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Distinção entre acessão e benfeitoria (“…embora se apresentem com caracteres idênticos, constituem realidades jurídicas distintas.”) Benfeitoria – art. 216º C.Civil Acessão – art. 1325ºC.C. e seguintes Benfeitoria significa acto de melhorar, aperfeiçoar, fazer bem a uma coisa, considerando-se sempre como um acessório (Prof. Manuel Rodrigues) Quando uma coisa, que é propriedade de alguém se une e incorpora com outra coisa que não lhe pertencia, isto é, uma das coisas não pertence a quem a uniu e transformou. Traduz-se num benefício material para a coisa: é feito um melhoramento por quem está ligado à coisa em consequência de um vínculo jurídico (posse, locação, comodato, usufruto). Também se traduz num benefício material para a coisa mas, provém do exterior, de alguém estranho que não tem contacto jurídico com a coisa beneficiada. Quem as faz procede como dono ou legítimo possuidor, quer da coisa principal quer da coisa acessória. Não procede com a convicção que é o dono ou legítimo possuidor das coisas unidas: ao contrário, sabe que não o é. Valoriza a coisa mas não altera o objecto da posse existindo assim, apenas, uma beneficiação. Valoriza a coisa mas altera o objecto da posse, inovando-o: a substância da coisa é alterada. Melhora ou conserva a coisa de outrem, realizando uma despesa. Constrói-se uma coisa nova através da união e incorporação de uma coisa com outra. Exemplos de quem pode efectuar benfeitorias: proprietário, comproprietário, possuidor Exemplo de quem pode efectuar uma acessão : simples detentor ocasional

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Distino entre acesso e benfeitoria

Distino entre acesso e benfeitoria

(embora se apresentem com caracteres idnticos, constituem realidades jurdicas distintas.)Benfeitoria art. 216 C.Civil

Acesso art. 1325C.C. e seguintes

Benfeitoria significa acto de melhorar, aperfeioar, fazer bem a uma coisa, considerando-se sempre como um acessrio (Prof. Manuel Rodrigues)

Quando uma coisa, que propriedade de algum se une e incorpora com outra coisa que no lhe pertencia, isto , uma das coisas no pertence a quem a uniu e transformou.

Traduz-se num benefcio material para a coisa: feito um melhoramento por quem est ligado coisa em consequncia de um vnculo jurdico (posse, locao, comodato, usufruto).

Tambm se traduz num benefcio material para a coisa mas, provm do exterior, de algum estranho que no tem contacto jurdico com a coisa beneficiada.

Quem as faz procede como dono ou legtimo possuidor, quer da coisa principal quer da coisa acessria.No procede com a convico que o dono ou legtimo possuidor das coisas unidas: ao contrrio, sabe que no o .

Valoriza a coisa mas no altera o objecto da posse existindo assim, apenas, uma beneficiao.

Valoriza a coisa mas altera o objecto da posse, inovando-o: a substncia da coisa alterada.

Melhora ou conserva a coisa de outrem, realizando uma despesa. Constri-se uma coisa nova atravs da unio e incorporao de uma coisa com outra.

Exemplos de quem pode efectuar benfeitorias: proprietrio, comproprietrio, possuidor (1273 a 1275), locatrio (1046) comodatrio (1138) e usufruturio (1450).

Exemplo de quem pode efectuar uma acesso: simples detentor ocasional

Independentemente da boa ou m f, por parte do benfeitor, a lei atribui-lhe um direito de levantamento ou um direito de crdito contra o dono da coisa benfeitorizada. Caso no haja lugar ao levantamento das benfeitorias o proprietrio dever compensar o autor da benfeitoria pelo valor desta, segundo as regras do enriquecimento sem causa (artigos 1273 a 1275).

O clculo das indemnizaes corresponde ao valor da coisa incorporada, ao tempo da incorporao, quando o interventor esteja de boa f. Quando esteja de m-f h um enriquecimento sem causa (1333/1334)

Posies doutrinrias: Prof. Manuel Rodrigues e Manuel de AndradeNa vigncia do Cdigo de Seabra, pelo Sr. Prof. Manuel de Andrade e Sr. Prof. Manuel Rodrigues, foi defendida uma orientao que definia benfeitoria como um melhoramento de uma coisa que j existia, sendo que a acesso seria uma autntica inovao.

O Prof. Menezes Cordeiro discorda uma vez que no Cdigo actual no existe qualquer apoio legal a tal orientao: poder existir uma acesso que surja de um melhoramento de algo que j existia desde que esse melhoramento se traduza na incorporao de coisa distinta sendo que, de igual modo, tambm poder existir uma benfeitoria que inove a coisa. Profs. Pires de Lima e Antunes:in Cdigo Civil Anotado , vol. III, pg. 148, a benfeitoria e a acesso, embora objectivamente se apresentem com caracteres idnticos, trazem sempre um benefcio material para a coisa e constituem realidades jurdicas distintas . A benfeitoria consiste num melhoramento feito por quem est ligado coisa em consequncia de uma relao ou vnculo jurdico, ao passo que a acesso um fenmeno que vem do exterior, de um estranho, de uma pessoa que no tem contacto jurdico com ela . So benfeitorias os melhoramentos feitos na coisa pelo proprietrio, pelo possuidor, pelo locatrio, pelo comodatrio e pelo usufruturio; so acesses os melhoramentos feitos por qualquer terceiro, no relacionado juridicamente com a coisa, podendo esse terceiro ser um simples detentor ocasional .

