23
Vitor Pasquini Scarpelli Comunicação Social e associações comunitárias: a atuação de líderes de opinião em Balsas(MA) Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo-SP, 2010

Dissertação de Mestrado - Comunicação Social e Associações Comunitárias: A atuação de líderes de opinião em Balsas (MA) - Parte 1 - Vitor Pasquini Scarpelli

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Primeira parte da dissertação de mestrado "Comunicação Social e Associações Comunitárias: A atuação de líderes de opinião em Balsas (MA)" - Vitor Pasquini Scarpelli

Citation preview

  • Vitor Pasquini Scarpelli

    Comunicao Social e associaes comunitrias:a atuao de lderes de opinio em Balsas(MA)

    Universidade Metodista de So Paulo Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social

    So Bernardo do Campo-SP, 2010

  • Vitor Pasquini Scarpelli

    Comunicao Social e associaes comunitrias:a atuao de lderes de opinio em Balsas(MA)

    Dissertao apresentada em cumprimento parcial sexigncias do Programa de Ps-Graduao emComunicao Social, da UMESP-UniversidadeMetodista de So Paulo, para obteno do grau deMestre. Orientadora: Profa: Sandra Reimo

    Universidade Metodista de So Paulo Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social

    So Bernardo do Campo-SP, 2010

  • A dissertao de mestrado sob o ttulo Comunicao social e

    associaes comunitrias: a atuao de lderes de opinio em

    Balsas(MA), elaborada por Vitor Pasquini Scarpelli foi apresentada e

    aprovada em 16 de maro de 2010, perante banca examinadora composta

    por Sandra Reimo (Presidente/UMESP), Maria Aparecida Ruiz

    (Titular/UMESP) e Jane Marques (Titular/USP).

    __________________________________

    Profa. Dra. Sandra Reimo

    Orientadora e Presidente da Banca Examinadora

    _____________________________________________

    Prof. Dr, Sebastio Squirra

    Coordenador do Programa de Ps-Graduao

    Programa: Mestrado em Comunicao Social

    rea de concentrao: Processos Comunicacionais

    Linha de Pesquisa: Livros e outras mdias

  • Agradecimentos

    Aos meus pais Roseane Pasquini e Sergio Scarpelli, que sempre me incentivaram e tomaram

    possvel a realizao dos meus projetos de vida.

    A Bruno Menegatti, pelos diversos favores que colaboraram para a realizao desta

    dissertao.

    A Luis e Ana Elisa Salvatore por possibilitarem que eu conhecesse um outro lado do Brasil.

    A todos os funcionrios da Escola Municipal Agostinho Neves, especialmente Eliane,

    Cludia, Antonieta e Edjane.

    Aos moradores do bairro Bacaba, e membros da associao de moradores do bairro Bacaba,

    que me receberam calorosamente em sua cidade.

    A Alusio, pela colaborao em pesquisar e organizar documentos, e a sua famlia, que me

    recebeu durante dias em sua casa quando eu estava to distante da minha.

    A todas as pessoas que estiveram a meu lado durante esse perodo, em casa ou pelos sertes.

