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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CINCIAS BIOLGICAS
PS-GRADUAO EM BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL
CLARISSA BRITO CARVALHO DE S
CARACTERIZAO DE LINHAGENS DE
Saccharomyces cerevisiae E Zymomonas mobilis
PARA APLICAO NA PRODUO DE BIOETANOL
RECIFE
2012
ii
CLARISSA BRITO CARVALHO DE S
CARACTERIZAO DE LINHAGENS DE
Saccharomyces cerevisiae E Zymomonas mobilis
PARA APLICAO NA PRODUO DE BIOETANOL
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-
Graduao em Biotecnologia Industrial da
Universidade Federal de Pernambuco, como
requisito parcial obteno do ttulo de Mestre
em Biotecnologia Industrial.
Orientador:
Profa. Dra. Ana Maria Souto Maior
Co-orientador:
Prof. Dr. Irapuan Oliveira Pinheiro
RECIFE
2012
iii
CLARISSA BRITO CARVALHO DE S
CARACTERIZAO DE LINHAGENS DE
Saccharomyces cerevisiae E Zymomonas mobilis
PARA APLICAO NA PRODUO DE BIOETANOL
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-
Graduao em Biotecnologia Industrial da
Universidade Federal de Pernambuco, como
requisito parcial obteno do ttulo de Mestre
em Biotecnologia Industrial.
COMISSO EXAMINADORA
__________________________________________________
Profa. Dra. Elba Pinto da Silva Bon
Departamento de Bioqumica do Instituto de Qumica/UFRJ
_________________________________________________
Profa. Dra. Ester Ribeiro Gouveia
Departamento de Antibiticos /UFPE
_________________________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Souto-Maior
Departamento de Antibiticos /UFPE
Recife, 01 de maro de 2012.
iii
Catalogao na fonte
Elaine Barroso CRB 1728
S, Clarissa Brito Carvalho de Caracterizao de linhagens de Saccharomyces cerevisae e Zymomonas mobilis para aplicao na produo de bioetanol/ Clarissa Brito Carvalho de S Recife: O Autor, 2012.
72 folhas : il., fig., tab. Orientadora: Ana Maria Souto Maior Coorientador: Irapuan Oliveira Pinheiro Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Cincias Biolgicas, Biotecnologia Industrial, 2012. Inclui bibliografia
1. Etanol 2. Fermentao 3. Cana de acar- bagao I. Souto
Maior, Ana Maria (orientadora) II. Pinheiro, Irapuan Oliveira (coorientador) III. Ttulo
547.031 CDD (22.ed.) UFPE/CCB- 2013- 034
iv
Dedico aos meus pais Luiz (in memoriam) e
Tereza. Aos meus irmos Emanoela e Emmanuel.
Ao meu namorado Filipe Melo.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus por me abenoar e guiar pelos caminhos tortuosos que percorri.
Ao meu pai Luiz, que foi responsvel pela criao do meu carter, e mesmo distante
acompanhou mais essa etapa de minha vida, estando sempre presente nos meus pensamento e
oraes, Te amo Pai, Saudades.
minha me Tereza, fonte de toda fora que precisei para concluir mais esse trabalho,
agradeo por todo afeto e amor dedicado a mim nas horas mais difceis. Te amo muito minha
mainha.
Aos meus irmos, Emanoela e Emmanuel, que apesar de vrias entrelinhas, esto sempre
presentes ajudando nas horas mais complicadas.
minha av Adalgisa pelo carinho e por todas as lies de vida passadas a mim atravs de
suaves palavras.
Aos meus tios, tias, primas e primos, em especial a Hallison por sempre me ajudar quando
precisei, pelo estmulo e incentivos em todos os momentos.
Ao meu namorado Filipe por est sempre ao meu lado, suportado a minha ausncia em vrios
momentos e por compreender todo esforo para terminar minha dissertao. Te amo.
minha amiga-irm Hamanda, por sempre me entender, escutar e mostrar os erros cometidos
sempre identificando os caminhos para no repeti-los.
s minhas amigas, Joseanna, Suelda e Tathiana, que mesmo com a distncia esto sempre
presentes na minha vida.
minha amiga Catharina, que sempre me apoiou, mesmo distante, nessa longa estrada do
inicio at a sua finalizao.
Aos meus amigos Ana, Amncio, Luanna, Ronaldo, Helena, Amanda e Andresa, pelos
incentivos nos momentos mais incertos da minha vida.
minha cunhada Izabella e a Goretti, sua me, pela fora e por sempre ajudar quando
necessrio.
minha amiga Ludhimilla Suellen, pela companhia durante todas as etapas desse desafio,
servindo pelas muitas vezes como psicloga, alm de todo incentivo e auxlio em todos os
momentos.
vi
Profa. Glcia Calazans, pela confiana a mim dedicada nos momentos inicias e tumultuados
do inicio da minha carreira e por auxiliar nos momentos tericos e estressantes da confeco
deste trabalho.
minha amiga Thas Mota, por ouvir minha lamurias e incertezas e por me incentivar a
nunca desistir.
Aos meus amigos do Laboratrio de Processos Fermentativos: Bruno, Rafael, Filipe, Wagner,
Fernando, Elza e Teresa por todo carinho.
Profa. Ana Maria Souto Maior, por orientar esta dissertao, por todo empenho, sabedoria,
compreenso e pacincia a mim dedicada nas horas mais complicadas do aprendizado
acadmico.
Ao Prof. Irapuan Oliveira Pinheiro, pela co-orientao e colaborao que foram necessrios
para a realizao deste trabalho.
Aos estagirios, Bruna, Juliana, Jessica, Vanessa e David, por ajudarem durante o
desenvolvimento deste trabalho.
s minhas amigas e companheiras de laboratrio, Solange, Mrcia e Carol, por estarem
sempre dispostas a ajudar e escutar meus dilemas.
Aos Doutorandos, Thiago e Cynthia, por repassarem conhecimentos que at um dado
momento eram desconhecidos para mim.
Aos meus coleguinhas do mestrado, Bruno, Dbora, Gabriel, Luana, Luciana e Ingrid, pelas
boas risadas e os momentos de descontrao, quando o trabalho permitia.
Ao Departamento de Antibiticos, excepcionalmente ao Laboratrio de Processos
Biotecnolgicos, pela infraestrutura fornecida para o desenvolvimento dessa dissertao.
Ao Programa de Ps-graduao em Biotecnologia Industrial e a todos que fizeram e/ou fazem
parte da coordenao deste programa.
CAPES e ao CNPq pelo suporte financeiro.
E a todas as pessoas que durante este tempo foram envolvidas, direta ou indiretamente, na
realizao deste projeto, portanto, recebam desde j a minha sincera gratido.
vii
Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no
que voc no conhece como eu mergulhei.
No se preocupe em entender, viver
ultrapassa qualquer entendimento.
Clarice Lispector, 1920 1977.
viii
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi selecionar e caracterizar microrganismos etanolognicos
eficientes e robustos para aplicao industrial. Inicialmente, foi comparada a produo de
etanol entre 10 linhagens industriais de S. cerevisiae e entre 10 linhagens de Z. mobilis,
pertencentes Coleo de Culturas de Microrganismos do Departamento de Antibiticos da
UFPE. Os experimentos foram realizados em tubos de ensaio (50 mL), em meios a base de
glicose, com e sem hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-acar. O hidrolisado foi
obtido por tratamento hidrotrmico (195 C, 16 min.) em reator descontnuo de 20 L (Regmed
AU/E-20). Por anlise estatstica, duas linhagens, uma de cada grupo (S. cerevisiae IA1238 e
Z. mobilis ZAP), foram selecionadas para caracterizao cintica em biorreator de bancada
(New Brunswick Scientific, Bioflo 110). Foram avaliados, tambm, os efeitos individuais e
sinrgicos de inibidores (furfural, HMF, cido actico, cido frmico e cido glico) sobre as
duas linhagens selecionadas. Na caracterizao cintica em biorreator, na ausncia de
hidrolisado, o rendimento de etanol de S. cerevisiae IA1238 (0,36 g g-1
) foi um pouco inferior
ao de Z. mobilis ZAP (0,42 g g
-1). No entanto, S. cerevisiae IA1238 foi capaz de fermentar na
presena do hidrolisado, embora com inibio do crescimento, enquanto Z. mobilis ZAP foi
totalmente inibida. Na anlise individual de inibidores, o cido actico e o cido frmico, em
concentraes presentes no hidrolisado, apresentaram maior poder de inibio, tanto sobre S.
cerevisiae IA1238 (53% e 26%, respectivamente) como sobre Z. mobilis ZAP (93% e 73% ,
respectivamente). Embora Z. mobilis apresente vantagem metablica em meio de glicose (i.e.
maior rendimento de etanol), S. cerevisiae se mostrou, em geral, mais robusta para aplicao
industrial. Em particular, a linhagem IA1238, utilizada atualmente em processos industriais de
primeira gerao, mostrou ser uma boa plataforma para modificaes genticas futuras, para
aplicao em processos de segunda gerao.
Palavras-chave: Fermentao; bagao de cana-de-acar; Saccharomyces cerevisiae;
Zymomonas mobilis; inibidores.
ix
ABSTRACT
The aim of this work was the selection of efficient and robust ethanologenic microorganisms
for industrial application. Ethanol production were initially compared among 10 industrial
strains of Saccharomyces cerevisiae and among 10 strains of Zymomonas mobilis, deposited
in the Microorganism Culture Collection of the Department of Antibiotics from UFPE. The
experiments were carried out in test tubes (50 mL) on glucose medium, without and with
hemicellulosic hydrolysate of sugarcane bagasse. The hydrolysate was obtained by
hydrothermal pretreatment (195 C, 16 min.) in a 20-L batch reactor (Regmed AU/E-20). By
statistical analysis, two strains, one of each group (S. cerevisiae IA1238 and Z. mobilis ZAP),
were selected for kinetic analysis in benchtop batch bioreactor (New Brunswick Scientific,
Bioflo 110). The individual and sinergic effects of inhibitors (furfural, HMF, acetic acid,
formic acid and galic acid) on the two selected strains were also evaluated. Kinetic
characterization in medium not containing hydrolysate showed a lower ethanol yield for S.
cerevisiae IA1238 (0.36 g g-1
) compared to Z. mobilis ZAP (0.42 g g
-1). However, S.
cerevisiae IA1238 was capable of fermenting in the presence of the hydrolysate, although
growth was inhibited, while Z. mobilis ZAP was totally inhibited. Individually, acetic acid and
formic acid (in concentrations found in the hydrolysate) showed higher inhibition power on
both S. cerevisiae IA1238 (53% and 26%, respectively) and Z. mobilis ZAP (93% and 73%,
respectively). Although Z. mobilis has metabolic advantage in fermenting glucose (i.e. higher
ethanol yield), S. cerevisiae showed, in general, to be more robust for industrial application.
