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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA
ARTETERAPIA E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA,
UM CASAMENTO IDEAL
Elizabeth Maria Martinazzo
Orientadora: Fabiane Muniz da Silva
São Paulo
2008
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2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA
ARTETERAPIA E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA,
UM CASAMENTO IDEAL
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes como requisito para Conclusão do Curso Pós Graduação em Arterapia em Educação
3
AGRADECIMENTOS
À Deus pela graça da vida, pela força nos momentos difíceis da caminhada. Agradeço aos familiares pela ajuda e compreensão em todos os momentos da vida principalmente nos momentos de ausência. Aos amigos que compartilham momentos de dor e solidão.
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais, sempre presentes no coração, que contribuíram para que pudesse estudar e buscar o saber, compartilhando valores e ideais na minha formação .
5
RESUMO
Objetivou-se através do trabalho demonstrar a importância da Arteterapia
utilizando o brinquedo, o brincar, os jogos e outras atividades físicas, artísticas
e lúdicas como ferramentas para o desenvolvimento das capacidades de
aprendizagem de crianças na educação inclusiva em classes comuns do
Ensino Fundamental.
Coube-se discorrer sobre os benefícios da Arteterapia no
desenvolvimento e adaptação das crianças da educação inclusiva em
atividades planejadas para salas de aula.
O assunto invariavelmente remete a outra importante discussão ora em
vigor entre educadores e especialistas: uma nova visão de aprendizagem para
os alunos da educação inclusiva, proporcionar situações e atividades
estimuladoras de maneira concreta e significativa.
Brinquedo, inclusão escolar e social, são de caráter indissociáveis, todos
se entrelaçam para um objetivo único que favorece a aquisição de
conhecimentos na aprendizagem das crianças da educação inclusiva no
Ensino Fundamental.
6
METODOLOGIA
Para significação desse trabalho, far-se-á um breve histórico da
educação especial no Brasil expondo a trajetória da evolução da visão e
valorização dos portadores de deficiência.
MAZZOTTA (1996), em seu livro “Educação Especial no Brasil:
história e políticas públicas” faz um breve relato sobre a evolução do ensino
para pessoas portadoras de deficiências.
O Conselho Federal de Educação encaminha a educação dos
excepcionais com uma Política Nacional de Educação Especial numa linha de
educação escolar.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) com
inúmeras interpretações sobre os educandos com necessidades especiais.
O brinquedo e o brincar utilizados no cotidiano escolar, fazendo
parte do planejamento, diretamente relacionados às atividades do cotidiano.
A respeito disto WINNICOTY no livro “O brincar e a realidade” faz
alusões sobre o brincar, o brinquedo, o desenvolvimento do bebê.
Ainda sobre o desenvolvimento da criança e o brinquedo em
diversas fases a teoria de PIAGET tem relevância neste ponto da pesquisa.
BENJAMIN em “Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação” vê o
brinquedo como objeto de intermediação entre o visível e o invisível, como
meio de expressão, uma ponte entre o mundo infantil e o mundo social.
As concepções de VYGOTSKY serão citadas dada a sua influência
em educadores, em outros estudiosos da aprendizagem e no desenvolvimento
do sujeito para aquisição de conhecimento.
Relatos da utilização da arte como meio de incentivar a exploração
tátil, visual e cognitiva da professora ATACK (1995), especializada em
portadores de deficiência, e também sobre o uso da arte como estímulo da
ludo terapeuta VIRGINIA MAE AXLINE, vão ilustrar a relação entre brincar e a
aprendizagem.
7
As citações da pesquisadora ANDREA TONINI sobre profissionais
da educação especial e o processo de inclusão, vão enriquecer a abordagem
do tema.
A relação entre atividades lúdicas e desenvolvimento integral da
criança, a integração e a compreensão na visão de MANTOAN farão parte do
contexto desta monografia, ressaltando a importância da brincadeira no
desenvolvimento da criança.
A pesquisadora MARLEI DE FATIMA SCHNEIDER terá seu espaço
na monografia comentando projetos inovadores em escolas, caminhos e
formas diferenciadas no atendimento da educação inclusiva.
A monografia está sendo desenvolvida embasada na pesquisa
bibliográfica, que abrange a leitura, análise e interpretação de livros, periódicos,
pesquisas on-line, etc., sendo todo este material recolhido para elaboração de
um plano de leitura e reflexões.
A leitura atenta e sistemática está sendo feita, acompanhada de
anotações e fichamentos que, posteriormente, servirão à fundamentação
teórica do estudo. Enfim, a pesquisa bibliográfica está dando suporte ao
trabalho, visto que auxiliou na definição do problema, na determinação dos
objetivos, na construção de hipóteses e na elaboração do relatório final.
8
SUMÁRIO
I N T R O D U Ç Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0 9
C A P I T U L O I – H I S T Ó R I C O D A E D U C A Ç Ã O
1 . 1 . E d u c a ç ã o n o B r a s i l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 2
1 . 2 . C o n c e i t o s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 7
C A P I T U L O I I – O B R I N Q U E D O E O B R I N C A R
2 . 1 . C o n c e i t o s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 7
2 . 2 . S i g n i f i c a d o s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1
2 . 3 . O b r i n c a r n a e s c o l a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5
2 . 4 . V i s ã o d o p r o f e s s o r . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7
C A P I T U L O I I I – V I S Ã O N O F U T U R O
3 . 1 . O b s t á c u l o s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 6
3 . 2 . A v a n ç o s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 8
3 . 3 . P r á t i c a s p e d a g ó g i c a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 4
C O N C L U S Ã O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 3
B I B L I O G R A F I A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 5
9
INTRODUÇÃO
O objetivo primordial da monografia é de demonstrar a importância
do brinquedo na aprendizagem dos alunos na educação inclusiva no Ensino
Fundamental , investigando o papel, a influência e a importância do brinquedo
na educação inclusiva em classes comuns.
Esta monografia é constituída pelo tema do brinquedo em prol da
aprendizagem de crianças na educação inclusiva no Ensino Fundamental,
sendo que a pesquisa foi motivada pela necessidade de desenvolver o
trabalho no ambiente escolar com crianças “normais” e as crianças da
educação inclusiva, para que ocorra, além do desenvolvimento cognitivo e
motor, a verdadeira integração, a consciência, a valorização e o respeito . A
escola deve ser adaptada às necessidades dos alunos, respeitando seus
ritmos, os processos de aprendizagem, com uma pedagogia centrada nas
potencialidades humanas e não na exclusão por ser diferente.
A relevância do estudo se pauta na afirmativa de que ao se falar em
aprendizagem considera-se o universo cultural da criança e não se pode
esquecer o que lhe é peculiar, o que a identifica: o brincar. Na idade escolar
existem jogos que a criança não considera interessante, o brinquedo deve ser
prazeroso, onde realiza seus desejos através de um mundo ilusório, de
fantasias e imaginação. O brincar da criança não está somente baseado no
presente, mas ela também tenta resolver problemas do passado, ao mesmo
tempo em que se projeta para o futuro.
Portanto, o brinquedo fornece estrutura básica para as mudanças
das necessidades e da consciência. Cabe lembrar que todas as experiências
positivas dão-nos segurança e estímulo para o desenvolvimento, assim ocorre
com o brincar, que é fundamental, pois favorece o desenvolvimento físico,
cognitivo, afetivo e social. Por isso da escolha deste tema, que se justifica não
somente por seu aspecto educacional, como social e acima de tudo pelo
interesse em demonstrar a importância do brinquedo na aquisição de
10
conhecimentos e consequentemente na aprendizagem da educação inclusiva
no Ensino Fundamental.
É fundamental o resgate do brincar e dos brinquedos para que se
tenham crianças reunidas, brincando, praticando a socialização, o convívio, a
solidariedade, a inclusão e a integração.
Assim, o brinquedo fornece ampla estrutura básica para as mudanças
das necessidades e da consciência, constituindo-se no mais alto nível de
desenvolvimento pré-escolar.
O que acontece durante um jogo de crianças? Aos olhos de um
observador desatento, apenas brincadeiras, coisas sem importância. Aos olhos
de um pesquisador, ou de um educador, tantas coisas importantes estão
ocorrendo: assimilação e apropriação da realidade humana, construção de
hipóteses, elaboração de soluções para problemas, enriquecimento da
personalidade.
Além de desenvolver um breve histórico sobre a história da
educação especial no Brasil e uma visão das políticas de educação existentes
atualmente.
Outros pontos serão discutidos e analisados demonstrando a
relação entre o brinquedo/desenvolvimento cognitivo, social, afetivo, da criança
e construir uma nova visão de aprendizagem para os alunos da educação
inclusiva. O brincar é uma atividade significativa para a criança, quando usa o
brincar aprende muitas coisas acerca do mundo exterior.
Cabe aos pais, aos profissionais da educação e a todos que lutam
pela integração/inclusão a tarefa de proporcionar situações e atividades
estimuladoras para que isto ocorra.
O importante na educação inclusiva é desenvolver uma necessidade
para o conceito do que deve ser ensinado, de maneira concreta e significativa,
e expandir o ensinamento nas experiências diárias.
11
Brinquedos e brincadeiras para crianças em educação inclusiva têm
efeito decisivo no desenvolvimento de habilidades que serão fundamentais
para o futuro cidadão na sua luta por um lugar na sociedade.
12
CAPÍTULO I
HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
A história da Educação Especial no Brasil foi se organizando sempre
de maneira assistencial, dentro de uma pesquisa segregativa e por
segmentação das deficiências, fato que contribui para o isolamento da vida
escolar e social das crianças e jovens com deficiência.
A educação especial no Brasil tem uma história de aproximadamente 150
anos.Crianças e adultos portadores de deficiência sempre sofreram uma forma
nefasta de segregação, que muito se aproxima da natureza do preconceito
racial: quase sempre velada, por vezes disfarçada em ações sociais
protecionistas e/ou paternalistas, mas sempre com o objetivo de separar
pessoas diferentes de pessoas normais.
Nesse capítulo serão citados as leis vigentes, evolução da educação
especial e as mudanças dos conceitos ao longo do tempo.
1.1 EDUCAÇÃO NO BRASIL
“O atendimento aos portadores de deficiência no Brasil deu-se no
século XIX, por iniciativas oficiais e particulares isoladas, refletindo o interesse
de alguns educadores pelo atendimento educacional, inspirados por
experiências européias e norte-americanas”. (Mazzotta, 1996).
MAZZOTTA (1996), em seu livro Educação Especial no Brasil:
história e políticas públicas faz um breve relato sobre a evolução (e os
retrocessos) do ensino para pessoas portadoras de deficiências:
13
de 1854 a 1956 - marcado por iniciativas de caráter privado;
- de 1957 a 1993 - definido por ações oficiais de âmbito nacional;
- de 1993.... - caracterizado pelos movimentos em favor da inclusão escolar.
No primeiro período enfatizou-se o atendimento clínico especializado, mas incluindo a educação escolar e nesse tempo foram fundadas as instituições mais tradicionais de assistência às pessoas com deficiências mental, físicas e sensoriais que seguiram o exemplo e o pioneirismo do Instituto dos Meninos Cegos, fundado na cidade do Rio de Janeiro, em fins de 1854. Entre a fundação desse Instituto e os dias de hoje, a história da educação especial no Brasil foi se estruturando, seguindo quase sempre modelos que primam pelo assistencialismo, pela visão segregativa e por uma segmentação das deficiências, fato que contribui ainda mais para que a formação escolar e a vida social das crianças e jovens com deficiência aconteçam em um mundo à parte. A educação especial foi assumida pelo poder público em 1957 com a criação das "Campanhas", que eram destinadas especificamente para atender a cada uma das deficiências. Nesse mesmo ano, instituiu-se a Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro - CESB, seguida da instalação do Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, que até agora existe, no Rio de Janeiro/RJ. Outras Campanhas similares foram criadas posteriormente, para atender à outras deficiências. Em 1972 foi constituído pelo Ministério de Educação e Cultura - MEC o Grupo-Tarefa de Educação Especial e juntamente com o especialista James Gallagher, que veio ao Brasil a convite desse Grupo, foi apresentada a primeira proposta de estruturação da educação especial brasileira, tendo sido criado um órgão central para geri-la, sediado no próprio Ministério e denominado Centro Nacional de Educação Especial - CENESP. Esse Centro, hoje, é a Secretaria de Educação Especial - SEESP, que manteve basicamente as mesmas competências e estrutura organizacional de seu antecessor, no MEC. (MAZZOTTA, 1996).
Esse grupo-tarefa instituído em 1972 foi à realização menos tradicional
para aquela época, embora ainda tivesse prevalecesse a visão protecionista do
modelo médico/pedagógico, em prejuízo de uma visão educacional/escolar,
que só começaria a ser considerada cerca de vinte anos mais tarde.
Contudo, algumas decisões do Conselho Federal de Educação naquele
ano tentaram encaminhar a educação dos excepcionais para uma linha de
14
educação escolar, mas as propostas foram barradas pela burocracia
ministerial, como explica Mantoan em artigo para o European Journal of
Special Needs Education:
Em 1972, o então Conselho Federal de Educação em Parecer de 10/08/72 entendeu a "educação de excepcionais" como uma linha de escolarização, ou seja, como educação escolar. Logo em seguida, Portarias ministeriais, envolvendo assuntos de assistência e de previdência social, quando definiram a clientela da educação especial, posicionaram-se segundo uma concepção diferente do Parecer, evidenciando uma visão terapêutica de prestação de serviços às pessoas com deficiência e elegeram os aspectos corretivos e preventivos dessas ações, não havendo nenhuma intenção de se promover a educação escolar. (MANTOAN, 1998, 13(1), 10-28).
