44
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE” A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM MÁRCIA BERNARDETE DA SILVA ORIENTADORA: PROFESSORA: MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE Goiânia, 2008 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · sempre que eu conseguiria alcançar o meu objetivo. 4 DEDICATÓRIA Aos alunos da APAE- Goiânia, a razão deste trabalho.. ... Não

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

MÁRCIA BERNARDETE DA SILVA

ORIENTADORA:

PROFESSORA: MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE

Goiânia, 2008

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS- GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Especialista em Psicopedagogia Institucional da

Universidade Cândido Mendes, Instituto “ A vez

do mestre”.

Por: Márcia Bernardete da Silva

3

Primeiramente a Deus que sempre esteve

comigo, me indicando o caminho a seguir. Aos

meus filhos, Greice Karla e Victor Hugo e ao meu

neto Matheus Daniel que suportaram muitas vezes

minha ausência e mais do que isso, sempre me

incentivaram a alçar vôos mais altos, acreditando

sempre que eu conseguiria alcançar o meu

objetivo.

4

DEDICATÓRIA

Aos alunos da APAE- Goiânia, a razão deste trabalho..

Se todos se unirem, a força

Será bem maior.

Estas crianças merecem um mundo melhor.

Se um dia olhar em seus olhos, irá perceber

O que querem dizer:

Dê-me sua mão, pois a minha esperança é você.

Se um dia, você, por acaso, perder a esperança,

Pode busca-la nos olhos de uma criança.

Quem faz o sorriso brotar,

Não vai encontrar mais razão pra chorar.

Dê-me sua mão, pois a minha esperança é você.

Muitos não podem falar,

Outras não sabem correr,

Mas se você der amor, elas irão compreender.

Todos na mesma oração.

Queremos você em nosso coração.

Dê-me sua mão, pois

minha esperança é você.

5

RESUMO

Nesta pesquisa será tratado sobre a importância da afetividade no processo de

construção do conhecimento, e como esse processo acontece, sempre levando em conta o

papel psicopedagógico. As relações afetivas estabelecidas não podem ser ignoradas,

segundo Wallon, pois estão presentes no desenvolvimento, fazem parte do ser humano e

podem interferir de forma negativa ou positiva nos processos cognitivos. O relacionamento

afetivo pressupõe interação, respeito pelas idéias e opiniões do outro.

Também será analisado a afetividade e a inclusão social, definindo a educação

como cidadania global, livre de preconceitos valorizando as diferenças., promovendo a

autonomia e o crescimento pessoal; apontar os caminhos pedagógicos da inclusão que são

considerados possíveis nas escolas.

Palavras chave: Afetividade, Ensino, Relações, Inclusão

6

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para elaboração da pesquisa foi baseada no

levantamento bibliográfico, especialmente nos trabalhos de Vygotsky, Piaget, Henri

Wallon, Howard Gardner, onde as principais idéias desses autores puderam ser aplicadas na

prática na APAE ( Associação dos Pais e Alunos dos Excepcionais) da cidade de Goiânia,

onde esses resultados também podem ser contemplados nesse trabalho.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1-A EMOÇÃO E A AFETIVIDADE

1.1 – Conceitos básicos

1.2 – O sentido da afetividade e da interação social na escola

1.3 – A influência da expectativa do professor sobre o aluno

1.4 – A importância do desenvolvimento cognitivo relacionado ao afetivo

CAPÍTULO 2- CONSIDERAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DA AFETIVIDADE NO

PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

2.1- A afetividade no ensino de acordo com Jean Piaget

2.2 – A contribuição de Vygotsky

2.3 -A concepção de Howard Gardner

2.4 - A afetividade sobre a concepção de Wallon

CAPÍTULO 3- A AFETIVIDADE NUMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA

3.1 - O papel do psicopedagogo no processo de aprendizagem

CAPÍTULO 4- A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AFETIVIDADE

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANEXOS

8

INTRODUÇÃO

A emotividade nas relações humanas surge a passos lentos, mas significativos,

diante das novas teorias científicas e do advento da evolução tecnológica. A educação é

alertada quanto ao seu sentido socializador frente aos novos tempos informacionais e de

novos valores morais sociais, tanto no âmbito da escola como no da família. Especialmente

a neurologia e psicologia vêm empreendendo uma chamada às pesquisas educacionais, com

ênfase na educação emocional, permeada pela interação dos sujeitos com afetividade,

segurança, compreensão e alteridade, dentre outros.

A Psicopedagogia é uma ciência do conhecimento fundamentada em diversas

teorias, necessitando desse conhecimento aprofundado para identificar as causas de eventuais

problemas na aprendizagem e minimizá-los. Segundo Scoz (1992), a psicopedagogia estuda o

processo de aprendizagem e suas dificuldades, englobando vários campos do conhecimento,

integrando-os e sintetizando-os. O trabalho psicopedagógico na instituição escolar, que se pode

chamar de psicopedagogia preventiva, cumpre a importante função de socializar os

conhecimento disponíveis e promover o desenvolvimento.

O objetivo desta monografia é compreender e identificar essa importância da

afetividade no processo ensino-aprendizagem, e de que modo a Psicopedagogia pode intervir

nesse processo relatando a possibilidade de progressivamente envolver os sentimentos para

uma aprendizagem mais interessante e significativa junto à real função da escola no processo

ensino-aprendizagem e relacionando o desenvolvimento cognitivo e afetivo.

A escola,vista como um espaço em que os educandos diariamente permanecem

parte de seu tempo, precisa envolver-se de carinho, afeto e atenção às crianças. É um espaço de

interação entre as pessoas no qual o professor tem por meta representar, de maneira afetiva e

interativa, os conteúdos escolares de acordo com a realidade do educando. Portanto, falar sobre

a relação professor-aluno dentro da sala de aula é falar sobre estratégias de se promover o

processo ensino-aprendizagem.

A importância da afetividade na aprendizagem escolar, por sua vez, não depende

somente do professor, mas sim de toda uma equipe de trabalho da instituição. É preciso saber

tomar decisões em conjunto, trabalhar em parceria, integrar o grupo buscando alternativas

conjuntas que sejam sustentadas por um projeto político-pedagógico. As relações entre a

comunidade escolar devem ser permeadas pelo afeto na certeza de construir um novo modo de

relacionar-se, ou seja, com mais carinho e compreensão. Tudo influencia o desenvolvimento

9

afetivo e cognitivo, até mesmo a organização da sala de aula. A sala de aula precisa ser um

lugar bonito e aconchegante.

O tempo e o espaço escolar podem ser reorientados para superar a monocromia e a

rigidez dos horários fixos, por exemplo e não para reprimir o educando. O professor precisa

respeitar cada um dentro de sua individualidade e de sua autoconstrução. A construção de

relações afetivas dentro do espaço escolar é um desafio aos educadores. Essa nova postura

exige coragem e ousadia para se lançarem nesse caminho tão importante. Neste estudo, o

vínculo afetivo, vai ser pensado, levando-se em conta a especificidade da relação professor-

aluno, durante os anos que correspondem ao primeiro ciclo do ensino fundamental, ou seja, dos

sete aos dez anos, aproximadamente.

No primeiro capítulo será conceituado emoção e afetividade e suas influências

no processo ensino-aprendizagem.A afetividade é essencial para que o educador e o

psicopedagogo sejam considerados eficientes. Afetividade é se preocupar com seus

educandos, é reconhecê-los como indivíduos autônomos, com uma experiência de vida

diferente da sua, com direito a ter preferências e desejos nem sempre iguais aos seus. É

aceitá-los em suas nuances e respeitá-los. É entender seus sentimentos, tendo sensibilidade

para perceber que atrás de um aluno agressivo se esconde, muitas vezes, uma criança

carente que se sente inferior às outras, desvalorizada, mal amada.

No segundo capítulo, será feita uma abordagem do referencial teórico, tendo em

vista as contribuições de Jean Piaget, Henry Wallon, Howard Gardner e Vygotsky para a

afetividade na educação. Para Piaget a afetividade é o motor do desenvolvimento cognitivo,

em que um não sobrevive sem o outro. “(...) separados um do outro, não haveria interesse,

nem necessidade, nem motivação; os problemas não seriam colocados e não haveria ações

inteligentes” (PIAGET, 1962).