In particular, the strain IA1238, used currently in first generation industrial processes, could
be a good platform for future genetic modifications for application in second generation
processes.
Key-words: Fermentation; sugarcane bagasse; Saccharomyces cerevisiae; Zymomonas
mobilis; inhibitors.
x
SUMRIO
RESUMO................................................................................................................................viii
ABSTRACT.............................................................................................................................ix
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................. xii
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................... xvi
NOMENCLATURA ............................................................................................................ xviii
1 INTRODUO .................................................................................................................... 1
2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 3
2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................................... 3
2.2 Objetivos Especficos .......................................................................................................... 3
3 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................................... 4
3.1 Biocombustveis .................................................................................................................. 4
3.2 Etanol de Segunda Gerao ................................................................................................. 6
3.2.1 Inibidores da fermentao ............................................................................................... 9
3.3 Fermentao Alcolica ...................................................................................................... 10
3.3.1 Saccharomyces cerevisiae ............................................................................................ 11
3.3.2 Zymomonas mobilis ...................................................................................................... 14
4 MATERIAL E MTODOS .............................................................................................. 18
4.1 Microrganismos ................................................................................................................. 18
4.2 Meios de Cultura ............................................................................................................... 19
4.2.1 Meio de conservao .................................................................................................... 19
4.2.2 Meio de preparao de inculo ..................................................................................... 20
4.2.3 Meio de fermentao .................................................................................................... 21
4.2.4 Hidrolisado hemicelulsico .......................................................................................... 22
4.3 Procedimento Experimental ............................................................................................. 24
4.3.1 Caracterizao inicial e seleo de linhagens ............................................................... 24
4.3.2 Caracterizao cintica das linhagens selecionadas ..................................................... 26
4.3.3 Caracterizao do efeito de inibidores em meio sinttico ............................................ 26
4.4 Mtodos Analticos ............................................................................................................ 28
4.4.1 Determinao de concentrao celular ......................................................................... 28
4.4.2 Determinao das concentraes de substratos, produtos e inibidores. ....................... 29
4.5 Mtodos Matemticos ....................................................................................................... 30
4.5.1 Clculo de parmetros cinticos ................................................................................... 30
xi
4.5.2 Anlise estatstica ......................................................................................................... 32
5 RESULTADOS E DISCUSSO ....................................................................................... 33
5.1 Caracterizao e Seleo das Linhagens ....................................................................... 33
5.1.1 Linhagens de S. cerevisiae ............................................................................................ 33
5.1.2 Linhagens de Z. mobilis ................................................................................................... 41
5.2 Caracterizao Cintica das Linhagens Selecionadas ................................................. 46
5.2.1 S. cerevisiae IA 1238 .................................................................................................... 46
5.2.2 Z. mobilis ZAP .............................................................................................................. 50
5.3 Efeito de Inibidores sobre os Microrganismos Selecionados ....................................... 54
5.3.1 S. cerevisiae IA 1238 .................................................................................................... 54
5.3.2 Z. mobilis ZAP .............................................................................................................. 59
6 CONCLUSO .................................................................................................................... 64
7 REFERNCIAS ................................................................................................................. 65
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 Estrutura recalcitrante dos materiais lignocelulsicos, os quais so
constitudos de celulose, hemicelulose e lignina. Fonte: Adaptado de
CANILHA et al. (2010)..................................................................... 7
Figura 3.2 Alteraes estruturais na microfibrila celulsica determinadas pelo
pr-tratamento, seguidas pela hidrlise enzimtica e fermentao.
Fonte: Adaptado de CANILHA et al. (2010).................................... 8
Figura 3.3 Via metablica de formao de produtos da fermentao de
carboidratos por S. cerevisiae (via Embden-Meyerhof). Fonte:
Modificado de WALKER (1998)......................................................... 12
Figura 3.4 Via metablica de formao de produtos da fermentao de
carboidratos por Z. mobilis (via Entner-Doudoroff). Fonte:
ERNANDES; GARCIA-CRUZ (2009)................................................ 15
Figura 4.1 Reator (REGMED AU/E-20) utilizado para a obteno do hidrolisado
hemicelulsico...................................................................................... 22
Figura 4.2 Fluxograma do tratamento hidrotrmico utilizado para a obteno do
hidrolisado hemicelulsico.................................................................... 23
Figura 4.3 Mesa incubadora rotativa (New Brunswick Scientific, C25KC),
contendo frascos Erlenmeyer de 500 mL com
inculos.................................................................................................. 25
Figura 4.4 Tubos de 50 mL (Falcon) utilizados na seleo de
linhagens.............................................................................................. 25
Figura 4.5 Biorreator de bancada instrumentado (New Brunswick Scientific,
Bioflo 110) utilizado nos experimentos de caracterizao cintica das
linhagens................................................................................................ 27
Figura 4.6 Esquema da Cmara de Neubauer e da microscopia em objetiva de
40X. Fonte: Adaptado de ALVES (2006)............................................. 29
Figura 4.7 Equipamento de cromatografia lquida de alta eficincia (Agilent,
srie 1100) utilizado para a determinao de concentraes de
substrato, produtos e inibidores........................................................... 30
Figura 5.1 Concentrao de biomassa das 10 linhagens de S. cerevisiae, em 18
horas de fermentao, em meios com e sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar....................................... 33
Figura 5.2 Concentrao de clulas viveis das 10 linhagens de S. cerevisiae, em
18 horas de fermentao, em meios com e sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar....................................... 34
xiii
Figura 5.3 Consumo de glicose das 10 linhagens de S. cerevisiae, em 18 horas
de fermentao, em meios com e sem hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar.................................................................... 36
Figura 5.4 Produo de etanol pelas 10 linhagens de S. cerevisiae, em 18 horas
de fermentao, em meios com e sem hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar................................................................. 37
Figura 5.5 Produo de cido succnico, cido actico e glicerol pelas 10
linhagens de S. cerevisiae, em 18 horas de fermentao, em meio sem
hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar.................................................................................................... 39
Figura 5.6 Produo de cido actico pelas 10 linhagens de S. cerevisiae, em 18
horas de fermentao, em meio com hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar................................................................. 39
Figura 5.7 Concentrao de biomassa formada pelas 10 linhagens de Z. mobilis,
em 18 horas de fermentao, em meio sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar....................................... 41
Figura 5.8 Consumo de glicose pelas 10 linhagens de Z. mobilis, em 18 horas de
fermentao, em meio sem hidrolisado hemicelulsico de bagao de
cana-de-acar............................................................................... 43
Figura 5.9 Produo de etanol pelas 10 linhagens de Z. mobilis, em 18 horas de
fermentao, em meio sem hidrolisado hemicelulsico de bagao de
cana-de-acar............................................................................... 43
Figura 5.10 Produo de cido actico pelas 10 linhagens de Z. mobilis, em 18
horas de fermentao, em meio sem hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar................................................................ 45
Figura 5.11 Curvas de crescimento, consumo de substrato e produo de etanol
por S. cerevisiae IA1238, durante fermentao em alta concentrao
de glicose (200 g L-1
), em meio sem hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar..................................................................... 47
Figura 5.12 Curvas de crescimento, consumo de substrato e produo de etanol e
glicerol por S. cerevisiae IA1238, durante fermentao em baixa
concentrao de glicose (50 g L-1
), em meio sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar........................................ 47
Figura 5.13 Velocidade especfica mxima de crescimento de S. cerevisiae
IA1238, em meio de glicose (200 g L-1
) sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar........................................ 48
Figura 5.14 Velocidade especfica mxima de crescimento de S. cerevisiae
IA1238, em meio de glicose (50 g L-1
) sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar...................................... 48
xiv
Figura 5.15 Curvas de crescimento, consumo de substrato e produo de etanol e
glicerol por S. cerevisiae IA1238, durante fermentao em baixa
concentrao de glicose, em meio com hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar...................................................................... 49
Figura 5.16 Variao das concentraes dos inibidores durante a fermentao de
S. cerevisiae IA1238 em baixa concentrao de glicose (50 g L-1
), em
meio com hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar.................................................................................................... 50
Figura 5.17 Curvas de crescimento, consumo de substrato e produo de etanol
por Z. mobilis ZAP, durante fermentao em alta concentrao de
glicose, em meio sem hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-
de-acar............................................................................................... 51
Figura 5.18 Curvas de crescimento, consumo de substrato e produo de etanol
por Z. mobilis ZAP, durante fermentao em baixa concentrao de
glicose, em meio sem hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-
de-acar............................................................................................... 51
Figura 5.19 Velocidade especfica mxima de crescimento, calculada na fase
exponencial da curva de crescimento, durante fermentao de glicose
por Z. mobilis ZAP, em meio sem hidrolisado hemicelulsico, com
alta concentrao de glicose (150 g L-1
)................................................ 52
Figura 5.20 Velocidade especfica mxima de crescimento, calculada na fase
exponencial da curva de crescimento, durante fermentao de glicose
por Z. mobilis ZAP, em meio sem hidrolisado hemicelulsico, com
baixa concentrao de glicose (50 g L-1
)............................................... 52
Figura 5.21 Densidade ptica e concentrao de biomassa durante fermentao
de glicose por Z. mobilis ZAP, em meio com hidrolisado
hemicelulsico, com baixa concentrao de glicose (50 g L-1
)............ 53
Figura 5.22: Variao das concentraes dos inibidores durante a fermentao de
Z. mobilis ZAP em baixa concentrao de glicose (50 g L-1
), em meio
com hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-acar............. 53
Figura 5.23: Concentrao de biomassa formada pela linhagem S. cerevisiae
IA1238 e percentual de inibio do crescimento, aps 18 horas de
fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar................................................................................................ 54
Figura 5.24:
Concentrao de clulas viveis e a viabilidade de S. cerevisiae
IA1238, aps 18 horas de fermentao em meio contendo cido
glico e inibidores identificados no hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar................................................................... 55
xv
Figura 5.25:
Consumo de glicose pela linhagem S. cerevisiae IA1238, aps 18
horas de fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar.............................................................................................. 56
Figura 5.26:
Produo de etanol pela linhagem S. cerevisiae IA1238, aps 18
horas de fermentao em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar................................................................................................. 57
Figura 5.27:
Produo de glicerol pela linhagem S. cerevisiae IA1238 aps 18
horas de fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar................................................................................................ 58
Figura 5.28:
Variao das concentraes dos inibidores, aps 18 horas de
fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar................................................................................................ 59
Figura 5.29:
Concentrao de biomassa formada pela linhagem Z. mobilis ZAP e
percentual de inibio do crescimento, aps 18 horas de fermentao
em meio contendo cido glico e inibidores identificados no
hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar................................................................................................ 60
Figura 5.30:
Consumo de glicose pela linhagem Z. mobilis ZAP, aps 18 horas de
fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar............................................................................................... 61
Figura 5.31: Produo de etanol pela linhagem Z. mobilis ZAP, aps 18 horas de
fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar.................................................................................................. 62
Figura 5.32: Variao das concentraes dos inibidores, aps 18 horas de
fermentao, em meio contendo cido glico e inibidores
identificados no hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-
acar.................................................................................................. 62
xvi
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 Balano de energia na produo de etanol, com diversas matrias-
primas. Fonte: MACEDO (2007)......................................................... 5
Tabela 4.1 Linhagens de S. cerevisiae investigadas neste trabalho.......................... 18
Tabela 4.2 Linhagens de Z. mobilis investigadas neste trabalho.............................. 19
Tabela 4.3 Composio dos meios de cultura utilizados nas etapas de ativao,
conservao e reativao das linhagens de S. cerevisiae e Z. mobilis... 20
Tabela 4.4 Composio do meio de cultura utilizado na preparao do inculo
nas linhagens de S. cerevisiae e Z. mobilis............................................ 21
Tabela 4.5 Composio do meio de fermentao (por litro de gua ou hidrolisado
hemicelulsico)....................................................................................... 21
Tabela 4.6 Composio do hidrolisado obtido e utilizado nas fermentaes.......... 23
Tabela 4.7 Concentraes dos inibidores utilizadas (isoladamente e em conjunto)
nos experimentos.................................................................................... 24
Tabela 5.1 Viabilidade celular das 10 linhagens de S. cerevisiae, em 18 horas de
fermentao, em meios sem e com hidrolisado hemicelulsico de
bagao de cana-de-acar.................................................................. 35
Tabela 5.2 Produtividade e rendimento de biomassa para as 10 linhagens de S.