As benfeitorias esto sempre dependentes de uma relao jurdica ( posse, locao, comodato, usufruto, ... ), pelo que tm o aspecto de excepcionais em relao acesso, que ser a regra ... As benfeitorias e a acesso so fenmenos paralelos que se distinguem pela existncia ou inexistncia de uma relao jurdica que vincule pessoa a coisa beneficiada .

O Prof. Menezes Cordeiro afirma que esta orientao tem algum apoio no C.C. actual uma vez que, nas referncias que faz das benfeitorias so relativamente a situaes que impliquem a afectao da coisa beneficiada. Relativamente acesso, o C.C. exige que o interventor no seja titular da coisa.No entanto, diz o Prof. Menezes Cordeiro diz que a aceitao desta teoria levantaria algumas questes:

Se existe posse adquirida atravs da acesso, o que resta desta figura?

Se a acesso mais favorvel ao seu autor do que as benfeitorias, no ser estranho existir um desfavorecimento da pessoa que tem um ttulo e o facto de favorecer um estranho?

De que forma o proprietrio da coisa melhorada adquire as benfeitorias realizadas por outrem? Prof. Menezes CordeiroBenfeitoria - como sendo toda a coisa que se incorpora ao imvel para o conservar ou melhorar (216) .

Acesso forma de constituio de direitos reais derivado do facto de existir uma incorporao inseparvel de uma coisa a outra.

Quanto sua origem, a acesso pode derivar de coisa que nada conserve ou melhore e a benfeitoria pode ser inseparvel, no se traduzindo numa acesso. No entanto, a coisa incorporada por acesso pode tambm conservar ou melhorar a coisa traduzindo-se numa benfeitoria e, da mesma forma, toda a benfeitoria pode estar ligada ao solo constituindo uma acesso, Tal constitui uma relao causa efeito.

Relativamente ao modo de aquisio, por parte do titular, na acesso existe uma aquisio potestativa (conforme j foi explicado pela colega aquando da apresentao do tema da acesso) sendo que na benfeitoria existir uma aquisio automtica desde que a benfeitoria no seja separvel da coisa.

Quanto sua aplicao, existir acesso quando:

A coisa incorporada tenha maior valor que a coisa que foi objecto da incorporao A coisa incorporada modifique o destino econmico do conjunto

A coisa incorporada no conserve ou no melhore a coisa e no sirva para recreio do benfeitorA benfeitoria aplicar-se quando a lei expressamente o diga pois os titulares do direito conheciam as regras a que se sujeitavam. Prof. Pedro Albuquerque:

Quando existe posse prvia aplica-se o regime das benfeitorias. Quando a interveno d origem a uma posse que no anterior aplica-se acesso. Estudo do sr. Juiz Desembargador Quirino Soares, sobre Acesso e Benfeitorias , in Col. Jur. do STJ, ano IV, tomo I, pg. 11 e segs.:Muito claramente expe o seguinte : No dizer da lei ( art 216 do C. Civ. ), benfeitoria uma despesa feita para conservar ou melhorar a coisa . Despesa natural ou material, isto , que se concretiza em actos materiais de obra na coisa beneficiada ...

Benfeitoria um facto material, uma despesa, um fenmeno da vida econmica com relevncia jurdica ...

Acesso constitui um ttulo de aquisio do direito de propriedade imobiliria, ao lado da compra e venda, da usucapio, p. ex..

A necessidade de distino, ou o confronto, entre acesso e benfeitoria s emerge nas hipteses de acesso industrial imobiliria que resultam da interveno em terreno alheio ( os casos dos arts 1340 a 1342 ), ...

Na medida em que possa ser qualificada como despesa feita para conservar ou melhorar o prdio alheio, toda a incorporao ( obra, sementeira ou plantao ) prevista nos arts 1340 a 1342 , assim, potencialmente regulvel pela disciplina das benfeitorias, desde que o interveniente possa ser considerado um possuidor em nome prprio, ou esteja, relativamente ao prdio, numa das relaes ( locao, comodato, usufruto ) que conferem os direitos correspondentes: arts. 1273 a 1275 - posse ; 1046 - locao ; 1138 - comodato ; 1450 - usufruto ; 14 e 15 do Dl n 385/88, de 25/10 arrendamento rural .Sobre a questo da acesso industrial imobiliria, importa referir:

- Se num terreno existe alguma construo, ela pode ser objecto de benfeitoria; porm, se no existia qualquer edifcio no terreno, o que nele se construir constitui uma acesso.

- Constitui benfeitoria e no uma acesso a construo de uma casa, por ambos os cnjuges, no terreno que pertencia a apenas um deles.

- Constitui benfeitoria e no acesso industrial imobiliria as obras que visam levantar as paredes exteriores de uma casa j existente e efectuadas por quem vivia nessa casa por ter sido casado com a proprietria desse imvel

- O comproprietrio de um terreno no beneficia da acesso porque no se trata de um terreno que lhe alheio.