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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 [email protected] AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Abandono afetivo dos pais pode gerar novas demandas na Justiça PAIS E FILHOS Página 7 VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

Direito e Justiça - Edição 22455 - 26 de fevereiro de 2015

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Direito e Justiça - Edição 22455 - 26 de fevereiro de 2015

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 [email protected]

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR

DANOS MORAIS Abandono afetivo dos pais pode gerar novas

demandas na Justiça

PAIS E FILHOS

Página 7

VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 2

Ausência de amor e companheirismo pelos pais pode gerar aos fi-lhos o direito de pleitear ação indenizatória por danos morais. Já existe jurisprudência, e a advogada Roberta Vasques em matéria na

página 05, afirma que a omissão de quem deve cuidar atinge o bem tutelado que é o dever de criação. O dano moral é caracterizado quan-do uma pessoa é afetada psicologicamente ou moralmente em situações que causem constrangimento, dor e aflições, por uma ofensa á honra ou intimidade exposta.

Cada vez mais, os consumidores brasileiros lutam pelos seus di-reitos . Operadoras telefônicas já tiveram suas vendas paralisadas e planos de saúde foram suspensos. Mais uma conquista está ob-tendo o usuário de plano de saúde . Um novo comportamento, em ações que envolvam negativa do plano de saúde, tem ganhado força no Judiciário , além de serem obrigadas a cumprirem o tratamento negado pode caber também indenização do consumidor por danos

morais . Em matéria na página 05 o advogado Vinicius Zuarg esclare-ce que o paciente não pode ser exposto a nenhum constrangimento.

Fixar em 24 horas, o prazo de apresentação dos presos aos juízes é tema do projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados de auto-ria do deputado Jorginho Mello (PR –SC). De acordo com a proposta , a polícia deverá prender qualquer pessoa flagrada cometendo delito, e após prisão decretada, conduzir no máximo em um dia ao juiz. O pre-sidente da Associação Cearense de Magistrados , juiz Antônio Araújo analisa a proposta e afirma ( página 08) que a viabilidade deste projeto na atual realidade é bastante difícil devido à defasagem no quadro de magistrados e a falta de estrutura.

Combater o assédio moral dentro de um ambiente de trabalho e pre-ocupação do Ministério Público do Trabalho no Ceará. O procurador--chefe, em entrevista na página 03 fala sobre o tema e aborda também sobre o trabalho escravo e ações de combate aos acidentes de trabalho.

Ausência de amor gera ação indenizatória

EDITORIAL Golpe ou impeachment?

A utilização dos benefícios trazidos pelas redes sociais pode provocar di-reta repercussão no ambiente de trabalho. Se posi-tiva a repercussão, muito que bem. Se negativa, tanto o empregado que postou determi-nada informação como o empregador

sujeitam-se à responsabilidade civil, penal e trabalhista. Por exemplo, o fato de um empregado publicar em rede social à qual pertence informações cujo caráter venha a causar prejuízos ao empregador – tal como a perda de clientes, a não efetivação de um de-terminado negócio ou veto para participar de uma concorrência pública – serão aplica-das as leis comuns.

Assim, ainda dentro de nossos exemplos, se o empregado postou em rede social uma mensagem caluniosa, poderá responder ci-vilmente pela reparação do dano, poderá responder criminalmente pelo delito prati-

cado e ter o contrato de trabalho rescindido por justa causa, aplicando-se, respectiva-mente, o Código Civil, o Código Penal e a Consolidação das Leis do Trabalho.

Insta salientar que as necessidades do trabalho nem sempre são compatíveis com acessos às redes sociais durante a jornada e o empregador tem o poder de fiscalização – inclusive bloqueando o acesso nos compu-tadores; contudo, não tem este o condão de impedir que o empregador as acesse de sua casa, de uma lan house ou até mesmo de seu aparelho de telefone celular ou tablet.

Entre o rol de poder de gerência do em-pregador está a fiscalização – no horário de trabalho e por meio dos equipamentos de trabalho – dos sites acessados pelos empre-gados – por analogia, já é pacífico perante o Tribunal Superior do Trabalho que o mau uso do e-mail corporativo habilita a demis-são por justa causa; em síntese, tratando-se o computador de um instrumento de tra-balho, nada impede que o empregador blo-queie o acesso a determinadas páginas ele-trônicas. Importante salientar, pode sim o empregador regrar o acesso às redes sociais no ambiente de trabalho, mas o poder de ge-rência não extravasa este limite. Perceba-se:

o empregador pode determinar a utilização de uniforme, mas não pode impedir que na foto postada em seu perfil particular esta mesma pessoa esteja trajando roupas míni-mas – há de se ter cautela quanto ao exercí-cio do poder de gerência, mas o empregado também há de ser igualmente cauto com sua conduta em seu cotidiano. Em nosso enten-der, o empregador pode e deve exigir de seus empregados um comportamento adequado tanto no mundo real como no virtual.

Se de um lado o empregador pode exercer o poder de gerência, impedindo, limitan-do e/ou fiscalizando o acesso de seus em-pregados às redes sociais e à internet como um todo, de outro lado a tecnologia está à disposição e deve ser empregada em toda a sua dimensão, prestando-se como verdadei-ro instrumento facilitador da informação. Como então buscar o equilíbrio? A resposta é fácil: Ética! Respeito! Bom senso!

O comportamento de qualquer pessoa deve ser igual, em qualquer momento e si-tuação; o fato de haver um perfil eletrônico não significa haver outra pessoa, mas ape-nas um meio por intermédio do qual ela se manifestará, encontrará outras pessoas e se relacionará.

O cenário brasileiro de certa forma está cercado de posts e eventos nas redes so-ciais, até mesmo de discursos de políticos da oposição e aliados, nas últimas sema-nas acerca de um possível impeachment. Sabemos que impeachment é um meca-nismo das democracias presidencialistas

e aqui Brasil está previsto na Cons-tituição Federal. Desta forma, se está previsto nas regras democrá-ticas, não é gol-pe. Diante disso indagamos: A presidente Dilma Rousseff pode so-frer uma propos-ta de impeach-ment? Provável é

que se vivêssemos em um país parlamen-tarista a presidente fosse primeira mi-nistra, já teria caído. Isso mesmo, novas eleições já teriam sido convocadas. Assim, para debelar a crise, que pode ser admi-nistrativa, valores e/ou de política, o povo vai às ruas e elege novos dirigentes. Mas, no presidencialismo, aqui no Brasil não é assim, pois a forma daqui, a queda demo-crática de um presidente não é brinquedo e essa matéria é séria.

No cenário atual é preciso que se com-preenda o significado dessa ameaça à Pre-sidente da República e para que mesmo os leigos em matéria jurídica possam enten-der e avaliar o significado de tal ameaça, inclusive recebendo esclarecimentos sobre a real possibilidade jurídica de sua utiliza-ção, é oportuna a divulgação de uma aná-lise, ainda que sucinta, do enquadramento jurídico dessa questão, pois isso interessa a todo o povo brasileiro.

Forçar a Presi-dente da Repúbli-ca a deixar o car-go antes do prazo de vencimento do mandato recebido do povo é ato de extrema gravidade, que, mesmo quan-do praticado com rigorosa obediência aos preceitos cons-titucionais e legais, acarreta grave per-turbação na vida do Brasil. E se a depo-sição da Presidente ocorrer por um ato de força, mesmo

que com aparente base jurídica, estará sen-do dado um golpe de Estado, que poderá ser muito conveniente para um pequeno grupo de golpistas, mas será extremamen-te danoso para todo o povo, significando a implantação de uma ditadura, com suas inevitáveis mazelas. O amparo jurídico de pleitear a destituição da Presidente da Re-pública está expressamente pontuado na Carta Maior, no artigo 85, segundo o qual são crimes de responsabilidade, cuja práti-ca dará fundamento para afastá-lo do car-go, os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e especialmente contra, inciso V - a probida-de na administração. O que visualizamos que o enunciado é genérico dos crimes de responsabilidade. Se o Presidente da Repú-blica cometer algum desses crimes poderá ser destituído por decisão do Congresso Nacional, obedecidos aos procedimentos que a própria Constituição estabelece.

No parágrafo único do mesmo artigo pontua, expressamente: Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. A lei especial aí referida, que trata especifica-mente dos crimes de responsabilidade é a Lei Federal n° 1079, de 10 de abril de 1950, que, segundo opinião unânime dos juris-tas, foi recepcionada pela Carta de 1988. Quanto à definição dos crimes, que lhe cabe por disposição constitucional, dispõe a Lei 1079, no artigo 1°, que: são crimes de responsabilidade os que esta lei especifica, fazendo em seguida, em vários incisos, a enumeração das espécies de crimes, dis-pondo o inciso V sobre os que atentam contra a probidade na administração. E quanto a estes, no artigo 9°, que comple-ta os dados necessários para esta breve análise, estabelece a lei que são crimes de responsabilidade contra a probidade na administração - 3. não tornar efetiva a res-ponsabilidade dos seus subordinados (lo-gicamente, subordinados do Presidente da República, que é o objeto exclusivo da lei).