cerevisiae, em 18 horas de fermentao, em meios sem e com
hidrolisado hemicelulsico de bagao de cana-de-acar..................... 36
Tabela 5.3 Produtividade e rendimento de etanol das 10 linhagens de S.
cerevisiae, em 18 horas de fermentao, em meios sem e com
hidrolisado hemicelulsico.................................................................... 38
Tabela 5.4 Rendimento de co-produtos das 10 linhagens de S. cerevisiae, em 18
horas de fermentao, em meios sem e com hidrolisado
hemicelulsico....................................................................................... 40
Tabela 5.5 Produtividade e rendimento de biomassa para as 10 linhagens de Z.
mobilis, em 18 horas de fermentao, em meio sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar........................................ 42
Tabela 5.6 Produtividade e rendimento de etanol para as 10 linhagens de Z.
mobilis, em 18 horas de fermentao, em meio sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar....................................... 44
Tabela 5.7 Rendimento de cido actico das 10 linhagens de Z. mobilis, em 18
horas de fermentao, em meio sem hidrolisado
hemicelulsico........................................................................................ 45
xvii
Tabela 5.8 Produtividade e rendimento de biomassa para a linhagem S.
cerevisiae IA1238, em meio contendo inibidores, ao final de 18 horas
de fermentao........................................................................................ 56
Tabela 5.9 Produtividade e rendimento de etanol para a linhagem S. cerevisiae
IA1238, em meio contendo inibidores, ao final de 18 horas de
fermentao........................................................................................ 57
Tabela 5.10 Produtividade e rendimento de biomassa para a linhagem Z. mobilis
ZAP, em meio contendo inibidores, ao final de 18 horas de
fermentao........................................................................................ 61
Tabela 5.11 Produtividade e rendimento de etanol para a linhagens Z. mobilis
ZAP, em meio contendo inibidores, ao final de 18 horas de
fermentao......................................................................................... 63
xviii
NOMENCLATURA
X Concentrao de biomassa (g L-1
)
S Concentrao de substrato (g L-1
)
P Concentrao de produto (g L-1
)
CP Concentrao de co-produto (g L-1
)
rX Velocidade de crescimento celular (g L-1
h-1
)
rS Velocidade de consumo de substrato (g L-1
h-1
)
rP Velocidade de formao de produto (g L-1
h-1
)
rCp Velocidade de formao de co-produto (g L-1
h-1
)
Velocidade especfica de crescimento (h-1
)
qS Velocidade especfica de consumo de substrato (g g-1
h-1
)
qP Velocidade especfica de formao de produto (g g-1
h-1
)
qCP Velocidade especfica de formao de co-produto (g g-1
h-1
)
YX/S Rendimento de biomassa em substrato (g g-1
)
YP/S Rendimento de produto em substrato (g g-1
)
YCP/S Rendimento de co-produto em substrato (g g-1
)
QX Produtividade volumtrica de biomassa (g L-1
h-1
)
QP Produtividade volumtrica de produto (g L-1
h-1
)
QCP Produtividade volumtrica de co-produto (g L-1
h-1
)
xix
Subscritos
F Final
MX Mxima
Siglas
ANOVA Analysis of variance
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
Furfural 2-furaldedo
HMF 5-Hidroximetil- 2-furaldedo
Prolcool Programa Nacional do lcool
SSF Simultaneous Saccharification and Fermentation
SHF Separate Hydrolysis and Fermentation
IA Instituto de Antibiticos
UFPE Universidade Federal de Pernambuco.
UFPEDA Coleo de Culturas de Microorganismos do Departamento de Antibiticos
da Universidade Federal de Pernambuco.
1
1 INTRODUO
Para reduzir o consumo de combustveis fsseis e a emisso de gases que provocam o
efeito estufa, rumando para uma matriz energtica mais sustentvel, faz-se necessrio a busca
por fontes de energia alternativas e renovveis. Entre as vrias possibilidades existentes,
pode-se citar a utilizao de etanol, um combustvel produzido principalmente a partir de
fontes renovveis, por meio da converso de acares presentes em diversas culturas, como,
por exemplo, cana-de-acar, beterraba e milho.
No Brasil, o etanol produzido oriundo de processo fermentativo do caldo da cana-de-
acar ou melao, sendo denominado de etanol de primeira gerao. Apesar de estar bem
estabelecido, o aumento da eficincia deste processo permanece como um aprendizado
constante, e novos desafios se apresentam para a utilizao do bagao como matria-prima em
processo de segunda gerao (etanol celulsico). Em particular, ainda deve-se dedicar ateno
seleo e ao melhoramento dos microrganismos responsveis pela fermentao, no que diz
respeito tolerncia s condies de estresse industrial.
A fermentao alcolica um processo que pode ser realizado por leveduras e bactrias.
A levedura da espcie Saccharomyces cerevisiae o microrganismo mais utilizado na
produo de etanol de primeira gerao, por ser bem adaptado s condies industriais e
produzir etanol com alto rendimento. Este microrganismo pode fermentar algumas fontes de
carbono como, por exemplo, glicose, frutose, maltose e sacarose. A principal desvantagem da
utilizao de S. cerevisiae para processos de segunda gerao a sua incapacidade de
metabolizar as pentoses presentes na hemicelulose (WALKER, 1998). A bactria Gram-
negativa Zymomonas mobilis uma alternativa considerada promissora para a produo de
etanol a partir de glicose, no entanto, como S. cerevisiae, este microrganismo possui limitao
para utilizao em processo de segunda gerao, pois metabolizam apenas glicose, frutose e
sacarose (SWINGS, DE LEY, 1977; VIIKARI, 1986).
A primeira etapa para a produo do etanol de segunda gerao o pr-tratamento, cuja
funo remover barreiras estruturais e composicionais dos materiais lignocelulsicos,
promovendo uma melhora na percentagem de hidrlise e aumento dos rendimentos de
acares fermentescveis a partir da celulose e hemicelulose (MOSIER et al., 2005). Porm,
durante esse processo h a formao de compostos inibitrios, que podem tornar-se um
entrave ao processo fermentativo. Na tentativa de evitar este obstculo, faz-se necessrio o
desenvolvimento de processos para reduzir a produo desses compostos inibitrios, atravs
2
de pr-tratamento adequado da matria-prima, e a seleo de linhagens de microrganismos
tolerantes aos inibidores presentes nos hidrolisados.
A Coleo de Cultura de Microrganismo do Departamento de Antibiticos da UFPE
(UFPEDA) possui um grande acervo de linhagens industriais de S. cerevisiae, obtidas, em sua
maioria, de destilarias da Regio Nordeste do Brasil. A seleo de uma linhagem, com
tolerncia ao estresse industrial tradicional e a inibidores presentes em hidrolisados de
biomassa de cana-de-acar, poder ter aplicao nas destilarias de lcool j implantadas no
pas, onde hidrolisados sejam utilizados em misturas com melao, dentro da tecnologia atual
de fermentao de hexoses, ou servir como plataforma para futuras modificaes genticas.
Por outro lado, um grande nmero de linhagens de Z. mobilis, muitas isoladas e modificadas
geneticamente por pesquisadores do Departamento, esto tambm conservadas nesta coleo.
Embora este microrganismo etanolognico ainda no esteja vinculado indstria, , tambm,
importante a investigao sobre a sua potencialidade para aplicao em processos de segunda
gerao.
3
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Investigar o potencial de linhagens de Saccharomyces cerevisiae e Zymomonas mobilis,
pertencentes Coleo UFPEDA, para aplicao na produo de etanol de segunda gerao.
