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Francisca Sousa Pereira
EGCG do chá verde – um agente natural
contra o cancro colorretal e cancro da mama
Dissertação de Mestrado na área científica de Engenharia Biomédica, especialidade em Instrumentação Biomédica e Biomateriais, orientada pela Doutora Ana Cristina Santos e apresentada ao
Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Setembro, 2017
Francisca Sousa Pereira
EGCG do chá verde – um agente natural
contra o cancro colorretal e cancro da mama
Dissertação apresentada à Universidade de Coimbra para cumprimento dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Biomédica
Thesis submitted to the University of Coimbra in compliance with the requirements for
the degree of Master in Biomedical Engineering
Supervisores:
Doutora Ana Cristina Aguiar Santos (Instituto Biofísica - IBILI - FMUC)
Profª Doutora Bárbara Oliveiros (LBIM - IBILI - FMUC)
Coimbra, 2017
Este trabalho foi desenvolvido em colaboração com:
Esta cópia do Projeto para a obtenção do grau de Mestre é fornecida na condição de
que quem a consulta reconhece que os direitos de autor são pertença do autor da
dissertação de Mestrado e que nenhuma citação ou informação obtida a partir dela pode
ser publicada sem a referência apropriada.
This copy of the thesis has been supplied under the condition that anyone who
consults it is understood to recognize that its copyright rests with its author and that no
quotation from the thesis and no information derived from it may be published without
proper acknowledgement.
i
Resumo
Reconhecem-se desde a antiguidade os benefícios para a saúde do chá verde,
particularmente a proteção contra doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e cancro.
Os polifenóis do chá verde, fortes antioxidantes, dos quais a epigalocatequina-3-galato
(EGCG) é o mais abundante, são considerados os componentes ativos responsáveis pelas
suas propriedades anticancerígenas. Estudos têm sugerido potencial atividade clínica para
altas doses de chá verde, na prevenção do cancro colorretal e da mama. No entanto,
existem discrepâncias entre investigações, sendo necessário realizar mais estudos
controlados e com tratamento estatístico adequado.
Neste contexto, este estudo pretende quantificar o EGCG presente em diferentes
marcas registadas e marcas brancas de chá verde e de diferentes extratos, disponíveis no
mercado nacional e internacional. Pretende-se também analisar a possível citotoxicidade
do EGCG e a sua eficácia na inibição do crescimento de duas linhas celulares
cancerígenas humanas: cólon (WiDr) e mama (MCF7).
Recentemente foram realizados estudos, in vitro e in vivo, com a linha celular WiDr
e fármacos utilizados no tratamento do cancro colorretal, utilizando um extrato
enriquecido em EGCG. Pretendeu realizar-se um estudo in vitro semelhante com a linha
celular MCF7 e fármacos instituídos para o tratamento do cancro da mama, utilizando
outros extratos enriquecidos em EGCG. Este projeto pretende contribuir também para a
avaliação de chás verdes e extratos de chá verde numa possível potenciação do efeito de
fármacos usados na sua terapêutica.
Pretendeu obter-se mais informação através de um modelo animal in vivo utilizando
ratos RNU, com xenoenxertos de WiDr e MCF7, aos quais se administrou um outro
extrato enriquecido em EGCG. Em suma, pretende tentar-se esclarecer melhor em que
medida o EGCG poderá ser utilizado como um agente natural coadjuvante na luta contra
o cancro colorretal e cancro da mama.
Palavras-chave: chá verde, EGCG, cancro colorretal, cancro da mama, WiDr, MCF7,
ii
iii
Abstract
Green tea has since long been praised for its health benefits, ranging from protection
against heart disease, neurodegenerative disease and cancer. Green tea polyphenols,
strong antioxidants, of which (–)-epigalocatechin-3-galate (EGCG) is the most abundant,
are considered to be the active components responsible for its cancer prevention
properties. Studies have been suggesting that high doses of green tea could have potential
effects in colorectal and breast cancer prevention. However, there is much discrepancy
between results of different studies, and, thus, further testing is required with controlled
and adequate statistical analysis.
In this context, this study intends to quantify the EGCG present in different trademark
and non-labeled brands and different green tea extracts available in the national and
international market. It is also intended to analyze the cytotoxicity of EGCG and its
efficacy in the inhibition of two different human cell lines: colon (WiDr) and breast
(MCF7).
Recently, studies have been performed, in vitro and in vivo, with the WiDr cell line
using an EGCG-enriched extract as well as drugs for its chemotherapy. This project
intends to contribute to the evaluation of several green teas and green teas extracts
(enriched in EGCG) in a possible synergetic effect with chemotherapeutic drugs.
It was intended to obtain more information using RNU rats as an in vivo model, with
xenografts of WiDr and MCF7 cell lines. Another EGCG-enriched extract has been
administered to the animals. Overall, it is intended to enlighten the extent to which EGCG
can be used as a natural adjuvant agent in the fight against colorectal cancer and breast
cancer.
Key words: green tea, EGCG, colorectal cancer, breast cancer, WiDr, MCF7
iv
.
v
Agradecimentos
Na realização deste projeto, tive a enorme sorte de ser dirigido por uma equipa de
orientadores extremamente acessível e competente, que sempre me propôs objetivos
interessantes, reais e planeados, mantendo-se ativamente pronta para me ajudar a realizá-
los.
.
vi
vii
“The greater the difficulty,
the greater the glory.”
Marcus Tullius Cícero (106-43 a.C.)
viii
ix
Índice
Resumo .......................................................................................................................................... i
Abstract ........................................................................................................................................ iii
Agradecimentos ........................................................................................................................... v
Índice ........................................................................................................................................... ix
Glossário...................................................................................................................................... xi
Índice de Figuras ...................................................................................................................... xiv
Índice de Tabelas ..................................................................................................................... xvii
Introdução .......................................................................................................... 1
1.1. Contextualização e Motivação ..................................................................................... 1
1.2. Objetivos ...................................................................................................................... 3
1.3. Estrutura do Projeto para a obtenção do grau de Mestre ............................................. 4
Fundamentos Teóricos ...................................................................................... 6
2.1. Cancro Colorretal ......................................................................................................... 6
2.1.1. Fatores de risco e desenvolvimento do cancro ..................................................................... 9
2.1.2. Tratamentos ........................................................................................................................ 10
2.1.3. Linha celular WiDr ............................................................................................................. 10
2.2. Cancro da Mama ........................................................................................................ 11
2.2.1. Fatores de risco e desenvolvimento do cancro ................................................................... 14
2.2.2. Tratamentos ........................................................................................................................ 14
2.2.3. Linha celular MCF7 ............................................................................................................ 16
2.3. Moléculas naturais e inibidores de tumores ............................................................... 16
2.4. Chá ............................................................................................................................. 18
2.5. EGCG: (–)-epigalocatequina-3-galato ....................................................................... 20
2.6. Fármacos utilizados em quimioterapia ...................................................................... 22
2.7. Modelo animal ........................................................................................................... 24
2.8. Técnica histológica .................................................................................................... 28
Materiais e Métodos ........................................................................................ 29
3.1. Linhas celulares utilizadas ......................................................................................... 29
3.1.1. Diferenciação entre EMEM e DMEM ................................................................................ 29
3.2. Obtenção das células pretendidas .............................................................................. 30
3.2.1. Cultura celular .................................................................................................................... 31
x
3.2.2. Contagem celular ................................................................................................................ 33
3.3. Utilização de chá verde e extratos de chá verde ........................................................ 35
3.3.1. Determinação das concentrações de EGCG no chá ............................................................ 35
3.3.2. Estudos in vitro usando chás verdes ................................................................................... 39
3.3.3. Soluções de extratos de chá verde enriquecidos em EGCG ............................................... 39
3.4. Estudos in vitro .......................................................................................................... 40
3.4.1. Objetivos gerais .................................................................................................................. 40
3.4.2. Estudo da linha celular WiDr ............................................................................................. 41
3.4.3. Estudo da linha celular MCF7 ............................................................................................ 43
3.4.4. Estudo com chás e extratos de chá verde ............................................................................ 46
3.4.5. Teste do MTT ..................................................................................................................... 47
3.5. Estudos in vivo ........................................................................................................... 49
3.6. Estudos histológicos .................................................................................................. 54
3.7. Análise estatística ...................................................................................................... 57
Resultados e Discussão .................................................................................... 59
4.1. Concentração de EGCG no chá e extratos de chá verde ............................................ 59
4.2. Estudos in vitro .......................................................................................................... 65
4.2.1. Número de células .............................................................................................................. 65
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 68
xi
Glossário
5-FU 5-fluouracilo
ADN Ácido desoxirribonucleico
BRCA1 Breast cancer 1 gene, early onset
BRCA2 Breast cancer 2 gene
CapOx Capecitabina e oxaliplatina
CK5 Citoceratina 5 (do inglês cytokeratin 5)
DMEM Dulbecco's Modified Eagle's Medium
DMSO Dimetilsulfóxido
EGCG Epigalocatequina-3-galato
EGFR Recetor tipo 1 do fator de crescimento epidérmico (do inglês
epidermal growth factor receptor)
EMEM Eagle's Minimum Essential Medium
ER Recetor de estrogénio (do inglês estrogen receptor)
FBS Soro fetal bovino
FDA Food and Drug Administration
FOLFIRI 5-fluouracilo, leucovorina e irinotecano
FOLFOX 5-fluouracilo, leucovorina e oxaliplatina
FOLFOXIRI 5-fluouracilo, leucovorina, oxaliplatina e irinotecano
GTEE Green Tea EGCG ExtremeTM (ProHealth)
GTE Green Tea Extract (MyProtein®)
HER2 Recetor Tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (do
inglês human epidermal growth factor receptor 2)
HNPCC Cancro colorretal hereditário sem polipose
HPLC Cromatografia Líquida de Alta Pressão (do inglês high-
performance liquid chromatography)
IFL 5-fluouracilo e leucovorina
IGFBP Fator de crescimento semelhante à insulina, do inglês insulin-like
growth factor-binding protein
MGTE Mega Green Tea Extract (MyProtein®)
xii
MOCF Microscópio Ótico de Contraste de Fase
MTT Brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol2-il)-2,5-difeniltetrazólio)
NEAA Aminoácidos não essenciais, do inglês non essential amino acids
Pen/Strep Penicilina/estreptomicina
PR Recetor de progesterona (do inglês progesterone receptor)
ROS Espécies reativas de oxigénio (do inglês reactive oxygen species)
TNM Tumor-nódulo-metástase
xiii
xiv
Índice de Figuras
Figura 1 – Tendência observada na incidência do cancro do cólon em Portugal, e previsões até 2020
(retirado de [15]).......................................................................................................................... 7
Figura 2 – Tendência observada na incidência do cancro da mama em Portugal e previsões até 2020
(retirado de [15])........................................................................................................................ 12
Figura 3 – Os fitoquímicos podem exercer efeitos preventivos ou terapêuticos bloqueando passos chave
na iniciação e promoção do tumor, revertendo o seu o estado pré-maligno ou inibindo a sua
progressão (adaptado de [43]). .................................................................................................. 18
Figura 4 – Estrutura química da (–)-epigalocatequina-3-galato (EGCG) (retirado de [47])....................... 20
Figura 5 – Esquema representativo da anatomia do animal utilizado nos testes in vivo: o rato (adaptado
de [72]). ..................................................................................................................................... 28
Figura 6 – [A] Câmara de Neubauer (adaptado de [78]); [B] Vista lateral da lamela colocada sobre a
câmara de Neubauer, cobrindo a área central onde está a gelha de contagem, que serve para
conter a amostra entre o fundo da câmara e a própria lamela (adaptado de [77]); [C] esquema
de quadrantes utilizado na contagem de células (adaptado de [78]). ......................................... 34
Figura 7 – Representação esquemática de um sistema de Cromatografia Líquida de Alta Pressão
(adaptado de [80]). ..................................................................................................................... 36
Figura 8 – Representação esquemática do protocolo de preparação de uma solução de chá verde a
estudar, usando uma saqueta de chá verde. ............................................................................... 37
Figura 9 – Exemplo de um esquema de uma caixa de cultura celular de 48 poços utilizada no estudo do
EGCG presente nos diferentes tipos de chá verde estudados. ................................................... 47
Figura 10 – Esquema da redução do MTT a formazan. Esta reação apenas pode ocorrer quando as
enzimas redutoras estão ativas. Esta conversão é, portanto, usada para quantificar a
viabilidade celular (adaptado de [84]). ...................................................................................... 48
Figura 11 – Fotografias tiradas com o microscópio ótico de contraste de fase a um poço de uma caixa
de cultura de 48 poços, após 3 reaplicações de uma solução de GTE pó: [A] antes da adição
de MTT e [B] após adição de MTT. É possível notar que em [B] apenas algumas células
estão coradas, mostrando que a viabilidade celular diminuiu significativamente com a adição
do composto em causa. .............................................................................................................. 49
Figura 12 – Inoculação subcutânea de células tumorais na região lateral da coxa direita de um rato RNU.
................................................................................................................................................... 52
Figura 13 – Injeção subcutânea, num rato fêmea RNU, da suspensão de estradiol em óleo de sésamo,
para estimulação do crescimento da linha celular MCF7, inoculada 7 dias antes. .................... 52
Figura 14 – Disseção de um rato na zona de desenvolvimento do tumor para colher amostras para análise
histológica: [A] restos de gordura fibrosa no local de desenvolvimento do tumor, [B] cassete
de fixação utilizada com amostra de rim. .................................................................................. 54
Figura 15 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do EGCG-Puro. ............................... 60
Figura 16 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Cem Porcento. ..................... 60
Figura 17 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Gorreana. ............................. 61
xv
Figura 18 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Lipton. ................................. 61
Figura 19 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Lipton, mostrando a
representação por picos. ............................................................................................................ 61
Figura 20 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Pingo Doce. ......................... 62
Figura 21 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Solúvel. ................................ 62
Figura 22 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Taylors. ................................ 62
Figura 23 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Tetley Mel e Limão. ............ 63
Figura 24 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Twinings. ............................. 63
Figura 25 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do extrato de pó GTE (Green Tea
Extract). ..................................................................................................................................... 64
Figura 26 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do extrato de cápsula MGTE (Mega
Green Tea Extract). ................................................................................................................... 64
Figura 27 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do extrato de cápsula GTEE (Green
Tea EGCG Extreme). ................................................................................................................. 64
Figura 28 – Gráficos relativos à linha celular WiDr mostrando todos os tempos de colagem e os
respetivos dias de seguimento, em relação ao número de células utilizado e [A] ao desvio dos
valores de MTT e [B] ao desvio dos valores de MTT Standardizado (StdMTT). ..................... 66
Figura 29 – Gráficos relativos à linha celular MCF7 mostrando todos os tempos de colagem e os
respetivos dias de seguimento, em relação ao número de células utilizado e [A] ao desvio dos
valores de MTT e [B] ao desvio dos valores de MTT Standardizado (StdMTT). ..................... 67
xvi
xvii
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Sistema tumor-nódulo-metástase (TNM) para o cancro colorretal, definido pelo American
Joint Commitee on Cancer [17]. .................................................................................................. 8
Tabela 2 – Sistema tumor-nódulo-metástase (TNM) para o cancro da mama, definido pelo American
Joint Commitee on Cancer [24]. ................................................................................................ 13
Tabela 3 – Classificação dos diferentes subtipos moleculares do cancro da mama [28], [29]. .................. 14
Tabela 4 – Avaliação quantitativa da quantidade de EGCG infundida durante a preparação do chá verde
de diferentes marcas. ................................................................................................................. 60
Tabela 5 – Avaliação quantitativa da quantidade de EGCG infundida nos extratos de chá verde em
cápsula. ...................................................................................................................................... 63
Tabela 6 – Avaliação quantitativa da quantidade de EGCG infundida no extratos de chá verde em pó. ... 63
Tabela 7 – Tempo que a linha celular WiDr demora a aderir à superfície dos poços nas caixas de cultura
e o respetivo tempo de seguimento de incubação numa incubadora apropriada. ...................... 65
Tabela 8 – Tempo que a linha celular MCF7 demora a aderir à superfície dos poços nas caixas de cultura
e o respetivo tempo de seguimento de incubação numa incubadora apropriada. ...................... 67
xviii
1
Introdução
Este capítulo irá descrever, de forma geral, todo o trabalho que se desenvolveu.
Inicialmente, irá ser abordada a problemática oncológica que afeta a população mundial
em geral, referindo dados estatísticos atualizados nesta área, e que originou e impulsionou
este estudo. Para além disso, é apresentado o plano de trabalhos, os métodos utilizados e
a estrutura do Projeto para obtenção do grau de Mestre, juntamente com um breve resumo
do que é abordado em cada capítulo. Por fim, é referida a contribuição científica deste
estudo.
1.1. Contextualização e Motivação
A oncologia é um ramo da ciência médica ligado à prevenção, diagnóstico e
tratamento de tumores, quer benignos quer malignos. Cada uma das células do corpo
humano tem um sistema bem regulado que controla o seu crescimento, maturidade,
reprodução e, eventualmente, a morte [1]. As designações tumor e cancro são muitas
vezes usadas como sinónimo, o que não é correto. Um neoplasma corresponde a um
crescimento anormal de células, mais rápido do que o típico, e que continuará a ocorrer
se não for tratado. O termo tumor é comummente usado, embora não seja específico, ao
referir um neoplasma. Na realidade, um tumor significa apenas uma massa. Um
neoplasma pode ser benigno (geralmente curável) ou maligno (cancerígeno). Um “tumor”
benigno geralmente é localizado e não atinge outras zonas do organismo. A maioria reage
bem ao tratamento, no entanto, se não tratados, podem crescer bastante e provocar
consequências graves por isso mesmo. Por vezes, mimetizam “tumores” malignos o que
leva a efetuar terapêutica. Um “tumor” maligno ou cancro invade os tecidos circundantes,
quebrando as barreiras de defesa e muitas vezes oferece resistência ao tratamento, pode
originar metástases e, por vezes, tem recorrência mesmo após a remoção cirúrgica. Ao
invadirem e danificarem os tecidos e órgãos circundantes, imediatamente a seguir às
2
doenças cardíacas, os tumores malignos são responsáveis pela segunda maior causa de
morte a nível mundial e nacional [2].