Havia oposição contra à educação formal dessas crianças partindo de
terapeutas, médicos, educadores, políticos e, principalmente, pais. Esses,
movidos por um excesso de protecionismo, recusavam-se a admitir que seus
filhos freqüentassem os mesmos ambientes de crianças normais,
principalmente escolas.
A opinião era também de muitos especialistas: crianças excepcionais
deveriam ser mantidas à parte, tratadas com as melhores técnicas e educadas
segundo sua capacidade. Não havia nenhuma tendência terapêutica no sentido
de explorar as capacidades latentes dessas crianças, fazendo com que a
segregação fosse racionalizada como um bem necessário.
Foi com a decisiva e efetiva ação de grupos formados por pessoas com
deficiência que a visão ora paternalista, ora protecionista, e sempre
preconceituosa da sociedade começou a mudar. Educadores e outros
especialistas ainda sentem a resistência dos pais no que diz respeito à
integração e inclusão de seus filhos portadores de deficiência em ambientes
comuns, como a escola pública.
15
APAE e de outras instituições tiveram grande importância no trabalho de
preparo de pessoas com cidadania para uma vida digna, mas o alvo desse
trabalho nem sempre teve esses nobres objetivos.
No artigo já citado, MANTOAN confirma essa tendência, que permanece
não obstante os progressos conseguidos por essas minorias.
A tendência do movimento de pais é ainda a de se organizarem em associações especializadas, gerenciadas por eles próprios, que buscam parcerias com a sociedade civil e o governo para atingir suas metas, sendo basicamente financiados pelos poderes públicos municipal, estadual e federal. Contrariamente a outros países, os pais brasileiros, na sua maioria, ainda não se posicionaram em favor da inclusão escolar de seus filhos. Apesar de figurar essa preferência na nossa Constituição Federal, observa-se uma tendência dos pais se organizarem em associações especializadas para garantir o direito à educação de seus filhos com deficiência. (MANTOAN, 1998, 13(1), 10-28).
É possível que o excesso de proteção de pais contra a emancipação de
seus filhos diminua com o tempo ante a aparente evolução provocada pela
crescente participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho,
nas mídias e, em resumo, na vida cotidiana da sociedade.
É possível, portanto, que o receio dos pais em colocar seus filhos numa
sociedade que mal tolera os diferentes ainda resista por um bom tempo, dado
que os movimentos emancipatórios não dão mostras de crescimento, e
conseqüentemente as crianças portadoras de deficiência de hoje sejam adultos
plenamente emancipados amanhã
A análise desses acontecimentos faz refletir que as pessoas mais
atuantes já passaram pelo sistema educativo protecionista, conseguiram
superar muitas barreiras e lançar a semente da emancipação social para
grande parte dos membros dessas minorias..
16
A pressão exercida por organizações, educadores e estudiosos do tema
tem dado resultados, como por exemplo, o aumento de matrículas de alunos
com deficiência, principalmente na rede pública.isto reflete uma realidade
bastante palpável, embora não seja possível atribuir méritos aos órgãos oficiais
ou aos educadores e outros profissionais que lutam pela inclusão.
Embora não participe tão efetivamente como muitos educadores
gostariam, e ainda que essa participação não seja clara e decisiva, o Poder
Público contribui em boa medida para essa expansão que se nota, não
somente no número de matrículas ou em outras estatísticas semelhantes, mas
em outras áreas da educação, como por exemplo o Programa Nacional do
Livro Didático (PNLD) que, através do Programa Nacional Biblioteca na Escola
(PNBE) prevê a distribuição, para 2007, de nove mil exemplares do dicionário
enciclopédico ilustrado em libras (Linguagem Brasileira de Sinais) para escolas
públicas que matriculem alunos com deficiência auditiva (fonte: revista
eletrônica Sentidos, disponível em www.sentidos.com.br).
Idéias da evolução dos conceitos ao longo dos tempos e progressos no
exercício dos direitos de ter um lugar na sociedade aos cidadãos portadores de
necessidades especiais. Tendo como exemplo a citação na Resolução
CNE/CEB Nº. 2 permitindo que escolas profissionalizantes façam parcerias
com o objetivo de formar estudantes portadores de deficiências, como
estabelecem os parágrafos 1º e 2º do artigo 17:
§ 1o As escolas de educação profissional podem realizar parcerias com escolas especiais, públicas ou privadas, tanto para construir competências necessárias à inclusão de alunos em seus cursos quanto para prestar assistência técnica e convalidar cursos profissionalizantes realizados por essas escolas especiais.
§ 2o As escolas das redes de educação profissional podem avaliar e certificar competências laborais de pessoas com necessidades especiais não matriculadas em seus cursos, encaminhando-as, a partir desses procedimentos, para o mundo do trabalho. (BRASIL, Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 De Setembro de 2001)
17
As páginas de classificados de emprego dos jornais e os anúncios em
diversas mídias oferecem vagas diariamente para portadores de deficiência, o
que se pode chamar, também, de uma grande conquista dos movimentos de
apoio e dos próprios portadores.
O mercado de trabalho está aberto , a motivação inicial é quase sempre o
cumprimento das quotas , exigidas pelo Decreto 3.298/99, conforme a
determinação da Lei 8.213/91, o número de empregos vem aumentando
substancialmente, o progresso é evidente. Em 2001 apenas 600 empresas no
Estado de São Paulo mantinham em seus quadros pessoas com deficiência,
atualmente são mais de 4.000 empresas.
Freqüentemente ouvem-se testemunhos de empresários, seja na
televisão ou qualquer outro meio, em que reconhecem o valor dessas pessoas
que, em geral, são extremamente dedicadas ao seu trabalho. Poder-se-ia dizer
que essa dedicação talvez seja fruto de muitas décadas de segregação,
quando portadores de deficiência viviam enclausurados por toda a vida, ou
ainda que haja, provavelmente, um impulso de provar que podem ser tão
empenhados e eficazes quanto qualquer trabalhador normal.
Qualquer que seja a hipótese, o que realmente importa é que, a cada dia,
surdos, cegos, deficientes físicos e mentais encontram, a pouco e pouco, seu
justo lugar na sociedade, desde os bancos escolares do 1º ciclo até oficias e
escritórios das empresas que antes ignoravam sua capacidade de se superar.
1.2 CONCEITOS
Embora as políticas educacionais brasileiras direcionadas às crianças
portadoras de deficiências tenham evoluído nos últimos cinqüenta anos,
passando do declarado protecionismo estatal que visava apenas o bem estar
da criança, aos aspectos médico-psicológicos.
18
Mais recentemente, até meados dos anos 1990, segundo MAZZOTTA
(1996), a política educacional oficial priorizou a educação de crianças
portadoras de deficiência em instituições especializadas, e na última década a
educação especial foi levada à rede pública de ensino, para algumas poucas
escolas especialmente preparadas para receber esses alunos.
Cabe aqui, antes de se continuar a análise, esclarecer o verdadeiro
sentido dos termos integração e inclusão, discussão que à primeira vista
parece estéril, mas que tem causado grande polêmica e debates acirrados
entre educadores, instituições e organizações dedicadas ao desenvolvimento
de pessoas com deficiência e os gestores das políticas públicas educacionais.
Questões semânticas à parte percebe-se ser de grande importância a
correta definição dos dois termos, uma vez que o significado correto de cada
um esclarece, no que diz respeito ao tema central deste estudo, grande parte
da polêmica ainda em curso.
De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, os dois termos são assim
definidos:
Integração. Política que objetiva integrar no seio de uma sociedade as minorias – raciais, religiosas, sociais, etc.
Inclusão. Relação existente entre a classe que é espécie e a classe que é gênero; Ato pelo qual um conjunto contém ou inclui outro. (Fonte: Novo Dicionário Aurélio, s/d).
A maioria dos educadores, e mesmo os muitos movimentos liderados por
pessoas com deficiências ressentem-se do termo integração, que na prática
soa como política oficial que determina, através de imposições legais, a
obrigatória aceitação de minorias pela sociedade, exatamente como descreve o
dicionário.
Já o termo inclusão se autodefine, embora o dicionário a ele atribua
acepções lógicas. A “relação entre a classe que é espécie e a classe que é
gênero” resume e ilustra o objetivo das discussões e debates travados por
educadores e especialistas: a relação entre a classe que é espécie (a
19
sociedade) e a que é gênero (as minorias) é direta e indiscutível. Ainda melhor,
o conjunto sociedade contém e inclui o outro, das minorias. Ainda que muitos
optem por manter a segregação, seja com boas ou péssimas intenções,
fatalmente terão de admitir a realidade lógica dessa relação, que existe em
teoria, e aprender a tolerar a inclusão definitiva, dessa vez na prática.
Os gestores governamentais pensam suas políticas educacionais para
deficientes considerando o aspecto da integração, ou seja, retirá-los de
instituições educacionais especializadas e clínicas e introduzi-los nas escolas
públicas, mantendo, porém todo o aparato composto por terapeutas, médicos e
professores especializados.
Ante a pressão contínua de organizações e associações dos próprios
interessados no sentido da inclusão total e incondicional de crianças e jovens
portadores de deficiência na rede pública, as políticas governamentais
começaram a elaborar leis e projetos, mas que terminaram por desfigurar as
iniciativas legítimas da proposta de inclusão total, como afirma MANTOAN:
A evolução dos serviços de educação especial caminhou de uma fase inicial, eminentemente assistencial, visando apenas ao bem-estar da pessoa com deficiência para uma segunda, em que foram priorizados os aspectos médico e psicológico Em seguida, chegou às instituições de educação escolar e, depois, à integração da educação especial no sistema geral de ensino. Hoje, finalmente, choca-se com a proposta de inclusão total e incondicional desses alunos nas salas de aula do ensino regular. Essas transformações têm alterado o significado da educação especial e deturpado o sentido dessa modalidade de ensino. Há muitos educadores, pais e profissionais interessados que a confundem como uma forma de assistência prestada por abnegados a crianças, jovens e adultos com deficiências. Mesmo quando concebida adequadamente, a educação especial no Brasil é entendida também como um conjunto de métodos, técnicas e recursos especiais de ensino e de formas de atendimento escolar de apoio que se destinam a alunos que não conseguem atender às expectativas e exigências da educação regular. (MANTOAN, 1998, 13(1), 10-28.
20
Um dos entraves atuais para a inclusão total é a visão oficial dos
chamados alunos com necessidades especiais. A falta de empenho das
autoridades do ensino faz com que haja grandes lacunas nas leis e diretrizes
de ensino, como por exemplo, a ausência de normatização de laudos periciais
competentes para avaliar o tipo de deficiência da qual determinado aluno é
portador.
MANTOAN faz uma crítica sobre essa indefinição governamental:
Essas indefinições justificam todos os desmandos e transgressões do direito à educação e à não discriminação que algumas redes de ensino estão praticando por falta de um controle efetivo dos pais, das autoridades de ensino e da justiça em geral. Ressalta-se neste momento a existência de ações que buscam garantir a esses alunos o respeito às suas conquistas legais de estudar com seus pares em escolas regulares. Para tanto, têm-se mobilizado os procuradores e promotores de justiça responsáveis pela infância e juventude, pessoas idosas e deficientes. As Recomendações dessas autoridades têm dirimido dúvidas e resolvido com sucesso os casos de inadequação e de exclusão escolar, em escolas do governo e particulares. (MANTOAN,1998, 13(1), 10-28).
A falta de visão global do problema e, em muitos casos, o completo
descumprimento do que preconiza a Constituição Federal de 1988, em seu
Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, Artigo 205: "A educação é
direito de todos e dever do Estado e da família", e em seu Artigo 208, prevê : ...
"o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia
de:.."atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino".
Não se pode, entretanto, atribuir esses obstáculos somente ao Poder
Público, uma vez que o preconceito e a visão distorcida da inclusão escolar
ainda influencia a disposição dos pais de alunos não deficientes,
principalmente em escolas particulares, que resistem à idéia de que seus filhos
convivam com portadores de deficiência.
A revista Pátio relata um exemplo desse tipo de comportamento de pais:
21
Suely Violla, mãe de Breno, de 23 anos, portador da síndrome de Down, conta que quando ele estava na 1ª série era o único aluno do colégio, particular, com a síndrome, até entrar outra portadora. ‘Eu estava no portão esperando meu filho, e uma mulher, ao ver os dois, comentou: ‘Vão encher esta escola de mongolóides’. (Fonte: Revista Pátio, ano 8, no. 88, agosto de 2004, p. 40).
Há inúmeros exemplos de discriminação em escolas de todo o mundo, e
os alvos não se restringem somente a portadores de deficiências físicas ou
mentais. Judeus, negros, ateus, homossexuais e soropositivos são vítimas
permanentes de maus tratos, ofensas e agressões e, pior, muitas vezes com o
apoio ou omissão do corpo docente e dos diretores das escolas.