Já no terceiro capítulo, a afetividade será vista numa perspectiva

psicopedagógica, relacionando o papel desse profissional com a afetividade no processo

ensino-aprendizagem

Wallon afirma que a afetividade origina-se das sensibilidades internas de

interocepção (ligada às vísceras) e de propriocepção (ligadas aos músculos) responsáveis

pela atividade motora. Essas sensibilidades são reativas às influências externas, chamadas

de exterocepção, e que se transformam em sinalizações afetivas caracterizadas como medo,

alegria, tranqüilidade, raiva, ira, fúria...

10

CAP. I- EMOÇÃO E AFETIVIDADE

1. A EMOÇÃO E A AFETIVIDADE

1.1 Conceitos básicos

O processo de conhecer a si mesmo e ao outro está interligado e nessa relação

está a importância da afetividade e as conseqüências da sua perda no processo de

desenvolvimento global da criança. Falar de afetividade é, de certa forma, falar da essência

da vida humana no sentido em que o ser humano, social por natureza, se relaciona e se

vincula a outras pessoas desde sempre, sendo feliz e sofrendo em decorrência dessas inter-

relações.

Evidentemente, algumas crianças enfrentam sérias dificuldades em seu

desenvolvimento cognitivo e emocional. Não lhes é fácil abstrair e generalizar; elas sofrem

inúmeros medos, perdas e problemas de relacionamento com outras crianças, adultos e os

próprios pais. É prudente não se concluir que todas as crianças com problemas de

aprendizagem escolar são crianças difíceis ou anormais. Mas alguns alunos apresentam tais

problemas devido sobretudo a desajustes emocionais e familiares.

Os padrões de comportamento perceptíveis na infância constituem a dotação

original a partir do qual se desenvolvem os estados puramente mentais, sendo

posteriormente “interiorizados”, seja uma fantasia, uma emoção ou um sentimento. As

emoções são os mecanismos que desencadeiam os objetivos no mais alto nível do cérebro.

Uma razão principal para valorizar estes padrões está em que ela fornece alguns

conceitos a serem provados na teoria. Muitos deles referem-se à formação de vínculos

afetivos, como os que ligam os filhos aos pais e os pais aos filhos. As proporções em que as

famílias levam em conta o papel dos laços afetivos e do comportamento de apego na vida

de seus membros diferem muito. Numa família pode haver profundo respeito por esses

laços, reação imediata às expressões de comportamento de apego e compreensão da

angústia, raiva e consternação provocadas pela separação temporária, ou pela perda

permanente, de uma figura amada.

A manifestação clara de sentimentos é estimulada e um apoio afetuoso é dado,

quando solicitado. Em outra família, em contraposição, pode-se dar pouco valor aos laços

11

afetivos, o comportamento de apego pode ser considerado como infantil e como prova de

fraqueza, sendo rejeitado, todas as expressões de sentimento podem ser vistas com

desagrado, e manifesta-se desprezo em relação aos que choram. Sendo censurada e

desprezada, a criança acaba por inibir seu comportamento de apego e sufocar seus

sentimentos, interferindo desta maneira no seu desenvolvimento intelectual, social e

emocional.

Para FREIRE (1986), o querer bem não significa a obrigação a querer bem a

todos os alunos de maneira igual. Significa, na verdade, que a afetividade não é

assustadora, que não é preciso ter medo de expressá-la. Significa essa abertura ao querer

bem o modo de autenticamente selar o compromisso com os educandos, numa prática

específica do ser humano, separando como falsa a separação radical entre a seriedade

docente e afetividade. FREIRE(1986) diz ainda, que não é certo sobretudo do ponto de

vista democrático, que o professor será tão melhor quanto mais severo, mais distante e

“cinzento”, colocando-se nas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que

deva ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. Entretanto, o que não

pode-se permitir é que a afetividade interfira no cumprimento ético do dever de professor e

no exercício da sua autoridade.

1.2 O SENTIDO DA AFETIVIDADE E DA INTERAÇÃO

SOCIAL NA ESCOLA

Depois da família, a escola é a instituição na qual se inicia a socialização entre

as crianças. Assim, a principal razão de ser da escola deixa de ser exclusivamente a

aprendizagem dos alunos. A interação social, mediada pela afetividade, dá essa sustentação

ao papel da socialização.

Espera-se que a escola faça diferença na vida de seus educandos. E o principal

papel do professor é o de orientar e guiar as atividades dos alunos, fazendo com que

aprendam, progressivamente, o que significa e representa a convivência escolar diante da

realidade do educando. A criança se desenvolve não só aprendendo as coisas que lhe são

ensinadas na escola. Também aprende a desempenhar papéis, a se relacionar afetivamente

com as outras pessoas da família e da comunidade.

12

Desta forma, o aspecto afetivo do desenvolvimento da criança se auto-reproduz

e se produz junto ao grupo social. Além da interação com o adulto, é fundamental as

relações entre as crianças, ou seja, deve-se estimular a socialização entre as crianças, pois

elas aprendem muito umas com as outras.

Segundo Peruzo (1998, p. 26), “Educar = Interação corresponde às chances de

sucesso ou fracasso, dependerão muito da qualidade da relação entre educador e educando”.

A relação, por sua vez, deve ser de respeito mútuo. O professor, ao ver o educando como

um sujeito social com direitos e deveres, oportuniza-lhe o acesso ao conhecimento, à

informação e considera que o aluno já vem para a escola com sua experiência de vida, ou

seja, deve sempre oportunizar uma aprendizagem Significativa para a vida do mesmo. Por

que não aproveitar as experiências que têm os alunos de viver em áreas da cidade

Descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos

córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem

à saúde das gentes? (FREIRE, 1999, p.33).

Isso quer dizer que, em suas aulas, o professor pode aproveitar as experiências

vividas pelos alunos sobre onde moram, deixando que falem o que sabem sobre o assunto,

Relacionando, assim, seus saberes com os objetivos do conteúdo. Cabe, então, ao educador

interagir com os alunos respeitando seu contexto cultural. É fundamental respeitá-los na

conquista de uma interação afetiva.

É necessário que o educador busque atividades diversas dentro de um mesmo

grupo de alunos respeitando o ritmo de cada um no processo ensino-aprendizagem. É com

atividades específicas que os educandos se apropriarão do conhecimento sistematizado.

Segundo Piaget (1992, p. 96), “se o papel da escola é o de promover a construção de

determinados conhecimentos, é preciso que ela propicie interações onde os alunos

participem ativamente de atividades específicas”.Pode-se dizer que a escola é mais do que o

lugar de transmissão dos conhecimentos sistematizados de uma geração à outra: ela é o

lugar onde se criam novos conhecimentos e onde se cria uma cultura.A afetividade não se

acha excluída da cognoscibilidade.

O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no

cumprimento ético do meu dever de professor no exercício de minha autoridade. E mais, a

prática educativa é: afetividade, alegria, capacidade científica, domínio técnico a serviço da

mudança ou, lamentavelmente, da permanência do hoje (FREIRE, 1999, p.161).

13

Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento dos educandos valoriza a

transmissão do conhecimento, associa a tarefa às necessidades da classe e ao interesse dos

alunos e mostra a eles o valor e a importância da aprendizagem.Atualmente, com tantas

inovações que se quer implantar nas escolas, não cabe mais na educação o papel de um

professor dominador, autoritário e alheio aos sentimentos e emoções. O que se quer e

precisa é de um professor reflexivo e crítico que compreenda as necessidades dos alunos.

Sendo assim, a escola se torna um espaço emancipatório e de aprendizagem

mais significativa. Para Morales (1999, p.13), Somos profissionais do ensino, nossa tarefa é

ajudar os alunos em seu aprendizado; buscamos seu êxito e não seu fracasso, e a qualidade

de nossa relação com os alunos pode ser determinante para conseguir nosso objetivo

profissional.

Uma relação afetiva com os seus alunos, evidentemente, não implica diminuir a

autonomia docente em sala de aula. Pelo contrário, a ênfase na emoção e na afetividade

humana imprime ao professor a essência humanizadora de seu próprio ser. Cabe, assim,

descartar a frase: “na sala de aula, eu me limito a ensinar; me relaciono com os alunos

apenas fora da classe [...]”