Responsável por 8,8 milhões de mortes em 2015 a nível mundial, quase uma em cada
seis mortes é devida ao cancro [3]. A Europa, com apenas um oitavo da população
mundial, tem cerca de um quarto dos casos de cancro globais, com cerca de 3,7 milhões
de novos doentes por ano, sendo os mais mortais o do pulmão, colorretal, mama e próstata
[4], [5]. Já em Portugal, em 2014, cerca de um quarto das mortes que ocorreram foram
devidas a esta patologia e, em 16 600 mortes de homens devido ao cancro, 15,3% foram
devido ao cancro colorretal, enquanto em 10 600 mortes de mulheres, 16,9% foram
devidas ao cancro da mama e 16,4% devido ao cancro colorretal [6].
Comparando com o ano de 2008, regista-se um aumento de 11% de incidência e 8%
de mortes associadas a esta patologia, evidenciando uma tendência de crescente impacto
a nível mundial. Com base no envelhecimento da população, prevê-se para a próxima
década um aumento de 13,7% para a União Europeia e de 12,6% para Portugal de novos
casos de cancro [7]. Com base nestes dados estatísticos avassaladores, torna-se primordial
a descoberta de compostos que não só possam prevenir esta patologia, como tratá-la mais
eficazmente.
Por sua vez, existem referências de que, já desde a pré-história, as plantas medicinais
eram utilizadas por praticamente todas as civilizações do globo terrestre. Hoje em dia,
existem cerca de 500 mil espécies de plantas no planeta e cerca de 7 000 são ou já foram
estudadas para aplicações médicas. Para além disso, 25% das prescrições de fármacos
atualmente contêm compostos isolados de plantas [8].
Neste estudo pretende-se relacionar uma das patologias que mais mortes causa, com
uma das 7000 plantas já estudadas, e que é responsável pela infusão mais consumida no
mundo, depois da água: o chá. Um exemplo prático dos benefícios deste composto é que,
há cerca de 10 anos, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou a venda de
sinecatequinas (Veregen, Bradley/MediGene, AG, D82152 Planegg/Martinsried, Alemanha),
um fármaco botânico utilizado no tratamento de problemas genitais. As sinecatequinas
são um extrato de água de folhas de chá verde da planta Camellia sinensis, e foi o primeiro
extrato de ervas a ser aprovado como medicamento para terapia clínica. O novo fármaco,
produzido a partir de chá verde, representa agora uma alternativa real à terapia
convencional, e demonstra como é que ensaios clínicos bem-sucedidos relativamente às
3
terapêuticas do chá verde e das suas catequinas podem levar a importantes formulações
benéficas para a saúde [9].
1.2. Objetivos
Reconhecem-se desde a antiguidade os benefícios para a saúde do chá verde,
particularmente a proteção contra doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e cancro
[10]. Os polifenóis do chá verde, fortes antioxidantes, dos quais a epigalocatequina-3-
galato (EGCG) é o mais abundante, são considerados os componentes ativos responsáveis
pelas suas propriedades anticancerígenas [11]. Estudos têm sugerido potencial atividade
clínica para altas doses de chá verde, na prevenção do cancro colorretal e da mama [12],
[13]. No entanto, existem discrepâncias entre investigações, sendo necessário realizar
mais estudos controlados e com tratamento estatístico adequado.
Neste contexto, este estudo pretende quantificar o EGCG presente em diferentes
marcas registadas e marcas brancas de chá verde e de diferentes extratos, disponíveis no
mercado nacional e internacional. Pretende-se também analisar a possível citotoxicidade
do EGCG e a sua eficácia na inibição do crescimento de duas linhas celulares
cancerígenas humanas: cólon (WiDr) e mama (MCF7).
Recentemente foram realizados estudos, in vitro e in vivo, com a linha celular WiDr
e fármacos utilizados no tratamento do cancro colorretal, utilizando um extrato
enriquecido em EGCG. Pretendeu realizar-se um estudo in vitro semelhante com a linha
celular MCF7 e fármacos instituídos para o tratamento do cancro da mama, utilizando
outros extratos enriquecidos em EGCG. Este projeto pretende contribuir também para a
avaliação de chás verdes e extratos de chá verde numa possível potenciação do efeito de
fármacos usados na sua terapêutica.
Pretendeu obter-se mais informação através de um modelo animal in vivo utilizando
ratos RNU, com xenoenxertos de WiDr e MCF7, aos quais se administrou um outro
extrato enriquecido em EGCG. Em suma, pretende tentar-se esclarecer melhor em que
medida o EGCG poderá ser utilizado como um agente natural coadjuvante na luta contra
o cancro colorretal e cancro da mama.
4
1.3. Estrutura do Projeto para a obtenção do grau de
Mestre
Capítulo 1: Introdução
Neste capítulo aborda-se a contextualização do trabalho, assim como os seus
objetivos. Pretende explicar-se de forma resumida como está dividido este projeto e quais
são os principais temas abordados.
Capítulo 2: Fundamentos Teóricos
Neste capítulo abordam-se inicialmente dados estatísticos sobre o cancro colorretal
e o cancro da mama, temas que impulsionaram este estudo.
Explica-se, também, cada estadio dos referidos cancros, a taxa de sobrevivência aos
5 anos e vários esquemas terapêuticos disponíveis para cada um deles. As linhas celulares
escolhidas para realizar este estudo (WiDr – cancro colorretal e MCF7 – cancro da mama)
foram descritas, bem como os fatores que levaram à sua escolha.
Como foi pretendido associar esta patologia oncológica a moléculas naturais e
inibidores tumorais, foi abordada esta inter-relação e os possíveis benefícios da utilização
de plantas naturais ou seus derivados. Foi analisada, em particular, a planta Camellia
sinesis que dá origem ao chá verde, a segunda infusão mais consumida no mundo a seguir
à água, e a (–)-epigalocatequina-3-galato (EGCG), o composto polifenólico que é
considerado o principal responsável pelos benefícios para a saúde a que o consumo de
chá verde está associado.
Foram descritos os agentes/esquemas quimioterapêuticos para o cancro colorretal e
da mama selecionados para este estudo e abordada uma possível relação sinergética com
a EGCG que se tentou colocar em evidência.
Por fim, foi descrito o modelo animal escolhido para induzir tumores não ortotópicos
de cancro colorretal e da mama, usando as referidas linhas celulares, sujeitos á
administração de um extrato de chá verde rico em EGCG.
5
Capítulo 3: Materiais e Métodos
Neste capítulo são abordados os procedimentos com as linhas celulares utilizadas,
assim como a sua obtenção, para realizar experiências reprodutíveis de forma consistente.
São descritos os chás verdes e extratos de chá verde estudados, motivo desta escolha e o
seu modo de preparação, bem como a técnica analítica envolvida na determinação da
concentração de EGCG presente em cada um deles: a Cromatografia Líquida de Alta
Pressão (HPLC).
O projeto tem duas partes distintas, mas convergentes: os testes realizados in vitro e
ensaios in vivo. No primeiro caso são delineados os procedimentos do estudo tanto com
a linha celular WiDr como com a linha MCF7, que são avaliadas e analisadas
independentemente. Também se descreve o método de estudo da citotoxicidade celular
induzida, explicando em que consiste o teste do MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol2-
il)-2,5-difeniltetrazólio). Nos estudos in vivo apresentam-se as condições do modelo
animal utilizado para a inoculação subcutânea das células tumorais, desenvolvimento dos
referidos tumores não ortotópicos e a sua ocisão, obedecendo e respeitando as normas dos
estudos animais. Por fim, descreve-se de que forma se avaliaram, por histologia
convencional, as amostras de vários órgãos e do tumor/local do tumor colhidas dos
referidos animais.
Capítulo 4: Resultados e Discussão
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos com todos os métodos
utilizados neste projeto: HPLC, testes in vitro e in vivo e seu tratamento estatístico, usando
o programa SPSS e, posteriormente, feita uma análise crítica integrada dos mesmos.
Capítulo 5: Conclusões
Neste capítulo são mencionadas as principais conclusões retiradas deste estudo e de
que forma podem contribuir para estudos posteriores e para o avanço do conhecimento
na área. Para além disso, são ainda sugeridas propostas para trabalho futuro.
6
Fundamentos Teóricos
Este capítulo irá abordar os conceitos utilizados para fundamentar a elaboração do
presente estudo. Inicialmente, irão ser referidas características do cancro colorretal e do
cancro da mama, assim como o motivo da escolha das linhas tumorais selecionadas.
Posteriormente, irá ser apresentada uma solução a partir de um composto natural que
poderia ser utilizada em associação com os fármacos e as técnicas terapêuticas atuais,
possibilitando uma diminuição das doses dos tratamentos mais extremos, com o objetivo
de tentar ajudar a melhorar a qualidade de vida destes doentes e das suas famílias.
2.1. Cancro Colorretal
O cancro colorretal é a segunda causa de morte do foro oncológico mais frequente
em Portugal, sendo responsável por mais de 10 mortes por dia (Figura 1) [6]. Desde 1970
que a incidência desta patologia quase duplicou, o que sugere que o estilo de vida da
população tem tido um grande impacto no seu desenvolvimento. A maioria dos casos tem
origens espontâneas (60-85%), mas o cancro colorretal também pode ter características
heredo-familiares: polipose adenomatosa familiar (1%) e cancro colorretal hereditário
sem polipose (HNPCC) (5%) [14].
7
Figura 1 – Tendência observada na incidência do cancro do cólon em Portugal, e previsões até 2020
(retirado de [15]).
O estado patológico representa o fator de prognóstico mais importante para os
doentes. O sistema tumor-nódulo-metástase (TNM), definido pelo American Joint
Commitee on Cancer, é o mais frequente de estadiamento e tem em conta a profundidade
da invasão na parede do intestino, a extensão da invasão de gânglios linfáticos locais e a
presença da doença em locais mais distantes (Tabela 1). A profundidade da invasão
tumoral define o estadio T, a patologia de gânglios linfáticos envolvidos define as
categorias dos três N [N0 (sem gânglios linfáticos), N1 (1-3 gânglios linfáticos) e N2
(+3 gânglios linfáticos)] e a propagação do tumor para além do colorretal e dos gânglios
linfáticos próximos define o estadio M, onde M1 indica a presença de metástases tumorais
em locais mais distantes [16].
8
Tabela 1 – Sistema tumor-nódulo-metástase (TNM) para o cancro colorretal, definido pelo American
Joint Commitee on Cancer [17]. E
sta
dio
I
Estadio IA T1-T2, N0, M0 o tumor cresceu através da mucosa muscular até à submucosa (T1)
ou muscularis propria (T2) e não se disseminou para gânglios
linfáticos (N0) nem locais distantes (M0)
Est
ad
io I
I
Estadio IIA T3, N0, M0 o tumor cresceu nas camadas mais externas do cólon ou do reto, mas
não as ultrapassou (T3) e não se disseminou para gânglios linfáticos
(N0) nem locais distantes (M0)
Estadio IIB T4a, N0, M0 o tumor cresceu através da parede do cólon ou do reto, mas não
noutros tecidos ou órgãos próximos (T4a) e não se disseminou para
gânglios linfáticos (N0) nem locais distantes (M0)
Estadio IIC T4b, N0, M0 o tumor cresceu através da parede do cólon ou do reto até outros
tecidos ou órgãos mais próximos (T4b) e não se disseminou para
gânglios linfáticos (N0) nem locais distantes (M0)
Est
ad
io I
II
Estadio IIIA
T1-T2, N1, M0 o tumor cresceu através da mucosa até à submucosa (T1) ou
muscularis propria (T2), já se disseminou para 1-3 gânglios
linfáticos próximos (N1), mas não para locais distantes (M0)
T1, N2a, M0 o tumor cresceu através da mucosa até à submucosa (T1), já se
disseminou para 4-6 gânglios linfáticos (N2), mas não para locais
distantes (M0)
Estadio IIIB
T3-T4a, N1, M0
o tumor cresceu até às camadas mais externas do cólon ou do reto
(T3) ou através do peritoneu visceral (T4a), já se disseminou para
1-3 gânglios linfáticos próximos (N1), mas não para locais distantes
(M0)
T2-T3, N2a, M0
o tumor cresceu até à muscularis propria (T2) ou camadas mais
externas do cólon ou do reto (T3), já se disseminou para 4-6
gânglios linfáticos próximos (N2a), mas não para locais distantes
(M0)
T1-T2, N2b, M0 o tumor cresceu através da mucosa até à submucosa (T1) ou
muscularis propria (T2), já se disseminou para mais de 7 gânglios
linfáticos próximos (N2b), mas não para locais distantes (M0)
Estadio IIIC
T4a, N2a, M0 o tumor cresceu através da parede do cólon ou do reto, incluindo o
peritoneu visceral (T4a), já se disseminou para 4-6 gânglios
linfáticos próximos (N2a), mas não para locais distantes (M0)
T3-T4a, N2b, M0
o tumor cresceu nas camadas mais externas do cólon ou do reto (T3)
ou através do peritónio visceral (T4a), já se disseminou para mais
de 7 gânglios linfáticos próximos (N2b), mas não para locais
distantes (M0)
T4a, N1-N2, M0
o tumor cresceu através da parede do cólon ou do reto e noutros
tecidos ou órgãos próximos (T4b), já se disseminou para pelo menos
1 gânglio linfático ou área de gordura próxima (N1-N2), mas não
para locais distantes (M0)
Est
ad
io I
V Estadio IVA T, N, M1a
o tumor pode ter qualquer tamanho (T) ou ter-se disseminado para
gânglios linfáticos próximos (N), mas já invadiu 1 órgão distante e
gânglios linfáticos distantes do cólon e do reto (M1a)
Estadio IVB T, N, M1b
o tumor pode ter qualquer tamanho (T) ou ter-se disseminado para
gânglios linfáticos próximos (N), mas já se disseminou para mais de
1 órgão distante e gânglios linfáticos distantes do cólon e do reto ou
partes distintas do peritoneu (M2)
O fígado é o órgão mais frequente na disseminação inicial da doença, mas também é
comum encontrar metástases noutros órgãos ou estruturas ganglionares. À medida que os
estadios aumentam, a taxa de sobrevivência aos 5 anos diminui drasticamente: o estadio
9
I tem uma taxa de sobrevivência de cerca de 90%; o estadio II entre 70% a 85%; o estadio
III entre 25% a 80%; e o estadio IV de menos de 10% [16].
2.1.1. Fatores de risco e desenvolvimento do cancro
A maioria dos casos de cancro colorretal tem origens espontâneas e muitas destas são
condicionadas por fatores ambientais e culturais. A obesidade ou excesso de peso no
ocidente europeu está associado à ingestão de baixos níveis de cálcio e vitamina D, que
estimula a produção de ácidos biliares, resultando na irritação contínua da mucosa e,
consequentemente, de constantes processos de reparação e proliferação, considerados
promotores de alterações genéticas. Para além disso, novos estudos apontam para um
consumo excessivo de carnes vermelhas processadas que, pelo processo de cozedura,
pode levar à exposição de substâncias químicas cancerígenas, onde a relação sinérgica
com o vírus bovino potencialmente oncológico pode contaminar a preparação da carne e
desencadear infeções latentes no trato colorretal [14].
Foram descritas três origens como a base para a transformação maligna no cólon:
instabilidade de cromosomas, instabilidade de microssatélites e metilação. Há mais de
uma década foram descritas informações iniciais sobre a base molecular da neoplasia
colorretal, proporcionando um paradigma da caracterização molecular para o
desenvolvimento do cancro noutros órgãos. A transformação maligna do epitélio
colorretal ocorre frequentemente como um processo multifocal, que causa danos
cumulativos a vários genes entre as gerações celulares [18].
Através da instabilidade de microssatélites (associada a piores prognósticos) e da
perda de heterozigotia no cromosoma 18q (frequente em cerca de 50% dos doentes com
cancro do cólon) o desenvolvimento do tumor pode ser confirmado, sendo estes os dois
melhores marcadores de prognóstico. A instabilidade de microssatélites provém de
mutações do ADN que levam a erros na sua replicação e, consequentemente, a mudanças
nas suas sequências repetidas. Esta característica está presente na maioria dos tumores de
doentes com cancro do cólon hereditário sem polipose, mas também é encontrado em
15% a 20% dos doentes com cancro do cólon de origem espontânea. Todavia, embora
estes fatores influenciem a probabilidade de recorrência do tumor após a primeira
ressecção, não está comprovado que sejam potenciais marcadores preditivos para a
instituição de regimes quimioterapêuticos específicos [16].
10
2.1.2. Tratamentos
O tratamento do cancro colorretal baseia-se principalmente no estadio em este se
encontra, embora também existam outros fatores importantes a considerar. No estadio I,
se o pólipo for removido completamente durante a colonoscopia, sem células
cancerígenas nas margens da amostra removida, pode não ser necessário nenhum outro
tratamento. Caso contrário, é recomendável uma abordagem cirúrgica. No estadio II,
adicionalmente à cirurgia, pode ser recomendada quimioterapia adjuvante se o cancro
tiver elevado risco de recorrência. Todavia, nem todos os clínicos concordam como o uso
de quimioterapia neste estadio, pois os efeitos secundários podem não justificar a
utilização de alguns fármacos. Ainda assim, caso seja utilizada, as opções mais frequentes
são o 5-fluouracilo (5-FU) e leucovorina (ácido folínico), oxaliplatina ou capecitabina.
No estadio III a cirurgia é seguida de quimioterapia adjuvante, onde os regimes FOLFOX
(5-FU, leucovorina e oxaliplatina) ou CapOx (capecitabina e oxaliplatina) são utilizados
na maioria das vezes, embora alguns doentes possam seguir o regime IFL (5-FU e
leucovorina) ou capecitabina em monoterapia, com base na idade e condicionantes de
saúde. A radioterapia, seguida de quimioterapia, também é opção para doentes que não
tenham uma situação geral que permita efetuar cirurgia, com o objetivo de diminuir o
estadio e o tamanho do tumor, embora neste tratamento exista maior toxicidade aguda e
tardia. No estadio IV é pouco provável que a cirurgia cure estes tipos de cancro. É
instituída quimioterapia neoadjuvante, onde os regimes FOLFOX (5-FU, leucovorina e
oxaliplatina), FOLFIRI (5-FU, leucovorina e irinotecano), CapOx (capecitabina e
oxaliplatina) ou FOLFOXIRI (5-FU, leucovorina, oxaliplatina e irinotecano) são
utilizados na maioria das vezes. Para tratamentos específicos, os doentes no estadio III ou
IV podem ainda ter a adição de outros fármacos monoclonais, tais como o bevacizumab
ou o cetuximab. No início do século XXI começaram a desenvolver-se terapêuticas
biológicas para o tratamento do cancro, mas ainda existe muita margem de progressos
nesta área [16], [19].