EDITORA Solange Palhano REPÓRTER Anatália Batista EXECUTIVA DE NEGÓCIOS Marta Barbosa DIRETOR DE ARTE Rafael F. Gomes FOTOS Iratuã Freitas e Beth Dreher www.oestadoce.com.br

Redes sociais e o ambiente de trabalho

Prazos eleitorais IIIAinda falando sobre prazos eleitorais, mas

saindo da lei das eleições (Lei nº 9.504/97) e passando à análise da lei orgânica dos par-

tidos políticos (Lei nº 9.096/95, LOPP), aqui se veem alguns termos também im-portantes.

E os primeiros re-gramentos de tempo ali presentes dizem respeito à consti-tuição de partidos políticos junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Para tan-to, é preciso que o Escrivão Eleitoral dê recibo de cada lista de assinaturas que

lhe for apresentada, tendo o servidor o prazo de quinze dias para lavar o atestado e devol-ver ao interessado (§ 2º do art. 9º). Chegando o pedido de registro ao TSE, o processo , no prazo de quarenta e oito horas, é distribuído a um Relator, o qual, ouvida a Procuradoria--Geral, em dez dias, pode determinar, em

igual prazo, diligências para sanar eventuais falhas (§ 3º do art. 9º). E, “se não houver di-ligências a determinar, ou após o seu atendi-mento, o Tribunal Superior Eleitoral registra o estatuto do partido, no prazo de trinta dias” (§ 4º do art. 9º). Destaque importante para o fato de que tais prazos não são peremptórios, embora sejam próprios e legais, notadamen-te porque o Poder Judiciário Eleitoral, a de-pender de suas atividades, pode dilatar tais tempos, não se aplicando ao procedimental o disposto no art. 182 do Código de Processo Civil (CPC). Acerca do tema, entende o TSE que em processos de registro de candidatura, aí sim se têm prazos além de peremptórios, contínuos, não se suspendendo nem mesmo em dias não úteis (Ac. de 11.10.2012 no AgR--REspe nº 64318, rel. Min. Dias Toffoli). De um modo geral, pode-se dizer que será pe-remptório o prazo ligado à própria função jurisdicional e, dilatório, aquele que põe em jogo apenas interesse particular da parte.

Retornando à LOPP, preceitua o art. 18 que para “concorrer a cargo eletivo, o elei-tor deverá estar filiado ao respectivo partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou proporcionais”,

podendo o estatuto partidário estabelecer tempo de filiação superior a um ano. Aliás, filiação partidária é condição de elegibili-dade constitucional (art. 14, § 3º, inciso V da CF/88). Seguindo, o art. 19 da norma em comento define a segunda semana dos me-ses de abril e outubro de cada ano para que o partido, por seus respectivos órgãos de dire-ção, “envie aos juízes eleitorais a relação dos nomes de todos os seus filiados, da qual cons-tará a data de filiação, o número dos títulos eleitorais e das seções em que estão inscri-tos”. E o vínculo com a agremiação partidá-ria se extingue “decorridos dois dias da data da entrega da comunicação” que o filiado deve realizar por escrito ao órgão de direção municipal e ao Juiz Eleitoral da Zona em que for inscrito (art. 21, p. único).

Porque não custa lembrar: “para que haja tempo existencial, é indispensável que haja, também, existência, vida humana. Havendo existência tem que haver tempo, já que essa existência é transcendendo-se, e transcende-se porque é temporalizando--se”[CARNELLI, Lorenzo. Tempo e Direito. Tradução de Érico Maciel. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, 1960, p. 142]

Estabilidade gestacionalEmbora o acesso aos quadros do servi-

ço público ocorra ordinariamente através de aprovação prévia em concurso públi-co, existem algumas situações excepcio-nais, tais como as nomeações para os famigerados cargos em comissão, de-clarados em lei de livre nomeação e exoneração. O in-gresso facilitado e de sbu rocr at i z ado apresenta algumas desvantagens evi-

dentes, como, por exemplo, a completa falta de estabilidade, podendo o agente comissio-nado ser exonerado a qualquer momento, em qualquer circunstância, mesmo sem jus-ta causa, a critério do empregador.

Analisando o regramento normativo, sur-ge uma indagação de ordem prática merece-

dora de uma reflexão mais pormenorizada: a ocupante de cargo em comissão, mesmo estando grávida, poderia ser exonerada? O assunto é polêmico, sendo possível encon-trar posicionamentos divergentes tanto na doutrina quanto na jurisprudência, em face da ausência de regulamentação específica para a situação.

No âmbito constitucional, o legislador originário vedou expressamente a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto (art. 10, II, b, ADCT). Todavia, a proteção contra a des-pedida repentina faz referência apenas aos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais civis, aqueles sem vínculo com o poder pú-blico, não sendo extensível aos servidores públicos (art. 7º, I, CF/88 c/c art. 39, § 3º, CF/88). A recém-editada Lei Complementar n. 146/14 perdeu uma excelente oportuni-dade para dirimir a controvérsia, tratando somente da extensão da estabilidade pro-visória da gestante, nos casos de seu faleci-

mento, para aquela que detiver a guarda do seu filho. Nestes termos, em face da ausência de permissivo legal, diversos julgamentos são emitidos vedando a estabilidade gesta-cional para aquelas trabalhadoras ocupantes de cargos comissionados.

Porém, esquadrinhando a temática, o Supremo Tribunal Federal firmou enten-dimento de que as garantias sociais es-tão sobrepostas à vontade do empregador, principalmente no tocante à maternidade, edificada como uma garantia fundamental, inerente a todas as trabalhadoras que pos-suem vínculo empregatício, independente-mente do regime jurídico de trabalho. Des-te ângulo interpretativo, ainda que o cargo comissionado prossiga sem estabilidade em virtude do seu vínculo precário, a servidora grávida tem direito à licença-maternidade e estabilidade provisória, materializando, as-sim, os incentivos especiais do mercado de trabalho da mulher, não deixando a gestan-te desamparada, viabilizando a recuperação das suas condições físicas e psicológicas.

FERNANDOBORGES

ADVOGADO

Esses crimes são definidos

em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. A lei especial aí referida, que trata especifica-mente dos crimes de responsabilidade é a Lei Federal n° 1079, de 10 de abril de 1950.

MARCOSPRAXEDESANALISTA

JUDICIÁRIO

RODRIGO CAVALCANTE

ASSESSOR DE JUIZ NO

TRE/CE

ANDRÉMARQUES

ADVOGADO

Page 3: Direito e Justiça - Edição 22455 - 26 de fevereiro de 2015

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 3

O caderno Direito & Justi-ça, do jornal O Estado, entrevistou nesta edição, o procurador-chefe do

Ministério Público do Tra-balho no Ceará (MPT-CE), Antônio de Oliveira Lima. De acordo com ele, as denúncias mais recebidas pelo órgão são as relacionadas às irregularida-des trabalhistas de contratação e salários, no entanto, afirma que combater o assédio moral dentro do ambiente de trabalho tem sido uma preocupação.

Antônio de Oliveira atua também na Coordenadoria Nacional de Combate à Explo-ração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfân-cia). Segundo ele, hoje, o Ceará é o Estado que mais reduziu o trabalho infantil na região Nordeste após implementação do Programa de Educação con-tra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Peteca). O procurador come-mora uma redução de 50% no número, de 2009 a 2013. Na entrevista, Antônio fala ainda sobre a realidade do trabalho escravo e as ações de combate aos acidentes de trabalho.

DIREITO & JUSTIÇA. O acesso do cidadão ao MPT é fácil? Como ele pode contribuir e realizar denúncias?ANTONIO DE OLIVEIRA. O MPT atua como órgão agente na investi-gação de denúncias de irregula-ridades trabalhistas de interesse coletivo, de interesses difusos e individuais homogêneos, não atua em questões individuais. Causas de interesse coletivo em ações que envolvam demissão em massa, atraso salarial, aci-dentes de trabalho e violação de questões do meio ambiente de trabalho, por exemplo. Atua de duas formas: como órgão agente e interveniente. Na pri-meira, opera nas investigações das irregularidades, propondo Termo de Ajuste de Conduta (TAC) – documento pelo qual a empresa ou investigado se compromete a regularizar as irregularidades, caso não aceite esse termo proposto pelo MPT, que não é obrigado, é ajuizada uma ação civil pública pedindo ao judiciário que adote as provi-dencias que a lei determina ou que abstenha de práticas proibi-das. A outra forma, como órgão interveniente, trabalha como fiscal da lei, essa, antigamente, era a principal forma de atuação do MPT. Nesse tipo de atividade, atua através do parecer.

