Proteção do Patrimônio Mundial,

Cultural e Natural

ARTIGO 151. Fica criado um Fundo para a Proteção do PatrimônioMundial, Cultural e Natural de Valor Universal Excep-cional, denominado.

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2. O Fundo será constituído como fundo fiduciário, emconformidade com o Regulamento Financeiro da Orga-nização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência ea Cultura.3. Os recursos do Fundo serão constituídos:

a) pelas contribuições obrigatórias e pelas contri-buições voluntárias dos Estados Partes na presenteConvenção;

b) pelas contribuições, doações ou legados que pos-sam fazer;

i) outros Estados;ii) a Organização dasNações Unidas para a Educa-

ção, a Ciência e a Cultura, as outrasorganizações dosistema das Nações Unidas, notadamente o Programade Desenvolvimento das Nações Unidas e outras Orga-nizaçõesintergovernamentais, e

iii) órgãos públicos ou privados ou pessoas físicas.c) por quaisquer juros produzidos pelos recursos do

Fundo;d) pelo produto das coletas e pelas receitas oriundas

de manifestações realizadas em proveito do Fundo, ee) por quaisquer outros recursos autorizados pelo

Regulamento do Fundo, a ser elaborado pelo Comitê doPatrimônio Mundial.4. As contribuições ao Fundo e as demais formas de as-sistência fornecidas ao Comitê somente poderão serdestinadas aos fins por ele definidos. O Comitê poderáaceitar contribuições destinadas a um determinado pro-grama ou a um projeto concreto, contanto que o Comitêhaja decidido pôr em prática esse programa ou executaresse projeto. As contribuições ao Fundo não poderão seracompanhadas de quaisquer condições políticas.

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ARTIGO 161. Sem prejuízo de qualquer contribuição voluntáriacomplementar, os Estados Partes na presente Convençãocomprometem-se a pagar regularmente, de dois em doisanos, ao Fundo do Patrimônio Mundial, contribuiçõescujo montante calculado segundo uma percentagem uni-forme aplicável a todos os Estados, será decidido pela As-sembléia-Geral dos Estados Partes na Convenção, reuni-dos durante as sessões da Conferência Geral da Organi-zação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e aCultura. Essa decisão da Assembléia-Geral exigirá amaioria dos Estados Partes presentes votantes que nãohouverem feito a declaração mencionada no parágrafo 2do presente Artigo. Em nenhum caso poderá a contribui-ção dos Estados Partes na Convenção ultrapassar 1% (umpor cento) de sua contribuição ao Orçamento Ordinárioda Organização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura.2. Todavia, qualquer dos Estados a que se refere o Arti-go 31 ou o Artigo 32 da presente Convenção poderá, nomomento do depósito de seu instrumento de ratificação,aceitação ou adesão, declarar que não se obriga pelas dis-posições do parágrafo 1 do presente Artigo.3. Um Estado Parte na Convenção que houver feito a de-claração a que se refere o parágrafo 2 do presente Artigopoderá a qualquer tempo, retirar dita declaração me-diante notificação ao Diretor-Geral da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Noentanto, a retirada da declaração somente terá efeitosobre a contribuição obrigatória devida por esse Estadoa partir da data da Assembléia-Geral dos Estados Partesque se seguir a tal retirada.

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4. Para que o Comitê esteja em condições de prever suasoperações de maneira eficaz, as contribuições dos Esta-dos Partes na presente Convenção que houverem feito adeclaração mencionada no parágrafo 2 do presente Arti-go terão de ser entregues de modo regular, pelo menosde dois em dois anos, e não deverão ser inferiores às con-tribuições que teriam de pagar se tivessem se obrigadopelas disposições do parágrafo 1 do presente Artigo.5. Um Estado Parte na Convenção que estiver em atrasono pagamento de sua contribuição obrigatória ou volun-tária, no que diz respeito ao ano em curso e ao ano civilimediatamente anterior, não é elegível para o Comitê doPatrimônio Mundial, não se aplicando esta disposiçãopor ocasião da primeira eleição. Se tal Estado já for mem-bro do Comitê, seu mandato se extinguirá no momentoem que se realizem as eleições previstas no Artigo 8,parágrafo 1, da presente Convenção.

ARTIGO 17Os Estados Partes napresente Convenção considerarãoou favorecerão a criação de fundaçõesou de associaçõesnacionais públicas ou privadas que tenham por fimestimular as liberalidades em favor da proteção do patri-mônio cultural e natural definido nos Artigos 1 e 2 dapresente Convenção.

ARTIGO 18Os Estados Partes na presente Convenção prestarão seuconcurso às campanhas internacionais de coleta queforem organizadas em benefício do Fundo do PatrimônioMundial sob os auspícios da Organização das NaçõesUnidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Facilita-

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rão as coletas feitas para esses fins pelos órgãos mencio-nados no parágrafo 3, Artigo 15.

VCondições e Modalidades da Assistência

Internacional

ARTIGO 19Qualquer Estado Parte na presente Convenção poderápedir assistência internacional em favor de bens do pa-trimônio cultural ou natural de valor universal excep-cional situados em seu território. Deverá juntar a seu pe-dido os elementos de informação e os documentos pre-vistos no Artigo 21 de que dispuser e de que o Comitêtenha necessidade para tomar sua decisão.

ARTIGO 20Ressalvada as disposições do parágrafo 2 do Artigo 13,da alínea “c” do Artigo 22 e do Artigo 23, a assistênciainternacional prevista pela presente Convenção somen-te poderá ser concedida a bens do patrimônio cultural enatural que o Comitê do Patrimônio Mundial haja deci-dido ou decida fazer constar numa das listas menciona-das nos parágrafos 2 e 4 do Artigo 11.

ARTIGO 211. O Comitê do Patrimônio Mundial determinará a for-ma de exame dos pedidos de assistência internacionalque é chamado a fornecer e indicará notadamente os ele-mentos que deverão constar ao pedido, o qual deverádescrever a operação projetada, os trabalhos necessários,uma estimativa de seu custo, sua urgência e as razõespelas quais os recursos do Estado solicitante não lhe per-

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mitam fazer face à totalidade da despesa. Os pedidosdeverão, sempre que possível, apoiar-se em parecer deespecialistas.2. Em razão dos trabalhos que se tenha de empreendersem demora, os pedidos com base em calamidades natu-rais ou em catástrofes naturais deverão ser examinadoscom urgência e prioridade pelo Comitê, que deverá dis-por de um fundo de reserva para tais eventualidades.3. Antes de tomar uma decisão, o Comitê procederá aosestudos e consultas que julgar necessários.

ARTIGO 22A assistência prestada pelo Comitê do Patrimônio Mun-dial poderá tomar as seguintes formas:

a) estudos sobre os problemas artísticos, científicos etécnicos levantados pela proteção, conservação, revalo-rização e reabilitação do patrimônio cultural e natural,tal como definido nos parágrafos 2 e 4 do Artigo 11 dapresente Convenção;

b) serviços de peritos, de técnicos e de mão-de-obraqualificada para velar pela boa execução do projetoaprovado;

c) formação de especialistas de todos os níveis emmatéria de identificação, proteção, observação, revalori-zação e reabilitação do patrimônio cultural e natural;

d) fornecimento do equipamento que o Estado interes-sado não possua ou não esteja em condições de adquirir;

e) empréstimos a juros reduzidos, sem juros, ou reem-bolsáveis a longo prazo;

f) concessão, em casos excepcionais e especialmentemotivados de subvenções não reembolsáveis.

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ARTIGO 23O Comitê do Patrimônio Mundial poderá igualmente for-necer uma assistência internacional a centros nacionaisou regionais de formação de especialistas de todos osníveis em matéria de identificação, proteção, conserva-ção, revalorização e reabilitação do patrimônio culturale natural.

ARTIGO 24Uma assistência internacional de grande vulto somentepoderá ser concedida após um estudo científico, econô-mico e técnico pormenorizado. Esse estudo deverárecorrer às mais avançadas técnicas de proteção, conser-vação, revalorização e reabilitação do patrimônio cultu-ral e natural e corresponder aos objetivos da presenteConvenção. O estudo deverá também procurar os meiosde utilizar racionalmente os recursos disponíveis noEstado interessado.

ARTIGO 25O financiamento dos trabalhos necessários não deverá, emprincípio, incumbir à comunidade internacional senãoparcialmente. A participação do Estado que se beneficiarda assistência internacional deverá constituir uma partesubstancial dos recursos destinados a cada programa ouprojeto, salvo se seus recursos não o permitirem.

ARTIGO 26O Comitê do PatrimônioMundial e o Estado beneficiáriodeterminarão no acordo que concluírem as condições emque será executado um programa ou projeto para o qualfor fornecida assistência internacional nos termos da pre-sente Convenção. Incumbirá ao Estado que receber essa

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assistência internacional continuar a proteger, conservare revalorizar os bens assim salvaguardados, em con-formidade com as condições estabelecidas no acordo.

VIProgramas Educativos

ARTIGO 271. Os Estados Partes napresente Convenção procurarãopor todos os meios apropriados, especialmente por pro-gramas de educação e de informação, fortalecer a apre-ciação e o respeito de seus povos pelo patrimônio cultu-ral e natural definido nos Artigos 1 e 2 da Convenção.2. Obrigar-se-ão a informar amplamente o público sobreas ameaças que pesem sobre esse patrimônio e sobre asatividades empreendidas em aplicação da presenteConvenção.

ARTIGO 28Os Estados Partes na presente Convenção que receberemassistência internacional em aplicação da Convençãotomarão as medidas necessárias para tornar conhecidosa importância dos bens que tenham sido objeto dessaassistência e o papel que esta houver desempenhado.

VIIRelatórios

ARTIGO 291. Os Estados Partes na presente Convenção indicarãonos relatórios que apresentarem à Conferência Geral daOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura, nas datas e na forma que esta determinar,

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as disposições legislativas e regulamentares e as outrasmedidas que tiverem adotado para a aplicação da Con-venção, bem como a experiência que tiverem adquiridoneste campo.2. Esses relatórios serão levados ao conhecimento do Co-mitê do Patrimônio Mundial.3. O Comitê apresentará um relatório de suas atividadesem cada uma das sessões ordinárias da Conferência Geralda Organização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura.

VIIICláusulas Finais

ARTIGO 30A presente Convenção foi redigida em inglês, árabe, es-panhol, francês e russo, sendo os cinco textos igualmen-te autênticos.

ARTIGO 311. A presente Convenção será submetida à ratificação ouà aceitação dos Estados-Membros da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, naforma prevista por suas constituições.2. Os instrumentos de ratificação ou aceitação serãodepositados junto ao Diretor-Geral da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

ARTIGO 321. A presente Convençãoficará aberta à assinatura detodos os Estados não membros da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura que

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forem convidados a aderir a ela pela Conferência Geralda Organização.2. A adesão será feita pelo depósito de um instrumentode adesão junto ao Diretor-Geral da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

ARTIGO 33A presente Convenção entrará em vigor 3 (três) mesesapós a data do depósito do vigésimo instrumento de ra-tificação, aceitação ou adesão, mas somente com relaçãoaos Estados que houverem depositados seus respectivosinstrumentos de ratificação, aceitação ou adesão nessadata ou anteriormente. Para os demais estados, entraráem vigor 3 (três) meses após o depósito do respectivo ins-trumento de ratificação, aceitação ou adesão.

ARTIGO 34Aos Estados Partes na presente Convenção que tenhamum sistema constitucional federativo ou não unitárioaplicar-se-ão as seguintes disposições:

a) no que diz respeito às disposições da presente Con-venção cuja execução seja objeto da ação legislativa doPoder Legislativo federal ou central, as obrigações doGoverno federal ou central serão as mesmas que as dosEstados Partes que não sejam Estados federativos;

b) no que diz respeito às disposições desta Convençãocuja execução seja objeto da ação legislativa de cada umdos Estados, países, províncias ou cantões constituintes,que não sejam, em virtude do sistema constitucional dafederação, obrigados a tomar medidas legislativas, o Go-verno federal levará, com seu parecer favorável ditas dis-posições ao conhecimento das autoridades competentesdos Estados, países, províncias ou cantões.

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ARTIGO 351. Cada Estado Parte na presente Convenção terá a facul-dade de denunciá-la.2. A denúncia será notificada por instrumento escritodepositado junto ao Diretor-Geral da Organização dasNações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.3. A denúncia terá efeito 12 (doze) meses após o recebi-mento do instrumento de denúncia. Não modificará emnada as obrigações financeiras a serem assumidas peloEstado denunciante, até a data em que a retirada se tor-nar efetiva.

ARTIGO 36O Diretor-Geral da Organização das Nações Unidas paraa Educação, a Ciência e a Cultura informará os Estados-Membros da Organização, os Estados não-Membrosmencionados no Artigo 32, bem como a Organização dasNações Unidas, do depósito de todos os instrumentos deratificação, aceitação ou adesão a que se referem os Arti-gos 31 e 32, e das denúncias previstas no Artigo 35.

ARTIGO 371. A presente Convenção poderá ser revista pela Confe-rência Geral da Organização das Nações Unidas para aEducação, a Ciência e a Cultura. No entanto, a revisão so-mente obrigará os Estados que se tornarem partes naConvenção revista.2. Caso a Conferência Geral venha a adotar uma nova Con-venção que constitua uma revisão, total ou parcial da pre-sente Convenção, e a menos que a nova Convenção dis-ponha de outra forma a presente Convenção deixará deestar aberta à ratificação, a aceitação ou a adesão, a partirda data de entrada em vigor da nova Convenção revista.

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ARTIGO 38Em conformidade com o Artigo 102 da Carta das NaçõesUnidas, a presente Convenção será registrada no Secreta-riado das Nações Unidas a pedido do Diretor-Geral daOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura.

Feito em Paris, neste dia Vinte e três de novembro demil novecentos e setenta e dois, em dois exemplares au-tênticos assinados pelo Presidente da Conferência Geral,reunida em sua décima sexta sessão, e pelo Diretor-Geralda Organização das Nações Unidas para a Educação, aCiência e a Cultura, os quais serão depositados nos arqui-vos da Organização das Nações Unidas para a Educação,a Ciência e a Cultura e cujas cópias autenticadas serãoentregues a todos os Estados mencionados nos Artigos31 e 32, bem como à Organização das Nações Unidas.

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Decreto n.º 2.519

de 16 de março de 1998 27

Promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica, assi-nada no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1992.

O Presidente da República, no uso das atribuições quelhe confere o art. 84, inciso viii, da Constituição,

Considerando que a Convenção sobre DiversidadeBiológica foi assinada pelo Governo brasileiro no Rio deJaneiro, em 5 de junho de 1992;

Considerando que o ato multilateral em epígrafe foioportunamente submetido ao Congresso Nacional, que oaprovou por meio do Decreto Legislativo n.º 2, de 3 defevereiro de 1994;

Considerando que Convenção em tela entrou em vigorinternacional em 29 de dezembro de 1993;

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27. Retirado do site www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2519.htm,

em 19 de abril de 2007. Texto da Convenção retirado do site http://www.

mma.gov.br/port/sbf/chm/cdb/decreto1.html, em 19 de abril de 2007.

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Considerando que o Governo brasileiro depositou oinstrumento de ratificação da Convenção em 28 de feve-reiro de 1994, passando a mesma a vigorar, para o Brasil,em 29 de maio de 1994, na forma de seu artigo 36,

Decreta:Art. 1.º A Convenção sobre Diversidade Biológica, assi-nada no Rio de Janeiro, em 5 de junho de 1992, apensapor cópia ao presente Decreto, deverá ser executada tãointeiramente como nela se contém.

Art. 2.º O presente Decreto entra em vigor na data desua publicação.

Brasília, 16 de março de 1998; 177 º da Independênciae 110 º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSOLuiz Felipe Lampreia

CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Preâmbulo

As Partes Contratantes,

Conscientes do valor intrínseco da diversidade biológi-ca e dos valores ecológico, genético, social, econômico,científico, educacional, cultural, recreativo e estético dadiversidade biológica e de seus componentes:

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Conscientes, também, da importância da diversidadebiológica para a evolução e para a manutenção dos siste-mas necessários à vida da biosfera,

Afirmando que a conservação da diversidade bioló-gica é uma preocupação comum à humanidade,

Reafirmando que os Estados têm direitos soberanossobre os seus próprios recursos biológicos,

Reafirmando, igualmente, que os Estados são respon-sáveis pela conservação de sua diversidade biológica epela utilização sustentável de seus recursos biológicos,

Preocupados com a sensível redução da diversidadebiológica causada por determinadas atividades humanas,

Conscientes da falta geral de informação e de conhe-cimento sobre a diversidade biológica e da necessidadeurgente de desenvolver capacitação científica, técnica einstitucional que proporcione o conhecimento funda-mental necessário ao planejamento e implementação demedidas adequadas,

Observando que é vital prever, prevenir e combaterna origem as causas da sensível redução ou perda dadiversidade biológica,

Observando também que quando exista ameaça desensível redução ou perda de diversidade biológica, afalta de plena certeza científica não deve ser usada comorazão para postergar medidas para evitar ou minimizaressa ameaça,

Observando igualmente que a exigência fundamentalpara a conservação da diversidade biológica é a conser-vação in situ dos ecossistemas e dos hábitats naturais e amanutenção e recuperação de populações viáveis deespécies no seu meio natural,

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Observando ainda que medidas ex situ, preferivel-mente no país de origem, desempenham igualmente umimportante papel,

Reconhecendo a estreita e tradicional dependência derecursos biológicos de muitas comunidades locais epopulações indígenas com estilos de vida tradicionais, eque é desejável repartir eqüitativamente os benefíciosderivados da utilização do conhecimento tradicional, deinovações e de práticas relevantes à conservação dadiversidade biológica e à utilização sustentável de seuscomponentes,

Reconhecendo, igualmente, o papel fundamental damulher na conservação e na utilização sustentável dadiversidade biológica e afirmando a necessidade da ple-na participação da mulher em todos os níveis de formu-lação e execução de políticas para a conservação dadiversidade biológica,

Enfatizando a importância e a necessidade de promo-ver a cooperação internacional, regional e mundial entreos Estados e as organizações intergovernamentais e o setornão-governamental para a conservação da diversidadebiológica e a utilização sustentável de seus componentes,

Reconhecendo que cabe esperar que o aporte de re-cursos financeiros novos e adicionais e o acesso adequa-do às tecnologias pertinentes possam modificar sensivel-mente a capacidade mundial de enfrentar a perda dadiversidade biológica,

Reconhecendo, ademais, que medidas especiais sãonecessárias para atender as necessidades dos países emdesenvolvimento, inclusive o aporte de recursos finan-ceiros novos e adicionais e o acesso adequado às tecno-logias pertinentes,

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Observando, nesse sentido, as condições especiais dospaíses de menor desenvolvimento relativo e dos peque-nos Estados insulares,

Reconhecendo que investimentos substanciais sãonecessários para conservar a diversidade biológica e quehá expectativa de um amplo escopo de benefícios am-bientais, econômicos e sociais resultantes desses investi-mentos,

Reconhecendo que o desenvolvimento econômico esocial e a erradicação da pobreza são as prioridades pri-mordiais e absolutas dos países em desenvolvimento,

Conscientes de que a conservação e a utilização sus-tentável da diversidade biológica é de importância abso-luta para atender as necessidades de alimentação, de saú-de e de outra natureza da crescente população mundial,para o que são essenciais o acesso a e a repartição de re-cursos genéticos e tecnologia,

Observando, enfim, que a conservação e a utilizaçãosustentável da diversidade biológica fortalecerão as rela-ções de amizade entre os Estados e contribuirão para apaz da humanidade,

Desejosas de fortalecer e complementar instrumentosinternacionais existentes para a conservação da diversi-dade biológica e a utilização sustentável de seus compo-nentes, e

Determinadas a conservar e utilizar de forma susten-tável a diversidade biológica para benefício das geraçõespresentes e futuras,Convieram no seguinte: 42 artigos e dois anexos

ARTIGO 1 – OBJETIVOS

Os objetivos desta Convenção, a serem cumpridos deacordo com as disposições pertinentes, são a conserva-

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ção da diversidade biológica, a utilização sustentável deseus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos be-nefícios derivados da utilização dos recursos genéticos,mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos gené-ticos e a transferência adequada de tecnologias pertinen-tes, levando em conta todos os direitos sobre tais recur-sos e tecnologias, e mediante financiamento adequado.

ARTIGO 2 – UTILIZAÇÃO DE TERMOS

Para os propósitos desta Convenção:“Área protegida” significa uma área definida geogra-

ficamente que é destinada, ou regulamentada, e adminis-trada para alcançar objetivos específicos de conservação.

“Biotecnologia” significa qualquer aplicação tecnoló-gica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos,ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtosou processos para utilização específica.

“Condições in situ” significa as condições em querecursos genéticos existem em ecossistemas e hábitatsnaturais e, no caso de espécies domesticadas ou cultiva-das, nos meios onde tenham desenvolvido suas proprie-dades características.

“Conservação ex situ” significa a conservação de com-ponentes da diversidade biológica fora de seus hábitatsnaturais.

“Conservação in situ” significa a conservação de ecos-sistemas e hábitats naturais e a manutenção e recupera-ção de populações viáveis de espécies em seus meios na-turais e, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas,nos meios onde tenham desenvolvido suas propriedadescaracterísticas.

“Diversidade biológica” significa a variabilidade deorganismos vivos de todas as origens, compreendendo,

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dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos eoutros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicosde que fazem parte; compreendendo ainda a diversida-de dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

“Ecossistema” significa um complexo dinâmico decomunidades vegetais, animais e de microorganismos e oseu meio inorgânico que interagem como uma unidadefuncional.

“Espécie domesticada ou cultivada” significa espécieem cujo processo de evolução influiu o ser humano paraatender suas necessidades.

“Hábitat” significa o lugar ou tipo de local onde umorganismo ou população ocorre naturalmente.

“Material genético” significa todo material de origemvegetal, animal, microbiana ou outra que contenha uni-dades funcionais de hereditariedade.

“Organização regional de integração econômica” sig-nifica uma organização constituída de Estados soberanosde uma determinada região, a que os Estados membrostransferiram competência em relação a assuntos regidospor esta Convenção, e que foi devidamente autorizada,conforme seus procedimentos internos, a assinar, ratifi-car, aceitar, aprovar a mesma e a ela aderir.

“País de origem de recursos genéticos” significa o paísque possui esses recursos genéticos em condições in situ.

“País provedor de recursos genéticos” significa o paísque provê recursos genéticos coletados de fontes in situ,incluindo populações de espécies domesticadas e silves-tres, ou obtidas de fontes ex situ, que possam ou não tersido originados nesse país.

“Recursos biológicos” compreende recursos genéti-cos, organismos ou partes destes, populações, ou qual-

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quer outro componente biótico de ecossistemas, de realou potencial utilidade ou valor para a humanidade.

“Recursos genéticos” significa material genético devalor real ou potencial.

“Tecnologia” inclui biotecnologia.“Utilização sustentável” significa a utilização de com-

ponentes da diversidade biológica de modo e em ritmotais que não levem, no longo prazo, à diminuição da di-versidade biológica, mantendo assim seu potencial paraatender as necessidades e aspirações das gerações pre-sentes e futuras.

ARTIGO 3 – PRINCÍPIO

Os Estados, em conformidade com a Carta das NaçõesUnidas e com os princípios de Direito internacional, têmo direito soberano de explorar seus próprios recursossegundo suas políticas ambientais, e a responsabilidadede assegurar que atividades sob sua jurisdição ou con-trole não causem dano ao meio ambiente de outros Esta-dos ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.

ARTIGO 4 – ÂMBITO JURISDICIONAL

Sujeito aos direitos de outros Estados, e a não ser que deoutro modo expressamente determinado nesta Conven-ção, as disposições desta Convenção aplicam-se em rela-ção a cada Parte Contratante:

a) No caso de componentes da diversidade biológica,nas áreas dentro dos limites de sua jurisdição nacional; e

b) No caso de processos e atividades realizadas sob suajurisdição ou controle, independentemente de ondeocorram seus efeitos, dentro da área de sua jurisdiçãonacional ou além dos limites da jurisdição nacional.

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ARTIGO 5 – COOPERAÇÃO

Cada Parte Contratante deve, na medida do possível econforme o caso, cooperar com outras Partes Contratan-tes, diretamente ou, quando apropriado, mediante orga-nizações internacionais competentes, no que respeita aáreas além da jurisdição nacional e em outros assuntosde mútuo interesse, para a conservação e a utilização sus-tentável da diversidade biológica.

ARTIGO 6 – MEDIDAS GERAIS PARA A CONSERVAÇÃO E

A UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL

Cada Parte Contratante deve, de acordo com suas pró-prias condições e capacidades:

a) Desenvolver estratégias, planos ou programas paraa conservação e a utilização sustentável da diversidadebiológica ou adaptar para esse fim estratégias, planos ouprogramas existentes que devem refletir, entre outrosaspectos, as medidas estabelecidas nesta Convenção con-cernentes à Parte interessada; e

b) integrar, na medida do possí;vel e conforme o caso,a conservação e a utilização sustentável da diversidadebiológica em planos, programas e políticas setoriais ouintersetoriais pertinentes.

ARTIGO 7 – IDENTIFICAÇÃO E MONITORAMENTO

Cada Parte Contratante deve, na medida do possível econforme o caso, em especial para os propósitos dosarts. 8 a 10:

a) Identificar componentes da diversidade biológicaimportantes para sua conservação e sua utilização susten-tável, levando em conta a lista indicativa de categoriasconstante no ;

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b) Monitorar, por meio de levantamento de amostrase outras técnicas, os componentes da diversidade bioló-gica identificados em conformidade com a alínea (a) aci-ma, prestando especial atenção aos que requeiram urgen-temente medidas de conservação e aos que ofereçam omaior potencial de utilização sustentável;

c) Identificar processos e categorias de atividades quetenham ou possam ter sensíveis efeitos negativos na con-servação e na utilização sustentável da diversidade bio-lógica, e monitorar seus efeitos por meio de levantamen-to de amostras e outras técnicas; e

d) Manter e organizar, por qualquer sistema, dadosderivados de atividades de identificação e monitoramen-to em conformidade com as alíneas (a), (b) e (c) acima.