2.1.3. Linha celular WiDr
A linha celular WiDr (ATCC® CCL-218TM) foi originalmente descrita, em 1971,
como um adenocarcinoma do cólon, estabelecida a partir de uma mulher de 78 anos de
idade. Todavia, através do método de identificação da impressão digital do ácido
11
desoxirribonucleico (ADN), foi demonstrado que esta linha celular era derivada da linha
celular HT-29, estabelecida em 1964, como um adenocarcinoma do cólon [20], [21]. As
células são negativas para o Antigénio do Cólon 3, mas positivas para queratina por
coloração com imunoperoxidase e expressam o antigénio p53. O crescimento das células
WiDr é inibido pelo fator de necrose tumoral alfa (os inibidores de di-hidrofolato-redutase
são altamente citotóxicos para estas células) [21].
A linha celular WiDr é derivada de um adenocarcinoma do cólon humano. Produz
antigénio carcinoembrionário (CEA) em cultura, sendo que a quantidade deste aumenta
de forma quase logarítmica ao longo do período de cultura, tornando-o assim num
marcador bioquímico útil. Para além disso, tem um curto tempo de duplicação
comparativamente a outras linhas celulares de cancro do cólon, cerca de 15 horas, e uma
eficiência de revestimento de 51%, estando demonstrado que se propaga facilmente em
cultura com características aderentes. Esta linha celular, quando inoculada em animais,
desenvolve tumores histologicamente confirmados com cerca de 100% de eficiência,
tendo sido testada em, pelo menos, 4 diferentes espécies. É uma linha celular bem
caracterizada e utilizada, diversas vezes, em estudos anti tumorais e de carcinogénese
tanto in vitro como in vivo [22].
2.2. Cancro da Mama
O cancro da mama é a primeira causa de morte oncológica mais frequente na mulher,
com elevada prevalência e incidência em Portugal, sendo responsável por cerca de 4 a 5
mortes por dia (Figura 2) [6]. A sua incidência é três vezes mais comum nos países
desenvolvidos do que nos países em desenvolvimento. A maioria dos casos tem origens
espontâneas, mas o cancro da mama também pode ser hereditário: mutação do gene
BRCA1 (do inglês breast cancer 1, early onset) (cromosoma 17q) e do gene BRCA2 (do
inglês breast cancer 2) (cromosoma 13q) (5-10%) [23].
12
Figura 2 – Tendência observada na incidência do cancro da mama em Portugal e previsões até 2020
(retirado de [15]).
O estado patológico representa o fator de prognóstico mais importante para os
doentes, sendo o sistema tumor-nódulo-metástase (TNM), definido pela American Joint
Commitee on Cancer, o mais frequente de estadiamento.
13
Tabela 2 – Sistema tumor-nódulo-metástase (TNM) para o cancro da mama, definido pelo American
Joint Commitee on Cancer [24]. E
sta
dio
I
Estadio IA T1, N0, M0 o tumor tem no máximo 2 cm (T1) e não se disseminou para
gânglios linfáticos (N0) nem locais distantes (M0)
Estadio IB T0-T1, N1mi, M0
o tumor tem no máximo 2 cm (T1), são encontradas
micrometástases em 1-3 gânglios linfáticos axilares com o
tamanho máximo de 2 mm (N1mi), mas não se disseminou para
locais distantes (M0)
Est
ad
io I
I
Estadio IIA
T0-T1, N1, M0
o tumor tem no máximo 2 cm (T0-T1), já se disseminou para 1-3
gânglios linfáticos axilares maiores que 2 mm de diâmetro (N1a),
ou gânglios linfáticos mamários internos (N1b), ou ambos (N1c);
mas não para locais distantes (M0)
T2, N0, M0 o tumor tem mais de 2 cm mas menos de 5 cm (T2) e não se
disseminou para gânglios linfáticos (N0) nem locais distantes
(M0)
Estadio IIB
T2, N1, M0 o tumor tem mais de 2 cm mas menos de 5 cm (T2), já se
disseminou para 1-3 gânglios linfáticos axilares ou mamários
internos (N1), mas não para locais distantes (M0)
T3, N0, M0 o tumor tem mais de 5 cm mas não cresceu na parede torácica nem
na pele (T3), e não se disseminou para gânglios linfáticos (N0)
nem locais distantes (M0)
Est
ad
io I
II
Estadio IIIA
T0-T2, N2, M0 o tumor tem no máximo 5 cm (T0-T2), já se disseminou para 4-9
gânglios linfáticos axilares ou mamários internos (N2), mas não
para locais distantes (M0)
T3, N1-N2, M0 o tumor tem mais de 5 cm mas não cresceu na parede torácica nem
na pele (T3), já se disseminou para 1-9 gânglios linfáticos axilares
ou mamários internos (N1-N2), mas não para locais distantes (M0)
Estadio IIIB T4, N0-N2, M0 o tumor cresceu na parede torácica ou na pele (T4), já se
disseminou para no máximo 9 gânglios linfáticos (N0-N2), mas
não para locais distantes (M0)
Estadio IIIC T, N3, M0
o tumor pode ter qualquer tamanho (T), já se disseminou para mais
de 10 gânglios linfáticos axilares ou por baixo da clavícula, ou
mais de 4 axilares e mamários internos (N3), mas não para locais
distantes (M0)
Est
ad
io I
V
T, N, M1 o tumor pode ter qualquer tamanho (T), ou se disseminou para
gânglios linfáticos próximos (N), mas já se disseminou para
órgãos e gânglios linfáticos distantes da mama (M1)
As estruturas ósseas, fígado, cérebro ou pulmões são os locais mais frequentes da
disseminação inicial da doença, mas também é comum encontrar metástases noutros
locais [24]. À medida que os estadios aumentam, a taxa de sobrevivência aos 5 anos
diminui: o estadio I tem uma taxa de sobrevivência de perto de 100%; o estadio II cerca
de 93%, o estadio III cerca de 72% e o estadio IV de cerca de 22% [25].
14
2.2.1. Fatores de risco e desenvolvimento do cancro
A maioria dos casos de cancro da mama tem origens espontâneas e a sua grande
incidência nas mulheres deve-se principalmente ao aparecimento precoce da
menstruação, às gravidezes mais tardias e ao início mais tardio da menopausa, bem como
à utilização de terapia hormonal nesta fase, e à obesidade e consumo de álcool. Para além
disso, o rastreio preventivo e a mamografia também levaram a um aumento da sua deteção
[26].
O cancro da mama não é uma doença única, mas uma patologia heterogénea com
inúmeros subtipos associados a diferentes resultados clínicos e moleculares, onde a
iniciação e progressão do tumor são predominantemente impulsionadas por alterações
genéticas e mudanças ambientais e epigenéticas [27]. Podemos verificar quais os
principais subtipos moleculares de cancro da mama na Tabela 3.
Tabela 3 – Classificação dos diferentes subtipos moleculares do cancro da mama1 [28], [29].
Subtipo Molecular Imunomarcação Características
Luminal A ER+; PR+; HER2- Ki-67 baixo; geralmente responsivo a
quimioterapia
Luminal B ER+; PR+; HER2+ Ki-67 elevado; variável à quimioterapia; HER+
responsivo a trastuzumab
Basalóide ER-; PR-; HER2- Ki-67 elevado; CK5+ e/ou EGFR+; Ki67
elevado; geralmente responsivo a quimioterapia
Triplo-negativo não
basalóide ER-; PR-; HER2-
Ki-67 baixo; CK5- e EGFR-; variável à
quimioterapia; Híper-expressão de
HER2 ER-; PR-; HER2+ Ki-67 elevado; HER+ responsivo a trastuzumab
2.2.2. Tratamentos
Mulheres com cancro da mama não metastático (M0) são habitualmente sujeitas a
cirurgia e radioterapia como principais tratamentos, geralmente associados a
quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante (depois ou antes da cirurgia, respetivamente).
O tratamento para cancros de estadio IV, que já se espalharam para além da mama e dos
1CK5 (citoceratina 5, do inglês cytokeratin 5); EGFR (recetor tipo 1 do fator de crescimento epidérmico,
do inglês epidermal growth factor receptor); ER (recetor de estrogénio, do inglês estrogen receptor); HER2
(recetor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano, do inglês human epidermal growth factor
receptor 2); PR (recetor de progesterona, do inglês progesterone receptor).
15
gânglios linfáticos próximos (M1), geralmente consiste em terapia sistémica [30]. Para
além disso, cada subtipo de cancro da mama também tem um prognóstico e terapêutica
eletiva mais frequente. O subtipo Luminal A, que representa cerca de 60% dos casos dos
carcinomas da mama, e o Luminal B, cerca de 10-20%, podem ser tratados com
quimioterapia seguida de hormonoterapia. Para a forma associada à híper-expressão de
HER2, que tem um mau prognóstico e um grande poder metastático, é utilizada
quimioterapia seguida de terapia com trastuzumab. O subtipo basalóide e o subtipo tripo-
negativo não basalóide, que representam 15% dos casos, são biologicamente os mais
agressivos e os que têm pior prognóstico; é utilizada quimioterapia, com a escolha de
fármacos a variar de acordo com as características individuais [29]. Todavia, seja qual for
o subtipo do cancro da mama, a escolha do agente endócrino deve se ter sempre em
consideração o estado de menopausa, comorbilidades, terapêutica adjuvante prévia e
perfil de segurança dos fármacos [31].
Para quimioterapia adjuvante ou neoadjuvante, os fármacos antineoplásicos mais
frequentemente utilizados na prática clínica são antraciclinas, como a doxurrubicina e a
epirrubicina, e antimicrotúbulos da classe dos taxanos, como o paclitaxel e o docetaxel,
que são os mais eficazes quer para a doença metastizada quer para a doença precoce [32].
Com o uso crescente destas classes de fármacos em contexto de tratamento adjuvante ou
neoadjuvante, a seleção da quimioterapia para a doença em estadio IV é cada vez mais
influenciada por questões de toxicidade cumulativa e resistência [33]. A cardiotoxicidade
cumulativa (antraciclinas) e a neuropatia (antimicrotúbulos) podem limitar a duração da
terapêutica ou impedir o retratamento com estas classes de fármacos, se utilizadas
previamente [32]. Caso não tenha sido realizada terapêutica prévia, em contexto
adjuvante, com antraciclinas ou antimicrotúbulos, estas são opções de primeira linha [34].
Caso contrário, existem outras alternativas, nomeadamente antimetabolitos, como a
capecitabina (dada a sua eficácia e facilidade de administração por via oral) [35], o 5-FU,
agentes alquilantes, como a ciclofosfamida; e outros como o tamoxifeno. O tamoxifeno,
para além de funcionar como antagonista da ação do estrogénio ao nível da mama,
apresenta efeitos agonistas parciais noutros locais, como o osso ou o útero. O efeito
agonista é prejudicial ao aumentar o risco de cancro do endométrio ou eventos
tromboembólicos, mas é vantajoso na prevenção da desmineralização óssea [36]–[38].
16
2.2.3. Linha celular MCF7
A linha celular MCF7 (ATCC® HTB-22TM) foi obtida, em 1970, de uma mulher de
69 anos de idade com cancro da mama metastático. Das duas mastectomias que realizou,
a primeira revelou que o tecido removido era benigno, mas a segunda intervenção
demonstrou um adenocarcinoma maligno num derrame pleural, de onde foram removidas
estas células. As recorrências locais foram controladas durante 3 anos com radioterapia e
hormonoterapia, tendo a doença sido controlada durante o triplo do tempo do que seria
esperado [39]. A linha MCF7 tem várias características do epitélio mamário diferenciado
e a capacidade de formar cúpulas. O crescimento destas células aderentes é inibido pelo
fator de necrose tumoral alfa e a secreção de IGFBP (fator de crescimento semelhante à
insulina, do inglês insulin-like growth factor-binding protein) pode ser modulada por
tratamento com antiestrogénios [40].
A linha celular MCF7 é das linhas celulares de cancro da mama mais utilizadas no
mundo. É utilizada para diversos estudos oncológicos in vitro, pois contém várias
características ideais específicas do epitélio mamário diferenciado como, por exemplo, a
capacidade de processar estrogénio, na forma de estradiol, através de recetores
citoplasmáticos de estrogénio. Esta capacidade faz com que esta linha celular seja um
recetor de estrogénio positivo. Para além disso, a linha celular MCF7 é também um
recetor de progesterona positivo e HER2 negativo, sendo por isso um exemplo de uma
linha celular de subtipo molecular Luminal A. Embora seja fácil de metastizar, a linha
celular MCF7 tem um crescimento lento, com um tempo de duplicação de 38 horas,
formando estruturas muito coesas que demonstram uma forte adesão entre as células. Esta
linha celular já foi também utilizada em diversos estudos in vivo em diferentes espécies,
tendo sido demonstrado que apenas forma tumores na presença de estrogénio [28], [41].
2.3. Moléculas naturais e inibidores de tumores
As formas de tratamento oncológico têm vindo a evoluir sendo cada vez mais
eficazes, eletivas e com menos efeitos secundários. Todavia, uma solução abrangente e
totalmente confiável para esta doença está ainda muito longe de ser atingida. A
quimioterapia pode, muitas vezes, aliviar temporariamente os sintomas, aumentar a
esperança de vida e minimizar os fatores de risco do cancro, mas é importante ter-se em
17
consideração todos os seus efeitos secundários antes de se decidir iniciar ou continuar a
sua aplicação. Neste contexto, nos últimos anos, múltiplos esforços têm sido feitos para
identificar e sintetizar novas possíveis moléculas e fármacos anticancerígenos.
Presentemente, encontram-se em fase de ensaio clínico terapêuticas biológicas muito
promissoras, com elevada eficácia e segurança, mas o custo de um tratamento
personalizado para cada fenótipo será um obstáculo determinante. A disponibilidade de
novas moléculas inovadoras para aplicação terapêutica, novos protocolos com os
fármacos de utilização atual e a modificação dos existentes é um alvo interessante de
pesquisa para a terapia contra o cancro [42].
Para além disso, com o aumento do conhecimento relativamente ao desenvolvimento
de tumores, foi possível perceber que a carcinogénese é um processo de múltiplas etapas
compostas por sistemas altamente variáveis, caracterizada pela progressão de diferentes
alterações moleculares que, em última instância, transformam uma célula normal numa
cancerígena através de divisão celular descontrolada. Assim, a prevenção e tratamento do
cancro passa muito pela identificação de agentes que atuem particularmente em estadios
iniciais da transformação celular (Figura 3). Nesta categoria incluem-se alguns produtos
naturais, cuja ampla gama de efeitos celulares é capaz de afetar tanto a iniciação como a
promoção e a propagação do tumor, fornecendo constantemente modelos para fins
profiláticos e terapêuticos de cancros e outras doenças crónicas [43].
18
Figura 3 – Os fitoquímicos podem exercer efeitos preventivos ou terapêuticos bloqueando passos chave
na iniciação e promoção do tumor, revertendo o seu o estado pré-maligno ou inibindo a sua
progressão (adaptado de [43]).
Estudos recentes sobre compostos inibidores de tumores de origem natural
demonstraram que alguns, nomeadamente os polifenóis presentes no chá, a bebida, depois
da água, mais consumida no mundo, são capazes de atuar através de várias vias para
induzir a morte seletiva de células cancerígenas. Podem, também, prevenir a oncogénesis
através da inibição ou atraso da progressão do tumor ou até através da promoção da
diferenciação celular e influenciar os supressores de tumores por inibição das vias de
proliferação celular [42], [43].
2.4. Chá
O chá é uma infusão produzida a partir de folhas de Camellia sinesis, da família
botânica Theaceae. Embora a sua composição possa variar, o chá é composto por um
conjunto de polifenóis, alcalóides, minerais e outros compostos orgânicos voláteis [43].
Todavia, os diferentes processamentos das folhas resultam em diferentes tipos de chá: o
chá preto, o chá verde e o chá oolong [44].
Normal Célula iniciada Lesão Pré-neoplásica /
Tumor benigno Tumor Maligno
Iniciação Promoção Propagação
Genética
irreversível
Não-genética
reversível Genética/Não-genética
reversível/irreversível
Promove reparo do ADN Promove a destoxificação de ROS
(espécies reativas de oxigénio)
Elimina células transformadas
Anti-inflamatório Efeitos anti-hormonais
Inibe proliferação celular
Reforça efeitos imunitários em células transformadas
Promove diferenciação celular
Inibe proliferação celular
Induz a apoptose
Inibe a angiogénese
Fitoquímicos
19
O processamento do chá verde é feito através da cozedura de folhas frescas de chá
imediatamente após a colheita, a temperaturas elevadas, para evitar a oxidação de
polifenóis. Por outro lado, no processamento do chá preto, as folhas de chá são secas e
esmagadas após a colheita para que ocorra fermentação e oxidação, fazendo com que
alguns polifenóis presentes no chá, principalmente catequinas e galocatequinas, se
convertam noutros polifenóis, principalmente teaflavinas e arubiginas. Por fim, no
processamento do chá oolong as folhas de chá são apenas parcialmente oxidadas.
Globalmente, cerca de 78% da produção de chá é chá preto (consumido maioritamente
nos Estados Unidos, Europa e Oeste Asiático), 20% são chá verde (consumido
maioritamente no Japão e China) e 2% são chá oolong (consumido maioritamente em
Taiwan e Sudeste da China) [44].
O consumo de chá no mundo não é uniforme. Este não só varia de país para país,
como existem países que praticamente não consomem chá. Neste contexto, embora já
existam estudos, realizados nos últimos 20 anos, sobre os benefícios dos componentes do
chá na prevenção de algumas doenças, incluindo vários tipos de cancro, muitos destes
foram realizados em populações restritas onde o consumo de chá verde é elevado. Não
tendo sido consideradas variáveis como a genética individual, o estilo de vida e o estadio
do cancro na conclusão destes estudos, muitos podem não ser aplicáveis noutras
sociedades [45].
Os principais constituintes das folhas de chá são os polifenóis, fortes antioxidantes,
considerados os componentes ativos presente no chá responsáveis pelas propriedades
preventivas no cancro. De entre os polifenóis, os mais abundantes são os flavonóides,
frequentemente conhecidos como catequinas [45]. Numa chávena de chá com 2,5 g de
folhas de chá e 250 ml de água, o chá verde contém cerca de 30-40% de catequinas e 3-
6% de cafeína, enquanto o chá preto, preparado de forma semelhante, contém 3-10% de
catequinas, 3-10% de cafeína, 2-7% de teaflavinas e 15-20% de arubiginas [44].