A luta permanente pela inclusão escolar de portadores de deficiência
acaba por esbarrar nos mesmos obstáculos que impedem a inclusão dessas
outras minorias, o que nos faz deduzir que as dificuldades são as mesmas para
todos que são diferentes.
A incansável dedicação dos educadores à causa dos portadores de
deficiência enfrenta preconceitos e má vontade política, medo irracional de
muitas pessoas e intolerância, ou seja, os mesmos ingredientes que fazem
parte das relações humanas há milênios.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, lei nº 9394/96),
e outras inúmeras disposições legais, tentam oficializar e normatizar o direito à
educação como prescreve a Constituição Federal.
Após oito anos de discussões no Congresso Nacional Brasileiro foi
sancionada, no dia 20 de dezembro de 1996, a segunda Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDB, nº. 9.394, onde é destinado um único
capítulo para a Educação Especial: o Capítulo V.
A LDB, em seu artigo 58, define a educação especial como: "(...)
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos que apresentam necessidades especiais".
22
O que parece ser um avanço sobre as disposições legais anteriores,
entretanto, dá margem a diferentes interpretações, principalmente pelo uso do
advérbio preferencialmente, o que tem sido foco de debates entre o Poder
Público e educadores.
Entre obrigar instituições a acolher estudantes portadores de deficiência
por força de lei, e ignorar a inclusão escolar, as autoridades que elaboraram a
LDB optaram por uma posição neutra. O termo preferencialmente desobriga
qualquer instituição escolar de admitir estudantes com disfunções físicas ou
mentais, uma vez que esses indivíduos necessitariam de cuidados especiais,
como alterações arquitetônicas, a presença de psicólogos educacionais e
professores especializados.
Tratando-se de instituições particulares, para quem a inclusão traria
aumento de custos, seria compreensível que houvesse resistência, por
exemplo, devido a aumento de custos, mas nas escolas da rede pública essa
mesma resistência tem outras razões, diretamente ligadas à precariedade do
sistema de ensino.
Importante notar, porém, que discriminação e preconceitos sempre
existirão e sempre existirão, mas é indiscutível que a nova LDB avançou, ao
menos nas intenções, no sentido de estabelecer uma inclusão escolar de fato,
ainda que várias outras disposições, como mecanismos apropriados de
avaliação, não tenham sido incluídos.
Há outros avanços que devem ser comentados, como o artigo 59 da
mesma lei, que dispõe sobre as garantias didáticas diferenciadas, como
currículos, métodos, técnicas e recursos educativos; terminalidade específica
para os alunos que não possam atingir o nível exigido para a conclusão do
ensino fundamental em virtude da deficiência; especialização de professores
em nível médio e superior e educação para o trabalho, além de acesso
igualitário aos benefícios sociais.
A questão central, entretanto, não está devidamente esclarecida. A que
tipo de educação o aluno com deficiência teria direito: o ensino regular,
juntamente com os outros colegas, ou exclusivamente ao ensino especial, com
23
apoio, em classe, de professores especializados e assistência médica e
psicológica?
Se prevalecer essa última alternativa, as escolas regulares, da rede
pública ou não, estariam obrigadas a se adaptar ao aluno com necessidades
especiais? Mas na prática não há essa obrigatoriedade, pois a LDB e outras
normas legais complementarem enfatizam o termo preferencialmente.
Assim, a polêmica permanece. O atendimento de alunos com diferentes
necessidades pressupõe o treinamento específico de professores para lidar
com, por exemplo, alunos com deficiência mental. Mas a maioria dos
educadores afirma que a formação atual dos professores não os capacita nem
mesmo para lidar com a diversidade natural que se encontra em qualquer sala
de aula.
Dessa forma, seria necessário que a formação regular dos professores
provesse mais conhecimentos gerais, e não especificamente conhecimentos
necessários para lidar com alunos portadores de deficiência.
MANTOAN cita debate promovido pela Câmara do Ensino Básico do
Conselho Nacional de Educação sobre a criação das Diretrizes Curriculares da
Educação Especial.
O que mais nos surpreende, neste documento é que, a despeito da ampla discussão entre os educadores, legisladores, pais e pessoas com deficiência, o conceito de inclusão escolar não avançou, do ponto de vista das suas aplicações na mesma medida em que vem sendo esclarecido, do ponto de vista teórico. No referido Documento como em muitos outros, fica evidente esse descompasso, quando se afirma, por exemplo, que: "Operacionalizar a "inclusão escolar" de todos os alunos, independentemente de classe, raça gênero, sexo ou características individuais é o grande desafio a ser enfrentado , numa clara demonstração do respeito à diferença" (p.21). Ele (o documento) defende a inclusão, mas sugere em todo o texto ações que não respeitam os princípios de uma escola para todos, sem discriminações e preconceitos, sem ensino à parte. (MANTOAN, 1998, p. 48 – 51).
24
O documento a que se refere MANTOAN deu origem à Resolução
CNE/CEB Nº 2, de 11 De Setembro de 2001, objeto de tantas divergências, na
verdade traz alguns avanços no que diz respeito à educação de portadores de
deficiências, embora ainda seja ambíguo por tratar o atendimento a esses
alunos como ‘educação especial’, o que, em última análise, termina por ser
uma espécie sutil de segregação.
O artigo 3º assim regulamenta o ensino dirigido a alunos portadores de
deficiências:
Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem constituir e fazer funcionar um setor responsável pela educação especial, dotado de recursos humanos, materiais e financeiros que viabilizem e dêem sustentação ao processo de construção da educação inclusiva. (BRASIL, Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 De Setembro de 2001).
A Resolução procura, além de instituir normas legais para a inclusão
educacional de deficientes, estabelecer parâmetros para a inclusão social,
defendendo e propondo mecanismos educacionais voltados ao
desenvolvimento psicológico e social do aluno, como estabelece o Artigo 4º,
que reproduzimos a seguir.
Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a educação especial considerará as situações singulares, os perfis dos estudantes, as características bio-psicossociais dos alunos e suas faixas etárias e se pautará em princípios éticos, políticos e estéticos de modo a assegurar:
25
I - a dignidade humana e a observância do direito de cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho e de inserção na vida social;
II - a busca da identidade própria de cada educando, o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e potencialidades, bem como de suas necessidades educacionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências;
III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e o usufruto de seus direitos. (BRASIL, Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 De Setembro de 2001).
Não se pode afirmar que essa Resolução esteja vigorando de fato, ou
seja, que todas as escolas da rede pública e privada estejam preparadas para
receber alunos portadores de deficiências severas, por exemplo.
Examinando detidamente estatísticas, relatórios e resultados de censos
oficiais, não é possível afirmar-se que a educação inclusiva seja mesmo um
fato.
Contudo, a democratização do ensino é o grande objetivo, apesar das
boas intenções da Resolução, o que na verdade aspiram os educadores que
pregam a inclusão total é o acolhimento igualitário os “marginalizados”,
recebendo por igual o apoio do corpo escolar, da comunidade e do poder
público.
Em artigo publicado na revista eletrônica Sentidos, CLÁUDIA DUTRA,
titular da Secretaria de Educação Especial (Seesp/MEC), informa que houve
sensível aumento em número de matrículas de portadores de deficiência na
rede pública de ensino. De acordo com a secretária, de acordo com o último
censo escolar, o Brasil tem hoje 639.259 estudantes com necessidades
especiais matriculados na educação básica, e cerca de 5.400 na educação
superior. CLÁUDIA DUTRA afirma que:
26
A rede pública concentra hoje 60% das matrículas da educação básica, uma situação inversa à de 2001, quando 48,9% desses alunos estavam em escolas públicas e 51,1% em instituições particulares. Um crescimento que se deve, principalmente, às ações deflagradas pelo MEC para transformar o sistema de ensino num sistema inclusivo, considerando que todas as crianças têm acesso à escolarização. (Revista Sentidos, Aumento de matrículas na rede pública, disponível na WWW: <http://www.sentidos.com.br/canais=educar
Ainda segundo a secretária, o Programa de Educação Inclusiva: Direito à
Diversidade, que hoje atua em 144 municípios-pólo, com área de atuação que
abrange 2.583 cidades, tem metas ambiciosas: “A meta para 2006 é atingir
4.644, com a formação de professores e gestores (...). Até o fim de 2006, a
meta é formar 80 mil gestores e educadores”.
Ouvindo-se os dois lados da contenda podemos perceber algumas
contradições, a começar pelo tom otimista da Secretaria de Educação Especial.
A secretária cita números e porcentagens, mas não é clara quanto à questão
da necessidade real de profissionais. Por outro lado, o aumento de matrículas
reflete uma realidade bastante palpável, embora não seja possível atribuir
méritos aos órgãos oficiais ou aos educadores e outros profissionais que lutam
pela inclusão.
A escola é ferramenta essencial. A educação transforma as pessoas que
tem acesso à educação formal. Isso é fundamental para a convivência em
sociedade. As pessoas com deficiência que freqüentam escolas regulares
certamente formarão pessoas mais autônomas e mais capacitadas para gerir
suas vidas.
Não se pode deixar de repetir que os próprios portadores de deficiência
continuam a se organizar e mobilizar, e estão conseguindo espaços que até há
pouco tempo eram impensáveis. Assim, podemos concluir que cada vez mais
os portadores de deficiência estão dedicados ao próprio desenvolvimento e se
esforçam para conseguir oportunidades para seu desenvolvimento.
27
CAPÍTULO II
O BRINQUEDO E O BRINCAR
Um dos principais recursos nas terapias destinadas ao desenvolvimento é
o brinquedo. Refletir sobre o significado real e a influência do brinquedo e do
brincar na formação do indivíduo.
Neste capítulo se aprofundará os estudos e pesquisas para as crianças
portadores de deficiência mental, relacionando o brincar , a imaginação e a
criatividade.
Muitos estudiosos, em particular educadores e psicólogos, dedicaram
grande parte de seus trabalhos ao estudo desse recurso, tanto para crianças
normais como para portadoras de deficiência mental.
Sabe-se que há milênios a humanidade se vale do brinquedo para
diversos fins além do simplesmente lúdico. O brinquedo é o elo principal do
homem com sua infância, e vice versa. O ato de brincar contém em si a
semente da descoberta; é através dos jogos que o bebê inicia sua caminhada
para o saber, e começa a entender o mundo socialmente construído.
2.1 CONCEITOS
Donald WINNICOTT, psicanalista inglês, revolucionou os meios
psicanalíticos ao relacionar o ato de brincar e o brinquedo com a descoberta do
mundo social fora
da subjetividade do bebê. Essa descoberta é contínua e permanente desde a
infância até a idade adulta e a velhice. O que muda é o símbolo: de ursos de
pelúcia a carros e barcos, de bonecas a computadores. O sentido implícito na
28
brincadeira infantil, que não tem disfarces, é o mesmo da brincadeira adulta,
esta sempre camuflada de atos e ações sérias e/ou utilitárias.
Esse sentido implícito e ao mesmo tempo explícito do ato de brincar levou
Winnicott a utilizar-se de jogos e brincadeiras, tanto para adultos como para
jovens, em sessões de psicanálise. A enganosa aparência superficial e
supérflua do brincar, segundo WINNICOTT, guarda em si relações importantes
como por exemplo mãe-bebê, bebê-mãe ou bebê-realidade, e ricas
experiências pessoais.
O psicanalista SÉRGIO DE GOUVEIA FRANCO, citando WINNICOTT em
seu Livro O brincar e a realidade (1975), comenta as primeiras ações do bebê
com relação a objetos que estão momentaneamente fora de sua realidade, e
servem como porta de entrada para um mundo desconhecido, que aos poucos
será internalizado pelo bebê.
Quando a mãe tem uma relação de sintonia inicial com o bebê, estabelece-se um ambiente de confiança e o bebê brinca com a realidade. Trata-se de uma brincadeira muito prazerosa porque neste jogo delicado da subjetividade emergente e dos objetos reais há uma sensação de controle. Um estádio mais avançado fala da experiência de ficar sozinho na presença de alguém. A criança brinca confiante de que a pessoa a quem ama está lá, disponível, sustentando o brincar. A mãe é esquecida, mas quando lembrada, o é como alguém que merece confiança e pode ser facilmente acessada. Assim, a criança vai ficando pronta para a experiência de desfrutar de uma área de superposição de duas áreas do brincar. Não só o bebê brinca e é observado; a mãe brinca com o bebê também, no começo age de modo a não romper o dinamismo da brincadeira infantil. Depois, a mãe pode introduzir plenamente o seu brincar; a criança, por sua vez, pode experimentar relacionar-se com idéias que não lhe são próprias. (FRANCO, jan./jun. 2003, vol.6, no.1 p.45-59. Disponível na <http://www.scielo.br/scielo.php?script=
Essa admissão inicial de que há, fora do domínio do bebê, um mundo que
sempre existiu e continuará a existir fora de seu controle resulta nos primeiros
passos da pessoa rumo à interação com outras pessoas e com coisas reais,
29
que mais tarde descobrirá que poderão ser construídas, transformadas,
moldadas por ele próprio.
A realidade é ao mesmo tempo maleável, passível de mudanças,
objetivamente imutável e subjetivamente moldável. Paralelamente à descoberta
dessas propriedades pelo bebê, que se inicia como sujeito de mudanças, ou
seja, de dentro para fora, a realidade recém descoberta também o transforma,
de fora para dentro.