ARTIGO 8 – CONSERVAÇÃO IN SITU

Cada Parte Contratante deve, na medida do possível econforme o caso:

a) Estabelecer um sistema de áreas protegidas ou áreasonde medidas especiais precisem ser tomadas para con-servar a diversidade biológica;

b) Desenvolver, se necessário, diretrizes para a sele-ção, estabelecimento e administração de áreas protegidasou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadaspara conservar a diversidade biológica;

c) Regulamentar ou administrar recursos biológicosimportantes para a conservação da diversidade biológi-ca, dentro ou fora de áreas protegidas, a fim de assegu-rar sua conservação e utilização sustentável;

d) Promover a proteção de ecossistemas, hábitatsnaturais e manutenção de populações viáveis de espéciesem seu meio natural;

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e) Promover o desenvolvimento sustentável e ambie-ntalmente sadio em áreas adjacentes às áreas protegidasa fim de reforçar a proteção dessas áreas;

f) Recuperar e restaurar ecossistemas degradados epromover a recuperação de espécies ameaçadas, median-te, entre outros meios, a elaboração e implementação deplanos e outras estratégias de gestão;

g) Estabelecer ou manter meios para regulamentar,administrar ou controlar os riscos associados à utilizaçãoe liberação de organismos vivos modificados resultantesda biotecnologia que provavelmente provoquem impac-to ambiental negativo que possa afetar a conservação e autilização sustentável da diversidade biológica, levandotambém em conta os riscos para a saúde humana;

h) Impedir que se introduzam, controlar ou erradicarespécies exóticas que ameacem os ecossistemas, hábitatsou espécies;

i) Procurar proporcionar as condições necessáriaspara compatibilizar as utilizaçõs atuais com a conserva-ção da diversidade biológica e a utilização sustentável deseus componentes;

j) Em conformidade com sua legislação nacional, res-peitar, preservar e manter o conhecimento, inovações epráticas das comunidades locais e populações indígenascom estilo de vida tradicionais relevantes à conservaçãoe à utilização sustentável da diversidade biológica eincentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e aparticipação dos detentores desse conhecimento, inova-ções e práticas; e encorajar a repartição eqüitativa dosbenefícios oriundos da utilização desse conhecimento,inovações e práticas;

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k) Elaborar ou manter em vigor a legislação necessá-ria e/ou outras disposições regulamentares para a prote-ção de espécies e populações ameaçadas;

l) Quando se verifique um sensível efeito negativo àdi-versidade biológica, em conformidade com o art. 7, regu-lamentar ou administrar os processos e as categorias deatividades em causa; e

m) Cooperar com o aporte de apoio financeiro e deoutra natureza para a conservação in situ a que se refe-rem as alíneas a a l acima, particularmente aos países emdesenvolvimento.

ARTIGO 9 – CONSERVAÇÃO EX SITU

Cada Parte Contratante deve, na medida do possível econforme o caso, e principalmente a fim de complemen-tar medidas de conservação in situ:

a) Adotar medidas para a conservação ex situ de com-ponentes da diversidade biol&oacutegica, de preferên-cia no país de origem desses componentes;

b) Estabelecer e manter instalações para a conserva-ção ex situ e pesquisa de vegetais, animais e microorga-nismos, de preferência no país de origem dos recursosgenéticos;

c) Adotar medidas para a recuperação e regeneraçãode espécies ameaçadas e para sua reintrodução em seuhábitat natural em condições adequadas;

d) Regulamentar e administrar a coleta de recursosbiológicos de hábitats naturais com a finalidade de con-servação ex situ de maneira a não ameaçar ecossistemase populações in situ de espécies, exceto quando foremnecessárias medidas temporárias especiais ex situ deacordo com a alínea c acima; e

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e) Cooperar com o aporte de apoio financeiro e deoutra natureza para a conservação ex situ àque se refe-rem as alíneas a a d acima; e com o estabelecimento e amanutenção de instalações de conservação ex situ empaíses em desenvolvimento.

ARTIGO 10 – UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE

COMPONENTES DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Cada Parte Contratante deve, na medida do possível econforme o caso:

a) Incorporar o exame da conservação e utilização sus-tentável de recursos biológicos no processo decisórionacional;

b) Adotar medidas relacionadas àutilização de recur-sos biológicos para evitar ou minimizar impactos nega-tivos na diversidade biológica;

c) Proteger e encorajar a utilização costumeira derecursos biológicos de acordo com práticas culturais tra-dicionais compatíveis com as exigências de conservaçãoou utilização sustentável;

d) Apoiar populações locais na elaboração e aplicaçãode medidas corretivas em áreas degradadas onde a diver-sidade biológica tenha sido reduzida; e

e) Estimular a cooperação entre suas autoridades go-vernamentais e seu setor privado na elaboração de méto-dos de utilização sustentável de recursos biológicos.

ARTIGO 11 – INCENTIVOS

Cada Parte Contratante deve, na medida do possível econforme o caso, adotar medidas econômica e social-mente racionais que sirvam de incentivo à conservaçãoe utilização sustentável de componentes da diversidadebiológica.

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ARTIGO 12 – PESQUISA E TREINAMENTO

As Partes Contratantes, levando em conta as necessida-des especiais dos países em desenvolvimento, devem:

a) Estabelecer e manter programas de educação e trei-namento científico e técnico sobre medidas para a identi-ficação, conservação e utilização sustentável da diversida-de biológica e seus componentes, e proporcionar apoio aesses programas de educação e treinamento destinados àsnecessidades específicas dos países em desenvolvimento;

b) Promover e estimular pesquisas que contribuampara a conservação e a utilização sustentável da diversi-dade biológica, especialmente nos países em desenvolvi-mento, conforme, entre outras, as decisões da Conferên-cia das Partes tomadas em conseqüência das recomenda-ções do Orgão Subsidiário de Assessoramento Científico,Técnico e Tecnológico; e

c) Em conformidade com as disposições dos arts. 16,18 e 20, promover e cooperar na utilização de avançoscientíficos da pesquisa sobre diversidade biológica paraelaborar métodos de conservação e utilização sustentá-vel de recursos biológicos.

ARTIGO 13 – EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICA

As Partes Contratantes devem:a) Promover e estimular a compreensão da importân-

cia da conservação da diversidade biológica e das medi-das necessárias a esse fim, sua divulgação pelos meios decomunicação, e a inclusão desses temas nos programaseducacionais; e

b) Cooperar, conforme o caso, com outros Estados eorganizações internacionais na elaboração de programaseducacionais de conscientização pública no que concer-

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ne à conservação e à utilização sustentável da diversida-de biológica.

ARTIGO 14 – AVALIAÇÃO DE IMPACTOS E

MINIMIZAÇÃO DE IMPACTOS NEGATIVOS

1. Cada Parte Contratante, na medida do possível e con-forme o caso, deve:

a) Estabelecer procedimentos adequados que exijam aavaliação de impacto ambiental de seus projetos propos-to que possam ter sensíveis efeitos negativos na diversi-dade biológica, a fim de evitar ou minimizar tais efeitose, conforme o caso, permitir a participação pública nes-ses procedimentos;

b) Tomar providências adequadas para assegurar quesejam devidamente levadas em conta as conseqüênciasambientais de seus programas e políticas que possam tersensíveis efeitos negativos na diversidade biológica;

c) Promover, com base em reciprocidade, notificação,intercâmbio de informação e consulta sobre atividadessob sua jurisdição ou controle que possam ter sensíveisefeitos negativos na diversidade biológica de outrosEstados ou áreas além dos limites da jurisdição nacional,estimulando-se a adoção de acordos bilaterais, regionaisou multilaterais, conforme o caso;

d) Notificar imediatamente, no caso em que se origi-nem sob sua jurisdição ou controle, perigo ou dano imi-nente ou grave à diversidade biológica em área sob juris-dição de outros Estados ou em áreas além dos limites dajurisdição nacional, os Estados que possam ser afetadospor esse perigo ou dano, assim como tomar medidas paraprevenir ou minimizar esse perigo ou dano; e

e) Estimular providências nacionais sobre medidas deemergência para o caso de atividades ou acontecimentos

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de origem natural ou outra que representem perigo gra-ve e iminente à diversidade biológica e promover a coo-peração internacional para complementar tais esforçosnacionais e, conforme o caso e em acordo com os Estadosou organizações regionais de integração econômica inte-ressados, estabelecer planos conjuntos de contingência.2. A Conferência das Partes deve examinar, com base emestudos a serem efetuados, as questões da responsabili-dade e reparação, inclusive restauração e indenização,por danos causados à diversidade biológica, excetoquando essa responsabilidade for de ordem estritamen-te interna.

ARTIGO 15 – ACESSO A RECURSOS GENÉTICOS

1. Em reconhecimento dos direitos soberanos dos Esta-dos sobre seus recursos naturais, a autoridade paradeterminar o acesso a recursos genéticos pertence aosgovernos nacionais e está sujeita à legislação nacional.2. Cada Parte Contratante deve procurar criar condiçõespara permitir o acesso a recursos genéticos para utiliza-ção ambientalmente saudável por outras Partes Contra-tantes e não impor restrições contrárias aos objetivosdesta Convenção.3. Para os propósitos desta Convenção, os recursos gené-ticos providos por uma Parte Contratante, a que se refe-rem este artigo e os artigos 16 e 19, são apenas aquelesprovidos por Partes Contratantes que sejam países deorigem desses recursos ou por Partes que os tenhamadquirido em conformidade com esta Convenção.4. O acesso, quando concedido, deverá sê-lo de comumacordo e sujeito ao disposto no presente artigo.5. O acesso aos recursos genéticos deve estar sujeito aoconsentimento prévio fundamentado da Parte Contra-

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tante provedora desses recursos, a menos que de outraforma determinado por essa Parte.6. Cada Parte Contratante deve procurar conceber e rea-lizar pesquisas científicas baseadas em recursos genéti-cos providos por outras Partes Contratantes com sua ple-na participação e, na medida do possível, no territóriodessas Partes Contratantes.7. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislati-vas, administrativas ou políticas, conforme o caso e emconformidade com os arts. 16 e 19 e, quando necessário,mediante o mecanismo financeiro estabelecido pelosarts. 20 e 21, para compartilhar de forma justa e eqüita-tiva os resultados da pesquisa e do desenvolvimento derecursos genéticos e os benefícios derivados de sua uti-lização comercial e de outra natureza com a Parte Con-tratante provedora desses recursos. Essa partilha devedar-se de comum acordo.

ARTIGO 16 – ACESSO À TECNOLOGIA E

TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

1. Cada Parte Contratante, reconhecendo que a tecnolo-gia inclui biotecnologia, e que tanto o acesso à tecnolo-gia quanto sua transferência entre Partes Contratantessão elementos essenciais para a realização dos objetivosdesta Convenção, compromete-se, sujeito ao dispostoneste artigo, a permitir e/ou facilitar a outras partes con-tratantes acesso a tecnologias que sejam pertinentes àconservação e utilização sustentável da diversidade bio-lógica ou que utilizem recursos genéticos e não causemdano sensível ao meio ambiente, assim como a transfe-rência dessas tecnologias.2. O acesso à tecnologia e sua transferência a países emdesenvolvimento, a que se refere o parágrafo 1 acima,

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devem ser permitidos e/ou facilitados em condições jus-tas e as mais favoráveis, inclusive em condições concessio-nais e preferenciais quando de comum acordo, e, caso ne-cessário, em conformidade com o mecanismo financeiroestabelecido nos arts. 20 e 21. No caso de tecnologiasujeita a patentes e outros direitos de propriedade inte-lectual, o acesso à tecnologia e sua transferência devemser permitidos em condições que reconheçam e sejamcompatíveis com a adequada e efetiva proteção dos direi-tos de propriedade intelectual. A aplicação deste parágra-fo deve ser compatível com os parágrafos 3, 4 e 5 abaixo.3. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislati-vas, administrativas ou políticas, conforme o caso, paraque as Partes Contratantes, em particular as que são paí-ses em desenvolvimento, que provêem recursos genéticos,tenham garantido o acesso à tecnologia que utilize essesrecursos e sua transferência, de comum acordo, incluin-do tecnologia protegida por patentes e outros direitos depropriedade intelectual, quando necessário, mediante asdisposições dos arts. 20 e 21, de acordo com o direito inter-nacional e conforme os parágrafos 4 e 5 abaixo.4. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislati-vas, administrativas ou políticas, conforme o caso, paraque o setor privado permita o acesso, à tecnologia a quese refere o parágrafo 1 acima, seu desenvolvimento con-junto e sua transferência em benefício das instituiçõesgovernamentais e do setor privado de países em desen-volvimento, e a esse respeito deve observar as obrigaçõesconstantes dos parágrafos 1, 2 e 3 acima.5. As Partes Contratantes, reconhecendo que patentes eoutros direitos de propriedade intelectual podem influirna implementação desta Convenção, devem cooperar aesse respeito em conformidade com a legislação nacional

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e o direito internacional para garantir que esses direitosapóiem e não se oponham aos objetivos desta Convenção.

ARTIGO 17 – INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

1. As Partes Contratantes devem proporcionar o inter-câmbio de Informações, de todas as fontes disponíveisdo público, pertinentes à conservação e à utilização sus-tentável da diversidade biológica, levando em conta asnecessidades especiais dos países em desenvolvimento.2. Esse intercâmbio de Informações deve incluir o inter-câmbio dos resultados de pesquisas técnicas, científicas,e socioeconômicas, como também Informações sobreprogramas de treinamento e de pesquisa, conhecimentoespecializado, conhecimento indígena e tradicionalcomo tais e associados às tecnologias a que se refere oparágrafo 1 do art. 16. Deve também, quando possível,incluir a repatriação das Informações.

ARTIGO 18 – COOPERAÇÃO TÉCNICA

E CIENTÍFICA

1. As Partes Contratantes devem promover a cooperaçãotécnica e científica internacional no campo da conserva-ção e utilização sustentável da diversidade biológica,caso necessário, por meio de instituições nacionais einternacionais competentes.2. Cada Parte Contratante deve, ao implementar estaConvenção, promover a cooperação técnica e científicacom outras Partes Contratantes, em particular países emdesenvolvimento, por meio, entre outros, da elaboraçãoe implementação de políticas nacionais. Ao promoveressa cooperação, deve ser dada especial atenção ao de-senvolvimento e fortalecimento dos meios nacionais

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mediante a capacitação de recursos humanos e fortaleci-mento institucional.3. A Conferência das Partes, em sua primeira sessão, devedeterminar a forma de estabelecer um mecanismo deintermediação para promover e facilitar a cooperaçãotécnica e científica.4. As Partes Contratantes devem, em conformidade coma legislação e as políticas nacionais, elaborar e estimularmodalidades de cooperação para o desenvolvimento eutilização de tecnologias, inclusive tecnologias indígenase tradicionais, para alcançar os objetivos desta Conven-ção. Com esse fim, as Partes Contratantes devem tambémpromover a cooperação para a capacitação de pessoal e ointercâmbio de técnicos.5. As Partes Contratantes devem, no caso de comumacordo, promover o estabelecimento de programas depesquisa conjuntos e empresas conjuntas para o desen-volvimento de tecnologias relevantes aos objetivos des-ta Convenção.

ARTIGO 19 – GESTÃO DA BIOTECNOLOGIA E

DISTRIBUIÇÃO DE SEUS BENEFÍCIOS

1. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislati-vas, administrativas ou políticas, conforme o caso, parapermitir a participação efetiva, em atividades de pesqui-sa biotecnológica, das Partes Contratantes, especialmen-te países em desenvolvimento, que provêem os recursosgenéticos para essa pesquisa, e se possível nessas PartesContratantes.2. Cada Parte Contratante deve adotar todas as medidaspossíveis para promover e antecipar acesso prioritário,em base justa e eqüitativa das Partes Contratantes, espe-cialmente paáses em desenvolvimento, aos resultados e

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benefícios derivados de biotecnologias baseadas emrecursos genéticos providos por essas Partes Contratan-tes. Esse acesso deve ser de comum acordo.3. As Partes devem examinar a necessidade e as modali-dades de um protocolo que estabeleça procedimentosadequados, inclusive, em especial, a concordância préviafundamentada, no que respeita a transferência, mani-pulação e utilização seguras de todo organismo vivomodificado pela biotecnologia, que possa ter efeito nega-tivo para a conservação e utilização sustentável da diver-sidade biológica.4. Cada Parte Contratante deve proporcionar, diretamen-te ou por solicitação, a qualquer pessoa física ou jurídicasob sua jurisdição provedora dos organismos a que serefere o parágrafo 3 acima, à Parte Contratante em queesses organismos devam ser introduzidos, todas as In-formações disponíveis sobre a utilização e as normas desegurança exigidas por essa Parte Contratante para amanipulação desses organismos, bem como todas as In-formações disponíveis sobre os potenciais efeitos nega-tivos desses organismos específicos.

ARTIGO 20 – RECURSOS FINANCEIROS

1. Cada Parte Contratante compromete-se a proporcionar,de acordo com a sua capacidade, apoio financeiro e in-centivos respectivos às atividades nacionais destinadasa alcançar os objetivos desta Convenção em conformida-de com seus planos, prioridades e programas nacionais.2. As Partes países desenvolvidos devem prover recur-sos financeiros novos e adicionais para que as Partes paí-ses em desenvolvimento possam cobrir integralmente oscustos adicionais por elas concordadas decorrentes daimplementação de medidas em cumprimento das obriga-

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ções desta Convenção, bem como para que se beneficiemde seus dispositivos. Estes custos devem ser determina-dos de comum acordo entre cada Parte país em desenvol-vimento e o mecanismo institucional previsto no Art. 21,de acordo com políticas, estratégias, prioridades progra-máticas e critérios de aceitabilidade, segundo uma listaindicativa de custos adicionais estabelecida pela Confe-rência das Partes. Outras Partes, inclusive países emtransição para uma economia de mercado, podem assu-mir voluntariamente as obrigações das Partes paísesdesenvolvidos. Para os fins deste artigo, a Conferênciadas Partes deve estabelecer, em sua primeira sessão, umalista de Partes países desenvolvidos e outras Partes quevoluntariamente assumam as obrigações das Partes paí-ses desenvolvidos. A Conferência das Partes deve perio-dicamente revisar e, se necessário alterar a lista. Contri-buições voluntárias de outros países e fontes podem sertambém estimuladas. Para o cumprimento desses com-promissos deve ser levada em conta a necessidade de queo fluxo de recursos seja adequado, previsível e oportu-no e a importância de distribuir os custos entre as Par-tes contribuintes incluídas na citada lista.3. As Partes países desenvolvidos podem também proverrecursos financeiros relativos à implementação destaConvenção, por canais bilaterais, regionais e outros mul-tilaterais.4. O grau de efetivo cumprimento dos compromissosassumidos sob esta Convenção das Partes países emdesenvolvimento dependerá do cumprimento efetivodos compromissos assumidos sob esta Convenção pelasPartes países desenvolvidos, no que se refere a recursosfinanceiros e transferência de tecnologia, e levará plena-mente em conta o fato de que o desenvolvimento econô-

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mico e social e a erradicação da pobreza são as priorida-des primordiais e absolutas das Partes países em desen-volvimento.5. As Partes devem levar plenamente em conta as neces-sidades específicas e a situação especial dos países demenor desenvolvimento relativo em suas medidas relati-vas a financiamento e transferência de tecnologia.6. As Partes Contratantes devem também levar em con-ta as condições especiais decorrentes da dependência dadiversidade biológica, sua distribuição e localização nasPartes países em desenvolvimento, em particular ospequenos estados insulares.7. Deve-se também levar em consideração a situaçãoespecial dos países em desenvolvimento, inclusive osque são ecologicamente mais vulneráveis, como os quepossuem zonas áridas e semi-áridas, regiões costeiras emontanhosas.

ARTIGO 21 – MECANISMOS FINANCEIROS

1. Deve ser estabelecido um mecanismo para prover, pormeio de doação ou em bases concessionais, recursosfinanceiros para os fins desta Convenção, às Partes paí-ses em desenvolvimento, cujos elementos essenciais sãodescritos neste artigo. O mecanismo deve operar, para osfins desta Convenção, sob a autoridade e a orientação daConferência das Partes, e a ela responder. As operaçõesdo mecanismo devem ser realizadas por estrutura insti-tucional a ser decidida pela Conferência das Partes em suaprimeira sessão. A Conferência das Partes deve determi-nar, para os fins desta Convenção, políticas, estratégias,prioridades programáticas e critérios de aceitabilidaderelativos ao acesso e à utilização desses recursos. As Con-tribuições devem levar em conta a necessidade mencio-

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nada no Artigo 20 de que o fluxo de recursos seja previ-sível, adequado e oportuno, de acordo com o montantede recursos necessários, a ser decidido periodicamentepela Conferência das Partes, bem como a importância dadistribuição de custos entre as Partes contribuintesincluídas na lista a que se refere o parágrafo 2 do Artigo20. Contribuições voluntárias podem também ser feitaspelas Partes países desenvolvidos e por outros países efontes. O mecanismo deve operar sob um sistema deadministração democrático e transparente.2. Em conformidade com os objetivos desta Convenção,a Conferência das Partes deve determinar, em sua primei-ra sessão, políticas, estratégias e prioridades programá-ticas, bem como diretrizes e critérios detalhados de acei-tabilidade para acesso e utilização dos recursos finan-ceiros, inclusive o acompanhamento e a avaliação perió-dica de sua utilização. A Conferência das Partes devedecidir sobre as providências para a implementação doparágrafo 1 acima após consulta à estrutura institucionalencarregada da operação do mecanismo financeiro.3. A Conferência das Partes deve examinar a eficácia domecanismo estabelecido neste Artigo, inclusive os crité-rios e as diretrizes referidas no Parágrafo 2 acima, em nãomenos que dois anos da entrada em vigor desta Conven-ção, e a partir de então periódicamente. Com base nesseexame, deve, se necessário, tomar medidas adequadaspara melhorar a eficácia do mecanismo.4. As Partes Contratantes devem estudar a possibilidadede fortalecer as instituições financeiras existentes paraprover recursos financeiros para a conservação e a utili-zação sustentável da diversidade biológica.

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ARTIGO 22 – RELAÇÃO COM OUTRAS

CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

1. Os dispositivos desta Convenção não devem afetar osdireitos e obrigações de qualquer Parte Contratante de-correntes de qualquer acordo internacional existente,salvo se o exercício desses direitos e o cumprimento des-sas obrigações cause grave dano ou ameaça à diversida-de biológica.2. As Partes Contratantes devem implementar esta Con-venção, no que se refere ao meio ambiente marinho, emconformidade com os direitos e obrigações dos Estadosdecorrentes do Direito do mar.

ARTIGO 23 – CONFERÊNCIA DAS PARTES

1. Uma Conferência das Partes é estabelecida por estaConvenção. A primeira sessão da Conferência das Partesdeve ser convocada pelo Diretor Executivo do Programadas Nações Unidas para o Meio Ambiente no mais tardardentro de um ano da entrada em vigor desta Convenção.Subseqüentemente, sessões ordinárias da Conferênciadas Partes devem ser realizadas em intervalos a seremdeterminados pela Conferência em sua primeira sessão.2. Sessões extraordinárias da Conferência das Partesdevem ser realizadas quando for considerado necessáriopela Conferência, ou por solicitação escrita de qualquerParte, desde que, dentro de seis meses após a solicitaçãoter sido comunicada às Partes pelo Secretariado, sejaapoiada por pelo menos um terço das Partes.3. A Conferência das Partes deve aprovar e adotar porconsenso suas regras de procedimento e as de qualquerorganismos subsidiário que estabeleça, bem como as nor-mas de administração financeira do Secretariado. Emcada sessão ordinária, a Conferência das Partes deve ado-

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tar um orçamento para o exercício até a seguinte sessãoordinária.4. A Conferência das Partes deve manter sob exame aimplementação desta Convenção, e, com esse fim, deve:

a) Estabelecer a forma e a periodicidade da comunica-ção das informações a serem apresentadas em conformi-dade com o Artigo 26, e examinar essas Informações,bem como os relatórios apresentados por qualquer órgãosubsidiário;

b) Examinar os pareceres científicos, técnicos e tecno-lógicos apresentados de acordo com o Artigo 25;

c) Examinar e adotar protocolos, caso necessário, emconformidade com o Artigo 28;

d) Examinar e adotar, caso necessário, emendas à estaConvenção e a seus anexos, em conformidade com osArtigos 29 e 30;

e) Examinar emendas a qualquer protocolo, bem comoa quaisquer de seus anexos e, se assim decidir, recomen-dar sua adoção às partes desses protocolos;

f) Examinar e adotar, caso necessário, anexos adicio-nais a esta Convenção, em conformidade com o Artigo 30;

g) Estabelecer os órgãos subsidiários, especialmentede consultoria científica e técnica, considerados neces-sários à implementação desta Convenção;

h) Entrar em contato, por meio do Secretariado, comos órgãos executivos de Convenções que tratem de as-suntos objeto desta Convenção, para com eles estabele-cer formas adequadas de cooperação; e

i) Examinar e tomar todas as demais medidas que pos-sam ser necessárias para alcançar os fins desta Convenção,à luz da experiência adquirida na sua implementação.5. As Nações Unidas, seus organismos especializados e aAgência Internacional de Energia Atômica, bem como

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qualquer Estado que não seja Parte desta Convenção,podem se fazer representar como observadores nas ses-sões da Conferência das Partes. Qualquer outro órgão ouorganismo, governamental ou não-governamental, com-petente no campo da conservação e da utilização susten-tável da diversidade biológica, que informe ao Secreta-riado do seu desejo de se fazer representar como obser-vador numa sessão da Conferência das Partes, pode seradmitido, a menos que um terço das Partes apresenteobjeção. A admissão e a participação de observadoresdeve sujeitar-se às regras de procedimento adotadas pelaConferência das Partes.

ARTIGO 24 – SECRETARIADO

1. Fica estabelecido um Secretariado com as seguintesfunções:

a) Organizar as sessões da Conferência das Partes pre-vista no Artigo 23 e prestar-lhes serviço;

b) Desempenhar as funções que lhe atribuam os pro-tocolos;

c) Preparar relatórios sobre o desempenho de suasfunções sob esta Convenção e apresentá-los à Conferên-cia das Partes;

d) Assegurar a coordenação com outros organismosinternacionais pertinentes e, em particular, tomar as pro-vidências administrativas e contratuais necessárias parao desempenho eficaz de suas funções; e

e) Desempenhar as demais funções que lhe forem atri-buídas pela Conferência das Partes.2. Em sua primeira sessão ordinária, a Conferência dasPartes deve designar o Secretariado dentre as organiza-ções internacionais competentes que se tenham demons-

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trado dispostas a desempenhar as funções de secretaria-do previstas nesta Convenção.