As principais catequinas presentes são: (–)-epicatequina (EC), (–)-epicatequina-3-
galato (ECG), (–)-epigalocatequina (EGC) e (–)-epigalocatequina-3-galato (EGCG),
sendo que esta última é a mais abundante no chá e, particularmente, no chá verde. Uma
chávena de chá verde contém cerca de 100-200 mg de EGCG, que representa cerca de
65% do conteúdo total de todas as catequinas. Este composto polifenólico é considerado
o principal responsável pelos benefícios para a saúde a que o consumo de chá verde está
20
associado. Nestes incluem-se efeitos antioxidantes, proteção contra problemas cardíacos,
perda de peso, proteção da pele contra os danos causados por radiação ionizante, entre
outros. Uma vez que tem uma atividade antioxidante, ao reagir com espécies reativas de
oxigénio, previne a excitabilidade de histonas em células normais, pelo que atualmente é
considerado um nutracêutico e onco-preventivo [10], [45], [46].
2.5. EGCG: (–)-epigalocatequina-3-galato
O composto EGCG demonstrou regular vários alvos moleculares de diversas
doenças, ser capaz de induzir alterações metabólicas preventivas do cancro, tais como
otimizar a apoptose, suprimir a proliferação celular e inibir a angiogénese, o que originou
vários estudos pré-clínicos bem-sucedidos. No entanto, apenas um número limitado de
estudos foi capaz de expor o impacto distinto que o EGCG pode ter na prevenção e
tratamento do cancro. Muitas dessas falhas foram atribuídas à biodisponibilidade variável
do EGCG, à distribuição de compostos do chá verde e à efetiva redução de risco
apreciável, que pode demorar vários anos a ser detetado em grandes estudos
populacionais [43].
Figura 4 – Estrutura química da (–)-epigalocatequina-3-galato (EGCG) (retirado de [47]).
Estudos farmacocinéticos realizados em seres humanos indicam que as
concentrações fisiologicamente relevantes de EGCG no soro são elevadas e que, dada a
21
sua baixa biodisponibilidade, é improvável que ocorram essas concentrações de EGCG
na corrente sanguínea de indivíduos que ingerem apenas duas ou três chávenas de 200 mg
de chá verde por dia. No entanto, estudos epidemiológicos continuam a sugerir que
existem benefícios para a saúde associados com o consumo de chá verde. Estas
informações são reforçadas por estudos em animais que indicam que o consumo de chá
verde e de produtos de chá verde com elevados níveis de EGCG e de outras catequinas
pode ter um efeito significativo na prevenção de tumores, doenças cardiovasculares e
outras condições médicas. Esta aparente discrepância originou novas pesquisas,
sugerindo-se que o efeito do EGCG pode ser sinergético quando combinado com outras
catequinas. Para além disso, foi também sugerido que o EGCG pode ser ativado
metabolicamente para formar compostos bioativos mais potentes e efetivos. Outros
autores, por outro lado, defendem que o EGCG pode ser acumulado nos tecidos ao longo
do tempo para, assim, atingir concentrações celulares muito superiores às que foram
determinadas em amostras de soro [46].
Ao serem levantadas estas questões, foram realizados estudos clínicos para examinar
o perfil farmacocinético do EGCG após administrações orais em humanos saudáveis. Foi
analisada a segurança, tolerabilidade e propriedades farmacológicas do EGCG,
administrando doses únicas a variar entre 50 e 1 600 mg. Foi demonstrado que apenas em
doses orais de mais de 1 g de EGCG as concentrações máximas plasmáticas observadas
são superiores a 1 M, atingidas entre 1,3-2,2 horas após a toma, com uma variação entre
os 130 e 3 392 ng/ml. Foi, também, avaliado o efeito da administração de uma ou duas
doses diárias de EGCG durante quatro semanas. Conforme observado no estudo anterior,
a ingestão de 400 e 800 mg de EGCG estabeleceu as concentrações máximas de EGCG
no soro. Contudo, foi demonstrado um aumento da biodisponibilidade de EGCG após a
administração crónica de 800 mg. Verificou-se, igualmente, que a administração diária
de EGCG apenas produziu pequenos efeitos colaterais gastrointestinais. Foi concluído
que, de facto, o EGCG atinge, através do consumo de chá verde ou de suplementos
dietéticos ricos em EGCG, concentrações dentro de valores capazes de inibir de forma
potente e específica alguns alvos moleculares importantes [46].
Após estas análises, o interesse pelo EGCG intensificou-se e começaram a ser
realizados estudos com linhas celulares de cancro colorretal, mama, próstata, pulmão,
entre outras [44]. Mais recentemente, em 2014, estudos com a linha celular MCF7
demonstraram que não só havia mudanças significativas no crescimento destas células -
22
diminuiu bastante e resultou na sua morte após tratamento com EGCG utilizando os níveis
fisiológicos necessários – como as células epiteliais não malignas correspondentes,
MCF10A, não foram afetadas. Dadas estas conclusões, foram iniciados estudos com
linhas celulares com os fármacos usados na quimioterapia correspondente, de forma a
tentar analisar se o efeito do EGCG seria potenciado [12].
2.6. Fármacos utilizados em quimioterapia
Ao longo dos últimos anos, a terapêutica oncológica tem evoluído drasticamente,
embora um dos aspetos mais importantes, para reduzir a taxa de mortalidade associada
ao cancro, seja um diagnóstico precoce. O desenvolvimento e a implementação de
tratamentos antineoplásicos intensivos melhoraram substancialmente o prognóstico dos
doentes oncológicos. No entanto, apesar do benefício clínico inquestionável deste tipo de
terapia, não se deve subestimar o seu perfil de segurança. De facto, devido aos seus
mecanismos de ação, muitos destes fármacos podem causar efeitos nefastos,
nomeadamente no sistema cardiovascular [37].
Todos os fármacos utilizados na quimioterapia têm efeitos secundários e riscos
associados e não podem ser administrados em todos os doentes. É preciso ter em conta os
tratamentos efetuados anteriormente e os fármacos utilizados, o uso de determinadas
medicações não oncológicas que poderiam interferir no tratamento, a idade do doente e
algumas características individuais como problemas de saúde e condições particulares ou
temporárias. Para além disso, têm também instruções de aplicação e de segurança que são
importantes a ter em consideração aquando a sua administração. O tratamento médico
varia conforme a idade, o grau de diferenciação das células (atividade proliferativa), a
invasão ganglionar, a intensidade de marcação dos recetores e a extensão da invasão
vascular. As respetivas dosagens, por seu lado, também variam conforme o fármaco, o
tempo de tratamento, a idade e o estado geral do doente [37], [48].
Consequentemente, no início do século XXI começaram a desenvolver-se
terapêuticas biológicas para o tratamento do cancro, sendo o EGCG um dos compostos
naturais estudados, tanto individualmente no crescimento de células cancerígenas e
células saudáveis, como juntamente com fármacos terapêuticos. O EGCG, em
combinação com fármacos quimioterapêuticos, atua sinergeticamente para aumentar os
seus efeitos curativos e diminuir a sua toxicidade. Como as modalidades terapêuticas
23
disponíveis para o cancro, nomeadamente colorretal e da mama, incluem a cirurgia,
quimioterapia e radioterapia, muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de
associar estas duas vertentes: quimioterapia e terapêuticas biológicas [13], [49], [50].
Ao ter sido demonstrado o efeito do EGCG em células malignas, começou a estudar-
se o efeito deste composto nos fármacos utilizados para as diversas linhas celulares
tumorais, incluindo novos agentes biológicos antiangiogénicos para o cancro colorretal e
agentes antineoplásicos, como agentes alquilantes, agentes antimetabólitos, agentes
antimicrotúbulos e antraciclinas, para o cancro da mama [32], [34].
Os agentes alquilantes são compostos capazes de substituir um átomo de hidrogénio
por um radical alquilo. Estes ligam-se ao ADN de modo a impedir a separação dos seus
dois filamentos da dupla hélice, algo indispensável na sua replicação. Os alquilantes
afetam as células em todas as fases do ciclo celular de modo não específico. Os principais
fármacos desta classe incluem a ciclofosfamida [51], [52] (administração diária por via
oral de 1-5 mg/kg) [53], [54].
Os agentes antimetabólitos afetam as células inibindo a biossíntese dos componentes
essenciais do ADN e do RNA. Deste modo, impedem a multiplicação e o funcionamento
normais da célula. A inibição da biossíntese pode ser dirigida às purinas, à produção de
ácido timidílico e a outras etapas da síntese de ácidos nucleicos. Os antimetabólicos são
particularmente ativos contra células que se encontram na fase de síntese do ciclo celular
(fase S). A duração da vida das células tumorais suscetíveis determina a média de
destruição destas células, as quais são impedidas de entrar em mitose pela ação dos
agentes metabólicos que atuam na fase S. Os principais fármacos desta classe incluem a
capecitabina (administração semanal por via oral de cerca de 1000 mg/m2 a cada três
semanas) e o 5-FU (administração semanal por via intravenosa de cerca de 450-600
mg/m2) [51], [52], [55]–[58].
Os agentes antimicrotúbulos ligam-se à proteína tubulina e inibem a quebra dos
microtúbulos, uma rede dinâmica de heterodímeros de tubulina envolvidas em muitos
processos celulares importantes, especialmente na constituição das fibras necessárias para
a divisão celular. Ao interromper esta dinâmica, a divisão celular é inibida e é prevenido
o crescimento de células cancerígenas. Os principais fármacos desta classe incluem os
taxanos como o paclitaxel (administração a cada 3 semanas por via intravenosa de cerca
de 175 mg/m2) e o docetaxel (administração a cada 3 semanas por via intravenosa de
24
cerca de 60-100 mg/m2), e os alcaloides de vinca como a vimblastina (administração
semanal por via intravenosa de cerca de 4-6 mg/m2) [59]–[62].
Os antibióticos naturais são um grupo de substâncias com estrutura química variada
que, embora interajam com o ADN e inibam a síntese deste ácido ou de proteínas, não
atuam especificamente sobre uma determinada fase do ciclo celular. As antraciclinas
representam uma importante classe de antibióticos antitumorais. Evidências sugerem que
as antraciclinas apresentam três mecanismos de ação. Um é a formação de ligações com
os grupos fosfolipídeos (carregados negativamente) da membrana celular, alterando a sua
fluidez, assim como o transporte de iões. Também promoverim a formação do radical
livre do oxigénio e da semiquinona, através de um processo redutor enzimático. Um outro
modo de ação é a formação de ligações interfilamentares com o ADN, que leva ao
bloqueio da síntese do ADN e RNA e a diminuição da atividade da topoisomerase II,
promovendo a rutura dos filamentos da macromolécula (ADN). Os principais fármacos
desta classe incluem a doxorrubicina (administrado por via intravenosa cerca de 60-75
mg/m2 a cada 3 semanas) e a epirrubicina (administrado por via intravenosa cerca de 100-
120 mg/m2 a cada 3 ou 4 semanas) [52], [59], [63], [64].
Em 2015, um estudo com a linha celular MCF7 indicou um aumento de 20% na morte
celular em células resistentes à doxorrubicina, que foram primeiro tratadas com EGCG e
só depois com este fármaco, comparando com células que foram tratadas com
doxorrubicina sem pré-tratamento com EGCG [65].
Existem inúmeras linhas de investigação nesta área que se espera possam vir a ter
aplicabilidade clínica de forma racional e cientificamente sustentada na evidência.
Existem muitos fármacos e linhas celulares para estudar, sendo necessário analisar uma
possível sinergia entre os agentes quimioterapêuticos e o EGCG presente em diferentes
marcas de chá verde e extratos de chá verde existentes no mercado, nomeadamente
Europeu, cuja população e hábitos de consumo do chá verde diferem bastante dos de
outros continentes [13], [44].
2.7. Modelo animal
Os modelos animais são bastante utilizados em muitas áreas de pesquisa biológica.
Como se trata de modelos experimentais, torna-se importante referir, neste contexto, o
25
significado de doença animal, que é aquela cujos mecanismos patológicos são
suficientemente parecidos com os de uma doença humana podendo, assim, servir como
modelo de estudo [66].
Um modelo animal deve permitir a avaliação de fenómenos biológicos naturais,
induzidos ou comportamentais, para que possam, obrigatoriamente, ser comparados com
os fenómenos humanos em estudo. Antigamente, os animais de laboratório eram
utilizados como simples “instrumentos de trabalho” nas investigações do diagnóstico de
diferentes estudos, sem se implementarem quaisquer regras ou normas de qualidade
sanitária, genética e ética. Com o avanço da ciência foram criadas exigências que levaram
à criação de uma autêntica especialidade: a “Ciência em animais de laboratório”.
Atualmente é exigido que esses animais reúnam condições ideais, sejam mantidos em
ambientes controlados e se restrinja o número de animais por experiência ao mínimo
possível. Tendo em conta que são “reagentes biológicos”, os resultados dos estudos e
investigações experimentais podem ser afetados pelas condições de cada espécie utilizada
sendo necessário, por isso, obedecer a critérios que estão legislados. Neste sentido, quanto
maior for a uniformidade dos animais em relação às variáveis ambientais, genéticas e
experimentais, menor será o número de indivíduas da amostra necessária para a pesquisa
ser validada [66]. Deve-se, portanto, nos ensaios in vivo, seguir o princípio dos 3 R’s:
tentar-se sempre fazer uma Reposição de modelos alternativos de estudo, de forma a
Reduzir o número de animais utilizados ao mínimo possível e Refinar os testes utilizados
para que os animais não tenham de sofrer ou entrar em estado de stress [67].
Desde há muitos anos que o rato é o modelo animal mais utilizado em estudos in
vivo, uma vez que não só tem características anatómicas e fisiológicas idênticas às do ser
humano e compartilha uma grande parte do código genético, como é fácil de manipular,
tem uma alta taxa de reprodução e uma manutenção relativamente económica. Devido ao
seu tamanho reduzido, podem ser mantidos em espaços pequenos (gaiolas), em
instalações apropriadas, certificadas e aprovadas pelos serviços de controlo do Bem-Estar
animal2 [66].
Uma estirpe de ratos bastante utilizada em laboratório é a RNU (Rowett Nude)
quando é necessário usar um modelo de maior porte do que o ratinho Balb/c nude. O rato
2Decreto-Lei nº 113/2014, de 7 de Agosto, Divisão do Bem-Estar Animal, da Direção Geral de
Veterinária, do Ministério da Agricultura, Florestas, Desenvolvimento Rural e Pescas [86].
26
nude foi criado em laboratório entre 1979 e 1980 no National Institute of Health nos EUA
através de uma série de acasalamentos, tendo o gene Rowett nude sido adicionado e
cruzado em 8 estirpes: BN/SsN, MR/N, BUF/N, WN/N, ACI/N, WKY/N, M520/N e
F344/N. Dadas as características de imunodeficiência que a estirpe possui, é utilizado
para estudos imunológicos, infeciosos e oncológicos. Esta estirpe tem ausência de timo
ou apresenta timo rudimentar, sendo assim portador de deficiência de imunidade celular
mediada por linfócitos T, tolerando a integração de heterotransplantes. A
imunodeficiência torna estes animais muito vulneráveis, podendo ser um fator limitante
para alguns tipos de pesquisas. Em condições normais, os ratos RNU nude têm um tempo
médio de vida de 9 meses, mas se forem mantidos em condições livres de patogénios as
infeções ocorrem com muito menos frequência e o seu tempo médio de vida pode
aumentar até 2 anos [66], [68], [69].
A anatomia deste modelo animal é simples, podendo representar-se
esquematicamente como se mostra na Figura 5. Este rato possui:
um par de membros superiores e um par de membros posteriores mais
desenvolvidos já que é saltador, com 4 dedos em cada pata e almofadas tácteis
muito sensíveis entre os dedos;
pode ter ou não pigmentação da pele (preta ou branca) sendo muitas vezes preta
nos olhos, cabeça e porção dorsal; durante a sua vida pode ter períodos emque
possui pelos curtos e finos que podem crescer em manchas em pequenas
quantidades;
a cabeça alongada, pois o cérebro dos ratos é mais oblongo, tendo o lobo olfativo
e a zona auditiva bastante desenvolvidos, embora em comprimentos de onda
diferentes dos humanos. Os pelos dos bigodes são vibráteis e extremamente
importantes para a pesquisa de alimentos, defesa e cálculo de dimensões;
aplasia congénita do timo, que faz com que tenha uma deficiência no sistema
imunológico, já que não possui linfócitos T, embora tenha linfócitos B e células
NK (natural killer);
o sistema respiratório, com a devida redução à escala, idêntico aos dos humanos,
com a traqueia igualmente numa posição anterior ao esófago;
27
as cavidades torácica e abdominal também separadas pelo diafragma; o coração
tem uma estrutura e funcionamento semelhante ao da espécie humana e encontra-
se na cavidade torácica, mais do lado esquerdo;
o peritoneu, na cavidade abdominal, que envolve e protege a face anterior dos
órgãos abdominais;
o sistema digestivo, com uma proporcionalidade de dimensão reduzida, idêntico
ao do humano. As glândulas salivares, principalmente as sub-mandibulares, são
bastante desenvolvidas, pois são roedores. O fígado situa-se também no
hipocôndrio direito, logo abaixo do diafragma, no entanto, é bastante maior e com
lobos mais achatados, recobrindo todo o estômago e porção superior do intestino
delgado. A principal diferença é que nestes animais não existe vesícula biliar e o
pâncreas não é um órgão estruturado. Todavia, existem ilhéus de Langerhans
dispersos na gordura que envolve a grande curvatura do estômago e pregas do
duodeno;
o baço mais alongado e delgado que o dos humanos;
o sistema renal semelhante em tudo ao do humano, salvo nas dimensões;
as fêmeas são férteis, embora tenham um pequeno desenvolvimento das glândulas
mamárias. Em centros certificados, durante o período de criação, o acasalamento
é efetuado em ninhada monógama e não consanguínea, com um período de
gestação de 21 a 23 dias, nascendo normalmente 10 a 12 crias por ninhada, que
são mantidas numa incubadora [69]–[72].
28
Figura 5 – Esquema representativo da anatomia do animal utilizado nos testes in vivo: o rato (adaptado
de [72]).
2.8. Técnica histológica
A técnica histológica é o conjunto de operações que tem como principal objetivo
transformar células e tecidos em preparações para serem utilizadas em microscopia ótica.