O brinquedo deve cumprir essa função: ensinar, educar, preparar para o
pior e o melhor. Meninos devem brincar com soldados de chumbo, por
exemplo, ou carros, ou guindastes, ou mesmo armas. Meninas deverão ter
bonecas, de preferência que reproduzam situações da vida real, como namoro,
casamento, separação, maternidade.
O brinquedo realista propõe à criança uma atividade que lhe é bastante
familiar, e que, no entanto não carece de incentivo externo: a imitação
WINNICOTT diz que “o brincar é essencial, porque é através dele que se
manifesta a criatividade” (1975, p.80). Essa afirmação, tão óbvia num primeiro
julgamento, resume, em parte, o pensamento de WINNICOTT, e nos dá
excelente respaldo no que diz respeito à discussão proposta por esse trabalho,
em que tratamos de pessoas cuja percepção do real e do eu inexiste ou, até
mesmo, está camuflada por uma vivência infantil do brincar ainda não
totalmente evoluída.
O brincar na visão de WINNICOTT tem o poder de desvendar e ordenar
os distúrbios mentais, uma vez que esta ação faz com que o sujeito se
encontre frente a frente com uma realidade ordenada e socialmente construída,
da qual ele é parte e agente. Mas o brincar como ato de criatividade, para que
seja efetivo como elemento de percepção do real e construção do eu deve ser
espontâneo, como diz FRANCO:
A criação não pode ser feita apenas com disciplina; ela se manifesta em um espaço propriamente criativo. A grande obra de criação de que estamos falando, seguindo o pensamento de Winnicott, é o
30
próprio eu — ou self. Trata-se de um trabalho que se realiza quando se permite um conjunto de brincadeiras, de contrastes, de associações de partes que antes estavam dissociadas. O eu é ao mesmo tempo descoberto e construído — este trabalho só pode ser dar plenamente no ambiente da brincadeira. Quando o ambiente não é o da brincadeira no sentido que Winnicott está propondo, o paciente — adulto e criança — não pode mobilizar seu eu integral. No ambiente criativo e experimentativo da brincadeira é que é possível a manifestação de todas as partes do eu, não apenas do paciente mas do analista também. De outro modo, o que se tem é uma comunicação falsa e artificial, autoritária ou, simplesmente, a comunicação não existe. A verdadeira comunicação se dá neste ambiente de brincadeira, uma comunicação profunda sem ser direta. (FRANCO, [online]. jan./jun. 2003, vol.6, no.1 [p.45-59. Disponível na: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=
Segundo WINNICOTT (1975), é necessário que essa busca do eu não
seja intencional, ou ainda, não dependa de esforços pessoais concentrados e
dirigidos, mas sim de espontaneidade, de relaxamento ou, em suas palavras, a
busca deve ser uma experiência baseada na não-intencionalidade.
Numa situação entre paciente e analista, a aparente desconexão de atos
e palavras do primeiro não deverá, segundo WINNICOTT, provocar no
segundo a vontade de interpretar, de encontrar sentido. O fluxo desconexo é o
estado puro da criatividade não intencional.
Em resumo, podemos dizer que o relaxamento que nasce de experiências de confiança é a base para a atividade criativa que se manifesta na brincadeira. A soma destas muitas experiências de relaxamento e criação é que permite a formação de um sentimento verdadeiro de self. É no brincar e talvez apenas no brincar que a criança e o adulto experimentam liberdade suficiente para criar e criar-se. É um espaço potencial, ou seja, um espaço onde toda a potência do indivíduo se mobiliza em busca de uma concretização não obsessiva. (FRANCO, [online]. jan./jun. 2003, vol.6, no.1 p.45-59. Disponível na <http://www.scielo.br/scielo.php?script
A busca incessante pelo eu é necessária, uma vez que a criança ou o
adulto freqüentemente percebem-se abandonados em meio ao turbilhão de um
31
mundo muitas vezes estranho e hostil. Saber-se, conhecer-se e confiar nos
próprios atos são maneiras de amenizar essa sensação de desamparo que não
se esvai, e esse conhecimento permite continuar o caminho rumo a novas
descobertas, absolutamente necessárias para que o processo de ser e
continuar a ser, de criar e criar-se, continue a fluir.
2.2 SIGNIFICADOS
Segundo BENJAMIN (1984), muitos dos mais antigos brinquedos (a bola,
o papagaio, o arco, a roda de penas) foram de certa forma impostos às
crianças como objetos de culto e somente mais tarde, devido à força da
imaginação das crianças, transformados em brinquedos.
O brinquedo nas comunidades antigas não eram vistos como simples
entretenimento, objetos de lucro ou atividade não produtiva. Adultos e crianças,
meninos e meninas compartilhavam brinquedos sem discriminação, e os
compravam de artesãos de outras profissões: "(...) os animais de madeira
entalhada podiam ser encontrados no carpinteiro, os soldadinhos de chumbo
no caldeireiro, as figuras de doce nos confeiteiros, as bonecas de cera no
fabricante de velas" (1984, p. 245).
Não havia um fabricante específico de brinquedos, ou uma loja
especializada em sua venda. Atualmente, os objetivos e razões da criação,
produção, distribuição e venda dos brinquedos têm propósito bastante distinto
daqueles das comunidades antigas. Além do importante papel econômico, o
brinquedo atual procura amestrar e associar crianças para o mundo do trabalho
e das funções adultas (SANTIN, 1990).
Apesar da transformação do brinquedo em algo totalmente diverso de
suas antigas funções, ainda persiste sua importante função de mímesis, ou
imitação.
32
Para BENJAMIN (1985), a faculdade humana de imitar é construída na
infância, principalmente nos espaços das brincadeiras e dos jogos, que são
impregnados de comportamentos miméticos que vão além da imitação de
pessoas. Nesse sentido, a capacidade mimética cumpre um importante papel
na formação do sujeito, pois é na educação infantil que as crianças se
apropriam dos elementos culturais dos adultos, internalizando, reproduzindo e
reinventando gestos, modos de andar, de falar, de sentir, de ser. Os jogos
infantis, como nos aponta BENJAMIN (1985), são impregnados de
comportamentos miméticos, que não se limitam de modo algum à imitação de
pessoas, pois as crianças não brincam apenas de ser comerciante ou
professor, mas também de moinho-de-vento e trem.
Para BENJAMIN, essa imitação vai bem além da capacidade infantil de
reproduzir, através de brinquedos e jogos, o mundo adulto que lhes é
completamente estranho e ao mesmo tempo fascinante.
A capacidade da criança de viver a história contada por alguém durante
uma tarde de brincadeiras, o poder de imaginar-se dentro da história, ou de ser
um de seus personagens, deixando-se impregnar por um mundo diverso
daquele que está lá fora é uma das características da construção paulatina do
real, pela criança, a partir do fantástico, do irreal e do imaginado. Essa
capacidade, entretanto, é aos poucos reduzida, principalmente no seio da
família que, através de brinquedos padronizados e utilitários (jogos eletrônicos,
jogos competitivos).
Embora destituído de seu caráter primitivo de conexão com o mundo
impalpável, o brinquedo continua a exercer sua função de ponte entre o mundo
infantil e o mundo social (e, portanto ainda intangível).
No início da vida escolar, a capacidade mimética é acentuadamente
reduzida, uma vez que o lado lúdico, imaginativo e criativo da criança nem
sempre é estimulado. Segundo HORKHEIMER & ADORNO(1985), a escola é
protagonista na tarefa de deixar esta dimensão relegada a lembranças; na
escola não se aceita nada de intuições, imagens, representações e jogos, mas
somente o que representa cálculo e pensamento matematizado, no qual o
33
sujeito, por meio de seu pensamento, se identifica, ou melhor, se iguala ao
mundo (p. 275).
Esse esquematismo imposto pelo adulto à criança se evidencia em fato
narrado pelo pedagogo GILDO VOLPATO, em artigo publicado no sítio
www.scielo.br: sobre pesquisa realizada pela educadora M. S. Rocha em
escolas de Campinas:
Rocha (1997), em pesquisa realizada em uma classe de educação infantil, nos relata alguns episódios que ajudam nessa reflexão. Escreve a autora (p. 77): A professora passa perto de uma brincadeira de casinha, que inclui papéis de pai, bebês, mãe, empregada e coiote. É informada pelas crianças sobre a temática e sobre os papéis do jogo e diz: 'Coiote? Pode ter coiote na casa?. Tendo por base a análise da autora, podemos dizer que com esta atitude a professora indica que há, a priori, uma expectativa em relação a que papéis devem compor uma temática de "casinha" e que aquilo que se distancia dos parâmetros habituais, ou seja, a representação de algo que não condiz com o real, causa, no mínimo, estranhamento. (VOLPATO, [online]. dez. 2002, vol.23, no.81 p.217-226. Disponível na <http://www.scielo.br/scielo.php?script=
Essa desconstrução meticulosa e proposital do talento imaginário infantil
nas escolas, porém, não é tão efetiva quanto à primeira vista aparenta, haja
vista o tendência natural de qualquer criança por objetos sem valor ou não
projetados para ser brinquedos, como pedaços de barbante, latas velhas, paus
e pedras, que continuam a ser transformados em divertidos brinquedos.
BENJAMIN (1984, p. 77) reconhece essa capacidade de re-construção do
real a partir de relações a priori destituídas de sentido:
Elas (as crianças) sentem-se irresistivelmente atraídas pelos destroços que surgem da construção, do trabalho no jardim ou em casa, da atividade do alfaiate ou do marceneiro. Nesses restos que sobram elas reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e só para elas. Nesses restos elas estão menos empenhadas em imitar as obras dos adultos do que em
34
estabelecer entre os mais diferentes materiais, através daquilo que criam em suas brincadeiras, uma nova e incoerente relação. (BENJAMIN, 1984, p. 66).
Pode-se resumir essa espécie de resistência infantil ao mundo ordenado
e coerente como uma forma de reconstruir, ou recriar a realidade a partir de
brinquedos representados por restos e lixo. Parecendo, portanto, que a
imaginação infantil, (e não só a infantil), resiste a ordenamentos, e que a
vontade de recriar-se e recriar o mundo ignora a vontade contrária, que
acredita não ser necessária a recriação e a imaginação.
O sentido unificador do brinquedo para as comunidades humanas
transformou-se completamente em nosso tempo.
A união mística e ritualística que comentamos hoje não existe; os
brinquedos foram convertidos em ferramentas de ensino e padronização de
comportamentos, e até de controle social. Segundo BROUGÈRE (1997), o
objetivo do brinquedo está associado ao seu valor comercial, às novas formas,
novos meios de aquisição: “é preciso aceitar o fato de que o brinquedo está
inserido em um sistema social e suporta funções sociais que lhe conferem
razão de ser” (p. 7).
A transformação do sentido primitivo do brinquedo não pode ser
considerada totalmente negativa, uma vez que, através dele, a comunidade
procura preservar sua continuidade. O brinquedo, então, passa a ser um meio
de transmitir às crianças que futuramente serão seus membros as regras,
normas, papéis e atribuições, numa tentativa de controle do futuro.
Sobre a mercantilização do brinquedo, agora objeto de lucro e subterfúgio
para uma educação não crítica, SANTIN (1990) afirma que:
Infelizmente o homem adulto, do negócio e do trabalho, acabou se aproveitando desta dimensão lúdica da criança. Explorando essa ludicidade da criança, o adulto a induz, com artifícios, a adotar os valores do adulto. A astúcia do adulto começa pela produção de
35
brinquedos que a introduzem no mundo do trabalho e das funções do adulto. (SANTIN, S. 1990, p. 26).
Para BROUGÈRE (1997, p. 63), o brinquedo é a "materialização de um
projeto adulto destinado às crianças (portanto vetor cultural e social) e que tais
objetos são reconhecidos como propriedade da criança, oferecendo-lhe a
possibilidade de usá-los conforme a sua vontade, no âmbito de um controle
adulto limitado".
O brinquedo é um testemunho mudo da forma como os alunos se
colocam em relação ao mundo infantil. É preciso controlar, supervisionar,
acompanhar, sem o que o brinquedo seria um objeto com um fim em si,
praticamente inútil por não ser parte de um projeto maior.
Este controle é necessário: há guerras reais, portanto o brinquedo deve
refletir essa realidade; há consumismo, intolerância, violência gratuita ou não,
há pobreza e riqueza. Para o adulto, essa é a realidade que o futuro membro
de sua comunidade terá de encarar, qualquer atividade infantil deve ser uma
preparação para o que virá na vida adulta.
2.3 O BRINCAR NA ESCOLA
VYGOTSKY deixou uma obra consistente, que influenciou, e continua a
influenciar, educadores e outros estudiosos da aprendizagem e do
desenvolvimento do sujeito pela aquisição de conhecimento.
Essa aquisição de conhecimento, ponto central da teoria de VYGOTSKY,
parte do princípio que, para desenvolver-se como pessoa capaz de conhecer e
modificar o meio, o indivíduo deve interagir permanentemente com o mundo,
como explica a educadora VERA LÚCIA ZACHARIAS:
36
As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de
conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à
questão cultural no processo de construção de significados pelos
indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na
transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles
aprendidos na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das
funções psíquicas superiores como internalização mediada pela
cultura. (ZACHARIAS, [online], 06062006, disponível na WWW:
http://www.centrorefeducacional.com.br/vygotsky.html, acesso em
18/06/2006).