ARTIGO 25 – ÓRGÃO SUBSIDIÁRIO DE ASSESSORAMENTO

CIENTÍFICO, TÉCNICO E TECNOLÓGICO

1. Fica estabelecido um órgão subsidiário de assessora-mento científico, técnico e tecnológico para prestar, emtempo oportuno, à Conferência das Partes e, conforme ocaso, aos seus demais órgãos subsidiários, assessoramen-to sobre a implementação desta Convenção. Este órgãodeve estar aberto à participação de todas as Partes e deveser multidisciplinar. Deve ser composto por representan-tes governamentais com competências nos campos deespecialização pertinentes. Deve apresentar relatóriosregularmente à Conferência das Partes sobre todos osaspectos de seu trabalho.2. Sob a autoridade da Conferência das Partes e de acor-do com as diretrizes por ela estabelecidas, e a seu pedi-do, o órgão deve:

a) Apresentar avaliações científicas e técnicas da situa-ção da diversidade biológica;

b) Preparar avaliações científicas e técnicas dos efei-tos dos tipos de medidas adotadas, em conformidade como previsto nesta Convenção;

c) Identificar tecnologias e conhecimentos técnicosinovadores, eficientes e avançados relacionados à con-servação e à utilização sustentável da diversidade bioló-gica e prestar assessoramento sobre as formas e meios depromover o desenvolvimento e/ou a transferência dessastecnologias;

d) Prestar assessoramento sobre programas científicose cooperação internacional em pesquisa e desenvolvi-

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mento, relativos à conservação e à utilização sustentávelda diversidade biológica; e

e) Responder às questões científicas, técnicas, tecno-lógicas e metodológicas que lhe formulem a Conferênciadas Partes e seus órgãos subsidiários .3. As funções, mandato, organização e funcionamentodeste órgão podem ser posteriormente melhor definidospela Conferência das Partes.

ARTIGO 26 – RELATÓRIOS

Cada Parte Contratante deve, com a periodicidade a serestabelecida pela Conferência das Partes, apresentar-lherelatórios sobre medidas que tenha adotado para a imple-mentação dos dispositivos desta Convenção e sobre suaeficácia para alcançar os seus objetivos.

ARTIGO 27 – SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

1. No caso de controvérsia entre Partes Contratantes noque respeita à interpretação ou aplicação desta Conven-ção, as Partes envolvidas devem procurar resolvê-la pormeio de negociação.2. Se as Partes envolvidas não conseguirem chegar a umacordo por meio de negociação, podem conjuntamente so-licitar os bons ofícios ou a mediação de uma terceira Parte.3. Ao ratificar, aceitar, ou aprovar esta Convenção ou aela aderir, ou em qualquer momento posterior, um Esta-do ou organização de integração econômica regionalpode declarar por escrito ao Depositário que, no caso decontrovérsia não resolvida de acordo com o parágrafo pri-meiro ou o parágrafo segundo acima, aceita como com-pulsórios um ou ambos dos seguintes meios de soluçãode controvérsias:

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a) Arbitragem de acordo com o procedimento estabe-lecido na Parte 1 do Anexo ii;

b) Submissão da controvérsia à Corte Internacional deJustiça.4. Se as Partes na controvérsia não tiverem aceito, deacordo com o parágrafo terceiro acima, aquele ou qual-quer outro procedimento, a controvérsia deve ser sub-metida à conciliação de acordo com a Parte 2 do AnexoII, a menos que as Partes concordem de outra maneira.5. O disposto neste artigo aplica-se a qualquer protoco-lo salvo se de outra maneira disposto nesse protocolo.

ARTIGO 28 – ADOÇÃO DOS PROTOCOLOS

1. As Partes Contratantes devem cooperar na formulaçãoe adoção de protocolos desta Convenção.2. Os protocolos devem ser adotados em sessão da Con-ferência das Partes.3. O texto de qualquer protocolo proposto deve sercomunicado pelo Secretariado às Partes Contratantespelo menos seis meses antes dessa sessão.

ARTIGO 29 – EMENDAS À CONVENÇÃO OU PROTOCOLOS

1. Qualquer Parte Contratante pode propor emendas àesta Convenção. Emendas a qualquer protocolo podemser propostas por quaisquer Partes dos mesmos.2. Emendas à esta Convenção devem ser adotadas em ses-são da Conferência das Partes. Emendas a qualquer pro-tocolo devem ser adotadas em sessão das Partes dos pro-tocolos pertinentes. O texto de qualquer emenda propos-ta a esta Convenção ou a qualquer protocolo, salvo se deoutro modo disposto no protocolo, deve ser comunicadoàs Partes do instrumento pertinente pelo Secretariadopelo menos seis meses antes da sessão na qual será pro-

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posta a sua adoção. Propostas de emenda devem tambémser comunicadas pelo Secretariado aos signatários destaConvenção, para informação.3. As Partes devem fazer todo o possível para chegar aum acordo por consenso sobre as emendas propostas aesta Convenção ou a qualquer protocolo. Uma vez exau-ridos todos os esforços para chegar a um consenso semque se tenha chegado a um acordo a emenda deve seradotada, em última instância, por maioria de dois terçosdas Partes do instrumento pertinente presentes e votan-tes nessa sessão, e deve ser submetida pelo Depositário atodas as Partes para ratificação, aceitação ou aprovação.4. A ratificação, aceitação ou aprovação de emendas deveser notificada por escrito ao Depositário. As emendas ado-tadas em conformidade com o parágrafo terceiro acimadevem entrar em vigor entre as Partes que as tenhamaceito no nonagésimo dia após o depósito dos instrumen-tos de ratificação, aceitação ou aprovação de pelo menosdois terços das Partes Contratantes desta Convenção oudas Partes do protocolo pertinente, salvo se de outro mododisposto nesse protocolo. A partir de então, as emendasdevem entrar em vigor para qualquer outra Parte no nona-gésimo dia após a Parte ter depositado seu instrumentode ratificação, aceitação ou aprovação das emendas.5. Para os fins deste Artigo, “Partes presentes e votan-tes” significa Partes presentes e que emitam voto afirma-tivo ou negativo.

ARTIGO 30 – ADOÇÃO DE ANEXOS E EMENDAS

A ANEXOS

1. Os anexos a esta Convenção ou a seus protocolos cons-tituem parte integral da Convenção ou do protocolo per-tinente, conforme o caso, e, salvo se expressamente dis-

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posto de outro modo, qualquer referência a esta Conven-ção e a seus protocolos constitui ao mesmo tempo refe-rência a quaisquer de seus anexos. Esses anexos devemrestringir-se a assuntos processuais, científicos, técnicose administrativos.2. Salvo se disposto de outro modo em qualquer proto-colo no que se refere a seus anexos, para a proposta, ado-ção e entrada em vigor de anexos suplementares a estaConvenção ou de anexos a quaisquer de seus protocolos,deve-se obedecer o seguinte procedimento:

a) Os anexos a esta Convenção ou a qualquer protoco-lo devem ser propostos e adotados de acordo com o pro-cedimento estabelecido no Artigo 29;

b) Qualquer Parte que não possa aceitar um anexosuplementar a esta Convenção ou um anexo a qualquerprotocolo do qual é Parte o deve notificar, por escrito, aoDepositário, dentro de um ano da data da comunicaçãode sua adoção pelo Depositário. O Depositário deve co-municar sem demora a todas as Partes qualquer notifica-ção desse tipo recebida. Uma Parte pode a qualquer mo-mento retirar uma declaração anterior de objeção, e,assim, os anexos devem entrar em vigor para aquela Par-te de acordo com o disposto na alínea c abaixo;

c) Um ano após a data da comunicação pelo Depositá-rio de sua adoção, o anexo deve entrar em vigor paratodas as Partes desta Convenção ou de qualquer proto-colo pertinente que não tenham apresentado uma noti-ficação de acordo com o disposto na alínea b acima.3. A proposta, adoção e entrada em vigor de emendas aosanexos a esta Convenção ou a qualquer protocolo devemestar sujeitas ao procedimento obedecido no caso da pro-posta, adoção e entrada em vigor de anexos a esta Con-venção ou anexos a qualquer protocolo.

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4. Se qualquer anexo suplementar ou uma emenda a umanexo for relacionada a uma emenda a esta Convenção ouqualquer protocolo, este anexo suplementar ou estaemenda somente deve entrar em vigor quando a referi-da emenda à Convenção ou protocolo estiver em vigor.

ARTIGO 31 – DIREITO DE VOTO

1. Salvo o disposto no parágrafo segundo abaixo, cadaParte Contratante desta Convenção ou de qualquer pro-tocolo deve ter um voto.2. Em assuntos de sua competência, organizações deintegração econômica regional, devem exercer seu direi-to ao voto com um número de votos igual ao número deseus Estados-Membros que sejam Partes Contratantesdesta Convenção ou de protocolo pertinente. Essas orga-nizações não devem exercer seu direito de voto se seusEstados-Membros exercerem os seus, e vice-versa.

ARTIGO 32 – RELAÇÕES ENTRE ESTA CONVENÇÃO

E SEUS PROTOCOLOS

1. Um Estado ou uma organização de integração econô-mica regional não pode ser Parte de um protocolo salvose for, ou se tornar simultaneamente, Parte Contratantedesta Convenção.2. Decisões decorrentes de qualquer protocolo devem sertomadas somente pelas Partes do protocolo pertinente.Qualquer Parte Contratante que não tenha ratificado, acei-to ou aprovado um protocolo pode participar como obser-vadora em qualquer sessão das Partes daquele protocolo.

ARTIGO 33 – ASSINATURA

Esta Convenção está aberta a assinatura por todos osEstados e qualquer organização de integração econômi-

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ca regional na cidade do Rio de Janeiro de 5 de junhode 1992 a 14 de junho de 1992, e na sede das Nações Uni-das em Nova Iorque, de 15 de junho de 1992 a 4 de junhode 1993.

ARTIGO 34 – RATIFICAÇÃO, ACEITAÇÃO OU APROVAÇÃO

1. Esta Convenção e seus protocolos estão sujeitos a rati-ficação, aceitação ou aprovação, pelos Estados e por orga-nizações de integração econômica regional. Os Instru-mentos de ratificação, aceitação ou aprovação devem serdepositados junto ao Depositário.2. Qualquer organização mencionada no parágrafo pri-meiro acima que se torne Parte Contratante desta Con-venção ou de quaisquer de seus protocolos, sem que sejaParte contratante nenhum de seus Estados-Membrosdeve ficar sujeita a todas as obrigações da Convenção oudo protocolo, conforme o caso. No caso dessas organiza-ções, se um ou mais de seus Estados-Membros for umaParte Contratante desta Convenção ou de protocolo per-tinente, a organização e seus Estados-Membros devemdecidir sobre suas respectivas responsabilidades para ocumprimento de suas obrigações prevista nesta Conven-ção ou no protocolo, conforme o caso. Nesses casos, aorganização e os Estados-Membros não devem exercersimultaneamente direitos estabelecidos por esta Conven-ção ou pelo protocolo pertinente.3. Em seus instrumentos de ratificação, aceitação ouaprovação, as organizações mencionadas no parágrafoprimeiro acima devem declarar o âmbito de sua compe-tência no que respeita a assuntos regidos por esta Con-venção ou por protocolo pertinente. Essas organizaçõesdevem também informar ao Depositário de qualquermodificação pertinente no âmbito de sua competência.

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ARTIGO 35 – ADESÃO

1. Esta Convenção e quaisquer de seus protocolos estáaberta a adesão de Estados e organizações de integraçãoeconômica regional a partir da data em que expire o pra-zo para a assinatura da Convenção ou do protocolo per-tinente. Os instrumentos de adesão devem ser deposita-dos junto ao Depositário.2. Em seus instrumentos de adesão, as organizações men-cionadas no parágrafo primeiro acima devem declarar oâmbito de suas competências no que respeita aos assun-tos regidos por esta Convenção ou pelos protocolos.Essas organizações devem também informar ao Deposi-tário qualquer modificação pertinente no âmbito de suascompetências.3. O disposto no artigo 34, parágrafo segundo, deve apli-car-se a organizações de integração econômica regionalque adiram a esta Convenção ou a quaisquer de seus pro-tocolos.

ARTIGO 36 – ENTRADA EM VIGOR

Essa Convenção entra em vigor no nonagésimo dia apósa data de depósito do trigésimo instrumento de ratifica-ção, aceitação, aprovação ou adesão.2. Um protocolo deve entrar em vigor no nonagésimo diaapós a data do depósito do número de instrumentos deratificação, aceitação, aprovação ou adesão, estipuladanesse protocolo.3. Para cada Parte Contratante que ratifique, aceite ouaprove esta Convenção ou a ela adira após o depósito do tri-gésimo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ouadesão, esta Convenção entra em vigor no nonagésimo diaapós a data de depósito pela Parte Contratante do seu ins-trumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.

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4. Um protocolo, salvo se disposto de outro modo nesseprotocolo, deve entrar em vigor para uma Parte Contra-tante que o ratifique, aceite ou aprove ou a ele adira apóssua entrada em vigor de acordo com o parágrafo segun-do acima, no nonagésimo dia após a data do depósito doinstrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou ade-são por essa Parte Contratante, ou na data em que estaConvenção entre em vigor para essa Parte Contratante, aque for posterior.5. Para os fins dos parágrafos 1 e 2 acima, os instrumen-tos depositados por uma organização de integração eco-nômica regional não devem ser contados como adicio-nais àqueles depositados por Estados-Membros dessaorganização.

ARTIGO 37 – RESERVAS

Nenhuma reserva pode ser feita a esta Convenção.

ARTIGO 38 – DENÚNCIAS

1. Após dois anos da entrada em vigor desta Convençãopara uma Parte Contratante, essa Parte Contratante podea qualquer momento denunci&aacute-la por meio denotificação escrita ao Depositário.2. Essa denúncia tem efeito um ano após a data de seurecebimento pelo Depositário, ou em data posterior seassim for estipulado na notificação de denúncia.3. Deve ser considerado que qualquer Parte Contratanteque denuncie esta Convenção denuncia também os pro-tocolos de que é Parte.

ARTIGO 39 – DISPOSIÇÕES FINANCEIRAS PROVISÓRIAS

Desde que completamente reestruturado, em conformi-dade com o disposto no Artigo 21, o Fundo para o Meio

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Ambiente Mundial, do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento, do Programa das Nações Uni-das para o Meio Ambiente, e do Banco Internacionalpara a Reconstrução e o Desenvolvimento, deve ser a es-trutura institucional provisória a que se refere o Artigo21, no período entre a entrada em vigor desta Conven-ção e a primeira sessão da Conferência das Partes ou atéque a Conferência das Partes designe uma estrutura ins-titucional em conformidade com o Artigo 21.

ARTIGO 40 – DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

PARA O SECRETARIADO

O Secretariado a ser provido pelo Diretor Executivo doPrograma das Nações Unidas para o Meio Ambiente deveser o secretariado a que se refere o Artigo 24, parágrafo2, provisóriamente pelo período entre a entrada em vigordesta Convenção e a primeira sessão da Conferência dasPartes.

ARTIGO 41 – DEPOSITÁRIO

O Secretário-Geral das Nações Unidas deve assumir asfunções de Depositário desta Convenção e de seus pro-tocolos.

ARTIGO 42 – TEXTOS AUTÊNTICOS

O original desta Convenção, cujos textos em árabe, chi-nês, espanhol, francês, inglês e russo são igualmenteautênticos, deve ser depositado junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

em fé do que, os abaixo-assinados, devidamente autoriza-dos para esse fim, firmam esta Convenção. Feito no Rio deJaneiro, em 5 de junho de mil novecentos e noventa e dois.

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Anexo 1Identificação e Monitoramento

1. Ecossistemas e hábitats: compreendendo grande di-versidade, grande número de espécies endêmicas ouameaçadas, ou vida silvestre; os necessários às espéciesmigratórias; de importância social, econômica, culturalou científica; ou que sejam representativos, únicos ouassociados a processos evolutivos ou outros processosbiológicos essenciais;2. Espécies e comunidades que: estejam ameaçadas;sejam espécies silvestres aparentadas de espécies domes-ticadas ou cultivadas; tenham valor medicinal, agrícolaou qualquer outro valor econômico; sejam de importân-cia social, científica ou cultural; ou sejam de importân-cia para a pesquisa sobre a conservação e a utilização sus-tentável da diversidade biológica, como as espécies dereferência; e3. Genomas e genes descritos como tendo importânciasocial, científica ou econômica.

Anexo ii: Parte 1Arbitragem

ARTIGO 1A Parte demandante deve notificar o Secretariado de queas Partes estão submetendo uma controvérsia àarbitra-gem em conformidade com o Artigo 27. A notificaçãodeve expor o objeto em questão a ser arbitrado, e incluir,em particular, os artigos da Convenção ou do Protocolode cuja interpretação ou aplicação se tratar a questão. Seas Partes não concordarem no que respeita o objeto da

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controvérsia, antes de ser o Presidente do tribunal desig-nado, o tribunal de arbitragem deve definir o objeto emquestão. O Secretariado deve comunicar a informaçãoassim recebida a todas as Partes Contratantes desta Con-venção ou do protocolo pertinente.

ARTIGO 21. Em controvérsias entre duas Partes, o tribunal de arbi-tragem deve ser composto de três membros. Cada uma dasPartes da controvérsia deve nomear um árbitro e os doisárbitros assim nomeados devem designar de comum acor-do um terceiro árbitro que deve presidir o tribunal. Esteúltimo não pode ser da mesma nacionalidade das Partesem controvérsia, nem ter residência fixa em território deuma das Partes; tampouco deve estar a serviço de ne-nhuma delas, nem ter tratado do caso a qualquer título.2. Em controvérsias entre mais de duas Partes, as Partesque tenham o mesmo interesse devem nomear um árbitrode comum acordo.3. Qualquer vaga no tribunal deve ser preenchida de acor-do com o procedimento previsto para a nomeação inicial.

ARTIGO 31. Se o Presidente do tribunal de arbitragem não fordesignado dentro de dois meses após a nomeação dosegundo árbitro, o Secretário-Geral das Nações Unidas,a pedido de uma das partes, deve designar o Presidenteno prazo adicional de dois meses.2. Se uma das Partes em controvérsia não nomear um ár-bitro no prazo de dois meses após o recebimento da de-manda, a outra parte pode disso informar o Secretário-Geral, que deve designá-lo no prazo adicional de doismeses.

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ARTIGO 4O tribunal de arbitragem deve proferir suas decisões deacordo com o disposto nesta Convenção, em qualquerprotocolo pertinente, e com o direito internacional.

ARTIGO 5Salvo se as Partes em controvérsia de outro modo con-cordarem, o tribunal de arbitragem deve adotar suaspróprias regras de procedimento.

ARTIGO 6O tribunal de arbitragem pode, a pedido de uma das Par-tes, recomendar medidas provisórias indispensáveis deproteção.

ARTIGO 7As Partes em controvérsia devem facilitar os trabalhos dotribunal de arbitragem e, em particular, utilizando todosos meios a sua disposição:

a) Apresentar-lhe todos os documentos, informaçõese meios pertinentes; e

b) Permitir-lhe, se necessário, convocar testemunhasou especialistas e ouvir seus depoimentos.

ARTIGO 8As Partes e os árbitros são obrigados a proteger a confi-denciabilidade de qualquer informação recebida com essecaráter durante os trabalhos do tribunal de arbitragem.

ARTIGO 9Salvo se decidido de outro modo pelo tribunal de arbi-tragem devido a circunstâncias particulares do caso, os

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custos do tribunal devem ser cobertos em proporçõesiguais pelas Partes em controvérsia. O tribunal devemanter um registro de todos os seus gastos, e deveráapresentar uma prestação de contas final às Partes.

ARTIGO 10Qualquer Parte Contratante que tenha interesse de natu-reza jurídica no objeto em questão da controvérsia, quepossa ser afetado pela decisão sobre o caso, pode intervirno processo com o consentimento do tribunal.

ARTIGO 11O tribunal pode ouvir e decidir sobre contra-argumen-tações que diretamente relacionadas ao objeto em ques-tão da controvérsia.

ARTIGO 12As decisões do tribunal de arbitragem tanto em matériaprocessual quanto sobre o fundo da questão devem sertomadas por maioria de seus membros.

ARTIGO 13Se uma das Partes em controvérsia não comparecerperante o tribunal de arbitragem ou não apresentar defe-sa de sua causa, a outra Parte pode solicitar ao tribunalque continue o processo e profira o seu laudo. A ausên-cia de uma das Partes ou a abstenção de uma parte deapresentar defesa de sua causa não constitui impedimen-to ao processo. Antes de proferir sua decisão final, o tri-bunal de arbitragem deve certificar-se de que a deman-da está bem fundamentada de fato e de direito.

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ARTIGO 14O tribunal deve proferir sua decisão final em cinco mesesa partir da data em, que for plenamente constituído sal-vo se considerar necessário prorrogar esse prazo por umperíodo não superior a cinco meses.

ARTIGO 15A decisão final do tribunal de arbitragem deve se restrin-gir ao objeto da questão em controvérsia e deve ser fun-damentada. Nela devem constar os nomes dos membrosque a adotaram e na data. Qualquer membro do tribunalpode anexar à decisão final um parecer em separado ouum parecer divergente.

ARTIGO 16A decisão é obrigatória para as Partes em controvérsia.Dela não há recurso salvo se as Partes em controvérsiahouverem concordado com antecedência sobre um pro-cedimento de apelação.

ARTIGO 17As controvérsias que surjam entre as Partes em contro-vérsia no que respeita a interpretação ou execução dadecisão final pode ser submetida por quaisquer uma dasPartes à decisão do tribunal que a proferiu.

Anexo ii: Parte 2Conciliação

ARTIGO 1Uma Comissão de conciliação deve ser criada a pedido deuma das Partes em controvérsia. Essa comissão, salvo se

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as Partes concordarem de outro modo, deve ser compos-ta de cinco membros, dois nomeados por cada Parteenvolvida e um Presidente escolhido conjuntamentepelos membros.

ARTIGO 2Em controvérsia entre mais de duas Partes, as Partes como mesmo interesse devem nomear, de comum acordo,seus membros na comissão. Quando duas ou mais Partestiverem interesses independentes ou houver discordân-cia sobre o fato de terem ou não o mesmo interesse, asPartes devem nomear seus membros separadamente.

ARTIGO 3Se no prazo de dois meses a partir da data do pedido decriação de uma comissão de conciliação, as Partes nãohouverem nomeado os membros da comissão, o Secretá-rio-Geral das Nações Unidas, por solicitação da Parte queformulou o pedido, deve nomeá-los no prazo adicionalde dois meses.

ARTIGO 4Se o Presidente da comissão de coniciliação não for esco-lhido nos dois meses seguintes à nomeação do últimomembro da comissão, o Secretário-Geral das Nações Uni-das, por solicitação de uma das Partes, deve designá-lono prazo adicional de dois meses.

ARTIGO 5A comissão de conciliação deverá tomar decisões pormaioria de seus membros. Salvo se a Partes em contro-vérsia concordarem de outro modo, deve definir seuspróprios procedimentos. A comissão deve apresentar

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uma proposta de solução da controvérsia, que as Partesdevem examinar em boa fé.

ARTIGO 6Uma divergência quanto à competência – da comissão deconciliação deve ser decidida pela comissão.

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Declaração universalsobre a diversidade cultural

A Conferência Geral,

Reafirmando seu compromisso com a plena realizaçãodos direitos humanos e das liberdades fundamentaisproclamadas na Declaração Universal dos DireitosHumanos e em outros instrumentos universalmentereconhecidos, como os dois Pactos Internacionais de1966 relativos respectivamente, aos direitos civis e polí-ticos e aos direitos econômicos, sociais e culturais,

Recordando que o Preâmbulo da Constituição daunesco afirma “(...) que a ampla difusão da cultura e daeducação da humanidade para a justiça, a liberdade e apaz são indispensáveis para a dignidade do homem econstituem um dever sagrado que todas as naçõesdevem cumprir com um espírito de responsabilidade ede ajuda mútua”,

Recordando também seu Artigo primeiro, que desig-na à unesco, entre outros objetivos, o de recomendar“os acordos internacionais que se façam necessários para

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facilitar a livre circulação das idéias por meio da palavrae da imagem”,

Referindo-se às disposições relativas à diversidadecultural e ao exercício dos direitos culturais que figuramnos instrumentos internacionais promulgados pelaunesco28,

Reafirmando que a cultura deve ser considerada comoo conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais,intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedadeou um grupo social e que abrange, além das artes e dasletras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, ossistemas de valores, as tradições e as crenças 29,

Constatando que a cultura se encontra no centro dos de-bates contemporâneos sobre a identidade, a coesão sociale o desenvolvimento de uma economia fundada no saber,

Afirmando que o respeito à diversidade das culturas,à tolerância, ao diálogo e à cooperação, em um clima de

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28 Entre os quais figuram, em particular, o acordo de Florença de 1950 e

seu Protocolo de Nairobi de 1976, a Convenção Universal sobre Direitos

de Autor, de 1952, a Declaração dos Princípios de Cooperação Cultural

Internacional de 1966, a Convenção sobre as Medidas que Devem Ado-

tar-se para Proibir e Impedir a Importação, a Exportação e a Transferên-

cia de Propriedade Ilícita de Bens Culturais, de 1970, a Convenção para a

Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural de 1972, a Declara-

ção da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, de 1978, a Reco-

mendação relativa à condição do Artista, de 1980 e a Recomendação sobre

a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular, de 1989.

29 Definição conforme as conclusões da Conferência Mundial sobre as

Políticas Culturais (MONDIACULT, México, 1982), da Comissão Mundial

de Cultura e Desenvolvimento (Nossa Diversidade Criadora, 1995) e da

Conferência Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desen-

volvimento (Estocolmo, 1998).

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confiança e de entendimento mútuos, estão entre asmelhores garantias da paz e da segurança internacionais,

Aspirando a uma maior solidariedade fundada noreconhecimento da diversidade cultural, na consciênciada unidade do gênero humano e no desenvolvimento dosintercâmbios culturais,

Considerando que o processo de globalização, facili-tado pela rápida evolução das novas tecnologias da infor-mação e da comunicação, apesar de constituir um desa-fio para a diversidade cultural, cria condições de um diá-logo renovado entre as culturas e as civilizações,

Consciente do mandato específico confiado à UNES-CO, no seio do sistema das Nações Unidas, de assegurara preservação e a promoção da fecunda diversidade dasculturas,

Proclama os seguintes princípios e adota a presenteDeclaração:

Identidade, Diversidade e Pluralismo

ARTIGO 1 – A DIVERSIDADE CULTURAL, PATRIMÔNIO COMUM DA HUMANIDADE

A cultura adquire formas diversas através do tempo e doespaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade ena pluralidade de identidades que caracterizam os gru-pos e as sociedades que compõem a humanidade. Fontede intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diver-sidade cultural é, para o gênero humano, tão necessáriacomo a diversidade biológica para a natureza. Nesse sen-tido, constitui o patrimônio comum da humanidade edeve ser reconhecida e consolidada em beneficio dasgerações presentes e futuras.