Com esta técnica é efetuado o estudo e análise dos tecidos biológicos, observando a sua
estrutura, que compreende várias etapas sequenciais devido às características dos tecidos,
dos reagentes e do equipamento. O tecido é submetido a cortes finos, sendo
posteriormente fixado e corado, de forma a permitir a observação das amostras por
transiluminação e coloração, utilizando um microscópio ótico [73].
29
Materiais e Métodos
Este capítulo irá abordar todos os materiais e métodos utilizados neste estudo.
Inicialmente, irão ser referidas as linhas celulares utilizadas e, posteriormente, a respetiva
cultura de células, a preparação dos chás e extratos selecionados e as experiências
realizadas.
3.1. Linhas celulares utilizadas
As linhas celulares WiDr (ATCC® CCL-218TM), derivada de um adenocarcinoma do
cólon humano, e MCF7 (ATCC® HTB-22TM), derivada de um adenocarcinoma de mama
de humano, são células epiteliais e aderentes. O meio de cultura sugerido pelo fornecedor
é o EMEM (Eagle’s Minimum Essential Medium), com 2 mM de glutamina e 1% de NEAA
(aminoácidos não essenciais, do inglês non essential amino acids), com FBS (soro fetal bovino)
a 10% e 1% de antibióticos Pen/Strep (penicilina/estreptomicina), renovado entre duas a
três vezes por semana. No entanto para o estudo foi utilizado DMEM (Dulbecco’s Modified
Eagle’s Medium) (Gibco® 1, 11966-025, RU) com 1% de L-glutamina (Biowest, L-Glutamine
100, 200mM, XO55O-100, EUA), que é uma modificação enriquecida do meio
anteriormente referido, igualmente com FBS (Sigma-Aldrich®, F7524, EUA) a 10% e 1%
de antibióticos Pen/Strep (Lonza Pen Strep, Amphotericin, B 100, 17-745E, EUA). A cultura
destas células deve decorrer em frascos estéreis e ventilados, apropriados para células
aderentes, numa estufa dedicada a uma temperatura de 37ºC, com uma atmosfera
contendo 5% de CO2 e 95% de humidade. A cultura celular sub-confluente (70-80%)
deve ser expandida utilizando tripsina a 0,25%, colocando de novo na estufa nas
condições de cultura durante 5 a 7 min com controlo ao MOCF (microscópio ótico de
contraste de fase) [21].
3.1.1. Diferenciação entre EMEM e DMEM
O EMEM é uma solução equilibrada de sal, aminoácidos não essenciais e piruvato
de sódio. É formulado com uma concentração reduzida de bicarbonato de sódio
30
(1 500 mg/l), para ser utilizado com 5% de CO2. É geralmente reforçado com
suplementos adicionais de FBS, tornando-o mais adequado para uma gama mais ampla
de células mamíferas [74].
Por sua vez, o DMEM é um meio mais completo: tem quase o dobro da concentração
de aminoácidos, o quádruplo da quantidade de vitaminas presentes no EMEM, assim
como nitrato férrico, piruvato de sódio e aminoácidos suplementares, sendo este um dos
principais motivos pelo qual se optou por utilizar este meio em detrimento do EMEM
[74].
A formulação original continha 1 000 mg/l de glicose e foi utilizada inicialmente para
a cultura de células embrionárias de ratos. Todavia, uma variação adicional com
4 500 mg/l de glicose provou ser ideal para a cultura de vários tipos celulares. Para além
disso, o DMEM contém ferro e vermelho de fenol, para indicador de pH, o que permite
uma constante monitorização da atividade celular [74].
O DMEM, sendo um meio básico, não contém proteínas nem agentes promotores do
crescimento. Portanto, são necessários suplementos adicionais para que seja um meio
“completo” sendo, por isso, adicionado FBS com a concentração desejada, normalmente
5 a 10%. O DMEM utiliza um sistema de tampão de bicarbonato de sódio (3,7 g/l) e, por
isso, necessita de níveis artificiais de CO2 para manter o pH necessário
(geralmente 5%) [74].
3.2. Obtenção das células pretendidas
Qualquer uma das linhas celulares utilizadas neste trabalho requer métodos
semelhantes e específicos para cultura in vitro.
As linhas celulares utilizadas neste estudo – WiDr (ATCC® CCL-218TM) e MCF7
(ATCC® HTB-22TM) – foram adquiridas à ATCC pelo Instituto de Biofísica, da Faculdade
de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) [21], [40].
Após a receção das linhas celulares, é necessário mantê-las a uma temperatura abaixo
de -130ºC, preferencialmente em azoto líquido, até serem utilizar, assegurando assim um
nível elevado de viabilidade celular [21], [40]. Foram efetuadas várias alíquotas numeradas
a partir da propagação das amostras originais, que foram mantidas congeladas em azoto
31
líquido (ThermoNorma, Cryoplus 1) a -190ºC. Por uma questão de funcionamento logístico
e regras de funcionamento das instalações, por períodos muito curtos de preservação, as
alíquotas podem ser mantidas a -80ºC, numa arca frigorífica dedicada apenas a este fim
(Thermo Scientific, Herafreeze HFUT Series, EUA) regularmente revista por uma empresa
certificada (Certilab, Portugal).
3.2.1. Cultura celular
Ao iniciar o estudo com as linhas celulares WiDr e MCF7, dado que as alíquotas
estavam congeladas, foi necessário realizar a sua cultura celular. As células são mantidas
a 37°C numa atmosfera humidificada (95% de humidade relativa) e rica em 5% de CO2
numa incubadora apropriada (Certilab, 06-10960, Portugal; Hera Cell 150-Thermo eletron
corporation, EUA), regularmente revista por uma empresa certificada (Certilab, Portugal).
Sendo células aderentes, utilizaram-se frascos estéreis e apirogénicos apropriados e os
meios específicos adaptados ao seu crescimento.
A cultura celular decorre dentro de uma câmara de fluxo laminar e é obrigatório que
todos os materiais estejam esterilizados. Para garantir que há a melhor desinfeção possível
de todo o material que se utiliza dentro desta câmara utilizou-se aspersão com álcool a
75% (Emaure®, K46525683 516, Alemanha). A sala de cultura encontra-se a uma pressão
negativa e é necessário tomar as devidas precauções para que não ocorram
contaminações: uso de bata dedicadas; luvas e, em algumas condições, máscaras; abertura
desfasada das portas de acesso à sala e antecâmara e da antecâmara para o corredor.
Após retirar as amostras selecionadas da arca de -190ºC a descongelação deve ocorrer
o mais rápido possível num banho de água termostatizado3 a 37ºC (Tissue water bath, GFL
1002, Alemanha, certificado pela Staff&Line). De seguida os tubos de congelação são
aspergido com álcool a 75% para entrar na câmara de fluxo laminar e transfere-se a
suspensão celular para um tubo de Falcon estéril de 15 ml (SARSTED 15 ml, 62.554.502,
Alemanha) e acrescentam-se cerca de 3 ml de meio DMEM completo para inibir a ação
do agente de congelação normalmente usado para o processo de criogenia [DMSO
(dimetilsulfóxido) a 10% (Sigma-Aldrich®, dimethyl sulphoxide, D2650 55 ml, EUA)]. Os
Falcons são centrifugados a 1 100 rpm durante 5 min a 4ºC. De novo na câmara de fluxo,
3 A água do banho termostatizado tem de ser mudada regularmente e é adicionada azida de sódio a 1%
como agente antifúngico.
32
é descartado o sobrenadante e o pellet é ressuspendido em 1-2 ml de DMEM completo.
No início as células são cultivadas em frascos de 25 cm2 (Corning, 25 cm2 Cell Culture
Flask, 430693, EUA) com, como referido, meio DMEM com 10% de FBS, 1% de L-
glutamina e 1% de antibiótico Pen/Strep; isto é, DMEM completo. Quando o número de
células é maior pode efetuar-se a cultura em frascos de 75 cm2 (Corning, 75 cm2 Cell Culture
Flask, 43639, EUA), nas condições descritas.
As células foram sendo observadas ao MOCF (Nikon Eclipse, TS100, Japão), pois a
observação decorre sem utilização de corante. De notar que o DMEM completo é
vermelho, uma vez que contém vermelho de fenol. Este componente funciona como
indicador de pH e, à medida que as células vão crescendo ou se vão dividindo, libertam
substâncias do seu metabolismo que acidificam o meio, tornando-o alaranjado ou
amarelado. Deste modo, tornou-se possível verificar diariamente a necessidade de mudar
ou não o meio, geralmente duas a três vezes por semana, até as células atingirem cerca de
70% de confluência. Utilizando maiores ampliações ao MOCF (geralmente 200 – 400 ),
foi possível controlar se surgiam contaminações bacterianas e, caso surgissem, descartar
imediatamente o frasco correspondente e destruir a suspensão celular com hipoclorito de
sódio (Sigma, S7653, EUA).
Após estes procedimentos de rotina continua-se a cultura celular com mudança de
meio se necessário, nas condições referidas anteriormente, ou descolam-se utilizando um
método enzimático, com tripsina a 0,25% (Sigma-Aldrich®, Trypsin Solution T4049-500 ml,
EUA), tal como refere o fornecedor. Se apenas for necessário substituir o meio de cultura
aspira-se todo o meio presente dentro do frasco com um pipetador automático (Gilson,
Pipetting Aid 080333, França) com pipetas de vidro estéreis acopláveis (VWR, Pasteur
Pipettes 612-1702, França), de forma a retirar também todas as células em suspensão. De
seguida, coloca-se meio novo dentro do frasco que se asperge com álcool a 75% e se
recoloca dentro da estufa de cultura. Se for necessário descolar as células para continuar
a sua cultura em novos frascos, aspira-se, tal como referido previamente, o meio presente
e colocam-se no frasco entre 6 a 7 ml da solução de tripsina a 0,25%. Este/s frasco/s é/são
recolocado/s na incubadora nas condições anteriormente descritas, após aspersão com
álcool a 75%. Para que a tripsina atue eficazmente, deixaram-se as células WiDr na estufa
durante cerca de 7-10 minutos e as células MCF7 durante cerca de 5 minutos, valores
estes otimizados em experiências anteriores [14], [75]. De forma a inativar a reação
enzimática, após verificação ao MOCF de que a maioria das células está em suspensão,
33
adicionaram-se entre 1 a 2 ml de DMEM completo e recolheu-se a suspensão celular para
Falcons de 15 ml, estéreis e identificados, utilizando o mesmo pipetador.
Para se concentrarem as células da suspensão, procedeu-se à centrifugação dos
Falcons a 1 100 rpm, a uma temperatura de 4ºC, durante 5 minutos (Thermo Scientific,
Heraeus Multifuge, 1 L-R, EUA certificada pela Certilab). Assim, tornou-se possível a
separação do pellet do sobrenadante. Uma vez mais, dentro da câmara de fluxo laminar,
em condições estéreis, descartou-se o sobrenadante e reservou-se o pellet.
De forma a ressuspender o pellet, adicionou-se 1 ml de meio de cultura, neste caso,
DMEM completo com FBS a 10%, e transfere-se a suspensão celular para outros frascos
com as mesmas características dos utilizados anteriormente. Por fim, colocam-se na
incubadora para que as células continuem a proliferar.
3.2.2. Contagem celular
Para criopreservar células ou iniciar qualquer estudo celular é necessário saber de
que número de células se dispõe e selecionar o número específico de células pretendido.
Para tal, efetua-se o protocolo de descolamento celular, tal como já descrito, e do pellet
ressuspenso normalmente em 1 ml de meio de cultura, recolhem-se 10 l de suspensão
celular para um eppendorf estéril de 2 ml (DeltaLab S.L., microtubo 2 ml tapon plano
4092.7N, Espanha). Com o intuito de contar o número de células viáveis na suspensão
celular, utilizou-se um corante vital capaz de atravessar a membrana das células mortas,
corando apenas as que não estão viáveis. Assim, já fora da câmara de fluxo laminar,
adicionaram-se 10 l de azul tripano (Sigma-Aldrich®, Azul Tripano T0776, EUA) preparado
a 4% com água destilada (Sigma, T8154, EUA) e homogeneizou-se a solução. De seguida,
pipetaram-se 10 l da mistura que se colocaram numa câmara de Neubauer (Neubauer
improve, 0640030, Alemanha) sob uma lamela de vidro (RS, Cover Glass 100 PCS Thickness
0,13-0,17 mm, França). Esta câmara permite efetuar a contagem de células ao microscópio
ótico [76]. Caso não houvesse nenhuma contaminação bacteriana, a contagem celular era
iniciada.
No centro da área delimitada em cada metade da câmara de Neubauer, é possível
observar várias linhas perpendiculares e paralelas entre si, que delimitam 9 quadrados
grandes, cada um de 1 mm2 (Figura 6). Estando 4 destes quadrados nos respetivos cantos
da quadrícula, é possível observar que cada um deles está dividido em 16 quadrados, cada
34
um com 0,25 mm de lado. A concentração celular é efetuada utilizando os 4 quadrados
dos cantos e calculando o número médio de células por quadrante. Para se fazer a leitura,
caso a solução esteja bem homogeneizada e não em grumos por quadrado, segue-se um
trajeto serpenteante no esquema dos 16 quadrados de cada quadrante, contando o número
de células dentro de cada um desses quadrados. Se se observarem células sobre os traços
da quadrícula não são contabilizadas. Uma vez que o volume de cada quadrante é de
0,1 mm3, tendo em conta a profundidade definida de 0,1 mm entre a câmara e a lamela, o
número total de células de um quadrante revela quantas células temos em 0,0001 ml. Isto
significa que o número total por quadrante irá ser de a 104 células/ml [74], [77].
Figura 6 – [A] Câmara de Neubauer (adaptado de [78]); [B] Vista lateral da lamela colocada sobre a câmara
de Neubauer, cobrindo a área central onde está a gelha de contagem, que serve para conter a
amostra entre o fundo da câmara e a própria lamela (adaptado de [77]); [C] esquema de
quadrantes utilizado na contagem de células (adaptado de [78]).
Usando este método de contagem celular, foi possível saber-se o número de células
viáveis presentes. O procedimento seguinte depende da finalidade: criopreservação ou
início de estudo.
A criopreservação faz-se em criotubos específicos para esse fim com um volume de
1,5 ml (SARSTED, 72380992, Alemanha). À suspensão celular em meio completo
adicionou-se DMSO estéril a 10%, uma vez que é um agente criopreservante que faz com
que a água presente nas células demore a cristalizar. Assim, as células conseguem
sobreviver mais facilmente [79]. Os tubos de criopreservação, já com a suspensão celular,
são devidamente identificados – é escrito no rótulo o tipo celular, número de células no
35
volume contido, data de criopreservação, o número de passagem e o nome do
investigador. É registado o stock destes tubos para utilização futura. De seguida, foram
colocados numa arca frigorífica dedicada apenas a este fim a -80ºC. Caso não se
conseguisse garantir que iriam ser utilizadas dentro de prazo curto/médio, passadas no
máximo 3 semanas, esses tubos seriam transferidos para uma câmara de azoto líquido a -
190ºC, e a sua alocação registada nas racks de armazenamento.
Caso se pretendesse iniciar um estudo in vitro, a suspensão celular estava pronta a
ser diluída e semeada nas condições desejadas, ou então ser utilizada para estudos in vivo,
efetuando-se o protocolo selecionado.
3.3. Utilização de chá verde e extratos de chá verde
Uma vez que o composto polifenólico selecionado para estudo neste trabalho, a (–)-
epigalocatequina-3-galato (EGCG), a catequina mais abundante no chá verde e
considerada o principal responsável por vários benefícios para a saúde já referidos,
nomeadamente o efeito onco-preventivo [45], [46], foi feita uma pesquisa de mercado para
determinar os chás verdes existentes. Verificou-se que há disponíveis no mercado
nacional e internacional (vários países da Europa, México e EUA) muitas marcas
registadas e brancas de chá verde, bem como sob a forma de extratos vegetais.
3.3.1. Determinação das concentrações de EGCG no chá
Para se decidir quais dos chás verdes a estudar, era necessário determinar se a
concentração de EGCG presente em cada um deles era semelhante ou não consoante a
marca e ser chá ou extrato. Neste contexto, utilizou-se a técnica HPLC (Cromatografia
Líquida de Alta Pressão, do inglês high-performance liquid chromatography). Este
método analítico tem por objetivo a separação, identificação e quantificação das
substâncias químicas presentes numa amostra, através de um mecanismo de interação
entre as moléculas deste e de duas fases, uma estacionária e outra móvel. A fase
estacionária corresponde à coluna cromatográfica, ou seja, um cilindro rígido onde se
encontra depositado um material de enchimento formado por pequenas partículas. A fase
móvel corresponde ao solvente, que flui continuamente através do sistema, arrastando o
composto injetado na coluna cromatográfica e lido pelo detetor.
36
As substâncias presentes no chá, devido às suas distintas estruturas moleculares e
grupos funcionais, dispõem de diferentes graus de afinidade para com as fases móvel e
estacionária. Consequentemente, as suas velocidades de migração são igualmente
distintas, o que permite que a separação cromatográfica seja conseguida. Pode, então,
concluir-se que a substância com maior afinidade para a coluna é aquela que elui por
último e, em contrapartida, a substância que elui primeiro será a de menor afinidade com
o enchimento (fase estacionária) [80].
A análise por HPLC foi efetuada com um equipamento Gilson equipado com um
photodiode-array detector (PDA). Para este estudo usou-se uma coluna Spherisorb S5
ODS-2 (250 4,6 mm i.d., 5 µm) (Waters Corporation, EUA) e um cartucho Nucleosil
guard C18 (30 4 mm i.d., 5 µm) (Macherey-Nagel, EUA) a 24ºC. A fase móvel foi
constituída por ácido fórmico aquoso a 5% (A) e metanol (B) (v/v), com um gradiente
descontínuo 5–15% B (0–10 min), 15–25% B (10–15 min), 25-50% B (15–40 min), 50–
80% B (40-50 min), seguida de uma eluição isocrática durante 10 min, com um fluxo de
1 ml/min. Foram adquiridos perfis cromatográficos entre 200–600 nm de comprimento
de onda e gravados aos 280 e 320 nm. O tratamento dos dados foi efetuado com o software
Unipoint 2.10 (Gilson, EUA).
Figura 7 – Representação esquemática de um sistema de Cromatografia Líquida de Alta Pressão (adaptado
de [80]).