  • Lista de Imagens

    Imagem 1 - Criana no campo de futebol do Bairro Bacaba p.125

    Imagem 2 - Apresentao de capoeira do Grupo Guerreiros da Criana p.125

    Imagem 3 - Computador doado para informatizao da biblioteca p.125

    Imagem 4 - Apresentao de um msico local durante a visita do IBS p.126

    Imagem 5 - Moradores do bairro Bacaba p.126

    Imagem 6 - Crianas moradoras do Bairro Bacaba p.126

  • Lista de Tabelas

    Tabela 1 - Cronograma primeira etapa - Dia um - Manh p.41

    Tabela 2 - Cronograma primeira etapa - Dia um - Tarde p.42

    Tabela 3 Cronograma primeira etapa - Dia dois - Manh p.43

    Tabela 4 Cronograma primeira etapa - Dia dois - Tarde p.43

    Tabela 5 Cronograma segunda etapa - Dia um - Manh p.46

    Tabela 6 Cronograma segunda etapa - Dia um - Tarde p.46

    Tabela 7 - Cronograma terceira etapa - Dia um - Manh p.48

    Tabela 8 - Cronograma terceira etapa - Dia um - Tarde p.49

    Tabela 9 - Cronograma terceira etapa - Dia dois - Manh p.50

    Tabela 10 - Cronograma quarta etapa - Dia um - Manh p.52

    Tabela 11 - Cronograma quarta etapa - Dia um - Tarde p.53

    Tabela 12 - Cronograma quarta etapa - Dia dois - Manh p.53

    Tabela 13 - Cronograma quarta etapa - Dia dois - Tarde p.54

    Tabela 14 - Cronograma quarta etapa - Dia trs - Manh p.54

    Tabela 15 - Cronograma quarta etapa - Dia trs - Tarde p.55

  • Sumrio

    Lista de Imagens p.3

    Lista de Tabelas p.4

    Introduo p.11

    1 - Sobre o conceito de lder de opinio p.12

    2 - Balsas p.23

    2.1 - O municpio de Balsas p.23

    2.2 - O bairro Bacaba p.28

    2.3 - Os meio de comunicao da cidade de Balsas p.31

    3 - Instituto Brasil Solidrio p.34

    3.1 - O surgimento do Instituto Brasil Solidrio p.34

    3.2 - O Programa de Desenvolvimento Sustentvel da Escola p.40

    4 - A atuao dos moradores do bairro Bacaba p.58

    4.1 - A associao de moradores do bairro Bacaba p.58

    4.2 - A atuao dos lderes comunitrios do Bairro Bacaba no PDSE p.64

    5 - Consideraes finais p.68

    6 - Referncias p.70

    Anexo 1 p.72

    Entrevista Antonieta Neves da Silva Matos p.72

    Entrevista Isomar de Sousa Neves p.76

    Entrevista Norina Neves Quiximtera p.76

  • Entrevista Edjane Nunes Santos p.77

    Entrevista Wadson Oliveira Silva p.81

    Entrevista Carmegildo Xavier da Silva p.83

    Entrevista Xavier Fiali de Souza p.84

    Entrevista Luis Barbosa de Sousa p.85

    Entrevista Reni Jorge Grampes p.86

    Entrevista Gilson Pereira Botelho p.89

    Entrevista Naura de Sousa p.92

    Entrevista Juarez Junior da Silva Oliveira p.93

    Entrevista Raimundo Nonato Cardoso Nogueira p.95

    Entrevista Clarindo de Sousa Gomes p.97

    Entrevista Josivam Pereira de S p.99

    Entrevista T alita Moura p.99

    Entrevista Fabricio Andrade p.101

    Entrevista Joo Batista Rodrigues Arajo p.102

    Entrevista Luis Fernando Fogaa Neto p.108

    Entrevista Jos Maria da Silva p.109

    Entrevista Antnia Almeida Nunes p.110

    Entrevista Luis Salvatore p.111

    Anexo 2 p.125

  • Resumo

    Esta dissertao visa examinar o bairro Bacaba, um bairro perifrico do municpio de

    Balsas-MA, durante a implantao de um projeto social implantado por uma ONG. O objetivo desse

    estudo compreender como os lderes de opinio da comunidade do bairro Bacaba, atuaram junto a

    comunidade e aos meios de comunicao da cidade durante a realizao de um projeto social em

    um colgio localizado no bairro Bacaba. A atuao desses lderes foi observada durante quatro

    etapas que formaram o projeto implantado na escola e duas visitas posteriores onde foi observada a

    continuao desse projeto.

    Palavras-Chave: Lder de opinio, Comunicao em comunidades perifricas, Projetos Sociais

  • Resumen

    Esta tesis tiene como objetivo examinar el barrio Bacaba, un barrio en las afueras de la

    ciudad de Balsas-MA, durante la ejecucin de un proyecto social ejecutado por una ONG. El

    objetivo de este estudio es comprender cmo los lderes de opinin en el distrito de la comunidad

    Bacaba, actu en la comunidad y los medios de comunicacin de la ciudad durante la ejecucin de

    un proyecto social en una escuela situada en el Bacaba. El trabajo de estos dirigentes se observ

    durante cuatro etapas que forman el proyecto ejecutado en la escuela y dos visitas posteriores,

    donde se observ la continuacin de este proyecto.

    Palabras-Clave: Lder de opinin, Comunicacin en comunidads afueras de la ciudad, Proyecto Social

  • Abstract

    This paper intend to make an exam on the Bacaba district, a peripheral distric located in the

    city of Balsas-MA, during the introduction of a social project made by an ONG. The objective of

    this estudy is to understand how the opinion leaders from the Bacaba community, act with this

    community and with the local media during the realization of a social project in a school located in

    the Bacaba district. The performance of these leaders was observed during the four stages of the

    project implantation, and during two afterwards travels where the continuation of these projects

    were observed.