Quando o professor interage com os alunos de maneira afetiva, a aprendizagem

se torna intencionalmente significativa. Conforme o professor se apresenta e ministra suas

aulas, os alunos terão apatia ou simpatia pela disciplina que ele leciona. Uma influência

específica vem da relação do professor com os alunos (disponibilidade, interesse

manifestado por todos os alunos, paciência, boa preparação das aulas, etc.).

Além disso, quer se pretenda conscientemente quer não, os métodos utilizados

na sala de aula, os exercícios, as práticas, etc. podem influenciar notavelmente não só no

aprendizado dos conteúdos ou habilidades dos alunos, mas também em suas atitudes, com

relação à matéria, ao estudo, e ao trabalho, assim como a respeito de si mesmos

(MORALES, 1999, p. 25 - 26). Concretizar tudo isso não é fácil. Muitas vezes, é necessária

a mudança da prática educativa visando à formação do aluno e promovendo a sua

participação: ver o aluno como um sujeito social com direitos e deveres, oportunizando o

acesso e a construção do conhecimento.

O professor precisa saber buscar, agir e refletir, ensinar e aprender, construindo

uma relação interativa com os alunos. Segundo Tisatto e Simadon (2002, p.42), “ todas as

pessoas são merecedoras da confiança, da amizade e do respeito dos outros”. Vive-se em

relação com as outras pessoas nas diversas esferas da vida, cada uma com maneiras

14

diferentes de perceber, de interpretar o que está ao seu redor. Saber lidar com elas é uma

arte necessária ao sucesso de qualquer atividade humana. As crianças, mais do que

ninguém, precisam da ajuda do professor para uma interação com a escola e com outras

crianças.Neste sentido, quando as crianças chegam à escola, precisam ser recebidas com

amor, carinho, respeito e afeto.

Cabe ao educador respeitar e despertar a curiosidade dos seus educandos. Isto

quer dizer que o aluno tem o direito de participar das atividades de planejamento, execução

e avaliação das matérias escolares; o aluno deve manifestar livremente suas opinião e até

mesmo ser estimulado a fazê- lo sem medo de ser ignorado e/ou contrariado pelo professor.

Sendo assim, o professor estará respeitando o aluno, de maneira participativa e afetiva, sem

perder sua autonomia.

O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a

sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente a sua sintaxe e a sua prosódia; o

professor que ironiza o aluno que o minimiza, que manda que ‘ele se ponha no seu lugar...’,

transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (FREIRE 1999, p.66).

Se levar em consideração que os alunos possuem características comuns, mas

também características diferenciadas, entende-se que as características comuns são a

manifestação pelo desejo de aprender e a expectativa de que a escola possa melhorar sua vida.

Por outro lado, as características diferenciadas englobam alguns fatores, tais como constituição

física, aparência, nível intelectual, sociabilidade, temperamento, antecedentes familiares e

condições socioeconômicas.

É no respeito às diferenças das crianças e na condução adequada de formas de

tratamento a todos com igualdade, amor e afeto que o aluno terá sucesso na aprendizagem

cognitiva. Assim, o sucesso da prendizagem se caracteriza como resultado da afetividade

por parte do professor (TISATTO e SIMADON, 2002).

Ser educador requer muita responsabilidade, comprometi- mento e muito amor

pelo que faz. Para que seu trabalho seja realizado com amor, é preciso que este profissional

esteja se identificando e se sinta realizado em sua profissão. Para Werneck (2002, p.43),

[...]. É preciso que ele ame o que faz e o espaço físico em que trabalha, porque sua

realização como pessoa não poderá construir-se estando embasada em ilusões, formas

imaginárias, mas somente se estiver pautada na realidade concreta e iluminada pela

esperança de que é possível mudar, confiança em si mesmo e certeza de que a estrada é

longa e que, contudo, não a percorremos sozinhos.

15

A escola que cria um clima de afeto, simpatia, compreensão, respeito mútuo e

democracia, ou seja, um lugar onde todos compartilhem suas experiências e opiniões,

proporciona o envolvimento de todos os segmentos que dela fazem parte. Esta relação

afetiva constitui incentivo para o desenvolvimento da aprendizagem cognitiva. É

importante que o educando seja orientado e motivado para a busca efetiva da construção do

conhecimento.

A participação da família também é muito importante para o sucesso e faz parte

integrante desse processo. A escola deve facilitar a presença dos pais no cotidiano escolar

porque “uma escola não se faz de paredes, mas de pessoas e ideais compartilhados”

(LOCATELLI 2001, p.39).

1.3 A INFLUÊNCIA DA EXPECTATIVA DO PROFESSOR

SOBRE O ALUNO

Maria Cecília Almeida e Silva, psicopedagoga e mestre em educaão defende que o

emocional também é importante no processo de aquisição do conhecimento. Nesse processo, a

emoção, a relação entre estudante e professor e a razão são elementos igualmente importantes.

Não apenas a razão quem comanda o processo.

Assim, é importante que o Psicopedagogo descubra as potencialidades da criança,

mesmo que ela venha apresentar algum tipo de dificuldade de concentração, de fala (dislalia)

ou de escrita (disgrafia).

A Psicopedagogia começou como uma solução para o fracasso escolar, focando

apenas os sintomas, os problemas. Hoje é possível perceber a consciência de que o objeto da

Psicopedagogia é a criança em processo de construção do conhecimento.

Um dos componentes básicos para se compreender o tipo de relação que se

estabelece entre professores e alunos são as representações, ou seja, as imagens que uns fazem

dos outros.

Grande parte da maneira de ser da pessoa depende da forma como percebe e

interpreta as ações e falas daqueles que a cercam. Esse é um princípio sempre válido nas

relações humanas e afeta, conseqüentemente, a totalidade do processo de ensino-

aprendizagem.

A representação que o professor faz de seus alunos influi sobre o que pensa e

espera deles. Essa representação leva o professor a valorizar uns alunos e a menosprezar

16

outros; a ser complacente com uns e rigoroso com outros (LOCATELLI, 2001). As

imagens que são feitas do outro, isto é, as representações também atuam sobre os alunos.

Ao depender delas, o apreço pelo professor será maior ou menor.

A atenção ao que ele diz irá igualmente variar, bem como a importância dada à

disciplina que ele leciona. Sendo assim, a relação professor- aluno pode variar muito

dependendo da imagem que ele fizer sobre seu educando, aumentando ou diminuindo sua

auto-estima e seu afeto. Para Locatelli (2001, p.39), “a auto-estima do aluno se relaciona

com a expectativa de seu professor.” Os educandos não podem ser rotulados. Isto somente

prejudicará o processo ensino- prendizagem e o afeto na relação professor- aluno. Para De

La Puente (1978, p. 11).

Para criar um ambiente facilitador, o professor deverá comunicar à classe a sua

atitude profunda de confiança nas suas capacidades de aprender; deverá aceitar a classe

como ela é, com seus objetivos e seus desejos; deverá colocar-se à disposição do estudante

interessando- se tanto pela dimensão emocional dos problemas como pela sua dimensão

cognitiva.

1.4 A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

RELACIONADO AO AFETIVO

É importante o desenvolvimento afetivo, mas não pode ser excluído o

desenvolvimento cognitivo. Não é possível deixar de ensinar o que o aluno precisa aprender.

Muitas vezes, os educandos vão para a aula com problemas relacionados à família ou a

questões sociais e econômicas. Para Oliveira et al (2002), a educação da afetividade pode e

deve levar em consideração a vertente racional e emotiva dos conceitos e fatos que os alunos e

alunas estão aprendendo dispondo de um planejamento de atividades e técnicas que incluam e

detalhem os conteúdos e objetivos curriculares específicos de cada um deles.

Assim, sem abrir mão dos conteúdos tradicionais da escola, o professor pode

trabalhar conteúdos de natureza afetiva, entendendo- os como objetos de conhecimentos

para a vida dos estudantes, da mesma forma que a matemática e a língua são vistas como

objetos de conhecimento a serem aprendidos. Com esse tipo de proposta educacional, a

escola entende que da mesma forma que os estudantes aprendem a somar, a conhecer a

natureza e a se apropriar da escrita, é fundamental para suas vidas que se conheçam e

conheçam seus colegas e as causas e conseqüências dos conflitos cotidianos.