2.2 Objetivos Especficos
Selecionar a linhagem mais eficiente e robusta, entre linhagens de S. cerevisiae e entre
linhagens de Z. mobilis, em meio a base de glicose, com e sem hidrolisado
hemicelulsico de bagao de cana-de-acar.
Determinar e comparar os parmetros cinticos das linhagens selecionadas, de S.
cerevisiae e de Z. mobilis, em biorreator instrumentado.
Investigar os efeitos individuais e sinrgico de compostos inibitrios, identificados no
hidrolisado, sobre as linhagens selecionadas.
4
3 REVISO BIBLIOGRFICA
3.1 Biocombustveis
Renovveis, os biocombustveis so fontes alternativas de energia que competem
diretamente com os combustveis derivados do petrleo, sendo considerados ambientalmente
corretos, pois durante o desenvolvimento da planta h a utilizao o dixido de carbono
produzido durante sua combusto, neutralizando emisses de CO2 para a atmosfera
(BRANCO; MURGEL, 2000).
At os anos 70, o consumo dos combustveis fsseis, considerados inesgotveis para
essa poca, atingiu altos nveis, porm a sociedade desconhecia os impactos ambientais
causados pelo uso desordenado. No entanto, no incio dos anos 80, com o surgimento de
alguns estudos, a sociedade ficou ciente das limitaes quanto ao consumo de combustveis
fsseis e dos impactos ambientais derivado do seu uso, gerando, assim, uma tendncia a
reduo do consumo e uma possvel diminuio da contaminao ambiental (ROSEN, 2002;
CABRERA et al., 2000).
A emisso de gases txicos, provenientes da reao de combusto, considerada um
dos principais responsveis pelo aquecimento global e pela intensificao do efeito estufa
(ROSEN, 2002). Harder et al. (2011) e Szwarc (2011) relatam a importncia da utilizao de
biocombustveis em substituio aos combustveis fsseis, obtendo-se, assim, efeitos
positivos na diminuio da emisso desses gases. A participao dos biocombustveis na
matriz energtica global torna-se cada vez mais relevante, alm da sua facilidade de obteno,
muitas vezes provenientes de conjunto de produtos e resduos da agricultura, das florestas e de
indstrias relacionadas, tendo como exemplos a madeira, o carvo de madeira, o lcool
combustvel e o biodiesel (HAHN-HGERDAL et al., 2006; BNDES/CGEE, 2008). No
Brasil, atualmente, dois combustveis, o etanol e o biodiesel, vm sendo alvo de polticas para
o setor energtico, sendo que o etanol apresenta um melhor balano energtico, que significa
uma alta relao entre a energia renovvel produzida em comparao energia fssil utilizada
na sua produo (URQUIAGA; ALVES; BOODEY, 2005).
O investimento em novos estudos para utilizao da cana-de-acar para a produo do
etanol deu-se aps a crise do petrleo em 1973, iniciando-se, assim, na dcada de 1970, o
Programa Nacional do lcool (PROLCOOL). O PROLCOOL permitiu a implementao
no Brasil de bioenergia em larga escala, atravs do investimento em tecnologia capaz de gerar
5
motores que se adequassem ao novo combustvel. Esse programa caracterizou-se por
desenvolver um combustvel que colabora com a reduo da poluio ambiental
(ERNANDES; GARCIA-CRUZ, 2009). Apesar dos gargalos e do declnio do PROLCOOL
no final da dcada de 80, o incentivo de sua produo, durante o auge do programa, geraram
muitos estudos e avanos na rea da produo do etanol, tanto no sentido de aumentar a
quantidade como melhorar a qualidade do lcool produzido no pas. Mesmo com o grande
desenvolvimento cientfico alcanado na produo de etanol no Brasil, ainda existem
possibilidades de melhoramentos no processo para garantir a competitividade em relao ao
combustvel de origem fssil (GOLDENBERG, 2007; AMORIM et al., 2011).
O recente retorno aos aumentos no preo do petrleo, as perspectivas de esgotamento
das reservas e os compromissos firmados com a questo ambiental, provenientes do Protocolo
de Kyoto, fizeram renascer a ateno mundial s novas pesquisas para gerao de fontes
alternativas de energia, como o etanol, que passou a constar de forma definitiva nos mercados,
graas aos novos veculos bicombustveis (BASTOS, 2007; KIM et al., 2010). O etanol hoje
uma fonte de energia alternativa de uso corrente, podendo ser obtido mediante a fermentao
de mostos aucarados e de hidrolisados de amido (ANDRIETTA; STECKELBERG;
ANDRIETTA, 2007).
No Brasil, o etanol produzido a partir de caldo de cana-de-acar, que, dentre as vrias
matrias-primas utilizadas para a sua produo, possui o maior balano energtico
(MACEDO, 2007) (Tabela 3.1).
Tabela 3.1: Balano de energia na produo de etanol, com diversas matrias-primas.
Fonte: MACEDO (2007).
Matria-prima Energia renovvel/Energia fssil usada
Etanol de milho (USA) 1,3
Etanol de cana-de-acar (Brasil) 8,9
Etanol de beterraba 2,0
Etanol de sorgo sacarino (frica) 4,0
Etanol de trigo (Europa) 2,0
Etanol de mandioca 1,0
A cana-de-acar (Saccharum spp.) um dos principais produtos agrcolas do Brasil,
cultivada desde a poca da colonizao. uma gramnea semiperene com parte area da
planta composta pelos colmos, nos quais se concentra a sacarose, e pelas pontas e folhas, que
6
constituem a palha da cana. Absorvem o dixido de carbono em molculas de 4 carbonos, que
ficam armazenadas em vacolos para serem utilizadas durante o dia (ciclo fotossinttico do
tipo C4). Todos esses componentes somados totalizam cerca de 35 toneladas de matria seca
por hectare. A cana-de-acar constitui um potencial reservatrio de energia e a grande
vantagem disso que ela completamente renovvel (ANDREOLI, 2008)
O grande impasse na utilizao da cana-de-acar para a produo de etanol seria a
concorrncia com os alimentos, porm esse argumento no se sustenta atualmente, pois 50%
do caldo extrado da cana de acar revertido para a produo de acar. Outro ponto que
instabiliza esse argumento que a produo de etanol no mundo, cerca de 50 bilhes de litros
por ano, utiliza 15 milhes de hectares de rea, ou seja, 1% da rea em uso pela agricultura no
mundo, equivalendo a 1,5 bilhes de hectares. No Brasil, 6 milhes de hectares so utilizados
para a produo da cana-de-acar, sendo cerca de 90% do total na principal regio produtora
do Pas, a Centro-Sul, e 10% no Nordeste, produzindo 569 milhes de toneladas e obtendo
uma produtividade de 72 (toneladas por hectare), dados da safra 2008/2009 (BASTOS, 2007;
BNDES/CGEE, 2008; KIM et al., 2010; CARDONA; QUINTERO; PAZ, 2010; UNICA,
2011).
3.2 Etanol de Segunda Gerao
Atualmente, o Brasil produz 25 bilhes de litros de etanol por ano a partir da cana-de-
acar. O plantio dessa matria-prima, realizado em terras arveis de boa qualidade, dever
ser expandido devido crescente demanda nacional e internacional de lcool (CONAB,
2012). Uma alternativa para evitar a expanso desmedida de reas de cultivo, devido
necessidade de um aumento significativo na produo de etanol, o desenvolvimento de
processos de segunda gerao, que permitam a utilizao de biomassas residuais de
composio lignocelulsica. Estas biomassas esto disponveis nos resduos de colheita, ou do
processamento das principais culturas, como a cana-de-acar, milho e trigo. Dentre estas
biomassas, os resduos celulsicos provenientes da produo de etanol uma das fontes mais
promissoras de carboidratos para a produo de etanol de segunda gerao (PEREIRA Jr.;
COUTO; SANTA ANNA, 2008; BENEDETTI et al., 2009).
O Brasil, nos ltimos anos, vem investindo em projeto de aproveitamento de resduos
provenientes da produo de lcool da cana-de-acar, na expectativa de que, futuramente, o
lcool lignocelulsico possa ser produzido em escala comercial e a custos competitivos ao do
7
etanol de primeira gerao, possibilitando, assim, um aumento substancial na produtividade
(PEREIRA Jr. COUTO; SANTA ANNA, 2008; HARDER et al., 2011).
A CONAB (2012) estima para a safra de 2010/2011 uma produo de 625 milhes de
toneladas de cana-de-acar e 168,8 milhes de toneladas de bagao, sendo que, para cada
tonelada de cana, obtm-se em torno de 140 kg de bagao seco, composto basicamente por
celulose, hemicelulose e lignina, na proporo aproximada de 40 a 50%, 20 a 30% e 25 a
30%, respectivamente, alm de outros componentes em menores quantidades (APTA, 2011).
Os compostos presentes na parede celular das clulas vegetais so responsveis pela
sustentao e proteo da planta. Essa matriz altamente ordenada e dinmica, podendo
tornar-se mais rgida ou mais frouxa conforme as necessidades ontognicas e
comportamentais da clula ou da planta. A estrutura da parede celular formada por fibras de
celulose que so cobertas pela hemicelulose, formando, assim, o chamado domnio celulose-
hemicelulose, sendo este unido por outro componente da parede celular, a lignina (Figura 3.1)
(BUCKERIDGE, 2010).
Figura 3.1: Estrutura recalcitrante dos materiais lignocelulsicos, os quais so constitudos
de celulose, hemicelulose e lignina. Fonte: Adaptado de CANILHA et al. (2010).
8
Toda essa barreira dificulta a disponibilidade da glicose presente na celulose da parede
celular, sendo necessrias quatro etapas para produo de etanol lignocelulsico: pr-
tratamento da biomassa, hidrlise enzimtica da celulose; fermentao dos acares liberados
e recuperao do etanol (HAHN-HGERDAL et al., 2006).
O pr-tratamento pode ser fsico, qumico, biolgico ou a combinao desses (SUN;
CHENG, 2002). As tcnicas de pr-tratamento dos materiais lignocelulsicos, consideradas
mais promissoras no processo de obteno de etanol a partir da biomassa, so a de exploso a
vapor, a hidrotrmica e de utilizao de cido diludo. No entanto, a escolha das condies de
pr-tratamento depender de uma avaliao global do processo, rendimento e manuteno da
integridade dos insumos de interesse (GALBE; ZACHI, 2002; MOSIER et al., 2005;
SNCHEZ; CARDONA, 2008).