    Keywords: Opinion Leader, Peripheral communication, Social projects

  • Introduo 11

    A ideia desta pesquisa surgiu em 2007 quando realizei um trabalho social voluntrio junto

    ao Instituto Brasil Solidrio. A convivncia com as comunidades do serto brasileiro e o modo

    como cada uma delas se organizou para participar do trabalho foi algo que me intrigou. No ano

    seguinte, voltei a ser voluntrio das aes, dessa vez participando de todas as etapas do trabalho

    como cinegrafista. Acredito que exercer a funo de cinegrafista foi um fator que facilitou a

    realizao da pesquisa, pois uma funo que tem como princpio bsico observar. Enquanto os

    outros voluntrios ficaram restritos a sala onde exerciam suas funes, pude caminhar pela escola e

    observar o andamento das aes e o comportamento dos moradores nos em todos os trabalhos

    efetuados pela ao social.

    Durante o perodo em que trabalhei nesse projeto um lugar especfico chamou minha

    ateno, a cidade de Balsas-MA, mais especificamente o bairro Bacaba, local onde tive

    oportunidade de trabalhar como voluntrio em quatro ocasies. A comunidade se destacou por

    comparecer em grande nmero durante os trabalhos e se organizar de uma maneira diferenciada dos

    outros locais visitados. Essa organizao me despertou o desejo de compreender como pessoas

    reconhecidas como lderes pela comunidade, atuaram durante o projeto social realizado no

    municpio.

    A pesquisa qualitativa apresentada nessa dissertao foi realizada durante as quatro viagens

    ao municpio de Balsas que compuseram o Projeto de Desenvolvimento Sustentvel da Escola

    realizado pelo Instituto Brasil Solidrio, e em duas viagens posteriores a implantao dos trabalhos

    que tiveram como principais objetivos observar se ou como a comunidade do bairro Bacaba deu

    continuidade aos trabalhos realizados pelo Projeto de Desenvolvimento Sustentvel da Escola, e a

    realizao entrevistas com moradores do bairro Bacaba, funcionrios da Escola Municipal

    Agostinho Neves e pessoas reconhecidas como lderes pela maioria da comunidade.

    Enquanto realizava os trabalhos voluntrios na cidade, e em outras duas ocasies em que

    estive em Balsas para realizar a pesquisa, fui recebido de maneira calorosa pelos moradores, que

    foram extremamente solcitos e desta maneira facilitaram a realizao da pesquisa.

    A pesquisa apresentada a seguir descreve o municpio de Balsas, o bairro Bacaba e o projeto

    social do Instituto Brasil Solidrio. Em seguida feita uma descrio da associao de moradores

    do bairro Bacaba, e da maneira como esses representantes da comunidade atuaram junto ao projeto

    social desenvolvido na comunidade. Atravs da identificao de alguns lderes da comunidade foi

    possvel observar a maneira com que esses lderes atuaram junto aos moradores do bairro Bacaba e

    interagiram com os meios de comunicao da cidade.

  • Captulo I - Sobre o conceito de lder de opinio 12

    Nesse captulo, buscaremos traar os elementos centrais do conceito de lder de opinio.

    Para tanto, uma sntese ser elaborada, focada nesse tema, utilizando citaes de autores (que

    considero) relevantes para o desenvolvimento desse conceito. O primeiro estudo citado nesse

    captulo esclarece as ideias bsicas sobre o conceito de lder de opinio e serve de base para

    compreenso dos estudos posteriores, que aprofundam e estendem os conhecimentos sobre o

    assunto.

    Lazarsfeld, Berelson e Gaudet fizeram um estudo chamado The people's choice: how the

    voter makes up his mind in a presidential campaign, sobre a campanha presidencial de 1940, nos

    Estados Unidos. Nesse estudo, observaram que algumas pessoas da comunidade exerciam um

    importante papel na seleo da informao e na disseminao da influncia exercida pelas

    mensagens transmitidas pelos meios de comunicao massivos.