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ARTIGO 2 – DA DIVERSIDADE CULTURAL AO

PLURALISMO CULTURAL

Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, tor-na-se indispensável garantir uma interação harmoniosaentre pessoas e grupos com identidades culturais a umsó tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como suavontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclu-são e a participação de todos os cidadãos garantem a coe-são social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Defi-nido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a res-posta política à realidade da diversidade cultural. Inse-parável de um contexto democrático, o pluralismo cul-tural é propício aos intercâmbios culturais e ao desen-volvimento das capacidades criadoras que alimentam avida pública.

ARTIGO 3 – A DIVERSIDADE CULTURAL, FATOR DE DESENVOLVIMENTO

A diversidade cultural amplia as possibilidades de esco-lha que se oferecem a todos; é uma das fontes do desen-volvimento, entendido não somente em termos de cres-cimento econômico, mas também como meio de acesso auma existência intelectual, afetiva, moral e espiritualsatisfatória.

Diversidade Cultural e Direitos Humanos

ARTIGO 4 – OS DIREITOS HUMANOS, GARANTIAS

DA DIVERSIDADE CULTURAL

A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético,inseparável do respeito à dignidade humana. Ela impli-ca o compromisso de respeitar os direitos humanos e asliberdades fundamentais, em particular os direitos das

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pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóc-tones. Ninguém pode invocar a diversidade cultural paraviolar os direitos humanos garantidos pelo direito inter-nacional, nem para limitar seu alcance.

ARTIGO 5 – OS DIREITOS CULTURAIS, MARCO

PROPÍCIO DA DIVERSIDADE CULTURAL

Os direitos culturais são parte integrante dos direitoshumanos, que são universais, indissociáveis e interde-pendentes. O desenvolvimento de uma diversidade cria-tiva exige a plena realização dos direitos culturais, talcomo os define o Artigo 27 da Declaração Universal deDireitos Humanos e os artigos 13 e 15 do Pacto Interna-cional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Todapessoa deve, assim, poder expressar-se, criar e difundirsuas obras na língua que deseje e, em partícular, na sualíngua materna; toda pessoa tem direito a uma educaçãoe uma formação de qualidade que respeite plenamentesua identidade cultural; toda pessoa deve poder partici-par na vida cultural que escolha e exercer suas própriaspráticas culturais, dentro dos limites que impõe o respei-to aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

ARTIGO 6 – RUMO A UMA DIVERSIDADE

CULTURAL ACCESSÍVEL A TODOS

Enquanto se garanta a livre circulação das idéiasmediante a palavra e a imagem, deve-se cuidar para quetodas as culturas possam se expressar e se fazer conhe-cidas. A liberdade de expressão, o pluralismo dos meiosde comunicação, o multilingüismo, a igualdade de aces-so às expressões artísticas, ao conhecimento científico etecnológico – inclusive em formato digital - e a possibi-lidade, para todas as culturas, de estar presentes nos

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meios de expressão e de difusão, são garantias da diver-sidade cultural.

Diversidade Cultural e Criatividade

ARTIGO 7 – O PATRIMÔNIO CULTURAL, FONTE DA CRIATIVIDADE

Toda criação tem suas origens nas tradições culturais,porém se desenvolve plenamente em contato com outras.Essa é a razão pela qual o patrimônio, em todas suas for-mas, deve ser preservado, valorizado e transmitido àsgerações futuras como testemunho da experiência e dasaspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade emtoda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálo-go entre as culturas.

ARTIGO 8 – OS BENS E SERVIÇOS CULTURAIS, MERCADORIAS DISTINTAS DAS DEMAIS

Frente às mudanças econômicas e tecnológicas atuais,que abrem vastas perspectivas para a criação e a inova-ção, deve-se prestar uma particular atenção à diversida-de da oferta criativa, ao justo reconhecimento dos direi-tos dos autores e artistas, assim como ao caráter especí-fico dos bens e serviços culturais que, na medida em quesão portadores de identidade, de valores e sentido, nãodevem ser considerados como mercadorias ou bens deconsumo como os demais.

ARTIGO 9 – AS POLÍTICAS CULTURAIS, CATALISADORAS DA CRIATIVIDADE

As políticas culturais, enquanto assegurem a livre circu-lação das idéias e das obras, devem criar condições pro-pícias para a produção e a difusão de bens e serviços cul-

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turais diversificados, por meio de indústrias culturaisque disponham de meios para desenvolver-se nos planoslocal e mundial. Cada Estado deve, respeitando suasobrigações internacionais, definir sua política cultural eaplicá-la, utilizando-se dos meios de ação que julguemais adequados, seja na forma de apoios concretos ou demarcos reguladores apropriados.

Diversidade Cultural e Solidariedade Internacional

ARTIGO 10 – REFORÇAR AS CAPACIDADES DE

CRIAÇÃO E DE DIFUSÃO EM ESCALA MUNDIAL

Ante os desequilíbrios atualmente produzidos no fluxoe no intercâmbio de bens culturais em escala mundial, énecessário reforçar a cooperação e a solidariedade inter-nacionais destinadas a permitir que todos os países, emparticular os países em desenvolvimento e os países emtransição, estabeleçam indústrias culturais viáveis ecompetitivas nos planos nacional e internacional.

ARTIGO 11 – ESTABELECER PARCERIAS ENTRE O SETOR

PÚBLICO, O SETOR PRIVADO E A SOCIEDADE CIVIL

As forças do mercado, por si sós, não podem garantir apreservação e promoção da diversidade cultural, condi-ção de um desenvolvimento humano sustentável. Desseponto de vista, convém fortalecer a função primordialdas políticas públicas, em parceria com o setor privadoe a sociedade civil.

ARTIGO 12 – A FUNÇÃO DA UNESCO

A unesco, por virtude de seu mandato e de suas fun-ções, tem a responsabilidade de:

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a) promover a incorporação dos princípios enuncia-dos na presente Declaração nas estratégias de desenvol-vimento elaboradas no seio das diversas entidades inter-governamentais;

b) servir de instância de referência e de articulaçãoentre os Estados, os organismos internacionais governa-mentais e não-governamentais, a sociedade civil e o setorprivado para a elaboração conjunta de conceitos, objeti-vos e políticas em favor da diversidade cultural;

c) dar seguimento a suas atividades normativas, desensibilização e de desenvolvimento de capacidades nosâmbitos relacionados com a presente Declaração dentrode suas esferas de competência;

d) facilitar a aplicação do Plano de Ação, cujas linhasgerais se encontram apensas à presente Declaração.

LINHAS GERAIS DE UM PLANO DE AÇÃO PARA A APLICAÇÃO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DA UNESCO SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL

Os Estados Membros se comprometem a tomar as medi-das apropriadas para difundir amplamente a DeclaraçãoUniversal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural e fo-mentar sua aplicação efetiva, cooperando, em particular,com vistas à realização dos seguintes objetivos:

1. Aprofundar o debate internacional sobre os proble-mas relativos à diversidade cultural, especialmente osque se referem a seus vínculos com o desenvolvimento ea sua influência na formulação de políticas, em escalatanto nacional como internacional; Aprofundar, em par-

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ticular, a reflexão sobre a conveniência de elaborar uminstrumento jurídico internacional sobre a diversidadecultural.

2. Avançar na definição dos princípios, normas e práticasnos planos nacional e internacional, assim como dos meiosde sensibilização e das formas de cooperação mais propí-cios à salvaguarda e à promoção da diversidade cultural.

3. Favorecer o intercâmbio de conhecimentos e de práti-cas recomendáveis em matéria de pluralismo cultural,com vistas a facilitar, em sociedades diversificadas, ainclusão e a participação de pessoas e grupos advindosde horizontes culturais variados.

4. Avançar na compreensão e no esclarecimento do con-teúdo dos direitos culturais, considerados como parteintegrante dos direitos humanos.

5. Salvaguardar o patrimônio lingüístico da humanidadee apoiar a expressão, a criação e a difusão no maior núme-ro possível de línguas.

6. Fomentar a diversidade lingüística - respeitando a lín-gua materna – em todos os níveis da educação, onde querque seja possível, e estimular a aprendizagem do pluri-lingüismo desde a mais jovem idade.

7. Promover, por meio da educação, uma tomada de cons-ciência do valor positivo da diversidade cultural e aper-feiçoar, com esse fim, tanto a formulação dos programasescolares como a formação dos docentes.

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8. Incorporar ao processo educativo, tanto o quanto ne-cessário, métodos pedagógicos tradicionais, com o fim depreservar e otimizar os métodos culturalmente adequa-dos para a comunicação e a transmissão do saber.

9. Fomentar a “alfabetização digital” e aumentar o domí-nio das novas tecnologias da informação e da comunica-ção, que devem ser consideradas, ao mesmo tempo, dis-ciplinas de ensino e instrumentos pedagógicos capazesde fortalecer a eficácia dos serviços educativos.

10. Promover a diversidade lingüística no ciberespaço efomentar o acesso gratuito e universal, por meio dasredes mundiais, a todas as informações pertencentes aodomínio público.

11. Lutar contra o hiato digital – em estreita cooperaçãocom os organismos competentes do sistema das NaçõesUnidas - favorecendo o acesso dos países em desenvolvi-mento às novas tecnologias, ajudando-os a dominar astecnologias da informação e facilitando a circulação ele-trônica dos produtos culturais endógenos e o acesso detais países aos recursos digitais de ordem educativa, cul-tural e científica, disponíveis em escala mundial.

12. Estimular a produção, a salvaguarda e a difusão deconteúdos diversificados nos meios de comunicação enas redes mundiais de informação e, para tanto, promo-ver o papel dos serviços públicos de radiodifusão e detelevisão na elaboração de produções audiovisuais dequalidade, favorecendo, particularmente, o estabeleci-mento de mecanismos de cooperação que facilitem adifusão das mesmas.

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13. Elaborar políticas e estratégias de preservação e valo-rização do patrimônio cultural e natural, em particulardo patrimônio oral e imaterial e combater o tráfico ilíci-to de bens e serviços culturais.

14. Respeitar e proteger os sistemas de conhecimento tra-dicionais, especialmente os das populações autóctones;reconhecer a contribuição dos conhecimentos tradicio-nais para a proteção ambiental e a gestão dos recursosnaturais e favorecer as sinergias entre a ciência modernae os conhecimentos locais.

15. Apoiar a mobilidade de criadores, artistas, pesquisa-dores, cientistas e intelectuais e o desenvolvimento deprogramas e associações internacionais de pesquisa, pro-curando, ao mesmo tempo, preservar e aumentar a capa-cidade criativa dos países em desenvolvimento e emtransição.

16. Garantir a proteção dos direitos de autor e dos direi-tos conexos, de modo a fomentar o desenvolvimento dacriatividade contemporânea e uma remuneração justa dotrabalho criativo, defendendo, ao mesmo tempo, o direi-to público de acesso à cultura, conforme o Artigo 27 daDeclaração Universal de Direitos Humanos.

17. Ajudar a criação ou a consolidação de indústrias cul-turais nos países em desenvolvimento e nos países emtransição e, com este propósito, cooperar para desenvol-vimento das infra-estruturas e das capacidades necessá-rias, apoiar a criação de mercados locais viáveis e facili-tar o acesso dos bens culturais desses países ao mercadomundial e às redes de distribuição internacionais.

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18. Elaborar políticas culturais que promovam os princí-pios inscritos na presente Declaração, inclusive median-te mecanismos de apoio à execução e/ou de marcos regu-ladores apropriados, respeitando as obrigações interna-cionais de cada Estado.

19. Envolver os diferentes setores da sociedade civil nadefinição das políticas públicas de salvaguarda e promo-ção da diversidade cultural.

20. Reconhecer e fomentar a contribuição que o setorprivado pode aportar à valorização da diversidade cul-tural e facilitar, com esse propósito, a criação de espaçosde diálogo entre o setor público e o privado.

Os Estados Membros recomendam ao Diretor Geralque, ao executar os programas da unesco, leve em con-sideração os objetivos enunciados no presente Plano deAção e que o comunique aos organismos do sistema dasNações Unidas e demais organizações intergovernamen-tais e não-governamentais interessadas, de modo a refor-çar a sinergia das medidas que sejam adotadas em favorda diversidade cultural.

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Decreto n.º 5.051,de 19 de abrilde 200430

Promulga a Convenção n.º 169 da Organização Internacio-nal do Trabalho – oit sobre Povos Indígenas e Tribais.

O Presidente da República, no uso da atribuição quelhe confere o art. 84, inciso iv, da Constituição,

Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pormeio do Decreto Legislativo n.º 143, de 20 de junho de2002, o texto da Convenção n.º 169 da Organização In-ternacional do Trabalho – oit sobre Povos Indígenas eTribais, adotada em Genebra, em 27 de junho de 1989;

Considerando que o Governo brasileiro depositou oinstrumento de ratificação junto ao Diretor Executivo daoit em 25 de julho de 2002;

Considerando que a Convenção entrou em vigor inter-nacional, em 5 de setembro de 1991, e, para o Brasil, em25 de julho de 2003, nos termos de seu art. 38;

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30 O texto da Convenção foi retirado de tomei, Manuela; sewpston, Lee.

Povos indígenas e tribais: guia para a aplicação da convenção n.° 169 da

OIT. 1.° edição, Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 1999.

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Decreta:Art. 1.º A Convenção n.º 169 da Organização Interna-

cional do Trabalho – oit sobre Povos Indígenas e Tribais,adotada em Genebra, em 27 de junho de 1989, apensapor cópia ao presente Decreto, será executada e cumpri-da tão inteiramente como nela se contém.

Art. 2.º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacio-nal quaisquer atos que possam resultar em revisão da re-ferida Convenção ou que acarretem encargos ou compro-missos gravosos ao patrimônio nacional, nos termos do

Art. 3.º Este Decreto entra em vigor na data de suapublicação

Brasília, 19 de abril de 2004; 183. º da Independênciae 116. º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVACelso Luiz Nunes Amorim

CONVENÇÃO N.º 169 DA OIT SOBRE POVOS INDÍGENAS E TRIBAIS

A Conferência Geral da Organização Internacional doTrabalho,

Convocada em Genebra pelo Conselho de Administra-ção do Secretariado da Organização Internacional doTrabalho, e ali reunida aos 7 de junho de 1989, em suaseptuagésima sexta sessão;

Examinando as normas internacionais contidas naConvenção e na Recomendação sobre populações indíge-nas e tribais, 1957;

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Lembrando os termos da Declaração Universal dosDireitos Humanos, do Pacto Internacional dos DireitosEconômicos, Sociais e Culturais, do Pacto Internacionaldos Direitos Civis e Políticos e dos numerosos instrumen-tos internacionais sobre prevenção da discriminação;

Considerando que a evolução do direito internacionaldesde 1957 e as mudanças ocorridas na situação dospovos indígenas e tribais, em todas as regiões do mundo,aconselham a adotoção de normas internacionais sobreeste assunto, com vistas a extirpar a orientação integra-cionista das normas anteriores;

Reconhecendo as aspirações desses povos de exerce-rem o controle de suas próprias instituições, de seusmodos de vida e de seu desenvolvimento econômico, emanterem e fortalecerem suas identidades, línguas e reli-giões, no âmbito dos estados em que vivem;

Observando que em muitas partes do mundo essespovos não podem gozar dos direitos humanos funda-mentais no mesmo medida que o restante da populaçãodos estados em que vivem, e que suas leis, valores, cos-tumes e perspectivas vêm em geral se deteriorando;

Considerando as especiais contribuições dos povosindígenas e tribais para a diversidade cultural, para aharmonia social e ecológica da humanidade e para a coo-peração e o entendimento internacionais;

Observando que as disposições a seguir foram formula-das com a colaboração das Organizações das Nações Unidas,da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciên-cia e a Cultura e da Organização Mundial da Saúde, assimcomo do Instituto Indigenista Interamericano, em níveisapropriados e em suas respectivas esferas de atuação, e quese mantém o propósito de continuar esta colaboração a fimde promover e assegurar a aplicação destas disposições;

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Tendo decidido adotar diversas proposições sobre arevisão parcial da Convenção n.º 107, de 1957, que tratade populações indígenas e tribais, questão que constituio quarto item da pauta da sessão, e

Tendo determinado que essas proposições se revistamda forma de uma convenção internacional que revise aConvenção sobre populações indígenas e tribais de 1957,

adota, neste vigésimo sétimo dia de junho de mil no-vecentos e oitenta e nove, a seguinte Convenção, quepoderá ser citada como a Convenção sobre os povos indí-genas e tribais de 1989:

Parte I Política Geral

ARTIGO 1.º1. A presente convenção se aplica:

a) aos povos tribais em países independentes, cujascondições sociais, culturais e econômicas os distingamde outros setores da comunidade nacional, e sejam regi-dos, total ou parcialmente, por seus próprios costumesou tradições ou por legislação especial;

b) aos povos em países independentes, consideradosindígenas pelo fato de descenderem de populações quehabitavam o país ou região geográfica à qual pertencia opaís à época da conquista ou colonização ou do estabele-cimento das atuais fronteiras estatais, e que, qualquerqual que seja sua situação jurídica, conservam todas assuas instituições sociais, econômicas, culturais e políti-cas, ou parte delas.2. A consciência de sua identidade indígena ou tribaldeverá ser tida como critério fundamental para determi-

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nar os grupos aos quais se aplicam as disposições destaConvenção.3. A utilização do termo “povos” nesta Convenção nãodeverá ser interpretado como tendo qualquer implicaçãocom o que se refira a direitos que lhe possam ser atribuí-dos no direito internacional.

ARTIGO 2.º1. Os governos deverão assumir a responsabilidade dedesenvolver, com a participação dos povos em questão,ação coordenada e sistemática com vistas a proteger seusdireitos e a garantir o respeito a sua integridade.2. Essa ação deverá incluir medidas para:

a) assegurar que os membros desses povos gozem, emcondições de igualdade, dos direitos e oportunidadesque a legislação nacional outorga aos demais membros dapopulação;

b) promover a plena efetividade dos direitos sociais,econômicos e culturais desses povos, respeitando suaidentidade social e cultural, seus costumes, tradições, eas suas instituições;

c) auxiliar os membros dos povos em questão a elimi-nar as diferenças sócio-econômicas que possam existirentre os membros indígenas e os demais membros dacomunidade nacional, de maneira compatível com suasaspirações e modos de vida.

ARTIGO 3.º1. Os povos indígenas e tribais deverão gozar plenamen-te dos direitos humanos e liberdades fundamentais, semobstáculos nem discriminação. As disposições destaConvenção serão aplicadas sem discriminação aos ho-mens e mulheres desses povos.

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2. Não deverá ser empregada qualquer forma de força oucoação que viole os direitos humanos e as liberdades fun-damentais desses povos, inclusive os direitos contidosnesta Convenção.

ARTIGO 4.º1. Deverão ser adotadas as medidas especiais necessáriaspara salvaguardar as pessoas, as instituições, os bens, otrabalho, a cultura e o meio ambiente desses povos.2. Essas medidas especiais não deverão ser contrárias aosdesejos livremente expressos por esses povos.3. De maneira alguma deverá ser prejudicado por essasmedidas especiais o gozo, sem discriminação, dos direi-tos gerais de cidadania.

ARTIGO 5.ºAo se aplicar as disposições da presente Convenção:

a) deverão ser reconhecidos e protegidos os valores eas práticas sociais, culturais, religiosas e espirituais des-ses povos, e se deverá levar devidamente em considera-ção a natureza dos problemas que os aflingem tanto cole-tiva como individualmente;

b) a integridade dos valores, das práticas e institui-ções desses povos deverá ser respeitada;

c) políticas deverão ser adotadas, com a participaçãoe cooperação desses povos, com vista a diminuir as difi-culdades experimentam ao enfrentarem novas condiçõesde vida e de trabalho.

ARTIGO 6.º1. Ao aplicarem as disposições da presente Convenção,os governos deverão:

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a) consultar esses povos, mediante procedimentosapropriados, principalmente por meio de suas institui-ções representativas, toda vez que se considerem medi-das legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente;

b) estabelecer os meios pelos quais esses povos possamparticipar livremente, pelo menos na mesma proporçãoque os demais segmentos da população e em todos osníveis, na adoção de decisões em instituições eletivas eórgãos administrativos e de outra natureza, responsáveispor políticas e programas que lhes digam respeito;

c) criar os meios para o pleno desenvolvimento dasinstituições e iniciativas desses povos e, nos devidoscasos, proporcionar os necessários recursos para este fim.

d) as consultas realizadas na aplicação desta Conven-ção deverão ser feitas de boa fé e de acordo com as cir-cunstâncias, com o objetivo de se chegar a um acordo ouobter o consentimento sobre as medidas propostas.

ARTIGO 7.º1. Os povos indígenas e tribais deverão ter o direito dedecidir suas próprias prioridades no que se refere ao pro-cesso de desenvolvimento na medida em que afete suasvidas, crenças, instituições e bem-estar espiritual, e àsterras que ocupam ou utilizam de alguma forma, e de con-trolar, na medida do possível, seu próprio desenvolvi-mento econômico, social e cultural. Além disso, deverãoparticipar da formulação, implementação e avaliação dosplanos e programas de desenvolvimento nacional e regio-nal suscetíveis de os afetar diretamente.2. A melhoria das condições de vida e de trabalho e dosníveis de saúde e educação dos povos indígenas e tribaisdeverá, com sua participação e cooperação, ser objetivo

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prioritária nos planos de desenvolvimento econômicoglobal das regiões onde habitam. Os projetos especiais dedesenvolvimento para estas regiões deverão também serelaborados de forma a promoverem essa melhoria.3. Os governos deverão velar por que, sempre que opor-tuno, sejam realizados estudos em cooperação com ospovos em questão, a fim de avaliar o impacto social, espi-ritual, cultural e ambiental que as planejadas atividadesde desenvolvimento possam ter sobre esses povos. Osresultados desses estudos deverão ser consideradoscomo critérios fundamentais para a execução das men-cionadas atividades.4. Os governos deverão tomar medidas, em cooperaçãocom esses povos, para proteger e preservar o meio am-biente dos territórios que habitam.

ARTIGO 8.º1. Ao se aplicar a legislação nacional a esses povos inte-ressados, deverão ser levados devidamente em conside-ração seus costumes ou seu direito consuetudinário.2. Esses povos deverão ter o direito de manter seus cos-tumes e instituições próprias, desde que não sejam in-compatíveis com os direitos fundamentais definidos pelosistema jurídico nacional nem com os direitos humanosinternacionalmente reconhecidos. Sempre que necessá-rio, deverão ser estabelecidos procedimentos para sesolucionar conflitos que possam surgir na aplicação des-te principio.3. A aplicação dos parágrafos 1º e 2º deste Artigo nãodeverá impedir os membros desses povos de exerceremos direitos reconhecidos a todos os cidadãos e de assu-mir as obrigações correspondentes.

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ARTIGO 9.º1. Na medida em que sejam compatíveis com o sistemajurídico nacional e com os direitos humanos internacio-nalmente reconhecidos, deverão ser respeitados os méto-dos tradicionalmente utilizados por esses povos parareprimir os delitos cometidos por seus membros.2. Os costumes desses povos deferão ser levados emconsideração por autoridades e tribunais ao se pronun-ciarem sobre matéria penal.

ARTIGO 101. Ao ser imposta sanções penais previstas pela legisla-ção geral a membros desses povos, dever-se-ão levar emconta suas características econômicas, sociais e culturais.2. Dever-se-á dar preferência a tipos de sanções diferen-tes do encarceramento.

ARTIGO 11A lei deverá proibir e punir a imposição de serviços pes-soais obrigatórios de qualquer natureza, remuneradosou não, a membros desses povos, exceto nos casos pre-vistos por lei para todos os cidadãos.

ARTIGO 12Os povos indígenas e tribais deverão ser protegidos contraa violação de seus direitos e deverão poder mover açãojudicial, individualmente ou por meio de suas organisa-ções representativas, para assegurar o respeito efetivo aesses direitos. Deverão ser adotadas medidas para garantirque os membros desses povos possam compreender e sercompreendidos em processos judiciais, facultando-se-lhes,quando necessário, intérpretes ou outros meios eficazes.

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Parte II Terras

ARTIGO 131. Ao se aplicarem as disposições desta parte da Conven-ção, os governos deverão respeitar a importância especialde que, para as culturas e valores espirituais desses povos,se reveste sua relação com as terras e/ou territórios, con-forme os casos, que ocupam ou utilizam de algum modo,particularmente, os aspectos coletivos dessa relação.2. O uso do termo “terras” nos artigos 15 e 16 deveráincluir o conceito de territórios, o qual abrange a totali-dade do habitat das regiões que esses povos ocupam ouutilizam de alguma forma.

ARTIGO 141. Deverão ser reconhecidos os direitos de propriedade eposse desses povros sobre as terras que ocupam tradicio-nalmente. Além disso, nos casos apropriados, deverão sertomadas medidas para salvaguardar o direito dessespovos de usar terras que não-ocupadas exclusivamentepor eles, mas às quais tenham tradicionalmente tido aces-so para suas atividades tradicionais e de subsistência. Nes-se sentido, atenção especial deve ser dispensada à situa-ção dos povos nômades e dos agricultores itinerantes.2. Os governos deverão tomar as providências necessá-rias para definir as terras que esss povos ocupam tradi-cionalmente, e garantir a efetiva proteção dos seus direi-tos de propriedade e posse.3. Procedimentos adequados no âmbito do sistema jurí-dico nacional deverão ser instituídos para decidir sobreas reivindicações relativas a terras formuladas por essespovos.

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ARTIGO 151. Deverão ser especialmente protegidos os direitos des-ses povos aos recursos naturais existentes em suas terras.Esses direitos compreendem o direito desses povos departiciparem do uso, administração e conservação des-ses recursos.2. Nos casos em que a propriedade dos minerais ou dosrecursos do subsolo pertencem ao Estado ou em que estetenha direitos sobre outros recursos existentes nessas ter-ras, os governos deverão estabelecer ou manter proce-dimentos por meio dos quais deverão consultar os povosinteressados, com vistas a verificar se os interesses des-ses povos seriam prejudicados, e em que medida, antes deempreenderem ao autorizarem quaisquer programas deprospecção ou esploração dos recursos existentes em suasterras. Os povos interessados deverão participar, sempreque possível, dos benefícios decorrentes dessas ativida-des, e deverão receber justa indenização por quaisquerdanos que possam sofrer em razão dessas atividades.