17

Trabalhando dessa maneira, por meio de situações que solicitem a resolução de

conflitos, a educação atinge o duplo objetivo de preparar alunos e alunas para a vida

cotidiana, ao mesmo tempo que não fragmenta as dimensões cognitiva e afetiva no trabalho

com as disciplinas curriculares. Para Moreno (1999), integrar o que se ama com o que se

pensa é trabalhar, de uma só vez, razão e sentimentos; supõe elevar estes últimos à

categoria de objetos de conhecimento, dando- lhes existência cognitiva, ampliando, assim,

seu campo de ação.

Trabalhar pensamentos e sentimentos – que são dimensões indissociáveis -

requer dos profissionais da educação a disponibilidade para se aventurarem por novos

campos do conhecimento e da ciência para darem conta, minimamente, de realizarem as

articulações que a temática solicita.

Esta é, sem dúvida, uma nova e difícil empreitada que exige coragem para

enfrentar o desafio posto: buscar novas teorias e abrir mão de verdades há muito

estabelecidas na mente de cada um. Desafio salutar para o avanço da educação. De mais a

mais, a recusa a este trabalho contribuirá para a consolidação do “analfabetismo

emocional” na sociedade contemporânea.

18

CAPÍTULO. 2

CONSIDERAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DA AFETIVIDADE

NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

2.1. A AFETIVIDADE NO ENSINO DE ACORDO COM JEAN

PIAGET

De acordo com a teoria de Piaget o desenvolvimento intelectual é considerado

com tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Embora nem sempre seja focalizado

por psicólogos e educadores, o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao cognitivo e

tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Segundo Piaget o

aspecto afetivo por si só não pode modificar as estruturas cognitivas, mas pode influenciar

que estruturas modificar.

Se o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao desenvolvimento

cognitivo, as características mentais de cada uma das fases do desenvolvimento serão

determinantes para a construção da afetividade. Quando examinamos o raciocínio das

crianças sobre questões morais, um dos aspectos da vida afetiva, percebemos que os

conceitos morais são construídos da mesma forma que os conceitos cognitivos. Os

mecanismos de construção são os mesmos. As crianças assimilam as experiências aos

esquemas afetivos do mesmo modo que assimilam as experiências às estruturas cognitivas.

O primeiro mês de vida de um bebê é um período de atividade reflexiva, um

período dominado por impulsos reflexos e instintivos com os quais buscam alimentação e a

libertação de desconfortos. Durante este período o afeto é associado com reflexos. Isso

basicamente não muda até o 4o mês de vida. O corpo do bebê permanece o foco de toda

atividade e afeto porque ainda não diferencia o eu como um objeto distinto dos outros

objetos.

Após o 4o mês a criança começa a apresentar um comportamento dirigido a um

fim (intencional), que evolui de uma repetição de eventos incomuns e interessantes (reações

19

circulares), na qual as intenções só se estabelecem durante as repetições do comportamento

para uma intencionalidade presente no início da ação.

Durante o segundo ano de vida os sentimentos começam a ter um papel na

determinação dos meios usados para alcançar os fins tanto quanto na determinação dos fins.

As crianças começam a experimentar o "sucesso" e o "fracasso" do ponto de vista afetivo e

a transferir afetividade para outras pessoas. Com a diferenciação cognitiva que ela faz de si

em relação aos objetos, sentimentos com gostar e não-gostar podem começar a ser dirigido

para os outros, constituindo-se assim uma porta para o intercâmbio social. A criança de

dois anos (final do período sensório motor) é afetiva e cognitivamente muito diferente do

recém-nascido.

Com o advento do período pré-operacional (2 à 7 anos) surgem os primeiros

sentimentos sociais em decorrência da linguagem falada e da representação. A

representação permite a criação de imagens das experiências, incluindo as experiências

afetivas. Assim, os sentimentos podem ser representados e recordados o que não ocorria no

estágio sensório-motor. Enquanto uma criança sensório-motora pode "gostar" de um objeto

ou pessoa hoje, mas não amanhã, a criança pré-operacional mostra maior consistência no

gostar e no não-gostar.

Piaget concebeu o desenvolvimento do raciocínio moral com uma conseqüência

do desenvolvimento cognitivo e afetivo. Ele sugere que a norma moral apresenta três

características: é generalizável a todas as situações análogas, não apenas às idênticas; dura

além das situações e das condições que a geraram; está ligada a sentimentos de autonomia.

Estas normas do raciocínio moral não estão plenamente realizadas até o estágio operacional

concreto. Por exemplo, uma criança pré-operacional acha errado mentir a seus pais e a

outros adultos, mas não a seus colegas. Durante este período o raciocínio moral é pré-

normativo, ou seja, baseia-se na obediência à autoridade mais por medo do que por respeito

mútuo.

Embora o pensamento pré-operacional represente um avanço em relação ao

pensamento sensório-motor, ele ainda é restrito em muitos aspectos. A criança é incapaz de

reverter as operações e não consegue acompanhar as transformações, a percepção tende a

ser centrada e a criança é egocêntrica, ou seja, não pode assumir o papel ou o ponto de vista

20

do outro, acredita que todos pensam como ela. Conseqüentemente o conceito de

intencionalidade ainda não foi construído e a criança não consegue compreender

comportamentos acidentais de outras crianças. Acreditam firmemente na moral do "olho

por olho, dente por dente" e em sua aplicação em todos os casos. Acreditam na necessidade

de punições severas como forma de impedir desobediências futuras e preferem castigos

arbitrários.

Assim como o raciocínio durante o período pré-operacional é semilógico, assim

também é a compreensão infantil sobre regras e justiças e outros aspectos do raciocínio

moral semilógico.

No estágio operacional concreto, o raciocínio e o pensamento adquirem maior

estabilidade. A capacidade para raciocinar torna-se gradativamente lógica e menos sujeita

às influências das contradições perceptuais aparentes. Os afetos adquirem uma medida de

estabilidade e consistência que não apresentavam antes.

Com a aquisição da reversibilidade a criança torna-se capaz de coordenar seus

pensamentos afetivos de um evento para outro. Se no estágio pré-operacional o afeto não

reúne qualquer dos três critérios para ser normativo, durante o estágio operacional concreto

estes critérios passam a ser encontrados a medida em que as capacidades de julgamentos

infantis tornam-se "operacionais".

Piaget destaca dois elementos fundamentais no desenvolvimento do estágio

operacional concreto: a vontade e a autonomia.

A vontade é considerada como uma escala permanente de valores construída

pelos indivíduos e a qual sente obrigado a aderir. A presença da vontade indica que a

pessoa já tem capacidade de raciocinar sobre problemas afetivos sob uma perspectiva

coordenada e reversível.

A autonomia de raciocínio consiste em raciocinar de acordo com um conjunto

próprio de normas. Durante o estágio pré-operacional as crianças percebem as regras como

provenientes de uma autoridade. É a moralidade da obediência ou respeito unilateral. A

medida em que as crianças vão se tornando capazes de se colocar no ponto de vista do

outro começam a ser capazes de fazer suas próprias avaliações morais. Começam a fazer

21

avaliações a respeito do que é justo e do que não é justo, o que não significa que as

avaliações sejam corretas. O estágio operacional concreto é um período chave para o

desenvolvimento contínuo da autonomia afetiva, quando as crianças mudam de uma

perspectiva moral baseada no respeito unilateral para uma perspectiva baseada no respeito

mútuo.

Com o desenvolvimento da vontade e da autonomia, ocorrem mudanças

significativas e claras nos conceitos infantis de regras, acidentes, mentira, justiça e

julgamento moral. Se no estágio pré-operacional percebem as regras como fixas e

permanentes e exigem dos outros uma adesão rígida, em torno dos sete ou oito anos

começam a compreender a importância das regras para um jogo correto. A cooperação

começa a se manifestar e as regras deixam de ser vistas como absolutas e imutáveis.

Com o desenvolvimento da capacidade de se considerar o ponto de vista do

outro as intenções começam a ser compreendidas e consideradas nos julgamentos. A

compreensão das intenções não podem ser "ensinadas" a crianças mais novas. De acordo

com Piaget, cada criança deve construir este conceito através das interações com os outros.