    Esses autores notaram que as mensagens transmitidas pelo rdio e pelos meios impressos

    no tinham grande efeito nas mudanas de deciso de voto. A partir desse ponto, Lazarsfeld,

    Berelson e Gaudet procuraram entender como as pessoas tomam suas decises, e quais os fatores

    que levam algumas delas a mudar essas decises.

    Para entender esse fenmeno, Lazarsfeld, Berelson e Gaudet focaram seu estudo nas pessoas

    que mudaram a inteno de voto durante a campanha. Os autores descobriram que as principais

    causas da mudana de inteno de voto no foram diretamente as mensagens enviadas pelos meios

    de comunicao de massa, mas, sim, outras pessoas.

    A influncia pessoal alcana aqueles que so mais suscetveis a mudanas, e servecomo uma ponte na qual os meios formais de comunicao estendem suainfluncia. Alm disso, relaes pessoais possuem algumas vantagens psicolgicasque as tornam especialmente efetivas no exerccio da presso molecular, levando homogeneidade poltica dos grupos sociais.1

    Os autores consideram que os contatos pessoais, na grande maioria dos casos no possuem o

    propsito de mudar a opinio poltica da(s) outra(s) parte envolvida em uma conversa. Quando esse

    tema abordado pelos meios de comunicao massivos, existe em muitos casos um esforo para

    modificar a opinio do receptor da mensagem.

    1 LAZARSFELD; BERELSON; GAUDET, 1968, p.151 (Traduo nossa)

  • 13A fora dos contatos pessoais sobre a opinio reside, paradoxalmente, na maiorcasualidade e falta de propsito em assuntos polticos. Se lermos ou ouvirmos umdiscurso, normalmente o fazemos com propsito e j temos uma posio decididaem nossas mentes, que influenciaro nossa receptividade2

    A partir desse ponto, os autores observaram que as pessoas tendiam a votar de maneira

    idntica a de outras pessoas com as quais conviviam, ou seja, esposas votavam como os seus

    maridos, membros de clubes como outros membros do mesmo clube, trabalhadores como os seus

    companheiros de trabalho.

    Toda vez que uma propaganda feita por outra pessoa experimentada como umaexpresso da tendncia prevalente do grupo, h maiores chances de se obter maissucesso que a mdia formal, por causa dasrecompensas sociais.3

    Nesses grupos, em que havia homogeneidade de inteno de voto, os autores observaram

    que algumas pessoas exerciam grande influncia sobre a inteno de voto dos outros componentes

    do grupo. As pessoas que exerciam essa influncia foram chamadas, pelos autores, de lderes de

    opinio.

    A confiana no ponto de vista de outra pessoa pode surgir tanto devido ao prestigioque essa pessoa possui como pela plausibilidade do quem tem a dizer ou suarelevncia para os interesses das outras pessoas. obvio que em todas asinfluncias o prestgio exerce um papel fundamental. O grau de conformidade maior quanto maior for o prestgio da pessoa do nosso grupo que tenta nosinfluenciar. A plausibilidade das consequncias que ele apresenta vai parecer maiorse ele for importante.4

    Ao contrrio do que se acreditava anteriormente, os lderes de opinio faziam parte de

    diferentes grupos de atividade e nveis socioeconmicos. Lazarsfeld, Berelson e Gaudet passaram a

    tentar descobrir o que influenciava os lderes de opinio. Diferentemente das outras pessoas, as

    respostas dos lderes de opinio revelaram que, para eles, as mensagens transmitidas pelos meios

    2 Ibidem, p. 153 (Traduo nossa)3 Ibidem, p. 157 (Traduo nossa)4 Ibidem, p. 158 (Traduo nossa)

  • 14de comunicao massivos foram determinantes para decidirem em qual candidato votariam.

    Essas informaes deram origem a uma ideia de comunicao em duas fases:

    1- as informaes dos meios massivos eram recebidas e/ou absorvidas pelos lderes de

    opinio e

    2- retransmitidas, pelos lideres de opinio, para as outras pessoas com as quais eles

    conviviam nos mesmos grupos.

    O estudo de Lazarsfeld, Berelson e Gaudet mostrou a relevncia de considerar os lderes de

    opinio como peas importantes de interveno na assimilao para o resto do grupo, das

    mensagens transmitidas pelos meios de comunicao de massa; ou seja, para que uma mensagem de

    um meio de comunicao massivo seja assimilada, a interveno de um membro destacado do

    grupo essencial.