[D&J]: Quais foram as denúncias mais recebidas?[AO]: É muito comum denúncias de atraso salarial, verbas res-cisórias não pagas, FGTS não recolhido e há as relacionadas ao meio ambiente de trabalho, como: assédio moral, questões de contratação de pessoas com deficiência e trabalho infantil. Trabalhamos muito de forma proativa, antes mesmo que a de-núncia chegue, buscamos uma articulação com as entidades e os órgãos em defesa da criança e do adolescente na questão da prevenção. Desde 2008 temos uma atuação sistemática atra-vés do Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Peteca), que o MPT do Ceará instituiu. Trata-se de uma parce-ria com a Secretaria da Educação e é um projeto que hoje tem uma grande repercussão nacional, onde já foi desenvolvido em 17 estados, envolvendo mais de meio milhão de alunos. Além do trabalho de prevenção com

TRABALHO INFANTIL

Cai para 143 mil o número de casos de exploração de crianças

BETH DREHER

Antonio de Oliveira o procurador comemora uma redução de 50% no número, de 2009 a 2013

a educação, há também um esforço às áreas da assistência social, saúde, e no combate de recebimento de denúncias, temos buscados cada vez mais mudar os canais de denúncia para que a sociedade possa es-tar denunciando a exploração infantil.

[D&J]: Qual o índice de redução do trabalho infantil no Ceará? [AO]: Só no Ceará, o número de casos de exploração contra crianças e adolescentes caiu pela metade desde que o Peteca foi implementado. De 2009 a 2013, tivemos a redução de 50% do trabalho infantil, eram 293 mil e caiu para 146 mil. A gente conseguiu, nos últimos anos, reduzir o trabalho infantil mais no Nordeste que no Brasil, e mais no Ceará que no Nordeste.

[D&J]: O que é mais difícil combater, o trabalho escravo ou o infantil?[AO]: Eu diria que o trabalho in-fantil é mais difícil de combater porque está mais disseminado nos espaços, tem causas múlti-plas e a necessidade da constru-ção de politicas públicas volta-das às crianças e adolescentes, que ainda estão em quantidade suficiente e qualidade deficiente.

[D&J]: Isso está relacionando também ao aspecto cultural, de considerar normal o trabalho desde cedo, principalmente, para não estar inserido no mundo do crime?[AO]: Tem bastante isso. O com-ponente histórico-cultural pesa muito para a questão de permanência e dificuldade de enfrentamento ao trabalho infantil. Boa parte da sociedade não considera ainda o trabalho infantil como problema. Outra parte até considera como uma solução às crianças pobres para ajudar a família. Tínhamos uma sociedade adulta onde 50% trabalharam quando era criança e veem esse fenômeno com mais naturalidade. Mas temos reduzido essas barreiras culturais com o trabalho do Peteca trabalhando a educação e a conscientização.

[D&J]: Onde se concentra mais, na capital ou interior?[AO]: Está muito disseminado. Houve uma redução mais intensa no interior que na capital, porque as politicas públicas têm chegado com maior eficácia nos municípios médios e pequenos, que nas grandes metrópoles. Hoje, por exemplo, o número de equipamentos sociais de For-

taleza está muito aquém à necessidade do município. O número de conselhos tu-telares que temos aqui são 6, enquanto deveríamos ter 25, conforme a recomendação de que para 100 mil habitantes deveriam ter um conselho, e temos mais de 2,5 milhões. Os equipamentos sociais da capi-tal e de municípios maiores não cresceram na proporção em que cresceu a população e as demandas. Percebemos na cidade muitas vulnerabilida-des nos semáforos de avenidas como a Raul Barbosa. Precisa--se de uma intervenção mais forte do poder público, pois temos uma estrutura muito pequena. Deveríamos estar trabalhando mais de forma preventiva, mas nossos equi-pamentos não são suficientes nem para o combate.

[D&J]: Com que tipo de ações de preven-ção o MPT trabalha? [AO]: Temos o número de 146 mil, mas o número de crianças atendidas gira em torno de 30 mil, ou seja, temos quase 80% dessas que ainda não foram identificadas nem incluídas nos programas sociais. O foco é identificar essas crianças no

diagnóstico, depois trabalhar na busca ativa em ir até as famílias dessas crianças. Não temos como prevenir essa si-tuação sem trabalhar com as famílias que não conseguem perceber que a criança tem uma probabilidade de evasão escolar três vezes maior. E outro indicador que nos trou-xe a estratégia de trabalhar a educação, é o fato de que mais de 90% das crianças que traba-lham estão na escola, portanto, tem uma convivência diária com os educadores. Em mui-tos casos, a escola está mais presente que as famílias. Sendo os educadores aqueles a única esperança de um resgate da si-tuação de violação de direitos, como a violência doméstica, esses atores de direitos huma-nos estão sendo convocados dentro da estratégia do Peteca para serem um agente de pre-venção na exploração infantil.

[D&J]: Como é o acompanhamento da criança quando é realizada uma denuncia de trabalho infantil?[AO]: A denúncia chega através do nosso site, onde o cidadão diz a cidade onde está aconte-cendo, qual o problema, quan-tas crianças envolvidas e quem é o explorador, de forma sigilosa. Após isso é gerado um processo distribuído aos procuradores, e quem recebe vai analisar a situação e decidir o melhor ca-minho para investigação. Pode solicitar fiscalização do MTE se for uma empresa, do conse-lho tutelar se a coisa se dá em âmbito familiar, pode acionar o serviço social do município ou identificar que o caso é de vul-nerabilidade mandar um ente público para que adote provi-dências no sentido de prevenir aquela situação e que o sistema social (Cras e Creas) possa fazer o acompanhamento da família e verificar se já está incluída em programas sociais, chamado serviços de convivências e for-talecimentos de vínculos.

[D&J]: Mas as condições ainda sãoalarmantes?[AO]: São. Só não estão melho-res porque as ações não estão sendo feitas na intensidade que já tiveram. Os dados só começaram a aparecer quando deu início as ações do Grupo Especial de Fiscalização Mó-vel, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), porque ate então, o trabalho escravo era como algo do século passado, antes da Lei Aurea, com chi-cotes e correntes. O conceito de trabalho escravo no Brasil foi construído recentemente, em 2002 participei de uma reunião no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em que estava sendo discutido as estratégias de incluir o trabalho escra-vo reconhecido como uma violação. Até então, contava cerca de 25 mil trabalhadores condicionados escravos no País. O Grupo Móvel vai a determinadas regiões onde é constatado o trabalho escravo e uma vez constatada faz o resgate, e esse passa a ser os dados que alimenta as nossas estatísticas. Acreditamos que é muito pouco comparado com o que fato existe porque nem todos os casos foram denun-ciados ou resgatados, só entra nas estatísticas os casos que foram resgatados.

[D&J]: Ainda é mais comum no meio rural? [AO]: É mais comum no meio rural, mas há uma incidência já muito forte no meio urba-

[D&J]: O assédio moral é uma preocupação também?. [AO]: Ele é ainda pior que o acidente de trabalho, porque atinge o psicoló-gico. É uma ferida que não está exposta como a do acidente físico, pra muita gente só quem está sofrendo sabe, e muitas vezes tem receio de reagir com medo de algo pior ou de se expor. Tem muito a ver com a dignidade da pessoa. Muita gente acaba denunciando com receio, a prova é difícil porque aca-ba ficando sem testemu-nha. É uma questão extre-mamente sensível. Ela se manifesta em uma relação de poder, mas tem a ver com o caráter das pessoas que já tem um histórico na sua formação humana.

[D&J]: O que dificulta o combate ao trabalho escravo? [AO]: Um dos fatores que prejudica é o contingen-ciamento do orçamento. Quando o governo reduz a fiscalização para não pagar diárias aos auditores que vão fiscalizar, isso impacta.

[D&J]: No combate ao trabalho escravo, também houve redução? [AO]: Não temos indicadores para dizer se houve redução. Temos dados qualitativos, que são aqueles das ações de intervenções.

Assédio moralnas empresasé preocupação

Trabalhamos muito de forma

proativa, antes mesmo que a denúncia chegue, buscamos uma articulação com as entidades e os órgãos em defesa da criança e do adolescente.

De 2009 a 2013, tivemos a

redução de 50% do trabalho infantil, eram 293 mil e caiu para 146 mil. A gente conseguiu,nos últimos anos, reduzir o trabalho infantil.

