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DIREITO HUMANOS DELEGADO INTENSIVO DAMÁSIO Nós temos diferenças de cobrança de temas de Direitos Humanos, a depender do concurso. Como nosso enfoque é para o concurso de Delegado, falaremos sobre Teoria Geral, Sistemas de Proteção, Jurisprudência da Corte Americana e Tratados em Espécie. Bibliografia sugerida: Curso de Direitos Humanos - André de Carvalho Ramos 1. NOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS Os DH são um conjunto de direitos considerados indispensáveis para uma vida humana pautada na liberdade, na igualdade e na dignidade/fraternidade. Os DH são aqueles positivados em Tratados e Convenções, diferindo-se dos direitos fundamentais positivados nacionalmente (INGO SARLET). 2. ESTRUTURA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS: a) Direitos-Pretensão: Busca de algo, estabelecendo uma pretensão ao titular do direito. b) Direito-Liberdade: Consiste na faculdade de agir, que gera a ausência de direito de qualquer outro ente ou pessoa (art. 5º, VI, CF: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da lei a proteção a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”). c) Direito-Poder: Poder de exigir determinada sujeição do Estado ou de outra pessoa (art. 5º, LXIII, CF: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais, o de permanecer calado, sendo assegurada a assistência da família e do advogado ”). d) Direito-Imunidade: É a autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo (art. 5, LVI, CF: “são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meio ilícito”). 3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA: i. Democracia Ateniense: Participação política do cidadão. A figura do homem livre, dotado de individualidade (apesar de bem poucos). ii. Antígona na literatura: Trilogia tebana. Édipo, cego, pai de Antígona, é levado por sua filha. O irmão de

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DIREITO HUMANOS DELEGADO INTENSIVO DAMÁSIO

Nós temos diferenças de cobrança de temas de Direitos Humanos, a depender do concurso. Como nosso enfoque é para o concurso de Delegado, falaremos sobre Teoria Geral, Sistemas de Proteção, Jurisprudência da Corte Americana e Tratados em Espécie.

Bibliografia sugerida:

Curso de Direitos Humanos - André de Carvalho Ramos

1. NOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

Os DH são um conjunto de direitos considerados indispensáveis para uma vida humana pautada na liberdade, na igualdade e na dignidade/fraternidade. Os DH são aqueles positivados em Tratados e Convenções, diferindo-se dos direitos fundamentais positivados nacionalmente (INGO SARLET).

2. ESTRUTURA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS:a) Direitos-Pretensão: Busca de algo, estabelecendo uma pretensão ao titular do

direito.b) Direito-Liberdade: Consiste na faculdade de agir, que gera a ausência de direito

de qualquer outro ente ou pessoa (art. 5º, VI, CF: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da lei a proteção a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”).

c) Direito-Poder: Poder de exigir determinada sujeição do Estado ou de outra pessoa (art. 5º, LXIII, CF: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais, o de permanecer calado, sendo assegurada a assistência da família e do advogado”).

d) Direito-Imunidade: É a autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo (art. 5, LVI, CF: “são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meio ilícito”).

3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA:i. Democracia Ateniense: Participação política do cidadão. A figura do homem

livre, dotado de individualidade (apesar de bem poucos).ii. Antígona na literatura: Trilogia tebana. Édipo, cego, pai de Antígona, é levado

por sua filha. O irmão de Antígona declara guerra ao tio e morre. O tio proibiu os ritos fúnebres sobre seu irmão, que morreu em conflito com este. Ao comentar esta ordem, por meio de um Edito, criticando que seu Tio havia ultrapassado os limites ao poder do Estado.

iii. Direito Romano: Princípio da Legalidade foi criado no Direito Romano, surgindo na Lei das XII Tábuas. O Antigo Testamento no mundo ocidental fala de um trecho “Deus criou o homem a sua imagem e semelhança”, de forma que se os homens são espelho à divindade, toda agressão seria uma agressão contra ele. O Novo Testamento tem vários trechos que pregam igualdade e solidariedade – v. Epístola de Paulo aos Gálatas – Cap. III, versículo 28. A igualdade é uma ideia central dos Direitos Humanos.