    O lder de opinio um membro de um grupo de pessoas, que se destaca em determinado

    assunto, e em relao a esse assunto, considerado uma fonte de referncia para os outros

    membros.

    Todos os grupos de seres humanos tm um elemento que se destaca em certa rea,a quem os outros daro crdito e a quem consultaro quando necessrio. Cada lderde opinio exerce influncia em um determinado assunto. Assim, por exemplo, ofarmacutico de uma cidadezinha pode ser o lder de opinio para questespolticas. Um certo aluno da classe ser fatalmente e sempre escolhido pararepresentar os seus colegas e assim por diante. Uma informao novafrequentemente passa a ser aceita pelo grupo apenas quando reforada pelo lderde opinio.5

    Em seu livro As utilizaes da cultura, Hoggart discute as mensagens transmitidas pelos

    meios de comunicao massivos, absorvidas pelos lderes de opinio, segundo Lazarsfeld, Berelson

    e Gaudet. Hoggart acredita que a influncia desses meios se tornou maior em tempos recentes,

    tendo em vista que so muito mais ativas que antigamente, chamando ateno para o fato de que

    essa influncia, algumas vezes, pode ter um efeito negativo sobre a cultura popular.

    5 LUYTEN, 1988, p.10

  • 15(...) a influncia das publicaes de massa se tornou, hoje em dia, por muitssimasrazes, muito mais insistente e ativa; que essas publicaes adquiriram umaextenso at agora desconhecida; que ns estamos a dirigir no sentido da criao deuma cultura de massas; que as reminiscncias da antiga cultura urbana, do povoesto a ser destrudas; e que, nalguns aspectos importantes, a nova cultura demassas menos saudvel do que a cultura, muitas vezes tosca, que estsubstituindo.6

    Apesar de acreditar que os meios de comunicao massivos possam, em algumas ocasies,

    ser nocivos para a cultura popular, Hoggart acredita que a tradio popular, muitas vezes, no

    afetada pelos meios de comunicao massivos, pois tratam-se de tradies orais do convvio do dia

    a dia.

    (...) quando ouvimos falar os membros das classes proletrias, em casa como notrabalho, constatamo, em primeiro lugar, no os efeitos de cinquenta anos decinema e imprensa de grande difuso, mas, antes, a influncia praticamente nuladesses fenmenos sobre a linguagem do dia a dia, uma vez que os membros dessasclasses continuam a inspirar-se no que a fala e as crenas que implicitamente seexprimem por meio da fala se refere, numa tradio oral e local.

    Em 1955, Paul Lazarsfeld e Elihu Katz publicaram o livro Personal Influence: the part played by

    people in the flow of mass communication. Nesse livro, como o prprio ttulo indica, os autores

    aprofundam os estudos anteriores sobre o papel do lder de opinio na comunicao de massa.

    Todos esses estudos tendem expor a validade da ideia do lder de opinio, de umamaneira ou de outra, e deixar explcito que a imagem tradicional do processo depersuaso de massa deve abrir espao para as pessoas como fatores que intervmentre o estmulo da mdia e as opinies, decises e aes resultantes.

    Uma das maiores preocupaes dos autores foi analisar o modo como os lderes interagem

    com os grupos em que convivem.

    O que chamamos de liderana de opinio, se que podemos chamar de liderana, a liderana em sua forma mais simples: exercitada casualmente, s vezes nem

    6 HOGGART, 1973, p.297 Ibidem, p.33KATZ, LAZARSFELD, 2006, p.32 (Traduo nossa)

  • 16percebida nos pequenos grupos de amigos, famlia e vizinhos. No umaLiderana ao nvel de Churchill, de um poltico local ou uma elite social local. oextremo oposto: quase invisvel, sem suspeitas, uma forma de comunicao depessoa para pessoa em um nvel casual, intimo, informal, contato do dia a dia.9

    Os autores destacaram que o desejo de conformidade um dos motivos para que as pessoas

    de um mesmo grupo adotem opinies iguais. Um indivduo que deseja a aceitao de um grupo

    sente-se motivado a incorporar a opinio do grupo, mesmo que no esteja ciente disso. Isso no se

    aplica somente a novos membros de um grupo. Note-se que membros antigos, que tenham uma

    opinio muito diferente do resto do grupo ao qual pertencem, podem vir a perder status dentro do

    grupo ou, at mesmo, deixarem de fazer parte do grupo. Por outro lado, os indivduos que

    incorporam a opinio do grupo recebem aceitao e amizade.