ARTIGO 161. À exceção do disposto nos parágrafos seguintes desteArtigo, os povos indígenas e tribais não deverão serremovidos das terras que ocupam.2. Quando, excepcionalmente, se consideram necessá-rios a remoção e o reassentamento desses povos, deverãoser feitos com seu livre consentimento, dado com plenoconhecimento de causa. Quando este consentimento nãopuder ser obtido, a remoção e o reassentamento deverãoter lugar após o término de procedimentos adequadosestabelecidos pela legislação nacional, compreendendo,quando oportuno, consultas públicas que dêem oportu-nidade de representação efetiva a esses povos.

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3. Sempre que possível, esses povos deverão ter o direi-to de regressar às suas terras tradicionais tão logo deixemde existir as causas que motivaram sua remoção e reas-sentamento.4. Quando esse retorno não for possível, conforme sedetermine por acordo ou, na falta desse acordo, por meiode procedimentos adequados, esses povos, em todos oscasos possíveis, deverão receber terras cuja qualidade esituação jurídicoa sejam pelo menos iguais às das terrasque ocupavam anteriormente, aptas a atenderem a suasnecessidades do momento e a garantirem seu desenvol-vimento futuro. Quando esses povos preferirem receberindenização em dinheiro ou em espécie, a indenizaçãolhes deverá ser concedida com as devidas garantias.5. As pessoas removidas e reassentadas deverão ser ple-namente indenizadas por qualquer perda ou dano sofri-do em conseqüência de sua remoção.

ARTIGO 171. Deverão ser respeitadas as modalidades estabelecidaspelos povos indígenas e tribais para a transmissão dosdireitos sobre a terra entre os membros desses povos.2. Os povos em questão deverão ser consultados sempreque se considere sua capacidade de alienar suas terras outransmitirem de outro modo seus direitos sobre essas ter-ras fora de sua comunidade.3. Dever-se-á impedir que pessoas estranhas a essespovos possam se aproveitar dos costumes desses povo oudo desconhecimento das leis por parte dos seus membros,para obterem a propriedade, a posse ou o uso das terrasa eles pertencentes.

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ARTIGO 18A lei deverá estabeler as devidas sanções de toda intru-são não-autorizada nas terras desses povos, e os gover-nos deverão tomar medidas para impedir essas infrações.

ARTIGO 19Os programas agrários nacionais deverão garantir a essespovos tratamento equivalente ao concedido aos demaissegmentos da população, para os seguintes efeitos:

a)distribuição de terras adicionais a esses povos quan-do as terras de que dispunham sejam insuficientes paralhes garantir o indispensável a uma existência normal oupara fazer frente ao seu possível crescimento numérico;

b) concessão dos meios necessários para promovr odesenvolvimento das terras que esses povos já possuam.

Parte III Contratação e condições de emprego

ARTIGO 201. Os governos deverão adotar, no âmbito de sua legisla-ção nacional e em cooperação com os povos em questão,medidas especiais para assegurar aos trabalhadores per-tencentes a esses povos uma proteção eficaz em matériade contratação e condições de trabalho, na medida emque não estejam eficazmente protegidos pela legislaçãoaplicável aos trabalhadores em geral.2. Os governos deverão fazer tudo o que estiver a seualcance para evitar qualquer discriminação entre os tra-balhadores pertencentes ao povos em questão e outrostrabalhadores, especialmente no que se refere a:

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a) admissão em emprego, inclusive nos empregos qua-lificados, bem como medidas de promoção e ascensão;

b) remuneração igual por trabalho de igual valor;c) assistência médica e social, segurança e saúde no

trabalho, todos os benefícios da previdência social equaisquer outros docorrentes do emprego, bem comomoradia;

d) direito de associação, direito de dedicar-se livre-mente a todas as atividades sindicais para fins lícitos, edireito a fimar contratos coletivos com empregadores oucom organizações de empregadores.3. As medidas adotadas deverão, particularmente, ga-rantir que:

a) os trabalhadores que pertencam aos povos indíge-nas e tribais, inclusive os trabalhadores sazonais, tempo-rários e migrantes empregados na agricultura ou emoutras atividades, bem como os empregados por contra-to de empreitada, gozem da proteção conferida pela le-gislação e pela prática nacionais a outros trabalhadoresdessas categorias nos mesmos segmentos, e sejam plena-mente instruídos sobre seus direitos segundo a legisla-ção trabalhista e sobre os recursos de que dispõem;

b) os trabalhadores pertencentes a esses povos nãosejam submetidos a condições de trabalho perigosas paraa sua saúde, particularmente em conseqüência da expo-sição a agrotóxicos ou a outras substâncias tóxicas;

c) os trabalhadores pertencentes a esses povos não sejamsubmetidos a sistemas de contratação coerciva, inclusive otrabalho escravo e outras formas de servidão por dívidas;

d) os trabalhadores pertencentes a esses povos gozemde igualdade de oportunidade e de tratamento entrehomens e mulheres no emprego, e de proteção contra oconstrangimento sexual.

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4. Atenção especial deve ser dispensada à criação de ade-quados serviços de inspeção do trabalho nas regiõesonde os trabalhadores pertencentes a esses povos exerçamatividades assalariadas, a fim de garantir o cumprimentodas disposições desta parte da presente Convenção.

Parte IVFormação profissional, artesanato e

atividades rurais

ARTIGO 21Os membros dos povos em questão deverão ter oportu-nidade de formação profissional pelo menos iguais às dosdemais cidadãos.

ARTIGO 221. Medidas deverão ser adotadas para promover a parti-cipação voluntária de membros desses povos em progra-mas de formação profissional de aplicação geral.2. Quando os programas existentes de formação profis-sional de aplicação geral não atenderem às necessidadesespeciais desses povos, os governos deverão assegurar,com sua participação, que se ponham à sua disposiçãoprogramas e meios especiais de formação.3. Esses programas especiais de formação deverão serbaseados nas circunstâncias econômicas, nas condiçõessociais e culturais e nas necessidades concretas dessespovos. Todo estudo a esse respeito deverá ser realizadoem cooperação com esses povos, que deverão ser consul-tados sobre a organização e o funcionamento desses pro-gramas. Quando possível, e se assim o decidirem, essespovos deverão assumir progressivamente a responsabili-

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dade pela organização e o funcionamento desses progra-mas especiais de formação.

ARTIGO 231. O artesanato, as indústrias rurais e comunitárias, aeconomia de subsistência e as atividades tradicionaisdesses povos, como a caça, a caça com armadilhas e acolheita, deverão ser reconhecidos como fatores impor-tantes de manutenção de sua cultura, bem como de suaautosuficiência e desenvolvimento econômicos. Osgovernos deverão, com a participação desses povos esempre que oportuno, garantir que essas atividadessejam fortalecidas e estimuladas.2. Sempre que possível, a pedido dos povos em questão,deverá ser proporcionada a devida assistência técnica efinanceira apropriada que leve em conta as técnicastradicionais e as características culturais desses povos,assim como a importância de um desenvolvimento sus-tentado e equitativo.

Parte V Previdência social e saúde

ARTIGO 24Os sistemas de previdência social deverão ser estendidosprogressivamente aos povos indígenas e tribais e lhes seraplicados sem qualquer discriminação.

ARTIGO 251. Os governos deverão assegurar que adequados servi-ços de saúde sejam postos à disposição desses povos, oulhes proporcionar recursos que lhes permiam organizar

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e prestar tais serviços sob sua própria responsabilidadee controle, de maneira que possam gozar do mais altonível de saúde física e mental possível.2. Os serviços de saúde deverão ser, na medida do pos-sível, organizados em nível comunitário. Esses serviçosdeverão ser planejados e administrados em cooperaçãocom os povos em questão e deverão levar em conta suascondições econômicas, geográficas, sociais e culturais,bem como os seus métodos de prevenção, práticas cura-tivas e medicamentos tradicionais.3. O sistema de assistência à saúde deverá dar preferên-cia à formação e ao emprego de pessoal de saúde das co-munidades locais e concentrar-se nos cuidados básicosde saúde, mantendo, ao mesmo tempo, estreita víncula-ção com os demais níveis de assistência à saúde.4. A prestação desses serviços de saúde deverá ser coor-denada com outras medidas sociais, econômicas e cultu-rais no país.

Parte VIEducação e meios de comunicação

ARTIGO 26Deverão ser adotadas medidas para garantir aos membrosdos povos em questão a oportunidade de receberem edu-cação em todos os níveis, ao menos em condições deigualdade com o restante da comunidade nacional.

ARTIGO 271. Os programas e os serviços de educação destinados aesses povos deverão ser desenvolvidos e implementa-dos em cooperação com eles, a fim de atender às suas

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necessidades particulares, e deverão incorporar suahistória, seus conhecimentos e técnicas, seus sistemasde valores e todas as suas demais aspirações sociais,econômicas e culturais.2. A autoridade competente deverá assegurar a forma-ção de membros destes povos e sua participação na for-mulação e implementação de programas de educação,com vistas a lhes transferir progressivamente, quandooportuno, a responsabilidade de sua administração.3. Além disso, os governos deverão reconhecer o direitodesses povos de criarem suas próprias instituições e ins-talações de educação, contanto que essas instituições sa-tisfaçam às normas mínimas estabelecidas pela autorida-de competente em consulta com esses povos. Deverão serproporcionados os devidos recursos para este fim.

ARTIGO 281. Desde que viável, as crianças desses povos deverão serensidados a ler e escrever em sua própria língua indígenaou na língua mais comumente falada pelo grupo a que per-tençam. Quando isto não for possível, as autoridades com-petentes deverão fazer consultas a esses povos com vistasà adoção de medidas que permitam alcançar esse objetivo.2. Deverão ser tomadas medidas adequadas para assegurarque esses povos tenham a oportunidade de chegar a domi-nar a língua nacional ou uma das línguas oficiais do país.3. Providências deverão ser tomadas para se preservar epromover o desenvolvimento e a prática das línguasindígenas desses povos.

ARTIGO 29A educação deverá ter por objetivo dar às crianças dospovos em questão conhecimentos gerais e habilidades

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que as ajudem a participar integralmente, e em condi-ções de igualdade, da vida de sua própria comunidade eda comunidade nacional.

ARTIGO 301. Os governos deverão adotar medidas apropriadas àstradições e à cultura dos povos em questão, a fim de lhesdar a conhecer seus direitos e obrigações, especialmenteno que se refere ao trabalho, às oportunidades econômi-cas, às questões de educação e saúde, ao bem-estar sociale aos direitos decorrentes da presente Convenção.2. Para esse fim, se necessário, se deverá recorrer a tra-duções escritas e à utilização dos meios de comunicaçãode massa nas línguas desses povos.

ARTIGO 31Medidas de caráter educativo deverão ser adotadas emtodos os setores da comunidade nacional, particularmen-te naqueles que estejam em contato mais direto com ospovos em questão, com o objetivo de eliminar os precon-ceitos que possam ter com respeito a esses povos. Paratanto, deverão ser feitos esforços para assegurar que oslivros de história e outros materiais didáticos ofereçamuma descrição justa, exata e instrutiva das sociedades eculturas dos povos em questão.

Parte VIIContatos e Cooperação através das Fronteiras

ARTIGO 32Os governos deverão tomar medidas apropriadas, inclusi-ve por meio de acordos internacionais, para facilitar os

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contatos e a cooperação entre povos indígenas e tribaisatravés das fronteiras, incluindo atividades nas esferaeconômica, social, cultural, espiritual e de meio ambiente.

Parte VIIIAdministração

ARTIGO 331. A autoridade governamental responsável pelas ques-tões de que trata esta Convenção deverá assegurar-se deque haja instituições ou outros mecanismos apropriadospara administrar os programas que afetem os povos indí-genas e tribais e de que tais instituições e mecanismosdisponham dos meios necessários para o cabal desempe-nho de suas funções.2. Esses programas deverão incluir:

a) planejamento, coordenação, execução e avaliação,em cooperação com esses povos, das medidas previstasna presente Convenção;

b) propositura de medidas legislativas e de outra natu-reza às autoridades competentes e o controle da aplicaçãodas medidas adotadas, em cooperação com esses povos.

Parte IXDisposições Gerais

ARTIGO 34A natureza e o alcance das medidas que se adotem paradar efeito à presente Convenção deverão ser definidascom flexibilidade, levando-se em consideração as condi-ções particulares de cada país.

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ARTIGO 35A aplicação das disposições da presente Convenção nãodeverá prejudicar os direitos e os benefícios garantidosaos povos em questão por outras convenções e recomen-dações, instrumentos internacionais, tratados, ou leis,sentenças, costumes ou acordos nacionais.

Parte XDisposições Finais

ARTIGO 36Esta Convenção revê a Convenção sobre populações indí-genas e tribais de 1957.

ARTIGO 37As ratificações formais da presente Convenção deverãoser comunicadas ao Diretor-Geral do Secretariado daOrganização Internacional do Trabalho, para registro.

ARTIGO 381. Esta Convenção obrigará os unicamente os membrosda Organização Internacional do Trabalho cujas ratifica-ções haja registrado o Diretor-Geral.2. Entrará em vigor doze meses após a data em que as ra-tificações de dois membros hajam sido registradas peloDiretor-Geral.3. A partir daí, esta Convenção entrará em vigor, paracada membro, doze meses após a data em que haja sidoregistrada sua ratificação.

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ARTIGO 391. Todo membro que tenha ratificado esta Convençãopoderá denunciá-la ao final de um período de dez anos,a contar da data em que tenha entrado em vigor, median-te comunicação ao Diretor-Geral do Secretariado daOrganização Internacional do Trabalho para registro. Adenúncia não terá efeito até um ano após a data em quetenha sido registrada.2. Todo Membro que tenha ratificado esta Convenção eque, no prazo de um ano depois de expirado o períodode dez anos, mencionado no parágrafo anterior, não tiverexercido o direito de denúncio previsto neste Artigo,ficará obrigado por mais um período de dez anos e,sucessivamente, poderá denunciar esta Convenção aofinal de cada período de dez anos, nas condições previs-tas no presente Artigo.

ARTIGO 401. O Diretor-Geral da Secretariado da Organização Inter-nacional do Trabalho notificará todos os membros daOrganização do registro de todas as ratificações e denún-cias a ele comunicadas pelos membros da Organização.2. Ao notificar aos membros da Organização do registroda segunda ratificação que lhe tenha sido comunicada, oDiretor-Geral chamará atenção dos membros da Organi-zação para a data de entrada em que entrará em vigor apresente Convenção.

ARTIGO 41O Diretor-Geral do Secretariado da Organização Interna-cional do Trabalho comunicará ao Secretário-Geral dasOrganizações das Nações Unidas, para fins de registro emconformidade com o artigo 102 da Carta das Nações Uni-

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das, todos os detalhes sobre as ratificações e atos dedenúncia registrados por ele de acordo com os disposi-ções dos artigos precedentes.

ARTIGO 42Toda vez que julgar necessário, o Conselho de Adminis-tração do Secretariado da Organização Internacional doTrabalho apresentará à Conferência Geral relatório sobrea aplicação desta Convenção, e examinará a conveniên-cia de incluir na pauta da Conferência a questão de suarevisão total ou parcial.

ARTIGO 431. No caso de a Conferência adotar uma nova convençãoque implique a revisão total ou parcial da presente e, amenos que a nova convenção contenha disposições emcontrário:

a) a ratificação, por um membro, da nova convençãorevisora implicará, ipso jure, a denúncia imediata destaConvenção, não obstante as disposições contidas noArtigo 39 acima, desde que a nova convenção revisorahaja entrado em vigor;

b) a partir da entrada em que entrar em vigor a novaconvenção revisora, a presente Convenção deixará deestar aberta à ratificação pelos membros.2. Esta Convenção, em todo caso, continuará em vigor, emsua forma e conteúdo atuais, para os membros que a tive-rem ratificado e não ratificarem a convenção revisora.

ARTIGO 44As versões inglês e francês do texto desta Convenção sãoigualmente oficiais.

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Convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais 31

A Conferência Geral da Organização das Nações Unidaspara Educação, a Ciência e a Cultura, em sua 33° reunião,celebrada em Paris, de 3 a 21 de outubro de 2005,

Afirmando que a diversidade cultural é uma caracte-rística essencial da humanidade,

Ciente de que a diversidade cultural constituiu patri-mônio comum da humanidade, as er valorizado e culti-vado em benefício de todos,

Sabendo que a diversidade cultural cria um mundorico e variado que aumenta a gama de possibilidades e

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31 Retirada do site http://www.camara.gov.br/sileg/integras/392952.pdf, em

20 de março de 2007. Esta Convenção se encontra tramitando no Congres-

so Nacional, especificamente na Câmara dos Deputados sob a seguinte

designação: Projeto de Decreto Legislativo n. 2216/ 2006. Consta que foi

transformado em Decreto Legislativo n. 485/ 2006, conforme DOU de

22/12/2006, p. 14, col1.

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nutre as capacidades e valores humanos, constituindo,assim, um dos principais motores do desenvolvimentosustentável das comunidades, povos e nações,

Recordando que a diversidade cultural, ao florescer emum ambiente de democracia, tolerância, justiça social emútuo respeito entre povos e culturas, é indispensávelpara a paz e a segurança no plano local, nacional e inter-nacional,

Celebrando a importância da diversidade culturalpara a plena realização dos direitos humanos e das liber-dades fundamentais proclamados na Declaração Univer-sal dos Direitos do Homem e outros instrumentos uni-versalmente reconhecidos,

Destacando a necessidade de incorporar a culturacomo elemento estratégico das políticas de desenvolvi-mento nacionais e internacionais, bem como da coopera-ção internacional para o desenvolvimento, e tendo igual-mente em conta a Declaração do Milênio das Nações Uni-das (2000), com sua ênfase na erradicação da pobreza,

Considerando que a cultura assume formas diversasatravés do tempo e do espaço, e que esta diversidade semanifesta na originalidade e na pluralidade das identi-dades, assim como nas expressões culturais dos povos edas sociedades que formam a humanidade,

Reconhecendo a importância dos conhecimentos tra-dicionais como fontes de riqueza material e imaterial, e,em particular, dos sistemas de conhecimento das popu-lações indígenas, e sua contribuição positiva para odesenvolvimento sustentável, assim como a necessidadede assegurar sua adequada proteção e promoção,

Reconhecendo a necessidade de adotar medidas paraproteger a diversidade das expressões culturais incluin-do seus conteúdos, especialmente nas situações em que

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expressões culturais possam estar ameaçadas de extinçãoou de grave deterioração,

Enfatizando a importância da cultura para a coesão so-cial em geral, e, em particular, o seu potencial para a me-lhoria da condição da mulher e de seu papel na sociedade,

Ciente de que a diversidade cultural se fortalecemediante a livre circulação de idéias se nutre das trocasconstantes e da interação das culturas,

Reafirmando que a liberdade de pensamento, expres-são e informação, bem como a diversidade da mídia, pos-sibilitam o florescimento das expressões culturais nassociedades,

Reconhecendo que a diversidade das expressões cul-turais, incluindo as expressões culturais tradicionais, éum fator importante, que possibilita aos indivíduos e aospovos expressarem e compartilharem com outros as suasidéias e valores,

Recordando que a diversidade lingüística constituielemento fundamental da diversidade cultural, e reafir-mando o papel fundamental que a educação desempenhana proteção e promoção das expressões culturais,

Tendo em conta a importância da vitalidade das cul-turas para todos, incluindo as pessoas que pertencem aminorias e povos indígenas, tal como se manifesta em sualiberdade de criar, difundir e distribuir as suas expres-sões culturais tradicionais, bem como de ter acesso a elas,de modo a favorecer o seu próprio desenvolvimento,

Sublinhando o papel essencial da interação e da cria-tividade culturais, que nutrem e renovam as expressõesculturais, e fortalecem o papel desempenhado por aque-les que participam no desenvolvimento da cultura parao progresso da sociedade como um todo,

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Reconhecendo a importância dos direitos da proprie-dade intelectual para a manutenção das pessoas que par-ticipam da criatividade cultural,

Convencida de que as atividades, bens e serviços cul-turais possuem dupla natureza, tanto econômica quantocultural, uma vez que são portadores de identidades,valores e significados, não devendo, portanto, ser trata-dos como se tivessem valor meramente comercial,

Constatando que os processos de globalização, facili-tado pela rápida evolução das tecnologias de comunica-ção e informação, apesar de proporcionarem condiçõesinéditas para que se intensifiquem a interação entre cul-turas, constituem também um desafio para a diversida-de cultural, especialmente no que diz respeito aos riscosde desequilíbrios entre países ricos e pobres,

Ciente do mandato específico confiado à unesco paraassegurar o respeito à diversidade das culturas e reco-mendar os acordos internacionais que julgue necessáriospara promover a livre circulação de idéias por meio dapalavra e da imagem,

Referindo-se às disposições dos instrumentos interna-cionais adotados pela unesco relativos à diversidadecultural e ao exercício dos direitos culturais, em particu-lar a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural,de 2001,

Adota, em 20 de outubro de 2005, a presente Convenção

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IObjetivos e princípios diretores

ARTIGO 1 – OBJETIVOS

Os objetivos da presente Convenção são:a) proteger e promover a diversidade das expressões

culturais;b) criar condições para que as culturas floresçam e

interajam livremente em benefício mútuo;c) encorajar o diálogo entre culturas a fim de assegu-

rar intercâmbios culturais mais amplos e equilibrados nomundo em favor do respeito intercultural e de uma cul-tura da paz;

d) fomentar a interculturalidade de forma a desenvol-ver a interação cultural, no espírito de construir pontesentre os povos;

e) promover o respeito pela diversidade das expres-sões culturais e a conscientização de seu valor nos pla-nos local, nacional e internacional;

f) reafirmar a importância do vínculo entre cultura edesenvolvimento para todos os países , especialmentepara países em desenvolvimento, e encorajar as açõesempreendidas no plano nacional e internacional paraque se reconheça o autêntico valor desse vínculo;

g) reconhecer natureza específica da atividades, bense serviços culturais enquanto portadores de identidades,valores e significados;

h) reafirmar o direito soberano dos Estados de conser-var, adotar e implementar as políticas e medidas que con-siderem apropriadas para a proteção e promoção dadiversidade das expressões culturais em seu território;

i) fortalecer a cooperação e a solidariedade internacio-nais em um espírito de parceria visando, especialmente,

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o aprimoramento das capacidades dos países em desen-volvimento de protegerem e de promoverem a diversida-de das expressões culturais.

ARTIGO 2 – PRINCÍPIOS DIRETORES

1. PRINCÍPIO DO RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS

E ÀS LIBERDADES FUNDAMENTAIS

A diversidade cultural somente poderá ser protegida epromovida se estiverem garantidos os direitos humanose as liberdades fundamentais, tais como a liberdade deexpressão, informação e comunicação, bem como a pos-sibilidade dos indivíduos de escolherem expressões cul-turais. Ninguém poderá invocar as disposições da pre-sente Convenção para atentar contra os direitos dohomem e as liberdades fundamentais consagrados naDeclaração Universal dos Direitos Humanos e garantidospelo direito internacional, ou para limitar o âmbito desua aplicação.

2. PRINCÍPIO DA SOBERANIA

De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os prin-cípios do direito internacional, os Estados têm o direitosoberano de adotar medidas e políticas para a proteção epromoção da diversidade das expressões culturais emseus respectivos territórios.

3. PRINCÍPIO DA IGUAL DIGNIDADE E DO RESPEITO

POR TODAS AS CULTURAS

A proteção e a promoção da diversidade das expressõesculturais pressupõem o reconhecimento da igual dignida-de e o respeito por todas as culturas, incluindo as das pes-soas pertencentes a minorias e as dos povos indígenas.

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4. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE E COOPERAÇÃO

INTERNACIONAIS

A cooperação e a solidariedade internacionais devempermitir a todos os países, em particular os países emdesenvolvimento, criarem e fortalecerem os meios neces-sários a sua expressão cultural – incluindo as indústriasculturais, sejam elas ou estabelecidas – nos planos local,nacional e internacional.

5. PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIDADE DOS ASPECTOS

ECONÔMICOS E CULTURAIS DO DESENVOLVIMENTO

Sendo a cultura um dos motores fundamentais do desen-volvimento, os aspectos culturais deste são tão impor-tantes quanto os seus aspectos econômicos, e os indiví-duos e povos têm direito fundamental de dele participa-rem e se beneficiarem.

6. PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A diversidade cultural constitui grande riqueza para osindivíduos e as sociedades. A proteção, promoção e a ma-nutenção da diversidade cultural é condição essencialpara o desenvolvimento sustentável em benefício dasgerações atuais e futuras.

7. PRINCÍPIO DO ACESSO EQÜITATIVO

O acesso eqüitativo a uma rica e diversificada gama deexpressões culturais provenientes de todo mundo e oacesso das culturas aos meios de expressão e de difusãoconstituem importantes elementos para a valorização dadiversidade cultural e o incentivo ao entendimentomútuo.

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8. PRINCÍPIO DA ABERTURA E DO EQUILÍBRIO

Ao adotarem medidas para favorecer a diversidade dasexpressões culturais, os Estados buscarão promover, demodo apropriado, a abertura a outras culturas do mun-do e garantir que tais medidas estejam em conformidadecom os objetivos perseguidos pela presente Convenção.

IICampo de aplicação

ARTIGO 3 – CAMPO DE APLICAÇÃO

A presente Convenção aplica-se a políticas e medidasadotadas pelas Partes relativas à proteção e promoção dadiversidade das expressões culturais.

IIIDefinições

ARTIGO 4 – DEFINIÇÕES

Para fins da presente Convenção, fica entendido que:

1. DIVERSIDADE CULTURAL

“Diversidade cultural” refere-se à multiplicidade de for-mas pelas quais as culturas dos grupos e sociedadesencontram sua expressão. Tais expressões são transmiti-das entre e dentro dos grupos e sociedades.

A diversidade cultural se manifesta não apenas nasvariadas formas pelas quais se expressa, se enriquece ese transmite o patrimônio cultural da humanidade me-

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diante a variedade das expressões culturais, mas tambématravés dos diversos modos de criação, produção, difu-são, distribuição e fruição das expressões culturais ,quaisquer que sejam os meios e tecnologias empregados.

2. CONTEÚDO CULTURAL

“Conteúdo cultural” refere-se ao caráter simbólico, di-mensão artística e valores culturais que têm por origemou expressam identidades culturais.

3. EXPRESSÕES CULTURAIS

“Expressões culturais” são aquelas expressões que resul-tam da criatividade de indivíduos, grupos e sociedadese que possuem conteúdo cultural.

4. ATIVIDADES, BENS E SERVIÇOS CULTURAIS

“Atividades, bens e serviços culturais” refere-se às ativi-dades, bens e serviços que, considerados sob o ponto devista da sua qualidade, uso ou finalidade específica,incorporam ou transmitem expressões culturais, inde-pendentemente do valor comercial que possam ter. Asatividades culturais podem ser um fim em si mesmas, oucontribuir para a produção de bens e serviços culturais.