Enquanto não for capaz de compreender o ponto de vista do outro não pode construir o

conceito de intencionalidade.

A aquisição da intencionalidade muda o conceito de justiça. A punição severa e

arbitrária gradativamente dá lugar a punição por reciprocidade, ou seja, aquela que guarda

alguma relação com o comportamento a ser punido. A moral deixa de ser quantitativa e

passa a ser qualitativa. A intenção passa a ser mais importante do que o comportamento em

si.

Durante o estágio das operações formais que em média começa em torno dos

onze ou doze anos, uma criança desenvolve o raciocínio e a lógica necessária a solução de

todas as classes de problemas. Após o desenvolvimento das operações formais, as

mudanças nas capacidades mentais, no que se refere às estruturas e operações lógicas,

passam a ser quantitativas e não mais qualitativas. A qualidade do raciocínio que uma

pessoa é capaz de realizar não progride após este estágio, mas o conteúdo e a função da

inteligência podem progredir.

22

O desenvolvimento afetivo durante o estágio das operações formais é

caracterizado por dois fatores principais: o desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a

continuação da formação da personalidade.

A capacidade de raciocinar sobre o hipotético - o futuro - e de refletir sobre o

próprio pensamento torna o adolescente invariavelmente idealista. Este idealismo pode ser

visto como um idealismo falso ou incompleto, resultado de um raciocínio baseado no uso

egocêntrico do pensamento formal. Faz julgamentos com base no raciocínio e suas

conclusões são lógicas. Parecem idealistas porque não podem levar em conta a realidade de

comportamento humano que nem sempre tem a ver com a lógica. Por exemplo, a sociedade

confirma o mandamento "não matarás" apesar de historicamente ter aprovado as guerras.

Durante a formação das operações formais as crianças começam a ter seus

próprios sentimentos ou pontos de vista sobre as pessoas. Estes são sentimentos autônomos

cujas raízes se encontram no desenvolvimento da autonomia durante o estágio operacional

concreto. De acordo com Piaget os aspectos finais da formação da personalidade não

começa a se desenvolver antes da transição para a vida adulta. A medida em que o

adolescente inconscientemente procura se adaptar à sociedade e ao mundo do trabalho a

formação da personalidade vai se consolidando. A personalidade é resultado dos esforços

individuais autônomos para se adaptar ao mundo social adulto.

No início das operações formais, a maioria das crianças constrói uma

compreensão de regras sofisticada. As regras passam a ser vistas como fixadas a qualquer

momento por um acordo mútuo. Reconhecem as regras cooperação e participação efetiva.

O conceito de "punição justa" começa a ser construído apenas depois que

emerge a compreensão das regras, paralelamente ao aumento da capacidade de ver os

pontos de vista dos outros. Por volta dos onze ou doze anos, a reciprocidade permanece a

base para os julgamentos sobre punição, mas agora as crianças consideram as intenções e as

circunstâncias atenuantes, ao formular julgamentos, ao que Piaget chamou de equidade. A

punição não precisa mais ser, do ponto de vista quantitativo igualmente atribuída. Por

exemplo as crianças mais novas não podem ser consideradas tão responsáveis quanto as

mais velhas. O julgamento com base na equidade é uma implementação mais efetiva da

igualdade.

23

2.2- A CONTRIBUIÇÃO DE VYGOTSKY

Vygotsky (1994), ao destacar a importância das interações sociais, traz a idéia

da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a aprendizagem,

defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de

interação entre as pessoas. Portanto, é a partir de sua inserção na cultura que a criança,

através da interação social com as pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo.

Apropriando-se das práticas culturalmente estabelecidas, ela vai evoluindo das

formas elementares de pensamento para formas mais abstratas, que a ajudarão a conhecer e

controlar a realidade. Nesse sentido, Vygotsky destaca a importância do outro não só no

processo de construção do conhecimento, mas também de constituição do próprio sujeito e

de suas formas de agir.

A posição de Vygotsky sobre o lugar do afetivo no ser humano caracteriza-se

por uma perspectiva monista, que se opõe a qualquer cisão das dimensões humanas como

corpo/alma, material/não material e até pensamento/linguagem, e, outra holística, sistêmica,

em que se opõe ao estudo dos elementos isolados do todo. Vygotsky propõe a busca de uma

abordagem globalizante da pessoa como um todo, sem separar afetivo e cognitivo. Seu

sistema de pensamento procura afirmar a existência de um sistema dinâmico de

sugnificados em que o afetivo e o intelectual se unem.

No caso de VYGOTSKY (1991), os aspectos mais difundidos e explorados de

sua abordagem são aqueles referentes ao funcionamento cognitivo: a centralidade dos

processos psicológicos superiores no funcionamento típico da espécie humana; o papel dos

instrumentos e símbolos, culturalmente desenvolvidos e internalizados pelo indivíduo, no

processo de mediação entre sujeito e objeto de conhecimento; as relações entre pensamento

e linguagem; a importância dos processos de ensino – aprendizagem na promoção do

desenvolvimento; a questão dos processos metacognitivos.

Em termos contemporâneos, Vygotsky poderia ser considerado um cognitivista,

na medida em que se preocupou com a investigação dos processos internos relacionados à

aquisição, organização e uso do conhecimento e, especificamente, com sua dimensão

simbólica.

VYGOTSKY (1991) menciona, explicitamente, que um dos principais defeitos

24

da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um lado, e os

volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da unidade entre esses processos.

Coloca que o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações,

necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria a razão última do

pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível

quando se compreende sua base afetivovolitiva.

A separação do intelecto e do afeto, diz VYGOTSKY (1991): “enquanto objetos

de estudo, é uma das principais deficiências da psicologia tradicional, uma vez que esta

apresenta o processo de pensamento como um fluxo autônomo de ‘pensamentos que

pensam a si próprios’, dissociado da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses

pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa.

“A análise em unidades indica o caminho para a solução desses problemas de importância vital. Demonstra a existência de um sistema que cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até a direção específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade”( VYGOTSKY 1991).

2.3- A CONCEPÇÃO DE HOWARD GARDNER

Segundo GARDNER(1995), a escola tradicional está centrada na exploração

das inteligências lingüísticas e lógico - matemáticas. Para ele a escola deveria ter uma

educação pessoal, centrada no aluno, onde ele não poderia ser comparado. Sua teoria de

aprendizagem defende que inteligência não é apenas a capacidade de entender alguma

coisa, mas também, criatividade e compreensão. GARDNER(1995), baseou sua teoria em

muitas idéias diferentes, mas a principal delas sustenta que as pessoas manifestam as mais

distintas habilidades –para compor uma música, construir um computador ou uma ponte,

organizar uma campanha política, produzir um quadro, além de muitas outras, e que todas

estas atividades requerem algum tipo de inteligência, mas não necessariamente o mesmo

tipo de inteligência.

Para GARDNER(1995), as pessoas possuem capacidades, da quais se valem

para criar algo, resolver problemas e produzir bens sociais e culturais, dentro de seu

contexto. A teoria de Gardner pressupõe que:

25

• As inteligências podem ser estimuladas: o contexto social, a escola, a oportunidade de

explorar e realizar atividades diferentes são fatores que podem intervir no

desenvolvimento das inteligências.

• As inteligências se combinam de forma única em cada pessoa: cada pessoa nasce com

todas as inteligências que se desenvolverão durante sua vida, de modo único.

• Nada há como padronizar: as combinações das inteligências são únicas, tal como as

impressões digitais.

GARDNER(1995) afirma que a inteligência é responsável por nossas

habilidades para criar, resolver problemas e fazer projetos, em uma determinada cultura.

Segundo ele, cada indivíduo possui alguns tipos diferentes de capacidade, que caracterizam

sua inteligência.

• A inteligência como habilidade para criar: como seres humanos, podemos

inventar e descobrir. Sempre pensamos em fazer coisas de um modo novo, sob um

ângulo diferente. Portanto, a capacidade criadora que nos move é uma característica

própria da inteligência humana.

• A inteligência como habilidade para resolver problemas: muitas de nossas

atividades cotidianas requerem tomadas de decisão, a busca dos melhores caminhos

ou a superação de dificuldades. A resolução de problemas está presente em todos

esses casos, e o que nos habilita a resolvê-los são nossas diferentes capacidades

cognitivas.