    (...) se um indivduo deseja estreitar ou manter uma relao intima com outraspessoas, ou se ele deseja chegar a algum lugar com um grupo ou atravs de umgrupo, ele deve se identificar com as opinies e valores desses indivduos ougrupos. Isso no significa necessariamente que essa identificao previamentecalculada. Mas conscientemente ou no, as consequncias da conformidade ou no-conformidade continuaro as mesmas.10

    Pelo fato de na formao de uma opinio confluir um conjunto de experincias que no

    foram vividas diretamente por cada um dos membros do grupo, a informao trazida pelo lder de

    opinio atua como mediadora substituta dessa experincia direta. Os autores citam experincias

    feitas por Sherif (1952) que evidenciam que as pessoas procuram e dependem das outras para

    tomarem decises em situaes de incerteza. Essas experincias tambm demonstram que

    indivduos interagindo com outros, diante de um problema, tendem a criar uma opinio ou deciso

    comum.

    dessa maneira que surgem os esteretipos, e uma das razes porque ideias doque real na religio ou na poltica variam de grupo para grupo. Muitas coisas nomundo so inacessveis para a observao emprica direta ento os indivduos

    9 Ibidem, p.138 (Traduo nossa)10 Ibidem, p.52 (Traduo nossa)

  • 17devem continuar confiando uns nos outros para compreenderem as coisas.11

    Um outro elemento que deve ser considerado para caracterizar a atuao do lder de opinio

    a tendncia das pessoas de procurar outros indivduos com as mesmas opinies e valores.

    Lazarsfeld e Katz afirmam que as pessoas de um grupo no gostam de ver seus companheiros tendo

    opinies diferentes das do resto do grupo. Alm disso, os grupos gostam de ter uma identidade, e

    uma das maneiras de manter essa identidade exigir, em alguns aspectos, um comportamento

    semelhante de todos os membros do grupo.

    (...) devemos apontar outro fator que nos ajudar a explicar porque as opinies deum indivduo so parecidas com as opinies daqueles a sua volta. O fenmeno aque nos referimos a tendncia das pessoas procurarem outras pessoas comopinies e valores parecidos como companheiros.

    Assim como os indivduos, os grupos possuem metas que, em alguns casos, s podero ser

    atingidas se houver consenso entre os membros do grupo.

    Primeiramente, indivduos no gostam de ver seus associados mudando uma visotradicional de enxergar algo. uma experincia desconfortvel para os indivduosdescobrirem que um membro do grupo prope enxergar as coisas de uma maneiradiferente. Considere, por exemplo, as consequncias de acreditar que bruxas noexistem, no contexto de uma comunidade puritana caadora de bruxas.Segundo, grupos gostam de preservar sua identidade, e uma das principaismaneiras de um grupo fazer isso requerer um comportamento uniforme por partede seus membros.Terceiro, e talvez o mais importante, o fato de que grupos, assim comoindivduos, tm objetivos, e esses objetivos no podem ser alcanados se nohouver consenso.

    Lazarsfeld e Katz escrevem que, no imaginrio popular, existem diversos tipos de lderes:

    oficiais e no-oficiais, de pequenos grupos ou grandes naes, organizadores, agitadores,

    esclarecidos, lderes especializados e lderes que atuam em vrias reas. Os lderes oficiais so

    formalmente designados por instituies; um presidente de empresa um exemplo de lder oficial

    11 Ibidem, p.54 (Traduo nossa)12 Ibidem, p.59 (Traduo nossa)13 Ibidem, p.62 (Traduo nossa)

  • 18Os lderes no-oficiais no foram nomeados por uma instituio organizada formalmente; podem

    ser os lderes de uma gangue, por exemplo. Os organizadores e agitadores renem pessoas em

    grandes movimentaes, os esclarecidos transformam o pensamento de seus seguidores. Lderes

    especializados como, por exemplo, fsicos nucleares, sero consultados dentro de esferas mais

    especficas, enquanto lderes, como os ditadores , interferem em diversos aspectos da vida das

    pessoas.

    Os denominados lderes de opinio, tratados por Lazarsfeld e Katz, so principalmente

    lderes informais, e a comunicao geralmente face a face.