5. INDÚSTRIAS CULTURAIS

“Indústria culturais” refere-se às industrias que produ-zem e distribuem bens e serviços , tais como definidosno parágrafo acima.

6. POLÍTICAS E MEDIDAS CULTURAIS

“Políticas e medidas culturais” refere-se às políticas emedidas relacionadas à cultura, seja no plano local, rego-nal, nacional ou internacional, que tenham como foco a

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cultura como tal, ou cuja finalidade seja exercer efeitodireto sobre as expressões culturais de indivíduos, gru-pos ou sociedades, incluindo a criação, produção, difu-são e distribuição de atividades, bens e serviços cultu-rais, e ao acesso aos mesmos.

7. PROTEÇÃO

“Proteção” significa a adoção de medidas que visem àpreservação, salvaguarda e valorização da diversidadedas expressões culturais.

“Proteger” significa adotar medidas.

8. INTERCULTURALIDADE

“Interculturalidade” refere-se à existência e interaçãoeqüitativa de diversas culturas, assim como à possibili-dade de geração de expressões culturais compartilhadaspor meio do diálogo e respeito mútuo.

IVDireitos e obrigações das partes

ARTIGO 5 – REGRA GERAL EM MATÉRIA DE

DIREITOS E OBRIGAÇÕES

1. As Partes, em conformidade com a Carta das NaçõesUnidas, os princípios do direito internacional e os ins-trumentos universalmente reconhecidos em matéria dedireitos humanos, reafirmam seu direito soberano de for-mular e implementar as suas políticas culturais e de ado-tar medidas para a proteção e a promoção da diversida-de das expressões culturais, bem como para o fortaleci-mento da cooperação internacional, a fim de alcançar osobjetivos da presente Convenção.

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2. Quando uma Parte implementar políticas e adotarmedidas para proteger e promover a diversidade dasexpressões culturais em seu território, tais políticas emedidas deverão ser compatíveis com as disposições dapresente Convenção.

ARTIGO 6 – DIREITOS DAS PARTES NO ÂMBITO

NACIONAL

1.No marco de suas políticas e medidas culturais, taiscomo definidas no artigo 4.6, e levando em consideraçãoas circunstancias e necessidades que lhes são particula-res, cada Parte poderá adotar medidas destinadas a pro-teger e promover a diversidade das expressões culturaisem seu território.2. Tais medidas poderão incluir:

a) medidas regulatórias que visem à proteção e pro-moção da diversidade das expressões culturais;

b) medidas que, de maneira apropriada, criem opor-tunidades às atividades , bens e serviços culturais nacio-nais – entre o conjunto das atividades, bens e serviçosculturais disponíveis no seu território -, para a sua cria-ção, produção, difusão, distribuição e fruição, incluindodisposições relacionadas à língua utilizada nessas ativi-dades, bens e serviços;

c) medidas destinadas a fornecer às indústrias cultu-rais nacionais independentes e às atividades no setorinformal acesso efetivo aos meios de produção, difusão edistribuição das atividades, bens e serviços culturais;

d) medidas voltadas para a concessão de apoio finan-ceiro público;

e) medidas com o propósito de encorajar organizaçõesde fins não-lucrativos , e também instituições públicas eprivadas, artistas e outros profissionais de cultura, a

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desenvolver e promover o livre intercâmbio e circulaçãode idéias e expressões culturais, bem como de atividades,bens e serviços culturais, e a estimular tanto a criativida-de quanto o espírito empreendedor em suas atividades;

f) medidas com vistas a estabelecer e apoiar, de formaadequada, as instituições pertinentes de serviço público;

g) medidas para encorajar e apoiar os artistas e todosaqueles envolvidos na criação de expressões culturais;

h) medidas objetivando promover a diversidade damídia, inclusive mediante serviços de radiodifusão.

ARTIGO 7- MEDIDAS PARA A PROMOÇÃO DAS

EXPRESSÕES CULTURAIS

1. As partes procurarão criar em seu território umambiente que encoraje indivíduos e grupos sociais a:

a) criar, produzir, difundir, distribuir suas própriasexpressões culturais, e a elas ter acesso, conferindo a de-vida atenção às circunstâncias e necessidades especiais demulher, assim como dos diversos grupos sociais, incluin-do as pessoas pertencentes às minorias e povos indígenas;

b) ter acesso às diversas expressões culturais prove-nientes do seu território e dos demais países do mundo;2. As Partes buscarão também reconhecer a importantecontribuição dos artistas, de todos aqueles envolvidosno processo criativo, das comunidades culturais e dasorganizações que os apóiam em seu trabalho, bom comoo papel central que desempenham ao nutrir a diversida-de das expressões culturais.

ARTIGO 8 – MEDIDAS PARA A PROTEÇÃO DAS

EXPRESSÕES CULTURAIS

1.Sem prejuízo das disposições dos artigos 5 e 6, uma Par-te poderá diagnosticar a existência de situações especiais

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em que expressões culturais em seu território estejam emrisco de extinção, sob série ameaça ou necessitando deurgente salvaguarda.2. As Partes poderão adotar todas as medidas apropria-das para proteger e preservar as expressões culturais nassituações referidas no parágrafo 1, em conformidade comas disposições da presente Convenção.3. As partes informarão ao Comitê Intergovernamentalmencionado no Artigo 23 todas as medidas tomadas parafazer face às exigências da situação, podendo o Comitêformular recomendações apropriadas.

ARTIGO 9 – INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

E TRANSPARÊNCIA

As Partes:a) fornecerão, a cada quatro anos, em seus relatórios à

unesco, informação apropriada sobre as medidas adota-das para proteger e promover a diversidade das expres-sões culturais em seu território e no plano internacional;

b) designarão um ponto focal, responsável pelo com-partilhamento de informações relativas à presente Con-venção;

c) compartilharão e trocarão informações relativas à pro-teção e promoção da diversidade das expressões culturais.

ARTIGO 10 – EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICA

As Partes deverão:a) propiciar e desenvolver a compreensão da impor-

tância da proteção e promoção da diversidade das ex-pressões culturais, por intermédio, entre outros, de pro-gramas de educação e maior sensibilização do público;

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b) cooperar com outras Partes e organizações regio-nais e internacionais para alcançar o objetivo do presen-te artigo;

c) esforçar-se por incentivar a criatividade e fortale-cer as capacidades de produção, mediante o estabeleci-mento de programas de educação, treinamento e inter-câmbio na área das indústrias culturais. Tais medidasdeverão ser aplicadas de modo a não terem impacto nega-tivo sob as formas tradicionais de produção.

ARTIGO 11 – PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL

As Partes reconhecem o papel fundamental da socieda-de civil na proteção e promoção da diversidade dasexpressões culturais. As Partes deverão encorajar a par-ticipação ativa da sociedade civil em seus esforços paraalcançar os objetivos da presente Convenção.

ARTIGO 12 – PROMOÇÃO A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

As Partes procurarão fortalecer sua cooperação bilateral,regional e internacional, a fim de criar condições propí-cias à promoção da diversidade das expressões culturais,levando especialmente em conta as situações menciona-das nos Artigos 8 e 17, em particular com vistas a:

a) facilitar o diálogo entre as Partes sobre política cul-tural;

b) reforçar as capacidades estratégicas e de gestão dosetor público nas instituições públicas culturais, median-te intercâmbios culturais profissionais e internacionais,bem como compartilhamento das melhores práticas;

c) reforçar as parecerias com a sociedade civil, orga-nizações não-governamentais e setor privado, e entreessas entidades, para favorecer e promover a diversida-de das expressões culturais;

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Page 171: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

d) promover a utilização das novas tecnologias e enco-rajar parcerias para incrementar o compartilhamento deinformações, aumentar a compreensão cultual e fomen-tar a diversidade das expressões culturais;

e) encorajar a celebração de acordos de co-produção ede co-distribuição.

ARTIGO 13 – INTEGRAÇÃO DA CULTURA NO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

As Partes envidarão esforços para integrar a cultura nassuas políticas de desenvolvimento, em todos os níveis, afim de criar condições propícias ao desenvolvimentosustentável e , nesse marco, fomentar os aspectos ligadosà proteção e promoção da diversidade das expressõesculturais.

ARTIGO 14 – COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO

As Partes procurarão apoiar a cooperação para o desen-volvimento sustentável e a redução da pobreza, especial-mente em relação às necessidades específicas dos paísesem desenvolvimento, com vistas a favorecer a emergên-cia de um setor cultural dinâmico pelos seguintes meios,entre outros:

a) o fortalecimento das indústrias culturais em paísesem desenvolvimento:

i) criando e fortalecendo as capacidades de produ-ção e distribuição culturais nos países em desenvolvi-mento;

ii) facilitando um maior acesso de suas atividades ,bens e serviços culturais ao mercado global e aos cir-cuitos internacionais de distribuição;

iii) permitindo a emergência de mercados regionaise locais viáveis;

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iv) adotando, sempre que possível, medidas apro-priadas nos países desenvolvidos com vistas a facili-tar o acesso ao seu território das atividades, bens e ser-viços culturais dos países em desenvolvimento;

v) apoiando o trabalho criativo e facilitando , namedida do possível, a mobilidade dos artistas dos paí-ses em desenvolvimento;

vi) encorajando uma apropriada colaboração entrepaíses desenvolvidos e em desenvolvimento, em par-ticular nas áreas da música e do cinema.

b) o fortalecimento das capacidades por meio do inter-câmbio de informações, experiências e conhecimentosespecializados, assim como pela formação de recursoshumanos nos países em desenvolvimento, nos setorespúblico e privado, no que concerne notadamente ascapacidades estratégicas e gerenciais, a formulação eimplementação de políticas, a promoção e distribuiçãodas expressões culturais, o desenvolvimento das médias,pequenas e micro empresas, e a utilização das tecnolo-gias e desenvolvimento e transferência de competências;

c) a transferência de tecnologias e conhecimentosmediante a introdução de medidas apropriadas de incen-tivo, especialmente no campo das industrias e empresasculturais;

d) o apoio financeiro mediante:i) o estabelecimento de um Fundo Internacional

para a Diversidade Cultural conforme disposto moartigo 18;

ii) a concessão de assistência oficial ao desenvolvi-mento, segundo proceda, incluindo a assistência téc-nica, a fim de estimular e incentivar a criatividade;

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Page 173: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

iii) outras formas de assistência financeira, taiscomo empréstimos com baixas taxas de juros, subven-ções e outros mecanismos de financiamento.

ARTIGO 15 – MODALIDADES DE COLABORAÇÃO

As Partes incentivarão o desenvolvimento de parceriasentre o setor público, o setor privado e organizações não-lucrativos, e também no interior dos mesmos, a fim decooperar com os países em desenvolvimento no fortale-cimento de suas capacidades de proteger e promover adiversidade das expressões culturais. Essas parceriasinovadoras enfatizarão, de acordo com as necessidadesconcretas dos países em desenvolvimento, a melhoria dainfra-estrutura, dos recursos humanos e políticos, assimcomo o intercâmbio de atividades, bens e serviços.

ARTIGO 16 – TRATAMENTO PREFERENCIAL PARA

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Os países desenvolvidos facilitarão intercâmbios cultu-rais com os países em desenvolvimento garantido, pormeio dos instrumentos institucionais e jurídicos apro-priados , um tratamento preferencial aos seus artistas eoutros profissionais e praticantes da cultura, assim comoaos seus bens e serviços culturais.

ARTIGO 17 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM

SITUAÇÕES DE GRAVE AMEAÇA ÀS EXPRESSÕES CULTURAIS

As Partes cooperarão para mutuamente se prestaremassistência, conferindo especial atenção aos países emdesenvolvimento, nas situações referidas no Artigo 8.

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ARTIGO 18 – FUNDO INTERNACIONAL PARA A

DIVERSIDADE CULTURAL

1. Fica instituído um Fundo Internacional para a Diver-sidade Cultural, doravante denominado “Fundo”.2. O Fundo estará constituído por fundos fiduciários, emconformidade com o Regulamento Financeiro da unesco.3. Os recursos do Fundo serão constituídos por:

a) contribuições voluntárias das Partes;b) recursos financeiros que a Conferência-Geral da

unesco assegure para tal fim;c) contribuições, doações ou legados feitos por outros

Estados, organismos e programas do sistema das NaçõesUnidas, organizações regionais ou internacionais; enti-dades públicas ou privadas e pessoas físicas;

d) juros sobre os recursos do Fundo;e) o produto das coletas e receitas de eventos organi-

zados em benefício do Fundo;f) quaisquer outros recursos autorizados pelo regula-

mento do Fundo.4. A utilização dos recursos do Fundo será decidida peloComitê Intergovernamental, com base nas orientações daConferência das Partes mencionadas no Artigo 22.5. O Comitê Intergovernamental poderá aceitar contribui-ções, ou outras formas de assistência com finalidade geralou específica que estejam vinculadas a projetos concretos,desde que os mesmos contem com a sua aprovação.6. As contribuições ao fundo não poderão estar vincula-das a qualquer condição política, econômica ou de outrotipo que seja incompatível com os objetivos da presenteConvenção.7. As Partes farão esforços para prestar contribuiçõesvoluntárias, em bases regulares, para a implementaçãoda presente Convenção.

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Page 175: Direito das comunidades tradicionais pelo seu territorio

ARTIGO 19 – INTERCÂMBIO, ANÁLISE E

DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES

1. As Partes comprometem-se a trocar informações ecompartilhar conhecimentos especializados relativos àcoleta de dados e estatísticas sobre a diversidade dasexpressões culturais, bem como sobre as melhores práti-cas para a sua proteção e promoção.2. A unesco facilitará, graças aos mecanismos existen-tes no seu Secretariado, a coleta, análise e difusão detodas as informações, estatísticas e melhores práticassobre a matéria.3. Adicionalmente, a unesco estabelecerá e atualizaráum banco de dados sobre os diversos setores e organis-mos governamentais, privadas e de fins não-lucrativos,que estejam envolvidos no domínio das expressões cul-turais.4. A fim de facilitar a coleta de dados, a unesco dará aten-ção especial à capacitação e ao fortalecimento das com-petências das Partes que requisitarem assistência namatéria.5. A coleta de informações definida no presente artigocomplementará as informações a que fazem referência asdisposições do artigo 9.

V.Relações com outros instrumentos

ARTIGO 20 – RELAÇÕES COM OUTROS INSTRUMENTOS: APOIO MÚTUO, COMPLEMENTARIEDADE E

NÃO SUBORDINAÇÃO

1. As Partes reconhecem que deverão cumprir de boa-fésuas obrigações perante a presente Convenção e todos os

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demais tratados dos quais sejam parte. Da mesma forma,sem subordinar esta Convenção a qualquer outro tratado:

a) fomentarão o apoio mútuo entre esta Convenção eos outros tratados dos quais são parte; e

b) ao interpretarem e aplicarem os outros tratados dosquais são parte ou ao asumirem novas obrigações inter-nacionais, as Partes levarão em conta as disposições rele-vantes da presente Convenção.2. Nada na presente Convenção será interpretado comomodificando os direitos e obrigações das Partes decor-rentes de outros tratados dos quais sejam parte.

ARTIGO 21 – CONSULTA E COORDENAÇÃO INTERNACIONAL

As Partes comprometem-se a promover os objetivos eprincípios da presente Convenção em outros foros inter-nacionais. Para esse fim, as Partes deverão consultar-se,quando conveniente, tendo em mente os mencionadosobjetivos e princípios.

VI. Órgãos da Convenção

ARTIGO 22 – CONFERÊNCIA DAS PARTES

1. Fica estabelecida uma Conferência das Partes. A Con-ferência das Partes é o órgão plenário e supremo da pre-sente Convenção.2. A Conferência das Partes se reúne em sessão ordináriaa cada dois anos, sempre que possível no âmbito da Con-ferência – Geral da unesco. A Conferência das Partespoderá reunir-se em sessão extraordinária, se assim odecidir, ou se solicitação for dirigida ao Comitê Intergo-vernamental por ao menos um terço das Partes.

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3. A Conferência das Partes adotará o seu próprio Regi-mento interno.4. As funções da Conferência das Partes são, entre outras:

a) eleger os Membros do Comitê Intergovernamental;b) receber e examinar relatórios das Partes da presen-

te Convenção transmitidos pelo Comitê Intergoverna-mental;

c) aprovar as diretrizes operacionais preparadas, a seupedido, pelo Comitê Intergovernamental;

d) adotar quaisquer outras medidas que considerenecessárias para promover os objetivos da presente Con-venção.

ARTIGO 23 – COMITÊ INTERGOVERNAMENTAL

1. Fica instituído junto à unesco um Comitê Intergover-namental para a Proteção e Promoção da Diversidade dasExpressões Culturais, doravante referido como “ComitêIntergovernamental”. Ele é composto por representantede 18 Estados-Partes da Convenção, eleitos pela Confe-rência das Partes para um mandato de quatro anos, a par-tir da entrada em vigor da presente Convenção, confor-me o artigo 29.2. O Comitê Intergovernamental se reúne em sessõesanuais.3. O Comitê Intergovernamental funciona sob a autori-dade e em conformidade com as diretrizes da Conferên-cia das Partes, à qual presta contas.4. Os número de membros do Comitê Intergovernamen-tal será elevado para 24 quando o número de membrosda presente Convenção chegar a 50.5. A eleição dos membros do Comitê Intergovernamen-tal é baseada nos princípios da representação geográficaeqüitativa e da rotatividade.

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6. Sem prejuízo de outras responsabilidades a ele confe-ridas pela presente Convenção, o Comitê Intergoverna-mental tem as seguinte funções:

a) promover os objetivos da presente Convenção,incentivar e monitorar a sua implementação

b) preparar e submeter à aprovação da Conferênciadas Partes, mediante solicitação, as diretrizes operacionaisrelativas à implementação e aplicação das disposições dapresente Convenção;

c) transmitir à Conferência das Partes os relatórios dasPartes na Convenção acompanhados de observações eum resumo de seus conteúdos;

d) fazer recomendações apropriadas para situaçõestrazidas à sua atenção pelas Partes da Convenção, deacordo com as disposições pertinentes da Convenção, emparticular o Artigo 8;

e) estabelecer os procedimentos e outros mecanismosde consulta que visem à promoção dos objetivos e prin-cípios da presente Convenção em outros foros interna-cionais;

f) realizar qualquer outra tarefa que lhe possa solici-tar a Conferência das Partes.7. O Comitê Intergovernamental, em conformidade como seu Regimento interno, poderá, a qualquer momento,convidar organismos públicos ou privados ou pessoasfísicas a participarem das suas reuniões para consulta-lossobre questões específicas.8. O comitê Intergovernamental elaborará o seu próprioRegimento interno e o submeterá à aprovação da Confe-rência das Partes.

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ARTIGO 24 – SECRETARIADO DA UNESCO

1. Os órgãos da presente Convenção serão assistidos peloSecretariado da unesco.2. O Secretariado preparará a documentação da Confe-rência das Partes e do Comitê Intergovernamental , assimcomo o projeto de agenda de suas reuniões, prestandoauxílio na implementação de suas decisões e informan-do sobre a aplicação das mesmas.

VIIDisposições Finais

ARTIGO 25 – SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

1. Em caso de controvérsia acerca da interpretação ouaplicação da presente Convenção, as Partes buscarãoresolve-la mediante negociação.2. Se as Partes envolvidas não chegarem a acordo pornegociação, poderão recorrer conjuntamente aos bonsofícios ou à mediação de uma terceira parte.3. Se os bons ofícios ou a mediação não forem adotados,ou se não for possível superar a controvérsia pela nego-ciação, bons ofícios ou mediação, uma Parte poderárecorrer à conciliação, em conformidade com o procedi-mento constante do Anexo à presente Convenção. AsPartes considerarão de boa-fé a proposta de solução dacontrovérsia apresentada pela Comissão de Conciliação.4. Cada Parte poderá, no momento da ratificação, aceita-ção, aprovação ou adesão, declarar que não reconhece oprocedimento de conciliação acima disposto. Toda Parteque tenha feito tal declaração poderá, a qualquer mo-mento, retira-la mediante notificação ao Diretor – Geralda unesco.

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ARTIGO 26 – RATIFICAÇÃO, ACEITAÇÃO, APROVAÇÃO

OU ADESÃO POR ESTADOS-MEMBROS

1. A presente Convenção estará sujeita à ratificação, acei-tação, aprovação ou adesão dos Estados membros daunesco, em conformidade com os seus respectivos pro-cedimentos constitucionais.2. Os instrumentos de ratificação, aceitação, aprovaçãoou adesão serão depositados junto ao Diretor-Geral daunesco.

ARTIGO 27 – ADESÃO

1. A presente Convenção estará aberta à adesão de qual-quer Estado não-membro da unesco, desde que per-tença à Organização das Nações Unidas ou a algum dosseus organismos especializados e que tenha sido convi-dado pela Conferência-Geral da Organização a aderir àConvenção.2. A presente Convenção estará também aberta à adesãode territórios que gozem de plena autonomia internareconhecida como tal pelas Nações Unidas, mas que nãotenham alcançado a total independência em conformida-de com a Resolução 1514 (xv) da Assembléia Geral, e quetenham competência nas matérias de que trata a presen-te Convenção, incluindo a competência para concluirtratados relativos a essas matérias.3. As seguintes disposições aplicam-se a organizaçõesregionais de integração econômica:

a) a presente Convenção ficará também aberta à ade-são de toda organização regional de integração econômi-ca, que estará, exceto conforme estipulado abaixo, ple-namente vinculada às disposições da Convenção, da mes-ma maneira que os Estados Parte.

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b) se um ou mais Estados membros dessas organiza-ções forem igualmente Partes da presente Convenção, aorganização e o Estado ou Estados membros decidirãosobre suas respectivas responsabilidades no que tange aocumprimento das obrigações decorrentes da presenteConvenção. Tal divisão de responsabilidades terá efeitoapós o término do procedimento de notificação descritono inciso © abaixo. A organização e seus Estados mem-bros não poderão exercer, concomitantemente , os direi-tos que emanam da presente Convenção. Além disso, nasmatérias de sua competência, as organizações regionaisde integração econômica poderão exercer o direito devoto com um número de votos igual ao número de seusEstados membros que sejam Partes da Convenção. Taisorganizações não poderão exercer o direito a voto sequalquer dos seus membros o fizer, e vice-versa.

c) a organização regional de integração econômica eseu Estado ou Estados membros que tenham acordado adivisão de responsabilidades prevista no inciso (b) aci-ma, o informarão às Partes do seguinte modo:

i) em seu instrumento de adesão, tal organizaçãodeclarará, de forma precisa, a divisão de suas respon-sabilidades com respeito às matérias regidas pela Con-venção:

ii) em caso de posterior modificação das respecti-vas responsabilidades, a organização regional de inte-gração econômica informará ao depositário de todaproposta de modificação dessas responsabilidades ; odepósito deverá, por sua vez, informar as Partes de talmodificação.d) os Estados membros de uma organização regional

de integração econômica que se tenham tornado Partesda presente Convenção são supostos manter a competên-

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cia sobre todas as matérias que não tenham sido, median-te expressa declaração ou informação do depositário,objeto de transferência competência à organização.

e) entende-se por “organização regional de integraçãoeconômica” toda organização constituída por Estadossoberanos, membros das Nações Unidas ou de um de seusorganismos especializados, à qual tais Estados tenhamtransferido suas competências em matérias regidas pelapresente Convenção, e que haja sido devidamente auto-rizada , de acordo com seus procedimentos interno, a tor-nar-se Parte da Convenção.4. O instrumento de adesão será depositado junto aoDiretor-Geral da unesco.

ARTIGO 28 – PONTO FOCAL

Ao aderir à presente Convenção, cada Parte designará o“ponto focal” referido no artigo 9.

ARTIGO 29 – RNTRADA EM VIGOR

1. A presente Convenção entrará em vigor três mesesapós a data de depósito do trigésimo instrumento de rati-ficação, aceitação, aprovação ou adesão, mas unicamen-te em relação aos Estados ou organizações regionais deintegração econômica que tenham depositado os seusrespectivos instrumentos de ratificação, aceitação, apro-vação ou adesão naquela data ou anteriormente. Para asdemais Partes, a Convenção entrará em vigor três mesesapós a data do depósito de seu instrumento de ratifica-ção, aceitação aprovação ou aceitação.2. Para fins do presente artigo, nenhum instrumento de-positado por organização regional de integração econô-mica será contado como adicional àqueles depositadospelos Estados membros da referida organização.

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ARTIGO 30 – SISTEMAS CONSTITUCIONAIS NÃO-UNITÁRIOS OU FEDERATIVOS

Reconhecendo que os acordos internacionais vinculamde mesmo modo as Partes, independentemente de seussistemas constitucionais, as disposições a seguir aplicam-se às Partes com regime constitucional federativo ou não– unitário:

a) no que se refere às disposições da presente Conven-ção cuja aplicação seja da competência do poder legisla-tivo federal ou central, as obrigações do governo federalou central serão as mesmas das Partes que não são Esta-dos federativos;

b) no que se refere às disposições desta Convençãocuja aplicação seja da competência de cada uma das uni-dades constituintes, sejam elas Estados, condados, pro-víncias ou cantões que, em virtude do sistema constitu-cional da federação, não tenham a obrigação de adotarmedidas legislativas, o governo federal comunicará,quando necessário, essas disposições às autoridadescompetentes das unidades constituintes, sejam elas Esta-dos, condados, províncias ou cantões, com a recomenda-ção de que sejam aplicadas.

ARTIGO 31 – DENÚNCIA

1. Cada uma das Partes poderá denunciar a presente Con-venção.2. A denúncia será notificada em instrumento escritodepositado junto ao Diretor – Geral da unesco.3. A denúncia terá efeito doze meses após a recepção dorespectivo instrumento. A denúncia não modificará emnada as obrigações financeiras que a Parte denuncianteassumiu até a data de efetivação da retirada.

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ARTIGO 32 – FUNÇÕES DO DEPOSITÁRIO

O Diretor-Geral da unesco, na condição de depositárioda presente Convenção, informará aos Estados membrosda Organização, aos Estados não- membros e às organiza-ções regionais de integração econômica a que se refere oArtigo 27, assim como às Nações Unidas, sobre o depósi-to de todos os instrumentos de ratificação, aceitação,aprovação ou adesão mencionados nos artigos 26 e 27,bem como sobre as denúncias previstas no Artigo 31.