Acreditamos que é muito pouco

comparado com o que fato existe porque nem todos os casos foram denunciados ou resgatados, só entra nas estatísticas os casos que foram resgatados.

no, como em São Paulo, por exemplo, envolvendo estran-geiros bolivianos. O conceito moderno de trabalho escravo no Brasil, hoje, envolve situ-ações chamadas de trabalho degradante, escravidão por divida ou difícil acesso e saída do trabalhador. Ano passado foram verificados 68 casos, no Ceará, principalmente na questão do corte da carnaúba em regiões da Caucaia e Aca-raú, é o contexto em que o trabalhador encontra-se que vai caracterizar ou não o tra-balho escravo. Existem muitos casos por ai, mas muita gente acha normal o trabalho em condições precárias. O próprio trabalhador que sempre viveu daquela forma acha normal, não considera o trabalho es-cravo, por isso não denuncia.

[D&J]: Quanto a fiscalização em acidentes de trabalho. Ainda vemos um número muito grande em decorrência da falta de cuidados e até negligências. Como está o trabalho do MPT nessa questão? [AO]: Temos a Coordenado-ria Nacional de Combate de Defesa do Meio Ambiente de Trabalho, que trabalha de forma a aumentar as campa-nhas de conscientização. É um conjunto de causa: falta de cuidados de prevenção, falta do uso de EPI’s e falta de capacitação dos trabalhadores. As estatísticas são ainda muito alarmantes, a construção civil é um segmento de bastante preocupação, mas dados mos-tram uma preocupação muito grande com os frigoríficos e setor hospitalar.

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 4

Rui Barbosa de Oliveira, político e jurisconsulto, nasceu em Salvador-BA em 5 de novembro de

1849. Bacharelou-se em 1870 pela Faculdade de Direito de São Paulo. No início da car-reira, na Bahia, engajou-se numa campanha em defesa de eleições diretas e da abolição da escravatura. Seu nome passou a ser conhecido em todo o País graças à tradução que fez de o papa e o concílio (1877), de Johan Joseph von Döllinger. Para a edição bra-sileira desse libelo contra o Vaticano, Rui preparou uma longa introdução, com uma crítica vigorosa a D. Pedro II por sua atitude em relação à chamada Questão Religiosa.

Entrou para a política com o apoio de Manuel Pinto de Sousa Dantas, chefe da ala progressista baiana do Partido Liberal. Em 1878, foi deputado provincial na Bahia e, no mes-mo ano elegeu-se deputado geral. Destacou-se na elabora-ção da reforma eleitoral (1881) e por seus pareceres sobre a reforma do ensino (1882-1883)

e a emanci-pação dos escravos (1884).

C o m a Pro-c la ma-ç ão d a repúbli-c a , e m 18 89, fo i chamado a ocupar a pasta da Fazenda do go-verno provisório.

A participação de Rui Bar-bosa foi fundamental na ela-boração da constituição bra-sileira de 1891. Coube a ele revisar os projetos constitu-cionais da comissão presidida por Joaquim Saldanha Mari-nho, patriarca da propaganda republicana: seu substitutivo, encaminhado ao Congresso Constituinte, rompeu de vez com a tradição parlamenta-rista, herança do império, e consagrou o regime presiden-cialista nos moldes do sistema adotado nos Estados Unidos.

Nomeado pelo presidente Afonso Pena chefe da delega-

Rui Barbosa - 1849 | 1923+POLÍTICO E JURISTA

Já faz mais de um ano em que, clima de co-memoração, a PEC das Domésticas foi aprova-

da. No entanto, muitos dos direitos reconhecidos ainda não foram regulamentados. Um deles refere-se ao auxílio--creche, e a questão é: Como o patrão irá arcar com mais essa despesa?

A assistência financeira em creches ou pré-escolas aos filhos de empregadas domés-ticas de até cinco anos de ida-de está prevista na Proposta de Emenda à Constituição 72/2013, que segue sem re-gulamentação, assim como outros pontos, entre eles o pagamento do FGTS. O advo-gado Carlos Chagas, especia-lista em direito do trabalho, afirma que a tendência é que o direito ao auxílio-creche receba uma regulamenta-ção diferenciada dos demais empregados. Conforme ele explica, a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) prevê que, somente, empresas que tenham mais de 30 emprega-dos são obrigadas a assegurar o benefício da creche. “Pela legislação, as empresas com menos de 30 empregados não estariam sequer obrigados a assegurar o direito à creche. Empresas que têm menos que esse número o fazem por pura mera labilidade ou em função de acordos coletivos”, afirma Chagas.

Sobre a previsão de que os patrões devem arcar com mais esse ônus, o advogado analisa tal ponto à ser regu-lamentado como um grande problema nas mãos dos parla-mentares. “Para as domésticas deve ter uma característica di-ferenciada, porque para você encontrar um núcleo familiar com 30 empregados não existe isso, portanto, tende a essa diferenciação. Agora como vai ser é a grande questão. Quem vai pagar essa conta: o governo? Vai ser como um benefício previdenciário? São questões que só sabere-

mos com a regulamentação”, questiona.

De acordo com o advogado, atualmente, as empresas que são obrigadas a seguir regra da CLT, quando não dispõem de um espaço apropriado à amamentação ou para manter os filhos assistidos dentro do próprio estabelecimento, pro-piciam o pagamento de creches através de acordos ou conven-ções coletivas instituídas pelos sindicatos ou outras categorias que abrangem os empregados.

POUCA COISA Na avaliação do especia-

lista, a aprovação da PEC foi um momento de grande festa para pouca coisa real-mente mudada. “Alteraram a Constituição Federal e agora quando vão fazer a regula-mentação dessa alteração é onde realmente vão se depa-rar com uma questão social. A PEC por si só gerou um de-semprego considerado e fez surgir a terceirização do tra-balho doméstico exatamente para ocupar esse vácuo que gerou pela desinformação das pessoas”, observa Chagas que enfatiza que o ponto mais crítico o qual considera é, sobretudo, quando afeta os cuidadores de idosos. “Mui-tas pessoas estão adotando a escala de hospital dentro de casa e isso não tem respaldo na legislação”, afirma ele, so-bre a questão do pagamento de hora extra e a previsão de adicional noturno com pa-gamento superior ao diurno.

REGULAMENTADOAinda falta ser regulamen-

tado: seguro-desemprego; FGTS; sa lário família ao dependente do trabalhador baixa renda; remuneração noturna superior; seguro em casos de acidentes de tra-balho; auxílio-creche e pro-teção contra demissão sem justa causa. A expectativa é de que a PEC retorne à pauta do Congresso este semestre, mas ainda sem previsão.

Parlamentares com dificuldades em regulamentar auxílio-creche

PEC DA DOMÉSTICA

Carlos Chagas aposta que o benefício deve ser regulamentado de forma distinta ao que é assegurado aos demais empregados

ção brasileira, Rui Barbo-sa teve no-t áve l d e -sempenho durante a Conferên-cia de Paz

de Haia, nos Países Bai-

xos, em 1907, defendendo a

tese brasileira da igualdade entre as na-

ções, que não contava com a simpatia das grandes potên-cias. Na Faculdade de Direito de Buenos Aires, pronunciou discurso que se tornaria cé-lebre, definindo o conceito jurídico de neutralidade.

A extensa bibliografia de Rui Barbosa, recolhida em mais de cem volumes, reúne artigos, discursos e as polê-micas de que participou ao longo de sua carreira política. Nesse conjunto merecem destaque os artigos que es-creveu para o Diário de No-tícias, reunidos mais tarde no volume A queda do império (1889), além das Cartas de

Inglaterra (1894-1895). A derrota de Rui Barbosa para Hermes da Fonseca e os ecos da Campanha Civilista fica-ram registrados num alen-tado volume de memórias apresentado ao Congresso Nacional: 212 páginas de tex-to e mais 852 de documentos, numa denúncia vigorosa dos vícios e fraudes do sistema eleitoral da época.

Sócio-fundador da Acade-mia Brasileira de Letras, Rui sucedeu a Machado de Assis na presidência da casa. Reu-niu uma das maiores biblio-tecas do país, com cerca de cinqüenta mil volumes. Sua residência no Rio de Janeiro, comprada pelo governo, foi transformada na Fundação Casa de Rui Barbosa, en-carregada de pesquisas e da publicação de suas obras completas.

Rui Barbosa faleceu a 1º de março de 1923 em Petrópolis RJ. Em 1949, seu corpo foi trasladado para a cripta do palácio da Justiça da Bahia, denominado Fórum Rui Barbosa.

GRANDES NOMES DO DIREITO

A Comissão de Direi-tos Humanos e Legislação Participativa pode aprovar mais uma possibilidade de saque na conta do FGTS. Projeto do senador José Medeiros (PPS-MT) permite a movimentação do fundo pelo trabalhador que precisar fazer adaptações de acessi-bilidade em imóvel próprio (PLS 11/2015). A proposta admite a realização de obras ou reformas de acessibilida-de no imóvel próprio caso o trabalhador, ou algum de

seus dependentes, seja porta-dor de necessidade especial. Os detalhes para concessão do benefício deverão ser estabelecidos em regulamen-tação do conselho curador do FGTS. “A liberação do FGTS neste caso beneficiará sobre-maneira os mais humildes, que poderão instalar em suas residências portas maiores, banheiros maiores com as necessárias adaptações, ram-pas, elevadores, quartos com barras de sustentação, entre outros”, comentou Medeiros.