• A inteligência como habilidade para contribuir em um contexto cultural: um

indivíduo pode ser capaz de usar a sua inteligência para criar e resolver problemas

de acordo com seu contexto social. Por exemplo: no Brasil, a habilidade de

reconhecer e nomear diferentes tipos de neve, ou toda a gama de suas colorações,

pode ser um mero exercício técnico. Mas, para quem vive no Alasca, ou faz

pesquisas na Antártida, essa informações talvez sejam essenciais.

Quanto ao ambiente educacional, GARDNER(1995) chama atenção para o fato

de que, embora as escolas declarem que preparam seus alunos para a vida, a vida

certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos.

Ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas

básicas; que encoragem seus alunos a utilizar esse conhecimento para resolver problemas e

efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que pertencem; e que

26

favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais, a partir da avaliação

regular do potencial de cada um.

GARDNER(1995) afirma que não há receitas para promover a educação de

acordo com a teoria das inteligências múltiplas, isso significa que não há uma metodologia

das inteligências múltiplas, pois não existe uma rota direta entre a pesquisa científica e a

prática diária da escola. As diversas possíveis formas de ampliação da teoria na escola

variam de acordo com nossas metas e nossos valores educativos. No entanto, os trabalhos

do autor nos indicam uma preocupação com o ambiente criado na classe, bem como com a

natureza das atividades propostas pelo professor.

Segundo GARDNER(1995), a escolha da forma de apresentar um conceito pode

em muitos casos significar a diferença entre uma experiência bem- sucedida e outra,

malsucedida; por isso, o trabalho em classe terá, sem dúvida, grande importância para o

desenvolvimento das inteligências múltiplas e para a aprendizagem dos alunos. No espaço

da sala de aula acontecem os grandes encontros, a troca de experiências, as discussões e

interações entre os alunos, o carinho, a ajuda, o amor.

2.4 A AFETIVIDADE SOBRE A CONCEPÇÃO DE WALLON

Wallon, estudioso francês com formação em medicina e filosofia (na época não

havia curso autônomo de psicologia e a formação do psicólogo vinculava-se ao curso de

filosofia), dedicou grande parte de sua vida ao estudo das emoções e da afetividade. Identificou

as primeiras manifestações afetivas do ser humano, suas características e a grande

complexidade que sofrem no decorrer do desenvolvimento, assim como suas múltiplas relações

com outras atividades psíquicas. Afirma que a afetividade desempenha um papel fundamental

na constituição e funcionamento da inteligência, determinando os interesses e necessidades

individuais.

Neste estudo, o vínculo afetivo, vai ser pensado, levando-se em conta a

especificidade da relação professor-aluno, durante os anos que correspondem ao primeiro

ciclo do ensino fundamental, ou seja, dos sete aos dez anos, aproximadamente. De acordo

com Wallon, neste momento, a criança, -devido principalmente ao seu ingresso na escola1-

apresenta maior possibilidade de pertencer a grupos diferenciados e de exercer maior

27

número de papéis e atividades variadas, o que permite a ela adquirir um conhecimento mais

amplo de si mesma e também do mundo em que vive.

Também os progressos anteriores, ou seja, uma sucessão de mudanças

quantitativa e qualitativa no seu desenvolvimento, tornou possível este momento, a que

Wallon chamou de período categorial.Mas como se dá o encontro da professora com essa

criança? Em que bases se estabelece a relação entre o adulto e esse ser, agora mais exigido

a prestar contas de conhecimentos sistematizados e insistentemente solicitado em

atividades intelectuais?

Wallon fala de um relacionamento tensionado pelo abismo entre os reais

interesses da criança e suas obrigações escolares, o que ocorre em função da má preparação

dos professores para conhecerem as diferenças individuais de seus alunos e também do uso

de uma pedagogia estática. Nessa perspectiva, certos recursos como prêmios, punições,

chamar o sentimento de responsabilidade do aluno, entre outros, acabam sendo utilizados, o

que para Wallon, não favorece a autonomia da criança.Wallon (1975), nos diz que é a partir

da sua própria experiência, das repetições, das diferenças que se apresentam, que a criança

se torna capaz de distinguir e reconhecer o que está de acordo ou não com as suas

expectativas e necessidades, o que conseqüentemente a levam ao aprendizado. E isso se dá,

através de uma análise bem conduzida das atividades escolares e dos seus resultados. Por

isso, a formação dos professores não pode se limitar aos livros, mas às experiências

pedagógicas, que devem ser pensadas, refletidas e analisadas, provocando ações onde se

evidencie e se realizem as novas conquistas do conhecimento. Essa idéia comporta, no seu

bojo, a idéia de “atividade”, mas de uma atividade com conteúdos de aprendizagem bem

definidos.

No entanto, a escola está muito preocupada com o ensino intelectualizado,

dando pouca oportunidade para que o aluno seja capaz de se desenvolver também nos seus

aspectos afetivos e motores, o que segundo ele, seria fundamental, inclusive para o

desenvolvimento intelectual, uma vez que o desenvolvimento de um aspecto conduz ao

desenvolvimento e aprimoramento do outro. É a pessoa inteira que se desenvolve, na

relação com o meio físico e social.

28

CAPÍTULO 3

A AFETIVIDADE NUMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA

Ao se apontar as possibilidades e os limites de uma articulação entre a

psicanálise e a epistemologia genética, no contexto de construção de um corpo teórico

psicopedagógico, se remete a uma determinada concepção de sujeito. Conforme são

abordadas, ambas teorias tratam de um sujeito que se sustenta, por um lado, na lógica, na

razão, portanto , na consciência e, por outro, no desejo, no simbólico, portanto, no

inconsciente.

PIAGET (1980), preocupado com o epistemológico na relação sujeito-objeto,

trabalha com o sujeito da consciência, que constrói conhecimentos através de sua ação

sobre o meio físico e social, interagindo com outras pessoas no meio social. Como o

enfoque deste estudo é o afeto e como. Desse ponto de vista, o sujeito que aprende está

diretamente vinculado ao outro, é aqui que se situa a linguagem, o social, a cultura.

Desse modo, tenta-se transcender o discurso da entronização da lógica, do

reinado absoluto da inteligência, discurso que se infiltrou no campo educacional

provavelmente por uma compreensão equivocada da teoria psicogenética. É uma

compreensão que não privilegia a singularidade do sujeito, a dimensão de seu desejo

(classicamente chamada de “afetiva”) no espaço microssocial onde acontece diariamente, o

ensino e a aprendizagem.

Situam-se os afetos na estrutura simbólica, na instância do desejo. Os afetos

aludem aquilo que está escrito na subjetividade do sujeito, subjetividade mediada pelo

outro do desejo, pelo outro do saber, sempre imerso no social, no cultural. É uma

subjetividade que, conforme FERNANDEZ(1990), configura o encadeamento de

representações que une o sujeito a sua própria história, que torna cada ser humano único em

reação ao outro. É o nível simbólico que organiza a vida afetiva e a vida das significações.

Assim FERNANDEZ(ibid), a linguagem, o gesto e os afetos agem como

significados ou como significantes, através dos quais o sujeito pode dizer como sente o

mundo. Para que se esclareça a concepção de simbólico, busca-se a conceituação de PAIN

(1986). De acordo com a autora, é o registro que, na estrutura psíquica, opera como

determinante da posição que o sujeito assume; é a dimensão que rege as relações humanas,

pois, nas relações entre os homens e a cultura, são estabelecidos contratos simbólicos que

29

regulam nosso comportamento, através dos símbolos inscritos por cada cultura, que nos

revelam a ética e o estético.

A autora assinala que “ o inconsciente afeta, isto é, marca com o signo do afeto

para atribuir qualidade às representações e previamente, aos esquemas”(PAIN-1986,p.45)

Esclarece também que os afetos não se constituem a partir de uma estrutura específica, ou

seja, o valor significante dos afetos não depende de um código propriamente afetivo,

admissível apenas no plano biológico das regulações automáticas, mas provém da

estruturação simbólica inconsciente, conforme descrito acima. Assim aponta que os afetos

comportam-se como sinais perceptíveis, gerados pelas representações produzidas no

inconsciente.