    O lder de opinio , do ponto de vista da pessoa influenciada, um indivduo expert em

    determinado assunto ou com grande conhecimento geral, e algum confivel.

    Os autores fizeram uma pesquisa para analisar a influncia do lder de opinio. Para

    aproximadamente metade do pblico que respondeu o questionrio aplicado pelos autores, as

    pessoas competentes e confiveis estavam nos crculos familiares; o restante respondeu vizinhos,

    amigos ou colegas de trabalho. Em um novo questionrio aplicado, meses depois, 40 por cento dos

    respondentes disseram que as mudanas de opinio aconteceram devido a alguma conversa com

    uma pessoa especfica. Aproximadamente metade dos respondentes disse procurar pessoas com

    quem possui contato dirio para discutir suas opinies.

    A Pesquisa de Lazarsfeld e Katz mostra que possvel identificar e analisar a influncia do

    lder de opinio nas mensagens transmitidas pelos meios de comunicao massivos.

    Hoggart acredita que comunidades pequenas ou afastadas, muitas vezes, no possuem seu

    dia a dia retratado ou acontecimentos noticiados nos meios de comunicao massivos. Sobre essas

    comunidades Hoggart (1973, p.41) escreve que (...) os novos meios de comunicao que a elas se

    dirigem no tm conseguido afetar grandemente as classes proletrias, sobretudo se tivermos em

    conta a vastido e expanso desses novos meios de comunicao.

    No livro Folkcomunicao: Teoria e metodologia, Luiz Beltro aponta que a comunicao

    o problema fundamental da sociedade contempornea, devido imensa diversidade cultural, etnias,

    diferenas sociais e distncias entre os indivduos.

  • 19Para Beltro, alm dos interesses imediatos de cada grupo, existe um propsito comum:

    Adquirir conhecimento e vivncia para aperfeioar a espcie e a sociedade em que est inserida.

    Para que esse processo ocorra, a comunicao indispensvel.

    Diferente de algumas pocas da histria, em que as pessoas se reuniam para ouvir

    mensagens e tomar decises, a comunicao direta tornou-se limitada. Na sociedade

    contempornea, os instrumentos de comunicao de massa fornecem mensagens, de acordo com as

    identidades de valores do grupo para o qual esto destinados.

    Simplesmente analisar dados estatsticos no suficiente para saber os efeitos das

    mensagens transmitidas pelos veculos de comunicao massivos. Beltro acredita que, para

    otimizar o efeito das mensagens, necessrio, primeiro, saber a personalidade dos grupos

    organizados, a situao socioeconmica e cultural da sociedade como um todo, as diretrizes

    polticas e a influncia das elites dirigentes sobre o todo e o quadro psicolgico da atualidade

    universal. A anlise dos efeitos da comunicao pode levar o comunicador coletivo a alterar a forma

    de suas mensagens. Esse processo vital na comunicao coletiva e, sem ele, o rgo comunicador

    aliena-se.

    Processo de isolamento e alienao semelhante ocorre com grupos organizados da sociedade

    que no analisam os elementos da comunicao coletiva. Isso ocorre, principalmente, quando esses

    grupos atuam em uma grande extenso territorial de cultura e economia heterogneas.

    O processo de fluxo da comunicao em dois estgios foi estudado em diferentes ocasies e

    ambientes. As concluses principais foram que a influncia de outras pessoas mais efetiva do que

    a dos meios de comunicao coletiva; que os lderes de opinio e as pessoas influenciadas por eles,

    na maioria dos casos, mantm relaes estreitas; que indivduos que tm uma relao ntima

    possuem, na maioria dos casos, opinies e atitudes comuns; que deve existir um interesse suficiente

    para que a influncia passe dos mais para os menos interessados.

    Para Beltro (2004, p.77), (...) os meios convencionais de comunicao coletiva no

    funcionam para a obteno de efeitos positivos para as pretenses das elites culturais e polticas..

    Isso acontece porque suas mensagens no so assimiladas pelos grupos. Para que isso no ocorra

  • 20

    , os que controlam os meios massivos devem no apenas usar esses meios para enviar suas

    mensagens, mas, tambm, utilizar os lderes de opinio populares.

    Em seu livro Cruz das Almas, Donald Pierson aponta os encontros de grupos organizados

    dentro da comunidade, para realizar atividades cotidianas como espao em que a liderana

    comunitria surge e se fortalece.