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iv. Idade Médio: O poder dos governantes era ilimitado, justificada como um fruto da vontade divina. Diante de abusos, determinados grupos surgem através dos primeiros movimentos de reivindicação de liberdade. O primeiro caso é a Declaração das cortes de Leão de 1178. O primeiro texto não foi a Magna Charta de 1215, na Península Ibérica, numa luta dos senhores feudais contra a centralização.

v. Magna Charta: Foi um movimento da burguesia (...).vi. Constitucionalismo Liberal: Crise na Idade Média, que ocorre por conta da

erosão dos poderes estamentais, que eram a Igreja e os Senhores Feudais. Surge no Séc. XVII, com questionamentos acerca do Estado Absolutista. Estes questionamentos levam, na Inglaterra, ao Petition of Rights (1628), ao Habeas-Corpus Act (1679) e ao Bill of Rights (1689).

vii. Declarações de Direitos do Fim do Séc. XVIII:i. Bill of Rights: USA, Virginia (12/06/1776)

ii. Convenção da Filadelphia (1787)iii. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (02/10/1789)

*Campo das Ideias:

Thomas Hobbes (1651): Os indivíduos abandonam sua liberdade inicial e se submetem ao Poder do Estado.

John Locke (1689): Há direitos do indivíduo, mesmo contra o Estado.

Picco Della Mirandola: A personalidade humana se caracteriza por ter valor próprio: dignidade do ser humano.

Guilherme de Occam: Ele desenvolve a ideia do Individualismo - os direitos do indivíduo frente ao Estado.

Hugo Grotio: Em 1625, ele cria o conceito de Direito Subjetivo, que é a faculdade da pessoa que a torna apta a possuir ou fazer algo.

viii. Constituição dos EUA (1787): Constitucionalismo.ix. França (1793 e 1848): Constitucionalismo.x. Brasil (1824): Constitucionalismo.

xi. Alemanha (1849): Constitucionalismo.xii. México(1917): Um extenso e atual rol de direitos.

xiii. Rússia (1918): Constitucionalismo.xiv. Internacionalização dos Direitos Humanos e Responsabilidade Internacional

do Estado: Origem histórica: Pós 2º Guerra Mundial: Prevenção contra o horror da guerra. Só falamos, propriamente, em Direitos Humanos no pós-2º guerra mundial. É o próximo tema.

4. RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO POR VIOLAÇÕES NOS D.H.:4.1 Sistema Unilateral: Este modelo não reconhece a existência de uma

comunidade de nações. Neste modelo, o Estado ofendido é, ao mesmo tempo, juiz e parte. Se utiliza o Poder Judiciário local para conferir uma áurea de legitimidade, mas, em verdade, somente protegerá o próprio nacional.

4.2 Sistema Coletivo: Tal modelo reconhece a necessidade de integração entre as nações. Todas as nações que assinam um tratado tem um duplo dever, sobre

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seus súditos e com os demais Estados. Aqui, qualquer Estado pode processar outro por violação de direitos, devido a isto, existe um órgão autônomo (terceiro desinteressado) para julgar as violações. Este é o sistema adotado atualmente por boa parte dos países. É possível processar por violação do direito de qualquer pessoa.A crítica que normalmente se faz a este sistema é que haveria violação da soberania. Vejamos um pouco mais sobre Soberania:

É o poder supremo que não reconhece outro acima de si. Este conceito surge com a Paz de Westfalia de 1648. Este tratado dá origem aos Estados soberanos. Este conceito se divide em:

Soberania Externa: Relação com demais países: Sofre limitações dos Tratados/Convenções.

Soberania Interna: Relação com os súditos: Sofre limitações do Constitucionalismo.

4.3 Estado Constitucional Cooperativo: Este modelo supera o modelo da desconfiança e se baseia no paradigma da Confiança. A ideia é de que os Estados devem cooperar entre si. O ECC está centrado no respeito aos direitos fundamentais, que é a base para o desenvolvimento das relações jurídicas entre os diversos Estados. O respeito aos direitos humanos é que vai unir os Estados. Este modelo confia no Sistema Internacional e nos demais Estados. Não seria possível falar em violação de soberania porque o modelo atual é de ECC.

5. CLASSIFICAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS: a) Teoria do Status (Georg Jellinek): Surge no final do Séc XIX. A base desta

classificação é composta de dois elementos: (i) Verticalidade: Os direitos são concretizados na relação desigual entre indivíduo e Estado; (ii) Reconhecimento do Caráter Positivo: Positivação do direito humano.

O autor desenvolve quatro “status” do DH:

i. STATUS SUBJECTIONIS / STATUS PASSIVO: Individuo encontra-se em estado de submissão. O Estado detém atribuições e prerrogativas aptas a vincular o individuo, exigir determinadas condutas ou impor limitações às suas ações. *Também é conhecida por teoria dos círculos, pois o Estado e o indivíduo são vistos como círculos. Em qualquer interação, o Estado pode limitar o indivíduo. [Estado Indivíduo]

ii. STATUS LIBERTATIS / STATUS NEGATIVO: Aqui é o oposto. O Estado deve se abster de realizar determinada conduta. O Estado não pode interferir na esfera privada do indivíduo. Surge um espaço de liberdade para o indivíduo. São os chamados Direitos de Resistência – Abwehrechte. Aqui se exige um dever de omissão do Estado. [Estado Indivíduo]