Projeto propõe uso de biometria facial emTransporte Público de Fortaleza

Os desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regio-nal do Trabalho do Ceará negaram o pedido de danos morais de um motorista da Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (SAEEC) que alegou desvio de funções, perseguição e humilhação em serviço. O empregado ingressou com reclamação trabalhista in-formando ter sofrido assédio moral após ter sido subme-tido a ações disciplinares impostas pela empresa. O valor reivindicado era de R$ 50 mil reais. Testemunhas

declararam não haver perse-guição ao trabalhador e sim punição após envolvimento em conflito com colegas de trabalho e uso de linguagem inapropriada no ambiente de trabalho. Sobre a alegação de perseguição e humilhação, as testemunhas afirmaram que o motorista participa-va normalmente da escala e recebeu o uniforme da empresa com atraso devido a um problema na remune-ração. Os desembargadores da 3ª Turma do TRT/CE decidiram negar o recurso por unanimidade.

Na última segunda-feira, 23, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) apresentou projeto de lei que facilita a importação de medicamentos produzi-dos fora do Brasil. Segundo justificativa do parlamentar, a proposta é permitir que os fár-macos sejam comprados por importadoras registradas na Comunidade Europeia do Es-tado mesmo que os fármacos não sejam regulamentados. “É verdade que as normas permitem a importação, independentemente de auto-rização, por pessoas físicas e serviços de saúde, de uma lista

de medicamentos elaborada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AN-VISA), desde que em caráter excepcional e em pequenas quantidades. No entanto, essa via tem se mostrado insufi-ciente frente ao crescimento da demanda”, defende. Dias afirma, contudo, que as dificuldades burocráticas em importar medicamentos que faltam no mercado nacional são responsáveis pelos pro-blemas de saúde de muitos brasileiros.

Fonte: Agência Câmara

O vereador Joaquim Rocha (PV), por meio do projeto de indicação de nº 3/2015, sugere o uso do sistema de biometria facial nos transportes públi-cos de Fortaleza. O objetivo é evitar o uso indevido ou fraudulento de carteira de estudantes ou de cartão de gratuidade. Segundo o docu-mento, o sistema consistirá na instalação de uma câmera que registra o rosto da pessoa que passa na catraca com a

carteira de estudante ou de gratuidade. A foto então é enviada para uma central de monitoramento que identifica se a carteira pertence ou não à pessoa que está usando. Caso não pertença, o docu-mento é bloqueado. Segundo o projeto, quem for flagrado utilizando irregularmente o cartão será também denun-ciado à polícia por falsidade ideológica. O dono do cartão não perderá o benefício.

Proposta permite divulgação de pesquisa só até 15 dias antes da eleição

A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 2/15, que proíbe a publicação de pesquisas eleitorais nas duas semanas anteriores ao dia da eleição. O autor da proposta, deputado Ricardo Barros (PP-PR), entende que essas pesquisas podem influenciar o voto do eleitor e acabam prejudicando políticos e partidos, que às vésperas do pleito não conseguem verificar os dados e métodos utilizados nas pesquisas. Na opinião de Ricardo Barros, o eleitor não

pode receber informações tão desconexas da realida-de por meio de veículos de comunicação de alto poder de propagação, pois isso acaba interferindo diretamente não só no resultado, mas também no desenvolvimento da demo-cracia. A intenção da proposta não é proibir a realização das pesquisas, mas sim impedir a publicação pelos meios de comunicação sem que haja tempo hábil para a verificação dos dados, métodos e possíveis erros ocorridos na apuração.

Projeto para facilitar importação de remédios é anunciado no Senado

Proposta libera FGTS para obras deacessibilidade em imóvel do trabalhador

3ª Turma do TRT/CE nega danos morais a motorista que discutiu em serviço

FOTO DIREITOCE.COM.BR

Pela legislação, as empresas com menos de 30 empregados não estariam sequer

obrigados a assegurar o direito à creche. Empresas que têm menos que esse número o fazem por pura mera labilidade.

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 5

Um novo comportamento, em ações que envol-vam negativas do plano de saúde, tem ganhado

força no Judiciário brasilei-ro. Além das operadoras se-rem obrigadas a cumprir o tratamento solicitado pelos médicos, pode caber, ainda, indenização ao consumidor por danos morais ao procedi-mento negado que estiver den-tro do contrato de cobertura.

Recentemente, em dezem-bro do ano passado, o Tribu-nal de Justiça de São Paulo entendeu que o paciente diag-nosticado com Deslocamento do Epitélio Pigmentar (EPR), no olho esquerdo, teria direito ao custeamento e autorização do tratamento, bem como ser reparado por danos morais e materiais. De acordo com os autos, a operadora havia lhe negado cobertura, tendo ele próprio que custear a cor-reção ocular ou ficaria cego devido à rápida evolução do caso clínico. A apelação foi julgada procedente e o plano foi condenado ao pagamento indenizatório no valor de R$ 10.000,00 pelos danos morais, e cerca de R$ 22 mil por danos materiais.

Segundo o especialista em direito do consumidor, Vi-nícius Zwarg, essa é uma tendência que vem ganhando respaldo no judiciário. Po-rém, conforme ele frisa, vale apenas às negativas em que for comprovada cobertura da doença. “Há muito tempo que o Judiciário entende que a relação do médico com o paciente é soberana e que o

plano de saúde não tem o direito de intervir na reco-mendação do profissional de saúde. Agora, além do custeio do tratamento, os pacientes também estão conseguindo indenizações pelos danos mo-rais sofridos com a negativa”, afirma Zwarg.

Contudo, o especialista ex-plica que cada caso deve ser analisado individualmente. Para que se caracterize o dano moral, deve-se considerar a dor e aflição que o consumi-dor passou, visto a urgência e necessidade do tratamento. “O que nós, operadores do direito, percebemos é que há

um aumento muito grande de negativas”, analisa. De acordo com ele, as negativas tendem a prejudicar ainda mais os idosos, que na maioria das vezes, precisam fazer uso de calmantes e pedir emprésti-mos, causando transtorno em toda família.

O QUE FAZER?A orientação do advogado é

a de que, ao ter procedimento barrado, o usuário deve soli-citar ao plano de saúde, uma justificativa por escrito, a qual deverá ser entregue em até 48 horas. Ainda segundo aconse-lha, é importante buscar ajuda

junto a um advogado para analisar se a negativa é válida no contrato. O paciente deve tentar resolver primeiramente via administração da empresa ou junto aos órgãos de defesa do consumidor, não sendo resolvido, pode ingressar com ação judicial pleiteando tanto o cumprimento dos procedi-mentos, como indenização material, se comprovar gastos, e agora, danos morais confor-me aflição e constrangimento sofrido. “Uma orientação ao mercado e aos consumidores é que se o plano cobre a doença, o entendimento do judiciário é de que não pode haver limi-tação de como vai ser tratada aquilo. Se o médico determi-nar que tem que ser feito uma cirurgia ou um procedimento especifico, o plano não pode negar. O plano não é obrigado a cobrir todo tipo de doença, na maioria das vezes, deveria cobrir, mas não cobre. Porém, às vezes, o que acontece é que o plano quer escolher o que lhe é conveniente, mas o judiciário tem privilegiado a indicação do médico”, aponta o especialista.

CRESCE NÚMERO No Brasil, cada vez mais

cresce a procura de adesão aos planos de saúde por ci-dadãos que buscam no con-vênio, um melhor e mais rápido atendimento médico. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), em 2014, somou-se em torno de 50, 3 milhões de brasileiros beneficiários de planos para assistência médica.

Já entrou no costume de milhares de brasileiros comprar pela internet, que cada vez mais são

seduzidos pelos sites inter-nacionais devido a oportu-nidade em adquirir mais mercadorias por um menor preço, como AliExpress, da China, por exemplo. Porém, poucos sabem sobre os va-lores e impostos cobrados durante a importação.

Segundo o especialista em direito tributário, Rafael Sal-danha, a tentativa da tributa-ção é proteger a concorrência da compra internacional. “Já houve experiência no Brasil em que a tributação já foi mais maleável e a indústria nacio-nal não se deu bem”, lembra.

Ainda de acordo com o advogado, apenas medica-mentos, impressos, livros e periódicos são isentos de im-postos. Outras mercadorias só não são tributadas se o valor não ultrapassar 50 dólares. Rafael, no entanto, garante que a informação de que a isenção em compras deveria ser a partir de U$$ 100 não procede. “A partir de 50 dó-lares tem que pagar 60% do valor do bem mais os valores referentes a transportes, caso não esteja incluso dentro do preço da mercadoria”, afirma.