A existência do afeto depende das sensações, da mesma forma que a pulsão

depende das ações. Sensações e ações colocadas ‘a disposição da constatação da

consciência, que respectivamente conseguem marcar um acontecimento ou um objeto

através dessa materialidade.

Já DOLLE(1993), mais na linha dos sinais perceptíveis, reforça que a

afetividade está implicada com as significações: “ A afetividade, nas relações

interindividuais, se alimenta unicamente do sentido e que é este quem a estrutura,

desequilibra, equilibra e reequilibra. O gesto, até mesmo discreto, o brilho no olhar, etc, são

tão expressivos quanto as palavras. Dito de outro modo, a afetividade em ato fala aquele

que a recebe porque ela tem um sentido e informa sobre o estado daquele que a leva a falar,

sobre suas intenções, seus julgamentos, sua disposição de espírito com relação ao

destinatário, etc”(ibid.p.120)

Para o autor, a afetividade como estado não age por si só, mas pelas

manifestação e reveladas em múltiplas e diversas condutas(sorrisos, choros, carícias,

gestos, olhares ternos, sombrios, tristes, etc) Enfatiza que não é possível separar a

afetividade de suas manifestações, tanto como não há possibilidade de separar estrutura e

funcionamento de psicologia.

Assim conforme DOLLE (1993), a afetividade exerce sobre si mesma um

certo poder. Qualquer que seja o sujeito, por mais dinâmico que possa ser, geralmente pode

tornar-se fraco e apático, por efeito de uma decepção ou fracasso. Para o autor, um

encorajamento ou uma acusação, assim como uma simples palavra pronunciada num tom

diferente do habitual, são suficientes para desestabilizar. Certamente, não está se referindo

30

a uma desestabilização grave, mas que não deixa de afetar os equilíbrio interno, ou o que, a

grosso modo, chama-se de moral.

Diante das idéias destacada, entende-se que os afetos, assim como os gestos e as

palavras são carregados de sentido, ou melhor, são produtores de sentido, num conjunto de

significações circunscritas por representações simbólicas, postas em ação por determinação

do inconsciente e vivenciadas na inter-relação entre sujeitos, no envolvimento e no

interesse de um sujeito a outro. Dessa relação vincular (com pais e irmãos), a

criança/adolescentes vai estabelecendo padrões de relacionamento que, posteriormente, são

transferidos na escola para o professor e os colegas.

De acordo com COLL(1995), a intenção dos alunos nas atividade de

aprendizagem, as atitudes e/ou sentimentos de alguns sobre seus colegas (como aceitação

ou rejeição, carinho ou antipatia, igualdade ou submissão, colaboração ou imposição); o

auto-conceito do aluno sobre seu desempenho escolar e a motivação de cada um frente às

atividades propostas (tendo em vista sua história pessoal de êxitos e fracassos) são alguns

dos processos de racionamento encadeados aos processos cognoscitivos (terminologia

usada pelo autor).

Esses processos vão mediar as possibilidades e o alcance das aprendizagens.

Pelo exposto, reforçamos nossa perspectiva de que há uma estreita relação entre o afeto e a

cognição do sujeito que aprende.

3.1- O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO PROCESSO

APRENDIZAGEM

A Psicopedagogia segundo o código de ética da ABPp é o campo de atuação em

saúde e educação que lida com o conhecimento, sua implantação, sua aquisição, distorções,

diferenças e desenvolvimento, considerando a influência do meio família, escola e

sociedade; sendo, o .objeto de estudo da Psicopedagogia, o ser sócio-histórico-cultural, bio-

psico-relacional, que se encontra em processo de aprendizagem formal ou não formal.

31

MOOJEN (2006) afirma que a avaliação psicopedagógica propõe-se

fundamentalmente a verificar a compatibilidade entre o nível de desempenho da criança na

escola e sua faixa de escolaridade, em especial nas áreas de leitura, escrita, matemática e

habilidades correlatas. Busca analisar as atitudes da criança frente à escola e à

aprendizagem, identificando os fatores etiológicos, as competências ou as inabilidades que

facilitam/interferem no processo de aprender, para a partir daí,fazer a intervenção

necessária no âmbito clínico e\ou institucional.

O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e

terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens

humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem

surgir. O psicopedagogo deve então trabalhar juntamente com os outros profissionais da

educação, como o fonoaudiólogo, o psicólogo e até mesmo o professor. Percebendo que a

criança apresenta apenas problemas emocionais, ele então indica o tratamento psicológico.

Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de

aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas, orientando pais e

professores, estabelecendo contato com outros profissionais das áreas psicológica,

psicomotora. fonoaudiológica e educacional, pois tais dificuldades são multifatoriais em

sua origem e, muitas vezes, no seu tratamento. Esse profissional deve ser um mediador em

todo esse processo, indo além da simples junção dos conhecimentos da psicologia e da

pedagogia.

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez mais

preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não sabem mais o que

fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o processo considerado normal e

não possuem uma política de intervenção capaz de contribuir para a superação dos

problemas de aprendizagem.

Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional

qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos professores e a

outros profissionais da instituição escolar para melhoria das condições do processo ensino-

aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem.

Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma

intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços

institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, está mobilizado na construção de um

espaço adequado às condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos.

32

Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou

desobstruir tal processo.

Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar

relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e profissional implicam a

configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades,

habilidades e competências de atuação na instituição escolar.

A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem

e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos que, se existissem nas escolas

psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas

seria bem menor.

Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de

aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas

dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário, para outros

profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que realizam diagnóstico

especializado e exames complementares com o intuito de favorecer o desenvolvimento da

potencialização humana no processo de aquisição do saber.

Segundo Dembo (apud FERMINO et al, 1994, p.57), "Evidências sugerem que

um grande número de alunos possui características que requerem atenção educacional

diferenciada". Neste sentido, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito,

auxiliando educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-

aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-

as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite que o educador se olhe

como aprendente e como ensinante.

Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os

educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a

compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação

e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos

distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno grupo de alunos.

Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num

processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora,

principalmente se os professores forem especialistas nas suas disciplinas. Não só a sua

intervenção junto ao professor é positiva. Também o é a sua participação em reuniões de

pais, esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o

33

processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e

aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando

estratégias e apoio.

Segundo Bossa (1994, p.23),

... cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.

O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a

compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado

aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de

aprendizagem. Para isso, deve analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as

suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer

psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de

aprendizagem.

34

CAPÍTULO 4

A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AFETIVIDADE

A inclusão escolar é conseqüência de uma necessidade mais ampla de inclusão

social, fundada na premissa de que todas as pessoas possuem os mesmos direitos e deveres.

Nos últimos anos, ocorreu um amplo debate na sociedade a respeito dos aspectos jurídicos,

sociais e educacionais dos indivíduos considerados deficientes ou que apresentam

necessidades especiais. Importantes avanços foram conquistados nos planos social e legal,

lançando a escola regular ao desafio de adotar uma postura inclusiva.

No Brasil, a educação inclusiva passou a ser amplamente reconhecida como

uma necessidade social e com bases legais. O Ministério Público elaborou um documento

intitulado “O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede

Regular” (2004, p. 6) que oferece referencial para a construção de sistemas educacionais

inclusivos. Em seus art. 3º, inc. IV, e art.205, o referido documento expõe: A nossa

Constituição Federal elegeu como fundamentos da República a cidadania e a dignidade da

pessoa humana (art. 1º, inc. II e III), e como um dos seus objetivos fundamentais a

promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação. [...].

Garante ainda expressamente o direito à igualdade (art. 5º), e trata, nos artigos

205 e seguintes, do direito de TODOS à educação. Esse direito deve visar o “pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho. Mas o que é de direito nem sempre acontece de fato, e, com essa

preocupação, surgiram muitos movimentos da sociedade civil organizada e de profissionais

e especialistas para atender com qualidade os princípios constitucionais”.

As mais variadas formas de interpretações das normas contidas nas leis e as

contradições que surgiram também geraram impasses, retardando a consolidação de uma

escola verdadeiramente inclusiva. Exemplo disso é o uso da palavra “preferencialmente” na

Constituição Federal, art. 208, inciso III e que estimulou muitas discussões para sua

compreensão (BRASIL, 1988). O documento “O Acesso de Alunos com Deficiência às

Escolas e Classes Comuns da Rede Regular” (BRASIL, 2004, p. 8) apresenta o seguinte

esclarecimento: Este advérbio refere-se a “atendimento educacional especializado”, ou seja,

35

aquilo que é necessariamente diferente do ensino escolar para melhor atender às

especificidades dos alunos com deficiência.