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iii. STATUS POSITIVO / STATUS CIVITATIS: É o conjunto de pretensões do indivíduo para invocar a atuação do Estado em prol de seus direitos. Aqui é o oposto da negativa. O Estado deve interferir na esfera do indivíduo, a omissão estatal é proibida. São os deveres de prestação pelo Estado, através de programas sociais, podendo estas serem fáticas (bolsa família) ou jurídicas (assistência judiciária gratuita). [Estado Indivíduo]

iv. STATUS ATIVO: É o conjunto de prerrogativas e faculdades que o indivíduo possui para participar da formação da vontade do Estado, refletindo no exercício de direitos políticos e no direito de ascender aos cargos públicos. [Indivíduo Estado]

b) Teoria das Gerações (Karel Vasak): Foi criada em 1979, numa Conferência proferida no Instituto Internacional de Direitos Humanas, em Strassburg. São 3 gerações baseadas nos dísticos da Revolução Francesa, quais sejam, Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

1º Geração: Direitos de Liberdade: Todas as prestações negativas nas quais o Estado deve proteger a autonomia do indivíduo. *O papel do Estado na defesa destes direito é um papel duplo, um papel de compromisso passivo (abstenção de fato/de violar os direitos humanos), originário da teoria de Vasak, e um papel de compromisso ativo (exigir ações do Estado para a garantia da justiça e etc.).

2º Geração: Implementação de Direitos Sociais: Papel do Estado é recheada de prestações ativas. É o desenvolvimento destes direitos positivos pelo Socialismo. Há alguns marcos importantes: Constituição Mexicana de 1917; Weimar de 1919; Tratado de Versailles que cria a OIT.

3º Geração: Direitos de Titularidade da Comunidade. São os Direitos de 3º geração (Direito ao Desenvolvimento, à Paz, ao Meio-Ambiente Equilibrado....).

+ Paulo Bonavides fala em: Direitos de 4º Geração (Direitos de

Participação Democrática; Respeito ao Pluralismo; Bioética; Limites à manipulação genética...) e;

Direitos de 5º Geração (Direito à Paz em toda humanidade).

c) Quanto às suas Funções:i. Direito de Defesa: É um escudo contra o poder estatal que gera

consequências de abstenção, derrogação e anulação dos atos estatais. Além disso: (a) Pretensão de Consideração: O Estado deve levar em conta os interesses da população/os direitos envolvidos antes de adotar determinada conduta. Ex: Usina de Belo Monte;

Críticas à classificação em Gerações:

a) Transmite de forma errônea a ideia de substituição entre as gerações posteriores. É desinteressante, pois os direitos devem ser analisados de forma sistêmica e como um todo inquebrável.

b) Esta classificação transmite a ideia de antiguidade ou posterioridade de um rol sobre outrosBonavides prefere o termo “DIMENSÕES”.

c) DH não são Fragmentados mas Indivisíveis.

d) Novas Interpretações sobre o conteúdo dos DH torna difícil aceitar a classificação.

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(b) Pretensão de Proteção: O Estado deve agir contra outros particulares que podem violar estes direitos. Ex: Lançamento de Anão na França.

O Direito de Defesa tem três subespécies:

1. Direito ao Não-Impedimento : É a liberdade de expressão, que é uma forma de direito de defesa, pelo direito ao não-impedimento.

2. Direito ao Não-Embaraço : Inviolabilidade do domicílio e demais sigilos são exemplos.

3. Direito à não-supressão de determinadas situações jurídicas: É o exemplo do direito à propriedade.

ii. Direito a Prestações: Direito de exigir a obrigação estatal de ação para assegurar a efetividade dos direitos humanos. É a superação do dogma do “estado inimigo”, evoluindo para o “estado amigo”. Estas prestações podem se dar de duas formas: (a) Prestação Material: Intervenção do Estado provendo determinada condição material para o indivíduo; (b) Prestação Jurídica: Criação de medidas específicas de combate à inércia do Estado em legislar,, a exemplo surge o Mandado de Injunção.

iii. Direito a Procedimentos e Instituições (Organizações): Temos aqui o direito de se exigir do Estado que se estruture os órgãos e corpo institucional apto a oferecer bens ou serviços indispensáveis à efetivação dos direitos humanos. É o exemplo da estruturação da Defensoria Pública, a Policia Civil, Judiciário e outros órgãos que não podem ser desmantelados. Quais as consequências destes direitos? (a) o Estado fica obrigado a organizar determinados órgãos; (b) Impedir que o Estado desmantele determinados órgãos.