As funções psíquicas superiores referidas por VYGOTSKY são, por
exemplo, linguagem e memória são desenvolvidas a partir da interação social
do indivíduo, seja com seu meio, seja com o mundo. Dessa forma, essas
funções só se desenvolvem por determinação voluntária, intencional,
dependendo também de aprendizagem.
Portanto, para fazer-se membro do mundo socialmente construído, deve-
se ter vontade e intenção, sem o que se permanecerá isolado. Para atingir o
meio e dele se fazer membro, tem-se que aprender.
VYGOTSKY (1988) enfatiza essa aprendizagem como um conjunto de
relações:
(...) a construção do conhecimento é a interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social, pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo. (VYGOTSKY, 1988).
37
O outro social a que se refere VYGOTSKY, e que atua na construção do
conhecimento do indivíduo, como ele mesmo diz, pode ser um objeto, mais
especificamente um brinquedo.
Para VYGOTSKY (1988) “no brinquedo, a criança sempre se comporta
além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento
diário é como se ela fosse maior do que é na realidade”
A criança pequena, por exemplo, tem uma necessidade muito grande de
satisfazer os seus desejos imediatamente. Quanto mais jovem é a criança,
menor será o espaço entre o desejo e sua satisfação. No pré-escolar há uma
grande quantidade de tendências e desejos não possíveis de ser realizados
imediatamente, e é nesse momento que os brinquedos são inventados,
justamente para que a criança possa experimentar tendências irrealizáveis.
A impossibilidade de realização imediata dos desejos cria tensão, e a
criança se envolve com o ilusório e o imaginário, onde seus desejos podem ser
realizados. É o mundo dos brinquedos.
Nessa fase a criança começa a desenvolver verdadeiramente a
imaginação, para ela um processo novo por ser uma atividade consciente,
dependente de ação e vontade. Com a imaginação, a criança começa a
aprender a resolver situações reais, um recurso que utilizará ao longo de sua
vida.
2.4 VISÃO DO PROFESSOR
A professora de arte SALLY M. ATACK, especialista em ensino de
crianças portadoras de deficiência explica, em seu livro Atividades artísticas
para deficientes, como funcionam e qual o efeito de diversas técnicas artísticas
para crianças com variados graus de deficiência física e mental, e de várias
faixas etárias.
38
Como exemplo da utilização da arte como meio de incentivar a
exploração tátil, visual e cognitiva de materiais se reproduzirá algumas
sugestões da professora de artes, especializada em portadores de deficiência,
sobre o uso da arte como estímulo de movimentos corporais em portadoras de
déficit mental severo e conseqüente falta de controle corporal.
Quando utilizada para esses fins, a arte se transforma em brinquedo e
brincadeira, que por sua vez volta a ser arte. O objetivo da arte-terapia é
explicado pela professora:
O trabalho sugerido (...) consiste em encorajar a exploração e descoberta dos materials e dos movimentos que a criança é capaz de fazer. As atividades objetivam estimular o controle das ações corporais, aumentar a resistência muscular e estimular a percepção visual e tátil. Esse conjunto forma uma base essencial sobre a qual maiores aquisições de habilidades podem ser construídas. (...). (ATACK, 1995, p. 58).
O trabalho, como se pode deduzir, é demorado e exige paciência, tanto
do terapeuta quanto dos pais. Para a criança, certamente será prazeroso no
decorrer das atividades. Como se observará adiante, tanto os fundamentos e
regras desse tipo de terapia são cuidadosamente planejados para deixar a
criança à vontade, exercendo sua criatividade e tomando decisões quanto ao
que fazer, e quando. A terapia assim desenvolvida contribui, sem dúvida, para
o sucesso no processo de aprendizagem.
A seguir, ATACK dá algumas sugestões de como o terapeuta deve
proceder para desenvolver essas atividades.
Todas as atividades (...) referem-se somente ao que está ocorrendo durante a atividade. Não são feitas referências a objetos que não podem ser vistos, ou a ocorrências passadas. Deve-se lidar essencialmente com o ‘aqui e agora’. Obviamente, podem ocorrer situações em que se estabeleçam ligações com ações passadas, principalmente em aulas subseqüentes de uma mesma atividade. Será possível chamar a atenção das crianças para as cores, texturas ou formas tanto em outras situações quanto durante as atividades
39
artísticas. Isso, sem dúvida, auxiliará o processo de aprendizado. (ATACK, 1995, p. 59).
A professora sugere, para essas crianças, atividades como pintura a dedo
em papel de grandes dimensões, impressão com as mãos, rabiscos, círculos, e
também trabalhos com argila. O trabalho só deve ser dirigido quando
absolutamente necessário, e a terapeuta deve deixar que as crianças se sujem,
e mesmo que usem outras superfícies não convencionais para trabalhar como
chão e parede.
O objetivo da atividade é incentivar e estimular movimentos amplos, que
no caso de crianças com dificuldade de controle corporal serão a base para
movimentos mais precisos e afinados.
ATACK descreve outras atividades para crianças com deficiência mental
e de coordenação motora, como por exemplo, a confecção de um álbum de
recortes que, segundo a autora, desenvolve habilidades e movimentos
necessariamente coordenados.
A confecção de um álbum de recortes depende de duas habilidades difíceis: a de cortar com tesoura e a de colar. Aprender a colar corretamente requer supervisão atenta nos estágios iniciais, quando a criança precisará ser lembrada para passar a cola no verso da figura que escolheu, virá-la para então colá-la no seu lugar! É quase inevitável que a criança comece passando cola no lado da figura que deve ficar à mostra. Ao ajudar uma criança que está desenvolvendo essa habilidade, lembre-a constantemente do que deve fazer, falando e mostrando o modo correto. O uso da tesoura requer habilidades complexas, já que é preciso abri-la e fechá-la com uma das mãos, mantendo-a na direção desejada. (ATACK, 1995, pp. 124-125).
Os exercícios e atividades descritos aqui são praticados em sala especial,
como descreveu AXLINE. Nas descrições, o único propósito das atividades é o
desenvolvimento de habilidades e o gradual aumento da criatividade.
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As crianças que desempenham as atividades descritas estão sendo
submetidas a terapias bastante específicas, sendo que a atividade escolar é
exercida à parte. No próximo tópico, se falará de atividades similares, porém
praticadas em sala de aula.
O incentivo do professor e seu devido preparo, o trabalho de psicólogos e
psicopedagogos, a ludoterapia e a iniciativa e disposição dos próprios
portadores de deficiência vão, aos poucos, aumentando as oportunidades e
diminuindo os preconceitos de uma sociedade que, em vista das conquistas
dos portadores de deficiência nos dias atuais, finalmente estará aberta para
receber todos os cidadãos, com ou sem deficiências.
Muitos autores e estudiosos das áreas de psiquiatria, psicologia e
pedagogia buscam e pesquisam novas técnicas e alternativas para tornar mais
eficazes as reações mentais de pessoas com déficit intelectual sujeitas às
pressões e demandas do meio escolar.
MANTON fala também dos estudos de educadores, psicopedagogos e
especialistas na procura de mecanismos para exercitar e desenvolver as
capacidades mentais diminuídas nos portadores de deficiência mental para um
melhor aproveitamento escolar.
Estamos pessoalmente tentando exercitar a mobilidade e a consciência cognitiva e diminuir as dissonâncias entre o nível de desenvolvimento da competência intelectual de alunos deficientes mentais e as modalidades espontâneas de utilização de estratégias, em situações de sala de aula (Mantoan 1996). O exercício dessa mobilidade na escola difere do que se prescreve para atendimentos clínicos, pois o treino das funções cognitivas deficitárias não tem um fim em si mesmo, nas salas de aula. A atualização das habilidades intelectuais alternativas dos alunos com deficiência mental decorre de uma prática de ensino que mobiliza o sujeito a pensar, a descobrir e a criar, para alcançar seus objetivos. Em outras palavras, o desenvolvimento de habilidades intelectuais alternativas e a mediação para estimular o subfuncionamento mental no meio escolar acontecem quando os alunos estão inseridos em um meio escolar livre de imposições e de tensões sociais, afetivas e intelectuais. Esse clima de trabalho escolar propicia o equilíbrio entre os aspectos afetivo e intelectivo das aprendizagens, mantendo a motivação, a curiosidade e a concentração necessárias à
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sustentação do sujeito, na busca da solução do problema. (MANTOAN, [online]. Set. 1998, vol.19, no.46 [p.00-00. Disponível na: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=
O relato que se reproduzirá a seguir foi feito por ANDREA TONINI,
educadora e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Maria no Rio
Grande do Sul.
O trabalho da educadora foi desenvolvido em escola pública estadual do
mesmo município, sendo o objetivo analisar o desempenho de professores
especializados em educação especial.
A escola em questão aderiu à proposta da inclusão de alunos com
deficiência, dispondo inclusive de uma sala de recursos, destinada ao
atendimento de alunos com deficiências leves ou, como são chamados,
treináveis.
As atividades da escola em geral, e dos professores em particular, foram
acompanhadas pela pesquisadora por um período de dois semestres, sendo
que a sala de recursos foi avaliada em primeiro lugar.
Uma das professoras especializadas em educação especial explicou o
funcionamento da sala:
(A proposta da sala de recursos) é trabalhar com os alunos sempre buscando não dar um reforço pedagógico, mas trabalhar as necessidades básicas para que ele venha conseguir acompanhar o grupo, o conteúdo, as disciplinas que ele vai avançando e trabalhar junto aos professores. (...) O objetivo é desenvolver ao máximo o potencial do nosso aluno, do aluno que está incluso no ensino regular, e para que isso aconteça se realiza um trabalho junto aos professores também. (TONINI, [online], Disponível na http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/02/a4.htm).
Essa professora explica que a sala é utilizada como recurso de apoio aos
estudantes portadores de deficiência, com o objetivo de incentivar, motivar e
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despertar o potencial e as habilidades de cada um, para posteriormente retirá-
los das salas especiais e a partir daí ter bases para aperfeiçoar o processo
ensino-aprendizagem em sala de aula, juntamente com alunos comuns.
A professora dá uma idéia geral do trabalho desenvolvido nas salas de
recursos:
Não seria apoio propriamente , mas de intensificar o trabalho que se realizava na classe especial mas em menor número de alunos, até individual muitas vezes, para que aquele aluno conseguisse desenvolver o potencial dele, que tinha e que a gente via que estava sendo desperdiçado em detrimento de outras situações inevitáveis dentro de uma sala de aula de educação especial. Temos inúmeros tipos de deficiência dentro de uma sala de aula. Tipos de deficiência então, que de certa forma, em momentos auxiliam, ajudam, é positivo, e em momentos é negativo também. (TONINI, [online], Disponível na: http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/02/a4.htm).
Segundo a pesquisadora, as salas de recursos foram oficialmente
instituídas em 1998, mas a escola pesquisada já tinha essas salas desde 1994,
como explica a professora Bianca, uma das responsáveis pelo programa de
inclusão da escola.
Apesar das salas serem regulamentadas somente em 1998, desde 1994 as professoras da classe especial, que são as mesmas da sala de recursos, realizavam um trabalho de apoio em turno diferente ao da classe especial com os alunos que tinham, segundo a professora Bianca, um maior potencial a ser desenvolvido para que depois fossem encaminhados para o ensino comum. Trata-se de um trabalho mais direcionado aos alunos que poderiam entrar no ensino comum, tipo de uma preparação para a inclusão, e não com os alunos que já estavam no ensino comum. Até porque antes de 1998, segundo a professora Bianca, "eram poucos que ingressavam no ensino regular (...). (TONINI, [online],. Disponível na http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/02/a4.htm).
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Há, porém uma certa frustração nesse trabalho, segundo a pesquisadora,
é a inclusão de alunos não deficientes nas salas de recursos; são os
considerados atrasados, ou com dificuldades de aprendizagem. O trabalho das
professoras torna-se então menos eficaz, uma vez que esses alunos, por
determinação dos órgãos oficiais, e mesmo dos pais, acabam por ter de
receber a mesma atenção de portadores de deficiência, o que faz com que a
atenção que deveria ser dispensada a quem realmente necessita é dispersada.
Mesmo assim, o encaminhamento de alunos com dificuldades de
aprendizagem, mas não portadores de deficiência, pode, segundo as
professoras, ser considerado um avanço, pois há alguns anos eles seriam
enviados para salas de ensino especial, quando o caso não é esse, pois
qualquer dificuldade de aprendizagem pode ser corrigida em salas de aula
regulares, como garantem as professoras que participaram da pesquisa.
Embora essa escola em particular seja quase que um modelo de
educação inclusiva, há ainda alguns desacertos e desencontros, devido à falta
de programas bem delineados para o acompanhamento do progresso dos
alunos portadores de deficiência lá atendidos.
A pesquisadora ANDREA TONINI explica como deveria ser esse
programa, de acordo com o modelo espanhol adotado no Brasil para a
integração/inclusão de portadores de deficiência.