ARTIGO 33 – EMENDAS

1. Toda Parte poderá, por comunicação escrita dirigidaao Diretor-Geral, propor emendas à presente Convenção.O Diretor-Geral transmitirá essa comunicação às demaisPartes. Se, no prazo de seis meses a partir da data datransmissão da comunicação, pelo menos metade dosEstados responder favoravelmente a essa demanda, oDiretor-Geral apresentará a proposta à próxima sessão daConferência das Partes para discussão e eventual adoção.2. As emendas serão adotadas por uma maioria de doisterços das Partes presentes e votantes.3. Uma vez adotadas, as emendas à presente Convençãoserão submetidas às Partes para ratificação, aceitação,aprovação ou adesão.4. Para as Partes que as tenham ratificado, aceitado, apro-vado ou a elas aderido, as emendas à presente Conven-ção entrarão em vigor três meses após o depósito dos ins-trumentos referidos no parágrafo 3 deste Artigo por doisterços das Partes. Subsequentemente, para cada Parteque a ratifique, aceite, aprove ou a ela adira, a emendaentrará em vigor três meses após a data do depósito poressa Parte do respectivo instrumento de ratificação, acei-tação, aprovação ou adesão.

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5. O procedimento estabelecido nos parágrafos 3 e 4 nãose aplicarão ás emendas ao artigo 23 relativas ao númerode membros do Comitê Intergovernamental. Tais emendasentrarão em vigor no momento em que foram adotadas.6. Um Estado, ou uma organização regional de integra-ção econômica definida no artigo 27, que se torne Parteda presente Convenção após a entrada em vigor de emen-das conforme o parágrafo 4 do presente Artigo, e que nãomanifeste uma intenção diferente, será considerado:

a) parte da presente Convenção assim emendada; eb) parte da presente Convenção não-emendada relati-

vamente a toda Parte que não esteja vinculada a essaemenda.

ARTIGO 34 – TEXTOS AUTÊNTICOS

A presente Convenção está redigida em árabe, chinês,espanhol, francês, inglês e russo, sendo os seis textosigualmente autênticos.

ARTIGO 35 – REGISTRO

Em conformidade com o disposto no artigo 102 da Cartadas Nações Unidas, a presente Convenção será registra-da no Secretariado das Nações Unidas por petição doDiretor-Geral da unesco.

anexo

Procedimento de conciliação

ARTIGO 1 – COMISSÃO DE CONCILIAÇÃO

Por solicitação de uma das Partes da controvérsia, umaComissão de Conciliação será criada. Salvo se as Partesdecidirem de outra maneira, a Comissão será composta

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de 5 membros, sendo que cada uma das Partes envolvi-das indicará dois membros e o Presidente será escolhidode comum acordo pelos 4 membros assim designados.

ARTIGO 2 – MEMBROS DA COMISSÃO

Em caso de controvérsia entre mais de duas Partes, asPartes que tenham o mesmo interesse designarão seusmembros da Comissão em comum acordo. Se os menosduas Partes tiverem interesses independentes ou houverdesacordo sobre a questão de saber se têm os mesmosinteresses, elas indicarão seus membros separadamente.

ARTIGO 3 – NOMEAÇÕES

Se nenhuma indicação tiver sido feita pelas Partes den-tro do prazo de dois meses a partir da data do pedido decriação da Comissão de Conciliação, o Diretor-Geral daunesco fará as indicações dentro de um novo prazo dedois meses, caso solicitado pela Parte que apresentou opedido.

ARTIGO 4 – PRESIDENTE DA COMISSÃO

Se o Presidente da Comissão não tiver sido escolhido noprazo de dois meses após a designação do último mem-bro da Comissão, o Diretor-Geral da unesco designará oPresidente dentro de um novo prazo de dois meses, casosolicitado por uma das Partes.

ARTIGO 5 – DECISÕES

A Comissão de Conciliação tomará as suas decisões pelamaioria de seus membros. A menos que as Partes na con-trovérsia decidam de outra maneira, a Comissão estabele-cerá o seu próprio procedimento. Ela proporá uma solu-

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ção para a controvérsia, que as Partes examinarão deboa-fé.

ARTIGO 6 – DISCORDÂNCIA

Em caso de desacordo sobre a competência da Comissãode Conciliação, a mesma decidirá se é ou não competente.

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Decreto de 27 de dezembro de 200432

Cria a Comissão Nacional de Desenvolvimento Susten-tável das Comunidades Tradicionais e dá outras provi-dências

O Presidente da República, no uso da atribuição quelhe confere o art. 84, inciso vi, alínea “a”, da Constituição,

Decreta:Art. 1.º Fica criada a Comissão Nacional de Desenvolvi-mento Sustentável das Comunidades Tradicionais, comas seguintes finalidades:

i - estabelecer a Política Nacional de Desenvolvimen-to Sustentável das Comunidades Tradicionais;

ii - apoiar, propor, avaliar e harmonizar os princípiose diretrizes da política pública relacionada ao desenvol-vimento sustentável das comunidades tradicionais noâmbito do Governo Federal;

iii - propor as ações de políticas públicas para a imple-mentação da Política Nacional de Desenvolvimento Sus-

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32 Retirado do site www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/

Dnn/Dnn10408.htm, em 1 de agosto de 2005.

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tentável das Comunidades Tradicionais, considerando asdimensões sociais e econômicas e assegurando o uso sus-tentável dos recursos naturais;

iv - propor medidas de articulação e harmonizaçãodas políticas públicas setoriais, estaduais e municipais,bem como atividades de implementação dos objetivos daPolítica Nacional de Desenvolvimento Sustentável dasComunidades Tradicionais, estimulando a descentraliza-ção da execução das ações;

v - articular e propor ações para a implementação des-sas políticas, de forma a atender a situações que exijamprovidências especiais ou de caráter emergencial;

vi - acompanhar a implementação da Política Nacio-nal de Desenvolvimento Sustentável das ComunidadesTradicionais no âmbito do Governo Federal;

vii - sugerir critérios para a regulamentação das ati-vidades de agroextrativismo; e

viii - propor, apoiar e acompanhar a execução, peloGoverno Federal, de estratégias voltadas ao desenvolvi-mento do agroextrativismo.

Art. 2 .º A Comissão será integrada por um represen-tante de cada órgão e entidade a seguir indicados:

i - Ministério da Justiça;ii - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;iii - Ministério do Desenvolvimento Social e Comba-

te à Fome;iv - Ministério do Meio Ambiente;v - Ministério do Desenvolvimento Agrário;vi - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;vii - Secretaria Especial de Promoção da Igualdade

Racial da Presidência da República; eviii - Fundação Cultural Palmares.

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§ 1.º A Comissão será presidida pelo Ministro de Esta-do do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, caben-do as atribuições de secretaria-executiva à Secretaria deDesenvolvimento Sustentável do Ministério do MeioAmbiente.

§ 2.º A Comissão poderá, ainda, ser integrada porrepresentantes das comunidades tradicionais, agênciasde fomento, entidades civis e comunidade científica,designados em portaria dos Ministros de Estado doDesenvolvimento Social e Combate à Fome e do MeioAmbiente.

§ 3.º Os membros, titulares e suplentes, dos órgãos eentidade de que tratam os incisos i a viii serão indica-dos pelos seus dirigentes máximos e designados peloMinistro de Estado do Desenvolvimento Social e Comba-te à Fome.

§ 4.º Os representantes não-governamentais terãomandato de dois anos, a contar da data de sua designa-ção, renovável por igual período.

§ 5.º Caberá ao Ministério do Meio Ambiente prestarapoio técnico e administrativo à Comissão.

§ 6.º A Comissão reunir-se-á mediante convocação deseu Presidente.

§ 7.º Poderão ser convidados a participar das reuniõesda Comissão, sem direito a voto, e a colaborar para a rea-lização de suas atribuições, entidades nacionais e estran-geiras e pessoas físicas ou jurídicas, ligadas ao agroextra-tivismo.

Art. 3.º A participação na Comissão é considerada ser-viço de natureza relevante e não enseja qualquer tipode remuneração.

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Art. 4.º O regimento interno da Comissão será aprova-do por maioria absoluta de seus membros e publicadomediante portaria do Ministro de Estado do Desenvol-vimento Social e Combate à Fome.

Art. 5.º Este Decreto entra em vigor na data de suapublicação.

Brasília, 27 de dezembro de 2004; 183.º da Indepen-dência e 116.º da República.

luiz inácio lula da silvaPatrus AnaniasMarina Silva

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Decreto de 13 de julho de 200633

Altera a denominação, competência e composição daComissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dasComunidades Tradicionais e dá outras providências

O Presidente da República, no uso da atribuição que lheconfere o art. 84, inciso vi, alínea “a”, da Constituição,

Decreta:

Art. 1.º A Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável das Comunidades Tradicionais, criada pelo peloDecreto de 27 de dezembro de 2004, doravante denomi-nada Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentá-vel dos Povos e Comunidades Tradicionais, passa a reger-se pelas disposições deste Decreto.Art. 2.º À Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais compete:

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33 Retirado do site www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/

Dnn/Dnn10884.htm, em 3 de outubro de 2006.

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i - coordenar a elaboração e acompanhar a implemen-tação da Política Nacional de Desenvolvimento Susten-tável dos Povos e Comunidades Tradicionais;

ii - propor princípios e diretrizes para políticas rele-vantes para o desenvolvimento sustentável dos povos ecomunidades tradicionais no âmbito do Governo Fede-ral, observadas as competências dos órgãos e entidadesenvolvidos;

iii - propor as ações necessárias para a articulação,execução e consolidação de políticas relevantes para odesenvolvimento sustentável de povos e comunidadestradicionais, estimulando a descentralização da execuçãodestas ações e a participação da sociedade civil, comespecial atenção ao atendimento das situações que exi-jam providências especiais ou de caráter emergencial;

iv - propor medidas para a implementação, acompa-nhamento e avaliação de políticas relevantes para odesenvolvimento sustentável dos povos e comunidadestradicionais;

v - identificar a necessidade e propor a criação oumodificação de instrumentos necessários à implementa-ção de políticas relevantes para o desenvolvimento sus-tentável dos povos e comunidades tradicionais;

vi - criar e coordenar câmaras técnicas ou grupos detrabalho compostos por convidados e membros integran-tes, com a finalidade de promover a discussão e a articu-lação em temas relevantes para a implementação dosprincípios e diretrizes da Política Nacional de que tratao inciso I, observadas as competências de outros colegia-dos instituídos no âmbito do Governo Federal;

vii - identificar, propor e estimular ações de capacita-ção de recursos humanos, fortalecimento institucional esensibilização, voltadas tanto para o poder público quan-

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to para a sociedade civil visando o desenvolvimento sus-tentável dos povos e comunidades tradicionais; e

viii - promover, em articulação com órgãos, entidadese colegiados envolvidos, debates públicos sobre os temasrelacionados à formulação e execução de políticas volta-das para o desenvolvimento sustentável dos povos ecomunidades tradicionais.

Art. 3.º A Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais deverá,no exercício das competências previstas no art. 1.º desteDecreto:

i - considerar as especificidades sociais, econômicas,culturais e ambientais nas quais se encontram inseridosos povos e comunidades tradicionais, a que se destinama Política Nacional de que trata o inciso I do art. 2.º; e

ii - privilegiar a participação da sociedade civil.

Art. 4.º A Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais serácomposta por quinze representantes de órgãos e entida-des da administração pública federal e quinze represen-tantes de organizações não-governamentais, os quaisterão direito a voz e voto, a seguir indicados:

i - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate àFome, titular e suplente;

ii - Ministério do Meio Ambiente, titular e suplente;iii - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re-

cursos Naturais Renováveis - ibama, titular e suplente;iv - Ministério do Desenvolvimento Agrário, titular e

suplente;v - Ministério da Cultura, titular e suplente;vi - Ministério da Educação, titular e suplente;

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vii - Ministério do Trabalho, titular e suplente;viii - Ministério da Ciência e Tecnologia, titular, e Con-

selho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecno-lógico, suplente;

ix - Secretaria Especial de Promoção da IgualdadeRacial da Presidência da República, titular e suplente;

x - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Pre-sidência da República, titular e suplente;

xi - Fundação Cultural Palmares, titular e suplente;xii - Fundação Nacional do Índio – funai, titular e

suplente;xiii - Fundação Nacional de Saúde – funasa, titular

e suplente;xiv - Companhia Nacional de Abastecimento – conab,

titular e suplente;xv - Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – incra, titular e suplente;xvi - Associação de Mulheres Agricultoras Sindicali-

zadas, titular e suplente;xvii - Conselho Nacional de Seringueiros, titular e

suplente;xviii - Coordenação Estadual de Fundo de Pasto, titu-

lar e suplente;xix - Coordenação Nacional de Articulação das Comu-

nidades Negras Rurais Quilombolas, titular e suplente;xx - Grupo de Trabalho Amazônico, titular e suplente;xxi - Rede Faxinais, titular e suplente;xxii - Movimento Nacional dos Pescadores - monape,

titular e suplente;xxiii - Associação Cultural de Preservação do Patri-

mônio Bantu, titular, e Comunidades Organizadas daDiáspora Africana pelo Direito à Alimentação RedeKodya, suplente;

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xxiv - Associação de Preservação da Cultura Cigana,titular, e Centro de Estudos e Discussão Romani, suplente;

xxv - Associação dos Moradores, Amigos e Proprietá-rios dos Pontões de Pancas e Águas Brancas, titular, eAssociação Cultural Alemã do Espírito Santo, suplente;

xxvi - Coordenação das Organizações Indígenas daAmazônia Brasileira, titular, e Articulação dos Povos eOrganizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais eEspírito Santo, suplente;

xxvii - Fórum Matogrossense de Meio Ambiente eDesenvolvimento Sustentável - formad, titular, e Colô-nia de Pescadores cz-5, suplente;

xxviii - Movimento Interestadual de Quebradeiras deCoco Babaçu, titular, e Associação em Áreas de Assenta-mento no Estado do Maranhão, suplente;

xxix - Rede Caiçara de Cultura, titular, e União dosMoradores da Juréia, suplente; e

xxx - Rede Cerrado, titular, e Articulação Pacari,suplente.

§ 1.º Os representantes e respectivos suplentes cons-tantes deste artigo serão indicados pelos titulares dosórgãos, entidades e organizações não-governamentais, edesignados pelo Ministro de Estado do Desenvolvimen-to Social e Combate à Fome, para um período de doisanos, permitida a recondução.

§ 2.º O representante e respectivo suplente que nãopertencer à mesma organização não-governamental po-derá comparecer às reuniões com direito a voz, mas ape-nas um voto será computado nas votações.

§ 3.º O Presidente da Comissão Nacional de Desenvol-vimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicio-nais poderá convidar representantes de outros órgãos

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governamentais, não-governamentais e pessoas de notó-rio saber, para participar das reuniões, sem direito avoto.

Art. 5.º A Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais será pre-sidida pelo representante do Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome, cabendo ao Ministériodo Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Políticaspara o Desenvolvimento Sustentável, as funções desecretaria-executiva.

Art. 6.º A Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais reunir-se-á em caráter ordinário a cada três meses e, extraordi-nariamente, a qualquer momento, mediante convocaçãode seu Presidente, ou da maioria absoluta de seus mem-bros, neste caso, por documento escrito, acompanhadode pauta justificada.

Art. 7.º Eventuais despesas com diárias e passagens dosrepresentantes e seus suplentes enumerados nos incisosxvi a xxx do art. 4.º deste Decreto poderão ser pagas aconta dos órgãos e entidades constantes dos incisos i axv, mediante disponibilidade orçamentária e financeira.

Art. 8.º A participação na Comissão Nacional de Desen-volvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradi-cionais é considerada de relevante interesse público enão enseja qualquer tipo de remuneração.

Art. 9.º O regimento interno da Comissão Nacional deDesenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

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Tradicionais será aprovado por maioria absoluta de seusmembros, no prazo de cento e vinte dias a contar da datade publicação deste Decreto, e deverá ser publicadomediante portaria do Ministro de Estado do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome.

Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua publi-cação.

Fica revogado o Decreto de 27 de dezembro de 2004, quecria a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentá-vel das Comunidades Tradicionais.

Brasília, 13 de julho de 2006, 185.º da Independência e118.º da República.

luiz inácio lula da silvaPatrus AnaniasMarina Silva

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Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 200734

Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Susten-tável dos Povos e Comunidades Tradicionais

O Presidente da República, no uso da atribuição quelhe confere o art. 84, inciso vi, alínea “a”, da Constituição,

Decreta:

Art. 1.º Fica instituída a Política Nacional de Desenvol-vimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicio-nais - pnpct PNPCT, na forma do Anexo a este Decreto.

Art. 2.º Compete à Comissão Nacional de Desenvolvi-mento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicio-nais – cnpct, criada pelo Decreto de 13 de julho de 2006,coordenar a implementação da Política Nacional para oDesenvolvimento Sustentável dos Povos e ComunidadesTradicionais.

201

34 Retirado do site www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/

Decret... , em 4 de junho de 2007.

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Art. 3.º Para os fins deste Decreto e do seu Anexo com-preende-se por:

i - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos cultu-ralmente diferenciados e que se reconhecem como tais,que possuem formas próprias de organização social, queocupam e usam territórios e recursos naturais como con-dição para sua reprodução cultural, social, religiosa, an-cestral e econômica, utilizando conhecimentos, inova-ções e práticas gerados e transmitidos pela tradição;

ii - Territórios Tradicionais: os espaços necessários areprodução cultural, social e econômica dos povos ecomunidades tradicionais, sejam eles utilizados de formapermanente ou temporária, observado, no que diz res-peito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamen-te, o que dispõem os os arts. 231 da Constituição e 68 doAto das Disposições Constitucionais Transitórias e de-mais regulamentações; e

iii - Desenvolvimento Sustentável: o uso equilibradodos recursos naturais, voltado para a melhoria da quali-dade de vida da presente geração, garantindo as mesmaspossibilidades para as gerações futuras.

Art. 4.º Este Decreto entra em vigor na data de sua publi-cação.

Brasília, 7 de fevereiro de 2007; 186.º da Independên-cia e 119.º da República.

luiz inácio lula da silvaPatrus AnaniasMarina Silva

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Anexo

Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

Tradicionais

PRINCÍPIOS

Art. 1.º As ações e atividades voltadas para o alcancedos objetivos da Política Nacional de DesenvolvimentoSustentável dos Povos e Comunidades Tradicionaisdeverão ocorrer de forma intersetorial, integrada, coor-denada, sistemática e observar os seguintes princípios:

ii - o reconhecimento, a valorização e o respeito àdiversidade socioambiental e cultural dos povos e comu-nidades tradicionais, levando-se em conta, dentre outrosaspectos, os recortes etnia, raça, gênero, idade, religiosi-dade, ancestralidade, orientação sexual e atividadeslaborais, entre outros, bem como a relação desses em cadacomunidade ou povo, de modo a não desrespeitar, sub-sumir ou negligenciar as diferenças dos mesmos grupos,comunidades ou povos ou, ainda, instaurar ou reforçarqualquer relação de desigualdade;

ii - a visibilidade dos povos e comunidades tradicio-nais deve se expressar por meio do pleno e efetivo exer-cício da cidadania;

iii - a segurança alimentar e nutricional como direitodos povos e comunidades tradicionais ao acesso regulare permanente a alimentos de qualidade, em quantidadesuficiente, sem comprometer o acesso a outras necessi-dades essenciais, tendo como base práticas alimentarespromotoras de saúde, que respeitem a diversidade cul-

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tural e que sejam ambiental, cultural, econômica esocialmente sustentáveis;

iv - o acesso em linguagem acessível à informação e aoconhecimento dos documentos produzidos e utilizadosno âmbito da Política Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais;

v - o desenvolvimento sustentável como promoção damelhoria da qualidade de vida dos povos e comunidadestradicionais nas gerações atuais, garantindo as mesmaspossibilidades para as gerações futuras e respeitando osseus modos de vida e as suas tradições;

vi - a pluralidade socioambiental, econômica e cultu-ral das comunidades e dos povos tradicionais que inte-ragem nos diferentes biomas e ecossistemas, sejam emáreas rurais ou urbanas;

vii - a promoção da descentralização e transversalida-de das ações e da ampla participação da sociedade civilna elaboração, monitoramento e execução desta Políticaa ser implementada pelas instâncias governamentais;

viii - o reconhecimento e a consolidação dos direitosdos povos e comunidades tradicionais;

ix - a articulação com as demais políticas públicasrelacionadas aos direitos dos Povos e Comunidades Tra-dicionais nas diferentes esferas de governo;

x - a promoção dos meios necessários para a efetivaparticipação dos Povos e Comunidades Tradicionais nasinstâncias de controle social e nos processos decisóriosrelacionados aos seus direitos e interesses;

xi - a articulação e integração com o Sistema Nacionalde Segurança Alimentar e Nutricional;

xii - a contribuição para a formação de uma sensibi-lização coletiva por parte dos órgãos públicos sobre aimportância dos direitos humanos, econômicos, sociais,

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culturais, ambientais e do controle social para a garantiados direitos dos povos e comunidades tradicionais;

xiii - a erradicação de todas as formas de discrimina-ção, incluindo o combate à intolerância religiosa; e

xiv - a preservação dos direitos culturais, o exercíciode práticas comunitárias, a memória cultural e a identi-dade racial e étnica.

OBJETIVO GERAL

Art. 2.º A pnpct tem como principal objetivo promo-ver o desenvolvimento sustentável dos Povos e Comu-nidades Tradicionais, com ênfase no reconhecimento,fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais,sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respei-to e valorização à sua identidade, suas formas de orga-nização e suas instituições.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Art. 3.º São objetivos específicos da pnpct:i - garantir aos povos e comunidades tradicionais seus

territórios, e o acesso aos recursos naturais que tradicio-nalmente utilizam para sua reprodução física, cultural eeconômica;

ii - solucionar e/ou minimizar os conflitos geradospela implantação de Unidades de Conservação de Prote-ção Integral em territórios tradicionais e estimular a cria-ção de Unidades de Conservação de Uso Sustentável;

iii - implantar infra-estrutura adequada às realidadessócio-culturais e demandas dos povos e comunidadestradicionais;

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iv - garantir os direitos dos povos e das comunidadestradicionais afetados direta ou indiretamente por proje-tos, obras e empreendimentos;

v - garantir e valorizar as formas tradicionais de edu-cação e fortalecer processos dialógicos como contribui-ção ao desenvolvimento próprio de cada povo e comuni-dade, garantindo a participação e controle social tantonos processos de formação educativos formais quantonos não-formais;

vi - reconhecer, com celeridade, a auto-identificaçãodos povos e comunidades tradicionais, de modo que pos-sam ter acesso pleno aos seus direitos civis individuais ecoletivos;

vii - garantir aos povos e comunidades tradicionais oacesso aos serviços de saúde de qualidade e adequadosàs suas características sócio-culturais, suas necessidadese demandas, com ênfase nas concepções e práticas damedicina tradicional;

viii - garantir no sistema público previdenciário aadequação às especificidades dos povos e comunidadestradicionais, no que diz respeito às suas atividades ocu-pacionais e religiosas e às doenças decorrentes destas ati-vidades;

ix- criar e implementar, urgentemente, uma políticapública de saúde voltada aos povos e comunidades tra-dicionais;

x - garantir o acesso às políticas públicas sociais e aparticipação de representantes dos povos e comunidadestradicionais nas instâncias de controle social;

xi - garantir nos programas e ações de inclusão socialrecortes diferenciados voltados especificamente para ospovos e comunidades tradicionais;

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xii - implementar e fortalecer programas e ações vol-tados às relações de gênero nos povos e comunidades tra-dicionais, assegurando a visão e a participação femininanas ações governamentais, valorizando a importânciahistórica das mulheres e sua liderança ética e social;

xiii - garantir aos povos e comunidades tradicionais oacesso e a gestão facilitados aos recursos financeiros pro-venientes dos diferentes órgãos de governo;

xiv - assegurar o pleno exercício dos direitos indivi-duais e coletivos concernentes aos povos e comunidadestradicionais, sobretudo nas situações de conflito ouameaça à sua integridade;

xv - reconhecer, proteger e promover os direitos dospovos e comunidades tradicionais sobre os seus conhe-cimentos, práticas e usos tradicionais;

xvi - apoiar e garantir o processo de formalização ins-titucional, quando necessário, considerando as formastradicionais de organização e representação locais; e

xvii - apoiar e garantir a inclusão produtiva com apromoção de tecnologias sustentáveis, respeitando o sis-tema de organização social dos povos e comunidades tra-dicionais, valorizando os recursos naturais locais e prá-ticas, saberes e tecnologias tradicionais.

DOS INSTRUMENTOS DE IMPLEMENTAÇÃO

Art. 4.º São instrumentos de implementação da PolíticaNacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos eComunidades Tradicionais:

i - os Planos de Desenvolvimento Sustentável dosPovos e Comunidades Tradicionais;

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ii - a Comissão Nacional de Desenvolvimento Susten-tável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituídapelo Decreto de 13 de julho de 2006;

iii - os fóruns regionais e locais; eiv - o Plano Plurianual.

DOS PLANOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

Art. 5.º Os Planos de Desenvolvimento Sustentável dosPovos e Comunidades Tradicionais têm por objetivo fun-damentar e orientar a implementação da pnpct e consis-tem no conjunto das ações de curto, médio e longo pra-zo, elaboradas com o fim de implementar, nas diferentesesferas de governo, os princípios e os objetivos estabele-cidos por esta Política:

i - os Planos de Desenvolvimento Sustentável dosPovos e Comunidades Tradicionais poderão ser estabele-cidos com base em parâmetros ambientais, regionais,temáticos, étnico-socio-culturais e deverão ser elabora-dos com a participação eqüitativa dos representantes deórgãos governamentais e dos povos e comunidades tra-dicionais envolvidos;

ii - a elaboração e implementação dos Planos de Desen-volvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradi-cionais poderá se dar por meio de fóruns especialmentecriados para esta finalidade ou de outros cuja composi-ção, área de abrangência e finalidade sejam compatíveiscom o alcance dos objetivos desta Política; e

iii - o estabelecimento de Planos de DesenvolvimentoSustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais nãoé limitado, desde que respeitada a atenção equiparadaaos diversos segmentos dos povos e comunidades tradi-

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cionais, de modo a não convergirem exclusivamente paraum tema, região, povo ou comunidade.

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 6.º A Comissão Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais deverá,no âmbito de suas competências e no prazo máximo denoventa dias:

i - dar publicidade aos resultados das Oficinas Regio-nais que subsidiaram a construção da pnpct, realizadasno período de 13 a 23 de setembro de 2006;

ii - estabelecer um Plano Nacional de Desenvolvimen-to Sustentável para os Povos e Comunidades Tradicio-nais, o qual deverá ter como base os resultados das Ofi-cinas Regionais mencionados no inciso i; e

iii - propor um Programa Multi-setorial destinado àimplementação do Plano Nacional mencionado no inci-so ii no âmbito do Plano Plurianual.