REGRAS DA RFAs regras para importação

de bens via remessa de com-pras realizadas pela internet,

assim como remessa postal ou encomenda aérea inter-nacional são estipuladas pela Receita Federal. Aplica-se ainda, o Regime de Tributa-ção Simplificada (RTS) para presentes recebidos do ex-terior. Os valores dos bens a serem importados devem ser de, no máximo, U$$ 3.000,00. Como o advogado explicou, a tributação equivale a 60% do valor que consta na fatura comercial; em casos de re-cebimentos de presentes que chegam do exterior, o preço também tem que ser decla-

rado e é tributada a mesma percentagem.

DO PAGAMENTONa retirada dos produtos

de até U$$ 500.00, quando via Correios, o imposto deve ser pago no mesmo momento. Mas se o valor for superior a essa quantia, o destinatário deve apresentar Declaração Simplificada de Importação (DSI). Quando utilizado o serviço porta a porta, cha-mado courier, o pagamento do imposto é realizado pela empresa do transporte in-

ternacional. Todas as regras têm como base legal, o De-creto 6.759/09, a Instrução Normativa SRF No 096/1999 e a Portaria 156/99 do Minis-tério da Fazenda. Conforme Rafael Saldanha, os tributos cobrados são: o IPI, ICMS e Cofins, segundo ele, existe entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de que o bem industrial impor-tado para quem não é indus-trial não deveria ser cobrado o IPI, mesmo assim a Receita Federal cobra.

“Muitas vezes a indústria nacional não tem condições de concorrer com empresas estrangeiras e essa proteção [elevar impostos] acaba não sendo favorável ao consu-midor que sempre procura o que é melhor e mais barato independente de onde é pro-duzido. A indústria nacional tem buscar uma maior pro-dutividade, é difícil, o custo no Brasil é alto, mas essa tributação é muito elevada exatamente para tentar equi-valer o preço de fora com o preço de dentro”, destaca o especialista.

ATENÇÃO VIAJANTESConforme o advogado,

quem viaja ao exterior para fazer compras também deve estar atento. O conselho é manter tanto as notas fiscais dos bens levados na mala, como os adquiridos durante a viagem.

CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 Bairro de Fátima (85) 3272.3412 www.caace.org.br. Notícias para coluna [email protected]

Encontro define metas para a advocacia

Para continuar avançando na realização de melhorias aos advogados, associados e dependentes, a Caixa de Assistência dos Advogados do Ceará – CAACE pro-moveu no dia 30 de janeiro, na cidade de Tianguá, o IX Colégio de Delegados, onde foram estabelecidas metas para todo o ano de 2015.

Além disso, merece destaque a exposição do relatório de atividades 2014 da CAACE, destacando o número de atendimentos aos associados na capital e subseções; bem como a

definição da implantação dos serviços de fisioterapia e odontologia em todas as subseções.

Em seguida, os delegados da CAACE trataram sobre a realização do primeiro Campeonato de Fut7 do Ceará, que com aceitação de todos, será realizado nos dias 7 e 8 de agosto, na cidade de Iguatu, em home-nagem ao mês do advoga-do. Não por menos, ficou definido que o X Colégio de Delegados da CAACE será em maio, na subseção de Inhamuns, em Tauá.

Negativas de plano de saúde pode gerar indenização por danos

TENDÊNCIA

Vinicius Zuarg “Se a operadora realiza a cobertura da doença, deve realizar o tratamento conforme a determinação médica”

Rafael Saldanha “Compras a partir de 50 dólares têm que pagar 60% do valor do bem mais os valores referentes aos transportes”

Valorização da advocacia

Auditório fica lotado para curso de PJe

Com o intuito de facilitar e promover o exercício da advocacia em todo o esta-do, o presidente da CAA-CE, Júlio Ponte, esteve, nos meses de janeiro e feverei-ro, nas cidades de Juazeiro do Norte, Crato, Tianguá e Crateús, conhecendo as constantes dificuldades vi-venciadas pelos advogados das regiões e discutindo formas de viabilização des-ses problemas. Além disso, aproveitou para explanar sobre os relevantes serviços oferecidos pela OAB-CE, CAACE e ESA aos advo-gados e associados, bem como para realizar a entre-

ga de equipamentos adqui-ridos através do recurso do Fida (Fundo de Integração e Desenvolvimentos As-sistencial dos Advogados), tais como computadores, condicionadores de ar, impressoras, scanners e leitoras de cartão.

“Estamos fazendo a nossa parte, trabalhando com dedicação para fortalecer, estruturar e capacitar a advocacia. Através de aten-dimento próprio ou rede conveniada, o advogado tem na CAACE a certeza de sempre contar com o melhor para sua qualidade de vida”, ressaltou.

A CAACE promoveu o curso de PJe – Processo Judicial Eletrônico para 92 advogados e advogadas da Serra da Ibiapaba. O curso, ministrado pelo professor Guilherme Eliano, aconte-ceu no auditório da Câmara Municipal de São Benedito e ficou com capacidade

máxima de alunos. Todos os participantes recebe-ram brindes da Qualicorp, revistas da CAACE, certifi-cado de conclusão de curso da ESA – Escola Superior da Advocacia, desconto na anuidade da OAB-CE em 2016 e, ainda, concorreram ao sorteio de dois celulares.

COMPRAS INTERNACIONAIS

Especialista alerta sobre osimpostos cobrados em sites

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FOTO BETH DREHER

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 6

DIREITO E LITERATURA

Adoção para homossexuais

Desembargadores Gladyson Pontes, Raimundo Nonato Silva Santos e Paulo Ponte

Desembargadores Adelineide Viana e Paulo Albuquerque Luciano Lima e Hé lio Parente

José Valdo Silva e Marta PeixeWaleska Rolim e Paulo ValeEliane Nobre e José Maria Sales

Novo diretor do Fó rum Cló vis Bevilá qua juiz José Maria Sales

Antô nio Alves de Araú jo e Luiz Fernando de Castro

Desembargadoras Iracema do Vale e Edna Martins

Luciano Furtado e Durval Ayres Filho

Jardson Cruz e Valdetá rio Monteiro Desembargador Haroldo Má ximo Desembargador Lincoln Araú jo

Desembargadores Carlos Alberto Forte, Hé lio Parente e Teodoro Silva Santos

Mesa de Honra

O autor mais uma vez traz a lume tema extremamente controvertido. Não havia até agora no mercado nenhuma obra que tratasse especi� camente da adoção em

favor de homossexuais, embora sejam tantos os livros sobre colocação em família substituta (adoção, em particular) e obras diversas abordando a questão da homossexualidade e da discriminação contra homossexuais.

AUTOR: Luiz Carlos de Barros Figueiredo EDITORA: JuruáPÁGINAS: 216PREÇO: R$ 64,70

Lei das Armas de Fogo

Trata-se da mais completa obra publicada sobre o tema em nosso País na atualidade. Constitui-se, portanto, em indispensável instrumento de

consulta a advogados, magistrados, membros do Ministério Público, delegados, autoridades policiais civis e militares, defensores públicos e pesquisadores da ciência jurídica em geral. Valiosa fonte de orientação e informação para órgãos da administração pública, prefeituras, empresas de segurança privada e de transporte de valores, colecionadores, atiradores, caçadores, clubes e federações de tiro registrados no Comando do Exército.

AUTOR: Ângelo Fernando FacciolliEDITORA: JuruáPÁGINAS: 677PREÇO: R$ 189,90

DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

FOTOS IRATUÃ FREITAS

Posse do novo diretor do FórumEm solenidade presidida pela desembargadora Iracema do Vale, presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, o

juiz de Direito José Maria Sales foi empossado como diretor do Fórum Clóvis Beviláqua.

Page 7: Direito e Justiça - Edição 22455 - 26 de fevereiro de 2015

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 7

A ausência de amor e com-panheirismo pelos pais pode, sim, gerar aos fi-lhos o direito de pleitear

ação indenizatória por danos morais. Já existe jurisprudên-cia nacional favorável ao tema, no entanto, o que a advogada especialista em Direito de Fa-mília, Roberta Vasques, afirma é que tal decisão não pode ser generalizada.

No ano passado, um caso voltou a levantar polêmica sobre o assunto. Uma mulher ingressou com ação judicial, no Tribunal de Justiça de São Paulo, em 2005, requerendo indenização por danos morais e materiais do pai, alegando abandono afetivo e material durante sua infância e ado-lescência. O pedido havia sido julgado improcedente e em 2008, ao rever a apelação, foi fixada indenização de R$ 415 mil. O caso foi levado pelo pai ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que decidiu manter condenação do TJ, diminuindo o valor para R$ 200 mil. Novamente o réu re-correu, mas em abril de 2014, a filha ganhou o direito de ser reparada moralmente.