Na escola inclusiva, a relação professor de apoio e professor tutor, como é denominado por Jiménez (1997, p.49-50), deve ser de comunicação permanente, que abranja tarefas como:
- Cooperação na elaboração das adaptações curriculares e/ou programas de desenvolvimento individual das crianças integradas. É interessante chegar à conclusão da necessidade de programar conjuntamente todo o plano anual de atividades escolares, para que a criança com necessidades educacionais especiais possa participar na dinâmica geral da classe.
· Acompanhamento dos programas das crianças integradas. Na avaliação e seguimento conjunto dos programas, ir-se-ão adequando conteúdos, atividades e material, de modo a encontrar formas possíveis de aprendizagem e de contatos sociais para todas as crianças da sala.
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O que tem sido feito nesta escola em relação ao trabalho com os professores são orientações esporádicas em momentos informais, como na hora do recreio, entrada e saída dos professores na escola e, em alguns casos, observação e orientação na sala de aula que o aluno freqüenta. (TONINI, [online], Disponível na: http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/02/a4.htm).
Segundo a pesquisadora, a escola continua a trabalhar com o objetivo de
aperfeiçoar seus métodos de trabalho com os portadores de deficiência. A
meta é trazê-los definitivamente para a sala de aula regular, e para isso
esforçam-se para que a sala de recursos seja corretamente utilizada e
administrada.
Apesar das dificuldades, a pesquisadora realmente considera essa escola
como um exemplo de sucesso relativo na integração e inclusão de portadores
de deficiência.
A pesquisadora justifica sua opinião ao expressar outros aspectos das
atividades da escola, ao descrever alguns aspectos dos procedimentos para
admissão do aluno especial em classes comuns.
(...) para um aluno ser incluído no ensino comum, ele passa por um processo de avaliação feito pelas professoras da classe especial. Esta avaliação é uma prova com os conteúdos do ano anterior do ensino comum, ou seja, se for incluído na 2ª série, fará uma avaliação da 1ª série, para que a escola, os professores mais precisamente, não tenham motivos, segundo a professora Bianca, (...) para dizer que este aluno não está preparado, usando a avaliação dos próprios professores. O aluno, sendo aprovado nessa avaliação, está aprovado para o ensino regular. Para as professoras da classe especial, (que são) as profissionais que encaminham estes alunos para o ensino comum, não seria necessário este tipo de avaliação, pois, quando elas propõem este encaminhamento às coordenadoras pedagógicas e aos professores do ensino comum, eles têm o conhecimento de que o aluno tem condições, por inúmeras observações e avaliações ocorridas no decorrer do trabalho realizado na classe especial. (TONINI [online], Disponível na http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/02/a4.htm).
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O processo de integração e inclusão da escola parece funcionar, como
mostram os comentários e os dados comentados por ANDREA TONINI.
Este procedimento pode-se dizer que é uma medida cautelosa, uma estratégia por parte das professoras da classe especial, na tentativa de evitar qualquer questionamento sobre a capacidade desses alunos. Até hoje, todos os alunos que foram incluídos, com exceção de um, freqüentaram a classe especial, saindo desta diretamente para o ensino comum. (TONINI, [online], Disponível na http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/02/a4.htm).
Embora ainda não completamente implantado e com baixa adesão por
parte das escolas públicas, a integração e posterior inclusão de alunos com
deficiência progride, ainda que com bastante vagar. Mas, como observado, há
vários exemplos de escolas que realmente se desvelam em preencher as
lacunas da legislação, e realmente tentam desenvolver métodos próprios,
muitos dos quais vêm dando bons resultados.
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CAPÍTULO III
VISÃO NO FUTURO
O objetivo é fazer com que portadores de deficiência mental treináveis
consigam superar os limites físicos e orgânicos próprios de sua condição. Em
termos práticos, esses especialistas e os profissionais da educação (ao menos,
boa parte deles) concordam que não há nenhuma razão significativa para
impedir o acesso de portadores de deficiência mental a classes de escolas
regulares, desde que estejam clinicamente aptos.
Nesse último capítulo será feito apresentação de idéias novas, projetos
diferenciados em relação a educação inclusiva abordando as possibilidades
práticas, atuais e futuras, para aumentar o acesso de crianças com déficit
intelectual em escolas regulares.
3.1 OBSTÁCULOS
Segundo MANTOAN (1998), “A valorização dos papéis supõe não apenas
a igualdade de oportunidades, mas a igualdade de valor entre as pessoas e,
em conseqüência, o desenvolvimento de habilidades, talentos pessoais e
papéis sociais, compatíveis com o contexto de vida, a cultura, a idade e o
gênero”.
Essa igualdade de oportunidades, nos dias de hoje, deixou de ser uma
dádiva da sociedade bem intencionada com deficientes mentais: tornou-se uma
conquista. Mas, dádiva ou conquista, a igualdade será uma meta impossível se
não for permitido a essas pessoas desenvolver os instrumentos necessários à
47
sua adaptação às oscilações do meio externo, que são freqüentes e muitas
vezes imprevistas.
E é na escola que essas habilidades devem ser desenvolvidas. É na
escola que o portador de deficiência mental procurará meios para alcançar a
autonomia social e pessoal.
MANTOAN afirma que essa autonomia depende de outras demandas que
a escola ainda não consegue atender completamente.
A autonomia social e intelectual como meta da educação de alunos com deficiência mental lança um duplo desafio à pedagogia. Os propósitos da inserção escolar não valem unicamente para os aspectos físicos e sociais, abrangendo também o acadêmico. Este se efetiva pela definição dos limites da autonomia e pela operacionalização do conceito de habilidades intelectuais alternativas. A construção da autonomia compreende, de um lado, a detecção, a redução ou a eliminação dos obstáculos que geram as situações de inadaptação escolar, e, do outro, o conhecimento mais aprofundado das condições de funcionamento da inteligência dessas pessoas, sem o que não se pode prover um processo interativo entre o sujeito e o meio escolar o menos deficitário possível em trocas intelectuais e interpessoais. Precisamos encontrar soluções que se assemelhem às rampas nas calçadas e ao manejo das cadeiras de rodas, que possibilitam aos deficientes físicos o deslocamento o mais autônomo possível no espaço físico. (MANTOAN, [online]. Set. 1998, vol.19, no.46 [p.00-00. Disponível na: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=
A analogia da cadeira de rodas e das rampas é perfeita para descrever
como deve ser o processo ensino-aprendizagem que leve em conta, por um
lado, as limitações intelectuais do deficiente mental e, por outro, como
desenvolver suas habilidades potenciais, sejam elas físicas ou mentais.
Segundo os estudiosos, embora limitada, a inteligência das pessoas com
déficit mental apresenta boa maleabilidade em sua reação a estímulos
adequados. No caso da educação de deficientes mentais em instituições de
ensino regulares, se insiste no argumento que vem sendo utilizado ao longo de
todo esse trabalho: se devidamente aparelhada, com um planejamento
pedagógico adequado e professores capacitados, as probabilidades de
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inclusão real do estudante com deficiência no meio escolar e, futuramente, no
meio social, são excelentes.
Em palestra proferida no II Congresso Brasileiro sobre Síndrome de
Down, realizado na Unicamp, em Campinas, MANTOAN falou sobre o
desenvolvimento da inteligência e a deficiência mental. A seguir, se reproduz
alguns trechos, que serão de grande importância para o tema exposto nesse
capítulo.
A constatação empírica confirma e estabelece em nossos dias um conjunto de dados que dizem respeito aos aspectos estruturais e funcionais da vida intelectual dos deficientes mentais. Podemos resumi-los no que segue:
• Os deficientes mentais configuram uma condição intelectual análoga a uma construção inacabada, mas até o nível em que conseguem evoluir intelectualmente, essa evolução se apresenta como sendo similar à das pessoas normais mais novas;
• Embora possuam esquemas de assimilação equivalente aos normais mais jovens, os deficientes mentais mostram-se inferiores às pessoas normais, em face da resolução de situações-problema, ou seja, na colocação em prática de seus instrumentos cognitivos;
• Apesar de se definir por paradas definitivas e uma lentidão significativa no progresso intelectual, a inteligência dos deficientes mentais testemunha uma certa plasticidade ao reagir satisfatoriamente à solicitação adequada do meio.
A Psicologia, contudo, continua avançando no sentido de integrar os processos metacognitivos aos trabalhos de reeducação, visando favorecer as habilidades intelectuais das pessoas com deficiência mental. (MANTOAN, [online], 21/04/2002
3.2 AVANÇOS
O objetivo dos estudos relatados por MANTOAN é direcionar a estrutura
educacional da escola inclusiva para metodologias pedagógicas que
compreendam estímulos concentrados nos alunos com deficiência mental. Ou,
como explica MANTOAN:
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Em outras palavras, o desenvolvimento de habilidades intelectuais alternativas e a mediação para estimular o subfuncionamento mental (...) nas salas de aula, acontecem quando os alunos estão inseridos em um meio escolar livre de imposições e de tensões sociais, afetivas e intelectuais. Este clima de trabalho educativo propicia o equilíbrio entre os aspectos afetivo e intelectivo das aprendizagens, mantendo a motivação, a curiosidade, a concentração necessárias à sustentação do sujeito, na busca da solução do problema. A afetividade dita os fins, os objetivos a que o aluno persegue, em sua atividade adaptativa. A inteligência dita os meios para alcançar os fins desejados. Toda a energia que mantém o aluno motivado e atento depende do significado da resposta procurada. A atualização do potencial intelectual, as auto-regulações mentais e os processos metacognitivos ocorrem com mais freqüência e facilidade, quando o ambiente acadêmico é cooperativo, rico em estímulos físicos e sociais e os alunos podem comportar-se ativamente, ao construírem seus conhecimentos. (MANTOAN, , [online], 21/04/2002
Como sempre acontece quando alguma proposta é inovadora, cada
condição destacada evoca outras necessidades, como por exemplo, a
afirmação de MANTOAN a respeito do “meio escolar livre de imposições e de
tensões sociais, afetivas e intelectuais”.
Só se conseguirá um meio escolar como o descrito com uma efetiva, real
e total inclusão. Embora incentivada por leis e considerada pela maioria dos
educadores como o único meio de redimir o débito humanista e social para
com essas minorias, a inclusão total enfrenta ainda toda sorte de entraves,
como descrito no início desse trabalho.
O trabalho científico realizado por MANTOAN e tantos outros
especialistas, por um lado, é uma base sólida para o esforço de convencimento
realizado pelos educadores, mas uma vez que sua divulgação se restringe ao
meio científico, resta a alternativa de mostrar resultados.
Há vários exemplos de escolas públicas e particulares que tiveram
sucesso na inclusão, cuja divulgação atinge professores, pais e dirigentes
escolares, como o exemplo publicado na revista Educação, sobre projeto de
inclusão de duas escolas do interior de São Paulo.
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Os projetos do colégio estadual Dr. Genésio Cândido Pereira de São Bento do Sapucaí e do colégio particular Van Gogh, e Holambra, provam que a pareceria entre comunidade, escola e poder público pode ajudar os jovens a compreender e a se relacionar da melhor forma possível com os estudantes especiais. Para os diretores das escolas, o envolvimento de estudantes e professores nesses projetos enriquece a grade curricular, cria senso de responsabilidade e expande a consciência crítica dos alunos a partir da experiência do voluntariado. Em Holambra (...) o colégio Van Gogh, em parceria com a Oficina Abrigada, proporciona aos portadores de deficiência a oportunidade inserção no mercado de trabalho por meio da inclusão digital. A escola cede o espaço, os professores e os voluntários, e a Oficina Abrigada dá apoio psicológico e pedagógico aos alunos. ‘A idéia inicial era preparar para o mercado de trabalho alunos portadores de deficiência mental leve, para que eles tivessem mais chance de inserção profissional’, afirma Geraldo Guilherme José Eysink, diretor do colégio. Com a primeira turma de alunos, o projeto se expandiu. ‘Percebemos que alguns não eram alfabetizados, então optamos por juntar a alfabetização à inclusão digital’. (Revista Educação, ano 8, no. 88, agosto de 2004, p. 22).
A formação de parcerias com outras escolas, com instituições de ensino
profissional, clínicas e profissionais da área de psicologia e psicopedagogia
também tem sido de grande relevância para
As parcerias realmente funcionam, como se pode ver pelo exemplo
citado. A escolha que acolhe alunos com deficiência divide dessa forma as
responsabilidades pedagógicas, médicas, psicológicas, e ainda pode
acrescentar ao currículo do aluno o ensino profissional.
O segundo exemplo refere-se à escola pública de São Bento do Sapucaí,
como se observa adiante.
Com o dinheiro disponível para um projeto de protagonismo juvenil financiado pela Secretaria Estadual de Educação, o colégio estadual Dr. Genésio Cândido Pereira, de São Bento do Sapucaí, decidiu desenvolver entre seus alunos o projeto A Escola e o Voluntariado Especial. Todas as semanas, durante as aulas de sociologia, filosofia, português e educação artística, os alunos das 2ª e 3ª séries do ensino médio debatem preconceito e ética e realizam trabalhos e
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brincadeiras sobre temas relacionados a portadores de necessidades especiais .(...) A escola Dr. Genésio ampliou o projeto e organizou, em 2003, a Semana da Vivência, em que os alunos da escola e a comunidade convivem diariamente com as pessoas atendidas pelo Ceprocom (Centro Promocional Comunitário, mantido pela igreja católica local). Depois de um ano de trabalho o colégio – que tem cinco alunos portadores de necessidades especiais matriculados com os demais – pretende estender o projeto para todas as séries do ensino médio. (...) As duas iniciativas estiveram entre as vencedoras da edição deste ano do Prêmio Construindo a Nação, oferecido pelo Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento da Cidadania e pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. (Revista Educação, ano 8, no. 88, agosto de 2004, p. 23).