As prximas etapas para a obteno de etanol, aps o pr-tratamento, so a hidrlise
enzimtica e a fermentao, que podem ocorrer em separado (SHF - Separate Hydrolysis and
Fermentation) ou simultaneamente (SSF - Simultaneous Saccharification and Fermentation)
(Figura 3.2).
Figura 3.2: Alteraes estruturais na microfibrila celulsica determinadas pelo pr-
tratamento, seguidas pela hidrlise enzimtica e fermentao. Fonte: Adaptado de CANILHA
et al. (2010).
A hidrlise enzimtica consiste no uso de enzimas capazes de converter o polmero de
celulose, presente na frao celulsica, em unidades fermentveis de glicose. Esse processo
realizado por celulases (endoglucanase e exoglucanase), que quebram a celulose em
celobiose, que, por fim, so convertidas em duas molculas de glicose pela -glucosidase.
Esse processo apresenta especificidade da reao, ausncia de reaes secundrias, ausncia
de formao de produtos secundrios (inibidores da fermentao alcolica) e reao em
condies que no requerem altas presses e temperaturas, ou ambientes corrosivos para os
equipamentos (BASTOS, 2007).
9
No processo SHF, o xarope obtido, aps a hidrlise da celulose, usado para a
fermentao etanlica, utilizando-se culturas de microrganismos que convertem hexoses em
etanol (RABELO et al., 2011). No processo SSF, a hidrlise enzimtica e a fermentao,
ocorrem em uma mesma etapa, para se evitar, assim, a inibio da celulase pela glicose
resultante da hidrlise (PALMQVIST; HAHN-HGERDAL, 2000).
3.2.1 Inibidores da fermentao
Uma consequncia da utilizao de altas temperaturas, empregadas em muitos pr-
tratamentos, a formao de inibidores originados dos acares, principalmente da
hemicelulose: furfural, formado a partir da degradao das pentoses (xilose e arabinose); 5-
hidroximetilfurfural (HMF), formado como conseqncia da degradao das hexoses (glicose,
manose e galactose); cido frmico, proveniente da degradao do HMF; compostos
fenlicos, gerados a partir da degradao da lignina; e cido actico, formado pela
desacetilao da hemicelulose. Esses compostos, quando presentes entre os componentes do
meio de cultura, podem danificar a parede dos microrganismos, reduzir a absoro de
aminocidos aromticos do meio, inibir enzimas (lcool desidrogenase, piruvato
desidrogenase e aldedo desidrogenase), bem como prolongar a fase lag de crescimento
(MUSSATO; SANTOS; ROBERTO, 2004; ALMEIDA et al., 2007; CHENG et al., 2008;
ALPER; STEPHANOPOULOS, 2009; YANG et al., 2010).
Os compostos produzidos no pr-tratamento da biomassa podem ser divididos nas
classes dos cidos carboxilicos, furanos e dos fenis (MCMILLAN, 1994). Os inibidores
formados nesse processo, que apresentam baixo peso molecular, so capazes de penetrar na
membrana celular, enquanto que os de elevado peso molecular no penetram na clula, porm
influenciam na atividade de molculas transportadoras na membrana da clula. Os
mecanismos de cidos fracos, furanos e fenis na inibio do crescimento e produo de
etanol foram avaliadores por Palmqvist e Hahn-Hgerdal (2000).
Linhagens de S. cerevisiae reagem inibio do furfural, em condies de anaerobiose,
reduzindo este composto a lcool fufurlico, sendo essa reao catalisada pela lcool
desidrogenase, enzima dependente de NADH. A produo desse co-fator nessa reao faz
com que haja uma menor produo de glicerol, j que a produo desse composto tambm
libera um NADH que ser utilizado na via metabolica desse microrganismo (PALMQVIST E
HAHN-HGERDAL, 2000 ; PALMQVIST et al., 1999).
10
Estudos tecnolgicos, na rea de fermentao, buscam o desenvolvimento de
microrganismos robustos, alm dos j conhecidos atualmente, que consigam produzir etanol a
partir dessa biomassa residual com maior eficincia, sendo tambm resistentes aos inibidores
industriais mais relevantes (ALMEIDA et al., 2007; ALMEIDA et al., 2009 PURWADI;
BRANDBERG; TAHERZADEH, 2007).
Na pesquisa de desenvolvimento de novos microrganismos para utilizao em processo
de segunda gerao, so utilizadas tcnicas de mutao e seleo, engenharia metablica e
engenharia evolutiva para introduo de vias de assimilao de substratos, como a xilose e a
arabinose; vias eficientes de produo de etanol e mecanismos de resistncia a inibidores
originados do pr-tratamento do bagao (ALMEIDA et al., 2009).
S. cerevisiae e Z. mobilis so microrganismos etanolognicos e, portanto, candidatos
naturais para desenvolvimento e utilizao na produo de etanol. (DELGENES; MOLETTA
NAVARRO, 1996; LAU et al., 2010).
3.3 Fermentao Alcolica
Os microrganismos utilizados na fermentao so responsveis pelas caractersticas do
processo de obteno do etanol. Nesse processo, h algumas caractersticas particulares
importantes: alta converso por unidade de substrato assimilado, alta capacidade de
fermentao, termotolerncia, estabilidade e tolerncia a altas concentraes de etanol e de
substrato e a baixos valores de pH. Algumas leveduras e bactrias so capazes de produzir
etanol, entre as quais se destacam as leveduras Saccharomyces cerevisiae, S. uvarum
(carlsbergenis), Schizosaccharomyces pombe e Kluyveromyces e as bactrias Zymomonas
mobilis, Clostridium sporogenes e Thermoanaerobacter athanolicus (JONES; PAMMENT;
GREENFIELD, 1981; KOSARIC; VARDAR-SUKAN, 2001).
Dentre as diversas opes citadas, S. cerevisiae o microrganismo utilizado em nvel
industrial, pelas elevadas produtividade, eficincia de fermentao e resistncia ao estresse
industrial. Nas ltimas trs dcadas, pesquisadores tm discutido a possibilidade da
substituio da clssica levedura S. cerevisiae pela bactria Z. mobilis, por apresentar um
maior direcionamento de carbono para a produo de etanol, podendo fermentar glicose duas
vezes mais rpido do que a levedura (BAI; ANDERSON; MOO-YOUNG, 2008).
11
3.3.1 Saccharomyces cerevisiae
S. cerevisiae um fungo predominantemente unicelular de rpido crescimento e de fcil
manipulao gentica. Suas clulas podem ser esfricas, ovais ou elpticas, podendo ainda
apresentar-se bastante alargadas. Suas dimenses variam consideravelmente em funo da
linhagem, nutrio, tempo de brotamento, entre outros fatores. Reproduzem-se sexuada e
assexuadamente por brotamento, fisso ou cissiparidade, ou combinao desses dois
mecanismos (BARNETT, 1992; TORTORA; FUNKE; CASE, 2002).
S. cerevisiae capaz de crescer at uma temperatura mxima que se encontra na faixa
de 35-43C (WALKER, 1998). No que diz respeito ao pH, o melhor valor encontra-se entre
4,5-6,5. Quanto concentrao de etanol, as clulas simplesmente se adaptam s mudanas de
concentrao deste composto no sistema, sendo tambm instigadas a desenvolver uma
termotolerncia gradativa ao aumento da temperatura (PLESSET; PALM; McLAUGHLIN,
1982). Na indstria, as clulas de leveduras so expostas a estresses diversos, tais como alta
temperatura, alto teor de etanol, baixo pH e compostos inibidores presente no caldo de cana
ou melao, como os cidos orgnicos e os compostos fenlicos (TOSETTO, 2003). Na
produo de etanol a partir de biomassa lignocelulsica, a formao de substncias inibidoras,
durante a etapa de pr-tratamento da biomassa, uma fonte adicional de estresse (LIN;
TANAKA, 2006).
Os acares assimilados por este microrganismo incluem a glicose, frutose, sacarose,
manose, galactose e maltose. O processo catablico da glicose em S. cerevisiae ocorre pela
via Embden-Meyerhof, que tem a funo de decompor a molcula de glicose at cido
pirvico, atravs de uma srie de reaes catalisadas por enzimas especficas, situadas na
parede celular e no interior da clula (Figura 3.3).
12
Figura 3.3: Via metablica de formao de produtos da fermentao de carboidratos por S.
cerevisiae (via Embden-Meyerhof). Fonte: Modificado de WALKER (1998).
Na presena de oxignio, o cido pirvico destinado, principalmente, ao Ciclo de
Krebs, onde oxidado a dixido de carbono e gua. Porm, na ausncia de oxignio, S.
cerevisiae destina a fonte de carbono para produzir etanol e dixido de carbono, sendo estes
compostos equivalentes a 95% dos produtos formados a partir da degradao dos acares. Os
outros 5% so desviados para a formao de glicerol, cidos orgnicos (como cido succnico,
actico e pirvico), alcois superiores e acetaldedo, entre outros (WALKER, 1998; LIMA et
al., 2001;TOSSETO, 2002).
As linhagens de S. cerevisiae utilizadas em processos industriais possuem, como
principais caractersticas, a elevada produtividade e a eficincia de fermentao, a tolerncia
13
ao etanol e temperatura, a resistncia s altas concentraes de acares. A nova
preocupao tem sido o desenvolvimento de linhagens capazes de assimilar, alm das hexoses
(glicose, manose e galactose), as pentoses (xilose e arabinose) presentes em hidrolisados
lignocelulsicos, na presena de compostos inibitrios, como furfural, HMF, cido actico,
cido frmico e derivados fenlicos (ALMEIDA et al., 2007; HAHN-HGERDAL et al.,
2007a,b).
O furanos e fenis so compostos aromticos que podem inibir o crescimento e reduzir
a produtividade de etanol, porm no alteram os rendimentos de etanol em linhagens de S.
cerevisiae e Z. mobilis (KLINKE; THOMSEN; AHRING, 2004). O desempenho das
linhagens, em presena destes compostos, depende da composio do hidrolisado, uma vez
que as concentraes dos inibidores iro variar de acordo com a matria-prima e condies de
pr-tratamento utilizados (ALMEIDA et al, 2007; GALBE; ZACCHI, 2007; HEER; SAUER,
2008).