De acordo com Roberta Vasques, o entendimento não pode ser válido a todos para que não se desvirtue da natureza familiar. “Antes dessa decisão, a maioria das correntes era de que não ca-beria, depois dessa decisão foi um marco no direito de família, porque realmente responsabilizou o abandono”, aponta. Ressaltando que cabe ao magistrado analisar a pe-culiaridade de cada caso. Ela afirma que a responsabilidade civil em decorrência da omis-são é possível sim.

DANOSO dano moral é caracteri-

zado quando uma pessoa é afetada psicologicamente ou moralmente, em situações que causem constrangimento, dor e aflições, seja por uma ofensa à honra ou intimida-de exposta. A advogada cita que nos artigos 227 e 229 da Constituição Federal, é dever dos pais assistir, criar e educar os filhos menores, e aos filhos maiores, o dever também de ajudar e amparar os pais na velhice. Segundo ela, esse dis-positivo constitucional tem uma forte conotação moral que não pode ser fragilizado. “Como um pai que gera a criança vai se omitir de pra-ticar todo esse cuidado? Essa conduta, segundo o grande entendimento, é reprovada, e a omissão fere a ética e o direito”, frisa Roberta.

Ainda de acordo com a especialista, o cuidado é um valor jurídico, e a omissão de quem deve cuidar, atinge esse bem tutelado que é o dever de criação, portanto pode gerar essa possibilidade de indeni-zação por danos morais. “A ministra Nancy Andrighi, na

decisão [de 2012, analisada pela primeira vez pelo STJ], diz que não se discute o amar, por ser uma faculdade, mas a imposição biológica con-dicional de cuidar, que é um dever jurídico”, disse. “Cabe ao pai, mas a mãe também, o cuidado, que é um valor jurídico objetivo. Então, a omissão do pai ou da mãe desse dever de cuidar dos seus filhos, atinge um bem juridicamente protegido, que é o dever de criação, educa-ção e companhia”, completa Roberta Vasques.

DECISÕESConforme a advogada, no

judiciário é possível encon-trar decisões em ambas as correntes, a favor e contra. No entanto, segundo ela, o que vem ocorrendo é que tem crescido o reconhecimento de que deve existir a respon-sabilidade civil pelo aban-dono afetivo. “Sou contra generalizar que todo caso de abandono tem que indenizar, tem que analisar a peculiari-dade de cada caso, filtrando para que não se desvirtue da natureza familiar”, afirma.

Roberta Vasques afirma que a omissão de quem deve cuidar, atinge o bem tutelado, que é o dever de criação

Renato Torres explica que somente entidades e órgãos públicos poderão compartilhar dados dos cidadãos

Os brasileiros que não abrem mão da prati-cidade da internet na hora de realizar com-

pras, acessar conta bancária ou utilizar demais serviços, poderão ficar mais tranqui-los. O governo federal, atra-vés do Ministério da Justiça, iniciou no final de janeiro um debate colaborativo com a sociedade para elaboração de um anteprojeto que visa a proteger o uso de dados pessoais na web e abre su-gestões à regulamentação do marco civil.

Os dois projetos estão dis-poníveis em plataforma on-line, nos links http://partici-pacao.mj.gov.br/marcocivil/ e http://participacao.mj.gov.br/dadospessoais/. O cidadão

além, de poder participar do debate, sugerindo propostas, encontra informações sobre o que significa e qual o objetivo de cada lei. De acordo com o especialista Renato Torres,

DADOS NA INTERNET

Governo quer sugestões da sociedade para criar projeto de proteção de uso de dados pessoais

CUIDADOS ESSENCIAIS O ESPECIALISTA ATENTA QUE “O USUÁRIO TEM QUE LEVAR PARA A VIDA VIRTUAL OS MESMOS CUIDADOS DA VIDA REAL”, E DÁ ALGUMAS DICAS DE COMO PROTEGER:

NÃO SAIR COLOCANDO: CPF,RG, endereço ou dados de bancos em qualquer site, mesmo que o domínio seja .br ou .net; NÃO COMPARTILHAR: informações pessoais em redes sociais ou chat devido estar sujeito ao rastreamento sem saber; UTILIZAR: um bom antivírus;. ANTES DE INSERIR: qualquer dado, pesquisar se o site realmente existe, e se há procedência, contato ou endereço físico.

RESPONSABILIDADE CIVIL

Abandono afetivo dos pais possibilita aos filhos indenização de danos morais

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AGÊNCIA BRASILDIVULGAÇÃO

Antes dessa decisão, a

maioria das correntes era de que não caberia, depois dessa decisão foi um marco no direito de família, porque realmente responsabilizou o abandono.

Hoje, o marco civil fala que se a

empresa disponibilizar seus dados para terceiros, nos termos de adesão tem que estar expresso que suas informações poderão ser disponibilizadas e você aceitar ou não.

Atualmente, o cidadão que tem

os dados violados podem procurar o Procon ou a Justiça para que alguma providência seja tomada. Isso acontece ao monte com os bancos.

presidente da Comissão de Direito da Tecnologia da Informação da OAB-CE, essa é a primeira vez em que o governo abre consulta pública com a sociedade na elaboração de um projeto, “o usuário já se sente mais interagido e vale conferir os portais, porque lá as pessoas vão comentando cada arti-go”, argumenta Torres.

De acordo com o presidente da Comissão, o anteprojeto define quem pode ter acesso, guardar ou transferir os da-dos pessoais. Segundo ele, o projeto explica que, somente, as entidades e órgãos públicos poderão compartilhar os da-dos dos cidadãos, e se alguma entidade privada precisar utilizar deverá solicitar auto-

rização do governo. Torres destaca como im-

portante a transferência in-ternacional de dados. “Às vezes entramos em um site internacional, que não tem filial no Brasil, e não temos uma política em relação a isso, e no anteprojeto isso é abordado”, aponta. A ideia é que, quanto a esse tema, os usuários proponham quais devem ser as condições para que os dados dos brasileiros possam ser transferidos a ou-tras jurisdições, tendo como base a velocidade em que as informações atravessam fronteiras e submetem-se a diversas legislações.

ENTENDA O PROJETO

O texto propõe que dado

pessoal pode ser definido como qualquer informação associada a uma pessoa e que cada ser tenha poder sobre seus próprios dados. O portal informa que a lei “tem por objetivo garantir e proteger,

no âmbito do tratamento de dados pessoais, a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa, particularmente em relação à sua liberdade, igualdade e privacidade pes-soal e familiar, nos termos do art. 5º, incisos X e XII da Constituição Federal”.

Para elaboração desta lei, os internautas podem opinar sobre 13 artigos: escopo e aplicação; dados, pessoais, dados anônimos e dados sensíveis; princípios; con-sentimento; término do tra-tamento; direitos do titular; comunicação, interconexão e uso compartilhado de dados; transferência internacional de dados; responsabilidade dos agentes; segurança e sigilo de dados pessoais; boas práticas; como assegurar os direitos, garantias e deveres e disposi-ções transitórias.

A consulta sugere que os usuários proponham um mo-delo sancionatório dinâmico, veloz e adequado às inovações tecnológicas. Assim como

incentiva propostas que for-mulem regras de boas práticas aos responsáveis pelos dados. Uma das sugestões, do inter-nauta Alexandre Arantes, é que seja criado um modelo padrão de política de priva-cidade, contendo itens obri-gatórios, “atualmente cada empresa escreve sua política e atualiza conforme seus in-teresses”, adverte Alexandre.

“Atualmente, o cidadão que tem os dados violados podem procurar o Procon ou a Justiça para que alguma providência seja tomada. Isso acontece ao monte com os bancos, que é quem tem todos seus dados e são proibidos por determina-ção do Banco Central a forne-cer os dados para terceiros”, orienta Renato Torres, que afirma que em caso de recebi-mento de uma correspondên-cia em casa tendo certeza de que nunca se cadastrou em tal estabelecimento ou nunca so-licitou aquele tipo de serviço, é uma forma de violação de seus dados. “Hoje, o marco civil fala que se a empresa disponibilizar seus dados para terceiros, nos termos de adesão tem que estar ex-presso que suas informações poderão ser disponibilizadas e você aceitar ou não”, afir-ma o especialista.

SAIBA MAISA consulta pública para os

dois temas ficam abertas até o dia 28 deste mês, podendo ser prorrogado por mais tempo, ainda não definido. Após coletada as sugestões, será consolidado um texto em forma de projeto de lei para aprovação no Congresso Nacional.

Page 8: Direito e Justiça - Edição 22455 - 26 de fevereiro de 2015

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015 O ESTADO 8

OAB-CE realiza a V Caravana Social

A Comissão Especial de Direito Previdenciário e As-sistência Social (CEDPAS) da OAB-CE realizou, no último dia 10 de fevereiro, a V Caravana Social, na Praça Murilo Borges, no Centro. Com o objetivo de dissemi-nar a educação previdenci-ária, e conscientizar tra-balhadores, empregadores, empregados, donas de casa, empregados domésticos e aposentados sobre os direi-tos e deveres dos segurados do INSS, técnicos do INSS e advogados membros da comissão, atenderam a po-pulação durante todo o dia.