Para os estudos por HPLC foram preparados chás verdes de várias marcas registadas
e brancas de acordo com um protocolo adaptado pelo grupo de investigação (Figura 8). O
procedimento utilizado para a preparação dos chás foi iniciado com a colocação de 200 ml
Detetor
Câmara de mistura
Pré-coluna Injetor
Coluna cromatográfica
Bomba
37
de água da torneira num goblet, juntamente com uma saqueta de chá e um magnete de
1 cm para que a mistura fosse agitada homogeneamente, sobre uma placa quente
magnética (Jenway, hotplate and stirrer 1000, RU). Utilizou-se um termómetro de
laboratório para controlar a temperatura até 90ºC – sem nunca atingir os 95ºC para não
deixar ferver. Manteve-se esta temperatura durante 5 minutos com agitação. Depois
retirou-se o magnete e deixou-se arrefecer o chá, colocando-o à temperatura ambiente,
durante cerca de 2 horas, no escuro, de forma a garantir que a sua composição não era
alterada pela luz. Após este período de tempo, retirou-se a saqueta de chá, comprimindo-
a contra as paredes do goblet para recuperar ao máximo a solução. Com uma proveta,
mediu-se, no fim, quanto é que a decocção havia evaporado, tendo sido, em média, cerca
de 20 ml, passando de um volume inicial de 200 ml para um volume final de 180 ml.
Armazenou-se em copo fechado no escuro a 4ºC.
Figura 8 – Representação esquemática do protocolo de preparação de uma solução de chá verde a estudar,
usando uma saqueta de chá verde.
Os chás verdes estudados foram das marcas: Cem Porcento (Cem Porcento, Chá Verde,
Algas e Fibras, 10 1,8 g, Portugal), Gorreana (Gorreana, Chá Verde Hysson 20 2 g, Portugal),
Lipton (Lipton, Green Tea Classic, 20 g), Pingo Doce (Pingo Doce, Chá Verde, 20 1,8
g), Solúvel (Ignoramus, Chá Verde Solúvel, 10 6 g, Portugal), Taylors (Royal Botanic Gardens
Kew, Taylors, Pure Sencha Green Tea, 20 1,5 g, RU), Tetley Mel e Limão (Tetley London
1837, Mel e Limão Green Tea, 10 1,5 g, Inglaterra) e Twinings (TwiningsTM of London, Pure
Green Tea, 25 2 g, Inglaterra). Além dos chás verdes foram estudadas extratos de chá
verde: em pó GTE (MyProtein®, Green Tea Extract powder 500 g, I705807841, RU) e sob a
forma de cápsula, MGTE (MyProtein®, Mega Green Tea ExtractTM, 90 cap 450 mg, RU) e
GTEE (ProHealth, Green Tea EGCG ExtremeTM, 100 veggie capsules, 390 mg EGCG cap,
PH395, RU, certificado pelo Laboratory Purity&Potency). A escolha destes chás verdes e seus
extratos recaiu não só sobre a quantidade de chá por saqueta e/ou a percentagem de EGCG
que os fabricantes indicavam, mas também sobre a sua popularidade entre os
consumidores, uma vez que se pretendiam estudar os mais consumidos pela população e
Volume = 200 ml Volume = 180 ml
90ºC 20ºC Δt = 2 h
Água Chá
38
os mais facilmente adquiridos, quer em Portugal quer pensando numa globalização mais
abrangente (Europa e EUA).
Desta forma, ao proceder a uma separação cromatográfica através da técnica de
HPLC e ao respetivo tratamento dos dados com software adequado, obteve-se uma
representação gráfica: o cromatograma com vários picos correspondentes aos diferentes
componentes de cada amostra. Esta técnica foi efetuada 3 vezes para cada amostra de
cada preparado para garantir a fiabilidade dos resultados. Para além disso, os chás foram
também analisados após estarem expostos à claridade durante 7 dias, para se determinar
se o composto era sensível à luz e se a concentração de EGCG era alterada nestas
condições. Foi concluído que, embora a cor dos chás se altere após exposição à claridade
e, consequentemente, a composição de alguns dos seus componentes, esta alteração não
afetava a concentração do EGCG presente, visto que os resultados dos testes do HPLC
foram idênticos.
Através dos cromatogramas obtidos, tendo por base os resultados de HPLC para o
EGCG Puro (o mais puro do mercado) (Sigma-Aldrich®, E4143, EUA), que contém mais
de 95% de EGCG, pôde ser quantificada a concentração de EGCG presente em cada um
dos chás/extratos estudados (por grama de chá/extrato), já que o equipamento dispõe de
um software dedicado associado.
Com base nos resultados obtidos foi possível preterir alguns chás para o estudo
posterior com as linhas celulares tumorais, optando pelos mais preferenciais e adequados.
Para além da concentração de ECGC presente, no caso de valores semelhantes, também
foram tomados em consideração outros fatores como o preço, a disponibilidade e
facilidade da obtenção dos chás/extratos no mercado, pois são fatores que influenciam a
decisão de compra do consumidor.
O processo para a análise por HPLC foi repetido utilizando chás preparados pelo
mesmo protocolo, mas usando duas e três saquetas. Como os volumes a utilizar, partindo
de uma saqueta em 200 ml, para obter as concentrações desejadas de EGCG, eram
consideráveis para os estudos in vitro, consoante as marcas de chá selecionadas, e podiam
alterar a relação meio/solução diariamente adicionada, sendo mais um fator a considerar,
optou-se por tentar aumentar a dose usando mais saquetas no mesmo volume. De acordo
com a revisão bibliográfica, os resultados para a marca Lipton são consistentes ao longo
do tempo e localização geográfica, pois para duas saquetas é concordante com os valores
39
obtidos neste estudo para uma saqueta. Considerou-se ainda uma possível utilização de
três saquetas no mesmo volume. Desta forma seria possível realizar estudos in vitro com
uma concentração mais adequada num menor volume. Os estudos de HPLC são
essenciais para obter informação nestas duas novas condições experimentais para todas
as marcas de chá.
3.3.2. Estudos in vitro usando chás verdes
Após análise de todos os fatores mencionados anteriormente, foi feita uma seleção
dos chás que seriam utilizados para o estudo celular in vitro. Assim, escolheram-se chás
verdes das marcas Lipton, Twinings, Taylors, Tetley Mel e Limão e Pingo Doce.
Os chás, utilizando uma, duas e três saquetas, foram sempre preparados de acordo
com o protocolo descrito (página 40, Secção 3.3.1 Determinação das concentrações de EGCG
no chá). Os chás preparados foram filtrados em ambiente estéril com um filtro apropriado
(GE Healthcare, WhatmanTM, filtro 0,20 m 10462200, Alemanha) e, de acordo com estudos
anteriores, a partir destes chás foram efetuadas soluções stock em tubos Falcon de 15 ml
e mantidas no escuro a -20ºC [14], [81].
3.3.3. Soluções de extratos de chá verde enriquecidos em
EGCG
O referido protocolo para estudos por HPLC foi igualmente utilizado para determinar
a concentração de EGCG presente em cada um dos extratos. Foram utilizadas cápsulas
de diferentes fabricantes: GTEE e MGTE, e GTE em pó. Segundo as informações dos
fabricantes cada cápsula de GTEE tinha 390 mg de EGCG/cápsula, para MGTE seriam
180 mg de EGCG/cápsula e o GTE em pó teria aproximadamente 10% de EGCG por
pacote. Para as soluções stock utilizou-se PBS (tampão fosfato-salino estéril, do inglês
phosphate buffered saline) preparado no laboratório e autoclavado, com 10 mM de
NaH2PO4 (Panreac, 1319651211), 2,7 mM de KCl (Sigma, P9333), 137 mM de NaCl (Sigma,
S7653, EUA), 1,8 mM de KH2PO4 (Merck, 6580, Alemanha) e água ultrapura (Millipore,
Biocel Q-Gard® 1, EUA), para perfazer 500 ml, e acertado para um pH de 7,4. O tampão é
colocado num frasco Schott de 500 ml estéril (Duran, 00361668, Alemanha) rotulado, com
a rolha protegida com papel de alumínio e com fita de segurança para autoclavagem, e
vai a esterilizar por autoclave. As soluções stock preparadas, devidamente identificadas,
40
foram congeladas em alíquotas a -20ºC protegidas da luz. A partir destas alíquotas stocks,
filtradas em ambiente estéril com filtros de 0,2 m, como referido anteriormente (página
42, Secção 3.3.2 Estudos in vitro usando chás verdes), fizeram-se as diluições necessárias, de
forma a obter as concentrações desejadas para os diferentes ensaios.
Para realizar os estudos in vivo, foi utilizada e preparada uma solução de GTE em pó
com uma concentração de 1625 mg/l de EGCG; teoricamente, 5 vezes mais que a
necessária para produzir uma concentração plasmática de 0,1 g/ml num humano [82]. A
solução foi preparada num litro de água corrente, utilizando para a pesagem uma balança
analítica eletrónica (Radlag, AS 220/c/2, Alemanha). De seguida, o pó era colocado num
Erlenmeyer e adicionado o volume previamente medido de água corrente. A solução foi
bem homogeneizada para obter uma dissolução completa do pó.
3.4. Estudos in vitro
Os ensaios in vitro permitem testar, de forma mais standardizada, linhas celulares
específicas. É possível obter avaliações quantitativas e qualitativas mais corretas e
homogéneas, uma vez que estes testes são realizados em condições estéreis reprodutíveis.
Após os ensaios de propriedades físico-químicas, os estudos in vitro são os primeiros a
ser realizados para tentar acertar e padronizar condições experimentais e prever reações
in vivo. Tendo por base os dados selecionados a partir dos ensaios in vitro prossegue-se
com os estudos in vivo. Os testes in vitro, tendo em conta que são realizados em ambiente
estéril e com condições padronizadas, têm a mais-valia de controlar melhor variáveis
externas que ajudam a diminuir significativamente o número da amostra nos estudos in
vivo.
Os maiores estudos com as duas linhas celulares WiDr e MCF7 decorreram em
simultâneo, embora independentes um do outro.
3.4.1. Objetivos gerais
Resumidamente, o objetivo deste estudo é testar e analisar o possível efeito do agente
natural EGCG, presente em maior percentagem no chá verde e em extratos de chá verde,
no tratamento de cancro colorretal e da mama. Sendo o chá verde um produto biológico
acessível e dado o efeito sinergético do EGCG com vários compostos e fármacos descritos
41
na literatura [13], [49], [50], [65], o trabalho decorreu efetuando ensaios de diferentes
condições e concentrações deste produto que poderão vir a ser recomendadas para grupos
de doentes com tipos de tumores semelhantes aos desenvolvidos por estas linhas
celulares, de forma a melhorar a sua qualidade e tempo de sobrevida. O objetivo será
poder contribuir para uma diminuição das doses ou ciclos terapêuticos com fármacos
bastante citotóxicos, utilizados nos dias de hoje, e subtipos tumorais mais agressivos4.
Para além disso, pretende-se conseguir informar a população, nomeadamente a europeia,
da importância de aumentar o consumo desta infusão, dados não só os seus efeitos
terapêuticos como preventivos.
3.4.2. Estudo da linha celular WiDr
Estudos anteriores com a linha celular WiDr, efetuados no Instituto de Biofísica,
definiram o protocolo de cultura in vitro (página 33, Secção 3.2. Obtenção das células
pretendidas) [14]. Nesses estudos foram utilizadas caixas de cultura de 96 poços (Costar®,
Corning Incorporation, 3596, EUA) (37ºC, 5% de CO2 e humidade 95%). Foi otimizado o
número de células por poço: 2,4104 células WiDr num volume de 150 l de DMEM
completo por poço. Foi também otimizado o tempo de aderência, tendo-se verificado que
o tempo necessário de cultura para que as células aderissem à superfície para efetuar de
seguida as experiências era de 48 horas [14].
Neste estudo, para tentar simular o consumo diário de EGCG, foi readicionada a cada
24 horas o mesmo volume de soluções com concentração pré-determinadas de EGCG,
preparadas a partir da cápsula GTEE. Desta forma efetuou-se uma exposição crónica aos
polifenóis, tendo como base o consumo diário de extrato de chá verde e o metabolismo
celular do EGCG. Foi estudado o efeito de 1, 2, 3, 6, 9 e 12 reaplicações do EGCG, ou
seja, aplicações repetidas às 24, 48, 72, 144, 216 e 288 horas de incubação. Para cada um
destes tempos de incubação, para avaliar o efeito das várias reaplicações do EGCG, foram
estudadas concentrações de 0,01; 0,1; 0,5; 1; 5 e 10 l/ml de EGCG [14].
Foi concluído que, para a linha celular WiDr, o EGCG é mais eficaz na redução da
viabilidade celular às 3 e 6 reaplicações, para as concentrações de 0,5 e 5 l/ml. De notar
que foram feitos vários ensaios para todos estes testes, de modo a aumentar a fiabilidade
4 De notar que foram realizados estudos recentes pelo grupo, no Instituto de Biofísica-IBILI-FMUC, com
a linha celular de adenocarcinoma do colon WiDr que demonstraram o efeito benéfico da sinergia entre
fármacos usados na sua quimioterapia e o EGCG [14].
42
dos resultados, tendo sido comparados e normalizados ao controlo. Isto é, para todos os
ensaios foram efetuados poços de controlo, que continham o mesmo número de células
por poço, mas não foram adicionadas soluções com EGCG. Assim, foi possível comparar
e analisar as diferenças de comportamento e viabilidade das células com e sem aplicações
de EGCG [14].
Inicialmente, ao utilizar infusões de chás comerciais (quatro marcas de chá verde
mencionadas – Lipton, Twinings, Tetley Mel e Limão e Pingo Doce), para obter as
concentrações de 0,5 e 5 l/ml de EGCG utilizou-se uma saqueta de chá em 200 ml5. Os
valores das concentrações de EGCG, em cada saqueta destas marcas, foram obtidos por
HPLC (página 38, Secção 3.3.1. Determinação das concentrações de EGCG no chá), Verificou-
se que, dadas as baixas concentrações de EGCG/saqueta em algumas marcas de chá, era
preciso usar um volume considerável para atingir as concentrações desejadas. Para se
conseguir uma proporção de meio de cultura, no volume total da mistura (meio de cultura
e infusão), adequada ao metabolismo celular, seria necessário utilizar caixas de cultura
com poços de maior volume (24 poços) (Costar®, Corning Incorporation, 3524, EUA).
Pensando numa transposição de volumes experimentais para consumo diário humano,
seriam volumes importantes, não adequados a doentes, por exemplo com problemas
cardíacos e renais. Neste contexto, a estratégia foi tentar concentrar o EGCG usando 2 ou
3 saquetas para o mesmo volume de 200 ml. Verificou-se, através da análise por HPLC
com duas e três saquetas, que esta abordagem seria viável. Assim, seria possível utilizar
um volume exequível e obter as concentrações de EGCG pretendidas em caixas de poços
de maior área [14].
Dados os volumes a utilizar para se obterem as concentrações desejadas, selecionou-
se a caixa de cultura de 48 poços (Costar®, Corning Incorporation, 3548, EUA), cuja área
superficial é de 0,95 cm2. Foi então necessário adaptar o número de células/poço a esta
nova área, uma vez que nos testes anteriores se usaram caixas de cultura de 96 poços (área
superficial é de 0,32 cm2). Sendo células aderentes, assumindo uma relação linear entre
o número de células estudado anteriormente e a área superficial de cada poço
(2,4104 células/poço, para uma área de 0,32 cm2) com a área superficial de cada poço
da nova caixa de cultura, foram testadas 7104 células WiDr/poço. Foram igualmente
testadas 3,6104 células/poço e 4,8104 células/poço. Relativamente ao tempo de adesão
5 Segundo as indicações dos fabricantes: 1 saqueta por chávena (200 ml), 3-5 min sem ferver.
43
pré-experimental, para a linha celular WiDr, verificou-se que este não dependia do
tamanho dos poços, mantendo-se então as 48 horas padronizadas anteriormente [14].
Nas experiências utilizando 7104 células/poço, testaram-se todos os extratos com
EGCG com uma concentração de 5 l/ml e com os chás verdes selecionados preparados
com 3 saquetas. Tendo o EGCG mais efeito na viabilidade celular após 3 e 6 dias6, foram
testadas estes tempos para todos os compostos referidos.
Nas experiências utilizando 3,6104 células/poço e 4,8104 células/poço, testaram-
se tantos os chás verdes como os extratos de chá verde (página 40, Secção 3.3.1.
Determinação das concentrações de EGCG no chá) com as concentrações que se tinha
verificado obter mais efeito na viabilidade celular, isto é, com concentração de EGCG de
0,5 l/ml e 5 l/ml. Testaram-se os referidos chás verdes preparados usando duas e três
saquetas e fizeram-se 3 aplicações em 3 dias consecutivos. Estes chás verdes têm cor,
cheiro, concentração de EGCG e composição diferentes e, sendo fitoquímicos a interação
entre os diversos componentes pode ser um fator importante na resposta obtida.
3.4.3. Estudo da linha celular MCF7
Tendo em vista os estudos anteriores realizados com a linha celular WiDr, pretende-
se efetuar estudos do género com a linha celular MCF7 e, se alguma vez possível, tentar
estabelecer correlações entre elas devido à utilização destes chás verdes ou extratos de
chá verde.
Foi então estudado o efeito de várias concentrações de EGCG nos referidos chás
verdes e extratos de chá verde com a linha celular MCF7, utilizando a cápsula GTEE, já
utilizada nos estudos anteriores com a linha WiDr, em caixas de cultura de 96 poços. À
semelhança do ensaio com a linha WiDr, estudaram-se concentrações de 0,1 g/ml;
0,5 g/ml; 1 g/ml; 5 g/ml e 10 g/ml de EGCG usando extrato de GTEE. Fizeram-se
aplicações 3 e 6 de cada dosagem uma vez por dia. Utilizou-se uma suspensão celular
com 2,4104 células/poço, tendo como base os ensaios com a linha celular WiDr. Tendo
em conta que o período de adaptação à nova superfície, o crescimento e o tempo de
6 O protocolo efetuado anteriormente consistiu na aplicação da dose de EGCG selecionada/poço 1 por dia,
verificando-se que os melhores tempos foram 3 e 6 dias.
44
duplicação da linha celular MCF7 são mais lentos, aumentou-se o tempo pré-
experimental para 72 horas, igualmente a 37ºC e 5% de CO2.