Modig, Liden e Taherzadeh (2002) avaliaram a tolerncia de linhagem de S. cerevisiae
a inibidores, relatando que a inibio por furfural e por HFM , na concentrao de 1,0 g L-1
,
acarretou em uma disfuno no crescimento de 90%, no caso do furfural, e 50% pelo HMF.
Ainda neste trabalho, foi discutido que, durante o crescimento aerbio e anaerbio, a
capacidade de S. cerevisiae em tolerar furfural parece estar diretamente acoplada capacidade
de converter furfural para compostos menos inibitrios como o lcool furfurlico. Misturas
artificiais de inibidores tambm foram testadas para analisar o poder inibitrio de cada
composto (MARTIN; JONSSON, 2003). Ding et al. (2011) investigaram os efeitos,
individual e sinrgico, do furfural, fenol e do cido actico em S. cerevisiae, nas
concentraes 1,3 g L-1
, 0,5 g L-1
e 5,3 g L-1
, respectivamente. Observou-se, nesse trabalho,
que os trs inibidores exibem efeito sinrgico significante sobre o crescimento, fermentao e
alguns metablitos da levedura. Na anlise individual, o cido actico apresentou efeitos mais
graves sobre a levedura.
Almeida et al. (2009) realizou uma seleo entre 12 linhagens de S. cerevisiae, em
diferentes hidrolisados (pinheiro Scrupe, palha do trigo e da cevada), observando uma
inibio de crescimentos em todos os casos, sendo o hidrolisado do pinheiro o que apresentou
as maiores concentraes dos inibidores (cido actico 6,2 g L-1
; HMF 3,6 g L-1
; furfural 2,1 g
L-1
) e a maior inibio no crescimento das linhagens.
Tofighi (2010) testou a tolerncia de S. cerevisiae Lalvin EC1118, uma linhagem
industrial, em meios com altas concentraes de furfural, e demonstrou que, na menor
14
concentrao utilizada (4,0 g L-1
), o microrganismo j apresentou uma reduo significativa
no crescimento e na produo de etanol.
3.3.2 Zymomonas mobilis
Z. mobilis uma bactria Gram-negativa, que apresenta-se em forma de bastonete com
terminaes arredondas, ocasionalmente elipsoidais, formando pares ou no, com
comprimento de 2 a 6 m e dimetro de 1 a 1,4 m (SWINGS; DE LEY, 1977). No so
esporulantes e se reproduzem, na maioria dos casos, por diviso binria simples. A posio
taxonmica de Zymomonas no foi totalmente estabelecida, devido a incertezas sobre o
metabolismo aerbio ou anaerbio destas bactrias. Porm, Swing e De Ley (1977), ao
estudarem caractersticas fenotpicas de 38 linhagens de Z. mobilis, observou que no havia
diferena significativa entre elas, sendo estas geneticamente estveis (DOELLE et al, 1993;
ALTERTHUM, 2001).
Segundo Swings e De Ley (1977), a faixa de pH que as linhagens de Z. mobilis so
capazes de crescer entre 3,85 a 7,55. Gunasekarn, Karunakaran e Kasthuriban (1986),
realizaram anlises em diferentes linhagens de Z. mobilis, provenientes de colees de
culturas mundiais, e confirmaram que rendimento da fermentao foi mxima em pH 7,0, mas
baixa em pH 4,0. A melhor temperatura para Z. mobilis encontra-se entre 25C e 35C; em
temperaturas mais altas, acima de 38, o crescimento do microrganismo diminui cerca de
26%, e, em temperaturas prximas de 40C, o crescimento mnino, dificultando ou inibindo
a produo de etanol.
Esta bactria tolera concentraes de etanol na faixa de 7,7 a 10% e de glicose entre 15
a 25% (v/v) (GONALVES DE LIMA et al., 1972; SWINGS; DE LEY, 1977; MICHEL;
STARKA, 1986). Calazans, Rios e Falco de Morais (1990) estudaram a produo de etanol
de uma linhagem de Z. mobilis (ZAP), utilizando diferentes concentraes de glicose,
relatando o aumento da durao da fase lag e a diminuio do rendimento em etanol com a
utilizao de concentraes acima de 15,6% de glicose.
Em aerobiose, esse microrganismo reduz seu crescimento entre 25 a 40%, alm de
produzirem quantidade considerveis de acetaldedo e cido actico. Em sistemas onde h a
adio de nitrognio para efetivar a anaerobiose, ocorre uma reduo das taxas de crescimento
e rendimento. Quando h a adio direta de CO2, h uma inibio das taxas metablicas.
(BRINGER; FINN; SAHM, 1984; VORE; TALBURT, 1993).
15
Z. mobilis uma bactria obrigatoriamente fermentativa, que produz etanol a partir de
uma fonte de carbono pela via Entner-Doudoroff, comumente utilizada por organismos
estritamente aerbios (Figura 3.4) (SWINGS; DE LEY, 1977).
Figura 3.4: Via metablica de formao de produtos da fermentao de carboidratos por Z.
mobilis (via Entner-Doudoroff). Fonte: ERNANDES; GARCIA-CRUZ (2009).
Os acares utilizados para a obteno de energia so a sacarose, a frutose e a glicose.
Na metabolizao de 1 mol de glicose, gera aproximadamente 1,8 moles de etanol, 1,2 moles
de CO2, 0,15 moles de cido actico e pequenas quantidades de outros subprodutos, como
16
lactato e acetaldedo. A metabolizao da sacarose produz, como principais subprodutos, a
levana (CALAZANS et al., 1989; KANG et al., 2006) e o sorbitol (SHENE; BRAVO, 2001;
CAZETTA et al., 2005; BARROS; CELLIGOI, 2006; VIGNOLI et al., 2006), reduzindo
assim, significativamente, a produo de etanol. Outros subprodutos so frutooligossacardeos
(BEKERS et al., 1993), glutamato, cido actico, acetaldedo (COTON et al., 2005) e cido
glicnico (SILVEIRA et al., 1999). Linhagens recombinantes foram desenvolvidas para
ampliar o alcance de degradao de substratos, permitindo assim a fermentao de pentoses,
como a xilose e arabinose (ZHANG et al., 1995; DEANDA et al., 1996; MOHAGHEGHI et
al.,, 2002; SEO et al., 2005; YANG et al., 2009).
No Brasil, a pesquisa com Z. mobilis foi iniciada pelo cientista Gonalves de Lima em
1952, quando trouxe do Mxico a linhagem Ag11 e a depositou na Coleo UFPEDA.
Posteriormente, em 1970, o pesquisador isolou linhagens de amostras de caldo de cana-de-
acar ligeiramente degradado, nomeando-as de CP1, CP2, CP3 e CP4. Essas culturas foram
consideradas distintas at 1982, quando Dally e colaboradores analisaram o perfil plasmidial
destas linhagens e observaram a analogia entre elas. Por isso, todas as linhagens so hoje
igualmente denominadas por CP4. Atualmente, esto catalogadas na Coleo UFPEDA 24
linhagens de Z. mobilis, sendo 19 destas consideradas distintas, por estudos do perfil
plasmidial e anlises cromossmica. (FALCO DE MORAIS et al., 1993).
A linhagem CP4 (UFPEDA -202) possui muitas variantes, dentre elas a ZM4 (ATCC
31821), cuja diferena de um plasmdio, em relao linhagem de origem. A ZM4 foi a
primeira linhagem desta espcie a ter seu genoma sequenciado (ROGERS et al., 1982;
JOACHIMSTHAL et al., 2000; LAWFORD et al., 2001; SEO et al., 2005).
Z. mobilis considerada uma alternativa para a produo de etanol em larga escala, com
algumas vantagens em relao a S. cerevisiae, que inclui um melhor rendimento na converso
de acares a etanol, devido utilizao da via Entner-Doudoroff (BEAVEN et al., 1989).
Segundo Ernandes e Garcia-Cruz (2009), vrios pases realizam estudos com o intuito de
substituir a utilizao de leveduras por bactrias para reduzir o tempo de fermentao
alcolica. Porm, Z. mobilis possui entraves quanto ao substrato utilizado, pois esses
microrganismos, em presena de sacarose, sintetizam outros produtos secundrios como
levana e sorbitol, diminuindo, assim, o rendimento fermentativo. Programas de melhoramento
vm sendo desenvolvidos para a obteno de linhagens mais tolerantes ao etanol e capazes de
fermentar carboidratos lignocelulsicos (JOACHIMSTHAL et al., 1998).
A viabilidade de utilizao de Z. mobilis para a produo de etanol a partir de fontes
ricas em material lignocelulsicos, como resduos agrcolas, vem sendo muito pesquisada e
17
relatada (ROGERS; JOACHIMSTHAL; HAGGETT, 1997; RUANGLEK;
MANEEWATTHANA; TRIPETCHKUL, 2006; MOHAGHEGHI; SCHELL, 2009;
ROGERS et al., 2007). O problema em utilizar este tipo de substrato encontra-se no fato da
toxicidade natural dos hidrolisados de lignocelulose resultar em altos custos de processo de
desintoxicao do meio reacional (ADEN; FOUST, 2009).
Gutierrez-Padilla e Karim (2005) investigaram o furfural, em concentraes baixas e
elevadas, como inibidor do crescimento e produo de etanol em linhagem recombinante de
Z. mobilis CP4 (pZB5), tendo como resultado uma diminuio de 30 e 60% (w/v) na
produo de biomassa e de 19 e 76% (v/v) na produo de etanol, respectivamente. Yang et
al. (2010) avaliaram a ao de inibidores (acetato, vanilina, furfural e HMF) em Z. mobilis
ZM4. Os resultados mostraram que todos os inibidores testados tm efeito negativo na
linhagem, sendo a vanilina o maior efeito inibitrio, seguido do furfural e HMF.
18
4 MATERIAL E MTODOS
4.1 Microrganismos
Foram utilizadas linhagens de leveduras industriais da espcie Saccharomyces
cerevisiae e linhagens de bactrias da espcie Zymomonas mobilis, pertencentes Coleo de
Microrganismos do Departamento de Antibiticos da Universidade Federal de Pernambuco -
UFPEDA (Tabelas 4.1-4.2).