De acordo com a presi-

dente da Comissão Especial de Direito Previdenciário e Assistência Social (CE-DPAS), Regina Jansen, a iniciativa se torna relevante por esclarecer os direitos e deveres dos contribuintes do Instituto Nacional do Se-guro Social (INSS). “A Ca-ravana está na sua 5ª edição em parceria com o INSS, com a Justiça Federal e a 10ª Região Militar, e dispõe de 10 advogados da Comissão para esclarecer a popula-ção, tirar as dúvidas, fazer agendamento de benefícios, de perícias, durante todo o dia na praça” destacou.

OAB-CE inaugura 152ª Sala de Apoio em Orós

OAB-CE e CNBB firmam parceria para coleta de assinaturas do projeto de Reforma Política

Foi inaugurada, no último dia 6 de fevereiro, a 152ª sala de apoio aos advogados da OAB Ceará. Localizada no Fórum da Comarca de Orós, a sala é o local de trabalho para que advogados e advogadas da região Centro Sul do Estado possam usufruir de estrutura adequada para consulta de processos e outras demandas relativas ao dia a dia da advocacia.

Além de dispor de equi-

pamentos de informática, gelágua, ar condicionado e móveis para o melhor atendimento da classe, as salas de apoio fazem um resgate à história da cidade, destacando profissionais que atuaram em benefício da sociedade local e aos jurisdicionados. A sala faz homenagem às advogadas Maria Noesia Vieira do Amaral e Dra Maria Zila Garcia Dantas.

O secretário geral da OAB-CE, Jardson Cruz, participou, no último dia 12 de fevereiro, de uma reunião na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para debater propostas de ação para cole-ta de assinaturas do projeto de Reforma Política Demo-crática e Eleições Limpas. A próxima ação acontecerá no dia 13 de março na Igreja Nossa Senhora de Fátima, a partir das 9h. Jardson Cruz adiantou que todas as instituições participantes do projeto estarão presen-tes para garantir maior agilidade e quantidade na

coleta de assinaturas. Uma das propostas do projeto tem relação com o finan-ciamento das campanhas políticas, referente à forma como os candidatos gastam o dinheiro que poderão ser monitoradas em tempo real através da internet, com base na transparência, possibilitando o chamado controle social do finan-ciamento de campanha. A Coalizão em Defesa da Reforma Política Demo-crática reúne mais de 100 entidades da sociedade civil e disponibiliza o site do movimento para coleta assinaturas online.

O trabalhador que gasta tempo durante o trajeto de casa para empresa tem direito a receber

hora extra. São chamadas horas “in itinere”, porém, para que tenha o direito re-conhecido é preciso obedecer alguns requisitos: que o local de serviço seja de difícil acesso ou que não possua transporte público regular.

Segundo o advogado traba-lhista, Renato Vilardo, “a ques-tão das horas extras no deslo-camento residência-trabalho em condução fornecida pela empresa é regida pela súmula 90 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que dispõe ser necessário localizar-se o esta-belecimento do empregador em sítio de difícil acesso ou não atendido por transporte coletivo”, reitera o especialista.

Conforme a súmula, o tem-po despendido pelo emprega-do à local de difícil acesso, em condução oferecida pela em-presa ou que não seja servido de transporte público regular deve ser computado na jorna-da de trabalho. Além disso, “a incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada do empregado e os do transporte público regular é circunstância que também gera o direito às horas ‘in iti-nere’”. Contudo, adverte que somente a insuficiência de transporte regular não gera as horas extras, e se houver transporte em parte do trajeto, a remuneração limita-se ao trecho não alcançado.

DECISÃO FAVORÁVELNo estado do Ceará, uma

decisão da 2a Turma do Tribu-nal Regional do Trabalho do Ceará (TRT-CE) foi favorável a conceder horas extras a uma funcionária de Limoeiro do Norte. De acordo o processo, a vítima trabalhou durante cinco anos como auxiliar de escritório na multifuncional Del Monte Fresh, localizada na zona rural do município. Ela gastava em média uma hora

em cada percurso de casa para o trabalho ou vice-versa.

O nome da trabalhadora não foi divulgado. De acordo com o relator, a empresa ha-via firmado acordo entre os empregados definindo que seria considerado hora extra, apenas, o tempo ultrapassado a uma hora de cada trajeto. Porém, a decisão foi unânime entre os desembargadores que entenderam que a convenção coletiva de trabalho não po-

deria limitar a quantidade de horas que geraria adicional extra. O relator afirmou que “normas coletivas não podem sobrepor-se ao direito assegu-rado por lei”, pois não poderia anular direitos já conquistados pela categoria.

A empresa foi condenada a pagar à funcionária as horas gastas no percurso mais o adicional de 50% relativo ao tempo em que trabalhou na companhia. Contudo, ainda cabe a Del Monte Fresh entrar com recurso da decisão.

LEGISLAÇÃOConforme o artigo 58, pa-

rágrafo 2o, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), “o tempo despendido pelo em-pregado até o local de trabalho e para o seu retorno, por qual-quer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho”. No entanto, vale a exceção quando a empresa é de difícil acesso e não é servida de transporte pública. No caso do processo julgado pela 2a turma do TRT-CE, o pedido da ex-empregada abrangia os dois requisitos.

Tempo gasto do trabalhador em trajeto pode gerar hora extra

DESLOCAMENTO

Renato Vilardo afirma a questão das horas extras “in itinere” e regida por súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST)

FOTO BETH DREHER

Tramita, na Câmara dos Deputados, um Projeto de Lei que pretende modificar o Código de

Processo Penal e fixar em 24 horas o prazo de apresen-tação dos presos aos juízes. De acordo com a proposta, a polícia deverá prender qualquer pessoa f lagrada cometendo delito, e após pri-são decretada, conduzir, no máximo em um dia, ao juiz competente acompanhado das audições e nome do ad-vogado. Caso o recluso não tenha um defensor, o projeto orienta que seja encaminha-do à Defensoria Pública.

O projeto é do deputado Jorginho Mello (PR-SC), que justifica a medida como meio de preservar a integridade física e psíquica do preso, evitando assim, tortura du-rante as investigações, prin-cipalmente nas especiais. “Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade”, argu-menta Mello.

Segundo o parlamentar, essa proposta é resultado de diálogos entre o Ministério da Justiça, a organização de di-reitos humanos da sociedade civil e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República. Na justificativa, ele afirma ainda que essa medida já é realidade em constitui-ções mais modernas como na África do Sul.

VIABILIDADEO presidente da Associação

Cearense de Magistrados (ACM), juiz Antônio Araújo analisa a proposta e afirma que não só no Ceará, como em outros estados nordesti-nos e boa parte do Brasil, a

viabilidade para apresentação do preso dentro de 24 horas, no momento, seria bastante difícil de ser viável devido a defasagem no quadro de magistrados e a falta de es-trutura. No entanto, acredita que poderia ser possível visto o empenho do Ministério da Justiça. “Como se observa no noticiário, o Ministério da Justiça tem interesse em implementar esse programa, que eu reputo como um pro-

grama importante, porque ele visa, sobretudo, assegurar as garantias do preso enquanto ser humano. Creio que, logo em curto prazo deve-se ter condições; no momento, creio que não há”, avalia.

Para o presidente da ACM, de certa forma, o projeto ajudaria a reduzir a superlo-tação nos presídios. “Sendo encaminhadas a um juiz, ele vai verificar a legalidade daquela condução e prisão, a existência efetiva da prática delitiva, de modo que alguns serão postos em liberdade. Além disso, representa um aprimoramento para que os aparelhos judicial e policial evitem cometer injustiças prendendo alguém que na verdade não merecesse per-manecer por algum tempo preso”, defende o magistrado.

REALIDADE EM SPNa cidade de São Paulo, o

sistema de prisão em flagrante e apresentação ao juiz em 24 horas já deu início este mês, porém, de forma ainda grada-tiva. Por enquanto vale apenas para crimes como ameaça, desobediência, lesão corporal e atos de vandalismo.

O projeto, chamado audi-ência de custódia, será re-gulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Com a novidade, o preso em flagrante, após apresentação na audiência, pode ser solto, continuar preso ou receber medidas restritivas.

Antônio Araújo avalia que medida ainda não seria viável na maioria dos estados brasileiros, sobretudo, no Ceará

MUDANÇA NO CÓDIGO PENAL

Projeto quer apresentação de preso a juiz em até 24 horas

BANCO DE DADOS

É necessário localizar-se o

estabelecimento do empregador em sítio de difícil acesso ou não atendido por transporte coletivo.