Para otimizar o número de células MCF7 e o tempo de adesão pré-experimental a
utilizar nos ensaios seguintes, realizaram-se estudos sem aplicação de EGCG, em caixas
de 96 poços. Testaram-se mais 3 concentrações celulares: 3,6104, 4,2104 e 4,8104
células/poço e 3 tempos pré-experimentais: 48, 72 e 96 horas de adesão. Efetuaram-se
estudos similares com a linha WiDr, podendo comparar em simultâneo o comportamento,
relativamente a estes dois parâmetros: diferente número células/poço e tempo de adesão,
destas duas linhas celulares. Uma vez mais, confirmaram-se os resultados obtidos
anteriormente: para as células WiDr o melhor tempo de adesão pré-experimental eram
48 horas e a concentração celular de 2,4104 células/poço. Para a linha celular MCF7, o
melhor tempo de adesão pré-experimental eram 72 horas e a concentração celular de
4,8104 células/poço para caixas de 96 poços.
Tendo em conta os volumes de chás a aplicar ao longo do tempo da experiência, fez-
se o estudo em caixas de cultura de 48 poços utilizando 4,8104 células/poço, com um
tempo de adesão pré-experimental de 72 horas. Foi estudado o efeito de 2, 3, 4, 6 e 8
aplicações dos diferentes chás e extratos a cada 24 horas, ou seja, às 48, 72, 96, 144 e 192
horas de experiência. Os extratos e os chás foram preparados de acordo com os protocolos
já referidos com três saquetas e adicionados os volumes necessários de forma a obter uma
concentração de EGCG de 5 l/ml em cada poço, tanto nos chás como nos extratos.
Fazendo um raciocínio semelhante ao efetuado para as células WiDr, testaram-se
mais duas concentrações celulares em caixas de 48 poços: 7,2104 e 9,6 104 células/poço
células/poço. A execução desta experiência justifica-se devido ao aumento da área do
poço (caixa de 96 poços para caixa de 48 poços), mas usando o tempo de adesão pré-
experimental de 72 horas, já otimizado para a linha MCF7. Aplicaram-se as soluções dos
chás, preparados com duas saquetas, e dos extratos com concentrações de EGCG de
0,5 l/ml e 5 l/ml. Fizeram-se aplicações a cada 24 horas, em 3 dias consecutivos.
Pretendia tentar obter-se também informação sobre uma possível inter-influência sobre o
EGCG de outros componentes dos chás (alguns também presentes nos extratos).
A experiência usando 9,6 104 células/poço ficou contaminada (devido a um
problema de outros utilizadores da mesma estufa) no dia da última aplicação dos
compostos com EGCG e, por isso, não foi possível obter resultados da viabilidade celular
45
das mesmas. Todavia, através da frequente visualização das células ao mocf, verificou-se
que, se formaram cúpulas no fundo do poço, o que indica um número de células MCF7
demasiado elevado. A concentração de 7,2104 células/poço deu os melhores resultados
para a caixa de 48 poços.
Assim, para a linha MCF7 a melhor conjugação foi de 7,2104 células/poço em
caixas de 48 poços.
O espetro de HPLC confirma a existência de vários componentes, para além de uma
concentração diferente de EGCG em cada marca, nos chás verdes. Da literatura na área
da Fitoquímica sabe-se que muitas vezes, nas plantas, há inter-influência dos vários
compostos [43].
Para atentar atingir o objetivo proposto de tornar possível uma diminuição das doses
da quimioterapia ou redução do número de ciclos terapêuticos com os fármacos
utilizados, analisou-se ainda o efeito do GTE pó em conjugação com alguns destes
compostos. Pretendia analisar-se se haveria um efeito sinergético benéfico entre eles.
Todos os fármacos testados foram gentilmente cedidos pelo Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra e são aprovados pela FDA (Food and Drug Administration) e
pela EMA (Agência Europeia do Medicamento) e utilizados na quimioterapia para
tratamento oncológico do cancro da mama [25], [83]. Uma vez que no presente estudo se
programaram os ensaios até às 6 aplicações, fazendo o MTT ao 7º dia, foi simulada uma
semana de tratamento e, por isso, os fármacos e a sua dosagem foram escolhidos e
adaptados para estas condições.
Foram escolhidos fármacos antineoplásicos aplicados na clínica em doses baixas,
permitindo uma administração por semana. Neste contexto foram selecionados
tratamentos com antraciclinas, como a doxorrubicina (Sigma, 44583, EUA), com uma
administração de 60 mg/m2 [59], [63]; com antimetabólitos, como a capecitabina (Actavis,
Capecitabina Actavis 150 mg, EUA), com uma administração de 1000 mg/m2 [57], [58], e o
5-fluoracilo (Sigma, F6627, EUA), com uma administração de 450 mg/m2 [55], [56]; e com
antimicrotúbulos, como o paclitaxel (Actavis, Paclitaxel Activis 6 mg/ml, EUA), com uma
administração de 175 mg/m2 [59], [60], e o docetaxel (Actavis, Docetaxel Actavis 20 mg/ml,
EUA), com uma administração de 60 mg/m2 [59], [61]. Estas administrações foram
escolhidas tendo em conta as doses para o adulto [38]. Como mencionado, utilizou-se
46
apenas uma aplicação de cada fármaco, enquanto com o GTE pó se mantiveram as
3 aplicações no protocolo referido, com concentrações de EGCG de 0,5 l/ml e 5 l/ml,
utilizando 7,2104 células MCF7/poço, em caixas de 48 poços, com um período pré-
experimental de 72 horas. Como em todas as experiências descritas, preparam-se poços
na caixa de cultura apenas com a suspensão celular, que foram utilizados como controlos.
Também se prepararam poços para a aplicação de cada fármaco (1 aplicação no tempo
zero), com o mesmo número de células, para analisar não só o seu efeito, como a diferença
do mesmo com e sem o referido extrato de chá verde.
3.4.4. Estudo com chás e extratos de chá verde
Foram feitos os cálculos relativos ao volume de cada chá e extrato que seria inserido,
no decorrer de toda a experiência, em cada poço, garantindo que a mesma concentração
de EGCG seria colocada em cada poço, tendo em atenção que esta varia consoante o chá
e extrato. O volume máximo atingido em cada poço foi de 800 l (englobando o volume
de meio e de chá/extrato adicionados), de modo a garantir que não havia contacto do
líquido entre poços vizinhos e evitar contaminações.
Para o estudo com os chás verdes e extratos de chá verde procedeu-se sempre da
mesma forma, começando por semear a suspensão celular, com o número de células
estipulado, diretamente sob o fundo do poço. Fizeram-se várias réplicas de cada condição
por poço, de forma a aumentar os dados estatísticos e a fiabilidade dos resultados.
É importante realçar que em todas as experiências com ambas as linhas celulares
estudadas (WiDr e MCF7) se efetuaram grupos de controlo. Assim, os resultados obtidos
para os poços com adição de substâncias eram sempre comparados com este grupo.
Apresenta-se um exemplo de um esquema de uma das caixas de cultura celular
utilizadas numa experiência com chás veres e seus extratos (Figura 11). Cada coluna
contém as mesmas concentrações para o mesmo chá/extrato em análise, ou seja, são
réplicas para aumentar a fiabilidade dos resultados.
47
Figura 9 – Exemplo de um esquema de uma caixa de cultura celular de 48 poços utilizada no estudo do
EGCG presente nos diferentes tipos de chá verde estudados.
3.4.5. Teste do MTT
O teste do MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol2-il)-2,5-difeniltetrazólio) é
utilizado para determinar a viabilidade celular, ou seja, a proliferação celular e a
citotoxicidade dos materiais utilizados nos estudos in vitro [84].
O composto MTT possui na sua estrutura um anel de tetrazólio, que lhe confere uma
cor amarela. Devido à atividade mitocondrial das células ativas, este composto é reduzido
a cristais de formazan, com cor azul-escura/arroxeada (Figura 10) [84].
Suspensão celular em DMEM completo
Suspensão celular em DMEM completo + chá Lipton
Suspensão celular em DMEM completo + chá Twinings
Suspensão celular em DMEM completo + chá Tetley Mel e Limão
Suspensão celular em DMEM completo + chá Pingo Doce
Suspensão celular em DMEM completo + pó GTE
Suspensão celular em DMEM completo + cápsula MGTE
Suspensão celular em DMEM completo + cápsula GTEE
48
Figura 10 – Esquema da redução do MTT a formazan. Esta reação apenas pode ocorrer quando as
enzimas redutoras estão ativas. Esta conversão é, portanto, usada para quantificar a
viabilidade celular (adaptado de [84]).
Em condições estéreis, o meio foi totalmente retirado de cada poço e, de seguida,
tendo em conta o volume/poço, foram adicionados 10% de MTT (Sigma, M2128, EUA) e
90% de meio de cultura novo. A caixa de cultura foi colocada, de seguida, na incubadora
a uma temperatura de 37ºC num ambiente de 5% de CO2, durante 4 horas, podendo no
final ser observada ao MOCF (Figura 11). Após este período de tempo, a solução contida
em cada poço foi retirada e substituída por isopropanol ácido (volume igual ao usado para
a mistura de meio e MTT). Não é necessário realizar estes dois procedimentos na câmara
de fluxo, já que a membrana das células viáveis é destruída por ação do isopropanol ácido
e a caixa é lida sem tampa no equipamento de quantificação. preparado com 0,04 mM de
ácido clorídrico a 37% (Merck, K24620717, Alemanha) e 2-Propanol a 99,5% (Sigma, I9516,
EUA). Com uma boa homogeneização, decorridos 15 minutos, a quantidade de cristais de
formazan, diretamente proporcional ao número de células viáveis, pode ser lida por
espectrofotometria. Este método ótico é um teste colorimétrico e permite quantificar a
viabilidade celular através da leitura entre dois comprimentos de onda (570 e 620 nm para
o MTT) [84]. Estes valores da absorvância foram determinados usando um leitor de
ELISA (BioTek®, Synergy HT, EUA) acoplado a um computador PC (HP Compaq, China)
com monitor (HP 1755, China) e o programa Gen5TM Biotek®.
Redutase mitocondrial
brometo de 3-(4,5-dimetil tiazol-2-il)-2,5-difenil tetrazólio
(MTT) 1-(4,5-dimetil tiazol-2-il)-3,5-difenil formazan
(Formazan)
49
Figura 11 – Fotografias tiradas com o microscópio ótico de contraste de fase a um poço de uma caixa de
cultura de 48 poços, após 3 reaplicações de uma solução de GTE pó: [A] antes da adição de
MTT e [B] após adição de MTT. É possível notar que em [B] apenas algumas células estão
coradas, mostrando que a viabilidade celular diminuiu significativamente com a adição do
composto em causa.
Sendo um teste colorimétrico, foi necessário garantir que a coloração dos chás não
interferia com a leitura por espectrofotometria e não influenciava os resultados obtidos
através do teste do MTT. Para isso, foi efetuado um estudo em caixas celulares iguais às
utilizadas nos estudos in vitro (página 44, Secção 3.4.3. Estudo da linha celular WiDr), com o
mesmo número de aplicações (3 e 6) e o mesmo tempo de incubação (48 e 72 horas)
estudados. Foi concluído, posteriormente, que a coloração não se encontra dentro dos
comprimentos de onda de leitura do espectrofotómetro e, por isso, não interferia com os
resultados do teste do MTT. Após esta análise, confirmou-se a fiabilidade deste teste para
determinar a viabilidade celular das experiências realizadas.
3.5. Estudos in vivo
Os estudos in vivo usando um modelo animal apenas se realizam caso os resultados
dos estudos in vitro sejam favoráveis, para assim se usar o menor número de animais
possível [67].
O efeito do extrato da cápsula GTEE já tinha sido estudado no mesmo modelo animal
em experiências anteriores realizadas no Instituto de Biofísica [14]. Ao terem sido obtidos
resultados favoráveis nos estudos in vitro, selecionou-se um outro extrato, o GTE em pó,
para os ensaios in vivo seguindo um protocolo idêntico [14]. Sendo possível, pretende-se
comparar os resultados obtidos com ambos os extratos.
50
Neste estudo in vivo testou-se o efeito do GTE em pó nos tumores desenvolvidos
linhas celulares tumorais WiDr e MCF7, injetadas num modelo animal, O rato é uma
espécie muito utilizada em laboratório para procedimentos experimentais, por exemplo
nas áreas de Cirurgia, Gastroenterologia, Cardiologia, Pneumologia, estudos de
biodistribuição, dadas as suas características – preço acessível, fácil manipulação, peso e
tamanho apropriados, fáceis condições de manutenção em biotério, temperatura corporal
e valores de bioquímica sanguínea muito semelhantes aos do ser humano, assim como a
fisiologia e grande parte do código genético [70]. Uma estirpe bastante utilizada é a RNU
(Rowett Nude), pois, sendo atímica, não desenvolve linfócitos T, essenciais para o sistema
imunitário, sendo bastante utilizada em estudos de Imunologia, Doenças Infeciosas e
Oncologia, entre outras. Assim, não rejeita células tumorais de outras espécies,
normalmente injetadas por via subcutânea, permitindo estudar a biologia de tumores
humanos em modelos animais [68].
O IBILI-FMUC possui um biotério certificado para manutenção e com autorização
para a criação de algumas estirpes de rato e ratinho, com pessoal especializado no
tratamento dos animais.
Os ratos foram criados e mantidos num ambiente com temperatura controlada pelo
sistema de racks a 24ºC, humidade relativa do ar mantida a 65%, ciclos de luz controlados
e um mínimo de ruído. Foram mantidos em gaiolas desinfetadas (lavagem e secagem em
equipamento dedicado, usando detergentes desinfetantes que não fazem espuma) com
cama de carolo de milho esterilizado e brinquedos lúdicos esterilizados. As gaiolas estão
colocadas em racks identificadas ligadas a sistemas com filtração de ar de entrada e de
saída em instalações dedicadas e certificadas. A ração sólida é esterilizada, possuindo os
nutrientes adequados, e a água acidificada (pH 3-4) ad libitum em biberões desinfetados
com tetinas metálicas.
Com base no exposto, o modelo experimental animal escolhido, para induzir o
desenvolvimento de tumores não ortotópicos com as linhas celulares humanas WiDr e
MCF7, por uma inoculação subcutânea na região da coxa direita, foi o rato RNU (Rowett
Nude Rat) (Crl:NIH-Foxn1rnu). Para os estudos com a linha WiDr usaram-se ratos machos
de 5 meses de idade e peso médio de 295 g da mesma ninhada, por lote de experiência7.
7 Devido ao elevado número de células necessário para cada animal foram realizados vários lotes de
animais, isto é, induziram-se tumores em várias fases, garantindo que as condições experimentais se
replicavam.
51
Para os ensaios com a linha MCF7 usaram-se fêmeas de 4 meses de idade e peso médio
205 g da mesma ninhada, por lote de experiência.
Após a proliferação das duas linhas celulares, nas condições já mencionadas (página
34, Secção 3.2.1. Cultura celular), procedeu-se à contagem das respetivas suspensões
celulares, obtidas após tripsinização dos frascos de cultura e centrifugação (página 36,
Secção 3.2.2. Contagem celular). Para induzir os tumores WiDr usaram-se 22-24106
células WiDr ressuspendidas em 1 ml de DMEM completo nos ratos machos, e
aproximadamente 30-34106 células MCF7 diluídas em 1 ml de DMEM completo nos
ratos fêmeas.
Para as inoculações utilizou-se uma seringa de 1 ml (T Terumo® Syringe, U-100
insulina, SS+01H1, Bélgica), devidamente identificada, acoplada a uma agulha 19 G × 1’’,
1.1 × 25 mm (T Terumo® Neolus, NN-1925R, Bélgica), de forma a prevenir a degradação
das células.
Em ambiente controlado procedeu-se à colocação do animal dentro da câmara de
fluxo laminar (Heraeus Holten, HBB 2448, EUA) esterilizada com luz ultravioleta (U.V.) e
limpa com Virkon (Virkon® S, 5 kg, A01576789, RU) e álcool a 75%. Para a injeção
subcutânea, o animal foi posicionado em decúbito ventral e restringidos com um pano
cirúrgico, pondo a descoberto a zona da coxa direita. É importante referir que este
procedimento foi efetuado com cuidado extremo para não atingir a fáscia muscular (a
inserção da agulha deve realizar-se com o bisel virado para a face superior) e não causar
dor desnecessária ao animal. Para controlar a injeção correta retrocede-se um pouco o
êmbolo da seringa e verifica-se se não entra sangue (sinal de que se puncionou
inadvertidamente um vaso sanguíneo) e só depois se injeta. De seguida, identificou-se o
animal para posteriores manipulações e recolocou-se na sua gaiola de origem.
52
Figura 12 – Inoculação subcutânea de células tumorais na região lateral da coxa direita de um rato RNU.
Como visto anteriormente (Secção 2.2.3. Linha celular MCF7), a linha celular MCF7
apenas forma tumores em modelos animais na presença de estrogénio. Assim, uma
semana após a inoculação subcutânea das células tumorais MCF7, foi preparada uma
suspensão de 2 mg de estradiol (Sigma, E8750, EUA) e em 1 ml de óleo de sésamo (Sigma,
S3547, EUA), previamente filtrado com s filtros de 0,2 m (dentro da câmara de fluxo
laminar, utilizada para preparar as suspensões celulares, em condições de esterilidade),
num eppendorf. Após homogeneização por vortexação (Unimag ZX3 Vortex Mixer, D-
82152, Alemanha), foram retirados 0,3 ml da suspensão com uma seringa de 1 ml acoplada
a uma agulha 19G × 1’’, 1.1 × 25 mm, igual à utilizada para indução das células tumorais,
para injeção subcutânea na região dorsal dos ratos fêmeas. Este procedimento foi efetuado
de acordo com as informações recolhidas da revisão bibliográfica [85].
Figura 13 – Injeção subcutânea, num rato fêmea RNU, da suspensão de estradiol em óleo de sésamo,
para estimulação do crescimento da linha celular MCF7, inoculada 7 dias antes.
Neste ensaio in vivo foram utilizados 8 ratos macho e 8 ratos fêmea da estirpe RNU,
fornecidos pelo biotério certificado do IBILI-FMUC.
53
Os pesos dos animais foram registados semanalmente, utilizando uma balança (Seca,
modelo 734, serie 1/1, Alemanha) própria para animais. Apenas se detetou visualmente e
por palpação o desenvolvimento de tumor, fez-se o registo fotográfico e medição da
largura e altura, quando possível, com uma craveira (Wurth, stainless hardened, Alemanha),
com a mesma periodicidade.