Todas as linhagens de S. cerevisiae utilizadas foram isoladas de destilarias da regio
Nordeste do Brasil, sendo estas registradas na coleo da UFPEDA pelo nome da destilaria de
onde foram isoladas. A origem das linhagens de Z. mobilis encontram-se descritas na tabela
4.2.
Tabela 4.1: Linhagens de S. cerevisiae investigadas neste
trabalho.
N UFPEDA Nome Registrado
1238 IA
1255 IA
1325 MONTE ALEGRE
1326 AGRISA (R)
1327 FERMENTO INEXPORT (R)
1329 OTA-PEMEL
1331 FERMENTO INEXPORT (S)
1333 AGRISA (S)
1337 JP-1
- MARITUBA
19
Tabela 4.2: Linhagens de Z. mobilis investigadas neste trabalho.
N UFPEDA Nome Registrado Origem
202 CP4 Caldo de cana fermentado (Recife/PE)
203 Z1-80 Caldo de cana e melao da Usina
Massauassu (Escada/PE)
205 ZAP gua residual aucarada (Refinaria de
acar/PE)
238 ZAG4 Recombinante (AG11+ZAP)
241 ZAG12 Recombinante (AG11+ZAP)
354 Z1-86 B Caldo de cana e melao da Usina
Maravilhas (Goiana/PE)
356 Z1-88 Caldo de cana e melao da Usina
Laranjeira (Vicncia/PE)
362 Z1-97 Caldo de cana da Destilaria PEMEL
(Marataca/PE)
388 ZAG6 Recombinante (AG11+ZAP)
633 ZM4 ATCC 31821
4.2 Meios de Cultura
4.2.1 Meio de conservao
Os microrganismos cedidos pela Coleo, liofilizados, foram reativados utilizando-se os
meios descritos na Tabela 4.3, em estufa microbiolgica a 30 C, por 24-48 h. Aps a
incubao, as culturas de Z. mobilis permaneceram em meio lquido e as de S. cerevisiae
foram repicadas para tubos com meio slido inclinado para a conservao (Tabela 4.3). O pH
inicial de ambos os meios foi 7,0. As linhagens foram conservadas em geladeira a 4 C, sendo
repicadas a cada trs meses para o meio de conservao (Tabela 4.3).
20
Tabela 4.3: Composio dos meios de cultura utilizados nas etapas de ativao,
conservao e reativao das linhagens de S. cerevisiae e de Z. mobilis.
Etapa Microrganismo Componente Concentrao
(g L-1)
Ativao
S. cerevisiae
Glicose 20,0
Extrato de Levedura 5,00
Peptona 3,00
Z. mobilis Glicose 20,0
Extrato de Levedura 5,00
Conservao
S. cerevisiae
Glicose 20,0
Extrato de Levedura 5,00
Peptona 3,00
Agar 12,0
Z. mobilis Glicose 20,0
Extrato de Levedura 5,00
Reativao S. cerevisiae
Z. mobilis
Glicose 20,0
Extrato de Levedura 5,00
Peptona 3,00
4.2.2 Meio de preparao de inculo
Os microrganismos conservados foram reativados no meio descrito na Tabela 4.3. A
composio dos meios de inculo (Tabela 4.4), utilizados para todos os testes realizados, foi
formulada a partir da composio elementar mdia, em base seca, de cada microrganismo
(STANBURY et al., 1995). Aps o crescimento, as culturas foram transferidas para frascos
Erlenmeyer contendo o meio da preparao de inculo (Tabela 4.4). O pH inicial deste meio
foi 6,0.
21
Tabela 4.4: Composio do meio de cultura
utilizado na preparao do inculo nas linhagens
de S. cerevisiae e de Z. mobilis.
Componente Concentrao (g L-1)
Glicose 100
MgSO4.7H2O 0,6
KH2PO4 1,2
Extrato de levedura 6,6
(NH4)2SO4 6,3
4.2.3 Meio de fermentao
O meio de fermentao, utilizado para a caracterizao inicial das linhagens e para a
caracterizao cintica das duas linhagens selecionadas, est descrito na Tabela 4.5.
A composio dos meios de fermentao (Tabela 4.5), utilizados na seleo das
linhagens e na caracterizao cintica das duas linhagens selecionadas, foi formulada a partir
da composio elementar, em base seca, de cada microrganismo (STANBURY et al., 1995),
de forma que a glicose fosse o substrato limitante. Utilizaram-se diferentes concentraes de
glicose, sendo os demais compostos proporcionalmente reduzidos, e, para a investigao do
efeito dos inibidores, os componentes foram dissolvidos em hidrolisado hemicelulsico. O
valor do pH inicial para todos os meios de fermentao foi 5,0.
Tabela 4.5: Composio do meio de fermentao
(por litro de gua ou hidrolisado hemicelulsico).
Componente Concentrao (g)
Glicose 150/ 200* ou 50
**
Mg2SO4.7H2O 0,81
KH2PO4 2,46
Extrato de Levedura 18,0
(NH4)2SO4 18,0
* Meio sem inibidores: Z. mobilis (150 g L-1
); S.
cerevisiae (200 g L-1
).
** Meio contendo hidrolisado: 50 g L-1
para ambas os
microrganismos.
22
4.2.4 Hidrolisado hemicelulsico
O bagao de cana-de-acar utilizado foi originado do resduo da moagem e extrao do
caldo da cana-de-acar da Usina Central Olho Dgua, localizada no municpio de
Camutanga no Estado de Pernambuco. O bagao foi tratado hidrotermicamente, temperatura
de 195 C, por 16 minutos, em reator descontnuo com capacidade de 20 L (REGMED AU/E-
20), com sistema de mistura por rotao completa (Figura 4.1). Foram utilizados 500 g de
bagao (massa seca) e 10 litros de gua. Aps o tratamento, duas fraes foram formadas:
uma slida (celulignina) e uma lquida (hidrolisado hemicelulsico) (Figura 4.2). O
hidrolisado foi separado dos resduos slidos, com auxilio de filtro de pano, e armazenado em
garrafas em cmara fria at a sua utilizao. A composio do hidrolisado hemicelulsico
encontra-se descrita na Tabela 4.6.
Figura 4.1: Reator (REGMED AU/E-20) utilizado para
a obteno do hidrolisado hemicelulsico.
23
Figura 4.2: Fluxograma do tratamento hidrotrmico utilizado para a
obteno do hidrolisado hemicelulsico.
Tabela 4.6: Concentrao de acares e
inibidores identificados por HPLC no
hidrolisado hemicelulsico obtido e utilizado
nas fermentaes.
Composto Concentrao (g L-1
)
Arabinose 0,61
Celobiose 0,93
Glicose 0,35
Xilose 8,69
cido Frmico 0,59
cido Actico 3,22
Furfural 0,67
HMF 0,64
Fenis 0,32
Para a avaliao dos efeitos individuais e sinrgico dos inibidores presentes no
hidrolisado (cido frmico, cido actico, furfural, hidroximetilfurfural e compostos
fenlicos), foram realizados experimentos no meio de fermentao (Tabela 4.5), adicionando-
Tratamento
hidrotrmico
195 C, 16 min.
Hidrolisado
hemicelulsico
(frao lquida)
Celulignina
(frao slida)
Bagao
de
Cana-de-acar
24
se apenas um dos inibidores ou todos os inibidores. O composto fenlico utilizado para esse
experimento foi o cido glico. As concentraes utilizadas, descritas na Tabela 4.7, foram
baseadas nos valores encontrados no hidrolisado hemicelulsico.
Tabela 4.7: Concentraes dos inibidores
utilizadas (isoladamente e em conjunto) nos
experimentos.
Inibidores Concentrao (g L-1
)
cido Frmico 0,6
cido Actico 3,2
Furfural 0,7
HMF 0,6
cido Glico 0,3
4.3 Procedimento Experimental
4.3.1 Caracterizao inicial e seleo de linhagens
A caracterizao inicial das leveduras e bactrias ocorreu atravs de fermentaes em
tubos de 50 mL (Falcon). Os experimentos foram realizados em duplicatas, em meios base
de glicose (Tabela 4.5).
Cada linhagem de S. cerevisiae foi repicada, com uma ala de platina, do meio de
conservao para um tubo de 15 mL (Falcon) contendo 5 mL do meio de reativao (Tabela
4.3). O repique das linhagens de Z. mobilis foi realizado pela transferncia, com pipeta
automtica, de 1 mL do meio de conservao para um tubo de 15 mL (Falcon) contendo 4 mL
de meio de reativao. Todos os tubos, contendo ambas as linhagens, foram mantidas a 30C
em estufa microbiolgica, durante 24 horas.
Aps o crescimento, todo o volume do tubo, contendo o microrganismo crescido, foi
transferido para frascos Erlenmeyer de 500 mL contendo 45 mL de meio da preparao de
inculo (Tabela 4.4). Cada frasco foi posto em mesa incubadora rotativa (New Brunswick
Scientific, C25KC Figura 4.3), por 18 horas, a 35C, com agitao de 250 rpm, para a
levedura, e de 150 rpm para a bactria.
25
Figura 4.3: Mesa incubadora rotativa (New Brunswick Scientific, C25KC), contendo
frascos Erlenmeyer de 500 mL com inculos.
Depois do inculo preparado, um volume de 4 mL foi transferido para tubos de 50 mL
(Figura 4.4), contendo 36 mL do meio de fermentao (Tabela 4.5). As fermentaes
ocorreram a 35C, pH inicial 5, por 18 horas, em meio de fermentao, com e sem
hidrolisado, descrito na Tabela 4.5. Foram retiradas amostras no incio e aps 18 horas de
fermentao, para anlises de concentrao celular, concentrao de substrato e concentrao
de produto e co-produtos. O pH final de cada tubo tambm foi aferido.
Figura 4.4: Tubos de 50 mL (Falcon) utilizados na
seleo de linhagens.
26
4.3.2 Caracterizao cintica das linhagens selecionadas
As linhagens de S. cerevisiae e de Z. mobilis, que demonstraram, estatisticamente,
melhores caractersticas para a produo industrial de etanol, foram selecionadas para
comparao, atravs de uma caracterizao cintica mais detalhada, em biorreator
instrumentado, em meio de fermentao (Tabela 4.5), sem e com hidrolisado hemicelulsico
de bagao da cana-de-acar.