Isto inclui, principalmente, instrumentos necessários à eliminação das barreiras

que as pessoas com deficiência têm para relacionar-se com o ambiente externo. Por

exemplo: ensino da língua brasileira de sinais (Libras), do código Braile, uso de recursos de

informática e outras ferramentas tecnológicas, além de linguagens que precisam estar

disponíveis nas escolas comuns para que elas possam atender com qualidade aos alunos

com e sem deficiência enquanto uma possibilidade de intervenção institucional no campo

da psicopedagogia.

A Constituição de 1988 é bem clara quando afirma que o atendimento

educacional especializado pode ser oferecido enquanto complemento fora da escola comum

e não como substitutivo da escolarização oferecida na rede regular de ensino,

caracterizando-se como ato inconstitucional entender que “atendimento educacional

especializado” é sinônimo de “educação especial” (BRASIL, 1988).

No ano de 2001, a Convenção da Guatemala levantou questões, como o direito

de escolha do aluno e de seus familiares na aceitação do atendimento educacional

especializado não substitutivo em escola regular, ou em ambientes segregados,

complementando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que, ao não prever as

situações em que será necessária a Educação Especial, acabou permitindo que a escola o

fizesse.

As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica

(BRASIL, 2001, p. 20) conceitua a inclusão como: A construção de uma sociedade

inclusiva é um processo de fundamental importância para o desenvolvimento e a

manutenção de um Estado democrático. Entende-se por inclusão a garantia, a todos, do

acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade essa que deve estar orientada por

relações de acolhimento à equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com

qualidade, em todas as dimensões da vida.

Estudar as leis que existem nesse âmbito, suas interpretações e reinterpretações,

são aspectos básicos para que se possa promover uma educação inclusiva, pois como já

descrito, a complexidade transforma-se em uma gigantesca rede, cabendo à escola não

prescindir da ajuda externa de vários saberes, especialmente os da psicopedagogia, por esta

atender às questões relativas às aprendizagens.

36

Faz-se necessário recorrer novamente às Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001, p.44-45) para auxiliar a escola na

compreensão do conceito “Alunos com Necessidades Educacionais Especiais”: Educandos

que apresentam Necessidades Educacionais Especiais são aqueles que, durante o processo

educacional, demonstram:

• dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento

que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois

grupos:

• aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;

• aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

• dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando

adaptações de acesso ao currículo, com utilização de linguagens e códigos aplicáveis;

• altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar

rapidamente os conceitos, os procedimentos e as atitudes e que, por terem condições de

aprofundar e enriquecer esses conteúdos, devem receber desafios suplementares em classe

comum, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino,

inclusive para concluir, em menor tempo,

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática do presente trabalho pontua a relação da afetividade com o

desenvolvimento cognitivo, mostrando a responsabilidade dos educadores em contribuir na

formação da personalidade da criança. Tomando-se por base as pesquisas do psicólogo

francês Henri Wallon que propõe analisar a relação entre pais e filhos - professores e alunos

na construção do conhecimento.

A questão da afetividade tem sido bastante discutida por professores, pais e

educadores em que é percebida a importância da afetividade no processo de ensino e

aprendizagem. Mas o que é afetividade? Conjunto de fenômenos psíquicos que se

manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da

impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de

alegria ou tristeza.

Uma educação entre professores e alunos que não aborde a emoção na sala de

aula como a afetividade traz prejuízos para a ação pedagógica, pois podem atingir não só o

professor, mas também o aluno. E se o professor não souber lidar com crises emocionais

isso poderá provocar desgastes físico e psicológico.

Para fazermos essa relação da afetividade com o processo de ensino e

aprendizagem, vamos falar sobre o desenvolvimento da criança através da interação

infantil, pois o professor competente poderá organizar uma ação adequada para as reais

necessidades dos seus alunos.

O desenvolvimento é um processo contínuo, pois o homem nunca está pronto e

acabado, esse desenvolvimento refere-se ao mental e ao crescimento orgânico, conhecendo

as características comuns de uma faixa etária, reconhecendo as individualidades.

As reações posturais das crianças são normalmente interpretadas como

desatenção. Assim, há uma grande insistência pela contenção do movimento, como se sua

simples eliminação pudesse assegurar a aprendizagem da criança.

E são através desses movimentos que podem gerar emoções como a alegria, que

ao se produzir revela uma grande excitação motora, onde poderá ser trabalhado várias

38

atividades como: teatro, dinâmicas em grupo etc., fazendo com que seja atividades

facilitadoras do conhecimento.

Sabendo também que o professor deve levar em consideração os estados

emocionais no contexto de sala de aula, pois o excesso ou a falta de movimento pode

revelar a presença de um estado emocional, seja ela boa ou ruim.

Portanto, o professor tem que ser equilibrado emocionalmente na sala de aula,

pois a inteligência costuma ceder aos caprichos da emoção, o grande desafio é manter o

equilíbrio entre a razão e a emoção, para que o estado emocional não implique em exercer

determinada atividade cognitiva.

Muitas vezes os professores se revelam como um alvo frágil e fácil do aluno

atingir. Essa falta de aproximação entre o professor e a emoção deixa-o totalmente cego

diante das expressões na sala de aula.

Da mesma forma, isso acontece com o Ensino Especial, que adquiriu maior

peso com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996.

Somente em 2001, as políticas públicas nacionais instituíram uma Lei (Diretrizes Nacionais

para a Educação Especial na Educação Básica) específica para a Educação Especial, cujo

teor reforça o acesso e a qualidade de ensino para todos.

39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, F. Inclusão: Muitos olhares, vários caminhos e um grande desafio. Rio de janeiro: WAK, 2003. APAE. In:_______APAE Educadora: A escola que buscamos. Brasília: APAE, 2001. BO FALCÃO, Gérson Marinho. Psicologia da Aprendizagem. 3 ed. São Paulo: Ática, 1986.

FIALHO,

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 11 ed. São Paulo: Paz e Terra S/A, 1999.

GARDNER,

LOCATELLI, Iza. A Escola que dá certo. Revista TV Escola. Brasília: Secretaria de

Educação a Distância do MEC, v. 37, n. 23, p.39, maio/junho.2001.

MONTSERRAT,

MORALES, Pedro. A relação professor-aluno. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1999.

MORENO, M. et al. Falemos de Sentimentos: a afetividade como um tema transversal na

escola. São Paulo: Moderna, 1999.

OLIVEIRA, M. K ; TRENTO, D.; REGO, T. (org). Psicologia, Educação e as temáticas

da vida contemporânea. São Paulo: Moderna, 2002.

PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. 9 ed. São Paulo: Ática, 1991.

PERUZO, Medeiros Jacira B. Educar igual interação. Revista do Professor. Porto Alegre,

p. 26 jul./set., 1998.

PUENTE, Miguel De La. O Ensino Centrado no Estudante. 1 ed. São Paulo: Cortez &

Moraes, 1978.

SALTINI, Cláudio J.P. Afetividade e inteligência, vol. 1. A emoção na educação. Rio de

Janeiro, DP&A, 1999.

SCOZ, B. J. L; RUBINSTEIN, E.; ROSSA, E. M. M; BARONE, L. M. C. Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional, Porto Alegre: Ed. Artes Medicas, 1990. SILVA, Maria Cecília Almeida e, Psicopedagogia em busca de uma fundamentação teórica. Nova Fronteira, 1998 TISATTO, Nara Lúcia; SIMADON, Salete Siloé. Educação e Afeto. Revista do Professor.

Porto Alegre, v. 18, n. 69, jan./mar. 2002.

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Tradução de Cristina Carvalho. Lisboa: Edições 70, 1995. WENECK, Hamilton. Interações sociais em sala de aula. Revista do Professor. Porto

Alegre, 2002, p. 49 jan./mar.

40

ANEXOS

41

Foto 01: Momento do teatro: APAE-

Goiânia

42

Foto 02:

43

44