Embora comparativamente raras, essas iniciativas, ainda que em sua
maioria sejam projetos realizados poucas vezes por ano, funcionam, por sua
visibilidade, como incentivo para a participação de outras escolas.
Os prêmios e concursos instituídos pelos órgãos oficiais também
acrescentam um toque de competição entre as escolas, que até certo ponto
contribui para despertar o interesse por projetos similares.
Há sem dúvida outros exemplos de escolas com projetos tão positivos
quanto os descritos, o que comprova as afirmações otimistas de muitos
educadores, que vêem o crescimento contínuo da inclusão escolar de
deficientes mentais e o aumento da consciência da sociedade sobre tolerância
e aceitação dessas minorias que, invariavelmente, respondem positivamente
às iniciativas que lhes proporcionam oportunidades de inserção social.
Outra evidência do crescimento da inclusão social é o crescente número
de vagas em empresas exclusivamente para portadores de deficiência. Com
freqüência os meios de comunicação reportam esse crescimento, e muitos
artigos em revistas e jornais falam da satisfação de empresários com o
desempenho e dedicação desses funcionários.
Para chegar-se a esse estágio da inclusão, porém, foi necessário um
trabalho contínuo de convencimento da comunidade de educação, pois a base
dos pequenos sucessos que observamos na inserção de deficientes no
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mercado de trabalho e, conseqüentemente, na sociedade, é, sem dúvida, a
educação.
Como MANTOAN advertiu, entretanto, é premente a necessidade de se
trabalhar as potencialidades mentais e intelectuais dos deficientes, ativando-
lhes as capacidades de retenção de memória e de conhecimentos, e isto, como
a especialista afirma, só é possível em ambiente não-competitivo, livre de
pressões sociais.
Um mundo novo desponta no horizonte. Sabe-se disso não pela utilização
de instrumentos científicos, ou exercendo o saber coletivo sobre as
possibilidades do futuro, mas pelas mudanças radicais que se vive atualmente.
E como serão os cidadãos desse novo mundo que tão próximo se
encontra? As crianças estão reparadas para uma vida digna nesse futuro que,
devido à velocidade com que a sociedade se transforma? Este questionamento
ainda é uma completa incógnita?
A resposta óbvia para essas perguntas que tanto perturba várias pessoas
reside, certamente, nas mesmas transformações e mudanças que ocorrem na
educação nos dias atuais.
Fundamentar o ideário de uma nova educação em princípios éticos de
direito, felizmente, é o que norteia o trabalho de educadores, psicólogos e
muitos outros profissionais que se dedicam com afinco ao aperfeiçoamento da
educação. Até mesmo os órgãos públicos se baseiam nesses princípios para
regulamentar a sonhada educação para todos.
A educadora Maria Thereza Eglér MANTOAN, em artigo para o sítio
www.centrorefeducacional.com.br reforça a necessidade de mudanças
imediatas que visem deixar para trás os conceitos ultrapassados da educação
tradicional.
Superar o sistema tradicional de ensinar e de aprender é um propósito que temos de efetivar urgentemente, nas salas de aula, pois são elas as incubadoras do novo e de onde sairão os que vão definitivamente estabelecer as bases do próximo milênio - as
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crianças e jovens de hoje. Recriar o modelo educativo refere-se primeiramente ao que ensinamos aos alunos e a como os ensinamos para que cresçam e se desenvolvam sendo seres éticos, justos e revolucionários, pessoas que têm de reverter uma situação de que não demos conta, ou seja, mudar o mundo e torná-lo mais humano. Recriar esse modelo tem a ver com o que entendemos como qualidade de ensino. (MANTOAN, [online], abril de 2006 disponível na <http://www.centrorefeducacional.com.br>).
A geração atual tem plena responsabilidade sobre a qualidade da
sociedade do futuro, e as crianças refletirão o que aprenderam de um mundo
que ainda está por ser reconstruído. A tarefa é transformar os desastres pelos
quais se vive nas últimas décadas em lições positivas para essas crianças, cujo
papel será evitar a proverbial repetição da história.
Para que se evitem novos erros, a educação deve ser democrática,
acolhendo a todos, como alerta MANTOAN:
Em uma palavra, uma escola de qualidade é um espaço educativo de construção de personalidades humanas, autônomas, críticas, uma instituição em que todas as crianças aprendem a ser pessoas. Nesses ambientes educativos ensinam-se os alunos a valorizar a diferença, pela convivência com seus pares, pelo exemplo dos professores, pelo ensino ministrado nas salas de aula, pelo clima sócio-afetivo das relações estabelecidas em toda a comunidade escolar - sem tensões competitivas, solidário, participativo, colaborativo. Escolas assim definidas são contextos educacionais capazes de ensinar todos, numa mesma turma. E nesse sentido, não excluem ninguém de seus programas, de suas aulas, das atividades e do convívio escolar mais amplo. Ensinar a turma toda, sem exclusões Para ensinar a turma toda, parte-se da idéia de que as crianças sempre sabem alguma coisa, de que todo educando pode aprender, mas a seu modo e a seu ritmo e de que o professor não deve desistir, mas nutrir uma elevada expectativa em relação à capacidade de seus alunos conseguirem vencer os obstáculos escolares, apoiando-os na remoção das barreiras os impedem de aprender. Entende que o sucesso da aprendizagem tem muito a ver com a exploração dos talentos de cada um e que a aprendizagem centrada nas possibilidades e não nas dificuldades dos alunos é uma abordagem efetiva. Em outras palavras, a proposta de se ensinar a turma toda, independentemente das diferenças de cada
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um dos alunos, implica a passagem de um ensino transmissivo para uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, conexional, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada, hierárquica do saber. (MANTOAN, [online], abril de 2006 disponívelna:<http://www.centrorefeducacional.com.br>).
Não há outro meio pelo qual se possa preparar milhões de crianças que
nasceram sob a égide de um mundo desregrado, senão o trabalho gradual de
preparação dessas crianças para a compreensão, a tolerância, a justiça e a
ética em todas as relações.
Como disse MANTOAN, não há alternativa a não ser “apoiar as barreiras
que os impedem de aprender”.Esse apoio se tem certeza, deve partir de todos
os envolvidos e interessados numa educação que inclua e forme pessoas
dedicadas a buscar o equilíbrio e a justiça, inclusive das próprias crianças,
através de sua criatividade e seu gradual aprendizado sobre o mundo e o
futuro.
3.3 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Um exemplo de ambiente motivador é descrito pela educadora e
pesquisadora MARLEI DE FÁTIMA SCHNEIDER. Trata-se de
acompanhamento, pela escritora, do trabalho de motivação de uma escola
estadual que tem deficientes mentais leves em várias salas de aula especiais.
Nosso objetivo foi discutir o papel da motivação para o aprendizado da leitura e escrita em crianças deficientes mentais no contexto de sala de aula. Para isso acompanhamos situações de leitura e escrita em classe especial - deficientes mentais, de uma Escola Estadual,
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usando como atividade modelo a montagem de um livro de história de dois alunos. (SCHNEIDER, [online], janeiro de 2001 Disponível na WWW: < http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/01/a4.htm>).
A pesquisadora comenta o projeto pedagógico da escola com o objetivo
de motivar os alunos, incentivando uma atividade baseada em conhecimentos
prévios dos alunos. A atividade era a criação e montagem de um livro de
histórias da vida de dois alunos, esses portadores de deficiência. A seguir se
verifica a narração da pesquisadora.
Tentando buscar uma melhor compreensão da questão do desejo de aprender, tivemos como objetivo neste estudo discutir o papel da motivação em indivíduos deficientes mentais. Percebemos que nas atividades de ensino orientadas por processos coletivos há, no decorrer das mesmas, maior interesse e motivação. O aluno se predispõe a solicitar e receber auxílio do Outro, ouvindo sua opinião (...). Para este estudo foram escolhidos dois alunos da classe especial de deficientes mentais de uma escola da rede Estadual de Ensino do Município de Ribeirão Preto. A escolha dos dois casos aconteceu, principalmente, pela diferença de postura e o tipo de relação que mantinham com a professora e com os colegas desde o início da atividade. Descrevemos aqui resumidamente os dados colhidos dos dois alunos.(...): Paulo tem l6 anos, teve meningite aos oito meses, causando hemiplegia dos membros inferior e superior esquerdo. Melhorou bastante com os remédios e fisioterapia (fala da mãe), anda normalmente, embora o membro superior apresente atrofia. Teve convulsões até 11 anos de idade, mesmo com medicação (Tegretol) e que faz uso até hoje. Neste ano completa 5 anos na Classe Especial. Na última avaliação psicológica realizada em outubro/97, em relação ao ‘nível mental é confirmado seu potencial intelectual correspondente ao nível de deficiência metal leve, educável, com comprometimento maior do que o esperado em função do distúrbio neurológico’. Joana tem 10 anos, nível sócio-econômico baixo, mora com a avó. A mãe teve problemas no parto, indicando pelo relato da avó que Joana teve anóxia, apresentando convulsões após os 10 meses, o que exigiu o uso de medicamento (Gardenal) até os 5 anos de idade. A aluna freqüentou o ciclo básico inicial com 8 anos, tendo, segundo a professora ,’apresentado fraquíssimo rendimento e dificuldade na coordenação motora e na aprendizagem.’ Iniciou o atendimento em classe especial a partir de maio. A avaliação psicológica diz que ‘Joana apresenta rebaixamento intelectual discutível e passível de maiores investigações. (...) Pode vir a superar suas dificuldades de
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aprendizagem, visto não apresentar comprometimento acentuado, se for atendida com atenção especial, recebendo estímulo e incentivo necessários ao resgate de sua auto-estima e conseqüente desenvolvimento de seu equilíbrio afetivo’. (SCHNEIDER, [online], janeiro de 2001 [Disponível na < http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/01/a4.htm>).
Os dois alunos descritos pela pesquisadora são, portanto, educáveis, ou
treináveis, no jargão médico. A atividade descrita em seguida mostra com
clareza que é possível, com a cooperação de professores e alunos, motivar os
alunos de tal forma que eles próprios acabam por perceberem-se capazes de
raciocínio abstrato e retenção de conhecimentos.
A tarefa empreendida pelos alunos surpreende pela complexidade e apelo
ao pensamento abstrato, uma vez que elaborar e organizar um diário pessoal
não é tarefa tão simples, mesmo para pessoas comuns.
A atividade enfocada - montagem de um livro sobre sua história pessoal - foi realizada por todos os alunos da classe e ensejou que cada criança, conforme seu potencial, montasse seu trabalho, desenhado, ditando o que queria que fosse escrito, escrevendo com apoio ou sozinho para, posteriormente, reescrever seu texto. Complementamos as informações sobre este cenário dizendo que a professora manteve em sala de aula a postura de incentivar os alunos, proporcionar vivências diversas (grupos na sala, educação física com outras salas, passeios,...); sempre considerando que a partir dessas novas experiências os alunos poderão alcançar níveis mais complexos e abstratos do pensamento. Por isso buscou criar situações de partilha em que ocorressem as trocas entre colegas e, também, com a ajuda do professor para realizar as tarefas daqueles que não conseguissem realizar sozinhos, bem como buscou usar material para consulta como: cartazes de rótulos, números, painéis com sílabas e palavras expostos pela sala, livros, revistas, etc. (SCHNEIDER, [online], janeiro de 2001 [Disponível na < http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/01/a4.htm>).
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Conforme a descrição da pesquisadora, o trabalho foi proposto para toda
a classe, e se pode notar também que a tarefa foi planejada de forma a
compreender várias atividades com grande apelo intelectual, como pesquisa,
desenho, discussões em grupo, escolha de materiais e consultas diversas.
Atividades assim costumam fascinar os alunos, que se vêem como
investigadores, e assim dedicam-se com ardor à tarefa de vasculhar, procurar,
pesquisar. As primeiras descobertas causam grande alegria, e ao longo do
trabalho sempre encontram algo igualmente fascinante, mesmo que esteja fora
do contexto proposto.