O inculo obtido para a caracterizao cintica das linhagens selecionadas seguiu o
mesmo procedimento da caracterizao inicial, sendo obtido a partir da repicagem do
microrganismo para quatro tubos de ensaio contendo meio de reativao (Tabela 4.3), que foi
mantido a 30C em estufa, durante 24 horas. Em seguida, toda a biomassa crescida nos tubos
foi transferida para frasco Erlenmeyer de 500 mL, contendo 45 mL de meio de preparao do
inculo (Tabela 4.4). O crescimento do inculo foi realizado em mesa agitadora a 35C, por
18 horas, a 250 rpm para S. cerevisiae e 150 rpm para Z. mobilis. O volume total de 200 mL
do inculo foi ento transferido ao biorreator, o qual continha 1800 mL do meio de
fermentao (Tabela 4.5).
Foi utilizado um biorreator de bancada instrumentado, com capacidade para 2 litros
(New Brunswick Scientific, Bioflo 110 Figura 4.5). As variveis controladas foram pH 5,0,
temperatura de 35C e agitao de 500 rpm. O controle de pH foi realizado por sistema
automtico, com a adio de soluo de NaOH 3 M ou H2SO4 3 M. Nitrognio foi adicionado
ao reator para remoo de oxignio, e a anaerobiose foi verificada por meio de eletrodo
detector de oxignio dissolvido.
Durante todo o processo, foram retiradas amostras para anlises de concentrao
celular, concentrao de substrato e concentrao de produto e co-produtos
4.3.3 Caracterizao do efeito de inibidores
Foram realizados experimentos adicionais para se investigar os efeitos individuais e
interativo de cinco inibidores presentes no hidrolisado (cido frmico, cido actico, furfural,
hidroximetilfurfural e cido glico) sobre as linhagens de S. cerevisiae e Z. mobilis
selecionadas. Os efeitos foram investigados individualmente, ou seja, adicionando-se apenas
um inibidor ao meio de fermentao, e em conjunto, adicionando-se todos os inibidores.
27
Figura 4.5: Biorreator de bancada instrumentado
(New Brunswick Scientific, Bioflo 110) utilizado nos
experimentos de caracterizao cintica das linhagens.
Inicialmente as linhagem foram repicadas para um tubo de 15 mL (Falcon) contendo 5
mL de reativao (Tabela 4.3), sendo mantidos em estufa a 30C por 24 horas. Aps
crescimento, todo o volume do tubo, contendo o microrganismo crescido, foi transferido para
frasco Erlenmeyer de 500 mL, contendo 45 mL de meio da preparao de inculo (Tabela
4.4). Cada frasco foi posto em mesa incubadora rotativa, por 18 horas, a 35 C, com agitao
de 250 rpm, para a levedura, e de 150 rpm para a bactria.
Um volume de 4 mL do inculo foi transferido para tubos de 50 mL, contendo 36 mL
do meio de fermentao (Tabela 4.5), contendo cada inibidor (ou todos) na concentrao
descrita na Tabela 4.6, com exceo do controle que possua apenas o meio de fermentao.
As fermentaes ocorreram em estufa a 35C, com pH inicial de 5, por um perodo 18
horas. Para anlises de concentrao celular, concentrao de glicose e concentrao de etanol
e co-produtos foram retiradas amostras no incio e aps 18 horas de fermentao. O pH final
de cada tambm tubo foi determinado.
28
4.4 Mtodos Analticos
4.4.1 Determinao de concentrao celular
Densidade tica
A densidade ptica das amostras foi determinada em espectrofotmetro a 600 nm, para
S. cerevisiae, e em 660 nm para Z. mobilis.
Peso seco
Para a determinao da concentrao celular por peso seco, uma amostra de 5 mL foi
filtrada em membrana microporosa de 0,45 m, para as leveduras, e de 0,2 m, para as
bactrias, em um sistema de filtrao a vcuo (Millipore). Todas as membranas foram
previamente pesadas (pm) e, aps filtrao, foram secas em estufa a 80C por 24 horas. Aps a
secagem, as membranas foram postas em dessecador at atingirem a temperatura ambiente,
sendo, em seguida, pesadas (pt). O valor da biomassa seca foi calculado pela diferena entre o
peso da membrana com a biomassa seca e o peso apenas da membrana (pl = pt pm). A
concentrao celular foi obtida dividindo-se o peso das membranas filtradas secas, em
gramas, pelo volume filtrado, em litros (X = pl/0,005).
Contagem por microscopia
O nmero de clulas viveis e no-viveis de S. cerevisiae foi determinado por
contagem em cmara de Neubauer, utilizando-se um microscpio ptico (Zeiss, modelo
Axiolab Hbo). As clulas foram coradas com soluo de azul de metileno, preparada com
0,025 g do corante, adicionado a 2 g de citrato de sdio, em 100 mL de gua. A mistura da
amostra com a soluo de azul de metileno foi na proporo de 1:1. Em seguida, foi
transferida uma alquota da mistura para a cmara de Neubauer, procedendo-se a observao
das clulas em objetiva de 40x. Foram contados o nmero de clulas totais e de clulas
coradas em 5 campos quadrados distintos de 0,2 mm de largura (Figura 4.6). Nos casos em
que o nmero de clulas era excessivo para ser contado (mais que 300 clulas por campo), as
amostras foram diludas nas propores adequadas.
Como a cmara tem profundidade de 0,1 mm, o volume total dos campos contados foi
de 210-5
mL. A concentrao de clulas totais foi dada pela razo entre o nmero total de
clulas e o volume total dos campos contados. Como apenas as clulas no-viveis so
coradas pela soluo corante, a concentrao de clulas viveis foi calculada pela diferena
29
entre as clulas totais e corada, dividindo-as pelo volume total. A viabilidade celular foi
determinada como o percentual de clulas no coradas presente na amostra.
A contagem de clulas de Z. mobilis no pode ser realizada devido mobilidade das
clulas na cmara de Neubauer.
Figura 4.6: Esquema da Cmara de Neubauer e da microscopia em objetiva de
40X. Fonte: Adaptado de ALVES (2006).
4.4.2 Determinao das concentraes de substratos, produtos e inibidores.
A quantificao do substrato (glicose), do produto (etanol), co-produtos (cido actico,
glicerol, cido succnico) e inibidores (HMF, furfural, cido frmico) foi realizada atravs de
cromatografia lquida de alta eficincia (Agilent, Srie 1100 Figura 4.8). Foi utilizada uma
coluna Aminex HPX-87HX (Bio-Rad) de 300 x 7,8 mm, com cido sulfrico 5 molar como
fase mvel, a um fluxo de 0,6 mL min-1
, a 50C; o detector utilizado foi o de ndice de
refrao. A fase mvel foi preparada com gua ultrapura e, posteriormente, filtrada em
membrana microporosa de 0,2 m. O mtodo do padro externo foi utilizado para quantificar
a concentrao dos compostos. Todas as amostras e os padres foram diludos em fase mvel,
filtrados em membrana 0,2 m e injetados automaticamente em um volume de 5 L.
30
Figura 4.7: Equipamento de cromatografia lquida
de alta eficincia (Agilent, srie 1100) utilizado para
a determinao de concentraes de substrato,
produtos e inibidores.
Os fenis totais foram determinados pelo mtodo colorimtrico de Folin-Ciocalteau
(SINGLETON et al., 1999). Adicionaram-se 2,5 mL do reagente de Folin-Ciocalteau (10%
v/v) e 2,0 mL de carbonato de sdio (7,5% p/v), a 0,5 mL do hidrolisado diludo, incubando-
se em banho termostatizado a 50 C, durante 5 minutos. Para a preparao do branco, o
mesmo procedimento foi utilizado, sendo que no lugar da amostra foi utilizado 0,5 ml de gua
destilada. Foi construda uma curva de calibrao com diferentes concentraes de cido
glico, nas mesmas condies do mtodo colorimtrico de Folin-Ciocalteau.
4.5 Mtodos Matemticos
4.5.1 Clculo de parmetros cinticos
Considerou-se o biorreator perfeitamente agitado, de forma que, para o sistema
descontnuo, o balano material foi expresso como:
31
[Taxa de variao] = [Velocidade de reao]
onde:
X = concentrao de biomassa (g L-1
)
S = concentrao de substrato (g L-1
)
P = concentrao de produto (g L-1
)
CP = concentrao de co-produto (g L-1
)
rX = velocidade de crescimento celular (g L-1
h-1
)
rS = velocidade de consumo de substrato (g L-1
h-1
)
rP = velocidade de formao de etanol (g L-1
h-1
)
rCP = velocidade de formao de co-produto (g L-1
h-1
)
= velocidade especfica de crescimento (h-1
)
qS = velocidade especfica de consumo de substrato (g g-1
h-1
)
qP = velocidade especfica de formao de produto (g g-1
h-1
)
qCP = velocidade especfica de formao de co-produto (g g-1
h-1
)
Fatores de converso, Y, foram obtidos atravs das relaes, considerada constantes,
entre as velocidades especficas definidas acima (Eq. 1-4):
32
onde:
YX/S = rendimento de biomassa em substrato (g g-1
)
YP/S = rendimento de produto em substrato (g g-1
)
YCP/S = rendimento de co-produto em substrato (g g-1
)
A eficincia das fermentaes foi calculada pela relao entre YP/S e o rendimento
mximo terico (0,511 g g-1
):
A produtividade de biomassa, QX, e as produtividades de produto, QP,e co-produto, QCP,
foram calculadas como:
4.5.2 Anlise estatstica
Os resultados experimentais obtidos na caracterizao inicial, em duplicatas, foram
analisados pelo mtodo ANOVA seguido pelo teste de comparao mltipla de mdias de
Tukey a 5% de significncia. Na caracterizao do efeito de inibidores individuais, os
resultados obtidos, em duplicatas, foram analisados pelo mtodo ANOVA seguido pelo teste
de Dunnett a 5% de significncia. Os clculos foram realizados no programa computacional
EXCEL 2007 da Microsoft Corporation.
33
5 RESULTADOS E DISCUSSO
5.1 Caracterizao e Seleo das Linhagens
A caracterizao inicial foi realizada com o objetivo de selecionar linhagem de S.
cerevisiae e linhagem de Z. mobilis que apresentassem resultados mais si