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Declaración de las Naciones Unidas sobre los Derechos Humanos de los Pueblos Indígenas35

La Asamblea General,

Guiada por los propósitos y principios de la Carta delas Naciones Unidas y la buena fe en el cumplimiento delas obligaciones contraídas por los Estados de conformi-dad con la Carta,

Afirmando que los pueblos indígenas son iguales atodos los demás pueblos y reconociendo al mismo tiempoel derecho de todos los pueblos a ser diferentes, a conside-rarse a sí mismos diferentes y a ser respetados como tales,

Afirmando también que todos los pueblos contribuyena la diversidad y riqueza de las civilizaciones y culturas,que constituyen el patrimonio común de la humanidad,

Afirmando además que todas las doctrinas, políticasy prácticas basadas en la superioridad de determinadospueblos o personas o que la propugnan aduciendo razo-

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35 Retirada do site http://bolivia.indymedia.org/node/1276, em 17 de

setembro de 2007.

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nes de origen nacional o diferencias raciales, religiosas,étnicas o culturales son racistas, científicamente falsas,jurídicamente inválidas, moralmente condenables ysocialmente injustas,

Reafirmando que, en el ejercicio de sus derechos, lospueblos indígenas deben estar libres de toda forma dediscriminación,

Preocupada por el hecho de que los pueblos indíge-nas hayan sufrido injusticias históricas como resultado,entre otras cosas, de la colonización y enajenación de sustierras, territorios y recursos, lo que les ha impedidoejercer, en particular, su derecho al desarrollo de confor-midad con sus propias necesidades e intereses,

Consciente de la urgente necesidad de respetar y pro-mover los derechos intrínsecos de los pueblos indígenas,que derivan de sus estructuras políticas, económicas ysociales y de sus culturas, de sus tradiciones espirituales,de su historia y de su concepción de la vida, especial-mente los derechos a sus tierras, territorios y recursos,

Consciente también de la urgente necesidad de respe-tar y promover los derechos de los pueblos indígenasafirmados en tratados, acuerdos y otros arreglos cons-tructivos con los Estados,

Celebrando que los pueblos indígenas se estén orga-nizando para promover su desarrollo político, económi-co, social y cultural y para poner fin a todas las formasde discriminación y opresión dondequiera que ocurran,

Convencida de que el control por los pueblos indíge-nas de los acontecimientos que los afecten a ellos y a sustierras, territorios y recursos les permitirá mantener yreforzar sus instituciones, culturas y tradiciones y pro-mover su desarrollo de acuerdo con sus aspiraciones ynecesidades,

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Considerando que el respeto de los conocimientos, lasculturas y las prácticas tradicionales indígenas contribu-ye al desarrollo sostenible y equitativo y a la ordenaciónadecuada del medio ambiente,

Destacando la contribución de la desmilitarización delas tierras y territorios de los pueblos indígenas a la paz,el progreso y el desarrollo económicos y sociales, la com-prensión y las relaciones de amistad entre las naciones ylos pueblos del mundo,

Reconociendo en particular el derecho de las familiasy comunidades indígenas a seguir compartiendo la res-ponsabilidad por la crianza, la formación, la educación yel bienestar de sus hijos, en observancia de los derechosdel niño,

Considerando que los derechos afirmados en los tra-tados, acuerdos y otros arreglos constructivos entre losEstados y los pueblos indígenas son, en algunas situa-ciones, asuntos de preocupación, interés y responsabili-dad internacional, y tienen carácter internacional,

Considerando también que los tratados, acuerdos ydemás arreglos constructivos, y las relaciones que éstosrepresentan, sirven de base para el fortalecimiento de laasociación entre los pueblos indígenas y los Estados,

Reconociendo que la Carta de las Naciones Unidas, elPacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales yCulturales y el Pacto Internacional de Derechos Civilesy Políticos, así como la Declaración y el Programa deAcción de Viena afirman la importancia fundamental delderecho de todos los pueblos a la libre determinación, envirtud del cual éstos determinan libremente su condi-ción política y persiguen libremente su desarrollo eco-nómico, social y cultural,

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Teniendo presente que nada de lo contenido en la pre-sente Declaración podrá utilizarse para negar a ningúnpueblo su derecho a la libre determinación, ejercido deconformidad con el derecho internacional,

Convencida de que el reconocimiento de los derechosde los pueblos indígenas en la presente Declaraciónfomentará relaciones armoniosas y de cooperación entrelos Estados y los pueblos indígenas, basadas en los prin-cipios de la justicia, la democracia, el respeto de los dere-chos humanos, la no discriminación y la buena fe,

Alentando a los Estados a que cumplan y apliquen efi-cazmente todas sus obligaciones para con los pueblosindígenas dimanantes de los instrumentos internaciona-les, en particular las relativas a los derechos humanos,en consulta y cooperación con los pueblos interesados,

Subrayando que corresponde a las Naciones Unidas de-sempeñar un papel importante y continuo de promocióny protección de los derechos de los pueblos indígenas,

Considerando que la presente Declaración constituyeun nuevo paso importante hacia el reconocimiento, lapromoción y la protección de los derechos y las liberta-des de los pueblos indígenas y en el desarrollo de acti-vidades pertinentes del sistema de las Naciones Unidasen esta esfera,

Reconociendo y reafirmando que las personas indíge-nas tienen derecho sin discriminación a todos los dere-chos humanos reconocidos en el derecho internacional,y que los pueblos indígenas poseen derechos colectivosque son indispensables para su existencia, bienestar ydesarrollo integral como pueblos,

Reconociendo también que la situación de los pueblosindígenas varía según las regiones y los países y que sedebe tener en cuenta la significación de las particulari-

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dades nacionales y regionales y de las diversas tradicio-nes históricas y culturales,

Proclama solemnemente la Declaración de las Nacio-nes Unidas sobre los derechos de los pueblos indígenas,cuyo texto figura a continuación, como ideal común quedebe perseguirse en un espíritu de solidaridad y respe-to mutuo:

ARTÍCULO 1 Los indígenas tienen derecho, como pueblos o como per-sonas, al disfrute pleno de todos los derechos humanosy las libertades fundamentales reconocidos por la Cartade las Naciones Unidas, la Declaración Universal deDerechos Humanos y la normativa internacional de losderechos humanos.

ARTÍCULO 2 Los pueblos y las personas indígenas son libres e igualesa todos los demás pueblos y personas y tienen derechoa no ser objeto de ninguna discriminación en el ejerciciode sus derechos que esté fundada, en particular, en suorigen o identidad indígena.

ARTÍCULO 3 Los pueblos indígenas tienen derecho a la libre determi-nación. En virtud de ese derecho determinan libremen-te su condición política y persiguen libremente su des-arrollo económico, social y cultural.

ARTÍCULO 4 Los pueblos indígenas, en ejercicio de su derecho delibre determinación, tienen derecho a la autonomía o elautogobierno en las cuestiones relacionadas con sus

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asuntos internos y locales, así como a disponer de losmedios para financiar sus funciones autónomas.

ARTÍCULO 5 Los pueblos indígenas tienen derecho a conservar y

reforzar sus propias instituciones políticas, jurídicas,económicas, sociales y culturales, manteniendo a la vezsu derecho a participar plenamente, si lo desean, en lavida política, económica, social y cultural del Estado.

ARTÍCULO 6 Toda persona indígena tiene derecho a una nacionalidad.

ARTÍCULO 7 1. Las personas indígenas tienen derecho a la vida, laintegridad física y mental, la libertad y la seguridad dela persona. 2. Los pueblos indígenas tienen el derecho colectivo devivir en libertad, paz y seguridad como pueblos distin-tos y no serán sometidos a ningún acto de genocidio nia ningún otro acto de violencia, incluido el traslado for-zado de niños del grupo a otro grupo.

ARTÍCULO 8 1. Los pueblos y las personas indígenas tienen derechoa no sufrir la asimilación forzada o la destrucción de sucultura. 2. Los Estados establecerán mecanismos eficaces para laprevención y el resarcimiento de:

a) Todo acto que tenga por objeto o consecuencia pri-var a los pueblos y las personas indígenas de su integri-dad como pueblos distintos o de sus valores culturales osu identidad étnica;

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b) Todo acto que tenga por objeto o consecuencia ena-jenarles sus tierras, territorios o recursos;

c) Toda forma de traslado forzado de población quetenga por objeto o consecuencia la violación o el menos-cabo de cualquiera de sus derechos;

d) Toda forma de asimilación o integración forzadas;e) Toda forma de propaganda que tenga como fin pro-

mover o incitar a la discriminación racial o étnica dirigi-da contra ellos.

ARTÍCULO 9 Los pueblos y las personas indígenas tienen derecho apertenecer a una comunidad o nación indígena, de con-formidad con las tradiciones y costumbres de la comuni-dad o nación de que se trate. No puede resultar ningu-na discriminación de ningún tipo del ejercicio de esederecho.

ARTÍCULO 10 Los pueblos indígenas no serán desplazados por la fuer-za de sus tierras o territorios. No se procederá a ningúntraslado sin el consentimiento libre, previo e informadode los pueblos indígenas interesados, ni sin un acuerdoprevio sobre una indemnización justa y equitativa y,siempre que sea posible, la opción del regreso.

ARTÍCULO 11 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a practicar yrevitalizar sus tradiciones y costumbres culturales. Elloincluye el derecho a mantener, proteger y desarrollar lasmanifestaciones pasadas, presentes y futuras de sus cul-turas, como lugares arqueológicos e históricos, utensi-

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lios, diseños, ceremonias, tecnologías, artes visuales einterpretativas y literaturas. 2. Los Estados proporcionarán reparación por medio demecanismos eficaces, que podrán incluir la restitución,establecidos conjuntamente con los pueblos indígenas,respecto de los bienes culturales, intelectuales, religio-sos y espirituales de que hayan sido privados sin su con-sentimiento libre, previo e informado o en violación desus leyes, tradiciones y costumbres.

ARTÍCULO 12 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a manifestar,practicar, desarrollar y enseñar sus tradiciones, costum-bres y ceremonias espirituales y religiosas; a mantener yproteger sus lugares religiosos y culturales y a acceder aellos privadamente; a utilizar y vigilar sus objetos deculto, y a obtener la repatriación de sus restos humanos. 2. Los Estados procurarán facilitar el acceso y/o la repa-triación de objetos de culto y de restos humanos queposean mediante mecanismos justos, transparentes y efi-caces establecidos conjuntamente con los pueblos indí-genas interesados.

ARTÍCULO 13 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a revitalizar,utilizar, fomentar y transmitir a las generaciones futurassus historias, idiomas, tradiciones orales, filosofías, sis-temas de escritura y literaturas, y a atribuir nombres asus comunidades, lugares y personas y mantenerlos. 2. Los Estados adoptarán medidas eficaces para garanti-zar la protección de ese derecho y también para asegu-rar que los pueblos indígenas puedan entender y hacer-se entender en las actuaciones políticas, jurídicas y

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administrativas, proporcionando para ello, cuando seanecesario, servicios de interpretación u otros mediosadecuados.

ARTÍCULO 14 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a establecer ycontrolar sus sistemas e instituciones docentes que im-partan educación en sus propios idiomas, en consonanciacon sus métodos culturales de enseñanza y aprendizaje. 2. Las personas indígenas, en particular los niños indí-genas, tienen derecho a todos los niveles y formas deeducación del Estado sin discriminación. 3. Los Estados adoptarán medidas eficaces, junto con lospueblos indígenas, para que las personas indígenas, enparticular los niños, incluidos los que viven fuera de suscomunidades, tengan acceso, cuando sea posible, a laeducación en su propia cultura y en su propio idioma.

ARTÍCULO 15 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a que la digni-dad y diversidad de sus culturas, tradiciones, historiasy aspiraciones queden debidamente reflejadas en la edu-cación pública y los medios de información públicos. 2. Los Estados adoptarán medidas eficaces, en consultay cooperación con los pueblos indígenas interesados,para combatir los prejuicios y eliminar la discriminacióny promover la tolerancia, la comprensión y las buenasrelaciones entre los pueblos indígenas y todos los demássectores de la sociedad.

ARTÍCULO 16 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a establecer suspropios medios de información en sus propios idiomas y

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a acceder a todos los demás medios de información noindígenas sin discriminación alguna. 2. Los Estados adoptarán medidas eficaces para asegurarque los medios de información públicos reflejen debida-mente la diversidad cultural indígena. Los Estados, sinperjuicio de la obligación de asegurar plenamente lalibertad de expresión, deberán alentar a los medios decomunicación privados a reflejar debidamente la diver-sidad cultural indígena.

ARTÍCULO 17 1. Las personas y los pueblos indígenas tienen derechoa disfrutar plenamente de todos los derechos estableci-dos en el derecho laboral internacional y nacional apli-cable. 2. Los Estados, en consulta y cooperación con los pue-blos indígenas, tomarán medidas específicas para prote-ger a los niños indígenas contra la explotación económi-ca y contra todo trabajo que pueda resultar peligroso ointerferir en la educación del niño, o que pueda ser per-judicial para la salud o el desarrollo físico, mental, espi-ritual, moral o social del niño, teniendo en cuenta suespecial vulnerabilidad y la importancia de la educaciónpara el pleno ejercicio de sus derechos. 3. Las personas indígenas tienen derecho a no ser some-tidas a condiciones discriminatorias de trabajo, entreotras cosas, empleo o salario.

ARTÍCULO 18 Los pueblos indígenas tienen derecho a participar en laadopción de decisiones en las cuestiones que afecten asus derechos, por conducto de representantes elegidospor ellos de conformidad con sus propios procedimien-

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tos, así como a mantener y desarrollar sus propias insti-tuciones de adopción de decisiones.

RTÍCULO 19 Los Estados celebrarán consultas y cooperarán de buenafe con los pueblos indígenas interesados por medio desus instituciones representativas antes de adoptar y apli-car medidas legislativas y administrativas que los afecten,para obtener su consentimiento libre, previo e informado.

Artículo 20 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a mantener ydesarrollar sus sistemas o instituciones políticas, econó-micas y sociales, a que se les asegure el disfrute de suspropios medios de subsistencia y desarrollo y a dedicar-se libremente a todas sus actividades económicas tradi-cionales y de otro tipo.2. Los pueblos indígenas desposeídos de sus medios desubsistencia y desarrollo tienen derecho a una repara-ción justa y equitativa.

ARTÍCULO 21 1. Los pueblos indígenas tienen derecho, sin discrimina-ción alguna, al mejoramiento de sus condiciones econó-micas y sociales, entre otras esferas, en la educación, elempleo, la capacitación y el readiestramiento profesiona-les, la vivienda, el saneamiento, la salud y la seguridadsocial. 2. Los Estados adoptarán medidas eficaces y, cuando pro-ceda, medidas especiales para asegurar el mejoramientocontinuo de sus condiciones económicas y sociales. Seprestará particular atención a los derechos y necesidades

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especiales de los ancianos, las mujeres, los jóvenes, losniños y las personas con discapacidades indígenas.

ARTÍCULO 22 1. Se prestará particular atención a los derechos y nece-sidades especiales de los ancianos, las mujeres, los jóve-nes, los niños y las personas con discapacidades indíge-nas en la aplicación de la presente Declaración. 2. Los Estados adoptarán medidas, junto con los pueblosindígenas, para asegurar que las mujeres y los niños indí-genas gocen de protección y garantías plenas contratodas las formas de violencia y discriminación.

ARTÍCULO 23 Los pueblos indígenas tienen derecho a determinar y aelaborar prioridades y estrategias para el ejercicio de suderecho al desarrollo. En particular, los pueblos indíge-nas tienen derecho a participar activamente en la elabo-ración y determinación de los programas de salud, vi-vienda y demás programas económicos y sociales que lesconciernan y, en lo posible, a administrar esos progra-mas mediante sus propias instituciones.

ARTÍCULO 24 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a sus propiasmedicinas tradicionales y a mantener sus prácticas desalud, incluida la conservación de sus plantas, animalesy minerales de interés vital desde el punto de vista médi-co. Las personas indígenas también tienen derecho deacceso, sin discriminación alguna, a todos los serviciossociales y de salud. 2. Las personas indígenas tienen derecho a disfrutar porigual del nivel más alto posible de salud física y mental.

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Los Estados tomarán las medidas que sean necesariaspara lograr progresivamente la plena realización de estederecho.

ARTÍCULO 25 Los pueblos indígenas tienen derecho a mantener y for-talecer su propia relación espiritual con las tierras, terri-torios, aguas, mares costeros y otros recursos que tradi-cionalmente han poseído u ocupado y utilizado de otraforma y a asumir las responsabilidades que a ese respec-to les incumben para con las generaciones venideras.

ARTÍCULO 26 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a las tierras,territorios y recursos que tradicionalmente han poseído,ocupado o de otra forma utilizado o adquirido. 2. Los pueblos indígenas tienen derecho a poseer, utili-zar, desarrollar y controlar las tierras, territorios y recur-sos que poseen en razón de la propiedad tradicional uotra forma tradicional de ocupación o utilización, asícomo aquellos que hayan adquirido de otra forma. 3. Los Estados asegurarán el reconocimiento y protec-ción jurídicos de esas tierras, territorios y recursos.Dicho reconocimiento respetará debidamente las cos-tumbres, las tradiciones y los sistemas de tenencia de latierra de los pueblos indígenas de que se trate.

ARTÍCULO 27 Los Estados establecerán y aplicarán, conjuntamente conlos pueblos indígenas interesados, un proceso equitati-vo, independiente, imparcial, abierto y transparente, enel que se reconozcan debidamente las leyes, tradiciones,costumbres y sistemas de tenencia de la tierra de los pue-

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blos indígenas, para reconocer y adjudicar los derechosde los pueblos indígenas en relación con sus tierras,territorios y recursos, comprendidos aquellos que tradi-cionalmente han poseído u ocupado o utilizado de otraforma. Los pueblos indígenas tendrán derecho a partici-par en este proceso.

ARTÍCULO 28 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a la reparación,por medios que pueden incluir la restitución o, cuandoello no sea posible, una indemnización justa, imparcialy equitativa, por las tierras, los territorios y los recursosque tradicionalmente hayan poseído u ocupado o utiliza-do de otra forma y que hayan sido confiscados, tomados,ocupados, utilizados o dañados sin su consentimientolibre, previo e informado. 2. Salvo que los pueblos interesados hayan convenido li-bremente en otra cosa, la indemnización consistirá entierras, territorios y recursos de igual calidad, extensióny condición jurídica o en una indemnización monetariau otra reparación adecuada.

ARTÍCULO 29 1. Los pueblos indígenas tienen derecho a la conserva-ción y protección del medio ambiente y de la capacidadproductiva de sus tierras o territorios y recursos. 2. Los Estados deberán establecer y ejecutar programasde asistencia a los pueblos indígenas para asegurar esaconservación y protección, sin discriminación alguna. 3. Los Estados adoptarán medidas eficaces para garanti-zar que no se almacenen ni eliminen materiales peligro-sos en las tierras o territorios de los pueblos indígenassin su consentimiento libre, previo e informado.

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4. Los Estados también adoptarán medidas eficaces paragarantizar, según sea necesario, que se apliquen debida-mente programas de control, mantenimiento y restable-cimiento de la salud de los pueblos indígenas afectadospor esos materiales, programas que serán elaborados yejecutados por esos pueblos.

ARTÍCULO 30 1. No se desarrollarán actividades militares en las tierras oterritorios de los pueblos indígenas, a menos que lo justi-fique una amenaza importante para el interés público per-tinente o que se hayan acordado libremente con los pue-blos indígenas interesados, o que éstos lo hayan solicitado. 2. Los Estados celebrarán consultas eficaces con los pue-blos indígenas interesados, por los procedimientos apro-piados y en particular por medio de sus institucionesrepresentativas, antes de utilizar sus tierras o territoriospara actividades militares.

Artículo 311. Los pueblos indígenas tienen derecho a mantener,controlar, proteger y desarrollar su patrimonio cultural,sus conocimientos tradicionales, sus expresiones cultu-rales tradicionales y las manifestaciones de sus ciencias,tecnologías y culturas, comprendidos los recursos huma-nos y genéticos, las semillas, las medicinas, el conoci-miento de las propiedades de la fauna y la flora, las tra-diciones orales, las literaturas, los diseños, los deportesy juegos tradicionales, y las artes visuales e interpreta-tivas. También tienen derecho a mantener, controlar,proteger y desarrollar su propiedad intelectual de dichopatrimonio cultural, sus conocimientos tradicionales ysus expresiones culturales tradicionales.

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2. Conjuntamente con los pueblos indígenas, los Estadosadoptarán medidas eficaces para reconocer y proteger elejercicio de estos derechos.

Artículo 321. Los pueblos indígenas tienen derecho a determinar yelaborar las prioridades y estrategias para el desarrollo ola utilización de sus tierras o territorios y otros recursos. 2. Los Estados celebrarán consultas y cooperarán de bue-na fe con los pueblos indígenas interesados por conduc-to de sus propias instituciones representativas a fin deobtener su consentimiento libre e informado antes deaprobar cualquier proyecto que afecte a sus tierras o ter-ritorios y otros recursos, particularmente en relación conel desarrollo, la utilización o la explotación de recursosminerales, hídricos o de otro tipo. 3. Los Estados establecerán mecanismos eficaces para lareparación justa y equitativa por esas actividades, y seadoptarán medidas adecuadas para mitigar sus conse-cuencias nocivas de orden ambiental, económico, social,cultural o espiritual.

Artículo 331. Los pueblos indígenas tienen derecho a determinar supropia identidad o pertenencia conforme a sus costum-bres y tradiciones. Ello no menoscaba el derecho de laspersonas indígenas a obtener la ciudadanía de los Esta-dos en que viven. 2. Los pueblos indígenas tienen derecho a determinar lasestructuras y a elegir la composición de sus institucio-nes de conformidad con sus propios procedimientos.

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Artículo 34Los pueblos indígenas tienen derecho a promover, des-arrollar y mantener sus estructuras institucionales y suspropias costumbres, espiritualidad, tradiciones, proce-dimientos, prácticas y, cuando existan, costumbres o sis-temas jurídicos, de conformidad con las normas interna-cionales de derechos humanos.

Artículo 35Los pueblos indígenas tienen derecho a determinar lasresponsabilidades de los individuos para con sus comu-nidades.

Artículo 361. Los pueblos indígenas, en particular los que estándivididos por fronteras internacionales, tienen derechoa mantener y desarrollar los contactos, las relaciones yla cooperación, incluidas las actividades de carácterespiritual, cultural, político, económico y social, con suspropios miembros así como con otros pueblos a través delas fronteras. 2. Los Estados, en consulta y cooperación con los pue-blos indígenas, adoptarán medidas eficaces para facilitarel ejercicio y garantizar la aplicación de este derecho.

Artículo 371. Los pueblos indígenas tienen derecho a que los trata-dos, acuerdos y otros arreglos constructivos concertadoscon los Estados o sus sucesores sean reconocidos, obser-vados y aplicados y a que los Estados acaten y respetenesos tratados, acuerdos y otros arreglos constructivos. 2. Nada de lo señalado en la presente Declaración seinterpretará en el sentido de que menoscaba o suprime

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los derechos de los pueblos indígenas que figuren en tra-tados, acuerdos y otros arreglos constructivos.

Artículo 38Los Estados, en consulta y cooperación con los pueblosindígenas, adoptarán las medidas apropiadas, incluidasmedidas legislativas, para alcanzar los fines de la presen-te Declaración.

Artículo 39Los pueblos indígenas tienen derecho a la asistenciafinanciera y técnica de los Estados y por conducto de lacooperación internacional para el disfrute de los dere-chos enunciados en la presente Declaración.

Artículo 40 Los pueblos indígenas tienen derecho a procedimientosequitativos y justos para el arreglo de controversias conlos Estados u otras partes, y a una pronta decisión sobreesas controversias, así como a una reparación efectiva detoda lesión de sus derechos individuales y colectivos. Enesas decisiones se tendrán debidamente en considera-ción las costumbres, las tradiciones, las normas y los sis-temas jurídicos de los pueblos indígenas interesados ylas normas internacionales de derechos humanos.

Artículo 41Los órganos y organismos especializados del sistema delas Naciones Unidas y otras organizaciones interguber-namentales contribuirán a la plena realización de las dis-posiciones de la presente Declaración mediante la movi-lización, entre otras cosas, de la cooperación financieray la asistencia técnica. Se establecerán los medios de ase-

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gurar la participación de los pueblos indígenas en rela-ción con los asuntos que les conciernan.

Artículo 42Las Naciones Unidas, sus órganos, incluido el Foro Per-manente para las Cuestiones Indígenas, y los organismosespecializados, en particular a nivel local, así como losEstados, promoverán el respeto y la plena aplicación delas disposiciones de la presente Declaración y velaránpor la eficacia de la presente Declaración.

Artículo 43Los derechos reconocidos en la presente Declaraciónconstituyen las normas mínimas para la supervivencia,la dignidad y el bienestar de los pueblos indígenas delmundo.

Artículo 44Todos los derechos y las libertades reconocidos en la pre-sente Declaración se garantizan por igual al hombre y ala mujer indígenas.

Artículo 45Nada de lo contenido en la presente Declaración se inter-pretará en el sentido de que menoscaba o suprime losderechos que los pueblos indígenas tienen en la actuali-dad o puedan adquirir en el futuro.

Artículo 46 1. Nada de lo señalado en la presente Declaración seinterpretará en el sentido de que confiere a un Estado,pueblo, grupo o persona derecho alguno a participar enuna actividad o realizar un acto contrarios a la Carta de

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las Naciones Unidas o se entenderá en el sentido de queautoriza o fomenta acción alguna encaminada a quebran-tar o menoscabar, total o parcialmente, la integridadterritorial o la unidad política de Estados soberanos eindependientes. 2. En el ejercicio de los derechos enunciados en la pre-sente Declaración, se respetarán los derechos humanos ylas libertades fundamentales de todos. El ejercicio de losderechos establecidos en la presente Declaración estarásujeto exclusivamente a las limitaciones determinadaspor la ley y con arreglo a las obligaciones internaciona-les en materia de derechos humanos. Esas limitacionesno serán discriminatorias y serán sólo las estrictamentenecesarias para garantizar el reconocimiento y respetodebidos a los derechos y las libertades de los demás ypara satisfacer las justas y más apremiantes necesidadesde una sociedad democrática. 3. Las disposiciones enunciadas en la presente Declara-ción se interpretarán con arreglo a los principios de lajusticia, la democracia, el respeto de los derechos huma-nos, la igualdad, la no discriminación, la buena adminis-tración pública y la buena fe.

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