    A liderana na comunidade se pratica nas caladas e pescarias, nas missas,procisses e outras cerimnias religiosas, no planejar e realizar festas, na formaoda opinio pblica, em especial na poltica, e por ocasio de crises pessoais,familiares ou da comunidade.14

    Beltro procura adaptar o papel do lder de opinio para a realidade brasileira, uma realidade

    formada por grupos contrastantes, um com grande desenvolvimento cultural e econmico, e outro,

    marginalizado. Cada grupo responde de maneira diferente aos apelos dos meios de comunicao

    massivos. Enquanto um grupo muda seus padres de comportamento, conforme absorve novas

    ideias e tcnicas difundidas pelos veculos jornalsticos, o outro grupo mantm seus costumes e

    hbitos, ignorando e/ou rejeitando at argumentaes lgicas.

    Para entender o processo por que as camadas menos cultas e mais pobres da sociedade se

    informam e transformam suas opinies em aes, Beltro observou que para se formar as crenas e

    decises que levam o indivduo a ao, necessria comunicao jornalstica. Ento, no caso do

    grupo que absorve com muito menos intensidade as mensagens dos meios de comunicao

    massivos, seus hbitos e costumes tradicionais soveculos jornalsticos.

    Com o objetivo de compreender esse processo de comunicao, em que alguns dos agentes

    comunicadores no fazem ideia que so jornalistas, editorialistas podem ser analfabetos e bons

    editores no tem um tosto, Beltro busca entender como se comunicavam os indgenas antes da

    chegada dos portugueses, e como o contato social modificou-se atravs dos sculos.

    A pesquisa foi feita em colees de jornais e revistas, livros e arquivos guardados em

    instituies pblicas e privadas. Beltro manteve conversas com senhores de engenho,

    14 PIERSON, 1966, p.424

  • 21

    fazendeiros, chefes polticos do interior, senhoras de quase um sculo de existncia, filhos e netos

    de escravos, pais-de-santo, gente das naes africanas e das tribos indgenas, motoristas de

    transportes rodovirios, cantadores repentistas, frades missionrios, retirantes, tenentes e capites

    reformados da polcia, entre outros.

    A questo residia em, depois da pesquisa, selecionar entre eles os agentes da comunicao popular, os catimbozeiros; estudar-lhes a linguagem, situar em sua mensagem, aparentemente distante do propsito informativo-opinativo, porque, na maior parte das vezes, destinada especificamente a preencher cios, proporcionar mero entretenimento ou fazer negcio - situar-lhe o contedo rico em significado, que produziria no ouvinte, no leitor ou no assistente o mesmo efeito da retrica jornalstica entre os receptores do outro Brasil.15

    Nos agentes comunitrios selecionados e no modo como transmitiam suas mensagens,

    Beltro observou caractersticas folclricas. Formas de expresso oriundas de antepassados

    longnquos, no tempo e espao, sobreviveram atravs da tradio oral e pelo que Beltro chama de

    (...) admirvel instinto de preservao das raas oprimidas ou desprezadas. Essas formas de

    expresso modificaram-se e sobreviveram ao contato com outra cultura. Para Beltro, essas

    manifestaes folclricas revestem-se de atualidades e no de memria.

    Beltro acredita que o povo modifica, atualiza, reinterpreta e readapta constantemente seus

    modos de agir, pensar e sentir de acordo com as transformaes da sociedade e da cultura. Meios de

    comunicao utilizados em perodos anteriores da histria, como a poesia dos jograis medievais e a

    parlenda dos mascates, evoluram para formas de utilizao mais sofisticadas e continuaram a

    veicular as mensagens populares, como as novidades trazidas pelos choferes de caminho e

    parlendas que transmitiam simbolicamente normas de conduta.

    Danas, pintura, escultura e artesanato possuem elementos folclricos, e, para Beltro, essas

    artes tambm so transmissoras da mensagem jornalstica para um grupo que no vai ao cinema e

    tem baixa escolaridade, por exemplo. Esse processo de transmisso da mensagem tem mais efeito

    nesse grupo que o jornalismo tradicional.

    15 BELTRAO, 2004, p.44

  • 22Folkcomunicao , assim, o processo de intercmbio de informaes emanifestao de opinies, ideias e atitudes da massa, por intermdio de agentes emeios ligados direta ou indiretamente ao folclore.16

    16 Ibidem, p.55