Na atividade da montagem do livro de histórias, a professora, para esclarecer melhor os objetivos do trabalho, montou seu próprio livro, fazendo na lousa um "rascunho" com desenho e escrita sobre os lugares nos quais morou. Na aula seguinte trouxe o livro já montado, o que despertou, na maioria, a curiosidade em olhar as gravuras e saber o que estava escrito. Já no primeiro dia, ao comentar sobre a montagem do livro, Joana empolgou-se e queria um caderno para escrever. Paulo, irritado, falou que não iria escrever nada, pois não gostava da escola nem da professora. Após todos iniciarem os seus trabalhos, Paulo pediu um caderno, mas enfatizou que iria só desenhar. Foi sugerido que desenhasse e que depois escreveria, com a professora. Como não tinha escolhido o tema sobre o qual iria escrever, foram feitos alguns questionamentos sobre sua vida: se queria escrever do nascimento até hoje ou quando foi para a escola. Falou que iria desenhar a professora Dilma (professora anterior), rindo ao lembrar de um fato que ocorrera em sala. Nesse estudo de caso, ao dar oportunidade à expressão pessoal, ao "jeito próprio" do aluno para expor seu conhecimento por menor que fosse, encorajou-se-lhe para que assumisse suas vontades e desejos, expressando seus sentimentos. A professora explicou que poderia estar desenhando a capa e dando o título depois de ter montado o seu livro, mas Paulo preferiu iniciar pela capa (autor, editora, título e desenho) baseando-se na capa do trabalho do colega, inclusive com o mesmo título. Sugeriu-se que seria interessante fazer uma apresentação sobre si mesmo, com nome completo, endereço, escola... Após esta conversa, ele ficou sozinho para que realizasse a atividade. O aluno olhava os desenhos dos colegas e mostrava os seus, mas na hora da escrita perguntava para professora ou para Joana como escrever tal ou tal palavra. Exemplo disso foi a palavra professora que Paulo perguntou como deveria escrever; a professora sugeriu que pedisse auxílio a Joana, pois ela acabara de escrever essa palavra. Para Joana, a professora havia mostrado no
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painel a sílaba pro e falado para que escrevesse o resto da palavra sozinha, ela fez o mesmo com Paulo. Ele escreveu apenas pro e deu-se por satisfeito. Consideramos, aqui, que a postura da professora deve ser de valorizar o potencial, as condições de uso dos instrumentos mediadores que cada um possui para realizar a atividade proposta. Joana fez o desenho e começou a escrever solicitando, a todo momento, auxílio para as palavras cuja grafia correta desconhecia. Algumas a professora escrevia na lousa, outras ditava silabicamente (pa/ da/ ria) e apontava para que ela mesma pesquisasse no painel de sílabas. Na fase da reescritura, Joana aceitou intervenções da professora, mudando algumas contradições e permitindo que seu texto fosse colocado na lousa para leitura coletiva. A partir dessa construção inicial e após leitura - interpretação do aluno - individual ou coletiva, foram ocorrendo as intervenções com o objetivo de apontar, demonstrar ou estruturar a linguagem escrita. (SCHNEIDER, [online], janeiro de 2001 Disponível na http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/01/a4.htm>).
O relato mostra o caminho correto (e até bastante simples) para incentivar
no portador de deficiência a descoberta e o reconhecimento de suas
habilidades, que de outra forma permaneceriam apenas latentes.
O aluno Paulo só se decidiu a iniciar seu trabalho ao perceber o empenho
dos outros, e percebe-se aí uma espécie de competição, embora saudável: “se
eles podem, eu também posso”.
A falar sobre si, o deficiente mental exerce controle sobre suas memórias,
e aos poucos consegue ver-se como um indivíduo que tem um passado,
exatamente como seus colegas. É provável que o ato de falar de si faça-o
perceber com mais clareza as diferenças entre ele e os colegas, mas parece-
nos que essa percepção, ao contrário de suscitar sentimentos de baixa estima,
apenas mostra a ele as evidências, que são equilibradas pelas habilidades que
começa a descobrir.
Com Paulo o processo ocorreu de maneira diferenciada. Por não aceitar intervenções e correções no texto, a professora auxiliava-o quando solicitada. Se fosse feito algum comentário, imediatamente tornava-se agressivo e desistia da atividade. Nessas situações, geralmente ignoravam-se suas atitudes, pois contrariá-lo fazia com que sua irritação aumentasse, chegando a rasgar seu trabalho.
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Como Paulo não se propunha a fazer a leitura do que escrevera, a professora leu e apontou o que poderia ser mudado ou acrescentado. Esse tipo de atividade exigiu muitas intervenções da professora, ora para discutir o que desenhar ou escrever; ora para estruturar a frase ou parágrafo; ora porque os alunos necessitavam ter "escriba" junto de si, por não se sentirem seguros para expor sua grafia espontânea. Na reescritura do texto, tanto Paulo como Joana mudaram algumas frases que tinham escrito na montagem original. Ex.: Joana escreveu que os meninos mexiam com ela e a prima e na transcrição decidiu não escrever isso, pois seu pai iria ler e poderia brigar com ela. A proposta de expor os trabalhos na Feira Cultural da escola serviu de estímulo para os alunos concluírem seu livro de história, apenas Paulo não concordou, mas depois que viu os colegas levando os livros, não demonstrou nenhuma objeção, levando ele mesmo seu trabalho. Percebeu-se que ao desafiar as crianças e adolescentes a buscar novas aprendizagens, cada uma, a partir do que sabe, foi criando novas possibilidades para aprender na interação com o Outro. (SCHNEIDER, [online], janeiro de 2001 Disponível na http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/01/a4.htm>).
A resistência e irritação de Paulo em aceitar sugestões, correções ou
qualquer intervenção foi aos poucos mudando para uma atitude corajosa: expor
seu trabalho, o que significava expor-se a si mesmo.
A decisão de levar o trabalho à Feira Cultural da escola, assim como a
aceitação das sugestões foi resultado da sua contínua observação do Outro. O
incentivo partiu de seus colegas que, ao falarem de si para os outros,
mostraram ser essa uma atitude aceitável.
Por seu lado, Joana sofisticou ainda mais seu desempenho: chegou a
editar seu texto, ao prever possível reação negativa do pai. Joana dessa forma
descobriu que tinha uma vida individual plena de fatos pessoais, particulares,
que poderiam, ou não, segundo seu critério, ser compartilhados.
Vê-se, portanto que tanto Paulo como Joana, cada um com seu estilo
marcadamente pessoal, viram na tarefa uma forma de expressão, porém sem
necessariamente abrir mão de sua individualidade.
Um projeto simples, mas cheio de sutilezas, provocativo e, pelo resultado,
gratificante, serviu de meio para despertar nos dois alunos a consciência de
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sua capacidade de se comunicar, de contar sua história. O objetivo original do
trabalho, que era incentivar o exercício da leitura e escrita, transformou-se em
algo mais completo e mais complexo, ao provocar reações de irritação inicial,
seguida de um desejo de compartilhar conhecimentos. E só compartilha
conhecimento que é capaz de apreendê-lo.
A pesquisadora comenta, ao fim de seu relato, esse aspecto da tarefa
proposta:
Nos nossos casos estudados, Joana estava num processo avançado de aquisição da leitura e escrita, estimulada a produzir textos, cartas e sua coleção de livros confeccionados na sala de aula para mostrar a seu pai. Por outro lado, Paulo necessitou ser encorajado para participar da atividade, sendo 'exigida' a conclusão de sua tarefa para a exposição na feira cultural, fato que o motivou a dar coerência e coesão ao seu texto. É importante ressaltar que a atividade proposta - construção do livro - exige algumas regras, mas nenhuma norma fechada que impeça a expressão e criação do aluno. Durante o fazer da atividade, tais regras, foram-se "aperfeiçoando", isto é, aceitaram-se as opiniões e idéias dos alunos, que estariam impedidas, bloqueadas, caso a atividade fosse realizada passo a passo e com todas as possibilidades de alterações e o uso de instrumentos auxiliares negados ou pré determinados. As mudanças de atitudes no decorrer do trabalho, desde copiar do colega, olhar livros de histórias, copiar desenhos e as brigas no grupo, não aceitando a opinião do outro, demonstraram que cada um tem condições de efetuar o trabalho, dentro do seu potencial e acrescentando o que lhe é ensinado. Percebemos que a motivação ocorreu basicamente a partir das relações, primeiro em torno da atividade e, depois, na ajuda e trocas que foram acontecendo. A motivação ocorreu como processo coletivo. (SCHNEIDER, [online], janeirode2001Disponívelna<http://www.ufsm.br/ce/revista/ceesp/2001/01/a4.htm>).
Notamos que a proposta original – aperfeiçoar a habilidade de leitura e
escrita – ficou praticamente em segundo plano. Ou, poderíamos dizer, foi
apenas um pretexto para incentivar a cooperação, a troca, o brotar da
criatividade, o exercício da concentração e a fixação de um fim, de um objetivo.
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Importante destacar que a forma como foi proposta a tarefa foi decisiva no
resultado: a livre expressão, o trabalho não-direcionado, a ausência de
proibições. Importante igualmente foi o estabelecimento de algumas regras, o
que foi essencial no correto desempenho dos alunos.
Deixar a critério dos alunos a forma e o estilo também contribuiu para a
adesão de Paulo, que viu no trabalho uma oportunidade de ser ouvido, de
mostrar aos colegas, mesmo que inconscientemente, que as diferenças são
apenas aparentes.
Esse exemplo, e também o das escolas do interior de São Paulo que
citamos acima mostra que há caminhos para a inclusão total, e que qualquer
resquício de discriminação ou intolerância pode ser minimizado ao perceber-se
que aquele menino ou menina física ou mentalmente diferente não são, afinal,
tão diferentes.
Deve-se levar em conta, nos dois exemplos, mais um componente que
concorre para a aceitação das diferenças: a afetividade. No caso relatado
acima, as trocas das duas crianças com os colegas e as professoras foram
decisivos para o sucesso do projeto. Essas trocas não ocorreriam se não
fossem recíprocas. Alunos sem deficiência, ao se relacionarem com seus
colegas deficientes mentais em uma situação que pede cooperação mútua
parecem ignorar diferenças, e tratam de trabalhar em conjunto visando o
sucesso de todos.
A liberdade de ação, como dissemos acima, reforça essa cooperação,
que por sua vez inibe qualquer tipo de competição, embora em um nível mais
ou menos secreto exista esse componente, fato que normalmente ocorre em
qualquer criança.
A pesquisadora SCHNEIDER reafirma a importância dessa cooperação e
da liberdade para criar.
A possibilidade de criar, ao longo da tarefa, meios para facilitar a aprendizagem e deixando que cada aluno usasse seus próprios meios para estruturar seu trabalho, proporcionou diversos momentos
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de troca com os colegas, professora e estagiárias e o uso de instrumentos como: painel de sílabas, alfabeto exposto, dentre outros. Esse processo não deve ser estancado neste patamar , mas sim continuar nesse caminho, pois tanto o professor como o aluno poderão ter oportunidades de aprofundar a relação e adquirir novos conhecimentos a partir das trocas. Nessa abordagem, o fator motivacional não envolve apenas a questão intelectual, mas estão presentes, também, componentes afetivos. (SCHNEIDER, [online], janeiro de 2001
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CONCLUSÃO
Durante a elaboração deste trabalho, as reflexões voltaram-se ora para os
avanços da humanidade no que diz respeito às novas metodologias do ensino,
aos avanços no tratamento de pessoas portadoras de deficiência física e
mental, ora à crescente intolerância com que essa humanidade trata essas
mesmas pessoas.
Ao mesmo tempo em que se concentram esforços em preparar as
crianças para um mundo ao mesmo tempo hostil e fascinante, ao mesmo
tempo em que se tenta mudar um presente conturbado, fruto dos erros
cometidos pelas gerações atuais e as precedentes, tem-se que se preocupar
com a completa ignorância sobre o que reserva o futuro.
O ressentimento contra minorias é reação historicamente comum a
grupos sociais que se vêem ameaçados em sua hegemonia, seus direitos
adquiridos e seus privilégios. O europeu odeia o marroquino, ou congolês, ou
argelino que emigra para seu país, alegando que se apropriarão de seus
empregos e aumentarão a miscigenação, sem pensar por um só minuto que os
empregos roubados são em geral subempregos, que um europeu jamais
aceitaria, ou que não há qualquer evidência, seja científica ou simplesmente a
evidência do bom senso, que comprove que a miscigenação deteriore qualquer
aspecto de uma determinada etnia.
E essas minorias incluem minorias ainda mais oprimidas, como das
pessoas física e mentalmente deficientes. Essas pessoas evocam medos
irracionais e seculares, seja pelo aspecto físico, seja pelos comportamentos
típicos. E esses medos sobrepujam qualquer apelo ao bom senso ou à simples
tolerância. Pais de alunos rejeitam qualquer tentativa de mistura de seus filhos
com portadores da síndrome de Down, embora sejam plenamente divulgados
casos de pessoas com a síndrome que se tornaram artistas, atletas e mesmo
professores.
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Professores e dirigentes escolares resistem explicitamente ao trabalho de
educadores cujo objetivo seja prepará-los para o acolhimento de alunos com
deficiência mental em salas regulares.
Essa resistência subsiste em grande número de pessoas que recusam
todos os apelos para serem sensatas, compassivas ou para que abram a
mente para as possibilidades reais e positivas do convívio com qualquer
minoria, mesmo que essa minoria tenha plenas condições de contribuir para
um futuro melhor e mais justo para todos.
Mas, mesmo em meio ao permanente estado de exclusão em que se
encontram os portadores de deficiência física e mental, vêem-se no horizonte
novas possibilidades, e a Arteterapia surge como uma possibilidade real para o
crescimento e a inclusão das minorias existentes.
Há, portanto esperanças que um número cada vez maior de pessoas
passe a ver as minorias como indivíduos capazes de acompanhar, e talvez
mesmo modificar, a sociedade do futuro.
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