Após a inoculação das células, os animais foram divididos em 4 grupos assim
identificados:
- grupo 1: animais injetados, bebendo sempre água (1 rato macho e 1 rato fêmea);
- grupo 2: animais injetados, bebendo posteriormente uma solução de extrato de chá
verde (4 ratos macho e 4 ratos fêmea);
- grupo 3: animais não injetados, bebendo posteriormente uma solução de extrato de
chá verde em simultâneo com o grupo 2 (2 ratos macho e 2 ratos fêmea);
- grupo 4: animais não injetados, bebendo sempre água (1 ratos macho e 1 ratos
fêmea).
A água foi posteriormente substituída por uma solução de GTE em pó com a
preparação já referida (página 42, Secção 3.3.3: Soluções de EGCG) ad libitum após o tumor
atingir aproximadamente 1 cm2.
A morte dos animais ocorreu por causas externas ao protocolo ou ocisão. A ocisão
foi efetuada ou quando o tumor atingiu as proporções máximas regulamentadas (grupo 1)
ou 1 semana depois do tumor deixar de ser mensurável e palpável. A ocisão dos animais
foi através de deslocamento cervical, tendo-se cumprido todos os requisitos da legislação
em vigor (Anexo II do Decreto-Lei nº 113/2014, de 7 de Agosto [86]).
Aplicando o princípio dos 3 R’s a este estudo (página 28, Secção 2.7. Modelo animal),
em primeiro lugar, foram feitos testes in vitro de modo a adquirir dados orientadores para
os estudos in vivo. O número de animais por grupo foi reduzido tendo em conta dados
obtidos em estudos anteriores [14]. Todos os processos foram aperfeiçoados e estudados
previamente para não tentar prevenir complicações no decorrer da experiência e não ser
necessário utilizar mais animais [67].
54
3.6. Estudos histológicos
Uma semana após o tumor ter deixado de ser visível e palpável, os animais foram
ocisados, como foi já mencionado, para colher amostras biológicas. Os animais foram
desinfetados com iodopovina (Egrema iodopovina, 0670, Espanha) e foi efetuada uma
remoção dos seus pelos, importante para a técnica histológica. Foram recolhidas amostras
de sangue e urina, o tumor (grupo 1 e grupo 2) e de alguns órgãos relevantes como: rim,
pulmão, ânus, tiróide, fígado, estômago, intestino delgado e intestino grosso, no caso dos
machos (tumor de WiDr) e, no caso das fêmeas (tumor de MCF7), glândula mamária,
ovário e útero, rim, pulmão, fígado e tiróide. Foi utilizado material cirúrgico Dimeda:
cabo de bisturi para lâmina nº 22, tesoura e pinça de disseção, pinças de Adson de dente
de rato e de preensão, pinça hemostática e lâminas de bisturi nº 22 (Kiato, carbon steel
sterile surgical blades 18999108, Alemanha). Estas amostras foram fotografadas e colocadas
em cassetes de fixação (PrintMateTM Embedding Cassettes, A84810048, EUA) para a
realização dos estudos histológicos devidamente identificadas com lápis, sendo, por isso,
colocadas de imediato em recipientes roscados com formol neutro tamponado a 10%
(AppliChem Panreac, 1430091.1214, Espanha), iniciando-se a fixação.
Figura 14 – Disseção de um rato na zona de desenvolvimento do tumor para colher amostras para
análise histológica: [A] restos de gordura fibrosa no local de desenvolvimento do tumor,
[B] cassete de fixação utilizada com amostra de rim.
55
Estes recipientes foram colocados a 4ºC e posteriormente entregues ao Laboratório
de Patologia Experimental do Departamento de Medicina Dentária da Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra para análise histológica, dada a estreita
colaboração existente.
A técnica histológica é o conjunto de operações que tem como principal objetivo
preparar os tecidos para serem observadas por microscopia ótica. Este processo tem várias
etapas que ocorrem em sequência, de acordo com os princípios fundamentais da técnica
histológica. Estas etapas incluem: fixação, desidratação, diafanização, inclusão num meio
sólido adequado que permita obter cortes histológicos finos (3–5 m de espessura) para
posterior coloração e observação [73], [87].
A função da fixação é impedir a alteração do tecido após a morte (ou após a colheita)
e preparação para a inclusão. Este processo pode ser dividido em duas fases distintas: a
coagulação ou precipitação de vários componentes do tecido e células; e a sua preservação
num estado o mais próximo possível de quando estava com vida, formando compostos
químicos estáveis. Um fixador substitui toda a água do material biológico e deve difundir-
se completamente através dos tecidos para preservar todas as células. Neste contexto, os
tecidos são geralmente cortados em pequenos fragmentos, com espessura até cerca de
3 cm, antes da fixação, para facilitar a penetração intravascular e garantir melhor a
preservação do tecido. Cada uma das amostras foi fixada pelo menos durante 1 semana a
4ºC e depois seccionada em duas porções [73], [87].
Foi iniciado depois o processo para análise histológica de rotina com inclusão em
paraplast, uma espécie de cera que dá suporte de corte e estrutura ao tecido, e que não é
miscível com a água. Assim, a preparação das amostras começou com a desidratação dos
tecidos através de sucessivas soluções alcoólicas desde a solução de álcool a 70º até à
concentração de 100º, realizando-se o que se designa por desidratação (Ensure, Ethanol
absolute for analysis k46525683516, Alemanha). De seguida, o álcool a 100º foi substituído
por um solvente orgânico miscível com o paraplast, o xilol (Sigma Aldrich, 534,056,EUA).
À medida que o solvente se infiltra no tecido, este torna-se cada vez mais transparente
(diafanização) (Ika Labortechnik, H5501 digital, Alemanha). De seguida, o tecido
diafanizado foi transferido para o meio de inclusão, o paraplast, a 60ºC dentro da estufa
(Raypa, Drying oven 40ºC, Espanha) durante cerca de 15-20 horas. O paraplast tem uma
temperatura de fusão de 56-58ºC (Sigma, P3568, EUA) e fornece à amostra a consistência
56
rígida necessária ao arrefecer até à temperatura ambiente, para facilitar a obtenção de
cortes finos. A esta temperatura de 60ºC, o solvente evapora e o tecido é preenchido pelo
paraplast no estado líquido, realizando-se o que se designa de impregnação. Após esta
fase, foi efetuada a inclusão nos blocos de paraplast usando um equipamento dedicado
(Medite, Tes 99, Alemanha). Foi vertido paraplast para recipientes retangulares de inox
(Thermo Fisher Scientific, Mini Metal Base Mold, Leica Biosystems, EUA) e foram colocados
os tecidos com a ajuda de pinça de disseção aquecida aderentes ao fundo com a orientação
apropriada para o corte. Os moldes são transferidos para uma zona arrefecida do aparelho
para endurecem à temperatura ambiente. Os blocas endurecidos foram colocados num
micrótomo (Leica, RM2155, Alemanha) e foram cortados em seções extremamente finas
com 3 a 5 m de espessura com facas descartáveis dedicadas (Kiato, Sterile Surgical blades
carbon steel 188999108, Alemanha). Os blocos foram desbastados e quando se estava à
profundidade correta, os cortes histológicos foram obtidos sob a forma de uma “ténia” de
cortes sequenciais. Os cortes seriados selecionados são estendidos numa solução
alcoólica a 30º e depois foram apanhados com uma lâmina de vidro (Knittel Glaser,
Superfrost®, microscope slides K067 7626mm, Alemanha) e transferidos para um banho
termostatizado de fundo escuro (para fazer contraste com o branco do paraplast) a 37ºC
com água destilada/corrente (Tissue water bath 6951, Alemanha). Estes cortes ficam assim
livres da maior parte das rugas e são transferidos para lâminas de vidro previamente
revestidas com uma camada fina de cola biológica (Sigma Aldrich, P8920,EUA),
identificadas e secas em racks (Medite, 0T540.340, Alemanha). De seguida, vão novamente
à estufa anteriormente indicada, durante pelo menos 24 horas, para se certificar que os
cortes ficaram perfeitamente amarrados à lâmina e não se descolam [72], [73], [87], [88].
A técnica de coloração dos cortes histológicos permite a definição de estruturas para
observação ao microscópio ótico. O processo foi iniciado com a desparafinização: retirar
o paraplast e substituí-lo por água, para hidratar os tecidos, uma vez que que os corantes
são aquosos/alcoólicos. Para isso, colocaram-se as lâminas dentro de cestos de vidro
apropriados, dentro de tinas de vidro em sequência: duas delas com xilol, duas com álcool
a 100º, duas com álcool a 96º, uma com álcool a 70º e outra com água destilada/corrente.
Efetuada a desparafinização, foi utilizada a técnica de coloração de hematoxilina-
eosina: a hematoxilina é um corante básico que cora os componentes ácidos da célula em
azul e roxo escuros, tais como o ácido desoxirribonucleico (ADN) e ácido ribonucleico
(RNA), corando o núcleo e regiões do citoplasma ricas em ribossomas; a eosina é um
57
corante ácido que cora os componentes básicos da célula em cor de rosa, tais como o
citoplasma. As amostras foram coradas com hematoxilina 2% (Sigma Aldrich, MHS1,
EUA), lavadas com água corrente durante 10 minutos e coradas com eosina a 1% (Sigma-
Aldrich, HT110280, EUA) durante 5 minutos. Depois de coradas, passam-se as lâminas
com os cortes histológicos novamente por álcool a 70º e refaz-se o percurso das tinas atrás
descrito em sentido inverso, para que as lâminas desidratem e fiquem em xilol,
diafanizando. Para tornar a preparação histológica definitiva, os cortes histológicos
corados foram protegidos com uma lamela (RS, Cover Glass 100 PCS Thickness 0,13-
0,17 mm, França) colada com uma cola sintética (Fluka, 44581, Alemanha) que só é miscível
com o xilol e que tem um índice de refração semelhante ao do vidro.
Deixou-se secar na estufa de um dia para o outro e retirado o excesso de cola, as
preparações foram observadas à lupa ótica (Nikon, SMZ 1500, Japão) e ao microscópio
ótico (Nikon, Eclipse C600 Japão) que, por estarem acoplados a um sistema computorizado
com software adequado, permitiram o tratamento e registo das imagens obtidas em
suporte digital [72], [73], [87].
3.7. Análise estatística
A análise estatística foi realizada através do teste de Kruskal-Wallis e Mann-
Whitney, com o objetivo de avaliar as diferenças dos valores de MTT. De forma a avaliar
a eficácia dos diferentes chás e extratos de chá verde na viabilidade celular, foram
efetuadas comparações ajustadas aos respetivos controlos desses mesmos testes. Todos
os "valores p" foram obtidos através da utilização do programa SPSS® Statistic, versão
22 (IBM Corporation, Armonk, Nova Iorque, EUA) para análise dos dados de citotoxicidade
Para analisar a influência dos diferentes parâmetros estudados, foram utilizados dois
softwares diferentes. Inicialmente, foi utilizado o MiniTab, (versão 18), no entanto, como
este software é, regra geral, adequado apenas quando há um grande volume de dados, o
software Statistic Data Mining, versão 10.0 (Software Dell) foi usado para tentar confirmar
os resultados previamente obtidos com o MiniTab.
58
Foi pretendido avaliar a relação entre os valores do teste do MTT e o número de
células usadas, de forma a analisar se o número de células em estudo tinha influência
nestes valores. Foi determinado o coeficiente de correlação de Spearman entre o valor de
MTT e o número de células, em cada tempo de adesão (horas) e tempo de seguimento
(dias). Este processo foi replicado usando o valor de MTT standardizado ao valor médio
do controlo da experiência, aplicando-se, nesta situação, o coeficiente de correlação de
Pearson. A avaliação de uma possível relação entre o número de células utilizado e o
valor de MTT foi feita separadamente para as células WiDr e MCF7.
59
Resultados e Discussão
4.1. Concentração de EGCG no chá e extratos de chá
verde
A concentração de EGCG foi determinada utilizando a técnica da Cromatografia
Líquida de Alta Pressão (HPLC) nas condições e métodos descritos (página 38, Secção
3.3.1. Determinação das concentrações de EGCG no chá), injetando na coluna cromatográfica
um volume de 100 l em cada teste de todas as amostras. Foram efetuados três testes por
amostra de chá e extrato de chá verde, e feito a média dos resultados de forma a obter a
avaliação quantitativa da concentração de EGCG. Foram efetuado testes também com chá
após exposição durante uma semana à claridade. Foi concluído que, embora a coloração
do chá se altere e, consequentemente, a composição de alguns dos seus componentes, esta
alteração não afetava a concentração do EGCG presente, visto que os resultados dos testes
do HPLC foram idênticos.
A concentração de EGCG por saqueta e grama de pó em cada marca de chá estão
apresentadas na Tabela 4, e a percentagem de EGCG de cada extrato de chá verde está
apresentada na Tabela 5 e Tabela 6. Para além disso, os perfis cromatográficos de todas
as substâncias analisadas são apresentados graficamente, tendo sido este um dos
parâmetros mais importantes na decisão de quais os chás e extratos a estudar com as linhas
celulares (Figura 15-Figura 27).
60
Tabela 4 – Avaliação quantitativa da quantidade de EGCG infundida durante a preparação do chá verde
de diferentes marcas.
Amostra Peso do conteúdo
por saqueta (g)
EGCG (mg) infundido no
chá (200 ml) por saqueta
EGCG (mg) infundido no chá
(200 ml) por grama de pó
Cem Porcento 1,8 26 14,4
Gorreana 2 25,4 12,7
Lipton 1,4 46,1 32,9
Pingo Doce 1,8 25,9 14,4
Solúvel 6 2,5 0,41
Taylors 1,5 43,5 29
Tetley Mel e Limão 1,75 31,8 18,1
Twinings 2 65,0 32,5
Figura 15 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do EGCG-Puro.
Figura 16 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Cem Porcento.
61
Figura 17 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Gorreana.
Figura 18 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Lipton.
Figura 19 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Lipton, mostrando a
representação por picos.
62
Figura 20 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Pingo Doce.
Figura 21 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Solúvel.
Figura 22 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Taylors.
63
Figura 23 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Tetley Mel e Limão.
Figura 24 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do chá Twinings.
Tabela 5 – Avaliação quantitativa da quantidade de EGCG infundida nos extratos de chá verde em
cápsula.
Amostra Peso do conteúdo
por cápsula (mg)
EGCG (mg) por
cápsula
EGCG (%) por
cápsula
Mega Green Tea Extract 1200 434,47 36
Green Tea EGCG Extreme 750 403,14 54
Tabela 6 – Avaliação quantitativa da quantidade de EGCG infundida no extratos de chá verde em pó.
Amostra Peso do conteúdo
em pó (mg)
EGCG (mg) no
conteúdo em pó
EGCG (%)no
conteúdo em pó
Green Tea Extract 3000 203,74 7
64
Figura 25 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do extrato de pó GTE (Green Tea
Extract).
Figura 26 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do extrato de cápsula MGTE (Mega
Green Tea Extract).
Figura 27 – Representação gráfica do espectro da técnica de HPLC do extrato de cápsula GTEE (Green
Tea EGCG Extreme).
65
4.2. Estudos in vitro
4.2.1. Número de células
Foi pretendido avaliar a relação entre os valores do teste do MTT e o número de
células usadas, de forma a analisar se o número de células em estudo tinha influência
nestes valores. Foi verificado que, para ambas as linhas celulares WiDr e MCF7, os
valores de MTT obtidos eram independentes do número inicial de células.
Para a linha celular WiDr, conforme se observa na Tabela 7 e na Figura 28, não existe
correlação entre os valores de MTT (lidos ou standardizados) e o número de células usado
inicialmente. Como p>0,05 em todos os valores de MTT, não há diferença
estatisticamente significativa entre cada tempo de colagem e o número de células testados.
Tabela 7 – Tempo que a linha celular WiDr demora a aderir à superfície dos poços nas caixas de cultura
e o respetivo tempo de seguimento de incubação numa incubadora apropriada.
Tempo de
colagem (horas)
Tempo de
seguimento (dias)
MTT MTT Standardizado
Correlação p Correlação p
48
0 -0,238 0,457 0,000 1,000
3 0,361 0,118 0,153 0,521
6 0,318 0,172 0,000 1,000
72
3 0,404 0,078 0,000 1,000
6 0,485 0,030 0,000 1,000
96
3 0,396 0,084 0,000 1,000
6 0,442 0,051 0,000 1,000
66
Figura 28 – Gráficos relativos à linha celular WiDr mostrando todos os tempos de colagem e os respetivos
dias de seguimento, em relação ao número de células utilizado e [A] ao desvio dos valores de
MTT e [B] ao desvio dos valores de MTT Standardizado (StdMTT).
Para a linha celular MCF7, conforme se observa na Tabela 8 e na Figura 29, não
existe correlação entre os valores de MTT (lidos ou standardizados) e o número de células
usado inicialmente, com exceção do tempo de colagem de 72 horas e com 6 dias de
seguimento após a colagem, em que o valor de MTT (p<0,05) é tanto maior quanto maior
o número de células inicialmente colado. Contudo, ao standardizar o MTT relativamente
à média dessa experiência, tendo em conta a variabilidade encontrada na mesma, a
correlação torna-se inexistente pelo que se pode assumir que o valor de MTT não depende
do número de células inicialmente colado, até porque a correlação com o MTT apenas
aparece passados 6 dias de as células terem sido coladas. De notar que existe um valor de
MTT, às 72 horas de colagem, com 6 dias de seguimento, que se afasta quase 8 desvios-
padrão da média dessa experiência (Figura 29 [B]).
67
Tabela 8 – Tempo que a linha celular MCF7 demora a aderir à superfície dos poços nas caixas de cultura
e o respetivo tempo de seguimento de incubação numa incubadora apropriada.
Tempo de
colagem (horas)
Tempo de
seguimento (dias)
MTT MTT Standardizado
Correlação p Correlação p
48
3 0,361 0,118 0,153 0,521
6 0,318 0,172 0,000 1,000
72
3 0,404 0,078 0,000 1,000
6 0,485 0,030 0,000 1,000
96 3 0,396 0,084 0,000 1,000
6 0,442 0,051 0,000 1,000
Figura 29 – Gráficos relativos à linha celular MCF7 mostrando todos os tempos de colagem e os
respetivos dias de seguimento, em relação ao número de células utilizado e [A] ao desvio
dos valores de MTT e [B] ao desvio dos valores de MTT Standardizado (StdMTT).
Com estes resultados, confirmou-se que os números de células estudados não têm
diferença estatisticamente significativa e, por isso, os dados usados em análises futuras
não têm em conta o número de células inicial.
68
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